A UDN e o Udenismo

March 27, 2018 | Author: Rafael Marino | Category: Democracy, Left Wing Politics, Political Parties, State (Polity), Elections


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A UDN e o Udenismo: ambiguidades do liberalismo brasileiro.1“O espírito de luta contra o Estado Novo e contra GV, em suas várias encarnações, das mais idealistas às mais pragmáticas, formou, plasmou e reuniu os diversos grupos que se comporiam no partido da „eterna vigilância‟. Foi, portanto, como um movimento – ampla frente de oposição, reunião de antigos partidos estaduais e aliança política entre novos parceiros – que surgiu a União Democrática Nacional, fundada a sete de abril de 1945, para lembrar o outro sete de abril, de 1831, festejada data do liberalismo brasileiro.” (p.23) Data tomada como uma sedição pelos liberais e que foi marcada por ambiguidades, como a própria UDN. Como se reuniu? “Fruto de galopante desagregação de das forças estadonovistas (e sob forte influência das mudanças na situação internacional, em favor dos Aliados)” Apenas isso conseguiu agregar elementos tão distintos. Além de uma forte polarização em torno de um inimigo comum, ou herói comum. “A futura UDN os tinha, ambos.” P. 24 Qual a principal bandeira? “Havia uma definida bandeira política: a reconquista das liberdades democráticas.” Se o inimigo declarado era GV e o Varguismo, o herói da vez seria o Brigadeiro Eduardo Gomes, com a seguinte curiosidade: “em torno de uma candidatura às eleições ainda hipotéticas forma-se um partido político, ao inverso da tradição, ou seja, surgir um candidato de um consenso partidário. (Essa marca de criação seguirá a trajetória do partido, frustrado nas grandes derrotas eleitorais, porém empedernido na união – muitas vezes espúria – em torno de uma candidatura à Presidência da República.)” p. 25. Nesse sentido prossegue, o “alvo da cólera será um só, unânime e absoluto: o regime getulista.” Viu-se também o repúdio veemente a tomada de poder por meio de golpes de estado. Apenas em 64 esquecerão disso, isso eu que acrescento. Nota: na fundação estava Olwaldo Aranha, como ex-ministro das relações exteriores, o mesmo que fez um grande lobby pela criação de Israel. Embora dissesse que jamais pertenceu a UDN, apoiou Eduardo Gomes, mesmo sendo amigo de Getúlio. 1 desde 1942. para a fundação do partido. c) Os que participaram do Estado Novo: são os que apoiaram o golpe e tiveram cargos públicos durante a ditadura. que formariam a Esquerda Democrática. de tendências socialistas. já que a oposição Liberal possuía um forte enraizamento nas elites estaduais. quando do seu apoio a „Rev‟ de 32 em São Paulo. mas romperam com GV. “Adversários de tempos imemoráveis. desafetos jurados. autonomistas baianos e uma série de clãs familiares. como os Konder. Domingo Velasco. os membros da Aliança Liberal (com uma ruptura definitiva. o que impressiona é o bacharelismo e a presença de um número significativo de fazendeiros. entre outros. velhos inimigos. Astrogildo Pereira e o professor marxista anti-stalinista Lêonidas Rezende.Na ata de assinaturas. e o antigo militante da ANL. como Eduardo Gomes. b) Os antigos aliados de Getúlio: os tenentes que se sentiram traídos. surge como agregador de um número importante de tendências políticas e diversas raízes históricas. Ex: Oswaldo Aranha. Adehmar de Barros. 29) Dentre elas Benevides distingue 5: a) Os membros das oligarquias destronadas a partir de 1930: podemos ver aqui sujeitos do PRP Paulista. igualmente tendências socialistas. Isidoro Dias Gomes. entre outros.2 – Como uma ampla frente democrática. do Estadão e uma forte aristocracia rural. reúnem-se com a finalidade única de apressar a queda de Vargas e suprimir seu regime. com Hermes Lima e João Mangabeira. e) As esquerdas: “esta categoria compõe-se de três grupos: os políticos e intelectuais.” (p. surgida publicamente dois meses depois da fundação da UDN. com um manifesto de apoio ao Brigaderio. os estudantes ou recém-egressos do movimento estudantil. É forçoso notar a presença de sujeitos como Otávio Mesquita Filho. ou com as forças locais da situação. era especialmente atuante na 2 . os Correia da Costa. d) Os liberais nos Estados: aqui há um importante corte regional. os comunistas dissidentes da linha oficial do partido – representada pela CNOP (Comissão Nacional de Organização Provisória) que pregava uma aproximação com Getúlio – como Silo Meirelles. os Caiado. 1. Mineiro. cuja militância. antes de 45. mas apenas uma participação na Frente. Um ano depois. que se transformou em partido político. A Esquerda Democrática surgiu publicamente a 12 de junho de 1945. pelas assinaturas encontradas na fundação. em termos de coligação eleitoral. porém com reduzida expressão. na UDN. que existira no país entre 1932 e 1937. pois jamais integrou a UDN. ao apresentar uma moção de apoio à candidatura do brigadeiro Eduardo Gomes à presidência da República. A ESQUERDA DEMOCRÁTICA E A UNIÃO DEMOCRÁTICA NACIONAL Um dos aspectos mais importantes da história da Esquerda Democrática refere-se ao seu envolvimento com a União Democrática Nacional (UDN). além do interesse de a ED se tornar viável nacionalmente. nas eleições de dezembro de 1945 para a Assembléia 3 . tendo incorporado os poucos membros do antigo PSB. os ideais do socialismo conjugados com a prática da democracia. A confusão. no entanto. a mesma denominação (houve uma proposta no sentido de mudar-se o nome para Partido Socialista Brasileiro. não aprovada pela maioria). e seu primeiro manifesto foi publicado a 25 de agosto do mesmo ano. em sua segunda convenção nacional. A prazo mais longo. mantendo. nem enquanto partido (1946). a 25 de agosto de 1947. Pode haver alguma confusão. Verbete Esquerda Democrática. nem enquanto grupo (1945). de tendências predominantemente socialistas.Faculdade de Direito de São Paulo.” É preciso lembrar que não houve uma construção orgânica pela ED. em Minas Gerais. que tem sido objeto de equívocos invariavelmente repetidos por analistas da conjuntura brasileira de 1945. “na mais ampla liberdade”. do CPDOC: ESQUERDA DEMOCRÁTICA Denominação assumida por um grupo de intelectuais e políticos. seu objetivo era a organização de um partido político que expressasse. que se reuniram nos primeiros meses de 1945 para consolidar num só movimento a oposição comum ao Estado Novo e a Getúlio Vargas. como também da UDN em perder a „marca conservadora‟. Em agosto de 1946 reuniu-se a primeira convenção. A curto prazo seu objetivo consistia na articulação das diversas “frentes de resistência” que vinham atuando na clandestinidade — sobretudo nos meios estudantis e intelectuais do eixo Rio-São Paulo — desde o início da década de 1940. em cujo interior ela se teria formado. em fórmula nova. Na verdade. pode ser entendida por dois motivos: 1) a Esquerda Democrática efetivamente aliou-se à UDN. no Rio de Janeiro e em Pernambuco. afastando-se depois para transformar-se no PSB. a Esquerda Democrática passou a se denominar Partido Socialista Brasileiro (PSB). O equívoco principal consiste em apresentar a Esquerda Democrática como uma ala dissidente da UDN. nacional da Esquerda Democrática. a Esquerda Democrática não poderia ser considerada uma “dissidência”. que altera de maneira crucial a compreensão do que foi a Esquerda Democrática. Esses nomes. o que contribuía para dissolver a aura conservadora que marcava o partido. pois a Esquerda Democrática contava com a adesão de intelectuais e políticos de prestígio. para que “os brilhantes companheiros” da Esquerda Democrática não se afastassem do partido. Nesse sentido. exposto no manifesto. crença e culto. exigia. tendo apresentado candidatos sob a sigla UDN-ED. Quanto à política social. mas não a Esquerda Democrática enquanto grupo. de associação e reunião. As propostas de política salarial eram nitidamente progressistas em relação à política oficial. assim como as liberdades básicas de manifestação de pensamento. considerado o nome que melhor correspondia aos anseios populares de democratização. podem ser considerados dissidentes da UDN. além de defender intransigentemente a autonomia sindical e o direito de greve. “mantendo-se intacta a frente antifascista de 1945”. a concessão de anistia política ampla e irrestrita. A aliança da Esquerda Democrática com a UDN justificava-se pelo objetivo político comum. para registro de partidos nacionais. que defendiam. A UDN. porque o grupo sustentava a função social da propriedade e defendia uma gradual e progressiva socialização dos meios de produção. pois pregavam não apenas o salário mínimo para o 4 . de cátedra. como Hermes Lima. à formação da Esquerda Democrática. com voto direto e secreto. na proteção aos pequenos comerciantes e agricultores e na supressão de impostos aos gêneros de primeira necessidade. de origem popular. Tratava-se. o programa da Esquerda Democrática insistia na necessidade de mudanças na estrutura agrária e na melhoria “das condições de vida das classes médias e pobres”. sobretudo na especial conjuntura da democratização. Jurandir Pires Ferreira e João Mangabeira. de “conciliar o processo das transformações sociais com as exigências da mais ampla liberdade civil e política”. em pouco mais de um mês (7/4/1945). Osório Borba. Domingos Velasco. que precedeu. pois a nova Lei Eleitoral. O PROGRAMA DA ESQUERDA DEMOCRÁTICA De acordo com o programa mínimo. então secretário-geral da UDN. Além desta causa maior. enfim. o mínimo de dez mil assinaturas de eleitores em pelo menos cinco estados. e democrática porque advogava os princípios do regime representativo. por seu lado. participaram efetivamente da criação da UDN (seus nomes constam da ata de fundação do partido). de 28 de maio de 1945. Para a UDN. a denominação Esquerda Democrática tinha sua razão de ser: esquerda. especialmente no Rio de Janeiro e em São Paulo. A Esquerda Democrática tinha reduzida capacidade de mobilização eleitoral e entrou em acordo com a UDN. 2) ilustres membros da Esquerda Democrática. que lhe cedeu alguns lugares nas chapas de deputados para a Constituinte. é significativo o apelo feito em abril de 1946 por Virgílio de Melo Franco. muitos dos quais já haviam assumido uma posição de relevância por ocasião do I Congresso Brasileiro de Escritores (janeiro de 1945) ou através de associações como a Associação Brasileira de Escritores e a União dos Trabalhadores Intelectuais. portanto. também tinha interesse na aliança. ou seja.Nacional Constituinte. ambas tinham interesse nessa aliança em “termos quantitativos”. prioritariamente. a luta incondicional contra a ditadura estadonovista e o compromisso eleitoral de apoio ao brigadeiro. era interessante contar com o apoio desses setores de esquerda. Sérgio Buarque de Holanda. Antero de Almeida. que se revelaria crucial para seu afastamento e sua conseqüente identificação com um partido socialista. Carlos Amoreti Osório. Herculino Cascardo. Germinal Feijó. José Honório Rodrigues. Filipe Moreira Lima. Evandro Lins e Silva. pontos de aproximação e pontos de divergência em relação às propostas udenistas. Francisco Martins de Almeida. No primeiro grupo podem situar-se: os socialistas democráticos. Pela comissão estadual provisória de São Paulo assinaram Abdon Prado Lima. Válter Peixoto. Domingos Velasco. José da Costa Paranhos. Jáder de Carvalho. por exemplo. Gastão Massari. Juraci Magalhães. insistia na transformação do regime capitalista de produção e no ideal de uma sociedade sem classes. Elpídio Pessanha. OS MEMBROS DA ESQUERDA DEMOCRÁTICA O manifesto de agosto de 1945 foi assinado pelos seguintes membros da comissão nacional provisória da Esquerda Democrática: João Mangabeira. Celso Figueiredo. Alberto Pádua de Araújo. Hermes Lima. portanto. Rubem Braga. Jurandir Pires Ferreira. pelo lado da política econômica e propostas a longo prazo. Luís Lins de Barros. inclusive. Carlos Castilho Cabral. acentue-se que o critério classificatório obedeceu a três categorias mais amplas. Eliezer Magalhães. Feita esta ressalva. Rui Barbosa de Melo. e não como uma listagem exaustiva e rígida. Antônio Cândido de Melo e Sousa. Marcelino Serrano. Havia. a Esquerda Democrática se identificava com o programa da UDN (nessa época os udenistas também defendiam. João Mangabeira. Paulo Zingg. então na legalidade e revigorado pela recente anistia concedida a Luís Carlos Prestes. a Esquerda Democrática apresentava uma distinção fundamental. Jacinto Carvalho Leal. Homero Pires. Sérgio Milliet e Wilson Rahal. Arnon de Melo. Edgardo de Castro Rebelo. contando. Hélio Pires Ferreira e Godofredo Moretzohn. Antônio de Pádua Chagas Freitas. ao mesmo tempo que reconhecia algumas afinidades. A Esquerda Democrática. a autonomia sindical e o direito de greve). Wagner Estelita Campos. Sílvio Maia Ferreira. Nestor Duarte e Osório Borba. A classificação dos membros da Esquerda Democrática apresentada a seguir deve ser entendida como uma indicação de tendências mais evidentes. Pergentino Alves. G. Homero Pires. Juvêncio Campos. João Pedreira Filho. Mário Monteiro. que passaria a defender uma aproximação com Getúlio Vargas (“Constituinte com Getúlio”). Antônio José Schueller. No que se refere à defesa das liberdades democráticas. Emil Farhat. as raízes histórico-políticas e a vinculação regional. Paulo Emílio Sales Gomes. Guilherme Figueiredo. como Hermes Lima.trabalhador. Vítor Santos. os socialistas de cunho 5 . Alceu Marinho Rego. Raimundo Magalhães Júnior. decorrentes do ponto de referência principal para identificar cada grupo: a coesão ideológica. José Luís de Araújo. com a adesão de simpatizantes marxistas. Moreira Porto. capaz de assegurar ao trabalhador a sua manutenção e de sua família e a educação de seus filhos”. Em relação ao Partido Comunista Brasileiro (PCB). a Esquerda Democrática dele se distanciava pelo repúdio ao stalinismo e pela oposição à linha oficial da Comissão Nacional de Organização Provisória (CNOP). Osório Borba. Cori Porto Fernandes. José Silveira. Carlos Pontes. Fábio Oliveira. José Lins do Rego. mas o “salário mínimo justo. mas. Amarílio Vieira Cortez. J. ao contrário da UDN. como Edgardo de Castro Rebelo e Emil Farhat. como José Maria Rabelo. Conseguiu eleger-se o jornalista Osório Borba. professores. mas que. Hélio Pelegrino e Marco Aurélio Moura Matos. como Clóvis Ramalhete. Gláucio Veiga. como Carlos Amoreti Osório. em Minas Gerais e em São Paulo. José Lins do Rego. como Antônio França. Guilherme de Figueiredo. Aziz Simão. Hariberto Miranda Jordão e Vitorino James. Joel Silveira. Domingos Velasco. que se situavam politicamente “mais à esquerda” da UDN. como Antônio Cândido de Melo e Sousa. José Pinto Ferreira e Pelópidas Silveira e os intelectuais já consagrados no movimento lítero-potítico do Rio de Janeiro. No Distrito Federal apresentaramse às eleições para a Câmara dos Vereadores 45 candidatos. os militantes do movimento estudantil paulista contra a ditatura. ambos pelo então Distrito Federal: Hermes Lima. futuro presidente do PSB. “esquerdistas liberais” como José Honório Rodrigues. socialista. Nas eleições seguintes. e médicos como Benjamim Albagli e Gastão Cruls. Antônio Bezerra Baltar. Raimundo Magalhães Júnior e Sérgio Buarque de Holanda. Juraci Magalhães e Herculino Cascardo. e Jurandir Pires Ferreira. No segundo grupo encontramos: os elementos de tradição tenentista.marxista. que não pertencera à UDS. advogados. e Domingos Velasco. e ainda Arnaldo Pedroso d’Horta. sobretudo que publicavam o semanário Liberdade. que nas eleições seguintes se reelegeria já na legenda do PSB. a Esquerda Democrática elegeu dois deputados. militantes da Esquerda Democrática participaram ativamente da campanha do brigadeiro Eduardo Gomes. todos profissionais liberais: jornalistas. Bernardino Franzen de Lima. PARTICIPAÇÃO NAS ELEIÇÕES Nas eleições de dezembro de 1945. mais radicais e independentes. Francisco Julião. Os principais líderes nacionais da esquerda Democrática foram João Mangabeira. de janeiro de 1947. que a princípio pertenceu à UDN. optaram para ingressar na Esquerda Democrática ao invés da UDN. Porto Fernandes e Wilson Rahal. como Paulo Duarte e Saldanha da Gama. principalmente no Rio de Janeiro. Nas eleições para a Assembléia Constituinte. que ingressaria mais tarde no Partido Trabalhista Brasileiro (PTB). Maria Vitória Benevides 6 . Hermes Lima. como Alceu Marinho Rego. tendo fundado o partido em Goiás. que teria atuação destacada nas comissões da Constituinte. Emil Farhat. Febus Gikovate. como Germinal Feijó. em chapa conjunta com os udenistas (sigla UDN-ED). única das quais participou enquanto grupo. e os liberais dos antigos Partido Democrático e Partido Constitucionalista de São Paulo. os pernambucanos. em aliança com os liberais. que queriam que a Esquerda Democrática fosse uma “fórmula nova” do socialismo democrático. por suas tendências esquerdistas. entre os quais figuravam os integrantes da União Democrática Socialista (UDS) de São Paulo. No terceiro grupo reconhecemos: os intelectuais mineiros — escritores e jornalistas. e os simpatizantes comunistas. Rubem Braga. como Alice Flexa Ribeiro e Bayard Boiteux. Osório Borba e Pompeu de Sousa. Paulo Emílio Sales Gomes e Renato Sampaio Coelho. Antônio Costa Correia. a Esquerda Democrática já se organizara como partido político autônomo e lançou vários candidatos. Benevides coloca de modo sintético: “Em linhas gerais. passando pelos intelectuais „engajados‟. uma forte repressão do governo Dutra. contra o Eixo. liberal – de – esquerda. V. como as mobilizações estudantis.34) É evidente que não se preocupavam com a defesa material das liberdades democráticas. houve o „Manifesto dos Mineiros e do lado da oposição. organizada por membros das elites liberais. Essa motivação. em geral” é deixada de lado no manifesto. portanto. M. Travessia.” (p. do lado liberal-conservador. permaneceram. Campanha. até então ausentes de qualquer contestação pública. (p. 35) 7 . dos liberais-conservadores aos socialistas. “trata-se de recuperar a iniciativa política em face das pretensões democratizantes de Getúlio Vargas. provocando. a deposição de Getúlio Vargas e com anti-clímax a derrota do Brigadeiro Eduardo Gomes. mas o crescimento do movimento sindical. fiéis à política trabalhista iniciado por Getúlio ou vinculados à palavra de ordem dos comunistas. GOMES. na verdade. A campanha do Brigadeiro não contou com apoio popular. é possível afirmar que. dirigidas pela UNE e em faculdades tradicionais. 2É interessante ver a volta da mobilização. E. em contrapartida.Manifesto dos Mineiros. Terceira. em período que tem como clímax da redemocratização. liderados por Prestes. todos os grupos representativos da sociedade civil. apoiavam ou mesmo militavam na campanha do Brigadeiro. 2. Entrevista. excluindo-se os setores populares. cujas posições teriam começado a mudar com as perspectivas da vitória dos Aliados. coletiva e assinada.” (p. P. 34) Nesse sentido há dois pontos importantes. e sobretudo a efervescência das greves. pois. como a Faculdade do Largo São Francisco. dos escritores e jornalistas. organizados em sindicatos ou associações afins. havia a militância dos estudantes. reforçaria o clima de „democratização‟. FRANCO.colaboração especial FONTES: CARONE. LIMA. Os setores populares. “O manifesto foi importante por ser a primeira manifestação ostensiva.1. via de regra. ao contrário do que já foi dito. os futuros udenistas. Caio Prado Jr. Mário Schemberg e Tito Batini.) o Manifesto exprime a defesa puramente formal das liberdades democráticas. 37) De modo geral apelava para um governo eleito pelo povo e pela manutenção das liberdade democráticas. já que o “1º Congresso Brasileiro de Escritores (..” “Em termos de conteúdo ideológico (. jamais pertenceu à UDN.36) 2. no entanto. Germinal Feijó era o líder do grupo.2 – Os Intelectuais e a Esquerda O que diferenciava fortemente a linha dos políticos e dos intelectuais.. Paulo Emilio Salles Gomes e Renato Sampaio Coelhos e os outros comunistas dissidentes do CNOP. não há menção alguma às questões cruciais que uma nova democracia teria que enfrentar: o problema do trabalho. Se chega a sugerir o abandono aos temas do „liberalismo passivo‟ e a defender „uma certa democratização da economia‟. como Caio Prado Júnior. Antonio Costa Correa.)” aglutinava “além dos liberais. enquanto que para os comunistas ortodoxos a sigla deveria ser apenas „União Nacional‟. Febus Gikovate. membros de diversas tendências da esquerda. um elemento sutil de luta pelo poder. “passando por cima de divergências”. no plano mais geral. tanto os liberais quanto com os comunistas. O nome União Democrática Nacional foi sugerido por CP. portanto. Este grupo congregava os membros da União Democrática Socialista (UDS) como Antonio Candido de Melo e Souza. mas principalmente. já que aqueles a apoiavam e estes não. Há uma diferenciação em relação Manifesto Mineiro. que consolidava os contatos.” (p. articulava os entendimentos com os conspiradores no Rio de Janeiro. Caio Prado. era a questão da intervenção militar. e de 8 .. pois o essencial era unir taticamente as forças contra a ditadura. a ampliação na participação política dos setores populares e a liberdade sindical. Aziz Simão.” (p. que insistia no termo „democrático‟. reivindicando-se maior participação política e econômica para as próprias elites.“O manifesto foi. restringindo sua participação às atividades conspiratórias contra a ditadura.” Antonio Candido mesmo lembra que o seu propósito era unir liberais e esquerdistas. “A esquerda paulista teve importante papel nas tentativas de aproximação dos liberais e esquerdistas. defendia-se todas as liberdades individuais e a instauração de um estado de bem-estar.. ) Surgia. em particular. posteriormente.” (p. em relação à política econômica (livre empresa. ou seja. do que alguém que concorria a um cargo eletivo. uma legenda de herói e uma tradição de lutas democráticas aliada a um „nome limpo‟. encarnado na figura exemplar de virtudes cristãs e cívicas do antigo tenente. o sujeito que apontou e criticou o romantismo daquela „união nacional‟ e o caráter oportunista – no sentido de haver uma defesa instrumental e formal da democracia – foi o Professor Fernando de Azevedo.. praticamente.oposição à linha stalinista e getulista da CNOP. em todos os sentidos. 42) É interessante notar que houve uma polarização dentro das Forças Armadas.38) Ao contrário do que dizia Hélio Silva. entretanto. em contrapartida o apoio das finanças paulistas (Gastão Vidigal. Gomes aceita concorrer.. algo que havia sido colocado por Juarez Távora. (p. ambos de raízes tenentistas: Virgílio de Mello Franco e Juraci Magalhães. em 1945. como o candidato perfeito para atrair as simpatias das classes médias que aplaudiam o ideal moralizante.44) Era clara a falta de apelo popular na figura do Brigadeiro. em termos de posições conservadoras. como revolucionário e como cristão para corrida presidencial. dar articulações de dois políticos de expressão nacional. a despeito do grande apoio dos jornais 9 . que ficará conhecida como „campanha do lenço branco‟ ou da „libertação‟.” (p. preparando-se como militar.) foi para o General Dutra que. fica a cargo de Trigueiro do Valle. aderiu a frente.” (p. mas se o Brigadeiro conquistou o apoio das esquerdas e dos intelectuais liberais. que mais parecia uma estátua. havendo uma contraposição entre Exército e Aeronáutica. para quem: “ambos os candidatos defendiam o reestabelecimento total do Estado de Direito e não diferiam.” Depois de hesitações e recusas. Outro ponto que precisa ser visto. representava o povo. até houveram críticas pela Esquerda Democrática. capital estrangeiro) os candidatos tinham propostas semelhantes. É bem verdade que. “Para as oposições coligadas tratava-se do candidato ideal: tinha um alto posto militar. por ex. acima de tudo. 3– “A candidatura do Brigadeiro resultara de uma decisão do movimento conspiratório de cúpula. que não tinha uma relação com o Estado Novo e com o PCB.120) Um número significativo de intelectual. (. também. Acertou Azevedo. Porque depuseram Vargas. trazendo às claras o seu caráter de frente ampla. apresentando candidatos próprios às eleições municipais de março de 1947. o que. que depois se transformará em PSP. quando de sua disputa contra o golpe bolchevo-jago-castrista-bolivariano de João Goulart. tomando o divórcio como o principal elemento para destruição da sociedade e da civilização. gaúchos que vão formar o Partido Libertador. apesar dos apelos da Virgílio de Mello Franco para que „os brilhantes companheiros da Esquerda Democrática não se afastem do partido‟ (1946) está organizada sua 1º Convenção Nacional em agosto de 1946 e se transforma em partido autônomo. Torna a apoiar candidatos da UDN para as eleições presidenciais – Edu. com mais frequência. Há o caso também de Adhemar de Barros. em São Paulo e no Rio de Janeiro. Gomes em 1950 e Juarez Távora em 1955 – mas no plano doutrinário as divergências se aprofundam e no Congresso o PSB seguira. É forçoso lembrar que foram esses os principais pontos de discordância entre a UDN e seus rachas. o papel supra-partidário dos militares. Na tentativa de agradar os setores mais à esquerda apareciam ponto. Ademaristas e udenistas irão se encontrar novamente. mesmo que circunstanciada. além do flagrante ímpeto reacionário nas questões morais. “Quanto aos socialistas. não havia como dar carisma e constituir uma figura popular em cima daquele sujeito. Como o PR de Artur Bernardes. como armas na defesa da democracia. 4Um número importante de dissidências ocorreu logo após a formulação da UDN. para franco apoiador do capital internacional. Outra característica importante era o seu saudosismo em relação a constituição de 34. que irá fundar o PRP. como pernambucanos. onde elegeu vereador o jornalista Osório Borba. amargando PSD e UDN. as posições do PTB 10 . Em sua segunda Convenção (julho 1947) a ED adota o nome de Partido Socialista Brasileiro e se organiza nacionalmente sob a presidência de João Mangabeira. Que irão formular alianças posteriormente. É preciso lembrar que o ademarismo terá uma força acentuada em São Paulo. entre eles. apenas. além de gestar uma forma de relação entre Estado e empresas.como Estadão e o Assis Chateaubriand. como a reivindicação do direito de greve e da liberdade sindical. com o abandono da defesa dos trabalhadores e da intervenção estatal. em suma. entreguistas de fazerem inveja. de certa forma. também agradava os conservadores. ” Chegando mesmo a defender para além das liberdades formais. a crise de hegemonia aberta em 1930: „as elites brasileiras de 1945 – difícil de tentar definir a organização institucional do Estado. Aranha.” (p. reunindo vário setores das elites. reforça a hipótese de Weffort sobre a conjuntura de 1945-1946 – essencialmente „sobredeterminado‟ por fatores políticos – que teriam aprofundado. seus 11 . entre os de esquerda.53) “Já se disse que a UDN perdera sua razão de ser com a derrubada de Getúlio em 1945. É interessante ver que a justificativa de Afonso Arinos coloca o desmoronamento da frente única exatamente em função da conquista de seu objetivo principal. “Neste estudo interessa ressaltar que o ingresso da UDN.” (p. corresponde a traços da ambiguidade da democratização de 1945.” No segundo vemos algo parecido. 52) Tal afirmação encontra respaldo tanto institucionalmente. 49) Além desses há figuras famosas como O. oligárquicas e liberais. Otávio Mangabeira. dentre outros que deixam o partido e entram para a estrutura do Estado. quanto na prática partidária. 52. se fora um equívoco para os socialistas e para os intelectuais de esquerda. Nestor Duarte.” (p. 5“A composição inicial da UDN. sendo que nada é “mais revelador do que a política de conciliação no governo Dutra e o gradativo abandono das propostas de alcance popular que constavam do programa inicial da UDN. porque trazia à luz a fragilidade das bases sociais do seu próprio poder. pois era aquilo que aglutinava um conjunto tão dispare de homens.‟ (apud Weffort. 1979)” p. pautas como a autonomia sindical. Leôncio Basbum vai mais além: a UDN nascera bi-partida. momento desejado mas sempre temido. a solução viável para a crise. A união de grupos até então desavindos. no caso de Aranha. com um objetivo comum explicitamente político. No primeiro caso “comprova-se a omissão ou a passividade das elites udenistas diante da continuidade das estruturas do regime contra o qual se uniram. o direito de greve e certa intervenção do Estado na Economia. para as elites desalojadas do poder fora a única saída. e não superado. a derrubado de Getúlio. como ministros e outras funções. embora não houvesse – e não poderia haver – um compromisso real com um programa real de democratização. faz as pazes com GV.do que as da UDN (lembre-se que o socialista-udenista Hermes Lima ingressaria no PTB em 1957). por outro lado.59) 12 .53) Esse „passado esquerdista‟ pode explicar um pouco o seu não sucesso eleitoral com Eduardo Gomes. permaneceram „os invasores‟ – e nada mais natural que renegasse a fase inicial.” (p. representando paz social. do partido. já que Dutra era a continuação de GV. A tática getulista na conjuntura de 45 lhes dará razão – quanto às posições conservadoras – assim como confirmará o equívoco dos socialistas.” (p. tornando-se um verdadeiro divisor de águas entre a pureza do lenço branco e a transigência do partido dos acordos. e os da direita invasores. Ficamos com a o período final: “A querela da adesão ao governo Dutra redefinirá o papel da UDN. assim. Como os da esquerda se afastaram do partido ainda no decorrer de 1945.” Erraram em achar que todos os setores anti-Getúlio iriam votar em Gomes.fundadores. diferindo. as camadas populares. os setores da burguesia agrária conservadora e da nova burguesia industrial. „esquerdista‟. distantes do elitismo da campanha do Brigadeiro e próximas do candidato do PSD. da UDN. pelo fato de ser apoiado por Getúlio e pelos trabalhistas. mas sem „esquerdismo‟. que temia o „esquerdismo‟ da ala intelectual da UDN. nesse sentido Dutra “contou com apoio de polos opostos: por um lado.
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