A verdade é índice de si mesma e do falso

March 18, 2018 | Author: Verónica Pilares Mercado | Category: Baruch Spinoza, Mind, Truth, Knowledge, Metaphysics


Comments



Description

A verdade é índice de si mesma e do falso.Por Itamar Nunes de Souza* Teoria do Conhecimento I Prof. Dr. Fernando Dias Andrade Universidade Federal de São Paulo Unifesp Guarulhos 2008 *Graduando do primeiro ano de filosofia noturno. Nesta dissertação. São Paulo. Por corpo entendo o modo que exprime. que é idéia complementar da mente humana. pois. isso. Im Auftrag der Heidelberger Akademie der Wissenschaften herausgegeben von Carl Gebhardt. na filosofia espinosana apresentada em seus argumentos. efeitos desta causa complexa e por isso exprimimos sua potência divina. através dos argumentos demonstrados por Espinosa nesta. parte II. ou seja. vemos que primeiramente. que são percebidas pela mente de forma confusa e que encontraremos a partir da proposição XXII. não desprezaremos o que esta na Ética. mas também.” 5·. E logo. que é causa de sua essência e de sua existência. Ética (Partes 1 e 2). ver corol. início de nossos estudos o leitor começará a entender sobre “a natureza e origem da mente” 1 . “O que primeiramente constitui o ser atual da Mente humana é nada outro que a idéia de uma coisa singular existente em ato. vol. para compreender a metafísica espinosana temos que entender a imagem de Deus. assim. a causa de si “Deus”. ocorre nas proposições XII e XIII. não será necessário demonstrar. permanecendo. Na Ética. 68 Ibid. pg. ainda na concepção destas afecções compreendidas e em desordem no 1 Espinosa. pg. “A Mente não conhece a si própria senão enquanto percebe as idéias das afecções do Corpo. o atributo pensamento que puramente é a idéia das coisas. 2 Ibid. o ser eterno e imutável. de maneira certa e determinada. é claro e evidente. Ele. que faz existir todas as outras coisas e deste ser infinito somos atributos finitos. da prop. realizada a partir da edição Gebhardt (Spinoza Opera. pg. “A Mente humana percebe não somente as afecções do Corpo. FFLCH-USP. a definição de idéia se encontra na proposição XI. 2). 1925. a essência de Deus enquanto considerada como coisa extensa. Heidelberg.” 4 e prossegue. C. parte II. verdade como o próprio Espinosa faz. e que é o nosso propósito. o que primeiro se define é o corpo. lemas e proposições verificaram sobre a origem do corpo o que é fundamental para compreender as afecções. pg. “I. não será apresentado neste texto por não ser objeto de nosso estudo. Ainda por axiomas. Winter. Então. 43 Ibid. mas iremos começar de uma certeza. nesta ocasião. 25 da parte I . Porém. Tradução em progresso do Grupo de Estudos Espinosanos da USP sob orientação de Marilena Chauí. por isso. O ser absoluto. isto é. ou.” 3 e mais adiante passamos pela a idéia do corpo. Espinosa se aproxima do entendimento ao pensamento. parte I. 54 3 4 Ibid. o ser que é causa de si. por estas linhas que se seguirão. no livro que se reserva para a explicação da mente. mas também as idéias dessas afecções. o objetivo é justificar a tese “A verdade é índice de si mesma e do falso” a partir da Ética. 68 5 . o ser infinitamente infinito.” 2 e somente na definição III. e dentro disso o conceito de substância. mas em relação à tradição de substância. Baruch. ” . a partir da proposição XXXVII.pensamento humano.pg. com um elo racional. das idéias com imagens desordena para as idéias com imagens ordenadas. pela proposição XXXVIII. e/ou. quanto pelos externos. envolvem. Preparando a abertura para a intelecção da origem. com a ordem natural. onde no corolário da mesma proposição mostra o caminha para afirmação 8 da tese proposta. encontram-se os dois escólios importantes para fundamentar. “Com isso. e complementa “A falsidade consiste na privação de conhecimento que as 10 idéias inadequadas. e está igualmente na parte de qualquer um deles e no todo. o que podemos compreender é que a mente sempre que intui as coisas em sua ordem natural. neste caso. o porquê. como seremos capazes de transpor da idéia inadequada para a idéia adequada. chegar a trazer do corpo humano idéias adequadas. Assim.”12 Nesta proposição. 6 Ibid.9”. além disso. “O que é comum a tudo (sobre isso ver acima lema 2) e está igualmente na parte e no todo não constitui a essência de nenhuma coisa singular. 76 Ibid. onde poderemos. será adequada na Mente. das idéias. pg. tanto pelo próprio corpo. 69 Ibid.” 6 ·. afirmar que não há nada de caráter prático o que a proposição XXXIII e XXXV. “Quaisquer idéias na Mente que seguem de idéias que nela são adequadas são também adequadas. pg. 77 Ibid. 80 Ibid. assim. 79 7 8 9 10 11 12 . apresentará apenas um conhecimento desordenado e incompleto. ou. 76 Ibid. proposição XXXIX. Neles estão definidos os conhecimentos necessários para separar a idéia verdadeira do que é falso. ou melhor. continua Espinosa “A Mente humana não envolve o conhecimento adequado das partes que compõem o Corpo humano. pg. não pode por si mesma. pg. universal das coisas.” . fictício e duvidoso. pg. somos colocados no estudo dos conhecimentos prosaicos do que é adequado. parte II.”11. 78 Ibid. pelos quais o Corpo humano costuma ser afetado. Verifica-se até esta parte da Ética. ou seja. mutiladas e confusas. Portanto. “A idéia do que é comum e próprio ao Corpo humano e a certos corpos externos. do erro e do falso.” 7. ter um conhecimento adequado. Portanto. expliquei a causa das noções que são chamadas Comuns e que são os fundamentos de nosso raciocínio. Que mais adiante será dada na proposição XL. demonstra “Nada há de positivo nas idéias pelo que sejam ditas falsas. que Espinosa esta apresentando a composição da mente através dos modos de percepções. pg. a verdade é índice de si mesma e do falso. porém. sem conhecer a origem deste sentido.” neste trecho. que podemos particularizar a coisa sem conhecer por completo as suas propriedades. Ed. sob o atributo do Ser. e que para se chegar à verdade temos que compreender o que é uma idéia verdadeira. veremos essas idéias para chegarmos a uma conclusão sobre o caminho que Espinosa fez para atingir a sua verdade.” 14 e acrescentaremos neste mesmo raciocínio que “Na idéia da ficção 15 tudo existe ou não necessariamente e esta idéia é uma idéia abstrata. 17 desta parte). parte II. Tratado da correção do intelecto. de tal modo. quanto mais conhecimentos. mais esse poder diminui.”13 Como somos limitados na distinção e no ordenamento destas imagens que afetam o corpo e são percebidas pela mente e para que a verdade seja norma de si e de todas as outras idéia. 80 14 Cf. todas se confundirão por completo entre si. da Coisa etc.proporciona entender o que Espinosa tem como a “idéia da idéia”. temos que separar a idéia verdadeira de todas as outras percepções.” 16. as partes. continuaremos na mesma idéia. as ficções se evidenciam da falta de conhecimento de nossa mente sobre as coisas. para compreendê-la temos conceber em nossa mente o “Ser Perfeito”. 2001 16 . ser capaz de formar em si distintamente e em simultâneo apenas um certo número de imagens (expliquei o que é imagem no escol. deste modo. e. pois. Neste caso. claros tem. por adotarmos como conhecimento o que os sentidos nos oferecem. “Quanto menos o espírito conhece e quanto mais percebe. afirmar que a filosofia espinosana é por si completa apenas pela Ética. mais é capaz de ficção. da prop. 13 Ibid. ou.”. ao que são parciais e incompletos por si mesmos. pois. mas sobre outro aspecto. isso significa colocar a idéia de existência ou do ser em objetos da imaginação que são abstratos. onde “Ora. “pela imaginação concedemos que a existência. o que é falso. Doravante. ou seja. analisamos as observações da ficção sobre a existência. a saber. a ficção na existência das coisas. pg. isto é. visto que é limitado. nº 49-65] 15 Idem 14 Lívio Teixeira. Notas do Seminário 8 [Espinosa. incompreensível para o intelecto o que nos desviara para conferir realidade. a essência. “Deus” e esta concepção per passa por toda a obra. quando as imagens se confundirem completamente no corpo. “a Natureza Naturante”. o processo de abstração esta intrínseca no erro por apresentar a partir da parte o todo. da UNESP. estas imagens começam a se confundir. a fictícia. seja em ação de fácil compreensão ou em quando se crê por transformá-la em algo possível. Notamos no inicio do escólio o conceito de abstração que são as idéias gerais. ou mesmo. excedido o qual. Começaremos pela primeira. São Paulo. A doutrina dos modos de percepção e o conceito de abstração na filosofia de Espinosa. também a Mente imaginará confusamente todos os corpos sem qualquer distinção e os compreenderá como que sob um único atributo. se este número de imagens que o Corpo é capaz de formar em si distintamente em simultâneo é excedido grandemente. “Estes termos se originam de o Corpo humano. de Deus e das coisas. outra nos é apresentada como mesma a nossa mente uma fez que refletimos e nisso assumimos como origem. talvez resuma o intento de Espinosa ao refletir sobre a origem e o aprofundamento da consciência. esboçaremos uma rápida explicação por que se usa de mesma forma a distinção pelas outras apresentadas. cessando de sofrer. De uma idéia isolada na mente. por conseguinte. vive em quase completa inconsciência de si mesmo. com o entendimento no pensamento sobre o índice da idéia verdadeira. Onde não haverá nenhum elo racional e para refutarmos essa idéia temos que conceber que as idéias verdadeiras são idéias simples ou compostas de coisas simples.”18 17 Ibid. E este gênero de conhecimento procede da idéia adequada da essência formal de certos atributos de Deus para o conhecimento adequado da essência das coisas. como também do fictício e do duvidoso. assim. propriedade inteligível o que a consciência tenha por sua natureza e capacidade. Sobre a idéia duvidosa. de Deus e das coisas. ou. ambigüidade das sensações.” 17 e essas. É primeiramente. por uma certa necessidade interna. ao contrário. e. onde a partir de uma idéia verdadeira. quanto se pode ter incerteza. Conseqüentemente. não conhece perturbação interior. tanto se pode ter desta certeza. que é idéia verdadeira que abrange a essência que retirada da coisa deixa de existir. mas tendo consciência de si mesmo. ou. O sábio. a idéias falsas emana das inteligências obscuras de coisas viventes na natureza. a idéia duvidosa é a concatenação de pensamentos com a falta de clareza e distinção. Destarte. pois. quanto à ligação que junta duas idéias. cessa também de existir. além de ser de muitos modos agitado pelas causas exteriores e de não possuir nunca o verdadeiro contentamento interior. e com isso.No que se remete a idéia falsa “chamaremos de ciência intuitiva. das imagens. só permanece na dúvida quem não encontra afirmação na ordem universal das coisas. E para finalizar. necessária distingui-las e isso não determina juízo crítico da verdade. temos conhecimentos da origem de nosso intelecto. por esta intrínseca o inteligível que é claro e distinto. tentaremos concluir como Espinosa na concepção da “idéia da idéia”. podemos distinguir das fictícias por não serem criadas pela mente. não cessa jamais de existir e de possuir o verdadeiro contentamento. pg. da combinação. o escólio final da Ética. para que a verdade seja índice de si mesma e do falso. E que a verdade se conhece pelas primeiras causas. poderemos afirmar a tese proposta. “O ignorante. 82 Idem 16 18 . Tratado da correção do intelecto. Marilena. CHAUÍ. São Paulo: Moderna. 3. Tratado político. 2. A nervura do real. . Correspondência. Marilena. Lívio. Imanência e liberdade em Espinosa. 2). Espinosa: Uma Filosofia da Liberdade. Baruch. CHAUÍ. 2001. FFLCHUSP. 1986 (Coleção “Os Pensadores”) [contém: Pensamentos metafísicos. São Paulo: Abril Cultural. 2ª Ed.Biografia 1. Tradução em progresso do Grupo de Estudos Espinosanos da USP sob orientação de Marilena Chauí. traduções de Marilena de Souza Chauí. Joaquim Ferreira Gomes. TEIXEIRA. realizada a partir da edição Gebhardt (Spinoza Opera. ESPINOSA. vol. Vol. 5. 4. Joaquim de Carvalho. Ética (Partes 1 e 2). Baruch. Carlos Lopes de Matos. 2005 (Coleção logos). 1: Imanência. São Paulo. 1999. Heidelberg. ESPINOSA. Ética. Winter. São Paulo: UNESP. São Paulo: Companhia das Letras. Obra escolhida. Antônio Simões e Manuel de Castro]. C. 4ª ed. 1925. Im Auftrag der Heidelberger Akademie der Wissenschaften herausgegeben von Carl Gebhardt. A doutrina dos modos de percepção e o conceito de abstração na filosofia de Espinosa.
Copyright © 2024 DOKUMEN.SITE Inc.