ÀBÍKÚ

March 17, 2018 | Author: Wladimir Bittencourt | Category: Fashion & Beauty, Clothing, Death, Sacrifice, Earth


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ÀBÍKÚ Àbíkú - a palavra já diz tudo: A = Nós; Bi = Nascer; Ku = Morrer [Nós nascemos para morrer] No Orun; um mundo paraleloque nos rodeia, onde vivem Deuses e Antepassados, palavra facilmente traduzível por Céu; mora um grupo de crianças chamado Egbe Orun Abiku - as crianças que nascem para morrer em curto espaço de tempo, gerando grande sofrimento para as suas famílias. As meninas são chefiadas por Oloiko [chefe de grupo] e os meninos por Ìyájanjasa [a mãe que bate e corre]. A permanência dos Abiku ou Emere é condicionada a um pacto que fazem na vinda do Orun para o Aiye [a Terra] com Onibode Orun, o porteiro do Céu. Este pacto é cumprido rigorosamente pelos Abiku, uma criança cujo acordo foi não nascer, realmente não nascerá; outra que combine voltar quando romper seu primeiro dente, terá morte súbita, por acidente ou por doença, horas ou dias após o aparecimento deste dente. Quando uma criança Abiku nasce, seu par, aquele seu companheiro mais chegado no Orun, começará a interferir em sua vida, atormentando-a, aparecendo-lhe em sonhos, a fim de que não se esqueça de seus amigos do Orun e rapidamente volte para eles, assim que houver cumprido o seu pacto. Várias histórias de Abiku nos são relatadas nos Itan Ifá, pelos odú Odi, Obara, Ejiogbe, IreteIrosun, Otura-Rete, Iwori-Wosa entre outros [Tradição oral]. IWORI-WOSA O dia que uma criança dá o aviso que vai se suicidar Não se pode permitir que sua intenção se concretize Ifá foi consultado para Matanmi (não me engane) Que estava vindo do Céu para a Terra Ele foi avisado que deveria fazer sacrifício O que devemos sacrificar para não sermos enganados pela Morte? Carneiro O que devemos sacrificar para não sermos enganados pela Doença? Carneiro EJIOGBE O olho da agulha não goteja pus No banheiro não se põe uma canoa a navegar Ifá foi consultado para Òrúnmìlà Quando ele fazia um pacto com Emere (Àbíkú) Um pacto fora feito com Emere (Àbíkú) Ele não iria morrer logo na flor da idade O caso do Emere (Àbíkú) agora fica seguro com Ifá A primeira vez que os Àbíkú vieram para a Terra foi em Awaiye, rei de Awaiye, num grupo de duzentos e oitenta, trazidos por Alawaiye, rei de Awaiye e chefe deles no Òrun. Na vinda para a Terra, todos pararam no portal do Céu e vários pactos foram feitos. Eles voltariam ao Òrun quando: colocando em seus tornozelos Sawoor. chapéus e turbantes. com tambores e cantigas. e com este mesmo pó enchendo um amuleto de couro em forma de pequeno saco. para afastar os outros companheiros Àbíkú. que seriam untados com òsun.Começassem a andar. O Bàbáláwo indica a necessidade de Ebo. que desestimule sua volta ao Òrun. e através delas inserindo pó preto e mágico de uma mistura de folhas. e conseguissem levá-las de volta ao Òrun. e para que ela possa gerar crianças perfeitas. alimentos. . trocando ou acrescentando um nome que os desanimassem de morrer novamente. os chefes das Comunidades Àbíkú. com enfeites e cores específicas. e eles não morreriam mais. Outras histórias são contadas por Òrúnmìlà sobre crianças que. para alegrar os Àbíkú.Tivessem novo irmão. e os presentes e mimos seriam insuficientes para retê-los na Terra. cabras. e seus pais fariam anualmente uma festa. procura um Bàbáláwo e descobre estar dando a luz a uma criança Àbíkú. bebidas. . se seus pais adivinhassem estas roupas e dessem-nas como oferendas. . .Construíssem uma casa. devido a seus pais terem consultado Ifá e feito os Ebo determinados por Òrúnmìlà. procedimentos estes usados para afastar o Àbíkú. mantendo-a viva. depois de várias idas e vindas entre o Céu e a Terra. fazendo em seus corpos pequenas incisões. puderam ser conservadas vivas. rompendo assim o pacto feito. A criança deverá usar roupas especiais. sempre próximo à data do seu aniversário. . Nas terras de ancestralidade Yorùbá.Completassem 7 dias de vida. Também pelas marcas seriam reconhecidas quando voltassem à Terra e não quereriam mais nascer. e seu vínculo com o Egbe Òrun Àbíkú. usando folhas sagradas em fricções nos seus corpinhos. súbita ou inexplicável. As roupas seriam colocadas penduradas nas árvores do Bosque Sagrado dos Àbíkú. e talvez alguns absolutamente não nascessem. guizos. que pode nascer e morrer inúmeras vezes impedindo-a também de ter filhos normais. o uso de folhas. Até que a criança complete nove anos. Ou para reter a criança na Terra e romper seu vínculo com o Òrun. determinadas oferendas serão feitas e depois repetidas até o Àbíkú completar dezenove anos.Casassem.400 búzios e que. Porém. rituais. ou enterrados à margem de um rio. e não voltariam mais ao Òrun. uma mãe que perde vários filhos antes ou depois do nascimento. doces. se os filhos da mulher estiverem mortos. búzios. poderiam segurá-las na Terra. ou mesmo mutilálos ou queimá-los. Alguns Àbíkú também deveriam colocar em seus tornozelos pesadas argolas e correntes que não os deixariam fugir para o Òrun. ou soltas nas águas. galos. para que seus pares no Òrun não os reconhecessem ou aceitassem de volta.. . tingidos de òsun que teriam valor simbólico de 1. chamado Óndè que seria preso à cintura da criança. por morte brusca. As oferendas eram feitas como recomendavam os Itan Ifá troncos de bananeira. roupas e chapéus tingidos com òsun. Estes Ebo possibilitariam aos pais reter seus filhos na Terra. se apesar das oferendas. em Awaiye. pombos.Vissem pela primeira vez o rosto de sua mãe. seu nome deve ser mudado ou a ele acrescentado outro. Oloiko e Iyajanjasa insistissem em vir à Terra em busca de suas crianças. a serem entregues no Bosque Sagrado. os pais deveriam marcar seus corpos com cortes. Esta primeira leva de crianças Àbíkú combinaram entre si também roupas. E nenhum queria aceitar o amor de seus pais. Também um altar com símbolos religiosos poderá ser instalado na casa. O corpo da mãe também deve ser defendido e esfregado com folhas. sem necessidade da tonsura ritual. O modo de encarar a pessoa "Abikum" muda de casa para casa. o de "feita sem ter sido raspada". no Brasil chamada Bejerekun. elas nascem em todo o mundo e no Brasil também. . Se a mãe tiver também problemas com Egbe. E. ela será avisada de que deve zelar por Egbe. Dizem também alguns sacerdotes que as crianças que nascem em datas determinadas são "Abikum". Ao mesmo tempo. e com elas é feita a mistura mágica com a qual se protege a criança e se prepara o amuleto. uma vez que estes nascimentos ocorrem não só na terra Yorùbá. A mãe que entra grávida para o processo de iniciação. sem descendentes [1]. e até mesmo operações cesarianas são realizadas. chamada Eleeriko. que o Àbíkú carregará por toda a sua vida. sua cabeça é recoberta por uma cabaça antes que o sangue seja derramado. uma deusa considerada o feminino de Egungun. Efun também pode ser utilizado para acalmá-la. programam seus filhos para que nasçam nestes dias. que atormenta as crianças. A fava Éerù. pois sobre a cabeça de uma criança "Abikum" o sangue não deve correr. deve ser usada em banhos e chás. Este que damos a seguir é de Ibadan. para que ela não atraia uma nova criança Àbíkú. pois o som dos guizos faz bem ao Àbíkú e afasta os amigos do Céu. e é uma súplica para que Egbe envie crianças sadias que não sejam Àbíkú ou Emere. sacrifícios são feitos para seu Òrìsà.Guizos em quantidade devem ser presos a seus brinquedos. Nem toda criança Àbíkú é atormentada por Egbe que também pode dar filhos às mães que a louvam. dito "Abikum" tem significado totalmente diverso. tambores e dança. sendo assim. eu irei ao rio Não permita que uma criança amaldiçoada siga-me em casa Mãe proteja-me. Quando esta criança completa sete anos. dá a luz à uma criança que já nasce "feita pronta". tornozelos. ela já nasce com um posto honorífico. proteja-me. e louvando-a a cada quinto dia. eu irei ao rio Não permita Emere seguir-me em casa Mãe proteja-me. pacificando a criança. É imperioso também que se instruam sobre todo o ritual sacro a ser realizado dentro da problemática Àbíkú. pais e mães ambiciosos. Esta criança nunca estará sujeita a um transe de possessão por um Òrìsà. podendo ser acrescentados ou eliminados detalhes dessa explanação. para adequar a chegada ao mundo das crianças às datas de nascimento apropriadas para "Abikum". pulso. roupas. Mãe. a ela estarão vetadas a maioria dos cargos dentro da hierarquia sacerdotal brasileira. e anualmente serão feitas festas com sacrifícios de animais. No Brasil. e é tido com certo que nenhum mal físico ou espiritual poderá atingi-la. entregando-lhe cabaças com oferendas no rio. As folhas são usadas em fricções ou banhos. marcando-lhes o corpo durante a noite. o termo Àbíkú. Os pais e mães de Òrìsà brasileiros deveriam reavaliar seu conceito sobre crianças Àbíkú. porém. eu irei ao rio Não permita que uma criança estúpida siga-me em casa Olugbon morrei e deixou filhos atrás dele Arega morreu e deixou filhos atrás dele Olukoyi morreu e deixou filhos atrás dele Eu não poderei morrer sem deixar filhos atrás de mim Eu não poderei morrer de mãos vazias. Há alguns Orìkí de Egbe que demonstram bem esta ligação. Bebidas. embrulhado em pano branco. folhas e Ofo do qual farei citações literais mais adiante. Nada porém dever ser feito sem confirmação e autorização de Òrúnmìlà. talvez apenas a tradução de um excelente artigo de Pierre Verger. como a Floresta Àbíkú de Awaiye. e é dever da Tradição de Òrìsà e do Candomblé Ketu. Cabra. Não é necessário o uso de palavras. Doces. embora dêem à eles nomes diferentes. Galo. um Ebo poderá ser montado com um pedaço de tronco de bananeira. nwon ni. mas suas publicações não estão disponíveis para a quase totalidade do sacerdócio brasileiro. Os Akan denominam a mãe de um Àbíkú Awomawu e entre os Fanti são conhecidos por Kossamah. OrukoÀbíkú. Animais. Mel. yio maa eu ni. . Guizos. (Folhas de Abirikolo. ou na feitura de pós mágicos que serão esfregados nas incisões no corpo e rosto dos Àbíkú. Eko. com uma explanação ampla sobre Itan Ifá. Ekuru. insinu Òrun e pehinda. Já os Haussa chamamnos Danwabi ou kyauta. Cito aqui textualmente os Ofo escritos por Pierre Verger: Ewé Abirikolo. Os Nupe chamam-nos de Kuchi ou Gaya-Kpeama. a a ku mo (Folha de Agidimagbayin. voltai) Ewé Agidimagbayin. O fato de não possuirmos no Brasil local determinado. e na confecção de amuletos (Onde) ou para banhos rituais. estar apta para oferecer. uma solução para que tal tragédia não mais ocorra. ver a Vara de Emere) [2]. coveiro do Céu. tendem a buscar na religião um consolo e uma explicação para estas mortes. As folhas são colhidas como oferenda e utilizadas para fazer fricções no corpo. dizei que o caminho do Céu está fechado para mim) Ewé Ija Agbonrin (Não ande pelo longo caminho que conduz ao Céu) Ewé Lara Pupa ni osun a won Àbíkú (A Folha de Lara Vermelha é o cânhamo dos Àbíkú) Olubotuje ma je ki mi bi Àbíkú omo (Olubotuje não me deixe parir filhos Àbíkú) Opa Emere ki pe ti fi ku. pois só a ele cabe nos orientar em nossas dificuldades e dúvidas. Entre os Ibo. Canjica. além de um amparo religioso que diminua o sofrimento dos pais.Vários povos ao redor do Golfo de Guinéa tem a mesma crença nos Àbíkú. as comidas e oferendas ao redor no chão. Tomando por base as recomendações do Itan Ifá. pratos com comidas [Iyan. nwon ba ri Opa Emere (Vara de Emere não os deixe morrer. Akara. Folhas]. que será enterrado ou solto nas águas de um rio. Olorum maa ti kun. Frutas. pois só o fato dos pais saberem qual o significado da oferenda secreta é suficiente para dar força mágica ao Ebo. Pombo. não nos impede de sacralizar parte de um bosque para receber as oferendas das famílias das crianças Àbíkú. Temos muita pouca literatura em português sobre o assunto. As roupas serão colocadas nos galhos da árvores. chamada Ofo. que aumenta seu poder de atuação no Ebo. Olorun fecha a porta do Céu para que não morramos mais) § Ewé Idi l'ori ki ona Òrun temi odi (Folha de Idi. são chamados Ogbanje ou Eze-Nwanyi ou Agwu ou ainda Iyi-Uwa Ogbanje. roupas e gorros tingidos de òsun e bordados de guizos e búzios. isto lhes agrada. publicado em 1983 na Revistas Afro-Asia no 14. franceses e ingleses falam sobre o assunto. Cada folha tem sua frase mágica. Outros autores africanos. ou monta-se um carrego como para a morte. Famílias que já perderam um ou mais filhos. em considerações superficiais ou profundas. obì. atare. se forem meninos (se for o caso de gêmeos.As crianças Àbíkú devem. peixe. quando recebem um nome específico que desestimule sua volta ao Òrun. dendê. . ou no nono dia. o dia certo é o oitavo) passar pelo ritual de Ikomojade . mel. no sétimo dia a partir do nascimento. gin. sal. Nesta cerimônia são usados água. se forem meninas.
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