A Questão Social nas Décadas de 1920 e 1930

April 2, 2018 | Author: Alexandre Carlo Do Nascimento | Category: Social Work, Sociology, Syndicalism, State (Polity), Capitalism


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IAMAMOTO, Marilda Vilela e CARVALHO, Raul de. Relações Sociais e Serviço Social no Brasil: esboço de uma interpretação históricometodológica. 2a. Ed.São Paulo: Cortez, 1983.PARTE II – ASPECTOS DA HISTÓRIA DO SERVIÇO SOCIAL NO BRASIL (1930 – 1960) Capítulo I – A Questão Social nas Décadas de 1920 e 1930 e as bases para a implantação do Serviço Social 1. A Questão Social na Primeira República A “questão social” relaciona-se à generalização do trabalho livre, numa sociedade com marcas da escravidão. Destaca-se o longo processo de transição, através do qual se forma um mercado de trabalho em moldes capitalistas, em especial ao momento em que a constituição desse mercado está em amadurecimento nos principais centros urbanos. Momento em que o capital já “se liberou” do custo de reprodução da força de trabalho, limitando-se a procurar, no mercado, a força de trabalho tornada mercadoria. A manutenção e a reprodução dessa força de trabalho está a cargo do operário e de sua família, através do salário, advindo da venda da força de trabalho à classe capitalista e não a um único senhor. A partir do momento em que a sociedade burguesa vê como ameaça a luta defensiva do operário à exploração abusiva a que é submetido, há necessidade que o controle social da exploração da força de trabalho seja feito pelo Estado, através de uma regulamentação jurídica do mercado de trabalho. As Leis Sociais aparecem, então, para responder aos movimentos sociais que lutam por uma cidadania social. Esses movimentos refletem e são elementos dinâmicos das profundas transformações da sociedade, quando da consolidação de um pólo industrial, pois colocam os problemas e exigem modificação na composição de forças dentro do Estado e no relacionamento deste com as classes sociais. Portanto, o desdobramento da questão social é também a questão da formação da classe operária e de sua entrada no cenário político, de seu reconhecimento em nível de Estado, da implementação de políticas que atendem seus interesses. Sendo assim, a “questão social” constitui-se, essencialmente, da contradição entre burguesia e proletariado. Proletariado este em que os laços de solidariedade política e ideológica perpassam seu conjunto. A implantação do Serviço Social ocorre no decorrer desse processo histórico, surgindo da iniciativa particular de grupos e frações de classe, que se manifestam por intermédio da Igreja Católica. Enquanto que as leis sociais são resultantes da pressão do operariado pelo reconhecimento de sua cidadania social, a legitimação do Serviço Social diz respeito a grupos e frações restritos das classes dominantes e a sua especificidade na ausência quase total de uma demanda a partir das classes e grupos a que se destina prioritariamente. A análise do posicionamento e das ações assumidas e desenvolvidas pelos diferentes grupos e frações dominantes e pelas instituições que mediatizam seus interesses na sociedade, permite apreender o sentido histórico do Serviço Social. A crise do comércio internacional de 1929 e o movimento de 1930 aparecem como movimentos centrais de um processo que leva a uma reorganização das esferas estatal e econômica, apressando o deslocamento do centro motor da acumulação capitalista das atividades de agro-exportação para outra de realização interna. O histórico das condições de existência e de trabalho do proletariado industrial mostra a extrema voracidade do capital por trabalho excedente: * A população operária amontoava-se em bairros insalubres junto às aglomerações industriais, com falta absoluta de água, luz e esgoto; * as empresas funcionavam em prédios sem condições mínimas de higiene e segurança; * salários insuficientes para a subsistência; * o preço da força de trabalho, constantemente pressionada para baixo devido ao exército industrial de reserva; * a pressão salarial força a entrada no mercado de trabalho de mulheres e crianças; * a jornada de trabalho, é, no início do século de quatorze horas; * não se tem direito a férias, descanso semanal remunerado, licença para tratamento de saúde etc; * dentro da fábrica está sujeito à autoridade absoluta de patrões e mestres; * não possui garantia empregatícia ou contrato coletivo; * com as crises do setor industrial há dispensas maciças e rebaixamentos salariais. Frente a estas condições de trabalho e de existência, o operariado se organiza para se defender. Uma organização diferenciada em seus diversos estágios de desenvolvimento, desde o caráter assistencial e cooperativo ao de resistência operária organizada. A luta reivindicatória está centrada na defesa do poder aquisitivo dos salários, na duração da jornada de trabalho etc. As duas primeiras décadas são marcadas pelas greves e manifestações operárias. No período de 1917 a 1920 a densidade e a combatividade das manifestações de inconformismo marcam, para a sociedade burguesa, a presença ameaçadora de um proletariado à beira do pauperismo. O “liberalismo excludente” do Estado e a elite republicana da Primeira República, dominados pelos setores burgueses ligados a agroexportação, são incapazes de tomar medidas de peso em prol do proletariado. Somente em 1919 que é implantada a primeira medida ampla de legislação social, responsabilizando as empresas pelos acidentes de trabalho, contudo, não representa mudança substantiva na situação dos trabalhadores. Na década de 20, são aprovadas leis que abrem caminho à intervenção do Estado na regulamentação do mercado de trabalho e leis que cobrem a burguesia industrial. o movimento operário também não consegue estabelecer laços politicamente válidos com outros segmentos da sociedade que constituem a maioria da população. por outro. acidente de trabalho. férias. código de menores. a classe operária. estando social e politicamente isolada. apesar de seu progressivo adensamento. destacam-se dois elementos .uma parcela chamada “proteção ao trabalho”. ao mesmo tempo em que implica sua desorganização enquanto classe. Dentre os diversos aspectos da prática social do empresariado durante o período de 1920 a 1930. Sendo assim. as relações de produção são um problema de empresa. como pressuposto essencial de sua taxa de lucro e acumulação. as medidas parciais que são implantadas visam mais à ampliação de sua base de apoio e a atenuação do conflito social. permanece sendo uma minoria fortemente marcada pela origem européia. Por um lado. A preocupação do empresariado com o social aparece apenas a partir da desagregação do Estado Novo e término da Segunda Guerra Mundial e representa uma adaptação a nova fase de aprofundamento do capitalismo. seguro-doença etc. A dominação burguesa implica a organização do proletariado. A adesão às novas formas de dominação e controle do movimento operário será dada pelo populismo e desenvolvimentismo da era Vargas. sem implicarem um projeto mais amplo de canalização das reivindicações operárias. que está solidificando sua organização enquanto classe está ancorada nos princípios do liberalismo do mercado de trabalho e no privatismo da relação de compra e venda da força de trabalho. Assim. na Velha República. para o Estado e para setores dominantes ligados a agroexportação. isto porque ela necessita de estabelecer mecanismos de integração e controle. O patronato. a “questão social” fica definitivamente colocada para a sociedade. 2 – A Reação Católica Após os grandes movimentos sociais. seu relacionamento com a polícia. Há que analisar a posição da Igreja frente à “questão social” considerando a Igreja não só como Instituição social de caráter religioso. . se verifica a existência de uma política assistencialista que se acelera a partir dos grandes movimentos sociais do primeiro período após a guerra. da inexistência de instituições que tenham por objetivo produzir trabalhadores integrados física e psiquicamente ao trabalho fabril.relacionados com a implantação e desenvolvimento do Serviço Social:  Crítica do empresariado a inexistência de mecanismos de socialização do proletariado. a intransigência para as reivindicações e sua aceitação apenas em última instância.  O conteúdo diverso da política assistencialista desenvolvida pelo empresariado no âmbito da empresa. A negativa constante no reconhecimento das organizações sindicais. Ao mesmo tempo. mas também o seu engajamento na dinâmica dos antagonismos de classe da sociedade na qual está inserida. assistência médica etc. a não aceitação do operariado como capaz de participar das decisões que lhes dizem respeito. ou seja.. A maioria das empresas de maior porte propicia a seus empregados uma séria de serviços assistenciais como: vilas operárias. aparecem como a face mais evidente do comportamento do empresariado da Primeira República. a prática normal de usar repressão etc. Isto significa o controle social aliado ao incremento da produtividade e o aumento da taxa de exploração.  . que se fará a partir desse momento. Primeira Fase da Reação Católica No Brasil. a estrutura e a imagem da Igreja. lança documentos contendo as bases do que seria o programa de reivindicações católicas. Dom Sebastião Leme. substancialmente. que atinge tanto o clero como o movimento leigo. a Igreja Católica reage. A “romanização” do catolicismo brasileiro. com a finalidade de restabelecer as bases da noção de Nação Católica. a fim de recuperara os privilégios e as prerrogativas perdidos com o fim do Império. Portanto. a religião católica perde sua ampla hegemonia enquanto concepção de mundo das classes dominantes. a partir da segunda metade da República Velha. a Igreja inicia o processo de reformulação de sua atividade política religiosa. Sendo assim. 2. através de métodos organizativos e disciplinares.1. terá por modelo as organizações que se formaram na Europa. ou seja. dois processo:  A mudança interna de sua estrutura. O então Bispo. Para a desagregação da sociedade civil tradicional e para o declínio de sua influência. Essa reação tem por base. Altera.Após a Contra Reforma. a constituição de poderosas organizações de massa. Esse movimento condensa-se nos primeiros anos da década de 20. especialmente na Itália e França. a referência em Roma. a mobilização do laicato. os Estados nacionais europeus são forçados a conceder aos movimentos políticos e ideológicos burgueses uma parcela do anterior monopólio mantido pela Igreja. com a sua centralização. ainda no primeiro qüinqüênio de 1920. traz contraditoriamente o aprofundamento da industrialização. que procuram redefinir. as diretrizes e benesses da política econômica e. com a diferenciação social e diversificação ocupacional resultantes da emergência do proletariado e da consolidação dos estratos urbanos médicos. que pela sua luta em prol da cidadania social abre mais uma área de contradição . 2. Com o movimento de 1930. explorando a nova situação conjuntural. pela tensão das classes dominadas. que procuram recrutar uma “aristocracia intelectual” capaz de combater política e ideologicamente manifestações que Igreja considere perigosas para seu domínio. a Igreja passa a se envolver nas causas sociais emergentes da população. ou seja. inicia-se um novo período de mobilização do movimento católico laico. irá compor com o novo bloco dominante que emerge. O Movimento Político-Militar de 1930 e a Implantação do Corporativismo O desenvolvimento capitalista.Na década de 20. visto estarem criadas as condições para que a Igreja seja chamada a intervir nas dinâmicas sociais de forma muito mais ampla. E. ao findar-se a República Velha. constantemente é ameaçada por outras parcelas da classe dominante. tendo por núcleo central da acumulação a economia cafeeira. o sentido do “Aggiornamento”. A “questão social” não atrai a atenção das lideranças católicas. é cada vez maior a identidade entre Igreja e Estado. a urbanização acelerada. A hierarquia. A burguesia ligada ao complexo cafeeiro. O movimento laico vive uma fase de identificação com o espírito das Encíclicas Sociais. em proveito de sua própria expansão. um período de apreender prosperidade. que dirige o Estado. A política de defesa permanente do café permite.2. a revista “A Ordem” e o Centro Dom Vital serão os principais aparatos de mobilização do laicato. setores do aparelho do Estado e fração majoritária das classes médias urbanas que reclamavam o alargamento da base social do regime. Assim. O que ocorre. Para tanto. porque mantém uma política de equilíbrio financeiro. pondo fim a Velha República. é que a política econômica é orientada para além de preservar a cafeicultura. no processo de transição. abandonando a política de defesa de preços e subsídios aos produtores. forma-se uma coalizão heterogênea sob a bandeira da diversificação do aparato produtivo e da reforma política. estabelece-se um “Estado de Compromisso”. a fim de assegurar área de influência para defesa de seus interesses econômicos. Portanto. a fim de garantir a acumulação e.entre o setor industrial e a fração hegemônica. Aglutina as oligarquias regionais não vinculadas à economia cafeeira. Frente à necessidade de redefinição da política econômica. que brigam entre si pela supremacia. o fim da década de 20 é marcado pela decadência da economia cafeeira e pelo amadurecimento das contradições econômicas e complexidade social advindas do desenvolvimento capitalista baseado na expansão do café. Não há uma substituição imediata do bloco hegemônico e nem de uma classe por outra. isto porque algumas medidas sociais são implementadas. que desencadeia o movimento político-militar de 1930. favorecer também o sistema produtivo voltado para o mercado interno e para diversificar a pauta de exportações. a mobilização dos setores urbanos médios e o ascenso da . A crise de 1929 acelera o surgimento das condições que possibilitam o fim da supremacia da burguesia cafeicultora. em relação ao acesso ao poder. Só que este está ligado aos interesses mais globais que resultam do fortalecimento de um novo polo hegemônico e de uma redefinição da inserção na economia mundial. uma conjuntura de acirramento das contradições entre as oligarquias regionais. .3. procura atrair sua solidariedade tomando medidas favoráveis a esta. necessitando de apoio da força disciplinadora da Igreja. Pode-se apresentar a criação do Ministério do Trabalho. benfeitor. através de projetos corporativos. As medidas de legislação social e sindical são relacionadas à crise de poder e a redefinição das relações do Estado com as diferentes classes sociais. em que reprime e desmantela a organização política e sindical autônoma. o Estado assume paulatinamente uma organização corporativa. 2.organização política e sindical do proletariado. isola-se a classe proletária e afirma-se o mito do Estado acima das classes e representativo dos interesses gerais da sociedade. O Estado. canalizando para sua órbita os interesses divergentes. A partir daí. visto desempenhar um importante papel para a estabilidade do novo regime e também por disputar com ele a delimitação das áreas e competências de controle social e ideológico. Igreja e Estado se empenham. como a oficialização do ensino do catolicismo nas escolas. intensificando a exploração da força de trabalho. na década de 30 como uma ação que veio a contribuir para tal imagem do Estado. protetor do trabalho. acompanhadas de mecanismos que visam integrar os interesses do proletariado através de canais dependentes e controlados. da harmonia social. visto ter como objetivo a conquista de sólidas posições na sociedade civil. A política social do Estado Novo está vinculada a uma estrutura corporativista. Em termos ideológicos. com o objetivo de expandir a acumulação. Relações Igreja-Estado A conjuntura política e social (crise de hegemonia entre as frações burguesas e a movimentação das classes subalternas) abre à Igreja um campo de intervenção na vida social. Deve prevalecer o comunitarismo cristão. submetidas ao controle da hierarquia católica. ex: TFP – Tradição Família e Propriedade). A questão social não é monopólio do Estado. estreita ainda mais os laços entre a Igreja e o Estado. em especial o Centro Dom Vital e a Confederação Católica. As instituições através das quais é mobilizado o laicato. CAPÍTULO II – PROTOFORMAS DO SERVIÇO SOCIAL 1. Tendo por base as instituições criadas na década de 20. Valendo-se da adaptação à realidade nacional do espírito das Encíclicas Sociais Rerum Novarum e do Quadragésimo Anno. Grupos Pioneiros e as Primeiras Escolas de Serviço Social . elitistas e cooperativistas. A campanha antipopular e anticomunista. Também têm intima ligação com a Ação Integralista Brasileira (fascismo nacional. A Igreja se lança a mobilização da opinião pública católica e à reorganização do laicato. que se desencadeia na segunda metade da década de 30. surge a Ação Universitária Católica. harmonizando as classes em conflito e estabelecendo entre elas relações de amizade. reproduzem os modelos europeus do início do século. pois os dois se empenham contra o comunismo. modelos estes autoritários. A sua ação política será conduzida pela mobilização do eleitorado católico e do apostolado social. por meio de um projeto de cristianização de ordem burguesa. A Igreja tem a tarefa de reunificar e recristianizar à sociedade burguesa. de posições.estabelecer mecanismos de influência e de controle na sociedade civil. a Liga Eleitoral Católica e outras com o fim de implementar a Ação Católica. programas e respostas aos problemas sociais via uma visão cristã corporativa de harmonia e progresso da sociedade. a mescla entre as antigas Obras Sociais e os novos movimentos do apostolado social permitem o surgimento do Serviço Social. da Escola Católica de Serviço social de Bruxelas. por exemplo: o trabalho junto à Diretoria de Terras. Contam com um aporte de recursos e contatos em nível de Estado que lhes permite o planejamento de obras assistenciais de maior envergadura e eficiência técnica. O Centro de Estudos e Ação Social (CEAS) de São Paulo surge em 1932. para o qual foi convidada a Mademoselle Adéle Loneux. A importância dessas instituições consiste no fato de ter sido a partir delas que se criaram as bases materiais (organizacionais e humanas) para a expansão da Ação Social e para o surgimento das primeiras escolas de Serviço Social. é fundado a Escola de Serviço Social de São Paulo. partindo de certas instituições estatais e são vistas como conquistas significativas. O Centro de Estudos e Ação Social de São Paulo e a Necessidade de uma Formação Técnica Especializada para a Prestação de Assistência. começa a aparecer outro tipo de demanda. Colonização e Imigração. Assim. . promovido pelas Cônegas de Santo Agostinho. a partir dos esforços desenvolvidos por esse grupo e do apoio da Igreja. Em 1936. As atividades do CEAS se orientarão para a formação técnica especializada de quadros para a ação social e para a difusão da doutrina social da Igreja. a partir do “Curso Intensivo de Formação Social para Moças”. 1.As instituições assistenciais que surgem após o fim da Primeira Guerra Mundial possuem uma diferenciação face às atividades tradicionais de caridade. com o incentivo e sob o controle da Igreja. Além das atividades do CEAS. Nesse ano passa a chamar Departamento de Serviço Social. o Estado cria o Departamento de Assistência Social do Estado. A criação desta Escola não pode ser considerada apenas como fruto do Movimento Católico Laico.12. Progressivamente. onde a maior parte dos artigos é dedicada à assistência ao menor. É importante apontar que ocorre um processo de “mercantilização” dos portadores dessa formação técnica específica. além de sua intervenção na regulamentação do trabalho e da exploração da força de trabalho. 2497. é organizada a Seção de Assistência Social. o Setor de Investigação e Estatística e o Fichário Central de Obras e Necessitados. . Mais tarde. a Orientação Técnica das Obras Sociais. inclusive. o portados dessa qualificação. incentiva e institucionaliza o trabalho dos Assistentes Sociais. Ou seja.Em 1938. pois já existe uma demanda do Estado que assimila a formação doutrinária própria do apostolado social. os assistentes sociais começam a se constituir em uma força de trabalho que pode ser comprada. através da Lei n. o Estado regulamenta. com a finalidade de “realizar o conjunto de trabalhos necessários ao reajustamento de certos indivíduos ou grupos às condições normais de vida”. Assim. se transformam num componente de Força de Trabalho. A Escola de Serviço Social passa por rápidos processos de adequação para atender à demanda do Estado. adotando a formação técnica especializada desenvolvida pelas instituições particulares. passa à gestão da assistência social. de 24. Já em 1935. que é. funcional às necessidades do Estado e das empresas. englobada na divisão social e técnica do trabalho. Apenas um único artigo se refere ao Serviço de Proteção ao Trabalhador. Organização parcial: o Serviço social dos Casos Individuais.35. O método central: Serviço Social de Casos Individuais. tendo como objetivo dinamizar a Ação Social e o apostolado laico. Esse espírito vai presidir as obras sociais. Neste encontro aparece claramente o entendimento de uma política comum entre a Igreja e o Estado.2. além do apoio explícito da alta administração federal. A Primeira Semana de Ação Social do Rio de Janeiro. surgem o Instituto de Educação Familiar e Social composto das Escolas de serviço Social e Educação Familiar. Em 1937. com forte participação do Estado. além de ser o pólo industrial mais antigo da região sudeste. Discute-se também a necessidade de formação técnica especializada para a prática da assistência. em 1936.1. por iniciativa do Grupo de Ação Social (GAS). em 1938 a Escola Técnica de Serviço Social. é também o grande centro de Serviços e onde se centram os principais aparatos da Igreja Católica. O Rio de janeiro. A Igreja recomenda a tutela estatal para o operariado e o Estado reafirma o princípio de cooperação. O Serviço Social no Rio de Janeiro e a Sistematização da Atividade Social. com o objetivo de reerguimento das classes trabalhadoras. Este curso dá origem à Escola de Serviço Social da Universidade do Brasil. em relação ao proletariado. A participação das instituições públicas é intensa. não só restrita ao movimento laico. mas . é considerada marco para a introdução do Serviço Social. da cúpula da Igreja e do movimento laico. na criação do Serviço Social. em 1940 é introduzido o curso de Preparação em Trabalho Social na Escola de Enfermagem Ana Nery. Por isso se desenvolve mais a infra-estrutura de Serviços básicos. por iniciativa do Juízo de Menores e. inclusive serviços assistenciais. recém formadas na Bélgica. Em 1938. Assim. Partem também de um setor específico da Assistência Pública . . As atividades desenvolvidas pelos Assistentes Sociais se dedicam através de inquéritos familiares. das vagas no serviço público e em instituições para-estatais e. realiza-se o primeiro Curso “Intensivo de serviço Social”. 1. sob orientação leiga o Curso regular da Escola Técnica de Serviço Social. A luta dos Assistentes Sociais é pelo reconhecimento da profissão e pela exclusividade para Assistentes Sociais diplomados. com a participação de duas Assistentes Sociais paulistas. Ao mesmo tempo. Campos de Ação e Prática dos Primeiros Assistentes Sociais A demanda por Assistentes Sociais diplomadas excedia o número de profissionais disponíveis. não pelo mercado de trabalho. também em 1936. realiza-se um curso prático de Serviço social. Ao mesmo tempo. com ênfase para o problema da “Infância abandonada”. pesquisar as condições de moradia. começa a funcionar. para abarcar também parcelas da pequena burguesia urbana. já que necessitava de pessoal para auxiliar os Serviços Sociais do Juízo de Menores.enquanto necessidade social que também envolve o Estado e o empresariado. deixando de ser um privilégio das classes dominantes e da classe média alta.o Juízo de Menores . situação sanitária econômica e moral do proletariado. alargouse a base de recrutamento.iniciativas tendentes à formação de pessoas especializadas na assistência. Os mecanismos de cursos intensivos para Auxiliares Sociais e as bolsas de estudos foram à forma encontrada para acelerar a formação de Assistentes Sociais. a atuação prática dos Assistentes sociais está voltada para a organização da assistência. baseado no pensamento católico europeu. os Assistentes Sociais atuam. No campo do Serviço Social médico. Para os Assistentes Sociais que procuram observar a . Ao mesmo tempo. principalmente. na racionalização dos Serviços Assistenciais e na sua implantação. Tendo como alvo preferencial as famílias operárias. educação popular e pesquisa social. além dos sentimentos. interferem nos encaminhamentos necessários à obtenção dos benefícios da legislação social. não afetando os grupos sociais em sua estrutura. nos encontros e nas conferências promovidos pelo movimento católico. as iniciativas estão ligadas à puericultura e à profilaxia de doenças transmissíveis e hereditárias. ajuda mútua e organização de lazeres educativos. à elaboração de fichas informativas sobre o cliente. 3 – Elementos do Discurso do Serviço social As primeiras tentativas de sistematização da prática e do ensino do Serviço Social foram expostas. O Serviço Social tem por objetivo remediar as deficiências dos indivíduos e das coletividades. assim como em atividades de cooperativismo. A caridade passa a utilizar os recursos da ciência e da técnica. a conciliação do tratamento com os deveres profissionais do cliente etc. inteligência e vontade a serviço da pessoa humana. Portanto. Isto distingue o Serviço Social das antigas formas de assistência. em geral.Em Serviço Social de Empresa. o discurso é essencialmente doutrinário e apologético. As funções se referem à triagem. Quanto a um entendimento mais amplo da sociedade. sem a adaptação local. as propostas para melhoria das condições do proletariado são ambíguas. um “estado de pobreza verdadeiramente calamitoso”. tendo em vista a reorientação do conjunto da vida social. de anomia. verifica-se a existência de um projeto de intervenção nos diversos aspectos da vida do proletariado. há uma situação de crise. A ignorância e a pobreza são “as duas causas principais da subnutrição no Brasil”. a necessidade de campanhas educativas e do aumento da fiscalização sanitária. Os Assistentes Sociais reconhecem as condições infra-humanas de trabalho e atuam. E a melhor forma de enfrentar o problema seria começar por compreendê-lo. adaptar o trabalhador a sua função na empresa etc. Revendo. ao desapego ao lar. Concluindo. Portanto. Mas não vêem a legislação social como fruto da luta do proletariado. Os Assistentes Sociais criticam a transposição de legislação do exterior. objetivando combater o absenteísmo.sociedade. o relaxamento no trabalho. segundo a visão que têm. para tanto. a falta de formação doméstica da mulher etc. no sentido de garantir ao trabalhador e a sua família um nível de vida moral. em sua totalidade. As péssimas condições de vida do proletariado se devem. o discurso que os Assistentes Sociais e seus porta-vozes produzem durante a fase de implantação. é necessário começar pela reforma do homem. Logo. em especial as condições de vida do proletariado urbano. ao mesmo tempo. que os Assistentes Sociais agem de acordo com a sua própria posição de classe. . Considera-se também. os diversos problemas sociais são vistos a partir da ótica da “anormalidade social”. físico e econômico normal e a correta aplicação das leis trabalhistas. promover a conciliação dos dissídios trabalhistas. mas como outorga paternalista e demagógica do Estado. por um longo período.1. sua proximidade com a Ação Integralista Brasileira. 4. classes e instituições que interagem com essas transformações.1. num momento de grande radicalização e acirramento das tensões políticas e sociais. é influenciado pelo modelo europeu. A formação dos agentes sociais especializados é quase monopólio do bloco católico. . decorrente não só da adesão aos princípios católicos. seu conservadorismo. O discurso das pioneiras demonstra a certeza de estarem investidas de uma “missão de apostolado”. que tenha uma ideologia e interesses de classe semelhantes. – está condicionada à existência de uma base social que possa assimilá-los. Isto significa que a transposição e a reelaboração desses modelos – autoritário. que cria as bases para o surgimento do Serviço Social. Retrata o comportamento de um setor da sociedade. O posicionamento político do movimento católico. A forma de intervenção do Serviço Social está relacionada também ao tipo de educação familiar e religiosa a que estavam sujeitas as moças da sociedade. como de sua origem de classe. O Serviço Social e Bloco Católico A reorganização do bloco católico. doutrinário etc. isto é. Modernos Agentes da Justiça e da Caridade A implantação do Serviço Social relaciona-se às transformações econômicas e sociais que a sociedade atravessa e à ação dos grupos. também não podem ser relacionados apenas à aliança entre o Vaticano e o fascismo italiano e a orientação da hierarquia católica. realizado em 1941. A formação do Assistente Social consistia em quatro aspectos principais: científica. técnica. à origem de formação do corpo docente.4. na produção teórica do Serviço social desta época. em Atlantic City. os programas da época demonstram que havia uma extrema carência de objetividade e coerência. com influência franco-belga. a norte – americana. Após a primeira fase das mobilizações do laicato. As formas e métodos de intervenção e enquadramento dos setores populares transformam-se em matéria de formação escolar. as Escolas de Serviço Social começam a se reorganizar para se se adaptar ao novo tipo de demanda. embrincamento da teoria e metodologia do Serviço Social com a doutrina social da Igreja e com o apostolado social. no Serviço Social. principalmente. Quanto ao aspecto científico e técnico. situa-se o Congresso Interamericano de Serviço Social. ou seja. do ingresso de alunos funcionários de grandes instituições sociais. CAPÍTULO III – INSTITUIÇÕES ASSISTENCIAIS E SERVIÇO SOCIAL .2. Perderam a anterior homogeneidade. além de influência européia. a preocupação com a formação profissional. devido à ampliação da base de recrutamento. constituem em elementos centrais de esquema de percepção e formas de comportamento e desempenho profissional dos Assistentes Sociais. Devido. Sobressai. moral e doutrinária. Humanismo Cristão e Vocação A origem no bloco católico e na ação benévola e caridosa de senhoras e moças da sociedade. percebe-se. Como marco da influência norte-americana. É a partir desse evento que se estreitam os laços entre as principais escolas de Serviço Social brasileiras com as grandes instituições e escolas norte-americanas e com os programas continentais de bem-estar-social. sobre tudo aquilo que ameace fugir aos canais institucionais criados para absorver e dissolver esses movimentos dentro da estrutura corporativa.1. a fase que se abre é marcada pelo aprofundamento do modelo corporativista e por uma nítida política industrialista. traduz o caráter não antagônico de suas contradições ao nível econômico e político. trazendo o avanço da subordinação do trabalho ao capital. . baseada numa aliança com as forças políticas e econômicas ligadas à grande propriedade rural. que indicam delegados para planejar e implementar as políticas estatais. A Legislação Social tem papel essencial nessa integração ao regulamentar e disciplinar o mercado de trabalho. E a utilização delas é um elemento dinâmico que a estrutura corporativista canaliza para o fortalecimento de seu projeto. Justiça do Trabalho. por sua vez. A consolidação progressiva da supremacia industrial. salário Mínimo. dentre outras. neutralizando seus componentes autônomos e revolucionários. O Estado. O Estado Novo e o Desenvolvimento das Grandes Instituições Sociais A partir de 1937. A participação da burguesia industrial na gestão do Estado aparece no quadro corporativo através de suas entidades representativas. O afluxo continuado de populações advindas da agricultura altera a composição política e social da cidade. Assistência Social. A repressão varguista ataca os componentes autônomos e revolucionários do proletariado e. procura a integração e a mobilização controladas dos trabalhadores urbanos pela incorporação e falsificação burocrática de suas reivindicações. A paz social do Estado corporativo pressupõe o surgimento constante de novas instituições: Seguro Social. é criada a Comissão de Orientação Sindical a fim de atuar junto à massa não sindicalizada para esclarecer e aglutiná-la em torno de seus “direitos”. em 1943. a desmoralização e o desmoronamento de uma série de mecanismo de controle. que exige do Estado maior intervenção no mercado de trabalho. faz com que a redemocratização de 1945 represente um momento importante da redefinição das formas de dominação política. Inclusive.A Legislação Sindical (1939) e o Imposto Sindical estão ligados à preocupação de impedir o esvaziamento dos sindicatos e de recriar em seu interior condições de mobilização – controladas pelo Estado. atividades produtivas e agro-exportação). assiste-se a uma retomada do aprofundamento capitalista (expansão da produção industrial. a atenuação da repressão. Os sindicatos não podem organizar e liderar lutas. sobressaindo os Departamentos Jurídicos. A pretexto do engajamento do país na Segunda Guerra. e. surge a primeira campanha assistencialista de âmbito nacional a partir da criação da Legião Brasileira de Assistência. Surge o SENAI para responder à necessidade básica de qualificação da força de trabalho necessária a expansão industrial. principalmente. com a tentativa de implantação do Plano Beveridge nos países capitalistas periféricos. mas são crescentemente dotados de equipamentos sociais. Após 1939. Apesar da manutenção de aspectos essenciais da estrutura corporativa para a organização sindical dos trabalhadores urbanos e dos limites impostos à participação política de sua vanguarda (liderança). O surgimento das grandes instituições sociais está relacionado ao aprofundamento das contradições desencadeadas a partir da Segunda Guerra Mundial e à crise política e social que precede a desagregação do Estado Novo. o papel das instituições . Após a Segunda Guerra. a necessidade de legitimação do poder junto às grandes massas. A primeira medida legal nesse sentido será dada em 1938 (Decreto-Lei n. as bases para o Welfare State. como a Fundação Leão XIII. . como o SESI. também. implica em processo de legitimação e de institucionalização da profissão e dos profissionais de Serviço Social. A desmoralização dos círculos operários e de outras formas de intervenção no movimento operário contribui para o surgimento e para a orientação de instituições assistenciais. Cria-se. para o Estado de Bem-Estar. A implantação e o desenvolvimento das grandes instituições sociais e assistenciais criam as condições para a existência de um crescente mercado de trabalho. junto ao Ministério da Educação e Saúde. onde o Estado fica obrigado a assegurar o amparo aos desvalidos e se fixa a destinação de 1% das rendas tributárias à maternidade e à infância. ou seja. de 01. o Conselho Nacional de Serviço Social. Estatui a organização nacional do Serviço Social.30). contribui para o aparecimento de outras instituições. Assim. Estão postas assim. 525. Ao mesmo tempo. enquanto modalidade de serviço público. O Conselho Nacional de Serviço Social e a LBA A primeira referência explícita na legislação federal com respeito a Serviços Sociais consta na Carta Constitucional de 1934. numa estratégia do capitalismo no pós-guerra. 2.sociais e assistenciais é reafirmado a tem importância crescente. permitindo um desenvolvimento rápido do ensino de Serviço Social. As primeiras experiências de eleições democráticas – no período de 1945 a 1946 – que dão ao Partido Comunista uma votação expressiva.07. a construção de um novo modelo de dominação política dentro de uma conjuntura nacional e internacional dinâmica aponta constantemente pontos críticos que devem ser enfrentados e onde umas das opções será o reforço ao assistencialismo como instrumento político. Está entre as primeiras instituições a incorporar e teorizar o Serviço social. com o objetivo de organizar e administrar nacionalmente escolas de aprendizagem para industriários. em convênio com os movimentos de ação social católica. para a obtenção de fins determinados”. de atitudes “paternalistas” a . Há uma mudança no comportamento assistencial do Estado e do empresariado. não apenas enquanto serviços assistenciais corporificados. utilizando para tal as práticas e as técnicas de Caso e de Grupo. Sobressaem dois elementos do Serviço Social no SENAI:  A ação ideológica de ajustamento. ela se constitui em mecanismo de grande impacto para a reorganização e incremento do assistencial privado e desenvolvimento do Serviço Social. Atribuindo à Confederação Nacional da Indústria a função de geri-lo. atuando. A Legião Brasileira de Assistência (LBA) é organizada em seqüência ao engajamento do país na Segunda Guerra Mundial. geralmente. Seu objetivo inicial é dar assistência “às famílias dos convocados”. Nesse sentido. 1. em relação ao proletariado. e de estudar os problemas do Serviço Social.com as funções de órgão consultivo do governo e das entidades privadas. é criado o SENAI. passando depois a atuar praticamente em todas as áreas de assistência social. mas enquanto “processos postos em prática.  A coordenação da utilização dos serviços assistenciais corporificados. Oferecem um sólido apoio às escolas especializadas existentes e viabilizando o surgimento de escolas de Serviço Social nas capitais de diversos estados. O SENAI e o Serviço Social Em 1942. Tendo por base a experiência do SENAI. planejar e executar medidas que contribuam para o bem estar do trabalhador na indústria. integrante do quadro de técnicos manipuladores de técnicas sociais englobadas no processo educacional.  A produção de uma força de trabalho ajustada psicossocialmente ao estágio de desenvolvimento capitalista. ele constantemente procura fugir do ônus daí decorrente. representativa de uma nova racionalidade. em 1946. O Assistente Social. Apesar da adesão do empresariado à política de controle social. aparece também como assalariado. conservação e reprodução da força de trabalho. O II Congresso Brasileiro de Direito social. produtor de serviços necessários à existência e à maior produtividade dos trabalhos diretamente produtivos. A partir daí. O SESI e o Serviço Social Em 1946 é oficializado o SESI. Educação e saúde aparecem como consumo produtivo na produção. o surgimento do SESI faz parte da evolução da posição do empresariado em relação à “questão social” que se aprofunda no pós-guerra. com a atribuição de estudar. 1. A adequação da força de trabalho às necessidades do sistema industrial se reveste de dois aspectos:  O atendimento objetivo ao mercado de trabalho. reclamando o financiamento integral por parte do Estado e aceitando apenas em última instância a participação que lhe é imposta. o Direito Social tem o papel de articular os diferentes grupos sociais de forma a que estes se . marca novas posições de Ação Social Católica.uma política mais global. a Fundação Leão XIII. O Serviço Social é reafirmado como o elemento essencial para a harmonização entre capital e trabalho. A incorporação e a institucionalização do Serviço Social pela burguesia industrial aponta para um dos extremos que o compõem: seu funcionamento declarado e explícito como instrumento político-repressivo. 1. sob a intervenção do Estado. estatui a compulsoridade da contribuição. como primeira grande instituição assistencial com o objetivo explícito de atuação ampla sobre os habitantes das grandes . O SESI é a primeira instituição com recursos e sob a direção do empresariado que tem por objetivo a prestação de serviços assistenciais e o desenvolvimento de relações industriais abrangendo uma parcela da população urbana. de forma dispersa. O que caracteriza as práticas sociais desenvolvidas no SESI é a radicalização na sua utilização como instrumento de contraposição à organização autônoma da classe operária e de luta política anticomunista. Fundação Leão XIII e o Serviço Social Surge em 1946. realizando ele mesmo o recolhimento e a fiscalização do encargo. O arcabouço institucional e o trabalho coletivo que se realiza no SESI viabiliza a passagem das técnicas sociais utilizadas pelos Assistentes Sociais. O Serviço Social deixa de ser ater apenas às atividades de coordenação dos serviços assistenciais para se vincular mais profundamente ao confronto direto entre o capital e o trabalho. Para o funcionamento do SESI o empresariado fica legalmente obrigado a uma contribuição mensal equivalente a 2% da folha de pagamento que.submetam ao bem comum. oficializada por Decreto-Lei da presidência da República. a mecanismos de controle social e político de uso extensivo. o Serviço Social de Grupo deve ser aplicado a partir dos Centros de Ação Social (CAS) e de Associação de Moradores. de foram ajustadora. A educação popular.  Recreação e Jogos. o Serviço Social da Fundação Leão XIII se propõe a regenerá-la. assume o sentido de levantamento moral das populações faveladas. Essa instituição conta com forte apoio institucional do Estado e da Igreja Católica para coordenar os serviços assistenciais a serem prestados à população. ou seja. Em face de esta população marginalizada. com vista à legitimação do poder no processo eleitoral. onde o Partido Comunista se torna força política nas eleições de 1946. principalmente no grande centro urbano.  Auxílios.  Educação Popular. Este projeto tem como perspectiva o controle de massas semi-escolarizadas. visam o disciplinamento do tempo livre do proletariado. . cujo crescimento contínuo e o comportamento desviante aparecem como um desafio. um elemento de anomia dentro da ordem burguesa. como instrumento principal da atuação do Serviço Social. Além dessas modalidades. O aprofundamento do capitalismo gera a formação de uma grande massa de marginalizados. vinculação deste projeto a lazeres educativos. Ressalta-se também que a vinculação do poder. O Serviço Social tem por responsabilidade todas as atividades fora do campo médico:  Serviço Social de Casos Individuais.favelas do Rio de Janeiro. criando o Instituto de Serviço Social do Brasil (ISSB) que unificaria as diversas instituições previdenciárias. de 1943. cujos princípios permanecem até 1966. procura-se modernizar e ampliar o Seguro Social. Este fato está relacionado também a desconfiança dos primeiros Assistentes Sociais em relação ao Seguro e a Previdência estatal. Esse projeto sofre oposições e é arquivado. Em 1943 surge a Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT). quando é organizada pelo Instituto de Pensões e Aposentadorias dos Comerciários a Seção de Estudos e assistência Social (Portaria 25. A progressiva incorporação do Serviço Social nos diversos Institutos e Caixas de Pensões (IAP e CAP) ocorre de forma heterogênea e em ritmo bastante lento. Previdência Social e Serviço Social O Seguro Social começa a ser implantado ainda na fase final da República Velha. lançam-se às bases para a futura política de seguro social. A primeira experiência oficial de implantação do Serviço Social na estrutura burocrática do Seguro Social ocorre em 1942. A partir da Lei Eloy Chaves. Ano que sob a influência do Plano Beveridge. Enquadra-se nos marcos da dúbia política social desenvolvida pelos últimos governos dominados pela “oligarquia cafeeira”. hospitais. O Serviço Social junto aos departamentos médicos. ambulatórios. ao fazer apologia das Caixas de Auxílio Mútuo e outras iniciativas de tipo corporativista particular. de 1923. do Congresso Nacional do Trabalho).1. As primeiras tentativas de introdução do Serviço Social na previdência se dão num momento de reorganização e reordenação da legislação e mecanismos de enquadramento e controle do proletariado. Nos conjuntos residenciais a atuação é relacionada à defesa do patrimônio e ao aconselhamento dos orçamentos domésticos para . época da unificação das instituições de previdência. na educação social e principalmente. atuam sobre os aspectos sociais e morais da doença. na readaptação à vida familiar e à produção. O Estado assume as funções de zelar pelo disciplinamento e pela reprodução da força de trabalho.que não falhem no pagamento das prestações. apesar da possibilidade de institucionalização do Serviço Social aberta pelo Departamento Nacional do Trabalho. que em 1945 organiza cursos intensivos de Serviço Social para os funcionários dos diversos IAP’s e CAP’s. O projeto de prática institucional do Serviço Social no âmbito do Seguro Social tem efeitos econômicos. A ação ideológica constitui no elemento de amortecimento de contradições das relações sociais dentro da própria instituição e contribui para a eficiência no desempenho e controle social. concomitantemente ao aprofundamento do capitalismo. O início efetivo tem um de seus marcos na Portaria do Departamento Nacional da Previdência. Junto ao setor de pensões e aposentadorias. em 1944. e especialmente da Segunda Guerra Mundial. 1. a fim de complementar às irrisórias pensões. O processo de inserção do Serviço Social é lento. . Institucionalização da Prática Profissional dos Assistentes Sociais A partir da década de 30. políticos e ideológicos. Estes constituirão a base humana para a generalização das Turmas e Seções de Serviço social. acentuam-se os mecanismos de disciplinamento e de controle social. As Seções ou Turmas de Serviço Social apenas começam a generalizar-se pelas Delegacias Regionais das instituições previdenciárias no decorrer da década de 50. o Serviço Social atua no sentido de prolongar a permanência em algum trabalho remunerado. tarefas estas que as instituições assistenciais desempenham um papel fundamental. Uma das especificidades desses novos agentes institucionais é o da sua integração ao tipo de equipamento já existente. Contudo. Contudo. no momento em que seu trabalho passa a ser solicitado por aquelas instituições. constituindo-se numa das engrenagens de execução das políticas sociais do Estado e de corporações empresariais.Com o aprofundamento cada vez maior do capitalismo há necessidade de uma nova racionalidade no atendimento da “questão social”. O processo de surgimento e de desenvolvimento das grandes entidades assistenciais é também o processo de legitimação e de institucionalização do Serviço Social. o Serviço Social mantém sua ação educativa e doutrinária de “enquadramento” da população cliente. Já o sentido mais geral da atuação do Serviço Social é dado essencialmente pelas funções econômicas. serviços e benefícios proporcionados pelas instituições e. visto que a profissão de Assistente Social apenas pode se consolidar e romper o estreito quadro de sua origem no bloco católico a partir de sua inserção no mercado de trabalho. clientela das instituições sociais e assistenciais. O Serviço Social deixa de ser uma forma de intervenção política de determinadas frações de classes para ser uma atividade institucionalizada e legitimada pelo Estado e pelo conjunto do bloco dominante. cujo comportamento se torna mais desviante face ao padrão normal. O Serviço Social atua como instrumento de esclarecimento e conscientização dos direitos. os segmentos mais carentes. que podem ser utilizados pela clientela para os quais são . políticas e ideológicas que presidem o surgimento e o desenvolvimento das instituições às quais é incorporado. Os servidos assistenciais e educacionais tornam-se consumo produtivo para o capital e para o Estado. o domínio mais específico do Serviço Social é uma determinada parcela da população. As práticas de pesquisa e classificação assumem um caráter metódico e burocrático a partir da institucionalização do Serviço social.orientados. com o tema: “Preparação para o II Congresso Pan-Americano”. secundariamente. O Assistente Social é um agente legitimado pelo Estado. ação persuasiva de inculcação. com o aparecimento de um agente coletivo que favorece a divisão técnica do trabalho e as especializações. à clientela. para o meio profissional. promovido pelo CEAS. principalmente em relação às condições de saúde. CAPÍTULO IV – EM BUSCA DA ATUALIZAÇÃO A necessidade constante de produzir uma autojustificativa. as novas e múltiplas atividades que o Serviço Social passa a desenvolver orientam uma reestruturação profunda em suas formas de organização e intervenção. como alternativa e solução racionalizadora para o enfrentamento da “questão social” que se agrava. constitui-se num dos fatores explicativos da importância. Soma-se a isto o surgimento e a disseminação das equipes multidisciplinares. Em 1947 realiza-se o I Congresso Brasileiro de Serviço Social. O processo de institucionalização. de seus grandes encontros e reuniões. em relação à definição de suas funções. A tônica dos programas é dada pelo conteúdo preventivista e educativo. a seus mantenedores institucionais e. . O que parece caracterizar o projeto de prática institucional do Serviço social é a ação de cunho educativo. 1. Os Congressos de Serviço Social na década de 40. A ação isolada é substituída por um trabalho coordenado e metódico. As demandas são vistas como manifestações de carências e não como direitos.  Temas Livres. Esses três Congressos refletem posição de diversos organismos que a nível internacional constituem as principais agências de divulgação e de incentivo à utilização dos métodos relacionados ao Desenvolvimento de Comunidade. Participam deles um grande número de pessoas que não são Assistentes Sociais e entidades que empregam Assistentes Sociais. . “modernizando-se” tanto o agente como o teórico. Há também um alargamento das funções do Assistente Social. Expansão da Profissão e a Ideologia Desenvolvimentista Na década de 60 que o Serviço Social sofre acentuadas transformações. O Congresso dividiu-se em três seções:  Ensino de Serviço social. realizado no Chile.  Temas Oficiais.Em 1945. no Rio de Janeiro e tem como tema “O Serviço Social e a Família”. Estas condições amadurecem dentro de um quadro mais amplo. 1. no sentido da prosperidade. ocorre o I Congresso Pan-Americano de Serviço Social. ambiente de paz social e política e segurança. A ideologia desenvolvimentista se define pela busca da expansão econômica acelerada. que evidenciam uma evolução no status técnico da profissão. Assumem relevo os métodos de Serviço Social de Grupo e de Comunidade. riqueza. Esse Congresso é considerado como o marco da influência norte-americana no Serviço Social Latino-Americano. grandeza material. de expansão e de afirmação do desenvolvimento como ideologia dominante. soberania. em direção a tarefas de coordenação e planejamento. métodos e técnicas. Em 1949 realiza-se o II Congresso Pan-Americano de Serviço social. a influência norte-americana. portanto. nesse período. Esses organismos estão. dentre os diversos motivos do Serviço Social. no plano de ensino. Os Seminários desempenham papel importante para o Desenvolvimento de Comunidade se solidificar como uma nova opção de política social para atuar nos meio sociais marginalizados. tendo por estratégia a Educação de Adultos. tem como tema central “Desenvolvimento Nacional para o Bem-Estar Social”. Ao centrar a perspectiva de integração das massas marginalizadas nas virtualidades da expansão econômica. restringe-se o espaço para um reforço da ação assistencial e. essencialmente. a possibilidade de sua incorporação àquelas políticas. O Serviço Social de Grupo começa a fazer parte dos programas nacionais do SESI. se mostrar alheio a esta ideologia. O II Congresso Brasileiro de Serviço Social e a Descoberta do Desenvolvimentismo O II Congresso.Destaca-se. até o fim da década de 50. Aprofunda-se. O desenvolvimentismo juscelista (Juscelino Kubstchek) de subordinar a resolução da totalidade dos problemas à expansão econômica. As atividades vinculadas ao Desenvolvimento de Comunidade apresentam. baseados em técnicas de Desenvolvimento de Comunidade e perseguem a modernização da agricultura brasileira. LBA etc. Tem também caráter preparatório para a XI Conferência Internacional de Serviço . franco desenvolvimento. votandose o Serviço social ainda mais para o tratamento. com o surgimento de uma série de organismos – inspirados na experiência norte-americana – e realização de importantes seminários. 1. realizado em 1961. iniciando uma nova abordagem que relaciona estudos psicossociais do participante com os problemas da estrutura social e utilização de dinâmica de grupo.. nas linhas da psicologia e psiquiatria. dos desajustamentos psicossociais. . com atuação especial no social. O Congresso se realiza sob o impacto do crédito de confiança dado à instituição pelo então presidente da República e. Os métodos e as técnicas ligados ao Desenvolvimento de Comunidade e Desenvolvimento e Organização de Comunidades são apresentados como formas de participar das mudanças. também. no saneamento ou na eliminação das situações de “carências” da população cliente. em Petrópolis/RJ. da Conferência de Punta Del Este. Em face de essa realidade. Outros fatores também contribuem para que a categoria passe a questionar o conteúdo de sua prática:  A crise do “milagre”. cada vez mais evidente. de se intervir profissionalmente. marcada para 1962. de forma objetiva. Situam-se dentro das proposições da Aliança para o Progresso. em 1961. Realizado num ano em que a vitória de Jânio Quadros representava a possibilidade da formação de uma nação forte. procurando sintonizar seu discurso e métodos com as preocupações das classes dominantes e do Estado. As conclusões e as recomendações desse Congresso permanecem no campo da modernização – facilitar o movimento do capital e a permanência das relações capitalistas – da valorização do desenvolvimento com um mínimo de desestabilização. o Serviço Social refugia-se numa discussão interna sobre seus elementos técnicos metodológicos.Social. Portanto. Considerações Finais A partir da impossibilidade. numa nova estratégia desenvolvimentista. em relação à “questão social”. o Serviço Social deve readaptar-se. O Serviço Social é situado como instrumento de consecução dos objetivos nacionais e deve trabalhar as diversas modalidades de atuação em Desenvolvimento de Comunidade. presidente de honra do Congresso.  O reaparecimento dos movimentos sociais.  Estão.  A base social do Serviço Social cada vez mais constituída a partir dos estratos médios da sociedade. as Ciências Sociais.  Escolas de Serviço Social incorporando. . assim. em seus currículos.  O pensamento e a prática de uma parcela a Igreja. postas as bases para o movimento de renovação do Serviço Social.  O surgimento de um sindicalismo operário independente.  A adaptação do discurso e do projeto de prática institucional à correlação de forças presentes nas diversas conjunturas históricas.
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