A Questao Demográfica

March 24, 2018 | Author: fmtrindad713 | Category: Census, Portugal, State (Polity), Science, Science (General)


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A questão demográficaNem sempre os poderes instituídos mostraram igual preocupação ao longo dos tempos em saber qual o verdadeiro efectivo das populações dos domínios sobre os quais superintendiam. Esse pouco interesse era resultado de múltiplos factores que impendiam sobre a organização política e social nas diversas épocas. Desde um Estado medieval desprovido de meios para se constituir como uma entidade de poder centralizado, poder este que se encontrava atomizado e disperso pelas várias autonomias/autoridades senhoriais, até um estado absolutista que, concentrando em si todo o poder e autoridade, enfermava da falta de meios, técnica e método para levar a bom porto tal tarefa. No entanto é de tempos muito anteriores ao surgimento da era estatística a percepção que os poderes adquirem de que as contagens gerais da população abrem a possibilidade de funcionar como mecanismos de controlo político. O que passou através da poeira do tempo foram informações dispersas, que visaram objectivos concretos e imediatistas, de amplitude limitada e aplicação de âmbito circunscrito. Como tal, as fontes de informação disponíveis não permitem traçar de forma segura um quadro rigoroso da população portuguesa anterior à segunda metade do século XIX O primeiro recenseamento digno deste nome efectuado em Portugal data de 1864. Antes dele, o que se fez foram cômputos de «fogos», «moradores», «vizinhos», «besteiros», pagadores de impostos civis e eclesiásticos, «vassalos» do rei e «privilegiados» da coroa. Muitos róis e «numeramentos». Uns foram gerais, extensivos a todo o território, e outros parcelares ou regionais. Todos visaram objectivos específicos, geralmente militares e fiscais, e nenhum teve por finalidade o levantamento exaustivo da população. De modo que se torna praticamente impossível a sua utilização em termos estatísticos. De resto, desapareceram quase todos – uns porque foram sendo sistematicamente destruídos à medida que iam perdendo actualidade e interesse, caso dos contribuintes para os “pedidos” régios, e outros porque a voragem do tempo os levou. Para lá da inexistência nas pessoas e nos poderes da preocupação de preservar memórias do efémero, acrescia o facto de esses cômputos, vistos os seus critérios e finalidades, serem de molde a prejudicar infalivelmente os interesses de alguém – arrolados, seus herdeiros, municípios, fidalgos, cleros, funcionários e até “arquivistas”. 1 Porém, a causa principal das perdas foi a sua eliminação pura e simples a partir do momento em que deixaram de ter interesse – um pragmatismo que hoje se lamenta. O que ficou é muito pouco: um rol de besteiros do conto de todo o País datável do primeiro quartel do século XV e uma dezena de listas, quase todas da mesma época e outras tantas inquirições relativas a parcelas do território e cronologicamente situadas entre 1335 e 1385. Em termos estatísticos sem qualquer valor. É, todavia, comummente aceite pelos estudiosos da Demografia Histórica que o Numeramento de 1527 mandado realizar por D. João III representa o primeiro esforço sério efectuado pelo poder central no sentido de conseguir realizar um levantamento à escala nacional da população reinol. A importância deste documento é tanto maior quanto se sabe que ele terá servido de base a uma reorganização administrativa do país. E essa capacidade demonstrada pelo poder político de então atesta um grau de centralização e de eficácia burocrática e organizacional desse mesmo poder a um nível jamais alcançado anteriormente. É o que se pode constatar nesta passagem da carta enviada aos corregedores: “E posto que em alguns logares de vossa correiçom nom entreis a fazer correiçam também se fará neles a dita diligêmcia.” 2 No entanto, e antes da exposição dos dados contidos no Numeramento, é necessário proceder a algumas reflexões e comentários prévios. Em primeiro lugar, convém destacar que o documento em apreço tem por objecto, na sua generalidade, os concelhos existentes, descendo ao pormenor da aldeia e mesmo de casais, quintas ou herdades. Não faz qualquer ligação à administração religiosa, isto é, o inquérito não aborda a população em termos de freguesias ou paróquias, ficandose pelo quadro da administração civil do território. É o que se depreende da seguinte passagem da missiva de D. João III aos corregedores: “…folgarey de saber quantas çidades vyllas e lloguares há em vossa correiçom e os nomes delles e assy quantos moradores nelles há vos encomendo e mando que llogo tanto que esta vos for dada mandes huũ escprivam (…) [que] yyra a cada huũa das çidades e vyllas e lloguares dessa Armindo de Sousa, 1325-1480: Condicionamentos básicos in História de Portugal, dir. de José Mattoso, vol. II, Círculo de Leitores, Lisboa, 1993, pág. 331. 2 Júlia Galego e Suzanne Daveau, O Numeramento de 1527-1532: Tratamento cartográfico, Lisboa, Centro de Estudos Geográficos, 1986, pág. 12. Foi utilizada pelas autoras a leitura do original feita por Magalhães Collaço. 1 12. O termo da vila era vasto. pág. no actual concelho de Albergaria-a-Velha: Albergaria. Lamas. Miguel) remetem para 894 4 vizinhos no corpo da vila. bispo de Coimbra.. O facto de surgirem viúvas consideradas à parte dos peões conduz à inevitável conclusão que os valores apresentados no Numeramento se referem a fogos e não a pessoas tomadas individualmente. 679 peões e 168 viúvas. Anselmo Braamcamp Freire. 5 No actual concelho de Águeda: Águeda.8 a 4. Vagos. no actual concelho de Anadia: Boialvo. Águeda. Mata e Póvoa do Gago. Figueira. para além destes ainda existiam 9 clérigos e 2 fidalgos. Randam. perfazendo um total de 566 vizinhos. 1908. Povoação da Estremadura no XVIº século. pp. a meio caminho entre Aveiro e Esgueira pertencia a Ílhavo e os seus moradores (37 segundo o documento) estão contabilizados neste último concelho. Canelas. parte da Trofa. vol. Loure. Taipa e Vilar. Miguel em quatro. 40 escudeiros. Admitindo um ratio de 3. Para citar apenas alguns: Albergaria-a-Velha. no actual concelho da Oliveira do Bairro: Furadouro. op. A razão para tal divisão teria sido o elevado número de habitantes da freguesia original que se revelava incompatível com o seu bom governo. 241-284. era descontínuo e dispersava-se por vários dos actuais concelhos. no actual concelho de Sever do Vouga: Doninhas. Pardieiro. Casaínho. no actual concelho de Vagos: Carregosa. Corgo de Cima. Seria necessário um estudo demográfico aprofundado a partir de dados dos registos paroquiais que possibilitasse uma estimativa mais precisa. 5 Curiosamente o lugar de Sá. Destes 7 eram cavaleiros. cit. Pedaçães.comarca e em cada huũ deles escrepvera quantos moradores ha no corpo da çidade ou vylla e arraballdes e quantos no termo decllaramdo quantas alldeas ha no dito termo por seus nomes e quantos moradores ha em cada huũa delas e asy quantos vyvem fora dellas em qyintas casaes e erdades fora das ditas alldeas. Belazaima. Será necessário esperar pelo ano de 1572 para se ter nova informação sobre os quantitativos populacionais da vila. Sebastião datada de 10 de Julho do dito ano. Fontão. Júlia Galego e Suzanne Daveau. O Numeramento de 1527-1532…. Os resultados para a vila de Aveiro (então composta por apenas uma freguesia . no actual concelho de Aveiro: Aveiro. Vila Verde. Talhadas e Vide. Anadia e Mealhada. 6 Naturalmente um valor estimado a partir de observações e cálculos feitos para outras paróquias. S. tendo ficado concluída em 1532. Por provisão de D. João de Loure. João Soares. Ouca e S.5 habitantes por fogo 6 conclui-se que o corpo da vila de Aveiro teria entre 3500 a 4100 habitantes. obtém autorização para dividir a freguesia de S. 3 4 . Mouquim.” 3 A satisfação do pedido régio ocorreu pelo dilatado espaço de quase cinco anos. Sever do Vouga. VI. no actual concelho da Mealhada – Arinhos.S. ainda que em momento ligeiramente diferente deste. in Archivo Histórico Portuguez. D. Oiã e Perrães. Varziela. o que veio a acontecer na prática em Setembro de 1572. Valmaior. Romão. o que perfazia o total acima indicado. compreendia inúmeros lugares. Também em José Reinaldo Rangel de Quadros. e nos bairros dentro dos muros. e pela largueza de todas as ruas.. 1941. as dos nobres com frontespícios de sacadas.” (pág. João Soares são demasiado “redondos” para serem dignos de crédito. feitas de pedra que lhes veio por mar. 1984. naturalmente. Os números apresentados por D. dizem os antigos.O total apontado era de 11365 pessoas de comunhão. brasão e freguesias antigas. 182-194. Veja-se particularmente o Apêndice Cartográfico. Tomando como referência os valores adiantados pelo Numeramento mesmo para Aveiro e seu termo (1460 moradores) tratar-se-ia de um crescimento demasiado forte para tão pouco tempo: mais que duplicaria a população em 45 anos (e não considerando os menores de 12 anos). Memória sobre Aveiro de Pinho Queimado. Uma descrição das igrejas e capelas da freguesia de São Miguel de Aveiro no século XVIII”. 53. pois não se acham pedreiras tão perto pela terra: as dos vulgares por branqueadas e vistosas. João Soares que “Visitando nós a paroquiall Igreja de Sam Miguell da villa d' aveiro achamos aver nella dois mill visinhos e mais de homze mill almas de cura. op. pág. 10 Veja-se a nota anterior. vol. Comissão de Coordenação da Região Centro. afora muita gente extrangeira que nella de continuo reside” 8 Todavia o número avançado revela-se pouco credível. Também Cristóvão de Pinho Queimado o refere na sua Memória sobre a vila de Aveiro. VIII. Diz-se na provisão de D. Aveiro e a sua provedoria no século XVIII (1690-1814) – estudo económico de um espaço histórico. cit. III. 89-100. é necessário ainda (e de forma alguma o pormenor não é despiciente) levar em consideração o “espaço urbano” propriamente dito. in Arquivo do Distrito de Aveiro. e claros das praças. vol. de grandes manchas de quintais e cercas mesmo no interior da parte muralhada. é a villa por toda a " parte desabafada e alegre. Este seria composto maioritariamente por casas térreas as quais frequentemente tinham consigo pequenos quintais ou aidos (enxidos 9 ) que. e gelozias de diversas côres. por documento onde se contesta o encabeçamento das sisas. e villa nova apenas se achará algum sem jardim com agua: por esta causa. e datado de 1686. 9 Tal é frequentemente referido no Tombo da Confraria dos Pescadores e Mareantes de Nossa Senhora de Sá. 10 Os valores tornam-se ainda mais duvidosos quando para 1575. onde refere: “Correspondem a estes edifícios com que a villa se ennobrece as casas sumptuosas dos particulares. Talvez seja suficiente recuperar a “Memória…” de Pinho Queimado. condicionavam o espaço disponível e. pp. in Arquivo do Distrito de Aveiro. 1937. Cf. Aveiro – origens. Aveiro. 96). 7 o que significava que se encontravam excluídos não só os menores de 7 anos mas também uma parcela significativa dos menores de 12. por consequência. As plantas da cidade de Aveiro de 1780-1781 (aprox. datada de 1687 e republicada por Francisco Ferreira Neves. Inês Amorim. 182. pp. 7 . quasi todas. em particular as cartas nº 2 e 3. 1996. nesta época. se diz “…poiz he certo que sendo os moradores da ditta Villa de Auejro no tempo do primejro contracto de mais de Francisco Ferreira Neves.) revelam a existência. Coimbra. o número de moradores. 8 Francisco Ferreira Neves. Uma descrição…. pág. Paisagem Editora. frei José Miguéis Cardoso: “…os demais não tem mais que o que ganham Com que Se Sustentam mizerauelmente de tal maneira que em adoeçendo lhe mando a mujtoz tirar esmollas para se sustentarem. Talvez não tenha grande importância: é conhecida a tendência para o “arredondar dos números”. G. ibidem. pp. 293. 12 A. pág.dous mil e quinhentos fogoz se acha hoje em numero de mil e sete centos e des.Milenário de Aveiro – Colectânea de Documentos Históricos (1581-1792). 1959. da Rocha Madahil . ibidem. e Vera-Cruz. 292-293. 455) perfaz um total 1650 fogos 12 . G. 13 Frei Martinho de Melo e Albuquerque. Gonçalo também conhecida por Apresentação. G. 13 A.. Aveiro. Tomando o número de fogos apontado para 1685 (1710). cit.Milenário de Aveiro…. contabilizado a partir dos róis de confessados respeitantes a cada uma das quatro freguesias da vila (S: Miguel. Edição da Câmara Municipal de Aveiro. em prol do benefício do povo. 370. data do novo contrato. cit. prior da freguesia do Espírito Santo destaca que “a major parte deste numero he huma lastimoza. 275. segundo o pároco da freguesia da Apresentação. Uma diferença de 60 em relação ao valor referido na contestação. 375. da Rocha Madahil . ele não coincide com o total referido pelos diversos párocos nas suas declarações. op. S.” 16 11 A. 14 Idem. vol. Todavia esta discrepância (e também os comentários anexos dos párocos) talvez se possa explicar como uma tentativa de apresentar argumentos em favor da causa da redução do valor da sisa. Este. 450 fogos. pág 292. 15 Idem.” 15 Não fugindo do mesmo tom o prior da Vera-Cruz realça que apenas a “…menor parte podera uiuer de sua fazenda e agencia porque todos os maiz sam pobrissimos emtanto que seus filhoz e filhas andam pedindo ezmollas e não tem Com que se possam Sustentar nem fazer Seos Suffragios quando morrem. Espírito Santo. Miguel que “a major parte sam tam pobres e mizeraueis que os mais destes quando morrem ficam sem bens alguns dalma por não terem de que se lhe façam e eu e os padres da jgreja os emterram pelIo amor de Deoz.Milenário de Aveiro….” 14 Do lado norte da vila a situação é idêntica.. Diz o pároco de S. da Rocha Madahil . . O tom das declarações dos párocos realça as dificuldades da vida daquelas gentes. que consta por Rol dos Parrochos…” 11 O primeiro contrato realizado em 1575 aponta para cerca de 500 fogos mais que três anos antes. A “Memória sobre a vila de Aveiro…” de Pinho Queimado encarregar-se-á de lhe acrescentar mais 200. pág. e mizerauel pobreza que Somente uiuem de esmolas e emdustrias de Suas mãoz e trabalhos tanto que adoeçendo padeçem extremas necessidades de que muitos morrem por falta do neçessario. op. II. 16 Idem. 17 Se bem que provisórios estes resultados parcelares para a freguesia da Vera-Cruz podem indiciar tendências até aqui insuspeitas para os números globais da população referentes para já ao século XVII. Este permite a elaboração de um cálculo (ainda que grosseiro) do quantitativo da população tomando por base as taxas brutas de natalidade – um valor que se situará entre os 1500 e os 1800 habitantes nesta freguesia. No entanto trabalhos em curso poderão vir a lançar alguma luz sobre o assunto. entrecortada por duas situações de forte quebra – a primeira entre 1598-99 e a segunda estendendo-se por um espaço de 10 anos entre o final da década de 1630 e a seguinte. Se o primeiro momento de quebra nos baptismos se ficou a dever à epidemia de peste generalizada por toda a península Ibérica de 1598-99. para já. 1980. Nada mais que isso. Madrid. . 19 o segundo estende-se de finais da década de trinta e prolonga-se por 17 Quando a vila de Aveiro estava dividida em quatro freguesias. conforme se expôs. 18 As quebras no ritmo dos baptismos são devidas a factores razoavelmente conhecidos. Os poucos que existem não garantem qualidade nem oferecem confiança.. Admitindo um valor médio em torno dos 3. grosso modo. Las crisis de mortalidade n la España Interior (siglos XVI-XIX). a série. e que contradizem de alguma forma a documentação produzida na época e em momentos subsequentes a ela. não muito distante dos referidos 455 pelo vigário da Vera-Cruz. 19 Cf. Os primeiros revelam uma tendência para a estabilidade ao longo de todo o tempo em análise (1573-1672). baptismos e casamentos. Siglo Veitiuno Editores sa.São apelos ao coração do decisor sobre o valor a estipular pelas sisas para que não castigue ainda mais e com maiores encargos uma população já de si pobre e sofredora. O século XVII. o território que correspondia à freguesia da Vera-Cruz era. 243-294. apresentar alguns resultados parcelares referentes à paróquia da Vera-Cruz. A média anual de baptismos aponta para um valor em torno dos 60 por ano. revela subsequentemente um movimento de recuperação para a segunda metade da centúria que se pode considerar notável. É o que se pode aferir dos gráficos 1 e 2. Baseando as investigações nos livros de registo paroquial e empregando a metodologia de reconstituição de paróquias é possível. respectivamente. todo aquele que partia da actual rua de José Estêvão para nordeste em direcção a Esgueira. revelou-se escasso em números referentes à população. Particularmente pp. conhecida por “Peste Grande. Vicente Pérez Moreda. 18 Admitindo uma taxa bruta de natalidade (TBN) compreendida entre os 32‰ e os 40‰.8 habitantes por fogo chega-se ao número de 450 fogos. in História de Portugal. Gráfico 1: Movimento dos baptismos na freguesia da Vera-Cruz 100 Baptismos Média móvel de 7 anos Tendência linear 90 80 Baptismos 70 60 50 40 30 20 10 1672 1669 1666 1663 1660 1657 1654 1651 1648 1645 1642 1639 1636 1633 1630 1627 1624 1621 1618 1615 1612 1609 1606 1603 1600 1597 1594 1591 1588 1585 1582 1579 1576 1573 0 Anos 20 José Vicente Serrão. Círculo de Leitores. “O quadro humano”.quase toda a de quarenta. Foi. Após 1660. IV. de José Mattoso. vol. . dir. pp. 49-69. 1993. o culminar de uma fase de recessão ou de estagnação depois de cerca de 1620 [ter] atingido um máximo teórico. Vicente Serrão. 20 O que fica expresso pelo gráfico dos baptismos da freguesia da Vera-Cruz é de alguma forma coincidente com a análise de Vicente Serrão. segundo J. a população terá entrado num novo período de crescimento a um ritmo mais modesto que o anterior. sendo no entanto de destacar que a recuperação se iniciou de forma determinada ainda na década de 1650. Lisboa. A natureza desta quebra de nascimentos tema ver com as dificuldades económicas sentidas em todo o reino. assim. 21 procurando antes encontrar a justificação para este preconceito em outros motivos: “Aveiro é. taxa de crescimento quase imutável. a imagem duma ilha. “Fazer e desfazer um preconceito: o da mortalidade «excepcional» de Aveiro no séc. pelo menos por uma relativa estabilidade económica. Linear 25 Casamentos 20 15 10 5 1662 1659 1656 1653 1650 1647 1644 1641 1638 1635 1632 1629 1626 1623 1620 1617 1614 1611 1608 1605 1602 1599 1596 1593 1590 1587 1584 1581 1578 1575 1572 0 Anos O panorama oferecido pelos casamentos (gráfico 2 . pp. XVIII”. atracção limitada.aqui com os limites temporais de 1572-1662) é também animador – uma aparente instabilidade acaba por “esconder” uma tendência de longo prazo de crescimento. Ora os gráficos apresentados de alguma forma contradizem as afirmações feitas quer no século XVII quer em momentos posteriores. 1997. mesmo em termos demográficos – aglomerado limitado. se não por uma situação de desafogo.Gráfico 2: Movimento dos casamentos na freguesia da Vera-Cruz Casamentos Média móvel de 7 anos T. Tal só é possível (admitindo que o casamento de alguma forma reflecte a situação económica) a partir do momento em que existam condições para o surgimento de novos agregados familiares. 99-136. condições essas que passam. in População e Sociedade. não fazem de Aveiro centro «natural» – 21 Inês Amorim. Para o século XVIII Inês Amorim procurou desfazer este mito da “mortalidade excepcional” e do despovoamento da vila e cidade de Aveiro. o que leva a supor estarem por detrás do desenho catastrofista do panorama populacional outros interesses. nº 3. densidade baixa. . III. com urgência e rigor. 1706-1712. pp. assim como muitas outras recolhidas pelo autor. só na aparência é um novo ponto de referência em termos dos quantitativos populacionais. mais fácil. cit. fruto de um despertar do interesse sobre esta matéria por parte do estado absolutista. 114. fixador de migrações internas e mesmo externas. e Descripçam Topográfica do Famoso Reyno de Portugal…”. Estes começam a ser mais frequentes. nº 10 (1937). Logo. das autoridades religiosas e de académicos. 24 Na prática é um valor para o último quartel século XVII e. do Padre António Carvalho da Costa. administrativo e religioso que adquiriu – artifícios do poder político. um número demasiado “redondo” para ser tomado por fiável. o que se pode constatar a partir dos dados globais sobre a população de Aveiro para o século XVIII. os números repetem-se e recitam-se com frequência. a publicação. respondessem às questões colocadas. António Carvalho da Costa. tendo todos por fim a obtenção de uma imagem o mais aproximada possível da realidade do país. Memória sobre Aveiro de Pinho Queimado. Os párocos Inês Amorim. Aveiro contaria com 2700 vizinhos nas quatro paróquias da vila.” 22 É. e Descripçam Topografica do Famoso Reyno de Portugal…. 24 Francisco Ferreira Neves. para recolher toda a informação pertinente que servisse de ponto de partida à tarefa.. foi retirada da “Memória sobre a vila de Aveiro” de Cristóvão de Pinho Queimado. a partir de 1706. pág. Tomo II (1708). No entanto. Segundo os dados recolhidos e citados nessa obra. da “Corografia Portugueza. Lisboa. pág. pelo desenvolvimento multifacetado de um hinterland que pudesse competir com o peso de outros espaços que partilhavam áreas de influência – o discurso demográfico fazia parte da estratégia de afirmação espacial. 101. 22 23 . 89-100.nada disto se coaduna com o papel político. a recém-criada Academia Real da História iniciava os seus trabalhos tendo projectado escrever uma ambiciosa história eclesiástica e secular do reino. é então. “Fazer e desfazer um preconceito:…”. e datada de 1687. Em 1721. in Arquivo do Distrito de Aveiro. lançou por todo o país um inquérito aos párocos das diversas freguesias para que. esta informação. também ele. Corografia Portugueza. vol. na Oficina de Valentim da Costa Deslandes. não espaços naturalmente adquiridos. op. mesmo almejando fins diversos. 23 Todavia. de facto. perceber que os contemporâneos apontassem a desobstrução da Barra e a dinamização do porto de Aveiro como a única forma de transformar aquela cidade num centro naturalmente atractivo. geralmente. nomeadamente a obrigatoriedade da confissão e da comunhão. Fogos Hab.5 Maiores e menores de 7 anos Espírito Santo 1300 370 3. elaborado pelo pároco antes da Quaresma. Apenas S.14 Maiores e menores de 7 anos Os valores não são directamente comparáveis. Aveiro. já passada a Páscoa. Os frutos deste inquérito ficam expostos no quadro seguinte: Tabela 1: As informações paroquiais de 1721 Freguesia Hab. padre Manuel Simões Manso. Apresentação e S. da Rocha Madail. pp. o cura a freguesia da Apresentação.5 Pessoas de comunhão Apresentação 814 Vera-Cruz 1212 Maiores de 7 anos 385 3. 25 Miguel). O objectivo era controlar o cumprimento dos preceitos pascais pela população. Miguel 1297 370 3. incluía os menores de sete anos e revelava-se um notável instrumento de arrolamento da população de cada freguesia rua a rua e casa a casa. Tomando em consideração um valor ao redor dos 3. ou seja. o total de fogos arrolado para toda a vila ascenA. Muitas das vezes este instrumento de controlo da população. os nomes dos habitantes de cada fogo./Fogo Observações S. 151-160 (Vera-Cruz). I. G.4 a 3. Miguel e o prior da Vera-Cruz. nº 6 (1936). pp. o cabeça de cada fogo. . vol. frei Inácio da Cruz Mendes da paróquia de S.das quatro freguesias de Aveiro (frei Manuel Dias e Amaral do Espírito Santo. Miguel e Vera-Cruz se expressam nas mesmas unidades – “fogos” e “maiores e menores de 7 anos”.8 habitantes por fogo para a freguesia da Apresentação. a idade de todos os seus moradores e o grau de parentesco entre eles e o cabeça do fogo. uma vez que todas as informações se encontram datadas de Maio de 1721. Nele se indicavam. Alguns dos resultados apresentados basearam-se no Rol de Confessados de cada paróquia do próprio ano. n ° 1 (1935). 37-46 (Espírito Santo. e vol II. Em ambas a fonte de referência empregue para alcançar esses números foram os róis de confessados.“Informações paroquiais do distrito de Aveiro de 1721” in Arquivo do Distrito de Aveiro. . Manuel Coelho de Oliveira – de todos este último elabora as respostas mais completas) 25 cumpriram com brevidade o pedido que lhes tinha sido dirigido. com a sua obra Geografia Histórica de todos os Estado Soberanos da Europa.26 Vera-Cruz 1248 379 3.30 Apresentação 760 233 3. 571. II. naturalmente. Officina de Joseph António da Sylva. 29 Fica por esclarecer se estão contabilizados os menores de 7 anos. 2 volumes. cit. . Carvalho da Costa. e também razoavelmente distante dos valores apontados para cada uma das freguesias pelos párocos em 1685 – total de 1650 fogos (não é claro que os clérigos responsáveis por fornecer os números nesta data tenham utilizado para o efeito os róis de confessados respectivos). Geografia Histórica…. Lisboa.29 Um total de 1331 fogos e 4387 almas 29 . 26 No entanto o autor segue de muito perto a Corografia… de A.. Em 1732 surge novo dado sobre a população da vila. 107. clérigo regular e membro da Academia Real de História Portuguesa. outra proveniência – possivelmente um outro inquérito paroquial. É de crer que não e apenas se refira a pessoas de confissão./Fogo S. vol. referindo e repetindo no texto principal o valor de 2700 vizinhos aí apontados. op. Geografia Histórica de todos os Estado Soberanos da Europa…. 1736. 26 Luiz Caetano de Lima. O número de fogos calculado para 1721 – um valor mínimo em torno de 1339. pág. 28 Idem. sensivelmente metade. pág. Curiosamente não ficam muitos distantes da contagem efectuada para as informações paroquiais de 1721. É claramente um valor muito diferente. 28 Tabela 2: Os dados de 1732 Freguesia Habitantes Fogos Hab. Miguel 1148 347 3. 27 Os valores inseridos no anexo (e apresentados no quadro abaixo) terão. op. daquele que foi apontado por Carvalho da Costa/Pinho Queimado (2700 vizinhos para as quatro paróquias em 1687). Este é da autoria de D..30 Espírito Santo 1231 372 3. Luís Caetano de Lima. 27 Luiz Caetano de Lima. não está demasiado afastado deste de 1732 – 1331.deria a um valor compreendido entre 1339 e 1364. cit. 31 Inês Amorim. Miguel.O terramoto de 1755 forneceu o pretexto para a realização de um novo inquérito ao estado do país para avaliação dos estragos provocados assim como proporcionou o ensejo para uma actualização do conhecimento da população do reino. Câmara Municipal. “Memória paroquial de Aveiro de 1758: um inquérito promovido pela Coroa”. in Boletim Municipal de Aveiro. XXII (87). no caso da freguesia da Apresentação são indicados os menores de ambos os sexos. Neste caso não restam dúvidas de se tratar da população total uma vez que o relator clarifica serem “pessoas de todas as 30 Eduardo Costa. Quinta do Gato e o lugar de Sá) perfaziam um total de 175 vizinhos e 492 pessoas. 30 O terramoto para além dos estragos materiais não produziu qualquer vítima entre os habitantes da terra. Ao todo o conjunto totalizava 1047 fogos e 3316 pessoas. Os lugares e aldeias que eram pertença da freguesia da Vera-Cruz e que estavam separados dela (Presa Pequena. 123-136. in Arquivo do Distrito de Aveiro. Com os dados disponíveis elaborou-se o seguinte quadro: Tabela 3: As informações paroquiais de 1758 Freguesia Homens Mulheres Menores (h) Menores (m) Total S. Paulo Pedro Ferreira Granada responde ao interrogatório (detalhado quer sob o ponto de vista do eclesiástico quer sobre as coisas do foro civil) em nome de toda a vila. Das freguesias que constituíam o corpo da vila recolheu-se informação atinente a todas elas. 1994). Não há referência ao número de fogos mas surge a discriminação por sexos. vol. N." 23/24 (Dez. 13-24. Aveiro. Miguel 326 426 46 52 850 Espírito Santo 350 450 Apresentação 235 362 15 13 625 Vera-Cruz 425 540 Nestas informações 31 o prior da matriz de S. “O terramoto de 1755 no distrito de Aveiro”. 1956. pp. A informação encontra-se datada entre 8 e 12 de Maio de 1756. Aí tem oportunidade de expor os dados referentes à população. . Refere particularmente que no corpo da vila existiam 872 vizinhos (entendendo-se vizinho por fogo) a que correspondem 2824 pessoas. pp. . havidas as precisas notícias. assim como sobre o número de padres ao serviço da paróquia. Editorial Presença. 34 João Gonçalves Gaspar. Tendo o papa Clemente XIV pela bula Militantis Ecclesiae gubernacula de 12 de Abril de 1774. 14. nº 2161. 07/09/1973. quer para o ratio habitantes/almas parecem estar manifestamente deslocados e demasiado empolados. mas apartados desta. Os resultados fornecem preciosas informações sobre o estado das diversas freguesias. dentro do peremptório termo de seis dias primeiros seguintes dê e em carta selada remeta e faça entregar ao escrivão da Câmara Eclesiástica.idades“. pela freguesia da Apresentação o vigário frei Manuel Marques de Figueiredo indicou 222 fogos. “Memória paroquial de Aveiro de 1758…”. que esta subscreveu. A População Portuguesa no Final do Antigo Regime (1750-1815). 123. 32 33 . Para o efeito procedeu a um inquérito a todos os párocos para que “sem demora. António Freire Gameiro. o vigário encomendado. rendimentos. Miguel respondeu o prior frei Manuel dos Santos Pereira indicando 241 fogos. Poucos anos mais tarde. etc.pág. Nele os párocos eram indagados sobre vários assuntos de natureza religiosa. Separata do jornal de Aveiro Correio do Vouga. em 1765. Quer o valor encontrado para fogos. e seguintes. logo no ano seguinte o primeiro bispo para ela nomeado. Ano 43. D. A explicação mais plausível será estarem incluídos os lugares pertencentes ao termo da novel cidade. cit. ou seja. mesmo levando em conta os cálculos anteriormente referidos e aqueles outros que mais à frente se apresentam. padre João de Almeida Pinho indicou 340 fogos e. 32 Este valor coloca novamente os números da população do burgo praticamente ao nível dos do Numeramento de 1527. 33 atribui a Aveiro – cidade nova (com 4 freguesias) 1458 fogos e 7904 almas. pela da Vera-Cruz. erigido canonicamente a diocese de Aveiro. limites e confrontações.42 habitantes por fogo. Aveiro. Lisboa. 1974.. 1995. Com base nesses valores alcança-se a cifra de 3.16 moradores por fogo. pág. e almas etc.ª”. uma fiel e exacta informação jurada e de sua própria letra e sinal sobre os interrogatórios infra-escritos” 34 . 14. Em resposta às determinações episcopais pela freguesia de S. 5. Manuel José Perinlongue no seu “Mappas de Portugal. A ordem era taxativa e foi prontamente cumprida. ordenou o levantamento do estado da nova diocese. finalmente pela freguesia do Espírito Santo respondeu o vigário frei Inês Amorim. op. ou Padrão do número das Freguesias. o que não está demasiado afastado dos valores anteriormente considerados. A diocese de Aveiro no século XVIII – um inquérito de 22 de Setembro de 1775. os lugares da mesma e o número de fogos nela existentes. Transcrito por João Pedro Ferro. moradores. pág. cit. 37 efectuou-se um recenseamento. A população de Portugal em 1798…. no recrutamento de tropas para a defesa do reino. pág. quando solicita a colaboração dos párocos para a realização do censo que se aproximava: “A isso me animam exemplos auctorisados e respeitáveis. freguesias e fogos. que se fica a conhecer o envolvimento do clero em todo este processo. Fundação Calouste Gulbenkian. 149 e 269. rigorosa e global. Diz a referida provisão. António José Cordeiro uma 35 Joaquim Veríssimo Serrão. Centro Cultural de Paris. de interesse militar. A totalidade do número de fogos para as quatro freguesias ascende a 1166. numa contagem que atendendo aos meios de comunicação da época pode considerar-se. D. 37 Os dados relativos aos recenseamentos de 1801 e 1849 foram retirados de Luís Nuno Espinha da Silveira.unl. III. pp. para satisfazer as determinações do príncipe regente. 58. a dado passo. que ordenara para bem de seu real serviço a feitura de um mappa geral da povoação do reino. pág. 1970. Manuel Augusto de Sousa Pires de Lima. Lisboa. pág. expedia o sr. Um valor dentro dos parâmetros das anteriores contagens (com a excepção de 1765). O censo de Pina Manique. A população de Portugal em 1798. naturalmente. cidades. vilas. por ordem Diogo Inácio de Pina Manique. É ainda possível consultar no site http://www.” 35 Os resultados obtidos para a cidade de Aveiro dão conta da existência de 1141 fogos. Miguel. da cidade de Aveiro. 360 na freguesia do Espírito Santo. Os recenseamentos da população portuguesa de 1801 e 1849: edição crítica. Em 2 de Janeiro de 1802. bem mais próximo dos valores de 1758. É por intermédio de uma provisão de 6 de Agosto de 1877 do vigário geral de Aveiro. que se pretendia ser exaustivo. da população portuguesa. para o ano de 1801 no vol. 2001. XI 36 Joaquim Veríssimo Serrão. 219 na da Apresentação e na Vera-Cruz totalizavam 300 fogos.Manuel Rodrigues de Figueiredo registando 363 fogos. que se revelou fundamental para o desenvolvimento deste inquérito. assim distribuídos: 243 em S. 711. Intendente-Geral da Polícia de Lisboa teve como “finalidade imediata. Ainda antes do virar do século surgiu novo documento com novos quantitativos da população do reino e. tanto quanto possível. As páginas onde se apresentam os dados para a cidade de Aveiro encontram-se. Para o processo de recolha de dados recorreu-se à colaboração dos párocos das inúmeras freguesias que compunham o país. Paris..pt/atlas . Esse documento surgido no ano de 1798. I.fchs. Mas os seus dados têm o mais alto valor na medida em que dão a conhecer a população por comarcas. op. 36 A viragem para o século XIX trouxe novas informações sobre os quantitativos populacionais das várias freguesias. para o censo de 1849 os dados encontram-se no Vol. Instituto Nacional de Estatística. Em Janeiro de 1802. 26 Apresentação 894 201 4. população presente e ausente e o movimento anual de nascimentos e óbitos. Para o efeito que de momento importa retiveram-se os dados para o número de almas/habitantes e fogos. Imprensa Nacional.62 Os valores encontrados neste recenseamento de 1801 39 merecem uma cuidada observação e um confronto com as fontes que presumivelmente lhes terão dado origem. Partindo do princípio provável de que a recolha dos elementos se tenha processado com base nos livros paroquiais de baptismos e óbitos e a contagem de efectivos e ausentes a partir dos róis de confessados.24 Total 3833 1059 3. tese . Os recenseamentos da população portuguesa de 1801 e 1849: edição crítica.88 Espírito Santo 1128 345 3. Lisboa.” 38 Obtidos inicialmente ao nível da freguesia. 40 38 População no 1º de Janeiro 1878./Fogo S. procurava-se obter resultados sobre os quantitativos finais da população. um nível de profundidade de conhecimento nunca antes alcançado. estrutura etária. 2001 40 Tal foi possível através da metodologia de reconstituição de paróquias para o antigo concelho de Eixo (cf. Tabela 4: O recenseamento de 1801 Freguesia Habitantes Fogos Hab. XXXIV-XXXV.44 Vera-Cruz 914 282 3. poder-se-á. detectar algumas divergências. a divisão por sexos. eventualmente. 39 Todos os dados referentes aos censos de 1801 e 1849 encontram-se no trabalho de Luís Nuno Espinha da Silveira. Francisco Messias Trindade Ferreira. Todas as informações estão datadas do mês de Janeiro do ano de 1802 e os dados referem-se ao ano de 1801. pág. Viver e morrer no território do antigo concelho de Eixo. Miguel 897 231 3. Visava-se. Instituto Nacional de Estatística. Para além do número de fogos. Lisboa. declarando o sexo e idade de todas as pessoas. 1881. encarregando-lhes a exacta e verdadeira relação do número de fogos e de pessoas que há em cada freguezia.circular aos reverendos párochos. os dados foram de seguida agrupados a nível de concelho. no fundo. No entanto é trabalho que ainda não se encontra realizado. os livros de registo paroquial e os róis de confessados. Se os livros paroquiais se podiam considerar actualizados quando se procedeu ao levantamento requerido (Janeiro de 1801). ou seja. policopiada.Tabela 5: A estrutura etária segundo o censo de 1801 Idades S. o mesmo não se poderia dizer dos róis de confessados. Para não elaborarem um rol de confessados antes do tempo previsto. os párocos recorreram a um expediente prático. imprescindíveis para realizar os cálculos da distribuição etária da população. Serviram-se do rol do ano anterior (1800). Como explicar esta diferença? Certamente levando em consideração que. Miguel. Pela mesma ordem de ideias. salvo na freguesia de S. os ausentes são referentes ao ano de 1800: a discrepância surge daí. Miguel Espírito Santo H M 0-7 67 52 82 76 60 7-25 138 156 196 204 25-40 111 136 105 40-60 77 81 60-80 32 80-100 +100 Totais H M Apresentação H M Vera-Cruz H M 61 27 10 148 199 158 162 152 105 124 174 190 117 129 71 94 73 89 47 43 57 18 20 26 30 0 0 3 4 0 4 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 425 472 546 622 402 502 458 481 Os dados da estrutura etária da população apresentada neste censo e os totais insertos no quadro 4 para estas freguesias não são coincidentes. pois ainda era relativamente cedo para a Páscoa. de doutoramento. 2005) onde se concluiu existirem algumas disparidades como as mesmas também aqui se verificam. Aveiro. . Este facto é verificável pela incongruência existente entre os efectivos da população do referido quadro e os totais que se obtêm da simples adição dos valores apresentados no quadro 5. os párocos deveriam recorrer aos instrumentos que tinham à sua disposição. para responder ao inquérito proposto. Nascim. por vicissitudes várias. A excepção é a freguesia da Apresentação cujo valor sobressai das restantes. ultrapassa os 34% em S. Tabela 6: Censo de 1801 – Fogos e movimento natural da população Freguesia Fogos Habit. os 51% na Apresentação e 38% na Vera-Cruz. 13. os 47% no Espírito Santo. Miguel. Regressando ao quadro 5.13% da população e os menores de vinte e cinco anos 45./fogo S. cumpre destacar algumas observações interessantes.calcularam as diferenças entre baptismos e óbitos para cada um dos sexos. o que revela uma população razoavelmente jovem. 1801 terá sido um ano pouco benevolente para a população do burgo.2% em S.29 1059 3868 137 177 3. O seu peso. Miguel.87 Espírito Santo 345 1162 47 53 3. os 13. referente à distribuição etária da população.36 Apresentação 201 882 23 45 4. O primeiro realce vai para a população menor de 25 anos. realça-se ainda o facto de todas as freguesias apresentarem valores negativos nesse particular.9% na Vera-Cruz. A percentagem de menores de 7 anos oscila entre os 13. Miguel 231 895 31 33 3.65 Total Ainda deste censo foi possível recolher algumas informações sobre a população da cidade. no contexto da população das freguesias. levar a bom porto qualquer outro recen- .5% no Espírito Santo. De facto.4 na Apresentação e os 3.95%. Apesar de várias tentativas para elaborar um novo recenseamento do reino tão não foi possível. Ressalta logo na primeira observação o saldo fisiológico negativo do movimento natural da população – 40 nascimentos a menos que o total dos óbitos.38 Vera-Cruz 282 929 36 46 3. Óbitos Hab. Os valores médios para o ratio de habitantes por fogo apresentam-se dentro da linha habitual. Em termos globais das quatro freguesias. os menores de sete anos representam 11. actualizando de seguida os efectivos declarados no quadro do movimento da população. fácil é perceber que não existem diferenças muito significativas quanto à qualidade global. 711. Instituto Nacional de Estatística. só tinham sido encontrados os mapas de 1845. dizendo que. o governador civil de Aveiro escreveu ao Ministério do Reino. Tabela 7: Resultados do recenseamento de 1849 42 Freguesia Fogos Habit. op. mas também algumas constâncias. I. 42 Luís Nuno Espinha da Silveira. pág. A explicação para o desaparecimento dos restantes é na verdade rocambolesca. Os recenseamentos da população portuguesa de 1801 e 1849: edição crítica. inclusive. estavam os mapas estatísticos da população do distrito até ao ano de 1843. lhe fossem remetidos. cit. 41 Apenas em 1849 se avançou para novo recenseamento da população portuguesa um pouco nos mesmos moldes do de 1801. “Em Setembro de 1858. depois de "um minucioso exame dos papéis".55 Total Os valores apresentados por este novo recenseamento demonstram algum progresso da população em relação a 1801. Tendo em consideração a falta que os dados estavam a fazer. vol. entre os documentos que tinham desaparecido da sua repartição. É o caso do número de fogos arrolados que apesar do seu crescimento e juntamente com o crescimento da população (mais 1121 indivíduos) se mantém dentro dos valores do ratio habitantes/fogo anteriormente estimados. tal como os do censo de 1801 o foram em 1802. Hab. solicitava que aqueles mapas.18 Vera-Cruz 630 2521 78 38 9 4. pág. aquando dos acontecimentos de Maio de 1846. Lisboa.00 1404 4989 237 141 31 3.(…) Em Dezembro de 1858 o Conselheiro Franzini. Luís Nuno Espinha da Silveira. explicando que./fogo Glória 774 2468 159 103 22 3. 70 e seguintes. Cf.. na qualidade de ex-presidente da Comissão Estatística respondeu. vol. Os seus dados terão sido recolhidos em 1850.seamento. Há uma referência a levantamentos de dados da população para Aveiro. Nascim. III. Pode naturalmente levantarse a questão da qualidade destes dados uma vez que ainda não se tinha entrado na “época estatística” dos recenseamentos da população. Os recenseamentos da população portuguesa de 1801 e 1849…”. Óbitos Casam. A conclusão de Teresa Rodrigues foi então a seguinte: “Quando avaliamos as vantagens relativas de um censo sobre o outro. a fim de serem copiados. Sobre eles fizeram-se trabalhos de análise e comparação aturados que permitiram chegar a uma opinião bastante favorável mesmo levando em conta todos os condicionalismos e dificuldades da época. em devido tempo enviados ao Ministério. O volume dos casamentos surge pela primeira vez num recenseamento. 41 . Em termos de crítica actual. 2001. os totais apresentados no censo de 1801 parecem menos perturbados por atracções face a determinados algarismos no momento das declarações. dadas as dificuldades e confusões 43 Luís Nuno Espinha da Silveira. é o grau de qualidade muito aceitável de qualquer deles(…)” 43 O recenseamento de 1864 marca definitivamente a entrada na época da estatística das populações (ou estatística demográfica) em Portugal. menos sujeitos a pequenos enviesamentos de recolha. estados civis. mas sem resultados práticos. abrangendo sexo. os resultados dos testes efectuados sobre os volumes do movimento natural de baptismos. População – Censo no 1º de Janeiro de 1864. idades. Os recenseamentos da população portuguesa de 1801 e 1849 (…). 44 Estatística de Portugal. vol.. Imprensa Nacional. neste censo. e merece destaque.de forma. e naturalidade. op. 122-123. Também a nível de conteúdo. conformou-se com as conclusões dos congressos internacionaes de estatística de Bruxelas e Paris. Até esta data todos os trabalhos efectuados sobre estatística das populações enfermavam de erros vários que lhes invalidavam o carácter científico: ou não abrangiam todo o território nacional. independentemente do fim ao qual se destinavam. Neste aspecto. com distinção de nacionaes e de estrangeiros. . promover o inquérito aos fogos existentes. o relator especifica claramente que “O censo de 1864. neste caso.” 44 Tentou-se ainda. I. tomando por base a população de facto. A aplicação do método nominal e simultâneo (foi escolhido o dia 1 de Janeiro de 1864 para a sua realização) conferiu a este recenseamento condições técnicas de validade que nenhum anterior lograra. segundo os princípios emanados de diversos congressos internacionais sobre a matéria. sem objectivos mais profundos ou fins específicos. No relatório que precede a exposição dos resultados do recenseamento de 1864. A um segundo nível sobressaem também as percentagens de população menor de 7 anos. encarando esta de forma verdadeiramente científica. (…) o que nos parece irrefutável. presentes ou ausentes. por sexo e idade. residentes ou transeuntes. pág. as quais parecem mais conformes à realidade esperada para a época do que as indicadas para algumas regiões do país em meados do século. como sejam o número de fogos e almas. óbitos e casamentos parecem. 1868. V. pp. a contagem efectuada em 1849 tem vantagem relativamente ao recenseamento de início do século XIX. Mas o inverso se verifica quando tentamos avaliar o grau de fiabilidade dos campos relativos ao estado da população. profissões ou condições sociais. cit. ou não passavam de simples contagens de população. Lisboa. 46 Estatística de Portugal. para além de inúmeras comparações passíveis de realizar entre mundo urbano e rural ou entre concelhos vizinhos. dos armazéns. op. e mais com a de ausentes as que accidentalmente não estavam no seio da família de que faziam parte. Foi. o recrutamento militar. População – Censo no 1º de Janeiro de 1864. População – Censo no 1º de Janeiro de 1864. que o censo tomou por ponto de partida.” in Estatística de Portugal. op. como a sua distribuição por sexos e idades. era reduzir o censo a mera operação estatística inapplicavel.” 47 Este recenseamento avançou com outros elementos importantes para a caracterização da população. etc. V. No entanto. com esta nota. mas também as estranhas ou transeuntes.” 46 Também não se esqueceu de clarificar os conceitos que estavam em causa e a forma concreta de aplicação dos mesmos. cit. Sublinhado acrescentado ao original. impossibilitaram a classificação de números que nenhuma confiança inspiram. não era racional nem justo. XIII. XIII. pág. o relator alerta para o facto de existirem problemas com o arrolamento dos fogos: “As listas de fogos deviam recolher dados que habilitassem a distinguir e contar as casas habitadas e as deshabitadas. que não habilitaram a apuramento. 47 Idem. n’um concelho ou n’um districto. ou de encargos. etc. Na mistura e confusão que de tudo isto fizeram. e subtrair a soma dos transeuntes. e sem utilidade prática. no entanto. N’esta parte foram tão equívoca e tão deficientemente preenchidas. Para que o censo podesse servir a todas as necessidades da administração. sem conhecer a população legal.. o relator expressou claramente essa preocupação num simples parágrafo: “Conhecer simplesmente a população de facto n’uma freguezia. . possível dar ao rol as casas destinadas à habitação. por agora apenas interessam os quantitativos mais gerais da população.por parte dos aplicadores do inquérito. considerando o resto expressão da população legal. Tal é particularmente visível na definição dos vários tipos de população e na justificação da opção pelo conceito de referência de população legal ou de direito: “Derivar taes consequências do simples estado da população de facto. pág. pág. não só foram recenseadas nos boletins de famílias as pessoas presentes.. cit. op. porque contingências puramente accidentaes e fortuitas podem alterar a população dos logares. como o eleitoral.. Apesar de com o decurso do tempo os conceitos demográficos se terem alterado no seu âmago (mantendo largas vezes a mesma designa45 Na Introdução ao censo de 1864. Só se exigira nota do que respeitava as casas destinadas a habitação. como a repartição das contribuições. cit. Para sobre estes elementos reconstituir a população de direito. Sublinhado acrescentado ao original. das officinas. 45 Reafirmando de alguma forma o carácter científico desenvolvido deste recenseamento e procurando demarcá-lo de cômputos anteriores. com exclusão do tráfico rural. onde pelas leis a população é para os cidadãos base de direitos. seguiu-se a fórmula de sommar a população de facto com os ausentes. 81. verificam-se. o conjunto urbano regista um ratio de 4. de facto Transeuntes Ausentes Pop. Tabela 8: O recenseamento de 1864 1864 Pop. no entanto. a tradicional ligação à faina marítima conduzia à partida sazonal dos homens para viagens mais ou menos prolongadas.ção) optou-se por tomar como referência de base a população presente não só porque foi a partir dela que se construíram os primeiros recenseamentos mas também por ter sido o conceito que mais estável se manteve – até 1950.8% para a da Glória. foi possível construir uma base de dados com valores de população presente (1864 .5%. nº 32 (2002). devem ser apenas considerados como indicativos. 5-50. É. Instituto Nacional de Estatística.03. representa pouco mais de 4. 49 Sofia Leite.transeuntes) e relacionando-o com o número de fogos. op. 49 Estatística de Portugal. legal Fogos Glória 3170 64 25 3151 814 Vera-Cruz 3205 37 137 3305 740 Total 6375 101 162 6456 1554 Tomando em linha de conta o conceito de população presente (população de facto . nesta segunda metade de XIX. 6.pág. bem provável que os resultados enfermem de erros com origem na recolha dos elementos que deviam servir de base a este recenseamento e. pp.1950) e de população residente (1960 2001) corrigidos (…).28 e na Glória de 3.1% da população legal na freguesia da Vera-Cruz e somente 0. 48 . cit. População presente e população residente segundo o sexo e a idade através dos censos. perfeitamente comparáveis entre si. in Revista de Estudos Demográficos. No cômputo global o resultado fica pelos 2. População – Censo no 1º de Janeiro de 1864. Não será de estranhar o maior número de ausentes na freguesia da Vera-Cruz. Tal pode ser verificado neste censo onde a freguesia da Vera-Cruz regista 104 homens ausentes contra apenas 15 na da Glória. 48 Da aplicação dos conceitos acima expostos às freguesias que integram o núcleo urbano do concelho de Aveiro resultou o quadro abaixo. O número de ausentes também não aparenta ser significativamente exagerado. como tal.. valores relativamente elevados para as duas freguesias: na VeraCruz um ratio habitantes/fogo de 4. é possível dizer que. como por exemplo a observação da instrução de nível elementar. Com os dados deste recenseamento foi também possível saber a incidência do analfabetismo em ambas as paróquias.5%. Resumindo: depurado de algumas imprecisões e minudências desnecessárias. procedendo às correcções consideradas necessárias e introduzindo novos elementos quantitativos e qualitativos sobre a população. a população registou um aumento não muito grande (mais 477 habitantes de facto. o número de ausentes na altura do recenseamento aumentou de forma substancial em termos absolutos – mais 196 elementos. mas apenas mais 681 de direito ou na população legal). de facto Transeuntes Ausentes Pop. como foi o caso do conceito de população de facto e população legal. neste hiato de tempo. Os resultados deste recenseamento para a cidade de Aveiro expressam-se no seguinte quadro: Tabela 9: O recenseamento de 1878 1878 Pop. O número de fogos manteve-se embora se registem modificações em termos de quantitativos em cada uma das freguesias. Esta nova avaliação seguiu de perto os passos da primeira. Revela-se interessante comparar o resultado deste novo censo com o do anterior. o recenseamento da população do 1º de Janeiro de 1878 representou um passo mais no conhecimento da realidade portuguesa. idiotas). segundo o sexo.Catorze anos após realizou-se um outro recenseamento geral da população. quer sob o ponto de vista da população quer dos fogos. Em traços largos. Os conceitos básicos e fundamentais transitaram de um censo para o outro. A título de curiosidade . surdos-mudos. aproveitando a experiência do censo anterior e alargando-se a novos campos de observação. a sistematização de alguns grupos de idades ou o estudo de grupos com características especiais (cegos. legal Fogos Glória 3414 13 123 3524 822 Vera-Cruz 3438 17 192 3613 732 Total 6852 30 315 7137 1554 No que diz respeito às freguesias que constituíram o núcleo urbano de Aveiro é de apontar um ligeiro aumento da percentagem de ausentes mais significativo para a freguesia da Glória – 3. surdos. com a intenção de procurar o sentido da evolução dessas paróquias nos catorze anos que mediaram as duas realizações. que para a Vera-Cruz – 5.3%. 8.. de acordo com os conceitos vigentes na época. já na Vera-Cruz os números são ligeiramente mais elevados: 59% para os homens e 80. 50 O número de habitantes por fogo conheceu um aumento ainda que ligeiro em ambas as freguesias – ratios de 4. a população de facto.. 52 Na prática tratou-se. 51 Esta foi substituída. pág. 1896. Petersburgo. isto é. addicionadas as pessoas momentaneamente ausentes e deduzidas as que só temporariamente se acham presentes na ocasião do recenseamento. pela de população de residência habitual ou população domiciliada. tão só. Imprensa Nacional. Lisboa.67 para a Vera-Cruz. XVII: “Por população de direito ou legal quiz significar-se a que tem o seu domicílio legal no lugar do recenseamento.” 52 Censo da População. Neste censo foram introduzidas algumas modificações à classificação da população.registe-se: na freguesia da Glória o analfabetismo masculino está na casa do 56.8% enquanto o feminino se encontra em 76.8%. quer em termos de realização. Este aumento é sobretudo resultado de alterações registadas nos dois elementos que compõem este ratio: a população presente e o número de fogos – uma vez que o primeiro valor aumentou e o segundo se manteve inalterado a repercussão sobre o aumento do ratio é inevitável. op. para efeitos de contagens. 1881. qualidade e quantidade de informação recolhida.. pág. em particular no congresso de S.13 para a Glória e de 4. Lisboa.. em que ele se realisa. tendo como objectivo produzir um instrumento de análise da população o mais rigoroso e científico possível. quer ainda na alteração de alguns conceitos empregues nos recenseamentos anteriores. Mais doze anos se passaram até à realização de um novo recenseamento geral da população. distinguindo-se desta forma da população de facto. de uma questão de nomenclatura. O efeito mais visível nos resultados apresentados no censo foi o desaparecimento da categoria de “transeuntes”. População no 1º de Janeiro de 1878. Imprensa Nacional. pág. XVI e XVII: “A população domiciliada comprehende todas as pessoas cujo domicílio habitual é no lugar do recenseamento. Cf. nomeadamente o abandono da designação de população legal. Este novo censo (de 1890) trouxe consigo algumas alterações significativas.8% para as mulheres.” Por população de facto ou presente entendia-se neste recenseamento o “total das pessoas presentes no lugar do recenseamento no próprio momento. cit. Estatística de Portugal. pois os dados referentes à população domiciliada (ou de residência habitual) já se encontram depurados destes elementos.” 50 51 . quer estejam presentes ou ausentes. Censo da População do Reino de Portugal no 1º de Dezembro de 1890. poderá ainda ter havido uma sobreavaliação do número de fogos no decorrer do censo de 1864. de acordo com os critérios adoptados internacionalmente. Não importa agora e de momento individualizar quer em termos técnicos quer de outras especificidades os resultados de cada censo realizado. Esse terá sido o último momento onde uma crise demográfica (algo similar às do antigo regime demográfico) produziu efeitos de carácter significativo na população.Uma de várias novidades deste recenseamento foi a alteração da data da sua realização. Antes importa destacar a evolução das freguesias que constituem a cidade ao longo dos últimos cento e trinta e sete anos correspondentes à fase da estatística demográfica. Não há verdadeiramente momentos de quebra no crescimento com excepção do que se refere ao recenseamento de 1920. Os valores globais para cada uma das freguesias e para a cidade ficam expostos nas tabelas e gráfico que se seguem: Tabela 10: Evolução da população da cidade de Aveiro pelos Censos (I) Freguesia 1864 1878 1890 1900 1911 1920 Glória 3170 3414 4313 4652 5188 4431 Vera-Cruz 3205 3438 4547 5327 6335 5866 Total 6375 6852 8860 9979 11523 10297 Tabela 11: Evolução da população da cidade de Aveiro pelos Censos (II) Freguesia 1930 1940 1950 1960 1970 1981 5694 7371 8027 9755 9439 9721 10688 13484 Vera-Cruz 7041 7978 9078 7870 8342 9065 Glória Total 1991 7471 2001 9015 12735 15349 17105 17625 17781 18786 18159 22499 Quer as freguesias tomadas de forma individualizada quer o conjunto do território urbano apresentam uma tendência de crescimento da sua população. que se irá manter até ao recenseamento de 1930. O verdadeiro impacto desta pandemia na cidade . O já tradicional 1 de Janeiro foi substituído pelo 1 de Dezembro. Esse momento coincidiu com a epidemia de gripe pneumónica (e impropriamente chamada gripe espanhola) que entre Março de 1918 e Maio do ano seguinte. inclusive. Este aspecto particular pode levar a antever as dificuldades sentidas pelas populações de épocas anteriores em reagir a acontecimentos funestos do mesmo calibre. esta foi criada inteiramente à custa de território e população que pertencia à VeraCruz. Jacinto em 16 de Fevereiro de 1955. Para mais actuando sobre uma população que sofria as agruras de um período de guerra (a Iª Guerra Mundial) e do subsequente pósguerra.Total 25000 Habitantes 20000 15000 10000 5000 2001 1991 1981 1970 1960 1950 1940 1930 1920 1911 1900 1890 1878 1864 0 Anos A quebra nas linhas das séries do gráfico acima é bem notória. Nesse ano de 1960 S.5 vezes.de Aveiro ainda não está estudado mas é de crer que terá provocado um número significativo de óbitos. talvez não seja . De 1920 em diante a tendência é de uma subida generalizada. A cidade. a Vera-Cruz não chega a triplicar os seus efectivos. A ligeira quebra na freguesia da Vera-Cruz no censo de 1960 deve-se à criação da freguesia de S. Gráfico 3: Evolução da população da cidade de Aveiro pelos Censos Glória Vera-Cruz Aveiro . cresce 3. Há no entanto alguns pequenos “sobressaltos” nas linhas do gráfico 3 que merecem alguma explicação. no seu cômputo global destas duas freguesias. Jacinto apresentava 1160 habitantes. Apesar do recenseamento se ter realizado em 1920 a população ainda não tivera tempo para se recompor e recuperar dos efeitos perniciosos da epidemia. A freguesia da Glória é aquela que mais cresce: mais que quadruplica a sua população em relação a 1864. Não se passa por Aveiro. A estrada real 53 Inês Amorim. não se tem procurado outras fontes nem feito estudos novos. Finalmente 1985 marca a última divisão das freguesias urbanas. Enquanto tal não acontece e com o pouco do que já se sabe será possível avançar uma hipótese explicativa para a compreensão desta questão. Jacinto. Aveiro estava “fora do mapa”. “Fazer e desfazer um preconceito: o da mortalidade «excepcional» de Aveiro no séc. No entanto pouco de novo tem sido trazido à colação – a repetição e a recitação de fontes têm sido sistemáticas. integrando-a num contexto mais vasto e procurando perceber a evolução populacional dentro das dinâmicas da população. A urbe estava fora das linhas de comunicação principais do reino. cujo território (e consequentemente a respectiva população) foi desanexado das freguesias da Glória. Tal como no caso anterior de S. neste caso concreto. coerentes e sobre o concreto da população. vai-se a Aveiro! Terá sido este e desde praticamente sempre o problema desta população e desta terra. . O gráfico espelha o facto com um abrandamento da tendência de crescimento. não se pode esquecer que a 18 de Janeiro de 1969 foi criada a freguesia de S. Esgueira. Conclusão A problemática em torno da população ao longo dos tempos é um assunto recorrente em todas as abordagens que tratam da história de Aveiro. XVIII”. Mas. Logo no censo de 1991 esta nova freguesia regista 6983 habitantes. É certo que os resultados desse censo foram baseados cálculos de estimativa e daí não serem um reflexo verdadeiramente fiel da realidade. Foi com a criação da freguesia de Santa Joana. in População e Sociedade. completamente à custa da freguesia da Glória que deu o território e a população. a 1 de Janeiro desse dito ano. estimou-se em 2520 o total dos habitantes da nova freguesia. Bernardo. A quebra dos valores registados para a Glória (sensivelmente menos 300 habitantes) leva a crer que a freguesia-mãe continuava o seu crescimento. O gráfico espelha ainda um ligeiro abrandamento na freguesia da Glória em 1970.este o único factor explicativo mas contribuiu de forma importante para a quebra populacional registada na freguesia. Realça-se o esforço feito por Inês Amorim 53 em procurar recolocar a questão no seu devido lugar. 1997. nº 3. Bernardo. Em todo este processo a freguesia da Vera-Cruz foi a que mais contribuiu com território e população para a criação de novas áreas administrativas. No entanto ainda muito há por fazer. Vera-Cruz e S. 114. XVIII”. fixador de migrações internas e mesmo externas. ou a elevação a sede de bispado e à categoria de cidade por D. José que trouxeram a solução dos problemas e desencravaram os bloqueios. pelo desenvolvimento multifacetado de um hinterland que pudesse competir com o peso de outros espaços. o mar e a barra. cit. Ela veio mas foi preciso “forçar” a sua passagem já que uma vez mais estava destinada a passar mais ao largo. Era este o único desfecho que os homens de então esperavam: “a desobstrução da Barra e a dinamização do porto de Aveiro (…) a única forma de transformar aquela cidade num centro naturalmente atractivo. Seria o século XIX a trazer-lhes uma primeira resposta minimamente eficaz – a reabertura da barra em 1808 de forma permanente e razoavelmente estável como não o fora até então.Lisboa-Porto (ou estrada mourisca) passava-lhe ao largo.” 54 Não foram a promoção administrativa a “Vila Notável” de Filipe I. Daí o desdobrarem-se em realçar as dificuldades por que passavam pedindo que lhes minimizassem custos e relembrando grandezas passadas sem no entanto deixar de olhar para a sua (única) porta de saída – a ria. foram elaborados dentro deste quadro: servir um objectivo mais amplo num quadro mais alargado.(…) O discurso demográfico fazia parte da estratégia de afirmação espacial. tiveram a percepção clara de ser esta última a solução para os seus problemas e. pág. Inês Amorim. Não era nas funções administrativas ou religiosas que estava a solução. Muitos dos elementos disponíveis sobre a população da vila. nem seria por aí que se atrairia e fixaria mais gente. nunca deixaram de apelar e pressionar o poder para que nela interviesse. 54 . com áreas pantanosas e/ou alagadiças que lhe dificultavam as comunicações o burgo debatia-se com problemas significativos para o seu desenvolvimento e bem-estar económicos. percebeu-se rapidamente que a “estrada de ferro” era aquilo que faltava para recolocar Aveiro no mapa. um único acesso por terra durante todo o ano – e somente para sul. por isso. particularmente nos séculos XVII e XVIII. “Fazer e desfazer um preconceito: o da mortalidade «excepcional» de Aveiro no séc.. Não terá sido difícil perceber aos homens de então que a excentricidade geográfica aliada às dificuldades de comunicação impostas pela natureza e um alheamento natural dos poderes públicos lhes cerceavam as possibilidades de um progresso que desejavam. uma vez que os restantes eram cortados durante o período invernal. ciclicamente eram recordados e chamados a terreiro conforme convinha. as vias de penetração para o interior também se lhe escapavam. E com ela veio o progresso e o crescimento da cidade. op. E também lhe trouxe uma segunda solução – o caminho-deferro. certamente. E desse convívio terá ficado a memória e uma certa saudade. Miguel. que lhe limitavam o crescimento Aveiro apenas refloriu quando conseguiu romper com o isolamento a que esteve votada. . A sua presença frequente na vila também terá. A atenção que deu à vila consubstanciada no erguer das hoje desaparecidas muralhas. aos ditames de uma Natureza nem sempre benévola e abandonada pelos poderes políticos. poderão ter impulsionado a vila para uma época de prosperidade que terá durado algumas décadas. contribuído. nos privilégios concedidos à vila. na edificação do mosteiro de S. No fundo Aveiro teve a atenção do poder e conviveu de perto com ele. Mas isso foi antes do Numeramento de 1527. Afectada por “crises demográficas”. A população reflectia isso mesmo: uma baixa densidade demográfica e uma taxa de crescimento diminuta. na ampliação da igreja de S. aos pescadores e à Confraria dos Pescadores e Mareantes de Nossa Senhora de Sá. Domingos. duque de Coimbra e senhor de Aveiro. Entregue a si própria e à cupidez de uma nobreza parasitária. E é provável que tal tenho ocorrido durante a regência do Infante D. Aveiro viveu um longo período de estagnação. Pedro. E foi uma luta de séculos. como tantas outras localidades.É bem possível que a vila tenha conhecido uma época de progresso – não se constroem mitos a partir do nada.
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