A Perspectiva Interseccional de Lelia Gonzalez

March 18, 2018 | Author: Rafael Marino | Category: Feminism, Ethnicity, Race & Gender, Sociology, Racism, Race (Human Categorization)


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1A Perspectiva Interseccional de Lélia Gonzalez Flavia Rios e Alex Ratts Apesar De travarmos Grande embate E nesta arte Sermos Para leigos Segmento anônimo Apesar De constituirmos Uma força E há quem torça Para que do racismo Não sejamos Antônimo Apesar de tudo Continuaremos Enfrentando os males A exemplo De Lélia Gonzalez Nosso sinônimo Néthio Benguelai 1. Trajetória, ascensão educacional e experiência de racismo Lélia de Almeida Gonzalez (1935-1994) nasceu em Belo Horizonte, Minas Gerais e migrou com a extensa família para o Rio de Janeiro, então capital do país, sob a proteção financeira do irmão mais velho, jogador de futebol no Flamengo. Com a ajuda familiar e incentivos financeiros de uma família de classe média branca para quem trabalhava na adolescência, ela tornou-se a única entre os seus irmãos a atingir um elevado grau de escolaridade. Diplomou-se em História, Geografia e Filosofia na Universidade da Guanabara, atual Universidade Estadual do Rio de Janeiro. Tornou-se professora secundária e posteriormente seguiu a carreira docente de terceiro grau, ocupando cadeiras em importantes estabelecimentos de ensino superior fluminenses, a exemplo da Pontifícia Universidade Católica e Universidade Estadual do Rio de Janeiro. Gonzalez experimentou ascensão social via formas expressas de embranquecimento, isto é, realizou um casamento inter-racial, estudou em boas escolas onde aprendeu os gostos das classes médias e seu estilo de vida. Fez amigos no seio do estrato médio carioca e adotou sua forma de viver e sentir a vida, como o gosto pela bossa nova, a preferência por roupas e parda. no Brasil. tendo para isso todos os artifícios econômicos e sociais aprendidos no convívio com seus colegas não-negros. Nesse sentido. uma experiência que a enegreceu. época em que Lélia Gonzalez iniciou seus primeiros escritos ensaísticos acerca das relações de poder e de opressão do negro e da mulher no Brasil. o pensamento de Gonzalez é devedor. como ela gostava de dizer acerca das relações raciais em seu país natal: não se nasce negro. roxinha dentre outras. pois. ocupacionais e culturais relativos à naturalização das relações entre classe. marrom. Ao parafrasear a sentença de Simone de Beauvoir. ou. sua trajetória e seu pensamento têm muito a dizer tanto sobre nossas ideologias nacionais com suas formas não tão sutis de racismo. Foi justamente essa postura de desnaturalização que tornou seu discurso e suas práticas irreverentes até mesmo para os círculos políticos mais progressistas que frequentava. Sua biografia é bem ilustrativa disso.2 cortes de cabelo à moda “dos anos dourados”. ela conseguia explorar os significados sociais. mulata. a confrontação cabal de que. Com este exemplo corriqueiro. assim como sobre o pensamento contrahegemônico que ela ajudou a construir no Brasil do final do século XX. torna-se. A famosa pergunta que usou diversas vezes em discursos para plateias feministas expressa isso: “a patroa está?”. defenderia Lélia Gonzalez durante todo seu percurso intelectual. Gonzalez a um só tempo nos propõe uma versão não essencialista das raças − mostrando a possibilidade de reclassificação social − e revela a dificuldade de se tornar negro(a) num país que apregoa a democracia entre os grupos raciais. incluindo o alisamento capilar e o uso de perucas. raça e gênero. O racismo foi. . sua experiência pessoal com o preconceito e a discriminação pode ser entendida como parte das motivações que a levaram a ingressar na luta política contra o racismo no Brasil. ao mesmo tempo em que propaga o branqueamento social e estabelece lugares sociais com base em atributos adscritos por cor e sexo. Defrontada com a recusa e a rejeição ao seu matrimônio com uma pessoa de tez clara e ascendência europeia. Para ser fiel aos seus dizeres bem ao jeito brasileiro: “a gente nasce preta. Em que pesem essas dimensões subjetivas para o seu engajamento político. sobretudo. Não raras vezes Lélia foi confundida como empregada doméstica em sua própria casa. mas tornar-se negra é uma conquista”ii . longe de ser uma estratégia de superação de racismo é. uma de suas pensadoras diletas. a naturalização dos lugares sociais se representa mediante a hierarquização por sexo e raça. da rede de movimentos sociais em que se engajou em meados dos anos de 1970. bem como a maneira como essas categorias se articulavam na experiência social da mulher negra. A experiência de ascensão social. Era uma forte candidata ao ingresso no mundo dos brancos ilustrados – parafraseando Florestan Fernandes−. na verdade. gênero (este tratado à época como sexo) e classe. a produção intelectual da autora se deslocou dos ensaios políticos em direção à abordagem cultural. entre 1978 e 1988. Gonzalez foi crítica de ambos. a qual estava fortemente influenciada pelas mobilizações coletivas nacionais e internacionais que animaram aquele período. Suas principais contribuições intelectuais foram. Tais mobilizações questionavam o regime de Estado. a partir do qual floresceram pensadores fortemente enraizados em movimentos sociais e diretamente envolvidos no processo de democratização. qual seja: Amefricanidadevi. As instituições tradicionais de formação e consagração intelectual. O movimento negro que ganha amplitude nacional naquele período guarda para si muitas dessas características. que com suas lutas alargavam pouco a pouco o restrito espaço público não estatal. afirmando-se. como vanguardas “contra-hegemônicas”viii. muitos deles. particularmente nas áreas em que foram gestadas ideias críticas em forte consonância com a práxis política. tais como as academias de letras e os institutos de ciência. desenvolvida na sociedade civil. o sexismo e a exploração capitalista e quando articula as identidades de raça. por um lado. por outro. . produção e legitimação de conhecimento. mas também antecipou algumas abordagens que posteriormente se denominaram de interseccionaisiii. Observamos isto quando ela associa o racismo. Intelectualidade negra na democratização brasileira No período em foco ampliou-se o campo intelectual brasileiro. culminando na década de ouro dos movimentos sociais brasileiros. 2. Foi assim que emergiram novas expressões de intelectuais orgânicos − para tomar de empréstimo a formulação de Antonio Gramsci (1979)vii − dos movimentos sociais brasileiros. a construção original de uma categoria transnacional capaz de abarcar a diáspora negra nas Américas. e. bem como as universidades passaram a coexistir com outra forma de organização.3 Com um trânsito fluente entre o movimento negro e o movimento feminista. Essa talvez seja uma das principais motivações para o crescimento dos interesses acadêmicos e políticos na produção intelectual de Lélia Gonzaleziv. Em linhas gerais. a crítica radical ao pensamento social brasileiro e à cultura nacionalv. Seus escritos são mais bem entendidos à luz da sua trajetória pessoal e profissional. além de seu pertencimento a uma rede ativista formadora de uma intelectualidade negra e feminista no processo de democratização. destacando-se seus trabalhos que relacionam as categorias mencionadas. até mesmo mantendo uma intelectualidade própria. Nesse sentido. Nesses espaços buscam inserir a problemática do negro no Brasil. a exemplo da Princesa Isabel. Nesse acerto de contas com a historiografia predominante no país. mas também pela afirmação de formas e símbolos de resistência à dominação escravista. Lélia Gonzalez (1935-1994). eram retomadas figuras importantes para a construção de um repertório político. entre outros – é exatamente a necessidade de desconstrução do mito da democracia racial. No plano doméstico. o republicanismo de José do Patrocínio. bem como o sentimento de injustiça social e o desejo de transformação vindos da população negra em geral e de seus grupos articulados. Trata-se da geração que tomou para si o grande desafio de traduzir as ideias políticas do seu tempo. vendo no ativismo as bases para a elaboração de uma crítica radical àquela autoimagem do país espelhada pelo discurso de harmonia das raças nos trópicos. Nessa história contestada. Nesse sentido. reelaborada não apenas pela retórica da vitimização. das quais Zumbi ganha centralidade. passaram a ser temas recorrentes no discurso da intelectualidade negra dos anos 1970 e 1980. particularmente a experiência dos africanos e sua descendência durante o regime de escravidão. lideranças brancas do contexto emancipatório perdem centralidade para as formas de organização e lutas políticas de negros e libertos. os intelectuais negros buscaram confrontar e até negar o lugar e o papel da abolição da escravatura no processo de emancipação dos negros. as ações rebeldes e não institucionais passam a ganhar mais proeminência. Hamilton Cardoso (1954-1999). do preconceito e. da discriminação racial no paísxi. contrastadas às formas organizativas no interior do sistema político. Joel Rufino (1941-). Clóvis Moura (1925-2003). nas quais se envolvem no ambiente político de contestação à Ditadura Militarix. seja por meio da denúncia das formas de preconceito e discriminação. seja pela construção de uma identidade coletiva circunscrita na categoria negro. Assim. o consenso normativo que unia os intelectuais negros – tais como Eduardo de Oliveira e Oliveira (1924-1980). sobretudo. como também alguns dos mais ilustres articuladores da campanha abolicionista tiveram seus papéis repensados. pautada pelo sofrimento e a expropriação. Não só figuras monárquicas foram duramente rejeitadas. As lutas dos escravizados. a exemplo .4 Um traço comum a essa intelectualidade negra é a origem em famílias de classes baixas e médias urbanas. a busca de uma identidade passava pela ressignificação da história brasileira. a formação acadêmica nas principais instituições de ensino superior. Abdias do Nascimento (19142011). valendo-se da formação de coletivos políticos e eventos públicos nos quais buscavam debater o problema do colonialismo intelectual e políticox. bem como as diversas investidas judiciais de Luiz Gama em defesa da liberdade negra. Beatriz Nascimento (1942-1995). Uma compreensão poderia ser extraída: a grande transformação poderia ser feita no âmbito cultural. sujeito do supostosaber. Acho que não dá para aceitar isso como verdadeiro. com suas estórias. Desse arsenal simbólico. ela também fez menção a esse ponto explicitando sua perspectiva em relação à figura da mãe de leite no período escravista: De acordo com opiniões meio apressadas. coube aos ativistas e intelectuais selecionar e ressignificar representantes legítimos da causa negra. que assume contornos significativos nos textos e reflexões da autora: Ao nosso ver. a própria africanização da cultura brasileiraxv. a mãe preta representaria o tipo acabado da negra acomodada. consequentemente. E é justamente por isso que não se pode desconsiderar que a mãe preta desenvolveu suas formas de resistênciaxvi. Uma figura emblemática na produção dessa autora é a Mulher Negra. poder-se-ia sugerir uma verdadeira revolução silenciosa metaforicamente apresentada por Gonzalez: o subalterno como sujeito que promovia alterações na linguagem e na cultura daquilo que veio a se chamar Brasil. . particularmente no que toca ao modo como pensam a agência escrava e suas formas de resistência armada no período escravistaxii. Em artigo escrito para a Folha de São Paulo. oferecendo a face ao inimigo. não há o lugar de simples vítima para esse grupo social. Localizadas no seio de um pensamento que quer compreender e ao mesmo tempo transformar a realidade. passaram para o brasileiro “branco” as categorias das culturas africanas de que eram representantes. pois. Mais precisamente coube a mãe preta. esses símbolos que marcam a nova guinada política negra durante o processo de redemocratização do Brasilxiii. A necessidade imperiosa de reavaliar o papel das mulheres negras no processo de formação nacional brasileira é flagrante nos seus escritos. imagem ambivalente em diferentes momentos da história política xiv . a africanização do português falado no Brasil (o pretuguês como dizem os africanos lusófonos) e. o nosso volksgeist.5 das obras de estudiosos como Clóvis Moura (1981) e Décio Freitas (1978). Para Gonzalez. a “Mãe Preta” e o “Pai João”. Sobretudo quando se leva em conta que sua vida foi levada com muita dor e humilhação. a trajetória intelectual de Lélia Gonzalez espelha nuanças dessa crítica social que valem a pena ser trabalhadas em contraste com os interlocutores explícitos e implícitos na conversa conflituosa travada naquele período. Situada nesse espectro político. Consciente ou não. Cabe destacar a figura da mãe preta. São. que passivamente aceitou a escravidão e a ela respondeu de maneira mais cristã. referências importantes para essa geração. criaram uma espécie de romance familiar que teve papel importante na formação dos valores e crenças do povo. a sua bagagem educacional pesaram a seu favor e da posição social que ela ocuparia no ativismo. O mesmo potencial de resistir no fazer do cotidiano era visto pela autora. Teoria e Debate. alicerces da pirâmide social do Brasil. fundamental para os esforços de todas as pessoas oprimidas e ou exploradas.6 Crítica às heranças escravistas ainda persistentes nas estruturas sociais e culturais brasileiras. filosofia ou ciência política. financeira e. que descolonizariam e libertariam suas mentes”xviii. ela preferia ver nessas mulheres possibilidades silenciosas de transformação histórica. de tal modo que a posição social dessa mulher foi fundamental para a transmissão de significados culturais não dominantes. Esses intelectuais são autores de numerosos trabalhos feitos geralmente em forma de ensaios. com baixa escolaridade. Lua Nova). É nesse sentido que a trajetória de Lélia Gonzalez é marcada pela inserção em movimentos sociais e populares contestatórios ao regime autoritário. trabalhadoras manuais. especialmente. Soma-se a isso o fato de ela ter pelo menos uma década a mais de idade que a maior parte dos militantes que se engajaram nos primórdios da luta negra contemporânea. Até mesmo porque. Intimados a fundamentar uma identidade para o . como já disse Faoro (1997). a relativa estabilidade profissional. O perfil dessa intelectualidade se fez expressar à luz do que bell hooks sugeriu: “o trabalho intelectual é uma parte necessária na luta pela libertação. É nessa chave interpretativa que se encontram os intelectuais do movimento negro. “o pensamento político é uma atividade: a atividade é território da prática”xvii. Lélia Gonzalez se recusa a pensar que as mulheres negras restringiram-se à acomodação social durante o período colonial e imperial. na atualidade. Não sendo propriamente ideologia. Embora tenham sido figuras altamente oprimidas pelas estruturas sociais. apreendidas aqui pela lógica do cotidiano. em mulheres anônimas. o pensamento político se constitui pelo intervalo entre o ser e o dever ser. além das revistas de ciências humanas dirigidas por grupos de esquerda que apostaram nestes grupos como instrumento que permitiria a formação de uma cultura democrática (casos de Versus. Por se tratar de contexto de grande mobilização social. No vão entre esse emaranhado de ideias e a ação coletiva surge um pensamento político comprometido com a práxis. que passariam de objeto a sujeito. donas de casas. coube a intelectuais como Lélia Gonzalez a difícil tarefa de compreender as possibilidades de ação e o papel social das mulheres negras no curso transformador da história. as margens para agenciar formas de interpretação da realidade foram usadas. Longe de pensá-las no eixo da alienação ou da acomodação. Trata-se de um conjunto de escritos encontrados na imprensa dos movimentos sociais (a exemplo de Mulherioxix e Jornal do MNU) e das organizações partidárias. Ademais. Mariza Correia. em suas palavras: “Irmãos negros. de suas organizações e da produção de discursos contestatórios ao nacionalismo brasileiro. o processo democrático em curso ainda guardava lugar para a utopia: caso a democracia se efetivasse. na formação de seus quadros. a exemplo dos movimentos de mulheres de áreas populares. numa efetiva democracia. ela e sua geração de ativismo tiveram que apresentar uma definição identitária que simultaneamente rebatesse as críticas externas ao movimento e apaziguasse as idiossincrasias de algumas práticas e discursos dos militantes. especialmente do livro A integração do negro na sociedade de classes. que Lélia Gonzalez e sua geração se nutrem para suas reflexões sobre a articulação dessas duas categorias sociais. o tema da raça pôde ser problematizado. porque no dia que esse país for uma democracia.7 movimento social. Raça. sexo e classe: o pensamento interseccional de Lélia Gonzalez A relação entre raça e classe tem certa tradição no interior das intepretações sociológicas realizadas no Brasilxxv. Esta obra teve tanto impacto sobre a intelectualidade negra da . o nosso movimento é um movimento político”xx Os círculos nos quais Lélia Gonzalez esteve presente levaram-na a pensar em processos amplos e decisórios de nosso país. Do mesmo modo. das favelas. onde se via a frequente presença de Benedita da Silvaxxii. Somente com a recepção da produção intelectual do feminismo negro norte-americanoxxiv e com a inserção dela nesses círculos intelectuais e ativistas. ao apresentar uma reflexão sobre a experiência do feminismo no eixo Rio-São Paulo. o fez no movimento de mulheres. certamente haveria igualdade entre negros e brancos. sobretudo. este último pelo advento do racismo. lutemos para transformar efetivamente este país numa sociedade igualitária. Mas é dos estudos de relações raciais do chamado Projeto UNESCOxxvi e. como o estabelecimento da democracia e o desenvolvimento do capitalismo. fala de “uma cegueira estrutural na sociedade brasileira” para pensar a questão racial xxiii. atuando na formação de coletivos femininos negros em morros cariocas. participando de eventos do movimento feminista. Lélia Gonzalez engajou-se no movimento negro. de estrato médio e com formação acadêmica. de Florestan Fernandesxxvii . da escola sociológica paulista. Em sua concepção. lógico que ele será uma democracia racial”xxi . Conclamava todos os negros a um espírito de solidariedade e fraternidade a fim de promover uma luta contra processos de opressão. como o imperialismo e o colonialismo. Na formulação de Gonzalez: “O nosso movimento não é um movimento epidérmico. 3. Gonzalez reflete sobre período posterior – o contexto de transição democrática − fortemente influenciada pelo ambiente de crise econômica. em suas franjas. particularmente quanto aos processos discriminatórios na conformação das classes no Brasil: Nesse momento. isto é. quando escreveu sua tese. em que o modelo desenvolvimentista militar entrava em falência. Claro está que. forte informalização do mercado de trabalho. a opressão racial faz-nos constatar que mesmo os brancos sem propriedade dos meios de produção são beneficiários do seu exercício. Outra influência vinha do sociólogo argentino Carlos Hasenbalg. às margens do sistema capitalista. na estrutura de classes. implicam nas recompensas materiais e simbólicas mais desejadas. em outros termos. havia uma grande mobilização para a redemocratização do país. Isso significa. por exemplo). que esteve muito próximo das lideranças negras durante a formação do Partido dos Trabalhadores. Essas perspectivas estruturalistas. estabelecendo São Paulo como o centro irradiador do capitalismo no país. a maioria dos brancos recebe seus dividendos do racismo a partir de sua vantagem competitiva no preenchimento das posições que. estivesse se referindo ao início da modernização brasileira. Mas na verdade. ela se interessava tanto pela ideia de que a democracia racial era um mito autoritário da sociedade brasileira quanto pela constatação do autor de que os negros no Brasil foram absorvidos precariamente na sociedade de classes. alimentada pela inflação galopante. particularmente o segmento feminino. havia grande frustração social. poder-se-ia colocar a questão típica do economicismo: tanto brancos quanto negros pobres sofrem os efeitos da exploração capitalista. Embora Florestan Fernandes. indicando transformações no regime político. Assim ela expressa o seu entendimento acerca da articulação entre o fenômeno do racismo e as transformações da sociedade capitalista. enquanto o capitalista branco se beneficia diretamente da exploração ou superexploração do negro. excetuando sua .8 redemocratização. No plano econômico. Era nessa conjuntura econômica que Lélia Gonzalez via a situação da população negra. aumento da violência e crescente precarização das condições de moradia. Da mencionada obra de Fernandes. como durante a mobilização social pela constituinte e pelo centenário da abolição contestadaxxviii. Gonzalez rejeitou todas as interpretações funcionalistas sobre a população negra no processo de transição para a sociedade de mercado. pelas altas taxas de desemprego. Em contrapartida. sejam as vindas de Fernandes ou as de Hasenbalg. com sua tese sobre Discriminação e desigualdades raciais no Brasilxxix . Na década de 1980. auxiliaram Gonzalez a pensar o lugar social e simbólico do negro na estrutura social brasileira. a exemplo da própria militância política de Florestan. que se pessoas possuidoras dos mesmos recursos (origem de classe e educação. entre outros) e na articulação entre movimentos sociais (negro. entre outras). sexo e classe. não sendo restrito à classe dominante. os estudos de desigualdades realizados no Rio de Janeiro. preservando as suas dinâmicas próprias. Como discurso ideológico. sobre o tema da mulher negra. que tem como marco o ano de 1978. sobretudo em São Paulo. Essa realidade se tornava mais aguda quando se tratava da mulher negra. O ponto central na argumentação dela não era convencer os marxistas acerca da exploração do negro pelo sistema capitalista. Podemos dizer que Lélia Gonzalez trabalhava esta proposição em três planos: entre as categorias de análise (raça. A partir dessa época. no Rio de Janeiro e na Bahia. sexo e classe. os fenômenos sociais de opressão e discriminação (racismo. além da nascente produção sociológica sobre a condição da mulher e sua inserção no sistema de classesxxxiii. social e na força de trabalho.9 filiação racial. Gonzalez se vale dos estudos monográficos do final da década de setenta que retratavam os estereótipos femininos negros no repertório literário brasileiroxxxii. De um lado. Não seria despropositado afirmar que Lélia Gonzalez fez a recepção do feminismo no movimento negro. a autora figura como uma das antecessoras do conceito de interseccionalidade enquanto uma questão teórica e política. na Escola de Artes Visuais no Parque Lage. que é o tema sobre o qual a autora se debruçará durante quase toda sua vida intelectual. o racismo era absolutamente eficiente. a autora parte . particularmente da formação do Movimento Negro Unificado (MNU). mas também às classes dominadas. Na leitura dos ensaios ou artigos de opinião. para quem a ideologia seria uma forma de “representação da realidade necessariamente falseadasxxxi. fica evidente a ampliação. feminista e homossexual. o aprofundamento e a persistência de Lélia Gonzalez em imbricar e delinear esses temas em conjunto. mas dar inteligibilidade para a diferenciação no processo de recrutamento e alocação de pessoas em postos de trabalho. fazendo correlações profícuas entre raça. feministas e homossexuais. sexismo e segregação. Lélia Gonzalez esteve à frente da reorganização da luta política antirracista ainda na ditadura militar (1964-1985). por exemplo). Nesse sentido. como dissemos. Alguns anos antes ela participara de reuniões no Rio de Janeiro e ministrara um curso sobre Cultura Negra no Brasil. De fato. ela passa a escrever artigos em periódicos negros. tomando de emprestado a interpretação de Althusser. ao mesmo tempo em que no interior do movimento de mulheres insere o tema das relações raciais. entram no campo da competição o resultado desta última será desfavorável aos não-brancosxxx Lélia Gonzalez entendia o racismo como uma construção ideológica. atentando para o caso da subordinação das mulheres negras na representação cultural. . por sua vez. racial e sexual)xxxv. Além disso. Nesses escritos para a imprensa negra ou feminista. Na opinião de Gonzalez. mas o objetivo principal é o de que seus jovens filhos possam iniciar-se sexualmente com elasxxxvi. seja o que está nos quadros do movimento negro e de mulheres. o feminismo no Brasil era formado por mulheres brancas e de classe média que pregavam a emancipação e a inserção feminina no mercado de trabalho. em virtude dos mecanismos da discriminação racial. uma vez que sofre uma tríplice discriminação (social. também é discriminada enquanto mulher. Por exemplo. estas sem qualquer seguridade social e sequer contempladas nas garantias da legislação trabalhista brasileira.xxxiv De outro lado.] Por essas e outras é que a mulher negra permanece como o setor mais explorado e oprimido da sociedade brasileira. na medida em que existe uma divisão racial e sexual do trabalho. classe e sexo). ainda existem “senhoras” que procuram contratar negras jovens belas para trabalharem em suas casas como domésticas. a trabalhadora negra trabalha mais e ganha menos que a trabalhadora branca que. Neste sentido. seja o que compõe outros segmentos da denominada esquerda política. a intelectual ativista busca escrever para públicos mais amplos.. ela aponta: Ora. .[. não é difícil concluir sobre o processo de tríplice discriminação sofrido pela mulher negra (enquanto raça. vinculados respectivamente aos movimentos feminista e homossexual. assim como seu lugar na força de trabalho. destacamos a preocupação de Lélia em apontar para o fato de que o feminismo deveria atentar para as múltiplas formas de opressão da mulher. a autora observava no discurso feminista a não correlação entre a condição social de exploração do trabalho doméstico e a exploração sexual da mulher negra. entre elas a de raça e de classe social. contudo não atentavam para a situação das mulheres negras e pobres.10 de uma leitura marxista da sociedade dirigindo-se para um público identificado com esta vertente. A autora expressa sua relação tensa com o feminismo: A exploração da mulher negra enquanto objeto sexual é algo que está muito além do que pensam ou dizem os movimentos feministas brasileiros. geralmente liderados por mulheres da classe média branca. exemplificada nos baixíssimos salários para as trabalhadoras negras domésticas. como o fez nos jornais Mulherio e Lampião da Esquina. ela traz a mesma ideia da tríplice discriminação que atinge as mulheres negras: a gente constata que. Em um dos artigos publicados no primeiro periódico referido. Lélia Gonzalez traz a dimensão espacial das relações raciais. classe e gênero está no centro do pensamento de Lélia Gonzalez. exigida explicitamente nos anos 1970 e 1980 em inúmeras solicitações de trabalho. Deve ser ocultada. o de raça e classe com o de sexo e classe. de abordagem interseccional.11 É nesse sentido que a articulação entre raça. a outra função da mucama está entre parênteses. E. recalcada. seja o morro. O que identificamos é que ela reconhece aspectos . de um lado. É nessa correlação analítica que Lélia Gonzalez consegue antecipar no Brasil a recepção do que viria a ser chamado. no [dicionário] Aurélio. mas que. Em determinados momentos ela se centra no tema da “boa aparência”. de gênero e sociais. Um passo interessante para saber o modo pelo qual ela trabalhava essas categorias e identificar o que há de novo em suas reflexões é conhecer um pouco mais sobre a tradição intelectual à qual ela se voltava para tratar da temática da raça e classe. Dedicada a refletir acerca de estereótipos. Notamos a necessidade que a autora tem de inserir esta discussão na pauta acadêmica e política dos círculos em que frequentava. o desafio dela foi o de articular duas linhagens distintas do pensamento social. a autora traz uma argumentação a respeito das imagens que fixam as mulheres em determinados lugares sociais. a pesquisadora traz para o centro de suas reflexões a questão da imagem e do corpo feminino negro. Mas isso não significa que não esteja aí. com sua malemolência perturbadora. e observar a forma como ela relaciona essa tradição com as abordagens feministas que colocavam a questão da dominação e da exploração sexual no centro de suas análises. como as figuras da “mulata” e da “doméstica”: constatamos que o engendramento da mulata e da doméstica se fez a partir da figura da mucama. o subúrbio ou os espaços de ascensão social. tirada de cena. Em outras palavras. À semelhança de outras autoras negras que lhe são contemporâneas. pelo visto. uma década depois. Podemos apreender que a “mulata” seria no espaço público uma expressão correspondente à que é atribuída à doméstica no âmbito privado. Precisamente neste artigo. Nos seus escritos encontramos inúmeras referências às mulheres negras de várias classes sociais e de distintas áreas geográficas. devidamente contextualizadas. a favela. E o momento privilegiado em que sua presença se torna manifesta é justamente o da exaltação mítica da mulata nesse entre parênteses que é o carnavalxxxvii. podem ser abordadas em outras situações. com foco no período mencionado. Não nos parece que Gonzalez queira afirmar que não houve alterações neste quadro desde o período escravista. mas igualmente em outros trabalhos. não é por acaso que. Tendo em mente que. Percursos na diáspora: o pensamento em movimento de Lélia Gonzalez A primeira fase do pensamento de Lélia Gonzalez é tributária do grande empreendimento com que o movimento negro desafiou seus intelectuais. que envolve a violenta repressão policial e o extermínio físico. repetitivas. qual seja: desfazerse das narrativas hegemônicas sobre as relações raciais no Brasil e restabelecer o negro discursivamente enquanto um sujeito político na história do país. Notamos nos ensaios e artigos uma visão contextual que amplia a observação para os aspectos da subjetividade e da vida em família: Enquanto seu homem é objeto da perseguição. pois que é diferenciado e desigual. particularmente as metropolitanas. repressão e violência policiais (para o cidadão negro brasileiro. Entre as imagens e a situação social. é importante salientar a pertinência do argumento da autora ao atentar para experiências diferenciadas de racismo por sexo. Por sua vez. desde os anos 1970. destacando a ação intimidadora e violenta da polícia para com os homens negros. Mais de uma vez. a exemplo do Nzinga – Coletivo de Mulheres Negras. negativas. a mulher negra é discutida por ela em espaços “habituais” e nos locais de ausência ou discriminação. em grande parte. quase sempre de inferiorização. Lélia Gonzalez distingue os efeitos disso para cada um dos sexos. desemprego é sinônimo de vadiagem. Ela também participa da formação de grupos específicos. Devemos ressaltar que seu pensamento. . Ademais. 4. As mulheres negras vivenciam um tipo de experiência por conta de sua condição de gênero na representação nacional e na forma como se inserem no mercado de trabalho. Nos textos de Lélia Gonzalez há a análise combinada com a exposição de problemas prementes e permeada por um discurso de profunda solidariedade com as mulheres negras das classes trabalhadoras. o homem negro é apreendido por outras lógicas de controle e dominação social. ela se volta para a prestação de serviços domésticos junto às famílias das classes média e alta da formação social brasileira xxxviii. a própria autora aponta que passa por cenas similares. em tempos de denúncias e análises acerca do alto índice de homicídios de jovens negros em áreas urbanas. é assim que pensa e age a polícia brasileira).12 remotos que são retomados e se atualizam para manter o corpo negro feminino como alvo de imagens públicas fixas. o movimento negro indica que há um problema visível no tratamento do Estado para com a população negra. pode ser relido com atualidade. oferecendo-lhes um significado coletivo e comum. bastante despida do arsenal marxista de intepretação da realidade e interessada em construir uma categoria política transacional. Como salientou Luiza Bairros. Nos termos da autora: As implicações políticas culturais da categoria de Amefricanidade (Amefricanity) são. Nessa nova categoria. linguístico e ideológico. políticos. além de formular a categoria político-cultural que se aproxima mais das discussões contemporâneas acerca da Diáspora que do PanAfricanismo. bem como a mobilização contemporânea das . Gonzalez adverte que esse conceito rebate concepções imperialistas norte-americanas. Por conta disso. Caribe e África. os temas e abordagens de Gonzalez são quase sempre circunscritos ao âmbito nacional. Somente a partir de meados da década de 1980. Lélia passou a investir em reflexões para além das fronteiras nacionais. apesar de estar em franco diálogo com o pan-africanismo. Há que se notar que os autores mobilizados por ela. reconhece a experiência fora da África como central”xxxix. diferencia-se deste porque se trata de “uma unidade que. Assim. Lélia Gonzalez incorporava todo o aprendizado que teve nas leituras e nas viagens por América Latina. amefricanidade é conceito que recoloca as identidades negras e indígenas de todo o continente americano. abrindo novas perspectivas para um entendimento mais profundo dessa parte do mundo onde ela se manifesta: A AMÉRICA como um todo (SUL. Ademais. na medida em que incorporaria culturas de resistência em diferentes partes das Américas. bem como a tradição dos estudos de relações raciais centravam na compreensão do padrão das relações entre negros e brancos no Brasil. O desafio daquele contexto era nacionalizar o discurso do movimento social e estabelecer uma crítica que tivesse respaldo em todas as regiões do território brasileiro. de fato. com a riqueza de imagens de resistência das lutas negras nas Américas. Assim Lélia Gonzalez imprime maior densidade à sua negritude e ao seu feminismo com um horizonte transnacional. o termo assumiria contornos geográficos. exatamente porque o próprio termo nos permite ultrapassar as limitações de caráter territorial. democráticas. o conceito de Amefricanidade. antropológicos e históricos. particularmente o carioca. sem apagar as matrizes africanas. Gonzalez possui um forte engajamento político no interior de organizações do movimento negro. Para ela.13 Dos anos que vão de 1978 a 1988. Central e Insular) xl. comportando os negros da diáspora e os povos originários das Américas: a Amefricanidade. Esse foi um período em que os intelectuais negros mais proeminentes eram recrutados para o processo formativo do movimento no âmbito nacional. . artigos e ensaios. brasileira. ao mesmo tempo em que defendia a autonomia das organizações de mulheres populares. É com essa contribuição intelectual que Lélia Gonzalez. antes de o termo ter sido cunhado. acadêmica e militante. por vezes. ela dialoga e se diferencia em relação a parte significativa da intelectualidade brasileira de sua época pela determinação em articular raça e classe nos seus discursos. negra. seu percurso pessoal como exemplo. Gonzalez acreditava que ninguém era melhor do que essas mulheres para vocalizar seus próprios interesses e suas formas de simbolizar o mundo social. Isto é. com uma abordagem própria. na subjetividade.14 mulheres negras e indígenas de nosso continente. incluindo. na sua condição social. Como dissemos. nas imagens. oriunda das classes populares. Neste sentido. uma proposta que buscava a aproximação das diversas contribuições culturais e políticas das mulheres de ascendência indígena e africana nas práticas e no pensamento feminista de matriz ocidental. com foco na mulher negra. mulher. se torna referência obrigatória para a produção acadêmica e para as lutas negra e feminista no Brasil e nas Américas. “afrolatinoamericano”. ela pode ser considerada uma das matrizes para a ideia de interseccionalidade. negras e indígenas. É nesse sentido que ela propôs um feminismo transnacional. portanto. a semelhança de outras intelectuais ativistas negras brasileiras e estadunidenses. agregando a questão sexual. amefricana. 1988b. 69-82. 165). especialmente Peles Negras Máscaras Brancas (1982) e Os condenados da Terra (1968).Ásia. referência obrigatória de intelectuais negros que acompanhavam os processos revolucionários dos países africanos. a partir de várias abordagens. Rio de Janeiro. Revista Isis International. ii Ver: GONZALEZ. 2005.A importância da organização da mulher negra no processo de transformação social. xi Para citar alguns exemplos dessas experiências: o coletivo negro da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (Alberti e Pereira. EDUFSCAR. Nº. p.10. Imprensa Oficial/Instituto Kuanza. Por un feminismo afrolatinoamericano./dez. PUC. Orfeu negro e o poder: movimento negro no Rio e São Paulo (1945-1988). Outras falas: feminismos na perspectiva de mulheres negras brasileiras. Ano 2. 171-188. 2007. 2007. pp. & SILVA. nov. 1979. Alex. Flavia. Lélia Gonzalez. Luiza (1996). Tese de doutorado em Estudos Interdisciplinares sobre Mulheres. ix RIOS. Lélia. UFBA. 13-40. a quinzena do Negro na Universidade de São Paulo ou o Grupo de Trabalho André Rebouças. Fem. 1988. p. x A leitura anticolonial mais influente para essa geração vem de Franz Fanon. 2008. VIANA. julho de 2008. REIS. RIOS. In: PEREIRA. A recepção de Fanon no Brasil e a Identidade Negra. Encruzilhadas por todo percurso: individualidade e coletividade no movimento negro de base acadêmica. Raquel de Andrade. In: Rev. 2009. Michael. 2. IX. Enegrecendo o feminismo ou feminizando a raça: narrativas de libertação em Ângela Davis e Lélia Gonzalez. ANPOCS. n. Rio de Janeiro: EdUERJ. São Carlos. Para mais detalhes sobre a recepção de Fanon no Brasil. 2010. seção do Distrito Federal. viii HANCHARD. v GONZALEZ. 2001. p. . Eu sou Atlântica: sobre a trajetória de vida de Beatriz Nascimento. 2012. Salvador. Lélia. Revista Afro . junio. vii GRAMSCI. p. No. 133-141. p. outra influência intelectual importante para essa geração é Amílcar Cabral. Raça e Classe. ver GUIMARÃES. da Universidade Federal Fluminense. Vol. Alex. Dissertação de mestrado em História. Gonzalez.). No entanto. Informações mais detalhadas sobre a relevância dos escritores e revolucionários africanos e a mobilização brasileira anticolonialista. 5. RATTS. 1988a. Movimento Afro-Brasileiro pró-libertação de Angola (MABLA). Racismo e sexismo na cultura brasileira. ver SANTOS. Belo Horizonte: Nandyala. e SANTOS. Sobre o conceito de interseccionalidade.) Movimento negro brasileiro: escritos sobre os sentidos de democracia e justiça social no Brasil. José Francisco. A categoria político-cultural de amefricanidade. tendo como referência particular um artigo de Kimberlé Crenshaw que aponta a inter-relação entre “eixos de opressão”. iv Os principais estudos e reflexões sobre o pensamento e trajetória de Lélia Gonzalez são: BAIRROS. São Paulo. Poema inscrito no cartaz em homenagem a Lélia Gonzalez feita pelo Movimento Negro Unificado. CARDOSO.1. Kimberlé (2002). BARRETO. Cláudia Pons. Lélia. 223-244. Aquela “neguinha” atrevida: Lélia Gonzalez e o movimento negro brasileiro.Rio. iii Desde a virada do século XXI. Amauri M. O protesto negro contemporâneo. vol. Salvador. Civilização Brasileira. Além de Fanon. 453-478. Selo Negro/Summus. São Paulo. Alex. 85 São Paulo. 2. Rio de Janeiro: PUC . Novos Estudos CEBRAP. p. Rio de Janeiro. ANPOCS. Ciências Sociais Hoje. BARRETO./jun. São Paulo. Raquel. Joselina (Org. p. ver CRENSHAW. 81-108. In: FERREIRA. Rio de Janeiro. Antônio Sérgio A. “Documento para o encontro de especialistas em aspectos da discriminação racial relativos ao gênero”. em 1994. São Paulo. Daniel Aarão (Org. Intelectuais e a Organização da Cultura. Relações raciais. Rio de Janeiro. Civilização Brasileira. 2010.15 i Pseudônimo de Nelson Inocêncio. Santiago. 1983. Lembrando Lélia Gonzalez (1935-1994). 2006. 2012. n. [online]. Estud. Elizabeth. RATTS. o conceito de interseccionalidade tem sido colocado no centro dos estudos feministas e das políticas públicas para as mulheres. por ocasião de sua morte. 81.as reflexões de Lélia Gonzalez têm sido evocadas neste campo. p. Flavia. 2007. Lua Nova. Gênero e Feminismo. Antonio. 99-114. Jorge. Tempo Brasileiro. IFCS-UFRJ. Malunga Thereza Santos. p.RATTS. p. Cardoso (2012) indica que autoras negras brasileiras trabalham com este princípio desde os anos 1980. vi GONZALEZ. gênero e movimentos sociais: o pensamento de Lélia Gonzalez (1970 – 1990). 92/93 (jan. Civilização Brasileira. 347-368. Thereza. Lélia.) Revolução e democracia. entre 1983-1986. é notória a relação entre Benedita e Lélia Gonzalez. Antonio Sérgio.16. A mulher negra na sociedade brasileira. São Paulo.466 xix Para acessar a coleção digital Mulherio.4. História e Política na Universidade de São Paulo. In: CUNHA. O significado do protesto negro. p. especialmente no que tange à atualização estrutural dessa figura nas formas contemporâneas de dominação no Brasil. No. Ângela Davis.p. Vol. 3. GOMES. (mimeo). 3ª Ed [1ª. Rio de Janeiro. xxv GUIMARÃES. Micol. xvii FAORO.I e II. xxvi MAIO.br/conteudosespeciais/mulherio/ xx GONZALEZ. Madel (Org. 22/11/1981. guerrilhas. ver http://www.Há que se notar que. Florestan. Alice Walker. Ed. 40. Vol. Mariza. A historiografia recente da escravidão brasileira. Florianópolis. “Existe um pensamento político brasileiro?” Estudos Avançados. xviii HOOKS.G. O projeto Unesco e a agenda das ciências sociais no Brasil dos anos 40 e 50. xxiii CORREIA. 2007. Do feminismo aos estudos de gênero no Brasil: um exemplo pessoal.41 São Paulo. Vol. p 315-376. São Paulo. parlamento e conselhos participativos. 1978. p. Raymundo. Racismo e anti-racismo no Brasil. “Mães Pretas.) O lugar da mulher: estudos sobre a condição feminina na sociedade atual. 1999. alterando significativamente o olhar sobre as ações de escravizados e libertos. USP. Editora Anhembi. roceiros e rebeldes. para mais detalhes ver SCHWARTZ. 1989. Campinas. Marcos Chor. Rio de Janeiro: Graal. 2001. em Escravos. Stuart. Lélia. 1 São Paulo Out/Dez. xiv Uma análise da forma pela qual a mãe preta se tornou um símbolo importante na tradição do pensamento e do ativismo negro brasileiro encontra-se em SIEGEL. 2. Cortez Editora. xxiv Dentre as principais autoras negras norte-americanas. dentre outras. p. xvi Ver Folha de São Paulo. o sentido que ela atribui a essa figura é completamente particular. 1999. xxviii FERNANDES. 141-158. Palmares: a guerra dos escravos. p. 1. xv GONZALEZ.16 xii Cabe notar que a historiografia brasileira sobre a escravidão passava por grandes transformações nesse período. Editora 34. p.14 n. 1982. 94. No. São Paulo. podemos destacar Toni Morrison. xiii RIOS. Edições Graal. insurreições..43. 13-30. 1987. FGV Editora. xxi GONZALEZ. Florestan. São Paulo. embora Lélia Gonzalez dialogue diretamente com essa tradição. Cadernos Pagu No. Estudos Feministas. Flavio (Org. Out. Mobilização negra na Constituinte. 1985. xxii Note-se que nesse período Benedita da Silva era vereadora no Rio de Janeiro pelo Partido dos Trabalhadores. A integração do negro na sociedade de classes. In: LUZ. Durante essa década. As referências da intelectualidade negra sobre a mobilização social no período escravista eram MOURA. Intelectuais Negras. xxvii FERNANDES. Flavia. p. Comunicação apresentada no Seminário de Sociologia. Revista Brasileira de Ciências Sociais.org. p. Clóvis. 2013. Rio de Janeiro. 1959] e FREITAS. 2001. 1984.45. Vol. p. .fcc. Décio. Bauru.21-88. Olívia M. Rebeliões da senzala: quilombos. Bell.São Paulo. filhos cidadãos”. particularmente o trânsito político delas nos movimentos sociais. . logo depois se elegeu deputada constituinte. Livraria Editora Ciências Humanas. 1981. partidos políticos. Edusc. 1964.) Quase-cidadão. Lélia. mai. xxxi apud GONZALEZ. A questão negra no Brasil. ANPOCS. Belo Horizonte: Editora UFMG. ANPOCS. Teófilo de. p. 2000. 1983.17 xxix HASENBALG.62. GONZALEZ. 355. 2. xxxii QUEIROZ Jr. Preconceito de cor e a mulata na literatura brasileira. p. xxxiv GONZALEZ. 76. 9 xxxvi GONZALEZ. Lélia. Lélia. 1976. cume que fica? Jornal Mulherio. [1ª. Carlos. São Paulo. 1981. 97-98. In: Cadernos Trabalhistas. 1982b. xxxvii GONZALEZ. A mulher na sociedade de classes: mito e realidade. Global Editora. Lélia. Heleieth. No. Rio de Janeiro: IUPERJ. São Paulo. 2ª edição. 7. São Paulo. Petrópolis. Lélia. xxxiii O trabalho de referência para Lélia Gonzalez é: SAFFIOTI. p. 1982a. . Lélia.100. São Paulo.-jun. p. Racismo e sexismo na cultura brasileira. Ed. E a trabalhadora negra. Ciências Sociais Hoje.230 xxxviii xxxix xl GONZALEZ. Ática. 1979] xxx GONZALEZ. 1975. Vozes. p. Discriminação e desigualdades raciais no Brasil. 1981. 1982a. Lélia. 1982a. Lélia. 2005. Luiza. p. p. Ano 2. 96. BAIRROS. xxxv GONZALEZ. p. 1988b.
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