A sedução das novas Teologias

March 17, 2018 | Author: Klebesson Dantas | Category: Divinity (Academic Discipline), Bible, Saint, Evangelicalism, Religion & Spirituality


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— ------ !E v ongelh[) da0S » O u a nHca S i l a s Dani el o* d Riod')w eito 2007 REIS B O O lfS DIGITAL Todos os direitos reservados. Copyright© 2007 para a língua portuguesa da Casa Publicadora das Assembléias de Deus. Aprovado pelo Conselho de Doutrina. Preparação dos originais e revisão: Ciro Sanches Zibordi e Silas Daniel Capa: Rafael Paixão Projeto gráfico e Editoração: Natan Tomé CDD: 239- Apologética Cristã ISBN: 978-85-263-0894-7 As citações bíblicas foram extraídas da versão Almeida Revista e Corrigida, edição de 1995 da Sociedade Bíblica do Brasil, salvo indicação em contrário. Para maiores informações sobre livros, revistas, periódicos e os últimos lançamentos da CPAD, visite nosso site: http://www.cpad.com.br SAC — Serviço de Atendimento ao Cliente: 0800-21-7373 Casa Publicadora das Assembléias de Deus Caixa Postal 331 20001-970, Rio de Janeiro, RJ, Brasil Ia edição/2007 A todos os verdadeiros bereanos (At 17.11), que como o salmista exclamam: “Oh! Quanto amo a tua Lei! E a minha medi­ tação em todo o dia!” (Sl 119.97). o “pastor” americano Dan Kimball — autor do livro The E m erging Church: Vintage C hristianiíy f o r New Generations. a aversão a instituições e o hecc m im : i ü í pseudo-teologias.. editado nos EUA pela Zondervan — . dos quais deve­ ria em anar somente a verdade. a : século XX e começa a flo­ rescer agora.Apresentação Vivemos num a época de modismos em : : aos am biros: da pre­ gação. com uma nova abordagem da Bíblia.im en te. não é somente nos púlpitos — o que já é : : utrinas falsificadas têm sido propagadas. morais. e de uma nova teo­ logia. contextualizado. como serão esses 'p eix es : Em A Sedução das Novas T eologws.. se o problem a está no nascedouro. Elas também têm vindo de onde nunca deveriam advir: dos in stituto s teológicos. . Tudo é “novo”. E. comc a :r .. como é o caso da Igre a hmergente e seus enganosos pressupostos.a. do louvor congregacional e da te : ic g. o qual abarca filosofias antibíblicas e anticristãs. Os sem m ar:: í es :1c para a igreja assim como os m angues estão para o m ar. dem aBH nndo que o verdadeiro cristianismo não se rende ao espírito d : ' tempo. Lm dos principais proponentes dessa “nova teologia”. prega a necessidade de uma nova compreensão do evangelho e da espiritualidade. no início deste milênio. sofisticado. baseadas em argumentações meramente raciüciacs. ião apresentadas com novas roupagens. . o autor define e refuta boa parte das teologias pós-modernas. diferente. A Igreja Emergente nasceu no fina." : í .a ::_ização dos valores . Mas não nos esqueçamos do que diz a Palavra de Deus: “Se alguém ensina alguma outra doutrina e se não conforma com as sãs palavras de nosso Senhor Jesus Cristo e com a doutrina que é segundo a piedade, é soberbo e nada sabe, mas delira acerca de questões e contendas de palavras...” (1 Tm 6.3,4). No texto bíblico acima, chama-me a atenção a expressão “outra dou­ trina”, que denota outra doutrina mesmo, dessemelhante (gr. heteron), diferente da verdadeira. Quando Jesus falou do “outro Consolador”, em João 14.16, o termo diz respeito a “outro” (gr. allon) do mesmo nível, semelhante. O termo h eteron tam bém ocorre em G álatas 1.6, quando o apóstolo Paulo, inspirado por Deus, se refere a “outro evangelho”. Precisam os atentar para textos como Atos 2 0 .3 0 e 2 Pedro 2.1 . Igrejas, sem inários, editoras, pastores, teólogos, escritores “evangélicos”, surgidos “entre nós m esm os”, introduzem sorratei­ ram ente heresias de perdição na igreja evangélica. Infelizm ente, o evangelho emergente tem sido a “salvação” dos cristãos sem igreja, desilud id o s, gen eralistas, in satisfeito s com as denom inações e revoltados contra o que cham am de legalism o. Julgando-se superiores aos “legalistas”, esses — que são sim uma espécie de desviados (cf. 2 Pe 2 .2 1) — vivem à m argem do cris­ tianism o organizado e rejeitam qualquer títu lo denom inacional. Eles querem ter liberdade para fazer a sua própria teologia, livres de todo tipo de “legalism o ” e “ortodoxia in flex ível”. Como se vê, o problem a dos em ergentes é que eles estão im ergindo, sofrendo naufrágio na fé, posto que em barcaram num a canoa furada. Que Deus nos ajude a nos m anterm os no grande navio da salvação, seguindo ao verdadeiro evangelho (1 Co 15 .1,2 ; G1 1.8). E que esses im ergentes venham à tona antes que seja tarde dem ais... Silas D aniel trata das “novas teolo gias” com m uito eq u ilíb rio . Ele com bate, sim , a falsa contextualização pregada por K im ball e seus im ergentes, mas tam bém deixa claro que é necessária, nesses últim os dias, um a contextualização saudável. A final, até Jesus se contextualizou! Ele se valeu de elem entos do d ia-a-d ia para ilu s­ trar suas pregações, falando diversas vezes por parábolas. O que é contextualizar de m aneira sadia? E m odificar levem ente a forma de apresentação da mensagem cristã, sem alterar o seu conteúdo. A contextualização em si não é um erro, e sim uma necessidade (1 Co 9 .2 2 ). No entanto, o autor desta obra faz um alerta: “O grande perigo da contextualização está justam ente na má influência da teologia lib eral, ain da em voga em nossos d ias”. E os liberais — que, sem dúvidas, seguem ao grande teólogo Lúcifer, tam bém conhecido como Diabo — vêem na contextualização uma ótim a oportunidade para in cu tir na consciência dos evangélicos os seus princípios destruidores. Oh, Senhor, proteja-nos desses “m inistros da ju s tiç a ”, discípulos do “Anjo de lu z ” (2 Co 1 1 .1 3 -1 5 ). Você já ouviu falar da O rtodoxia Generosa? T rata-se de uma ortodoxia que, na verdade, é uma grande heterodoxia! Não en­ tendeu? Bem, há um exem plo que d irim irá q u alq u er d úvida, contido em 1 Pedro 2.2 : “desejai afetuosam ente, como m eninos novam ente nascidos, o leite racional, não falsificado, para que, por ele, vades crescendo”. Enquanto eu escrevo este prefácio, o Brasil vive a chamada crise do leite. Marcas famosas, como a Par... Ops! Bem, não vem ao caso citar as empresas que estão sendo acusadas de pôr no mercado leite falsificado, que contém soda cáustica, água sanitária, etc. Pobres das nossas crianças e dos cidadãos da melhor idade, os que mais precisam de um puro leite! Mas, você sabia que o Diabo tem uma grande empresa de leite falsificado? É claro que ele também produz e distribui leite falso (que é diferente do falsificado), para atender aos descrentes. Para os evangé­ licos, ele fornece, com grande facilidade de pagamento, o Generosolat, um leite aparentemente saudável, porém cheio de rebeldia à ortodoxia bíblica, questionamentos à inerrància da Palavra de Deus e outros ingredientes destruidores da fé. Os “emergentes” — principais coni _m :c;res desse leite adultera­ do — se dizem seguidores da Palavra de Deus. porém afirmam que a teologia cristã deve ser flexível, e a B:r_;a re-ida e reinterpretada... O M inistério do Espírito adverte: “Leite falsificado faz mal à saúde espi­ ritual e impede o crente de crescer, tornando-o um contextualizador, generoso ao extremo”. Por isso, tais "emergentes”, conquanto anões espirituais, podem estar avançando a passos largos para o Inferno. E os cultos das igrejas emergentes? Ah, estes são uma festa! O au­ tor desta obra denuncia que as aludidas igrejas “não têm uma postura doutrinária definida ou uma exposição doutrinária definitiva, até em relação às doutrinas bíblicas fundamentais. Praticamente, os únicos pontos sólidos em seu pensamento são a existência de Deus e a salvação por meio de Jesus, e neste último ponto ainda há m uita contradição, fruto de sua tendência ecumênica”. Viu o que o Generosolat faz? Cuidado! Outra indústria de leite falsificado é a Relacionalat, que produz o Teísmo Aberto (ou Teologia Relacionai), um dos modismos teológi­ cos que mais crescem em seminários, publicações, igrejas e púlpitos. Muitos têm consumido esse leite adulterado sem perceber, confiando cegamente em seus produtores, que pensando ter uma mente privile­ giada, vêm sendo influenciados pelo dono do grupo que abarca todas as indústrias de leite falsificado, o Diabolat. O autor deste livro explica por que e como surgiu essa “nova teolo­ gia”: “O Teísmo Aberto surgiu em meio ao debate entre duas corren­ tes teológicas: o arminianismo e o calvinismo. Na ânsia de defender o arm inianism o, alguns teólogos, líderes e pensadores evangélicos descambaram para essa teologia liberal, que não honra a Deus nem a Bíblia, e têm influenciado muitos com seu discurso”. Como se vê, é perigoso ser excêntrico, isto é, estar fora do centro. A Palavra de Deus não apóia nem o predestinalismo elitista e fatalista nem o que está na outra extremidade. Tam bém adepto da teoria do aniquilam ento ou esvaziam ento, o Teísmo Aberto baseia-se em passagens fora de seus contextos, como Filipenses 2.7. Aqui, a Palavra de Deus afirm a que Jesus “aniquilouse a si mesmo” (gr. heauton ekenosen), mas os defensores da teoria em apreço interpretam essa frase de maneira errada. Para eles, a ekenosen não se deu como diz a Bíblia e ela ocorreu não apenas na encarnação de Cristo, e sim ao longo da História, como nos casos dos “arrepen­ dimentos de Deus”. Bem, vou parar esse assunto por aqui... Leia este livro para saber por que a Teologia Relacionai é falaciosa. O autor tam bém m enciona a T eologia Q uântica. Você sabe o que é isso? Não?! Então não pode deixar de ler este tratado de falsas teologias. Neste você verá como a aplicação distorcida da ciência é prejudicial à teologia (1 Tm 6.2 0). Sabia que, hoje, cer­ tos teólogos ■ ■que se estribam em seu próprio entendim ento — — questionam inquestionáveis atributos exclusivos da deidade, como a onipresença? Bem, são m uitas as falaciosas teologias que, qual leite contam i­ APRESENTAÇÃO nado, prejudicam o crescim ento dos crentes e, em ú ltim a análise, os levam à morte espiritual. E o caso também do evangelho da auto-ajuda, em que o homem é centro das atenções. Isso, em filo ­ sofia, é chamado de antropocentrism o. Daí esse desvio também ser chamado de teologia antropocêntrica, cuja denom inação em si já é contraditória. Como estudar a Pessoa D ivina valorizando-se ao extremo a pessoa humana? Mas essa aberração teológica faz com que os crentes sigam a um deus que mais se parece com o Papai Noel do que com o Senhor dos senhores, a quem devemos servir, haja o que houver. Os pastores, quais elfos, começam o culto (culto?) perguntando: “Quantos vieram buscar uma bênção?” E os “recém-nascidos” espirituais bebem desse leite falsificado, sem se aperceberem de que, a cada dia, ficam mais vulneráveis aos ataques do Maligno. Louvo a Deus porque ainda há um grupo de pregadores, ensinadores, escritores e articulistas que não se deixaram seduzir pelas falsas teologias em apreço. Não estamos sozinhos, caro leitor! Nós podemos fazer a diferença. “Não deixe amordaçarem a sua fé”, diz o autor desta obra. Não aceitemos a intolerância dos “tolerantes”, que chamam de legalistas os crentes que procuram andar segundo a Palavra de Deus. Eles zombarão de nós; chamar-nos-ão de “fundamentalistas cristãos”. Mas não abra mão das verdades eternas. Junte-se a Silas Daniel, a este prefaciador, ao apóstolo Paulo e a todos os defensores do evangelho de Cristo. E não tenhamos medo de combater o erro, pois “... já é tempo que comece o julgamento pela casa de Deus; e, se primeiro começa por nós, qual será o fim daqueles que são desobedientes ao evangelho de Deus?” (1 Pe 4.17). Ciro Sanches Zibordi E ditor de Obras N acionais da CPAD Sumário Dedicatória.................................................................................. 05 Apresentação................................................................................. 07 Fé sobre o promontório..................................................................15 Parte I — Teologias pós-modernas: o cristianismo que se rendeu ao espírito de nosso tempo.............................. 19 1 —Fervidos em fogo brando..............................................................21 2 - A Igreja Emergente e seus pressupostos enganosos................29 3 - A Teologia Narrativa e a desconstrução da Bíblia.................. 75 4 - 0 que é uma contextualização saudável?..................................95 5 - Ortodoxia Generosa: novo nome para heterodoxia..........105 6 - Teologia Quântica: aplicação distorcida da ciência à reflexão teológica......................................................139 7 - Teísmo Aberto: alternativa sadia ou heresia?.......................155 8 —Os erros de interpretação da chamada Teoria de Kenosis. 177 9 - A falácia do evangelho da auto-ajuda...................................183 10 —Princípios para uma reflexão teológica sadia.................... 191 11 —Que Neustã seja apenas Neustã, e Deus continuará a ser Deus em nossas vidas........................................199 Parte II — Confrontando o fundamentalismo liberal........205 12 - Não deixe amordaçarem a sua fé.........................................207 13 - A intolerância dos “tolerantes”............................................ 217 14 —Não tenha medo de ser taxado de “fundamentalista cristão”.............................................................. 227 15 - Só uma fé engajada e sob o poder do Espírito Santo pode impactar a sociedade................................. 235 Apêndice 1........................................................................ 253 Apêndice 2 ........................................................................ 269 Apêndice 3 ........................................................................ 273 Apêndice 4 ........................................................................277 Apêndice 5........................................................................289 Apêndice 6........................................................................295 Você já ouviu falar de promontório? Promontório é uma ponta de terra elevada que avança para o mar. E aquela formação rochosa que invade as águas, às vezes como um grande dedo apontado para cima e sobre o qual as pessoas podem ficar olhando o horizonte com a brisa do oceano a acariciar o seu rosto. Uma pessoa no cume de um promontório é uma cena clássica que ilustra bem alguém que vive em um momento crítico ou de profunda reflexão; alguém que está encurralado, que não tem mais para onde ir, mas que, por outro lado, tem o infinito diante de si, representado pelo imenso mar diante de seus olhos. Não é à toa que muitas pessoas do passado taziam suas preces e adoravam em promontórios. O cenário é inspirador. Mas, porque começar este livro sobre o perigc ie novas teologias evocan­ do a imagem do promontório? A razão é simples: ela tem tudo a ver com o momento que o cristianismo está atravessando em nossos dias. Vivemos, no Brasil e no mundo, um período histórico que nos remete a uma situação limite. Estamos inseridos em uma conjuntura que exige dos cristãos hodiernos uma profunda reflexão e uma atitude concreta de retorno às raízes da genuína fé cristã. Quais são os elementos que têm levado o cristianismo no Ocidente ao “topo do promontório”, ou seja, a essa situação limite? Do lado de fora, o fundamentalismo liberal, que tenta varrer a todo custo a influência cristã na sociedade. Do lado de dentro, além dos modismos neopentecostais, o avultamento do liberalismo teológico camuflado por um discurso pós-moderno que apresenta uma espiritualidade aparentemente mais sadia, mais coerente e mais honesta. As teologias pós-modernas têm seduzido muitos cristãos sinceros que, frustrados com o avanço das bizarrias neopentecostais e com a incoerência teológica e comportamental de muitos evangélicos, acabam tentados a ver essas novas teologias como uma alternativa sadia. Não percebem que, ao abraçá-las, estão esquivando-se de uma patologia para cair em outra. En­ quanto isso, o verdadeiro avivamento continua distante. Por todos esses fatores, o cristianismo no Ocidente está em um promontório. O que não significa o fim da linha. Essa situação limite pode culminar, depen­ dendo de nossa reação diante dela, em uma total derrocada espiritual ou em um avivamento. Pode resultar em um avivamento genuíno ou em um cristianismo totalmente morto, posto que esvaziado do seu verdadeiro conteúdo. Alguém que é arrastado a um promontório possui diante de si apenas duas opções: render-se no topo do promontório ou mergulhar; entregar-se ou saltar para perfurar a superfície das águas em busca de saída e profundi­ dade. Assim, o que parecia ser o fim tornar-se-á o começo. Essas crises por que passam o cristianismo em nossos dias não devem nos levar a capitular, mas, sim, nos impulsionar ao oceano que sempre esteve à nossa disposição e que talvez só agora chama a atenção de alguns cristãos, se tornando uma urgência para eles. Como já foi repetido tantas vezes na História, a crise é ao mesmo tem­ po uma oportunidade. Se estamos chegando ao que parece ser o “fim da linha”, por outro lado, há o infinito diante de nós. O promontório, repito, significa que o fim de algo pode ser o começo de outro muito maior. Pode ser o início de um avivamento. O oceano está diante de nós! Se, infelizmente, alguns cristãos já cederam às pressões do fundamen­ talismo liberal ou caíram no canto de sereia das neoteologias, estando hoje ou amordaçados ou iludidos por miragens que se fazem passar pelo verda­ deiro evangelho, ainda há, porém, outros cristãos que não se renderam e lutam bravamente contra as mordaças do mundo e as teias liberais. Estes sabem que, mais do que nunca, é hora de enfatizarmos a necessidade de um retomo genuíno às bases bíblicas da fé cristã. A crise nos arrasta em direção ao oceano. Precisamos refletir sobre a efetividade da influência dos valores cristãos na sociedade de hoje. Devemos também nos precaver contra as armadilhas deste século que tentam ou emudecer ou distorcer o testemunho cristão, F SOBRE O PROMONTOÓRIO É transformando-o em algo “inofensivo”, subjugado pelo espírito do nosso tempo; e buscarmos mais de Deus por meio de Sua Palavra. Para isso, é preciso identificarmos os nossos problemas, pois só depois do diagnóstico, podemos aplicar a cura; só depois de desfeitos os grilhões, podemos saltar em busca de profundidade. Quem mergulha amordaçado e agrilhoado encontra a morte, mas quem mergulha sem grilhões encontra a liberdade do oceano. Este livro é um convite à reflexão e ao avivamento. É um convite para que os cristãos de nossos dias não negociem seus valores, seus princípios e sua fé, pois “a vitória que vence o mundo é a nossa fé” (ljo 5.4); e um convite também para que nos joguemos nos braços de Deus sem reservas, clamando por um autêntico mover de Deus em grande escala, posto que nenhum cristão conseguirá impactar a sociedade sem o engajamento neces­ sário somado a um derramamento genuíno do Espírito Santo. É hora de mergulharmos em busca de profundidade. Lancemo-nos em busca de mais de Deus à luz da Bíblia, de relevância e de avivamento. Em nome de Jesus. m o d e r n a s : O CRISTIANISMO QUE SE RENDEU AO ESPÍRITO DO NOSSO TEMPO .T e o l o g ia s p ó s . Uns acreditam que o que chamamos de pós-modernidade é um rompimento total com a Modernidade. sendo-nos impostas sob a bandeira da pós-modernidade. precisamos antes entender o que é a pós-modernidade.C a p ít u l o Fervidos em Fogo Brando A comunidade cristã de nossos dias está cercada por um redemoinho de mudanças que tiveram seu nascedouro no século passado e estão sendo radicalizadas nas últimas duas décadas. Para entendermos que “demandas” são essas que estão influenciando perniciosamente a teologia e desfigurando o evangelho. “necessidades inescapáveis de nosso tempo” e. Essas mudanças as quais me refiro são apresentadas como "demandas de nossa época”. Alguns datam seu início no final do século XIX e outros o colocam entre o fim da Segunda Guerra Mundial e o início da década de 50. têm seduzido muitos cristãos incautos em sua reflexão teológica. A pós-modernidade é difícil de se definir. infe­ lizmente. assim como a Modernidade . a radicalização de alguns desses princípios. aumentando o abismo entre a sociedade e os valores judaico-cristãos (que já haviam sido tirados do centro pela onda modernista). ou seja. Há rompimentos claros. não em uma dissociação absoluta entre elas. na pós-modernidade o centro passou a ser “qualquer coisa. Roger Garaudy. um desdobramento radical da Modernidade. Ela tanto rompe com algumas idéias modernistas (como a utopia de que o progresso tecnológico. mas. crêem que a pós-modernidade não é um rompimento completo com os princípios da Modernidade. Seja como for. um passo a mais. Há desencantos e rupturas. propondo a elas apenas um desdobramento maior. já que os valores utó­ picos (antropocentrismo). se na Idade Média o centro era supostamente Deus (digo supostamente porque. particularmente creio —e não só eu. é importante que se diga. sim. a pós-modernidade foi mais além com os pressupostos da modernidade. era a religião) e na mo­ dernidade o centro passou a ser o homem (teocentrismo substituído por antropocentrismo). A pós-modernidade. Por exemplo. Outros. que a distinção entre a Modernidade e essa nova fase. dão lugar agora à indefinição de valores. científico e industrial é garantidor de um mundo melhor) quanto procura valorizar algumas das conquistas modernistas. Aliás. como sabemos. mas. Ela deu um passo a mais em relação àquele que a Modernidade já tinha dado. Ademais. o termo “pós” indica tanto continuidade como descontinuidade. reside basicamente. . sim. na ânsia que a pós-modernidade tem de radicalizar alguns pressupostos nascidos e gestados na Modernidade. é caracterizada tanto por uma anti-modernidade quanto por uma sobre-modernidade. fato é que estamos atravessando uma fase da História com nuances particulares. Ou seja. como define a maioria dos teóricos. mas há mais radicali­ zações do que rompimentos. Jorge Zahar Editor). Disso ninguém tem dúvidas. mas boa parte dos cientistas sociais de nossa época que a segunda posição é um pouco mais coerente. E com esse passo. alargou a sensação de falta de sentido na existência. batizada de pós-modernidade. “Pós” não significa necessariamente “anti”. na verdade. Não é à toa que já constatava o escritor francês e crítico cultural André Malraux (1901-1976) antes de falecer: “Nossa civilização é a primeira na história que à pergunta A vida tem um sentido?’ responde ‘Não sei”’ (Deus é necessário?. ou seja. que já tinham substituído os valores absolutos (teocentrismo). mas nem tudo é descontinuidade.foi o rompimento com os princípios que nortearam a Idade Média. porém. menos Deus”. chegamos à quarta palavra-chave: o hedonismo. o único dogma não relativizável. A relativização dos valores e dos dogmas é um rrincípio basilar pósmoderno. As pessoas confiam cada vez menos nas instituições. aversão/frustração (em relação às ins­ tituições). Como conseqüência de tudo isso. no clássico Alice no País das Maravilhas. o axioma da humanidade passa a ser a orientação do gato à pequena Alice. seu sentimento. Ou seja. qualquer caminho serve”. se:ain e_as : Estado ou igrejas. O mote passa a ser a famosa recomendação dada aos heróis dos filmes pelos seus mentores nos momentos em que os heróis precisam tomar alguma grande decisão: “O que diz o seu coração? Siga o seu coração!” . Mas. que é a crença de que o prazer é o maior fim da vida. \lrou moda a idéia de desconstrução ou fiuidificação de absolutos. mesmo nessas condições. o prazer se torna a única referência. cada um segue o seu feeling. A frustração e a aversão em relação a tudo o aue se inresenta como ins­ titucional. contraditoriamente. desconstrução e hedonismo. Fiódor Dostoiévski). do inglês Lewis Carroll: “Quando não se sabe para onde ir. E há. você há de convir que. “se Deus não existe. sua intuição. O IMPÉRIO DO ETHOS HEDONISTA Devido à relativização. Ele se chama auto-satisfação. e os institutos morais também estão sendo atacados. a ponto de a afirmação “Tudo é relativo ter se tornado. de sentidos e de valores. o maior bem da existência.C a p ít u l o 1 RELATIVIZAÇÃO. as quatro palavras-chave ou palavras de ordem são: relativização. posto que onde não há mais valores absolutos. Essa filosofia tem se tomado o único padrão édco de nossos dias. onde não existem absolutos. logo tudo é permitido” {Os irmãos Karamazov . deve haver um padrão mínimo de escolha dos caminhos. Como diz o personagem Ivan Karamazov a seu irmão Aliocha. à frustração e à desconstrução. AVERSÃO A INSTITUIÇÕES. oficial e organizado formam outra tendência comum. onde não há referências. DESCONSTRUÇÃO E HEDONISMO Nessa esteira ideológica de nossa época. os sociólogos chegaram até a cunhar o termo “satisfício” para se referir à disposição das pessoas de sacrificarem seus desejos objetivando possibilidades maiores. mesmo que deste não resultasse nenhuma compensação imediata para os que se sacrificavam. mas retirar limites? Outro exemplo: quando confrontamos os atos errados de algumas pessoas com os princípios morais e bíblicos. têm em sua base. Mas. na atual obsessão em retirar limites. Se não. Mesmo sendo de grande importância. por exemplo. aqueles que ouvem nossa crítica e estão impregnados pelo espírito desta época geralmente tentam rebater dizendo: “ pessoas têm o direito de procurar a sua felicidade”. Até pouco tempo. E verdade. se algo provoca prazer ou emociona. esses dois fenômenos pósmodernos. a ética da pósmodernidade é o prazer e a satisfação. é a de que só devemos nos sacrificar em prol de uma causa que traga uma compensação imediata ou em prol de causas “charmosas” como as que se baseiam no conceito de politicamente correto e. princípio este que sugeriria sempre a idéia de egoísmo. É esse o espírito prevalecente em nossos dias. por isso. sem interesses meramente pessoais e sem a garantia de algum resultado imediato.Na lógica hedonista que rege a pós-modernidade. Já notou que a maioria das leis de hoje não tem por objetivo criar limites. Todavia. Nos anos 70. ainda era bem aceita na sociedade a idéia de se sacrificar em prol do grupo sem receber nada em troca. Até algumas décadas atrás. então conclui-se que é bom. provando que nem tudo na sociedade pós-moderna é guiado pelo princípio hedonista. A atual tendência. predominante a partir dos anos 90. na verdade. mas uma análise mais atenta mostra que seu principal combustível é justamente a lógica hedonista. Ou seja. garantindo o seu sucesso. mas nossa procura pelo prazer. não deve ser o único e definitivo critério legitimador. será que tudo que acontece no mundo de hoje é impregnado pela ética hedonista? Alguém pode questionar que o crescente engajamento mundial em prol da preservação do planeta e o aumento de investimentos em causas sociais por parte de grandes grupos capitalistas seriam fenôme­ nos na contramão. vejamos. . O prazer não deve ser um fim em si mesmo. todos têm As esse direito. O resultado disso pode ser visto. trazem um benefício à imagem de quem se envolve. pela felicidade e pelo bem-estar deve ser pautada pelos valores morais e bíblicos. Eles poderiam acontecer sem a influência desse princípio. hoje a mentalidade é outra. o ethos hedonista. ainda se tinha a idéia de que os princípios morais e os valores transcendentes faziam valer a pena qualquer sacrifício. a crescente participação de empresários e artistas em causas nobres também tem como força motriz a ética hedonisti. Muitas pro­ pagandas pró-movimento ecológico exploram a lógica hedonista para atrair mais adeptos e incentivar os que já vestiram a camisa. Por sua vez. religiosa (como se estivessem aderindo a uma nova e revolucionária filosofia de vida. que promovem um verdadeiro terrorismo (que é criticado por vários ecólogos de renome no mundo . porém. bem ao estilo de algumas religiões orientais. E mais: cristãos adep­ tos desse movimento já estão vivendo uma verdadeira relação emocionalreligiosa com a natureza. Mesmo que o resultado seja parcialmente imediato. Essa participação avultada não é fruto de um repentino e inexplicável boom de conscienti­ zação das pessoas em relação à necessidade de ajudar o próximo (como se. frisar que. Entretanto. melhor ainda. sem dúvida. devemos. apesar do tradicional discurso “carregado de tinta” dos ecologistas. até mesmo nesta moda crescente de pessoas que investem em causas sociais nobres. a lógica hodierna determina que não basta que o propósito do sacrifício seja correto. Seu sucesso está firmado na ditadura do politicamente correto e nesse componente psicológico apelativo. o que se vê hoje é a maioria das pessoas que se engajam em causas ecológicas se comportando de uma forma devotada. de repente. Há uma verdadeira glamourização da idéia de ser “verde”. Que há dentre eles alguns que o fazem desinteressadamente é fato. em última análise.C apítulo 1 Além de ser extremamente impopular na pós-modernidade o sacrificar-se por algo que exige paciência para que dê frutos. isto é. lutar pela preservação da natureza. em contraposição a esse senso sadio.ver Apêndice 2). o que predomina é a ética hedonista. É necessário. a uma “seita ecológica”). E a lógica hedonista que determina o ato. Assim. “caísse a ficha” de todos os empresários e artistas para o fato de que devem investir em causas sociais). mas. e tendo seu modo de vida determinado pelo apelo emo­ cional da pregação ambientalista. uma inferência bíblica (Ap 11. e não no próximo. Essa é. ele deve ser também politicamente correto. inclusive.18). por causa da necessidade de aparentar ser correto para o bem de sua própria imagem e não porque haja realmente algum interesse cândido em ajudar as outras pessoas. a maioria o faz devido à ditadura do politicamente correto. A popular onda ecológica que o diga. E se houver um componente quase religioso somado a um terrorismo psicológico para compensar a ausência do retorno imediato. pois a maioria faz o bem pensando em si mesma. infelizmente. a escolha: “Vai fazer bem para mim? . basta ser politicamente correto para ser aprovado e apreciado. gostaria de chamar a sua atenção para o fato de que podemos ver também esse ethos em circunstâncias mais sutis. à sua emoção e ao sen feeling. É o ethos hedonista influenciando o meio cristão. Mas. Sentenciando: devemos fazer o bem desinteressadamente e não influenciados pela ética hedonista. mais do que todas as coisas” (Jr 17. e ainda que entregasse o. que possa ser aprovada com louvor pelo coração. preferindo dar mais valor à sua intuição. não é mais tão importante se algo é verdade ou não. vejamos uma nova interpretação que possa ser aceita pela ditadura do “politicamente correto”. mas se esse algo faz sentido ao coração das pessoas. que envolvem situações onde um cristão desatento pode confundir o ethos hedonista com manifestação do amor cristão. se o coração delas aprova ou não esse algo. que geralmente começa com colocações do tipo “E se o escritor bíblico não quis dizer isso. Tal mentalidade choca-se com o ensino bíblico: “Ainda que distribuísse toda a minha fortuna para sustento dos pobres. supervalorizando ofeelin g pessoal em detrimento de uma leitura verdadeiramente honesta da Bíblia. e não dvesse amor. . Mas as Sagradas Escrituras alertam: “Enganoso é o coração. ao seu coração como definidor de certo e errado. mais sentido para o que diz o seu coração) do que tudo que já foi dito até então a você sobre essa passagem: Em outras palavras. Se aprova. Do que estou falando? É cada vez mais comum cristãos atentarem menos para o que a Bíblia diz sobre determinada situação ou assunto. e dar a isso o nome de “espírito cristão” ou “amor cristão”.Vai lustrar minha imagem? Aumentará minha credibilidade? Vou ganhar com isso? Vai dar retorno? E ainda vou ganhar elogios que darão prazer a meu ego? Então. Como conseqüência. nada disso me aproveitaria” (ICo 13. Isso significa que as pessoas estão deixando cada vez menos a Bíblia falar por si mesma e cada vez mais fazendo com que a Bíblia diga o que elas querem que ela diga. enfim. está se tornando igualmente comum a leitura da Bíblia a partir de interpretações condicionadas.9). vou ajudar”. O fim do “satisfício” e o boom da solidariedade baseada na lógica da com­ pensação e na ditadura do politicamente correto só reforçam a percepção da predominância do ethos hedonista na nossa sociedade. meu corpo para ser queimado. está tudo bem. A coqueluche do momento é a leitura subversiva da Bíblia. demonstrando um “ensimesmamento” camuflado de bondade. Se não. como todos imaginam? E se ele quis dizer outra coisa e ninguém percebeu até agora? E se essa coisa que ele realmente quis dizer e ninguém percebeu fizer mais sentido para você (ou seja.3). (3) procurarem desconstruir o que chamam de sistemas teológicos montados para “encapsular o verdadeiro cristianismo” e (4) pregarem uma espécie de cristianismo hedonista. NA CHALEIRA: INFLUÊNCIA SUTIL Entorpecidos por essas falsas necessidades que nos são impostas. desconstrução e hedonismo. O pior de tudo isso é que essas influências muitas vezes passam des­ percebidas em nosso meio devido à forma paulatina e sutil como elas acontecem. à Igreja e a Deus. A doutrina é adaptada ou reformulada conforme a sensibilidade dos cristãos pós-modernos. frustração com as instituições. Essas neoteologias se caracterizam por: (1) tentar relativizar os dogmas cristãos. que nada mais são do que tentativas de adaptar o evangelho a essas ditas “demandas”. Em seu livro The Frog in the Kettle (“A rã na chaleira”). George Barna.FERVIDOS E FOGO BRANDO M C apítulo 1 AS “DEMANDAS” TÊM INFLUENCIADO PERNICIOSAMENTE A TEOLOGIA As chamadas “demandas” da pós-modernidade são exatamente fruto dessas quatro palavras-chave de que falamos: relativização. mudando sua mentalidade em relação à Bíblia. São essas quatro “demandas” que definem o que é correto e o que seria uma sociedade feliz em nossos dias. ou seja. de acordo com o seu feelin g cultural. Demarcando. (2) serem absolutamente avessas a qualquer forma de cristianismo como religião organizada. infelizmente. lançado nos Estados Unidos em 1997. e isso. Esses cristãos. as “demandas” de nossa época são: (1) a “necessidade” de relativizar os dogmas. onde o sentimento e a experiência estão acima da doutrina bíblica ou em oposição a ela. fundador da maior companhia americana de pesquisa e marketing para igrejas. analisava como seria a igreja . e são elas que estão influenciando a teologia de muitos cristãos hodiernos. são os seguidores do que denominamos teologias pós-modernas. muitos cristãos no Ocidente estão flexibilizando sua fé. aos princípios da pós-modernidade. cujo número cresce cada vez mais. (2) a “necessidade” de romper com as instituições. já está acontecendo também no Brasil. (3) a “necessidade” de desconstruir os sistemas e (4) a “necessidade” do prazer como sentido da vida. porque sabe que o ambiente é hostil. supostamente mais contextualizada com a nossa época. porque estão sendo “fervidos” a fogo brando. Diz Barna que a razão de essas mudanças conseguirem enredar muitos cristãos incautos se deve ao fato de que elas ocorrem tão gradualmente que freqüentemente não são notadas. a rã não pulará para fora. E iniciaremos falando de um movimento que já é muito popular nos Estados Unidos e na Europa. fim do “satisfício”. os princípios pósmodernos vão invadindo as igrejas. e nossa pobre rã ferverá também —muito contente. Continue a aumentar a temperatura até que a água ferva.evangélica do século XXI e afirmava já naquela época: “Estamos sendo hipnotizados pelos engodos da cultura moderna [na verdade. mas apenas ficará lá sem perceber que o ambiente está mudando. “É como a conhecida história da rã na chaleira de água”. já que as características dessa cultura que Barna cita em sua obra são todas próprias da pós-modernidade: relativização de absolutos. o que mais chama a atenção na análise do pesquisador é justamente a ilustração que ele usa no primeiro capítulo para aludir ao momento que o cristianismo no Ocidente está vivendo. para outros gostos. os púlpitos e os seminários. Aos poucos. e que começa a dar seus primeiros passos em nosso país: a Igreja Emergente. A sutileza dos discursos que sustentam a necessidade de uma teologia pós-moderna. etc]”. mas morrerá”. Teologia Quântica. É crescente a popularização. de neologismos como Teologia Narrativa. Mas. revelando o perigo de seus pressupostos para a saúde teológica e espiritual de cada cristão em particular e da Igreja no Brasil como um todo. Teísmo Aberto (ou Teologia Relacionai) e. É isso que estamos vendo no Brasil hoje. e poucos se dão conta disso. para além das salas de aula dos seminários. arremata Barna. do chamado evangelho da auto-ajuda. Vagarosamente. aumente a temperatura da água e. Por isso. urge trazer à tona o que está por trás desses modismos teológicos pós-modernos. desta vez. É isso que faremos nos próximos capítulos. . afirma ele. deixou de estar restrita a pequenos círculos teológicos. desprezo às instituições. pós-moderna. muito vagarosamente. “Coloque uma rã em água fervente e ela imediatamente pulará para fora. Mas coloque uma rã numa chaleira com água em temperatura ambiente e ela ficará feliz ali naquele ambiente. talvez. mas floresceu no início do século XXI. Um de seus mais famosos proponentes é o pastor americano Dan Kimball.C a p ít u l o A Igreja Emergente e seus pressupostos enganosos Como os princípios liberais da pós-modernidade estão entrando nas igrejas ou criando comunidades sincretistas que atraem cristãos frustrados O modismo denominado Igreja Emergente e muitíssimo novo. pesquisas de institutos cristãos já haviam cons­ tatado uma tendência diferente no meio evangélico dos Estados Unidos e que nada mais era do que o movimento já em formação. . se cristalizasse e se tornasse uma realidade. Um pouco antes. que lançou em 2003 o livro The Emerging Church: Vintage Christianity fo r New Generations (Zondervan). Trata-se de um movimento que prega a necessidade de uma nova compreensão do evangelho e da espiritualidade. O livro de Kimball foi apenas o marco para que o movimento da Igreja Emergente finalmente ganha-se corpo. porém. e de uma nova teologia com uma nova abordagem da Bíblia. Nasceu no final do século XX. vamos falar de cada uma delas).Essa tendência. massificados todos os dias pela mídia. a Igreja Emergente (a partir de agora passarei a denominá-la em alguns momentos de IE) convida esses cristãos insatisfeitos a viverem sua fé totalmente à margem do cristianismo organizado. como também é chamada. seja em comunidades informais. da qual Kimball foi um dos primeiros a expressar e sintetizar (inclusive cunhando o termo vintage christianity —algo como “cristianismo da vindima” ou “cristianismo da colheita” —que passou a ser usado para definir o movimento). os emergentes têm certa dificuldade para diferenciar os cristãos sérios no meio evangélico daquele evangelicalismo doente que grassa esse meio. colocam todos “dentro do mesmo saco”. Atualmente. são o Teísmo Aberto. termo que também tem outros sentidos para os emergentes) e com o “sistema” e “jeito de ser” do meio evangélico. . Os adeptos da IE procuram desconstruir e redefinir as crenças cristãs. ou até mesmo em comunidades oficiais. Igreja Emergente ou Igreja Pós-moderna. sem qualquer título denominacional e onde a teologia pregada está sujeita a mutações constantes. é um movimento nascido no meio evangélico e que procura atrair cristãos influenciados pela pós-modernidade. que são dois princípios básicos da IE. Viciados em estereótipos. a Teologia Narrativa e a Teologia Quântica (nos próximos capítulos. mas que adotem os mesmos princípios de reformulação teológica constante e aversão a todo tipo de “legalismo” e “ortodoxia inflexível”. justificando sempre com a afirmação de que estão em busca de novos significados para a adoração. Gente que se diz cansada ou frustrada com a organização e a tradição de suas denominações (o que chamam in­ variavelmente de “legalismo”. Tudo isso catalisado pelos valores da pós-modernidade. Assim. não aceitam uniformidade e padrões. as mais recorrentes. as teologias mais atraentes para os adeptos da IE. Em síntese. produziu a Igreja Emergente. nasceu pela conjunção dos seguintes fatores: muitos cristãos se sentindo insatisfeitos com o tipo de vida espi­ ritual que estavam vivendo e a crescente frustração de muitos deles com a estrutura e a tradição de suas igrejas. via de regra. principalmente aqueles cristãos sem igreja ou que se definem como desiludidos ou insatisfeitos com suas igrejas ou com todas as igrejas. de uma nova compreensão de Deus fora das “amarras” das teologias sistemáticas do meio evangélico e de uma vida cristã menos legalista e que interaja mais com os anseios do nosso tempo. adaptam seus métodos de expressão do cristianismo conforme a cultura pós-moderna. como este mesmo conta em seu livro Uma ortodoxia generosa — a Igreja em tempos de Pós-modernidade (Zondervan. não foi ele o criador do termo para designar o movimento. no mundo virtual. Em todos os países onde a IE se encontra. a maior ferramenta usada para disseminar o movimento e suas idéias. mas já adotaram os princípios da IE. Porém. principalmente os blogs. a utilização desse meio de comunicação entre cristãos é muito comum. Isso já está acontecendo inclusive no Brasil. EUA. criando mais adeptos. A ORIGEM DO NOME Apesar de Dan Kimball ter sido o primeiro a lançar um livro apresen­ tando claramente a proposta da Igreja Emergente. 2007). devido à proliferação de blogs de cristãos emergentes. influenciados pela idéia do movimento (na maio­ ria das vezes disseminadas pela Internet). Leste Europeu. principalmente nos Estados Unidos. Nova Zelândia e África. mas os cristãos conservadores de várias matizes denominacionais já estão começando a fazer uma bela frente contra a influência dos emergentes. aos 39 anos. é importante registrar que. Outro detalhe é que a IE já provocou muitas divisões em igrejas pelo mundo. Muitos cristãos. combatendo seus pressupostos com argumentos sólidos baseados nas Sagradas Escrituras. em resposta. é a Internet. Os emergentes foram os primeiros a perceberem a importância e o poder dessa ferramenta chamada Internet. 2004 e Editora Palavra. Há também igrejas evangélicas que continuam sendo uma organização formal. que é considerado o “guru” dos emergentes (vamos falar muito dele ainda neste capítulo). os seguidores dessa visão reúnem-se informalmente em casas ou em eventos semanais em lugares variados. Mclaren.A IGREJA EMERGENTE E SEUS PRESSUPOSTOS ENGANOSOS C apítulo 2 A IE já é bastante comum nos Estados Unidos. em 1996. O título “emergente” surgiu dois anos antes do livro de Kimball e é invenção dos pastores Doug Pagitt e Brian Mclaren. conta que tudo começou quando. abandonaram suas igrejas para se reunir em comunidades informais. surgiram nos últimos anos. e já aflora no Brasil. a influência dos emergentes. Geralmente. foi convidado para fazer parte do Departamento de Liderança Jovem da Leadership Network dos Estados Unidos (Rede de Liderança . Austrália. muitos blogs de cristãos conservadores para combater. No Brasil. não consigo lembrar qual dos dois (um sinal de boa colabora­ ção.com). mas cujos brotos crescem através da superfície da água para absorver por completo o sol não-infiltrado”. mas. Relata ele (que era considerado o “vovô” do departamento por ser o mais velho de todos) que a idéia do termo “emergente” surgiu depois de cinco anos trabalhando no Young Leadership NetWork (YLN). Mclaren dá detalhes sobre os significados do termo emergente em vários contextos e aplica esses significados à proposta da IE. emergentes são plantas que vivem simultaneamente em mundos diferentes”. Trocando em miúdos: a IE cresce com a morte das igrejas do cristia­ nismo organizado. que já desenvolvia a visão da IE mesmo sem ainda usar o termo. “cujas raízes estão no solo sob a água. Mclaren ainda cita o caso das plantas semi-aquáticas. elas [as árvores das florestas emergentes] parecem diminuídas. prontas para voar bem alto. Ele fala. Logo. apareceu com um novo nome para o grupo: em ergente (www. os emergentes celebram a morte delas (ou apostam nisso) para que uma nova igreja. de envelhecimento ou de ambos). na verdade. tolhidas. A expressão teria surgido pela primeira vez em suas conversas com Doug Pagitt. “Em certo sentido. encontrei Doug Pagitt para discutir nos­ sos planos futuros. radi­ calmente diferente de todas elas e supostamente melhor (a IE). . estão esperando. as emergentes estão ali. Isso quer dizer que a IE é caracterizada pelo ecletismo e pela busca por se adaptar a ambientes diferentes para seu desenvolvimento. descreve ele. também conhecido como Projeto Terranova. Registra Mclaren: “Em 2001. uma vez que o YLN havia sido lançado pela Leadership NetWork para ter vida própria como uma identidade independente. Sempre que uma árvore madura morre. preencher a lacuna e se desenvolver sob a luz do que agora está disponível a elas”. do sentido do vocábulo na silvicultura.dos EUA). restringidas pela sombra das árvores maduras. levante-se e estabeleça-se.. ela depende da morte ou do enfraquecimento destas para se desenvolver. (.emergentvillage. Nas páginas 304 a 306 de Uma ortodoxia generosa. Em vez de lutar pela saúde espiritual de igrejas que estão eventualmente morrendo nos EUA e na Europa. arrematando em seguida: “Nesse sentido. onde é aplicado para designar o surgimento de novas florestas a partir da morte das florestas mais antigas. Não tínhamos idéia de como o nome seria apropriado e do quanto seria útil para a continuidade do nosso trabalho”.) Um de nós. por exemplo.. e. tenderá a morrer. uma igreja “em um nível acima”. cidades e software). porque resiste a essas mudanças. e por ser um cristianismo assim. finalmente. é de que a IE é uma etapa necessária e inadiável na história da Igreja. porque não se adapta a elas. de habitantes da cidade) pode ser mais astuta que seus componentes. conforme sugere suas palavras. Diz ele: “O significado de em ergente conforme usado nesses e em outros cenários é uma parte essencial do ecossistema da ortodoxia generosa. Pense no corte transversal de uma árvore. dizem seus adeptos que a IE continuará viva e ativa. A idéia. “menos rígida”. uma abrangência. Para os emergentes. portanto. Usando uma visão darwinista (aliás. O crescimento anterior da árvore é integrado e. pois ela seria fruto de um processo de evolução que a Igreja estaria experimentando durante os séculos. é um cristianismo que se rende e se adapta a este mundo diferente. matrizes de germe de lodo. Cada gomo representa não uma subs­ tituição dos gomos anteriores. Um simples diagrama pode ilustrar aquilo que queremos dizer com pensam ento emergente. como novos níveis de inteligência emergem da interação entre inteligências menores”. essencial ao crescimento contínuo e à força dessa árvore”. de fato. Outra inspiração veio do best seller americano Emergence: The Connected Lives ofAnts. de Steven Johnson. a igreja na antiguidade evoluiu até chegar à igreja medieval. enquanto o cristianismo organizado oficial. Cities ayid Software (Emergência: a vida conectada das formigas. muitos adeptos da IE crêem no evolucionismo e acreditam que Adão e Eva são mitos). cujas mudanças foram encetadas pela pós-modernidade. Em seguida. Mclaren conclui sua apresentação do conceito da IE usando como ilustração o que se vê no corte transversal de uma árvore. Mclaren explica a tese da obra e como ela tem a ver com o conceito da IE: “O livro explorou como uma comunidade (de formigas. resultaria em uma igreja mais inteligente. não a rejeição. mais evoluída. publicado em 2001. a salada teológica proporcionada por uma “ortodoxia generosa”. uma inclusão deles em algo maior. a igreja moderna teria rompido em relação a algumas coisas e avançado em relação a outras da fase anterior da igreja. que teria abrigado os avanços da antiguidade e acrescentado a estes outros avanços próprios do período medieval. Ou seja. “flexível”. a IE seria a igreja pós-moderna rompendo com alguns posicionamentos da igreja moderna e agregando novas reflexões e posicionamentos àqueles da igreja moderna. a Igreja Pós-moderna ou . cérebros. Em seguida. mas uma incorporação.C apítulo 2 Para ser mais específico. Brains. por exemplo. se formos mais honestos. o estágio mais avançado dele até agora. a Igreja Primitiva estava muito acima. não é um quadro que sugere emergência em nossos dias. “Cada época abrange. entretanto. tempos à frente. Outra observação que não pode ser esquecida é que. onde o gráfico voltou a subir e. por sua vez. Adiante. porque a Igreja Católica continuou essencialmente estagnada no tempo. mesmo nos momentos mais difíceis do cristianismo orga­ nizado. E na tentativa de não soarem tão arrogantes. houve resgate das perdas na Idade das Trevas. somos melhores do que eles ou mais evoluídos espiritualmente. O que os defensores da IE esquecem ou preferem ignorar é que a história da igreja cristã organizada não é marcada por uma evolução. Ademais. sendo seguida por uma queda vertiginosa na chamada Idade das Trevas. em todas as épocas da História. Quer dizer que. na Reforma. E na seqüência. cristãos que. e. veio novo esfriamento decorrente do advento do liberalismo teológico e. sempre houve grandes homens e mulheres de Deus. integra e consolida os ganhos das an­ teriores e então estende esses ganhos a novos territórios. novo avivamento. mesmo sendo sempre minoria. a igreja da Reforma não teve ganhos em relação à da Idade das Trevas. ao fazer assim. mas. como o gomo de uma árvore”. veremos que a história do cristianismo não é um gráfico ascendente.IE seria o hom o sapiens da história da evolução da Igreja. houve nova queda. como o Avivamento Wesleyano. E dois parágrafos adiante. mas um quadro repleto de subidas íngremes sucedidas por descidas extremamente depressivas. os adeptos da IE dizem que a Igreja ainda está em evolução e que eles ainda não são o final do processo. inclui. integra e revaloriza os ganhos dos estágios anteriores. nós. onde. abraça. só em relação a um grupo. após este. com pungente esfriamento espiritual. houve perdas. mesmo assim. Note: “a um nível superior”. o “guru” dos emergentes volta a enfatizar: “Cada estágio inclui. foram fiéis a Deus em tudo e por isso são exemplos para nós. se eleva a um nível superior”. E injusto dizer que. explica Mclaren. sim. depois da Reforma. hoje. até chegarmos à nossa época estigmatizada por tremendas irregularidades. mas. surgiram avivamentos. agregando de forma bem-sucedida todas as mutações que a Igreja sofreu durante a História. que. mas por um gráfico irregular. seria o clímax do processo evolutivo da Igreja durante os séculos. Nesta. . foi sucedida pelo período da Refor­ ma Protestante. O melhor cristão de hoje não é maior ou mais evoluído do que o melhor cristão da Igreja Primitiva ou dos grandes avivamentos. posto que ele é considerado. LeRon Shults. Conhecer o pensamento de Mclaren é importante se queremos entender a ideologia dos emergentes. e os cristãos fiéis de todas elas foram os que não se deixaram levar pelas influências e modismos de sua geração. Afirmar o contrário e ainda defender que uma igreja influenciada pelos princípios da pós-modernidade é mais refinada e de um nível superior em relação às igrejas de todas as fases da História trata-se não apenas de uma ilusão. ele tem se dedicado a dar palestras pelo mundo sobre os seguintes temas: cultura e pensamento pós-modernos. Stanley Grenz. Spencer Burke. O GURU BRIAN MCLAREN Há muitos nomes entre os proponentes da IE: Dan Kimball. mas também de uma tremenda injustiça. formação espiritual. cujas obras começam a chegar ao Brasil.40). diálogo inter-religioso (leia-se ecumenismo). Tony Jones. Chris Seay. Rob Bell. Hoje. Ele faz parte da chamada “esquerda evangélica norte-americana” . mas ele é. pela maior parte da IE. mas não po­ demos dizer o mesmo na relação entre os cristãos fiéis de todas as épocas. suas conjunturas e dificuldades. Steve Chalke. Brian Mclaren. mas não podemos dizer que os cristãos fiéis a Deus de um determinado período èram mais incompletos ou menos aperfeiçoados em relação aos cristãos fiéis de outras épocas. Também podemos afirmar que em determinada época da história o cristianismo organizado era melhor ou pior em relação a outros períodos de sua história. Brad Kallenberg. Nancy Murphy. liderança. Eddie Gibbs. o “guru” do movimento (não que Mclaren aceite esse título para ele. Brian Mclaren foi professor de Inglês na Universidade de Maryland de 1978 a 1986. sem dúvida alguma. e entenderam e mantiveram em suas vidas a pureza do evangelho. é. o nome de maior destaque do movimento. John Franke. Bill Dahl e Donald Miller. ecologia e justiça social. na chamada “Época da Graça” —Hb 11. Doug Pagitt. Porém. Stanley Hauerswas. ao lado de Kimball.39.A IGREJA EMERGENTE E SEUS PRESSUPOSTOS ENGANOSOS C apítulo 2 Podemos afirmar que os santos do período neotestamentário são mais privilegiados espiritualmente do que os do Antigo Testamento (já que as bênçãos e a compreensão das coisas espirituais são mais amplas no Novo Testamento. o principal mentor da maioria dos emergentes no mundo). Cada época teve os seus desafios. Erwin McManus. de fato. Já nas primeiras páginas do livro. e que é a verdade finalmente redescoberta depois de séculos”. E como se não bastasse isso. lançado nos EUA em 2006 e em 2007 no Brasil pela Thomas Nelson. em Spencerville. mas e se ele estivesse certo de uma forma completamente diferente? E se muitos de nós estivermos praticando uma religião que perdeu seus tesouros mais valiosos que estão escondidos na verdadeira mensagem de Jesus de Nazaré? McLaren nos convida para uma análise dura e uma reflexão profunda. cujos resultados e respostas encon­ trados poderão mudar radicalmente nossas idéias. As três obras fundamentais para entender Mclaren são seu best seller A New K ind o f Christian (Um novo tipo de cristão). apresentada de forma retórica. . durante quase dois mil anos. lançado em 2001. encontramos uma síntese.e foi eleito recentemente pela revista Times um dos 25 evangélicos mais influentes dos Estados Unidos. sendo chamados de verdadeiro regaste dos valores do evangelho. cuja base é o pós-modernismo. Uma ortodoxia generosa (2004) e A Mensagem Secreta de Jesus: desvendando a verdade que poderia mudar tudo . ao apresentar sua “invenção da roda”. O que Mclaren propõe em seu livro é a falácia empregada por todas as heresias. sempre entendeu errado o ensino de Jesus — e assevera ainda que se quisermos entender o evangelho como ele realmente é. Mclaren afirma que a resposta a todas as perguntas que ele levanta na apresentação é mesmo “sim” —a igreja. o que vemos? Os pressupostos emergentes. ou apenas poucas mentes privilegiadas. Mclaren é também pastor e fundador da Igreja Comunidade Cedar Ridge. Maryland. prioridades e práticas espirituais. do que defende a ideologia emergente: Brian McLaren propõe as perguntas mais relevantes que o Cristianismo poderia enfrentar: Seria possível que a Igreja entendeu tudo errado ou que tenha até mesmo distorcido intencionalmente a principal mensagem de Jesus? Todos acreditamos que Jesus estava certo. A súmula de sua proposta é: “Vou apresentar algo que ninguém nunca percebeu antes. devemos abandonar tudo o que já foi dito sobre ele antes. já na apresentação. Neste último livro. EUA. C apítulo 2 [Alguns] pensam que já entenderam Jesus e a sua mensagem. São 1 6 . na esperança de conseguirem uma perspectiva melhor. mais radical de Jesus e de sua mensagem. São 3 + 4 = 7.. Lucas e João em contraste com aqueles alternativos). ou ainda esta simples fórmula composta de cinco pequenas partes —realmente nada mais sofisticado do que uma equação de primeiro grau. dominado pelo masculino. mas como uma experiência a mais a partir da frustração partilhada sobre a religião cristã organizada e seu “status quo”. restando apenas a versão convencional da igreja? Seria possível. mais atraente e mais intrigante para estas pessoas do que a versão padrão de Jesus. no entanto. reduzindo-os a suas próprias fórmulas matemáticas: “São estes três conceitos ou aqueles quatro passos. muitas pessoas que parecem compartilhar da minha intuição (.não apenas como passatempo popular.9 = 7. voltado para o poder e propenso a encobrir a verdade. Por que a perspecdva de Jesus aludida no livro de Dan Brown é mais interessante. e com o nosso fracasso em não conseguirmos vê-los a partir de sua natureza e de . Por que Brian está tão confuso ou complica tanto as coisas a ponto de não conseguir simplesmente repetir estas equações e entrar no esquema?” Existem. a respeito da qual se ouve nas igrejas? Por que teriam ficado desapontados ao descobrir que a versão do Jesus de Brown foi amplamente desacreditada como sendo fantasiosa e imprecisa. Mar­ cos. São ..7 + 7 = 0. apesar de a versão de Brown estar errada sob muitos aspectos. E se o problema não for com nossas fontes reconhecidas e autorizadas acerca de Jesus (os relatos que nos foram dados por Mateus. ela ao menos servir para abrir a possibilidade de que a versão convencional da igreja sobre Jesus pode não lhe fazer justiça? Pense em todas as pessoas que examinaram os evangelhos gnósticos nos últimos anos. mas sim com o sucesso que obtivemos em domesticá-los.) Pense em todas as pessoas que em anos recentes leram ou as­ sistiram a “O Código Da Vinci” . caso seja devidamente compreendido. como Jesus disse? Bem. tendo sido defendida principalmente pelo teólogo alemão e historiador do cristianismo Adolfvon . Por quê? Devido aos princípios de nossa época que favoreceriam o enten­ dimento verdadeiro do evangelho. de pouca coisa boa a se aproveitar. enquanto que todos os princípios que impregnaram as épocas passadas nublaram o entendimento do evangelho. até chegar aos nossos dias. o evangelho começou a ser deformado já no segundo século. para Mclaren. ele defende que o cristianismo verdadeiro deve ser entendido à luz de determinados princípios que nada mais são do que princípios da pós-modernidade. e cabe a nós hoje resgatar o espírito do verdadeiro evangelho. Falando sobre as pessoas frustradas com toda religião cristã organizada. e seus seguidores. No final. Basta uma simples análise para vermos que a tese de Mclaren é absurda.. De acordo com o “descobridor”. o “descobridor”. o Evangelho canônico (ou reconhecido) de Mateus for muito mais radical e consistente do que o Evangelho apócrifo de Tomé. aliás. entenderam tudo errado.. os emergentes. Segundo ele.seu vigor originais? E se. Em seguida. não tem nada de nova. Mclaren explica que essa frustração delas se deve ao fato de que todas as denominações cristãs de nossos dias não pregam o verdadeiro evangelho. o evangelho nunca foi compreendido perfeitamente por nin­ guém desde o fim do período pós-apostólico até agora. foi acomodada às tendências filosóficas que se seguiram. ou o Evangelho canônico de João for muito mais penetrante e trans­ formador do que o apócrifo Evangelho de Pedro —se ao menos tivéssemos “ouvidos para ouvir”. quem irá descobrir o que Jesus realmente quis dizer? Quem interpretará o evangelho corretamente para nós. não sobrou quase nada de bom na história do cristianismo. quando tornou-se uma religião gentílica anti-semita. de desvios. Depois. ao longo da História e até agora. Em todos os seus livros. mas se os cristãos. se enamorou com a filosofia grega. casou com o Estado na época de Constantino. mas apenas versões dele que são fruto da corrupção que o evangelho sofreu nestes quase vinte séculos. Afirma Mclaren em seu A mensagem secreta de Jesus que o verdadeiro cristianismo só poderá “emergir” em nossa época. Essa idéia. que não entendemos nada direito até hoje? Brian Mclaren. Ou seja: O que seria de nós e do cristianismo sem Mclaren e os emergentes? Viveríamos eternamente no engano. foram 19 séculos de muito desperdício. Na seqüência. Mclaren até chega a reconhecer isso timidamente. mas minimizando o fato. M anual de História dos Dogmas. Por exemplo. encarnacional. quando o evangelho não deve ser adaptado aos nossos pensamentos e aos modismos de nossa época. evangélico. eclética e baseada no sentimento. e não poucas vezes sendo minoria esmagada. fundamentalista/calvinista. nós é que precisamos nos sub­ meter sempre.105-107). Muita gente permaneceu fiel às Sagradas Escrituras. Bem.C apítulo 2 Harnack (1851-1930) em sua obra. mesmo nos momentos mais escuros. Um evangelho de mixórdia. verde. todos sabemos que. tal afirmação de Mclaren demonstra muito bem a pseudo-humildade dos emergentes. ao ensino bíblico como ele é. Houve muita coisa boa mesmo. Além disso. em seu livro Uma ortodoxia generosa. confuso. Ao tentar resgatar a verdadeira mensagem do evangelho. católico. depressivomas-esperançoso. abalizados na Palavra de Deus e sob o poder inconfundível do Espírito Santo.29. as pessoas que deturparam o evangelho foram justamente as que fizeram aquilo que o próprio Mclaren faz hoje: adaptar o evangelho ao pensamento e à moda de sua época. se apresenta como “um cristão missional. E na página 90 de Uma ortodoxia generosa. Não é à toa que. pós-protestante. místico/ poético. assim como prega a pós-modernidade. Mt 22. em três volumes. SI 119. emergente e não-acabado”. Ora. anabatista/anglicano. e houve avivamentos espirituais genuínos. ainda chega a dizer que é “com tremor” (sugerindo que a declaração que vai fazer a seguir é feita com apreensão) que afirma que acredita que todas as igrejas cristãs se perverteram. O próprio Mclaren se define como adepto de uma espiritualidade eclética e pluralista. nem tudo na história do cristianismo foi ruim. uma bênção (fato que alguns emergentes tentam minimizar realçando ou até aumentando . fazendo de Jesus seu “mascote” e não seu Mestre. a Reforma Protestante foi um avivamento. metodista. carismático/contemplativo. uma espiritualidade pluralista. Mclaren é uma indefinição ambulante. mistura.2.6. Além de ser uma mentira a perversão generalizada das igrejas. bíblico. mas o que seria esse espírito do verdadeiro evangelho segundo Mclaren? De acordo com o “guru” dos emergentes. No “bom estilo” pós-moderno. durante esses quase dois mil anos de cristianis­ mo. criou ele sua pró­ pria versão do evangelho. Rm 12. pós-moderno. liberal/conservador. Parecem aqueles políticos que dizem contraditoriamente: “Vossa excelência não presta”. renovando nossa mente sempre por ele e não renovando ele conforme nossa mente (Os 4. seja qual for a época. Nem todas as teologias sistemáticas devem ser vistas como lixo e nem tudo em todas as teologias sistemáticas deve ser visto como mera elocubração filosófica divorciada da Bíblia. com o verdadeiro evangelho. o Espírito Santo nunca deixou de operar e houve grandes momentos que mostram-nos que o verdadeiro evangelho ainda estava vivo mesmo nos períodos mais escuros da história do cristianismo. há muitos cristãos genuínos que vivem a pureza do evangelho em várias denominações cristãs. demonizá-las. definitivamente. como sugere Mclaren em seus livros (especialmente em Uma ortodoxia generosa ). Os últimos dezenove séculos não foram. Sempre houve homens que defenderam as verdades centrais do evange­ lho com fervor e inteligência. O fato de as teologias sistemáticas serem imperfeitas não deve nos levar a regurgitá-las ou. entre outras coisas. assim como faz Mclaren hoje. de engano ou perda de tempo. Nem todas tiveram o intuito de serem definitivas em todos os pontos doutrinários. Todos esses avivamentos provam que.ver Apêndice 1). nem os modismos filosóficos da Modernidade. E nem todas as tentativas de sistematização teológica do passado foram arrogantes.as fraquezas pontuais de alguns reformadores . não caiu na bobagem de con­ fundir o evangelho com os princípios da pós-modernidade. assim como muitos cristãos de séculos anteriores não confundiram os equívocos em nome do evangelho. Os males que grassam o cris­ tianismo não são frutos das sistematizações teológicas. pensando que está ajudando). mesmo quando o cristianismo organizado viveu seus momentos mais terríveis. Conquanto tenham . Gente que sabe que as doutrinas bíblicas não estão sujeitas a reformulações constantes. nem todas eram arrogan­ tes e nem eram todas mal intencionadas. que as doutrinas bíblicas fundamentais são claras na Bíblia e que nem mesmo as influências de cada época poderiam esconder tão perfeitamente a verdade do evangelho de todas as pessoas. O Grande Despertamento nos Estados Unidos no século XVIII e o Avivamento Wesleyano no Reino Unido na mesma época são outros dos muitos exemplos que poderiam ser citados. o Espírito Santo continuou operando e a mensagem do evangelho foi enten­ dida plenamente por muitas vidas. pior ainda. Há muita gente que. Mesmo nos momentos mais abissais da história do cristianismo. E ainda hoje. mesmo em meio às deturpações do cristianismo ocorridas durante a História (e justamente fruto do anseio de adaptar o evangelho aos modismos passageiros de cada época. da Idade Média e da Antiguidade. 31). que foi professor de História Eclesiástica . menos relevância espiritual e qualidade terá. e não em uma crença nebulosa. Declararse sem certeza alguma pode parecer a essência da erudição à luz da pósmodernidade.14.22) e da fé como o “firme funda­ mento” (Hb 11. para que estejam “no que é verdadeiro” e saibam quem realmente é “o verdadeiro Deus” e o que é “a vida eterna”.16.15. A Bíblia fala da necessidade de termos “completa certeza da esperança” (Hb 6. consiste em certezas. mais relevância espiritual e qualidade terá. de falta de amadurecimento espiritual.20). O salmista Davi tinha uma convicção cimentada sobre Deus (SI 23. é sinônimo de fraqueza. O verdadeiro cristianismo. O teólogo alemão Bernhard Lohse. Paulo diz que sabia em quem tinha crido (2Tm 1. mas ela também afirma que podemos saber o suficiente para o nosso crescimento espiritual.2.1). pois isso nos está disponível pela Palavra (Dt 29. Trocando em miúdos.18. à luz da Bíblia. sem base bíblica.29.6-9). quanto mais filosófica for a sistematização teológica. mas cativa à Bíblia.11).16.29. a qualidade de uma sistematização doutrinária deve ser medida pelo nível de comprometimento bíblico do(s) seu(s) autor(es). mas de imaturidade.18. Logo. Incerteza não é sinônimo de saúde espiritual. nunca foi subserviente a sistematizações teológicas. João escreveu seu evangelho para que seus leitores tivessem certeza sobre como receber a vida eterna (Jo 20. Paulo não tinha um pingo de dúvida de que a mensagem do evangelho que pregava era de Deus e definitiva (G1 1. o apóstolo ainda diz que escreve para que seus leitores tenham a certeza da vida eterna em Cristo e creiam “no nome do Filho de Deus”. “inteira certeza de fé” (Hb 10. Veja quantas vezes ele fala de conhecer. à luz da Bíblia. 2 Pe 3. Nos versículos 13 e2 0 da mesma missiva.21). Mt 22. conheçam “o que é ver­ dadeiro”. Ter convicções não é heresia.19. 2 Tm 3.17). mas. Quanto mais biblicidade tiver. Heresia é defender convicções erradas. que não tem apoio bíblico. a diabolização desse tipo de obra é uma generalização desonesta e que nos leva ao extremo da indefinição teológica. A nós cabe comer o peixe jogando foras as eventuais espinhas (1 Ts 5. Ter certezas não significa “encapsular a fé”. A verdadeira fé.17). não é bíblica a incerteza e a indefinição teológica.12). como os reformadores afirmaram em sua época. em convicções cimentadas.C apítulo 2 havido sistematizações esdrúxulas durante a História. É verdade que a Bíblia diz que não dá para sabermos tudo sobre as realidades espirituais. 51.6. de ter confiança e afirma “sabemos” só no último capítulo de sua primeira Epístola (1 Jo 5. Portanto. Conseqüentemente. na sua opinião. algo perfeito. É isso que o Antigo Testa­ mento ensina (Js 1. eles não o fizeram por emanarem essas decisões de um direito eclesiástico ou de um concilio teologicamente capacitado. É isso que Jesus ensinou e é assim que devemos sempre viver (Mt 7. a própria compreensão das decisões conciliares da Igreja Antiga.2. Somente assim será possível reconhecer-se a estreita relação existente entre o dogma e aquilo que ele testemunha. publicada no Brasil em 1972 pela Sinodal sob o título Af é cristã através dos séculos-. Zwinglio e Calvino não entenderam as decisões conciliares como dogmas infalíveis [que é a posição católico romana]. em essência. São apenas confissões de fé que são válidas na medida em que estiverem coadunadas com o que afirma a Bíblia. 119). Esse é o critério! E isso que Paulo ensina (2 Co 10. ressalta isso em sua obra Epochen der D ogmengeschichete de 1963.e dos Dogmas na Faculdade de Teologia da Universidade de Hamburgo. Disse Lutero: “Minha consciência é cativa à Palavra de Deus”. o termo “dogma” deve ser entendido no sentido de confissão ou também de confissão dou­ trinai. tais decisões conciliares concordam objetivamente com a Escritura e representam um limite demarcatório contra certas heresias.8. SI 1. Apesar de Lutero e outros reformadores terem reconhecido prontamente a autoridade das decisões conciliares da Igreja Antiga.5).24-27). Devemos rejeitar apenas aquelas que perderam o foco tornando-se mais especulativas do que bíblicas. E usando esse critério. Conseqüentemente. Ou seja. mas de “escritos confessionais”. ou ainda por decorrerem as mesmas obrigatoriamente do “depositum fidei”. vemos que é um erro desprezar todas as sistematizações teológicas. Não é por acaso que as for­ mulações doutrinais das igrejas da Reforma não são denominadas de “dogma”. mas como sendo uma confissão de fé. isto é. . as teologias sistemáticas e as decisões conciliares da Igreja Antiga não são dogmas no sentido romanista. no âmbito das igrejas evangélicas. Lutero. reassumindo assim. Eles reconheceram a autoridade porque. para os protestantes. o que fez e faz Mclaren e os emergentes? Em vez de combaterem os erros unindo-se aos cristãos de várias denominações que defendem o evangelho em sua pureza tanto no meio evangélico como um todo quanto em suas próprias igrejas. na defesa de doutrinas bíblicas secundárias (ou na distorção destas em casos isolados de extremismo). que sempre há em todo canto. Mas. Combatam-se os erros desses que se desviam e valorize-se o que está coadunado com a Palavra. Pelas mesmas razões. que.e da fraqueza de alguns que. rejeitemos os erros e valorizemos o que é bíblico. é claro que alguns se aproveitam escusamente da proposta didática das sistematiza­ ções teológicas. As teologias sistemáticas são apenas apresentações organizadas e didáticas das verdades absolutas da Palavra de Deus. contraditoriamente. As teologias sistemáticas só são más quanto menos bíblicas (ou quanto mais especulativas e filosóficas) forem. Como no caso das sistematizações teológicas. os emergentes rejeitam tudo. como não podia ser diferente para quem age assim. quando as heresias foram com­ batidas contundentemente pelos apóstolos. Rechaçar ou diminuir a relevância e o trabalho espiritual e social dessas igrejas é um disparate (como Mclaren tenta. refazem tudo e.e sempre em torno de doutrinas bíblicas secundárias . dizer que não está fazendo em sua obra Uma ortodoxia generosa. Agora. excederam-se em sandices. os fundamen­ tos da Palavra de Deus não foram rejeitados nesses grupos. Por isso. Apesar das divergências doutrinárias entre as igrejas cristãs sérias . Em vez de salientarmos os erros e cairmos na tentação pós-moderna da generalização com o intuito de promover a relativização. criam eles mesmos o seu próprio evangelho à imagem e semelhança de sua época. porém é fácil de se descobrir quando isso acontece. isso porque sistematizar nada mais é do que organizar para fins práticos e/ou didá­ ticos.C apítulo 2 Nenhuma sistematização teológica é má por natureza. ainda no período apostólico. é igualmente absurdo rejeitar todas as organizações cristãs oficiais ou aceitá-las apenas quando se adaptam aos espúrios princípios pós-modernos. . é uma das obras religiosas mais auto-contraditórias já publicadas nos últimos tempos. desde a Igreja Primitiva. mais sobre o assunto. aliás. o Espírito Santo ainda tem operado por meio do trabalho abnegado de muitos cristãos dessas igrejas. como vemos nas Escrituras). jogue-se fora as “espi­ nhas” (os maus exemplos. leia o capítulo 5). não têm nada de cristãos em sua forma de entender o mundo e a vida. E quando confrontados com o fato de estarem se conformando com o mundo (Rm 12. tentam justificar essa posição argumentando que o cristianismo em nossos dias só se tornará relevante se contextualizarmos a mensagem bíblica às demandas da pós-modernidade.COSMOVISÃO PÓS-MODERNA Ao analisarmos os pressupostos da IE. isto é. aplicada pelos emergen­ tes. que a sadia contextualização não significa adaptação. As igrejas estatais eram a regra na época que as primeiras denominações surgiram. influenciada pelos valores e princípios da pós-modernidade. os ensinos da Palavra de Deus não devem ser alterados para se acomodarem aos gostos de uma geração. axiomas.2). 1984). adapta e distorce os princípios bíblicos conforme os sabores de nossa época. . E essa visão relativista pós-moderna que leva o movimento a. Sua cosmovisão é pós-moderna. O que pregam choca-se frontalmente com as Sagradas Escrituras. A Igreja Primitiva em Atos dos Apóstolos só não se organizou formalmente porque era forçada a viver assim por causa da perseguição. doutrinas e valores da Palavra de Deus à nossa geração. cometer outros equívocos como: 1) Ter aversão a qualquer tipo de religião cristã organizada —além do que já afirmamos alguns parágrafos antes ao nos referimos aos equívocos do pensamento de Brian Mclaren sobre as organizações cristãs formais. Os emergentes não têm uma cosmovisão (visão de mundo) cristã. vemos que os emergentes. Ademais. os emergentes esquecem também que a organização formal das igrejas e sua estruturação são necessidades naturais. Sua compreensão do evangelho não é pura. Já a contextualização doentia. mas fruto de sua visão de mundo impregnada pelos modismos atuais. A contextualização sadia consiste na decodificação e na transmissão integral dos conteúdos. Esquecem. conforme explicam excelentes obras como O Celeste P orvir —a inserção do protestantismo no Brasil (Editora ASTE. tais como o relativismo. que se apresentam como fiéis depositários da pureza do evangelho por terem uma visão supostamente mais aclarada dele. não é extraída do próprio evangelho. do professor e teólogo presbiteriano Antonio Gouvêa Mendonça. Ora. porém. além de relativizar a própria Bíblia. quem conhece a história do cristianismo sabe que o fenômeno do denominacionalismo foi uma resposta sadia à tendência de que a Igreja fosse ligada ao Estado. . apesar de perseguidos. A afirmação básica da teoria denominacional de Igreja é que a Igreja verdadeira não deve ser identificada em nenhum sentido exclusivo com qualquer instituição eclesi­ ástica particular (. citado por Gouvêa. pertencer à Igreja oficial e freqüentá-la era uma obrigação a que ninguém podia furtar-se. todas as denominações . (. tenham continuado sempre na Igreja oficial [estatal]”. No entanto. Prosseguimos com Gouvêa (os grifos que aparecem a seguir são do próprio autor): O protestantismo americano desenvolveu o fenômeno re­ ligioso que se chama denominacionalismo. chamado ou denominado por um nome particular. Nenhuma denominação afirma que todas as outras são falsas. A denominação era uma igreja desestatizada. embora muitos puritanos. composta por pessoas que a ela aderiam espontaneamente e de acordo com suas preferências e convicções pessoais..) A denominação americana tinha um propósito “unitivo e ecumênico”.) A denominação americana é uma “associação voluntária”.C apítulo 2 Lembra-nos Gouvêa que tudo começou na Inglaterra: “O puritanismo [na Inglaterra do século XVII] foi o responsável pelo surgimento das igrejas livres.. desenvolvimento esse que obedeceu a certos princípios que caracterizaram um modelo novo de sociedade civil-religiosa.. nenhuma denominação se julgava exclusiva dona da verdade. (. a não ser sob severas penas.. Nenhuma denominação insiste que a totalidade da sociedade e igreja devem se submeter-se aos seus regulamentos eclesiásticos. foi nos Estados Unidos que ele floresceu e foi saudável para o crescimento da Igreja no mundo.. diz sobre essa última característica: A palavra “denominação” sugere que o grupo referido é ape­ nas membro de um grupo maior. Na Inglaterra.) Nenhuma denominação afirma representar toda a Igreja de Cristo. isto é. Apesar de o denominacionalismo ter surgido na Europa. o que significa a realização do ideal puritano. Vejamos o que o historiador batista Winthrop Hudson. Porém. Apesar dessa análise perfeita do filósofo grego. Sabemos que nenhum sistema de governo e organização.reconhecem sua responsabilidade pela totalidade da sociedade e esperam cooperar em liberdade e respeito mútuo com outras denominações e cumprir tal responsabilidade. que é o governo de muitos. comunidades livres. cujo caráter e valor estão na liberdade. assim. que é uma opção sadia e coerente. que é o governo de um só. não somente a República. “Finalmente”. Claro que os interesses políticos e carnais de alguns líderes e a exacer­ bação de divergências em torno de pontos doutrinários secundários pode tornar algumas denominações em pequenos reinos humanos. não há o risco de necessariamente essa corrupção afetar todas as comunidades cristãs. Isso não porque acreditemos que a democracia é um sistema perfeito. e também para evitar que. . geralmente se degenera tornando-se tirania. que é o governo de poucos. mas o mundo”. como antes da Reforma Protestante. note que. como é que seria quando viesse a corrupção? Não seriam casos localizados. Por isso o surgimento do denominacionalismo. O cristia­ nismo já viu esse filme antes. mas as outras podem permanecer sadias por serem denominações independentes uma das outras. por exemplo. se corrompesse. mas porque reconhecemos que é o mais próximo do ideal de ordem e liberdade que podemos conseguir. já destacava em sua época que os três principais sistemas de governo têm virtudes e falhas: a monarquia. é perfeito. se a comunidade toda de cristãos estivesse reunida em uma só orga­ nização. cujo caráter e valor estão na uni­ dade. mesmo não sendo estatal. seja de um país ou de igrejas. tornando-se toda ela um reino humano (vide Igreja Católica Romana) e não uma comunidade onde se constata em seu meio a manifes­ tação visível do Reino de Deus. Como vemos. cujo caráter e valor estão na qualidade. o denominacionalismo veio para impedir a possibilidade de a Igreja se tornar estatal e. não pensamos duas vezes para responder que a melhor das três opções é a democracia. Aristóteles. e a democracia. “a denominação era instrumental na tarefa comum de cristianizar a sociedade. degenera-se transformando-se em demagogia. Algumas igrejas-denominações podem cair nessa tentação. se transformasse em uma serva do Es­ tado e não de Deus. Toda a igreja como instituição estaria contaminada e os verdadeiros fiéis dentro dela seriam perseguidos. a aristocracia. degenera-se tornando-se uma oligarquia. conclui Gouvêa. se isso acontecer. Agora. em nenhum momento. dentro dessa necessidade. compreensão esta que é praticamente um consenso. à diversidade do Corpo de Cristo e. muito mais. ainda assim é o sistema que comporta melhor a diversidade no meio cristão. Lembrando ainda que muitas dessas igrejas contadas como novas denominações nas pesquisas são. Em igrejas informais isso também acontece. e a possi­ bilidade de isso acontecer não existe só em igrejas organizadas formalmente. os sistemas eclesiásticos de igrejas estatais e igreja úni­ ca. ou mesmo a proposta pós-moderna de igreja não-denominacional (sem uma linha denominacional ou teológica clara). onde um grupo define pelo todo. . nem a utopia de uma igreja única. apesar de ter se degenerado nas últimas décadas.A IGREJA EMERGENTE E SEUS PRESSUPOSTOS ENGANOSOS C apítulo 2 Da mesma forma. o sistema denominacional. A terceira. quando igrejas-denominações se tornam reinos humanos. o quero dizer é que: (1) a organização formal das igrejas é uma necessidade natural. é muito mais complicado. na verdade. tem demonstrado ser um celeiro de heresias por viver em uma não-padronização doutrinária. Aliás. Na verdade. mas condescendência geral com o erro e a heresia?” Então essas comunidades já se transformaram em seitas. Basta que haja conscientização dos membros dessas igrejas para que o quadro mude. às questões culturais de cada país ou região e às inevitáveis divergências teológicas em torno de pontos doutrinários secun- . estou dizendo que o denominacio­ nalismo é um sistema perfeito nem que seja impossível haver cristãos salvos em comunidades cristãs informais. igrejas não-denominacionais que vivem em constante mixórdia teológico-doutrinária. há a possibilidade de reversão dessa situação por causa do sistema de governo eclesiástico adotado pelas denominações. de certa forma. prin­ cipalmente e sem dúvida. não são as melhores. Além disso. o melhor sistema para a saúde organizacional da igreja em sua manifestação visível não é o sistema de igreja única estatal (susten­ tada e manipulada pelo Estado. sim. como se fosse ela própria uma espécie de Estado religioso — como ocorre de fato com a Igreja Católica Romana — mas. O fato de o sistema de organização eclesiástica denominacional ser o melhor se deve. No caso de uma igreja só (como é a Igreja Católica). As duas primeiras já provaram isso contundentemente durante a história. resultando no fenômeno da multi­ plicação absurda de denominações (mais de 30 mil hoje em dia em todo o mundo). além de engessada). Perceba que. devido à falta de padrão organizacional e de uniformidade doutrinária. já comum nos EUA. Mas alguém pode perguntar: “E se não há conscientização dos membros daquela igreja-denominação. Já o denominacionalismo. (2) e que. pelo simples fato de sermos humanos. As outras duas alternativas de que já falamos são muito mais suscetíveis de corrupção do que o denomi­ nacionalismo.11. pois tratam-se de bizarrias. é contingência da nossa humanidade). Fp 2. Nem me deti na questão das igrejas que surgem exclusivamente por motivações heréticas (discussões em torno de pontos doutrinários fundamentais) e/ou financeiras.9ss)”.24. O sistema de igrejas não-denominacionais. lembra o teólogo escocês Bruce Milne. mas um tremendo perigo. A auto-crítica não é inexistente como se imagina. sem padronização doutriná­ ria. a fé comum recebia ênfases diversas. segundo as diferentes necessidades percebidas pelos apóstolos (Rm 3. como propõem os emergentes. Outro aspecto a ser destacado é que existe auto-crítica no seio deno­ minacional.20. Jdv. 1987). A História já provou que. ABU. uma porta aberta para a fluidificação dos valores da Palavra de Deus na comunidade cristã. havia diversidade de ministérios (ICo 12. dos três sistemas. o denominacionalismo se mostrou o mais saudável sistema de organização eclesiástica. o denominacionalismo ainda continua sendo o melhor para acomodar as naturais diferenças humanas e atender a todos aqueles pontos que apresentei no parágrafo anterior.13. Claro que há exemplos negativos dentro do denominaciona­ lismo.dários (por mais que evitemos. não é a saída. como vemos de Romanos 14. Assim como o regime democrático não é perfeito.3). cf. Há algumas denominações que relegam a auto-crítica. .1 a 15.4-6) e variedade de opiniões acerca de assuntos de importância secundária. Pensar que não há auto-crítica relevante dentro de denominações sérias é um erro. Basta ver as mudanças positivas que muitas denominações experimentaram durante os séculos ou mesmo nas últimas décadas.5-7. BLH. cf. As que relegam essa necessidade sofrem um processo de degeneração e as que não relegam mantêm-se equilibradas. mas nem todas são assim. Além disso. o pior. professor de Teologia Bíblica e História no Spurgeon College em Lon­ dres e ex-pastor na Africa Oriental e da Ia Igreja Batista de Vancouver. mas eles só provam que o sistema é imperfeito porque o ser humano é falho. mas é o melhor siste­ ma de organização da sociedade. A unidade da Igreja na Terra não implica necessariamente uniformidade total. Tg 2. Cl 2. e não que o sistema denominacional é tão ruim quanto os outros dois ou. “embora houvesse uniformidade nas convicções teológicas básicas (1 Co 15. muitas vezes tornam-se inevitáveis. Canadá ('Conheça a verdade . Na Igreja do Novo Testamento. muito menos. é perfeita. regionais e de tradição. uma utopia. onde uma olha para a outra como sua concor­ rente. muito pelo contrário. somos humanos em processo de santificação. simplesmente porque ela é composta de peca­ dores. Dentro dessa visão. mas muitos não.C apítulo 2 Exemplos de degeneração do denominacionalismo são o que chamo de (1) “denominacionalatria”. algumas dessas coisas já diminuíram no meio evangélico. metodistanização. na verdade. uma ilusão. existe também a mentalidade equivocada de tentar obsessivamente convencer um crente a sair de sua denominação para outra. nem por isso. E no terceiro caso. Afinal de contas. batistanização. o sistema denomi­ nacional deve ser condenado. como já falamos. que consiste na atitude de ver todas as outras denominações como erradas e a sua como perfeita (o que é uma característica. mercadológicas). Graças a Deus. vai se frustrar. por considerar esta mais pura em todos os sentidos do que aquela. e mesmo os regenerados têm seus momentos de fraqueza. assembleianização. as igrejas se vêem dentro de uma perspectiva mercadológica. dentro ou fora das denominações. etc. as igrejas são do tipo isoladas. se utilizam de práticas mundanas como a famosa "pescaria em aquário alheio”. as igrejas confundem o ato da evangelização com presbiterianizaçao. quem demoniza o sistema denominacional e segue a idéia de que vai encontrar pureza apenas em comunidades à margem do denominacionalismo está perseguindo uma miragem. você vai encontrar falhas dentro das denominações. Nenhuma comunidade cristã. Mas. como se Ele só pudesse operar ou num “clube dos iguais” ou tão somente em comunidades e em crentes que vivem totalmente à margem de qualquer denominação cristã e cultivando a indefinição doutrinária como virtude. e esse processo inclui a interação uns com os outros como membros do Corpo de Cristo. No primeiro caso. dependendo da região. gente que ama o Se­ . Por isso. (2) o paroquialismo e (3) as brigas e rusgas denominacionais. mas vai encontrar também muita gente de Deus lá. Algumas. como se os maus exemplos representassem o todo (generalização) ou como se não fosse possível Deus operar na Sua Igreja na Terra apesar das diferenças denominacionais. não aceitam manter comunhão fraternal com outras. continuem (em menor ou maior grau. inclusive. própria das seitas e não a proposta original do denominaciona­ lismo). Além disso. Estamos sendo tratados por Deus aqui na Terra. Já no segundo caso. a maioria de regenerados. conquanto outras. e na maioria esmagadora dos casos são pratica­ das por seitas ou denominações nascidas por razões meramente financeiras. 24-30. Nm 16.38. o Novo Testamento está se referindo a ela como o conjunto daqueles que atenderam ao chamado divi­ no.se referir à Igreja. Ao chamar a comunidade de fiéis de ekklesia. o termo hebraico edah era usado em referência a toda a comu­ nidade religiosa nacional israelita. 31. em alguns lugares. devido à indefinição doutrinária). ekklesia é “chamados para fora”.9. é inútil desprezar as igrejas organizadas e denominacionais pen­ sando que.3. E eles podem. a qual a pessoa pertencia pelo nascimento (Êx 12. Por isso. Ao lermos Atos dos Apóstolos e as Epístolas. e ekklesia é usado tanto para a Igreja mundial quanto para a Igreja local.12). Porém. Rm 16.28-30). Jesus ensinou que o Reino corresponde a este padrão: o joio está misturado com o trigo (Mt 13. Logo.10). que aparece mais de cem vezes no Novo Testamento. em meio a cada igreja pode haver pessoas que não professaram a sua fé e outras cuja profissão será desmascarada no último dia (Mt 7. a verdadeira Igreja. A distinção que a Antiga Aliança fazia entre todo o povo de Israel e os israelitas fiéis aplica-se também no Novo Testamento à Igreja. Ao usar o termo grego ekklesiapa. Não é à toa que esse termo. Nm 16. Escreve Bruce Milne: “Notamos a distinção feita no Antigo Testamento entre a edah (toda a congregação visível) e os gahal (aqueles dentro dela que respondem ao chamado de Deus).ra.nhor e segue o evangelho de Cristo. às vezes. Dentro do grupo identificado com Cristo acha-se o povo de Deus. estaremos formando uma igreja pura. pois nas igrejas não-organizadas formalmente ou não-denominacionais também haverá a mesma mistura entre joio e trigo que há nas igrejas denominacionais (e mais ainda.1. vemos que na Igreja Primitiva (que é o modelo) havia joio e trigo.26.16. Não existe então uma igreja pura.12). ABU Editora). Hb 2. aos israelitas que atenderam ao chamado divino (At 7. e não nós. No Antigo Testamento. porque quem irá fazer isso perfeitamente é Ele. Dt 9. Jesus disse que isso é uma realidade inescapável no Reino e que não deveríamos ficar obsessivamente preocupados em separarmos o joio do trigo. Já o vocábuloga h a l (“congregação”) era aplicado em alusão a uma reunião de israelitas que atendiam ao chamado de Deus (Êx35. 36-43). fora delas. os filhos de Deus reunidos em um local específico (At 8. não ser a “maioria esmagadora”. no final dos tempos (Mt 13. é usado majoritariamente (110 vezes) para se referir à Igreja de Deus e duas vezes em alusão ao Israel de Deus. “chamado”.4). mas também não são a “minoria esmagada”. Ek significa “para fora” e Klesis.1. os cristãos primitivos tinham em mente gahal. 2 Ts 1. ao proporem uma igreja .21-23)” ( Conheça a verdade. “A verdadeira unidade no Espírito Santo de todo o povo regenerado é um fato independente da desunião denominacional exterior. porém. a unidade da Igreja invisível já é fato consumado desde a Salvação). Tudo será perfeito. Dizer que a Bíblia é. uma ordem para manter a unicidade fundamental da vida que o Espírito concedeu através da regeneração (Ef 4. E tolice pensar que uma igreja mais pura só é possível fora daquelas. É importante esclarecer também que é uma utopia pensar em um ecume­ nismo evangélico em que todas as denominações se fundem sob uma única bandeira denominacional. emergente. Tudo isso está no espírito da oração sacerdotal de Jesus por nós em João 17 e é mais do que possível. (3) a unidade entre os diversos ramos sadios do protes­ tantismo e (4) a luta em conjunto contra os modismos que tentam distorcer a genuína mensagem do evangelho. à luz da Bíblia. nãodenominacional. os emergentes estão. Esses movimentos só resultaram em novas igrejas devido à forte rejeição que sofreram por parte das lideranças da Igreja Católica Romana (no caso da Reforma) e da Igreja Anglicana no início (no caso dos metodistas). portanto. Somente quando chegarmos ao Céu poderemos viver a unidade no Corpo de Cristo sem linhas denominacionais. Porém.C apítulo 2 à margem das igrejas cristãs organizadas e denominacionais. acima de tudo.essa idéia de que ensinos proposicionais (isto é. já nascem propondo o fim da “velha floresta” para o surgimento da “nova floresta”. já surgem pregando o sepultamento do denominacionalismo (de preferência o mais rápido possível) e enfatizando que os cristãos frustrados devem buscar uma igreja nova. que ensinam que existem verdades absolutas . mas a volta à Palavra e o avivamento para a igreja. Vivenciamos a realidade da unida­ de em Cristo já aqui na Terra (uma vez que. Os emergentes.10). a partir daquele Dia. uma . são salutares (1) o respeito mútuo entre as denominações. 2) Ser contra métodos de ensino proposicionais. O chamado para a unidade no Novo Testamento é. não precisaremos mais dos paliativos do sistema denominacional para acomodar a contingência da nossa natureza humana imperfeita. fazendo exatamente aquilo que Jesus disse para não fazermos.3)” (■ Conheça a verdade). a exposi­ ção doutrinária) são contrários ao “espírito do evangelho” ou ao “espírito da Bíblia” é uma tremenda mentira. mas. “quando vier o que é perfeito” (1 Co 13. (2) o olhar os limites denominacionais como linhas tênues e não como muros. Ê por isso que movimentos sadios como a Reforma Protestante e o Avivamento Wesleyano não propuseram ingenuamente criação de novas igrejas. na prática. que seja proposicional? E os livros dos Reis e de Crônicas. sim. e sobretudo o apóstolo Paulo. doutrinários. de apresentar verdades absolutas sobre como o universo foi formado? Gênesis 3 é totalmente sem intenção propo­ sicional? Êxodo não tem conteúdo proposicional? Levítico. é uma grande falácia. de que falaremos no capítulo seguinte). para redargüir. é que mesmo as narrativas bíblicas têm claras implicações doutrinárias. para corrigir. Ela contém narrativas para mostrar o desdobramento da revelação divina ao ser humano. por isso não deve ser lida como compêndio doutrinário. não têm nenhum versículo pro­ posicional? E os Salmos? E Provérbios? E Eclesiastes? E os livros profé­ ticos? E os ensinos de Jesus nos Evangelhos? Os sermões da montanha e profético não são proposicionais? As parábolas de Jesus não tinham como propósito ilustrar verdades absolutas? E Atos? Só há relatos lá? Não há nada proposicional ali? E as Epístolas? E Apocalipse? Além dessa constatação de que a Bíblia está permeada de conteúdo propo­ sicional. Afirmar que Jesus nunca se preocupou com ensinos proposicionais é outro engano. mas.16). interpretavam as narrativas históricas do Antigo Testamento com objetivos proposicionais. Muitas histórias relatadas nas Sagradas Escrituras encerram verdades absolutas. Ele mesmo disse: “Toda Escritura é divinamente inspirada e proveitosa para ensinar. Paulo assevera isso ainda em Romanos 15. para instruir em justiça” (2 Tm 3. como no caso dos primeiros capítulos de Gênesis. no Antigo Testamento] para nosso ensino foi . ao enfatizar “Toda Escritura”. em todo o livro. Números e Deuteronômio não têm conteúdo proposicional? Os capítulos 23 e 24 de Josué não têm conteúdo proposicional? Juizes 2. O que Paulo está dizendo. isto é. em forma de narrativa devocional e com flexibilidade interpretativa (é o que defende a chamada Teologia Narrativa. quando diz que “tudo que dantes foi escrito [isto é. Basta lembrar que os primeiros cristãos. mas é igualmente uma obra com conteúdo preposicional. com conteúdo claramente doutrinário.4. as próprias narrativas bíblicas têm claras implicações proposicionais. Há muita exposição doutrinária nos livros da Bíblia.narrativa e não uma exposição de doutrinas. Gênesis 9 não tem intenção preposicional? Gênesis 17 não tem in ­ tenção proposicional? As afirmações em Gênesis 1 não têm claramente a intenção proposicional. doutrinárias. A Bíblia não é “acima de tudo uma narrativa”.1 não é propo­ sicional? Os capítulos 2 e 15 de 1 Samuel não são proposicionais? E 2 Samuel? Não tem nada. ou seja. com toda longanimidade e doutrina. Ou seja. amontoarão para si doutores conforme as suas próprias concupiscências... e muito menos como narrativas devocionais que encerram verdades flexíveis. Enfim. Toda a Bíblia é intencionalmente doutrinária. 4.19-20 e Mc 16. repreendas. mero texto literário ou como simples narrativas devocionais. menos uma pregação bíblica. redarguas. tendo comichão nos ouvidos. Entretanto. As Sagradas Escrituras são claramente normativas. E as epístolas. a Bíblia diz que é tanto com a vida quanto por meio da comunicação objetiva do evangelho que devemos pregar. apresentar as verdades absolutas da Palavra de Deus. 3) Ser contra o discipulado bíblico. pois. tudo o que está registrado em Atos e nos evangelhos têm o mesmo propósito. Porque virá tempo em que não sofrerão a são doutrina.) Conjuro-te. Nossa pregação deve. no máximo. Tudo! E “para nosso ensino”! Da mesma forma. mas. Se não. na sua vinda e no seu reino.15. Ou. como lemos em 2 Timóteo 3. esse discipulado não é a exposição de meros princípios de auto-ajuda espiritual para que as pessoas se tornem mais sensíveis e legais. e de que foste inteirado. Elas apresentam verdades absolutas.C apítulo 2 escrito”. quase em sua totalidade. sabendo de quem tens aprendido. dizem que deve­ mos ajudar as pessoas a serem pessoas melhores e só. são. Elas foram escritas intencionalmente e seu objetivo claro é apresentar e indicar verdades absolutas que são apresentadas no restante das Sagradas Escrituras de forma diretamente proposicional. ensinando as pessoas a “guardarem todas as coisas” que ordenou (Mt 28. ou seja. Jesus mandou seus discípulos pregarem o evangelho às pessoas e também fazerem discípulos. será qualquer coisa. mas continuem em seus erros doutrinários .14. instes a tempo e fora de tempo. contra evangelismo ou atividades missionárias que procurem ir até às pessoas para esclarecê-las da necessidade de converterem-se a Cristo e tomarem -se discípulos dela em tudo o que Cristo ensinou —Dizem os emergentes que devemos pregar apenas com a vida e as pessoas serão naturalmente atraídas. exortes. permanece naquilo que aprendestes. em forma proposicional. diante de Deus. como já sabemos.1-4: “Tu. as narrativas bíblicas são um repositório de verdades teológicas. As narrativas bíblicas não devem ser lidas como romance. como afirma a Teologia Narrativa (a idéia de que podemos fazer várias interpretações diferentes de um mesmo texto para adequa-lo à determinada necessidade). porém.15. e do Senhor Jesus Cristo.20). e visando à conversão de vidas a Cristo. que há de julgar os vivos e os mortos. e que desde a tua meninice sabes as sagradas letras (. e desviarão os ouvidos da verdade voltando às fábulas”. o que deixa claro que tais verdades não são flexíveis. que pregues a palavra. portanto. embora a Bíblia claramente as condene (Mt 5. é qualquer tipo de exortação concernente à conduta moral. a fixação imprópria de regras de conduta como necessidades para Salvação e a negligência ou ignorância em relação à graça de Deus. e as leis pró-homossexualismo. Só para citar um exemplo: na Suécia. Jo 1. a idéia de justificação pelas obras. não devemos esquecer nem essas coisas nem aquelas. 2Tm 2.6. de forma geral e à luz da Bíblia. que não há problema em assistir filmes com cenas impróprias. 14. à luz da Bíblia.12. Porém. não se importar com essas coisas é pecar por omissão.10-12). apesar da seriedade desses assuntos. muitos emergentes acham. Os emergentes acham que.19-25). é proibido proibir. Dizem os emergentes que esses dois últimos são menos importantes (Você já não ouviu antes esse discurso?). e deixar de lado questões como o aborto e os projetos de lei pró-homossexualismo. à luz da Bíblia. muitas vezes. seria “legalismo”. Tt 2. ljo 2. quando a Bíblia diz que nem tudo é questão de consciência (G1 5. fazendo as coisas que julgam “mais importantes”. E a mensagem do evangelho é clara: há a necessidade de arrependimento.12. sem importância). para os cristãos emergentes. é comum os emergentes serem condescendentes . Eles generalizam dizendo que “tudo depende da consciência da pessoa”.15. onde foi aprovada há poucos anos uma lei que institui o crime de “homofobia”. é proibido não só pregar que homossexualismo é pecado. A idéia de legalismo para eles tem uma conotação diferente.15-172. como o que institui o crime de “homofobia”. por sua vez. Legalismo é. querem privar os cristãos de suas liberdades religiosa e de expressão. SI 101. Por isso. mas até mesmo ler em um culto público qualquer texto da Bíblia de caráter “homofóbico” (exemplo: Romanos 1.28-29. segundo eles. combatemos o legalismo. legalismo não é isso. e a Salvação só é possível em Cristo (Mc 1. Para eles. Errado! Todas são importantes. 4) Ser estranhamente “ não-legalista”— importante dizer que ao pregarem É uma conduta não-legalista os adeptos da Igreja Emergente não estão se refe­ rindo necessariamente à mesma coisa quando. O aborto sem ser natural. Condenar essas coisas. Tg 1.3. Por isso. Legalismo.ou em seus pecados. At 4.22. Porém. de mudança tanto de mentalidade quanto de vida. de acordo com eles. 5) Ser contra a postura do cristianismo conservador de lutar acirradamente contra matérias como a legalização do aborto e a aprovação de leispró-homossexualismo — emergentes dizem que os cristãos deveriam se preocupar em lutar Os contra a pobreza do mundo e em prol de questões sociais e ecológicas. espontâneo ou para salvar a vida da mãe é assassinato (ver Apêndice 3). Porém. por exemplo. lPe 2.11).26-32).14. podem deixar de fazer as que consideram “menos importantes” (ou. nos momentos de fraqueza em nossa caminhada espiritual. em artigo publicado no site Pastoral Care Ministries. o Deus de Manning.16. e autor de livros como O evangelho maltrapilho. Inicialmente. ele destaca que as mensagens de Manning. ao que Dietrich Bonhoeffer. é ex-frade franciscano. lPe 1. .C apítulo 2 em relação ao aborto e ao homossexuaíismo. Convite à loucura. lavou pratos na França e deu apoio espiritual a presidiários na Suíça.com/articles/displayarticle. E esse discurso é recepcionado prazerosamente pelos emergentes. formado em Teologia e Filosofia. mas abomina o pecado (Jo 3. O impostor que vive em mim e O obstinado amor de Deus. Outro detalhe é que. que é americano e foi batizado como Richard Francis Xavier. intitulado “O perigo da graça sem a verdade” (http://leannepayne. Brian Mclaren. Conforme diz sua própria apresentação. são sempre sobre o mesmo tema: amor. lTs 4. sentiu-se atraído pelas suas palestras e livros. incensado pelos emergentes. O escritor Andy Comiskey. porém a graça que ele apresenta assemelha-se. mas logo ficou incomodado ao perceber que o amor que pregava Manning tem muito pouco a ver com o amor de Deus como ensina a Bíblia.php?articleid=5). além de ter vivido em clausura e contemplação. muitas vezes. A assinatura de Jesus. chegou a habitar voluntariamente entre as populações carentes nos Estados Unidos e na Europa. mostrar que Deus ama o pecador. Manning. como já falamos. os temas de Manning sempre são invariavelmente amor e graça. em suas palestras.13-16). que vêem em Manning um dos exemplos máximos de espiritualidade em nossos dias. Ele é muito conhecido por defender um estilo de vida simples e abnegado como algo central para a vida cristã. carregou água para populações rurais. diretor do ministério Desert Stream nos Esta­ dos Unidos. pois não é o amor que. Por isso. Ele declarou recentemente não ver nada demais em alguns cristãos serem homossexuais. chamou de “graça barata”. que tanto evangeliza homossexuais como discípula e acompanha os que entre eles se convertem a Cristo. a princípio. muitas vezes. Apesar de a Bíblia. em seu livro Discipulado. mas sem se importar com o pecado. como já foi dito séculos atrás. parece ser diferente: ama o pecador. muda nosso comportamento e. todos já publicados no Brasil. além de perdoar os nossos pecados. Um dos exemplos mais conhecidos desse tipo de posição é o de Brennan Manning. foi ajudante de pedreiro na Espanha. defende que os cristãos conservadores sigam o exemplo dos cristãos liberais e aceitem os homossexuais e os transexuais do jeito que são. 153). em seu livro Uma ortodoxia generosa (p.1-8. conta sua experiência com Manning. mas também nos restaura. ele defendeu os ‘casais’ gays que vivem em compromisso. Durante nosso almoço incômodo. Mas o que emerge dessa falta de clareza nele (e. resolveu marcar um encontro com Manning para conversar sobre o assunto. “Obviamente. Ele também desafiou meu compromisso de defender a ética sexual bíblica —nenhum sexo com homem ou mulher fora da aliança conjugal heterossexual — taxando-me de desinformado e de ter uma mente estreita”. O resultado é uma compaixão falsa que pode incentivá-los a se . Meu assistente Mark Pertuit e eu demos para ele testemunho de nossas próprias caminhadas de cura. Estranhamente.blogspot. e pode ser lida em www. que perdoa-nos sem se preocupar com nossa mudança de vida. Editora Betânia. então. é um amor que aceita a nossa perversidade sem se incomodar. Manning e eu abordamos de modo diferente a questão da autoridade moral. Sobre a conversa que teve com ele. Comiskey ficou preocupado com isso e. autor do livro O movimento homossexual. Comiskey conta o que se segue (a tradução é de Júlio Severo. Ao contrário. “Partilhei com ele acerca do compromisso do ministério Desert Stream de dar oportunidades seguras e fortes na igreja para a transformação dos homossexuais. esses terapeutas dançam ao redor desses homens e mulheres em dificuldades e lutas. concedendo-lhes uma condição de quase heróis. os indivíduos que se encon­ tram presos às tendências homossexuais se tornam ‘tabus’ para ‘terapeutas’ como Manning. Em vez de abraçar com verdade e graça homens e mulheres que estão confusos. A abordagem dele é obscura para mim. “Ele pareceu ter ficado realmente ofendido quando expressei minhas preocupações com as referências ambíguas dele com relação ao homossexualismo em seus artigos e livros.com). Minha abordagem é conservadora e baseada na Bíblia. Manning rejeitou nosso testemunho com o argumento de que eu não tinha conhecimento suficiente de teologia moral para ser levado a sério nessa questão”. em muitos como ele) é uma sentimentalização horrorosa da homossexualidade.não apenas nos abraça.juliosevero. é triste dizer. C apítulo 2 identificar com e viver o homossexualismo”. “Graça sem a verdade clara e autorizada das Escrituras Sagradas é mortal, onde se pode demarcar os limites conforme nossa vontade, perdendo a revelação da vontade de Deus para nossa vida humana aqui na terra. Ficamos, em vez disso, sozinhos construindo uma identidade baseada em nossa experiência da realidade. ‘Sinto-me gay. Portanto, sou gay. Deus me abençoa como gay’. Esse pensamento esvazia a cruz de seu sentido. Jesus morreu para nos oferecer o retor­ no ao seu plano ideal no Jardim do Éden. Ele ressuscitou para nos levantar de acordo com a vontade do Pai para nossa vida humana. Se perdemos essa verdade, então a graça fica sem sentido. Sua ener­ gia que transforma vidas se dispersa e perde a força. A verdade das Escrituras guia a energia da graça. Sem a verdade, a graça perde seu poder dinâmico e essencial de transformar vidas”. Em seguida, Comiskey cita outros nomes famosos que defendem mesma posição de Manning ou são simpatizantes. “Para muitos terapeutas de influência, a graça abraça os indivíduos que enfrentam conflitos homossexuais, mas é aparentemente incapaz de transformá-los. Certos terapeutas estão fortalecendo essa idéia enganosa —como Mel White, ex-professor do Seminário Fuller e pastor evangélico, que hoje dirige Soulforce, um grupo que defende o homossexualismo. Em sua biografia Stranger at the Gate (Estranhos nos Portões), White se representa como uma figura de certo modo trágica cujos impulsos homossexuais o forçaram a formar múltiplas parcerias antes e depois que seu casamento acabou”. “ Amigos dele, como o falecido especialista em ética Lewis Smedes, do Seminário Fuller, aceitaram a entrada de White no movimento homossexual como praticamente inquestionável. Como resultado, o Dr. Smedes olhava com profunda descon­ fiança estudantes como eu mesmo que ousavam defender a cura dos homossexuais. Eu costumava passar por Smedes no corredor, onde ele me olhava direto nos olhos e perguntava: ‘Quanto tempo você vai agüentar antes de recair no homossexualismo?’” “Bem mais sutil é a influência de White em Philip Yancey. Yancey, autor de vários livros, apresentou White em seu livro What’s So AmazingAbout Grace? [lançado no Brasil com o título Maravilhosa graça], exibindo White e sua amizade com ele como exemplo forte da graça de Deus. Embora o autor não abrace todas as escolhas de White, Yancey dá destaque a um homem que se tornou o mais influente cristão gay de nossa época. Inadvertida­ mente, o autor cria uma ponte maligna entre um falso profeta (White) e milhares de leitores que estão buscando clareza na área da homossexualidade. Talvez o fato de que Yancey tenha incluído White em seu livro seja exemplo de alguém que ‘se introduziu com dissimulação’ em nosso meio a fim de ‘transformar em libertinagem a graça de nosso Deus’ (Jd v.4)”. “Graça sem verdade é mortal, tirando proveito de nossos sentimentos. ‘Quero ser um cara bacana. Não quero provocar mais problemas na vida de alguém que já está sofrendo. Jesus não incluiu os excluídos?’ Nosso desejo de ser misericordiosos é com­ preensível, mas ingênuo. O sentimentalismo distorce a essência do conflito homossexual, produzindo uma perspectiva dramática de nós mesmos, o que só distancia o necessitado de sua cura. E distancia o necessitado também da real boa notícia do evangelho. Não há dúvida alguma de que Jesus primeiramente chamou ao arrependimento os hipócritas religiosos. Mas Ele também chamou Seus seguidores para lidar de modo direto com seus pecados (Lc 7.36-50; Jo 8.1-12). Ignorar a atitude dos seguidores para com o pecado é esculhambar com o testemunho de Cristo e preparar as pessoas para cair em enganos”. “Os homens e as mulheres que enfrentam profundas vulnerabilidades homossexuais precisam da plenitude da graça e da verdade. Sem essa plenitude, corremos o risco de facilmente levar corredor, onde ele me olhava direto nos olhos e perguntava: ‘Quanto tempo você vai agüentar antes de recair no homossexualismo?’” “Bem mais sutil é a influência de White em Philip Yancey. Yancey, autor de vários livros, apresentou White em seu livro Whaú So AmazingAbout Grace? [lançado no Brasil com o título Maravilhosa graça], exibindo White e sua amizade com ele como exemplo forte da graça de Deus. Embora o autor não abrace todas as escolhas de White, Yancey dá destaque a um homem que se tornou o mais influente cristão gay de nossa época. Inadvertida­ mente, o autor cria uma ponte maligna entre um falso profeta (White) e milhares de leitores que estão buscando clareza na área da homossexualidade. Talvez o fato de que Yancey tenha incluído White em seu livro seja exemplo de alguém que ‘se introduziu com dissimulação’ em nosso meio a fim de ‘transformar em libertinagem a graça de nosso Deus’ (Jd v.4)”. “Graça sem verdade é mortal, tirando proveito de nossos sentimentos. ‘Quero ser um cara bacana. Não quero provocar mais problemas na vida de alguém que já está sofrendo. Jesus não incluiu os excluídos?’ Nosso desejo de ser misericordiosos é com­ preensível, mas ingênuo. O sentimentalismo distorce a essência do conflito homossexual, produzindo uma perspectiva dramática de nós mesmos, o que só distancia o necessitado de sua cura. E distancia o necessitado também da real boa notícia do evangelho. Não há dúvida alguma de que Jesus primeiramente chamou ao arrependimento os hipócritas religiosos. Mas Ele também chamou Seus seguidores para lidar de modo direto com seus pecados (Lc 7.36-50; Jo 8.1-12). Ignorar a atitude dos seguidores para com o pecado é esculhambar com o testemunho de Cristo e preparar as pessoas para cair em enganos”. “Os homens e as mulheres que enfrentam profundas vulnerabilidades homossexuais precisam da plenitude da graça e da verdade. Sem essa plenitude, corremos o risco de facilmente levar C apítulo 2 o povo de Deus a caminhos muito enganadores. E se eu tivesse um Manning ou um White no começo da minha caminhada para me curar? Talvez nós, como cristãos, sejamos ingênuos demais acerca do que e de quem acolhemos nas nossas vidas. Nosso mundo cristão nos fornece muitas influências amplas. Precisamos perguntar a nós mesmos: ‘Qual é a base desse líder na área da autoridade? É a graça em harmonia com a verdade bíblica?’ Peça o discernimento de Deus. Então, aja de acordo com esse discernimento. Prepare-se para fazer as perguntas difíceis. Cada vez mais, enfrentaremos líderes cristãos famosos que estão sob engano e enganando outros nas áreas da sexuali­ dade e homossexualidade. Precisamos falar a verdade em amor para eles. Agimos assim por amor a eles e aos que, sem nossa intervenção, seriam desencaminhados por eles”. “Em meio às lutas que enfrentarmos ao abrir a boca para falar a verdade, vamos com alegria e bondade dar testemunho acerca da cura da homossexualidade. Se você está sendo transformado nessa área da sua vida, revele para outras pessoas. Se você conhe­ ce outros que estão sendo libertos, divulgue. Nada transmite de forma mais poderosa a plenitude da graça e verdade do que a transformação de alguém que sofre conflitos homossexuais! O que Deus cria na pessoa resoluta, que se entregou a Ele, é nada menos do que Sua imagem gloriosa, tudo por meio do poder libertador da graça. A verdadeira graça. Que mensagem importante para nossos dias! Que Deus grande e glorioso servimos! Que privilégio revelá-lo por meio do testemunho de vidas transformadas!” Como Comiskey, o apóstolo Pedro alertou sobre pessoas que “engodam com as concupiscências da carne e com dissoluções aqueles que se estavam afastando dos que andam em erro” (2 Pe 2.18). Contudo, infelizmente, no Brasil, já há muita gente que pensa como Manning ou simpatiza com seu pensamento. Há até quem diga: “Jesus não disse para alguém deixar de ser gay. Ele disse apenas para o seguirmos”. Ora, quem disse que seguir a Jesus não significa renunciar a nossos pecados e a uma mentalidade pecaminosa? Jesus não disse à mulher adúltera apenas: “Eu também não te condeno”. Ele acrescentou a ela ainda: “Vai-te e não peques mais” (Jo 8.11). E Jesus não estava sugerindo-lhe, com essas palavras, apenas algo do tipo: “Não peques de novo para não passar outra vez por essa situação humilhante e perigosa”, como se não se importasse muito com o pecado dela, mas tão somente com sua integridade física e sua honra. Ao ex-paralítico do Tanque de Betesda (cuja enfermidade que Jesus curou era, neste caso específico, decorrente de pecado), Jesus disse: “Não peques mais, para que te não suceda alguma coisa pior” (Jo 5.14). A Bíblia afirma que o Mestre se assentava entre publicanos e pecadores, mas não como aprovação do que estes faziam. Todos que seguiam a Jesus sinceramente abandonavam tanto suas vidas de pecado quando sua mentalidade de pecado (Lc 19.7-10; Jo 4.15-18,28,29). Muitos emergentes dizem que é impossível um homossexual que se tornou cristão perder a mentalidade homossexual, por isso são contra qualquer tipo de acompanhamento que leve um homossexual a resgatar sua heterossexualidade. Esses emergentes não se importam com a prática homossexual, pregando uma graça que perdoa, mas não transforma. Outros emergentes, porém, são contra a prática homossexual, mas dizem que é preferível o homossexual ser celibatário em vez de procurar res­ gatar sua heterossexualidade, pois consideram esse resgate muito difícil de acontecer. Inclusive, acham natural o homossexual que se tornou cristão conviver todos os dias com desejos homossexuais. Na prática, é também uma graça que perdoa, mas não transforma. Ora, se alguém convertido a Cristo preferir se tornar celibatário, não há problema, mas pensar que Deus não pode resgatar a heterossexualidade de uma pessoa é um equívoco à luz da Bíblia. Tal posição sugere que a pessoa nasce homossexual. Logo, Deus é quem faz a pessoa ser homossexual? Como poderia Deus chamar de “torpeza” (Rm 1.27) aquilo que Ele mesmo teria criado na pessoa? E se a pessoa não nasce homossexual, tendo se tornado homossexual no decorrer da vida, por que Deus não poderia resgatar a heterossexualidade da pessoa? A Bíblia diz que “o evangelho é o poder de Deus para salvação de todo aquele que crê” (Rm 1.16) e que “se alguém está em Cristo, nova criatura é: as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo” (2 Co 5.17). A Palavra de Deus diz ainda que se já ressuscitamos com Cristo, devemos pensar nas coisas que são de cima e sermos mortificados para “a prostituição, a impureza, o apetite desordenado, a vil concupiscência, e a avareza, que é idolatria” (Cl Já a disciplina espiritual é bíblica. A disciplina religiosa é legalismo. Mas não podemos dizer que um cristão passou por uma real transformação se. mesmo depois de crente. e acabe caindo.28) e devemos ser “limpos de coração” (Mt 5.28). Então.A IGREJA EMERGENTE E SEUS PRESSUPOSTOS ENGANOSOS C apítulo 2 3. não tem uma mentalidade pecaminosa dominando sua vida.20. antes de aceitar Jesus. Por mais que ele não chegue a fornicar ou adulterar. E o que a Bíblia chama . E possível que um heterossexual que. Deixe-me dar um exemplo. em sua vida. não a regra. Nada mais enganoso. A Palavra de Deus declara que devemos “guardar o nosso coração” (Pv 4. que Jesus combateu (Mt 5.18. esta sim baseada no esforço próprio. é uma exceção. Tremendo erro.18). Quando a Bíblia diz que “quem é nascido de Deus não peca” (João escreveu isso justamente para combater os antinomianismo . não podemos dizer que ele vai espiritualmente bem se. estamos usando a mesma lógica dos fariseus. O pecado. significa estar morto para os desejos do mundo. que a pessoa que desenvolve uma disciplina espiritual em sua vida para vencer as tentações está se apoiando nas obras para sua salvação. poderá vencer a tentação. está afirmando que quem se converteu a Cristo não vive na prática do pecado. pois trata-se de uma idéia fixa. contanto que não con­ cretize seus pensamentos.8). na Bíblia.1 Jo 5.23) e Jesus ensinou que do coração é que procedem todos os pecados. É a crença que se alguém obedecer algumas regras religiosas e tiver força de vontade. como Manning. constantemente. com esses pensa­ mentos.1-5). em um mo­ mento de fraqueza seja açoitado por lembranças e desejos antigos. Jesus disse que desejar sexo ilícito é pecado (Mt 5. Há quem pense. A disciplina espiritual é bíblica e não tem nada a ver com disciplina religiosa. A idéia de “mortificação”. O cristão não deve ser escravo do pecado ou de uma mentalidade pecaminosa.19). de estar “morto para o mundo”. não é simplesmente açoitado eventualmente por esses desejos em momentos de fraqueza: ele convive. como podemos considerar normal um cristão ter um coração dominado por desejos impuros? E como podemos considerar normal um cristão ter uma mentalidade homossexual? Como podemos considerar correto dizer que um homossexual que se tornou cristão não precisa resgatar sua heterossexualidade? Quando afirmamos que alguém pode conviver habitualmente com os mesmos pensamentos pecaminosos sem problema. deseja a impureza. não consegue se libertar. todos os dias. por isso devemos mantê-lo puro (Mt 15.27. se alimentava constantemente de material pornográfico. Nele encontramos também esse esclarecimento sobre a diferença entre as disciplinas religiosa e espiritual: “Para muitos.. mas também transforma. É por isso que a mensagem da graça começa conclamando o pecador ao arrependimento (Mc 1. A diferença está na motivação. Por isso. É fortalecer-se “no Senhor e na força do Seu poder” (Ef 6.7).de “exercício da piedade” (lTm 4. nem idólatras. exercitemo-nos na piedade (1 Tm 4. foram justificados no nome do Senhor Jesus Cristo e no Espírito de nosso Deus” (1 Co 6.7). fazemo-lo com o risco de nossa alma”. “Vocês não sabem que os perversos não herdarão o Reino de Deus? Não se deixem enganar: nem imorais. E arrependimento indica mudança de mentalidade. por suas próprias forças. de autoria do pastor R. Mas vocês foram lavados. NVI). Um bom livro sobre esse assunto é Disciplinas do homem cristão (CPAD). vencer a carne e as tentações.15). A Bíblia diz que “aquele que confessa e deixa alcançará misericórdia” (Pv 28. O coração legalista diz: ‘Vou agir dessa forma para ter mérito diante de Deus’. Isso é confiar na graça de Deus. A disciplina mantém Deus no centro. O legalismo é egocêntrico. Graça não é sinônimo de condescendência com o pecado.. a pessoa busca a Deus todos os dias por meio de Sua Palavra. tais como a .9-11.. Ela consiste justamente no reconhecimento que a pessoa tem de que não poderá. O co­ ração disciplinado diz: ‘Vou agir dessa forma porque amo a Deus e quero agradá-lo’. disciplina espiritual significa submeter-se a uma série de regras draconianas que ninguém pode cumprir e que geram frustração e morte espiritual. nem adúlteros.10)..13). Eles desprezam conceitos básicos de Hermenêutica Bíblica. na oração. a graça abraça.25-27). assim. Aliás. foram santificados. Assim foram alguns de vocês.) Se confundirmos legalismo com disciplina. mas de perdão para o pecado e de transformação de mentalidade e. 6) Ser a fa vor de uma herm enêutica pós-moderna — cristãos emergentes Os defendem ainda que devemos aceitar interpretações diversificadas da Bíblia. (. na adoração e na comunhão com os irmãos. se entendemos o significado de disciplina e legalismo.1). Portanto. Kent Hughes. Dizem que a Igreja é melhor enriquecida e abençoada quando há pluralidade de interpretações (cada uma atendendo a uma necessidade do momento). Paulo disse a Timóteo para ele fortificar-se na graça (2 Tm 2. da vida. Ou seja. Mas nada pode estar mais longe da verdade.) herdarão o Reino de Deus. Paulo falou disso também aos crentes em Corinto (que estavam precisando muito disso) usando como ilustração os jogos olímpicos da GréciaAntiga (ICo 9. Disciplina espiritual é isso. nem homosse­ xuais passivos ou ativos (. para vencer as tentações. distorcem o significado de passagens da Bíblia a seu bel prazer para acomodá-las a seus pontos de vista. os sermões também são abolidos. não pode faltar Palavra nos cultos. deve procurar formas alternativas de adoração. Há até cultos que consistem apenas em jovens se reunirem para pintar quadros ao som de músicas. muitas vezes compostos pelos próprios emergentes. tais como música eletrônica. cada crente.C apítulo 2 intenção dos autores bíblicos. etc. da geração que nasceu nos anos 80 e 90.18) . mas. na cultura popular hodierna. Na adoração alternativa. Os cristãos emergentes crêem que não deve haver um padrão de adoração a Deus.1) . foi um estilo criado por jovens da “Geração X”. algumas comunidades da IE aceitam expressões de adoração do neopentecostalismo. uma vez que a música foi criada .isto é. sendo substituídos por novos hinos. A Bíblia diz “Guarda o teu pé quando entrares na Casa de Deus” (Ec 5. dentro de sua criatividade. inclusive pelo tipo de música empregada (porque cada estilo de música tem um propósito específico e o utilizado por alguns emergentes não tem nada a ver com o culto a Deus). porém. com o desvirtuamento do sentido do culto. o contexto cultural de cada livro e passagem (texto sem olhar o contexto é pretexto) e a homogeneidade da Bíblia (a Bíblia se explica pela própria Bíblia).e “Não havendo profecia.ou seja. esse é bem-aventurado” (Pv 29. Esses hinos são sempre em estilos musicais pós-moder­ nos. mas o que guarda a lei. Em outras palavras. tenha reverência! . como a chamada “adoração extravagante”. E o que se chama também de Hermenêutica Pós-moderna ou Hermenêutica Generosa. Dessa forma. A falta de reverência em muitas dessas reuniões. O que é mais comum hoje em dia no meio da IE é a idéia de “adoração alternativa”. prefere estilos pós-modernos. os hinos tradicionais das igrejas foram totalmente abolidos. Alguém poderia argumentar que condenar o uso de alguns estilos musi­ cais na adoração a Deus seria um exagero. Na adoração alternativa. termo usado no marketing e nas ciências sociais para descrever a influência. e a ausência de espaço para a Palavra nessas reuniões são os dois grandes problemas. A maioria. pequenas ministrações. que nasceu nos anos 90 entre adolescentes cristãos emergentes na Europa. É desonestidade completa. Assim. 7) Propor uma “ adoração alternativa”— Outra característica do movimento é a ênfase na chamada “criatividade espiritual” do crente na adoração. sendo substituídos por mensagens curtas. proferidas durante a sessão de louvores. Apresentação de filmes e outros recursos tecnológicos também substituem o culto normal algumas vezes. desde variações recentes e mais pesadas do rock a música eletrônica. o povo se corrompe. homens vivem sem glorificar a Deus e a música é usada para outros propósitos que não são o de glorificar a Deus ou proporcionar momentos sadios entre as pessoas. “errar o alvo”. o que o pecado faz? O pecado corrompe as coisas criadas por Deus para que não atinjam o propósito para o qual foram criadas. Contanto que a letra de uma música seja de adoração a Deus e não contenha heresias. mas também é errado afirmar que todo tipo de sexo não é pecado. é justamente desvirtuar e desorientar aquilo que Deus criou. 2. deixeme aplicar esse princípio bíblico a outras coisas criadas por Deus: sexo e sentimentos. Agora. até agora. É uma bênção. que é uma criação de Deus. Odiar e amar são bênçãos. qualquer música poderia ser usada para glória de Deus. obviamente não é pecado. Dessa forma. em boa parte das vezes. etc. a música. O que o pecado faz. re­ pito. “Ok. as capacidades de odiar e amar não são pecado em si mesmas. é pecado. por quê? Porque Deus criou o sexo com um propósito. Vamos agora aos sentimentos.28). Tudo o que Deus criou em nós é também para um propósito. o que faz o pecado? Faz com que o sexo seja praticado de forma diversa do seu propósito original: prostituição. Mas.por Deus. “Qualquer estilo pode ser usado na adoração a Deus!”. homossexualismo. é errado afirmar que sexo. Para que você entenda realmente o que estou querendo dizer. de livre agência. bestialismo. Deus criou o sexo. Igualmente. isso significa que qualquer atividade sexual é boa e lícita? Não. Tudo que Deus criou foi para um propósito. fornicação. Logo. em um ser que tem o direito de escolha.22-24). sexo em si não é mau. assim como tudo o que Ele faz e cria tem um propósito. sua razão de ser. o que você disse não desfaz o argumento”. adultério. Continuemos. Deus nos fez para um propó­ sito. foi criada para um propósito. . Mas. Deus criou o instinto sexual (Gn 1. Deus nos criou com a capacidade natural de odiar e de amar. E por isso que o vocábulo traduzido por pecado tanto no grego como no hebraico (tanto no Antigo quanto no Novo Testamento) significa. costumamos ouvir. Esses são os propósitos. Ele criou os seres humanos com a capacidade e ten­ dência natural de relacionar-se sexualmente. em si. E por que Deus nos criou com essas capacidades? Porque esses sentimentos devem existir em um ser que não é um robô. Mas. Assim como ocorre com a música. Portanto. Logo. Quais foram os objetivos pelos quais Deus criou o sexo? Dois: a procriação e a satisfação do casal monogâmico (Gn 1. acontece com todo tipo de coisa que Deus criou.28. Tremendo engano. provocar desordem. Mas. Essa é uma falácia que precisa ser desfeita. não. Deus não nos fez seres livres para que vivêssemos em pecado. Nem todo tipo de música é para a glória de Deus. Porém. Jo 3. Mas. por outro lado. despertando um espírito que não é o do evangelho. “Mas e a letra bíblica de uma música? Ela não santificaria aquele esti­ lo?” Não. são imprescindíveis em um ser com livre agência. Mas. 2. Esse foi o seu propósito. os sentimentos.5. não é pecado. a justiça). Logo. não. não é pecado. Mas. Há estilos musicais que são perniciosos. Há estilos musicais que. comprovadamente. em si. o que faz o pecado? Faz com que amemos o que deveria ser alvo do nosso desprezo (a licenciosidade. e isso significa que Ele nos fez para sermos seres livres como Ele é.18. e a capacidade de amar deveria existir em relação a tudo aquilo que deveria ser realmente alvo de nosso apreço. A Bíblia diz que a tristeza segundo Deus (a tristeza do arrependimento) leva à vida. a vaidade. será que todo tipo de música é correto? Claro que não! Afirmar que “porque Deus criou a música. voltemos à música. Porém.A [GREJA EMERGENTE E SEUS PRESSUPOSTOS ENGANOSOS C A rám o 2 Deus nos fez à sua imagem e semelhança. e esta é conseqüentemente boa em si mesma. a santidade. Logo. SI 23. produzem nas pessoas uma euforia quase idêntica àquela que uma droga pode produzir. Entristecer-se. Há gente que faz o inverso. odiar não é pecado. Alegrar-se. Amar não é pecado. a música não é má em si mesma. Há sons que. será que todo tipo de tristeza é correta? Enfaticamente. cientificamente.16. Ele nos fez seres livres para que pudéssemos adorá-lo espontaneamente. a capacidade de odiar deveria existir em relação a todas as coisas que realmente deveriam ser alvo de nosso desprezo. Mas. Logo. Deus criou a música. despertam agressividade e/ou sentimentos pervertidos naqueles que os ouvem. será que todo tipo de ódio é certo? Claro que não. será que todo tipo de amor não é pecado? Obvio que não. as transgressões) e desprezemos aquilo que deveria ser alvo do nosso amor (Deus. mas a tristeza segundo o mundo leva à morte (2 Co 7. As sensações. logo podemos odiar e amar como Ele odeia e ama (Rm 1. em si. qualquer tipo de música pode ser usada para louvar a Deus” é silogismo puro. A Bíblia diz que devemos nos alegrar com os que se alegram e chorar com os que choram (Rm 12. Agora. será que todo tipo de alegria é saudável? Decididamente.10).6). deixando a pessoa sugestionada emocionalmente a fazer sandices. Mas. O que você terá apenas é uma letra pura em um estilo musical .15). concomitantemente. mesmo que não haja letras neles. A mensagem não justifica o meio corrompido utilizado. Música não é letra. devemos ter. Muitos a usam para o mal. já atendeu ao seu propósito. E o que é a letra? Um texto nada mais é do que fruto da capacidade que Deus nos deu de nos expressar por meio de palavras. ao serviço. sabemos que estão expressando . Porém. particularmente. letra não é música. à harmonia e ao ritmo. Ao ouvirmos determinadas melodias e ritmos. isso significa que toda música cristã deve ser engessada?” Ninguém está sequer sugerindo isso. possa ser uma expressão musical). Repito o que escrevi em meu livro Reflexões sobre a alma e o tempo (CPAD). Uma letra bíblica é um uso sadio. Os fins não justificam os meios! A letra bíblica não justifica a música perniciosa. O que é música? Música não é a junção da letra à melodia. Você pode ter letra sem música e música sem letra. Defender uma música perniciosa porque acompanha uma letra bíblica é ser maquiavelista. simultaneamente. Ora. por exemplo. à rendição e. Se uma música acompanha uma letra sadia. Todos os estilos musicais que expressam as idéias de celebração e/ou que­ brantamento podem ser utilizados. “E as danças na Bíblia?” Nenhuma delas justifica estilos hiperbólicos. podemos afirmar que a letra. harmonia e ritmo (embora o ritmo. há estilos musicais que não são expressões nem de uma coisa nem de outra. Por acaso. devem existir hinos inspirados que nos estimulem ao júbilo. é maquiavelismo puro. Infelizmente. Deve haver hinos inspirados que nos estimulem à humildade. o segundo. de celebração ao Senhor é como colocar maçãs de ouro em salvas podres. o estilo musical já não interessa tanto. por sua vez. foi ao som de algo parecido com esses estilos perniciosos? As músicas expressam sentimentos. pode ser usada tanto para o bem como para o mal. E isso não tem nada a ver com uma mera diferença de gos­ tos musicais. quando falo desse mesmo assunto no capítulo 9: “Na igreja. muita gente confunde letra como parte da música e aí raciocina que. Eles são tão hiperbólicos e doentios que usá-los em letras que falam. logo qualquer estilo de música é bom”) é silogismo dá pior espécie. à alegria efusiva. quando Davi e Miriã dançaram.impuro. “Então. Essa capacidade. E tão somente melodia. Devem existir hinos com letra e ritmo alegres”. A letra independe da música e vice-versa. que é uma bênção em si mesma. porque a letra é positiva. sozinho. um clima de quebrantamento constante e um clima de celebração constante. A questão é: a música que acompanha essa letra também atendeu? Se o primeiro argumento (“A música é de Deus. mas ela pode ser usada para o mal ou para o bem. atualmente. Agora. que pode ser de alegria. hoje. há variações pesadas do rock e também alguns outros estilos musicais que são nitidamente. desordem. Há tipos de rock que são. júbilo ou de desorientação. Portanto. Pressuposto 1 — Pensar que as igrejas precisam de uma revolução segundo a realidade de nossos dias . horror. Expressam acidez. há grupos da IE que adotam determinadas posturas que outros grupos do movimento não adotam. percebemos que não expressam sentimentos saudáveis.A IGREJA EMERGENTE E SEUS PRESSUPOSTOS ENGANOSOS C apítulo 2 um determinado tipo de sentimento. O estilo musical utilizado expressa um sentimento ou um espírito que não tem nada a ver com o espírito de que fala a letra. loucura. tudo a ver com o estilo musical utilizado. é rock. vigor. hiperbólicos. cantamos músicas e corinhos daquele estilo do rock em seu início. que o demonizou. Por exemplo: algumas IEs evangelizam. saudade. mas pela cultura que abraçou aquele novo estilo musical descontraído para representá-la. e muitas vezes não achamos nada demais. alguns pressupostos são sempre comuns. o que constatamos é uma contradição. Demonstram apenas descontração e alegria. A cultura do rock. agressividade. e isso tem. não tanto pelo som. com danças provocativas e sensuais e um ambiente de drogas e perversão. Ao ouvi-los com letras bíblicas que às vezes falam do amor de Deus ou de Jesus. Vejamos. mas gostam de músicas evangélicas cujo estilo. coragem. tecnicamente. mas outras não. ao ouvirmos. alucinação. que no começo era até ingênuo. Tanto é que. Há músicas que. Entretanto. na verdade. agora. e elas não sabem. ànimo. REFUTANDO OS PRESSUPOSTOS GERAIS DA IGREJA EMERGENTE Por defender uma igrej a marcada por uma constante reformulação teológica. etc. é que era o grande problema. escancaradamente. São estilos que provocam desorientação em nossos sentimentos. sim. ingênuos. Esse estilo foi condenado em seu nascedouro. que fique claro: a música é de Deus. Foi a cultura por trás daquele novo estilo. ela é uma bênção em si mesma. etc. mesmo havendo diferenças. Deixe-me dar um exemplo claro: há muitas pessoas que condenam o estilo rock. como os chamados pressupostos gerais da Igreja Emer­ gente não se sustentam diante de uma análise bíblica séria. Mas não é o que os reformadores queriam dizer. conforme a tua palavra” (SI 119.107). mas à indispensabilidade de. Foi assim com o Movimento Pentecostal no início do século XX. um avivamento das doutrinas bí­ blicas. Sola Scriptura (Só as Escrituras) e Sola Deo Gloriae (Só a Deus a Gló­ ria). Esse lema. O lema não é “doutrina reformada sempre se reformando”. Eles o pronunciam fazendo crer que o sentido de reformar. Foi assim no Avivamento Wesleyano do século XVIII.2.Todas as vezes que lemos sobre a Reforma Protestante. O que as igrejas precisam mesmo é de um retorno às Sagradas Es­ crituras e não de uma revolução que consista na mudança de menta­ lidade conforme às “necessidades” de nossa época. encontramos os lemas Sola Gratia (Só a Graça). à luz da Bíblia. conforme o próprio lema afirma. Paulo. Sola Christi (Somente Cristo). O salmista afirmou: “Vivifica-nos. fazer a igreja retornar às doutrinas bíblicas. avivamento é a ressurreição do que antes estava vivo. Foi assim na Reforma Protestante do século XVI. sempre lembrado pelos emergentes para justificarem seu movimento. que precisam sempre se reavaliar periodicamente à luz das Sagradas Escrituras para evitar desvios paulatinos. Aliás. o que tinham em mente era a volta à Bíblia. Ne 9) e durante a História. não a reformulação das doutrinas bíblicas com o passar dos tempos. mas as igrejas. sempre quando necessário. é enfático: “E não vos conformeis com este mundo. e sempre foi assim na Bíblia (2Rs 22 e 23. em vez de adaptada aos gostos hodiernos. Porém. A idéia que Calvino e os demais reformadores tinham ao proferir essas palavras não dizia respeito a alguma necessidade de reformularmos as doutrinas bíblicas com o passar do tempo. Igrejas precisam de avivamento e. nessas palavras de Calvino. Avivamento espiritual é um redescobrimento. mas lembremos que o foco dessa reforma. Quando os reformadores falavam de reformar a igreja. . Senhor. Porém. Os emergentes usam esse princípio para abalizar suas inovações. Sola Fide (Só a Fé). ele tem sido distorcido. como tantos outros princípios na História. Reforma compreende a idéia de cor­ rigir e reorganizar. outro importante lema dos reformadores era Eclesia reformata et semper reformanda est (Igreja reformada sempre se reformando). é importantíssimo para os nos­ sos dias. é inovar doutrinariamente. mas transformai-vos pela renovação do vosso entendimento. proferido por João Calvino. não é a doutrina. avivamento só é possível onde a Palavra de Deus é aceita incondicionalmente. mas “igreja reformada sempre se reformando”. em Romanos 12. 16). ou seja. fazendo isto. Sproul. E mais: “Tem cuidado de ti mesmo e da doutrina. por meio de seu alter ego chamado Neo. em vez de dizerem “Oh! Quanto amo a Tua Lei! Ela é minha meditação o dia todo” (SI 119. Se não. A Bíblia diz que devemos estar “edificados sobre o fundamento dos apóstolos e dos profetas” (Ef 2. uma licença para a desobediência. E ela ainda traz um alerta para o qual os emergentes deveriam atentar seriamente: “Tende cuidado. te salvarás. Ao se adaptar à pós-modernidade. se estiver abali­ zada na Palavra de Deus. flertam :onstantem ente com a teologia liberal Uma teologia só será sadia se ela for ortodoxa. muitos cristãos de hoje. Pensam que quando a Bíblia diz que Jesus nos libertou da Lei. C. estava se referindo a todo tipo de lei (inclusive as leis morais). personagem ficcional de A New K ind ofC hristian (Um novo tipo de cristão).11).8). a graça é. e não segundo Cristo” (Cl 2. ideológico e espiritual fomentado pelo Maligno e que deve ser rechaçado. para eles.97). Não é à toa que Brian Mclaren. . as filosofias e vãs sutilezas segundo os homens e o mundo. Pressuposto 2 —Pregam uma teologia sem ortodoxia. os adeptos da IE estão cedendo ao mundo de que fala o apóstolo João (1 Jo 2. estão mais aptos a exclamar “Oh! Como odeio a Tua Lei! Quão feliz eu sou por estar livre dela!” Esses crentes agem assim por entenderem errado o que o apóstolo Paulo está querendo dizer quando se refere àlei que foi abolida por Cristo. Os emergentes confundem as leis morais de Deus com legalismo. porque.A IGREJA EMERGENTE E SEUS PRESSUPOSTOS ENGANOSOS C apítulo 2 para que experimenteis qual seja a boa. Como disse certa vez o teólogo R. seja anátema (G1 1. para que ninguém vos faça presa sua.9. tanto a ti mesmo quanto aos que te ouvem” (lTm 4. Pressuposto 3 —Pregam o antinomianismo O antinomianismo é o extremo oposto do legalismo.15-17). Sua reinterpretação das Escrituras demonstra isso. Trata-se de uma aversão a qualquer tipo de norma de conduta. Pensam que a graça de Deus os liberta da obrigação de obedecer às leis morais de Deus. persevera nestas coisas. ao sistema filosófico. segundo a tradição dos homens. agradável e perfeita vontade de Deus”. segundo os rudimentos do mundo. afirma que as Escrituras não são nem autoritativas nem um fundamento para a fé. por meio de filosofias e vãs sutilezas. nas palavras de Paulo. preferindo. Os emergentes não levam o que a Bíblia diz a sério. Portanto. isto é.20). Por isso. apoiada nos pontos fundamentais da fé cristã exarados nas Sagradas Escrituras. aquele. Qualquer. Jesus. que violar um desses mandamentos. Juerp. por menor que seja.. obedecereis os meus mandamentos (. até que o céu e a terra passem. insiste no ponto de que a Lei não pode nos justificar. que apontavam para o sacrifício de Cristo. Somos justificados pela fé e não através das palavras da Lei” {AAlma em Busca de Deus).21). A Nova Aliança é freqüentemente vista não em continuidade com a Antiga Aliança. que nos foi concedida uma licença para a anarquia. determinações. Declara Sproul: “Um mito persiste em nossos dias: o de que o evangelho revogou a Lei de Deus para sempre. permanece no Novo Testamento. disse: “Se me amardes. foi abolido da Lei por meio de Cristo? Quando Jesus cumpriu a Lei. que os cumprir e ensinar será chamado grande no reino dos céus” (M t 5. o aspecto moral da Lei. A Nova Aliança inclui mandamentos. ela pode somente nos condenar. ou seja.15.17-19). Cristo nem negligenciou nem destruiu a Lei. porém. será chamado o menor no reino dos céus. Jesus adverte-nos contra a idéia de que Ele estaria defendendo o antinomianismo. Em seu Sermão da M ontanha. A Lei é vista como antiquada. e me manifestarei a ele” (Jo 14. Isso não significa. e as leis regimentares. Dizemos ‘à forca com Moisés’ como se o mediador da Antiga Aliança fosse mais opressivo que o faraó contra quem combateu. e não Moisés. de modo nenhum passará da lei um só i ou um só til. E a questão da “maldição da Lei”. então. mas em radical disjunção. mas cumprir. Porque em verdade vos digo que. não vim destruir. Somos libertos do miserável peso da Lei. O que. Cristo removeu a maldição da Lei para fora de nós. esse é o que me ama. A anarquia é marca registrada do Anticristo. porém. foram abolidas as leis cerimoniais. de que fala Paulo? Ela diz respeito às sanções punitivas a que estamos sujeitos por não podermos cumprir a Lei. Tanto é que a lei moral é vista claramente em todo o Novo Testamento. pois. O apóstolo Paulo.) Aquele que tem os meus mandamentos e os guarda. até que tudo seja cumprido. 1995). A lei moral. a lei moral. A velha heresia do antonomianismo está firmemente entricheirada na moderna igreja. e assim ensinar aos homens. em Romanos e Gálatas. ou seja. obsoleta e até mesmo como um detrimento ao crescimento cristão” (A Alma em Busca d e Deus . e eu o amarei. mas ao seu aspecto cerimonial. e aquele que me ama será amado de meu Pai. “Não penseis que vim destruir a lei ou os profetas. das sanções punitivas.Ele não estava se referindo ao aspecto moral da lei.. “Ao cumprir as exigências da Lei para nós. . Por isso. Por isso. do Corpo de Cristo. o sincretismo teológico e o ecumenismo Os emergentes afirmam que um estilo de vida politicamente correto e generoso é mais importante do que a nossa ortodoxia. Para eles. Porém. Paulo escreve: ‘De modo que a lei é santa. como se a nossa conduta não dependesse de uma compreensão correta das doutrinas bíblicas. pessoas de outros credos reli­ giosos não-cristãos que. que somos libertos da maldição da Lei. A falha não está na Lei. Somos salvos por Je­ sus.. Além de misturarem teologias diversas. desde a Teologia da Libertação ao Teísmo Aberto e outras teologias. é mais importante como as pessoas vivem do que no que elas crêem. “amorosas”. sua teologia é sincretista (abarca conceitos teológicos de vários grupos religiosos) e adotam discursos em prol do ecumenismo religioso.12. exclamemos como o salmista: “Oh! Quanto amo a Tua Lei!” Pressuposto 4 —Aceitam um certo nível de universalismo. “Nós. vivendo licenciosamente. quando .14).C apítulo 2 Não somos salvos por obedecer aos mandamentos divinos.8). e este nunca foi o seu propósito..12. devemos amar a Lei (lei moral de Deus). Não somos salvos pelas obras e muito menos pelas palavras da Lei. ela não é impotente para nos ensinar a justiça e para revelar o que é agradável a Deus. A Lei expõe nosso pecado e evidencia nossa necessidade de um Salvador”. Em síntese: não somos salvos nem podemos nos tornar espirituais por meio da Lei. Paulo afirma que ela é santa. Não obstante ela ser incapaz de nos salvar.. justa. Portanto. a falha repousa em nós. de repente. sejam “boas pessoas”. Mas não só isso. encarar a Lei como um caminho para a salvação). Ef 2. justo e bom (. pela graça divina por meio da fé (At 4. É o peso espiritual da Lei que é vitalmente importante para o cristão” (A Alma em Busca de Deus). mas aprendemos a vontade de Deus para nossas vidas e o ca­ minho da obediência espiritual através dela. boa e espiritual. o fato de não sermos salvos pela Lei não significa que podemos desprezar a Lei ou ignorar os mandamentos. A Lei não é maldita.) Porque bem sabemos que a lei é espiritual (.)’ (Rm 7. Ela só não pode nos salvar.. Sproul continua: “Paulo também enfatiza que não há nada imperfeito a respeito da Lei. e o mandamento santo. é comum interpretarem normalmente como membros da Igreja verdadeira. etc. não devemos ‘desposá-la (isto é. ou seja. não importa muito a ortodoxia. porque os falsos amores não são segundo a verdade.9. o apóstolo Pedro afirma que a obediência à verdade produz o amor não fingido (1 Pe 1. sem amor à verdade.10). o que chamam de “amor”. concordando que quase todas as religiões podem chegar até Deus. 17. Inclusive. não andam de mãos dados com a verdade.1). aos ensinos bíblicos.a Bíblia fala que os verdadeiros filhos de Deus sãos os que receberamJesus e a Palavra. à Palavra.6. Sim. Em outras palavras: só há perfeita ortopraxia quando há ortodoxia.15. um amor baseado no politicamente correto. se alguém faz sempre o bem ao próximo. (. mas é impossível haver verdadeira ortopraxia sem ortodoxia. “Como purificará o mancebo o seu caminho? Observando-o conforme a tua palavra. não crê que Jesus é Deus e despreza a Bíblia.12. Pressuposto 5 —Ensinam um am or errado Os emergentes costumam ter um apelo sentim entalista em seu discurso. é gentil e honesto com as pessoas. mas. É possível haver ortodoxia sem ortopraxia. mas. quando os dois estão alinhados. por exemplo).2. não os que meramente praticam boas obras (Jo 1. por exemplo. Normalmente.17. um sentimentalismo que é sobreposto à verdade.. A Bíblia diz que a verdade e o amor andam de mãos dadas (Ef 4. eles estão. Paulo fala contra aqueles que “não receberam o amor da verdade” (2 Ts 2. mas sem condescender doutrinariamente. o amor não deve estar acima da ortodoxia bíblica e nem pode. O apóstolo João diz que devemos amar a verdade e que o amor e a verdade devem estar conosco (2 Jo w .) Escondi a tua palavra no meu coração para eu não pecar contra ti” (SI 119. e se justificarem afirmando que “mais importante do que a ortodoxia é o amor”. sim.11).21). 14.15 e Os 4. Ora. que nada mais é do que o ethos hedonista de que falamos no primeiro capítulo. Ao aceitarem como sadias algumas obras de teólogos liberais e de outros grupos religiosos (bu­ distas. A genuína ortopraxia ama a verdade e se submete a ela.. não são segundo a Palavra de Deus (Jo 17. dizem que o amor está acima da ortodoxia bíblica. Note: “O amor da verdade”. Ora. Amor não deve ser confundido com tolerância e condescendência a teologias erradas. na prática.22).17). Para eles. Devemos amar e respeitar as pessoas. . devemos ser condescendentes com a posição teológica dele? O verdadeiro amor não se opõe à ortodoxia bíblica.3 ). O Cristo era tanto cheio de graça como de verdade (Jo 1. e Ele não ensinou uma verdade relativizável.17). .C apítulo 2 Jesus.14).28). e diz a Bíblia que. “concluindo Jesus este discurso. a multidão se admirou da sua doutrina ’ (Mt 7. em seu Sermão da Montanha. mas a verdade absoluta. falou sobre a necessidade de se guardar a Palavra (Mt 7. Aliás.24-27). foi Ele mesmo quem disse: a Palavra é a verdade (Jo 17. que apresenta doutrinas. A Teologia Narrativa seria. mas tão somente como uma grande narrativa devocional que deve ser lida e interpretada sem preocupação com as regras de hermenêutica.C a p ít u l o A Teologia Narrativa e a desconstruçao da Bíblia ão há como falar de Igreja Emergente sem falarmos de um de seus pressupostos mais amados: a Teologia Narrativa. O nome Teologia Narrativa se deve ao fato de que seus adeptos propõem que a Bíblia precisa ser entendida não como uma obra proposicional. portanto. uma construção teológica su­ postamente alternativa contra o que os emergentes chamam de repetição dogmática ou rigidez científica na interpretação da Bíblia. Esse pressuposto está vinculado diretamente ao conceito de Hermenêutica Gene­ rosa ou Hermenêutica Pós-moderna. N . de que já falamos. em 1864. porém. ele afirma que o homem é o criador dos valores. abandonou o projeto para se formar em Filologia. o espírito alemão. a moral. os ataques de Nietzsche são contra o Estado. O britânico C. ser um “espírito livre”. como se definiu. mas costuma esquecer sua própria criação vendo nela algo de “transcendente”. Ainda jovem e já lecionando. Mas. por incrível que possa parecer. Em Crepúsculo dos ídolos ou como filosofar com o martelo (1888). sua primeira obra da nova fase. Frustrado e deprimido. “eterno” e “verdadeiro”. Nietzsche decide. agora passa a atacá-los. Filho de um pastor luterano chamado Karl Ludwig. Lewis desintegraria tais idéias brilhantemente nos primeiros capítulos de sua obra Cristianismo Puro e Simples. Para uma genealogia da m oral {1887). Se louvara o “espírito alemão”. agora passou a desprezá-lo. Se antes escrevera defendendo o músico W agner e o filósofo Schopenhauer. conseguiu um emprego como professor de Filologia Clássica na Universidade de Basiléia. onde ataca tudo o que é cristão ou esteja “infectado” pelo cristianismo. Ainda em 1888. mas sua abordagem sobre o assunto é uma das mais precisas. Logo que se formou. Em Humano . que morreu pre­ maturamente.ONDE TUDO COMEÇOU A gênese da Teologia Narrativa. anticristão e anti-valores Friedrich Nietzsche (18441900). na Suíça. S. então. e escrever contra tudo que antes de­ fendera. as ilusões da filosofia e a verdade. demasiado humano (1878). Nietzsche inicialmente queria ser pastor como o pai. Ele não foi o único a fazêlo. Nietzsche resolveu publicar seus primeiros livros. substituindo-a pelo que define como “vontade alegre”. demasiado humano”. Renuncia o que chamou de “vontade culpada” de Schopenhauer. se deu com o filósofo ateu. Ele defende as mesmas idéias em dois outros livros: Para além do bem e do mal(\S<&5) e. mas teve o desprazer de ver suas obras rejeitadas pela crítica a ponto de ter sido até mesmo excluído do círculo de filólogos de sua época. como assim? O que esse filósofo anticristão e anti-Deus tem a ver com uma teologia que se propõe cristã? Nietzsche é considerado o pai da pós-modernidade e tem esse título justa­ mente porque iniciou a crítica contundente e ácida a todo tipo de instituição ou de valor absoluto. . quando os valores não seriam mais do que algo “humano. publica Anticristo. e esse tipo de crítica acabou sendo absorvido como uma característica básica da pós-modernidade. as instituições. Explicando: segundo Derrida. foi líder do movimento feminista na França. Porém. Caberia a cada leitor. princípio básico da . que é mais conhecido por ter declarado “Deus está morto”. e sofreu muito em sua infância por causa do anti-semitismo. Foi ali que. Jean-Jacques Rousseau e Albert Camus. Derrida fundou o desconstrutivismo. só interpretamos melhor uma obra quando não buscamos um propósito autoral por trás dessa obra. tese que propõe a indeterminação do sentido dos textos. portanto. De origem judaica. Outro detalhe é que os significados dados devem ser não apenas independentes do objetivo revelado pelo autor da obra. no meio filosófico. aplicados à hermenêutica bíblica. Terminou louco e assim morreu em 1900. Jacques Derrida nasceu na Argélia. tornou-se discípulo confesso dos escritos dos ateus Friedrich Nietzsche. ele faleceu aos 57 anos. Nietzsche. uma tentativa de exercer influência e poder sobre as pessoas. Isto é. negou a existência de qualquer tipo de valor absoluto e procla­ mou o desprezo às instituições. há pouco mais de 40 anos. que. antes de morrer. no fundo e sempre. tendo também exercido forte influência no movimento feminista da Inglaterra e dos Estados Unidos. em decorrência de AIDS. Homossexual e adepto de uma vida desregrada. Já a filósofa franco-búlgara Julia Kristeva. os princípios hermenêuticos clássicos devem ser desprezados totalmente. mas também de qualquer interpretação decorrente dos métodos tradicionais de interpretação de textos. dar aos textos o significado que ele mesmo acha que tenham. Já na juventude.ini­ ciaram dois movimentos simultâneos chamados pós-estruturalismo e desconstrutivismo. Ela defende enfaticamente a relativização dos valores. Para o francês. Ele era contra todo e qualquer tabu social e tinha aversão ao discurso cristão ou religioso de forma geral. que também é psicanalista e crítica literária. criaram a Teologia Narrativa. deixou sua marca em favor do pós-estruturalismo e do desconstrutivismo ao criar e popularizar a teoria de que todo tipo de discurso é. além de defender o desconstrutivismo e o pós-estruturalismo. então colônia francesa. três filósofos —Michel Foucault (1926-1984). mais tarde. Foucault foi um famoso filósofo e professor de História dos Sistemas de Pensamento no Collège de France de 1970 a 1984. inspirados por Nietzche. qualquer texto deve ser lido sem procurarmos qualquer intenção do autor por trás dele.C apítulo 3 Resumindo. mas a influência dos seus escritos se fez sentir no início do século 20 e. especialmente na França dos anos 60. Jacques Derrida (1930-2004) e Julia Kristeva (1941-) . Inspirado nesses seus ídolos. Isso é desconstrutivismo. sem preocupar-se com regras de hermenêutica. o pós-estruturalismo. as lições que achar interessantes. conforme a necessidade do momento. inerrância. E como ocorre com o termo trindade. Ele. bandeira empunhada pelo trio Foucault. Derrida e Kristeva. são uma “linguagem que freqüentemente usamos em nossas explicações acerca do valor da Bíblia” e. e argumenta que esses conceitos são invenções. se diz incomodado com conceitos como “autoridade. 183). Não seria intra-textual. portanto. inclusive. O significado e a interpretação de todos os textos bíblicos seriam. conceitos estes depreendidos do próprio texto sagrado. “Quase ninguém nota a ironia de se lançar mão da autoridade de palavras e conceitos extrabíblicos para se justificar a crença na autoridade suprema da Bíblia” (p. mas fora do texto. Foucault e Kristeva à teologia que nasceu a Teologia Narrativa. 190). não deveriam ser usados porque não aparecem na Bíblia. Foi aplicando o pós-estruturalismo e o desconstrutivismo de Derrida. mas a narrativa dinâmica de Deus” (p. Brian Mclaren declara que a Teologia Narrativa apresenta um novo conceito de ser bíblico sem estar preso a uma interpretação rígida das Escrituras e celebra o fato de que essa visão faz a Bíblia se tornar “não uma enciclopédia de consulta acerca das verdades morais e eternas. Mclaren esquece ou prefere ignorar que esses termos não foram criados do nada. O sentido do texto não estaria dentro do texto. infalibilidade. é basicamente a negação da existência de verdades absolutas. revelação. absoluta e literal” para se referir à Bíblia. os teólogos emergentes ensi­ nam que a interpretação de um texto bíblico pode ter vários significados. O QUE PROPÕE A TEOLOGIA NARRATIVA? Seguindo os pressupostos desconstrutivistas. mas extra-textual. mas nem por isso podemos dizer que a trindade ou triunidade divina é uma invenção humana. objetiva. relativos e caberia a cada um extrair dos textos bíblicos. Mclaren não concorda com o uso desses conceitos para descrever o valor da Bíblia. já que a Bíblia a expressa claramente. Porém. Aliás. Eles são conceitos inferidos da própria Bíblia quando esta fala sobre seu valor a seus leitores. não sendo possível determinar um sentido único que seja apresentado como o verdadeiro. portanto.A SEDUÇÃO D S NOVAS TEOLOGIAS A pós-modernidade. e propõe . que não aparece na Bíblia. Em Uma ortodoxia generosa . defendida hoje pela maioria esmagadora dos teólogos adeptos da Igreja Emergente e por alguns cristãos simpatizantes. que seja apenas uma “inofensiva” religião só de boas obras. quando estes. como uma ferramenta para intimidar os outros e fazê-los ver que estão errados. Mclaren apresenta uma definição da Bíblia in­ completa com o intuito de dar sinal verde para todo tipo de interpretação da Bíblia e fazendo do texto bíblico tão somente uma inspiração para boas obras. O “guru” dos emergentes diz também que “infelizmente. fizesse da Escritura”. Ele ainda chama tudo isso de “defesa do status quo ” e declara que “nada disso corresponde ao uso que Paulo.C apítulo 3 uma única proposição sobre o valor das Escrituras. E para sustentar sua posição. distorcem o significado do texto bíblico (pp. 183). como um atalho para sermos aqueles que sabem tudo. Usando a velha estratégia emergente da generalização. bem ao estilo pós-moderno. às vezes até negligenciando seu propósito essencial [o da Bíblia como inspiração para boas obras]”. . objetiva. etc)?” (p. ele é lamentável quando defende verdades absolutas à luz da Bíblia. absoluta. que crêem que a Bíblia tem todas as respostas”. Ou seja. afirma Mclaren que “nós empacamos e vagamos sem rumo quando usamos a Bíblia como arma para ameaçar alguém. o apóstolo. e não uma fé que se baseia em (e prega e defende) verdades absolutas. Evitando esses outros conceitos e abrigando apenas aquele (que é tão bíblico como os demais). 189). Quem defende a Bíblia como um documento temporal considera que ela só poderá ser usada como um livro motivacional para boas obras e não como um livro que defende uma verdade absoluta (um termo que causa arrepios nos defensores do “politi­ camente correto”). Uma declaração simples como esta não seria muito mais importante do que declarações com palavras estranhas ao vocabulário bíblico sobre ela mesma (inerrante. O que Mclaren e os emergentes desejam é apenas um cristianismo “po­ liticamente correto”. seu protegido. que é o que se segue: “O propósito da Escritura é de que equipar o povo de Deus para as boas obras. assim como os emergentes. para Mclaren. Não é à toa que Mclaren defende a Bíblia como sendo “um documento de seu tempo” e não como “um documento atemporal” (p. que consiste em usar maus exemplos como prova de que a posição conservadora é errada. queria que Timóteo. que não confronte visões diferentes. literal. o “guru” dos emergentes compara desonestamente os cristãos que defendem a Bíblia como tendo um conteúdo atemporal como sendo iguais aos racistas que se dizem cristãos. justamente as pessoas que mais amam a Bíblia têm sido aque­ las que a usam para esses outros propósitos. mesmo que um cristão conservador se destaque pelas boas obras. 189 e 190). quando as Sagradas Escrituras são bem mais do que isso. autoritativa. proposicional. revelatória. vejamos com atenção o que Paulo realmente está dizendo no texto destacado por Mclaren. Veja se Paulo está se referindo só a um propósito das Escrituras nessa passagem ou a dois: “Toda a Escritura divi­ namente inspirada é proveitosa para ensinar. para instruir em justiça. reforçando a segunda das duas funções das Escrituras mencionadas por Paulo nessa passagem. corrigir e instruir não dão a idéia de um objetivo proposicional. Porém. isto é. proposicional e absoluto. para que o homem de Deus seja artios . até que todos cheguemos à unidade da f é e do pleno conhecimento do Filho de Deus. à medida da estatura da plenitude de Cristo. “equipar para toda boa obra”). e levados ao redor p o r todo vento de doutrina. para corrigir. para sermos bem equipados para as boas obras. para que não mais sejamos como meninos. profetas. O vocábulo grego traduzido por “perfeito” em 2 Timóteo 3. A Bíblia não é só para nos “instruir perfeitamente para toda a boa obra” (no original grego. Quando Paulo fala que as Escrituras são. Será que Paulo defendeu a Bíblia como tendo só esse valor? Será que a própria Bíblia não fala dela mesma como tendo todos esses outros valores? Vejamos o que a própria Bíblia nos diz sobre esse assunto. pela astúcia com que induzem ao erro ” (Ef 4. o que dá a entender que só existe uma função apresentada ali. à perfeita varonilidade.12-15. O vocábulo significa “provido”. inclusive os escritos de Paulo. “perfeito” ou “aperfeiçoado”. “completo”. inerrante. pela artimanha dos homens. infalível. em seu livro. . precisamos ser cada vez mais artios]. quando diz que Deus deu à Igreja apóstolos. em primeiro lugar. Mclaren preferiu propositalmente a tradução menos indicada — “apto” — que favorecia a interpretação que ele queria dar ao texto. para a edificação do corpo de Cristo. Aliás.porque Paulo teria defendido a Bíblia apenas como tendo o propósito de inspirar boas obras (Mclaren baseia-se especialmente no final da passagem de 2 Timóteo 3. ele está evocando o mesmo que afirma em Efésios 4.17) e não como um texto autoritativo. evangelis­ tas e pastores e mestres (homens que manejam a Palavra da Verdade) “com vistas ao aperfeiçoamento dos santos para o desempenho do seu serviço [já que. normativo e autoritativo da Bíblia é confiar demais na ingenuidade de todos os seus leitores. é também para fazer com que o homem de Deus “seja perfeito”.17 é artios. correto em toda a sua forma de viver. agitados de um lado para outro. redargüir. grifos do autor). para que o homem de Deus [1] seja perfeito e [2] perfeitam ente instruído para toda a boa obra". Para começar. que só aparece nessa passagem em todo o Novo Testamento. para redargüir. dizer como Mclaren diz que os verbos ensinar. Jesus afirmou que a Bíblia é infalível. ainda neste capítulo. As dificuldades que alguns leitores da Bíblia encontram em certas passagens são.35). descreveria o milagre de o dia ficar prolongado? Não diria que o Sol e a Lua ficaram estacionados em cantos opostos do horizonte? Inclusive. devemos sempre atentar para a intenção do autor do texto bíblico.18): (b) as Escrituras dizem que Deus. que a inspirou (2Tm 3.18. um milagre que presenciou com seus próprios olhos após a sua oração? Como é que alguém. Agora. e as pessoas que tentam encontrar falhas na Bíblia e ao mesmo tempo dizem que crêem em Jesus estão sendo contraditórias. a infalibilidade das Escrituras não é uma invenção dos estudiosos da Bíblia. todas as vezes que a Bíblia prescreve o conteúdo de nossa fé (doutrina) e o padrão de nossa vida (ética) ou registra eventos reais (história). com suas próprias palavras e conhecimento limitado. Tt 1. já têm que partir do princípio de que Jesus mentiu ou se equivocou ao dizer que a Escritura é infalível. Ou será que ignoram que Jesus tenha dito isso? E se não ignoram e dizem crer em Jesus.2). para tentar provar que há falhas na Bíblia. com base na inspiração e na revelação divinas. Se a Bíblia foi dirigida pelo Deus da verdade.16). ainda hoje nós não dizemos que o Sol “nasce” e “se põe”? Qual era a intenção do autor ali? Se o texto de Josué fosse uma passagem bíblica em que a intenção do autor fosse apresentar ou descrever.C apítulo 3 Agora. para empreender essa busca. vamos nos dedicar a esse assunto). não pode errar (Hb 6. fruto dessa falta de atenção. Disse Ele que “a Escritura não pode falhar” (Jo 10. Outras são decorrentes de uma . conforme ela mesma nos diz. aí seria diferente. Um exemplo: será que quando Josué escreveu que o Sol e a Lua pararam (Js 10.17). Isto é. uma verdade sobre o universo (como em Gênesis 1 e 2). pois. vejamos o que diz Jesus sobre a Bíblia.12-15) ele tinha a intenção de afirmar necessariamente que o Sol e a Lua giram em torno da Terra ou será que estava apenas des­ crevendo. Por exemplo. como já afirmamos em relação à infalibilidade. não erra. desprezam a neces­ sidade de atentarmos para a intenção dos autores bíblicos para entendermos o significado do texto (mais à frente. ela não mente. mas não é o caso A Bíblia também é inerrante. posto que (a) o próprio Jesus asseverou que ela é fidedigna em seus mínimos detalhes (Mt 5. mas fala a verdade. e (c) Jesus afirma que a Palavra de Deus é a verdade (Jo 17. na época de Josué. então podemos confiar em sua inerrância. porque questionam a infalibilidade? Outro detalhe sobre a infalibilidade das Escrituras é que os que tentam contestá-la são justamente aqueles que desprezam uma hermenêutica correta. na maioria esmaga­ dora das vezes. Logo. 10. era usado também para demonstrar que o texto do Antigo Testa­ mento tem valor normativo e autoritativo. ABU Editora. 181). que é chamado de “Palavra de Deus” (como vimos.17) e a Bíblia apresenta a lei moral de Deus como algo que devemos obedecer (ver o primeiro capítulo. por exemplo.7-13. Os emergentes olvidam que o Antigo Testamento. sua verdade inerrante será percebida claramente” 0Conheça a verdade. Como lembra Bruce Milne. E nem poderia ser diferente. Afora não aceitar a autoridade e a normatividade como valores essen­ ciais da Bíblia. que Jesus utilizou para se referir à Escritura em Marcos 7.4) e sempre invocou a Bíblia como normativa e autoritativa para várias questões (Mt 19. uma vez que a Bíblia. Jesus afirma aos fariseus que a Bíblia está acima da tradição como referência normativa e chama a Palavra de Deus também de “mandamento de Deus”. por exemplo. de que o próprio termo “Escritura” para se referir à Bíblia hebraica e depois ao Novo Testamento (2Pe 3. quando falamos do “não-legalismo” dos emergentes). Veja o primeiro: “Também a propósito. p. enquanto coleção de 66 livros.15. 1987). Logo. pois ela mesma se apresenta assim em suas páginas. Nada mais falso. Bruce Milne. Cristo ainda usou a autoridade das Escrituras para rebater o Maligno (Mt 4. Mclaren ainda afirma três absurdos sobre o assunto.leitura isolada do texto sem olhar o seu contexto. Aliás.4. se o Novo Testamento é Escritura divinamente inspirada como o Antigo Testamento. 181). nessa mesma passagem. não havia sido ainda compilada” (Uma ortodoxia generosa. compõem o Novo Testamento. O segundo absurdo é afirmar que. “quando uma passagem da Escritura é interpretada de acordo com a intenção do escritor e em harmonia com outras passagens bíblicas. ambos são “Palavra de Deus”. Mclaren e os emergentes olvidam o fato. que é a mesma categoria dada às Epístolas de Paulo (2 Pe 3. em Marcos 7. O termo “lei” sugere autoridade e normatividade. A Bíblia também é autoritativa e normativa. as Sagradas Escrituras foram ditadas.13). Diz ele que os protestantes têm tratado a Bíblia “como se Deus a tivesse ditado” (p. Os protestantes . por sua vez. [a expressão] ‘a Palavra de Deus’ nunca é usada na Bíblia para se referir à própria Bíblia. O Mestre também aceitou a ética do Antigo Testamento como normativa (Mt 5.34-36). é também chamado de Escritura divina­ mente inspirada (que é justamente o significado de “Palavra de Deus”). sob a ótica protestante.16.17) que.16) era usado nos tempos bíblicos para descrever o texto sagrado como autoritativo e normativo. que muitas vezes é toda a Escritura. O próprio termo “Palavra de Deus”. conforme a mentalidade hodierna. O terceiro absurdo é pensar que o conteúdo bíblico pode ser adaptado ou aperfeiçoado pelo entendimento pós-moderno. ela não foi defendida por qualquer teólogo protestante responsável desde a Reforma até hoje” ( Conheça a verdade. e (2) da Bíblia apenas como uma obra voltada para nos inspirar às boas obras. posto que a narrativa da história da Igreja continua até os nossos dias. mas ligando erroneamente o apartheid a uma visão conservadora da Bíblia (o que é extremamente desonesto). Mclaren quer dizer um avanço gradual da compreensão da verdade. com freqüência e injustamente. não ditada. na direção do sonho imortal e envolvente de Deus chamado reino de Deus?” (p. mas. 190 — itálicos são meus). como sendo ultrapassadas.1. como deixam transparecer os escritores bíblicos (Ex 32. . que muitos emergentes nor­ malmente consideram passagens como as que condenam o homossexualismo ou que soam chauvinistas. acusados de estarem presos à teoria do ditado. como os emergentes acreditam. outra coisa totalmente diferente é pensar. que.17. junto com esse avanço. na verdade. A leitura da Bíblia proposta pela Teologia Narrativa pressupõe que cristãos de hoje podem estar mais evoluídos na compreensão do evangelho do que os cristãos da Igreja Primitiva. ele afirma: “Temos uma escolha hoje: nossas leituras trairão o caminho de Cristo na atualidade ou estabelecerão nosso curso na direção dos sonhos de Deus? Iremos deixar que a história continue em e através de nós. Bruce Milne). “Os cristãos evangélicos são. Depois de citar o apartheid como exemplo de leitura equivocada da Bíblia (no que ele está certo).1. Uma coisa é você reconhecer que a história da Igreja avança desde a Igreja Primitiva até os nossos dias. Refiro-me à contextualização equivocada (no próximo capítulo falaremos o que é uma contextualização sadia). juntamente com a intenção de sua trajetória. sendo os emergentes a última novidade na continuação dessa história. mas a maior parte foi tão somente inspirada. É por causa dessa visão de (1) compreensão evolutiva e de refinamento da verdade. falamos sobre essa descrição). Js 1. Não é à toa que gente como o incensado Brennan Manning. como o próprio conceito de “cristão emergente” sugere. 33. avança também a compreensão da verdade. Com “intenção da os trajetória” aqui. etc). conforme a descrição que ele mesmo faz do termo no capítulo 19 de Uma ortodoxia generosa (no segundo capítulo.16.C apítulo 3 sempre afirmaram que determinados trechos da Bíblia foram realmente ditados por Deus. É para esse conceito que apela Mclaren. Mclaren insiste na idéia de que os emergentes são a continuação da evolução da verdade ou da busca da verdade. sem nenhuma aplicação normativa. sim. no movimento denominado “Escola de Yale”. apóia igrejas de homossexuais. tornando-se uma religião apenas de boas obras como qualquer outra. mas tão somente uma narrativa devocional da evolução es­ piritual do ser humano que é acompanhada por um aperfeiçoamento da compreensão da verdade que continuaria a acontecer em nossos dias. e os emergentes acham isso na­ tural. e não a “coluna e firmeza da verdade” (1 Tm 3. O batista Flans Frei. Tudo (. tornando-se só um manual motivacional e inspiracional. Não é à toa que os emergentes não lutam contra o aborto nem contra projetos pró-homossexualismo e também não pregam que o cristianismo é a única verdade. a Bíblia deixa de ser a verdade. e a igreja cristã passa a ser totalmente desfigurada. que o evangelho é visto e encarnado também em religiões não-cristãs e que o viver cristão se resume a boas obras e a não condenar nada. nos anos 80. em New Jersey (EUA). na página 16. ele dá mais detalhes sobre o assunto em sua obra Storytelling: Imagination andfaith. Frei é mais conhecido por ter tomado parte. perdendo todo o seu real efeito. intitulado The em ergence o f Narrative Theology (A emergência da Teologia Narrativa). No . A partir do momento que as Escrituras não são mais normativas nem autoritativas. HANS FREI E WILLIAM BAUSCH Alguns dos principais nomes entre os defensores da Teologia Narrativa são Hans Wilhelm Frei e William J. Teórico da Teologia Narrativa. mas.. No primeiro capítulo.. Kelsey e Lindbeck se auto-denominavam pós-liberais e pregaram a importância de uma teologia narrativa para o cristianismo em nossos dias.) parece indicar que a história de Deus e as nossas histórias são de alguma forma experiências originais.15).A SEDUÇÃO D NOVAS TEOLOGIAS AS louvado pelos emergentes como um grande exemplo de cristão bíblico em nossos dias. Frei. juntamente com David Kelsey e George Lindbeck. é um padre aposentado da Diocese de Trenton. falecido em 1988. ele afirma: “Deus fez o homem porque adora histórias. Bausch. Talvez seja aqui que resida nossa ‘imagem e semelhança’: somos parágrafos da mesma história. Sua leitura da Bíblia está vinculada e condicionada a essa mentalidade. é um dos mentores dos emergentes Brian Mclaren e Stanley Grenz. Bausch. a não ser aquilo que é “politicamente incorreto”. por sua vez. dois inconvenientes nesse desenvolvimento. “Há. O primeiro é que essa intelectualização é feita invariavelmente dentro dos modelos correntes de pensamento e está baseada nas suposições de filosofias passadas e contemporâneas — são limitadas e condi­ que cionadas. e são apenas uma peça do todo. começaram a refletir sobre nossas histórias conjuntas. as teologias sistemáticas são limitadas. na página 17. citando o teólogo Amos Wilder (18951993) em sua obra Theopoetic: Theology and the Religious Imagination . O resultado foi o que chamamos de Teologia Sistemática”.) ‘o imbecilizante axioma de que a verdade genuína (ou a verdadeira sabedoria) deve limitar-se ao que pode ser . E uma classificação intelectual das experiências a fim de podermos conversar a respeito delas de forma filosófica. sistemas e credos. no entanto. todas as teologias sistemáticas. algo aconteceu em nossas histórias mútuas.. a experiência crua de nossas histórias. Bausch afirma: “É ao nível da imaginação que as questões de religião devem ser tratadas. A Teologia Sistemática codificada está irremediavelmente embutida num sistema específico e isso afeta suas conclusões e expres­ sões. Foi inevitável e de fato necessário. É uma coisa boa e necessária. Com o tempo os ho­ mens começaram a tirar conclusões e finalmente codificaram essas conclusões em proposições..) [Devemos questionar] nossa ‘antiga dependência química a um modo de pensar analítico. que dá aos profissionais as categorias e vocabulários necessários para falarem entre si e nos ensinarem”.. são fechadas aos outros com pressuposições e fundamentos diferentes. inconvenientes que apenas recentemente estamos tentando superar. As pessoas. agraciadas com inteligência pelo Deus da mesma história. racionalista e prosaico’ (. Tudo isso é só um preparo sutil para o que Bausch vai arrematar a seguir. No mesmo capítulo.A TEOLOGIA NARRATIVA E A DESCONSTRUÇÃO D BÍBLIA A C apítulo 3 devido tempo. (. Por essas duas razões. “Porém. Em segundo lugar.. ultrapassadas e parciais”. no entanto. devemos perceber depressa que essa teologia não é a coisa em si. até hoje. uma visão que nada tem a ver com o Deus e o Jesus da Bíblia. na verdade são aparentes. infelizmente. isto é. Miles é também discípulo de Robert Alter e da obra deste intitulada The Art o f BiblicalN arrative (A Arte da Narrativa Bíblica). de Cristo: uma crise na vida de Deus. a partir de uma leitura dos textos bíblicos divorciada dos princípios da hermenêutica. Sobre a questão de as Escri­ turas serem proposicionais ou não. sem se preocupar com contradições (que. despida de qualquer sugestão conotativa: num enunciado ou descrição de caráter científico’”. objetiva abolir quaisquer princípios de hermenêutica ortodoxa. A proposta dos adeptos da Teologia Narrativa é que as interpretações dos textos bíblicos devem ser mais livres. Como. adaptando-a forçosamente aos gostos de nossa época ou de qualquer época. aTeologia Narrativa nada mais é do que uma maneira de legitimar uma nova forma de interpretar a Bíblia sem padrões coerentes. Bausch é contra qualquer idéia proposicional na interpre­ tação do texto bíblico e. cita . Com vemos. como sabemos. os emergentes estão abertos a erros teológicos crassos. inclusive. Ou seja. Ambos não estão ligados diretamente à Igreja Emergente. O que analisaremos a seguir é a tese hermenêutica de Bausch e dos emergentes. sendo facilmente solucio­ nadas quando respeitamos princípios simples de interpretação bíblica). anglicano e ex-jesuíta. mas o desenvolvimento teórico da Teologia Narrativa em seus escritos é fonte constante de inspiração para os emergentes. ambos publicados no Brasil pela Companhia das Letras. já falamos suficientemente no capítulo anterior. em linguagem denotativa. Ele é autor de Deus: uma biografia (ganhador do Prêmio Pulitzer) e. por isso.A SEDUÇÃO D NOVAS TEOLOGIAS AS enunciado sob a forma de prosa conceituai. mais recentemente. classificando-os como “invenção” de todos aqueles que sistematizaram o entendimento da Bíblia. Miles é jornalista. apresentam uma visão equivocada de Deus e de Jesus. ao bel prazer de cada leitor. Tratam-se de obras liberais que. tendo estudado na Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma e na Universidade Hebraica de Jerusalém. desprezam a hermenêutica ortodoxa. JACK MILES E ROBERT ALTER Os principais nomes hoje do desconstrutivismo aplicado à teologia são os teólogos norte-americanos Jack Miles e Robert Alter. Ele. a Bíblia como ela é. a riqueza da Bíblia estaria. Quando Alter esteve no Brasil em julho de 2005. na Califórnia. Adão também o era. os primeiros capítulos de Gênesis. Não são narrativas simbólicas da história. não se sentem atraídos pela Bíblia. Jesus afirmou que os primeiros capítulos de Gênesis eram para serem lidos não como metáforas. Aliás. Seu livro The Art o f Biblical Narrative tem. mais do que nos detalhes. não está aceitando. não são passagens que não podem ser aceitas do ponto de vista científico. narrada em Gênesis. Jesus afirmou que Adão e Eva eram literais. de fazê-la relevante hoje para muitos que.5). Veja o caso dos primeiros capítulos de Gênesis.C apítulo 3 Alter em seus livros. e se Este era um indiví­ duo histórico. doutrinas. é simplesmente impossível aceitar a autoridade de Romanos 5 sem que a história da Queda.4. inclusive. apenas 195 páginas. Alguns textos bíblicos. trazendo sempre boas e diferentes lições. mas sem considerá-la a revelação de Deus aos homens e um livro que apresenta proposições para a fé. enten­ der a Bíblia assim seria uma forma. Os primeiros capítulos de Gênesis não são uma narrativa mítica que se for lida de forma literal perderá a razão de ser. há um contraste claro entre Adão e Cristo. por exemplo. e não como a Palavra de Deus. afirmou que a Bíblia deve ser comparada ao Mar Mediterrâneo. Apesar de a obra de Alter trazer um ou outro ponto interessantes para o estudante da Bíblia. Alter é teólogo.14.13. em inglês. de fato. são analisados apenas como obra de ficção com preceitos morais interessantes e não como fatos. estamos indo de encontro a toda exposição bíblica clara sobre a Doutrina da Salvação. Se interpretarmos esses capítulos apenas como uma história ficcional edificante. ela peca por apresentar as Sagradas Escrituras apenas como uma obra literária. isto é. crítico literário e professor de Literatura Comparativa da Berkeley University. O apóstolo Paulo enfatizou a literalidade dos primeiros capítulos de Gênesis. . Eles não são apenas poesia. num primeiro momento. mas como fatos históricos. Ora. Segundo ele. quem lê a Bíblia apenas como uma obra literária excepcional com grandes lições morais. inclusive citando a história do casal como base para seu ensino sobre o casamento (Mt 19. por ocasião da Festa Lite­ rária Internacional de Parati. seja verdadeira. Nesse capítulo. Paulo também fala de Adão e Eva como literais em 1 Timóteo 2. mas é considerado uma das melhores obras sobre Teologia Narrativa. Para Alter. Por exemplo. na capacidade de poder ser interpretada de várias formas (“correntezas multidirecionais”) por seus leitores. “com sua profundidade e correntezas multidirecionais'. em Apocalipse. fala do Diabo como sendo a antiga serpente.16. como a inerrante.17).2). Em primeiro lugar.O apóstolo João. não levar a Bíblia a sério.39). Pedro. a Salvação. para redargüir. 14). assevera que uma passagem das Sagradas Escrituras não pode ser entendida de maneiras diferentes. claras e definitivas sobre Deus.38. a infalível e a perfeita Palavra de Deus. o ser humano. fazendo referência aos escritos de Paulo como sendo inspirados por Deus. sabendo isto de antemão. para corrigir. As Sagradas Escrituras devem ser lidas como a revelação de Deus aos homens. que os indoutos e inconstantes torcem.5). como devemos viver e o começo e o fim de todas as coisas. mas. pelo engano dos homens abomináveis. guardai-vos de que. sejais juntamente arrebatados. simplesmente.16. como em todas as suas epístolas. amados. numa referência direta a Gênesis 3 (Ap 20. Adão e Enoque foram citados por Judas como reais (Jd v. sobre como ela deve ser interpretada. Portanto. as Escrituras são proposicionais: “Toda a Escritura divinamente inspirada é proveitosa para ensinar. Agora. acima de tudo.17). entre as quais há pontos difíceis de entender. pretende ensinar ao ser humano verdades absolutas. . a vida. O apóstolo Paulo falou da história de Noé e da Arca como sendo verdadeira (2 Pe 2. e igualmente as outras Escrituras. e descaiais da vossa firmeza” (2 Pe 3. Essa afirmação que acabo de fazer não é arbitrária. que se propõe não apenas a narrar histórias que são fatos (e não metáforas). O Senhor Jesus também (Mt 24. Vós. mas defendida pelas próprias Escrituras. para sua própria perdição. a Bíblia não deve ser lida apenas como uma obra literária com belas lições morais nem lida como um conjunto de histórias edificantes que não se propõe a apresentar nenhuma doutrina clara. portanto. fechada e definitiva. Primeiro. para que o homem de Deus seja perfeito e perfeitam ente instruído para toda a boa obra” (2 Tm 3. ler a Bíblia apenas de forma literária é. A PRÓPRIA BÍBLIA CONDENA O MÉTODO DA TEOLOGIA NARRATIVA A proposta da Teologia Narrativa choca-se frontalmente com o que a Bíblia diz sobre si mesma. ao bel prazer do seu leitor: “Falando disto. para instruir em justiça. Veja o que os escritores bíblicos afirmam sobre a Bíblia e o cuidado que devemos ter em sua interpretação. Ora. 2001. lembremo-nos dos três com­ ponentes básicos da comunicação: o codificador.21). é imprescindível termos esses três elementos em mente. CPAD. escudo é para os que confiam nele. . Mas o teólogo e professor americano Robert H. Mais outro alerta: “Toda palavra de Deus é pura. o codificador é o autor do texto e o decodificador é o leitor. somos nós. é que o significado é propriedade do leitor. En­ tão.20. comecemos pela definição de Hermenêutica. No que diz respeito à leitura da Palavra de Deus. Porque a profecia nunca foi produzida por vontade de homem algum. Para deixar isso mais claro. desfaz com facilidade esse argu­ mento em seu livro Guia básico da interpretação da Bíblia. No caso da leitura. como bons adeptos do desconstrutivismo. Logo. quem dá o significado do texto bíblico lido? De onde esse significado se origina? O que os defensores da Teologia Narrativa sugerem absurdamente. todos os métodos de interpretação têm suas regras determinadas por algo ou alguém. para que não te repreenda. claro. e sejas achado mentiroso” (Pv 30. quem deve determinar essas regras? O leitor? E as intenções do autor? Devem elas serem desrespeitadas? Para que você possa compreender melhor. o escritor bíblico é o codificador e os decodificadores.6). obedecendo etapas lógicas de raciocínio sobre o assunto.5. Stein.A TEOLOGIA NARRATIVA E DESCONSTRUÇÃO D BÍBLIA A A C apítulo 3 Pedro ainda diz: “Sabendo primeiramente isto: que nenhuma profecia da Escritura é de particular interpretação. o código é o texto. Primeiro. Stein começa falando dos erros de se imaginar que o sentido do texto é proprie­ dade do próprio texto. Nada acrescente às suas palavras. é natural a pergunta: no caso da Hermenêutica Bíblica. Hermenêutica nada mais é do que a interpretação de um texto. Logo. que é especialista em Hermenêutica Bíblica. o código é a Bíblia. por exemplo. o código e o decodificador. devemos ter cuidado ao interpretá-la para sermos fiéis à intenção do autor. mas os homens santos de Deus falaram inspirados pelo Espírito Santo” (2 Pe 1. A NECESSIDADE DE UMA HERMENÊUTICA SÉRIA Em segundo lugar. a Teologia Narrativa não é hermenêutica séria. Para que entendamos o significado de um texto. o texto tornou-se independente. o escritor original não possui mais controle sobre o que escreveu. as regras normais de comunicação não mais se lhe aplicam: transformou-se em texto ‘literário’. Se de alguma forma Paulo aparecesse perante os que apelam à autonomia semântica e dissesse ‘O que eu quis dizer quando escrevi isto foi. O significado pretendido por Paulo —o que ele procurava transmitir em seu escrito —não é mais importante que a interpretação de qualquer outra pessoa. essas expressões são vistas sob ângulos diferentes. a resposta seria: ‘O que você diz. Sendo literatura. Além disso. porventura. para aqueles que alegam que o texto tem seu próprio significado. o texto é indepen­ dente e não tem nenhuma conexão com o autor —possui seu próprio significado”. estiverem ministrando sobre a Epístola aos Ro­ manos.. Como resultado. devido ao fato de o texto ser independente do seu autor. sendo o seu significado completamente independente do que o autor bíblico quis comunicar quando o escreveu. de Charles Dickens.. Assim. ler a Epístola aos Gálatas com a finalidade de compreender o que Paulo quis dizer em Romanos faz pouco ou nenhum sentido. passando a ter o seu próprio significado. O que estava pensando ou procurava transmitir no momento em que escrevia é um tanto irrelevante e não influencia o significado. é interessante. . quando um determinado escrito se torna ‘literatura’. De acordo com esse ponto de vista. mas de pouca importância”’.’.“Os que defendem o significado como propriedade do texto (. “Para pregadores como Billy Graham.. o que Paulo realmente quis dizer quando escreveu aos romanos vale tanto quanto a opinião de qualquer pessoa. Entretanto.) alegam que o texto literário possui autonomia semântica. Seria como ler Um conto de duas cidades. se. de acordo com esse ponto de vista. as expressões A Bíblia diz’ e ‘Paulo quer dizer’ significam a mesma coisa.. Paulo. igualitárias. às vezes.. liberais. mas para mim significa. é produto do raciocínio e do pensamento. por outro lado. mas não consegue produzi-lo. Um texto pode transmitir significado. E algo parecido com o que se ouve. para essa corrente. É algo que apenas as pessoas podem fazer. peles de animais. ‘estética da recepção’ ou ‘crítica de resposta do leitor’. ’ Ou: ‘Esta passagem pode significar algo diferente para você.. Texto é simplesmente uma coleção de letras ou símbolos. vários significados legítimos podem ser extraídos mediante a concep­ ção de cada intérprete. O significado. posteriormente. “Conhecido também como ‘teoria da recepção’. símbolos japoneses ou hieróglifos egípcios. onde o leitor apõe o seu significado. esse ponto de vista sugere que se os leitores distintos encontram diferentes significa­ dos. pedras ou metal. ob­ viamente. evangélicas ou arminianas do mesmo texto. Ou seja. pois não pode pensar! Somente os autores e leitores possuem essa capacidade. D BÍBLIA A .A TEOLOGIA NARRATIVA E A DESCONSTRUÇÃO C apítulo 3 “Talvez o maior problema desse ponto de vista envolva a definição de ‘texto’ e de ‘significado’. isso ocorre simplesmente em virtude de o texto lhes permitir essa multiplicidade. Podem ser letras latinas ou gregas. Em papiros.’ Como veremos. que o autor é o fator determinante do significado. Em seguida. tais declarações são mais bem compreendidas quando se descrevem as muitas aplicações (ou implicações) do significado pretendido pelo autor”. o significado transmitido pelo texto só poderá ser produzido pelo autor ou leitor”. E tanto as letras quanto o material são objetos inanimados.. Em razão disso. em linguagem popular: ‘O que este texto bíblico significa para mim é. Dessa for­ ma. Podem ser escritos da direita para a esquerda. O texto funciona mais ou menos como um quadro de giz.. da esquerda para a direita ou de cima para baixo. há ‘leituras’ ou interpreta­ ções marxistas. feministas. Stein apresenta as falhas da teoria de que o leitor é o fator determinante do significado do texto e mostra que o mais coerente é. também escrita por Paulo. Um exemplo que Stein usa para ilustrar esse fato é a reflexão surgida na Suprema Corte dos Estados Unidos nos anos 80 e 90. e que ‘é ultrajante fingir que podemos julgar o desejo dos autores [..) Esse é essencialmente o método do bom senso. por conseqüência. (. a discussão levantada por Robert Bork e Clarence Thomas era se o significado da Constituição é determinado pelo que os seus autores originais quiseram dizer quando a redigiram ou pela interpretação que os juizes.. se bastaria que nos dissesse o que desejava transmitir. que o desejo de seguir a intenção original é arrogância vestida de humildade’. ao Evangelho de Lucas: o significado do texto é aquele que o próprio Lucas.A SEDUÇÃO D NOVAS TEOLOGIAS AS “O método mais tradicional para o estudo da Bíblia. hoje. A mesma regra se aplica. quis transmitir aTeófilo. é exatamente o que o apóstolo considerava como tal. a Epístola aos Gálatas.] quanto ao exercício do seu poder’”. por um lado. conscientemente.] para questões específicas contempo­ râneas’. (. Um dos magistrados da Suprema Corte declarou. James Madison argumentou que ‘se o sentido no qual a Constituição foi aceita e ratificada pela nação não for o guia ao interpretá-la.. portanto. quis dizer ao produzir o texto. quando o escreveu. dão ao texto. por exemplo. a melhor forma de tentar entender o sentido da Epístola aos Romanos é ler. tem sido o de analisar o significado como algo con­ trolado pelo autor. não pode haver segurança [. . a Epístola aos Romanos deve ser interpretada à luz do que Paulo quis passar aos seus leitores quando escreveu — estivesse vivo. Por outro lado..) O significado é aquele que o escritor.... no entanto. “Nas audiências da Suprema Corte.. independente da intenção original. Dessa maneira. em vez de O velho e o mar de Ernest Hemingway ou a Ilíada de Homero. Por isso. O significa­ do. visto que o objetivo da interpretação é compreender o que o orador ou escritor está querendo dizer”. ao redigirem as Escrituras. E no caso da Bíblia. O que aTeologia Narrativa propõe. em relação ao que realmente queriam dizer. ainda mais em textos em que eles abordam claramente doutrinas apresentadas como fundamentais. sem alterar o significado da passagem bíblica. conclui-se então que foi dada a eles habilidade di­ vina para expressar adequadamente as questões que pretendiam transmitir”. mas de forma sadia. então entender de forma diferente essa Lei também é desrespeitar a intenção clara do autor sagrado. sinônimo de todo tipo de norma de conduta. Chamar de metáfora aquilo que o autor bíblico pretendeu claramente apresentar como fato e chamar de fato aquilo que o autor pretendeu como uma metáfora são igualmente desonestos. mudar o significado do texto bíblico para adequá-lo aos gostos ideológicos de hodiernos —e isso é imensamente absurdo e desonesto. Falaremos mais sobre o assunto no capítulo seguinte. ou seja.21) como se crê. como vimos no capítulo anterior. . Se o autor de Gênesis em nenhum momento pretende que pensemos que os relatos dos primeiros capítulos do “Livro dos Começos” são metáforas e o próprio Jesus e os apóstolos tomam esses capítulos como relatos históricos. os recursos lingüísticos claramente empregados. Isso é lógico e honesto. E quanto a tornar o significado do texto bíblico inteligível para as pessoas de nossa época? O que a Hermenêutica Bíblica tradicional defende. insistir em supostas dúvidas em relação às intenções dos autores bíblicos. “Se. lembra Stein. conseqüentemente. que inspirou-os. Se a Lei que Jesus aboliu não é. respeitando os gêneros literários de cada livro. logo é desonestidade vê-los de forma diferente. maldade e desrespeito às intenções dos autores: é torcer os princípios divinos exarados no texto sagrado e. o crime é maior ainda. é mais do que desonestidade. Logo. é a necessidade de contextualizarmos o texto bíblico à nossa época. etc. ofender a Deus. sem alterar a intenção do autor. os autores ‘falaram inspirados pelo Espírito Santo’ (2 Pe 1. e não poderia ser diferente. as implicações do assunto. isto é. é exatamente o contrário: adaptação do texto bíblico à nossa realidade e às “demandas” pós-modernas. porém. segundo afirma a própria Bíblia.C apítulo 3 Refletindo sobre o assunto. é desonestidade. Stein ressalta a desonestidade que há em desrespeitar o autor como fator determinante do significado. o contexto cultural do autor. como fatos (inclusive mostrando a importância desses fatos para entender a Doutrina da Salvação). o assunto tratado em cada texto. Usar o nosso significado para substituir o significado pretendido pelo autor é antiético e espoliação desavergonhada. previsíveis e sob domínio fácil.C a p ít u l o O que é uma contextualização saudável? á aproximadamente vinte anos. H . Mas muitos homens de Deus sérios começaram a olhar com cisma essa nova tendência. com aplicações antes óbvias. Eles não conseguiam aceitar que textos bíblicos simples. o termo e suas variantes (contextualizar. devido à cons-cientização de que era preciso pregar uma mensagem cada vez mais pertinente à realidade hodierna. O princípio é antigo. para alguns. começassem agora a ser pregados de forma pouco comum. Estranhamente. Não se tratava de algo novo. para boa parte dos evangélicos. mas seu conceito. Foi só nos últimos dez anos que seu uso se tornou freqüente na elaboração e transmissão de mensagens bíblicas. o termo contextualização se tornou popular no meio evangélico brasileiro. etc) ganharam até glamour. ganhando aplicações mais voltadas para a realidade atual. Quebrara-se o convencional. e sempre quando isso acontece. passou a ser uma novidade de poucos anos para cá. contextualizado. Contextualizar é bíblico.A SEDUÇÃO D S NOVAS TEOLOGIAS A contraposições nascem naturalmente. Os profetas tomavam conhecimento dos fatos. Com o passar do tempo. Tanto um extremo como outro fazem mal à verdade. para alguns. eram diretamente orientados por Deus para falar sobre esses assuntos. Eles usavam o recurso da contextualização ao transmitirem a men­ sagem divina. os posicionamentos tornaram-se cada vez mais polarizados. Por isso. é importantíssimo lembrar que esse princípio não é antibíblico. Conquanto haja mesmo a necessidade de certos cuidados em relação à contextualização. Ou então. sem contudo avaliar os perigos de uma contextualização malfeita e deturpada. Em Miquéias. encontramos profecias contra os sadistas líderes de Israel (Mq 3. Os temas principais nesse capítulo são a luxúria dos nobres e líderes da nação e a desgraça imposta aos homens simples do povo. bolsas de pesos enganosos. outro preferia condenar qualquer tentativa de se contextualizar as Escrituras.1-4). balanças falsas. Podemos vê-lo claramente evidenciado tanto na pregação dos profetas do Antigo Testamento como na dos homens de Deus do Novo Testamento. Amós fala de corrupção e da futura destruição da nação israelita. vemos o profeta revelando riquezas ilícitas. devido ao regime de opressão que se instalara em Israel. Enquanto um grupo sustentava a necessidade de se contextualizar. CONTEXTUALIZAÇAO NO ANTIGO TESTAMENTO Os profetas do Antigo Testamento eram sintonizados às tendências. externavam a vontade divina a respeito dos temas em pauta. o termo chegou a sofrer pre­ conceito. Mais à frente. violência praticada . podemos ver denúncias claras às injustiças sociais em Israel. então. os submetiam ao crivo divino e. Diversas vezes encontramos no texto sagrado esses homens denunciando as injustiças sociais entre seu povo. Contextualizar passou a ser. No capítulo seis do livro do profeta Amós. embora o último seja menos comprometedor. quase uma heresia. O princípio da contextualização consiste em aplicar um texto bí­ blico à nossa realidade. em muitos casos. fatos e peculiaridades da sociedade em que viviam. se sensibilizavam. e para isso é preciso pinçar fatos seculares para submetê-los ao escrutínio da Palavra de Deus. e os soldados que excediam no exercício de suas funções. Paulo nunca foi adepto de discursos filosóficos burilados e prolixos (1 Co 2. No entanto. que estava se tornando comum entre o povo de sua época (Ml 3.O QUE É UMA CONTEXTUALIZAÇÃO C apítulo 4 pelos intocáveis ricos do povo. encontramos João Batista denunciando a omissão.916). Em Oséias 5. encontramos também uma mensa­ gem contextualizada. encontrou filósofos epicureus e estóicos que pouco se impor­ tavam com sua mensagem simples. Só assim o povo podia reconhecer o quanto carecia de Deus. Os epicureus eram discí­ . e que segue o padrão da dos profetas do Antigo Testamento. SAUDÁVEL ? CONTEXTUALIZAÇÃO NO NOVO TESTAMENTO Já no início do período neotestamentário. advertiu contra a infidelidade conjugal. Deus. Era algo muito mais profundo. coisa que eles conseguiam através da alteração dos limites dos terrenos. O profeta Oséias denunciou a estratégia atroz dos príncipes de Judá para aumentar suas riquezas e poder. Note que João não estava pregando uma mera reforma moral. mas os aplicavam ao contexto e à situação de suas épocas. E nessa exposição. os fraudulentos e opressores cobradores de impostos (Lc 3. ao chegar em Atenas. Miquéias ainda expõe toda a corrupção moral de Israel. precisava. pois pregava a Jesus e a ressurreição” (At 17.10-16). No sétimo capítulo do livro que leva seu próprio nome.11). situações que eles estavam vivenciando e que denotavam a necessidade de arrependimento. Perceba: todos esses homens de Deus não expunham simplesmente os prin­ cípios divinos.1-5). através do profeta. o profeta condena a mudança dos marcos. a falta de prontidão nas boas obras (Lc 3. falando em nome do Senhor. Malaquias. por sua vez. salientava realidades bastante conhecidas pelo povo. repreendeu os príncipes pelo roubo de parte principal do sustento diário de várias famílias. Mas. Primeiro expunha as feridas do povo para depois apresentar o remédio.13).18). tocar em realidades do dia-a-dia. claro. Temos também o exemplo do apóstolo Paulo em Atenas. Eles chegavam a ameaçar com falsas denúncias para roubar (Lc 3.14). mentiras e atitudes dissimuladas (Mq 6. havendo quem perguntasse: Que quer dizer esse tagarela? E outros: Parece pregador de estranhos deuses. Eles “contendiam com ele. maltratando as pessoas e usando do método de intimidação para extorquir.10. mas arrependi­ mento e entrega a Deus.1-7). que de tão grassante já estava destruindo as famílias (Mq 7. No Evangelho de Lucas. para conscientizar o povo da sua necessidade. Note que Paulo não faz concessões quanto ao conteúdo da mensagem. Em determinado momento. Se não.). O motivo? Entre o povo de Atenas e os estrangeiros residentes. é Jesus.27) para referir-se à busca do homem por Deus (Platão usara esta palavra para referir-se às melhores opiniões sobre a verdade). resolveram finalmente ouvi-lo. Só o estilo.DAS NOVAS TEOLOGIAS pulos de Epicuro (341-270 a. que tem como maior expressão o logos.18). .). Ele não procura negociar princípios para ser ouvido.28). Foi assim com as parábolas.C. Paulo não mudou o conteúdo de seu discurso. quando. partiu da crença num ser superior e divino. A SEDUÇÃO CONTEXTUALIZAÇÃO NO ENSINO DE JESUS Duas coisas caracterizam Jesus como contextualizador: Ele sempre utilizou elementos do dia-a-dia para ilustrar ou trazer verdades ao povo e sempre manteve em sua pauta temas do cotidiano de sua época. Apenas usa códigos comuns aos filósofos para decodificar a mensagem divina para eles. aqueles filósofos acharam por bem levar Paulo ao areópago para ouvir seu ensino. o estilo do discurso era diferente. que criou todo o mundo (aproveitou que os atenienses eram muito religiosos). o Mestre usou o pão e o vinho para falar da importância de Seu sacrifício e de comunhão no Corpo. a razão. usou a semente e o solo para falar do efeito da mensagem divina no coração humano. Admirados com a popularidade que ganhava sua mensagem. Jesus costumava usar o cotidiano para introduzir um princípio divino. os mesmos temas de sua pregação ao povo (At 17. Ao estabelecer a Ceia como memorial. claro. Paulo é um dos maiores exemplos bíblicos de contextualização. mas.C. usou a expressão “tateando” (17. Ele contextualiza a mensagem simples do evangelho àquele meio. para que fosse ouvido e compreendido. Os estóicos eram seguidores de Zeno (340-265 a. Arato e possivel­ mente Cleanthes (17. que ensinou que nosso ideal de vida deve ser a conformação com a natureza. usou a luz e o sal como ilustrações. vejamos: pegando o gancho do altar “Ao Deus desconhecido” (17. O maior deles. a mensagem do apóstolo dos gentios encon­ trara guarida (At 17. Ao falar de influência da Igreja no mundo. por exemplo. fundador da filosofia ética que faz do prazer o ideal da vida.22-26).21). Estes eram panteístas. e citou textos dos poetas gregos Epimênedes. agora. No aerópago. Ele pregou de novo a Jesus e a ressurreição (At 17-31). 1-3). O fato terrível de que conversavam tratava-se do episódio em que Pilatos matara alguns galileus e misturara o sangue deles com os sacrifícios que estavam oferecendo. e mais uma vez aproveitou para falar sobre arrependimento (Lc 13. Jesus. lembrou outro fato recente. muito pelo contrário. utilizou as presenças das aves do céu e dos lírios do campo para ensinar a não termos ansiosa solicitude pela vida. ainda em voga em nossos dias. é preciso conhecer­ mos sua origem e história. das questões relacionadas à Lei etc. podemos ver isso bem claramente em alguns de seus discursos. Deus. por exemplo. o dos dezoito galileus sobre os quais desabara a Torre de Siloé. ENTAO. logo aproveitou aquele momento para falar do castigo divino e da necessidade de arrependimento (Lc 13. Que bom seria se todas as vezes em que nos reuníssemos para falar sobre algo ocorrido. a própria encarnação é Deus levando ao máximo o princípio da contextualização. procurássemos extrair lições do fato em apreço para nossas vidas (à luz do que diz a Bíblia) ou até mesmo o aproveitássemos como “gancho” para evangelizar! Outra prova concreta de que Jesus estava sintonizado com os problemas de sua geração é que Ele nunca fugiu das grandes questões que angustiavam a sociedade de sua época. mas. O grande perigo da contextualização está justa­ mente na má influência da teologia liberal. as pessoas se reúnem para comentar. necessidade. Jesus é o maior caso de decodificação da mensagem divina para o homem. vemos um caso comum de pessoas conversando sobre uma atroci­ dade recente. se fez homem.4-5). Em seguida. que era um dos que ali estavam na conversa. Aliás.OQ UE E UM CONTEXTUALIZAÇÃO SAUDÁVEL ? A C apítulo 4 No Sermão do Monte. Para que possamos entender melhor como o liberalismo usa o contextu­ alizar como instrumento de propagação de suas idéias. vejamos agora a gênese do liberalismo . quando ocorre alguma atrocidade. para que melhor o homem pudesse entendê-lo. É por isso que é grande a incidência de princípios liberais em mensagens contextualizadas. Ele falou da xenofobia entre judeus e samaritanos. ONDE ESTA O PERIGO? Como vimos. Os liberais vêem na contextualização uma oportunidade extraordinária de introduzir na consciência evangélica seus princípios mais sutis e igualmente destruidores. Portanto. do mesmo modo que hoje. Quanto a estar apercebido dos acontecimentos de sua época. da questão do tributo. Em Lucas 13. contextualização em si não se constitui erro. sem que muitos percebessem. depois dele. Assim. O segundo ponto é a necessidade óbvia de se fazer uma interpretação correta do texto sagrado. contextualização deixou de ser o trazer um princípio bíblico para o nosso contexto. INTERPRETAÇÃO CORRETA Existem pelos menos três pontos que não podem ser ignorados se queremos fazer uma contextualização sadia. Sob a capa da contextualização. . nada mais significativo do que revermos o que é uma contextualização sadia. para se tornar a compreensão da Bíblia pela filosofia. Em outras palavras. uma aplicação da Bíblia ao nosso dia-a-dia.A SEDUÇÃO D NOVAS TEOLOGIAS AS teológico. como ensinou o teólogo suíço Emil Brunner e. mais recentemente. como apregoaram os teólogos Rudolf Bultmann e Paul Van Buren. os emergentes. Ora. A INFLUÊNCIA DO LIBERALISMO NA CONTEXTUALIZAÇÃO Devido à expansão da idéia de contextualização. ser um cristão moderno ou pós-moderno. conceitos liberais foram introduzidos nas prédicas. às novas realidades. o norte-americano Harvey Cox e. inclusive entre homens bem-intencionados. é respeitar as Sagradas Escrituras. sim. Devemos. Infelizmente. têm encontrado guarida usando o pretexto da contextualização. mudemos nossa Teologia”. porém igualmente perniciosas. que são imutáveis. temos que adaptar a Bíblia à nossa realidade ou nos adaptarmos à Bí­ blia? Além do mais. significa necessariamente mudar a nossa compreensão das Escrituras? Devido a esse caos teológico. muitas doutrinas liberais mais sutis. O primeiro é que nunca as mutações do mundo devem mudar nossa percep­ ção dos princípios bíblicos. como queiram. o liberalismo teológico encontrou um meio eficiente de infiltrar seu pensamento no meio evangélico. analisar as novas tendências à luz da Bíblia e aplicar os princípios bíblicos. a regra passou a ser “Se o mundo muda. suas ondas e qual a sua influência na contextualização da Palavra de Deus para os nossos dias. ou uma reformulação da Teologia Bíblica a partir das tendências seculares. Isso é respeitar as intenções dos autores da Bíblia. foi escrita por homens que. tenho que observar pelo menos duas coisas: a) Em prim eiro lugar. pode desembocar em heresia. bem como fatos correlatos a ela. devem ser observados quando a analisarmos. no original. saberes e folclores coetâneos de uma passagem em apreço. um livro ou toda a Bíblia) é pretexto.C apítulo 4 Para compreender perfeitamente o sentido de uma passagem bíblica. mas. Essa palavra. apelam se apoiando no significado da raiz de uma palavra do texto em sua língua original (grego ou hebraico). mas sem distorcer a mensagem divina. portanto.. * Do gênero literário. Em outras palavras. Determinada palavra pode possuir grande variedade de significados. num contexto específico. ignoram as traduções. que determina o significado!. b) Em segundo lugar. E. porque algumas afirmações e palavras podem ganhar outro tom e sentido conforme a variação do gênero. as intenções do texto. porém. A falácia da raiz ocorre “quando a etimologia de uma palavra (significado de sua raiz) é aplicada a esta todas as vezes que aquela aparece. naturalmente. e não a derivação. tradições. que também determina o motivo. impressionados com a saída. * Do contexto histórico-social. Ou. para da­ rem a uma passagem bíblica um sentido que lhes seja conveniente. porque a Palavra de Deus. Por isso. somente um deles será válido” ('Teologia Sistemática: uma perspectiva pentecostal. a etimologia é aplicada a alguns casos escolhidos em que a palavra surge a fim de apoiar o ponto de vista do intérprete. Esses pregadores são caracterizados pela seguinte saída clássica: “O tradutor não foi preciso. mas não é o fator que determina definitiva­ mente o significado do vocábulo.. texto sem olhar o contexto (que pode ser um capítulo. ritos. isto é. imprimiram na escrita sua cultura. conquanto inspirada pelo Espírito Santo. devo sempre analisar uma passagem bíblica a partir de seu contexto histórico-social. costumes. é da máxima importância.. Simplesmente. o uso. de seu gênero literário e da doutrina bíblica. . o contexto. porque texto analisado isoladamente. Muitos. CPAD.”. a visão de mundo de suas épocas. atrope­ lam o fato de que a raiz do vocábulo pode eventualmente ampliar nosso entendimento do significado. p. significa. conforme às vezes se observa. muitos pregadores mal intencionados. sem o auxílio de outras passagens que discorrem sobre o mesmo assunto.58). devo evitar cair na famosa “alácia da raiz” e no f engodo de determ inar o significado do vocábulo desprezando o uso claro que se faz dele naquele contexto. Trocando em miúdos. * Da doutrina bíblica.. modas. aceitam passivamente a afirmação do espertalhão. No processo de decodificação. Depois. Decodificar o texto sagrado é traduzir termos e expressar significados de uma forma que a porção bíblica fique absolutamente inteligível para o povo. deve ser tanto o histórico como o social. mas essa não é a questão. mas decodificação. Essa atitude nos levará a torcer as Escrituras. não está em questão a possibilidade de o que está sendo passado ser ou não aceito pelo povo. permanece. literário e bíblico. É o sentido que preocupa. devido à forma como era empregada. e não a raiz da qual deriva. E o que vai definir de que forma a palavra está sendo empregada é seu contexto. Tem gente que comete o mesmo erro ao tentar interpretar exegeticamente. Rudolf Flesch. O sentido da mensagem não pode ser afetado de forma alguma. Há o cuidado de não corromper o texto sagrado. os povos de língua inglesa traduziram essa palavra como “sala da vida” e a acharam engraçada. é o que estabelece seu sig­ nificado. Isso dá em heresia. como já falamos. Quando procuramos adaptar o que a Bíblia diz aos nossos gostos. padrões pessoais e cultura. APLICAÇÃO CORRETA O terceiro ponto para uma contextualização sadia é uma aplicação coerente da mensagem bíblica à nossa realidade. O que importa é se. textos das Escrituras. O que se quer é passar o que a Palavra de Deus diz da forma mais compreensível. seja o conteúdo bem recebido ou não. é diferente. em A arte de escrever. Inicialmente. o significado original do texto. Mas. Contextualização da Palavra não significa adaptação. O contexto. mas sem crivo. Os princípios da Palavra de Deus não podem ser adaptados à nossa realidade. na tradução. a essência do texto. seu real significado era “espaço vital” e que estava longe de ser engraçada. como ter certeza de que estou aplicando corretamente um determinado princípio bíblico ao nosso contexto? a) Em prim eiro lugar. isto é. Quando decodificamos a Bíblia à nossa realidade. descobriram que.A SEDUÇÃO D S NOVAS TEOLOGIAS A É bem verdade que existem traduções das Escrituras melhores do que outras. temos todas as possibilidades do mundo de corromper a doutrina bíblica. conta um fato cômico sobre uma das expressões favoritas de Hitler: lebensraum. O uso da palavra. Porque . não confundindo decodificação da mensagem bíblica com adaptação. eles devem ser apenas decodificados. E o que encontrarmos deve ser aceito completa e fer­ vorosamente. por exemplo. não é julgada. as Escrituras são a nossa única regra de fé e prática.O QUE É UMA CONl'EXTUALIZAÇÃO C apítulo 4 a Bíblia. Ele deve ouvir as impressões à sua volta. Afinal. Se. nunca iremos corromper a Bíblia ao tentar interpretá-la para os nossos dias. Observando essas regras básicas. os nossos ouvintes não sabem o que é expiação. o cristão deve fazer aquele fato passar pelo crivo da Palavra de Deus para extrair assim o seu posicionamento e não aceitar passivamente o que dizem as “mentes privilegiadas” da sociedade. diferentemente do que ensina a teologia moderna. nunca se deve irà Bíblia -para procurar textos que pos­ sam servir de embasamento para idéias próprias sobre determinado assunto. Ela julga. ir à Bíblia para saber o que ela diz sobre o assunto em questão. Se o ouvinte da Palavra de Deus não consegue perceber a relevância de determinado fato ou ensino das Escrituras para a sua vida. Se surge alguma coisa absolutamente inédita no mundo. e a importância deles para seus ouvintes. Devemos. Contextualizar é preciso. mas sua posição deve resultar da passagem de todas essas impressões da comunidade à sua volta pelo filtro da Palavra. mas igualmente necessário é o cuidado que se deve ter em relação ao processo de contextualização. Não que o crente seja alienado. muito pelo contrário. morte vicária. nem iremos cair nas armadilhas bem elaboradas pelos diletantes da teologia liberal. histórico e social do acontecimento ou ensino em foco e ilustrá-lo com elementos parecidos que habitem o contexto do ouvinte. deve o transmissor apresentar o contexto bíblico. b) Em segundo lugar. etc. SAUDÁVEL ? . circuncisão do coração. algo conside­ rado antes imprevisível. o pregador deve explicar o que significa todos esses termos e nomenclaturas próprias da Bíblia. batismo no Corpo de Cristo. mas ela escutou o bicho emitindo o seu som natural e respondeu: “Eu provavelmente teria me impressionado. se antes não tivesse escutado o seu zurro”. Contava Esopo que. Trata-se da história do asno vestido de pele de leão. Fantasiado. Moral da história: qualquer um pode se esconder com belas roupagens. certa vez. o asno fantasiado quis impressionar a raposa. Se seu posicionamento difere de sua apresentação H .C a p ít u l o Ortodoxia Generosa: novo nome para Heterodoxia á um conto simples e célebre de Esopo que. de certa forma. mas suas palavras dirão a todos quem na verdade é. aplica-se à dita “ortodoxia generosa”. mas o que vai provar se é mesmo ou não o que diz são os seus reais posicionamentos diante de determinadas questões. certo dia. tão incensada pelos emer­ gentes. pois pensavam que estavam diante de um leão e não de um asno. um asno encontrou uma pele de leão e vestiu-se com ela. passeou pela floresta e todos que o viam passa­ ram a respeitá-lo. Ou aplicando ao que nos interessa: alguém pode se apresentar como ortodoxo. Até que. os emergentes não percebem que. que normalmente chamam de “ortodoxia rígida”. mas também em escolas de pensamento. 2000). além de estarmos sendo fiéis aos personagens do conto de Esopo. o fato de terem relativizado os outros pontos doutrinários fundamentais aca­ bou afetando até mesmo os pontos que lhes restaram. adaptada à pósmodernidade. divididos como estamos não apenas em denominações. É heterodoxia posando de ortodoxia. e o teó­ logo Stanley Grenz. No caso de nossos dias. Baker Books.A SEDUÇÃO D NOVAS TEOLOGIAS AS como ortodoxo. mas. As duas obras dão a Frei a paternidade do termo e citam a definição deste à expressão: “Minha visão pessoal daquilo que poderia ser propício aos nossos dias. em seu livro Uma ortodoxia generosa. em seu livro Reneiving the center (Renovando o centro.. a “reformulações eternas”. Além disso. mesmo sustentando esses dois pontos (e o segundo bem timidamente). que se auto-denominava teólogo pós-liberal. sendo sempre adaptada à realidade hodierna. fruto de sua tendência ecumênica. APLICANDO MÁ FILOSOFIA À TEOLOGIA Segundo Brian Mclaren. relativizam a Bíblia e reivindicam que a teologia cristã precisa ser flexível e submetida a constantes reexames. os únicos pontos sólidos em seu pensamento é a existência de Deus e a Salvação por meio de Jesus. é que precisamos de um tipo de ortodoxia ge­ nerosa que contenha um elemento do liberalismo (.. mas. Praticamente. e neste último ponto ainda há muita contradição. A “ortodoxia generosa” nada mais é do que uma falsa ortodoxia (por isso coloco-a entre aspas). o criador do termo “ortodoxia generosa” é o teólogo batista Hans Wilhelm Frei. Os emergentes dizem que são bíblicos.) e um elemento de . a moral do conto se aplica muito bem ao caso). Afetaram a definição bíblica de Deus e o próprio conceito bíblico de Salvação. as igrejas emergentes não têm uma postura doutrinária definida ou uma exposição doutrinária definitiva. E apenas uma terminologia eufêmica usada para camuflar o fato de que seus propo­ nentes rejeitam mesmo a ortodoxia bíblica. contraditoriamente. Justamente por isso. é um asno posando de leão (sei que a figura do asno pode soar agressiva ao ser relacionada aos emergentes. A tendência ao ecumenismo religioso provoca isso e é ela que está por trás da proposta denominada “ortodoxia generosa”. até em relação às doutrinas bíblicas fundamentais. basicamente... Mas. E para sustentar sua posição. A Teoria Deflacionária (também conhecida como Teoria da Redun­ dância e Teoria Minimalista. Diz Mclaren: “Esta ortodoxia generosa não significa uma simples fusão. nos Estados Unidos. Mclaren e Grenz resolvem ir mais além.ORTODOXIA GENEROSA: NO VO NOME PA RA HETERODOXIA C apítulo 5 evangelicalismo”. vejamos no que consistem cada uma dessas teorias. que na verdade são subdivisões dessa teoria) . Isso quer dizer que o liberalismo e o evangeli­ calismo são apenas alguns dos componentes. por que eu disse “basicamente”? Porque. Grenz acrescenta que essa certeza de ambos “é produzida por pressuposições modernistas” e que a ortodoxia generosa deve “levar a sério a problemática pós-moderna”. “a ortodoxia generosa (. São elas aTeoria Pragmatista.) não se leva muito a sério. professor de Filosofia no Seminário de Denver. usando métodos filosóficos. aTeoria Coerentista e a Teoria Correspondentista. 172 e 253). não reivindica muita coisa. bitoladas. a fórmula é liberalismo teológico + evangelicalismo = ortodoxia generosa. Ela discorda de ambas com respeito à visão de certeza e de conhecimento que li­ berais e evangélicos sustentam em comum”. Como assim? Que teoria é essa? Ora. “como uma grande bagunça” (pp. Sinteticamente. dessa coisa doutrinariamente cinzenta e nebulosa que é a “ortodoxia generosa”. que faleceu em 1988. aTeoria Deflacionária. Mclaren assevera que diferentemente de quaisquer outras ortodoxias (que chama de “tensas. aproveitando a “deixa” de Hans Frei. Ele defende um diálo­ go inter-religioso (ecumenismo) com base na tese de que a Teologia (ou as doutrinas bíblicas) deve se acomodar às tendências de nossa época. que a defende de outra forma. sem exceção. que ambos têm seu conteúdo parcialmente recepcionado e que os princípios da pós-modernidade não são apenas a inspiração para essa “ortodoxia”. ele aplica a chamada Teoria da Correspondência da Verdade à relação entre a Bíblia e a pós-modernidade. controladoras ou críticas”). Outro proponente dessa falsa ortodoxia é o pastor Douglas Groothuis. combinação ou reconciliação de duas escolas de pensamento. por isso sugere que “o caminho adiante para os evangélicos é o de liderar a renovação do centro’ teológico que possa fazer face aos desafios da situação pós-moderna na qual a igreja de encontra”. Ou seja. mas indispensáveis para formação desse “centro”. ela é humilde. a Filosofia apresenta quatro correntes para a interpretação da verda­ de. mistura. admite que anda coxeando”. E acrescenta que a “ortodoxia generosa” vê todas as correntes do cristianismo. é enganosa. além de fictícia. Ela é usada para descrever uma narrativa que. mas em fatos. a legitimidade de uma verdade está vinculada necessariamente à utilidade dessa verdade. Essa teoria se opõe às outras três teorias sobre a verdade. Muitos adeptos da “ortodoxia generosa” acusam os cristãos verdadeiramente ortodoxos de adotarem um conceito minimalista em relação à ortodoxia. Se não. As fábulas. . A Teoria Pragmatista afirma que aquele que diz falar a verdade só está sendo verdadeiro quando a sua verdade é de alguma forma útil. no decorrer do tempo. a Bíblia. portanto. A verdade residiria. A verdade é e pronto. Ele é baseado no testemunho ocular de vários homens. é aquela que afirma que alguém só está sendo verdadeiro em sua afirmação quando a verdade que propõe sobre determinado assunto é coerente com o que afirma o conjunto dos demais proponentes da verdade sobre esse mesmo assunto. diferentemente de muitas obras religiosas do mundo. então não há verdade. A Arqueologia tem corroborado dia após dia a veracidade da narrativa bíblica. a Palavra de Deus condena a mentira e a supersticiosidade. vejamos. crendices e os falsos ensinos são combatidos nas Sagradas Escrituras (2 Tm 4. Finalmente.1-4). assevera que algo só é verdade quando há correspondência com o fato. não em mitos. em relação aos demais proponentes. em si. não é baseada em lendas e superstições.16). Ou seja. acrescentam os pragmatistas.é aquela que afirma que a verdade não é uma propriedade que está à espera de ser descoberta. mas nós mesmos vimos a sua majestade” (2 Pe 1. E essa utilidade. Em primeiro lugar. ou seja. mostrando que tanto o Antigo quanto o Novo Testamentos não são depositários de mitos. sendo geralmente elaborada por um mestre falso com o objetivo de iludir. por sua vez. A expressão grega traduzida por fábula nesse texto de 2 Timóteo e em 1 Pedro é mythos. ela não se contrapõe à definição de verdade para os biblicamente ortodoxos. no mínimo de consenso sobre o assunto. Se há contradição no que é dito em relação ao que diz o conjunto. mas a longo prazo. como enfatiza o apóstolo Pedro: “Porque não nos fizemos saber a virtude e a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo seguindo fábulas artificialmente compostas. Muitos proponentes dessa teoria evocam Aristóteles em sua obra Metafísica como sendo o pai dessa teoria. Além disso. A Teoria Correspondentista. a Teoria Correspondentista ou Teoria da Correspondência da Verdade. A Teoria Coerentista. O evangelho está enraizado em fatos históricos. não é problemática para a ortodoxia. ou seja. deve ser verificada não a curto prazo. a mais popular de todas. Conseqüentemente. fato. não é o que a teoria pretendeu dizer quando se referia a fato. Por tudo isso. chamando tais crenças sem fundamento de “fábulas profanas e de velhas” (1 Tm 4. mais especificamente.C apítulo 5 Em 1 Timóteo 1. por serem simplesmente invenções humanas. que são apresentadas claramente no texto sagrado. mas realidades momentâneas.7). de fato. crenças e superstições criadas pelos primeiros mestres gnósticos. fatos não são isso. . a Teoria da Correspondência da Verdade não se contrapõe à ortodoxia bíblica. a referência é às histórias fabulosas. mas algo totalmente relativizável. Paulo exorta seu filho na fé para que “não se dê a fábulas”. Elas aparecem descritas pelo mesmo apóstolo em Tito 1. Muito pelo contrário: ela se baseia em fatos.14 como “fábulas judaicas”. Os emergentes aplicam a Teoria Correspondentista não com o que a própria teoria entende como sendo fato. uma “verdade” e não a verdade. com o entendimento passageiro de cada época em relação ao que seja. Já no caso do texto de 2 Pedro 1. Eles confundem evidência (que é algo imutável) com compreensão momentânea sobre a realidade. Fatos são evidências. a fé cristã não é uma fé irracional. o que só evidencia mais ainda a veracidade das Sagradas Escrituras. o problema não está na teoria. devem ser levadas a sério. a minha concepção d cfa to que uso na teoria para contrapor o que é defendido como verdade (e assim provar se essa verdade é verdade mesmo ou não) afetará o resultado da minha aplicação da teoria. O apóstolo estava querendo dizer a Timóteo que. quando aceitas. não será uma verdade absoluta. Ou seja. as promessas bíblicas. Paulo ainda chega a iro­ nizar a superstição judaica. só servindo mesmo para entreter as conversas de velhinhas caducas. neste caso uma referência às lendas construídas em volta das narrativas do Antigo Testamento. Além disso. Porém. que para difundi-las se utilizaram da divulgação de evangelhos apócrifos por eles mesmos escritos.16. Em segundo lugar. as doutrinas bíblicas. eram ímpias. na verdade.4. Então. onde ele está? Na forma como os emergentes aplicam a teoria. criações que se tornaram populares para enganar o povo. ou seja. por não terem base bíblica. O equívoco ocorre. têm seu cumprimento comprovado na vida das pessoas. Se uso como fa to algo que. na hora de identificar o que é fato. Não é uma fé que abole a razão. Ora. por a Bíblia apresentar fatos (que são questionados apenas por aqueles que preferem não aceitar as inúmeras evidências que comprovam a veracidade do relato bíblico) e não ser um aglomerado de contos e metáforas. para os emergentes. o resultado da minha aplicação da teoria não será a verdade de fato (que é o que se procura). Groothuis encerra seu raciocínio afirmando que a ortodoxia bíblica não deve ser rígida. viria pelo Messias (Cristo) e o Novo Testamento reafirma . interpretam as mutações sociais de cada época como sendo os fàtos a partir dos quais a verdade deve ser confrontada ou abalizada. condescendente com as demandas de cada época da História. 2000). o que acontece com Groothuis e os emergentes.A SEDUÇÃO D NOVAS TEOLOGIAS AS Ou seja. se sustenta pelos fatos. se não. é que. Em sua obra Truth Decay (InterVarsity Press. “porque os fatos mudaram”. quando fato é aquilo que não muda apesar das mutações de cada época (os pós-modernos acham que não. há também o fato de que. EUA. é imutável. porque estamos vivendo o período neotestamentário. uma vez que fato e verdade são conceitos relativizáveis para eles). devido à forma errada como a Teoria da Correspondência é por ele aplicada. A Bíblia deveria ser interpretada conforme a nossa realidade atual. independente da mudança das épocas. mas implícita e consistentemente avan­ ça a correspondência dessa visão da verdade em ambos os testamentos”. para os adeptos da “ortodoxia generosa”. As mudanças conjunturais e culturais do Antigo para o Novo Testamento não mudaram. Groothuis argumenta. diferentemente cio que ensina. inflexível. generosa. mas flexível. porque. A verdade. engessada. na Bíblia. A Salvação. por exemplo. A DOUTRINA BÍBLICA NÃO É MUTÁVEL Além de o argumento de Groothuis já nascer viciado. E ainda assevera: a nossa compreensão da verdade bíblica deve estar sempre atrelada “aos fatos de nossa época” (às mudanças sociais que ocorreram). pela Teoria Correspondentista. que é a realidade pósmodema. que continua sempre sendo verdade. Groothuis conclui dizendo que a verdade bíblica deveria ser definida hoje a partir da nova realidade que estamos vivendo. Assim. de forma geral. ele declara: “ Bíblia A não fala de uma visão técnica da verdade. as verdades bíblicas mudaram de significado de uma aliança para a outra. que atravessa os séculos. Assim. a verdade está presa aos fatos. Por tudo isso. Então. por exemplo. afirma o Antigo Testamento. a verdade bíblica deve acompanhar “a mudança dos fatos”. que porque houve mudanças de realidade entre o Antigo Testamento e o Novo Testamento. a mensagem que pregamos não terá relevância. e isso significa dizer que continua sendo verdade hoje. a Palavra de Deus apresenta a verdade como algo claro e inamovível. O que era verdade no Antigo Testamento continua sendo verdade no Novo Testamento. a Doutrina da Salvação. prosseguindo seu pensamento. tentando aplicar a Teoria da Correspondência da Verdade à Bíblia. 125. Jesus explica esse assunto em Mateus 19. Porém.17. Outro detalhe: a lei moral de Deus. cerimonial e regimentar da Lei do Antigo Testamento não foram abolidas por terem sido consideradas de repente inválidas (como se as pessoas tivessem. mas ressalvada (Dt 17. e apresenta seu matrimônio monogâmico como a clara expressão do ideal divi­ no. Gênesis 2.8 e na passagem correlata de Marcos 10.1. Os 6.15.21-24 descreve a criação de Adão e Eva.56. mas ambos não estavam nem estão no projeto de Deus.1-10). Mas alguém pode perguntar: “E questões como a poligamia e a liberalidade em relação ao divórcio no Antigo Testamento? Mesmo sendo casos únicos. . mas um homem casado com uma mulher em uma união indissolúvel. a lei moral sobre essas questões sempre foi a mesma desde quando Adão e Eva foram formados. como já vimos no segundo capítulo deste livro. Ele acrescenta que. de repente. Na verdade.5-9.17). não mudou no Novo Testamento (é só rever o tópico do segundo capítulo onde discutimos o pressuposto do antinomianismo defendido pelos emergentes). Esses aspectos da Lei não foram abolidos porque os novos tempos pediam algo diferente. “por causa da dureza do coração” dos homens. o primeiro casal. O próprio Antigo Testamento declara que os crentes daquela época não eram salvos pela Lei.C apítulo 5 isso. Mq 6. mas pela graça (SI 51.16. Hb 9. nessas passagens. Ou seja. que o projeto original de Deus não era a poligamia nem o divórcio. já que houve neles mudança normativa do Antigo para o Novo Testamento?” Evidente que não.6-8). e o Novo Testamento deixa claro que essas duas concessões excepcionais no Antigo Testamento (poligamia e certa liberalidade quanto ao divórcio) não existem mais (o divórcio só é permitido em situações bem específicas.6. Rm 4. apresentando o Messias que já veio. Cristo diz. houve um pouco de tolerância divina em relação ao divórcio e à poligamia no Antigo Testamento. As partes litúrgica. os tempos são outros e precisamos de coisas novas”).1-18). Basta lembrar que a permissão à poligamia na Antiga Aliança não era escancarada. A Bíblia diz que aqueles que morreram durante a Lei e foram salvos o foram por causa de Cristo (Jo 8. ensinadas por Jesus e Paulo —M t 19 e 1 Co 7). evocando a criação do primeiro homem e da primeira mulher em Gênesis. 10. mas sua colocação se aplica naturalmente à questão da poligamia também. não demonstrariam a mutabilidade da lei moral. pois tais sacrifícios só apontavam para o verdadeiro sacrifício que os fazia salvos —o sacrifício de Cristo (Hb 10. que era apontar para Cristo. um insight e concluído: “Sabe de uma coisa? Acho que isso nunca foi importante. mas porque j á haviam cumprido a sua fu n çã o . Ele está falando es­ pecificamente do divórcio. Além disso. Aproximam-se com condescendência das opiniões teológicas de outras religiões e abraçam pensamentos falsamente cristãos. exceções passageiras. de “mar­ ginais” (textos rechaçados de teólogos contrários à ortodoxia bíblica) e citam. inclusive. independente da época em que vivemos. 1 Co 7. é algo a ser retido e com o qual devemos estar alinhados sempre (Tt 1. o que deixa claro que a verdade pode ser objetivamente conhecida. a lei moral era exatamente a mesma desde o Éden e continuou a ser como era no Novo Testamento. “SALADA” TEOLÓGICA ESCONDIDA POR TRÁS DE UM DISCURSO ORTODOXO FALSO Por terem essa postura doutrinária flexível. A licenciosidade doutrinária (verdadeiro nome para descrever essa tal de “ortodoxia generosa”) alimenta isso. por modismos passageiros. os emergentes são abertos a conceitos teológicos de outros seguimentos religiosos e recepcionam prazerosamente conceitos da Teologia Liberal. Diz ela ainda que falsas doutrinas são fruto de ignorância (1 Tm 6. idéias que são rejeitadas pelo cristianismo conservador justamente por não terem respaldo na Bíblia. A ressurreição dos velhos Teísmo Aberto e Te­ . O Novo Testamento não é dúbio sobre o assunto. como já afirmamos. Amam os textos denominados por eles mesmos. passageiro. é comum o ecumenismo teológico entre os cristãos emergentes. Ele assevera clara e normativamente a monogamia (Mc 10.2).6-9. ou seja. A doutrina bíblica não é mutável. de tolerância da lei moral em relação a esses dois pontos. não existem mais. Além disso. exceção é exceção.A SEDUÇÃO D NOVAS TEOLOGIAS AS Não houve uma evolução da lei moral do Antigo para o Novo Testamento. extremamente “generosa”. romanticamente. ainda mais quando essas exceções. a Bíblia fala para não sermos levados por “ventos de doutrina” (Ef 4.14). sendo que desta vez sem aquela tolerância.9 e 2. Regra é regra. Ignorar isso para defender uma flexibilização da lei moral é transformar regra em exceção e exceção em regra. Na época em que havia essa tolerância. muitos dos teólogos liberais e até mesmo ateus como sua fonte de inspiração e reflexão teológica.3-4). Geralmente. como os pressupostos defendidos por Groothuis. é um depósito a ser guardado (1 Tm 6.1).20 e 2Tm 1. Não se constrói regras em cima de exceções. mas um período transitório. 1 Tm 3. Tanto não é que a Bíblia diz que a ver­ dade deve ser defendida (Judas 3). Essas concessões temporárias.2. não estavam no projeto original de Deus.14). projeto este que permanece o mesmo. o que Mclaren está dizendo é: “Não tenha medo de aceitar uma . Em seu Uma ortodoxia generosa —a Igreja em tempos depós-m odernidade (2007. Elas têm uma vaga percepção de que esse ‘conhecimento de coração’ [conheci­ mento apoiado no feelin g pessoal. na verdade. e se perguntam se não estão fazendo papel de bobo. No entanto. ela não crê nem parcialmente no que cremos. São pessoas que ‘conhecem’ a história de Cristo [as aspas usadas por ele denotam que supostamente só Mclaren e os emergentes é que conhecem ou interpretam corretamente a história de Cristo] e têm profundo desejo de deixar este conhecimento descer de suas mentes para os seus corações. Em artigo publicado na revista Christianity Today de fevereiro de 2007. é um asno posando de leão. Por exemplo: se um crente emergente defende os pressupostos do Teísmo Aberto. porém. Ou seja. na verdade. tornar todas as coisas novas para elas. é um expert em fazer afirmações contraditórias.C apítulo 5 ologia da Libertação entre alguns círculos de cristãos emergentes é só um dos mais evidentes exemplos disso. no “Siga seu coração”] pode não apenas lhes dar um senso de quem são. no sentimento. Editora Palavra). ele afirma introdutoriamente: “Antes de mais nada. mas não como vocês”. que escreveu uma famosa obra sobre “ortodoxia genero­ sa”. eu escrevi este livro para homens e mulheres que experimentam um persistente impulso para entrarem mais profundamente na vida espiritual. terminologia usada para camuflar o fato de que. Espero que este pequeno livro ofereça a tais pessoas algum encorajamento e direção”. É a história do “Eu acredito nisso. não acreditar na onisciência divina. essas mesmas pessoas freqüentemente sentem certa hesitação e medo de entrar nesse novo caminho incerto. ele afirma que não crê em uma “onisciência exaustiva ou estática”. Ela não crê em nada do que cremos em relação àquele ponto defendido. acabam caindo nessa falácia. ele não acredita que Deus realmente sabe de tudo. Evocando a fábula de esopo. descobrimos que. o teólogo Scot McKnight ressalta que “a confissão de fé dos cristãos emergentes sempre é em linhas gerais — significa que eles dizem coisas publicamente isso que eles não acreditam realmente”. de fato. Brian Mclaren. na verdade. mas em uma “onisciência em movimen­ to”. mas estão confusos sobre qual direção seguir. Crentes mais desatentos. Sua ortodoxia é tão “generosa” que já deixou de ser ortodoxia há muito tempo. Só usa de eufemismos para esconder ou suavizar a verdade sobre seu pensamento. O que Scot quis dizer é que é possível um cristão emergente dizer que crê na onisciência de Deus e. e quando a pessoa começa a tentar descrever sua posição. mas. evangélico. você tem necessariamente que deixar de ser a outra coisa.4. Quem sabe.15. farsa. Tais ligações não serão possíveis nem se você relativizar as verdades absolutas da Palavra de Deus. bíblico. anabatista /anglicano. . engano. assim. quando abordamos a compreensão errada de amor que têm os emergentes. pois a partir do momento que as verdades bíblicas forem relativizadas. Tt 1.3. Sempre há uma certa “adrenalina” nas heresias. Não tenha medo de abraçar isso só por causa do que você aprendeu sobre a Bíblia. É assim que Mclaren se apresenta em seu livro. Deixe eu te ensinar uma forma de ‘justificar’ ou ‘explicar’ suas crenças heterodoxas de tal forma que alguns vão pensar que você não é tão heterodoxo assim. Siga o seu coração”. liberal /conservador. devemos ser generosos com as pessoas e não com as heresias (2 Tm 2. verde. mas que vai te trazer experiências novas. esse é o espírito que paira em cada capítulo e que em alguns momentos é evidenciado despudoradamente em declarações absurdas. Mclaren afirma que sonha com o dia em que a ortodo­ xia volte a andar de mãos dadas com a generosidade. se sentirão mutuamente respaldados e menos culpados”. encarnacional. 4. pós-protestante. Mclaren está como que a dizer: “Não tenha receio de adotar uma postura heterodoxa só porque provam na Bíblia que sua posição é heresia mesmo. Os 4. metodista.11-14). carismático / contemplativo. Ora. fundamentalista /calvinista. Alguém que é bíblico não pode ser concomitantemente um liberal teologicamente. para ser uma coisa. Mesmo que Mclaren tente não afirmar as coisas dessa forma durante parte do seu livro. depressivo-mas-esperançoso. um glam our no novo. como se a verdadeira ortodoxia levasse o crente a não ser amoroso! Já falamos da falácia desse pensamento no capítulo dois. depois vem mais gente após você. e aí você não vai se sentir tão sozinho com suas novas crenças e. se não ninguém seria atraído por elas. desonestidade. Na mesma obra. a pessoa que as relativizou já não é mais evangélica nem conservadora. Nesse caso.teologia que soa antibíblica. católico. O amor e a verdade andam de mãos dadas. Não tenha medo do que diz sua razão.). emergente e nãoacabado”. Outro ponto: é absolutamente contraditório uma pessoa se apresentar como ortodoxa e. um charme em ter idéias diferentes por mais falsas que sejam.16-18. Além de ig­ norar o ensino bíblico claro. esquece que “enganoso é o coração” (Jr 17. místico /poético. ao mesmo tempo. por serem coisas absolutamente opostas. diz a Bíblia (Ef 4.1). como um “cristão missional. Alguém que é evangélico não pode ser ao mesmo tempo católico. Ou será uma coisa ou outra. Dizer que é trata-se de insídia. alguém que é evangélico e conservador não pode ser liberal ou pós-protestante ao mesmo tempo. Porém. Além do mais. mas nos diz também que devemos resistir o erro. Para saber se alguém crê no evangelho ou não. em seguida. Um espírita. Nem mesmo se todas essas posições dizem crer no evangelho pode-se chegar a afirmar tal coisa. Para o neo-ortodoxo. liberal. mas tem seu valor. Um outro exemplo: um liberal. Esse discurso pode parecer muito bonito. ou você crê ou você não crê.. opção sexual. então. comparar a crença dessa pessoa com o que a Bíblia diz sobre o evangelho. se você faz a eles a pergunta “ Bíblia A é a Palavra de Deus?”. ideologia. o que a Bíblia diz de si mesma? Ela afirma que é a Palavra de Deus (2 Tm 3. mas contém a Palavra de Deus. por isso não podem ser apresentadas como sendo o evangelho. diz que crê no evangelho. pós-protestante e fundamentalista. dar muito ibope e ser até emocionante para alguns. ela não é.16. distorções do evangelho. você tem de crer que o ponto central de todas as religiões do mundo não . acredita mesmo é no que o espiritismo diz sobre o evangelho.“O que é o evangelho?” —e. o conservador está certo e o liberal e o neo-ortodoxo não estão. etnia. muito simpático. pois dizer que a Bíblia é aquilo que ela diz que não é trata-se de des­ respeito com a própria Bíblia. misturas de laboratórios pessoais. você terá respostas diferentes.17). Mclaren ainda defende uma visão ecumêni­ ca. Lewis: “Se você é cristão. você não precisa crer que tudo nas demais religiões é simplesmente errado. quem é evangélico pode afirmar que é também e concomitantemente católico. Como se não bastasse isso. Já o conservador assevera que a Bíblia é a Palavra de Deus. deve-se fazer a pergunta seguinte . Logo.C apítulo 5 “Mas não há alguns pontos de convergência entre todas essas posições?" Há. independente de credo. mas não tem nada a ver com a Bíblia. que porque todas essas posições apre­ sentadas dizem crer em Deus e/ou em Cristo. Como disse C. mas. na verdade. Além tio que. A Palavra de Deus nos ensina a respeitar e amar todas as pessoas. Agora. S. quando fala que devemos ser mais condescendentes com as diferenças doutrinárias de outras religiões. mas os pontos de divergências são esmagadora maioria. Para o liberal. seria logro alguém dizer. Assim como dizer que crê em Jesus e afirmar simultaneamente que Ele é algo que Ele nunca disse que era é um desrespeito à pessoa de Cristo. híbridos entre o evangelho e outras filosofias. ela não é. Simplesmente. Porém. nacionalidade. por exemplo. aderindo a uma interpretação-distorção da Bíblia. um neo-ortodoxo e um conservador dizem que crêem na Bíblia. Se você é ateu. não sermos condescendentes com falsas doutrinas. já que há muitos evangelhos por aí que nada mais são do que evangelhos “franksteins”. sim. por exemplo. etc. mas algumas das respostas erradas estão mais próximas da certa do que outras” (Cristianismo puro e simples. finalmente . 1979). mesmo as mais excêntricas. da Bíblia e de Jesus. falaciosas e falsamente espirituais que já li em toda a minha vida. C. infligiram injustiças contra eles) e/ou espantados em seu primeiro contato com informações sobre os absurdos cometidos na História (e ainda hoje) em nome de Deus. você é livre para pensar que todas as demais religiões. e as outras estão erradas. das igrejas e da vida cristã que eles mesmos criaram ou aprenderam. Muitas vezes. S. Esses crentes. Jesus e o cristianismo mais auto-contraditórias. Se você é um cristão. Afirmar o contrário é ímprobo. ele é verdadeiro e as outras religiões são falsas. estereotipadoras. são crentes que se decepcionaram com as caricatu­ ras ingênuas de Deus. corretas.21). não significa dizer que eu sou uma ave. Lewis. uma das obras sobre a Bíblia. A FALACIA DE MCLAREN Uma ortodoxia generosa. entraram em profunda crise. (. Então. Tanto eu quanto a ave somos seres criados. E incrível como tanta gente boa consegue ser levada a embarcar num discurso tão insustentável. Porque uma ave tem olhos e eu também tenho olhos. fraco e falacioso como esse. em vez de amadurecerem. crêem em Deus (algumas delas) e não que todas são uma e a mesma coisa ou que todas são. crêem no sobrenatural. em síntese. o que fizeram para sair dela? Em vez de “examinar tudo e reter o bem” (1 Ts 5. rechaçar o erro e seguir adiante com a verdade do evangelho (que agora poderia ser mais nítida para eles. e ainda surpresos e impactados diante de muitos maus exemplos de representantes do cristianismo organizado (que. Mas. o cristão tem de admitir que. mas a ave é ave e eu sou um ser humano... nos pontos em que o cristianismo diverge de outras religiões. finalmente desiludidos com suas miragens sobre Deus e a vida cristã. contêm ao menos alguma alusão à verdade. Seria um silogismo estratosfericamente absurdo. Os pouquíssimos pontos de similaridade entre o cristianismo e as outras religiões apenas nos mostram que tanto o cristianismo quanto as outras crenças são religiões.A SEDUÇÃO D NOVAS TEOLOGIAS AS passa de um enorme engano. ABU. às vezes. de Brian Mclaren é. É como em aritmética: há somente uma resposta certa para uma soma. por que tantas pessoas caíram nessa? Há um bom número de cristãos que se encontram frustrados em sua vida espiritual. de alguma forma.) Contudo. E isso não tem a ver com o fato de alguém ser calvinista ou arminiano. sem perceber. expostos e sôfregos. atro­ cidades em nome do evangelho.C apitulo 5 desiludidos com caricaturas). nem atentaram para isso. é um crente que radicalizou. Diante dos erros dentro do cristianismo organizado (que não é um mal em si mesmo. pois o mal não está em se ter um cristianismo organizado). beberam avida­ mente das cisternas de águas aparentemente cristalinas que os emergentes lhes apresentaram. Mas esses crentes. encorajando mais ainda uma aversão generalizadora a tudo que se chama cristianismo organizado. Mclaren. vamos ressaltar ainda mais isso). mas o evangelho não está neles. vulneráveis. Uma proposta que se apóia no hibridismo e na relativizaçao e exalta a incerteza. Muitas dessas pessoas podem até dizer que não se envergonham do evangelho. Fazem. uma proposta que (por mais que seus proponentes digam o contrário) despreza a Bíblia (mais à frente. Seduzidos pelo discurso. afastaram-se do genuíno evangelho. águas poluídas. o cristão não deve reagir estereotipando. Levando seu projeto adiante. escreveu livros que capitalizam em cima da frustração de muitos cristãos e ainda. assim como há doentes espirituais e falsos cristãos que se . relativizando a Bíblia e procurando bodes expiatórios em qualquer cor­ rente teológica protestante (como o calvinismo) ou em todas elas. colocando a culpa nas teologias sistemáticas e organizações cristãs. “depredando” tudo. em vez de se engajarem na luta pelo resgate dos princípios do evangelho. propondo uma solução que se afasta totalmente da Bíblia e simplesmente não se importa com isso (sua forma de interpretar e tratar a Bíblia demonstra isto). Há santos que são 100% calvinistas ou 100% arminianos (gente que não tem nada a ver com os emergentes. abraçaram em seu desespero. B ou C especificamente. tom este que gera simpatia em cristãos feridos. A culpa dos erros no mundo evangélico não é do calvinismo ou da corrente A. que não poucas vezes são acompanhadas de um tom sarcástico (que lembra o judeu ateu Woody Alen ou o ateu raivoso Richard Dawkins). que também se apresenta como frustrado com tudo que se chama “cristão”. às vezes. O problema está nas pessoas em sua relação com o evangelho. faz isso sem se importar com os erros crassos de muitas de suas próprias afirmações. descaradamente. interesses políticos ou caprichos pessoais e egoístas. São pessoas que distorcem o evangelho para atender a seus gostos. não tem nem “cheiro” disso). Pessoas que ou nunca se converteram ou. ingenuamente. Há muitos que estão no evangelho. se um dia se converteram. beberam. Na sua ânsia. diabolizando-as. mas o evangelho se envergonha delas. uma outra “alternativa” que lhes apareceu. pois não estão “em busca da verdade”. mas apenas que cada grupo tem parte da verdade. mas que.18). que os grupos cristãos. em busca da verdade. estão todos no caminho errado.16. em sua manifestação orgulhosamente híbrida. tudo o que precisamos para desenvolvermos nossa caminhada cristã já foi revelado (Dt 29. Os outros. Diante dos erros de pessoas dentro do cristianismo organizado. estão no caminho certo para descobrir ainda a plenitude da verdade! Ora. e assevera que os emergentes (que buscam um hibridismo construído a partir de todas essas partes da verdade) é que estão no caminho certo para descobrir a totalidade da verdade. como já disse noutro capítulo. Não há nada a se acrescentar. 2Tm 3. só os emergentes estariam no caminho certo. Ele deve não se render aos erros nem muito menos fugir deles. porém. que ignoram os emergentes. na verdade. (2) estamos todos.ou melhor dizendo. o cristão deve procurar equilíbrio na Bíblia e buscar um avivamento em sua vida e para a comunidade onde está. afirma. para os emergentes: (1) ninguém sabe o suficiente da verdade. usam essas correntes teológicas. em sua caminhada de “metamorfose am­ bulante”. Mclaren diz. à luz da Bíblia. inclusive pessoas de outras religiões. e (3) só os cristãos emergentes. como se os outros grupos todos tivessem se perdido.17. que os emergentes não afirmam que todos os grupos ignoram tudo da verdade. Ou seja. Nossa busca é para crescermos em .dizem calvinistas ou arminianos.4. ao mesmo tempo. o suficiente dela para vivermos —ainda estivesse para ser descoberta! Ai de nós!). com uma teologia “totalmente diferente”.29. Em outras palavras. Rm 15. em sua obra Urna ortodoxia generosa. o bebê fora junto com a água do banho). Só poderão estar no caminho certo quando passarem a ver as coisas como os emergentes. ele tenta fugir do rótulo de seita herética dizendo que os cristãos emergentes não afirmam que têm a verdade. 2 Pe 3. distorcendo-as para atender à sua visão de mundo que nada tem a ver com o evangelho. com uma espiritualidade hiperbolicamente diferente e com uma visão da Bíblia “diferente de tudo que já existiu antes” (como se apenas o seu grupo estivesse no caminho certo) e empreender “a verdadeira busca da verdade” (como se a verdade . não. imaginando que a melhor opção é criar ou propor uma “igreja diferente”. e não partir para uma fuga da Bíblia (relativizando seu conteúdo doutrinário em prol do feelin g pessoal como base para escolher o que seja espiritual ou não) nem para a aversão a tudo que se chama cristão ou evangélico (jogando. Ou seja. Quem pensa assim. vêem na proposta emergente uma oportunidade maravilhosa para adaptar a Bíblia aos sabores de sua época. UM CELEIRO DE AFIRMAÇÕES ABSURDAS Uma ortodoxia generosa é um celeiro de afirmações absurdas a cada capítulo. discernível apenas por pistas que só podem ser interpretadas pelos pós-modernos. Tudo o que precisamos para desenvolvermos nossa caminhada cristã não está escondido. na morte e na ressurreição de . o evangelho foi distorcido por muitos para atender a determina­ dos interesses políticos e/ou preconceitos e teve algumas de suas verdades ressaltadas em detrimento de outras por alguns grupos. de outro modismo-solução. a pós-modernidade). Isso é o que chamo de hedonismo emergente. Esse último tipo de emergentes é que deverá manter a igreja emergente viva durante um longo tempo. algo que sempre almejaram. É só questão de tempo. O outro grupo é formado por pessoas que. por exemplo. e desenvolvermo-nos espiritualmente. que se julgam mais sensíveis. culpando quem fez os credos pela sua ênfase no nascimento. Mclaren ataca os credos. frustradas com os maus exemplos no meio evangélico e em busca de uma vida espiritual mais profunda. como já ressaltei. As pessoas seduzidas pela mensagem emergente se dividem em dois grupos. que já está clara na Bíblia. O evangelho não é um intricado Ulisses de James Joyce. acreditam que encontraram na salada teológica e na relativização bíblica a dieta necessária para suas almas. No primeiro capítulo. Durante a História. os que embarcaram por frustração. Um. vai ser visitado pela frustração mais à frente de novo. O que os emergentes fazem é justamente o mesmo que acusam em outros cristãos do passado que erraram: adaptam o evangelho a seus gostos pessoais e aos anseios de sua época (no caso. dotados de um melhor feelin g para descobrirem a “mensagem secreta de Jesus”. mas o evangelho sempre foi claro e sempre houve pessoas que o entenderam e encarnaram belamente em todas as épocas. quando seus colegas. é composto de pessoas bem intencionadas que. especialmente os “privilegiados” pela mentalidade pós-moderna. começarem a se frustrar de novo e saírem em busca de outra novidade.C apítulo 5 Deus. oculto. seduzidas pelo espírito do nosso tempo. uma mensagem cheia de códigos que só poucos puderam decifrar. infelizmente. A questão principal deles não é a frustração. Devemos apenas aprender a verdade. Ele não é um criptograma. o livro é cheio de momentos auto-contraditórios que lembram roteiros mal escritos de cinema): “Que conseqüências não-planejadas [ou seja. a exemplo de Todo- . finalmente teriam descoberto depois de séculos de trevas e para o bem de todos os cristãos do mundo (Ou seja: A luz. eles naturalmente só enfatizavam os pontos doutrinários que. talvez houvesse alguma tentativa por parte dos autores dos credos de esconder algo... ele tenta esconder sua suspeita. também pudera a ingenuidade de Mclaren de se deixar im­ pressionar por lixos como O Código da Vinci. tentando sugerir ao leitor que houve na elaboração dos credos uma deliberada intenção de esconder alguma coisa? Além de os credos tratarem apenas de pontos doutrinários fundamentais..Jesus (p. segundo ele. mas acaba revelando-a (aliás. Aliás. 54). Ele parece deslumbrado com teorias da conspiração tipo O Código da Vinci e obcecado para descobrir nas entrelinhas da História algo parecido com aquele conto ficcional. outra hora reclama dos credos por só falarem de alguns pontos. mas expor as doutrinas bíblicas fundamentais? Ou será que ele está sendo desonesto mesmo. ele diz que os credos deveriam falar mais sobre a vida de Jesus entre o nascimento e a morte. 10). O engraçado disso é que uma hora Mclaren reclama das teologias sis­ temáticas por. Mclaren irresponsavelmente força os fatos para tentar fazê-los afirmarem o que quer que eles digam. Na verdade. sim. 2006. sugerindo que.porém aqui sugere que poderiam ter sido. estavam sendo mais atacados. teria chegado —ou ficado mais próxima —com os emergentes!). Eles não tinham por objetivo serem exaustivos. na época em que foram elaborados. Mclaren crê inicialmente que não teriam sido propositais. alguma tentativa deliberada ou não dos cristãos do passado de esconder a verdade de todos. já que ele cita em seu livro filmes como se fossem aulas magnas de Teologia. Será que Mclaren desconhece que o propósito dos credos não é apresentar todos os pontos doutrinários. p.. os fundamentais. aplicados. Numa mesma oração. que agora ele e os emergentes. ao negligenciar isso. propositais] aquilo que se passa entre os dois?” (os itálicos são meus). Em sua teoria da conspiração.] surgem desse foco no princípio e no fim da vida de Jesus e da negligência ou do ato de evita r [. finalmente. citando o filme e o livro O Código da Vinci e dizendo que algum tipo de coisa parecida com aquilo ocorreu mesmo na História. Não é à toa que ele sugere isso mesmo no início de seu livro A mensagem secreta d e Jesus (Thomas Nelson. tentarem abarcar e delimitar tudo. C apítulo 5 poderoso. Quanto às parábolas. Os emergentes pensam que estão empreendendo uma nova Reforma.).18-23. então. como Mclaren sustenta em A mensagem secreta de Jesus. ocorreu uma redescoberta mesmo. com alguns poucos nelas vivendo com migalhas da verdade? E se os culpados foram os homens. NVI. para privilegiar só essa época e as outras se darem mal. com Jim Carrey. então que Palavra de Deus é essa. Nos tempos dos reformadores. Jesus falava com seus discí­ pulos abertamente (Mc 8. no início de seus estudos. porque essa compreensão da verdade. porém. que estão redescobrindo algo que ninguém nunca percebeu perfeitamente como eles agora. como aconteceu nos dias do rei Josias. Ele explicava seu significado a seus discípulos e se interessava em saber se eles haviam entendido-as ou não (Mt 13. Até mesmo os reformadores vibravam quando. que Deus fez isso de propósito. com bilhões de toneladas de Bíblias espalhadas pelo mundo e com inúmeras versões em algumas línguas (Linguagem de Hoje. filme bobo citado como primor de reflexão teológica sobre a importância do livre-arbítrio. “a mensagem escondida”. melhor que a moderna? Logo.10. depois de “descobertas”. segundo os emergentes. relatados na Bíblia.32). é absurdo alguém dizer que finalmente descobriu a “mensagem secreta de Jesus”. depois de 500 anos da Reforma. a Bíblia não era acessível a todos. que só pode ser entendida agora. depois de 2 mil anos? E olhe lá. então. e não Deus. já que nenhum dos reformadores declarou ter “descoberto” qualquer verdade nova.11. como se a Bíblia fosse um criptograma que só pudesse ser decifrado pelas mentes pós-modernas. etc. agora. Ora. se tornam a referência para a interpretação de qualquer outra verdade e também o principal ponto de todo o corpo de ensinamentos da seita. mas apenas procuraram apresentar os ensinamentos das Sagradas Escrituras em sua integridade. o problema está no tipo de visão: moderna ou pós-moderna? Será. Uma das características das seitas é a apresentação de supostas verdades que nunca haviam sido compreendidas até alguém surgir dizendo que as descobriu.51). Essas “verdades”. Entretanto. ainda está “inacabada”! Dizer que Jesus evitava ser claro sobre o que estava falando. Traduções da Bíblia eram queimadas para que ninguém as lesse. está em contraposição a essa característica. conseguiam um exemplar da Bíblia (vide Lutero). . no caso da Reforma. quando reencontraram o Livro da Lei. A Reforma Protestante. Ele chega a recomendar esses filmes como ótimas reflexões teológicas. é um engano. Quer dizer que a visão modernista impedia de as pessoas perceberem a verdade? Quer dizer que a visão pós-moderna permite agora percebê-la? A visão pós-moderna é. e lembrar-se que Jesus afirmou a seus discípulos em Marcos 16 que quem crê será salvo e quem não crê será condenado). Mclaren critica a pregação protestante da cruz. Ora. Porém. . que não entenderam o porquê de Sua morte. João Batista. A cruz é a centralidade da pregação do evangelho e seu significado é a remissão de nossos pecados. porque a Salvação é pessoal (é só ler textos que ressaltam isso. o evangelho teria alguma coisa a dizer sobre a justiça para muitos. na página 74 de Uma ortodoxia generosa. não dizendo nada para o dia-a-dia das pessoas: “ cruz de A Jesus no passado me salvou do inferno no futuro. Mclaren defende a visão da Teologia da Libertação sobre a morte de Jesus. além da história . 57). dizendo que a pregação da cruz não é a mais importante. Em primeiro lugar. E ainda mais importante. os absurdos do “guru” dos emergentes não param por aí. em nenhum ponto. a morte de Jesus nunca teve esse significado pregado pela Teologia da Libertação. como “o Cordeiro de Deus imolado antes da fundação do mundo”. mas é o ponto culminante e alto dele todo e pelo qual somos salvos se crermos individualmente. como Ezequiel 18. Jesus é apresentado na Bíblia. Jesus falou aos seus discípulos sobre a crucificação e sobre o significado dela várias vezes nos evangelhos. em João 1. A morte de Jesus não é um detalhe do Seu minis­ tério. mas foi difícil ser claro acerca do que ela representou paia mim na luta do presente. Em Lucas 24. A Bíblia nunca apresentou a morte de Jesus assim. Ele disse aos discípulos no caminho de Emaús. Isso é uma distorção do sentido. p. visão que defende também em seu livro A mensagem secreta de Jesus. que convinha que a crucificação acontecesse para nossa Salvação. não apenas a justificação do indivíduo? [O evangelho] Teria como objetivo dar esperança às culturas humanas e à ordem criada na história. o mais importante assunto do evangelho.como um pequeno bote salva-vidas dentro do qual apenas algumas poucas almas afortunadas escapam de um enorme naufrágio? E teria a ênfase dos protestantes conservadores na morte de Jesus necessariamente marginalizado sua vida —seus ensinos sábios e suas obras bondosas que haviam cativado minha imaginação na infância?” (Uma ortodoxia generosa. Isaías 53 fala que a centralidade do evangelho está no sacrifício de Cristo e o próprio Jesus valorizou Sua crucificação. Ele diz que a mensagem da cruz pregada pelo protes­ tantismo é insuficiente. apresenta Jesus dizendo: “Eis o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo”.Mas. especialmente em Apocalipse. Ele diz que a morte de Jesus teve um sentido político. ou seria a história uma causa perdida de modo que o evangelho só daria esperança a almas individuais além da morte. a pregação da cruz é o centro. uma incorporação do sacrifício e um mestre divino. justiça . Essa era a loucura da cruz! Como. Gandhi não entendeu nada da mensagem da cruz e a crucificação de Cristo não teve nenhum propósito político. que é escândalo para os judeus e loucura para os gregos” (ICo 1.. Não é à toa que Paulo diz que Jesus foi feito por nós “sabedoria. Deixe-me citar o próprio Gandhi: “Eu poderia aceitar a Jesus como mártir. p. outra coisa é você dizer que o discurso e as intenções de Jesus eram políticos. algo que não compreendiam.4). Como bom hindu que era.23). para Gandhi também. ele chega a dizer que Gandhi entendeu mais o evangelho e a mensagem da cruz do que a maioria dos cristãos na História! Ora. Gandhi também. Assim como para os gregos da época de Paulo a cruz era uma loucura. preferindo interpretar Sua morte como um ato de resistência pacífica. mas que ela contivesse algo parecido como uma virtude misteriosa ou miraculosa..30). ela foi também um ato político de resistência pacífica contra o Império Romano. Uma coisa é você dizer que o ensino de Jesus também pode ter uma aplicação para a política (e não só para a política. Mclaren sustenta que Jesus era um rebelde e revolucionário ( Uma ortodoxia generosa. por que “Cristo crucificado” salva? Qual o significado da morte de Cristo? Paulo explica: “Porque primeiramente vos entreguei o que também recebi: que Cristo morreu p or nossos pecados. 113). Paulo diz que a loucura da cruz é justamente seu significado de remissão de pecados: “. Entretanto.36). apesar de crer que a morte de Cristo teve um significado de remissão. Dois versículos antes. meu coração não poderia aceitar” {Gandhi: An Autobiography. que é o sentido da morte de Cristo. Ambos não entendiam e não aceitavam essa idéia de Jesus ter morrido para remissão de nossos pecados. quando interrogado sobre se tinha interesses políticos. e por crer assim.C apítulo 5 Em A mensagem secreta de Jesus. 94).21). santificação e redenção ’ (1 Co 1. p. Mclaren diz que. então. Jesus negou dizendo: “Meu Reino não é deste mundo” (Jo 18. mas para todas as áreas da vida. E por isso que a mensagem da cruz era loucura para os gregos! Eles interpretavam a morte de Cristo apenas como um martírio. Gandhi entendia .aprouve a Deus salvar os crentes pela loucura da pregação" (1 Co 1. mas não como o homem mais perfeito que jamais existiu. já que os princípios espi­ rituais do Reino de Deus devem nortear toda a nossa vida). Será que esse “salvar” diz respeito mesmo à remissão de pecados? Que pregação é essa que salva? Ora. segundo as Escrituras” (1 Co 15. Escreve Paulo: “Mas nós pregamos a Cristo crucificado. Gandhi rejeitou o significado salvador da cruz (remissão dos pecados). Sua morte na cruz foi um grande exemplo para o mundo. como conseqüência natural do perdão dos nossos pecados? E quem disse que a mensagem centrada na cruz. de todas as histórias sobre Jesus. que é “o poder de Deus para salvação de todo aquele que crê”. e . na pregação da cruz? E a neces­ sidade de levarmos essa mensagem da cruz.mais da cruz e do evangelho do que muitos cristãos? A cruz era loucura para ele também. Há milhares de exemplos de ontem e de hoje na História. no sacrifício de Cristo para remissão de nossos pecados. quando ouviu-as narradas e ilustradas pelas. como um todo. além de ter sido uma ordenança de Jesus? Se a sociedade aceitar a mensagem da cruz e viver a partir dela. Em terceiro lugar. Vemos isso todos os dias (mas Mclaren vê o evangélico de forma geral como tendo o seguinte estereótipo: crente calvinista fatalista. racista. por causa das implicações da cruz. Os próprios Evangelhos dão destaque à morte de Cristo. O nascer de novo nos leva a querer pregar a todos.. e não somente sobre a cruz. professoras protestantes! Sua teoria da conspiração leva-o a não ver que os protestantes sempre pregaram sobre todos os ensinos de Jesus. a não nos preocu­ parmos com a salvação das pessoas e da sociedade. Em segundo lugar. essencialmente. nada mais lógico e bíblico. acima de tudo.. Mclaren diz que os protestantes escondem determinadas histórias de Jesus. nos leva a sermos egoístas. por causa da Salvação em Cristo. a história da cruz. não é uma implicação natural na vida de quem teve seus pecados perdoados. que não se importa com as pessoas nem com a salvação delas). durante a História. quem disse que o sacrifício de Cristo não teve implicações no dia-a-dia do crente? E a santificação? E o fato de a Bíblia dizer que as boas obras foram feitas “para que andássemos nelas”. ou em melhorar as coisas? Uma salvação que não se importe com o próximo não é Salvação. os protestantes. ela. preferindo prender-se na cruz. da Salvação em Cristo individual a todos que crerem. a todos que a receberem? Em quarto lugar. devido à sua centralidade na cruz de Cristo. E o “Ide e pregai”? Ele consiste essencialmente em uma conclamação para que todos pratiquemos boas obras e sejamos legais com todo mundo ou consiste principalmente. será transformada. não lutaram pela justiça social e pela transformação da sociedade? O que dizer de William Wilberforce e John Newton? E Robert Raikes? E os metodistas do século XVIII? E dos grandes avivamentos? Qual era a mensagem central de todos eles e que os impulsionaram a fazer o que fizeram pelo mundo? Não foi a mensagem da cruz. mas ele conta que aprendeu essas histórias supostamente relegadas quando ainda era criança. E se os protestantes enfatizavam. egocêntrico e arrogante. nem os pentecostais. salva-me desta hora? Mas precisamente com este propósito vim para esta hora .15). Por que.i crucificação. etc. caricaturas que não dizem realmente o que os protestantes clássicos. numa referência à crucificação de Cristo como a culminância de todo o Seu ministério e o auge do cumprimento de séculos de profecias a respeito da Vinda do Messias (Lc 18. nos encontramos dizendo: “Ei. O centro do evangelho é a cruz como aspecto legal da nossa Salvação.15. a mais enfatizada? Nas páginas 54 a 56 de Urna ortodoxia generosa. está angustiada a minha alma. lTm 1. e o Reino de Deus está entre nós agora. Lc 19. Veja o espaço que eles dão à narrativa d. Por exemplo. Mclaren apresenta uma visão do “Jesus católico” como se só o catolicismo romano tivesse a percepção da vida ter sentido por causa da ressurreição. mas vai ter o seu total cumprimento no Milênio. a cruz não deve ser a nossa mensagem central. Outro detalhe é que. é engraçado quando lemos o livro e.14. que sua servidão ao politicamente correto não permite-lhe tocar (idolatria. vemos que todos eles são estereótipos. Para os protestantes de forma geral.C apítulo 5 o Evangelho de João mais ainda. nas páginas 61 a 65. por exemplo. Cristo veio para teste­ munhar da verdade (Jo 18.). mas sem voltar atrás. a Salvação começa aqui e se estende pela eternidade.31-33). a principal. Ele veio principalmente. . Isso não é verdade. No “Jesus protestante”.i hora”.16. No início da página 64. E ainda ignora todos os aspectos perni­ ciosos do catolicismo romano. a salvação visa apenas ao futuro. Aliás. Jo 3.8 com Hb 2.45. mas elas não são.25.26. na visão protestante. É só lermos Romanos. mediação dos santos. governa­ mental e militar da morte de Cristo como sendo todas bíblicas.10. ao lermos o relato de Mclaren sobre os “sete Jesus” que conheceu (capítulo 1 de Uma ortodoxia generosa). de vez em quando.37) e principalmente para salvar pelo seu sacrifício na cruz (Rm 3. Jesus disse: “ Agora. e enquanto estamos aqui e o fim não chega.17. Já a jurídica é. tradição acima da Bíblia ou igual a ela. Mc 10. ele diz que. para subir à cruz para remissão de nossos pecados. ele tenta colocar uma ressalva. Mclaren ainda fala das metáforas econômica (muito usada hoje pelo ramo neopentecostal). à luz da Bíblia. acima de tudo. então. A respeito da crucificação. mas quem disse que tal grupo diz isso?” E um livro repleto de estereótipos-clichês. nem mesmo o que os católicos e ortodoxos pensam.10 e ljo 3. e que direi eu? Pai. Jo 10. Isso é enfatizado e realçado por Paulo em Gálatas e pode ser visto em toda a Epístola aos Hebreus. Por sete vezes a crucificação de Cristo é apresentada em João como ". pelo poder do evangelho. Porém. Mclaren diz que não está propondo um hibridismo usando todas essas vi­ sões de Jesus (muitas estereotipadas) como sendo cada uma delas uma parte do verdadeiro Jesus. Leia a frase auto-contraditória: “Não. Estou recomendando que reconheçamos que cristãos de todas as tradições trazem seus dons distintos e maravilhosos para a mesa. Na página 178 de seu livro. Isso não parece de modo algum apetitoso. ainda diz que os protestantes marcaram a Volta de Jesus para 1985 e outras datas mais. Além disso. alguns contextos e cenários à nossa volta.A SEDUÇÃO D NOVAS TEOLOGIAS AS temos o mandato para mudarmos o mundo. seres sexuados só passaram a existir depois que Deus os criou. o mandato da igreja de ser “sal e luz” foi pregado durante a História. não estou recomendando que joguemos cada uma das ofertas no liquidificador. quando nenhum protestante genuíno caiu nessa bobagem (para os protestantes. apertemos o botão ‘liquefazer’ e tentemos criar uma sopa cinza de todas as cozinhas. para o pentecostal clássico. Que diferença prática há entre misturar tudo no liquidi­ ficador para comer e comer tudo que está na mesa sem liquidificar? SUBMISSÃO AO POLITICAMENTE CORRETO Soa engraçado ver Mclaren preocupado com o uso de pronomes para aludirmos a Deus.14). quando ele declara que. podemos mudar. contraditoriamente.14) e o nascimento de Cristo (Jo 1. já que o Criador não é nem masculino nem feminino (óbvio. vemos que o problema de Mclaren não é tanto com compreen- . seja ele pentecostal ou não. é o que significa o “Ide” (Mc 16. para que possamos todos desfrutar da festa da ortodoxia generosa —e espalhar essa mesma festa para o mundo inteiro”. ainda neste capítulo). Nas páginas 77 e 78 de Uma ortodoxia generosa. diferentemente do que sugere Mclaren. e não na cruz (sic)! Para o protestante. a salvação está em ser cheio do Espírito. Outro caso de estereótipo está na página 59.1-14) são os principais eventos da vida de Jesus. como relata Gênesis 1).15) de Jesus para ele (vamos ver isso daqui a pouco. Mas.32). mesmo que saibamos que só no Retorno de Cristo isso será possível totalmente. Nem seria útil. ele propõe que seja abolido o uso de pronomes para se referir a Deus. na verdade. O problema de Mclaren. a cruz (G1 3. Isso está claro na Bíblia e sempre foi ensinado. 6. até lá. ao continuarmos lendo sua argu­ mentação.Mc 13. adivinhar quando será a Volta de Cristo é heresia .1. Simplesmente. Mas está. a ressurreição (ICo 15. etc. é com o cuidado de não soar chauvinista.). mas julgai segundo a reta justiça” (Jo 7.1. vemos Mclaren também com problemas em relação a outros termos que aparecem na Bíblia para Deus.21)e termos discernimento dos erros (Mt 7.1. de quem está preocupado em agradar todo mundo mas do que em ensinar “todo o conselho de Deus”. Nas páginas 90 a 92 de Uma ortodoxia generosa. ICo 14. tais como Rei.11). 2Tm 4. A Bíblia usa exaustivamente os pronomes masculinos para Deus sem preocupar-se com “chauvinismos”. Pergunto: Será que só preocupa Mclaren o uso de pronomes masculinos para Deus nas pregações ou será que o uso exaustivo que a Bíblia faz dos mesmos para se referir a Deus também o preocupa? Será que ele tem dificuldade de ler esses pronomes em voz alta quando lê a Bíblia ou se sentirá chauvinista ao fazê-lo? Será que ele acha que os escritores bíblicos erraram ao usar esses pronomes? Chauvinismo é errado. SI 62. por preocupações novamente rela­ cionadas ao chauvinismo. Ele deixa claro que sua preocupação é com o politicamente correto. Essa preocupação obsessiva revela o coração de Mclaren. Ao dizer que o texto bíblico deve ser relido e adaptado aos ouvintes conforme a ditadura do politicamente correto. Mas. Is 40 e 43. 155).2.15-23.24). mas. A leitura bíblica sob o viés politicamente correto é uma ofensa à Bíblia. os emergentes não percebem que estão. Jesus disse que não devemos julgar no sentido de caluniar (Mt 7. Todo-poderoso e Rei não elimina o fato de que Deus é tudo isso mesmo (Gn 17. porque Jesus disse que “não devemos julgar” (p.1). devemos provar se os espíritos são de Deus (ljo 4.10. Jó 42.29. . que podem se sentir ofendidas. mas feminismo igualmente. Sl. Soberano. 1Tm 4.1. sim. Jesus disse:“Não julgueis segundo a aparência [o que fazem os emergentes.1 -4. com a sensibilidade das feministas. Essa preocupação é própria da ditadura do politicamente correto. Ele tenta reinterpretar e eufemizar o significado desses termos (exceto o termo “soberano”. Senhor. um dos maiores sinais de sua subserviência ao politicamente correto é quando Mclaren diz que os cristãos conservadores não deveriam criticar o libera­ lismo teológico.C apítulo 5 sões equivocadas sobre Deus como sendo um ser sexuado. No entanto.2). abraçando heresias apoiando-se em aparências de espiritualidade]. Is 46. O uso errado na História que grupos fizeram ou possam fazer de Deus como Senhor.11-14. preferindo ignorar que a Bíblia fala da soberania de Deus —2Cr 29. Hb 13.9). examinar tudo e reter só o que é bom (lTs5. Nela. O diabo. a mídia anunciou que um grupo de 42 teólogas e 10 teólogos “especialistas” bíblicos lançou “uma nova versão da Bíblia em que uma linguagem inclusiva e o politicamente correto substituíram alguns ensinos ‘divisivos’ do Cristianismo a fim de apresentar uma linguagem mais justa para grupos tais como feministas e homossexuais”. Ap 22. Em 2006. “Uma das grandes idéias da Bíblia é a justiça.. aos judeus e aos que são negligenciados”. De forma semelhante. Jesus não mais se refere a Deus como “Pai”. A Bíblia condena tanto a mudança no texto (Pv 30. mas apenas apresentaram-no diferentemente. que dirigiu a equipe de tradutores. Você não altera um texto bíblico só quando o apaga e reescreve no papel.. Você também o altera quando. Mas isso não é verdade. o reescreve em seu comentário escrito ou falado. O livro chega a cometer o ridículo de fazer referência a rabinos e rabinas. Que adianta alguém não mudar o texto bíblico no papel se.. mas como “nossa Mãe e Pai que estão no céu”. embora as mulheres tenham sido aceitas nesse círculo somente nos anos de 1970.. Jesus não mais é mencionado como o “Filho”.. mudando várias passagens. destruindo o texto bíblico.5. Corrigir a Bíblia. Os divulgadores da obra afirmam ainda que “a nova edição dá destaque às mulheres. mas em vez disso como “filho” de Deus. desrespeitando todas as regras básicas de hermenêutica.. alguns teólogos liberais já sublimaram isso. porém.16). ainda é mencionado com pronomes masculinos. foi isso mesmo que você leu: “mais justa”). não estão alterando a Bíblia. Viram que.na prática. mudando seu significado para adequá-lo à mentalidade de nossos dias. na Europa.18. quando o ensina. Mudar suas passagens “preconceituosas”.19) quanto a deturpação do texto (2Pe 3. Não é à toa que. não havia diferença mesmo e. A nova versão foi apresentada numa feira de livros em Frankfurt e é intitulada A Bíblia numa Linguagem Mais Justa (sim. disse o pastor Hanne Koehler. O título “Senhor” vem substituído por “Deus” ou “o Eterno”. fizeram logo uma nova versão da Bíblia. muda termos como “homens” por “pessoas” e “obe­ . altera o seu real significado? Os emergentes acham que só porque não apagaram e reescreveram o texto bíblico. Mt 5.19. acrescentando algo mais a seu real significado ou mesmo mudando o seu significado. Além disso. São o que na prática fazem os emergentes. corrige formulações consideradas preconceituosas e chama a atenção para questões sociais”. Dar novas ênfases a algumas passagens e temas que a Bíblia teria falhado em não enfatizar. Fizemos uma tradução que faz justiça às mulheres. cansados de apenas adaptar o texto bíblico ao politicamente correto em suas mensagens e es­ critos. na prática.6.18. Isso porque. NA VERDADE. havia um “antigo testamento”. 288)? Jesus. colocaram Jesus só como Salvador e não como Senhor e Mestre —e Mclaren ainda prefere o termo “professor” a Mestre. logo. estes. antes de Jesus. que a Bíblia deve criticar a tradição (p. generalizando. no capítulo 4.13). como já vimos. depois de citar os quatro tópicos de sua teoria. mais nada. quando lhe é conveniente. MAS NÃO SOU” QUANDO.C apítulo 5 decer a Deus” por “escutar a Deus”. a tradução substitui a palavra “irmão” pela expressão alemã geschwister. É MESMO No seu jogo de “sou/não sou/sou”.24. mas na nota de rodapé da página 129. pois lhe é mais suave. ele sugere que os líderes emergentes são diferentes dos líderes evangélicos conservadores porque.9. além de não serem criativos como os emergentes. são contra “líderes mulheres e não-brancos”. Em sua teoria. Jesus falou que Seu sacrifício iniciava um “novo testamento” (Mt 26. soava a “chauvinismo”. DIZENDO “SOU. Além de mentir. mais à frente. Além de sua realidade ser bem americana. durante toda a História. Mclaren usa um significado de Jesus como professor que o torna apenas um mestre de moral. não? Na carta de Paulo aos Romanos. Outra coisa: Mclaren diz que não é preconceituoso. . 231) e. mas. pior do que isso. colocou a Bíblia acima da tradição (Mc 7. Mc 14.14 e Gálatas 3. Depois desse erro. como ele apresenta em sua compreensão sobre o discipulado. entre outras coisas. E o que dizer de Mclaren afirmar.6). Lc 22. os após­ tolos afirmaram que eram ministros de um “novo testamento” (2Co 3. nas páginas 96 e 97 de Uma ortodoxia generosa . o Antigo Testamento é assim chamado exatamente em 2 Coríntos 3.25).17. em seguida.28. desenvolve uma teoria da conspiração e. ainda chama os cristãos de “tolos” por chamarem a Bíblia hebraica de Velho Testamento. que a tra­ dição deve ser usada como contraponto à Bíblia (p. Mclaren diz que não é um adepto de alguma “teoria da conspi­ ração”. na continuação do texto. ele demonstra mais uma vez sua visão estereotipada. ICo 11. diferentemente. do jeito que estava no original grego. Menos forte. Ora. diz que os evangélicos de forma geral.. o termo está na Bíblia. Aliás. abrangendo tanto irmãos quanto irmãs. denominando um grupo dentro do grupo como se representasse o grupo todo. ainda sustenta-os em seguida..20. Ele sugere que o termo foi inventado. Mas. para melhor compreensão sobre o Inferno. com medo de ser taxado de herege (já que Jesus. nos Estados Unidos. Como se estivesse dizendo: “Veja até onde posso ir sem ser herege” (mais sobre o assunto. essas ginásticas no livro. e que falava sobre o Inferno e contundentemente. indica a seus leitores. Fala tolices no texto e tenta suavizar em seguida no rodapé. Ele morde no texto e assopra no rodapé. Repito: Ele falou mais do Inferno do que do Céu. minimizar suas auto-contradições com suas notas de rodapé. do pastor Jonathan Edwards. ele diz que. ele mesmo reconhece que o perigo de suas afirmações é grande e faz. Como se não bastasse. é engraçado como Mclaren tenta. Mclaren foge da pergunta crucial sobre se o Inferno existe mesmo. durante boa parte do livro. nas páginas 126 e 127. um evangelicalista só é correto se não é contra o aborto e nem contra as leis pró-homossexualismo (Mclaren defende essas leis. Entretanto. o que só evidencia o perigo de dançar à beira do precipício. Falar só do inferno é errado. da página 125. Nunca devemos deixar de pregar “todo o conselho de Deus” (At 20. Jesus não teve vergonha de falar do Inferno. 133 e 134). falou do Inferno como literal e falou mais do Inferno do que sobre o Céu). Outro exemplo: nas páginas 130 e 131. se entrega duas páginas depois: na nota de rodapé 51. por exemplo. Mclaren tenta disfarçar sua visão liberal sobre o Inferno. o Grande Despertamento do século XVIII. na nota de rodapé 50 da página 123. Ele ainda defende que a pregação do evangelho não deveria conter o assunto Inferno. O inferno não importa a Mclaren? A Jesus sim. Ou seja. Isso não significa que o Inferno era o centro de Sua mensagem. numa referência às questões do . Mclaren diz que gosta dos evangelicalistas. mas não falar nada dele é igualmente errado.Aliás. constantemente. mas fazia parte da mensagem. apesar de todas as belas obras sociais que os evangelicalistas fazem. em vão. Um exemplo disso: nas páginas 124 e 125. por falar em nota de rodapé. obras de teólogos liberais. Por isso. Mclaren sugere que a visão universalista é a mais correta. como fala na pá­ gina 22 do livro). num círculo de “morde e assopra”. Tem gente que gosta de “adrenalina”. E mais: Quem disse que Deus não pode usar um sermão sobre o Inferno para despertar e salvar vidas? Lembremos que um dos maiores avivamentos da História. lei o capítulo 10 deste livro). Ou seja. foi encetado na Nova Inglaterra pelo sermão “Pecadores nas mãos de um Deus irado”.27). Ele simplesmente diz que prefere não pensar no assunto e que os cristãos fariam bem em não falar sobre o Inferno nem ficar discutindo se ele é literal ou não. estes pecam quando são “preconceituosos” e “menos compassivos” (pp. exceto daqueles que defendem posições da “direita religiosa”. então. a idéia do purgatório e orações ou cultos pelos mortos. o mercan­ tilismo da fé. Tremendo equívoco. foi também pró-testemunho. o jejum nos moldes clericais e o celibato compulsório. o que Mclaren propõe é que os evangelicalistas deixem de ser evangelicalistas e se tornem apenas fazedores de boas obras que não pregam contra o pecado. só administram. os protestantes não aceitam o confessionário. Jesus é o único mediador entre Deus e os homens. O nome “protestantismo” é só referência aos protestos dos Estados evangélicos alemães em 1529 contra a resolução da Dieta de Speyer. pela Bíblia. . mãe de Jesus. pregam e vivem todos os princípios da Reforma. Mclaren só vê o ponto do catolicismo que lhe interessa e esconde os demais. Ora. da avareza da Igreja Católica Romana e da salvação pelas obras. seja quando fala ex catedra ou não. Na página 142. ou aos santos. o emergente diz que o problema dos cató­ licos com os protestantes foi só a questão das indulgências. Então. sola fid e (só a fé). As diferenças eram e são enormes. ou mesmo em seu ofício de “repetir o magistério ordinário”). mas não como o representante máximo do cristianismo nem muito menos reconhecem seus ensinos como infalíveis. mas de bênçãos quaisquer que sejam. a canonização de cristãos. e são contra a supersticiosidade e o uso de iconografia na adoração (imagens). E ainda esquece que o protestantismo genuíno sempre foi mais do que só protesto. pode haver pouca diferença entre o protestantismo e o catolicismo romano? Na sua ânsia ecumênica. Dos sacramentos ministrados pela Igreja Romana. A dieta era uma espécie de assembléia convocada pelos reis de uma região. Os protestantes genuínos. e só Deus deve receber adoração.. o batismo e a Santa Ceia. No capítulo 7 de seu livro. a dieta . sola Scriptura (somente as Escrituras) e sola Deo gloriae (somente a Deus a glória). Como. Numa atitude déspota. Esses quatro lemas básicos sintetizam as verdades de que a salvação é apenas pela graça de Deus.7CDOXLA GENEROSA: NO VO NOME PA RA HETERODOXIA C apítulo 5 aborto e do homossexualismo. Não reconhecem também o culto à Maria. Com base no que ensina a Palavra de Deus. não reconhecem o primado e a autoridade papal (reconhecem o papa apenas como um líder religioso. Mclaren não quer “todo o conselho de Deus”. um evangelicalista verdadeiro é contra o aborto e o homossexualismo. que não têm o mesmo significado e liturgia da eucaristia católica. ele propõe claramente a unidade dos protestantes com os católicos romanos. Por isso. as Sagradas Escrituras devem ser a nossa única regra de fé e prática. mediante a fé. de forma geral. que são Sola gratia (só a graça). Repugnam não apenas a venda de indulgência (perdão). Em Gênesis 17. O mesmo acontece com os termos onisciência e onipotência. logo onipotente é. A arma da ortodoxia generosa é criar e enfatizar estereótipos e. mas “Deus todo-poderoso” mesmo.. o que significa “onipotente”? Oni quer dizer “tudo” ou “todo”. 172) e declara que o que chamamos de doutrinas bíblicas são “linhas de raciocínio”. enquanto que nas regiões predominantemente católicas. que conceitos como onipotência e onisciência são invenções teológicas sob influência da Filosofia. 202 e 203). etc. Não admira tal posição. Deus diz que Ele é “Todo-poderoso”.1. em um dos capítulos. No original hebraico. depois. há muita coisa em comum entre os católicos romanos e os protestantes. pois Mclaren defende nas páginas 147 e 148 de Uma ortodoxia generosa que a Bíblia não tem valor autoritativo (para ele. “definições e escolas de Teologia”. propor relativizações para. com base neles. as minorias luteranas não poderiam exercer a sua fé.. Ao falar do protestantismo. “delineamentos filosóficos”. que não significa Deus “muito poderoso” ou simples­ mente Deus “poderoso”. recusa-se a crer que a verdade bíblica pode ser objetiva (p. Tal declaração repugnava alguns aspectos do catolicismo romano. Ele apresenta um estereótipo do protestantismo com o objetivo de fazer seus leitores mais ingênuos crerem que. Ora. Só mais um adendo: a Filosofia não é má em si mesma. mas ele é correto porque a Bíblia fala claramente datriunidade divina em várias passagens. na verdade. é EIShadai. a minoria ca­ tólica teria liberdade religiosa. Os luteranos reagiram com a formulação de uma declaração que afirmava as convicções consideradas por eles inegociáveis para o testemunho da fé cristã. Todo-poderoso! E o que significa onisciência? Não é saber de tudo? O que diz Isaías 46. (pp. .alemã havia determinado que. forma como os católicos começaram a tratar todos os filhos da Reforma. Mas isso não é verdade. Não é à toa que ele chega a citar. justificar hibridismos reli­ giosos e o ecumenismo.10? O que diz Hebreus 4. quem defende a autoridade da Bíblia é bibliólatra). Mclaren faz mais uma vez isso. Nada mais falso. em seguida.13? E Salmos 139? Esses textos não nos dizem que Deus sabe de tudo? E saber de tudo não é ser onisciente? Interessante que Mclaren aparenta crer na Trindade e ele nem parou para pensar que o termo não existe na Bíblia. Foi esse episódio que deu origem ao título “protestantes”. nas regiões de maioria luterana. Má filosofia e colocar a Filosofia acima da Bíblia são os verdadeiros erros. Com todo respeito ao belo trabalho de muitos missionários católicos. Jesus. Usar os termos pecado. arrependimento e Inferno incomoda Mclaren. na África. apesar de Jesus ter falado de ambos e mais do segundo do que do primeiro. O trabalho social é mais do que obrigação de todos. segundo ele. Há inúmeros trabalhos missionários católicos que minimizam as carências físicas do povo. não veio nos salvar de nossos pecados. como ele mesmo diz) a declaração de um missionário católico de que a teologia da salvação deveria ser substituída pela da criação. ele aceita abertamente (e emocionado. Mclaren também mostra-se simpático à idéia do “pecado social” em contraposição ao “pecado original” (doutrina bíbica bem apresentada por Paulo em Romanos 5). No final. mas de nossos “problemas”. que socorreu os doentes e alimentou as pessoas (o que é mais do que a . de que não gosta muito). na Colômbia e até mesmo aqui. Por isso. Tal proposta é apoiada por ele com base na frustração que o missionário católico Vicent Donovan teve no campo missionário. é problema. Pecado. pregou Jesus). para Mclaren. o “guru” dos emergentes eufemiza o significado da Salvação em Cristo dizendo que é apenas “tirar o problema” e fala de arrependimento como algo que não tem muito a ver com essa história de “pecado” (ele chega até a chamar “arrependimento” de “palavra complicada”. Mclaren diz que salvação não tem nada a ver com Céu e Inferno. mas a salvação de vidas é o primordial do trabalho missionário (“Arrependei-vos”. Louva-se muito o trabalho desses missionários católicos ou de Madre Tereza de Calcutá. mas o trabalho missionário não se resume ao serviço social.259). Cansamos de ver isso na índia. no Brasil. mas não mudam o caráter do povo. lembrando que William Mclendon chama o “pecado original” de “um experimento doutrinário que se mostrou insuficiente” (p. E propõe que a nossa teologia seja resultado da nossa relação com as pessoas e não do nosso conhecimento da Bíblia. Pergunta-se: Por que Mclaren cita o católico romano Vicent Donovan e não os casos de tantos outros missionários que em situações semelhantes ou piores viram os frutos de seu trabalho? É baseado no fracasso de Donovan que ele propõe que a obra missionária seja mais social do que evangelística. o que se vê é um trabalho missionário que se resume apenas a obras sociais. E em sua obra A mensagem secreta de Jesus. mas não se resume a isso.C apítulo 5 O “IDE” DE JESUS: O QUE SIGNIFICA DISCIPULAR E EVANGELIZAR PARA OS EMERGENTES No capítulo 4 de Uma ortodoxia generosa. Deve incluir isso. Veja o que Mclaren acredita ser discipulado e missões: ele diz que de­ vemos nos importar menos “se doutrinas.. as cartas mostram que não foi uma crise passageira. Ele diz ainda que o verdadeiro discipulado não é para tornar as pessoas cristãs. bons hindus. O problema é que. ao pregarmos a pessoas de outras religiões para que se tornem cristãs.) Assim como Jesus veio originalmente não para destruir a lei. serviço. Quem pensa como ele diz é que precisa voltar ao cristianismo bíblico. Como está Calcutá? Não há mais de 1% de cristãos em Calcutá. no caso dela. Até a própria Madre Tereza não tinha certeza de salvação (como revelaram cartas dela divulgadas recentemente pela mídia). estruturas e terminologias estão corretas” e se importar mais “se ações. mas as pessoas esquecem que. E ainda tem gente que minimiza essa informação lembrando que um cristão sincero pode passar por algumas crises espirituais.. e não uma ameaça. iniciativas. A proposta de uma obra missionária mais assistencialista que evangelizadora é fruto da compreensão equivocada dos temas Céu. Se hindus. arrependerem-se e entregarem suas vidas a Jesus para segui-lo por todo o sempre. p. Se são budistas. (.obrigação). bondade e eficácia são boas” ( Uma ortodoxia generosa. mas para salvá-las. o cristianismo está se apresentando como ameaça às outras religiões. os verdadeiros cristãos não estão numa missão de Teologia do Domínio. . creio que ele vem hoje não para destruir ou condenar coisa alguma (exceto o mal). Se muçulmanos. na maioria esmagadora das vezes. bons muçulmanos. mas ela é. 245). mas para torná-las pessoas melhores. arrependi­ mento e pecado. 281). Inferno. Obra missionária deve ter ação social. mas para cumpri-la. eu estou propondo. Além disso. Por isso Mclaren pede uma “revisão radical” do que é missões. não para condenar as pessoas. Mclaren afirma que. Ela passou décadas seguidas de sua vida. até os últimos anos. Quem minimiza a importância de salvação e hipervaloriza a obra social já perdeu o sentido da obra missionária há muito tempo. de destruir ou esmagar as demais religiões. enquanto as religiões de hoje dificilmente apontam para Cristo. primordialmente. Os verdadeiros cristãos apenas devem pregar o evangelho a todos. torná-las bons budistas. E conclui: “A fé cristã. Esquece Mclaren que Jesus não veio abolir a lei justamente porque a lei apontava para Ele. deveria (em nome de Jesus) se tornar um amigo acolhe­ dor das outras religiões do mundo. e quem crê será salvo. sem ter certeza de salvação. Salvação. pregação do evangelho para levar as pessoas a reconhecerem seus pecados. mas para redimir e salvar todas as coisas que podem ser redimidas e salvas” (p. não houve efetiva mudança de vida nem Salvação. politicamente correto].8.20). E. deveríamos incentivar o crescimento tio trigo nas outras religiões (p. Aliás. divergir de determinada crença porque choca-se com a Bíblia é sinônimo de “sonegar amor e aceitação” e “trair a Jesus e ao seu caminho” (sic)! Finalmente. Apaixonado por meditação. deveríamos aprender a meditar como os zen-budistas. O problema é que a meditação zenbudista não tem nada a ver com a meditação bíblica. devemos adotar um cristianismo pós-moderno. ocidental e colonial [o verdadeiro cristianismo é colonial ?]. ele trata . judaizante. Mclaren não sabe ou não quer saber disso.3). 287). No capítulo 14 de Uma ortodoxia generosa. ou seja.C apítulo 5 Nenhum cristão sincero força outra pessoa a aceitar o evangelho como rir é. pode alguém ser hindu e seguidor de Cristo? Pode alguém ser muçulmano e seguidor de Cristo? Pode alguém ser budista e seguidor de Cristo? Pode alguém ser judeu (no sentido religioso. uma traição ao Senhor e ao seu caminho” (p. Talvez seja aconselhável em muitas (não todas!) circunstâncias ajudar as pessoas a se tornarem seguidores de Jesus e permanecer dentro do seu contexto budista. Perguntase: Se o ensino de Cristo choca-se frontalmente com o hinduísmo. Uma prega o esvaziamento da mente e a outra consiste em meditar na Palavra de Deus (Js 1. seguidor do judaísmo) e ser seguidor de Cristo (será que os emergentes lêem a Epístola aos Gálatas)? Relevar as grandes diferenças em prol de semelhanças pequenas é escamotear a verdade. portanto. hindu ou judaico” (p.2. Na cabeça dos emergentes. 282). Mclaren não fala em avivamento em suas obras. Mclaren diz que a meditação zen-budista é algo prazeroso e bom. Ele só fala em termos de métodos que funcionam ou não.19. ou até mesmo cristianismo ortodoxo moderno [para Mclaren. Citando a parábola do trigo e do joio.284). o budismo e o islamismo. Mclaren propõe ainda que há trigo r joio nas outras religiões e que. e que nós. o judaísmo. A pessoa aceita se quiser. Mclaren afirma: “Não creio que fazer discípulos seja o mesmo que fazer adeptos à religião cristã. e arremata: “Mostrar reprovação a crenças divergentes sonegando amor e aceitação talvez seja farisaísmo ortodoxo. não em esvaziar a mente. SI 1. Jesus ordenou que fizéssemos discípulos de todas as nações e ensinássemos esses discípulos a guardar tudo que Ele tinha ensinado (Mt 28. Mas. MCLAREN E O AVIVAMENTO WESLEYANO A visão de avivamento de Mclaren é também equivocada. cristãos. na verdade. mas não é a ortodoxia generosa de Jesus Cristo. A SEDUÇÃO D NOVAS TEOLOGIAS AS o que ficou conhecido como Avivamento Wesleyano como se fosse uma estratégia bem sucedida de Wesley. Eles não pregavam uma “graça barata” como pregam os emergentes. chegou a experimentar um avivamento dentro do avivamento. O Avivamento Wesleyano começou em 1738. Um erro colossal! Primeiro porque W hitefield e Wesley. no final. Esse refluxo teve início em 1761 e se estendeu com intensidade cada vez mais crescente até a década seguinte. até o final de suas vidas. até o final do século. afastado as pessoas (pp. Simplesmente. 240). A tese de Mclaren é totalmente falsa. esfriou porque o legalismo entrou no movimento. por exemplo. o sentimento. ao ver sua filha se engraçando com um outro carvoeiro mais jovem. . Só isso. o Avivamento Wesleyano durou décadas e. E em segundo lugar. podendo ter boa parte do seu conteúdo questionado e ser reinterpretada ao bel prazer. quando M claren afirma que conhecimento bíblico não tem a ver com cristãos melhores (p. “ORTODOXIA” GUIADA PELOS SENTIMENTOS Os equívocos apresentados nos livros de Mclaren são muitíssimos. porém perene. Vinte e três anos depois. Uma segunda prova do tipo de entendimento que ele tem do que é avivamento está no mesmo capítulo. dez anos depois. tendo permanecido mais amena. O salm ista disse: “Vivifica-nos conforme a Tua Palavra” (SI 119. Como a Bíblia não lhes é autoritativa. A ilustração que ele dá do que poderia ter acontecido é ridícula.29). O que foi exposto já é suficiente para entendermos em linhas gerais a idéia de “ortodoxia generosa”. Jesus asseverou: “Errais não conhecendo as Escrituras” (M t 22. E diz que. teria de escrever um livro inteiro só com isso e com muito mais páginas do que este.107). um carvoeiro pode ter se convertido e. ao ponto de se alguém quisesse escrever comentários que rebatessem. Em contraposição ao seu pensamento. segundo seus historiadores. quando o avivamento estava começando a esfriar. Apenas quero concluir essa abordagem ratificando que a “ortodoxia” dos emergentes é guiada pelos sentimentos. houve outro refluxo que fez com que perdurasse até o final do século XVIII. 237 e 238). diz que. o guia dos emergentes passa a ser o feelin g pessoal. assim. começou a pregar mais sobre pecado e. a todos os erros de seus escritos. pregavam constantemente contra o pecado e conclamavam as pessoas a se arrependerem. o coração. ponto a ponto. No entanto. Mas a Bíblia diz: “Enganoso é o coração” (Jr 17. Ap 22. Quantas vezes somos levados pela emoção. agora apercebido da vontade de Deus. Ele deixou claro a João que nem anjos. anuncia a Davi que não edificasse a casa. O que legitim ou essa crença católica para Mclaren? Foi o que diz a Bíblia? Não. Disse que ficou com lágrimas nos olhos ao ver a cena e. depois das revelações do Apocalipse. mas que deixasse isso para seu filho Salomão. se prostrou diante do anjo (que lhe acom­ panhou nas visões) para o adorar. sob a influência divina. então? O coração. sob a influência das suas emoções. porque eu sou conservo teu e de teus irmãos. devemos estar sensíveis à voz de Deus expressa na Sua Palavra e não à voz dos sentimentos. Deus começa a falar com o profeta que. o apóstolo João.9. . e dos que guardam as palavras deste livro. No verso dois desse capítulo. Adora a Deus”. podemos chorar melosamente. em certo sentido. que haveria de sucedê-lo no trono de Israel. Foi o quê. A Palavra de Deus diz que.9). no verso seguinte. Ao que este lhe respondeu: “Olha. também me tornei. porque a Bíblia condena a idolatria e a adoração a M aria ou a qualquer outro santo. no início do capítulo 15 de Uma ortodoxia generosa. Se invertermos essa ordem. afirmando que Deus estava com o rei para que o Templo fosse construído.C apítulo 5 Por exemplo. Devemos ser santificados por ela (Jo 17. Ele cita uma experiência que teve em que se emocionou ao ver uma mulher se prostrar e orar a uma estátua de M aria nos Estados Unidos. a aceitar a pri­ meira impressão? Se quisermos compreender o que é certo e fazer as coisas como elas devem ser feitas. um pouco mais católico”. mãe de Jesus. “naquele dia.17). como se seu sentimento representasse a certeza de que Deus aprovava o que ele tinha ouvido de Davi. passou pela experiência de confundir suas emoções com o que era certo. pois somente Deus é digno de adoração. A Palavra é a verdade. nem santos e nem profetas devem ser adorados. copiosamente. algo que parecia estar certo. segundo 1 Crônicas 17. por isso. Natã havia achado a idéia de Davi edificar uma casa para Deus muito bela. ele entrega uma mensagem ao rei Davi. os profetas. O profeta Natã. Mclaren considera de pouca im portância a veneração dos católicos a estátuas e a M aria. mas estaremos errados e em pecado diante de Deus. não faças tal. emocionado. como Natã. mas delira acerca de questões e contendas de palavras” (1 Tm 6. Devemos ser “coluna e firmeza da verdade” (1 Tm 3. digamos como o salmista: “Jurei e cumprirei que hei de guardar os teus justos juízos” (SI 119.19. Aliás.6-9). . Mc 16. “não ir além do que está escrito” (1 Co 4.3.8). A própria Palavra de Deus é apresentada por Jesus como uma rocha que nos mantém firmes na tempestade (M t 7.23).6) e ter cuidado para que ninguém nos engane com “filosofias e vãs sutilezas” (Cl 2. a tua palavra permanece” (SI 119.1).6) e a entregaram da mesma forma como a haviam recebido (Mt 28.24-27. Os apóstolos guardaram a Palavra que receberam de Jesus (Jo 17.6). O evangelho é a “palavra da verdade” (Cl 1.24-27). que é levada pelo vento e lançada de uma para outra parte” (Tg 1. a Palavra é a verdade (Jo 17-17) que devemos guardar. mas um “firme fundamento” (Hb 11. A Timóteo.20. praticar e defender (M t 7. Elas apresentam verdades absolutas. SI 1. Paulo fala do evangelho como certezas que. 1 Co 11. imutáveis. inamo­ víveis. levam as pessoas ao erro (G11.5). Escrevendo aos cristãos gálatas.20). se relativizadas. é soberbo e nada sabe.15). ó Senhor. Hebreus explica que a verdadeira fé não é algo nebuloso. Tiago declara que “o que duvida é semelhante à onda do mar. Como Igreja. Devemos estar “edificados sobre o fundamento dos apóstolos e dos pro­ fetas” (Ef 2.106). ele diz que “se alguém não se conforma com as sãs palavras de nosso Senhor Jesus Cristo e com a doutrina que é segundo a piedade.89).20.4). sólidas. Jd 3).A SEDUÇÃO D S NOVAS TEOLOGIAS A A PALAVRA DE DEUS APRESENTA VERDADES ABSOLUTAS QUE DEVEM SER GUARDADAS E OBSERVADAS As Sagradas Escrituras não dão margem para a relativização da Verdade. pois “para sempre. Enfim. não devemos ser inconstantes doutrinariamente. inegociáveis. Por essa razão. O desenvolvimento do pós-estruturalismo e do des-construtivismo fran­ ceses está intimamente ligado à popularidade da Física Quântica.C a p ít u l o Teologia Quântica: aplicação distorcida da ciência à reflexão teológica ocê deve se lembrar que. que são discípulos do desconstrutivismo. outro fator que influenciou decisivamente essas correntes (e que propositalmente deixei para mencionar só agora) é a Física Quântica. um ramo da Física que nasceu no início do século XX. nada mais lógico do que alguns adeptos da Teologia Narrativa. no capítulo 3. Porém. se sentirem igualmente fascinados V . mas que só foi se popularizar mesmo depois da Segunda Guerra Mundial. falamos de como o pósestruturalismo e o desconstrutivismo influenciaram a chamada Teologia Narrativa e que essas correntes filosóficas têm como seu nascedouro a produção filosófica de Friedrich Nietzsche. Essas duas correntes filosóficas são fruto do fascínio dos filósofos franceses pelo discurso de desconstrução de Nietzsche e pelas descobertas da Física Quântica. podem ser melhor compreendidas hoje via Física Quântica. para que você entenda melhor porque a Física Quântica influen­ ciou os filósofos franceses em seu desconstrutivismo. realidades estas que não estão presas às leis da Física Clássica. tais como os budistas e os espíritas. é igualmente importante clarificar que a Física Quântica. assim como a aplicação forçada dos princípios da Física Quântica à Filosofia pelos deslumbrados filósofos franceses produziu o pósestruturalismo e o desconstrutivismo. não se contrapõe à Bíblia. exatamente por essa razão. verdades como a existência da alma. a aplicação forçada dos princípios da Física Quântica à Teologia criou a chamada Teologia Quântica. em si. Em síntese. criando a Teologia Quântica. a Física Quântica também tem atraído a atenção de grupos religiosos os mais diversos. Muito pelo contrário. Mas. é importante dizer que a Física Quântica não tem nada de má em si mesma. Aliás. a existência de Deus. mas por que a Física Quântica abre espaço para a crença em re­ alidades além da matéria? O que ela ensina? Quais são as suas descobertas e ensinos? . Seus pressupostos. e também os perigos de uma transposição indevida da Física Quântica para a Teologia. Dessa forma. O QUE É FÍSICA QUÂNTICA? Prioritariamente. Bem. numa perspectiva científica. apesar de alguns cientistas conservadores naturalmente não gostarem muito dela e criticarem (alguns deles com certa razão) determinadas “viagens” dos que ficam fascinados com os pressupostos desse novo ramo da Física. Ela não é má ciência. podem até dar mais luz. pois a Física Quântica mostra-nos que (1) a vida é mais do que este mundo material que estamos vendo e (2) existem realidades acima daquela que a Física comum está acostumada a interpretar. a algumas afirmações bíblicas acerca de verdades sobrenaturais. que eram verdades que antes tínha­ mos dificuldade para entender por estarmos acostumados às leis rígidas de um mundo totalmente material. quando bem entendidos.A SEDUÇÃO D NOVAS TEOLOGIAS AS pelas afirmações desse ramo da Ciência e proporem uma transposição dos princípios quânticos para a Teologia. As críticas geralmente são relativas a aplicações forçadas dos princípios da Física Quântica. Em segundo lugar. a onipresença divina e o fato de Deus ser triúno e estar além do tempo. vejamos antes o que é Física Quântica. Resumindo. Daí o nome de Princípio da Incerteza. uma partícula quântica pode desaparecer em um canto e aparecer em outro no mundo subatômico. ao final de seus estudos. quando ele percebeu que as regras da Física Clássica. em 1927. é que técnica algum a jam ais poderá desfazer a incerteza do comportamento dessas partículas. não podemos apontar para as partículas suba­ tômicas e afirmar acerca delas o mesmo que costumeiramente dizemos sobre os objetos à nossa volta no mundo macroscópico: “Este objeto está aqui agora e é para lá que está indo”. não eram efi­ cientes para calcular muitas propriedades do átomo. descobriu que é impossível de­ terminar simultaneamente a posição e a velocidade de uma partícula com precisão. poderia deduzir. para sua surpresa. Esse princípio significa que o conhecimento que a Ciência tem sobre as partículas atômicas não é incerto porque suas técnicas de medição ainda não são suficientemente boas. Logo. Heisenberg dedicou-se a descobrir uma mecânica própria para os átomos. eficientes para calcular tudo até então. as partículas no mundo subatô­ mico se comportam de forma imprevisível. então com 26 anos. Como assim? Heisenberg. baseado em suas descobertas quânticas. como desdobramento dessas descobertas. Ao tentar determ inar com precisão a posição. o Princípio da Incerteza assevera que não podemos tratar partículas quânticas como se fossem iguais aos objetos do cotidiano. mas se desenvolveu mesmo na década de 20 do século passado. pensando que. e até hoje irrefutável (tendo sido testada inúmeras vezes em laboratório). A tese levantada por Heisenberg. a trajetória descrita por um elétron (partícula do átomo). perdia a precisão da velocidade e ao determinar com precisão a velocidade. ao descobrir tal me­ cânica. perdia a precisão da posição. encontrou que era impossível calcular a tra­ jetória da partícula. e desde aquela época tem se tornado muito popular. Ou seja. o Princípio da Com-plementaridade. simplesmente porque não existia tal trajetória. sem problemas. Entretanto. como supunham os cientistas de sua época. Como costumam explicar os cientistas.C a p ít u l o 6 A Física Q uântica nasceu há cerca de cem anos. Sem motivo aparente. Seus dois principais proponentes foram o cientista alemão W erner Heisenberg (1901-1976) e o cientista dina­ marquês Niels Bohr (1885-1962). O primeiro cunhou. o Princípio da Incerteza (ou da Indeterminação) e o segundo. O Princípio da Incerteza começou a ser desenvolvido pelo jovem cientista Heisenberg em 1925. . Em linhas gerais. Uma hora eles se comportam como ondas. uma vez que a ciência afirma que existe. obedecendo às leis da óptica física. os aspectos ondulatório e corpuscular náo são contraditórios. apresentar-se com uma natureza ondulatória e. com uma natureza corpuscular. os prótons e os elétrons são partículas subatômicas que podem se comportar tanto como energia quanto como matéria. Bohr percebeu que uma partícula subatômica pode. até mesmo no Universo onde vivemos. acostumados ao mundo macroscópico. posto que essas verdades. uma partícula pode apresentar tanto a natureza ondulatória como corpuscular e o que vai determinar qual dessas naturezas a partícula apresentará é a interferência do observador. mas. uma realidade diferente da realidade macroscópica —é o caso da . obedecendo às mesmas regras de uma colisão entre partí­ culas. outra hora se comportam como partículas. assim como ocorre com a realidade microscópica. mas complementares. Atributos de Deus. podem pare­ cer ambíguos e contraditórios para nós. que estamos presos a esta realidade macroscópica e só entendemos o mundo onde vivemos a partir das leis desta realidade. devido a uma experiência denominada dupla fenda. que matéria e energia são coisas totalmente diferentes. entendíamos. daí o nome dado a esse princípio. não estão sujeitas às leis da Física Clássica. Os fótons (nome dado às par­ tículas de luz) também. Segundo Bohr. até algumas décadas atrás. AS IMPLICAÇÕES NATURAIS DOS PRINCÍPIOS QUÂNTICOS À TEOLOGIA Qual a implicação natural desses dois princípios quânticos em relação à Teologia? Se a realidade microscópica não está sujeita às mesmas leis da realidade macroscópica. em outro. apesar de a m atéria poder produzir energia. logo é mais do que natural podermos pensar como sendo absolutamente possíveis as verdades metafísicas apresentadas na Bíblia. por outro lado. eles são mais do que possíveis.A SEDUÇÃO D NOVAS TEOLOGIAS AS Já o Princípio da Complementaridade foi enunciado pelo cientista dinamarquês Niels Bohr em 1928. Para que você entenda melhor: segundo os físicos. em determinado momento. Trata-se de algo surreal para nós que. Ou seja. tais como a onipresença e a triunidade. “‘M uito acima’ não se refere à distância física da Terra. Gosto muito de citar as palavras de Aiden Tozer sobre o assunto. e até mesmo preeminência. As palavras de Deus em Isaías: ‘Porque assim diz o Alto. noutra realidade. Nós as utilizamos como analogias e ilustrações. transcende à Sua criação. as características da realidade espiritual também são.) Deus é espírito. o Sublime. quando falamos hoje que Deus está acima de Sua criação. ou seja. nos dão uma impressão distinta de altitude.. fora dela. Ou seja. mas não .. muitos crentes entendem isso erradamente. já usam a teoria paradoxal das partículas das ondas da Física Q uântica para ilustrar que há realidades que não podemos defi­ nir com a nossa lógica lim itada ( Teologia Sistem ática —uma persp ectiva p en tecosta l . mas isso é porque nós. lamentavelmente. segundo a Bíblia. e para Ele a magnitude e a dis­ tância nada significam. editor Stanley Horton. Quando dizemos que Deus é transcendente. então. fora dela. temos a tendência de pensar em termos materiais e só compreendemos as idéias abstratas quando elas se identificam de alguma forma com coisas materiais”.. está além da nossa. estamos afirmando que Ele está além dela. em sua abordagem sobre a Trindade.. 1996.C a p ít u l o 6 realidade microscópica. quando dizemos que Deus está acima de Sua criação. como é aquela na qual Deus vive? Se os princí­ pios do mundo microscópico são possíveis. queremos dizer Ele vive em um nível e em uma qualidade de existência que nenhum outro ser conhece. que não pode ser medido ou valorado conforme as medidas e leis próprias de nossa realidade. espaço e tempo. pouco acima dos anjos. pág. Teólogos como o norte-americano Kerry McRoberts.. o co­ ração humano precisa aprender a traduzir a linguagem que o Espírito usa para instruir-nos. que habita a eternidade’. que vive em uma realidade totalmente distinta da nossa. de uma realidade que. e assim Deus se refere constantemente a essas palavras quando fala à nossa lim itada compreensão. que habitamos num mundo de matéria. A Bíblia apresenta Deus como um ser transcendente. Porém. CPAD. O que dizer.) Não devemos pensar em Deus como o mais elevado em uma ordem crescente de seres (. 164)..) Isso daria a Deus eminência. traduzir de forma ascendente (. porque Ele está acima dela. fora do tempo e do espaço. pensando em Deus como um mero “ser superior”. Esquecem que Ele não pode ser comparado a nada. mas à quali­ dade da existência (. “Em sua luta para libertar-se da tirania do mundo natural. Ou melhor. Mas Deus não pode ser confinado à nossa realidade e lógica. dentro de leis naturais que são entendidas pouco a pouco pela Ciência. só existe assim. Deus está acima dessas regras porque Ele as criou. é esquisito para nós que somos criaturas. se antes não existia tempo. e eterno significa sem começo e sem fim. os judeus: Ainda não tens cin­ qüenta anos e viste Abraão? Disse-lhes Jesus: Em verdade. elas existem porque Ele existe. A.. só permanecerá a eternidade. “Disseram-lhes. embora muito distantes um do outro na escala das coisas criadas.. Como Deus pode ser três e um ao mesmo tempo? A qualidade de existência do Senhor está muito além da nossa realidade. limitados. Mas como pode ser isso? Não é algo estranho? É estranho para nós que somos acostu­ mados com o tempo. Os dois pertencem à categoria daquilo que não-é-Deus e estão separados Dele pela própria infinitude” (M ais p erto d e D eus . inclusive. “E disse Deus a Moisés: Eu sou o que sou ’ (Ex 3. 1993). em vez de aceitarmos o Criador como Ele é. Ele já existia. pois o abismo que separa Deus e o arcanjo é infinito.14).58). humanos. Tozer. o que nos leva à conclusão óbvia de que. logo Deus não vive no tempo. no sentido mais amplo da palavra (. porque Deus criou-o assim. pois Deus o criou.) Ele está tão acima de um arcanjo quanto de uma lagarta. Como afirm ei em m inha obra Reflexões sobre a alm a e o tem po (CPAD. pois. “Deus é eterno. 2000). A humanidade está na dimensão que chamamos tempo. Foi Ele quem criou o tempo. O que acon­ tece é que. em verdade. por mais esquisito que pareça. W. tendemos a vê-lo como um de nós. Aliás. esquecemos que aquilo que vemos ao nosso redor só é lógico. Infelizmente. Não pode­ . Quando acabar o tempo. com a transiência.57. próprios da realidade microscópica. O tempo teve começo e terá fim. criaturas. não en­ tendemos como pode haver um outro tipo de existência que vá além dessas regras a que estamos limitados. acostumados com as fronteiras. porque Ele é. mesmo assim estão unidos pelo fato de terem sido criados. Antes delas. A lagarta e o arcanjo. porque nunca precisou viver nele antes”. Mundo Cristão. dos princípios quânticos. Precisamos dar-lhe transcendência. O tempo. “o tempo é algo criado por Deus à humanidade para dim ensionar sua existência na Terra.A SEDUÇÃO D NOVAS TEOLOGIAS AS basta. Por estarmos acostumados à lógica do universo criado. é finito. vos digo que antes q u e Abraão existisse. Está acima. Deus não. eu sou ” (Jo 8. Ele é indescritível. Ele é divino. Deus não tem que se apressar no decurso do tempo deste universo. não houve intervalo entre a ação de terminar o trabalho e ouvir a batida. “Certamente esta ilustração não é perfeita. Glórias pois a Ele para sempre e sempre!” Ou como disse C. Deus tem uma atenção infinita para . insondável. mas é.Lewis décadas atrás. Por isso. Restanos somente adorá-Lo em profunda expectação e amor. Para Ele. Depois de escrever a primeira sentença daquele período. em sua obra Cristianismo p u ro e simples'. quando a relaciono a Deus. então.C a p ít u l o 6 mos descrever o divino com parâmetros humanos. em outra ‘dimensão’ (uso nesse caso essa palavra aspeada. Para ser mais objetivo. nada lá pode ser medido nem comparado com as coisas daqui. “Suponhamos que eu esteja escrevendo um romance. E. O que não revelou. Nossas medidas não valem lá. “Ele vive em um ambiente onde não existe envelhecimento. a nossa mente não pode tangenciar. durante o tempo que quisesse. não vivo neste tempo imaginário. Poderia pensar nela como se fosse a única personagem do livro. porque se Ele pudesse ser plenamente explicado não era Deus. Ele vive na eternidade. O parâmetro de lá é outro que excede e transcende os nossos. que está no tempo imaginário da m inha história. Mas eu. eu poderia muito bem parar por três horas e pensar com toda calma a res­ peito de M aria. um ambiente)”. mil anos é um dia e um dia é mil anos.S. Por isso é Deus. Para M aria. assim: ‘M aria terminou o seu trabalho. Para Ele. que sou o cria­ dor de M aria. Mas pode dar um vislumbre do que creio ser verdade. porque esta ‘dimensão de Deus’. assim como um autor não está sujeito ao tempo imaginário do romance que escreve. por assim dizer. Somos humanos. “Quem somos nós para descrevermos e detalharmos tudo de Deus e suas peculiaridades? O que Ele quis revelar podemos alcançar. e antes de escrever a segunda. porque eu não a meço. não é realmente uma dimensão. ou não revelou como. e faça um período com duas sentenças. Nossas lógicas e deduções só servem perfeitamente para o humano e visível”. tanto faz um dia como mil anos. é diferente de qualquer dimensão que existe ou possa existir. e as horas que gastasse nisto não apareceriam no tempo de M aria (no tempo da m inha história) de maneira nenhuma”. Não sabemos como pode ser. passado nem futuro —tudo é um presente glorioso. Uma dimensão pode ser medida. em seguida ouviu uma batida na porta’ . Essa não. inclusive.A SEDUÇÃO D NOVAS TEOLOGIAS AS dispensar a cada um de nós. como a nossa. temos a capacidade de afetar os cenários à nossa volta! Porém. Agora. Agora. M uita gente supõe erroneamente que a descoberta dos princípios da realidade subatômica im plica necessariamente em uma quase abolição ou rejeição dos princípios ou leis que regem a realidade macroscópica. os princípios quânticos nos fazem pensar também na responsabilidade humana. alertado para o erro de fazer isso. como se cada um de nós fosse a única pessoa neste mundo”. de Rhonda Byrne. Sua vida não se esvai momento após momento. morreu por nós. creio. Como assim? Ora. Não tem que lidar conosco em conjunto. para Deus ainda é 1940 e já é 1990. passaremos a ver o mau uso dos princípios quânticos na Filosofia e na Teologia. e não afirmando que temos mesmo algum poder de mudar os cenários à nossa volta ao estilo dos super-heróis dos gibis ou que pelo poder da mente ou pelo pensamento positivo podemos mudar tudo que quisermos. individualmente. como pregam livros de auto-ajuda como o sucesso O segredo . Quando morreu. A BUSCA TRESLOUCADA PARA TRASLADAR OS PRINCÍPIOS DA REALIDADE MICROSCÓPICA PARA A REALIDADE MACROSCÓPICA Acabamos de ver uma implicação natural da Física Q uântica que se relaciona com a Teologia Bíblica. Você está tão a sós com Deus como se fosse o único ser que Ele criou. Todo o mal decorrente do oba-oba filosófico e teológico em torno dos princípios da Física Q uântica é resultado da tentativa de trasladar esses princípios para a realidade macroscópica. Muitos cientistas têm. em segundo lugar. perceba que estou apenas usando o que acontece na realidade subatômica sob a influência do observador como ilustração da responsabilidade humana no mundo macroscópico. . de acordo com o que podemos depreender do Princípio da Complementaridade. não vive ab­ solutamente num a sucessão temporal. da mesma forma que o observador. Mas Deus. pode afetar o objeto observado no mundo su­ batômico. Porque Ele é a sua própria vida”. “O ponto em que a minha ilustração falha é o seguinte: nela o autor sai de uma sucessão temporal (a real). TEOLOGIA QUÂNTICA C a p ít u l o 6 ou ainda na possibilidade de os princípios quânticos serem aplicados sobre a realidade macroscópica suprimindo as leis desta realidade. fascinados com os princípios quânticos. isso é mais do que possível. porque existe o que os cientistas chamam de “barreira de potencial”. Porém. sem dúvida. Então. não são poucos que. os princípios que regem a realidade macroscópica também estão mais do que provados. desprezando os princípios próprios desta realidade. vamos trazer esses dois princípios do mundo microscópico para o mundo macroscópico. seria como se um carro ou uma pessoa de repente pudesse atravessar uma parede sem destruí-la. também no mundo macroscópico. A idéia de uma M edicina Quântica é um bom exemplo. de repente. porque. porque assim como os princípios da realidade subatômica estão mais do que provados. mas. E mais: essas partículas também podem se transformar em outras partículas (Imagine um carro. tentam aplicá-los forçosamente à realidade macroscópica. pelo que se constata. pelo poder da mente. já que cada realidade tem suas características próprias. Digamos que os Princípios da Incerteza e o da Complementaridade se manifestassem. Uma partícula subatômica pode desaparecer aqui e aparecer acolá de repente. Em primeiro lugar. afirmam os físicos. a realidade subatômica existe com seus próprios princípios para manter a realidade macroscó­ pica com seus próprios princípios e leis. Tre­ mendo engano. Corpos macroscópicos não podem penetrar uma barreira de potencial. se transformar em uma árvore!) Essa transformação. pode ocorrer também em uma colisão de partículas (Imagine dois caminhões se chocando e transformando-se. Baseada em filosofias espiritualistas orientais e usando como justifica­ tiva científica a aplicação (forçada) dos princípios da Física Quântica ao . Eles não chegam a querer transformar carros em árvores. Mesmo assim. que podiam. Ignorar isso é “viajar” demais. imaginando que eles realmente são totalmente aplicáveis à nossa realidade visível. no mundo subatômico. E em segundo lugar. pensam que estão vivendo em uma realidade parecida com aquela em que viviam os per­ sonagens da série de filmes Matrix. mudar à realidade à sua volta e fazer coisas impossíveis. aplicar os princípios quânticos arbitrariam ente à realidade macroscópica é interpretá-la erroneamente. em seguida. sabemos. Só para ilustrar esse absurdo. Isso não é possível. um trem e um ônibus). Por isso. em três novas coisas: um carro. como fazem os super-heróis dos quadrinhos. às vezes. Eles o faziam pelo poder do Espírito Santo. 2Pe 1. em um congresso no Brasil. É o observador que determina o significado.mundo macroscópico. mas pela intervenção de Deus ou de seres de uma outra realidade na nossa realidade. Utopia pura. A Bíblia não diz que Jesus. Daí o desconstrutivismo. e assim curar determinadas doenças. Betto propôs “uma nova visão de realidade que supere os dualismos presentes em nosso saber e fazer. que também é apresentado como um ser (objeto observado) que sofre alterações por meio de sua interação com o ser humano (observador). 10. Não manipulavam nada. que afirma que o significado do texto deve ser buscado ignorando as intenções do autor. que propõe a desconstru­ ção dos absolutos. observador e observado. sujeito e objeto como aspectos de um mesmo existir”. que ressurgiu com um novo nome: Teísmo Aberto. milagres são possíveis? São. mas não devido a alguma aplicação de princípios quânticos à realidade macroscópica. a M edicina Quântica defende que o ser humano pode. Por isso. na desconstrução dos valores absolutos. convocando-nos rumo a uma visão holística do universo que integre mente e espírito. como não poderia deixar de ser. o pensador e escritor católico romano Frei Betto defendeu uma mudança de paradigmas no mundo com base nas descobertas da Física Quântica.18-23. A outra tentativa equivocada de trasladar os princípios quânticos para a nossa realidade é a transposição desses princípios para as ciências humanas. . vide a Filosofia.21. com o esforço de sua mente. ou outra coisa parecida. eles não podem ser comparados com supostos videntes e curandeiros de outras reli­ giões. A luz da Bíblia.38. O que é isso. J1 2. se não a aplicação descabida do Princípio da Indeterminação? A trasladação desses princípios à Teologia produziu. se não a aplicação descabida do Princípio da Complementaridade à Filosofia? E o que é a atual ênfase no relativismo. os discípulos ou os profetas do passado cura­ vam ou faziam declarações premonitórias pelo poder da mente ou porque aprenderam alguma técnica de manipulação de realidades. Recentemente. pois não são a mesma coisa. E o que veremos no capítulo seguinte ao falarmos da Teologia do Processo.28). outro absurdo: a Teologia Quântica. alterar a matéria e a energia. não pelo poder da nossa mente. não usavam técnicas espiritualistas e repreenderam quem queria comprar a suposta “técnica” (At 8. a exaltação da incerteza como a maior virtude e enaltece o livre-arbítrio humano em detrimento da soberania de Deus. Isso significa que jamais teremos pleno conhecimento do mundo su­ batômico”. Racionalismo e de­ terminismo seriam as chaves para se chegar ao conhecimento cientí­ fico. de Werner Heisenberg. Articulou as duas concepções que. de Niels Bohr. especialmente as ciências humanas: “No mundo quântico. preconceitos e superstições. Ocorre uma migração de sentido que nos faz pensar que a incerteza quântica se faz presente não só nas partículas subatômicas. que é um exemplo clás­ sico de até onde pode chegar a transposição dos princípios quânticos à Filosofia e à Teologia: “Os paradigmas da modernidade sustentam-se na filosofia de Descartes e na física de Newton. quem determina como será a História. são contraditórias e aplicou tal princípio a outras áreas do conhecimento. que foi o de aplicar o determinismo e a Física Mecânica a todas as demais áreas de conhecimento. mas não as duas coisas ao mesmo tempo. é. Betto lembra que o próprio Bohr. caiu na tentação de fazer essa transposição dos princípios quân­ ticos para outros ramos da Ciência. à luz da Física Clássica. livre de interferências subjetivas. portanto. numa interação de complementaridade. Heisenberg pretendeu demonstrar que jamais poderemos conhecer tudo sobre os movimentos de uma partícula. decretando que o sujeito da História. entre observador e observado. e o princípio da complementaridade. A transposição da mecânica clássica às ciências sociais sugeriu que um determinismo histórico regeria as sociedades para formas mais perfeitas de convivência humana. As imutáveis e previsíveis leis da natureza em sua dimensão macroscópica não se aplicam à dimensão microscópica. Sobre essa interação. “O prin­ . E mais: exalta exacerbadamente o livre-arbítrio humano. porém a queda do Muro de Berlim derrubou também tal aplicação”. o homem. como ressaltava Bohr. definitivamente. Betto chega às raias de aplicar a Física Quântica ao entendimento da História. Pode-se conhecer a posição exata de uma partícula ou a sua velocidade. cometendo o mesmo erro que apontou nos pensadores de gera­ ções passadas. Na seqüência. Revoluciona nossa percepção da natureza e da história”. torna-se necessário formular novos paradigmas levando em conta dois parâmetros fundamentais derivados da Física Quântica: o princípio da indeterminação ou da incerteza. dual e dialógica. ergue-se a visão holística do universo: há uma íntima e indestrutível conexão entre tudo o que existe. fascinado com o que descobrira. a natureza é. “Para não cairmos no caos e no acaso.C a p ít u l o 6 Segue conteúdo da ementa de sua palestra. A SEDUÇÃO D NOVAS TEOLOGIAS AS cípio da indeterminaçao aplica-se também à História. A ótica quântica resgata a liberdade humana e reinstaura o ser humano como sujeito histórico. os princípios absolutos da Palavra de Deus são relativizados na Teologia Q uântica. só falta fazer com que o ca­ pital esteja a serviço da felicidade humana. mas que não resulta na abolição da Física Clássica. Nessa teologia. Em cada um de nós essa dimensão dual também se manifesta. como análise e intuição. DEUS E A TEORIA DO CAOS Nessa busca constante. E como se não bastasse isso. que tira Deus da posição de Senhor da História e entrega essa função ao homem. que se alia à Teologia Narrativa e à Ortodoxia Generosa (ambas com um pano de fundo filosófico que se inspirou nos Princí­ pios da Indeterminação e da Complementaridade) com o objetivo de abrigar um discurso inter-religioso (ecumenismo). concretamente. rumo à epistemologia holística. Ela não revoga a Física Clássica. porém o máximo que provou é que a Física M ecânica só pode prever aconte­ cimentos futuros limitados. permanece como desafio e meta. os princípios quânticos foram alçados praticamente a dogmas salvíficos. Não há leis ou cálculos que prevejam o que fará um ser humano. Então. Trata-se de uma teoria consistente. para encon­ trar. superando toda tentativa de atomização e realçando a sua inter-relação com a natureza e com os seus semelhantes”. Essa teoria surgiu originalm ente com o intuito de tentar provar que os princípios quânticos também são aplicáveis no mundo macroscópico. A pluridisciplinaridade. ainda estamos longe da unidade. nas religiões recupera-se a dimensão mística. na política fala-se cada vez mais em ética. no mundo macroscópico. reencontraremos as veredas do Éden”. mas há sinais de otimismo: a cartesiana m edicina ocidental abre-se à acupuntura. sobrepondo-se. Finalmente. um resultado positivo: a Teoria do Caos. de algumas décadas para cá. apenas diz que esta nem sempre pode ser aplicada no mundo . Betto arremata propondo a trasladação dos princípios quânticos a todas as áreas da vida como sendo a salvação da hum ani­ dade: “Na prática. razão e coração. inteligência e fé. os cientistas só produziram. algo que se assemelhe à incerteza e à surrealidade do mundo subatômico. tentando. chegarmos com precisão aos resultados almejados. os princípios cartesianos e. enunciado pela prim eira vez pelo matemático e meteorologista norte-americano Edward Norton Lorenz em 1963. mas sem a ilusão de afirmar que. se conseguirá chegar a um resultado perfeito (porém apenas a um resultado mais próximo da perfeição). em tese. seres humanos. muitos acontecimentos continuariam imprevisíveis. mudar o clima ou provocar uma tormenta ou mesmo um tufão na outra extremidade do globo. a partir dessas variá­ veis. podem. e não há como saber tudo sobre todas essas relações. no espaço de tempo de semanas. maximizar o quanto possível a precisão do resultado. proporcionariam às nossas análises e previsões uma grande possibilidade de acertos. com os acontecimentos aleatórios que. Sendo impossível dispor de tal sistema. para se ter uma previsão meteorológica de extrema precisão. é impossível se executar uma previsão determ inista. apesar de podermos acumular muitos conhecimen­ tos que. mas porque nem sempre nós. as variações no merca do financeiro. a Teoria do Caos? Ela tenta trabalhar com os comportamentos casuais. os meteorologistas teriam de estar de posse de todos os dados necessários. enfim. Esse enunciado afirma que o bater das asas de uma borboleta numa extremidade do globo terrestre seria capaz de. de acordo com essa teoria. Ou seja. aparentemente. já que tudo no Universo estaria interligado. o Efeito Borboleta demonstraria a todos a impossibilidade de se prever perfeitamente os eventos climáticos no mundo. e esse conhecimento dos dados ainda deveria ser de uma precisão perfeita. então. afetar). dessa forma. como prova a Teoria do Caos. o que im plicaria na necessidade de se ter uma memória de processamento de dados super-ultra-hiper-avançada e de capacidade quase infinita. o que sig­ nifica que todas as coisas são afetadas ou afetam todas as coisas. ao final. todas as variáveis possíveis e necessárias sobre um determinado assunto para aplicarmos. não porque haja falha nas leis do mundo macroscópico. Portanto.C a p it u l o 6 macroscópico. os movimentos de placas tectônicas e o crescimento de . sim. O que propõe. temos condições de ter em mãos. não afetariam o resultado de uma previsão (mas que. simultaneamente. que são em uma quantidade quase infinita. Uma das mais famosas ilustrações da Teoria do Caos é o denominado B utterfly E ffect (Efeito Borboleta). Segundo Lorenz. Os cálculos da Teoria do Caos são usados principalmente para des­ crever e entender os fenômenos meteorológicos. 5). Hebreus 4. desde a antiguidade. Entretanto. mas para Deus. Porém. o que também é impossível. e ninguém há que possa fazer escapar das minhas mãos. O salmista declarou que “o Seu conhecimento é infinito” (SI 147. apenas um ser tem essa capacidade: Deus. para descrevermos perfeitamente as variações do mercado financeiro. teríamos que conhecer todas as variá­ veis desse universo. porque. antes de o tempo ter sido criado].DAS NOVAS TEOLOGIAS populações. teríamos que dominar todas as informações que pudessem im plicar em alguma mudança nesse crescimento.2) e Deus mesmo afirma que é o único que anuncia “o fim desde o princípio e. a teoria nunca apresenta suas descrições como perfeitas. em nenhum momento. é certo que a Física Quântica e a Teoria do Caos com­ provam que o Universo em que vivemos é muito mais complexo do que os cientistas supunham anteriormente. voltamos a frisar. Só Deus pode prever todos os movimentos e saber todos os resultados. Só Ele conhece todas as variáveis e tem tudo sob controle. afirma que é impossível prever precisamente as variáveis porque essas variáveis não se deixam conhecer. que apesar de ser tão incisiva ao declarar que existe uma im previsibilidade no mundo macroscópico. não. A SEDUÇÃO TEOLOGIA QUÂNTICA = TEÍSMO ABERTO Como vimos.13 diz que “to­ das as coisas estão nuas e patentes” diante dEle. para descrevermos perfeitamente os movimentos das placas tectônicas. Por isso Jó diz que nenhum dos planos de Deus podem ser frustrados ou impedidos (Jó 42. Ora. e para prevermos perfeitamente o crescimento populacional. posto que é presciente e onisciente. ou seja. teríamos que conhecer todas as variáveis relacionadas a esses movimentos. Eu sou. e isso é igualmente impossível. pois Ele conhece todas as variáveis. “Ainda antes que houvesse dia [isto é.10). porque nós não temos a condição de conhecer todas as variáveis ao mesmo tempo. a Teoria do Caos. tais afirmações não se chocam com as afirmações bíblicas nem apresentam nada de novo que . Note. porém.20 afirma que Deus “sabe de todas as coisas”.13). sim. quem im pedirá?” (Is 43. o que é impossível. 1 João 3. mas. sabe de todas as coisas antes de todas as coisas acontecerem. e o Seu “conselho será firme” e fará “toda” a Sua “vontade” (Is 46. as coisas que ainda não sucederam”. As coisas são imprevisíveis para nós. operando eu. onde inclusive a onisciência e a onipotência de Deus são diminuídas e limitadas em nome da imprevisibilidade. E é o que veremos no próximo capítulo. criando um verdadeiro “caos teológico”. os cristãos emergentes força­ ram uma transposição desses princípios para sua teologia. forçosamente.Ca p ít u l o 6 resulte. . em uma “mudança de paradigmas”. fascinados com essas afirmações da Física Q uântica e da Teoria do Caos. como também vimos. Entretanto. Isso se chama Teísmo Aberto. “mudança de cosmovisão” ou em uma “revolução teológica”. . e têm influenciado muitos com seu discurso. Isso porque se apresenta de tal forma e com argumentos sentimentais que enreda o cristão simples com facilidade. Não são poucos os que já aderiram ao Teísmo Aberto e nem notaram ainda. Teologia Relacionai ou Teologia do Processo. U . que não honra a Deus nem a Bíblia. igrejas e púlpitos em nossos dias atende pelos nomes de Teísmo Aberto. O Teísmo Aberto surgiu em meio ao debate entre duas correntes teológi­ cas: o arminianismo e o calvinismo.Teísmo Aberto: alternativa sadia ou heresia? m dos modismos teológicos que mais crescem em seminários. O Teísmo Aberto é um falso ensino que está ganhando seguidores no Brasil e no mundo de forma sutil. Alguns nem sabem que aquilo em que acreditam chama-se Teísmo Aberto. Na ânsia de defender o arminianismo. pu­ blicações. alguns teólogos. líderes e pensadores evangélicos descambaram para essa teologia liberal. movimento neopentecostal canadense que teve repercussão internacional no início dos anos 90. Teísmo Aberto é uma invenção teológica subcristã que declara que o maior objetivo de Deus é entrar num relacionamento recíproco com o homem. Spurgeon.ou Abertura —de Deus) ou Open Theism (Teísmo Aberto). eles carregam de emocionalismo seus argumentos. . Anos atrás. Mais recentemente. Trata-se de uma vertente da Teologia Liberal. apoiou a “bênção de Toronto”. Além de Clark Pinnock. Grandes servos de Deus da História eram calvinistas: Jonathan Edwards. ambos de caráter arminiano. Alguém pode ser arminiano ou calvinista e ser coerente biblicamente. ao Movimento Wesleyano e ao Movimento da Santidade nos Estados Unidos. apesar das diferenças entre as duas correntes na interpretação de determinadas verdades bíblicas. até que teve sua visão mudada. O problema de Clark Pinnock e seus companheiros é que desaguaram em um doentio liberalismo teológico. os nomes de Gregory Boyd e John Sanders se sobressaem entre os teólogos dessa nova visão. a doutrina de que no final todas as pessoas do mundo em todas as épocas serão salvas. islâmicos e religiosos de outras vertentes podem ser salvos sem aceitar Cristo. a crença de que budistas. etc. Do arminianismo. mais recentemente. abraçou o universalismo. O problema do Teísmo Aberto é que ele radicaliza. com grandes servos de Deus em sua história. Pinnock partiu para o pluralismo religioso. Aquele em que as pessoas caíam no chão emitindo sons de animais e rolavam no chão tomados por uma tal “unção do riso”. Em seguida. ou seja. Geralmente. nem as escolhas livres que suas criaturas ainda farão. é predominantemente arminiano. Inclusive as raízes do pentecostalismo remontam. Deus criou um mundo onde Ele pode ser afetado pelas escolhas dos homens. George Whitefield. por exemplo. Até aí tudo bem. esse pensamento é denominado Teologia da Abertura de Deus ou Teologia Relacionai. e Deus não conhece o futuro plenamente. O pentecostalismo tradicional. Outros grandes nomes. aderindo ao arminianismo. No Brasil. todas as referências bíblicas a Deus devem ser interpretadas sem qualquer antropomorfismo. Dizem que a Teologia Relacionai é até “mais espiritual” e apresenta um “Deus mais justo”.A SEDUÇÃO D NOVAS TEOLOGIAS AS $f|| O teólogo liberal canadense Clark Pinnock é o nome mais expressivo do movimento teológico denominado Openness o fG od (Sinceridade . onde o Criador é afetado pela criatura e aprende com ela. Clark Pinnock era conhecido como teólogo conservador de linha calvinista. como John Wesley e W illiam Seymour eram arminianos. tomando-se um perigo tanto para calvinistas quanto para arminianos. TEÍSMO ABERTO: ALTERNATIVA SAD IA O HERESIA ? U C apítulo 7 Sanders definiu a Teologia Relacionai como sendo algo que “conecta-se com a espiritualidade de alguns cristãos da história da Igreja. Desde então. uma teoria liberal muito comum no século XX e que. orarmos e respondermos ao problema do mal”. . Acreditamos que alguns aspectos desse modelo de Deus têm conduzido cristãos a interpretar mal certas passagens das Escrituras e desenvolver alguns sérios problemas em nosso entendimento de Deus em relação ao sentimento e à forma de vivermos. ao lado da Teologia do Processo. Os dois são os fundadores da Teologia da Esperança. particularmente quando falamos do que é chamado de ‘Teísmo Clássico’. esta­ beleceram a gênese do Teísmo Aberto. Queremos desen­ volver um entendimento da Trindade de Deus e do relacionamento de Deus para o mundo que é biblicamente fiel e encontra consonância com a tradição.org/stories/voll4/ noO5/story4 . Pinnock afirmou que os teólogos ale­ mães Jurgen Moltman e Wolfhart Pannenberg influenciaram suas idéias. Em outras palavras. Muitos cristãos sentem que nossas orações ou a falta delas podem fazer diferença quanto ao que Deus fará na História. que não tem tanto controle sobre as coisas. FILHO DA TEOLOGIA DA ESPERANÇA E DA TEOLOGIA DO PROCESSO Em entrevista à Christian Week. Não é à toa que essa teologia espúria começou a se propalar no Brasil depois do terrível Tsunami do Natal de 2004. que ceifou a vida de milhares de pessoas. acre­ ditam que é um Deus mais palatável para as pessoas que querem entender o problema do mal no mundo sem culpar a Deus. mas acreditamos que alguns aspectos da tradição precisam ser reformados. no original em inglês. Concordamos com o cerne dos princípios da fé cristã. no site christianweek. mais vulnerável.htm. A entrevista de Pinnock pode ser lida na íntegra. os pilares desse pensamento têm sido largamente divulgados em nosso país. A Abertura de Deus é uma tentativa de pensar mais consistentemente o que significa Deus estabelecer relações pessoais com a humanidade. Por isso. especialmente quando oram. Alguns líderes e pensadores cristãos aproveitaram esse contexto para fazerem declarações pró-Teologia Relacionai. o Teísmo Aberto apresenta um Deus mais humano. é teologicamente coerente e melhora a forma como vivemos nossa vida cristã. segundo ele. tem sido relegado pelo cristianismo nos últimos tempos. “pode estar errada”. Moltman afirma academicamente algumas das propostas que Brian Mclaren defenderia posteriormente. não devendo mais se insistir na mensagem da “Salvação espiritual. Por exemplo: em seu livro Teologia da Esperança (1964). desapercebido. que deve ser considerado principal. o teólogo alemão afirma que a missão da Igreja deve ser reinterpretada. que não está além do tempo. em seu recente A mensagem secreta de Jesus. Para ele. Em seu O Deus crucificado (1972). “a realização da esperança da justiça. Tratam-se de conceitos perigosos à fé bíblica. mas apenas possível e não usufruída por opção própria de Deus. Para os dois. Alguns respondem: “O que a Teologia Relacionai tem a ver com os teólogos liberais alemães?” Tudo a ver! O Teísmo Aberto é só uma versão popular do velho liberalismo teológico alemão e que não se apresenta como tal para que o leitor incauto não ligue o seu “alerta” interior e. e em linguagem popular. em Urna ortodoxia generosa.A SEDUÇÃO D NOVAS TEOLOGIAS AS O Teísmo Aberto tem muito em comum com a teologia de Moltman e Pannenberg. muitos dos conceitos teológicos da ideologia emergente são exatamente o velho liberalismo teológico alemão revisitado e apresentado com nova roupagem para esta época “propícia” da Pós-modernidade. Aliás. individual e pessoal” (o que Mclaren chama. muda e é vulnerável. Ele se arrisca. apresentando Deus como um ser passível. impressiona­ dos quando é dito a eles que estão adotando conceitos do liberalismo teológico. Deus tem um futuro cheio de possibilidades pela frente. John Sanders e outros defensores da Teologia Relacionai. É engraçado ver adeptos do Teísmo Aberto ficarem. por exemplo. de “a velha história da cruz” que. a socialização da humanidade e a paz para toda a criação”. Todas essas visões são comuns na Teologia Relacionai e foram herdadas de Moltman e Pannenberg por Pinnock. para eles. por isso. Além disso. Ele declara ainda que esse “outro lado da missão cristã”. deve ser entendido como “um sofredor de amor”. menos acadêmico. Moltman enfatiza a imanência divina em detrimento da transcendência divina. Em sua obra. às vezes. não significando uma imutabilidade literal. o ecumenismo religioso é uma necessidade premente. Para Moltman. mais apelativo emocionalmente e mais palatável de que se utiliza o Teísmo Aberto. se abra para ser seduzido paulatinamente pelo discurso sutil. a imutabilidade de Deus deve ser reinterpretada. mas sempre nele e. que influenciou a Teologia da Libertação. sim. “Deus só não pode ser forçado a mudar ou a sofrer alguma coisa externa . devendo ganhar uma nova interpretação). assim. Moltman assevera que a principal função da Igreja não é a mensagem da remissão dos pecados. mas. No primeiro. o que dizer do fato de que em O Caminho de Jesus Cristo (1989) o teólogo liberal alemão pregou “uma nova abordagem da igreja para o mundo pós-moderno”. E no segundo. Moltman insiste em sua argumentação que tal visão de Deus é correta. permitir outros fazeremNo sofrer” (Pensamento cristão volum e 2 — Reforma à M odernidade.C apítulo 7 a Ele mesmo. Para Moltman. mas adota a idéia de Moltman. sua doutrina da passibilidade de Deus. Mesmo que aqueles. destacando a bela harmonia entre as três Pessoas da Trindade. a relação entre os emergentes e os liberais alemães é enorme. Moltman defende a necessidade de uma ênfase na ética de Jesus e não na crença certa sobre Jesus. ele as­ severa mais ainda. não confessem isso. fa­ lando especialmente de pobreza e crise ecológica. não podemos falar de um Deus de amor. 2000). . Ele é livre para perm itir a Si mesmo ser modificado pelos outros. Engraçado que o “verde” Mclaren também propugna em seus livros idéias semelhantes às que Moltman apresentou em Teologia da Esperança (1964) e em Deus na Criação (1985). Tony Da Lane. cuja inspiração veio ao estudar a bela abordagem que um teólogo russo da Igreja Ortodoxa do século XV fez sobre a Trindade. especialmente no último. além de detalhar mais seu pensamento. aceita sofrer de amor e “se abre para a possibilidade de ser afetado por Suas criaturas”. Em A Igreja no Poder do Espírito (1975) e A Trindade e o Reino de Deus (1980). mais significativamente ainda. defenderia em linguagem mais popular em Uma ortodoxia generosa e A mensagem secreta de Jesus. como é o caso da “doutrina social da Trindade”. mas isso não exclui duas outras possibilidades: Deus é livre para mudar a Si mesmo e. Deus só pode ser amor se Ele se deixa ser afetado e mudado por Suas criaturas. No primeiro. No segundo livro. muitas vezes. se não crermos assim. que diz em A Trindade e o Reino de Deus que “a ênfase na unidade de Deus tem levado a regimes autoritários e repressivos na igreja e na sociedade”. Ressalta o teólogo alemão que. seu seguidor não-confesso. defende também posições que Brian Mclaren. Ele diz que Deus. fala do futuro estar aberto “tanto para Deus quanto para os homens”. voluntaria­ mente. e afirma que os princípios do Sermão da Montanha têm um caráter e uma aplicação claros à área política (Alguém viu isso em A mensagem secreta de Jesusí). Ou seja. o alemão sustenta uma “doutrina ecológica da Criação” com ênfase na imanência divina em detrimento da transcendência divina (Alguém viu isso em Uma ortodoxia generosa?) . Abba Press. Mclaren não usa o termo. que “não prejudica a soberania de Deus”. Aliás. mas é o Deus que vem a ser. posto que foi ele quem inspirou os dois teólogos. Pannenberg assevera que o homem é livre e capaz de mudar o mundo e não um prisioneiro do pecado. no seguinte endere- . evolui. assim como para Moltman. Deus sofre mudanças. até mesmo para Deus”. engajando-se na transformação da sociedade. que consertará tudo. Nessa interação. Califórnia (EUA). envolvido pelo Universo que criou. imutável. Enfim. terá chegado o Reino de Deus. Finalmente. como afirma John Cobb em Charles Hatshorne: The Einstein o f Religious Thought. Segundo eles. Deus não é o Deus que é. quando ele o fizer. irmã da Teologia da Esperança. “o futuro trará algo totalmente novo. Antcristo. E detalhe: até Deus. Já a Teologia do Processo. criar novas possibilidades para os demais agentes.12-14).A SEDUÇÃO D NOVAS TEOLOGIAS AS (j^J E Pannenberg? Em seuv4 revelação com o história (1961). que apesar de Whitehead e Hatshorne terem sido os principais formuladores dessa teologia. que afirma: “Eu sou o que sou” (Êx 3. Pannenberg coloca a ressurreição de Jesus como evento acima da crucifi­ cação. é importante dizer que para Pannenberg. de acordo com as palavras desses dois teólogos. não falando nada sobre a mensagem da cruz como remissão dos nossos pecados (Já notou como os emergentes. etc. Grande Tribulação. O homem tem o poder de mudar o mundo e. Para ele. não gostam muito da “velha história” e do assunto pecado? Bem diferente dos cristãos bíblicos: Colossenses 1. envolvendo-se em obras e causas sociais. mas na obe­ diência humana. já que tem diante de si. sofre mudanças também.14). o Deus da Teologia da Esperança não é totalmente Deus. Ele não crê em Arrebatamento da Igreja. É importante dizer. porém. O Cristo que morre e ressuscita representa a humanidade que pode ser restaurada a um estado social perfeito se dedicar-se para isso. assim como os teólogos liberais. interagindo com ele. Bem diferente do Deus da Bíblia. 1897-2000 (o texto pode ser encontrado no site do Centro de Estudos do Processo de Claremont. o nome do filósofo Charles Sanders Peirce não pode ser esquecido. “um futuro cheio de possibi­ lidades”. Outros no­ mes conhecidos por trás dessa teoria são John Cobb e David Ray Griffin. a ressurreição de Jesus é importante para o teólogo alemão apenas porque ilustra a restauração que os homens podem implementar no mundo. Deus não é. No Universo. Além disso. portanto. ele declara que o poder da promessa divina não está na fidelidade de Deus. foi fundada pelos teólogos Alfred North Whitehead e Charles Hatshorne. pelo Seu livrearbítrio. Essa doutrina propõe que o Universo vive em um inescapável processo de mudança determinado pelos agentes do livre-arbítrio. a tarefa de Deus é apenas. o homem pode apressar a chegada do Reino de Deus. somos co-criadores com Deus e co-criadores de Deus.. Essa teologia ensina que quando fazemos as escolhas que moldam nossa vida e experiência. Em seguida. no que é conhecido como Teísmo Aberto. No sentido pleno do termo. que. do qual .org). chegou a dizer que Peirce “foi um dos poucos pensadores que me causaram mais influência”. isso não é panteísm o (tudo é Deus). a alma do mundo. escreve Nancy Pearcey: “Peirce tinha fortes impressões quanto à religião. visto que nossa vida dá forma concreta à vida divina.. surgimento e possibilidades imprevisíveis. CPAD. também moldamos a Deus e suas experiências. com Ele.. inovação. a Teologia do Processo rompe-se totalmente com o teísmo tradicional. em processo teleológico chamado de amor evolutivo’. Onde já ouvimos essas idéias em nossos dias? Na Teologia do Processo. 1961. publicado no livro The Shaping o f American Religion (Princenton University Press. que não sabe o que vai acontecer de antemão (Ele não é onisciente). Deus é um espírito divino que evolui no mundo e. quando descreveram que um universo em evolução é um universo aberto’ —um mundo de novidade.. por exemplo. Em suma. Um detalhe interessante: o filósofo James Ward Smith. 2006). 421). mas panenteísm o (tudo está em Deus). (.) A Teologia do Processo ensina que Deus e o mundo estão em processo de mudança e evolução constante. (. “É surpreendente que alguns destes mesmos temas respingaram em círculos evangélicos. nem tem todo o poder de impedir que o mal aconteça (Ele não é onipotente). Pearcey ressalta o que muita gente já percebeu há muito tempo: que o Teísmo Aberto nada mais é do que uma cria da Teologia do Processo (e como já vimos. Em lugar disso. onde o mundo físico é uma emanação concreta da própria essência. porém menos­ prezava suas formas tradicionais e ortodoxas. Nancy Pearcey. fruto de um cruzamento desta com a Teologia da Esperança). propôs uma forma de pampsiquismo (tudo no universo tem uma mente ou consciência). promo­ vido por Clarck Pinnock e outros. a vida cósmica evolutiva da qual a nossa vida faz parte.) Ao colocar o próprio Deus dentro do vínculo evolutivo.TEÍSMO ABERTO: ALTERNATIVA SADIA O HERESIA ? U C apítulo 7 ço: www. ou Deus. Hatshorne. dizem. que não pode ser conhecido com antecedência nem mesmo por Deus” {Verdade Absoluta. Ela assevera que Deus é limitado. em seu texto Religion and Science in American Philosophy. Sobre a influência de Peirce sobre a Teologia do Processo. p. O próprio termo imita a linguagem dos [filósofos] pragmatistas [como Peirce].ctr4process. é o movimento que mais cresce nos seminários em voga hoje. Deus simplesmente evolui com o mundo durante o curso da História”. Previu o cosmo evoluindo para a Mente ou o Absoluto. Já percebeu que muitos emergentes aceitam a Teoria da Evolução de Darwin? Não nos admira terem. mesmo sua imutabilidade. como já vimos. 2000). este atributo divino é normalmente enfatizado em detrimento a todos os demais atributos de Deus. dois dos prin­ cipais nomes do Teísmo Aberto. O Teísmo Aberto ou Teologia Relacionai ensina. isto é. Um detalhe interessante: tanto Pinnock como Sanders. mas não esconde nela sua simpatia em relação à visão universalista. são universalistas. sua onisciência e sua onipotência. se referindo à Teologia do Processo. crêem que. adotado a visão de um Deus imanente. Porém. afirma. Uma abordagem sobre a visão pluralista e universalista de Pinnock e Sanders pode ser vista no livro Cristo entre outros deuses . No capítulo 11. que “com o advento da evolução. no final. todo mundo vai ser salvo. a Bíblia nos apresenta todos os atributos divinos coexistindo em equilíbrio. a tendência dos que levaram a Ciência a sério era conceber Deus cada vez mais imanente no processo mundial”. vamos conhecer seus pilares. Ele é amor e plenamente onisciente . OS CINCO PILARES DO TEÍSMO ABERTO Bem. Brian Mclaren. Todos os atributos divinos.A SEDUÇÃO D NOVAS TEOLOGIAS AS é um dos editores. basicamente. intitulado Uma pedra de tropeço extraordinária (pp. uma deidade finita que evolui no mundo e com ele. cinco coisas: 1 ) 0 maior atributo de Deus é o am or — Teologia Relacionai ou Teísmo Na Aberto. agora que já falamos sobre as origens do Teísmo Aberto. ele apresenta e rebate contundentemente o universalismo de Pinnock e Sanders expresso em suas obras. Deus não é amor e mais ou menos onisciente e onipotente. do professor Erwin Lutzer (CPAD. procura não afirmar ser universalista em sua obra Uma ortodoxia generosa. conseqüentemente. são diminuídos e reinterpretados para favorecer o atributo do amor. 193-209). 3). CPAD. O crente deve saber em quem tem crido.37).3-4). Joyner ressalta e desfaz esse logro: “Um antigo questionamento filosófico indaga: ‘Deus é capaz de criar uma rocha tão grande que Ele não possa mover? Se Ele não consegue movê-la. uma concepção frágil e deformada. quando dizemos que Deus é onipotente. SI 62. isso também comprova que Ele não é todo-poderoso’. a fará voltar atrás?’. Em Marcos 10. editor Stanley M.2. apesar de a onipotência divina ser asseverada inúmeras vezes nas Sagradas Escrituras.1) e a Jó (Jó 40. Deus é onipotente e justo ao mesmo tempo. Deus se apresentou como o Onipotente a Abraão (Gn 17.25-27. Is 14. Ele precisa saber e aceitar as qualidades naturais e morais de Deus.3). E se Ele não é capaz de criar uma rocha tão grande assim. Is 14. não estamos dizendo simples­ mente que Ele é poderoso.1-2). para que tenha uma idéia correta a respeito de seu Senhor. Um exemplo claro dessa afirmação de Jovner está no Plano de Salvação em Cristo. Ele demonstra que realmente tem a capacidade de realizar tudo quanto desejar: ‘Porque o Senhor dos Exércitos o determinou. e que esteja de acordo com o seu propósito? De acordo com os seus decretos. Jesus. Jó 42. quem. Essa falácia da lógica simplesmente brinca com as palavras e desconsidera o fato de que o poder de Deus está relacionado com seus propósitos”.C apítulo 7 e onipotente (Gn 17.1.18). Horton. Dn 4. 43.14.27” (Teologia Sistemática — perspectiva pentecostal. e sem Ele nada do que foi feito se fez” (Jo 1. “A pergunta mais honesta seria: Deus é poderoso para fazer tudo quanto pretende.10). E mais: “Todas as coisas foram feitas por Ele. quem pois o invalidará? E a sua mão estendida está. A Bíblia não apresenta incoerência na coexistência dos atributos de Deus. Lc 1. Ele “sustenta todas as coisas pela palavra do seu poder” (Hb 1. logo Ele não é todo-poderoso.35. e não uma concepção com base apenas na intuição e no “achismo”. Deus encarnado. O vocábulo oni significa “tudo” ou “todo”.2. mas afirmando que só Ele detém todo o poder. Logo.27. SI 139. pois. 147. há pessoas que tentam filosoficamente desacreditá-la. 2 Cr 20. Is 46.5. uma 1996). O que é onipotência? É a qualidade de ter todo o poder. Um dos propósitos de Deus é salvar os seres humanos (1 Tm 2. usando de um infantil silogismo para tentar provar que é impossível algum ser no universo deter todo o poder.13. O teólogo norte-americano Russell E. Porém. Jó 42.6.11. Há muitas passagens na Bíblia que realçam esse atributo divino (Gn 18. afirmou que “todo o poder” lhe foi dado “no Céu e na Terra” (Mt 28. Jesus falou a seus discípulos que é impossível . não o homem. Deus vai definindo como será a História.. Uns dizem que Deus não pode conhecer o futuro porque o futuro não existe.11-12). só com o auxílio do homem. Assim. mas nenhuma decisão humana pode mudar aquilo que já foi estabelecido por Deus (Is 46. O futuro. O homem é o sujeito da História. porque “para Deus todas as coisas são possíveis”. Logo. mas também por seus sublimes propósitos. Deus pode predizer muito do que faremos. 2) Deus não é tão soberano assim —Para os seguidores desse neologismo teológico. porque algumas dessas decisões permanecem ocultas no mistério da liberdade humana (. está em aberto. podemos e devemos louvar a Deus não só pela sua onipotência. Diminui Deus e exalta o homem. Deus proveu nossa salvação por meio de Cristo (Jo 3. como diziam Moltman e Pannenberg. Há a vontade permissiva e a vontade soberana de Deus. A História não está sob o controle divino totalmente. Conforme as decisões dos homens. também nessa perspectiva. Portanto.. no sentido de o homem ter o poder de frustrar Deus e mudar as decisões divinas.16). até mesmo para Deus (sic)! Isso contraria frontalmente o ensino bíblico. mas para serem realizadas e não já reais. Segundo eles. O futuro só pode ser construído a partir da conjunção entre Deus e as decisões hu­ manas.O Teísmo Aberto acredita que Deus não conhece o futuro. Ele o ignora porque escolheu não saber o que virá (sic). 3) Deus não conhece o futuro . Outros teístas abertos afirmam que mesmo que Deus tenha o poder de saber o futuro. o futuro. Deus é o Senhor da História. mas não tudo. O homem pode tomar decisões e mudar contextos até onde isso não contrarie o que já foi determinado pelo Criador. mas isso não é impossível para Deus. e não pode realizar tudo que deseja. Deus se adapta à vontade e às decisões dos homens. o futuro está aberto até para Deus (sic). está em aberto para Deus. é impossível algum ser ter presciência.10).A SEDUÇÃO D NOVAS TEOLOGIAS AS !Í^|) ao ser humano salvar-se a si mesmo. todos quantos quiserem aceitá-lo sinceramente como Salvador e Senhor de suas vidas podem ser salvos hoje e agora (Jo 1. Por conseguinte. Os adeptos dessa teoria se dividem entre dois argumentos. Elas são potenciais. que nos garantem a Salvação. Em outras palavras. só pode haver pleno relacionamento entre Deus e o homem se o Criador construir a História com o auxílio do homem. Pinnock afirma: “ decisões ainda não feitas não existem de forma al­ As guma para serem conhecidas por Deus.) O Deus da Bíblia exibe uma abertura’ para o futuro . O ser humano tem autonomia para tomar suas decisões. Por isso. Deus arrependeu-se mesmo. Ele não sabia que decisões os anjos e os homens tomariam depois de criados. Ele não está preso ao tempo (SI 102. Ap 13. Ele aprende com as realidades à medida que elas vão acontecendo. é uma realidade que antecede o Criador ou coexiste com Ele. O Deus da Teologia Relacionai é vulnerável. Ou seja. Ele mudou de idéia. conheça algumas frases bastante recorrentes entre os adeptos desse neologismo teológico.6). o presente e o futuro como se fossem uma só coisa para Ele. A Bíblia diz que Cristo é “o Cordeiro de Deus imolado antes da fundação do mundo” (lPe 1.2). Deus é mutável. pp. Deus muda seus planos cons­ tantemente. 25 e 26). vendo o passado. e o tempo foi criado por Ele (SI 90. segundo eles. Deus já sabia de tudo que iria acontecer e de antemão elaborou o Plano da Salvação. .8). Um elemento importante desse pensamento é a crença de que Deus não está fora do tempo. comete erros. Ele não teve começo e não terá fim. são expressões humanas para tentar explicar ao ser humano Deus e suas manifestações. 4) Deus se arrisca — Deus se arriscou ao criar seres livres e racionais. a Bíblia diz claramente que Deus não se arrepende e Ele não muda (Nm 23. O tempo.TEÍSMO ABERTO: ALTERNATIVA SAD IA O HERESIA ? U C apítulo 7 que a visão tradicional da onisciência simplesmente não pode acomodar” (De Agostinho a Armínio.19-20. Isso é simplesmente ridículo. a Bíblia afirma que Deus é Eterno e transcendente (Is 57.15).19-20 e Ml 3. como Deus desconhece o futuro. Pinnock. aprende e muda — Segundo o Teísmo Aberto. Porém. Porém. aprende com eles e muda de posição. Ele é totalmente passível de influências do ser humano. Deus está dentro do tempo e sujeito a ele. os adeptos desse pensamento ensinam que é errado afirmar que quando a Bíblia fala que Deus “arrependeu-se” está usando um antropomorfismo. pois ignora as escolhas futuras delas.27). Tais frases denunciam claramente a ligação com o pensamento do Open Theism. Deus não foi e não é pego de surpresa! 5) Deus com ete erros. Para eles. Para o Teísmo Aberto. IDENTIFICANDO O DISCURSO DO TEÍSMO ABERTO Para melhor identificação do discurso do Teísmo Aberto. Ele não é como o ser humano. e ainda hoje o Criador se arrisca com suas criaturas. Deus sabe de tudo antes de tudo acontecer. O “arrependimento” de Deus é antropomorfismo mesmo. mas a defini­ ção de futuro. o termo onisciente significa “aquele que sabe de tudo”. Isaías 46. Porém. mas gostaria de destacar ainda Hebreus 4.13 e Salmos 31. Desonestamente. Então. o que Boyd está dizendo é o seguinte absurdo: “Não estou dizendo que Deus não sabe de tudo. Logo. numa ten­ tativa tresloucada de tentar mostrar que ainda crêem na onisciência divina. tal “onisciência” está em contraposição à verdadeira onisciência. ao mesmo tempo. Ora. O primeiro .1-18 (especialmente os versículos 2 a 4) são os textos mais conhecidos dentre os que afirmam claramente a onisciência de Deus (o conhecimento exaustivo de Deus em relação a todas as coisas passadas. Na verdade. mas. o que significa que Deus não saberia exatamente onde essas determinadas coisas vão dar. Deus teria que esperar para ver o que realmente vai acontecer em alguns casos específicos. O pior de tudo é saber que há pessoas inteligentes que conseguem ler uma declaração absurda dessas sem notar o erro de lógica crasso que reside nela. em seus livros e artigos. diz que não acredita que “essa onisciência seja plena ou exaustiva”. infelizmente. mas vamos aos textos bíblicos. detenhamo-nos um pouco mais na fragilidade dessa afirmação de Boyd. dizer que alguém “não é plenamente onisciente” ou “não é exaustivamente onisciente” é dizer que esse alguém não é onisciente. Para Boyd.5. de “onisciência em movimento”. que o TA chama de “estática”). Ele as descobriria aos poucos (o que o TA chama. estou dizendo que nem todo o futuro é conhecido por Ele”. Ora. Não posso mexer numa coisa sem deixar de afetar a outra. Boyd. porém. É simples: quando digo que para Deus o futuro está cheio de possibilida­ des (como acontece com o homem). se não é exaustivo. é ilógico dizer “creio na onisciência divina” e ao mesmo tempo “não creio que essa Guisa­ ência seja exaustiva”.A SEDUÇÃO D NOVAS TEOLOGIAS AS is ) Diz Boyd que há coisas no futuro que para Deus são apenas possibilidades.15 e 147. já estou partindo do princípio de que Deus não é onisciente. não é “oni”. Boyd repete que acredita que Deus é onisciente e. porque se não é pleno. presentes e futuras). O prefixo “oni” determina plenitude e exaustão nesse conhecimento.10 e Salmos 139. Boyd tenta camuflar sua descrença na onisciência de Deus. ele não é honesto para afirmar isso. joga com as palavras para confundir os desatentos. Bem. não é isso que a Bíblia ensina (e mais à frente vamos citar textos que mostram claramente isso). Antes. O problema mesmo dele é com a onisciência. logo está dizendo que Deus não é onisciente! Em alguns momentos. se você está dizendo que todo o futuro não é conhecido por Deus. Ao dizer que o problema não é a definição de onisciência. o futuro para nós é apenas um conjunto de possibilidades com só algumas certezas que temos por fé em Deus e na Sua Palavra. não meio-realidade e meio-possibilidade. Mas para Deus. não há acontecimentos futuros que sejam hoje só possibilidades para Deus. Deus não seria na verdade todo-poderoso ao pé da letra. Ele os conhece e é Ele quem permitiu que os aconte­ cimentos passados se tornassem realidade e permite que os acontecimentos presentes e futuros se tornem realidade.15). antes. Análise: Em primeiro lugar. mas também totalmente submissos a Ele. o que o escritor da Epístola aos Hebreus quis dizer mais profunda­ mente é que todas as coisas e acontecimentos (futuros. Ele seria apenas a fonte dos pode­ res que existem. O Seu conhecimento é infinito! O Senhor não manipula nossas decisões. pelo nosso livre arbítrio. à luz da Bíblia. Ele é o Criador de todas as coisas e por isso todo poder deriva dele. os acontecimentos passados. Ou seja. Como todos os arminianos. o futuro já é todo realidade. todas as coisas estão nuas e patentes aos olhos daquele com quem temos de tratar”.C apítulo 7 texto diz: “E não há criatura alguma encoberta diante dEle. Portanto. decidiremos a seguir e administra nossas decisões livres conforme Sua vontade absoluta e Sua vontade permissiva. Finalmente. Pela lógica que Boyd sugere. E isso é confirmado no segundo texto: “Os meus tempos [passado. Logo. Dizer que Deus é “todo-poderoso” para Boyd significaria . mas todos os acontecimentos futuros são realidades já conhecidas por Ele. o terceiro texto diz: “Grande é o nosso Senhor. Ora. não. para Deus. Objeção 2: A visão aberta mina a onipotência de Deus ‘Eu afirmo (porque a Escritura ensina) que Deus é onipotente. o seu conhecimento é infinito' (SI 147. eu também defendo que Deus limita o exercício de seu próprio poder para conceder livre-arbítrio àqueles que ele criou à sua própria imagem”. Ou seja. presente e futuro] estão nas Tuas mãos” (SI 31. Logo. e de grande poder.5). o termo traz a idéia também de submissão total. presentes e futuros estão todos sob o controle divino. mas Ele já sabe o que nós. passados e presentes) não são apenas totalmente conhecidos por Deus. pois é Ele que os permite (dentro de Sua vontade absoluta ou permissiva). Detalhe: o vocábulo usado no original grego nesta passagem e traduzido por “patentes” é o mesmo utilizado para descrever um lutador imobilizado pelo seu oponente. Deus não é todo-poderoso simplesmente porque todo poder deriva dEle. Aqui há uma meia verdade. Será sofrimento eterno. sofrerá por isso. Dentro dos parâmetros estabelecidos pelo Criador. Eu também afirmo (porque a Escritura também ensina) que Deus nos criou com a capacidade para amar. mas quem salva é Deus. não pode mudar Deus e. devemos aceitar que Deus na verdade deseja que algumas pessoas vão para o inferno. Há a vontade absoluta de Deus e a vonta­ de permissiva de Deus. Este apenas possibilita-o escolher ou não a salvação que só Deus poderá efetuar em sua vida (Mt 19. Ele tem mesmo todo o poder. é que deve escolher a vontade divina.14). Lucas 1. se for contra Deus. se não. Jó 42.9)”. os humanos têm algum grau de auto-determinação.4. Isso significa que em relação ao destino dos indivíduos particulares as coisas podem não se mostrar como Deus deseja. A Escritura nega isso (lTm 2. O homem não é salvo pelo seu livre arbítrio. Eseohom em não escolhe a salvação do Onipotente. mas também porque (1) tudo está sob o controle divino e (2) ninguém pode impedir Deus quando Ele deseja operar. a Bíblia diz que Deus é todo-poderoso não só por isso. Deus é mesmo onipotente. parâmetros que garantem tudo que Deus quer garantir sobre o futuro. em nenhum momento. Nem na oração isso acontece (ljo 5. dentro do seu livre arbítrio. iffi) Objeção 3: A visão aberta mina nossa confiança na capacidade de Deus para cum prir seus propósitos “Eu afirmo (porque a Escritura ensina) que Deus pode e garantiu tudo que quis sobre o futuro. 2Pe 3. se submete ao livre arbítrio humano. ao final. Ninguém! É só ler Gênesis 17. Análise-. O ser humano.1.25.26).A SEDUÇÃO D NOVAS TEOLOGIAS AS apenas isso. Os problemas estão apenas em dois pontos. ele se perde eternamente. Deus não limita o Seu poder por causa do livre ar­ bítrio humano.35. Aí tudo bem.2. Portanto.6 e Daniel 4. Em segundo lugar: Quem disse que o arminianismo afirma que o fato de Deus criar os seres humanos com livre arbítrio significa necessariamente que Deus limitou a Sua onipotência? É o velho hábito dos teístas abertos de tentarem camuflar seus erros colocando-os desonestamente na conta do arminianismo. Para os arminianos. . Se fosse o livre arbítrio que salvasse. e dentro desta última o ser humano pode tomar decisões particulares.13. Porém. posto que o homem. visto ser ele onipotente. Se negarmos isto. alguém poderia dizer que Boyd está certo. em seu livre arbítrio. A vontade de Deus.37. 2Crônicas 20. sofrerá as conseqüências de sua decisão e nada que o homem venha a fazer posteriormente poderá reverter isso. é errado ver o livre arbítrio como uma limitação da onipotência divina. e por isso nos capacitou a tomar decisões de algumas questões por nós mesmos. Isaías 43. Deus está no controle. A onipotência divina não é afetada (ou “limitada”. Além disso. esse é outro dos tremendos assaltos à lógica que o Teísmo Aberto pratica. Logo. que a Escritura ensina que o futuro deve ser predeter­ minado. Ele administra essas ações. Antes. A capacidade que Deus dá aos homens de tomarem decisões particulares não significa limitação no poder de Deus. para Deus ser perfeito. Se Deus não é mais onipotente e onisciente. entretanto. fruto do livre arbítrio. Análise: Ora. Ele não seria onipotente ou. o ser humano é que muitas vezes não deseja a salvação divina e sofrerá por isso. portanto. não se agrada delas. O fato de o ser humano ter o livre arbítrio para rejeitar a salvação oferecida por Deus não significa que Deus. ou na mente de Deus ou em sua vontade. E o argumento que Boyd usa para dizer que isso não é verdade simplesmente não tem nada a ver com o assunto. outra vez Boyd. como dizem os teístas abertos. desonestamente. Essas ações livres do homem não limitaram Seu poder porque estão todas elas sujeitas ao Seu poder e cada uma delas terá sua recompensa segundo o Seu poder. Isso porque essas decisões particulares. mas Ele soberanamente as administra. perfeito. no fato de que a concepção de Deus do Teísmo Aberto — que apresenta Deus como não sendo onipotente (não tem todo o poder) nem onisciente (não sabe de tudo) — afeta mesmo a garantia de que Deus cumprirá tudo que diz. logo Ele não é mais perfeito. O que faz Deus ser Deus. o segundo problema está na confusão que Boyd faz entre o desejo de Deus que todos se salvem e a onipotência divina. creio que a perfeição de Deus é mais exaltada quando o entendemos ser tão transcendente em seu poder a ponto de genuinamente conceder livre-arbítrio aos agentes moralmente responsáveis”.C apítulo 7 Primeiro. Deus pôde e pode salvar. Eu não vejo. cometendo um erro de lógica. Ele não as provocou (no caso das decisões pecaminosas). mesmo aquelas decisões que ofendem a santidade divina. não teve o poder para salvar o ser humano (logo. tenta . se não é pleno já não é “oni”]). “não seria plenamente onipotente” [ora. que são únicos e O distinguem de todos os outros seres. não as incentivou. Objeção 4: A visão aberta mina a perfeição de Deus “Eu afirmo (porque a Escritura ensina) a absoluta perfeição de Deus. como dizem os teístas abertos) pelo livre arbítrio quando o ser humano recusa Deus. Por sua vez. são justamente seus atributos. Elas são realizadas dentro da vontade permissiva de Deus. Não está em questão a capacidade de Deus salvar. não são realizadas fora da vontade de Deus. bus­ camos a Sua presença. A oração não muda a vontade de Deus. nós é que mudamos nosso comportamento em relação a Ele. ensinou que devemos orar para que seja feita a vontade de Deus na Terra “assim como no Céu” (M t 6. O texto que Boyd usa em seu favor vai exatamente contra seu en­ sinamento. pelo fato de minha concepção perm itir que o futuro seja um tanto aberto.14). Jesus. que sempre quer nos abençoar. Deus nos abençoa. não altera-o conforme nossa vontade. mas para que seja feita na Terra a vontade do Céu. Mas não é isso que a Bíblia diz. A nálise: O nosso relacionamento com Deus não muda Deus. Para o Teísmo Aberto. . Ou seja. não Deus. Nessa passagem. Objeção 6: A visão aberta não pod e explicar a profecia bíblica “Eu afirmo (porque a Escritura ensina) que Deus pode e determina e prevê o futuro sempre que for adequado aos seus soberanos propósitos agir assim. Não é Deus que muda Seu comportamento em nosso favor. aceitando a vontade de Deus para nossas vidas. nos abençoa. altera a vontade de Deus. A questão é nosso comportamento. Realmente. Um exemplo: 2Crônicas 7. as ações e orações do homem afetam Deus no sentido de fazer com que a von­ tade dEle seja alterada. e então Ele. Ele estava ensinando que a oração não é para que seja feita no Céu a nossa vontade na Terra. O bjeção 5: A visão aberta m ina a fo r ça da oração “Eu afirmo (porque a Escritura ensina) que a oração petitória é nossa mais poderosa ferramenta para realizar a vontade do Pai ‘na terra como no céu’. A Bíblia diz que Deus só atende à oração que é feita segundo a Sua vontade ( ljo 5. quando oramos com nosso coração aberto. na Oração do Pai Nosso.10). hum ilde e sinceros diante do Senhor. nos convertemos a Ele. está claro que quando nós mudamos.14. ao dizer que Deus. A oração. ao conceder o livre arbítrio. Por isso costumo dizer que Deus está mais interessado em nos abençoar do que nós em sermos abençoados por Ele. a vontade de Deus. em nenhum momento. estava automaticamente lim itando Seu poder e lim itando Seu conhecimento. o livre arbítrio do homem não im plica nem em uma coisa nem em outra. creio que faz mais sentido por causa da urgência e eficácia que a Escritura atribui à oração”. Como já vimos. Ela é que nos leva à vontade de Deus.vincular o Teísmo Aberto ao genuíno arminianismo. Análise: Sobre a primeira parte dessa afirmação. que o futuro seja exaustivamente determinado. à luz da Bíblia. Objeção 7: A visão aberta é incoerente “Alguns argumentam que é logicamente impossível para Deus garantir aspectos do futuro sem controlar tudo sobre o futuro. Quanto a essa história de relacionar de forma equivocada a Física Quântica à Bíblia. sugerindo que há coisas que são imprevisíveis para Deus. Análise: Já falamos sobre a falácia desse argumento também. Q u an to à seg u n d a p arte da afirm aç ão de B o yd .C apítulo 7 Mas eu nego que isto logicamente requer. O TA não é arminianismo. Objeção 8: A Escritura usada para apoiar a visão aberta pode ser interpretada como antropomorfismos fenom enológicos . assume que o Teísmo Aberto não tem nada a ver com o verdadeiro arminianismo. Esta objeção tem sido levantada pelos calvinistas contra os arminianos por séculos e não é mais pode­ rosa contra a visão aberta do que contra os arminianos clássicos. mas é exaustivamente conhecido por Deus. Mas. Tanto os calvi­ nistas quanto os arminianos concordam com essa afirmação. Deus é sábio o suficiente para ser capaz de cumprir seus propósitos enquanto concede às suas criaturas um grau significativo de liberdade”. sendo que a in­ terpretam de forma diferente. de passagem. a verdade é que o futuro pode não ser exaustivamente determinado. ou que a Escritura ensina. Só um detalhe: Deus controla tudo sobre o futuro? Sim. cuja única coisa que tem a ver com essa história toda é ter o desgosto de ver que o TA surgiu em seu meio. já f a la ­ mos m ais acim a sobre a falác ia do argum ento que en co n tra­ mos a q u i. Pelo menos aqui Boyd. Tudo na vida. e todas as livres ações dos seres humanos que Deus permite pela Sua vontade são administradas por Ele para que não firam seus propósitos eternos. já falamos no capítulo 6. da nossa experiência pessoal às partículas quânticas. E distorção do verdadeiro arminianismo. já o Teís-mo Aberto não concorda com essa afir­ mação. Deus administra as ações livres dos seres humanos. A lib e rd ad e de esco lh a do hom em não tem n ada a ver com lim ita ção de poder ou de co nh ecim ento de D eus. aponta para a verdade de que o eqüilíbrio previsível não exclui um elemento de imprevisibilidade”. Ora. portanto. nós é que nem sempre estamos no mesmo lugar onde Ele está (Sua vontade). Não significa dizer que Deus é como o homem. Objeção 9: A visão aberta dim inui a soberania de Deus “Pelo contrário. Inclusive. Entretanto. Êx 33-17)? E do que eles seriam con­ siderados como antropomórficos?” Análise: O “arrependimento” de Deus trata-se.7. Sua ação sobre nós também muda. Suas ações mudam na medida em que nós saímos do lugar em que Deus sempre esteve e nunca vai sair (Ml 3. E os textos que Boyd cita não contradizem isso. Ele não muda. lembremos que todas as orações de Moisés que Deus atendeu foram dentro da Sua vontade. nós é que mudamos e sofremos as conseqüências naturais disso.19). Jr 19-20. que Ele. Após descrever um imi­ . Desprezar esse fato é forçar uma contradição na Bíblia (compare ISamuel 15. Como podem relatos sobre o que Deus estava imaginando ser fenomenológicos (Jr 3. está afir­ mando. que “Deus se arrependeu”.6). autores e contextos. nada no contexto destas Escrituras. à medida que mudamos.10.“Esta declara que estas passagens são uma maneira humana de falar sobre coisas que parecem ser não como elas verdadeiramente são. sim. de uma linguagem antropomórfica para explicar a relação de Deus com o homem. Não se trata de um critério usado ao bel prazer. No último texto bíblico citado. Não há nenhuma razão para ler nestas des­ crições das ações de Deus qualquer coisa diferente da que sua mais natural explicação. Não perceber esse recurso claro no texto bíblico não só é desonesto como força uma interpretação de Deus que choca-se frontalmente com todo o resto do que a Bíblia diz sobre Ele. ela exalta a soberania de Deus. O antropomorfismo é um recurso lingüístico milenar que foi usado não só na Bíblia. Nós é que muitas vezes deixamos de ser ou fazer e. por exemplo). não contra a Sua vontade. Ele continua sendo o que sempre disse que era. mudou Sua ação sobre nós. não Sua vontade. sugere que sejam. Deus não muda.39. só em algumas passagens. A própria Bíblia nega isso contundente­ mente (Nm 23. Arrependimento significa “mudança de atitude”. nas Sagradas Escrituras encon­ tramos muitos outros recursos lingüísticos antiqüíssimos. cobrindo uma variedade de públicos. por causa de nossa mudança de atitude diante dEle. para atender ao gosto do intérprete da Bíblia (como dizem Boyd e outros). em linguagem antropomórfica.11 com 15.6. Não Sua vontade. quando a Bíblia diz. Deus está sempre no mes­ mo lugar. É claro o uso desse recurso nas Sagradas Escrituras. 11). e isso com jejuns.. já vimos que não exalta.. os argumentos de Boyd são um exemplo clássico de como um discurso envernizado e com tom piedoso pode esconder terríveis erros doutrinários e de lógica que só enganam os mais desatentos.TEÍSMO ABERTO: ALTERNATIVA SAD IA O HERESIA ? U C apítulo 7 nente julgamento. Como vemos. A interpretação desse texto é clara e pode ser feita facilmente à luz do que já explicamos principalmente nas análises às respostas dele às objeções 5 e 8. e tardio em irar-se. “ainda assim. e com­ passivo. Sejamos como os bereanos (At 17. diminui Deus. porque ele é misericordioso.12-14)”. .” (J1 2. Pelo contrário. E o texto que Boyd cita não o ajuda. e grande em benignidade. agora mesmo diz o Senhor: Convertei-vos a mim de todo o vosso coração. Análise: Bem. e com pranto. o profeta Joel afirma. E rasgai o vosso coração. e se arrepende do mal. e não as vossas vestes. e deixará após si uma bênção. e com choro. e convertei-vos ao Senhor vosso Deus. Quem sabe se não se voltará e se arrependerá. Essa teoria não erra ao afirmar que houve ekenosen . .7. que consiste na afirmação de que Jesus. A Teoria de Kenosis. tais como onisciência e onipotência. quando estava aqui na Terra. baseia-se exclusivamente em uma frágil interpretação de uma expressão usada na passagem de Filipenses 2. daí o nome dado a essa teoria. esvaziou-se de seus atributos naturais. o termo usado nessa passagem de Filipenses é ekenosen. É quando Paulo diz que Jesus “esvaziouse” ou “aniquilou-se a si mesmo”. Ou seja.7 tem sido ressuscitada e propagada em nossos dias com o objetivo de sustentar o falso ensinamento de que Deus se “esvazia” de seus atributos para se relacionar com seus filhos.C a p ít u l o Os erros de interpretação da Teoria de Kenosis U ma antiga e equivocada interpretação sobre Filipenses 2. ekenosen ou kenosis (forma apor­ tuguesada) aconteceu. mas não como afirma a teoria que leva o seu nome. No original grego. mas erra ao tentar definir o que teria sido a ekenosen. A interpretação que serve de base para esse ensi­ namento é denominada Teoria de Kenosis. como foi batizada por seus proponentes no século XIX. E nas teofanias do Antigo Testamento. Não significa dizer que Deus é como o homem. logo é óbvio que o arrependimento nesse texto é no sentido literal e o do primeiro texto é claramente metafórico.11). como nos casos dos supostos arrependimentos literais de Deus. para “respeitar o livre arbítrio”.29. qual arrependimento é metafórico: o do primeiro texto ou o do segundo? Se o segundo texto diz claramente que Deus “não é um homem para que se arrependa” e a idéia de arrependimento expressa nele é apresentada como a outra opção . ARREPENDIMENTO DIVINO Para começar. Desprezar esse fato é forçar uma contradição bíblica.além da mentira —para alguém voltar atrás (“não mente nem se arrepende”). como o Teísmo Aberto (infelizmente já popular em nosso país).29). e não executou as minhas palavras. Compare. “E também aquele que é a Força de Israel não mente nem se arrepende. ISamuel 15. “Então veio a Palavra do Senhor a Samuel dizendo: Arrependo-me de haver posto Saul como rei. Deus. está afirman- . Segundo esse pensamento.19). por exemplo. afirmam que esse “esvaziamento” não se deu apenas na encarnação de Cristo. de vez em quando ainda se “esvazia” de seus atri­ butos hoje. encontramos muitos outros recursos lingüísticos muito antigos e o antropomorfismo é só um deles. Ora. Nas Sagradas Escrituras. quando a Bíblia diz. É claro o uso do antropomorfismo nas Sagradas Escrituras. por extensão. Não perce­ ber esse recurso claro no texto bíblico não só é desonesto como força uma interpretação de Deus que se choca frontalmente com todo o resto do que a Bíblia diz sobre Ele. A própria Bíblia nega isso con­ tundentemente (Nm 23. em linguagem antropomórfica. por­ quanto não é um homem para que se arrependa” (ISm 15. para se relacionar com o ser humano.A SEDUÇÃO D NOVAS TEOLOGIAS AS Defensores de teologias liberais. que “Deus se arrependeu”. o “arrependimento” de Deus trata-se. de uma lingua­ gem antropomórfica para explicar a relação de Deus com o homem. porquanto deixou de me seguir. O antropomorfismo é um recurso lingüístico milenar que foi usado não só na Bíblia. Ele teria feito o mesmo. mas também em outros momentos da História. Então Samuel se contristou e toda a noite clamou ao Senhor” (ISm 15. sim. Pergunto: por esses dois textos. Arrependimento significa “mudança de atitude”.11 com 15.10.10. O ERROS D INTERPRETAÇÃO D TEORIA D KENOSIS S E A E C apítulo 8 do. por amor de vós se fez pobre” em Sua encarnação. Deus não muda. Jesus “tornou-se a si mesmo insignificante” (como frisam os teólogos James Packer e Bruce Milne). 2. Nós é que muitas vezes deixamos de ser ou fazer e. Esse princípio da cristologia bíblica foi bastante defendido.9. Se Jesus tivesse vindo esvaziado de Seus atributos. “ESVAZIOU-SE” A Teoria de Kenosis é de uma fragilidade enorme. porque a alusão que Paulo faz aqui é à humildade de Cristo. sua ação sobre nós também muda. ser erigida essa teoria simplesmente desaprova-a. tnudou sua ação sobre nós. de sua divindade. Há muitas passagens nos Evangelhos que provam que seus atributos estavam em plena atividade (Jo 1. o que não tem base na Bíblia (Jo 20. mas sim da sua glória. Deus está sempre no mesmo lugar. Nesse sentido. Ele continua sendo o que sempre disse que era. Jesus não renunciou suas funções e atributos divinos.7 não está dizendo que Jesus esvaziou-se de seus poderes divi­ nos. não de seus atributos. O texto de Filipenses fala claramente do esvaziamento da glória. O próprio versí­ culo usado para. Por isso que ekenosen também é traduzido nessa passagem com “humilhou-se”.6). inclusive frisando isso na expressão “tomando a forma de servo” (Fp 2.7). Filipenses 2. isto é. Quando encarnou. a um auto-esvaziamento de Sua dignidade. nós é que nem sempre estamos no mesmo lugar onde Ele está (Sua vontade).4) e. enquanto | ||) . por causa de nossa mudança de atitude diante dEle. Jesus se esvaziou de sua glória celeste. o contexto dessa passagem mostra Paulo falando da necessidade dos crentes serem humildes (Fp 2. sobre ele. que Ele. Paulo deixa isso ainda mais claro ao dizer que Jesus. Suas ações mu­ dam na medida em que nós saímos do lugar em que Deus sempre esteve e nunca vai sair (Ml 3.25. à medida que mudamos. “sendo rico.31).6). da sua dignidade divina. portanto.3. porque ela já nasceu apoiada em uma miragem. para exemplificar o que estava ensinado. Em 2 Coríntios 8.24. em uma base que não existe. Os atributos de Jesus continuavam com Ele e em atividade. mesmo que momentânea. Aliás. evocou o exemplo de Cristo (Fp 2.48. Ele não muda. Não Sua vontade. não Sua vontade. isso significaria a perda. à luz da Bíblia.5-8). nós é que mudamos e sofremos as conseqüências naturais disso. 18. pelos reformadores ainda no século XVI e consiste no fato de que. Jesus mesmo explicou isso em João 17. Jesus também permaneceu superior aos anjos. Esvaziar-se em relação a Seus atributos significaria deixar de ser Deus. antes que hou­ vesse mundo”.5: “A glória que eu tive junto de ti. nome com o qual a batizou.27. repito. Foi dessa glória que Ele se esvaziou na Sua encarnação. porque. 21. O motivo para elaborá-la e defendê-la foi responder aos críticos (teólogos liberais) do século XIX porque Jesus era “ignorante” em relação à autoria do Velho Testamento (já que Jesus afirma que quem escreveu o Pentateuco foi Moisés —Lc 24.15. e eles são destacados em toda a Bíblia.A SEDUÇÃO D NOVAS TEOLOGIAS AS Jesus estava aqui na Terra. sua onisciência e onipresença em vários momentos (Mt 17. já que o texto de Filipenses 2. Jo 1. Gore. Sobre a relação entre a humanidade de Cristo e Seus atributos divinos em sua encarnação. Ele limita seu próprio Ser. em algumas situações.17 e Hb 1. pois são esses atributos que fazem Deus ser Deus. para dizer que Jesus errou porque Ele havia se esvaziado de seus atributos divinos em Sua encarnação. por exemplo. São esses atributos naturais que o distinguem.47-49.31-34. e não de seus atributos. Enfim.4-13). seria esvaziar-se de sua divindade. infelizmente. por isso estava su­ jeito a desconhecimentos. limitando o exercício de alguns de Seus atributos. Jesus exerceu. o que é um absurdo. A COMPREESÃO CERTA SOBRE OS ATRIBUTOS DIVINOS DE CRISTO NA SUA ENCARNAÇÃO O nascedouro da Teoria de Kenosis foi a Teologia Liberal.10). mesmo sendo homem. Quem esboçou essa teoria pela primeira vez foi o bispo anglicano Charles Gore em 1889.7 refere-se a um esvaziamento da glória e dignidade divinas. continuava sendo o que sempre foi e será: Deus (Mt 26. a alta crítica questionava se Moisés era mesmo o autor do Pentateuco. 11. mas em relação à sua glória.27). Defintivamente.29.17). o esvaziar-se não foi em relação a seus atributos.3). Ele continuava com suas funções de sustentador de todas as coisas (Cl 1. na verdade. Naquela época. o que Gore fez. então. Se Deus limita o seu poder. é Jesus. Lc 22.11-13.53 e Hb 1. o que alguns textos bíblicos mostram. foi tentar acomodar a Bíblia ao liberalismo teológico de sua época. 4. e . Aquele que desceu é o mesmo que subiu (Ef4. elaborou a “Teoria de Kenosis”. Ora.23)”. que traz palavras de Jesus também registradas em Mateus 24. limitou o exercício de Sua onisciência especificamente no que diz respeito à data e ao horário da Sua Segunda Vinda.32. Um texto clássico para mostrar isso é Marcos 13. Jesus não podia revelar quando seria. Porém. em Sua encarnação. exatamente.36. Jesus também não poderia revelar. limitação alguma da onisciência de Jesus. porque o Pai não permitiu — razões óbvias por e também porque o ofício de Jesus na Terra não incluía tal licença.32 há apenas uma limitação do exercício do atributo da onisciência). não só porque há textos que mostram Jesus usando seus atributos divinos (o que já mostramos e deixam claro que em Marcos 13. por exemplo.36. No texto citado . conse­ qüências negativas. nem o Filho.2 com esse sentido. Essa explicação é a que parece mais viável. O vocábulo grego traduzido em Marcos 13. João e André. foi provocado por uma pergunta dos discípulos Pedro. porém há outra explicação para esse texto. nem anjo algum pode. além das terríveis conseqüências. poderia nem mostrar. senão o Pai”. não permitira. Jesus voltaria? Mas. Não há como forçar essa passagem para dizer que. já que (como Ele voltaria a frisar em Atos 1. O Sermão Profético de Jesus. em 1 Coríntios 2. o que fez (Mt 24).C apítulo 8 não os Seus atributos.32 como “saber” pode ser também traduzido como “revelar” ou “fazer conhecido”. mas que não convinha a Ele revelar. Tiago. Aliás. onde Ele afirmou que nem os anjos nem Ele “sabem” a data e o horário da Sua Segunda Vinda. Já imaginou se todo mundo soubesse quando. Jesus não revelaria a data e o horário porque isso provocaria.7) o Pai. também aceita por teólogos sérios. A explicação desse texto que parece ser a mais correta é justamente a mais popular: a de que Jesus. esse mesmo vocábulo aparece. João Calvino. provaria um “esvaziamento” dos atributos. em seu comentário sobre Mateus 24. Logo. Jesus poderia revelar os sinais da proximidade da sua Segunda Vinda e como seria esse evento. como em outra ocasião. O texto diz: “Mas daquele dia e hora ninguém sabe. nem os anjos que estão no céu. o texto estaria dizendo não que Jesus não sabia. este é falso). mas também porque esse texto. que estabelecera a data e o horário. porque o Pai não havia lhes dado essa prerrogativa. claro. nem nenhum anjo pode revelar isso (se um anjo aparecer a alguém hoje “revelando” tal coisa. quando Ele diz que não esperassem Ele colocar esta ou aquela pessoa à sua direita ou à sua esquerda (Mt 20. pelo menos ela. segundo alguns expositores bíblicos. na verdade. que queriam saber quando é que seria a Segunda Vinda de Jesus e o final dos tempos. nem anjo algum poderia revelar. afirma: “Eu não tenho dúvida que Jesus aqui se refere ao ofício designado para Ele pelo Pai. mas. Lutero. mas em relação à sua glória. (2) a redenção (sendo menos que Deus. Enfim. De Wette. voluntariamente. Ele imediatamente falharia em três pontos absolutamente funda­ mentais em relação à Salvação: (1) a revelação (sendo menos que Deus.5). Webster e Wilkinson. ou restringiu-se de informar a data e a hora desse Evento (para os que preferem a tradução “fazer saber”. Lange. não poderia mais nos reconciliar com Ele). Não inventemos teorias forçosas para encaixar ou apoiar nossos devaneios e quimeras no texto bíblico. o que não significa que descarto totalmente a segunda opção) são a maioria dos Pais da Igreja (entre eles Crisóstomo). Jo 17. . mas o significado era que Ele não tinha sido enviado pelo Pai com essa comissão [autorização. mas é para aqueles para quem meu Pai o tem preparado”. Seja como for. E como explica o teólogo escocês Bruce Milne. Continua Calvino: “Jesus não está dizendo absolutamente que isso não está no seu poder.. é claro que o “esvaziamento” de Jesus não foi em relação a Seus atributos. devido às prerrogativas de sua missão específica. Meyer.mas o assentar-se à minha direita ou à minha es­ querda não me pertence dá-lo. No comentário bíblico de Marcos dos teólogos Jamieson. Jesus poderia ter restringido o exercício desse conhecimento. Bengel. o que é possível no texto) ou restringiu o exercício do seu conhecimento especificamente nesse caso da data e do horário de Sua Vinda (para os que preferem a tradução “saber”. Mesmo afirmando isso. após a ressurreição. licença] enquanto Ele vivia entre os mortais”. Fausset e Brown. Fritzsche. eles lembram que os que pensam a favor da primeira interpretação (a que prefiro. se Deus Filho encarnado carecesse de algum atributo. Melanchton (e a maioria esmagadora dos teólogos luteranos).por Calvino.. Aceitemos simplesmente o que a Bíblia nos diz. e (3) a intercessão (se a união com a natureza humana diminui necessariamente a natureza divina. Grotius. esse conhecimento não teria sido mais restringido (Mt 28. Calvino não via problema se o vocábulo fosse tomado no sentido de “saber” e não de “fazer saber”. já que Jesus poderia ter restringido o exercício desse conhecimento. claramente viável também). e propõem a segunda interpretação nomes célebres como Calvino. Alford e ainda Alexander.18. só para citar os nomes mais conhecidos. Que nossas afirmações sejam absolutamente escriturísticas. logo. Stier. o Senhor exaltado não poderia “levar ao céu uma face humana” e sua intercessão como sumo sacerdote ficaria automaticamente inválida). Jesus diz: “. se nao fosse assim. em submissão ao Pai. Matthew Henry lembra ainda que a expressão “Filho” se refere à missão de Jesus como Messias. não poderia revelá-lo verdadeiramente). Jesus. o considerou recentemente uma das 15 pessoas mais influentes nos Estados Unidos. Foram 25 milhões de exemplares vendidos desse único livro em apenas cinco anos. A igreja liderada por Warren é um fenômeno de crescimento (cerca de 30 mil membros em pouco mais de 20 anos de existência) e seu livro Uma vida com propósito. Em 2005. A matéria chegou ao ponto de asseverar que Warren “será o sucessor do idoso pastor Billy Graham para o papel de ministro da América”. uma matéria de capa da revista americana semanal Times (edição de 7 de fevereiro de 2005) apontou os 25 evangélicos mais influentes nos EUA e Warren estava no topo da lista. . A Newsweek. um fenômeno de vendas.C a p ít u l o A falácia do evangelho da auto-ajuda N ão há sombra de dúvidas de que o pastor batista Rick Warren. Nenhum outro livro evangélico da História vendeu mais em tão pouco tempo do que esse livro. 53 anos. e isso só nos EUA. é o mais influente líder evangélico dos Estados Uni­ dos em nossos dias. publicação americana de igual respeito. o casal John e Dodie também fundou o programa de televisão semanal da Igreja de Lakewood. etc. Texas. A membresia da igreja mistura negros. A Igreja de Lakewood sempre promoveu cruzadas. com a divulgação do evangelho por todos os tipos de mídia: rádio.pastor Joel Osteen. exatamente com a chegada de Joel à liderança. sem dúvida. internet. no segundo domingo de maio de 1959. fato é também que a mais nova “coqueluche” evangélica nos Esta­ dos Unidos não é mais Warren e sua “Igreja com Propósito”. no Dia das Mães norte-americano. sendo um exemplo para outras igrejas. Estou falando do. o programa chegou a alcançar 100 milhões de casas por semana nos Estados Unidos. Naquele ano. 44 anos. vejamos. Ele foi eleito “O mais influente cristão da América” no ano de 2006 e uma das dez pessoas “mais fascinantes. Outro destaque é a dedicação. conferências e distri­ buição semanal de alimentos aos mais carentes. foi forçado a sair de sua denominação. que prega uma mensagem recheada de auto-ajuda. em Houston. Em poucos anos. foi só a partir de 1999 que a igreja sofreu um “boom”. mas agora Osteen aparece com destaque ao seu lado na mídia secular e evangélica da América. continua a ser extremamente influente (apesar de muitas críticas pertinentes a alguns de seus posicionamentos). Bem. a referida igreja. se Joel Osteen está tão em alta por lá. pouco tempo depois de inaugurar a igreja. por isso. tevê. fundando com sua esposa Dodie. líder da Lakewood Church. Mas quem é Joel Osteen? Qual a sua história? Qual a sua mensagem? Qual seu perfil? ASCENSÃO METEÓRICA A história de Joel Osteen é marcada por uma ascensão tão meteórica quanto a de Warren. brancos. Se não. numa época em que programas evangelísticos na tevê não eram ainda tão comuns nos EUA. além de sempre apoiar obras missionárias pelo mundo. mas um jovem pregador sorridente. Porém. esguio e com expressão frágil. queridas. John Osteen. amadas e simpáticas dos EUA” em nossos dias. hispânicos. Warren. o . um pastor da Convenção Batista do Sul dos Estados Unidos que recebeu o batismo no Espírito Santo nos anos 50 e. desde o início.A SEDUÇÃO D NOVAS TEOLOGIAS AS Porém. quem é ele exatamente? Aqui no Brasil já ouvimos falar muito de Warren. A Igreja de Lakewood foi fundada por seu pai. Uma das grandes marcas e virtudes da Igreja de Lakewood desde a sua fundação é a ênfase na diversidade. Basta lembrar que. seus seis filhos e a igreja com 6 mil membros. Assim. Joel. que. logo sobressaem nele quatro características: ele não . Com a ajuda da família.idministração da igreja. teria que fazer mais do que isso. sorri o tempo todo e tem um raciocínio rápido. não para por aí. este é transmitido não só para os Estados l luidos. com capacidade para 16 mil pessoas sentadas. ele teve que inaugurar em 2005 o novo templo-sede do ministério. Você termina de assistir o programa de ( )steen em um canal e. Joel Osteen começou a pregar. O Itrograma passa em duas das maiores redes evangélicas de televisão da América t*em três grandes canais seculares de tevê naquele país: ABC. mesmo com seu jeito tímido. era querido por toda a igreja. Ele ajudara seu pai durante 17 anos na produção do programa de televisão semanal e na . mas também para mais de 100 países e está praticamente onipresente nas manhãs de sábado e domingo nos canais de tevê norte-americanos. Agora. por exemplo. Joel Osteen resolveu investir 30 milhões de dólares no programa semanal ilc televisão de sua igreja e. deixando a esposa. que antes era assistido por . Joel foi ordenado pastor e empossado como novo líder da Igreja de Lakewood. USA Network r Black Entertainment Television. a igreja escolheu o filho mais jovem dos Osteen. apesar de ainda incipiente. o programa. sua única experiência era na área de mídia e nos bastidores da administração eclesiástica de sua igreja. Com esse estilo e uma mensagem sempre “de esperança e inspiracional”. que permanece até hoje plenamente integrada ao ministério da igreja. lidera o departamento de intercessão e sua esposa. Aliás. Mas. O templo nada mais é tio que um famoso estádio da região que ele arrendou por algumas décadas. mesmo só tendo pregado até aquele momento um sermão em toda a sua vida e concluído apenas o primeiro semestre do Curso de Teologia da Universidade Oral Roberts. Quando Joel assumiu a liderança. Para dirigir o trabalho. fala sempre calma e amo­ rosamente. agora. 1)evido ao crescimento. ao passar para outro.ilteia a voz em nenhum momento da mensagem. o departamento leminino). com cada um liderando algum departamento (sua mãe. o programa está começando a ser reapresentado lá. E conseguiu. porém. O seu estilo sóbrio logo cativou.C apít u lo 9 pastor John Osteen faleceu. Joel Osteen foi conquistando as pessoas. Joel viu a membresia de sua igreja saltar incrivelmente de 6 mil pessoas em 1999 para dezenas de milhares em 2007. e sua men­ sagem e estilo foram bem recepcionados pelo povo. como ele mesmo costuma definir. aos 36 anos de idade. tornando-se hoje uma das maiores igrejas evangélicas não-denominacionais dos EUA em quantidade de membros. Segundo estimativas. ao ouvi-lo. O nome de suas cruzadas é “Uma noite de esperança e inspiração”. Não sei se foi por isso. ele lançou seu primeiro livro: Your Best Life Now: 7 Steps to Living at Your Full Potential (“O melhor de sua vida agora: sete passos para viver plenamente seu potencial” —o livro foi lançado no Brasil recentemente com uma pequena variação em seu título). O livro já vendeu mais de 4 milhões de exemplares em menos de três anos e ainda está onipresente nas livrarias. já estava com sua primeira tiragem confirmada: nada menos que três milhões de exemplares. lá estava Joel Osteen. Ele realizou recentemente suas quatro primeiras cruzadas: no Canadá. Seu coral e grupos de lou­ vor gravaram vários CDs de sucesso nos últimos cinco anos. Foi o número um de vendas até pouco tempo. meses antes de ser publicado. O sucesso é tamanho que seu livro seguinte. Vale ressaltar ainda que o maior nome na área de louvor e adoração no mundo evangélico hispânico pertence ao ministério de Lakewood: o pastor Marcos Witt. E. ao fazê-la. ficamos tristes. OS DESVIOS DE JOEL OSTEEN. o livro encabeçou a lista dos mais vendidos do jornal The New York Times durante meses. pregou a uma audiência de 6 mil pessoas.A SEDUÇÃO D NOVAS TEOLOGIAS AS 100 milhões de casas. esta também passou a ser muito conhecida pelos louvores. Depois que Joel Osteen assumiu a liderança da Igreja de Lakewood. Joel Osteen também é um fenômeno de vendas nos EUA. Vi também pessoas lendo seus livros no metrô de Nova York. Para onde virava. Osteen resolveu investir em cruzadas pelo mundo. infelizmente. Inglaterra e Israel. Recentemente. Na Inglaterra. mas já está na hora de fazermos uma avaliação crítica sobre o ministério de Osteen. publicou uma matéria de capa sobre os “pregadores evangélicos de auto-ajuda . Sentindo o crescimento de seu ministério. Irlanda. O EVANGELISTA DA AUTO-AJUDA Joel Osteen é conhecido nos Estados Unidos como “o evangelista da auto-ajuda”. vi seu livro em destaque em livrarias seculares em Adanta. pois seria no seu estilo de pregação que reside todo o seu sucesso meteórico. vendendo mais de um milhão de cópias. em edição de 12 de julho de 2006. mas a revista Veja. agora é assistido por quase 200 milhões de residências nos EUA toda semana. Bem. com seu rosto sorridente estampado na capa dos livros. New Jersey e Nova York. Simplesmente. Em outubro de 2004. Pelo qual também sois salvos se o redverdes tal como vo-lo tenho anunciado. a Bíblia não é um livro de auto-ajuda. Também é verdade que nem todos os pregadores influenciados por Osteen seguem todos os seus posicionamentos. sem dúvida. O mesmo Paulo roga para que o conteúdo bíblico-doutrinário seja preservado em sua inteireza: “Também vos notifico.27) não é apresentado. o qual também recebestes.AJUDA O A C apítulo 9 no Brasil” justamente na época em que Osteen estava sendo badalado na mídia norte-americana como “pregador da auto-ajuda”. Vejamos cada um desses erros. mas o imitam em muitas coisas. outros só observam alguns deles. o evangelho da auto-ajuda consiste no uso da Bíblia para pregações unicamente motivacionais. “Todo o conselho de Deus” (At 20. como Paulo explica em 2 Timóteo 3. antes de tudo. para extrair lições que venham ajudar as pessoas a superar conflitos pessoais corriqueiros. mas provavelmente é conhecido por alguns pregadores brasileiros que viajam à América. Apenas apresentam as Escrituras como um aglomerado de histórias inspirativas e frases de auto-ajuda. Alguns evangelistas da auto-ajuda. restaurar) e instruir (ensinar. às vezes não)? Bem. elucidadvas e dou­ trinárias. mas apenas aquelas passagens cujo conteúdo pode ser usado como material motivacional. lecionar. um conteúdo inspirado por Deus com os objetivos de (1) exposição doutrinária e de (2) apresentação de fatos relatados com intenções informativas.A FALÁCIA D EVANGELHO D AUTO. Ela. se não é que . É verdade que Osteen ainda não é muito conhecido no Brasil. também derrama luz sobre algumas questões cotidianas. desmascarar e responder). todos eles tremendamente falhos. não sabemos. Além do mais. corrigir (retificar. o evangelho que já vos tenho anunciado.16. No que consiste o evangelho da auto-juda? Basicamente. consiste em quatro pontos. que oriente as pessoas sobre pequenas questões do dia-a-dia. e no qual também permaneceis. OS ERROS DO EVANGELHO DA AUTO-AJUDA Em primeiro lugar. mas as Escrituras são. mas fato é que Osteen inau­ gurou uma tendência nos Estados Unidos que pode ou não estar influenciando alguns pregadores por aqui. esse conteúdo deve ser usado para redargüir (argumentar. Ora. doutrinar). irmãos. seguem todos esses pontos (que têm em Osteen sua maior expressão). como já falamos. acertar. repreender. Os evangelistas da auto-juda não pregam a inteireza da mensagem bí­ blica. Teria a revista Veja notado essa tendência nos Estados Unidos e procurado descobrir o mesmo aqui no Brasil (às vezes com acerto. “E disse-lhes: Assim está escrito. já que sem arrependimento não há transformação real devidas. os evangelistas da auto-ajuda normalmente não pre­ gam sobre o pecado. Porque primeiramente vos entreguei o que também recebi: que Cristo morreu por nossos pecados.14-15). E o detalhe é que. Deus o fez Senhor e Cristo. e que ressuscitou ao terceiro dia. Paulo diz que o conteúdo bíblico é para redargüir. e dizendo: O tempo está cumprido. evita pregar “todo o conselho de Deus”.46-47).23. deliberadamente. 8.8-9. “E. de todas as suas nuances doutrinárias para o nosso crescimento espiritual. e ao terceiro dia ressuscitasse dentre os mortos. homens irmãos? E disse-lhes Pedro: Arrependei-vos. e assim convinha que o Cristo padecesse. A Igreja não precisa de “Lair Ribeiros”. e que foi sepultado. e perguntaram a Pedro e aos demais apóstolos: Que faremos. O problema é que Osteen. Devemos crescer na graça e no conhecimento (Os 6. Esse é só um dos pontos. que falem não só sobre as necessidades nossas do cotidiano. segundo as Escrituras. Quem prega uma mensagem bíblica incompleta vai criar crentes que não estão “perfeitamente instruídos para toda a boa obra”. curiosamente. Arrependei-vos. ouvindo eles isto. As principais críticas relacionadas ao ministério de Joel Osteen nos Estados Unidos dizem respeito exatamente ao fato de que ele. mas a maioria o faz). Como já vimos. Em segundo lugar. Rm 3. mas sobre a integralidade do evangelho. como diz a Bíblia. “Saiba.23). Osteen se defendeu afirmando que não gostava de “pregar sobre o pecado”. depois que João foi entregue à prisão. Além do Antigo Testamento falar sobre o pecado. Evitam esse assunto (não são todos que o fazem. pois. 6. o que não é saudável para o crescimento espiritual de quem o ouve. e cada um de vós seja batizado . a quem vós crucificastes. veio Jesus para a Galiléia. e acrescenta: “Para que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente instruído para toda a boa obra” (2 Tm 3. a mensagem do evangelho não se resume a falar sobre o pecado.3-5. pregando o evangelho do reino de Deus. Precisamos de genuínos pregadores do evangelho. 5.1-4). e crede no evangelho” (Mc 1.17). começando por Jerusalém” (Lc 24. e um ponto necessário. os evangelhos e as epístolas apresentam Jesus e Seus discípulos falando sobre o pecado (Jo 3. corrigir e instruir. E. e em seu nome se pregasse o arrepen­ dimento e a remissão dos pecados. em todas as nações. ao ser confrontado recentemente sobre esse assunto.34.3 e 2 Pe 3.18). compungiram-se em seu coração. segundo as Escrituras” (1 Co 15. e o reino de Deus está próximo.crestes em vão. Ora. com certeza toda a casa de Israel que a esse Jesus. não prega sobre arrependimento. é um exemplo clássico. perguntado se só havia salvação em Jesus. A revista Christianity Today reverberou a matéria da Times. Warren bateu firme na Teologia da Prosperidade. por sua vez. em entrevista ao programa Larry King Live. emudecem ou tergiversam diante de pontos doutrinários impopulares em nossos dias. e a Igreja de Lakewood. Em setembro de 2006. A matéria da Times começava apresentando uma pesquisa que informa que 17% dos cristãos nos EUA se dizem adeptos da Teologia da Prosperidade. apresentando um debate no meio evangélico norteamericano sobre se essa doutrina é um mal ou um bem para o cristianismo. para perdão dos pecados-. Jakes e Creflo Dollar. Na ocasião. disse que sua visão sobre a prosperidade na vida do cristão não era tão radical como seus críticos afirmavam. disse: “Creio que o relacionamento pessoal com Cristo é o único caminho para o Céu”. de volta ao Larry King Live. D. escrevendo uma nota intituladaJoel Osteen versus Rick Warren on Prosperity Gospel. a revista Times publicou uma matéria de capa sobre a Teologia da Prosperidade. e recebereis o dom do Espírito Santo” (At 2. dos quais eu sou o principal” (1 Tm 1.C a pít u lo 9 cm nome de Jesus Cristo. aproveitou para retratar-se devido às críticas que sofreu no meio evangélico por essa declaração. para salvar os pecadores. ele foi contundente: “Você está falando dessa . Osteen. preocupados com sua imagem diante do mundo. Warren é pergun­ tado sobre se Deus quer que todos sejam ricos. Em quarto lugar. Joel Osteen. os dois pastores destacados para falar sobre o assunto foram Rick Warren e Joel Osteen. Em seguida. A matéria citava que há “três mega-igrejas pentecostais nos EUA” que são hoje as maiores representantes da Teologia da Prosperidade: as igrejas dos pastores negros neopentecostais T.36-38). em 2006.6). alguns evangelistas da auto-ajuda são tímidos para afirmar publicamente doutrinas bíblicas impopulares em nossos dias. “Esta é uma palavra fie l e digna de toda a aceitação. de Joel Oste­ en. preferindo dizer que “Deus conhece o coração das pessoas”. Osteen evitou afirmar isso (Jo 14. Na matéria. 61% dos cristãos dizem que crêem que Deus quer que todas as pessoas sejam prósperas e 31 % acreditam que quem é fiel nos dízimos e constantemente oferta para a obra de Deus receberá acréscimos financeiros de Deus. muitos evangelistas da auto-ajuda. mais uma vez. o flerte com aTeologia da Prosperidade e a Confissão Positiva. Como forte opositor da Teologia da Prosperidade que é (ainda bem!). que Cristo Jesus veio ao mundo. Por pregarem mensagens motivacionais. Em terceiro lugar. os evangelistas da auto-ajuda costumar flertar com essas bizarrias doutrinárias tão próprias do neopentecostalismo. Preocupam-se mais com suas imagens do que com a Verdade. Em outras palavras. preocupados em parecer “legais”. Em 2005. Porém.15). Os evangelistas da auto-ajuda costumam namorar com a Confissão Positiva e a Teologia da Prosperidade.3-4). assim como a serpente enganou Eva com a sua astúcia. principalmente. Quando um pregador do evangelho se torna apenas um pregador de autoajuda. Auto-ajuda (ou ajuda do alto. e cuja glória é para confusão deles. te salvarás tanto a ti mesmo como aos que te ouvem” (1 Tm 4. Creio também que Ele quer que sejamos bênção para outras pessoas. persevera nestas coisas. “Mas temo que. e se apartem da simplicidade que há em Cristo. . Aliás. cujo fim é a perdição. Porque. acho que as pessoas querem dizer: ‘Ele está ensinando que todos vão ser milionários’.18-19). dizendo que a prosperidade que prega não é exatamente a mesma que se propala: “Se Deus quer que sejamos ricos? Quando escuto a palavra ‘rico’ para se referir criticamente ao que prego. as pessoas precisam ter dinheiro para pagar suas contas. ou outro evangelho que não abraçastes. chorando. Eu não estou dizendo que Deus quer que sejamos todos ricos. Nosso compromisso é com a Palavra de Deus em sua inteireza.16). Você não pode medir seus valores sobre si mesmo pelo conjunto de valores materiais que você tem. Acredito que Deus quer que sejamos felizes. Basta ouvir duas ou três mensagens dele para perceber isso. ele já perdeu o foco do seu dever à luz da Bíblia. apontado como adepto da Teologia da Prosperidade. com razão o sofrereis” (2 Co 11. procurou fugir do rótulo. para a saúde e crescimento espiritual dos que nos ouvem. Creio que Deus quer que enviemos nossos filhos para a escola. fazendo isto. Eu prego que as pessoas podem melhorar suas vidas. Mas não é isso que estou dizendo. cujo Deus é o ventre. Posso mostrar a você milhões de seguidores fiéis de Cristo que vivem em pobreza. Para mim. dos quais muitas vezes vos disse. Apesar de certa lógica em sua afirmação. ou se recebeis outro espírito que não recebestes. Por que nem todos nas igrejas são milionários?” Osteen. mas deixemos a auto-ajuda para os “ Augustos Curys” da vida. assim também sejam de alguma sorte corrompidos os vossos sentidos. e agora também digo.idéia de que Deus quer que todos sejam bem-sucedidos financeiramente? Há unia palavra para descrevê-la: ‘balela’. que só pensam nas coisas terrenas ’ (Fp 3. Isso é criar um falso ídolo. e isso é um perigo. que é melhor ainda) tem lá sua importância. que são inimigos da cruz de Cristo. “Porque muitos há. “Tem cuidado de ti mesmo e da doutrina. fato é que Osteen realmente flerta com a Teologia da Prosperidade. Penso que Deus quer que sejamos prósperos. Para o nosso bem e. porque. por sua vez. ao ser perguntado. se alguém for pregar-vos outro Jesus que nós não temos pregado. esse negócio de riqueza é relativo”. havia habitado aquela região e resolvera o problema da sequidão cavando poços. muitos anos antes. Chegando ali. naquele momento de crise. em sua peregrinação. servos e bens. E a Bíblia informa que a situação era tão séria que Isaque foi forçado a se mudar o mais rapidamente possível com sua família. não pensou duas vezes: resolveu fazer daquele vale a sua habitação. tornou-se alvo de inveja por onde passava. devido ao fato de ter sido grandemente abençoado por Deus. Ele lembrou-se que seu pai.C a p ít u l o Princípios para uma reflexão teológica sadia iz a Bíblia que. Isaque percebeu que a melhor saída seria voltar ao passado. havia um grande problema. Isaque. certa vez. Era um período de grande seca na região e o lugar era extremamente seco. filho de Abraão. então? Diz a Bíblia que. O patriarca resolveu. Abraão. Que fazer. então. dar ordem aos seus servos para reabrirem os poços cavados por seu pai e entulhados pelos D . chegou ao Vale de Gerar (Gn 26). Mas. Saiu correndo e. Não havia água. pensando que essa é a saída. muitos grupos e movimentos dos últimos dias são diferentes. veremos que nenhum desses movimentos criou novas doutrinas. mas apenas realçaram doutrinas bíblicas esquecidas. ilustrativamente. têm procurado abrir novos poços. a volta à Palavra de Deus. pela influência da Pós-modernidade e pelo avanço da impiedade. têm buscado fórmulas mágicas de crescimento espiritual. em busca do fim da sequidão. representado nessa passagem bíblica pelos antigos poços. Foi a redescoberta da Palavra que provocou aquele avivamento. quando fez com que a Igreja voltasse a apreciar a Doutrina do Espírito Santo. pela redescoberta do Livro da Lei. todos os poços jorraram águas puras e Isaque e sua família prosperaram naquela região. mas de reabrirmos os poços abertos por Deus no passado e que foram entulhados pelos filisteus. O metodismo wesleyano do século XVIII encarnou esse princípio também. Sim. O que precisamos mesmo não é de novos poços. ou seja. Via de regra. Por exemplo: a Reforma Protestante do século XVI ressuscitou a Doutrina da Justificação pela Fé e deu a Palavra de Deus ao povo. a melhor coisa a fazer não é partir para qualquer medida inédita. mas considerar o exemplo do passado. Veja o avivamento na época do rei Josias. que até aquela época era pouco abordada. A grande lição que aprendemos nessa experiência vivenciada por Isaque em suas peregrinações é que. em vez de se caracterizarem por . Foram um retorno à Palavra. Ao final daquele empreendimento. mas o que têm encontrado mesmo são poços que. Veja o avivamento nos tempos de Esdras e Neemias: não foi a implementação de algo novo. de um avivamento! E o que é um avivamento? Avivamento é a ressurreição do que antes estava vivo. quando enfatizou a Doutrina da Santificação. sim. Se analisarmos sem preconceitos esses casos de avivamento genuíno re­ gistrados na Bíblia e na História. É o avivamento de princípios bíblicos antes relegados. com o objetivo de saciar a sede espiritual. O Movimento Pentecostal também encarnou o princípio do verdadeiro avivamento. Em outras palavras: a Igreja no Brasil precisa de um avivamento. Porém. Por que estou ressaltando esse ponto nessa passagem? Porque entendo que. Muitos cristãos sinceros. na Bíblia. trata-se de águas contaminada. mas. que estava relegada. Ele foi marcado pela volta à Palavra. Todos os genuínos avivamentos posteriores ao relato bíblico também mostram isso. pela frieza espiritual.filisteus. isso tem tudo a ver com o momen­ to que a igreja evangélica brasileira está vivendo. quando a sequidão espiritual bate à porta. quando a crise chega. Avivamento espi­ ritual é um redescobrimento de preciosidades esquecidas. quando dão água. Vamos a eles. em vez de voltarem aos poços antigos e desentulhá-los. no final de seu Sermão da Montanha. sem nos esquecermos da ressurreição das teologias liberais. a Bíblia e a vida têm ensinado que a melhor coisa a fazer em situações críticas não é a implementação de medidas inéditas e/ou imediatistas. sua “unção do leão” e sua “unção do riso”). saem à procura de outras saídas. gostaria de destacar alguns princípios. a doutrina da salvação. Em primeiro lugar. fazer um rastreamento em nossa mente de como e por que chegamos até aqui. mas a volta aos princípios fundamentais da fé. É esse erro que tem feito proliferar em nosso meio modismos como G12. que aquele que não guarda as suas palavras é semelhante ao homem que edificou sua casa sobre a areia e esta veio abaixo. a Teologia da Prosperidade e a Confissão Positiva. Porém. à luz da Bíblia. Em síntese: devemos reavaliar nossa situação e voltar às nossas bases. e quem guarda a sua Pa­ lavra é comparado àquele que edificou sua casa sobre a rocha e. para que nos mantenhamos sempre sadios teologicamente. como a Teologia do Processo (que hoje se apresenta com o nome deTeísmo Aberto ou Teologia Relacionai). a triunidade divina e a autoridade. tentam cavar poços longe dos limites bíblicos. para que nunca sucumbamos diante dos modismos teológicos de nossos dias. Quando a crise chega.24-27. nunca devemos tratar doutrinas bíblicas fundamentais da mesma form a que são tratadas as doutrinas secundárias ou periféricas. . os atributos naturais e morais de Deus. pois são doutrinas esposadas na Palavra de Deus e apresentadas como verdades absolutas. na esteira dessas palavras de Jesus. Gostaria de enumerar nove critérios. abraçar a primeira teoria que se apresenta. recorrer à mais próxima alternativa que é colocada diante de nós. a Teologia Narrativa e a chamada Ortodoxia Generosa. inspiração e inerrância das Sagradas Escrituras nunca devem ser relativizadas. considerar a situação. Bênção de Toronto (com sua “unção do cai-cai”.C apítulo 1 0 uma volta à Palavra de Deus. que devem nortear sempre nossa reflexão teológica. Jesus disse em Mateus 7. a melhor coisa a fazer é entrar na contramão do desespero. ela permaneceu firme. ponderar o passado e nossas referências. com os princípios bíblicos que fazem parte da espinha dorsal da fé cristã. espirituais e existenciais. Esses ensinos espúrios têm se proliferado justamente porque cristãos. infelizmente têm proposto novas doutrinas (|ue se chocam frontalmente com as doutrinas bíblicas fundamentais. Doutrinas como a divindade e a humanidade de Cristo. apesar de todos os ataques. A opção mais atraente para o desesperado sempre é a precipitação. Portanto. em busca de solução para suas crises teológicas. o galho está precisando ser podado mesmo. nunca caia na tentação de viver em busca de uma “ revolução teológica” do ineditismo teológico. muitos.21). de acordo com a Bíblia. voltar para as cisternas da Palavra. porque é apoiado sobre as Sagradas Escrituras que deve viver o cristão. Além do mais. lançar fora. Vão além da conta. Porém. como os do Areópago. todo problema de quem tem uma fé pequena consiste exatamente em não pensar. E além disso. acabam radicalizando e cortando tudo fora. desentulhá-las. a brilhante originalidade. A fé. significativas e marcantes sem deixarem de ser ortodoxas. Não se deixe hipnotizar pelos modismos. Às vezes. Ser original não significa necessariamente ser heterodoxo. há pontos que necessitam realmente ser aparados doutrinariamente. os que já temos são suficientes. e essaé uma atitude tresloucada. . não é preciso produzir uma nova te­ ologia. sim. como já disse alguém. cortar. Quem opta por uma espiritualidade que despreza a razão termina por ou esmorecer na fé ou desaguar em sandices. no arroubo de fazerem isso. cortar todo o galho. mas o que é correto. se vê em pessoas que conseguem ser criativas. En­ tenda que não estamos dizendo aqui que a razão é um obstáculo à crença ou que a razão e a fé se opõem uma à outra. não é preciso procurar obsessivamente a originalidade. Como já esclarecemos. “não cuidavam de outra coisa senão falar ou ouvir as últimas novidades” (At 17. E preciso. etc. jogam fora o essencial junto com o pernicioso. bizarrias. Basta desentulhá-los para voltarem a jorrar e saciar a sede. são águas turvas. Não precisa ser criativo para ser heterodoxo. Não seja daqueles que. 1 Tessalonicenses 5. ao buscar podar as pontas de um galho. é um ato de pensar e. posso ser original sem ser heterodoxo. . A verdadeira criatividade. não é preciso abrir novos poços. loucuras. Em alguns momentos. jogam fora a água do banho juntamente com o bebê. não ceda à tentação de. quando dão água (quando dão!). devemos recepcionar e guardar em nosso coração. os poços abertos fora do terreno bíblico. Se tentarmos abrir novos poços. Para ser um teólogo relevante não é preciso “inventar a roda”. Ou seja: o que não é bom devemos rechaçar. Em terceiro lugar.21 nos diz que devemos reter o que é bom. Como se diz popularmente.Em segundo lugar. “a verdadeira saída”. E outro detalhe: é extremamente fácil ser original “chutando” a ortodoxia para o alto. teremos que fazê-lo longe do terreno bíblico. beber de suas águas cristalinas e dá-las ao povo. Em quarto lugar: nunca coloque a filosofia acima da Palavra de Deus. E únicos. águas que contaminam e matam. que propõe “uma alternativa melhor” ou mesmo “a verdadeira resposta”. A expressão “louco” nessa passagem de Paulo significa não confiar to­ talmente e acima de tudo na filosofia. Aliás. pensar e argumentar com Ele. Se a razão se rebela diante da verdadeira fé. A razão só pode alçar altos vôos com segurança se atrelada à carruagem da fé. que a razão não precisa da fé. fé que tem por base as Sagradas Escrituras. ela eleva a razão a vôos muito maiores. Isso porque. por outro lado. A Bíblia está repleta de lógica. a meditação bíblica. e não desprezar a verdadeira fé. isto é. deve ser “racional”. mas de fé bíblica. diz Romanos 12. apesar da mudança de ânimo”. A Bíblia alerta-nos em Colossenses 2. isto é. nunca podemos compreender perfeitamente as coisas espirituais. como criaturas que somos. . Por isso. Em Isaías 1. obviamente não estou falando de fé no sentido genérico. pois conclama Seu povo a “arrazoar” com Ele. muito pelo contrário. aprendemos também que a fé mui­ tas vezes ultrapassa a razão. A grande diferença entre o conceito de meditação das religiões orientais para o que a Bíblia chama de meditação bíblica é que enquanto a meditação oriental prega o esvaziamento da mente. “a fé é a arte de admitir as coisas que a razão já aprovou. Agora. oprime ou esmaga a razão. quando ela tenta suplantar a fé. é importante frisar aqui que. por exemplo. escrevendo em sua primeira epístola aos coríntios. Deus assevera claramente que a razão é importante para Ele e para a fé. nunca sondará o insondável. por si mesma. que só opera onde há a fé verdadeira. afirma: “Se alguém dentre vós se tem por sábio neste mundo. acaba virando loucura. Ela não a deprime. ela se auto-destrói afogando-se na multidão de argumentos de seu narcisismo. consiste numa reflexão séria sobre o que o texto bíblico está falando conosco. O culto a Deus. Essa é a fé verdadeira. A verdadeira fé nunca despreza. Paulo diz em Colossenses: “Tende cuidado para que ninguém vos faça presa sua por meio de filosofias e vãs sutilezas”. E como bem definiu o pen­ sador britânico C. à luz da Bíblia. A razão humana. faça-se louco para ser sábio”. Quem faz o contrário do que diz Paulo.18. S. Isso significa que conversar com Deus exige o ato de pensar. de pensarmos que a razão por si mesma é o suficiente para tudo. no capítulo 3 e versículo 18.8 sobre o perigo de colocarmos a filosofia acima das Escrituras. mas ultrapassa-a. fé e razão não são opostas. a não ser por fé. Ela só poderá tanger um pouco do insondável pelo auxílio do Espírito Santo. Portanto. Paulo.C apítulo 1 0 De maneira alguma devemos pensar que a fé é algo meramente místico. divorciado da razão. por exemplo. quando a razão resolve sair de seu lugar e entrar numa esfera que não é sua. quando refiro-me à fé ou à verdadeira fé. acaba sendo levado por qualquer vento de doutrina. Lewis. Não se gabe de dançar na beirada do precipício da erudição teológica liberal. A única diferença daqueles falsos mestres da época paulina para os teólogos liberais de hoje é apenas o tipo de bizarria doutrinária. Mantenha-se seguro dentro dos limites bíblicos.Em quinto lugar. Em Colos­ senses 2. não caia na tentação d e querer ser um teólogo incom parável e não dance na beirada do precipício.. Em sexto lugar. quando. O último candidato disse que dirigiria o veículo tão longe da beirada quanto fosse possível. contudo. mas. O segundo motorista se jactou da sua capacidade de conduzir um veículo dentro de uns 10 centímetros da beirada sem a vida do rei correr perigo. Paulo já dizia que alguns em sua época en­ sinavam heresias. o rei tomava o cuidado de perguntar até que ponto podiam chegar perto da beirada. não existe verdadeiro e pleno amor onde há desprezo à Palavra de Deus. Essa é uma estratégia antiga. Mantenha-se dentro dos limites bíblicos. sem despencarem para baixo.) estando debalde inchado na sua carnal compreensão”. na verdade. A Bíblia diz que o amor e a verdadeira espiritualidade andam de mãos dadas com a verdade. O primeiro motorista alegou que podia chegar a 30 centímetros da beirada sem cair. nunca caia na falácia de que o discurso piedoso p od e ju sti­ fica r o erro. foi entrevistar os três candidatos que se apresenta­ ram. segundo parece. Na entrevista. Paulo diz: “Ninguém vos domine a seu bel-prazer. com pretexto de humildade (. O apóstolo Pedro diz em sua primeira epístola no . mesmo assim. exatamente porque portavam uma aparência de piedade. A estratégia. Aliás. Não procure testar até que ponto você pode chegar perto do precipício sem cair. Qual deles você acha que o rei contratou? O último. Esse rei queria contratar um chofer. não há nada novo debaixo do sol. Essas pessoas tentam desonestamente colocar o amor em oposição à doutrina bíblica.18. preocupado com o precipício. Deixe-me contar uma história relembrada por Geisler e que ilustra muito bem isso. “E a escolha real serve de bom conselho para aqueles exegetas bíblicos que. é a mesma. Não procure testar até que ponto as fronteiras da ortodoxia bíblica podem ser esticadas para acomodar a última moda passageira dos intelectuais de hoje. aqui. eram considerados corretos por alguns incautos. com o j á disse o teólogo americano Norman Geisler. Certo rei morava perto de uma estrada montanhosa. estreita e cheia de curvas que beirava um imenso precipício. Paulo.. se deleitam em dançar na beirada da erudição evangélica”. como já bem disse Salomão em Eclesiastes. arremata Geisler. É impressionante como tem gente que consegue achar normal justificar um erro doutrinário crasso usando o manto de uma falsa piedade e de um falso amor. é lógico. estava se referindo a gente que adorava anjos. mas. Falamos isso com precisão no capítulo “O que é contextualização saudável?” Em oitavo lugar. mas a Bíblia diz que falar de amor não é garantia de espiritualidade e de verdade. por exemplo. Pois bem. O profeta Ezequiel.PRINCÍPIOS PA RA UM REFLEXÃO TEOLÓGICA SADIA A C apítulo 1 0 capítulo 1 e versículo 22 que a obediência à verdade purifica a alma e leva ao amor não fingido. É charmoso ter incertezas. nunca cairemos no canto de sereia das novas teologias e nas teias de sedução do nosso tempo. Hoje em dia.14: “Não sejamos mais meninos inconstantes. mais charmosamente erudito você parecerá. como tantos outros servos de Deus.31). lembre-se que a contextualização sadia da Bíblia não sig­ nifica adaptar a Bíblia ao povo ou à nossa época. Como o apóstolo Paulo. Sempre! Em sétimo lugar. Paulo diz em Efésios 4. Muitos defensores de heresias apelam para o discurso do amor porque sabem que esse tipo de discurso encontra eco no coração dos cristãos. Amor e verdade andam juntos. mas o coração delas ambicionava o erro (Isso está em Ezequiel 33.n° 10. levados em roda por todo vento de doutrina. ele tende naturalmente a dar uma guinada para a esquerda. continuemos. puxe o controle para a direita. Quanto mais incertezas você tiver e quanto mais relativizações você fizer. só é honesto quem não tem certezas. ficando firmes naquilo que as Sagradas Escrituras nos ensinam. Para muitos. . recorro a outra ilustração de Geisler: “Dizem os peritos em aeronáutica que quando um avião com hélice levanta vôo. Diferentemente dessa onda. com astúcia. O que é que eu estou querendo dizer com isso? Aqui. não caia na tentação de relativizar suas certezas para soar erudito. podemos dizer: “Eu sei em quem tenho crido!” Atentando sempre para esses nove critérios. falou em sua época de pessoas que com a boca professavam muito amor. é chique ser cheio de incerteza. CPAD).2003. pelo engano dos homens que. o verdadeiro amor não está na contramão da doutrina bíblica. a alta erudição é vista como sinônimo de incerteza. Ou seja. guardando o bom depósito. quando os ventos d e doutrina soprarem. enganam fraudulosamente”. a não ser que os controles do avião sejam direcionados para a direita. Na pós-modernidade. mesmo que estas sejam abalizadas claramente na Bíblia. eu entendo que esse princípio deve ser sempre aplicado ao estudo teológico” (Revista Resposta Fiel. Em nono lugar. Ao ponto de quem tem certezas ser taxado de desonesto. A única maneira de nos mantermos na posição certa para alçar vôos se­ guros em nossa reflexão teológica é mantendo nosso avião com os controles apontando mais para a direita. por pelo menos três razões. Ele logo interviu e. O caos poderia se estabelecer se Deus não agisse. que foram acometidos por uma praga permitida por Deus como juízo pelos seus pecados.C a p ít u l o Que Neusta seja apenas Neusta. O episódio da serpente de bronze está longe de servir de sus­ tentação para os que tentam justificar o uso de ídolos no culto a Deus. encontramos a história de Neustã. por que Ele fez com que Seu povo olhasse para a serpente de bronze para ser curado? Esse ato não se constituiria uma aprovação à idolatria? De forma alguma. Considerando o fato de que Deus proibiu a adoração às imagens (Êx 20. E . Ela foi colocada no alto de um poste para ser observada pelos israelitas. fez com que os israelitas que olhassem para a serpente de bronze recebessem a cura. ofendido o Seu amor e desrespeitado seu líder Moisés. Por isso. a serpente de bronze que foi construída sob a orientação divina. depois do arrependimento do povo. e Deus continuará a ser Deus em nossas vidas m Números 21. O povo de Israel havia desobedecido a Jeová. pela sua misericórdia.4). por des­ prezo. A Bíblia registra que. Ele resolveu livrá-los do mal. o povo de Israel começou a se impacientar. Almeida Atualizada). entendem que o final do texto diz que Ezequias é que a chamou. Por isso. e outro que só foi clarificado posteriormente por Cristo. conforme tudo o que fizera Davi. “Ele [Ezequias] fez o que era reto aos olhos do Senhor. foi destruída. Lembre-se que os israelitas haviam saído do Egito. O mesmo Senhor que protegia sua vida poderia punir conforme o erro. Como os rebeldes logo depois reconheceram seu pecado e voltaram-se para o Senhor. Deus permitiu que serpentes atacassem os israelitas. Reina & Valera [espanhol]. Além disso. que foi levantado na cruz para dar vida a todos que para Ele olharem com fé. falando contra Jeová e Seu servo. a American Standard Version. mas as melhores traduções. ao chamar-lhe de “pedaço de bronze” diante do povo por ocasião de sua destruição. Em terceiro lugar. o rei estava querendo dizer que aquela serpente não era nada mais do que um simples objeto que não deveria nunca ganhar contornos de veneração. o poder vivificante que fluía da serpente de metal foi temporal.4-9).O objetivo primário da serpente de bronze era ensinar aos israelitas a submissão. quebrou as colunas. . Foi aí que Deus orientou Moisés a fazer uma reprodução de metal das serpentes e colocá-la sobre uma haste. Ou seja. Em segundo lugar.Em primeiro lugar. quando estava a rodear Edom. olhavam para a serpente sobre a haste e eram imediatamente sara­ das (Nm 21. que significa “pedaço de bronze”. Israel precisava aprender a obediência a Deus. a Riveduta [italiana]. de Neustã. (Obs. Tirou os altos. O rei Ezequias a despedaçou e chamou-lhe Neustã.: Algumas traduções dão a entender que os israelitas adoravam a serpente de bronze chamando-a de Neustã. e despedaçou a serpente de bronze que Moisés fizera (porquanto até aquele dia os filhos de Israel lhe queimavam incenso). Nada se fala posteriormente sobre a serpente de bronze ter mantido a sua condição de meio para o poder curador. servindo só para aquele momento e para prefigurar a morte sacrificial de Cristo. e chamou-lhe Neustã” (2Rs 18. porque a serpente de bronze não era um objeto para culto.3. e deitou abaixo a Asera. Ela só foi ganhar um significado idolátrico tempos depois de Moisés. principalmente em outras línguas. quando ela apareceu como objeto de idolatria. sua confecção tinha dois propósitos —um primário. que ficou claro já na época. Darby [francesa]. porém se mostravam rebeldes a Deus e a Moisés. Além da Almeida Atualizada [não confundir com Revista e Atualizada]. A medida que as pessoas eram picadas. a de Lutero [alemã] e dezenas de outras traduções). o que levou muitos à morte.4. corroboram isso a K ing James. seu pai. a Youngs Literal Translation. Aquela simples serpente de bronze era apenas um meio e um objeto de valor didático para o povo de Israel e para nós hoje. de uma manifestação da misericórdia divina no Antigo Testamento que apontava para a obra salvadora de Cristo. de transformarmos um simples meio — usado por Deus para manifestar a Sua graça . assim como prefere nos usar hoje. Não era a serpente de bronze que curava. nos usa. o verdadeiro curador. Jesus fez-se pecado para que pudéssemos hoje ser livres. Quem liberta é Deus.14-15). tendentes à idolatria. simples bronze em Suas mãos. Tratava-se. portanto. ao “pedaço de bronze”. em figura. como Moisés levantou a serpente no deserto. . não aceitemos os incensos que nos são ofertados. um canal por onde a graça de Deus flui para alcançar vidas. pela sua graça. o que Cristo faria mais à frente. Porém. a obediência e. Quem toca os corações é Deus. libertador e abençoador. algum cristão idolatra um líder. não é raro muita gente atribuir a Neustã. mas Deus preferiu que fôssemos nós mesmos. Entretanto. Logo. na obediência da fé. a glória que só a Deus pertence. Quem convence é Ele. Assim como aconteceu naqueles dias. como já falamos. há outra lição que o episódio de Neustã nos passa. os israelitas. nosso Senhor. Quem salva é Deus.em um objeto de culto. assim importa que o Filho do Homem seja levantado. Ele só exigiu que os israe­ litas olhassem para a serpente de bronze para serem curados porque queria ensinar-lhes.12). para a concretização de seus planos. que nada mais são do que simples bronze e um meio. à Palavra de Deus em Cristo. Os anjos queriam realizar a nossa missão. endeusaram aquele pedaço de bronze. ape­ sar de nossas falhas. Aquela serpente de bronze nos diz que quem deseja ser liberto do pecado e receber a salvação deve voltar-se de coração. Quem cura é Deus. quan­ do. para que todo aquele que nele crê não pereça. acontece muito atualmente. um conferencista ou um cantor. Portanto. mas tenha a vida eterna” Qo 3. por exemplo. se é Deus. que se fez homem (bronze na tipologia bíblica representa a humanidade) e foi feito pecado por nós (o pecado é representado pela serpente) para nos salvar. mas Deus. Porém. mas remetamos todas elas a Deus. É a do perigo. Quem transforma é Deus. Aquela serpente de bronze tipifica Cristo. diz o apóstolo Pedro (lPe 1. muito recorrente em nossos dias. Quis Deus usar excepcionalmente aquele pedaço de bronze há milhares de anos como condição para a cura.Q UE NEUSTÃ SE APENAS NEUSTÃ E DEUS CONTINUARÁ A SE DEUS JA R C apítulo 1 1 O segundo objetivo foi trazido ao lume séculos depois por Jesus: “E. somos apenas canais usados pela generosidade divina. as glórias que nos são lançadas. O crente em Cristo que endeusa pregadores. Neustã é só Neustã. Porém. de uma pintura ou de qualquer outro tipo de iconografia. estamos trans­ formando o simples bronze em um deus.Quando transformamos um canal em objeto de culto. sempre são Jesus. escrevendo aos Gálatas. (2) Nosso maior referencial. que fosse anátema (G1 1. mas não o maior referencial. para transmitir algo a alguém. Qualquer postura que fira esses dois pontos acima é paganismo versão evangélica.1). o padrão de todas as referências que possam povoar nossa existência. Podem ser referenciais. há aqueles que. têm uma mentalidade idolátrica diante de pessoas assim. posto que qualquer referencial que se choque com o padrão bíblico é anátema para nossas vidas. Eles não conseguem discernir até onde vai a linha que separa a admiração da veneração. Paulo disse para os cristãos de sua época serem imitadores dele como ele era (ou enquanto ele fosse) imitador de Cristo (ICo 11. Ou seja. diria que o critério diferenciador entre uma atitude e a outra é a seguinte: quando incensamos alguém como nosso “maior referencial”. Deus e a Sua Palavra. . a admiração passou a se tornar idolatria.9).8. duas coisas devem ficar bem definidas em nossa mente: (1) Mesmo que alguém seja verdadeiramente um servo do Senhor. um mero pedaço de bronze. Paulo também disse. daquele que se verga adorativamente perante um pedaço de barro. cantores. líderes e teólogos não tem diferença. que Deus quis usar para trazer. A TENDÊNCIA A ENDEUSAR NEUSTÃ FACILITA A DISSEMINAÇÃO DE HERESIAS Idolatria é idolatria independente de se manifestar em relação a um objeto ou a uma pessoa. apontarem para o referencial maior: Jesus e a Sua Palavra. coerente e ético em toda sua maneira de viver. san­ to. Sobre esse assunto. sutilmente. A aparência e o discurso podem ser outros. Em síntese. É adoração a Neustã. que se ele mesmo mudasse de idéia de repente e pregasse outro evangelho. nunca pessoas devem ser o nosso maior referencial. sem perceberem. mas a alma é pagã. é óbvio que nada justifica uma postura idolátrica em relação a essa pessoa. Neustã não é Deus. e só continuarão sendo referenciais para nós enquanto suas vidas forem uma referência a Cristo. diante de Deus. inclusive na área apologética. chamemos Neustã apenas de Neustã.3). na verdade. para que não mais entristeças o coração de Deus. como o rei Ezequias. que não lembre mais a antiga. nunca vamos ser enganados. Isso se queremos. quando. de Neusta. FAÇAMOS COMO EZEQUIAS Como o rei Ezequias. detendo alguma parcela de lide­ rança e exemplo na obra de Deus. só meio. Talvez seja hora de permitires que Deus te dissolva pelo fogo do Seu Espírito para que ganhes uma nova forma. ensina. mesmo com o “bronze” deixando de ser só canal de bênção para ser também meio disseminador de heresia. o “pedaço de bronze” é só “pedaço de bronze”. não permita que sejas visto como algo mais do que és: um simples pedaço de bronze nas mãos de Deus. Se nossa atenção estiver sempre em Deus e na Sua Palavra e não apenas no canal. muitos crentes que antes haviam endeusado o “bronze” (o homem ou os homens. Como boa parte desses modismos de hoje está sendo pregada no Brasil por pessoas que não poucas vezes foram referenciais evangélicos. “E se Neustã já estiver a receber incensos incessantes?”Talvez seja hora de ele ser desfeito. E se Neustã está sendo chamado de “deus” em seu coração.4). fazer o que é reto aos olhos do Senhor (2 Rs 18. o seu ídolo. em nome de Jesus. Deixe Neustã ser apenas Neustã e Deus continuará a ser Deus na sua vida! . não deixaram de venerá-lo. coloque fim hoje a esse culto abominável em sua vida. mas continues a ser usado graciosamente por Ele. meros canais). eloqüência e talento do orador. como fez o rei Ezequias com aquela serpente de metal (2 Rs 18.Q E NEUSTÃ SE APENAS NEUSTÃ E DEUS CONTINUARÁ A SE DEUS U JA R C apítulo 1 1 E com pesar que constatamos que muitos que aceitam os modismos teoló­ gicos de nossos dias o fazem justamente porque fizeram do simples “pedaço de bronze”. E você que prega. no conteúdo da mensagem e não simplesmente no carisma. canta ou dirige. nunca deve ser venerado. PARTE II C on fron tan do o F u n d am en TALISMO LIBERAL . Muitos modismos filosóficos e projetos de lei liberais nascem na Europa. A ordem em que cito as nações no parágrafo acima (Europa-EUA-Brasil) não é por acaso. tem avançado no Ocidente. os ten­ táculos desse movimento já começam a se instalar e muitos cristãos ainda não despertaram para isso. fazem escala nos Estados Unidos e. Ela é a grande fonte inspiradora da maior parte dos intelectuais de hoje que defendem mudanças na sociedade. é só olharmos para o ponto de partida desses modismos: a Europa. Alguns cristãos nos Estados Unidos ainda lutam valentemente contra ela. No Brasil. desembarcam no Brasil. Ela já reina soberana na Europa. recusando-se a ter sua fé amordaçada. .C a p ít u l o Não deixe amordaçarem a sua fé ma onda de intolerância ao cristianismo. Essa rota nos indica que se queremos ter uma idéia de como poderá ser o nosso futuro. camuflada por um falso dis­ curso de liberdade e imparcialidade. porém. amordaçando a fé da maioria das igrejas. só depois. frias. declara. Analistas estimam que. no século XIX. Os bispos tinham começado a admitir. isto é. aparentemente. hoje. mesmo que . lá pela década de 60. 2000). é fato que as igrejas européias estão arrefecidas espiritualmente. por exemplo). uma A sociedade pós-cristã. que não unham certeza da existência de Deus nem da veracidade das doutrinas centrais de sua religião”. o colunista Daniel Pipes afirma: “ Europa está se tornando. semanalmente. Quero ressaltar que a Europa é um continente lindo e um exemplo positivo em várias áreas (na qualidade dos serviços públicos. nas páginas 34 e 35 de seu livro The Abolition o f Britain: From Winston Churchill to Princess Diana (Encounter Books. que alguns observadores já estão chamando a Europa de novo continente das trevas’. rompendo os laços com sua tradição e seus valores históricos. caído em desuso.A SEDUÇÃO D NOVAS TEOLOGIAS AS INFLUENCIA LIBERAL EUROPEIA NA CULTURA OCIDENTAL É crescente e preocupante a influência liberal européia na cultura ocidental. “Quando não há almas a serem salvas. só resta um objetivo: melhorar suas condições de vida. cada vez mais. não me interpretem mal. Foi no continente europeu que nasceu a Reforma Protestante. inclusive de ordem espiritual. Aquela região também foi palco de muitos reavivamentos extraordinários. assim como a maior parte dos aspectos preocupantes da religião cristã. atacando especialmente os princípios judaico-cristãos. O número de cristãos praticantes despencou tanto nas duas últimas gerações. O escritor Peter Hitchens. citando o caso particular da Inglaterra: “O inferno foi abolido mais ou menos no mesmo tempo em que se legalizou o aborto e a pena de morte foi eliminada. Porém. como o Avivamento Wesleyano do século XVIII e o início das Missões Modernas. Mas. Afinal de contas. a condenação eterna. Em artigo publicado no jornal New York Sun. não é mesmo? Pois. é berço de muitos movimentos importantes. mas apenas corpos. a Europa passou a exercer nos últimos anos uma influência mundial extremamente negativa no campo filosófico. Por outro lado. Além do mais. havia. edição de 11 de maio de 2004. sem exercer mais influência na cultura do continente. de início muito timidamente. ninguém mais ia para o inferno. vazias e amordaçadas. Não sou antieuropeu. as mesquitas britânicas recebem mais fiéis que a Igreja Anglicana”. e que essa onda de intolerância. dizem que estamos ‘julgando os outros’ e somos automaticamente excluídos do debate’. inclusive.) Não estamos falando aqui de uma questão de semântica ou de diferenças de opinião teológica superficiais. Anne Brasseur. É nesse ponto que reside o perigo”. A deputada luxemburguesa. Esse é o ponto crucial do problema (. o Criacionismo “pode ser uma ameaça para os direitos do homem”. De acordo com a resolução aprovada. não é de se esperar que nos esforcemos muito em lutar contra ele. Elwood McQuaid denuncia em seu livro A Tirania da Minoria — atacando os valores judaico-cristãos (Editora Chamada da Meia-Noite) que muitos cristãos sofrem perseguições ou restrições em países europeus.foi. De acordo com o texto adotado na assembléia parla­ mentar. Elwood McQuaid. org). se acreditamos nele [no pecado]. 25 contra e três abstenções assevera ainda que o Criacionismo é “representa uma ameaça à pesquisa científica em geral e para a medicina em particular”. se manifesta com intensidade crescente em todo o mundo ocidental. “Há criacionistas que querem fazer passar a sua crença por uma disciplina científica e instituir o ensino da sua crença nas aulas de Biologia. O documento aprovado por 48 votos a favor. dizem que estamos ‘julgando os outros’ e somos automa­ ticamente excluídos do debate”. referiu-se ao Criacionismo. que já alcançou os Estados Unidos.. perten­ cente ao ministério para-eclesiástico evangélico de mesmo nome (www. “a teoria ou sistema que sustenta que as espécies animais e vegetais foram criadas por Deus de forma distinta e permanecerem invariáveis é uma crença e não tem qualquer base científica”. Quando não acreditamos no pecado. como insuportáveis adversários ‘julgadores’ que impedem a chegada da nova era liberal de ‘iluminação’”. se acreditamos nele. . editor-chefe da revista The Friends o f Israel.. como um perigo para as crianças européias. Um exemplo: em 5 de outubro de 2007. E. comenta as palavras de Hitchens: “Talvez a parte mais reveladora da análise de Hitchens seja esta: ‘E. As pessoas que acreditam firmemente nos princípios fundamentais da fé cristã são vistas com hostili­ dade. o Parlamento Europeu aprovou uma resolução que rejeita totalmente a possibilidade de o Criacionismo ser ensinado nas escolas.C apítulo 1 2 eles depois acabem mergulhados na mais severa miséria moral. a descriminilização do aborto. E é interessante noiai como os evangélicos no Brasil são chamados por esses mesmos crítico* de “massa ignara”. essa onda ilr intolerância ao cristianismo estará em alta. artigos e discursos como exemplos de “avanços” a scivm seguidos. de cá e da maior parte do mumli > ' Aquela formada pelos defensores dos princípios judaico-cristãos.41-44).A SEDUÇÃO D NOVAS TEOLOGIAS AS Talvez isso seja um indício da perspectiva escatológica de que a Uniilo Européia será o último grande império mundial antes do Milênio (I > n 2. de “inimigos dos avanços”. o perigo da mordaça estará de pé. (* fundamentalismo liberal quer neutralizar a influência dos princípios morai'. O EXEMPLO NORTE-AMERICANO Veja o exemplo dos Estados Unidos. Enquanto todos os que pensam diferentemente dessa onda forem taxadi i'. “a massa mais atrasada dos Estados Unidos". está mais do que claro qm enquanto os pensadores liberais europeus forem vistos como exemplos tl| “idéias avançadas” nos Estados Unidos. e cristãos na sociedade. como defendido pela maioria dos teólogos conservadores. por exemplo. Dei nic o trabalho de marcá-las em vários jornais e revistas. “retrocesso”. em um jornal do Rio il< Janeiro) e “retrocesso”. “trevas” e “atraso”. A mídia ■ os cientistas sociais chamam esse grupo costumeiramente de “obscurantll tas”. Enquanto políticas liberais como as da Holanda. e. seja indício disso ou não. entre outros termos. educadores e a maioria da mídia pensa rem que o que há de mais atrasado no Ocidente são os ideais conservadon judaico-cristãos e o que há de mais interessante são os ideais liberais. Todos esses termos já apareceram ipsis literis na imprensa brasileira e norte-americana em referência aos cristãos daquele país. . precisamos ficar em alerta. líderes. como Igreja aqui na Terra. “vermes” (recentemente. apare cerem em novelas. Enquanto os políticos. frisam. Brasil e outros países.i ção do “casamento” homossexual e das drogas. como sal e luz do mundo (Mt 5.13-16). “retrógrados”. devemos ficar preocupados (o governo holandês aprovou a legali/. Porém. etc. ateísiih e naturalistas europeus. Esse império. não podemos ficar passivos. a profissionalização da prostituição e discute a liberalização da pedofilia cm casos de meninos e meninas com idade a partir de 13 e 12 anos). “primitivos”. Qual a massa de norte-americanos mais xingada e execrada pela mídia de lá. exercerá forte influência no resto do mundo e se oponl à fé cristã. Por serem os Estados Unidos a maior potência. como se fosse o mais pernicioso do mundo. como já afirmamos. nada justifica uma generalização. Tudo o que acontece nos Estados Unidos ganha destaque na imprensa de todo o planeta. E via de regra.niio políticos quanto artistas. E é bom olharmos de vez em quando para o que está acontecendo na América do Norte. infelizmente. Alguém pode dizer: “Será que muitos desses xingamentos e críti­ cas não são apenas reação ao mau testemunho de muitos cristãos?” Gostaria de dizer um altissonante “sim”. Mas. basta ler obras como Verdade Absoluta. cientistas e jornalistas). O EXEMPLO EUROPEU .i concepção de valores e moral. apesar de haver muitos cristãos dos EUA e do Brasil que dêem mau testemunho (E como há!). e E agora. Uma rápida olhada no contexto em que são proferidas as ofensas dos liberais aos cristãos mostra que na maioria das vezes elas não são referên­ cia a uma generalização do que seja o perfil evangélico a partir do mau testemunho de alguns crentes. Além disso. este é apenas aproveitado como pretexto para revisitar as críticas aos cristianismo. espalhando-se para o resto do mundo. de vez em quando. esses idealistas norte-americanos (como alguns articulistas do liberal The N ew York Times) afirmam explicitamente que o seu país “deveria seguir o exemplo dos europeus. “europeizados" cm su.C apít u lo 1 2 Enquanto isso. É sintomático o fato de que. só o que vem da falsa “banda boa” norte-americana. São. E quando há algum mal testemunho. na maioria das vezes e infelizmente. isso é dito em questões que envolvem valores morais e religiosos. de Nancy Pearcey. Para entendermos melhor o que está acontecendo nos Estados Unidos. porque. as idéias geralmente fazem escalas lá antes de desembarcarem aqui e em outros países. É intolerância ao pensamento cristão. os esquerdistas (t. são incensados. que são mais avançados”. uma alusão direta aos princípios defendidos pelos cristãos de forma geral.i definiu um liberal articulista brasileiro). vistos como “a banda boa dos EUA”. é a partir de lá que essas idéias são disseminadas. de Charles Colson e Pearcey. os liberais dos Estados Unidos. com o viverem os?. “o que há de melhor naquele país” (como j. mas. não é isso que acontece. pelo contrário. louvados. onde ficou por um mês. se essa onda do fundamentalismo liberal vingar em nosso país. o projeto de lei brasileiro procura inspiração. hoje PLC 122/06. A pena prevista é de 2 a 5 anos de prisão. ao que parece. o pastor Ake Green. sufocada. Aquela mensagem em uma pequena reunião de sua congregação acabou chegando aos ouvidos da comunidade homossexual naquele país e. Alguém pode dizer: “Mas os ateus são minoria na população”. deixá-la irrelevante na vida das pessoas. mas respeita a liberdade de imprensa e de religião). tornará crime “qualquer manifestação contrária à orientação sexual e identidade de gênero”.8). Esse mesmo tipo de lei com interpretação subjetiva sobre o que é dis­ criminação de homossexuais vez por outra é discutida no Brasil. porventura achará fé na Terra?” (Lc 18.Não sou alarmista. pois condena a ofensa a homossexuais. o cristianismo esfriará. Até onde se sabe. o Projeto de Lei 5003/2001. Copiando o radicalismo dos esquerdistas europeus. como vemos hoje em muitos países da Europa. que está na Câmara dos Deputados. Green foi sentenciado à prisão. como está acontecendo já há alguns anos na Europa. prevê a mesma coisa. Mas quem disse que o fundamentalismo liberal pretende necessariamente acabar com a existência das religiões? Ela quer acabar com a sua influência. Se aprovado pelo Senado e sancionado pelo presidente. sendo crime inafiançável. brevemente teremos uma fé amordaçada. para que definhe aos poucos. na lei . Apenas pregou com seriedade o que diz a Bíblia. Na manha do dia 20 de julho de 2003. em nenhum momento de seu sermão Green xingou homossexuais ou fez chacotas com quem tem esse comportamento. tolhida. mas se a mensagem cristã não puder mais influenciar as pessoas. amordaçar a fé. A razão? A Corte em Kalmar julgou que sua mensagem de que “homossexualidade é pecado” foi uma afronta ao comportamento homossexual. Em vez de se assemelhar à lei canadense (que é mais equilibrada. Suécia. líder da Igreja Pentecostal em Borgholm. em 29 de junho de 2004. mas. verdade seja dita. mas foi preso. arrefecerá até ser apenas uma religião morta. O Projeto de Lei 6418/2005. pregou a cerca de 50 participantes do culto em sua igreja uma mensagem contundente acerca do que a Bíblia diz sobre a homossexualidade. Sempre existirão igrejas. Disse Jesus: “Quando o Filho do Homem voltar. a Câmara dos Deputados em Brasília aprovou no final de 2006 uma lei que torna crime de homofobia toda oposição à homossexualidade. Será um exagero crermos nessa probabilidade? Não! Há evidências con­ cretas para pensarmos assim. O texto do projeto é claro: não está se falando de ter conduta discri­ minatória em razão de pessoas. que levou à prisão o pastor pentecostal Ake Green por pregar que homossexualidade é pecado. sim.N O DEIXE AMORDAÇAREM Ã C apítulo 1 2 sueca.16). Porém.24-27. Uma coisa é ter o direito de ser homossexual. mas. e entre eles está a homossexualidade (Rm 1. estão sendo discriminados. fazendo com que estes voltem à sua heterossexualidade se desejarem (1 Co 6. as pessoas também têm o direito de informarem que a Palavra de Deus assevera que homossexualidade é pecado e que Deus transforma homossexuais. Porém. lC o 6 . Mas o texto do projeto de lei brasileiro tem exatamente o mesmo teor da lei anti-homofobia na Suécia. Ora. A Palavra de Deus afirma que seguir a von­ tade divina é uma escolha da própria pessoa (Ap 22.16-17). Edimburgo e Birmingham. a Bíblia nos ensina que devemos amar a todos independentemente de sua situação. a mesma Bíblia diz que não devemos concordar com comportamentos que chocam-se com a Palavra de Deus. porém a fé das pessoas e a liber­ dade de pensarem diferentemente da posição homossexual devem também ser respeitadas. O jornal trazia ainda um ma­ nifesto assinado por educadores e clérigos condenando tais acontecimentos e ressaltando a gravidade da situação: “Estudantes cristãos de muitas de . perseguidos e proibidos em universidades conceituadas da Grã-Bretanha. Todos têm o direito de optarem na área sexual como bem desejarem. o que aconteceu com o pastor Ake Green poderá acontecer com pastores no Brasil em pouco tempo.10. se nada for feito. sejam eles homossexuais ou não. As pessoas têm todo o direito de serem homossexuais se quiserem e de não serem ofendidas. tais como Exeter. o jornal londrino The Times publicou uma matéria afirmando que estudantes cristãos. em razão de comportamentos. Rm 1.11. em especial grupos como a Aliança Bíblica Universitária. Homossexuais não devem ser xingados. 10 ). assim como é direito do cidadão discordar de uma opção e afirmar o que diz a Palavra de Deus sobre essa opção. outra bem diferente é impedir que outros discordem dessa opção sexual e informem o que a Bíblia diz sobre isso. Em outras palavras. A SU FÉ A UNIVERSIDADES: HABITAT DO LIVRE PENSAR OU LUGAR DE DISCRIMINAÇÃO? Mais um caso: No dia 18 de novembro de 2006. presenciei em sala de aula um professor pregar que a grande solução para os problemas da humanidade é o fim da religião. E quando alguém tenta contra­ dizer isso. É taxada como “coisa de ultrapassado e fanático”. Há professores que sequer aceitam o debate e quem discordar de suas posições é rechaçado rápida e acidamente. Mesmo que esse nível de discriminação não seja uma realidade nas universidades brasileiras. mas um desrespeito total à história dessas instituições. São discriminados. o que está acontecendo não é só uma injustiça em um país que se afirma democrático e de Primeiro Mundo. o mundo só seria melhor com a vitória do ateísmo. Cristãos e suas posições são ignorados flagrantemente em debates. Veja o que está acontecendo nos Estados Unidos. optou por discordar dele. que objetivavam a busca pelo saber e um espaço sadio para o livre pensar. Resultado? Os ateus e liberais. mas na mídia. Mas. pegos de surpresa pelas fortes argumentações da cosmovisão cristã.nossas universidades estão sofrendo considerável oposição e discriminação. Portanto. que em tese é o habitat do livre pensar. nem sempre é assim. Enquanto isso. liberdade de fé e liberdade de associação”. a maioria esmagadora da turma. Claro que não pude ficar calado. em alguns lugares. puras e perfeitas científica e socialmente. Está não só nas universidades. têm se esforça­ do desesperadamente para esconder ou minimizar essas argumentações e . ao final. que antes assistia calada e condescendente suas afirmações. Ali. Segundo ele. com violação de seus direitos de liberdade de expressão. um lugar de discrimina­ ção a cristãos. sabe-se que em nosso país os estudantes cristãos são muitas vezes tolhidos e zombados por professores em plena sala de aula por causa da sua fé. começa a guerra. mesmo que polidamente. surgiu um movimento de contra-ataque a essa onda liberal. Há alguns anos. escanteados. de­ monstrando a cosmovisão cristã como (1) a alternativa mais coerente para entender a vida e (2) um movimento sadio de contra-cultura com um sólido arcabouço científico. A fé é vista como arquiinimiga da Ciência e dos “avanços sociais”. a universidade. passou a ser. Detalhe: a maioria das grandes universidades ocidentais foi fundada por cristãos. Tal posicionamento é mais comum do que se imagina. Por mais absurdo que pareça. Comecei amistosamente um debate em que as idéias dele foram confrontadas e. as afirmações de ateus e liberais são vistas como genuínas. partindo para um ataque baixo. apelando.C apítulo 1 2 desacreditar o cristianismo como nunca antes fizeram em toda a história daquele país. nervoso. é do filósofo norte-americano Daniel Dennett. um dos mais conhecidos pesquisadores do evolucionismo. “Se não conseguimos vencê-los no debate. de 13/11/06 (A igreja dos novos ateus). contando com todo o apoio da mídia. Vamos aos nomes. . não? São essas idéias que têm sido propaladas hoje em dia. ainda em 2006. mas seus ataques pretendem influenciar o aumento das mordaças sobre a fé. Logo em seguida. publicado em novembro de 2006 (e no Brasil em dezembro). e pretende explicar o surgimento da fé e o papel das religiões. que um dia não mais existirão religiões no mundo. Para esses cientistas. Sua obra tenta desafiar a fé cristã. edição 443. Principalmente “fé cristã”. para que ela perca a sua relevância. o neurocientista norte-americano Sam Harris lançou Letter to a Christian Nation (Carta a uma Nação Cristã). às vezes veladamente. a mensagem central das três obras é que “a religiosidade faz mais mal do que bem à humanidade”. Isto é. Já estão. O primeiro foi o zoólogo britânico Richard Dawkins. criticando-a com frágeis argumentos pró-ateísmo. Chama-se Breaking the Spell (Quebrando o encanto: a religião como fenômeno natural). vamos eliminá-los!” Bem “sadio”. O problema está na influência desse dis­ curso anti-religioso nas decisões políticas que afetam a sociedade como um todo. Essas idéias liberais anti-religiosas estão embutidas em atos políticos. Não estou dizendo com isso que creio que o mundo vai se tornar menos religioso devido a esses ataques. em omissões descabidas ou em projetos de lei que vez por outra aparecem propondo limites à liberdade religiosa e criando mecanismos inibidores da proclamação da mensagem do evangelho em sua integralidade. três cientistas norte-americanos de destaque interna­ cional lançaram livros pedindo exatamente o fim da religião. inclusive. Ele publicou em setembro de 2006 o livro The GodDelusion (publicado no Brasil sob o título “Deus. com base em um documentário que fez para a tevê britânica. emocional e intolerante. Como define matéria publicada na revista Época. Não. ingenuamente. o problema não é esse. Não que eles pensem. A maioria dos seres humanos sempre será religiosa. Recentemente. às vezes não. um delírio”). O último. o maior mal do mundo atende pelo nome de “religião” ou “fé”. a unção do Espírito. além de desmascarar as armadilhas dessa intolerância travestida de “tolerân­ cia” que está sendo pregada. estamos sendo amordaçados. Eles precisam despertar para a necessidade de bsucar subsídios para a sua atividade apologética e conclamar a igreja a um avivamento.: lOGIAS A DESPERTAMENTO A partir do momento que não podemos mais chamar de pecado o que a Bíblia chama de pecado e somos tolhidos ao tentar expressar nossa fé. qualquer engajamento é insuficiente. à luz da Bíblia. as maiores ferramentas contra esse tipo de onda são sempre o conhecimento. o engajamento e. Isso porque. Sem ela. da experiência e da História. Que Deus possa fazer deste livro um instrumento para despertar cons­ ciências e avivar vidas. claro.A SEDUÇÃO D S NOVAS _ . Os cristãos devem despertar para essa realidade o mais rápido possível e prevenir-se quanto à sutileza das mordaças que estão sendo preparadas. m . E pura intolerância camuflada de tolerância para enganar ingênuos. Uma análise da cultura ocidental hodierna comprova que não há nada mais contraditório hoje no mundo do que o fundamentalismo liberal. o liberalismo é fundamen­ talmente uma filosofia de vida e um ideal político que afirma que os indivíduos são livres para realizar suas vontades como quiserem. urge explicar no que consiste o liberalismo. contanto que não infrinjam a liberdade dos outros. Originado no século XVIII pelos iluministas. A . porque não há nada mais intolerante hoje no Ocidente do que o liberalismo. O termo deriva do latim liber. Para entender melhor o que estamos falando.C a p ít u l o A intolerência dos “tolerantes” grande ironia do uso do termo fundamentalismo em nossos dias é que justamente aqueles que o usam com o sentido de intolerância (os liberais) são os mais intolerantes de todos. que significa “livre”. Devido a essa visão liberal. duas medidas”? Os liberais atacam dogmas. hoje em dia somos atacados e em alguns momentos até proibidos de expressarmos nossas crenças e valores. Aceitam a discordância dos absolutos. O que é isso. mas não aceitam que se dis­ corde do relativismo. Agora. contraditoriamente. Por isso. senão intolerância? São lúcidas as palavras proferidas há pouco tempo pelo católico roma­ no Anthony Frontiero. mesmo que isso seja feito educadamente. O que é isso. do Conselho Pontifício de Justiça e Paz da Santa .Segundo essa corrente filosófica e política. senão a imposição de um dogma? Pregam a liberdade de expressão. o grande problema do liberalismo é que ele cria um novo modelo de intolerância. é que os liberais. mas ao mesmo tempo impedem a liberdade de expressão. São absolutamente intolerantes quanto a isso. ao final. Da mesma forma. Ele lhes concedeu o livre arbítrio. isso pode ser considerado sadio para o estabelecimento de uma sociedade. Deus permite que esses seres discordem dEle se quise­ rem. Assim. tradicionalmente. discordar do ponto de vista de alguém não-cristão sem ser taxado de intolerante? Isso significa que são “dois pesos. dos credos e das autoridades. Devemos conviver pacificamente com as ideologias. E mais: lutam pela imposição do relativismo sobre todos. E sofram cada um as conseqüências positivas ou não de suas opções. sofrerão. porque não posso. porém. Além disso. as pessoas que optarem por viver longe de Deus. Deus não criou o cosmos como um lugar repleto de seres que o servem mecanicamente. o maior bem da humanidade é a preservação da liberdade individual.19). ainda mais que “todo o mundo jaz no maligno” (1 Jo 5. os liberais se vêem como “amigos da liberdade” e enfatizam o direito de as pessoas discordarem das verdades absolutas. eles mesmos. são extremamente intolerantes. se discordar é um direito. O problema. Ora. O fundamentalismo liberal confunde a necessidade de coexistência pacífica entre as ideologias com a imposição da aceitação de todas as ideologias. Isso é um tre­ mendo erro e injustiça. mas têm. como cristão. De certa forma. A tolerância passa a se transformar em intolerância na medida em que somos forçados a ter de aceitar como igualmente certas as demais ideologias. sem agressões verbais. mas não devemos ser obrigados a aceitar todas as ideologias. em nossa sociedade. as pessoas devem ter a liberdade de crer no que quiserem crer e discordar do que desejarem. um dogma que não aceitam de forma alguma que seja criticado: o relativismo. as conseqüências disso: a tormenta do eterno afastamento de Deus. Pensar o contrário é levar o sistema democrático à auto-destruição. Faço questão de reproduzir alguns trechos do artigo: “Uma das contradições da cultura pós-moderna e globalizada é sua capacidade de romper fronteiras e preconceitos. “A relativização dos valores morais. em Varsóvia: “Como demonstra a história. o pastor presbiteriano Ricardo Barbosa de Souza descreve com perfeição o momento que estamos atravessando e as futuras conseqüências disso. Nas últimas décadas. o rompimento das tradições e o colapso do modelo tradicional da família abriram espaço para a aceitação e inclusão dos novos modelos morais e sociais. Por outro lado. uma democracia sem valores pode converter-se facilmente em um totalitarismo aberto ou encoberto”. a democracia deve ser também norteada por valores. Sem valores morais. em intervenção na Organização para a Segurança e a Cooperação na Europa. Assim como um monarca deve respeitar valores. romper com os preconceitos e a discriminação sociais e criar uma sociedade menos violenta e mais aberta à inclusão das minorias. senão estará instau­ rando um regime absolutista. FALSO DISCURSO DE LIBERDADE E DEMOCRACIA É USADO PARA AMORDAÇAR A FÉ Nesse prisma.C apítulo 1 3 Sé. tornando-a extremamente exclusiva e violenta. vemos uma enorme massa de excluídos que cresce a cada dia. a civilização ocidental tem feito um enorme esforço para diminuir as distâncias entre as raças. Muitos desses modelos contrariam os princípios cristãos mais fundamentais . tornando-a mais inclusiva e. criar outras fronteiras e precon­ ceitos. o que nasceu sob o apanágio da tolerância se torna exatamente o seu oposto: um monstro de intolerância. Uma democracia sem valores tem o poder de extinguir a democracia em si. em brilhante artigo publicado na edição 105 da revista Eclésia. e não pelo relativismo moral. ao mesmo tempo. transformando-se em alvos e agentes de violência e preconceitos jamais vistos”. de que não há salvação fora dele’ e de que ele é o ‘único que pode perdoar nossos pecados’. Jesus vem sendo reduzido a um grande líder. Todas essas afirmações são. A espiritualidade cristã pós-moderna vem se tornando cada dia mais light. num futuro não muito distante. uma agressão ao espírito ‘democrático’ da sociedade pós-moderna. alguém que nos deixou um bom exemplo para seguir — alguma . uma forma de discriminação inaceitável. “Muitos cristãos sentem-se intimidados por não poderem expressar suas convicções religiosas ou morais diante do novo fundamentalismo. Afirmar que a Bíblia é a Palavra de Deus e que só ela traz a revelação do propósito redentor de Jesus é também uma afirmação que pode ser considerada preconceituosa. de que ele é o único Senhor’. por si. o da ‘democracia liberal’. Isso significa que.e comprometem a saúde da sociedade. uma vez que nega todas as outras formas de revelação”. “De certa forma. Afirmar a exclusividade de Cristo implica na negação e rejeição de qualquer outro nome que possa nos reconciliar com Deus. temos presenciado a reação de vários grupos que não admitem a contradição. Fala-se muito pouco sobre o arrependimento e o pecado. enfrentaremos uma forte resistência à afirmação bíblica de que Jesus é o ca­ minho. Vivemos hoje o que o doutor James Houston chama de uma nova forma de fundamentalismo. a verdade’. isso já vem acontecendo. ‘a vida’. sejamos impedidos de falar da revelação bíblica do pecado ou mesmo de sustentar publicamente nossas convicções morais. sob o risco de sermos considerados preconceituosos”. contudo. “Imagino que. e isso soa como um preconceito. mais cedo do que pensamos. as Escrituras vêm perdendo sua autoridade. prega-se quase nada sobre a cruz e a ressurreição. que impõe sobre nós a obrigação de aceitar e admirar tudo aquilo que contraria princípios e valores que fazem parte da consciência cristã”. Nossa cultura tornou-se moralmente e religio­ samente liberal e requer que todos sejamos igualmente liberais. se é que crêem em alguma coisa pela qual valha a pena lutar”. com a justiça e o serviço. ama. buscando receber. embutir uma espiritualidade que pensa ser possível conhecer a Deus-Pai sem a mediação de seu Filho Jesus Cristo”. Ressaltamos as últimas palavras: “.. Fala-se muito de um Deus que é Pai e nos aceita.C apítulo 1 3 coisa no mesmo nível de Buda. chegaremos a isso. acolher e amar os diferentes.. Dalai Lama ou outro grande líder da humanidade.mesmo que isso nos custe alguns processos”. Cul­ tivam uma espiritualidade verticalista. mas corre-se o risco de. mesmo que isso nos custe alguns processos”. confrontar e lutar contra o pecado e todas as suas formas de escravidão e aprisionamento. Consideram tudo muito ‘normal’ e não vêem nenhuma relevância na cruz de Cristo. entre a inclusão. o que é certo e bíblico. com nenhuma consciência missionária. São crentes que pouco ou nada sabem da Palavra de Deus e demonstram pouco ou nenhum interesse em conhecê-la. Ghandi. e o compromisso horizontal com a missão evangelizadora. Acham que a radicalidade da fé bíblica é uma forma de fanatismo religioso e não demonstram nenhuma preocupação em lutar pelo que crêem. por trás dessa linguagem suave e atraente. com os pobres. mas nada muito além disso. meditação. contemplação e intimidade com Deus. Se a onda liberal não for detida. preservando a identidade cristã. mas também rejeitar. Alguém duvida? . acolhe e perdoa. mas também na afirmação e compromisso com as verdades absolutas da revelação bíblica”. “A primeira geração de cristãos pós-modernos já está aí. entre o diálogo inter-religioso na procura por mecanismos sociais mais justos. “Que o Espírito Santo nos dê discernimento e coragem para uma fé e um espírito comprometidos com o Deus da Aliança. social ou política. “O cristão pós-moderno é hoje desafiado a experimentar uma espiritualidade que o coloque na fronteira entre a comunhão ver­ tical da oração. além de centenas de ensaios e resenhas. de resenhas de livros. mas é naturalmente bom. especialmente no século XVIII. Esse último Burke chegou a chamar de “o Sócrates louco”. Segundo Kirk. tanto de ficção como de não-ficção. . quando Kirk lançou um livro que se tornou clássico rapidamente nos EUA. Russell Amos Kirk (1918-1994) foi um notório jornalista cultural e cientista político norte-americano. Foi colunista em vários periódicos nos Estados Unidos. Ele escreveu mais de 30 livros. e (c) o sentimentalismo romântico do filósofo francês Rousseau. generoso e benevolente. Burke criticou em sua época três escolas que chamou de “radicais” e que estavam tornando-se bastante populares em seus dias: (a) o racionalismo dos filósofos. não é tendente ao pecado. o crítico americano afirma que a onda liberal que hoje vemos no mundo (com a pregação a favor do aborto. (b) o nascente utilitarismo do filósofo e jurista inglês jeremy Bentham. Não é diferente com as idéias que permeiam atualmente a sociedade ocidental. sendo considerado hoje a melhor obra para entender tanto a formação e o desenvolvimento do conservadorismo na tradição anglo-americana como as raízes e o desenvolvimento do pensa­ mento liberal no Ocidente. se Deus existe.ENTENDA O PROCESSO DE DESCONSTRUÇÃO DA FÉ Todo mal tem um início. dando-lhe base. 2) A idéia de que o homem. da liberação das drogas e da promiscuidade sexual) nasceu no período histórico denomi­ nado “Idade da Razão”. Estou falando de The Conservative M ind: from Burke to Eliot (O Conservadorismo: de Burke a Eliot). fundador da revista de cultura M odem Age e editor por 30 anos da revista The University Bookman. o político britânico identificou alguns pontos que caracterizaram a onda liberal daquela época. antevendo o futuro. ele seria ou o ser remoto e impassível dos deístas ou o brumoso e recém-criado Deus de Rousseau”. diferentemente do que a Bíblia diz. Que o diga o crítico social Russell Kirk. Nesse livro. pensador e político britânico. sua maior obra só veio a lume em 1953. em sua análise. Kirk diz ainda que um dos primeiros a denunciar eloqüentemente os efeitos nefastos do liberalismo em sua gênese foi Edmund Burke (1729-1797). conhecido pelo seu conservadorismo. Mas. Entre eles estão: 1) A crença de que. “difere radicalmente em sua natureza da idéia do Deus cristão. O detalhe é que. que a atual onda liberal teve seu início. onde as pessoas vivem moralmente sem rumo. em sua obra supracita­ da. por convicções pessoais sobre a justiça e a honra. chegamos ao ponto onde estamos hoje. atrás da satisfação de seus próprios apetites. Como vemos. Não é necessário um grande exercício mental para perceber isso. ao pregar a teoria da plena bondade natural do ser humano. seria uma sociedade doentia. As questões sociais são. dos juramentos e das velhas instituições”. por exemplo. afirmando que a religião é o estado primitivo da sociedade. dos tabus. Não é à toa que é bastante comum vermos os pensadores pós-modernos identificando a sociedade em que vivemos como inundada de patologias. Seria uma sociedade onde cada um estaria voltado para sua gratificação pessoal. que fugirá tanto do extremo da tirania quanto do extremo da anarquia. E ele não está errado. lá no fundo. foi ali. Já dizia Russell Kirk. por um forte sentido de certo e errado. problemas religiosos e morais”. O iluminismo proclamou que a religião não era mais relevante. Foi Jean Jacques Rousseau quem “decretou” a morte do pecado. . que está sendo implementanda hoje em nossa sociedade. 5) O pensamento de que devemos buscar a “libertação das velhas crenças. no fundo. confusos e ilusórios. com o seu positivismo. tanto na sua versão mais radical (o anarquismo) quanto na sua versão liberal mais leve. Assim.A INTOLERÂNCIA DOS “ TOLERANTES” C apítulo 1 3 sendo corrompido pelas instituições. o porquê de a sociedade de hoje viver em um nível moral muito baixo. A SOCIEDADE ESTÁ MORALMENTE A DERIVA Esses cinco pontos esposados por Edmund Burke e que apresentamos acima explicam. ignorando o certo e o errado. Sem dúvida. no século XVIII. veio Augusto Comte. 3) A convicção de que as tradições da humanidade e o ensino bíblico são mitos. 4) A fé no ser humano. Imagine uma sociedade onde as pessoas são governadas pela crença em uma ordem moral duradoura. que “problemas políticos e sociais são. Depois dele. uma questão de moral pessoal. Agora. e regozijarmo-nos com “a pura liberdade e a auto-satisfação”. como sendo capaz de aprimorar-se sozinho e trazer a paz e a ordem ao mundo sem precisar de alguma ajuda divina. imagine uma outra sociedade. e nos ensinam muito pouco. Com certeza será uma sociedade sadia. porém. pelo contrário. vez por outra. são questionados por celebrizadas “mentes privilegiadas” de nossos dias. por não ter firmeza moral e sentido na existência. caminho. em sua maioria. o mundo necessita mais do que o . em particular. E não foram poucos os que se identificaram com ele! Os perigos de uma sociedade assim é que. Em outras palavras. por isso. Isso porque sem limites é impossível andar com segurança ou mesmo entender a existência. a sua missão na vida. egoísta e violenta. A sociedade de hoje precisa de valores. sobre sua profunda infelicidade existencial. ele não relativiza. mas também sentido. Está moralmente à deriva. medos. está aberta a qualquer bizarria. camisa-de-força. o que. só o vazio. Eles foram criados por Deus para o melhor aproveitamento da vida. Desrespeitá-los é ser infeliz ou infelicitar o próximo. Outro dia um articulista carioca escreveu. via de regra. Ele se apóia e orienta-se em valores concretos. os retiram. destruidor. não buscam impor limites. “castrador”. Mas onde estão os deveres? Apesar de ainda existirem alguns deveres reconhecidos. compreende a existência como um todo e. que não aspira nada. Ora. não sofre essas crises. os livros de ficção.crises e profundos vazios existenciais. em vez de inibir sua vocação e suas habilidades. Sabemos que a produção artística de uma época diz muito sobre os problemas. conquistas. Isso porque. angústias. pois uma vez que reconhe­ ce a Palavra de Deus como sua única regra de fé e prática. chegando a afirmar que tinha inveja da lagartixa. Limites são uma necessidade da própria existência. Isso é porque a alma humana no século XXI encontra-se assim. os valores morais vão perdendo seu significado e força. claros e absolutos das Sagradas Escrituras. Ele percebe limites e. em sua coluna em um dos jornais mais influentes do país. peças teatrais e pinturas de hoje estão repletos de personagens psicóticos ou figuras que não trazem substancialmente nada. a não ser a satisfação de seus instintos naturais. hedonista. Seu comportamento e pensamentos são pautados por ela. as desenvolvem. o que resulta em uma sociedade cada vez mais neurótica. Por isso. o que prevalece no inconsciente coletivo da sociedade de hoje é a idéia de que o dever é visto como mal. sonhos e aspirações de uma geração. até mesmo estes. inverte ou esvazia valores. O único conceito que consegue-se assimilar é o que diz: “Não se pode reprimir direitos”. Um sintoma da crise em que vive o mundo é a atual produção artística no planeta. À medida que o tempo passa. O cristão genuíno. filmes. Isso significa limites. os projetos de lei de hoje. porém nossa luta é muito maior. O mundo precisa de Cristo. Precisamos também. Não devemos só mourejar pela manutenção dos imprescindíveis valores sociais herdados pela formação judaico-cristã da sociedade ocidental. Identificamo-nos com a luta de todo grupo conservador em favor da preservação dos valores que têm seu apoio nas Sagradas Escrituras. pregar e defender os princípios da Palavra de Deus. Essa é a nossa missão. . da verdade do evangelho. e precipuamente. Precisa da Palavra de Deus.A INTOLERÂNCIA DOS “ TOLERANTES” C a p ít u l o 13 retorno aos valores ou princípios judaico-cristãos. . que originalmente tinha um sentido negativo. sendo que em sentido inverso. etc. E comum ouvirmos falar de fundamentalismo cristão. acabou perdendo o seu sentido original. gentil. sendo usada para referir-se ao senhor feudal.S. referindo-se a alguém educado.C a p í t u lo 1 ^— r Não tenha medo de ser taxado de “fundamentalista cristão” stamos em um período da História em que o termo fundamenta­ lismo está em alta. mas hoje tem um sentido positivo. altruísta. Lewis conta a história da palavra inglesa gentlem an. A expressão “fundamentalismo”. Deixe-me dar um exemplo. Na introdução de sua obra Cristianismo puro e simples. Mas o que significa fun­ damentalismo? Fundamentalismo é uma expressão que. Com o termo fundamentalismo aconteceu a mesma coisa. que originalmente não representava necessariamente algo negativo. como tantas outras palavras. C. fundamentalismo islâmico. significa hoje todo tipo de posição que é con­ E . fundamentalismo é. Isso se deve a um trabalho de anos dos liberais para tentar colar significações negativas no fundamentalismo cristão e. o humanismo secular e o relativismo. Assim. que levou à criação da corrente filosófica conhecida hoje como humanismo secular. isto é. originalmente. que passaram a acusar os cristãos conservadores de serem intolerantes e anticientíficos só porque defendem a inerrância das Escrituras. Trata-se de uma resposta que não ignora o uso de argumentos lógicos. passou a ser equivocadamente sinônimo de qualquer . posteriormente. atacava as igrejas e a Teologia. Foi assim que o termo fundamentalismo. USO EQUIVOCADO DO TERMO FUNDAMENTALISMO Porém. preconiza que todos os dogmas religiosos devem ser evitados. históricos e científicos. novo racionalismo. Ela era inspirada pelo avanço da teoria darwinista e do movimento denominado nouveau racionalismo. infelizmente. que. O QUE É FUNDAMENTALISMO? O termo fundamentalismo nasceu no início do século XX nos Estados Unidos para denominar a resposta dos evangélicos norte-americanos ao avanço do liberalismo teológico. uma corrente filosófica denominada Modernismo. Cristãos evangélicos norte-americanos. E não é uma resposta irracional ou apenas emocio­ nal. o nome que se dá à resposta cristã evangélica às tentativas de desacreditar a Bíblia e de envenenar as doutrinas cristãs com conceitos antibíblicos. Essa acepção do termo foi criação dos liberais. O novo racionalismo produziu o secularismo. Há cem anos. o termo fundamentalismo foi. em qualquer outro tipo de manifestação antiliberal. combatendo essas idéias e defen­ dendo o pensamento cristão. facilitadora do ateísmo. reagiram enfatizando os fundamentos bíblicos. como o evolucionismo.siderada insuportável pela sociedade. Esse movimento enfatizava os princípios do iluminismo europeu do século XVIII. estropiado de seu significado real e passou a ser sinônimo de alienação. a divindade de Cristo. por sua vez. advindo da Europa. Seu nascimento virginal e a Salvação só em Jesus. que nada tinha de negativo em sua proposta inicial. em nossos dias. porque o verdadeiro cristianismo não força as pessoas a aceitarem as doutrinas bíblicas e convive perfeitamente com as diferenças religiosas. sim. este passou a ser atrelado a situações e casos extremamente negativos. e o primeiro com total liberdade religiosa. às pessoas e o amor). o que não é verdade. como alguns liberais afirmam em livros e na mídia. Em outras palavras: há espécies de fundamentalismo (religioso ou po­ lítico) que são intolerantes e anticientíficos. tentando enganar os incautos. Um exemplo desse erro: a visão de que o fundamentalismo cristão e o fun­ damentalismo islâmico se eqüivalem. mas daí dizer que todo funda­ mentalismo é sinônimo disso é um erro crasso. o verdadeiro fundamentalismo cristão não se enquadra nesse caso. E para colar ainda mais essa imagem negativa ao termo. lançado por Descartes em meados do século XVII. bíblicos. Os tipos de fundamentos a que se apegam as manifestações fundamentalistas são o que definem se tal fundamentalismo é negativo ou não. Fundamentalismo. e não do Iluminismo.C apítulo 1 4 tipo de radicalismo intolerante. que foi iniciado oficialmente com a repercussão do livro Discurso do método. justamente pelos princípios (fun­ damentos) que defende (valores cristãos. como falso cristianismo. porque o verdadeiro fundamentalista cristão nunca faria isso. e que só foi ganhar corpo de fato como movimento no século XVIII. Se há algum cristão intolerante. . São coisas absolutamente diferentes. para reforçar a idéia de que qualquer fundamentalismo é sinônimo de ignorância e ódio. Os Estados Unidos nasceram sob o Pacto dos Pais Peregrinos (que eram protestantes). que pregam o respeito à vida. melhor ainda. é criação protestante. ele não deve ser definido como “fundamentalista cristão”. preconceituoso e anticientífico. O primeiro país republicano e democrata do mundo. realizado em 1620 no Navio Mayflower. em si. Além disso. Esse evento é bem anterior ao iluminismo. Ora. influenciada pelos conceitos iluministas). Crer no contrário é dizer que o cristianismo é intolerante e anticientífico. Primeiro. O certo é referir-se ao caso como fanatismo ou. não significa necessariamente ignorância e ódio aos diferentes. Uma manifestação fundamentalista só poderá ser considerada sinônimo de intolerância e anticientificismo quando os princípios (fundamentos) religiosos ou políticos que defende pregam a intolerância e a ignorância. Só para citar um exemplo histórico: os Estados Unidos são uma democracia fun­ dada por protestantes que fugiram da perseguição católica romana na Europa. que estava a caminho da América. que mata pela sua fé. a Independência e a Cons­ tituição dos Estados Unidos são anteriores à Revolução Francesa (esta. e o avanço da teoria darwinista. ateus raivosos e an ti teístas julgar que os erros cometidos em nome da Bíblia e do cristianismo provam que estes são maus.A SEDUÇÃO D NOVAS TEOLOGIAS AS E os casos de intolerância religiosa. CRÍTICAS AOS FUNDAMENTALISTAS CRISTÃOS ENTRE OS PRÓPRIOS EVANGÉLICOS As duas únicas críticas sinceras. defende esse tipo de atitude. esta é a cosmovisão judaico-cristã. Além de o verdadeiro cristianismo. sim. Assim. há muitos cristãos sinceros que andam segundo a Palavra de Deus e. São esses erros que criaram. condenar esses erros. É argumento desonesto dos liberais. Elas dizem respeito (1) à despreocupação com o social no início do movimento e (2) ao receio diante do pentecostalismo em seus primeiros passos. se existe alguma cosmovisão religiosa que nunca propôs a irracionalidade e o anticientificismo. um movimen­ to espiritual promovido pelo Espírito Santo de Deus para reavivar a Igreja em meio aos ataques de dois inimigos comuns para ambos: o liberalismo teológico. a falsa ciência. que esfriara as igrejas. por isso. no meio evangélico. expresso na Bíblia. Em outras palavras. quando surgiu o pentecostalismo. ao fundamentalismo cristão são advindas do próprio meio cristão. que sempre foi contra. Em segundo lugar. ao invés de vê-lo como um aliado. religião e ciência não são opostas quando a primeira se trata do cristianismo ou do judaísmo. o cristianismo não tem nada de anticientificismo. pouco afeitas a analisar qualquer coisa diferente dos seus parâmetros. repito: em nenhum momento a Bíblia. ligados a igrejas protestantes históricas e calvinistas. Portanto. diferentemente do que se tem dito há um século. as pechas de que o fundamentalista cristão seria engessado e frio. O receio diante do pentecostalismo em seu início se deveu ao fato de os primeiros fundamentalistas serem. . os primeiros fundamentalistas preferiram rechaçar o pentecostalismo. quase em sua totalidade. era em sua maioria esmagadora arminiano. que levara muitos cristãos ao agnosticismo. atrocidades e discriminação por parte de cristãos protestantes durante a História? Mais uma vez. também condenam esses erros. única regra de fé e prática do cristão. que além de pregar a contemporaneidade dos dons espirituais e o batismo no Espírito Santo como uma bênção subseqüente à Salvação. são simplesmente casos de falso cristianismo. Além de muitos dos grandes cientistas e filósofos da História terem sido cristãos sinceros. sem preconceito. C apítulo 1 4 Os pentecostais. Alguns exemplos são o evangelho social e a Teologia da Libertação. A outra crítica sincera ao fundamentalismo é relativa ao aspecto social. ainda há. que ficou mais conhecida e desenvolvida no meio católico.14-26). Eles tão somente mantêm sua posição conser­ vadora em relação à espinha dorsal da fé cristã. Porém. na Suíça. claro. o que. arquiinimigos do fundamentalismo. Tentava também estabelecer um maior diálogo com a sociedade. CPAD. . uma fé sem obras. A primeira carta doutrinária oficial do pentecostalismo.31-46. 21). Se os liberacionistas pra­ ticavam obras sem fé. o evangelicalismo nada mais era que uma tentativa de estabelecer um equilíbrio. em seu início. o fundamen­ talismo acabou descambando para um extremo. mas ele só engrenou oficialmente com a famosa Conferência de Laussane. Por estar preocupado ap riori apenas com os ataques às doutrinas bíbli­ cas. uma perspectiva pentecostal. fundamentalistas evangélicos que mantêm sua raiz tradicional antipentecostal e confundem suas pequenas diferenças teológicas com a espinha dorsal da fé cristã. Não que a doutrina bíblica não fale do social (Mt 25. mas nasceu entre protestantes liberais. defendiam a salvação pelo social. Acreditam em todas as verdades bíblicas genuínas sustentadas por todas as igrejas verdadeiramente evangélicas” {Teologia sistemática. a toda incredulidade na igreja e a filiação a ela de pessoas não-salvas. e também já está superada. Surgido na década de 70 (seus primeiros lampejos se deram nos anos 40.27. sempre foram absolutamente contra o liberalismo teológico. Devido ao excesso de zelo em relação aos liberacionistas. em 1974. os fundamentalistas acabaram praticando. um pouco do compromisso cristão com as grandes questões sociais de nossa época. e dos fundamen­ talistas do outro. desdesua gênese. mas o problema também é que muitos teólogos liberais. escrita em 1914 pelos fundadores das Assembléias de Deus (maior re­ presentante do pentecostalismo clássico). fugir das polarizações dos liberais e liberacionistas de um lado. um olhar mais amplo mostra que a maioria dos que hoje são chamados de fundamentalistas cristãos (ou neofundamentalistas evangélicos) não é antipentecostal. algumas vezes. 2. p. a todo o modernismo. voltar a uma fé com obras. o fundamentalismo acabou esquecendo. o darwinismo e o humanismo secular. na verdade. Atualmente. é o que define mesmo o que seja realmente fundamentalismo evangélico. tendo como presidente o pastor batista norte-americano Billy Graham e como relator o teólogo britânico anglicano John Stott). Tg 1. cheias de pecado e de mundanismo. Foi para promover o equilíbrio que nasceu o movimento denomina­ do evangelicalismo. começavadizendo: “Essas assembléias opõem-se a todaAlta Crítica radical da Bíblia. por incrível que pareça. Nos últimos 30 anos. de perseguição ao cristianismo no Ocidente (às vezes velada. Mas. a in­ sistente proposta de uma cosmovisão cristã para o mundo (o que é chamado pelos críticos anti-religião de “nova estratégia de ataque do fundamentalismo cristão”) está dentro da proposta evangelicalista de inserção do evangelho na cultura e na sociedade. preferiam isolar-se. da responsabilidade social na evangelização. Além disso. Hoje. muitos cristãos já falam da Missão Intergral da Igreja. e que fugiam de posições tidas como fundamentalistas. porém. finalmente. Primeiro. Hoje. EVANGELICALISTAS SE DESCOBREM FUNDAMENTALISTAS ($) O reflexo disso é que muitos cristãos que antes se apresentavam como evange­ licalistas. porque a atual onda liberal. uma vez que conseguiu despertar os cristãos evangélicos de forma geral para uma pre­ ocupação maior com as questões sociais e fez com que muitos fundamentalistas saíssem de sua “caverna” de isolamento social. o evangelicalismo foi muito importante para mim. liberacionistas travestidos de evangelicalistas. Por isso. Mas. a preocupação com o social aumentou entre os cristãos evangélicos. pois descobriram que alguns dos que defendiam o movimento eram. pois vejo que o momento . etc. descobri-me. hoje se assumem fundamentalistas. Por quê? Por pelo menos três razões. o fundamentalismo cristão voltou a estar em alta (e dessa vez sem o signo de “fé sem obras”). De vez em quando. por onde viajo. e isso se deve consideravelmente ao movimento evangelicalista. quase não ouvimos mais falar de evangelicalismo e o fundamen­ talismo cristão voltou a estar em alta. na verdade. ouço algum colega de ministério dizendo: “Silas. devido à discriminação que sofriam. como eram antes do século XX. porque a fé cristã está sendo veementemente atacada em nossos dias. Segundo. levou-os ao enfrentamento doutrinário e à dedicação à atividade apologética.A SEDUÇÃO D NOVAS TEOLOGIAS AS enquanto muitos fundamentalistas. à intensa defesa da fé cristã. hoje. a ênfase deixou de estar no resgate da função social da igreja (o que em parte já foi resgatado pelo evangelicalismo) para estar na defesa das doutrinas cristãs. por entenderem que o evangelicalismo já cumpriu sua missão. às vezes não). Os evangélicos voltaram a ser mais engajados com o social. fundamentalista. porque muitos se desiludiram com o movimento evangelicalista. . por definição. Coexistir com outras religiões sim. como já deve ter notado. 7) Devemos rejeitar como opções sadias todo tipo de pecado clarificado nas Sagradas Escrituras. Que pontos são esses? 1) A Bíblia como única regra de fé e prática. ESPINHA DORSAL DA FÉ CRISTÃ Qualquer cristão que viva e defenda os pontos cardeais da fé cristã é. e Ele voltará para buscar a Sua Igreja e julgar a todos. 3) Deus é um só. que é apresentado por muitos como sendo a verdadeira versão do fundamentalismo cristão. é. É uma caricatura do fundamentalismo criada pelos liberais. Filho e Espírito Santo. Além do mais. o que é sadio e necessário). não importa de que denominação seja: você é fundamentalista evangélico. Seu nascimento foi virginal e Seus milagres realmente aconteceram. Seus atributos naturais e morais expressos na Bíblia não podem ser ignorados. Deus feito homem. a inerrante. 4) Não devemos aceitar o ecumenismo religioso (não confundir com diálogo entre denominações verdadeiramente cristãs evangélicas. suficiente e infalível Palavra de Deus. subsistindo eternamente em três pessoas: Pai. não tem nada a ver com alienação e radicalismos. 100% Deus e 100% homem. conforme ensinado pela Palavra de Deus. É um lugar de tormento para os pecadores não-arrependidos. 6) O Inferno existe e é literal. e isso.N O TENHA M Â EDO D SE TAXADO D FUNDAMENTALISTA CRISTÃO E R E C apítulo 1 4 que a Igreja está vivendo atualmente (com modismos. Suas histórias são factuais e não mitológicas. profusão de heresias e ataque dos liberalismos teológico e secular) exige uma ênfase fundamentalista. um defensor dos fundamentos bíblico-cristãos. Se esses pontos são plenamente defendidos e inegociáveis para você. 2) Jesus Cristo é o Filho de Deus. na verdade. Ele criou o universo. “O quê? Eu?” Sim. ou seja. bem como Sua ressurreição. 5) Salvação só em Cristo. Não fazer isso seria vender a consciência cristã. mas sem unir-se a elas ideologicamente ou condescender doutrinariamente. de­ fendido por muitíssima pouca gente no meio cristão. um fundamentalista cristão. e seus textos devem ser interpretados literalmente. exceto em passagens claramente conotativas. descobri que o genuíno fundamentalismo cristão não é marcado necessariamente pelos radicalismos de que tanto se falava”. O “fundamentalismo cristão xiita”. No sentido original e verdadeiro da palavra. é apreço à ortodoxia bíblica. anticientificismo e outros logros mais. quando são confrontados sobre sua fé em fóruns não-cristãos e por pessoas liberais.” E seguem-se definições de fundamentalismo cristão que nada mais são do que uma reprodução da definição que nos foi imposta pelos liberais para zombar da genuína defesa dos princípios bíblicos. que querem justamente que tenhamos vergonha dessa definição (“fundamentalistas cristãos”) e. Então. Sim. claro. ao tentarem expor a doutrina bíblica. . aos fundamentos da fé cristã. mas conservador”. Pensar o contrário é entrai. acabemos negociando os princípios inegociáveis da Palavra de Deus. Sou bíblico” ou “Não sou fundamentalista. O genuíno fundamentalismo cristão é fundamentalismo bíblico. Outro exemplo muito comum: há muitos cristãos que.QUANDO É UMA HONRA SER CHAMADO DE FUNDAMENTALISTA Depois de entendermos isso. ao tentarmos fugir dela. Isso nunca deve acontecer. Pergunta-se: O que você conserva? Os fundamentos bíblicos? “Sim!”. “Como? Não sou!” E tentam tergiversar. com muito prazer. preocupados em não serem taxados de “fundamentalistas”. Se é no sentido de intolerância e anticientificismo. porque os cristãos são homens da Bíblia”. não sou. não sou! Ser fundamentalista é. ou seja. responde. Portanto. criticam acidamente o que chamam de “fundamentalismo evangélico”. que é defesa dos fundamentos bíblicos. Todo cristão é fundamentalista. ouvem assustados: “O senhor está sendo fundamentalista!” Então. entram em crise existencial. porque. como não é fundamentalista? “Não. quando estão em algum fórum evangélico. chega a ser engraçado ver evangelicalistas que. sou sim. Se estivessem conscientes do que é o verdadeiro e sadio fundamentalismo cristão. Mas se é no sentido verdadeiro e original do termo. e não preconceito. mas.no jogo dos liberais... explicam sua ativida­ de apologética dizendo: “Não sou fundamentalista. responderiam: “Depende em que sentido você está usando o termo fundamentalismo. se desesperam. não tenha medo de ser fundamentalista cristão. C a p ít u l o Só uma fé engajada e sob o poder do Espírito Santo pode impactar a sociedade igreja evangélica tem crescido vertiginosamente no Brasil. isso não é verdade. Já somos. o maior desafio para a igreja do século XXI é a necessidade de crescimento com transformação social. durante muitos anos. mas estes não estão vindo acompanhados pela transformação da nação. Chama a atenção o fato de que dados e mais dados surgem apontando um crescimento constante dos evangélicos no Brasil. Mas. E que. como diz a Bíblia. quando o número de evangélicos em nosso país era bem menor. Ser sal e luz do mundo. segundo estimativas. Porém. era comum ouvirmos o discurso de que o Brasil iria melhorar à medida que a porcentagem de evangélicos brasileiros aumentasse. Discussões sobre o assunto têm aumentado no meio evangélico devido à contradição entre os fatos e as expectativas geradas pelos dados. es­ pecialmente o Movimento Pentecostal. cerca de 25% da população e este cres­ cimento não tem sido acompanhado pela melhoria social e moral do nosso A . Não é isso que ensina a Bíblia. O QUE É UM ENGAJAMENTO SADIO Alguém pode se perguntar: Mas o que seria esse engajamento? É importante frisar o que é esse engajamento porque há pessoas que o confundem com dois extremos: a imposição da fé cristão sobre as outras pes­ soas e o confinamento da fé para trabalhar apenas em prol de causas sociais definidas pela própria sociedade de nosso tempo. mas não em qualidade. até em alguns setores da comunidade evangélica. Devemos pregar esperando que o Espírito Santo convença as pessoas. então. de forma geral. que tem sido pre­ gado por aí. mas. não imposto. não é uma luta “contra carne ou sangue” (Ef 6. mas o que eles podem fazer pelo seu país.12). estrategicamente. parafraseando o discurso de posse do ex-presidente norte-americano John Kennedy. O nosso trabalho é de persuasão. os evangélicos estão aumentando em quantidade.A SEDUÇÃO D NOVAS TEOLOGIAS AS país. No primeiro caso. empurrar o cristianismo “goela abai­ xo” das pessoas. O evangelho deve ser pregado. são cristãos que têm . ao tipo de evangelho. distorcido. que prega que os evangélicos devem tomar conta. preferindo mourejar apenas em favor daquelas causas que a própria sociedade elegeu como as únicas dignas de nossa atenção e dedicação. o país continua o mesmo ou até pior em alguns sentidos. Os escândalos. Isso se deve. de todas as principais áreas de comando da sociedade para.15. No segundo caso. Em outras palavras. Como já disse alguém. por exemplo. mas também à falta de engajamento da maioria dos crentes brasileiros com a transformação social do seu país. apesar de sermos 1/4 da nação. As causas ecológicas. claro. Sãos os que defendem uma Teologia do Domínio. Em outras palavras. refiro-me àqueles cristãos que têm uma visão “constantina” do cristianismo.16). a imoralidade e os casos de corrupção têm aumentado. ainda mais que possuem a mensagem mais poderosa do mundo: o evangelho de Cristo. refiro-me àqueles cristãos que não se preocupam em transmitir os valores do Reino de Deus aos seus familiares e colegas de trabalho e também são passivos diante de temas como a legalização do aborto e os projetos que pretendem minar a liberdade religiosa e de expres­ são. As pessoas são livres para aceitar ou não (Mc 16. É verdade que há pesquisas que mostram mudanças efetivas em algumas cidades e regiões do Brasil devido à influência do evangelho. os evangélicos devem se perguntar não o que o país pode fazer por eles. nem seria uma visão realista que levasse em conta a profundidade das convicções de . “A nossa luta deve ser. transcreve e comenta a abordagem de Guinness: “A Aliança Cívica Plural esboça a metáfora de uma praça pública. ele afirmou a necessidade de uma Aliança Cívica Plural. no blog www. Essa Aliança Cívica Plural não significa a adoção de um ‘mínimo denominador comum’ — onde as crenças e valores são reduzidos àquilo que todos acreditam. erroneamente.S UM F ENGAJADA E SO O PODER D ESPÍRITO SANTO PODE IMPACTAR A SOCIEDADE Ó A É B O C apítulo 1 5 sua agenda determinada não pelos valores da Palavra de Deus. essas interações acontecem debaixo de uma estrutura na qual se reconhecem absolutos mínimos que regem a convivência e que protegem certos direitos básicos e inalienáveis das pesso­ as. apesar de segmen­ tos da civilização terem considerado. Na ocasião. sendo considerado sucessor do legado do pastor norte-americano Francis Schaeffer. Para dar um exemplo do tipo de engajamento que precisamos. pelo reconhecimento desses absolutos e pelo estabelecimento dessas regras de convivência. as outras questões não devem ser desprezadas. de que adianta ter liberdade de expressão. ele substancia que o livre pensar é a primeira das liberdades. Mesmo que algumas destas demandas sejam importantes. as de ajuntamento e expressão como sendo mais importantes”. em palestra na Universidade Presbiteriana Mackenzie (SP). “Guinness pergunta. pela mídia e pensadores secularistas. Conseqüentemente. Em sua palestra. mesmo que seja muito impo­ pular atentar para elas. quero citar uma importante reflexão feita pelo professor Os Guinness. de crença. na qual pessoas de diferentes persuasões. se ao expressar você for condenado pelo que expressa. ele falou sobre diversidade num mundo glo­ balizado. O pastor presbiteriano Solano Portela. No entanto. isto é. fica ausente a possibilidade de opressão e coação.com.tempora-mores. enquanto que se garante a mais primária das liberdades: a de consciência. ainda que com diferenças profundas de crença e ideologias. portanto. de que adianta termos liberdade de ajuntamento. mas apenas pelas demandas escolhidas pelo seu tempo. se nada pode ser expresso livremente em tal ajuntamento? E ainda. sintetizada em alguns sites.blogspot. ideologias e opiniões se aproximam para o diálogo e o debate. para que subsista har­ monia real. Guinness é um dos grandes pensadores cristãos de nossos dias. sendo subtraída a sua liberdade de consciência? Assim. de exercício da fé”. em visita ao Brasil em setembro de 2007. porque isso não respeitaria a liberdade de consciência e de pensar. nem demonizar a política (“Política é coisa do . como sal e luz. Esta é a forma advogada pela mente cristã. em vez de nos preocuparmos apenas em aumentar o número de representantes no Congresso Nacional para tentar deter leis anticristãs. Ao mesmo tempo. convencimento. “Mentes lúcidas se dedicarão à construção dessa praça pública de debates. não pode ser aceito nessa ‘praça pública’ de debates. fazem manifestações públicas. que significa literalmente “deixai fazer. As idéias são apresentadas.A SEDUÇÃO D NOVAS TEOLOGIAS AS cada um. sem convicções. e eu de achar que você está errado. simplesmente. etc. deixai passar”] é a estratégia da persuasão. debatidas e espera-se persuasão. O que adianta termos 100 representantes no Congresso Nacional se a própria igreja não se engaja pela transformação do país? Veja o exemplo de muitos evangélicos norte-americanos nos Estados Unidos. dos programas de televisão que são péssimos. pelo menos. mas nunca coação”. “melhor que os extremos da imposição e do laissez-faire [contração da expressão francesa laissez faire. eles participam de discussões. do aumento da degradação moral da sociedade. que nos ensina a transmitir as boas novas e que nos ilustra. pois brota natural­ mente da doutrina bíblica de Deus e do ser humano”. E. nos lugares onde Deus nos colocou. INFLUENCIA CORRETA E MAIS EFETIVA Portanto. deixai ir. sem a sanção de coagi-lo a pensar como eu. devemos. cada um de nós. aquilo que é realmente bom (‘o bem’) deve ser tanto bom para você como para mim — deve respeitar uma estrutura mínima de valores universais que se constituem a moldura e estrutura necessária à convivência civilizada. laissezpasser. da escola que só faz ensinar evolucionismo aos filhos. na História. boicotam produtos. O verdadeiro cristianismo. um reconhecimento que você tem direito de pensar diferentemente de mim. Não devemos minimizar a importância de termos representantes políticos no Congresso Nacional. Não está sendo advogada a construção de uma sociedade amorfa. deveria defendê-la e propagá-la na confiança da Soberania de Deus. Tudo aquilo que ferir a dignidade da pessoa humana. como o evangelizaçao foi abençoada onde floresceu a liberdade estruturada de consciência”. Em vez de ficarem parados reclamando da aprovação de leis anticristãs. procurar exercer a influência cristã. Como escreveu o bispo anglicano John Stott em sua obra M entalida­ de cristã (1989). Mas também não estou propondo só isso. laissez aller. e em épocas em que os evangélicos eram uma grande minoria e não tinham representantes políticos. já será grande vitória”. em 19 de julho de 1867. um dos grandes arautos do abolicionismo no Brasil. e viver uma vida de santidade. evangelizar. é ser sal e luz. encontramos vários exemplos de influência marcante. O que muda mesmo é a presença ativa da Igreja na sociedade. Não precisamos ir para longe. Vejamos algumas das conquistas do protestantismo brasileiro no século XIX Os protestantes brasileiros foram os maiores promotores do movimento de abolição da escravatura no Brasil. mas muitas das mais importantes transformações sociais que o Brasil experimentou no final do século XIX foram provocadas pelos evangélicos brasileiros. pregar. O primeiro missionário presbiteriano. positiva e transformadora da Igreja na sociedade. citando os casos extraordinários do Aviva­ mento Wesleyano do século XVIII na Inglaterra ou dos movimentos de reforma social nos Estados Unidos no século XIX. A mídia e os livros escolares de História não falam disso porque não lhes convém. Uma das gra­ . sintetizou em seu di­ ário. O que havia era avivamento espiritual e engajamento político-social. Ashbel Green Simonton. e o diálogo entre pastores e líderes políticos nacionais era constante. o que não era prioridade dos governantes de tempos passados. Nem devemos pensar que engajamento é só luta e protesto. ainda que em algum dia distante. manifestar opinião em toda oportunidade que surgir. por serem considerados homens com ideais avançados. mas também não devemos ficar pensando que ter representantes políticos é tudo. esse incubo extirpado do corpo da nação. Também contribuímos muito para a educação do nosso país. viver uma vida inspiradora e ainda participar. mas qualquer historiador sério confirma isso. inclu­ sive no Brasil. Detalhe: na época em que os evangélicos implementaram essas mudanças. Pouca gente sabe.C apítulo 15 Diabo”). ganhar vidas para Cristo e discipulá-las. Seus artigos eram lidos com atenção. o espírito do movimento abolicionista evangélico: “Se ao menos puder ser removida a mancha da escravidão. Os missionários norte-americanos e europeus evangélicos eram ouvidos pelos políticos de então e o Império. no Rio de Janeiro. EXEMPLOS DE ENGAJAMENTO SADIO Ao relermos a história do cristianismo. eles não representavam nem 1% da população brasileira e não tinham sequer um representante político. envolver-se. máticas brasileiras mais bem sucedidas nos séculos XIX e XX foi a do pastor Eduardo Carlos Pereira. os evangélicos eram muito perseguidos. . o fim da escravatura. 6) O casamento protestante era considerado ilegítimo. 5) A Constituição do Império impedia o protestante de se candidatar. Robert Kalley. o casamento civil (antes da reivindicação protestante. se fosse realizado por um padre católico. sendo até ameaçado de ser expulso da cidade. hoje centenárias. O casamento era uma instituição religiosa regulada pelo Concilio de Trento e pelas Constituições do Arcebispado da Bahia. como se não bastasse. e diversas atividades humanitárias inspiradoras. Naquela época. Muitas das belas conquistas sociais na nossa nação têm sua origem ou ins­ piração na luta dos primeiros protestantes brasileiros. a liberdade de expressão. missionário congregacional que inaugurou a Escola Bíblica Dominical no Brasil. que teve 150 edições. vejamos: 1) A Constituição de 1824 vedava aos evangélicos o direito de suas casas de culto parecerem templos. deveriam contribuir com uma soma anual para a construção de uma igreja católica em uma determinada cidade que. sofreu muitas perseguições em Petrópolis (RJ) por causa disso. a liberdade religiosa. contra uma religião do Estado e a favor de um sistema republicano. estava a mais de 200 quilômetros deles. só existia o casamento religioso). As grandes contribuições sociais e políticas dos protestantes no Brasil foram o aumento da alfabetização tanto infantil como adulta. Os evangélicos construíram muitas escolas. Assim. quando não eram enterrados em qualquer lugar. que circulou durante o Império. tendo todos os benefícios que a lei concedia. pois quem assumisse algum poder político deveria jurar “manter a religião Católica Apostólica Romana”. Chegou a se instaurar um processo contra duas pessoas que saíram da Igreja Católica para se casarem perante um ministro evangélico. 3) Também não tínhamos garantia de emprego e. a implementação de um regime democrata. fossem católicos ou não. era contra a escravidão. todos os colonos. O jornal Imprensa evangélica. ele só seria válido. a liberdade de consciência através das escolas. a construção de novas instituições de ensino. 4) Só os católicos poderiam ser sepultados em cemitérios. Por isso os evan­ gélicos construíram seus próprios cemitérios. muitas vezes. 2) Os protestantes não podiam propagar sua fé. Os não-católicos não podiam participar dos comícios. Se não. a separação entre igreja e Estado. em todas as regiões do país. E mais: o padre só faria o casamento se o cônjuge protestante assinasse o compromisso de educar os filhos segundo os preceitos católicos. Foram os evangélicos que combateram tudo isso. fez a primeira tradução da Bíblia para o inglês. transformando vidas e merecendo o reconhecimento das autoridades locais. de início. in­ fluenciando a sistematização da língua inglesa. era lid a apenas pelos pregadores. novas publicações da Bíblia em vários idiomas europeus foram realizadas. é o tremendo trabalho evangelístico desenvolvido pelo pentecostalismo clássico no Brasil na primeira metade do século passado. E só reexaminarmos a História e vere­ mos que. Em 1521. extremamente supersticioso e não tinha acesso à leitura. a Bíblia. OUTROS EXEMPLOS HISTÓRICOS A Reforma Protestante é outro grande exemplo de transformação da sociedade pela pregação genuína do evangelho acompanhada de engajamento cristão. Eles eram minoria. feita por Jerônimo. Outra influência marcante e decisiva do protestantismo se deu na área da educação. isso não interessava aos pro­ . O povo era ignorante. pré-reformador. o que os historiadores confirmam ter sido fundamental para a sistematização da gramática germânica. mas exerceram uma influência excepcional na sociedade. que havia sido implementado por um catolicismo romano cada vez mais decadente. que não poderíamos deixar de citar.S UM F ENGAJADA E SO O PODER D ESPÍRITO SANTO PODE IMPACTAR A SOCIEDADE Ó A É B O C apítulo 1 5 Ainda hoje. Martin Lutero publicou a Bíblia em alemão. John Wycliffe. O próprio Lutero se encarregou de começar a sistematização da língua alemã. gnomos. A própria Igreja Católica Romana fomentava e explorava isso. Entretanto. anjos e santos. rompendo com o monopólio católico romano da Vulgata (versão latina do 4° século. antes da Reforma. Como a maioria dos fiéis era de analfabetos. Outro destaque. Desde seus primeiros passos na Alemanha. a Reforma teve uma singular preocupação com o ensino. muitas igrejas têm feito importantes trabalhos sociais em sua região. e única até aquele período). e logo receberam o apoio dos humanistas da época. o mundo medieval era cheio de fantasmas. O protestantismo foi um dos grandes catalisadores do fim da supers­ tição da Idade Média. duendes. demônios. Em poucos anos. O protestantismo sempre esteve ligado à educação. Enquanto seus pais descansavam do trabalho árduo no domingo. os países de influência protestante começaram a investir na alfabetização em massa do povo. que sempre quiseram ver a Bíblia acessível a todos. as somas aritméticas e lições de moral. o Avivamento da Rua . uma das maiores iniciativas de que se tem notícia na área de ensino. Raikes. “perturbando o silêncio dos vizinhos”. Aquela região era um pólo industrial com grandes fábricas têxteis. trabalhavam a semana toda e viviam nas ruas aos domingos. onde elas aprendiam a ler e escrever. Em 1780. Em 1785. brigando e. fundou nos Estados Unidos a União das Escolas Dominicais. No tempo de Raikes. não havia escolas públicas na Inglaterra. se tornaram homens ilustres na Inglaterra e Estados Unidos. E sabido que várias crianças alcançadas por esse trabalho. Muitos enveredavam pelo caminho do vício. ape­ nas escolas particulares. em Gloucester. fundou a primeira Associação da Escola Dominical. Tanto John Wesley como Carey e David Linvingstone deixaram para o mundo várias obras seculares importantes de cunho científico. violência e crimes. privilégio das classes mais abastadas. pessoas altruístas começaram a contribuir. começou a reuni-las nas praças e depois em salões alugados. As crianças trabalhavam nas fábricas ao lado de seus pais seis dias por semana.DAS NOVAS TEOLOGIAS testantes. Assim. Raikes pagava do seu próprio bolso um pequeno salário para as professo­ ras. No mesmo ano. Elas eram criadas sem qualquer estudo que pudesse lhes dar um futuro diferente de seus pais. as crianças pobres ficavam sem estudar. o jornalista evangélico Robert Raikes criou a Escola Dominical. Com o crescimento da obra. A SEDUÇÃO OS EXEMPLOS DE WESLEY E AZUSA Quem não se lembra do famoso Avivamento da Rua Azusa? Uma das características daquele movimento espiritual foi a luta contra o preconceito racial nos Estados Unidos. Logo. no Centro-Oeste da Inglaterra. sistematizando muitos deles. ética e educação religiosa. O missionário batista W illiam Carey traduziu porções das Escrituras para dezenas de línguas e dialetos. O Avivamento Wesleyano. nas palavras de Raikes. então. o que possibilitou a livre interpretação dos textos sagrados e o crescimento social das pessoas. as crianças ficavam abandonadas nas ruas e praças esmolando. antes sem perspec­ tivas. mas pelos cristãos evangélicos dos séculos XVIII e XIX. até mesmo no Brasil. Os problemas que enfrentamos no Brasil hoje são muitos. Assim. não se pode esconder uma cidade edificada sobre um monte.mas no velador. Ele pode até ser criticado por excessos em alguns momentos. e dá luz a todos que estão na casa. terem se engajado em reformas sociais. dissipando as trevas espirituais em que está imerso o nosso país. mas foram evangélicos ingleses que conseguiram este feito lutando sozinhos contra todas as forças econômicas e políticas da época. vai produzir matérias sobre recuperação de drogados. O Movimento pelos Direitos Humanos nos EUA nos anos 60 foi liderado por um pastor batista negro. Quando a mídia secu­ lar. O trabalho social do Desafio Jovem. É significativo o fato de os historiadores afirmarem que a Inglaterra só não expe­ rimentou uma revolução sangrenta como a França em 1789 (Revolução Francesa) por causa das mudanças sociais implementadas pelo Avivamento Wesleyano. ser relevante. O que fazer? Apenas ficar parados. que está nos céus”. fundado pelo pastor assembleiano David Wilkerson nos EUA. Vós sois a luz do mundo. . vendo as coisas acontecerem? “Vós sois o sal da terra. invariavelmente tem que mencionar algum centro de recuperação evangélico. que tem sido reproduzida por muitas denominações evangélicas em várias nações do mundo. A corrupção tem aumentado.S UMA F ENGAJADA ESOBOPODERDO Ó É C a p ít u l o 15 Azusa e o Avivamento Evangélico do século XIX nos EUA têm em comum o fato de que. além de serem marcados pela manifestação poderosa do Espírito Santo e pela conversão de milhares de vidas. Poucos sabem. para que vejam boas obras e glorifiquem a vosso Pai. resplandeça a vossa luz diante dos homens. provocar transformações sadias. de mãos cruzadas. e ela foi escrita não pelo iluminismo. Martin Luther King. ESPÍRITO SANTO PODE IMPACTAR A SOCIEDADE UM EXEMPLO EXTRAORDINÁRIO A abolição da escravatura é uma das mais belas páginas da história da humanidade. Leis com objetivo de atacar a Igreja estão surgindo. O mandato espiritual da Igreja é para ganhar vidas para Cristo e “salgar” a sociedade. é outro exemplo de atividade impactante.13-16. mas sua luta foi justa. nem se acende a candeia e se coloca debaixo do alqueire. A degradação moral também. Que por meio da igreja brasileira brilhe a luz de Cristo. e se o sal for insípido. M t 5. senão para se lançar fora e ser pisado pelos homens. com que se há de salgar? Para nada presta. tendo ele próprio sido preso na África e tratado como escravo. de Haendel. Newton liderou a Olney Parish Church e a Sainr Mary. mas também por ele descrever de forma geral a trans­ formação que a graça de Deus opera na vida das pessoas. Seus sermões também eram ungidos. e afirmou ainda que Deus queria usar Wilberforce ali para extirpar as injustiças sociais na Inglaterra. fundador da Igreja Metodista. Antes de converter-se a Cristo. tornando o mais vil pecador em um servo de Deus. Este hino está ligado à luta pela abolição da escravatura desde sua origem. John Newton (1725-1807) gastara parte da sua vida no comércio de escravos. em Londres. Na viagem de regresso à Inglaterra. A letra do hino e sua tradução estão no boxe desta matéria. Glorificação de Cristo e Juízo Final). Mas não era só pelos belos hinos que o pastor John Newton era conhecido. No final de um desses cultos. Amazing Grace também inspirou a composição de muitos outros hinos. Em Olney. Newton passou a ler todos os dias a Bíblia e “devorou” o livro Imitação de Cristo. Wilberforce procurou conselho pastoral com Newton. Em sua consulta. mas John Newton aconselhou-o a permanecer na política. Juntos trabalharam nos cultos. membro da Câmara dos Comuns. Newton voltou-se para Deus. em Londres. os cristãos se identificam com o hino não só pelo seu contexto histórico. em reuniões de oração e na produção de um novo hino para cada culto da comunidade. Woolnot. Ressurreição. Newton compôs Amazing Grace nesse período. Várias vezes ele pregou e escreveu contra a escravatura. Ele chamou o dia de sua conversão de “dia da minha libertação”. que pela graça de Deus deixou de ser um vil comerciante de escravos para ser um servo do Senhor. tornou-se amigo do poeta William Cowper. Até hoje. Paixão. o jovem externou seu desejo de deixar a política para se dedicar à evangelização de seu país.A Inglaterra foi o primeiro país a abolir a escravatura. autor do hino Ama­ zing Grace. Newton pregou uma série de sermões sobre os temas do libreto da oratória (Nascimento. apresentando-o à sua congregação em 1 de janeiro de 1773. . Depois disso. de Thomás de Kempis. O hino Amazing Grace apresenta o coração de seu autor. mais precisamente em dezembro de 1772. Ordenado pastor. Também tornou-se discípulo do evangelista George Whitefield e admirador de John Wesley. Com o passar dos anos. quando o barco quase naufragava. e um dos nomes dessa conquista foi um pastor chamado John Newton. Durante a apresentação da oratória O Messias. Foi depois de um de seus sermões que conheceu pessoalmente um jovem recém-convertido a Cristo chamado William Wilberforce (1759-1833). de Philip Doddridge (mais conhecido por ter escrito o famoso hino Oh!Happy Day). a profunda culpa e a tenebrosa ingratidão de minha vida pregressa vieram sobre mim com toda sua força. Ele perguntou a Milner o que era e ouviu como resposta: “Um dos melhores livros já escritos”.C a p ít u l o 15 O que se seguiu depois disso é um dos maiores exemplos de um político santo da História. Na infância. Em 1784.. o maior e mais importante condado da Inglaterra. durante uma viagem. William Wilberforce pertencia a uma família nobre da Inglaterra. quando partiu para a França. primeiroministro inglês. Em seu diário. decidiu-se para Cristo. mas não era o que Deus achava. que iniciou cedo. Conta-se que. e as conversas animadas com Milner. Pitt disse-lhe que se seu amigo se dedicasse à política. mandando fazer um grande churrasco para todo o vilarejo. onde decidiu dedicar-se à carreira política. repartiu dinheiro que possuía. Então. que levaram o jovem político a finalmente entregar sua vida a Jesus. por causa de um inflamado discurso. Foi a leitura desse livro e da Bíblia. Ainda estava com 24 anos. o professor Isaac Milner. Deus tocou o coração daquele jovem político. concordaram em lê-lo juntos durante a viagem. Estudou em Cambridge. Para conseguir o apoio popular. (.. Condenei-me por ter perdido tempo precioso. Wilberforce viu uma cópia do livro evangélico The Rise and Progress ofR eligion in the Soul. mas ele não levou seu fervor inicial em frente. Wilberforce fora muito influenciado por sua tia metodista Hannah (uma das grandes apoiadoras do ministério de George Whitefield). conquistando o afeto de um bom número de votantes. Seu amigo de adolescência William Pitt. Wilberforce escreve no final de outubro de 1784: “ As­ sim que me compenetrei com seriedade. oportunidades e talentos.) Não foi tanto o temor da punição que me afetou. conseguiu eleger-se representante de Yorkshire. Porém. Aos olhos humanos. com certeza impactaria o mundo. sua irmã Sally. chegou a dizer-lhe nessa época que considerava Wilberforce um dos maiores oradores que já vira em sua vida e dotado de uma voz inconfundível. Ele foi eleito representante de seu povoado na Câmara dos Comuns aos 21 anos de idade. levando consigo sua mãe Elizabeth. Ele foi educado nas melhores escolas de sua época. ainda estava afastado de Deus. já era político popular e elogiado em todo o país. estava no auge. Aos 24 anos. Nessa época. Wilberforce era visto em Londres como um jovem com extraordinário futuro político pela frente. uma amiga dela e seu amigo. mas um senso de minha grande pecaminosidade por ter negligenciado por tanto tempo as . Na bagagem de Milner. algo muitíssimo raro. “O Deus Todo-poderoso tem posto sobre mim dois grandes objetivos: a supressão do comércio de escravos e a reforma dos costumes”. Encho-me de tristeza. 1793. Basta lembrar que o comércio de escravos era a fonte mais lucrativa do mercantilismo. Os próprios reis lucra­ vam com isso. Desejava agora servir a Deus com todas as forças da sua vida. Wilberforce afirmou em discurso no parlamento: “A perversidade do comércio de escravos é tão gigantesca. 1798. tocado pelas mensagens dos pastores John Wesley. Nessa guerra. O comércio de escravos era justificado pelo país econômica e politicamente.misericórdias indescritíveis de meu Deus e Senhor. para fortalecer-se espiritualmente. Um amigo lhe escreveu: “Se as coisas continuarem assim. Mesmo assim. Duvido que algum ser humano tenha sofrido tanto quanto sofri naqueles meses”. que a minha mente está completamente preparada para a abolição. chegou a ser assaltado e surrado duas vezes. Outros companheiros evangélicos uniram-se à causa. feito churrasco por mercadores africanos e comido por capitães da Guiné. bem como alguns . deste momento em diante. mas não desanime — escreverei eu o seu epitáfio”. O pastor John Newton tornou-se seu grande conselheiro e inspiração para a gigantesca luta pró-abolicionismo. Wilberforce resolveu se dedicar a duas causas. Wilberforce não era mais o mesmo. A abolição do tráfico negreiro custou 18 anos da vida de Wilberforce. 1792. Todos os dias. Sejam quais forem as conseqüências. Um grupo de crentes e parlamentares metodistas. Nessa época. breve ouvirei dizer que foste carbonizado por algum dono de fazenda das índias Ocidentais. o orientou dizendo que Deus queria usá-lo na política. Foi quando encontrou-se a primeira vez com John Newton. Wilberforce levantavase cedo para ler a Bíblia e orar. “OS SANTOS” De volta a Londres. Wilberforce não estava sozinho. como já vimos. puritanos e quacres uniram forças com ele. Como intimidação. que. tão medonha e tão irremediável. escreveu em seu diário. Gigantesca porque tinham contra si grandes poderes e interesses. estou resolvido que nunca descansarei até que tenha conseguido a abolição” (extraído do livro 131 Christians Everyone Should Know). 1804 e 1805). 1799. que considerava as mais importantes de sua vida: a abolição da escravatura e a reforma moral de seu país. Anthony Benezet e John Newton. 1797. Seus projetos de lei abolicionistas foram derrotados oito vezes (em 1791. os escravos deveriam ser devolvidos. o abolicionismo foi sendo imposto em todo o mundo. combateram a pornografia e lutaram pela obra missionária. o Grupo de Clapham ou “Os Santos”. a abolição completa da escravi­ dão nas colônias inglesas foi conseguida em 1833. O grupo não de­ sistiu. Depois de muita oração e perseverança. por pressão inglesa. Se a embarcação fosse capturada. finalmente concordou em abolir o tráfico pela Lei Eusébio de Queirós. apesar da oposição avassaladora que lhes foi feita. a Grã-Bretanha. aos poucos. cerca de 100 mil ex-escravos. O resultado saiu nove meses antes da morte de John Newton. ao meio-dia e à noite na igreja de Clapham. todo o congresso britânico pôs-se de pé. que culminou na libertação imediata de 776 mil homens. poucos dias antes da morte de Wilberforce. Acrescentou ainda que seria a “guardiã dos mares”. Formaram um grupo que passou a ser chamado jocosamente pela sociedade inglesa e pelos políticos antiabolicionistas da época de “Os Santos”. Depois de uma série de leis intermediárias. que nasceu em 1787 como uma colônia chamada Freetown. enquanto ele chorava e louvava a Deus com o rosto entre as mãos. Ao ser aprovada. “Os Santos” ainda fundaram escolas cristãs para pobres. Para lá “Os Santos” conseguiram enviar. mas.S UMA F ENGAJADA E SOB O PODER D ESPÍRITO Ó É O C a p ít u l o 15 anglicanos de um bairro do sul de Londres. Foi esse grupo que criou a primeira Sociedade Anti-escravista e ajudou a fundar Serra Leoa. em 1807. que tinha à frente Wilberforce e um humilde pastor chamado John Venn (que cedia sua igreja SANTO PODE IMPACTAR A SOCIEDADE . Nem ela e nem ninguém mais poderia traficar escravos. Em decorrência. foi decretado o Slavery Abolition Act. uma maioria de 283 votos contra 16 aprovou a lei da abolição da escrava­ tura proposta por Wilberforce. que na época era a maior potência mundial. em Londres. “Os Santos” foram acusados de lesar a pátria e de proporem a ruína da economia inglesa devido à sua luta pela abolição. como o Brasil. Por conta da decisão parlamentar. em agosto de 1834. em 60 anos. em 1850. Portugal e Bélgica. para servir de refúgio para escravos libertos do Canadá e do Reino Unido. ovacionando o servo de Deus por vários minutos. Nenhum barco negreiro poderia mais singrar os oceanos sem ser vistoriado (o chamado Aberdeen Act). por exemplo. Muitas comunidades metodistas e todas as igrejas quacres também sustentavam o movimento em oração. os dois principais rivais. declarou guerra ao tráfico de escravos no mundo. Alguns países ainda faziam comércio clandestinamente. Em suas reuniões. O Brasil. Eles oravam três horas por dia: de manhã. tiveram que parar imediatamente com a comerciali­ zação dos escravos. reformaram prisões. mulheres e crianças na Inglaterra. Participavam do grupo Charles Grant. auxiliou bastante os missionários nas colônias. se reunia para ler a Bíblia. cujo filho. quase como uma grande família. Eram eles: “(1) Estabeleça objetivos claros e es­ pecíficos. Pierard e Yamauchi dizem: “Este grupo uniu-se numa intimidade e solidariedade incríveis. (12) Prossiga com senso de missão e convicção de que Deus o guiará providencialmente se estiver verdadeiramente a seu serviço”. além de outros líderes evangélicos.em Clapham. (5) Comprometa-se a lutar de forma contínua. John Shore. de forma que diálogo significativo aconteça. (10) Transcenda à mentalidade simplista e direcione-se às questões maiores. chefe do Departamento Co­ lonial. que todo ano doava quase metade de seu lucro para obras sociais e evangelísticas. (7) Demonstre empatia com a posição do oponente. Zachary Macauley. sem lançar mão de táticas sujas ou violentas. elaboraram 12 pontos interessantíssimos que nortearam seu esforço pela reforma social na Inglaterra do século XIX. mesmo que a luta demore décadas. James Stephens. Eles se visitavam e moravam um na casa do outro. (6) Mantenha o foco nas questões: não permita que os ataques malignos de oponentes o distraiam ou provoquem resposta similar. A batalha não pode ser vencida sozinha. orar e dialogar na biblioteca oval de um banqueiro convertido a Cristo chamado Henry Thornton. Thomas Clarkson. que estiverem no poder. (3) Construa uma comunidade comprometida que apóie uns aos outros. para as reuniões). a educadora Hannah More. Vários comentaristas observaram que eles planejavam e trabalhavam como um comitê que estava sempre reunido em ‘conselhos de gabinete’ em suas residências para discutir o que precisava ser consertado e estratégias que poderiam usar para alcançar seus objetivos. governador-geral da índia e primeiro presidente da Sociedade Bíblica Britânica e Estrangeira. tanto em Clapham como na própria Londres e no campo. (9) Cultive e apóie suas bases populares quando outros. principalmente as que envolvem questões éticas. “Os Santos”. a oito quilômetros de Londres. se opuserem a seus projetos. e as batalhas que teriam de travar para estabelecer a justiça”. (4) Não aceite retiradas como uma derrota final. Lord Teignmouth. Os historiadores Clouse. famoso líder abolicionista. presidente da Companhia das índias Orientais. (2) Pesquise cuidadosamente para produzir uma proposta realista e irrefutável. Que plêiade! . Discutiam os erros e as injustiças de seu país. (11) Trabalhe através de ca­ nais reconhecidos. editor do jornal Obser­ vador Cristão-. (8) Aceite ganhos parciais quando tudo o que é desejado não puder ser obtido de uma só vez. Ficaram conhecidos como ‘Os Santos’ por causa de seu fervor religioso e desejo de estabelecer a retidão no país. em sua luta. John Wesley pregou concorrido sermão em 1774 a favor da abolição. Winston Churchill ainda diria que “não há na História muitas pessoas que tenham contribuído tanto para o bem da sociedade SANTO PODE IMPACTAR A SOCIEDADE . Dos iluministas. A sua abordagem do cristianismo era essencialmente prática”. mas a economia precisa”. e da Church Missionary Society. levar uma vida decente e ir à igreja aos domingos. A primeira reação concreta contra a escravidão na História foi o envio de uma solicitação abolicionista ao Parlamento Britânico em 1768. de vez em quando. E tomar para si uma honra que não é sua. mas mesmo assim em pequenas notas e sem repercussão.S UMA F ENGAJADA E SOB O PODER D ESPÍRITO Ó É O C a p ít u l o 15 A VERDADEIRA HISTÓRIA Algo importante a ser dito: Já notou como os livros de História não contam esses detalhes? Já notou que normalmente dizem que foi o “iluminismo” ou “o Século da Luzes” (como o século XVIII é chamado) que aboliu a escravatura? Isso não é verdade. Foi o ano em que Wilberforce voltou-se para Cristo.Nas palavras de Robin Furneaux. Desde a primeira metade do século XVIII encontramos inúmeros sermões contundentes de pregadores protestantes contra a escravidão. Wilberforce ainda foi o instrumento usado por Deus para abrir as portas da índia para a evangelização. o Pai das Missões Modernas. Adam Smith e os filósofos Montesquieu e Rousseau fizeram declarações claras contrárias à escravatura. feita pelos protestantes quacres. cada canto da vida cristã. a “Ata da índia”. E não ficaram só nas palavras. E esses discursos dos iluministas eram. em 1799. Nenhum deles levou suas observações (fugazes) à frente. “sua mensagem era a de que não bastava professar o cristianismo. um decreto que abriu as portas não só da índia. mas fazer o quê? O ideal é que não fosse assim. só os chamados fisiocratas franceses. Não é à toa que o cientista francês Condorcet (século XVIII) lamentou que “só uns poucos filósofos atreveram-se. por iniciativa de Wilberforce. Quando W illiam Carey. empreendendo alguma luta contra o sistema e a favor da abolição. em 1804. Depois de rejeitada a proposta. já que o cristianismo atravessa cada aspecto. Wilberforce também desempenhou papel fundamental na criação da British andF oreign Bible Society (Sociedade Bíblica). muitas vezes. a soltar um grito a favor da humanidade”. o Parlamento Britânico aprovou. mas de todos os outros territórios do Império Britânico aos missionários. No século XX. seguidos de comentários do tipo: “Escravatura é errado. estava precisando de ajuda em seus esforços missionários. Só os protestantes o fizeram. Simplesmente. editor de um dos principais jornais britânicos da época. Wilberforce. não podemos vencer essa onda ou pelo menos sobreviver a ela. mas gostaria de citar apenas um. citou o exemplo de Wilberforce como uma prova de que os valores da fé cristã revolucionam positivamente a sociedade. para vencê-las. de 1904 a 1910. . mas não só nisso. podemos afirmar: “É uma honra ser protestante”. o famoso jornalista William Stead (1849-1912). ao combater a afirmação de cientistas antiteístas de que a fé faz mais mal ao mundo do que bem. O avivamento foi tão notório que. Precisamos de um avivamento genuíno. Virá em forma de mordaças. diretor do Projeto Genoma e responsável pelo mapeamento do DNA humano. em entrevista à revista Veja (24/1/07). à luz da Bíblia. está no poder do Espírito Santo de Deus em favor de Sua Igreja. é preciso o poder do Espírito Santo. o País de Gales experimentou um dos maiores avivamentos da História. publicou uma série de matérias de destaque sobre o acontecimento. nem da sabedoria de seus governantes. ou ainda do espírito de seu povo. como vimos. Porém. Wesley e de tantos outros crentes que serviram fielmente a Deus. Não é à toa que Churchill o chamou de “a consciência da nação”.DAS NOVAS TEOLOGIAS como W illiam Wilberforce”. Escreveu Wilberforce: “Devo confessar que minhas próprias e sólidas esperanças pelo bem-estar do meu país não dependem de seus navios e exércitos. o PallM all Gazette. Recentemente. Sem o poder do Espírito Santo. A perseguição que está para vir sobre a Igreja não se dará como muitos esperavam antes. Pelo bom exemplo de John Newton. O avivamento galês do início do século XX. sem a graça divina. em 1904. mas sim da capacidade de persuasão de todos aqueles que amam e obedecem ao evangelho de Cristo”. que teve como principal instrumento divino o jovem pregador Evan Roberts (1879-1951). A SEDUÇÃO O PODER DO ESPIRITO O segredo. o renomado biólogo e cientista norte-americano Francis Collins. Acima de tudo. Há muitos exemplos na História do que acontece a uma igreja ou a um país inteiro quando há um avivamento. está num engajamento correto. E. quando os males da Modernidade afetavam a Igreja assim como hoje afetam os males do Pós-modernidade. afastar-se de tudo aquilo que desagrada a Deus e não resistir à ação do Espírito Santo. através de seus testemunhos de vida. Tudo começou em 29 de setembro de 1904. O País de Gales foi marcado por muitos avivamentos. dois anos antes do avivamento. A frieza espiritual e o liberalismo teológico começavam a tomar conta das igrejas.. ser dobrada. confessar publicamente Cristo como o Seu Salvador. de repente. dobra-me!” E. Quando o jornalista perguntou se o reavivamento já estava em declínio. muitos crentes daquele país começaram a orar por um reavivamento. Os líderes estavam clamando a Deus. A polícia pranteava e se juntou aos cânticos —e a criminalidade quase cessou”. Todos os habitantes da nossa cidade aceitaram Jesus durante o avivamento”. “dentro de pouco tempo. acima de tudo. insistentemente. o país foi atraído a Cristo. cansados de seus pais alcoólatras batendo nas mães. está. Joshua afirmou: “ igreja galesa A precisa. Ao chegar em Gales. No início do século XX.) Adolescen­ tes. porém. um jovem minerador de carvão de 25 anos que estava se preparando para o ministério. foram restaurados espiritualmente e. O primeiro foi no final do século XVIII. ao ponto de as igrejas estarem prestes a fechar. o avivamento ainda estava vivo. oravam para que os bares se fechassem. Foi nesse ano que um jornalista de Londres resolveu visitar Gales para ver se. quando Evan Roberts. não havia mais resquícios do grande avivamento galês. Contam os historiadores que “as transações de jogo e álcool perderam a sua atividade e os teatros se fecharam por falta de público (.S UMA F ENGAJADA E SOB O PODER D ESPÍRITO Ó É O C a p ít u l o 15 até 1909. cinco anos depois. E. o avivamento ainda seria notícia em jornais britânicos. SANTO PODE IMPACTAR A SOCIEDADE . que veio no final de 1904. Os crentes receberam essa palavra. O segundo ocorreu em 1859. É que não existe mais ninguém aqui querendo ser salvo. que eles deveriam pedir perdão a Deus de seus pecados. como escreveu alguém. um deles afirmou que. quebrantada como argila mole nas mãos de Deus”. e mais 19 amigos se reuniram em uma manhã para ouvir o evangelista Seth Joshua. Deus chegou!” Contam-nos os registros da época que o avivamento começou quando Evans deu início a reuniões de oração e passou a ensinar aos cristãos galeses. Aquelas palavras tocaram o coração de Evans. o jornalista marcou uma entrevista com pastores de uma das primeiras cidades onde tudo começara. que prostrou-se em lágrimas clamando: “Senhor. No encontro. Em sua mensagem. Por isso. eles responderam: “Sim. a igreja galesa estava acertando seus corações com Deus.. com Christmas Evans. o número de crentes fiéis na cidade era quase nenhum. m . todas as igrejas ficaram lotadas. com três cultos bem definidos realizados todos os dias. beberrões. para isso. As reuniões eram das dez da manhã até à meia-noite. Deus conta comigo e com você.é disso que a Igreja no Ocidente precisa urgentemente.A SEDUÇÃO D NOVAS TEOLOGIAS AS Em pouco tempo. gatunos e jogadores profissionais eram salvos. “Os infiéis se convertiam. dívidas antigas eram saldadas e milhares voltavam a ser cidadãos respeitáveis”. E. de tal forma que multidões ficavam sem poder entrar. E tudo começou com oração e um ensino bíblico direto sobre avivamento! Engajamento sob o poder do Espírito . pois. porque olhar para o passado da Igreja é bom não apenas porque aprendemos com os acertos. logo percebemos que eram frutos da influência do contexto cultural de sua época sobre eles. propunha exatamente a transcendência dos princípios bíblicos sobre a tradição e a cultura de qualquer época. Sim. que não devem ser olvidados. E em segundo lugar. só valorizam mais ainda suas conquistas. Ou seja. apesar de seus esforços. Inicialmente. ao analisarmos os erros dos reformadores. e não uma visão realista. como sabemos. abriram a porta e estabeleceram as bases precisas para o início da mudança. porque a visão realista não diminui a importância da Reforma. os erros dos reformadores. Quando nos deparamos com seus . mostra-nos quão terrível seria se a Reforma não tivesse acontecido. Quem age assim cria uma visão romântica da Reforma. os próprios re­ formadores (falhos pelo simples fato de serem humanos) não conseguiram vencer e transcender totalmente os vícios de sua cultura. E isso é ruim por duas razões. mas também porque aprendemos com os erros de grandes homens de Deus. olvidando seus erros. mas. seus erros realçam ainda mais a importância dos primeiros passos que deram sob a graça de Deus. O primeiro equívoco é o de querer ver apenas os acertos dos reforma­ dores. pois mostram que.A questão dos erros dos reformadores Há dois tipos de equívocos muito recorrentes em pessoas que entram em contato com a história da Reforma Protestante. Porém. e a Refor­ ma. Ou seja. muito pelo contrário. entendessem 100% do que nós hoje. imaginar que. mais santidade. Ora. A Igreja Católica medieval “tolerava a prostituição.1 a supersticiosidade religiosa. e que não era uma mentalidade formada da noite para o dia. uma visão de quanto mais sexo. e o resgate de mulheres da prostituição para a vida familiar. ainda mais quando foram jus- . 2001). Bem como é desonesto enfatizarmos seus erros em detrimento de suas conquistas. mas. os reformadores acabaram chocando a sociedade quandi > encarnaram princípios bíblicos que estavam frontalmente em contraposiçao ao contexto político. menos santidade. porque seus valores de gênero denegriam o sexo e também porque supunha que o desejo masculino fosse uma força anárquica e incontrolável. seguindo os passos dos pré-reformadores. Sinodal. filhos da Reforma. Isso só foi possí­ vel por causa da visão de Sola Scriptura dos reformadores. entendemos. a Reform. Por exemplo: a luta com 1. tiveram seu pensamento impregnado desde a infância pela mentalidade de sua época. da noite para o dia. que. Porém.. como a Reforma foi apenas o começo dessa redescoberta. Inúmeros outros exemplos de posicionamentos além de seu tempo. o que fez com que fossem defendidos princípios que se opunham à realidade cultural dos reformadores. ela pregou . sem um meio de descarga. Portanto. religioso e social de seus dias. Eles viveram em um período de intensas trevas. (. percebemos mais claramente o quanto os passos que deram foram hercúleos. poderiam ser citados. a preocupação com a educação do povo. C arta Lindberg. Devido ao contexto de sua época.erros. que estavam começando a descobrir a Bíblia. c quanto menos sexo.i condenou e combateu essa visão). baseados na redescoberta da Bíblia. macularia as mulheres respeitáveis da cidade. a visão do sexo como uma bênção de Deus < ■ a condenação apenas do sexo ilícito à luz da Bíblia (a Igreja Católica tiniu uma visão do sexo como um mau em si mesmo. esses homens transcenderiam 100% uma mentalidade cristalizada durante mil anos (mil anos!) é ingenuidade demais..) Foi a Reforma que impeliu o fechamento dos bordéis” (As Reformas na Europa. a música e a literatura. em que já fazia mil anos que uma cultura equivocada tinha sido formada e cimentada. foram conquistas tremendas A Reforma partiu da redescoberta da Bíblia e. os reformadores nasceram e cresceram dentro daquela cultura medieval. começariam a rompê-la. por isso. em sua volta à Palavra. que deram os primeiros passos.1 volta às Escrituras. não poderíamos ser tão ingênuos de pensar que todos os vícios culturais da época dos reformadores foram transcendidos. É irreal querer que os reformadores. Como conseqüência. conseqüentemente. Em sua trajetória de vida. hoje. e com destaque para o Sola Scriptura (“Somente as Escrituras”). dentro do e apesar do seu contexto histórico. refere-se com desprezo aos princípios solas da Reforma. naturalmente não conseguiram transcender todos os aspectos culturais de seu tempo. é porque querem que relativizemos a Reforma e. a História não deve ser apenas contada. E isso é extremamente desonesto. imbuídos de determinados interesses. e sempre à luz do contexto a partir do qual cada história da História ocorreu.. Por isso. o que chama de “bibliolatria”. mas também interpretada. depois disso. é destruir. Nessa época de pós-modernidade. etc. por serem seres humanos falhos como eu e você. seus erros. desconstruir. em seu livro Uma ortodoxia generosa. pudéssemos ver mais além do que eles. O argumento desonesto é o que se segue: “Você é tão apegado aos prin­ cípios da Reforma? Você admira os reformadores. co­ metendo erros. Então deixa eu te mostrar isso. É assim que se distorce a História. não poucas vezes. e por terem nascido e crescido dentro daquela cultura. cerca de 500 anos depois. Os poucos avanços que os reformadores deram. como já falamos. às vezes até diminuindo a importância de seu trabalho e ministério por causa de seus erros. sem analisar todas as nuances dos fatos. . O que seria das gerações seguintes sem a Reforma? O segundo grande equívoco recorrente é justamente um desdobramento do que acabamos de dizer: estereotipar os reformadores a partir de seus erros. Quando os emergentes citam os erros dos reformadores e os enfatizam sem atentar para o contexto histórico. Viu? Será que. mais pura. resultantes da influência do seu contexto cultural. a romper com o cristianismo organizado totalmente e a abraçarmos a proposta emergente de uma nova igreja superior. a moda. só devem nos levar a valorizar mais ainda o que fizeram pela graça de Deus. Os que a contam sem analisá-la ou sem mencionar o contexto de cada fato (citando-os apenas isoladamente) o fazem.. mas deram os primeiros (e grandes) passos para a mudança. deixemos de ver os postulados da Reforma como im­ portantes e comecemos. É assim que se distorcem histórias. Ora.APÊNDICE 1 lamente eles os instrumentos que Deus usou para abrir a porta e estabelecer as bases (sólidas e bíblicas) para que nós. fluidificar. relativizar. você vai admirar tantos os reformadores e a Reforma como antes? Será que gente que chegou a fazer isso e a dizer aquilo também não pode ter errado ao propor todos esses princípios?” Não é à toa que Brian Mclaren. só reforçam o quanto a Reforma foi importante. assim. não camufla. eles eram tão perfeitos! Não há como eu poder ser usado por Ti como eles foram. diminuir a importância dos princípios da Reforma. Já imaginou se escondesse? Se ela o fizesse. Salomão e outros servos de I )eus no passado não eram. apesar de nossas falhas. mas se arrependeu e pôde ser usado por I )eus como foi. por tabela. por isso. . Elias. Em primeiro lugar.. Jacó. outras menores. Enfim. Todos estes que citei tiveram falhas. A Bíblia. em muitos casos. Deus não dá “jeitinho” para ninguém. da questão do contexto cultural. Falta honestidade nas análises que os emergentes fazem dos erros dos reformadores. I )uas nuances. Por isso os emergentes adoram ressaltar os erros dos reformadores e avultá-los omitindo o contexto deles. Elias era homem sujeito às mesmas paixões que nós e pôde ser usado por Deus como foi (Tg 5. Nós somos falhos. Além. mas todos tiveram. ao lermos a his­ tória dos homens de Deus na Bíblia. diríamos: “Meu Deus. exaltava só as virtudes e ainda escondia relatos de derrotas em guerras contra outras nações.” Graças a Deus por não esconder as falhas dos heróis bíblicos! Graças a Deus por ela mostrá-los como eles realmente são! Diferentemente do que faziam os historiadores das nações da Antiguidade. da misericórdia e do perdão de Deus para ser restaurado. ou seja. porém. Ele faz a Sua obra através de nós e apesar de nós. pois sou tão falho. de comparar o que historiadores coetâneos de nações inimigas diziam sobre aqueles reis. assim. Por isso. claro. posto que estes princípios chocam-se frontalmente com a proposta emergente. para saber a verdade sobre determinados povos da Antiguidade. Esses funcionários relatavam só as vitórias. abençoado e se tornar uma bênção. E sabe qual é uma das coisas mais lindas na Bíblia? É que ela não esconde as falhas dos heróis da fé. de que já falamos. Isaque. tentando. os historiadores modernos tiveram. mas podemos ser usados por Deus apesar de nossas fraquezas. por exemplo. a Bíblia nos ensina que Deus não faz a obra simplesmente através de nós. não mente.Lembremos que o próprio Mclaren não considera a Bíblia autoritadva. como afirma em seu livro A New Kind of Christian. falho e extremamente necessitado e dependente da graça. Estes eram funcionários do reino e. Davi foi tremendamente falho. são completamente ignoradas.. lembremos que os reformadores não eram super­ homens espirituais. assim como Abraão. ao mostrar os heróis da fé com suas falhas. A Bíblia mostra o ser humano como ele é.17). Davi. umas maiores. tão tendenciosos que a maioria deles escondia todas as falhas dos reis. devemos aprender a fazer distinção entre os que erram por fraqueza (como os reformadores) e os que erram por falta de conversão mesmo. Quem lê a Bíblia não se im­ pressiona com a fraqueza humana. em segundo lugar. Basta lermos a Bíblia.. suas casas destruídas e arrasadas. mas o evangelho não está realmente neles. No primeiro caso. o reformador chegou a declarar a respeito deles que “as sinagogas deveriam ser queimadas. O mesmo Lutero que escreveu isso sobre os judeus escreveu antes afirmações belas sobre eles. aliás. vai pensar que nem cristão ele era. E numa época em que falar bem dos judeus era extremamente impopular! Quem fizesse tal coisa seria taxado de louco. vai emitir um julgamento precipitado e equivocado sobre Lutero.. Que nuances são essas? A primeira é que uma das fraquezas de Lutero era justamente seu tem­ peramento instável. devemos rechaçar esses falsos irmãos.os judeus”. e também questionar a integridade e a importância de tudo que pregou e ensinou. náo precisamos olhar para a Reforma para aprender que homens de Deus podem falhar. deveríamos ex­ pulsar os preguiçosos velhacos para fora do nosso sistema. encontrem então um me­ lhor. Se alguém lê essas declarações do reformador sem analisar todas as nuances do contexto a partir do qual ele proferiu essas terríveis palavras. de maneira a que todos nós sejamos libertos desta insuportável carga diabólica . não devemos ignorar os erros. esta é exatamente a segunda nuance sobre o caso: o que os críticos de Lutero muitas vezes esquecem é que hoje soa claramente repugnante essas palavras do reformador. mas ele se envergonha deles.APÊNDICE 1 Então. apesar de suas terríveis falhas. sua impulsividade. caros príncipes e nobres que têm judeus em seus domínios. seus rabinos deveriam ser proibidos de ensinar sob pena de serem mortos. Nesta obra. portanto. E. fora com eles. porque são ímpios travestidos de cristãos (aqueles que demonstravam viver divorciados dos princípios do evangelho e ainda fizeram atrocidades em cima de atrocidades em nome de Deus). (. Agora. deveriam ser privados de seus livros de orações e do Talmude. mas na época em . Deixe-me citar um exemplo de erro dos reformadores para ilustrar o que estou falando: as terríveis palavras que Lutero chegou a escrever acerca dos judeus em seu livro Sobre os judeus e suas mentiras. que dizem que estão no evangelho. Já no último caso. mesmo nos filhos de Deus. mas um falso cristão. se não obedecerem. Lutero e outros foram grandes homens. mas também não devemos comprometer toda a obra de uma vida dedicada ao Senhor por causa desses erros isolados.) Para acrescentar. Estes podem não se envergonhar do evangelho. se meu conselho não lhes serve. sem provas .25). deixem ele na pobreza!” Com certeza. tivesse dito: “Destruam a casa do presidente norte-americano George Bush. infelizmente. Mas. mas não era tudo. Vide o clássico O Mercador de Veneza. Os judeus ricos e usurários tinham a fama de serem opressores. Os judeus eram vistos erroneamente como problema devido à sua intensa prática da usura. a população da época considerava os judeus culpados por todos esses crimes.i1 r. O que Lutero disse no século XVI é como se alguém. Era a visão da época sobre os judeus. Tal era a impopularidade dos judeus na época. que fez com que a Igreja Católica. os visse como malditos. na época de Lutero. tirem seus bens. levaria o Bardo à cadeia como anti-semita. seria uma absurda generalização taxar todos os judeus de malditos por causa de crimes cometidos por um ou outro judeu. i lasses sociais de sua época) aprovou o que ele disse! Por quê? Poi . porque estamos falando de rejeição e impopularidade a uma pessoa ou grupo em uma determinada época. Isso foi o início. Era. maus e mesqui­ nhos. havia poucos anos que o povo italiano e alemão estava traumatizado por um crime célebre e horrível que. o senso comum. por que essa impopularidade? Não era só por causa daquela história de “caia o teu sangue sobre nós” (Mt 27. cm icvcu. dc lod. A hostilidade aos judeus naquela época não era algo sui generis. fossem confirmadas. Outros fatores fomentaram o preconceito que já existia desde o quarto século d. mas na época foi visto como normal e aplaudido. A comparação que farei a seguir não é per­ feita. de repente. infelizmente. Entretanto. o que fazia com que o povo os visse como exploradores. mas serve. havia os supostos casos de assassinatos e de profanação de templos cristãos. <|iir os judeus eram vistos em sua época erroneamente como uma praga para a sociedade. Além disso. que se fosse feito nos dias de hoje. nos dias de hoje. tal discurso arrancaria hoje o aplauso da maioria esmagadora da população mundial (ou mesmo a maioria da ocidental). influenciando a sociedade da época. enquanto boa parte dos cristãos ricos eram vistos como “caridosos e bons”. queimem tudo. de William Shakespeare. pois tratam-se de documentos muito tendenciosos. Ademais. Os documentos históricos que os especialistas detêm hoje não provam se realmente esses crimes ocorreram ou (quando real­ mente ocorreram) se deveriam ser atribuídos aos judeus. sabe-se que. ainda que algumas dessas histórias de crimes de judeus. a maioria esmagadora do povo em geral (ou seja.A SEDUÇÃO D S NOVAS TEOLOGIAS A que cl< r. Ora. no passado.C. consciencia. na Alemanha.APÊNDICE 1 concretas. A comoção e a revolta que tomaram conta da população local de Trento. cidade do garoto. pelo papa Paulo VI. tornando-se. Só para se ter uma idéia: na época de Lutero. é nessa conjuntura que Lutero escreve algo que choca o povo de sua época: textos a favor dos judeus. ainda eram comuns gravuras falando mal dos judeus e citando o caso Simonino. Contra todo o legado antijudaico da Idade Média. um dos patronos da cidade e criando “um longo e duradouro culto popular de crianças cristãs sacrificadas por judeus”. lembra Mário Maestri. foi esse acontecimento que influenciou a Inquisição católico romana na Espanha a perseguir judeus. só sendo abolido pela Igreja Católica em 1965. “os cristãos deveriam tratar os judeus de modo fraterno”. do final do século XV. ele escreve enfati­ camente em seu livrete intitulado Que Jesus Cristo nasceu como judeu. e em especial da Itália e da Alemanha. como uma famosa gravura alemã de 1493. O caso Simonino teve repercussão em toda a Europa. Como resultado. foi atribuído aos judeus. E o menino passou a ser venerado como São Simonino de Trento (ou São Simão de Trento). que era usurário proveniente de Nuremberg. inclusive. O detalhe é que não havia provas de quem eram os responsáveis. O culto a São Simonino se espalhou principalmente pela Itália e Alemanha. de 1523. a acusação acabou caindo prontamente sobre os judeus locais. morto. era comum encontrar pin­ turas degradantes que associavam judeus a excrementos. Filho de dois anos e meio de um modesto curtidor cristão. Preconceito mais terrível impossível! Anos depois. só foi atenuada com a prisão e morte dos supostos responsáveis pelo crime. por isso. mas. Afirmam histo­ riadores que. Trata-se do caso Simonino. mutilado e dentro de um canal que passava sob a habitaçãosinagoga de um judeu rico chamado Samuel. que Deus “honrou os judeus acima de todos os povos” e que. professor do programa de pós-graduação em História da Universidade de Passo Fundo. foram condenados à morte 14 judeus e a comunidade israelita da região de Trento foi expulsa sumariamente. sofrendo ainda confiscos e multas.net. Isso foi um escândalo para a época! . Pois bem. em uma das páginas mais escuras da história européia. na ânsia de acalmar a revolta. inclusive. Simonino desapareceu na tarde da Sexta-feira Santa de 23 de março de 1475 e só foi encontrado no domingo seguinte. Em uma delas. Ela foi feita formalmente pelo príncipe e bispo alemão ( iiovunni Hinderbach. em artigo publicado no site www. os judeus eram representados se alimentando do esterco que caia do fundo de uma porca. que os levava a serem considerados pelos alemães um “peso” para a nação e até mesmo uma “praga social”. que no final não apoiou o casamento de cristãos com pessoas de outra fé. turco ou herege. Pois é fácil encontrai cristãos que por dentro são descrentes piores — esses são maioria — que e do qualquer judeu. a grande crítica que se fazia na Alemanha contra os judeus dizia respeito ao seu comportamento usurário. um cristão casar com judeu. São Paulo e Santa Luzia. Mas se isso já era um escândalo.i afirmando tal coisa porque os reformadores tentavam se ater à Palavra de Deus. (Sinodal. cedendo à mentalidade de sua época? Dois fatores. também posso casar com ele e continuar casado. Leia o que ele diz. Como assim? No século XVI. do banimento. o que fez Lutero mudar tão radicalmente de opinião em relação aos judeus. 2001. e não te importes com as leis loucas que to querem proibir. Então. beber. sempre era evocado que eles perseguiram os cristãos da Igreja Primitiva e seriam teoricamente “malditos” por terem matado Jesus). dormir. o fato de ter sido instigado pelos de sua época a to­ mar uma decisão firme quanto à questão dos judeus na Alemanha.Lutero só conseguiu transcender a mentalidade enraizada de sua époi. o que dizer do que se segue? Escrevendo em contraposição à proibição canônica medieval do ca samento entre cristãos e judeus (sem estes terem se convertido). turco ou herege. Lutem chegou a propor algo que é até liberal demais em relação às Escrituras: ele chegou a considerar normal um cristão protestante casar com um judeu não-convertido (desprezando a questão do jugo desigual). em mo­ mentos negativos para os judeus. Como um . Mas esse foi só um dos muitos rompantes de Lutero. judeu. segundo o povo. indo de um extremo ao outro. Outros países reclamavam o mesmo. herege ou gentio (pagão) era um escândalo. deveriam ser expulsos da Alemanha. conversar e trabalhar com um gentio. a não ser que já fossem casados antes de se converterem a Cristo. Os judeus. mas bem própria da época. registrado em obras como As Reformas na Europa. gentio. cavalgar. A opinião pública insistia na tese radical. Um gentio é homem ou mulhei criado por Deus tão bem como São Pedro. de Carter Lindbci )• . negociar. Em primeiro lugar. Como o clima já lhes era desfavorável por causa do caso Simonino somado ao velho preconceito religioso de séculos (na Idade Média. pp. passear. o comportamento usurário deflagrou uma forte oposição aos judeus na Alemanha. e não aos aspectos culturais de sua época. 435 e 436): “Assim como posso comer. Na época que Lutero disse isso. sem falar de [o outro extremo] um cristão imprestável e hipócrita”. turco. Ele defendeu a tolerância em relação aos judeus como concidadãos que deveriam ter direitos iguais e serem respeitados por todos. cedendo nos últimos anos à mentalidade de sua época. Lutero é bastante famoso pelo uso de expressões e ilustrações fortes em seus escritos. Foi essa instigação social. Aliás. O uso de termos fortes em seu escrito contra os judeus não foi uma pecu­ liaridade daquele livrete. Mas Lutero não o fez. . escritas no final de sua vida. Uma outra prova de que seu escrito contra os judeus foi. os historiadores afirmam que essas terríveis palavras de Lutero contra os judeus. somada ao segundo fator (o seu ressentimento com os judeus. aposição popular de expulsar os judeus. Finalmente. foram também fruto de ressentimento. Este foi.A QUESTÃO DOS ERROS DOS REFORMADORES APÊNDICE 1 dos líderes de sua nação (Lutero exercia enorme influência na Alemanha. talvez. em clima de ressentimento. com certeza pre­ pararia uma tréplica.e o reformador era do tipo que. E quando estava irritado. chegava a chamá-los em seus escritos de “bobalhões estúpidos” e “ratos guinchando”. o pai da Reforma foi instigado pelos de sua época a se posicionar firmemente contra os judeus e suas práticas. em segundo lugar. combateu o “libelo de sangue” (superstição absurda inventada contra os judeus e que remontava ao caso Simonino) e outros exageros antijudaicos. defendeu. de que vamos falar a seguir). um rompante de res­ sentimento é que alguns de seus seguidores e amigos da Reforma luterana defenderam abertamente os judeus. o reformador. quem leros escritos do reformador vai perceber como ele era marcantemente impulsivo e instável. contemporâneo e sucessor de Lutero à frente do movimento reformador na Alemanha. inclusive entre os líderes políticos). Um segundo exemplo é Felipe Melanchton. e Lutero não se opôs a nenhum deles por isso. e em suas instabilidades usava costumeiramente de palavras fortes. no final da vida. se alguém de dentro ou de fora dissesse algo que contestasse uma posição que defendia. que mesmo concordando com a opinião pública de sua época quanto aos males do comportamento usurário dos judeus em sua nação. além de fruto da instigação e pressão social que havia na Alemanha. Mesmo Lutero inicialmente apoiando os judeus (diferentemente do catolicismo da época). que o levou a cometer essa terrível mancha em sua biografia já no final da vida. Lutero não o rebateu . E quando ele escreveu isso. abusava mais ainda. tomado por mais um dos rompantes tresloucados de seu temperamento instável. Por exemplo. estes desprezavam Lutero e os protestantes. o maior mau de Lutero: seu temperamento. Então. em acessos de raiva contra seus opositores. Urbano Rhegius foi um desses nomes. sem dúvida. mas.Agora. o que está ligado a Calvino: a morte de Miguel de Serveto. Quando os emergentes usam fora de contexto essas palavras impulsivas de Lutero. entregou a bengala do filósofo a Hitler em 1932. A identificação de um judeu por sua raça é. no darwinismo social e em Nietzsche. John Edwards. Routledge. o uso posterior que os nazistas fizeram desse escrito do pai da Reforma é severamente criticado pelos historiadores. Já para o anti-semitismo racial. Essa foi a base de todas as suas atrocidades. uma extrema desonestidade e incongruência histórica. Elizabeth Võster-Nietzsche. dentre os erros dos reformadores. querendo ligar o racismo antijudaico dos nazistas aos reformadores. bem como outros autores católico romanos. “Lutero. uma passagem da teoria (de Nietzsche) à prática (por Hitler). e não em Lutero. ou seja. quando a irmã de Nietzsche. O historiador John Edwards declara: “Lutero identifica um judeu por suas crenças religiosas. eles salientavam sua crença em uma “raça superior” como o argumento principal de seu discurso antisemita. Por isso. Não obstante. a crença religiosa é em grande parte irrelevante. 1988). as afirmações hostis de figuras do Renascimento e da Reforma muito provavelmente parecerão ainda mais terríveis hoje em dia. um . estão simplesmente entrando no jogo dos chamados “ateus raivosos” (como Richard Dawkins). tornava-se um irmão ou irmã em Cristo. vistas sob o pano de fundo de Auschwitz. A animosidade tresloucada de Lutero para com os judeus naquele seu livrete não tinha motivos racistas. um conceito estranho ao século XVI. do que quando foram feitas originalmente” (The Jews in Christian Europe 1400-1700. Apesar de sabermos que Serveto não era nenhum santo. quando o líder nazista visitou-a em Weimar. o mais terrível foi. sobre o fato de os nazistas terem se aproveitado desses textos precipitados de Lutero. e o fizeram totalmente fora de contexto. Outro detalhe é que além de os nazistas mencionarem as palavras de Lutero fora de contexto. Hitler afirmou na ocasião que aquele gesto era o símbolo da “transmissão de uma missão”. nada mais lógico. em qualquer caso. Sc um judeu se convertia ao cristianismo. Agora. Isso porque a eugenia tem suas bases no “super-homem” de Nietzsche e no darwinismo social. e não por sua raça. usando-as como tudo o mais que estava à mão deles para justificar ainda mais suas atrocidades. Os nazistas usaram de tudo à su. Não é à toa que.i mão. precisam ser vistos em seu contexto histórico”. que tentam a todo custo fugir do fato de que o nazismo e o anti-semitismo racial têm suas bases no século XIX. sim. até as palavras tolas e impulsivas de Lutero. enfatiza Lindberg em As Reformas na Europa. não ceder à mentalidade de sua época. o Conselho dessa época era totalmente contra Calvino e. este teria sido executado mesmo assim. na Idade Média. contanto que não fosse por meio de tortura ou fogueira. Para Serveto. por exemplo. “um novo arcanjo Miguel liderando um exército de anjos contra o Anticristo”. por causa das leis adotadas pelo Conselho municipal de Genebra para casos como o de Serveto. conforme suas próprias palavras. a pena de morte por heresia existia havia muitos anos. é importante frisar. Ainda ferido interiormente pelas provocações zombadoras de Serveto por meio de cartas. mas por acaso. Lv 17. E a participação de Calvino nessa história toda suja sua bela biografia. a chamada Constitutio Criminalis Carolina. em vez de o reformador transcender. Porém. amava a polêmica e a provocação. E verdade também que mesmo que Calvino tivesse defendido a não exe­ cução de Serveto.APÊNDICE 1 obsessivo disseminador de heresias e também um homem de caráter zombador. para lidar com pessoas do perfil dele.4. banido. Serveto. c mesmo o único grande feito de sua vida (a descoberta da circulação pulmonar do sangue) não foi por genialidade. ele odiava a discrição. Ela era aplicada de acordo com a Lei Contra os Blasfemos contida no artigo 106 do Código Criminal de Carlos V. como se dizia na . com certeza. mas pela chamada “morte honrosa”. que eram classificadas de “hereges blasfemadores”. Quando Serveto veio a Genebra e foi preso. não invalida sua obra. Nas leis de Genebra. o levaria à morte pelo sistema usado em toda a Europa. em vez de propor ao intransigente Conselho uma pena mais branda como. o banimento (se bem que Serveto. seria morto em outros países. não acataria qualquer pedido dele. É verdade que o comportamento de Serveto. já que respiração é inspiração e a Escritura afirma que “a alma está no sangue” (Gn 9. era. Calvino concordou com as leis de Genebra de que casos como o de Serveto mereceriam mesmo a execução. uma vez que a Inquisição já o havia condenado à morte). mas não sua vida como um todo nem seu ministério. Foi com base nessa lei que Serveto foi executado. mais cedo ou mais tarde. Jesus era um ser criado. todas as doutrinas de que discordava eram “diabólicas” e ele. Seu erro deve ser ojerizado. Segundo os historiadores.11). a Trindade não existia. infelizmente Calvino cedeu à mentalidade de sua épo­ ca. Além disso. Mas cabia ao reformador não concordar com a execução de Serveto. mas transcendê-la. nada justifica sua morte por heresia. quando estava tentando provar uma de suas teses tresloucadas: a de que “o Espírito Santo entra pelo sistema sanguíneo através das narinas”. org e intitulado Calvino e Serveto. onde havia sido condenado à morte pela Igreja Católica. [Serveto] se fez conhecido a Calvino em público. mas apenas a “morte honrosa” —rápida e sem sofrimento). E. apesar deste ter cometido erros muito maiores do que Calvino. mas de cristãos não tinham nada. mas o reformador deveria ter tentado e. uma prática enraizada. sim. E um absurdo enfatizar os erros isolados dos reformadores para genera­ lizar sobre a vida espiritual deles e seus ensinos como um todo. mas que. ainda mais contra a legislação local.Idade Média. mas exceções em suas vidas brilhantes de dedicação a Deus. A resposta do Conselho genebrino daquele período (dominado pelos Libertinos) a um pedido de Calvino. sob a acusação de heresia contra a Trindade”. mas. O doutor Augustus Nicodemos. Seus erros não foram a regra. político e religioso que tentavam transcender pelo entendimento paulatino dos ensinos da Palavra de Deus. obviamente seria “não”. evitaria essa terrível mancha em sua biografia. pela sua limitação e fraqueza. Há uma distância enorme entre Lutero e Calvino e outros personagens da História que se diziam cristãos. Primeiro. mas como pessoas do século XVI. Além disso. Foi preso e. quando condenado à morte. não conseguiam transcender ou tardaram em consegui-lo. diga-se de passagem. conceito que vinha desde o Império Romano (via de regra. que enlameou feio sua biografia em um momento de terrível fraqueza quando concordou com a mentalidade da época. . e todos esses erros foram frutos de sua natureza humana falha em um contexto histórico. Aliás. é interessante que aqueles que querem invalidar totalmente Calvino e sua obra por esse seu erro não invalidam Davi e sua obra. lembra que “Serveto chegou a Genebra fugido de Viena e da França. “Serveto veio à Genebra apesar dos avisos de Calvino de que isto poderia lhe custar a vida”. “Chegando a Genebra. o cidadão romano. assim. por causa desse erro. embora Calvino fosse um teólogo e advogado treinado (havia mesmo sido empregado pelo Conselho municipal para traçar a legislação relativa à presidência social e ao planejamento dos serviços de saúde pública). que tinha quatro séculos de existência. ressalta alguns pontos interessantes. Não podemos dizer. em artigo sobre o assunto publicado no site thirdmill. Em segundo lugar. social. não sofria uma morte cruenta. Não podemos tratar os reformadores como se tivessem mentalidade e acúmulo de conhecimentos de pessoas nascidas nos séculos XX ou XXI. ele lembra que “a pena de morte por heresia era uma prática geral na Idade Média”. que Calvino era um falso cristão. algumas vezes. Nicodemos lembra ainda a tristeza de Calvino pela decisão do Conselho em executar Serveto na fogueira: “Farei visitou Calvino durante a execução. Porém. afirma: “A imagem de Calvino como o ‘ditador de Genebra não guarda qualquer relação com os fatos históricos conhecidos. (. se devem ser perseguidos. clc escolheu Genebra. totalmente. matar um homem”. A outra opção era Viena. Editora Cultura Cristã). o Conselho municipal recusou o argumento de Calvino”. Calvino suplicou ao Conselho que executasse Serveto de uma maneira mais humanitária do que o ritual tradicional de queima de hereges. não foi o promotor do processo eclesiástico contra Serveto.. Alister McGrath. Mas. Ele se baseou exclusivamente no Antigo Testamento.) Há outro fato a ponderar. diretor de escola genebrino. como foi mais tarde reportado. Pouco tempo depois da morte de Serveto.. que Farei partiu sem dizer até mesmo adeus”. sim. Só em 1559. excepcionalmente. estava determinado a mostrar que Ge­ nebra era uma cidade reformada e comprometida com os credos. em um período de sua história durante o qual este era particularmente hostil em relação a Calvino” (A vida de João Calvino. conduzido pela facção dos Libertinos.mesmo assim. (. Entretanto. . Castellio assevera: “Queimar um herege não é defender uma doutrina. Serveto foi condenado a ser queimado vivo. mas. especialmente em Deuteronômio 13. E assim.) O julga­ mento. de onde viera fugido. Por alguma razão. professor de Teologia Histórica na Universidade de Oxford. Nele. o Conselho municipal da cidade. houve quem o contestasse: Sebastião Castellio. Calvino escreveu um livro tentando justificar que. cinco anos antes de sua morte. claro. Lembremo-nos que ele não tinha nem os mesmos direitos de um cidadão comum!”. ressalta Nicodemos. obra do Conselho municipal. que escreveu um ano depois da morte de Serveto o livro Acerca dos hereges. hereges podem ser condenados à morte como ocorreu com Serveto. ele deve ter pensado que suas chances de sobrevivência eram melhores em Genebra. totalmente contrários a Calvino. Calvino se tornou um cidadão de Genebra. a condenação e a execução de Serveto foram. encorajado pelo apoio de alguns e preocupado com as críticas de outros. Mesmo assim... Calvino estava tão transtornado. Quando foi dada a Serveto a escolha da cidade onde seria julgado. Voltemos a Nicodemos: “Calvino havia se correspondido com Serveto e há alguma evidência nessas cartas dc que ele tinha tentado até mesmo encontrar-se clandestinamente com o anti irinitário para tentar convencêlo do seu erro. Cultura Cristã). As poucas execuções que se seguiram depois que o novo Conselho assumiu foram de membros do grupo dos Libertinos que (sem esperança de voltar ao poder devido à maioria de Genebra estar agora apoiando o partido reformador) promoveram levantes públicos e sangrentos nas ruas de Genebra. evoca o doutor Augustus Nicodemos. os hereges passaram a ser apenas expulsos da cidade. depois de admitir que não lera os escritos de Serveto. e não mais executados. Por quê? Porque eles tinham mais luz da Palavra do que os católicos romanos que. Moral da História: aprendamos com os erros e acertos dos reformadores. fugindo da Inquisição. Genebra e a Reforma. assumiu o poder de Genebra no lugar dos Libertinos. não tinha problemas de consciência com a Inquisição (nessa época. . e sem envolvimento algum de Calvino na questão. e especialmente para os judeus. A pena máxima a hereges foi rapidamente abolida e execrada pelos protestantes. e por esses crimes foram presos e executados pelo Conselho municipal. Calvino recebeu apenas a responsabilidade de cuidar de reformas morais. líder do Parlamento inglês por um período. “ Até mesmo os judeus foram convidados pelas cidades-estados refor­ madas para se abrigarem nelas. O mesmo ocorreu nos Países Baixos (atual Holanda). E mesmo hoje. mais tarde tornou a Inglaterra um abrigo seguro para os dissidentes religiosos. O puritano Oliver Cromwell. Além de Serveto. que se este fosse de fato blasfemador. Enquanto isso. além de terem acontecido apenas entre alguns grupos localizados e durante um período curto de tempo. sociais e culturais. outrora reformadas. figuram no topo da lista como cidades que se destacam em termos de direitos humanos e relações internacionais”. de vento em popa).muitos esquecem que o próprio Castellio afirmaria posteriormente. Durante a gestão do Conselho reformador. justamente por isso. Ronald Wallace. Genebra e Estrasburgo. “mereceria morrer”. ninguém mais foi executado por método algum por causa de heresia em toda Genebra. os casos de morte por heresia promovidos pelos protestantes na Europa foram raros. Outro detalhe em toda essa história é que a consciência de culpa e a discussão sobre a validade de algum tipo de pena capital para hereges só foram possíveis naquele período entre os seguidores da Reforma. O arrependimento do catolicismo em relação à Inquisição só viria séculos depois. quando o partido reformador. apoiado por Calvino. Um detalhe importante: além de a execução de Serveto ter sido “a única vez que homens na Igreja Reformada usaram o método da fogueira como um meio para purificar hereges” (Calvino. .r.1 célebres cristãos protestantes (oram < . se nos colocarmos no lugar dos reformadores.i 1 11 1<m 1 do 11<-. e por isso podemos ver facilmente.Seus erros nem devem ser esquecidos nem também devem ser avultados acima da vida deles.I> > .11. Nosso contexto cultural e a nossa formação são totalmente outros.. Es­ tamos em uma época onde temos uma cultura geral muito mais acumulada do que na época deles. o quão terrível foram seus erros. Erros são erros. . os erros deles ficaram como exemplos do que não devemos fazer.. nus eles devem ser colocados em seus devidos lugares e entendidos dentro de seus contextos. tendo crescido e sido criados naquela geração e naquela cultura. que os criti­ camos hoje.. perceberemos que nós. 1 11 .. E mais: erros pontuais nunca devem ser usados com o i i>1 i(o 11 de invalidar toda a vida e toda a obra de cristãos verdadcir. se estivéssemos na situação deles. <• ..< h . E preciso sempre sermos honestos em nossas análises sobre os personagens da História.. p-nu-s < . emergentes.. acm no mesmo pecado hoje quando se deixam mllucm i.r. n >passado |> i > < o Im > d. na tentativa desonesta de diminuir a importância do que os reformadores fizeram sob a graça e a inspiração divinas. nos leva a transcender as influências pernii ios. e para isso devemos sempre nos colocar no lugar deles em nossas análises. onde eles nunca foram a tônica.. sem o acúmulo de conhecimento que temos hoje. provavelmente teríamos 90 % de chances de cometer os mesmos equívocos. |u. imaginarmo-nos dentro daquela conjuntura histórica e cultural de sua época.u pi Io i ouicmo liisiórico e cultural hodierno.. . Porém. graças a Deus.... Ou l.is< contexto histórico e cultural de suas épo< . de nossa época. e pelos princípios da pós modri md.. independente de sermos cristãos ou não.nu sim nos Esses erros devem ser rechaçados. mas não avullados p. Mas..> seja. onda ou modismo de nossa geração..1 dc\miit l>io|'..■tom o Sola Scriptura nos leva a não cometermos o mesmo m o < .id< ii. Aprender com os erros dos rcloi madoirs .i lormação de sua mentalidade.ult. Pecado é pecado em qualquer período da História. I. a nos mantermos bíblicos em meio a toda e qualquei lasc.r. E uma última reflexão: assim como os citos < mm i l< . . 2006). alguns até grosseiros. Porém. vejamos o caso mais famoso. . tendencioso e alarmista. que salientou que o filme é cheio de imprecisões científicas e o considerou. Na sentença. que são contrários a esse verdadeiro terrorismo psicológico implementado pelos ambientalistas e suas previsões aterradoras. desde outubro de 2007. ganhou o Oscar de 2007 na categoria Documentário e fez com que Gore ganhasse o Prêmio Nobel da Paz no mesmo ano pela sua dedicação à causa ambiental. a película só poderá ser exibida em escolas britânicas com uma advertência aos alunos quanto aos erros científicos nele contidos. o juiz determinou como obrigatória a advertência ao público de que o filme contém “imprecisões científicas e não representa a única posição sobre o assunto”. da Alta Corte Britânica. Al Gore. A decisão foi do juiz Michael Burton. portanto. mas. justamente devido aos seus exageros. emitida no final de 2007. apresentado pelo ex-vice-presidente dos Estados Unidos. Para exemplificar o que estou dizendo. ele está repleto de equívocos científicos. EUA. Por isso. Nem todas as predições bombásticas dos ecologistas sobre o futuro do planeta devem ser tomadas totalmente como verdadeiras ou precisas. o discurso “carregado de tini a” dos ecologistas tem muita verdade em seu cerne. O documentário cinematográfico Uma verdade inconveniente (An inconvenient truth.A questão ambiental: exageros e equilíbrio Como falamos no primeiro capítulo. deve ser equilibrado pelas análises de muitos ecólogos de renome no mundo. quando as evidências científicas demonstram que isso é impossível de acontecer. e que os níveis do mar poderão aumentar em sete metros nos próximos anos. quando isso não aconteceu. como vemos. a Inglaterra não existiria mais em 2000. em 1985. inter­ romper a Corrente do Golfo. mesmo depois de proferir sua conclamação. iii I e que em 1999 só haveria 22.is.Alguns dos erros científicos encontrados no filme e divulgados por vários ecólogos de renome são os de que o aquecimento global poderia. quando estudos mostram que o aumento dos níveis do mar. às vezes. 200 mil pessoas morreriam em Nova Iorque e Los Angeles ■' n 1973. e que a expectativa de vida do americano seria reduzida para 42 anos . de acordo com a companhia elétrica Nashville Electric Service. como se tratasse quase de uma religião. quando dados recentes provam que ela está aumentando. que a cobertura de gelo da Antártida está em processo de degelo.6 milhões de habitantes nos Estados 1 liudi > l'oi lauto. pela Bíblia. d liii iii. mas foi descoberto que.25. por causa de problemas climáticos provocados pelo homem. que fenômenos naturais violentos marcarão o final dos tempos (Lc 21. i)lii|'K . Houve ainda quem disse que. que o nível do mar subirá até 20 pés por causa do derretimento do gelo na Antártida e na Groenlândia. nos próximos séculos. i' • 1141 . pois há muita manipulação de informações com ob­ jetivos claramente políticos. muitos líderes dos atuais grupos ambientalistas chegaram a predizer que. que os ursos polares se afogaram ao tentar nadar longas distâncias em busca do gelo. lançando a Europa numa Idade do Gelo.i inconsciente.26) e também que o cristão deve preservar a Criação de Deus. que a elevação dos níveis do mar forçou a evacuação de algu­ mas ilhas do Pacífico. Por isso. muito cuidado com previsões avassaladoras. Além disso.i 111 e é o envolvimento doentio que muitos acabam tendo com 11 i r i nr i . mas é preciso. quando o único estudo científico sobre o assunto informa que apenas quatro ursos foram encontrados afogados e eles morreram por causa de uma tempestade violenta. Sabemos. repito o que disse no primeiro > .. tendo as populações tomado o rumo da Nova Zelândia. ■ ■ ( )1111 o < ■. devido à 1o 111 am inação do ar. os ambientalistas são famosos por proferirem profecias aterradoras que não se cumpriram. quando a Ciência diz que isso só será possível em séculos ou mesmo em milhares de anos. sua mansão em Nashville continuava consumindo por mês mais eletricidade do que o lar médio americano em todo o ano. em breve.5 bilhão devido à poluição. Basta lembrar que o paladino Al Gore conclamou 0 povo americano para conservar a energia reduzindo o consumo elétrico em suas casas. não ultrapassará os 40cm. Outros disseram que. Por exemplo: no passado. a população da Terra seria de 1. Isso. ter cuidado com muitas das afirmações dos ambientalistas de plantão. e tendo seu modo de vida determinado pelo apelo emocional da pregação ambientalista. lutar pela preservação da natu­ reza.18). religiosa (como se estivessem aderindo a uma nova e revolucionária filosofia de vida. inclusive. Há uma verdadeira glamourizMção da idéia de ser “verde”. Entretanto. em contraposição a esse senso sadio. Porém. a uma “seita ecológica”). Essa é. o que se vê hoje é a maioria das pessoas que se engajam em causas ecológicas se comportando de uma forma devotada. . Nada mais lógico. não devem fazer desse discurso algo parecido com uma religião nem ser hipnotizados por qualquei discurso apelativo dos ambientalistas de plantão. E mais: cristãos adeptos desse movimento já estão vivendo uma verdadeira relação emocional-religiosa com a natureza. Cristãos devem ter em sua agenda o discurso pró-preservação da natu­ reza. Repito: é bíblico. uma inferência bíblica (Ap 11. Muitas propagandas pró-movimento ecológico exploram a lógica hedonista para atrair mais adeptos e incentivar os que já vestiram a camisa.A QUESTÃO AMBIENTAL EXAGEROS E EQUILÍBRIOS APÊNDICE 2 capítulo deste livro: devemos. bem no estilo de algumas religiões orientais. deve prevalecei o equilíbrio e a coerência. sem dúvida. Em tudo. . descriminalizaçao do aborto..i I•>criada por í Deus. mas não ' uma vida no mesmo sentido emqueumaplania tem vida. durante toda a sua existência. i v i . somente I )eus pode tirai .1 '. pois tem todo direito de legislar . Esse ensino é ressaltado tanto no Antigo quanto 110 Novo Iestamentos (Gn 1.1 legislação brasileira: os abortos por causa de csitipiu e p. não lèm vida consciente.1 vida d. como argumentam os abortistas.i< . e que.r. Por isso. que não dão importância ao feto como sondo um ser humano.i 1 mãe (aborto terapêutico)..'i luz d..i I .il para aprovar ou rechaçar essa hipótese. Em segundo lugar..i Bíblia. enquanto a planta ou a árvore." 1..26). mantendo apenas o i|iie .1 vid.. Mas. a mãe pode escolher o que fazer com ele.' > Qual deve ser a posição do cristão. portanto. MAS NAO NO SENTIDO ABORTISTA A primeira coisa a se observar é que a Bíblia di / 1 |iu ..27.1 .i «•uma vida.n il > <• > 011 > ' O FETO É VIDA. Fala-se até em fazer um p l e h i s c iio 110 Ur.i r . o cpie diz 1 P . .11. i < l < I > * ..1 vida.28 e At 17.u...1 . ■m irl. dn • ■ r Minio. É uma falácia dizer que o feto é “parte” do corpo da mãe. O feto tornar-se-á uma vida consciente em poucas semanas. devemos nos lembrar que o leio j..O cristão e o aborto Um dos assuntos mais evocados nestes últimos anos em nosso pai1 < .iK. de J. então teríamos que dizer o mesmo da criança já nascida durante muitos meses. que o corpo humano tem sua origem no ato da concepção” (Dr. da anestesia. É um terceiro absolutamente novo. Ninguém diz “Tenho um feto!” (o que parece com “Tenho um tumor!”). eu. depois de se afixar à parede uterina. da extrema senilidade. e o feto. Uma mulher nunca dirá “Meu corpo está grávido”. são.Para eles. nu. A pena de morte seria o quê.iv idez”. e do homem durante o sono profundo. págs. então? Interrupção da respiração? A ci u. são absolutamente distintos entre si e a cada um dos demais. “A criança não é um que.sobre seu corpo. a molécula de DNA deste desenrola-se e une-se à daquele. falecido em 2005. Porém. Somente alguns aspectos especiais e inatos do novo organismo o guardam da destruição. Está claro. esse corpo distinto produzirá mais células. formando uma célula intei­ ramente nova (zigoto). o feto não é parte do corpo da mãe. “Se afirmarmos que o feto não é um quem porque não tem uma vida pessoal. no momento certo.a não é um objeto ou um tumor.. sem dizer do estado de coma”.ii . enviando anticorpos para eliminar o intruso não reconhecido. Hayes Publishing Co. “Na concepção. como um vegetal. Liley em Abortion: questions andanswers. as pessoas se tornam (quando lhes é coiivcnicnif) “coisas”. diferente. é uma hipocrisia dizer “interrupção da gr. empregada pelos defensores do aborto quando falam do embrião ou do feto. Ora. A partir da concepção. da arieriosclerose avançada. Os abortistas é que invertem os valores e agem irracionaliii. nem “apenas uma vida”. quando o espermatozóide se une ao óvulo. sem a menor sombra de dúvida. uma “coisa” dispensável. e todas elas manterão o padrão único dos cromossomos do zigoto original. É uma pessoa dentro de outra pessoa. É alguém a quem se diz tu e que dirá. que se soma ao pai e à mãe. biologicamente indiscerníveis e que podemos supor ‘idênticos’. o corpo da mãe reage.. portanto. E é tão distinto que dois gêmeos univitelinos. dentro de algum tempo. a lógica dos abortistas vai exatamente em caminho oposto e ilógico. O feto não é uma coisa.C.W illke. Inc. um corpo individual. Ele é uma pessoa. mas um quem. ressalta o filósofo Julián Marías. O organismo desenvolvido dentro da mãe é. eu e tu”. lembra Julián Marías. mas sempre “Estou grávida!” Ninguém fala do feto como se fosse um tumor. o quem se torna que. 51 e 52). em qualquer estágio. i. Essa nova célula viva é tão diferente que. Por isso é incorreta a expressão ‘meu corpo’. Logo. que se pode extirpar como se fosse alpn nojento. na realidade. isto é. O verbo ratsach refere-se claramente ao homicídio premeditado. um estuprador. em Êxodo 20. mesmo que ainda não plena em suas primeiras fases. até mesmo no Brasil. ACIDENTAL E TERAPÊUTICO E por que os abortos natural. que não sejam o natural. ABORTOS NATURAL. fazendo com que o bebê pague por ele com sua vida.6).15. os abortos natural. acidental. volun­ tários ou involuntários.1. Há até um famoso pastor norte-americano que louva constantemente a Deus por sua mãe não ter feito um aborto quando ele foi concebido. mas a algo proposital. mas sua mãe. é pecado. desejados ou indesejados.5 e Lc 1. reconhecido em todos os Estados Unidos e com muitos livros publicados. fato é que ela deve ser respeitada (a não ser que coloque em risco a vida da mãe). Ele não pode pagar com a vida por um erro que não cometeu.. 1.13). que define a concepção de um ser humano no ventre da mãe como algo “terrível e maravilhoso” (SI 139. (2) nem para homicídio culposo (3) e muito menos para defesa própria ou em situações de guerra. Hoje ele é uma bênção. Os dois primeiros não são provocados. se uma vida está sendo gerada.14). à execução legal de um assassino (Gn 9. Ele nunca é usado para se referir (1) à pena de morte. subtendendo no original hebraico a necessidade da intenção de matar. Até aborto por causa de estupro é pecado. Já o acidental é resultante . Não se pode culpar o bebê no ventre pelo pecado do pai. que era uma serva de Deus. Por isso. O aborto natural ocorre por doença ou morte do feto. Ela declara ainda que Deus escolhe pessoas desde o ventre (Êx Is 49. acidental e terapêutico não são pecados? Quando a Bíblia ordena “Não matarás”. decidiu levar a gravidez adiante e criar o menino nos caminhos de Deus. não está se referindo ao assassinato involuntário. seja pelo amor ou pela violência. O bebê gerado por causa de um estupro não pediu para nascer.: CRISTÃO E O ABORTO APÊNDICE 3 A Palavra de Deus valoriza tanto o feto concebido. O feto é vida humana para Deus. Jr 1. Há testemunhos de mães que foram estupradas e não abortaram seus filhos. sendo a primeira vez nos Dez Mandamentos (Êx 20. Logo. e seu significado mais exato é “Não assassinarás” ou “Não cometerás assassinato”.le era fruto de um estupro. o acidental e o terapêutico.13. O verbo hebraico ratsach aparece 47 vezes em todo o Velho Testamento. Por meios bons ou maus.31-35). aborto por qualquer outro motivo. acidental e terapêutico não são pecados à luz da Bíblia. são involuntários. I. acidentes. o cristão deve ser contra esses tipos de aborto. Ou um ou outro. O aborto provocado ou que não é uma defesa à vida da mãe é um crime perante Deus e uma covardia. queda etc. . porque seu objetivo é salvar a vida da mãe. O aborto terapêutico (também chamado de aborto honroso).A SEDUÇÃO D NOVAS TEOLOGIAS AS de fatores como susto. pois a vítima não pode defender-se. por sua vez. Os abortos pecaminosos são todos os demais. também não constituise pecado. que são provocados por razões egoístas ou por razões eugênicas (para evitar nascer um filho com defeito). enfim. É quando surge a seguinte situação: ou aborta ou a mãe morre. À luz da Bíblia. talvez pareça pequena a quantidade de informações que temos sobre Jesus. é preciso deixar claro que as tentativas de desacreditar o Jesus da Bíblia são pura manipulação dos fatos. portanto. mas todas formando uma base comprobatória irrefutável. Apesar de a fé do cristão não estar abalizada em descobertas ar­ queológicas. . Vejamos. algumas omitidas pelos críticos e outras distorcidas. A primeira vista. Muitas são as provas da autenticidade histórica do Jesus dos Evangelhos. a base científica para a afirmação inquestionável da historicidade de Cristo. Porém. O que tais textos e produções fazem é tentar causar frisson indo na contramão da maioria esmagadora dos cientistas. para alguém que não conhece o acervo de registros históricos sobre grandes personalidades da História Antiga.Apêndice 4 A autenticidade histórica do Jesus da Bíblia De vez em quando surgem na mídia secular matérias e documentários tendenciosos e manipuladores tentando provar que Jesus não foi uma personagem da História. ao confrontarmos Jesus e o acervo sobre Ele com as inúmeras outras figuras indefinidas da História Antiga e o que ficou registrado sobre elas. veremos que é surpreendente a quantidade de informações que ainda temos sobre Jesus. que concordam com a historicidade do Filho de Deus. C. na qualidade de judeu. Para chegarem a essa conclusão. que queria servir-se do tesouro do Templo para aduzir a Jerusalém a água de um manancial longínquo). que tinham predito também outras coisas maravilhosas a respeito dele. foi um mestre. para os que aceitam a verdade com prazer. nunca iria se reportar a Jesus dessa maneira. podemos usar este termo —homem. Foi ele o Messias esperado. A outra citação é a mais forte de todas: “Foi naquele tempo (por ocasião da sublevação contra Pilatos. Diz a versão em árabe: “Por esse tempo apareceu Jesus.FONTES JUDAICAS COMPROVAM JESUS O historiador judeu Flávio Josefo. XVIII. é a que mais se aproxima do original da obra de Josefo. por denúncia dos notáveis de nossa nação. e a espécie de gente que tira dele o nome de cristãos subsiste ainda em nossos dias” (Flávio Josefo. Atraiu a si muitos judeus e também muitos gregos. Antigüidades Judaicas. Trata-se de uma referência ao apóstolo Tiago. aqueles que se tornaram seus dist ípulos pregaram sua doutrina. Alguns colocam em dúvida esse texto dizendo ser interpolação de um escritor cristão.-98 d. os especialistas compararam a versão acima com a em árabe. que são a referência à veracidade da ressurreição de Jesus e a declaração de que Ele é o Messias. Porém. os que antes o haviam amado durante a vida persistiram nesse amor. e quando Pilatos. tendo participado da guerra dos judeus contra os romanos em 70dC). que escreveu a epístola bíblica que leva o seu nome e foi bispo em Jerusalém. segundo eles. que praticou boas obras e cujas virtudes eram reconhecidas. homem sábio. Talvez ele fosse o Messias . Pilatos o condenou a ser crucificado e morto. a maioria dos eruditos de hoje declara que a passagem sobre Jesus em Josefo é fidedigna. se é que. o condenou a ser crucificado. XX). Eles afirmam que Jesus apareceu a eles (rês dias após a sua crucificação e que está vivo. Muitos judeus e pessoas de outras nações tornaram-se seus discípulos. que viveu no primeiro século (37 d. cita duas vezes Jesus em sua obra Antigüidades Judaicas. Alegam que Josefo. Uma delas é a que se segue: “(O sumo sacerdote) Hanan reúne o Sinedrim em conselho judiciário e faz comparecer perante ele o irmão de Jesus cognominado Cristo (Tiago era o nome dele) com alguns outros” (Flávio Josefo. Antigüidades Judaicas. Pois ele fez coisas maravilhosas e. um homem sábio. que apareceu Jesus. III).C. pois Ele lhes apareceu vivo de novo no terceiro dia. Porém. exceto duas pequenas interpolações por eles identificadas. irmão carnal de Jesus. tal como haviam predito os divinos profetas. que. falando dele.. Na segunda metade do primeiro século. sem dúvida. encontram-se dados que. oTalmude afirma: “Na véspera da Páscoa.31). O Talmude Babilônico.APÊNDICE 4 previsto pelos maravilhosos prognósticos dos profetas ”. Esta escuridão Talo. . Segundo os estudiosos mais críticos. muitos lugares na Judéia e outros distritos foram afetados. muitos deles afirmam que. esse final que grifamos pode ser admitido.. o que sobra já é uma extraordinária referência ao Filho de Deus. Porém. ‘um eclipse do Sol”. no terceiro livro de sua História..) c eles o penduraram na véspera da Páscoa” ( Talmude Babilônico. o que é considerado desnecessário. a maioria do segundo século. historiador samaritano. A contradição mencionada nos talmudes dizem respeito à acusação dos judeus de Jesus ter usado magia. ele pode ser aceito como original. como uma interpolaçáo. Os escritos originais de Talo não existem mais hoje. que data do IV século. ainda que fosse também cortado. Os talmudes judaicos são outra fonte histórica sobre Jesus.. mencionando seus discípulos e até sua morte durante a Páscoa. as pedras foram rasgadas por um terremoto. mesmo procuran­ do contradizer a visão cristã e defendendo o judaísmo (o que só fortalece a autenticidade dessas citações)..1 e Jo 19. como me parece sem razão. alude a Jeshu há-Nostri (Jesus de Nazaré). ~~<T. No Talmude de Jerusalém e no da Babilônia. Júlio cita: “O mundo inteiro foi atingido por uma profunda treva. que em 52dC menciona Cristo indiretamente ao tentar dar uma explicação natural para as trevas que ocorreram na crucificação de Jesus. confirmam a existência histórica de Jesus.A E HISTÓRICA D JESUS D BÍBLIA D O A FONTES PAGÃS COMPROVAM JESUS Há também muitas citações a Jesus Cristo nas fontes pagãs. Quanto ao trecho que faz referência à ressurreição. Porém. o cristianismo ainda estava começando a repercutir quando surgiu a primeira referência pagã a Jesus que nos é conhecida. alguns fragmentos deles foram preservados nos escritos de Júlio Africano (220dC). Esses relatos da crucificação são corroborados pelos Evangelhos (Lc 22.) ia ser apedrejado por prática de magia e por enganar Israel e fazê-lo se desviar (. uma vez que nesta versão as palavras de Josefo não aparecem emitindo juízo quanto à veracidade da ressurreição de Cristo. Na passagem sobre a Páscoa. por exemplo. Sanhedrim 43A). chama. Ela é feita por Talo. eles penduraram Jesus (. no caso da versão em árabe. e nem negar um depósito quando exigido. que relata a expansão da Igreja Primitiva e a adoração dos cristãos “a Cristo como se fosse um deus” (Christo quase deo ). o procurador Pôncio Pilatos entregara ao suplício” (Tácito. Nero supôs culpados e infligiu tormentos requintados àqueles cujas abominações os faziam detestar. o Jovem. o contexto dessa carta de Tácito trata sobre o incêndio criminoso de Roma. ou adultério. sob o principado de Tibério. Plínio. e dirigir palavras a Cristo como se este fosse um deus. Siu iAnin < o terceiro pagão a citar Jesus. Ele foi governador da Asia em 112dC e genro de Júlio Agrícola. em nenhum momento nega ou ironiza a existência histórica de Jesus. a primeira e mais clara citação pagã de Jesus conhecida é feita por Plínio. e a quem a multidão chamava cristãos. em vez de Cristo: “Para destruir o boato (que o acusava do incêndio de Roma).. XV. No segundo século.i enire os anos 119-122dC. eles mesmos fazem um juramento. Anais. A missiva trata das torturas que os cristãos são submetidos pelos seus pre­ tensos “crimes”. ele vive nos ensinos que deu”. A segunda citação pagã é feita por Cornélio Tácito (55dC-l 17dC). Nessa carta. um sírio escrevendo ao seu filho Serapião sobre a busca da sabedoria. pede instrução a i_ espeito dos cristãos. Em sua obra Vida dos Doze |> 1ii .uório. que se reuniam de manhã para cantar louvores a Cristo.têm como hábito reunir-se em uma dia fixo. quando o cristianismo começou a atravessar as fronteiras do Império Romano. que era procônsul na Ásia Menor. Tácito cita a crucificação de Cristo como fato histórico. ele afirma que o imperador uI> . Dessa forma. l'ác nu i onlnma fatos históricos sobre Cristo. Plínio. nem quebrar sua palavra. Mesmo não sendo cristão e antipatizando com o cristianismo. ele declara: “Que vantagem têm os judeus executando seu sábio rei? O rei sábio não morreu. menciona a Jesus em 73dC.. ( >omo vemos. referindo-se a Ele como um sábio e “rei dos judeus”. Este nome lhes vem de Cresto. sendo que. que governou a região da Grã-Bretanha. ao citar Jesus. de não cometer qualquer crime. 44). nem cometer roubo ou saque. o chama de Cresto. Ao referir-se à Igreja Primitiva.kI. Na carta. em carta ao imperador Trajano. nos anos 111-113dC. Em certo ponto. Mara Bar-Serapião. uma correspondência de caráter político. mais conhecido como Tácito. Epístola 97). despedem-se e se encontram novamente para a refeição” (Plínio. Nero mandara incendiar Roma e usou os cristãos como bode i xpi. que. Após fazerem isto.Ainda no primeiro século. mesmo não sendo cristão e odiando os cristãos. antes do nascer do sol. Entre os ditos “crimes” Plínio cita: “. os cristãos começaram a chamar mais a atenção dos pagãos. um dos mais famosos historiadores romanos. no terceiro século.ao cópias muito antigas. mas que eram bastante conhecidas na época dos Pais da Igreja e por isso são mencionadas por eles. O texto do Novo li a. inimigo do cristianismo. O filósofo cristão Justino. espécie de gente dada a uma superstição nova e perigosa. menciona Cristo em seus escritos. o manuscrito denominado Papiro II de Chesser Beatty (nome do proprietário). os Evange lhos? A AUTENTICIDADE DOS EVANCl I IK)S A fidedignidade dos Evangelhos c o uiu prova iiu onicaável da his­ toricidade de Cristo. foram destinados ao suplício” (Suetônio. desafiou-o a consultar os arquivos imperiais deixados por Pilatos sobre a morte de Jesus Cristo (Justino. a título de comparação cronológica. todas as cópias de qualquer obra literária <iam leiia\ a mao. há ainda citações seculares que não temos hoje em mãos. portanto 20 ou 30 anos após a morte de Paulo. no tomo Vida de Nero. o filósofo neoplatônico Celso.. por exemplo. E. E. uma causa de desordem”.48). o que ( dizer de suas primeiras biografias. 2). tornados. contendo quase a totalidade das epístolas do após­ tolo Paulo (que mencionam Jesus em abundância) e Hebreus datam do fim do I século.. o Mártir..A AUTENTICIDADE HISTÓRICA D JESUS D BÍBLIA O A APÊNDICE 4 Cláudio “expulsou os judeus de Roma.. O jurista e teólogo Tertuliano. Antes de Gutenberg invcniai a imprensa no século XV. Apologia . Finalmente. Finalmente. que falam da vida de Getúlio Vargas! . Apologia.. que sucedeu a Cláudio. rele rências a eles têm séculos de distância. por isso a denominação “manuscritos”. Por exemplo.m o que temos em mãos hoje é considerado pelos especialistas lidcdi|’. sob o impulso de Cristo.. como se tivéssemos em mãos edições de 2005 de obras lançadas em 1975 ou 1985.no porque os manuscri­ tos neotestamentários existentes em nossos dias . Estes são os escritos pagãos mais antigos sobre Jesus. I. Platão. na época de Orígenes. 1. em sua defesa do cristianismo. próximas dos manuscritos originais. A'. Sócrates e Aristóteles são filósofos gregos que não têm nenhum manuscrito existente hoje que seja tão próximo de suas épocas e que façam referem ia a existência deles. mas todos julgam que a historicidade deles é inquestionável. Talvez nenhum personagem hisiórii o da História Antiga tenha referências tão irrefutáveis quanto | sir. cita uma correspondência entre Tibério e Pôncio Pilatos sobre Jesus (Tertuliano. Vida dos doze Césares). ao escrever ao imperador Antonino Pio. acrescenta: “Os cristãos. 37. “A Ilíada de Homero. Atualmente. A maioria é do terceiro. frisa o teólogo norte-americano Philip Wesley Comfort (A Origem da Bíblia. 255). A11•r11 disso. muitas são as descobertas arqueológicas que confirmam a historicidade da narrativa dos Evangelhos sobre a vida de Jesus. enquanto que o intervalo para muitos dos livros do Novo Testamento é de cerca de 100 anos”. CAIFÁS E PILATOS. k > forme destaca o arqueólogo John McRay. 154e385). discípulo de Jesus. proveniente do Egito e conhecido como Papiro de John Rylands. CPAD. pg. Isso é impressio­ nante. indo do primeiro ao nono século. Ele data de 110 a 125dC. págs.2). ia 1111> 111 mencionado por Lucas em Atos 5. O lapso de tempo para a maioria das obras clássicas gregas fica entre oitocentos e mil anos. quarto e quinto séculos. O número de cópias de todas as outras obras da literatura grega é bem menor. é sub­ sistente em cerca de 650 manuscritos. tem numerosos < . época do nascimento de i n ( 11 \ 11. e as tragédias de Eurípides existem em aproximadamente 330 manuscritos. o arqueólogo Randall Price lembra que “o censo de Ciírnio. contendo quase todo o Evangelho de João datado de 175dC e porções de Lucas 3 a João 15 datadas de 200dC. a maior de todas as obras clássicas gregas. Vejamos algumas. governador da Síria (Lc 2. 1991. Já faz alguns anos. Outros manuscritos de destaque são os Papiros de Bodmer. HERODES. deve-se acres­ centar que o espaço de tempo entre a composição original e o manuscrito subsistente mais próximo é muito menor para o Novo Testamento do que para qualquer obra da literatura grega. BakerBookHouse. DESCOBERTAS ARQUEOLÓGICAS: CIRÊNIO. arqucóli>gOS descobriram um Cirênio com seu nome gravado em uma moeda que o ci ili ii . em sua obra Archaeology and ibr N nr Irsiumcnt (Grand Rapids. há mais de 6 mil cópias de manuscritos gregos do Novo Testamento ou de porções neotestamentárias. Além da autenticidade do texto bíblico. () Evangelho de Lucas fala sobre o nascimento de Cristo mencionando um cn in<> decretado por Cirênio.A SEDUÇÃO D NOVAS TEOLOGIAS AS Há ainda um pedaço de papiro contendo um fragmento do Evangelho de João em grego.i como procônsul da Síria e Cilícia de 1laC a 4aC. uma vez que nenhuma outra obra da literatura grega pode ostentar uma abundância tão grande de cópias. Além disso. de 10 a 35 anos após a morte do apóstolo João. o Grande. Foi no pátio de ( asa de Caifás que Pedro traiu Jesus (Mt 26. filho de Caifás’. da mesma forma como em Lucas 2.APÊNDICE 4 paralelos em formulários de censo de papiro que datam do I século a. pág. loi lidei do Sinédrio de 18dC a 36dC.69-75). CPAD. estão sendo escavadas desde 1973 pelo arqueólogo judeu Ehud Netzer. o sumo sacerdote’. simplesmente o ossuário contendo os restos mortais do sumo sacerdote. Dentro havia os ossos de seis pessoas diferentes. que era chamado Caifás. que ordenam o retorno compulsório de pessoas ao local em que nasceram para levantamento de censo. ao I século dC” (Pedras que Clamam. CPAD. A primeira linha é uma data e indica o ano em que o vinho foi feito. forma padrão A encontrada em tais inscrições. Netzer. o nome e título do rei Herodes em um rótulo de vi­ nho datado de 73dC. edição de setem­ bro/outubro de 1996.57-68). Kandall Price relata a descoberta: “Um dos ossuários era requintadamente ornamentado e decorado com rosáceas detalhadas. ao sul <>elevado onde l< os judeus afirmam ser o monte do Templo. em Massada. e comprovam o perfil do infame rei. As ruínas de um dos seus palácios. Price cita como exemplos o Papiro Oxirrinco 255 (48dC) e o Papiro 904 do Museu Britânico (104dC). inclusive de um homem de 60 anos. o chamado Heródium. Crê-se que o local encontrado é a casa de Caifás. . “ inscrição em latim tem três linhas. Foi ele que presidiu o julgamento de |esus e é várias vezes citado (Jo 11.3-5. que significa ‘Caifás’ e ‘José. 267). quando trabalhadores estavam construindo um parque aquático na Floresta da Paz em Jerusalém. A segunda linha dá o lugar e o tipo específico do vinho.49-53. porque ali foram encontrados 12 ossuários de calcário e. O Novo Testamento refere-se a ele apenas como Caifás. entre eles.C. Hoje. mas Josefo apresenta o nome completo: ‘José. hoje se sabe. Na caixa havia uma inscrição. 259). inclusive. Herodes é citado como rei da Judéia na época do nascimento de Cristo (Mt 2). Rei da Judéia ”. sabe-se que Herodes. provavelmente Caifás” (Pedras que Clamam. reinou na Judéia de 37aC a 4dC. Lê-se em dois lugares Qafa e Yehosef bar Qayafa. 18. é famoso por ter encontrado em 1996.14 e M t 26. Essa casa foi encontrada por acidente em novembro de 1990. e na última linha temos o nome ‘Herodes. pág. contou Netzer em entrevista publicada na revista israelense Eretz. Outro personagem da narrativa da vida de ( aisto cuja existência foi comprovada é o sumo sacerdote Caifás que. Obviamente pertencera a um patrono rico ou de alta posição que poderia dar-se ao luxo de possuir tal caixa. ao todo.1 em por 1.36-37 e 19. O primeiro documento trata-se de fragmentos de papiro que hoje per­ tencem ao Magdalen College (Faculdade Madalena).1.DAS NOVAS TEOLOGIAS Finalmente. São. A SEDUÇÃO O DOCUMENTO DE OXFORD E O 7Q5: DEUS FALA AOS CÉTICOS Novas descobertas de manuscritos do Novo Testamento fortalecem ainda mais a fidedignidade dos quatro Evangelhos.3cm. O texto traz trechos do capítulo 26 do Evangelho de Mateus e está registrado na frente e no verso dos três fragmentos. que narram o nascimento.c. segundo especialistas.i descoberta foi feito pelo jornal britânico The Times.21-22). a vida. trata-se de um monumento para dedicação de Pilatos a um Tibérium —um templo para adoração ao imperador romano Tibério César. os fragmentos trazem conteúdo suficiente para não deixar dúvid. em Hei. Em 1961. Hoje conhecida como Inscrição de Pilatos. Sabe-se hoje que a residência oficial de Pilatos era em Cesaréia M arí­ tima. O maior deles mede 4. foi descoberta uma placa de pedra de 60cm por 91 cm trazendo o nome de Pilatos. na Inglaterra. ' 1 11ii 11u iii d. é escrita em latim e apresenta o título “Pôncio Pilatos. em . A Inscrição de Pilatos está em quatro linhas. destaca Randall Price. quando tais mandatos teriam sido esquecidos”.12-15. três fragmentos. da Universidade de Oxford. outro personagem contemporâneo de Jesus cuja his­ toricidade foi comprovada é Pilatos (Jo 18. a laje é. “Esse foi o primeiro acha­ do arqueológico que menciona Pilatos e mais uma vez testemunha a precisão dos escritores bíblicos. que governou durante o mandato de Pilatos na Judéia. a morte. di.14-16).iin. São eles o Documento de Oxford e o Documento 7Q5. o leproso. cidade litorânea do Mediterrâneo. um autêntico monumento do I século que havia sido re­ modelado no IV século para a construção do teatro romano. exatamente o mesmo título encontrado em Lucas 3. governador da Judéia”.i (Mi 6-13).que irata-se da passagem de Jesus na casa de Simão. Mesmo sendo pequenos. quando o governo italiano patrocinava escavações no teatro romano de Cesaréia. Esse entendimento de tais mandatos oficiais indica que os autores viveram durante a vigência do seu uso e não um século ou dois depois. e da traição de Judas (Mt 26. De acordo com eles. a ressurreição e a ascensão de Cristo. de 200dC. intitulado Mateus. O papiro estava na Biblioteca do Magdalen College desde o inít io dos anos 50. anos depois de sua ressurreição). O P87. os novos estudos de Thiede mostraram que o papiro era de 5()< |( Observando-os melhor. O P87. portanto esi rito enquanto as testemunhas oculares de Jesus ainda eram vivas (pom o mar. Alemanha. O P32. O P45. é na verdade de 125dC. podendo questionar o seu conteúdo caso estivesse equivoi ado. . é de 150dC. apontado como do final do segundo século. que é diretor do Instituto de Pesquisa Epistemológica de Padeborn. menos de 30 anos depois da morte de |esus.APÊNDICE 4 sua primeira página. e havia recebido em 1953 uma datação errada.siguilu a que o original de Mateus era anterior a essa data. testemunha ocular (edição de setembrooutubro de 1996). Estes pas­ saram a receber novas datas. Como trata-se de uma cópia do Evangelho de Mateus. quando suas testemunhas oculares ainda estavam vivas.. tido como do final do segundo século ou início do terceiro. ele afirma que suas pesquisas apontam para a dataçáo dos fragmentos do Evangelho de Mateus como sendo antes dos anos 6()d<provavelmente 50dC. antes tido como de 200dC. sabe-se hoje que é de 125dC. antes datado de 200dC. antes do 3oséculo. Depois disso e com base em pesquisas s e m e l h a n t e s . não despertava atenção. mas deveriam ter sido est ritos no ano 50d( . Isto é. O P77. é de 125dC. é de 150dC. O título é homônimo de um livro de Thiede. o especialista constatou que eles possuíam uma escrita que não era de uma data tardia (início do segundo sei ulo. também publicou um artigo sobre a descoberta. Ele fornece a primeira prova material de que o Evangelho segundo Mateus é um relato de testemunha ocular. identificado antes como sendo do terceiro século. E como a cópia em n u o s eta muito antiga. O papiro chamado IM6. A revista Terra Santa. antes visto como do terceiro século. já é admitido como sendo de KSdC O papiro P66. como se presumia anteriormente). O P90. as testemunhas aindaestariam vivas quando esta começou a i iri ular. Poiem. é de 150dC. de dez. na edição de 24 de dezembro de 1994: “Um papiro que acredita-se seja o mais antigo fragmento existente do Novo Testamento foi encontrado na biblioteca de Oxford. Por isso. isso . situando o no fim do segundo século dC. A reportagem apoiava-se no trabalho de um respeitado estudioso alemão. Em seu livro. outros erros em datações de papiros do Novo Testamento foram encontrados. na verdade. de 175dC. de 57 anos. o paleógrafo e papirólogo Carsten Peter Thiede. escrito por contemporâneos de Cristo”. por exemplo. é. de Jerusalém. ele foi datado por paleografia como sendo de 50dC. o jesuíta 0 ’Callaghan estava tentando descobrir o livro do Antigo Testamento ou da literatura judaica ao qual o fragmento pertencia. No momento dessa descoberta. denunciando a razão pela qual tentam desacreditar a legitimidade dos Evangelhos . datou alguns desses fragmentos como sendo muito antigos do ano 50dC.52-53. usando o programa Ibycus. o jesuíta espanhol José 0 ’Callaghan. Nos anos 90. Níío havia dúvida quanto a identificação: era um fragmento de Marcos 6 daiado de 50dC. foi descoberta uma gruta em Qumran com características especiais: a caverna 7.‘talhe: alguns estudiosos mais céticos questionam a datação dos três Iragmenlos de Oxford feita porThiede. não se percebeu o seu valor. a gruta 7 continha fragmentos e jarros com escrita em grego.a descrença nos milagres neles relatados: “Pois não tinham compreendido o milagre dos pães. que traz em sua memória toda a literatura greco-romana conhecida em todos os textos já descobertos da Antiguidade. verificou se havia aquela seqüência de letras no Novo Testamento e. que o aconselhou a fazer testes no computador para que não houvessem dúvidas quanto à identificação. O detalhe é que o que está escrito no versículo 52 parece Deus falando aos céticos de hoje.52). o fragmento 7Q5. só por curiosidade. Entre eles. preferindo o critério anterior. o especialista C.ircos. H. antes o seu coração estava endurecido” (Mc 6. Porém.O outro documento importantíssimo também foi notícia em meados dos anos 90. Há 50 anos. feito precipiladaiiienie e desprezando algumas nuances importantíssimas do . Foi então que. E o documento 7Q5. mas não conseguia identificar nenhuma parte dessa literatura. Essa passagem não era nem citada em outra obra grega conhecida. A descoberta desse manuscrito como sendo do Novo Testamento foi feita por acaso. Por que esse nome? Porque ele foi o quinto fragmento encontrado na caverna 7 do sítio arqueológico de Qumran. Em 1955. Na época. onde foram descobertos os Manuscritos do Mar Morto. da Universidade de Barcelona. descobriu que a única identificação que o programa acusava era a passagem do Evangelho de M. para sua surpresa. por um estudioso católico romano. I)(. Impressionado com a descoberta. ele a contou ao especialista Ignace de la Potterie. sem saber que um desses fragmentos era um trecho do Evangelho de Marcos. Roberts. descobriu que o fragmento era exata e lite­ ralmente o texto de Marcos 6. Foi então que. Todas as grutas até então encontradas continham material escrito em hebraico e/ou aramaico. APÊNDICE 4 texto dos fragmentos. de ramos dc madeira recobertos com terra batida. Outro lugar descoberto foi a Sinagoga dc < 1i I .to estreitas cjue não agüentariam um telhado de alvenaria. em seguida. comprovando mais uma vez a autenticidade do relato bíblico. i i n.n da <i.i cpoi i dc |esus. oiulc se encontrava a cidade.44 e 12. Com essa descoberta. e é datado do III século aC.i. Tais descobertas foram relatadas por Ariv no livro A City . edição de setembro/outubro de 1993. que os telhados das casas da região eram. Ao lado do m. perto de Cafarnaum. lugar do milagre da cura de um paralítico poi |csus (Jo 5. ediçíio dc novembro/dezembro dc 1983.. com paredes de basalto preto. Mas a datação do documento 7Q5 é considerada inquestionável mesmo para os mais céticos.il poi l. Descobriu se. Em Cafarnaum também foi encontrada uma casa datada do primeiro século.ililci.i sin.21). Um desses lug.ium. Ali foram encontradas.5-13 e Lc 7. foi descoberta Betsaida.m \ loi o Ianque de s Betesda. desenvolveu boa parte de seu ministério. uma vez que a passagem bíblica afirma que foi cavado um buraco no teto rapidamente para descer um paralítico até onde Ele estava (Mc 2. Foi nes­ sa sinagoga que Jesus operou muitos milagres (Mi 8.1-1 5). O detalhe é que suas paredes sao (. em escavações do arqueólogo israelense Rami Arav.i do primeiro século. cidade natal de Pedro. A descoberta loi divulgada pela conceituada revista BiblicalArchaeology Review. ' .4).u onde m i .i|’op... foi escrito por volta do ano 40dC. Em 1989. está provado que o Evangelho de Marcos. o que os deixou absolutamente desarmados. do profetaNaum (Cafar significa aldeia) e lii|’. Tais telhados encaixam-se pei Iciiamente com a descrição bíblica do telhado de uma casa em Cafarnaum na época de Jesus. BETESDA. o que comprova o relato bíblu o de que o Ianque já era um tradicional e lendário local de ritual de i ura n.1 1 ■ I i )>1 i idade natal ..ithers Wliite. do qual o documento 7Q5 é apenas uma cópia. foi encontrada em 1983 um. A descoberta foi publicada também na BAR. o que está de acordo com a narrativa bíblica. na época. Ele foi encontrado em 1903 na Jerusalém ( )rieni. CAFARNAUM i: BETSAIDA Com o passar dos séculos. com muitas âncoras e anzóis. muitos lugaics c cidades ciladas na Bíblia durante o ministério de Jesus foram descobertos. Felipe e André (Jo 1.1-10). apenas dez anos depois da ressurreição de Jesus. evidências de uma indús­ tria pesqueira. Mais uma vez. as pedras clamam. foram encontradas a cidade de Caná da Galiléia (dezembro de 2004) e o Tanque de Siloé (janeiro de 2005). .A SEDUÇÃO D NOVAS TEOLOGIAS AS by the North Shore o fth e Sea o f Galilee. apontando para a autenticidade his­ tórica de Cristo. mencionados no Evangelho de João (Jo 2 e 9). Mais recentemente. publicado em inglês pela Thomas Jefferson University Press em 1995. COMO SURGIU O MANUSCRITO O manuscrito escrito em copta e traduzido por uma equipe de pes­ quisadores de vários países.7 mil anos de um livro apócrifo. passou por várias mãos. como uma suposta prova dc que |udas não teria traído Jesus. Na verdade. atual proprietária da obra em sociedade com a National Geographic. A tradução e apublicação desse falso evangelho foram alardeados quase que idolatricamente pelos céticos.8 mil anos Um papiro de 1. até chegar aos cofres da fundação Maecenas fo r AncientArt (Mecenas para Arte Antiga). foi encontrado em 1978 em uma caverna no deserto do Egito. de Basiléia. o que está por trás disso é a tentativa vã de desacreditai as Sagradas 1'.scriuiras. apesar dc não ter o respaldo nem da Bíblia nem da maioria esmagadora dos especialistas. mas agido em acordo com lílc. denominado Kvangclbo de Judas.Evangelho de judas: fraude agnóstica de 1. . já que o badalado manuscrito não tem a importância que se alardeia. Suíça. apoiada pela N ational (ieograph ic Society. Desde então. ganhou destaque e a simpatia da mídia em 2006. depoimentos de vários especialistas simpáticos ao conteúdo da obra. mas o que está escrito nele. Uma delas era que o conteúdo do manuscrito tem “o aval intelectual de renomados especialistas em religião”. Porém.7 mil anos. até ser totalmente traduzido para o inglês.O texto foi mantido sob sigilo. Só para citar um exemplo. padres católicos romanos. Antes da descoberta do pergaminho em 1978. o francês e o alemão sob a coordenação de Rudolph Kasser. em vez de alguns jornalistas citarem isso. foi anunciado com alarde em Washington em 6 de abril de 2006 pelo National Geographic como sendo uma nova versão da morte de Jesus. QUEM ESCREVEU ESSE FALSO EVANGELHO? O “Evangelho de Judas” foi escrito por volta de 180dC por uma seita denominada gnosticismo. não é dita: a maioria esmagadora dos especialistas reconhece que o conteúdo do “Evan­ gelho de Judas” é uma completa fraude. entrevistam apenas especialistas preconceituosos em relação à Bíblia e. uma outra informação. é verdadeiro. querendo dizer que o dito evangelho deveria ser levado a sério porque grandes nomes o apoiam. aqui no Brasil. A peça. de tão deslavada. é uma fraude elaborada no segundo século e que. para representar o lado contrário. mas o seu conteúdo não. Além disso. ainda mais importante. cética em relação à Bíblia. Porém. em vez de apresentar os fatos como são. a quem interessa. encontravamse afirmações para tentar sustentar uma possível veracidade do conteúdo do manuscrito. O manuscrito denominado Evangelho de Judas é genuíno. na matéria da edição de 7 de abril de 2006 do jornal O Globo sobre o dito evangelho. o que não foi dito é que a maioria desses grandes nomes é gente ligada à National Geographic Society. No texto. porque o bispo Irineu de Lyon . o papiro. foi rejeitada rápida e enfaticamente pelos primeiros cristãos. o que faz o telespectador ou o leitor entender que o mundo científico aprova unanimemente as informações do Evangelho de Judas e só quem contesta mesmo são a Igreja Católica Romana e cristãos evangélicos. remonta mes­ mo há 1. uma alarde em torno do livro. A maior parte da mídia. e muito. traduzido e distribuído em 26 páginas.in já sabiam de sua existência. como veremos a seguir. carregou a tinta em discursos absolutamente frágeis com o objetivo de criar polêmica. os especialisi. Seu conteúdo. considerado o maior especialista em língua copta do mundo. Escrevendo sobre os gnósticos. mas em grego. quando “o espírito fica livre para circular pelas diversas esferas. que por sua vez foi discípulo direto do apóstolo JoSo. Os gnósticos adotavam conhecimentos místicos com forte influência da Doutrina Pitagórica. Os apóstolos Paulo e João lutaram contra e sse movimento. O peso dessa declaração de Irineu é muito forte. do ( ulto dc Mitras (mitraísmo) e até mesmo de ensinamentos oriundos do Antigo Egito e da Mesopotâmia (Zoroastrismo e Mazdcísmo). segundo a tradição dos homens. um dos doze apóstolos de Cristo. era gnosis. o conhecimento.11 1. o laz para rejeitá-lo. os gnósticos criam que Jesus não era Deus feito. nem no Antigo nem 110 Novo Tesiamen to. assim como pelos sonhos”.8. Os gnósticos eram uma corrente filosófica forte nos primeiros sét ulos da Era Cristã. Eles criam que o mundo material e o corpo humano foram criados por espíritos inferiores ou até mesmo diabólicos.is sutilezas. O “Evangelho dc Judas”. uma vez que ele aprendeu aos pés de Policarpo. segundo afir­ mavam. devido ao desconhecimento geral sobre o assunto. pois Irineu. Nesse ponto. até onde se sabe. por meio de filosofias e v.APÊNDICE 5 (130-202dC). o livro teria mais de 1. mas um espírito possuindo um corpo. afirma ele. cita-o em sua obra Contra as Heresias.1 salvação pelo 11 1 conhecimento. portanto. Paulo afirma: “Tende 1 uidado para que ninguém vos faça presa sua. que denominavam de gnosis. a qual chamam de ‘Evangelho de Judas”’. Ou seja. podia ser adquirido por meio de transes. . o único que cita a existência do chamado Evangelho de Judas. Depois. Os gnósticos criam que o conhecimento. Essa seita caracterizava-se por misturar os ensinos cristãos com filosofias pagãs e tradições judaicas. por isso só a busca por uma sabedoria esotérica ajudaria alguns a libertar-se da “escravidão do corpo”. é importante frisar que em algumas matérias apressadas e mal feitas (principalmente pela internet) foi colocado que o Evangelho de Judas era aceito pela Igreja Primitiva porque Irineu o cita. 1'Jes cri. escrita em 180dC. Cl 2. nst Suas crenças não têm base bíblica. eu “para que ninguém vos engane com palavras persuasivas”. O motivo de sua preocupação. Por isso. tiveram que revisar seus textos. do Platonismo. isto é. segundo os rudimentos do mundo e não segundo Cristo”. mas que não tinha o apoio nem do judaísmo nem tio < ianismo.8 mil anos. não foi escrito originalmente em copta (que é a língua da cópia encontrada). carne. Irineu. não lia copta. Os gnósticos são assim chamados porque seu objetivo. Diz Irineu sobre os gnósticos: “Eles produzem uma dessas histórias fictícias. um dos Pais da Igreja. A SEDUÇÃO D S NOVAS TEOLOGIAS A DESPREZADO DESDE SEU NASCEDOURO Para sustentar seus ensinos e ganhar apoio entre cristãos, os gnósticos escre­ veram algumas fraudes, como o Evangelho de Maria, sobre Maria Madalena; e o Evangelho de Pedro, todos rejeitados pela Igreja Primitiva. Eles tentavam vender esses livros como escritos do primeiro século, quando, na verdade, eram obras produzidas no segundo, terceiro e quarto séculos. Na época, quase ninguém caiu nessa história. Porém, alguns céticos acham que sabem mais sobre um fato de quase dois mil anos atrás do que alguém que viveu nessa época e vivenciou o fato. E, como se não bastasse isso, o “Evangelho de Judas” é tão escancaradamente uma farsa que nem chegou a ter uma pequena aceitação entre os cristãos. Além de só ter sido citado por Irineu, e como exemplo de absurdo, ele nem foi citado no Decreto Gelasiano, que é uma espécie de medidor histórico da popularidade de algum livro apócrifo entre os cristãos. O bispo Gelásio, falecido em 496dC, publicou um texto pelo qual condenava ao menos 60 textos considerados apócrifos pelos cristãos da época. Esse texto passou a ser conhecido como Decreto Gelasiano. O detalhe é que, na lista de Gelásio, não aparece o Evangelho de Judas, o que se constitui um sinal de que a tal obra era tão rejeitada que chegou ao ponto de ser totalmente ignorada. Era tão falso que não conseguiu se tornar popular. Vejamos algumas evidências gritantes de fraude gnóstica no texto do “Evan­ gelho de Judas”. EVIDENCIAS CLARAS O “Evangelho de Judas” foi escrito, mais especificamente, por membros da seita gnóstica cainita, um movimento religioso pseudocristão que misturava misticismo e filosofia (como bons gnósticos que eram) e influenciou muitos grupos heréticos. Na visão dos cainitas (que defendiam os vilões da Bíblia, como Caim - daí a designação “cainitas”), Judas Iscariotes teria seguido um desígnio divino e não podia fugir de seu destino. A traição faria parte do plano de Deus, era necessária e sem ela não haveria salvação para os homens. No livro, encontram-se passagens como as que se seguem, consideradas as mais polêmicas: “Sabendo que Judas estava refletindo sobre algo elevado, Jesus lhe disse: Afasta-te dos outros, e eu te contarei os mistérios APÊNDICE 5 do Reino. E possível para ti alcançá-lo, mas sofrerás muito, pois outra pessoa vai tomar teu lugar para que os doze [apóstolos] possam outra vez chegar à completude com seu deus”. “Jesus respondeu, dizendo: ‘Tu te tornarás o décimo-terceiro e serás amaldiçoado pelas outras gerações, e virás a governá-las. Nos úl­ timos dias, eles hão de amaldiçoar tua ascensão geraç ão sagrada”. “Mas a todos excederás, porque tu sacrificará,s o homem que me veste”. Nas três passagens consideradas mais polêmicas (outras poderiam ser citadas, mas estas já são suficientes) , fica claro que o “Kvangelho de Judas”, na verdade, é uma fraude escrita pelos gnósticos. Nos três textos, princípios do gnosticismo são apresentados, princípios estes que nunca tiveram apoio em nenhum dos textos bíblicos. Por exemplo, na primeira passagem, Jesus fala de os discípulos che­ garem “à completude com seu deus”, uma referência esotérii a ao “deus interior” ou “eu superior” que habitaria cada um de nós. Para os gnósticos, o espírito era divino, um mini-deus, enquanto o corpo era maldito. Tal ensino nunca existiu na Bíblia. Na segunda passagem, o número 13 é visto como maldito e édito que Ju­ das governará. Judas, como se sabe, se perdeu, suicidando-se. () denominado Evangelho de Judas diz que ele não se suicidou, mas fugiu. Porém, além do testemunho contrário de Irineu, temos os quatro Evangelhos e o depoimento de Lucas, companheiro de viagem do apóstolo Paulo, que escreve em Atos dos Apóstolos que o suicídio de Judas era sabido por todos em Jerusalém, por isso que o campo, comprado com suas 30 moedas cie prata pelas quais vendeu Jesus aos seus algozes, era chamado ( ’,ampo de Sangue pelos judeus (At 1.16-20). Todos sabiam da história. Diz I ueas no primeiro século: “E foi notório a todos que habitam Jerusalém...”, At 1.19. Os mesmos Evangelhos e Atos dizem que Judas traiu Jesus. Não houve nenhum acordo. Na terceira passagem, o suposto Jesus diz agora: “...tu sacrificarás o homem que me veste” ou “o homem que encarno”. Isso é ensino puramente gnóstico. Jesus era Deus feito homem, não um espírito que possuiu um corpo. DAS NOVAS TEOLOGIAS CÂNONE DOS EVANGELHOS Diferentemente dos evangelhos apócrifos, confeccionados pelos gnósticos no segundo, terceiro e quarto séculos, os quatro Evangelhos - Mateus, Marcos, Lucas e João —foram aceitos pela Igreja Primitiva como fidedignos. Irineu, de quem já falamos (que aprendeu de Policarpo, que por sua vez aprendeu aos pés de um dos quatro evangelistas — João), cita os quatro como os únicos verdadeiros. Eles os chama, em sua obra Contra as Heresias, de Evangelho Tetramorphon, ou seja, o Evangelho tetramórfico ou quádruplo. Orígenes (185-254dC), o mais destacado exegeta bíblico da Igreja Pri­ mitiva grega, afirmou que Mateus, Marcos, João e Lucas eram os únicos Evangelhos verdadeiros e escritos “pela inspiração do Espírito Santo”. Ele ainda acrescenta que estes eram os únicos Evangelhos que, em sua época (o terceiro século), eram aceitos por todos. Irineu afirmara o mesmo no segundo século. A SEDUÇÃO Quatro razões porque O Código Da Vinci é um grande logro Em 2006, estreou nos cinemas de todo o mundo o filme O Código Da Vinci, estrelado por Tom I Ianks e (|iie levou às tel.is .1 história do livro homônimo, lançado em 2003 pelo íiecionisl.i 1).m Brown. A seguir, quatro razões por que tanto o livro quanto a sua versão 1 inem.itogi.ílica sao um grande logro para lucrar com a ingenuidade das pessoas. 1) O sucesso do livro se deve não à sua qualidade, mas .111111 lorte trabalho de marketing para lucrar com a ignorânc ia e a inge nuidade das pessoas Dan Brown, autor desse livro de ficção que se pretende sério, já é con­ siderado por muitos especialistas um dos mais bem sucedidos farsantes literários da História. Isso porque os milhões dc exemplares vendidos de O Código Da Vinci não se devem à sua qualidade, mas às falsas informações que tenta vender como verdades no livro. O Código Da Vinci é uma obra de ficção, mas o problema é que o autor apresenta nela muitas afirmações mentirosas sobre História, Religião e Arte, e ainda afirma que elas são verdadeiras. No começo do livro, ele declara que a história é ficcional, mas as informações nela contidas não. Brown diz que é fruto de pesquisas que fez em bibliotecas. Essa afirmação levou o autor a ser bombardeado por críticas. Na época, alguns chegaram a dizer que os especialistas estavam levando a sério demais uma mera e fraca obra ficcional. Por isso, o assunto já estava prestes a morrer, quando a editora do livro viu a possibilidade de lucrar com a polêmica. Quando os editores viram os depoimentos de líderes católicos romanos e evangélicos criticando a pretensão de Brown em tornar verdadeiras informa­ ções falsas, começaram a fazer o seguinte marketing sobre o livro: “Por que eles estão tão preocupados com as informações dessa obra? Não seria porque elas são verdadeiras?” Tal atitude despertou a ira dos especialistas e cristãos, e recomeçou o bombardeio ao livro. Como resultado, as vendas de O Código Da Vinci começaram a subir, porque, em meio à polêmica, com a exposição do assunto na mídia, a curiosidade das pessoas foi despertada. Como conseqüência, em artigos e livros, os especialistas revelaram aos montes os erros crassos contidos no livro, o que demonstrava que (1) ou a declaração de Brown no início do livro era pura maldade para lucrar com a ingenuidade de muitos (2) ou era um equívoco do próprio Brown que, impressionado com conjecturas em livros que leu ao pesquisar assuntos para seu próximo romance, acabou tomando-as ignorantemente como verdades. Os especialistas e cristãos pediram uma retratação do próprio Brown sobre o assunto. Porém, para surpresa de todos, em entrevistas, ele resolveu mostrar que era mesmo mal intencionado. Em novembro de 2003, no pro­ grama Good M orning America da Rede de Televisão ABC, surpreendendo a todos, Brown sustentou pela primeira vez que as “revelações” do livro eram “todas verdadeiras”. Isso irritou os especialistas, porque com essa de­ claração ele estava admitindo perante eles que era um farsante e, por outro lado, impressionou os ingênuos, que passaram a embarcar no que dizia o marketing em torno do livro. A maldade de Dan Brown ficou ainda mais evidente quando foi processado por plagiar as idéias do livro The Holy Blood and The Holy Grail para criar O Código Da Vinci. A obra plagiada, que não se propunha séria, mas admitidamente ficcional em todos os sentidos, passou despercebida anos atrás, quando do seu lançamento nos anos 80. Porém, Brown conseguiu notoriedade com as idéias do livro, porque ele e seus editores resolveram apresentá-las como se fossem verdades e apostar na ingenuidade das pessoas. () aufor acabou não sendo condenado por plágio. Não que Brown não u nhi copiado as idéias — justiça reconheceu a inspiração mas é que isso a ii.io i i.i suficiente para caracterizar um plágio, já que ele apenas aproveitouas como base para criar uma história totalmente diferente. tão ruim que é embaraçoso. os números de Fibonacci e a Era de Aquário. em artigo reproduzido no site www. Ele diz que Jesus era casado com Maria Madalena e tinha filhos. 2) O Código Da Vinci desonra a Jesus e à Bíblia.ío. onde teria efetuado suas pesquisas.APÊNDICE 6 Seja como for. Maria Madalena. sem dúvida. Uma ofensa a Jesus e aos Evangelhos. Não é à toa que o livro faz tanto sucesso entre pseudointelectuais. Temo que Dan Brown seja o seu digno sucessor.com. “De fato. e por aí vai. uma palavra co­ mum. o objetivo de Brown é claro . Afirma ainda tresloucadamente que os evangelistas (Mateus. Ludlum teceu uma tram a de roteiros extravagantes. Longe disso: 3 . uma declaração considerada racista. O Evangelho de Maria Madalena é uma velha conhecida fraude gnóstica (seita dos primeiros séculos da Era Cristã). antisemita. edição de 21 de junho de 2003). em artigo no The Times. Marcos. ) Os críticos são praticamente unânimes em afirmar que não é uma obra de qualidade Há um consenso entre os críticos: O Código Da Vinci é um livro ruim. museus e outras instituições.presbiteros.lucrar com a ignorância das pessoas.br). os Rosa ( >uz. protagonizados por personagens estereotipados que têm diálogos ridículos. Lucas e João) esconderam a história do casamento de Jesus e a importância de Maria Madalena. de Londres. Como se não bastassem as falsas informações e a má intenção. Com a palavra. no corpo do livro. tentando unir o Graal. jornalista e professor de Ética da ( '. mas Brown admite o texto como verdadeiro. o mais imbecil. mal informado. inexato. Já seria ruim o suficiente que Brown tivesse entrado num frenesi à e New Age. e enlatado exemplo de pulp fiction que já li. o Priorado de Sion. e um epíteto exótico posposto. afirmar mediocridades e erros liisiói icos que fariam qualquer membro dessas instituições corar de vergonha" (( iarlos Al­ berto Di Franco. “O título O Código Da Vinci deveria ser uma advertência.mas o mesmo não ocorre com relação a insultos a Jesus Cristo e àqueles que seguem os seus ensinamentos. o livro e o filme desonram a Cristo e à Bíblia. evocando a fórmula infame de Robert Ludlum: um artigo definido. contrária às mulheres ou aos homossexuais desqualificará o seu autor por muitos anos . os Templários. “Na nossa sociedade ‘correta. Mas o pior é que ele o faz com muito pouca habilidade” (Peter Millar.oinuniiaç. Dc A Herança Scarlatíi. estereotipado. Este livro é. os críticos. através de O Círculo Matarese e até O Engano Prometheus. logo no início o autor enumera uma respeitável série de bi­ bliotecas. para depois. como acabou de acontecer com um tal Dan Brown. “Se você alguma vez considerou a possibilidade de que o Santo Graal procurado pelos cavaleiros do Rei Artur é na verdade o cálice que contém os ossos de Maria Madalena.i . I > 11 Brown j. Alguém deveria dar a esse homem e aos seus editores uma história básica do Cristia­ nismo e um mapa. “Um insulto à inteligência” {The New York Times em 2003). em artigo publicado no Chicago Sun Times em 27 de setembro de 2003). e isso poderá torná-lo rico e famoso. mesmo sendo inverossímil. Di Franco. e não um autor de literatura de consumo procurando um tema polêmico para faturar uma grana’. que o criticam por enganar e . mesmo sendo caluniosa. “Oportunista e pueril” (Jornal El M undo em 2003). autor de O Código Da Vinci. “Uma mixórdia de narrativas imaginosas” {Weekly Standart em 2003). Em outras palavras: uma conspiração vende fácil. invertida. uma especulação sobre a descendência de Cristo. e não 11111 historiador de Harvard”’.A SEDUÇÃO D NOVAS TEOLOGIAS AS Aumente as desgastadas histórias de conspiração católica romana até chegar à extensão de um livro. Acredito que a frase. já citado. E bastante atrevido por parte do autor e de seus editores querer empurrar-nos essa barafunda de estupidez como se fosse fatos reais simplesmente por terem borrifado nomes e detalhes históricos aqui e ali” (Cynthia Grenier. em 22 de setembro de 2003. do Philadelphia Inquirer .i é chacota entre os eruditos. desinforma. i ) O ( tldigo Da Vinci não instrui. “Ele extrai muitos dados de dois trabalhos anteriores de pesquisa ama­ dora: The Templar Revelation: Secret Guardians o f the True Identity ofC hrist e The Holy Blood an d The Holy Grail. Ambos foram desqualificados pela maioria dos especialistas no assunto. Estas excêntricas suposições se misturam com a realidade e com pesquisas mal feitas” (Thomas Roeser. conclui: “Na página 181. então O Código Da Vinci é o seu livro. o autor comenta: ‘Todo mundo adora uma conspiração’. em 28 de agosto de 2003 no Pittsburgh Post-Gazette). no Weekly Standard). Em outra passa­ gem do livro. Os seus erros crassos só podem deixar de indignar um leitor muito ingênuo” (Célia McGee em artigo publicado na edição de 4 de setembro de 2003 do New York Daily News). “O Código Da Vinci é inexato mesmo quanto aos detalhes” (Frank Wilson. o editor do ‘herói’ o adverte: ‘Você é historiador de Harvard [o herói do livro]. se aplica exatamente ao livro e a seu autor: ‘Você é um autor de literatura de consumo procurando um tema polêmico para faturar uma grana. aprenda História e Arte com Dan Brown”. c destes apenas cinco são evangelhos. quando o Opus Dei não tem monges. que os Manuscritos do Mar Morto foram encontrados nos anos 50. levado ao ar pela Time Watch BBC em 1996. É comum ouvir e ler comentários de especialistas dizendo: “Se você quiser passar vergonha. afirma: “A trama do filme é boa. Segundo Plantard. Um não tem nada a ver com o outro. edição de maio. Victor Hugo. co-autora de A Fraude do Código Da Vinci. Ele confundiu a Ordem ou Abadia de Sião. seu objetivo era fazer crer que ele era descendente merovíngeo e de Jesus ( Cristo para que pudesse “assumir o trono da França”. Desmasc arado. Sandro Botticelli. por exemplo. Jean Cocteau e Leonardo Da Vinci como grão-mestres do Priorado. O que o livro não diz. criado em 1956. mais de 80. Plantard criou os falsos dossiês e os colocou na Biblioteca Nacional de Paris nos anos 70. Outro detalhe: além de mentir dizendo que vários evangelhos apócrifos foram estudados para compor o Novo Testamento. quase nada é história”. Pierre Plantard. Vejamos alguns erros grosseiros de Brown.The History o fa Mistery ■. Ele disse. iden­ tificando Isaac Newton. conhecido na Europa como um famoso mascate fraudulento e anti-semita. Sandra Miesel. Mas não se iluda: ali. quando foram descobertos em 1947. () detalhe é que todos os livros gnósticos e filosóficos descobertos até hoje são 52. e que qualquer pessoa que leu sobre a história ou acompanhou o caso na televisão já sabe há muito tempo. ao comentar o filme. Em 1992. Eles foram criados pelo líder do tal Priorado. As cate­ drais góticas também não têm qualquer simbolismo feminino. ao todo. Não é à toa que a revista Galileu. criada na Idade Média e extinta em 1619 por Luís XIII. ele confessou a farsa à justiça francesa e reve­ lou ainda que criou todas as peças do tal Priorado. ele declara que estes foram. Brown fala em seu livro de um “monge” do O/ws Dei. com o Priorado de Sião. que mostram o quão fraco de conhecimentos históricos ele e. Claude Debussy. Diz que os Jogos Olímpicos da Antiguidade eram celebrados em honra a Afrodite. Brown cometeu ainda outros erros primários grosseiros. o caso virou documentário . O escritor ainda afirmou serem verdadeiros os pergaminhos conhecidos como Os Dossiês Secretos .APÊNDICE 6 desinformar seus leitores. quando na verdade eram a Zeus. Robert Boyle. ironiza Brown: “Que parte da anatomia feminina representam o cruzeiro ou as gárgulas da nave lateral de Chartres?” . como afirma o desvairado escritor. é que tais pergaminhos são uma fraude. e fundadora do autêntico cristianismo”. 40 mil mulheres. ele afirma que as Cruzadas objetivavam destruir documentos secretos escondidos no Oriente. casada com Jesus. na Idade Média. em 325dC. Onde Brown achou cinco milhões? Brown afirma em sua obra que o quadro A M adona das Rochas ou A Virgem dos R ochedos tem l. que encomendaram a obra. da Vinci não era o sobrenome de Leonardo. vendo o invisível. Segundo os historiadores. forçando uma interpretação que faz rir de tão tola. era “um rei da França”. O desinformado autor declara que Godofredo de Buillon. Em sua alucinação. representado na pintura. o que não é verdade. posição defendida por Ario. e de que o discípulo João. a Igreja Católica Romana matou “na fogueira a quantidade impressionante de 5 milhões de mulheres” por bruxaria. mas uma referência à cidade do artista. 2 votos a favor da divindade parcial de Cristo. sendo 25% homens. teve resultado apertado. interpreta as ima­ gens erradamente. como Brown coloca. ciência era sinônimo de heresia”. 22 mil ou. na pior das hipóteses. segundo a maioria esmagadora dos especialistas. foram mortos pelos romanistas entre 30 a 50 mil pessoas acusadas de bruxaria. sobre a divindade de Jesus. idéia que nem o mais criativo e imaginativo cruzado da época poderia inventar. Como se não bastasse. O problema é que o quadro mede l.Brown diz em seu livro que a votação no Concilio de Nicéia. só padres. Brown diz que. Brown diz ainda que “no Renascimento. Mas o que é isso diante das afirmações dele de que a A Ultima Ceia é um “afres­ co”. quando é uma pintura de óleo e têmpera sobre gesso. e 16 abstenções. Viajando ainda mais em seu delírio. é na verdade M aria M adalena vestida de homem? Completando seu arroubo sandeu. a figura de Lisa Gherardim. “comprovando que o Santo Graal é na verdade M aria M adalena. Ele ainda confunde João Batista com Jesus no quadro e. quando ela é. o que constitui um erro histórico grosseiro. chamada de Mona Lisa por ser Mona a contração de Madona (mia donnd).9 9 m e a tal confraria não tinha freiras. na Idade Média. Diz ainda que a Mona Lisa é andrógina e seu nome deriva dos deuses egípcios Amon e Isis. um dos líderes da Primeira Cruzada. Do concilio de que planeta Brown está falando? Todos que já leram sobre História da Igreja sabem que o resultado do Concilio foi 300 votos a favor da divindade de Cristo. Ou seja. ele diz que a .5 m de altura e foi feito por Leonardo da Vinci a pedido das freiras da Confraria da Imaculada Conceição. “Não é. enviado por correio”. Ele não tinha sequer milhares de se­ guidores e muito menos letrados. “Não temos qualquer idéia da linhagem de M aria Madalena. e de muitas estações de rádio e de televisão nos EUA. Por outro lado. “Os documentos de Nag Hammadi não com am a história do Graal. nem destacam as características humanas de Jesus. E ainda que estivesse ligada . máquina de propaganda de Roma”. Alguns achavam que era tão divino que nem sequer era hum ano!” “Constantino não encomendou uma ‘nova Bíblia’ que omitisse as referências às características humanas de Jesus. sangra. Eram judeus e não continham nada de cristão”. Para começar.QUATRO RAZÕES PORQUE O CÓDIGO D VINCI É U GRANDE LOGRO A M APENDICE 6 língua inglesa é a única língua pura. não encomendou absolutamente nenhuma Bíblia. Mesmo o teólogo liberal Bart D. “O ‘decoro social da época’ não proibia de modo algum ‘um judeu adulto de não ser casado’. teceu os seguintes comentários sobre alguns dos muitos erros do livro: “E falso que a vida de Jesus tenha sido ‘registada por milhares de seguidores em todo o mundo’. os livros que foram incluídos estão repletos de referências .Y suas características s humanas. morre etc . Isso faz parecer que houve um concurso. Nenhum historiador já afirmou isso.“a língua do Vaticano” — e por isso está “lingüisticam ente afastada da . irrita-se. Bem pelo contrário”. Ele tem fome. escritor e participante freqüente dos programas do H istory Channel. pois não tem raízes latinas . de modo algum. e declara que o casamento de Jesus com M aria M adalena é “um tema mais que explorado pelos historia­ dores modernos”. Eherman. Não há nada que a ligue à ‘Casa de Benjamin’. “Os Manuscritos do M ar Morto não estavam entre ‘os primeiros registros cristãos’. Não é verdade que 80 evangelhos ‘foram apreciados para o Novo Testamento’. verdade que Jesus não fosse considerado divino até ao Concilio de Nicéia e que antes disso fosse apenas con­ siderado um ‘profeta mortal’. presidente do Depar­ tamento de Estudos Religiosos da Universidade da Carolina do Norte em Chapei H ill. a maior parte da comunidade que está por detrás dos Manuscritos do M ar Morto era de homens celibatários”. aborrece se. cansa-se. A maior parte dos cristãos no princípio do 4° século dC reconhecia-o como divino. Na verdade. da CNN. Não há nada de secreto quanto a isso”. que seria sobretudo uma série de pensamentos de Jesus.DAS NOVAS TEOLOGIAS a ela. Dá para levar a sério uma obra dessas? A SEDUÇÃO . isso não a tornava descendente de Davi. nem é um livro alegadamente escrito pelo próprio Jesus. Os eruditos católicos ro­ manos pensam dele o mesmo que os não católicos. Trata-se de um documento hipotético que os estudio­ sos supuseram ter estado ao alcance de Mateus e de Lucas. M aria M adalena estava grávida na crucificação? Essa é boa!” “O documento Q não é um documento que se salvou e que está escondido pelo Vaticano. e que tem seduzido principalmente cristãos frustrados com o cristianismo organizado. as investidas do fundamentalismo liberal. E do lado de dentro. para outros gostos. Talvez você já tenha até sido abordado ou entrado em contato com algum desses ensinos. Teísmo Aberto (ou Teologia Relacionai). você vai perceber como os princípios da pós-modernidade estão invadindo as igrejas e afetando negativamente a Teologia. Ortodoxia Generosa e. Neste livro. mas muito mais sutil que as anteriores. que impõe a ditadura do politicamente correto e tenta amordaçar a liberdade de expressão religiosa.A Igreja no Ocidente tem sofrido intensos ataques internos e externos. E crescente a popularização. e defende uma teologia de "metamorfose ambulante". surge uma nova onda de liberalism o teológico. Teologia Quântica. e também despertar a Igreja para a necessidade de uma fé engajada e sob o poder do Espírito para vencer os desafios do nosso tempo. . de neologismos como Teologia Narrativa. honesta e generosa". além dos modismos neopentecostais. Esse liberalismo vem travestido sob o manto de uma espiritualidade supostamente "mais sensível. do chamado evangelho da auto-ajuda. urge trazer à tona o perigo desses pressupostos para a saúde teológica e espiritual. com reformulações teológicas constantes. Por isso. Do lado de fora. propõe que uma espiritualidade sadia só se desenvolverá melhor à margem de tudo que diz respeito ao cristianismo organizado. transformando as igrejas em meras entidades de ação social mortas espiritualmente. para além das salas de aula dos seminários. mas nem sabia do que se tratavam.
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