A Latinidade Da America Latina: enfoques sócioantropológicos

March 25, 2018 | Author: Ana Laura Vilela | Category: Latin America, Europe, The United States, Napoleon, Mexico


Comments



Description

A LATINIDADEDA AMERICA LATINA Enfoques Socioantropologicos A LATINIDADE DA AMERICA LATINA Enfoq ues Socioantropo 16gicos ARI PEDRO ORO ORGANIZADOR CARLA BRANDALISE CARLOS GARMA NAVARRO CRISTIAN PARKER GUMUCIO JOSE JORGE CARVALHO MARIA DAS DORES CAMPOS MACHADO PABLO SEMAN RICARDO SALAS ASTRAiN RITA LAURA SEGATO RUBEN GEORGE OLIVEN ADERALDO & ROTHSCHILD Sao Paulo, 2008 p Ao Avv. On. Dino De Poli Presidente da Fondazione Cassamarca, pela sensibilidade ao estimular os escudos sobre a Latinidade e 0 Humanismo Latino no Mundo. • SUMARIO pAG. Apresenta~ao 11 Ari Pedro Oro Autores 17 Capitulo 1 A adeia e concep~o de 'latinidade' nas Americas: a disputa entre as na,.oes 21 Carla Brandalise Capitulo 2 Identidad latina e integraci6n sudamericana Cristian Parker Gumucio 60 Capitulo 3 El problema hermeneutico de una "latinidad" plural. Una reconstrucci6n a partir de las teorias de la identidad en el pensamiento latinoamericano actual 97 Ricardo Salas Astrain Capitulo 4 Misi6n, Sincretismo y Evangelizaci6n: Catolicismo y Protestantismo comparados. 129 Carlos Garma Navarro 10 sumario Capitulo 5 A monocromia do mito, ou onde achar a Africa na na<;ao Rita Laura Segato 149 Capitulo 6 Brasil, entre 0 Velho e 0 Novo Mundo Ruben George Oliven 181 Capitulo 7 Religiao, laicidade e cidadania . Ari Pedro Oro 211 Capitulo 8 Religiao e as assimetrias de genero na America Latina Maria das Dores Campos Machado 240 Capitulo 9 Espetaculariza<;ao e Canibaliza<;ao das Culturas Populares na America 263 Latina Jose Jorge Carvalho Capitulo 10 Cosmol6gica, holista y relacional: una corriente de la religiosidad po- 291 pular contemponinea Pablo Seman r APRESENTA~AO ARI PEDRO ORO A latinidade da America Latina e uma constru,ao recente na historia do subcontinente. Mas, em que consiste exatamente a latinidade? Esta foi a pergunta desafiadora formulada pela Fondazione Cassamarca, de Treviso, Italia, e que, visando elucidar 0 seu entendimento, apoiou diferentes professores-pesquisadores latino-americanos para que enfrentassem a questao. Este livro reune textos de antropologos, soeiologos e historiadores que contemplam justamente a tematica da latinidade da America Latina, seja como foeo principal de suas reflexoes, para uns, seja como horizonte de suas considera,oes, para outros. Assim, os textos, em numero de dez, compoem urn corpus que se complementam entre si, uns mais teoricos e outros mais etnograficos, uns nos quais a latinidade e abordada diretamente e outros onde ela figura como pano de fundo em dialogo. Em comum aos autores dos textos a clareza de que nao se trata de definir a latinidade da America Latina, pois ela nao se restringe a urn nome, nao se reduz a urn dado objetivo e nao constitui uma realidade monolltica. Trata-se, antes, de entende-la como representa,ao, portadora de complexas referencias historicas, culturais e simbolicas que podem ser interpeladas pois express am, em alguma medida, singularidades, nao essencializadas porem, da America latina. Alem disso, claro esta que nao se trata de trac;ar, inventar, ou insinuar a universalizac;ao de urn nacionalismo cultural latino no momento em que se assiste ao predomfnio de uma globalizac;ao associada, em larga medida, a cultura anglo-saxonica. " 0 "ser latino" . recupera varias das mais importantes distin~6es brotadas nas teorias dos distintos pensadores latino-americanos em torno da identidade e da diversidade cultural (Brunner.conexao COm esse subcontinente. Argumenta que os fatores de identifica~ao e unidade simbolica . a decada de 1920. que estabelece uma sinergia entre uma ideia de latinidade e de identidade. dois textos teoricos discorrem sobre especificidades da latinidade da America Latina. dessa forma. com base em seu passado. reconstruir a ideia de latinidade de urn modo contextualizado. em urn periodo particularmente ativo. que transcende as referencias que se encontram historicamente no pensamento europeu. Trata-se. posto que justamente nos anos vinte esta na~ao demonstra particular interessepela America Latina. toda uma teoriza~ao a proposito de sua suposta intima . Carla Brandalise mostra a competi~ao que se estabeleceu entre determinadas na~6es com vistas a apropriar-se estrategicamente do termo. 0 primato. para este autor. Cristian Parker sustenta que a America Latina e portadora de identidade propria. a italia. Morande. No segundo texto. urn pais sera privilegiado. Na sequencia. Kusch. Em sua analise. Hinkelammert. da qual reivindica a primazia.i 12 ari pedro oro o livro inicia com a recupera~ao da historia da agrega~ao da palavra latina a esta circunscri~ao geografica denominada mais remotamente de America. espanhola e portuguesa. a condi~ao de fonte originaria de todos os "latinos". de dar conta do giro intercultural da identidade e. As rela~6es entre cultura nativa e latinidade. resultante <!a combina~ao de tra~os culturais provenientes das culturas colonia is dominantes. 0 adagio da italia constituia em apresentar-se ·como a essencia mesma da latinidade. Ricardo Salas Astrain enfatiza a no~ao de latinidade plural. Fornet-Betancourt. levada a efeito . entre outros). A partir da interpreta~ao de ditas controversias teorico-conceituais presentes nas teorias da modernidade e da moderniza~ao cultural. mesti~os e outros. com aportes historico-culturais indigena. Nesse texto. a Madre Patria. afro-americano. se descobrem alguns topicos principais para a interpreta~ao intercultural do carater latino da identidade cultural latino-americana. e objeto de interesse de Carlos Garma Navarro. No primeiro deles. tendo como cenario 0 territo rio mexicano e a difusao religiosa junto aos indigenas. Darcy Ribeiro. Ademais. Roig.podem constituir-se num embasamento cultural solido de viabiliza~ao de integra~ao sui-americana. criando ou remodelando. expressa no cristianismo. Scannone. enquanto no Norte a mistura e invisivel.dai derivando que 0 mito da negritude nos Estados Unidos e cego em rela~ao a consistente unidade do projeto daquele pais . A rela~ao Brasil-Estados Unidos (e Europa). Cons iderando a importancia hist6rica e cultural. observa Oliven. que versa fundamentalmente sobre a questao da identidade nacional brasileira. 0 latina muitas vezes econtraposto ao anglo-saxiio. ora como positiva. que 0 sucede. mostra que 0 pensamento da intelectualidade brasileira tern oscilado no que diz respeito aver 0 pais como mais ligado ao Velho ou ao Novo Mundo. predominantemente norte-americanas. relativamente ao Brasil. no Sui a diferen~a e 0 ponto cego do campo discursivo. em terras mexicanas. e tambem 0 objeto do texto de Ruben George Oliven. Assim. nas atitudes em rela~ao ao dinheiro e seus significados simb6licos. 0 uso dos idiomas indigenas. a cultura brasileira e profundamente desvalorizada pelas elites. 1sso aparece. nota-se que cerras manifesta~6es da cultura brasileira pass am a ser profundamente valorizadas. da cristandade . Como rea~ao. tambem invoca a compara~ao com a cultura norte-americana. em sua rela~ao com 0 Brasil e tendo como objeto de analise 0 mito da "Africa" e seus desdobramentos nas duas nacionalidades. Os autores que escreveram sobre 0 tema.ao passo que. contemplado no c6dice religioso afro-brasileiro. A questao da latinidade brasileira e latino-americana constitui 0 pano de fundo do texto de Ari Pedro Oro sobre laicidade e cidadania. a autora sustenta que 0 mito da presen~a africana na na~ao norte-americana e cego para perceber que a diferen~a racial nao garante uma diferen~a de proposta civilizat6ria . tomando-se em seu lugar a cultura europeia como modelo de modernidade a ser alcan~ada.• apresenta~ao 13 pelas ordens religiosas cat61icas e pelas associa~oes evangelicas na ultima metade do seculo passado. 0 de Rita Segato. Assim. a forma~ao de urn grupo de derigos nativos e a questao da aceita~ao e do recha~o do sincretismo. ora como negativa. 0 autor compara as estrategias missiomirias utilizadas por ambos os projetos religiosos. Nesse debate emerge a questao da latinidade do Brasil. mas. e mais especificamente lusa. desta feita. Se 0 texto de Garma Navarro compara missOes religiosas cat61icas e institui~Oes evangelicas. 0 mito da mistura racial nao percebe as especificidades do projeto afro-descendente. nem as complexas caracteristicas da discrimina~ao neste pais. passada e presente. por exemplo. Nele. em outros momentos. consideram a influencia de nossa tradi~ao iberica. Mais especificamente. em certos momentos. e a forma como eles perce bern as rela~oes entre religiiio e politica. economicos e esteticos envolvidos ness a conjuntura: os organismos do Estado. Ali!m disso. a partir da produ~iio socioantropologica das ultimas quatro decadas. tal como aparece nos estudos sobre o fenomeno· religioso e. e se inscreve na analise da importancia das institui~oes religiosas nos ordenamentos hierarquicos predominantes na America Latina. politicos e economicos que afetam atualmente as culturas populares em praticamente todos os paises latino-americanos: a espetaculariza~ao e a canibaliza~iio. bern como a propria constitui~ao da cidadania. tambem. 0 grau de consciencia de sua responsa bilidade social. Jose Jorge de Carvalho oferece urn quadro teorico para a compreensiio de dois processos esteticos. os produtores culturais e as organiza~oes de artistas populares. embora circunscrita a urn segmento reduzido dos estudiosos. 0 ideario feminista de maior eqliidade de genero. e objeto de analise de Maria das Dores Campos Machado. nao ocorrem sem rela~ao com essa historica base simbolica. Alem disso.14 ari pedro oro e. as percep~oes da sexualidade humana e dos papeis sociais de homens e mulheres nas comunidades confessionais e. de urn lado. argumenta que a laicidade latinoamericana. deu contribui~oes importantes para 0 debate sobre as mudan~as em curso no campo religioso. 0 texto apresenta dados de uma pesquisa de campo realizada na regiao metropolitana de Porto Alegre onde sao avaliadas essa e outras questoes. analisa como os processos de pluraliza~iio religiosa incorporam a tematica das tensoes entre. tais como: a opiniao dos sujeitos representativos do pluralismo religioso dessa regiiio acerca da liberdade religiosa e da cidadania. Carvalho propoe. mais especificamente. os pesquisadores e intelectuais. que sao expropriadas dos seus circuitos comunirarios por meio de agentes externos canibalizadores para servir as indus trias do turismo e do entretenimento. de outro. ambos vinculados a crescente mercantiliza~ao das formas culturais tradicionais. 0 quad to teorico proposto inclui a articula~iio conceitual das interven~oes de todos os agentes politicos. o tema das assimetrias de genero. Argumenta a autora que 0 desenvolvimento do movimento feminista provocou a inclusao de novas questoes na agenda de investiga~iio e que a perspectiva de genero. No primeiro deles. tanto como dado da cultura quanto como pratica religiosa. a sociedade civil. em particula~ nas analises do catolicismo e do pentecostalismo na America Latina. Os dois ultimos textos versam sobre as culturas populares latino-americanas. da catolicidade no subcontinente. urn novo pacto entre esses agentes de modo a preser- . Mesmo assim. ao mesmo tempo. Os setores populares argentinos e sua rela~ao com 0 campo religioso constitui 0 foco anaHtico de Pablo Seman. procuram menos enquadrar conceitualmente a latinidade da America Latina e mais explorar e desvelar alguns aspectos dessa latinidade urn tanto nebulosa e mitica.apresenta'tao 15 var e estimular cada vez mais 0 protagonismo dos mestres e artistas na preserva~ao e nas dinamicas especificas de crescimento e transforma~ao das culturas populares. sustenta-se que essa latinidade nao deixa de constituir urn patrim6nio simb6lico de referencia e de pertencimento para popula~6es passadas e presentes. embora de forma desigual segundo elas . . como se ve.na medida em que afirmam. .posto que pressup6em a imanencia e 0 superordenamento do sagrado holistas e relacionais . a preeminencia da totalidade e 0 carater pelo qual cad a sujeito participa nessa totalidade. Alem dis so. porque plural e diversificada. Todos esses textos. 0 autor procura revelar as diferen~as que contrap6em a 16gica da experiencia dos setores populares e aquela constitutiva do humanismo contemporiineo de raiz classica. que mostra existir nesse universo social uma corrente de praticas e representa~6es que atravessam as denomina~6es e praticas aut6nomas e compartilham 0 fato de serem cosmol6gicas . urn continuum de experiencias que a ideologia modern a divide em compartimentos estanques. Petropolis: Vozes. com tese intitulada Les Rapports Internationaux de l'Italie envers l'Amerique Latine: 1922-1936. e professor-pesquisador do Departamento de Antropologia da Universidade Autonoma Metropolitana desde 1984. Regimes e movimentos politicos autorirarios. entre outros livros. 2004 e Religiilo e Politiea no Cone-Sui: Argentina. Brasil e Uruguai. Avanfo Pentecostal e Reafilo Cat6liea. com pesquisas na area de teoria e metodologia em Historia Politica. entre outros. Publicou. na~iio e nacionalismo.AUTORES Ari Pedro Oro Doutor em Antropologia pela Universidade de Paris III. Possui divers as publica~6es sobre as rematicas citadas. 1996. Carlos Garma Navarro Mexicano. Carla Brandalise Professora do Departamento de Historia e do Programa de Pos-Gradua~ao em Historia da Universidade Federal do Rio Grande do Sui (UFRGS). os livros: Representafoes Soeiais e Humanismo Latino no Brasil Atual. professor de Antropologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sui e pesquisador do CNPq. Organizou. Axe Mereosul: as Religioes Afro-Brasileiras nos Paises do Prata. Especialista em estudos . Petropolis: Vozes. Sao Paulo: CNPq/Pronexi Attar Editorial. Pesquisa atualmente as rela~6es entre religiiio e politica no Brasil e a transnacionaliza~ao religiosa entre os paises do Mercosul. Mestre em Ciencia Politica (UFRGS) e doutora em Historia Politica (IEP-Paris). Porto Alegre: UFRGS Editora. 2006. Estado. Integra a linha de pesquisa Rela~6es de poder politicoinstitucionais. 1999. Livros publicados: EI Culto Shango de Recife (com Rita Segato). Foi professor das Universidades de Queen's de Belfast. Santiago: Mideplan. Sao Paulo: Attar. 1996. Los Jovenes Chilenos. Escreveu rna is de quarenta artigos e quatro livros. Perspectivas para el Siglo XXI. Caracas: Centro para las Culturas Populares y Tradicionales. 1992. Rumi . 2000. e autora dos . Shango Cult of Recife. 1995. e Las Culturas Afroamericanas en Iberoamerica: 10 Negociable y 10 Innegociable.iio Capitalista. Entre seus ultimos livros destacam-se: Universitarios. Os Melhores Poemas de Amor da Sabedoria Religiosa de Todos os Tempos. Cantos Sagrados do Xang6 do Recife. Brasilia: Funda~ao Cultural Palmares. entre 2000 e 2006. Sao Paulo: Attar. Cam bios Culturales. Rice University. sendo 0 ultimo Buscando ei Espiritu. 2007. Professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Sao Paulo: Attar. Bogota: Universidad Nacional. Petr6polis: Vozes. Mutus Liber. Usach. 1987. doutor em Sociologia (Universidade Cat6lica de Lovaina). Caracas: Fundaci6n de Etnomusicologia y FolklorelConaclOAS. Pentecostalismo en la Ciudad de Mexico. Brazil (com Rita Segato). Jose Jorge de Carvalho Doutor em Antropologia Social pela Queen's University de Belfast. Ciencia.Poemas Misticos. Outra L6gica na America Latina. Publicou nove livros e mais de cinqiienta artigos. 2001. 1996. Mexico: Plaza y Valdes-UAM. 0 Qui/ombo do Rio das Riis (arg. Catednitico Tinker da Universidade de Wisconsin-Madison e pesquisador visitante na Universidade da Fl6rida em Gainesville. 0 Livro Mudo da Alquimia. 2005. Cristian Parker Gumucio Chileno. Maria das Dores Campos Machado Doutora em Sociologia pelo Instituto Universitario de Pesquisa do Rio de Janeiro. 1996 (tradu~ao do espanhol em edi~ao Fondo de Cultura Econ6mica). 1993. E membro do Conselho Internacional da International Society for the Sociology of Religion desde 2000.18 auto res das minorias religiosas no Mexico.). Inclusiio Etnica e Racial no Brasil. Salvador: Ceaq/Edufba. Proferiu conferencias em divers os paises da America e da Europa. professortitular e diretor do Instituto de Estudios Avanzados da Universidade de Santiago do Chile. Santiago: Sello Editorial-IDEA. Rio de Janeiro: Ediouro. 2005. Coordenou 0 Projeto Pronex "Os Movimentos Religiosos no Mundo Contemporaneo" do CNPq/MCT. professor de Antropologia da Universidade de Brasilia e Pesquisador 1-A do CNPq. Tecnologia y Conciencia. 2004. Reiigiiio Popular e Moderniza. 2005. Eautora dos livros: La Naci6n y sus Otros: Raza. Santiago: Ediciones San Pablo 1996. Pablo Seman Argentino. Ladriere. Etnicidad y Diversidad Religiosa en Tiempos de Politicas de fa Identidad.r auto res 19 livros Politica e Religiao. com J. Santiago: Ediciones UCSH. La Articulaci6n del Sentido (Salamanca. 2003. Conceptos Fundamentales. Miguez Daniel & Seman Pablo. Entre Santos y Piquetes: Las Culturas Populares en la Argentina Reciente. Rita Laura Segato Obteve doutorado em Antropologia Social pela Queen's University of Belfast. 2000). Dirige 0 Programa Mapuche del Centro de Estudios de la Realidad Contemporanea-Universidad A. M. Escreveu tambem Etica Intercultural. Escreveu varios arrigos em revistas chilenas e latino-americanas acerca da religiiio Mapuche e da religiosidade popular no Chile. 2006. e graduado em Sociologia pela Universidade de Buenos Aires. Santiago: Ediciones UCSH. integrados. Rio de Janeiro: FGV (2006). dirigida por J. 3 volumes. . E pesquisadora do CNPq e coordenadora do Nticleo de Pesquisa Religiiio. em 1984. Entre suas principais publica~6es se encontram: Bajo Continuo: Exploraciones Descentradas en Cultura Masiva y Popular. A~6es Sociais e Politica da Escola de Servi~o Social da UFRJ. Aguirre. Buenos Aires: Editorial Biblos. em parte. pesquisador do Conicet (Argentina) e professor da Universidade de San Martin.H. Tern investigado divers os fen6menos na area das culturas po pula res. em seu livro: Lo Sagrado y 10 Humano. e professor de Filosofia e doutor em Filosofia pela Universidade de Lovaina com uma tese sobre uma hermeneutica da linguagem religiosa em Paul Ricreur e aplicada it linguagem Mapuche. Campinas: Autores Associados-Anpocs (1996) e uma das organizadoras da coletanea Os Votos de Deus. Publicou a obra coletiva Pensamiento Critico Latinoamericano. Traduziu.C. doutor em Antropologia Social pel a Universidade Federal do Rio Grande do SuI. Buenos Aires: Editorial Goda. Carismdticos e Pentecostais: Adesao Religiosa e seus Efeitos na Esfera Familiar. Atualmente e professor-titular na Universidad Cat61ica Silva Henriquez e pesquisador do Conicyt Chileno. e professora do Departamento de Antropologia da Universidade de Brasflia desde 1985 e pesquisadora de nivel maximo do Conselho Nacional de Pesquisas (CNPq). Ricardo SalasAstrain Chileno. Recife: Massangana (2006). el Psicoanalisis y los Derechos Humanos. Dirige 0 Grupo de Pesquisa sobre Antropologia e Direitos Humanos do CNPq e publicou numerosos artigos em revistas periodicas e obras coletivas do Brasil e do exterior sobre temas de religiiio. Coleccion Voces. de 1995. 2006. Territorio. ra~a. Foi presidente da Associac. Ruben George Oliven Doutor pela Universidade de Londres. EI Culto Xang6 de Recife (em colaborac. de 2005.' ed. 0 Politeismo Afro-Brasileiro e a Tradi(ao Arquetipal. 2. Brasilia: Editora da Universidade de Brasilia.' ed. 2007. em 1992). Caracas: Centro para las Culturas Populares Tradicionales. etnicidade. Petropolis: Vozes. Mobility.ao e Pesquisa em Ciencias Sociais (Anpocs). Buenos Aires: Universidad Nacional de Quilmes e Prometeo. Ensayos sobre Genero entre la Antropologia. La Escritura en el Cuerpo de las Mujeres Asesinadas en Ciudad Juarez. em colabora~ao com Laura Ordonez. e professor-titular do Departamento de Antropologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sui e membro da Academia Brasileira de Ciencias. No.ao Brasileira de Antropologia (2000-2002) e atualmente e presidente da Associa~ao Nacional de Pos-Graduac. Foi professorvisitante em universidades latino-american as. sociedade carceriria. 1987. Uppsala: Uppsala Studies in Cultural Anthropology. Las Estructuras Elementales de la Violencia. violencia. 2006. agraciada com 0 Premio Melhor Obra Cientifica do Ano concedido pela Associa~ao Nacional de Pos-Gradua~ao e Pesquisa em Ciencias Sociais e traduzido para 0 ingles e 0 espanhol.2004. 1. Entre suas publica~iies esta A Parte e 0 Todo: a diversidade cultural no Brasilna(ao. Santos e Daimones. Merging and Globalization in the Ermergence of Contemporary Religious Adhesions (organizado em colabora~ao com JanAke Alvarsson). genero. Mulher Negra =Sujeito de Direitos e as Conven(oes para a Elimina(ao da Discrimina(ao. Soberania y Crimenes de Segundo Estado. co-editora do volume: Religions in Transition. 37. norte-americanas e europeias. Mexico: Ediciones de la Universidad del Claustro de Sor Juana. e interfaces entre Antropologia e Direitos Humanos. Brasilia: Agende-Unifem-dfid. Recebeu 0 Premio Erico Vannucci Mendes por sua contribuic.20 autores Buenos Aires: Prometeo.ao com Jose Jorge de Carvalho). 2003. traduzido para 0 ingles. .ao ao estudo da Cultura Brasileira. esta tao imbricada em nosso cotidiano a ponto de nos parecer algo imanente. a trajetoria intermitente do conceito. seja em uma concorrencia de espa~os hegemonicos entre as na~6es mais poderosas de meados do seculo XIX. a legitima~ao da presen~a estrangeira no continente. autonoma em seus dois termos. em suas disputas economicas. algo construido para servir de instrumento simbolico. em geral.s Capitulo 1 A IDEI~ E CONCEPC. vinculado. de outro lado. ao mesmo tempo. primeiramente.:AO DE "LATINIDAD~' NASAMERICAS:A DISPUTA ENTREAS NAC. Tern sido essa. no essencial. a acep~ao assumiu carater predominantemente operatorio. e. se imagina. A partir de suas origens. a nomenclatura apresenta uma historia propria e. a historia da agrega~ao da palavra latina a esta circunscri. esse demento imediato com vida a parte.:OES CARLA BRANDALISE eriCa Latina. cuja independencia polftica conquistada. Urn dado importante deve ser desde ja colocado. em principios do seculo XIX. nao representou necessariamente uma soberania plena sobre seus destin os. Essa denomina~ao composta e. atemporal. no que concerne especificamente ao termo latina. ligado aos anseios de autoridade moral das na~6es recem-surgidas no suhcontinente.ao geografica denominada mais remotamente /l: 21 . de urn lado. Esse artigo pretende retra.ao de Cuba. seja em afirma~ao de uma identidade interna de seus povos. assim. No entanto. se impos de forma muito mais recente do que. que buscavam autoreconhecimento e emancipa~ao politica. polfticas e culturais. com uma finalidade polftica em si. com exce. reportada a por~ao suI do continente americano.ar. enquanto enunciado composito. imperador da Fran~a.O adagio da Italia constituia em apresentar-se como a essencia mesma da latinidade. talvez. em geral. 27).e francesa e europeia . tam bern resistente a manuten~ao da ingerencia excessiva dos europeus. a representa~ao por excelencia da Madre Patria. "A palavra latinidade e usada por fil6!ogos e por historiadores para indicae 0 estudo dessa cultura atraves dos seculos. a ideia de America "Latina". latino-americano em meados do seculo XIX. criando ou remodelando. a condi~ao de fonte originaria de todos os "latinos". 0 primato.e cientifica . a Italia. Ao mesmo tempo. essa na~ao demonstra urn particular interesse pela America Latina. a terminologia e fortemente devedora a politico-intelectuais franceses e ibero-americanos que giravam ao entomo de Napoleao III. 0 conceito toma corpo "as vesperas da expedi~ao militar . Aparece aqui urn esbo~o de movimento "latino"-americanista. 13). Os limites e influencias entre ambas as matrizes inspiradoras da nova I Segundo Mastellone (1981.ao Mexico" no bojo da estrategia francesa de interven~ao no Novo Mundo (Martiniere. p. 1982. Nesse vies. come~a a se incorporar ao vocabulario europeu e. se designa tambem 0 conjunto de na~oes de lingua e de civiliza\=3o latina. a decada de 1920. Urn pais sera privilegiado nessa analise. a parte central e meridional da America. 0 "panlatinismo" fomece a tonica nesse ambiente. 0 termo utilizado em referencia ao Mexico. a competi~ao que se estabeleceu entre determinadas na~6es com vistas a apropriar-se estrategicamente do termo. e de urn ponto de vista estreitamente geogdfico se estabe1ece que 0 dominio geognifico da latinidade e essencialmente aquele do antigo Imperio Romano".22 carla brandalise de America. Justamente nos anos vinte. com base em seu passado. residentes ou de passagem pela Europa e relaciona-se em especial ao temor da expansao imperialista dos Estados Unidos pelo subcontinente. em urn pedodo particularmente ativo nesse sentido. Em uma primeira matriz formuladora. em uma segunda matriz de concep~ao. onde se falau de latinidade medieval e de latinidade do Renascimento. onde reivindicava a primazia. toda uma teoriza~ao a proposito de sua suposta intima conexao com aquele subcontinente. que nao seja para auxiliar na rea~ao ao vizinho do norte. surge sob a reflexao de uma rede de intelectuais iberoamericanos. em segundo lugar. em frances.' A inven~ao do conceito No plano politico-cultural. com a palavra latinidade. p. . Ver: Calvo (1862-1867). explicitou a geopolitica englobada pela expressao: 0 Mexico. a juw.o de "'atinidade" nas americas adi. Carlos Calvo que.' E nesse universo que se desenvolve a no. como Espanha. da segunda matriz.ao de America com "Latina" oeoereu na lingua francesa pela prime ira vez no ano de 1861. M. Entre 1861 e 1868. De acordo com 0 histariadoe norte-americana John L.o em rela. na cronica sobre os acontecimentos recentes do mundo latino escrita pelo academico L.a da Fran. 105). Portugal e italia. Afinal. que viveu por longos anos em Paris. os norte-americanos. mas tambem conter a progressao dos Estados Unidos ao suI. auror de Journal d'un Miss. Phelan (1969) .1 .onnaire au Texas et au Mexique: 1846-1852. estava 0 diplomata sul-americano. 0 qual realizou uma investiga/fao na bibliografia francesa de meados do seculo XIX. p. p.ao a outros paises europeus que podiam igualmente reclamar a latinidade na America. 28).r \ 2l ideia e concepl):3. a America Central e a America do SuL Ardao (1992a. mais estreitamente no alerta ao perigo da admoesta. incluindo 0 voc:ibu10: "Vossa Majestade Imperial e 0 soberano da Europa que melhor compreendeu toda a imporrancia da America Latina e que contribuiu de maneira mais direta ao imenso desenvolvimento do comercio entre a Franc. Sua contribui.a.a e aquele vasto continente". 0 maior expoente parece ser 0 escritor colombiano Jose Maria Torres Caicedo. refletiam aqueles tearicos. Na vertente latino-americanista.2 Entre os ibero-americanos francOfilos. Tisserand no peri6dico panlatioo Revue des Races Latines.c3es do territario mexicano.ao e difusao do conceito inseriu-se. publicado em Paris no ano de 1862.ao possivel dos estadunidenses para com os povos ao sui do Rio Grande. alimentando urn debate academico ainda nao concluido. t 19-41). porranto.ao pretendia justificar e garantir certa dianteira quanta a areas de posse e influencia no subcontinente latino-americano. 0 abade Emmanuel Domenach. Phelan (1969. levando-se em conta a existencia conjuntural historica comum e a convivencia nos mesmos centros culturais europeus desses politico-intelectuais. com freqiiencia aos cerimoniais da corte de Napoleao III. presta homenagem a Napoleao III. consultar entre ourros: Ardao (1980). sobrinho de Napoleao Bonaparte. Hder 2 Para 0 debate.ao Latino-Americana" imaginada por Siman Bolivar. a uniao racial latina sob lideran.ao a constru. ja haviam adquirido a Louisiana durante 0 governo de Napoleao e se apropriado de amplas por. onde essa ultima na. de certa forma. Caicedo. No entanto. bern como apoiado a invasao da Nicaragua pelo bucaneiro William Walker. Citado por Martiniere (1982. seis autores franceses e dois hispano-americanos residentes em Fran~a passaram a empregar a no~ao. na dedicataria do seu livro Recueil Complet des Traites. retomava a figura da "Confedera.ao de panlatinidade. pp. ao fazer usc do {ermo. as intera. Nao sa intencionava assegurar-se de seu espa. .ao conceitual restam nebulosos.6es e influxos devem ter sido urn tanto quanta correntes. a de Caicedo desmistifica urn tanto quanto a no\3. onde atuaram reflexivamente e conceitualmenre diversos intelectuais europeus e latino-americanos.ao da ideia correspondia bern evidentemente a urn contexto historico especifico. su ley amarse: Igual origen tienen y misi6n. 0 catolicismo. por sua vez. italiano. Nesse paema surge a expressao escrita de "America Latina" e a sua associa~ao a uma "rac. belga. ao menos em Paris. desunidos. apareciam tambem na revista madejlcoha La America.24 carla brandalise no processo de independencias do subcontinente. a flama das ra~as latinas em seus diferentes bra~os frances. a Espanha e Portugal. julgava Chevalier. ainda mais que no alem-mar se pre4 Na mesma epoca. a present. Missao imprescindivel.a saxonica": Mas aislados se encuentran. Esos pueblos nacidos para aliarse: La uni6n es su deber. A defesa da panlatinidade "francesa". onde prega a uniao dos latinos contra a amea~a anglo-saxonica. neste momento de!icado quando urn declinio claudicante atingia a Italia. a formulat.a" diferente da "rac. Parcela da discussao acadEmica atual aponta Las Dos Americas como a primcira expressao escrita de "America Latina". mas tambem 0 republicanismo e 0 antiescravagismo.ao francesa. Ele escreve na cidade de Veneza. com vistas a resistencia e preserva~ao da soberania interna. assume contornos fundamentais atraves das ideias avan~adas pe!o conselheiro de Napoleiio III e professor do College de France entre 1842 e 1859. ou seja. La raza de la America latina. . espanhol e portugues. 1857).peri6dico de lingua espanhola editado em Paris. 1992b). urn latino-americano e nao urn frances. As bases do conglomerado politico estariam nas heran~as culturais comum: a "ra~a" latina. em setembro de 1856. os inventores do conceito (Ardao.0 texto poetico Las Dos Americas. a Hngua espanhola. Independente da possive! autoria original. com circula~ao na Europa e na America .o de que teriam sido os ideologos do regime de Napoieao III. Al frente tiene la sajona raza. Enemiga mortal que ya amenaza Su libertad destruir y su pend6n'" (Caicedo. que pouca referencia faziam it nar. No entanto. Michel Chevalier. em fomentar na America. Ele insistia sobre a responsabilidade da Fran~a. e publica no mes de fevereiro de 1857 no El Correo de Ultramar . herdeira das na~6es cat6licas europeias. Caicedo feria sido assim 0 primeiro a utiliza-Ia. 0 que demonstra uma cede de "latino-americanismo" mais extensiva. sellS artigos. A Fran~a deveria entao cumprir seu importante pape! de restauradora. a "Fran<.aria so bre a Europa latina e anglo-saxonica.6 Assim. conduzida pelo golpista. sobretudo do fil6sofo e te61ogo Johann Gottfried von Herder. Na sua origem. p. compunha um mundo latino-romano. incluindo a Inglaterra. a Europa. p. p. De acordo com Chevalier. experiencia que resultou na publica~ao.a em rela<. em especial. (cheeos e eslovacos. Elaborada.a. 102). segundo 0 conselheiro.ao reproduzia-se na America. pela Russia. porem. ver: Verdery. a no~ao safre influencias da Revoill(.ao a que pertenciam. em sua dupla origem. 0 Mexico e a America do Sui poderiam ser um novo elo entre Oriente e Ocidente. 29). 0 inevitavel dedfnio da Europa ocidental materialista e 0 triunfo da Russia e dos eslavos em uma guerra futma (Bejin. Antes de tudo. amea~ado diretamente pela expansao dos Estados Unidos (Martiniere. op. 5 Em meados de 1915 surge na Europa a concep~ao de "pan-eslavismo". como agentes hist6ricos. 5 Os paises anglosaxonicos e os eslavos mantinham. no ioicio. Essas ultimas sao concebidas. Urn dos principais ide610gos do pan-eslavismo. 0 panlatinismo emerge no cerne da politica externa desenvolvida pelo Segundo Imperio frances (1852-1870). E a unica que pode evitar que toda essa familia de povos sucumba ante ao avan<.:ao Francesa e da filosofia idealista alema. dotados de espirito ou alma. . os hispano-americanos deveriam antes enriquecer-se com uma veia sangiiinea vinda do Norte e do Leste. sob a fe cat6lica. Essa composic. bem como dos eslavos. reintroduzindo os latinos. bern como cidos inexoraveis de vida asccnclente e descendente. 2000. 0 paneslavisrno constitui-se como urn movimento "romantico'" que propunha 0 reagrupamento dos povos eslavos. cit. para Helder. oode ao norte se encontravam os anglo-saxoes protestantes e ao sui os latinos cat6licos. Danilevski profetizava. e um mundo teuto-germanico. em 1836.. dado que enquanto os anglo-americanos continuariam 0 progresso caracteristico da civilizac. Para as concep~6es de Helder.a anglo-saxonica. 0 russo N. de dois volumes intitulados Lettres sur I'Amerique du Nord. p. Chevalier trabalhava com elementos em yoga na epoca. cuja condu~ao seria feita. sendo progressiva a exclusao dos latinos desse circuito.r ! i I ideia e concep~ao de "Iatinidade" nas americas 25 senciava a ascensao inexonivel das na~oes protestantes e da ra<. 1987. como 0 papel do Oriente no mundo ocidental. comercio regular com a Asia. por intelectuais eslavos. essa terceira "ra~a" que avan<.a e a guardia dos destinos de todas as na<.o simultaneo dos germanic os e dos eslavos". a Fran<. Para 0 senador. sob a fe protestante. em gerat. 408). Chevalier viajara aos Estados Unidos em 1833 e voltara a Fran~a em 1835.ao ao sui. Chevalier.oes latinas dos dois continentes. 0 fil6sofo alemao era Figura proeminente nas novas reflex6es a prop6sito do surgimento das "na~oes". Tern origem/nascimemo e territorios delimitados a exemplo do corpo humano. Citado par Mignolo (2007. I. com os paises e povos do norte. 242). . que agregava os paises e povos meridionais. seria preciso aten~ao especial ao Mexico. apresentava uma certa descren<. em 1871. naquele mundo. Tratava-se de desempenhar urn papel nas revoltas contra a domina~ao austriaca nas peninsulas italiana e balcanica. A op~ao economica liberal e a diminui~ao dos direitos aduaneiros. (Renouvin. a ser polo de defesa aos interesses do Vaticano. Internamente. a revisao do Tratado de Viena de 1815.que permaneceu no poder governamental de 1848 a 1871. torna-se algo imprescindivel a manuten~ao do crescimento de sua economia. as expectativas no plano de politicas internacionais. Napoleao III . privilegia a gloria e as conquistas coloniais em terras longinquas. grandes greves operarias fazem sua estreia. o espirito revolucionario perdeu-se com 0 golpe de Estado de Napoleiio. pp. 1994. Na Argelia pacificada. Sob circunstancias favoraveis. uma companhia francesa conduz a realiza~ao do canal de Suez. ou seja. 546-7). participa da abertura da China. ao inves. onde 0 comercio exterior se dinamiza e. ao menos ate meados 1869. abrem 0 mercado interno ao estabelecimento de tratados de comercio. a navega~ao a vapor se desenvolve. Respondendo a esses imperativos. Napoleao III proclama-se "Imperador dos arabes". sem. se . devida em grande parte a abundancia monetaria ocasionada pela descoberta de minas de ouro na Australia e na California. vinculando-se. a exemplo do acordo assinado em 1860 entre Fran~a e Inglaterra. Napoleao III almeja modernizar a economia da na~ao. A Fran~a torna-se urn pais industrial. As cidades urbanizam-se. 0 Segundo Imperio desenrola-se em uma fase de expansao da economia mundial. com urn setor agropecuario tam bern estimulado. 0 imperador segue os designios bonapartistas. comprometer as novas boas rela~oes com os ingleses. no entanto. sobretudo mediterraneas. a despeito dos protestos dos industriais locais. Naturalmente. com uma diversifica~ao social crescente. expande-se ao Extremo Oriente. alem de almejar. inaugurado em 1869. assim.• r 26 carla brandalise presidente e depois imperador. assumindo-se como protetora dos "lugares santos" do catolicismo. que os movimentos revolucionarios de 1848 e 0 triunfo da Republica de Paris em fevereiro do mesmo ana haviam engendrado uma esperan~a republicana. logo porem enfraquecida pela consolida~ao do poder autoritario e conservador de Luis Napoleao Bonaparte. as vias ferreas expandem-se aos limites do territorio. promovido em dezembro de 1851. mais do que isso. a politica panlatinista era secundaria em rela~ao as questoes europeias. Observa-se nesta temporalidade historica. que impulsiona a economia de ambos os paises. A Fran~a passara. como 0 argentino Juan Bautista Alberti. despertando rivalidades e estrategias. 1997. 706-17). No momento da a~ao. ideia do proprio Napoleao. 0 Mexico encontrava-se no limite de uma guerra civil. constantemente frustrada no decadente Velho Mundo. .iio dos principios da Revolu~ao Francesa. Napoleao III julga 0 ano de 1862 0 momento apropriado para sua interven~ao. Outro grande projeto. com a vitoria das for~as liberais mexicanas em 1867. A Fran~a projeta inserir-se em territorio mexicano. na America Latina de meados do seculo XIX estava presente a ambivalencia em meio as elites politico-intelectuais quanta ao que significava a Europa e. mais especificamente. A diferen~a residiria no fato de que. Por sua vez. A maioria. as dificuldades norte-americanas com a secessao ao Sui e. os graves problemas mexicanos. em apoio ii ala intern a conservadora catolica. a despeito da profunda liga~ao entre os dois mundos. dados. A campanha militar revelou-se urn fracasso. mediante uma coalizao dos maiores credo res da divida mexicana. a Fran~a. imp6e urn tutorado ao Camboja. 0 corpo expedicionario frances acaba agindo sozinho. acreditava que sua civiliza~ao se definia dentro do quadro cultural europeu e que a emancipa~ao do subcontinente correspondia a continua<. com substrato cultural frances. ante a a bdica~ao desses ultimos dois paises. Quer dizer. por outro lado. empreendida em 1862. bern como do genero de latinidade que pretendia preservar e restaurar a pureza da "linhagem" da Europa meridional e latina no continente americana. a Espanha e a Inglaterra. existiria urn "espfrito" americana jovem e vigoroso. pp. onde uma fac~ao liberal no poder e uma fac~ao catolica conservadora na oposi~ao digladiavam-se em meio a uma economia praticamente falida e fortemente inadimplente ao exterior. os idea is revolucionarios retornavam a sua essencia. 0 plano persistiu sob a justificativa da "missao civilizadora" (Rougerie. Tratava-se de uma expedi~ao ao Mexico. ao menos de conte-los em certa medida.ao de "Iatinidade" nas americas 27 instala na Cochinchina (1859-1867). mas contribuiu enfim para a promo~ao da ideia de America "Latina" como projeto politico. A Inglaterra partilhava com a Fran~a dessa desconfian~a. delineia-se sob a perspectiva de conquistar uma zona de influencia na America Central. no Novo Mundo.p ideia e concepc. por urn lado. A potencia crescente dos Estados Unidos e seu expansionismo no continente americano era francamente percebida na Europa. senao de neutraliza-los. 0 luso-americanismo. cit. ~ A escola pangcrmanista alema fOffia posi<.:a latina fez ate aqui prova de urn geoio criador e cultural bastante limitado. As na~oes germii. que resistia em reconhecer a independencia de suas ex-colonias. a sua genese europeia humanista. mas que tambem aruavam para beneficiar a expansao comercial e economica da Alemanha. sublinhava os vinculos lusos. a francesa liberal e republicana de Montesquieu. E evidente que foi em zonas de povoamento alemao que tudo de importante se realizou. nao havia contempla~ao com 0 pass ado dos indios e dos africanos. Processo esse fadado a recuperar a verdadeira unidade historica do grupo.:a em terras larinoamericanas. op. Portugal. herdeira do mundo greco-romano. Em rela~ao aos paises europeus diretamente concernidos. hispano-americanas.:ao a respeito de sua presen<. sem sua devida subdivisao como hispano-Iatinos. na primeira metade do seculo XIX. 0 termo "hispanidade" logo se colocara na contraposi~ao polftica do uso isolado de Iatinidade. quer dizer. as na~oes a partir do Mexico eram antes de tudo. as primeiras rea~oes aconcep~ao de America "latina" foram intensas. A premencia dessa constru~ao tornava-se maior amedida que 0 imperialismo norte-americano avan~ava. Pelo momento. 1994. hi onde des tiveram oportunidade de exercer sua influencia benefica" (Blancpain. uma identidade justificativa e com fundamentos historicos. 1991. Entre 1880 e 1914 se estabelecem numerosos "Institutos Alemaos" nessa pOrl. recomendando aos americanos do suI tomar cuidado ao seguir cegamente as teorias francesas.0 do planeta.28 carla brandalise As manifesta~oes locais de "americanismo" podem ser observadas. depois dela. . distante do colonial iberico. a qual guiaria 0 mundo ao progresso civilizatorio. 267-9). ou ao men os. 267).. pp.nicas. mesmo que ligada a civiliza~ao de predominante referencia da elite crioula. era preciso criar uma certa imagina~ao de mundo proprio. pp. bern entendido. 1-3). Em fins do seculo XIX. em especial. de seu lado. Para obter a independencia e. 0 pangermanista Wilhelm Vallentin ex- pressa suas opinioes em 1908 sabre a Latino-America: "A ca<. da mesma forma. 0 pangermanismo come~ara a mostrar sua potencialidade tambem em terras americanas 7 (Blancpain. onde 0 mais rico devenir dessa heran~a estaria contemplado na juventude das novas na~oes latino-americanas. Para a Espanha. oficialmente voltados para objetivos cientificos. por exemplo. uma proto-historia nacional. fase em que ainda dominava a no~ao de Hispano-America e nao de America "Latina" (Hale. sobretudo. a Italia esta por demais mergulhada em seu processo de unifica~ao politica para se interessar verdadeiramente pelo continente sul-americano. nao veem com bons olhos este conceito exclusivista. nas obras dos chilenos Jose Victorino Lastarria e Francisco Bilbao e foram idealizadas. Tratava-se de Estados-na~oes irmaos da "grande" Republica francesa. p. Nesse universo.3. Sintoma da epoca. A Fran~a reivindica a condi~ao latina e a defesa de uma cultura comum a fim de pressionar a Italia a romper com a Triplice Alian~a e a colaborar com a a~ao militar francesa.a". 51). 14). 0 Mexico e 0 Paraguai observaram ate 1918. 0 conceito terminou por ser aceito e empregado ao fim do seculo' (Feres Jr. cit. que empreendia a defesa de uma outra concep\=ao. Em vesperas da Primeira Guerra Mundial. ainda seria preciso. a sua introdu~ao em ampla escala e 0 seu enraizamento em todos os paises latinos da Europa e da America". a Argentina. urn solido bloco politico-economico. adverte: "E urn fato universal mente conhecido que.9 Em breve.vida propria. notadamente entre a lra. a latinidade marcava a identificaC. p. sempre sobre as bases da latinidade. respondendo a conjuntura. e preciso ressaltar.lia e a Fran<.. como ele 0 havia feito anteriormente. a revista propunha "a solida uniiio entre os povos latinos. 2005. "irmas latinas". Para enfrentar tal situa~ao. de acordo com 0 governo frances.a". nem mesmo a perda de influencia da Fran~a nas Americas no periodo do entreguerras. a ponto de por urn fim as ambi~oes da Alemanha. a mais estrita neutralidade. A primeira ocorrencia anotada pelo dicionario data de 1890 e encontra-se no documemo intitulado Reciprocity Treaties with Lat.ao de "Iatinidade" nas ame. 0 objetivo de examinar "novas de fazer apelo a novos endere~os de interven~iio e de organi- zac.0 uso do vocabulo "latino" associado a America tornara-se corrente. Posi~ao nao isenta de criticas. a de oposi~ao ao germanismo. construissem juntas.3.f ideda e concepc. 51). L .. "de acordo com 0 Oxford English Dictionary 0 termo «Latin America» sorneote come~ou a sec usado em ingles na ultima decada do seculo XIX.6es alternativas" . Malgrado as incontestaveis pressoes internas ou internacionais. Tal participa~iio.o maior de uma "ra<. durante os ultimos trinta anos. 0 elemento germanico ensaiou. Mesmo nos Estados Unidos.. Francesco Bianco (1920. 0 pan-americanismo." America. "Citado por Masrellone (op. que a Fran~a e a Itaiia. Apos a guerra. como a formulada pelo embaixador italiano. Estando a concep~ao consolidada. Em seu primeiro numero. 0 periodico frances intitulado Revue des Nations Latines. permaneceu simbolica. 0 conceito de "latinidade" interpela na Europa uma questao rna is pre mente. 24): "Alguns paises 8 Segundo Feres Jr.-icas 29 Em meados de 1880. p. 0 Chile. veremos a America Latina engajarse na Primeira Guerra Mundia!. o conceito ja adquirira . lan~ado em maio de 1919 sob dire~ao de Guglielmo Ferrero e Julien Luchaire. com ideias de a~iio. p. p. de autoria do presidente americano Benjamin Harrison". cit. provocou algum refluxo terminologico. (op. os desacordos nascidos no momento da paz assumem a dianteira.. Ja opiniao e imprensa brasileiras comungaram com a causa da Triplice Entente. assim. 10 A representa~ao da iatinidade. Jose Enrique Rod6. pela fraternidade em rela~ao a Grande Na~ao. nesta hora de incertezas. Uma vez a Primeira Guerra terminada. 1933. 0 presidente norte-americano Wilson prop6e a cria~ao de uma "Sociedade das Na~6es" (Ouroselle. p. outro faror que tornara menos operacional urn entendimento puramente latino. Sauda-se a vit6ria no Marne e a contraofens iva dada ainvasao da Fran~a. 80). surdos ao grande movimen- to de ideias do continente". 0 renomado escritor uruguaio. 0 prestigio de sua latinidade preeminente . Em seu lugar. sua origem e sua educa~ao. exprime em 1916 0 sentimento dominante em meio a intelligentsia do subcontinente: A consciencia latino-americana nao manteria coerencia com suas tradi~6es fundamentais. . com quem e1a divide a mesma ra~a e 0 mesmo espirito.. a ideia perde for~a. p. Nos anos vinte. criador da obra Ariel. A solidariedade com respeito a Fran~a e manifesta. com a ascensao de Mussolini ao governo de Estado. enquanto premissa de urn bloco politico e economico franco-italiano tornara-se. e1a perderia 0 instinto de seus rna is e1evados interesses. 0 resulta- do de urn antigermanismo iocalizado no tempo. Esta Na~ao que guarda para todos. mediante a reativa~ao do conceito 10 Citado por Marocco (1986. a ltalia visualiza em terras sul-americanas possiveis e imprescindiveis mercados comerciais e influencias politico-culturais. enquanto esta defende as jovens democracias da Europa oriental saidas da queda dos imperios centrais. se e1a nao se sentisse exaltada.30 carla brandalise latino-americanos se Iimitaram a neutralidade. as rela~6es entre a Fran~a e a itaiia se tensionam ainda rna is . em muitos aspectos. Aiem disso. 0 Uruguai rompe rela~6es com a Alemanha em outubro de 1917 e 0 dia do armistfcio e celebrado nesse pais em propor~6es de festa nacional.os antifascistas italianos procuram refugio na Fran~a. Os anos vinte: a presen~a da ItaJia no jogo conceitual Neste meio tempo. 57). reivindica para si a concepc. 355): o termo italianitii foi adotado pelo nacionalismo e pelo fascismo. Tratava-se de assumir posic. jornais. nao apenas para designar a indusiio. 0 sentido que italianitii assumira ness a epoca e explicitado pelo historiador Emilio Gentile (1986. a "grandiosa". por meio de toda uma mobiliza~iio academica. todos os latinos. argumentam os italian os. no Estado italiano. No entanto. no qual a lideran~a passaria a ser exercida pela na~iio italiana. a !tali a de Mussolini ambicionava algo maior. etc. a representante mais pr6xima e por dire ito da civiliza~ao romana. p. todos os latinos do mundo seriam. nao s6 seus compatriotas de alem-mar e sim. pela cidadania. a Fran~a.oes "latinas". antes. da qual ja se haviam apropriado os "nacionalistas" italian os. da "ra~a latina". panfletos. No entanto. assim. boletins. como tambem. Logo. buscando envolver.r I ideia e concep~ao de "Iatinidade" nas americas 31 de panlatinismo. A no~ao de latinita. a latinidade s6 existe e 56 mostrou sua for~a de sobrevivencia milenar em fun~iio do seu ber~o e sangue de origem. Roma. sendo natural que a lider-mae da "ra~a" fosse a halia. A despeito das vantagens que a Peninsula l .ao origin aria do "pavo latino". Ora.ao eminente entre as nac. de cultura. a !talia vai responsabilizar severamente 0 fraco senso de oportunidade dos govern os liberais italianos precedentes. livros. Ao camparar as conquis- tas anteriores de determinados paises europeus na America Latina. romanos. a Fran~a deveria ser sumariamente exduida deste projeto. Ela deveria indicar 0 sentimento e a consciencia de pertencer a na~iio italiana e exaltar a vontade. de interesses e de afei~iio com a na~iio de origem. na expectativa de aproxima~ao com sua comunidade espalhada pelo mundo. e novamente entendida como urn fen6meno de raman ita. 0 novo regime instituido na peninsula lan~ava-se na apropria~iio do conceito de latinita. manifestada em revistas. Um primeiro passo e dado em dire~ao aos "italianos partidos ao exterior". que resultara em extensa produ~iio textual. Mussolini retoma a metafora de Roma caput mundi. em especial. Para alem da italianita. de preservar na sucessao de gera~6es. os vinculos de lingua. passos mais retumbantes. em meio aos italianos que viviam fora da !talia. A halia. Passa-se a defesa do "direito sagrado e indivisivel" da halia a prop6sito da latinidade: 0 Primato. onde se conjuga latinitii com romanita e agrega-se italianita. com sua pr6pria falta de desenvoltura no pass ado. em uma acep~iio que pretendia ser politicamente mais acentuada. a influencia cultural da Fran~a prevaleceria como em nenhuma outra parte. sem quase opor resistencias. Por sua vez. a maior parte dos tearicos latino-americanos da educa~ao voltar-se-iam a Sorbo nne e ao College de France. tanto no campo das artes . discipulos ferventes da Universidade Francesa. A cultura italiana. De fato. praticadas com fervor. Na Argentina.J2 carla brandalise transalpina possuiria. 262-3). . na por~iio sui da America Latina. os govern os anteriores teriam permitido. a literatura francesa que se mostrayam bern conhecidas pela elite intelectual crioula e. sociais e filosoficas francesas. avaliava 0 italiano. Ferrenhos defensores do positivismo e da laicidade. como demonstra os comentarios feitos por Filippo Ugolotti em sua obra Italia e Italiani in Brasile: note e appunti (1897. educadores latino-americanos vinham a Fran~a buscar inspira~ao.. se permearia no subcontinente com muita dificuldade. como sua forte comunidade ernica. consagra~ao e tribuna. referindo-se ao Brasil. as ideias politicas. Poetas. sobretudo. eram a lingua francesa. de mais. anunciada pelos italianos em fins do seculo XIX. que a na~iio francesa se impusesse como modelo cultural por excelencia no continente "latino". Em conseqiiencia. da educa~ao. 0 italiano Luigi Incisa (1925. E 0 que mais desagradava Ugolotti era 0 fato de que os jornais brasileiros estariam baseando seu noticiario nas informa~6es obtidas em periodicos franceses. pp. da musica. Tais governos liberais seriam entao responsaveis por deixado nascer. em meio aos latino-americanos. 31). a influencia cultural italiana neste pais e ainda minima".sobretudo da arquitetura . todos os julgamentos negativos e vis6es desfavoraveis a proposito da !talia dados pela Fran~a terminavam por corromper a alma brasileira. onde 0 autor relata sua permanencia por tres anos nesse pais: "Os brasileiros sao todos mais ou menos impregnados. das letras. Quanto ao Brasil. escritores. tivesse ascendencia italiana e que muitos outros de nossos concidadaos se ten ham mostrado ilustres no dominio das ciencias e das letras. a percep~ao desse "triunfal fen6meno" ja era. p. Buenos Aires era tomada pela Paris do Novo Mundo. declara "ainda que urn dos maio res pensadores da independencia brasileira. e eles cresceram na admira~ao de tudo 0 que e frances. Libero Badaro. alias. ao contnirio. uma admira~ao que para alguns beira ao fetichismo". uma tradi~ao de receptividade ao magisterio moral da Fran~a e nao da !talia. Falava-se de francisation e francomania na America Latina. observavam os italianos. apresentando-se como intelectualmente "parisianises". quanta no gosto pelo espetaculo. r ideia e concepc;ao de "Iatinidade" nas americas 33 Nao faltavam, por outro lado, vozes dissonantes entre os latino-americanos que refutavam a matriz cultural francesa, dando esperan~as a italia. o escritor argentino Manuel Ugarte (1910, p. 61), por exemplo, endere~ava reprova~6es ao que considerava como a tirania intelectual generalizada de Paris, "a America meridional entregou-se a Fran~a com a ingenuidade de uma virgem". Mais tarde, Ugarte, colaborador da revista fascista italiana Colombo, lan~a no primeiro numero do peri6dico publicado em 1226, a seguinte interroga~ao: Por que nao ocorre ao espirito da juventude latino-americana vir a italia beber diretamente na fonte da latinita? Fala-se sempre de re!a~6es comerciais, de emigra~ao numerosa ... Mas nunca e lembrado 0 fluxo de ideias, de manifesta~6es artisticas, de civilidade que aportou e que ainda aporta ao Novo Mundo a extraordinaria italia. Por qual razao a italia, superior por sua irradia~ao universal, nao ve na America urn campo aberto a a~ao de seus filhos? Par que ela nao estende ao outro lado do Oceano, 0 tesouro inesgotave! de seu geniO?1I No Chile, 0 Partido Nacionalista, fundado em 1914, ia mais longe em seu slogan: Nem Paris, nem Londres, nem Bedim. Ao mesmo tempo, a italia constatava 0 evidente recuo comercial e cultural da Fran~a decorrente da Primeira Guerra MundiaL Tanto que 0 governo Italiano pressupunha poder tirar proveito dessa situa~ao e avan~ar em campo latino-americano. Assim, nesses anos vinte, intenc;6es e iniciativas voltadas para a America Latina sao progressivamente idealizadas e implementadas pelo regime fascista italiano, obedecendo, porem, a uma colossal distancia entre 0 projetado e 0 realmente realizado. Dessas proposi~6es, algumas eventual mente obtiveram resultados positivos, sobretudo se comparadas as parcas a~6es dos govern os italianos anteriores. No frescor do regime, tudo parecia possive! aos seus planejadores. Tratava-se antes de uma questao de espirito empreendedor, de perseveranc;a, em que 0 objetivo se constituia em recuperar as atrasos hist6ricos, II Colombo, fase. I, junho 1926, p. 91. As posi~oes de Manuel Ugarte, contrarias tambeffi a forte ingerencia dos Estados Unidos no continente latino-americana, mereceram eiogios do ita- Iiano Mario Puccini (La nUQva e la vecchia America. In: Rivista d'!talia e d'America, anna III, dez. 1925, p. 66): "Coovern rememorar a tenaz campanha conduzida contra a supremacia do Norte por alguns escritores do Sui: em primeiro lugar, 0 argentino Manuel Ugarte. Hi anos, Ugarte se bate nas revistas enos jornais da Franc;a, da Espanha e da America para livrar absoluramente a America espanhola de toda a influencia e infiltrac;ao nordica". b 34 carla brandalise pela ado~iio de meios performaticos. Para a l6gica fascista, a latinita do subcontinente apresentava-se como urn fato dado e irreversivel, devendo naturalmente ser percorrida e explorada, a fim de desvendar 0 que esta identidade comum continha como criterio de aproxima~iio. Segue-se entiio a considera~iio de que, na America Latina, seria preciso avan~ar mediante informa~oes mais exatas; construir sobre bases mais racionais. A disposi~iio em conhecer 0 subcontinente veiculando pesquisas antes de agir se impoe. Julga-se necessario dispor de esclarecimentos cartograficos, de analises das estrururas de poderes locais, de uma compreensiio aprofundada da vida economica, de subsidios dos meandros culturais. o impulso vern essencialmente do Estado, 0 qual espera intervir para eliminar 0 torpor e estimular os em preendimentos. E para direcionar uma obra tiio ambiciosa, 0 governo planeja uma interven~iio estatal eficiente. As formula~oes politicas e a gestiio adequada dos meios materiais alocados deveriam ser enquadradas pela administra,iio central do Estado, com 0 apoio de urn espectro empresarial supostamente ativo. A Peninsula quer enfim submeter seus possiveis recursos disponiveis as virtudes da regulamenta~iio, que corrigiria os defeitos e as naturais tendencias dispersivas. Em termos praticos, a Italia fascista pensa em oportunizar a aproxima~iio politica que vinha sendo anunciada com a ditadura espanhola do general Miguel Primo de Rivera. Ao levar em considera~iio a posi,iio, julgada privilegiada, que a Espanha deveria dispor junto as na,oes americanas de lingua hispanica, 0 Duce intencionava promover acordos hispano-italianos destinados a fazer progredir a influencia politica e economica da Italia no ultramar. A pro posta de acordo se estenderia tam bern a Portugal, e em seguida ao Brasil, a fim de criar uma "uniiio cultural" , sob a justificativa de que a importancia dos valores espirituais comuns entre os paises latinos precede e ao mesmo tempo avaliza todas as formas sucessivas de rela~oes. E a Figura espirirual que liga essencialmente 0 mundo iberico a Italia e a de Crist6viio Colombo. A Espanha acordou-lhe a confian~a e os meios de conduzir sua fa~anha. 0 ato de nascimento da America nos mostra que a ItaJia e a Espanha, entrela,adas, sustentaram 0 novo continente na sua fonte de batismoY 11 Prefazione. In: AmlUario d'ItaJia et dell'America Latina. Raffia: Istituto Cristofaro Co- lombo, 1930, p. 3. ideia e concept;ao de "'atinidade" nas americas 35 A conclusao de pactos de amizade e de tratados de comercio entre a Espanha e a ltalia abriria "uma colabora<;iio no vasto campo de interesses que os dois Estados dividem no que diz respeito as republicas sul-americanas. 0 tratado que permite a ltalia aproximar-se rna is intimamente da Espanha, fara que a a<;ao dos do is povos torne-se fecunda em resultados"." A boa vontade inicial da Espanha e, no mesmo grau, visivel. Rivera almeja dar a seu pais urn peso suplementar na cena internacional. Por ocasiao de uma visita aRoma, em novembro de 1923, 0 general espanhol declara, rememorando sua propria tomada de poder, que 0 exemplo de Mussolini "foi a prepara<;ao do ambiente, a eletrifica<;ao da atmosfera", e ele acrescenta que 0 Duce "permanece sempre 0 guia da Espanha na via da reconstru<;ao, do progresso e da ordem". 14 A princIpia, as perspectivas pareciam, ao governo italiano, positivas. Os universos latino e anglo-saxao: estrategias, conflitos e influencias A conjuntura dos anos vinte na America Latina mostrava-se propicia a solu<;6es que contornassem a "op<;ao" norte-americana. A V Conferencia Pan-Americana, ocorrida em Santiago entre 25 de mar<;o e 10 de maio de 1923, oferecera alguns subsidios perspicazes a ltalia quanta as possiveis estrategias de inser<;ao na subcontinente. Observa-se delinear 0 intento, em meios poHtico-intelectuais influentes ao sui de Rio Grande, de uma Uniao latino-americana, contraponto do pan-americanismo, agora identificado a subjuga<;ao aos Estados Unidos. Se existia uma disposi<;ao previa entre os latino-americanos de refor<;ar a sua "latinidade" comum, por que nao trabalhar novamente com uma ideia maior, a panlatindade, a associa<;ao de "todos" as latinos, refletiam governo e intelectuais italianos?15 13 Collaborazione italo-spagnola nell' America Latina. In: Le Vie de I'Italie et de l'Amerique Latine, n." 10, out. 1926, p. 1215. \4 Citado por Milza (1991, p. 248), Uma das primeiras convergencias que aproxima a Itilia e a Espanha em 1925 e representada por urn consentimenro comum sabre a organiza~ao de uma tutela mutua e redproca em relao;ao a seus concidadaos durante as viagens maritimas de ida e volta entre os dois paises e 0 Novo Mundo. A ideia ja havia sido lan~ada na Confen~ncia Internacional sobre Emigra~ao e lmigra~ao ocorrida em Roma, em maio de 1924. Uma proposi'tao estabelecia que os dois govemos se engajavam a assegurar aos cidadaos dos dois palses, que emigravam au que Se repatriavam em seus transadanticos, uma mesma prote'tao, assistencia medica e juridica. Ver: L'accordo italo-spagnolo per I'assistenza agli emigranti. In: Rivista d'ltalia e d'America, del.. 1925. 15 Ver: Samuel Guy Inman. Imperialistic America. In: The Atlantic Monthly, junho 1924; Summer Wells. Imperialistic America. In: The Atlantic Monthly, set. 1924. De resto, a ideia de 7 36 carla brandalise A animosidade entre por~ao suI e norte nao cessava de aumentar, como demonstravam as constantes manifesta~6es yankeef6bicas. Sem significar real amea~a a progressao da supremacia do grande vizinho do norte, 0 sentimento antiestadunidense se estendia e ganhava os meios rna is divers os. Os espiritos se agitavam e 0 descontentamento aumentava, a exemplo da indigna~ao geral em rela~ao a marcha dos norte-americanos sobre as republicas da America Central, a~ao sentida como implacavel. Tres paises das Caralbas haviam sido invadidos com incrivel facilidade pelos marines nas decadas de 1910 e 1920, demonstrando a superioridade tecnica dos EUA e a amplitude de sua potencia, possuindo, ja em 1907, a segunda maior frota maritima do mundo, atras somente da Gra-Bretanha (Maningat, 1991, pp. 370-83). Os Estados Unidos haviam, de fato, se arrogado do pan-americanismo, o qual porem ja possuia historia propria para alem do poderio da Federa~ao do norte, tendo sido formulado originalmente pelos defensores de uma Hispano-America independente da Espanha. 16 Nas lutas pela emancipa~ao politica, 0 lider Francisco de Miranda propunha que todos os povos entre 0 Canada e 0 Estreito de Magalhaes formassem uma grande confedera~ao. Opini6es divergentes ja se haviam manifestado naquela epoca. Para Juan uma agregalFao das na.-;6es de identidade latina era recorrente e Dutcas iniciativas ja haviam sido tomadas antes, a exemplo do Primeiro Congresso International HeH:nico-Latino ocorrido em Rama, no mes de m3n;o de 1903, sob a presidencia de Angelo De Gubernatis, com a presen~a de delegalFoes de varios paises latinos. Esse primeiro congresso fora organizado pela Societa EllenoLatina, a qual, por sua vez, fora fundada em Rama no dia 22 de abril de 1902.0 correspondente de imprensa do Brasil, Domenico Rangoni, demonstca pleno entusiasmo quanta aos possiveis resultados futuros decorrentes do Congresso: "No futuro do Brasil e dos Estados latino-americanos percebe-se 0 comer;o de urn salutar movimento. 0 seculo XX vera surgir, com ajuda da Italia, uma nova civilizar;ao latina na America do SuI" (Courrier de Rome de D. Rangoni, publicado no jornal brasileiro Correio PauJistano, 31 maio-1.° junho 1903). 0 Congresso tinha como urn dos seus objetivos a proposir;ao de uma Federa~iio. Na abertura do Congresso, 0 prefeito de Roma expos a natureza do encontro: "Trazer a palavra de Roma a esta reuniao significa trazer a sauda~ao da Madre Patria adorada a parentes proximos. Sejam bem-vindos rodos voces, que sao o simbolo vivo da imbativel ideia latina; voces, que vern com a nohre e grande missao de demonstrar triunfalmente que nossa ra~a grandiosa [... J nao esta destinada nem ao desaparecimento, nem a decadencia". 0 ministro Italiano da Instru~ao Publica, Nasi, declara na mesma ocasiiio: "A civilidade latina governa 0 pensamento h3. vinte seculos, e ainda que pare~a enfraquecida, ela se reve1a impulsionada por urn novo vigor e par urn novo rigor [... J todos os povos de lingua latina souberam e saberiio afirmar gloriosamente sua fe em seu proprio destino. Eis Roma que conduz, imortal no tempo, a luz do genio latino. Roma hoje sauda a ce1ebrar;ao da maior e da mais bcnefica das alian~as". Cirado por Rangoni (1903, pp. 11 e 89-90). 16 Segundo Robledo (1958, p. 34), "Ia idea de America asume, en el plano juridico y politico, la forma de los proyetos de confederacion hispanoamericana como la primera de sus manifestaciones historicas. El apego a esra forma de agremiacion, par creerla viable para nuestros pueblos, persiste hasta fines del siglo XIX, y no desaparece totalmente sino al advenir la segunda forma de asociaci6n que se plasma en las conferencias panamericanas". r ideia e concep~ao de "Iatinidade" 37 nas americas Martinez de Rozas, a confedera~ao devia englobar somente as colonias espanholas; por sua vez, 0 chileno Juan Egaiia projetou a convoca~ao de urn Congresso Internacional, que deveria reunir-se em 1811; San Martin tambern projetava uma forma de congrega~ao, e Simon Bolivar mostrara-se urn fervoroso defensor de uma uniao estrategica, sugerindo a convoca~ao de urn Congresso no Panama,!7 realizado finalmente em 1826, no qual os estadunidenses foram convidados a participar. 0 Congresso nao apresentou grandes resultados, mas contribuiu a fixa~ao da ideia de pan-americanismo enquanto mecanismo de liberta~ao das Americas. Os encontros se reproduzirao em Lima nos anos de 1847 e de 1864, e em Washington D.C. (1889-1890). Convocado pelos norte-americanos, esse ultimo congresso foi 0 rna is bem-sucedido ate entao. Estavam presentes dewito das vinte e uma republicas americanas.t' Organiwu-se uma "Agencia Internacional das Republicas Americanas", sediada em Washington e sobre a qual 0 secrerario de Estado norte-americano, James G. Blaine, garantiu a lideran~a. Estava inaugurada a era do pan-americanismo yankee, ja distante assim de suas origens. Entre as atividades da "Agencia" estava divulgar informa~iies correntes mediante a distribui~ao de boletins em espanhol, portugues e ingles. Com a justificativa de evitar sujei~ao maior dos paises americanos as potencias europeias, as interven~iies dos Estados Unidos, ate entao bastante marginais, se intensificam. No bojo estava afian~ar 0 crescimento desse pais, o que exigia a dinamiza~ao de exporta~iies secundarias e das importa~iies primarias atraves de bons mercados consumidores, ricos em materias-primas. Em prosperidade, 0 capitalismo liberal norte-americano, contando igualmente sobre urn gigantesco mercado interno, necessitava olhar para 0 exterior. A crise economica e social, derivada da superprodu~ao a~ucareira mundial, que se abate sobre a colonia cubana espanhola no ana de 1895, vira anunciar a inten~ao dirigista dos Estados Unidos no continente. 0 poeta e ensaista Jose Marti, fundador do Partido Revolucionario Cubano (1892), 1- Simon Bolivar defendeu em sua "carta profetica", no ano de 1815, 0 encontro no Panama: "Ojala tuvieramos alii un augusta congreSQ de los representantes de las republicas, reinos e imperios de America que se ocupara de los altos intereses de 1a paz y de la guerra y tratara con las naciones de las otras tres partes del mundo". Grado por Moore (1945, p. 742). 18 Nao compareceram 0 Haiti e Sao Domingos. 0 primeiro em protesto tentativa dos EUA de anexar parte do seu territoria, a peninsula de Sao Nicolau; 0 segundo em denuncia a a passivel invasao t norte~americana a baia de Sam ana. r 38 carla brandalise promove nesse mesmo ano de 1895 uma guerrilha contra a metropole espanhola com vistas a obten~iio da independencia de Cuba." 0 governo norteamericano acaba por se alinhar ao lado dos insurgentes e, em abril de 1898, entra em guerra com a Espanha. A despropor~iio dos meios belicos entre as duas na~oes era tanta que ja em dezembro de 1898, a paz e assinada em favor dos Estados Unidos. Esses ultimos saem do conflito com sua imagem refor~ada como potencia regional, enquanto os espanhois vivem a derrota sob 0 choque. Cuba obtem sua emancipa~iio, ..mas orbita agora na "zona protegida" dos Estados Unidos. 2• Parte da opiniiio europeia e tomada de assalto pela demonstra~iio de fo,,;a norte-americana. 0 velho continente deve levar agora em considera~iio a virtuosa entrada em cena de paises extra-europeus concorrentes. No alvorecer do seculo XX, 0 presidente Theodore Roosevelt reinterpreta a Doutrina de Monroe de 1823, encarnando 0 novo perfil do imperialismo yankee. Em discurso na cidade de Chicago, no ano de 1903, justificase a politica do uso da for~a a seguir no continente, 0 big stick, como uma forma eficaz de transformar definitivamente a America em "area de influencia" dos EUA. A antiga formula de "a America para os americanos" lan~ada por Monroe, acrescenta-se 0 direito exclusivo aos norte-american os de assegurar a ordem sobre todo 0 continente. 0 lugar da Federa~ao setentrional 19 0 cubano Jose Julian Marti y Perez, nascido na cidade Havana no mes de janeiro de 1853, marceu no ano de 1895, em Dos Rios, na luta contra 0 pader espanhol. Com 0 decorrer do tempo, seu envolvimento com a causa da independencia de seu pais, the valeu 0 estatuto de "heroi, apostalo, mestre, manic" nacional, desenvolvendo-se verdadeiro culto a sua pessoa. Vivendo no exilio, sobretudo no Mexico, e seoda seus textos de circulat;ao proibida na colonia cuhana, os trabalhos literarios e periodisticos de Marti tomaram-se conhecidos na America Latina a partir, sobretudo, de meados de 1880, em fun~ao de sua atividade de correspondente e ensaista do respeitado jornal argentino La Nacion, de propriedade de Bartolome Mitre. Sua fama consolidou-se por ocasiao de uma critica e1ogiosa publicada em La Nacion pelo estadista e inte1ectual Domingo Faustino Sarmiento, em 4 de junho de 1887. Sarmiento faz referenda a necessidade de traduzir Marti para 0 frances, lingua que considerava como a "idioma universal do espirito humano", para faze-Io conhecido fora da America Latina. A principio Marti opunha-se a qualquer intervenr;ao estadunidense na luta independentista cubana, mas certa ambiguidadc tatica pro-EVA aparece em seus escritos diante da inevitave1 presenr;a desses ultimos no processo (Ette. 1995, pp. 33-62). 10 A tomada do mercado cubano e a consequente depcndencia economica de Cuba pelos Estados Unidos, aparecem nos dados de exporrar;ao da ilha, espccialmente do a~ucar: "En 1850 Cuba exportO productos por valor de 7 millones de pesos a Espana y de 28 millones de pesos a los Estados Unidos. En 1860 las cifras habian suhido a 21 millones y 40 millones de pesos respectivamente. En 1890 Espana importaba productos por valor de 7 millones de pesos, y los Estados Unidos, por valor de 61 millones de pesos. Debido a esta dependencia economica, la isla era muy vulnerable a cualquier cambio de la politica comercial norteamericana" (Aguilar, 1992, p.216). sofre duas interven. na Bolivia constatava-se a presen. governados por politicos de alguma forma coniventes com a situa~ao. op. do Haiti e de Sao Domingos. 0 Paraguai e a Venezuela permaneciam ainda. invadidos pelas tropas norte-american as sob justificativa de restabelecer a ordem e proteger a vida e os interesses de seus cidadaos ai residentes. 742-7). Na America do Sui. 2004. a proclama~ao da Republica do Panama permite aos norte-americanos estabelecer-se na zona onde sera construido 0 canal entre 1904 e 1914. mas provavelmente nao por muito tempo. A partir de 1912. indispensavel acontinua~ao do crescimento inter- no das na~6es latino-americanas. anexionista a contar os casos da Nicaragua. que a Agencia Internacional das Republicas Americanas passa a denominar-se "Uniao Pan-Americana". por sua vez. p. pp. no Equador. a de tecnicos e conselheiros financeiros cuja tarefa consistia em dirigir a politica fiscal interna. 0 Mexico. dado que a adesao ao capital norte-americana se mostrava. ao enfraquecer os paises europeus. As rea~6es as investidas financeiras dos Estados Unidos eram. constata-se a ascendencia norte-americana em praticamente toda a America Latina.r ide:ia e concepc.. ligando os oceanos (Girault.. Nos anos de 1920. 301-07).dos "gringos". as a~6es do imperialismo yankee adquirem maior faceta . b . por vezes. ao abrigo do controle financeiro dos Estados Unidos. cit. a Argentina. Por longos anos. 2002.ao de "Iatinidade" nas americas 39 na disputa internacional e for~ado igualmente pela "diplomacia do d6Iar". s6 vez aumentar a inser~ao dos Estados Unidos nos paises "latinos" do continente americano (Girault & Franck. para ja na decada seguinte ela possuir cerca do dobro de capital investido na regiao em rela. 206). como eram chamados os yankees pelos mexicanos. A con juntura da Primeira Guerra Mundial. Finalmente. mesmo no Mexico. Acentua-se a tutela dos Estados Unidos sobre 0 6rgao (Moore. 0 Chile. alias.em Vera Cruz (1914) e ao norte do pais (1916) . ocorrido em Buenos Aires. contradit6rias. iio a GraBretanha e quinze vezes mais que 0 capital frances (ibidem. 81-5). No Peru.. consentira recentemente a todos esses ultimos paises substanciais emprestimos monetarios.. Parcela importante da imprensa latinoamericana faz-se entao porta-voz dos protestos contra tais ocupa~6es. pp. na Colombia. A Republica norte-americana. como dito. com grande entrada de seu capital nos mercados extern os. Passo importante a consolida~ao de seu poder. as tres republicas tornam-se quase que colonias dos Estados Unidos. julgava-se que somente 0 Brasil. pp. sera no Congresso das na~6es americanas de 1910. porem.6es militares . tomadas pelos Estados Unidos. 0 proposito concentrador dos EUA manifesta-se ja no caso da disputa de Tacna-Arica que opoe 0 Peru e 0 Chile. Porem. II. 1975. sobrepondo-se dessa forma aos europeus e a Sociedade das Na~oes (SDN). que eles adquirissem a consciencia do pertencimento a uma historia comum. fase. consideradas improprias. a fim de resolver entre si os antagonismos inerentes ao subcontinente. Em uma serie de artigos publicados entao por uma importan· te revista mensal de Buenos Aires. a falta de autoridade da SDN e o pouco interesse das na~oes europeias em se envolver de forma rna is efetiva no problema. a extensao a todo 0 continente de urn tribunal de media~ao para regulamentar de forma pacifica possiveis litigios internos. sugerindo em seu lugar. Nuestra America. 171). havia ja anunciado a posi~ao recorrente da Argentina a proposito do pais do Norte. sob sua pericia. denuncia-se 0 "perigo yankee" eo "seu pan-americanismo oficial". A proclama~ao da independencia politica da ilha mostrava toda a sua fragilidade com a Ementa Platt. Ao seu tempo. contribuem para que os Estados Unidos acabem por tomar 0 caso nas maos. In: Colom- bo. que garantia aos Estados Unidos 0 21 Citado em Ne imperialismo ne interventionismo negli Stati latino-americani. 1926. uma vez que esses dois paises eram membros da Sociedade." Na referida conferencia de Washington de 1889-1890. Para combater a voracidade do capitalismo do Norte. A Republica do norte propoe. membro da delega~ao platina. cria uma figura heraica a que se identificar. ao criticar a doutrina estadunidense "a America para os americanos".40 carla brandalise Durante a Conferencia de Santiago. A jovem e vacilante na~ao. agosto. tornava-se imperativo que os paises ao suI do Rio Grande aprendessem a proteger seus mercados e seus territarios. "a America para a humanidade" (Donghi. a Argentina assume com preponderiincia 0 papel de "polo de resistencia" dos "latinos" as atitudes. Roque Saenz Pefia. simbolo da cubanidade. p. A beligerancia e primeiramente levada a SDN. Jose Marti transformara-se na imagem da ansia de autodetermina~ao do pais. Demonstra~oes de tal voca~ao argentina se multiplicam. os Estados Unidos haviam manifestado inten~ao de se constituirem em arbitro principal dos conflitos latino-americanos. estima Nuestra America. 0 recha~o ao "colosso do Norte" e seu imperialismo assumiam propor~6es de causa coletiva no subcontinente. . confrontada a uma potencia expansionista. Em Cuba. governador militar norte-americana. Sob pressao. 0 dia do aniversario do ativista da independencia foi declarado festa nacional. las propiedades y las liberdades individuales". o poder norte-americano nao provocava apenas criticas da America Latina.ao de uma base naval em Guantanamo. no ana de 1910..ao constitucional cubana. A admira~ao pela Federa~ao estadunidense fazia-se sentir fortemente em outra parcela da elite politico-intelectual crioula. h . 0 debate mostrava-se incisivo e acirrado. como valorizada pelo modelo renovado que surgira no norte do continente americano. por sua vez. Nesse ultimo artigo. Platt apresentou no Congresso estadunidense uma resolu~ao. The Manufacturer. durante a redat. em maio de 1901. que justificava as perspectivas anexionistas norte-americanas sob a alega~ao da "inferioridade moral do povo cubano". Ja no fim do seculo XIX. e conduzia sentimentalmente 0 incipiente movimento nacionalista. Essa ultima cultura aparecia. escritos como Vindicacion de Cuba eram reeditados. aparecido originalmente em 1889. Em Paris e lan~ado. iniciaram-se as trabalhos que diziam respeito as reia'Joes entre Cuba e as Estados Unidos. 225-6). libertaria. Preconizava-se a ado~ao 21 Em fins de janeiro de 1901. ciL. defendia a "grandeza" de Cuba. colocava-se em primeiro plano 0 pragmatismo. a imprensa latino-americana abrira suas paginas ii polemica discussao quanto aos meritos e demeritos respectivos das culturas latina e anglo-saxonica. 0 general Leonard Wood. Na ilha. Neste meio tempo.ao da convenr. Marti. 0 nascente movimento estudantil da Universidad de La Habana e intelectuais que se reuniam desde 1923 tinham em Marti urn mentor da transforma~ao possivel da sociedade cub ana. Em 1926. a produtividade. 0 esprit de corps. 0 senso de eficacia. op. Exigencias essas que causa ram furia e acalorados debates entre os cubanos.p ideia e concepr. Jose Marti respondia ao peri6dico da Filadeifia. op. uma primeira antologia do autor. 0 ensaista passava a ser simbolo de liberta~ao do juga imperialista estrangeiro (Ette.ao de "Iatinidade" nas americas 41 direito de intervir em Cuba a qualquer momento. A favor do modelo anglo-saxao. 0 direito dos EUA de ingen!ncia em Cuba e a insralar. pp." 0 intelectual Marti personificava agora os ideais perdidos de uma epoca vislumbrada como gloriosa. pp. segue-se 0 intento de publicar na capital francesa uma edi~ao de "Obras Completas". No exterior. a disciplina. Nesse mesmo ana foi fundada a Universidad Popular Jose Marti. que devia somar-se it Constitui~ao cubana. sua obra se difundira. 0 senador Orville H. Para esses grupos. expos as exigencias do seu pais. Pelo contrario. para seus aficionados. No ana de 1922. As opinioes dividiam-se. a Ementa Platt. As disposi~oes davam aos EVA 0 direito de intervir no pais caribenho para "et mantenimiento de un gobierno adecuado para la protecci6n de la vida. A questao nao era exatamente uma novidade. 89-96). 0 apendice foi incorporado it constitui'rao cubana (Aguilar. cit. pp. au gala-romanos.a e da hereditariedade para conceber a ascensiio e 0 declinio inevitavel das sociedades. argumenta que somente certas rac. do conflito ininterrupto das ". por natureza. ao passo que 0 preceito da selec. uma vez que os "Iatinos" necessitariam com urgencia de pniticos industriosos e energicos.6es raciais que invocavam a biologia e a antropologia. au germanica. 406-07). Em resumo.ao excessiva das rac. p. Quanto ii hereditariedade. no come~ do seculo XVIII.na luta pela existencia. os povos demasiado miscigenados. a exemplo de Arthur de Gobineau. a hereditariedade e ii selec.ao nas obras de tearicos do seculo XIX.ao se daria na evoluc. ultimo rei de Hanover.ao natural. os trac.. e seus sistemas que hierarquizavam os grupos de populac. retoma 0 miro. superiores em beleza e inteligencia. entre si em func. em especial no que dizia respeito a desigualdade.[853 e 1855. na Fran~a.iio (Bejin. seja pela morte .as. .ao. 0 filasofo ingles Herbert Spencer. no reino da Franrra. os quatro tomos de sua obra Essai sur l'Inegalite des Races Humaines. Herbert Spencer e Gustave Le BonY 0 diplomata e escritor frances Gobineau publica. Nessa obra. seja pela fecundidade . cit.as ou grupos humanos (os dotados de caracteristicas fisicas hereditarias permanentes) eram capazes de se civilizar. Tal polemica buscava boa parte de sua inspirac. 34). com a concep~ao do progresso racial. 0 autor expressa todo 0 seu fatalismo pessimista ao empregar quase que exclusivamente 0 ditame da rac. Neste quadro. como se dizia na epoca".42 carla brandalise do tipo de educa~ao yankee. Existe aqui a ideia de progresso e sobrevivencia da civilizac. dedicada a George V. com suas concepc.na luta pela descendencia. Na classificac.iio. estaria em lura contra a carra inferior dos gauleses. Essas teorias constituiam-se na aplicac.duas ra~as»: a carra superior franca. as teorias darwinistas sociais vern refor~ar tais concepc.os fisicos e mentais inatos e/ou adquiridos seriam transmitidos pela reproduc. de suas faculdades fisicas e mentais. op. causado pel a miscigenac.ao.iio das especies e das sociedades. lJ A no~ao de "ra~a" na Europa apresema uma trajet6ria longa. existiria a coexistencia conflituosa de duas carras. entre . "0 primeiro teorico das linhagens de ra~a £Oi sem duvida Henry de Boulainvilliers que.ao as sociedades humanas e as suas culturas do principio darwiniano da selec. au narroes.iio humana. N a segunda metade do seculo XIX.6es. 0 autor concede lugar proeminente aos ariano-germanicos. como em Gobineau. segundo Pierre-Andre Taguieff (1997. surgido no seculo XVI. No principio da desigualdade esta 0 argumento de que os individuos diferem.ao de suas aptid6es e seus comportamentos. 0 que desacreditava. Em seguida. se encontraria em franca decadencia e degenera~ao pelo mundo todo. sem nenhuma duvida. porem. no entanto. a Historia. a nao ser entre os selvagens. 0 autor reitera a ideia de que as ra~as indo-europeias seriam as unicas superiores. obra escrita em 1903 e publicada em Barcelona pelo argentino Carlos Otavio Bunge. no entanto. A hereditariedade determinaria a inteligencia e. ao mesma tempo. alterava-se o carater e. Depois. a obra afirma que "as ra~as sao a chave de toda a explica~ao.as. a alma deve. Inscrevendo-se no "espirito leboniano". as sentimentos e as creoc. continua Bunge. Nao se encontrariam mais ra<. fato que engendrava urn fatal desequiHbrio psicologico. Le Bon citava como exemplo justamente as Americas. cit. 0 sangue. 0 brac. Ao inverso dos yankees. na qual seu autor encadeava suas no~6es historicas e antropologicas de ra~a. indianizados. Ao atingir tal maturidade. . Ao modificar a hereditariedade. Tudo se completa.as puras. Esse ultimo. ser conservada. foi aclamada em toda a America hispanica. Em sua explana~ao. entao. 0 autor frances condenava a absoluta mesti~agem racial na America do SuI. Nuestra America. Esta matriz pessimista. os espanhois da America nao constituiam uma fa<. urn produto historico. 0 carater. latina e mestic. As ra~as sao. amulatados".. pp. a hereditariedade psicologica sao os principais fatores". 28-9). em conseqtiencia. ou para ser mais exato. antes. Nesse balan~o. na verdade. pois sua degenera~ao pode ter lugar rapidamente. particularmente presente no Brasil. 0 qual influenciava os sentimentos e as cren~as. Todas as linhagens raciais tinham suas proprias caracteristicas psicologicas hereditarias e a "psicologia nacional" de cada republica diferia em fun~ao de seu amaIgama racial especifico. seria a mistura de ra~as que faz evoluir 0 fundamento hereditario.o. em especial.o anglo-saxao se colo- caria. Basta uma pequena mistura com estrangeiros para que a ra~a enfraque~a seu carater. vern os dimas.r ideia e concep~ao de "Iatinidade" nas americas 43 Outra matriz vini dos conceitos desenvolvidos pelo frances Le Bon na obra Lois Psychologiques de [. acima do bra~o latino. Ao contnirio. conquistou seguidores entre os america- nos ao suI do rio Grande. o que ele julgava como 0 progresso e a estabilidade do Norte das Americas em oposi~ao a anarquia sanguinaria e a autocracia do suI do continente.Evolution des Peuples (1894). sendo preciso percorrer urn longo caminho para constituir a alma de uma ra~a. 24 24 t Cirado por Hale (op. a proposito deste subcontinente que se mostrava. eram "europeus bastard os.a pura. 0 chileno Ambrosio Montt declarava que a ra~a latina "tinha chegado ao ultimo grau de prostra~ao no seculo XIX. encontra-se uma aprecia~iio positiva do "espirito latino" e de urn idealismo latino-americano agregado ao julgamento moral depreciativo aos Estados Unidos.44 carla brandalise Da mesma forma. Para Palacios. 2S Nesta autodesvaloriza~ao nacional. os conquistadores.de uma por~iio nobre de origem gotica. derivada da antiga Escandinavia. e notadamente da ra~a italiana. as de imigra~ao mais recente. ainda que tenha tornado urn caminho de analise similar. a qual deveria beneficiar-se de uma entrada no pais. e que 0 saxao e 0 anglo-saxao triunfaram definitivamente desde 1814". a explica~ao fundamental da desordem geral que reinava na America Latina. Este breve ensaio escrito por Rodo. antitese de Calibdn. encontram-se ainda obras como Les Democraties Latines de ['Amerique (1912) do peruano Francisco Garcia Calderon (1883-1953). 108). Calderon ve na mistura de ra~as decadentes e destrutivas. Por seu lado. referencia ao personagem simbolo da espiritualidade. visava proclamar 0 valor de uma America latinizada por vontade propria. acentuando 0 papel da fatalidade racial em meio a urn clima geografico que ele julga nefasto ao desenvolvimento da civiliza~ao. op. "pratica entre nos urn tipo de H Citado por Ardao (1992a. afirma 0 autor. . no minimo. p. Arguedas aplica sua analise ao caso da Bolivia. com as qualidades superiores dos primeiros espanhois.e tal caracteristica faria toda a diferen~a .ao". 32). p. figura por excelencia do materialismo e da falta de habilidade. Ele corrobora 0 determinismo biologico. Obra classica e emblematica dessa matriz otimista. condicionada pelo pensamento europeu e confiante na inexpugnavel decadencia do continente latino. "A poderosa Federa<. Pueblo Enfermo (1909) do boliviano Alcides Arguedas (1879-1946) e Raza Chilena (1904) do chileno Nicolas Palacios (1854-1911). diminuida. 0 real perigo de decadencia no Chile provinha das "ra~as latinas inferiores" (Hale. ele repudia a "mania do Norte" e acusa 0 utilitarismo e a mediocridade democratica dos EUA. Essa ra~a seria 0 resultado da mistura da coragem e da independencia dos indios. aparece em 1900 e se intitula Ariel. descendentes . cit. Palacios chega a algumas conclusiies diferentes. que vai influenciar os autores subsequentes. da gra~a e da inteligencia. mas acredita na existencia de uma verdadeira ra~a chilena que merece ser recuperada e reabilitada.. .ada pela invasao comercial dos Estados Unidos. entre 1903 e 1910. 73-105). 1991. a unica estrategia possivel ao continente latino: "Se as na~ees latino-americanas tern a pretensao de conservar sua independencia em face da ascensao dos Estados Unidos. E a alma italiana que reside nos varios milhees de argentinos. amea. preludio de uma hegemonia politica mais ou menos proxima.r ideia e concep~ao de "Iatinidade" nas americas 4S conquista moral [. J nos. somos bern mais latinos que os espanhois.. l . 0 Italiano Vincenzo Grossi. assim. 1970) sera um dos mais aguerridos opositores da "amea~a norte-americana". e necessaria que os argentinas se sintam filhos de Roma. a revista chilena Sucesos publica uma quinzena de caricaturas mostrando os Estados Unidos fazendo figura de agressores. 1900. nao e a Espanha que combate os Estados Unidos. como tam bern um tra~o regular da retorica politica de toda a America Latina (Smith. a yankeefobia torna-se.0 Buenos-Aires Herald exprime sua hostilidade aos Estados Unidos. temos uma hereditariedade de ra~a. pp.ada". disfar. os argentinos. nao somente uma corrente habitual nos meios universitarios. em sua obra Storia della Colonizzazione Europea al Brasile que "a America Latina esta atravessando urn dos momentos mais crfticos e decisi- vos de sua historia. mas. pp. publicado em 1919. Os imigrantes italianos portam a essencia da latin ita. Nos anos vinte. mas 0 espirito latino. Para poder enfrentar a invasao norte-americana. sangue italiano. Liga panlatina A progressao da Republica do norte na America Latina despertava ha muito tempo opiniees e rea~ees nos observadores da Peninsula italica.Beyond the Enemy. no ana de 1905. os americanos latinos. 0 argentino de origem espanhola. em tom de advertencia. 0 colombiano Jose Maria Vargas Vila contribui para esta tematica no Against the Barbarians. em suas veias. Mais da metade dos argentinos possui. A partir de 1909. ao mesma tempo que valoriza as influencias francesas e italianas: No continente americano. Manuel Galvez (Rouquie. uma grande tradi~ao etnica a manter" (Rodo. ja proclamara. Foi a cultura francesa que ofereceu a America uma nova nuan~a para a velha lingua castelhana. 5-12). Para em seguida definir. Nos. antigo proponente do papel mediador do continente europeu nos assuntos latino-americanos. The Yankee . ocorrido na cidade de Milao. ItaloArgentini dopa laGuerra. Uma concep. Descaso esse que estaria sendo suplantado pela presen. em geral.ao mais otimista sobre as possibilidades da Europa. 1914. 1901. da ra.a. alem disso.r 46 carla brandalise elas devem tornar ainda rna is estreitas e intimas suas rela. tambem com a exigencia de pagamentos antecipados. 202-03). Refor.6es de natureza economica e social com os principais paises da Europa" (Grossi. pp. uma ignorancia voluntaria do castelhano nas transa~oes economicas. . a despeito da inegavel performance positiva dos Estados Unidos. Carrati indica os pontos de fraqueza do propos ito yankee. em seu comunica. argumentara a favor de maior interven. momento em que as Republicas sulamerican as foram temporariamente abandonadas pe!o capital e pelos interesses europeus. Ao analisar os efeitos comerciais causados pela Primeira Guerra Mundial no continente latino-america no em sua obra I Rapport. nao poderia ter tido melhor impulsao que a dada pelo conflito. para evitar que ali se crie uma potencia. e expressada pelo economista italiano Giuseppe Caratti. a nosso ver perniciosa. Da mesma forma. 0 metodo norte-americano seria pouco eficaz e inapropriado: revelava. 34-5). a fim de reparar urn quadro historico de negligencia. na America Latina.ando ainda a ideia da possive! recupera. 0 economista se posicion a: "Existe verdadeiramente uma tendencia irresistive! a Uniao Pan-Americana. . por todos as meios.a que queira opor-se as exigencias nordicas" (Franzoni. 0 autor considera que 0 "pan-americanismo". razoes de cizania. pp. no sentido politico da palavra? Eu nao acredito". 1917. por exemplo. a marcha de Washington com persistente desconfian. 0 que criava mais descontentamentos (Carratti. a Europa poderia contar com 0 fato de que os paises do SuI acolhiam.. desconhecimento mais flagrante e desgracioso quando comparado a amplitude e a habilidade do comercio alemao do pre-guerra. os norte-americanos praticayam uma politica comercial por demais agressiva ainda sob 0 pretexto da guerra. Por outro lado. no ana de 1901.a dosEstados Unidos: "0 Mexico e as Republicas da America Central sofrem ja a influencia. e por conseqiiencia da Italia.a anglo-saxonica. baseada em uma ra. pp. 0 italiano Ausonio Franzoni. eia at fomenta e at mantem. 35-45).ao apresentada no IV Congresso Geografico Italiano. publicado em 1917.ao europeia. influencia que vai manifestando-se cada dia mais forte nos Estados meridionais. programa yankee.ao estatal de seu pais no processo migratorio italiano para a America Latina. para recuperar 0 terreno perdido. J Londres e Paris. aos interesses da politica expansionista yankee na America Latina.. abr. conduzida por Adone Vendemiati. no ano de 1921. sem duvida. Incisa sublinha ainda 0 que considera como grave disfun~ao de base que deveria ser imperativamente corrigida: as rela~6es comerciais estabelecidas entre os paises latinos da Europa e os paises da America Latina haviam produzido.. 258-9). Com tal finalidade. cerca de 42 % dos produtos manufaturados que 0 Brasil introduziu anualmente no pais sao de fabrica~ao norte-americana [.D 4. a ingerencia norte-americana. a exemplo de manufaturas e de bens de produ~ao: "Nos ultimos anos. Luigi Incisa. Ao contrario. realizada em Roma no come~o de 1925. editada em varias linguas e distribuida por Washington. cujos efeitos se mostravam bastante persuasivos. 11. durante um amplo periodo. 0 instrumento mais conhecido era a revista The Pan American Magazine. antes de tudo. dirigida por Giovanni di Silvestro. 0 governo fascista apoia e felicita 0 acordo que se prefigurava entre as duas associa~6es mais representativas de italianos vivendo no exterior. alertava Incisa. afirma que a Uniao Pan-Americana servia. a Uniao dispunha de meios de propaganda. apostando em maior aproxima~ao com as Americas. os dirigentes 26 Emigrazione e Lavoro. resultados frutiferos. p.0 que Ihe parecia ser uma circunstiincia particularmente bem utilizada pel a potencia norte-americana: "A inveja e a rivalidade que dividem tanto os Estados da America do SuI quanto os da America Central Sao habilmente exploradas em proveito proprio pelos Estados Unidos". 1925.if ideia e concepc. no entanto. em Nel Paese della Fazenda. e dos Estados Unidos que provem 0 grande capital" (Incisa. por exemplo. n. mas se limitavam em geral aos generos alimentkios. pp. com tiragem de algumas centenas de milhares de capias. hoje. . V.-mai. publicado em 1925.26 Assim. por sua vez. pusera em evidencia. as trocas comerciais efetivaram-se em campos fundamentais para 0 desenvolvimento economico da America do SuI. 1921. a Ordine Figli d'Italia. controlados pelos Estados Unidos. e a Federazione delle Societilltaliane del/'Argentina.ao de "Iatinidade" nas americas 1 47 A maior parte dos italianos. editada na Italia. A revista Emigrazione e Lavoro. senao irreverslvel. corrobora como problematica. com os Estados Unidos. foram os dois grandes centros financeiros. implantada nos Estados Unidos e Canada.. Na homenagem junto a tumba do Soldato Ignoto della Patria. recebera recursos provenientes do Credit Foncier pour Ie Bresil.27 Por seu lado. contribuir ao renascimento espiritual e ao despertar comercial e industrial da Madre Patria". Ao contrario. ele se esfor~a para reencontrar na America Latina seu papel econ6mico do pre-guerra. no qual e reafirmada a fidelidade a patria de ado~ao. urn patto di alleanza. p. 27 II patra d'alleanza tea i figli d'ltalia del Nord e del Sud America. entre outras medidas. 1925. a despeito de seu enfraquecimento no p6s-Primeira Guerra. 0 governo frances. com 0 aval de Mussolini. 0 Brasil. ao mesmo tempo em que se propoe a firme manuten~ao da "flama da latinitil". d'America. In: Rivista d'ltalia e 0. posta a servi~o dos interesses que a ltilia ja possui e pretende desenvolver com mais vigor com a Espanha. A Fran~a engaja-se na difusao de sua cultura. aperfei~oar e maximizar 0 interesse dos emigrados a prop6sito da Italia. de sua presen~a no "bloco latino". da organ iza~ao de urn instituto que centralizaria as a~oes e concep~oes estrategicas voltadas as perspectivas de inser~ao na America Latina. antes. da Caisse Generale d'Emprunts e da Societe Fran. jan-fev. Os objetivos a atingir sao definidos: "Facilitar a difusao da lingua e da cultura italianas. seja percebida como uma grande for~a de expansao. na concessao de aportes financeiros. destacado membro do 6rgao. 0 novo instituto igualmente reflete a politica de aproxima~ao com a Es panha. 48 carla brandalise das associa~oes americanas assinam. Istituto Cristoforo Colombo A Italia pensa em urn centro de irradia~ao de "panlatinidade" italiana. a Italia procura a eficacia atraves. por exemplo. nesses an os vinte. . que toma forma na funda~ao do Istituto Cristoforo Colombo.° XIII-XIV. de aceitar qualquer esbo~o de marginaliza~ao. Em meio ao embate entre as na~oes por "espa~o vital" no subcontinente. nao tinha inten~ao de abdicar de fato. ele ira encorajar uma coopera~ao eficaz para que a civiliza~ao latina nao seja considerada como uma simples expressao de retorica.aise des Cables. 63. 0 professor italiano Luigi Bacci. no envio de missoes de instru~ao militar. definir-Ihe-a 0 carater e os prop6sitos: Sua funda~ao constitui urn dever de italianitil.. promover permutas culturais e comerciais entre as duas Americas.. Portugal e paises latino-americanos. Portugal e as na~6es latino-americanas". sem relar. 0 sentimemo de nacionalidade e de afeir. porem. ao mesmo tempo. 15). 0 governo espanhol demonstrara estranheza e insatisfar. Da mesma forma. a italia.ao dos italianos a fe cat6lica e. Circulares sao despachadas aos paises latino-americanos. 276). Entre a ltalia. Os diplomatas espanh6is. sintese do pensamento dos paises diretamente concernidos. essas relar. A ambir. cientifica e economica personalizada por intermedio 28 Luigi Bacci. e preciso novas e mais s6lidas amarras.a. com os paises latino-americanos. 0 governo argentino tomara posir.ao com 0 segundo Istituto. pp. h . a Argentina havia declarado preferir manter sellS vineulos privilegiados somente com a Italia. p.ao contra 0 ostracismo da Franr. apresentandose como urn estabelecimento voltado it difusao de urn "programa organico. os espanhois haviam constatado que. a qual nessas eondir. L'attivita dell'Istiruto Cristoforo Colombo. A efetiva participa~ao dos parceiros ibericos e das na~5es da America Latina na nova organiza~ao. em enquete previa efetuada nos palses latino-americanos.29 Espanha e Portugal se fazem representar por seus membros diplomiticos creditados junto it corte do rei da italia. Rivera instaura. p. 1989. a Espanha.5es seria 0 tinieo pais "latino" sem representa~o.ao de eriar 0 Instituto manifestara-se na Italia antes mesmo do golpe de Estado do general Rivera. Ao proclamar encerrado 0 governo parlamentar espanhol. A italia. op.oes entre os dois paises [Espanha e Italial e bastante desconhecido.28 o Instituto come~a suas atividades em mar~o de 1924. quer dizer. E isto basicamente por duas razoes: em primeiro lugar..ao da Espanha mudara com 0 advento de Rivera na estrurura govemamental. mas da mesma forma voltada aos emigrados italianos. a Peninsula Iberica e estes povos longinquos que pertencem a nossa ra~a. entretanto. de e muito importante. V.ao nomeada igualmente Istituto Cristoforo Colombo.oes coneorrentes do eontinente americano.oes se desenvolveram em tomo dos interesses que 0 govemo fascista mantinha essencialmente em materia de politica e economia na America hispanica". no mes de setembro de 1923. revelar-se-a fraca ou falaciosa.ao ao fato de 0 projeto excluir a Franr. Entre a ltalia e todos estes paises. seja por falta de interesse ou de recursos. a madre di tutta gente latina. em segundo lugar. com 0 objetivo de "ajudar a manter vivo no corar. cit. artistic a. 19 Uma outra associar. quer praticar uma ativa propaganda intelectual. p.. propfcio as relar. 223.! ideia e concept.a. mais particularmente. com apoio do rei Afonso XIII e dos militares. sem partilha-los com outras nar. foi fundada na segunda metade do seculo XIX por Monsignore Scalabrini. mas 0 ultimo govemo constitucional espanhol nao respondera a proposi~iio com grande entusiasmo.ao de "'atinidade" nas americas 49 Portugal e. nao subsiste nenhum desacordo. Como exemplo das dificuldades preliminares. Ojeda no Peru e Padilla na Venezuela estao entre os que fazem saber da acolhida favoravel ao Institut0 30 (Lerma. p. fase.ao pela Madre Patria".6es governamentais com 0 regime de Mussolini (Lerma. estes nao de- monstraram grande interesse pela iniciativa italiana. A posir. set. 269-78). wn regime de excer. nao existe e nem pode existir nenhuma desconfian~a.ao. sublinhavam os espanh6is. 1927. 137): "Esse aspecto das relar. E a Idlia que dara sentido e interpreta~ao ao Instituto. In: Colombo. seja porque a na~ao italiana assume a dianteira de forma contundente. JO Segundo Sanchez (1995. Citado por Macola (1894. 0 que acontece de fato e que a -Italia acaba por oferecer a sede social. 0 presidente honorario sera Benedito Mussolini. e hoje em dia asperamente disputado por outros povos. seu vice-presidente.31 Segundo sua normatiza~ao. secretario-geral. Luigi Bacci. No entanto. 0 erro seria acreditar que a aproxima~ao por ela mesma tomaria para nos 0 ambiente rna is propicio [. as coletividades emigradas desses ultimos e individuos diretamente interessados. 1.. como se observa na advertencia feita pelo adido comerciallotado no Chile. Giovanni Giuriati. Tommaso Mancini. com 0 Tesouro ii be ira da falencia e prejudicada pelo escasso valor de mercado de seus produtos agriColombo. formula os principais projetos e fomece praticamente todo 0 capital. 0 Instituto nao seria uma organiza~ao de carater puramente publico. Em 1924. Giuseppe De Michelis. Como presidente do Conselho Deliberativo. Tommaso Mancini. p." Quanto a Portugal. Problemi e mezzi della nostra penetrazio1te ecollomica nell'America Latina. mas por habilidades expansionistas. 1924. J A Espanha nao pode repousar na certeza de dispor de urn dominio que. Ciro Trabalza. Giorgio Del Vecchio.50 carla brandalise do Instituto. se urn dia existiu. Importantes personagens do regime estarao presentes. 0 nitido recuo da Espanha nesse continente ja havia sido notado pel os representantes italian os. Giorgio Guglielmi De Vuki. Da mesma forma. Amadeo Gianini. Santiago. A Espanha coopera colocando a disposi~ao seu corpo de diplomatas e favorecendo a difusao dos ideais do Instituto atraves de suas embaixadas e lega~6es na America Latina. estes povos concorrentes esquadrinham 0 terreno e triunfam sobre os paises rna is fracos e ingenuos.. sendo esta propaganda uma necessidade maior. p. I. promoveria a colabora~ao entre os Estados associados. nao em virtude do sangue ou de um passado comum. ele adverte sobre a inutilidade e os maleficios que representaria supervalorizar a influencia do pais espanhol na America hispanica: o pior de tudo seria a ilusao que a aproxima~ao italo-espanhola possa nos dissuadir de colocar em obra nossa propria propaganda na America. namedida em que interagiria com 0 setor privado. 31 32 . sua participa~ao se faz de tempos em tempos. 15. junho 1926. encontrayam Giuseppe Botai. estando em meio a graves dificuldades economicas. fasc. Entre os 43 conselheiros. p. Gustavo Cumin.ao de organismos e sociedades que tenham por objetivo favorecer e expandir as trocas comerciais entre a Italia e esses parses latino-americanos". alunos. entre outras: Valeria Blais. Venezuela. 1926. fundada em 1926 e que aparecera ate 1930. de sua parte. a exemplo do escritor Arturo Farinelli. Costa Rica..:6es latino-american os. Portugal nao conseguira manter mais do que um fragil vinculo com 0 Instituto. p. membro da Reale Accademia d'Italia. pp. 0 novo Instituto pretendeu reunir todo 0 genero de informa~6es sobre os paises latino-americanos. Oronzo Quana. 33 Numerosas obras sao publicadas. op. II. II Peru. Gallegari. 256-7. 0 peri6dico apresenta-se como "a revista dos fatos italianos e latino-americanos". Vittorio Emanuele 33 As disposi~oes estatutarias pormenorizavam os interesses de cada pais-membro. Na pratica. l . Mario Mori. Messico. G. Colombia. Os paises latino-american os. Equador. Ricardo Riccardi. de carater geopolitico e econ6mico. Concedendo urn esfor~o de participa~ao minima. exercerao em geral 0 pape! de receptores das iniciativas italoespanholas. Guatemala. Nela figuravam artigos de nomes destacados do mundo literario. nem padenl aventurar-se na possive! constru~ao de uma politica comum com a Italia. escritas fundamentalmente por intelectuais italian os. V. promover a constitui~ao e a fomemac. Dirigida por Luigi Bacci e redigida em italiano. 0 Istituto deveria "desenvolver pesquisas e implementar todas as iniciativas diretas a fim de estabelecer as mais amplas reia'roes economicas entre a Itoilia e os palses latinoamericanos. ante as dificuldades militares no Marrocos e as agita~6es separatistas da Catalunha. financiou a permuta de professores. Giulio Borghi. como monografias ilustradas. do ex-presidente do Conselho. 0 governo Rivera. De qualquer forma. Armando Morini. 34 A cole~iio de obras referentes a essa tematica publicada pdo Istituto na decada de 1920 compreendiam. miss6es de investiga~ao e de estudos. San Domingo. No que dizia respeito a Italia. Gtado na revista Colombo~ fasc. Alessandro Ninni. Ver: Colombo. 1927. esperando obter algum beneficio. Pietro Lantini. cientifico e politico do momento. A Argentina sera a maispresente. Estabeleceu concursos e premia~6es a trabalhos referentes ao subcontinente. Nicaragua. 34 A mais visivel publica~ao do Instituto sera a revista bimestral denominada Colombo. 0 pais portugues encontra-se internamente em convulsao devida as agita~6es operarias e problemas politicos. set. espanhol e portugues. artistico. cit.r f ideia e concep~ao de "Iatiniclade" nas americas I 51 colas. V. 0 lnstituto de Credito Italiano foi 0 principal estabelecimento encarregado de dinamizar as exporta~6es italianas. acontecimentos que levanio finalmente ao putsch militar de maio de 1926.. pesquisadores e artistas. Alem disso. 159. a Espanha segue 0 impulso italiano. 250). Chile. fasc. Com esta finalidade. sobre na<. ago. conduzido pelo general Gomes da Costa (Milza. promoveu viagens de neg6cios. nao tera a impulsao necessaria para restabelecer ou aumentar sua influencia na America hispanica.. 36 Benito Mussolini escreve 0 prefacio do primeiro numero de Colombo. eles deveriam fundar e/ou dinamizar as "Camaras de Comercio e Industria". 14-8. Ritomo a Figaro. do qual participam as autoridades diplomatic as brasileiras presentes na Italia e outras personalidades que testemunham. 1926. In: Colombo. jun. p. 36 Amadeo Giannini. Proemio. jun.do qual eu sou 0 presidente honorario . para reafirmar." Paralelamente as suas atividades editoriais. o Instituto esteve envolvido igualmente. ate a rnais longinqua regiao do Novo Mundo. e Vittorio Emanuele Orlando. por cxemplo: Arturo Farinelli. run pre-fasciculo de Colombo fora lan~ado em 21 de abril de 1926. Tradizioni d'italianira neU'America Latina. Ap6s quatro anos. In: Colombo. data sagrada de "rodos as povos latinos". I. jun. pp. 1926. suas rela~6es com a Italia. "do progresso que a Italia realiza em cada setor da atividade hurnana". entre outras tarefas. 3. pp. 37 Benedito Mussolini. eu enviei mensagens aos italianos que vivem na America e aos paises que os acolhem. e tern por objetivo promover a divulga~ao. p. I. 0 Instituto buscava organizar comites representando cada pais associado..consagra ao estudo dos povos ibero-Iatino-americanos. Nos mesmos moldes. direta ou indiretamente.. 1926. 0 qual havia percorrido a Argentina e 0 Brasil no imediato p6sPrimeira Guerra. Desde que eu assumi 0 governo da Italia. Tais comites prornoveriam as rela~6es reciprocas. a respeito do Brasil. As rela~6es envolvendo a Italia e os povos ibericos e latinoamericanos saO fecundadas cotidianamente pela fe e pelo trabalho tenaz desses italianos partidos para a America Latina. minhas esperan~as nao mudaram. 1-2. In Colombo. fase. anunciando 0 carater e as perspectivas da revista: Eu estou satisfeito de agregar meu nome it prime ira pagina dessa revista que 0 Istituto Cristoforo Colombo . do jornalista e escritor Luigi Federzoni_ 35 A revista Colombo pretendia "ser 0 6rgao de conexao entre as jovens na~6es da America Latina. a Espanha. gra~as a urn mais profundo conhecimento mutuo. Em 1926 e criado 0 Comite italo-Brasileiro. I. 0 Comite ftalo-Peruano e 0 Comite halo-Boliviano foram estabelecidos logo em seguida. no planejamento e produ~ao de acontecimentos significativos com vistas a en_~_i Nos sumarios da revista Colombo encontra-se. do historiador Gioacchino Volpe. fase.. Sul/a Constituzione argentina. Giovanni Giuriati. do fil6sofo Giovanni Gentile. 4-5.52 carla brandalise Orlando. Portugal e a grande Madre Italia". pp. 8. . Messaggio. interesses variados. fase. 0 "Natal de Rama". Em homenagem. percorre varios paises da America Latina. 379): "Desde os primeiros tempos que se seguiram a sua conquista do poder. n. a Madre Patria atraves de urna voz italiana direta e daqui para frente urna realidade". 1925. toda uma Patria que se desloca alem·mar.. 1927. "a visita do principe nos ofereceu a ocasiao de demonstrar ao ilustre represenrante do povo.ao e da italianitii na Argentina teve lugar durante 0 cruzeiro da Nave [talia na America do SuP'. finaliza-se a liga~ao por cabo" Anzio-Buenos Aires". mar. abc. cit.. Plus Ultra: S. Giuriati. em especial Inglaterra e Fran~a. A parada no Brasil foi cancelada devido a disturbios internos em que 0 pais vivia no momento. In: Colombo.principe di Piemonte neWAmerica Latina.O 3. Nova York-it:ilia.ao que merecem a energia e a fidelidade ja provada de rodos os seus fillios. p. p. em 1927.A. Le Vie d'Italia e dell'America Latina.. p. orientando seu albae em dire~ao ao reconhecimento e a admirar. Buenos Aires. nossa firme simpatia. 1924. 391 e Le Vie d'Ita/ia e dell'America LAtina. quando os avan\Oos da avia\Oao italiana sao demonstrados em forma de espetaculo. Francesco De Pinedo.. no infcio de 1925.R. Humberto de Sab6ia ao subcontinente em meados de 1924.O 4.0 voo inedito do coronel Francesco De Pinedo. Uruguai. 1926. considerado pelo regime fascista um marco de independencia e autonomia em suas comllnica~oes com as Americas. Amadasi (La ccociera di S..41 Da mesma forma. 1925. Eis 0 filho do rei que passa de uma borda a outra para afirmar a superbissima potencia atual da Italia. ver: Giovanni Giuriati. p." Finaliza-se.42 Como prindpios de propaganda e promO\'ao. 1928. Sobre os resultados do Cruzeiro da Nave It:ilia. residentes na America do Sui. 1925.O 5. ~2 II trionfale volo di De Pinedo sulle acque e Ie terre dell' America Latina. do govemo e da familia real da Italia.r r ideia e concep. ) Mas a primeira aproximac. n. 39 Entre fevereiro e outubro de 1924. "vejam no filho do Rei. . 38 0 cruzeiro passa por Argentina.R. ate entao feitas por cabos telegraficos de outras potencias.. n. In: Le Vie d'Italia e dell'America Latina.A. Umberto di Savoia. 4 e G. n. Buenos Aires-Nova York. A imprensa da America meridional ecoa essa visita considerada prestigiosa. 1. jun. com 0 envio de diplomatas "engajados" na polftica do novo regime. 1925.. Promove-se. mai.ao de "Iatinidade" nas americas 53 volver a America Latina: a it:ilia envia seu principe-herdeiro.. fasc. a constru~ao de um cabo telegrafico submarino ao longo do Atlantico ligando a italia aos Estados Unidos. In: Le Vie d'ltalia e dell'America Latina. e permutar gestos e vinculos de amor com sellS distantes siiditos".O 12. 0 fascisrno manifestou urn interesse especial pela Argentina [.ao importante e direta do problema de emigraC.. set. 40 Segundo Emilio Gentile (op. Rorna. cidades-simbolos sao 38 Segundo A. Em outubro de 1925. il principe ereditario nell'America Latina. I. dez. Chile. Tradizioni di italianita nell' America Latina.. II mio vola attraverso "Atlantica et Ie Americhe. 0 percurso empreendeu a seguinte rota: Italia-Buenos Aires. fruto natural do profundo vinculo de sangue. ensaia-se reformular a precaria rede de embaixadas e consulados presentes no subcontinente. 39 A revista Plus Ultra da capital argentina. Buenos Aires: El BibliOfilo Viau y Zona. de cultura e dos interesses que unem os italianos e os argentinos". p. 263). 41 "A conexao tao esperada de varios milh6es de italianos. pela primeira vez uma "feira-exposi~ao" f1utuante. publica wna edic. par exemplo.ao extra consagrada a estadia de Humberto de Sab6ia. com a Nave ltalia. La Crociera Italiana nell'America Latilla. n. J Genova reencontrara certamente 0 caminho da vito ria. eindicativo: "esperamos que Genova desempenhe urn papel particular nas rela~oes culturais entre a italia e os Estados latino-american os. sobretudo. 1830. 9) que "Genova nos presenteou com urn mundo de marinheiros e. desde 1830. Lima sao convidados a italia com vistas a ministrar cursos.. lan~ando assim as bases de uma ac. p. na Faculdade de Letras.. lugar de partida ultima dos emigrados para as Americas. bern como academicos italianos sao enviados ao subcontinente. para os estudos de filologia modema a fim de que seus estudantes pudessem seguir os movimentos literarios e cientificos das republicas latino-americanas. A Universidade de Genova se orienta. Uma missao genovesa desembarca na Argentina. coda essa serie de pequenos vendedores que.. 44 As institui~6es superiores de Genova sao identificadas como orgaos essenciais para as abordagens culturais voltadas ao subcontinente latino. p. Nelle terre di America. Eugenio Broccardi. 248. . o deputado Eugenio Broccardi afirma. a dar continuidade "a nobre e gloriosa tradi~ao das antigas republicas italianas do Medievo". 1926. que foi outrora grande sobre os mares. junto com eies. Prega-se que a inser~ao economica e populacional da italia na America do SuI teria passado por Genova. I. A esta cidade. La Plata. Sao Paulo. fev. Professores universitarios de Santiago. para melhor conhecer "0 jovem e ardente povo argentino e para sedimentar a primeira pedra do edificio que nos vaH 44 Cirado pela revista Le Vie d'Italia e dell'America Latina. De seu lado. edevolvido seu esplendor primeiro. Buenos Aires.. vieram pequenos comerciantes. fase. jun.43 Proclama- se a redescoberta do verdadeiro destino dessa cidade. prognosticada a se tomar rna is uma vez tao poderosa quanta fora no passado.ao que pOlleD a pOlleD se concretizara" . em fins de 1924. donos de vendas de alimentos e de roupas. sob a impulsao de seu centro industrial e financeiro e do desenvolvimento de seu porto. significa sem duvida que uma solida vontade anima hoje todos os italian os. Nos estamos apenas no come~o.O 2. a Argentina.. abc. Genova. donos de bares. no editorial da revista Colombo: a proclama~ao da Grande Genova. vestem e fomecem nossos nativos". 1927. com seus estabelecimentos. Guiados pela sabia mao do Duce [.r 54 carla brandalise escolhidas como centros de irradia~ao da "cultura e do espirito latinos".O 4. e isto por vontade de Mussolini. In: Colombo. 0 discurso de Benito Mussolini pronunciado no Instituto Universitario de Sao Marino. p. 7. reconhece na Revista de la Plata (n. em 24 de maio de 1926. d.ao de "Iatinidade" nas americas \ 55 \ I mos construir juntos com os interciimbios ulteriores de eruditos de todos os campos do saber". ao povo italiano.46 De fato. em outros termos. Nessa ocasiao. literarios e artisticos. 1924. p. In: Le vie d'Italia e dell'America Latina. Rossi concede: o progresso da Argentina e devido. o qual foi pioneiro em civilitii. chefe de uma missao chegada a cidade em 1927. os profissionais argentinos sao os mais presentes em Genova." 45.45 Genova contara com um Instituto Italiano de Cultura Argentina. 0 qual se constitui como delega~ao vinculada ao Istituto Cristoforo Colombo. p. e fundado 0 Instituto de Cultura halo-Ibero-Americano de Genova. 1925. em grande parte. Esse ultimo instituto. fundado para ser uma "resposta digna" ao Instituto Argentino de Cultura Italiana e a "sua vasta biblioteca especializada". 0 senador Gentile pretendia ressaltar 0 que considerava como a intima correla~ao entre a vida cultural e a vida economica de uma na~ao. n. nov... In: Carriere Italiano. para melhor orquestrar 0 conjunto das atividades desenvolvidas na cidade de Genova. 45 Genova e Ie relazioni culturali con l'America Latina. abc. 1927. Viaggio musicaJe nell'America Latina." 4. 53. pretendia "cultivar as intera~iies culturais entre a Argentina e a Italia nos campos cientificos. 48 A escolha de uma cidade-simbolo correspondia igualmente aconcep~ao do projeto de lei apresentado no Senado pelo ide610go oficial do regime. s. Os italianos con verteram em cidades e vilarejos as terras que antes eram os pampas deserticos.r \ ideia e concep<.0 jan.. 1. 178. que objetivava criar um vinculo entre os centros de irradia~ao da culrura italiana no exterior. como Arturo Rossi. os resultados seguramente beneficos no dominio das trocas comerciais que adviriam da intensifica~ao das rela~6es culturais entre paises. 46 Gli scamhi culturali fra i ceotci universitari d'Italia e del Sud-america. In: Le vie d'/taUa e delJ'America Latina. 47 Professori argentini a Genova. . 2. Giovanni Gentile. Identificam-se verdadeiros e apropriados vinculos de sangue que se evidenciam quando pensamos que mais da metade da popula~ao argentina e originaria do solo italiano'" Em fins do ana de 1929. p. e obtendo que professores das Universidades e intelectuais argentinos fossem a ltalia".486.. p. promovendo a vinda a Argentina de universitarios e de renomadas personalidades das artes e das letras. n. 48 Adriano Lualdi. fundado no ano de 1923 em Buenos Aires. fase. p. como Buenos Aires e Sao Paulo. SI Tommaso Mancini. no ana de 1924. publica~oes oficiais e informa~oes as mais variadas sobre 0 mundo "Iatino". 1924. 0 adido comercial italiano no Chile. da importancia de propagar a cultura italiana e considerando imperativo 0 conhecimento estrito da cultura e dos habitos dos paises com os quais a Italia pretendia desenvolver interesses comerciais . exposi~oes permanentes de produtos dos paises latino-americanos e de feiras de produtos italianos. Na virada dos anos vinte.. La Casa di Cristofaro Colombo. uma biblioteca e uma sala de leitura. 50 Luigi Bacci. Previam-se salas de conferencias. nas grandes cidades. do grau adiantado de assimila~ao em que eles se encontravam em muitos lugares.sao largamente atestadas e corroboradas pelos analistas do continente latino-americano. os resultados computados em fins dos anos vinte mostravam-se. pp. pretendia-se instaurar a "Casa de Colombo": "E sobre os auspicios de Roma e Genova que 0 Instituto Cristovao Colombo quer criar urn centro onde os povos de lingua espanhola e portuguesa possam encontrar urn pequeno espa~o de sua patria":' anuncia a revista do Instituto. 1927. onde a supera~ao da concorrencia politico-economica e cultural de na~oes como Inglaterra. In: Problem. 38. segundo os dirigentes italianos. com revistas. e mezzi della nastra penetrazione ecollom.ao da 49 L'avvicinamento Italo-argentino: l'opera dell'Istituto "Cristoforo Colombo". gra~as as doa~oes dos paises associados ao Instituto. In: Colom- bo.51 Enfim. 9. Tommaso Mancini. 260 a 261. set.convencido. Fran~a. Dessa forma ja manifestara.ca neWAmerica Latina. As suas proprias comunidades emigradas nao haviam dado resposta satisfatoria aos apelos tardios da Madre Patria. Propaganda culturale ed espansione economica nell'America Latina. em especial.. a despeito dos inegaveis esfor~os e a~oes praticas do regime fascista em rela~ao a America Latina. Estados Unidos e Alemanha revelava-se muito mais intransponivel do que 0 imaginado pela Italia. fase.'o As concep~oes de Giovanni Gentile . em fun~ao. In: Colombo. decepcionantes. A casa comportaria. com a diminui. cidade contemplada com 0 maior mimero de visitantes. portanto. . II. de reunioes e de concertos. jornais.r 56 carla brandalise Em Roma. "a necessidade de uma intensa a~ao de propaganda cultural no continente latino ja foi prospectada varias vezes por todos aqueles que se interessaram na Italia pela penetra~ao nas Republicas sul-americanas". dentre outros fatores. mar. Santiago do Chile. 1927. p. Multiplas seriam as explica~oes.V. 0 que para a Italia aparecia como urn empreendimento de monta diluia-se nesse vasto subcontinente. Francesco. Cuba. esperando que se efetue a conquista da Etiopia e a expansiio de sua voca~iio colonizadora. como na ocasiiio da busca de apoio em paises latino-americanos ante a crise desencadeada na Sociedade das Na~oes. rumou para 0 abismo e para 0 seu fim com a Segunda Guerra Mundial. Refer~ncias AGUILAR. 1860-1934. ana 16. vol. conventions. Las dos Americas. Recueil complet des traites. Historia de America Latina. Miliio: Fratelli Treves.orgl heml185118570215. Theories socio-politiques de la lutte pour la vie. 1980. 1920. Genesis de la idea y el nombre de America Latina. Disponfvel em: <http://www. Charles (ed. I rapporti Italo-argentini dopo la guerra. Os anos em que a America Latina aparecia como urn horizonte importante e possive! de sua politica internacional haviam passado. In: EI Correo de Ultramar. onde julga possuir melhores condi~oes de manobra.-dez. ARDAO. Pascal (org. ela passa a privilegiar mais e mais sua influencia crescente na Europa central e balcanica. Presses Universitaires de Strasbourg. Paris. I:Italia e il Brasile: la lotta dei giganti nell'America del Sud e la fortuna del mercato italiano. CAICEDO. bern como seu avan~o em territorio africano. 1862-1867. ideia e concep~ao de "Iatinidade" nas americas 57 emigra~iio italiana para a America do Sui. . porem. a Iralia viu seu interesse por essa parte do mundo diminuir consideravelmente.). 1994. 16 vols.. Paris. Paris: Hachette. Caracas: Centro de Estudios Latinoamericanos Romulo Gallegos. CALVO. 1992b." 36. BEJIN.filosofia. Barcelona: Critica. Leslie (org. Os anos trinta marcarao esse afastamento progressivo.. 1987.f I. 1917. Giuseppe. quando da invasiio italiana da Etiopia em 1935-1936. Nesta epoca. Andre. armistices et autres actes diplomatiques de tous les Etats de l'Amerique Latine. -.). n. Arturo.htm>. Espana en el origen del nombre America Latina. a !talia fascista ja imersa nos problemas europeus. Torno 9. BLANCPAIN. Montevideu: Biblioteca de Marcha-Funda~iio de Cultura Universiraria.Jean-Pierre. Nouvelle histoire des idees politiques. Jose MariaTorres. Acqui: Tipografia Pietro Righetti. In: Ory. 6. .). In: BETHELL. LuisE. capitulations. em meio II ilusiio sobre as proprias capacidades materiais e operacionais da Italia em realizar urn projeto de inser~iio de tal monta. com momentaneas retomadas. Migrations et memoire germaniques en Amerique Latine. 1992. Logo. 1992a. EI nombre "America Latina" em Madrid desde 1858. nov. In: Cuadernos Americanos. CARATII. BIANCO. 15 de fevereiro de 1857. Robert. Diplomatie europeenne: nations et imperialismes. Paris: Payot. Turbulante Europe et nouveaux mondes. In: DURO SELLE. MARTINIERE. Pierre. PHELAN. Tommaso. 1982. Emilio. Torno 8. MILZA. I:idea di Latinita. Ausonio. Nel paese della fazenda. Les Fascismes. fasc. LERMA. 2. DUROSELLE. MAROCCO. David R. Mussolini y Primo de Rivera. 2005. Buenos Aires: Poseidon. Paris: Seuil. 1870-1930. XVl. Gianni.1901. Halperin. 2. 1933. Milao: Ispi. Salvo. Ideas·politicas y sociales. 2004. Appunti sui programma della Sezione B del IV Congresso Geografico Italiano. Ottamar. Luigi. 1924. 1991. In: BETHELL. Problemi e mezzi della nostra penetrazione economica nell'America Latina.' ed. Aspects de la cooperation Franco-Bresilienne. Ferrncio. Charles A. French Intervention in Mexico (1861-1867) and the Genesis of the Idea of Latin America. Historia de America Latina. Jose Marti. MOORE. In: Storia Contemporanea. In: Latino America. Apostol. Mexico. Panlatinismo. XVII. MANCINI. ETTE. Veneza: Ferdinando Ongania ed. Gustavo Palomares. Sao Paulo: Paz e Terra.l:emigrazione italiana in Argentina nella politica di espansione del nazionalismo e del fascismo. Historia de la America Latina. & SERRA. ltalia e Francia dal1919 a11939..ao original: Pan-Latinism.O 3. MASTELLONE.. Rene. Leslie. Milao: Franco Angeli. INCISA.. Milao-Roma-Napoles: Dante Alighieri. Mexico: Universidad Nacional Aut6noma de Mexico. Enrico. Joao. Politica exterior de dos dictadores. 1969. III.." ed. GIRAULT. 1975. 1989. poeta revoluciondrio: una historia de su recepcian. GENTILE. 1871-1914. Sull'altra sponda del Prata: gli italiani in Uruguay. 11. pp. Milao: Felice Balzaretti. 15 fev. Paris: Maison des Sciences de I'Homme. FRANZONI. Vincenzo. Madri: Eudema. 1894. Paris: Dalloz. 1925. 1986. 1991. A histaria do conaito de "Latin America" nos Estados Unidos. John Leddy. jun. Barcelona: Critica. Jean-Baptiste. GROSSI. In: L'Esplorazione Commerciale. Paris: Seuil. 119-141 (ediC. FERES JUNIOR. Storia della colonizzazione europea al Brasile e della emigrazione italiana nello stato di San Paolo. 1991. 1914 [1905]. a. 1995. 2002. Rene & FRANK. 1986. HALE.-B. la intervenci6n francesa en Mexico y el origen de la idea de Latinoamerica. Histoire diplomatique de 1919 nos jours. n. a. 1945. Paris: Payot. Leslie. Histaria da America Latina.58 carla brandalise DONGHI. I:Europa alla conquista dell'America Latina. In: Consciencia a . GIRAULT. J. I:Amerique Latine au XXe siecle. MANIGAT. 1981. Baurn: Edusc. Guy. MACOLA. Santiago. 1914-1941. la integridad territorial y moral. ROBLEDO.. 1900. 1970. TAGUIEFF. Manuel Galvez ecrivain politique. Katherine. los Estados Unidos y las potencias europeas. Sao Paulo: Duprat & Comp. Intelectuales y fascismo: la cultura italiana del "ventennio fascista" y su repercusion en Espana. Domenico. RENOUVIN. Valen~a: F. 1995. Jacques.---------------------- . Historie des relations internationales. 1830-1930. SANCHEZ.. Robert Freeman. RANGONI. Pierre. EI porvenir de la America Latina: la raza. Idea y experiencia de America. 1997. In: BETHELL. 1997. 1910.. Historie de la France. Gobel. In: Cahiers des Ameriques Latines. . Italia e Italiani in Brasile: note e appunti. Ariel. America Latina. Sao Paulo: Riedel e Lemmi. Mexico: Unam. Escritos en homenage a Edmundo O'Gorman. la organisacion interior. Alain. In: L'Histoire. 1968).. Mexico: Fondo de Cultura Economica. Paris: Labrousse. Pierre· Andre. UGARTE.. Sempere. ROUGERlE. Barcelona: Critica. 1958. 1903.O 214. 1994. Torno 7. Granada: Universidad de Granada.. 1897. VERDERY.r I ideia e concep~ao de "Iatinidade" "as americas 59 \ I y autenticidad historicas. Paris: Hachette. Jose Enrique. out. 2. 3-4. ROD6. Quand on pensait Ie monde en termes de races. Le second Empire. Dopa un viaggio in Italia: contributo alia studio sulle relazione tra l'Italia ed il Brasile. Antonio Gomez. Georges. Rio de Janeiro: Contra ponto.. Victoriano Pena.). Historia de America Latina. SMITH. n. Leslie (org. Filippo.. In: DUBY. Para onde vao a na~ao e 0 nacionalismo? In: BALAKRISHNAN. Vol. Um mapa da questiio nacional. 1991. UGOLOTTI. Buenos Aires. Manuel. ROUQUIE. 2000 . el estudio acerca de las condiciones y caracteristicas bajo las cuales se han ido elaborando "proyectos identitarios" resulta pertinente y adecuado. Sera. Por consiguiente. A nadie escapa el hecho de que los paises sudamericanos son . Es importante anorar que tanto Guyana como Surinam integran la Comunidad Sudamericana de Naciones ahara conocida como Unasur.en estas naciones se ha combinado de I Aparte de Guyana que cs republica independiente habiendo sido colonia inglesa y Surinam republica independiente que fue colonia holandesa.' EI aporte europeo .Capitulo 2 IDENTIDAD LATINA E INTEGRACION SUDAMERICANA CRISTIAN PARKER GUMUCIO Introducci6n: una raiz hist6rica comun E n tomo al ano ano 2010 se cumple el Bicentenario de vida independiente de varios paises de America del Sur. en la medida en que la cultura aparece. en el marco de los procesos de globalizacion. por Francia. pera no forma parte de America Latina. el caso de Guyana francesa es especial porque es un Departamento de ultramar de Francia y pOt tanto una region periferica de la Union Europea enclavada en Sudamerica. esa una ocasion propicia para hacer un alto en el camino y revisar con perspectiva historica 10 que han sido los proyectos nacionales y los esfuerzos de integracion latinoamericanos que han jalonado su evolucion durante estos dos centenios. Su cultura teeibe fuerte influencia latina.herederos de tradiciones historicoculturales insertos en el area de las culturas y tradiciones latinas. como un factor cada vez mas relevante en el quehacer historico y politico de nuestros paises. 60 .con la excepcion de las Guyanas y Surinam .principalmente iberico . r I. vcr C. 10 que ha lIevado a auto res norteamericanos tan influyentes como Samuel Huntington a hablar de un subcontinente que no es clasificado como" occidental" en sentido pleno (Huntington. 3 la cultura latinoamericana no puede confundirse con la cultura de la modernidad ilustrada y europea y. en efecto. en especial. a diferencia de 10 que plantean autares latinoamericanos eurocentricos. afirma csc auror.particularmente en Los Andes . En terminos generales el mayor conflicto se clara entre la cultura occidental y la cultma ishimica aliada de 1a emergente cultura china. como Jorge Larrain (1996). Hungtinton desarrolla la controvertida y rebatida tesis de que las identidades culturales y religiosas de los pueblos seran la fuente primaria de conflictos en el mundo post-Guerra fria. Con todo. 1993 y 1996). 1996). Considera que no hay que temer a los efectos (reales 0 poteneiales) nocivos de la globalizaeion. Sobre la polemica accrca del "eurocentrismo" de Larrain. minimiza eI impacto cultural negativo de la integracion economica en America Latina. Jorge Larrafn desarrolla la discutida tesis de que la cultura latinoamericana tiene mucho mas en comun con la cultura europea ilusrrada que con cualquier otro apoete cultural. 1991). como una cultura que comparte varios 2 Como es sabido.' Y. A decir verdad no existe un sentido de identidad sudamericano marcado. Es precisamente esta caracteristica especial de una cultura donde el mestizaje etno-cultural ha sido un rasgo fundante de las culturas de los pueblos latinoamericanos. en su diversidad. identidad latina e integraci6n sudamericana 61 manera compleja con los aportes indoamericanos . 10 eual. puesto que un anaIisis "transformacionalista" induce a abordar la problematica de la globalizacion sobre la base de sus procesos de reflexividad. 1993. h . En este contexto de confrontacion el autor afirma que puede considerarse a Latino America como parte de occidente pero no enteramente dada su distintiva cultura y politica que difieren con Europa y Norte America (Hungtinton. se constata historicamente ya desde el siglo XIX. En su liltima obra Larrain (2005) cs mas cauto y reconoce que 1a identidad latinoamericana es distinta de la europea. Mas bien el sentido de identidad de los sudamericanos se inscribe en un concepto mas amplio que tiene rakes historico-culturales comunes y que abarca a paises que estan . si bien eritica al neoliberalismo. especialmente africanos prioritariamente en Brasil y las costas nordathinticas de Sudamerica.mas alia de las fronteras del subcontinente: Latinoamerica. en la cultura de la Europa latina y mediterranea.y con aportes de otros continentes. es claro que la historia de los paises conquistados por las coronas espafiolas y portuguesas reciben una impronta que proviene desde las culturas coloniales dominantes y que se hun de en la cultura occidental y cristiana y. 3 En su ensayo dc 1996. Por ello. en cambio.fj ~ ! . muy por el contrario hay que entenderla. Estos rasgos culturales se han ido combinando con otros aportes historico-culturales y Ie han dado una fisonomia propia. Parker (1996b y 1996c). Latino America resulta un apelativo no siempre univoco y preciso y hay toda una tradicion critica acerca de "los cien nombres de America" (Rojas Mix. momentos. Estos ideales no estaban exentos de dificultades. como si por la . como sabemos. Esos procesos. cuando en vez de asentar una estrategia de integracion .via de los conceptos fuese posible. presente tambien en varios otros patriotas como Miranda. Los libertadores prominentes fueron Simon Bolivar y Jose de San Martin que encabezaron la rebel ion y los ejercitos patriotas. desde el siglo XIX en adelante. com parte con occidente valores. como de hecho 10 es. pero en la America del Sur siguio un cicio mas menos identificable que abarca desde 1809 con la rebelion de Chuquisaca (Bolivia) hasta 1824 con la batalla de Ayacucho (Peru). imaginaban la posibilidad de una gran patria americana para los hispanoamericanos. Sucre. al menos hay elementos de unidad e identificacion que permiten trascender fronteras nacionales y particularismos culturales todo 10 cual nos autoriza a referirnos conceptualmente a "una cultura latinoamericana". la llevan a conformar cada vez con mas nitidez. subculturas y rasgos que se encuentran esparcidos en las geografias y territorios. abstraerse de la multifarme pluralidad de culturas. un proceso diverso. Un factor aglutinante de la identidad temprana de las colonias que buscaban la independencia de la metropoli iberica estuvo constituido por una voluntad independentista y par la critica al colonialismo hispano. una cultura independiente que. nacionales. vecinales. en forma paradigmatic a. el primero desde el norte y el otro desde el sur. Artigas. ni Europeos. desde el inicio. La lucha por la libertad de los americanos fue. Entonces es posible afirmar que si bien no es valido hablar de que estamos en presencia de una simple prolongacion de la "cultura occidental".62 cristian parker gumucio rasgos con la latinidad europe a pero que tiene una matriz historico-cultural distinta generada y alojada en los procesos historicos de coloniaje y de luchas por la libertad. O'Higgins. ni nordatlanticos y mucho menos anglosajones. Asi 10 testimonia. en otros aspectos. la famosa entrevista entre Bolivar y San Martin en Guayaquil en 1822. en ciertos aspectos. y/o regionales del subcontinente. procesos y codigos afirma rasgos de identidad propios que no son occidentales. Como es sabido los ideales de integracion continental en estos dos grandes lideres. debido principalmente a los intereses de grupos contrapuestos a nivel de las nacientes oligarquias criollas en casi todas las nuevas republicas. sede del Virreinato mas poderoso y por ello centro del poder colonial espano!. tradiciones y rasgos culturales y que. confluyendo finalmente en el Peru. locales. para contrarrestar al "monstruo". Nevada.junto a otros factores .~ i I. conservadores y liberales y las anarqulas locales que no se disiparon hasta avanzado el siglo XIX cuando la guerra contra Espana (Chile. y Ie conozco las entrafias. negocia la compra de Luisiana al emperaclor de Francia. Por 10 mismo. hablar de factores de identificacion y unidad simbolica que en el caso del "ser latina" puede constituir un basamento solido que posibilite legitimidad cultural y sustente . los componentes latin as de los sistemas identitarios de America del 4 En 1803. Iowa. Los Estados Unidos en America del Norte. Jefferson.' Hacia fines del siglo desembozadamente se mostro como el Imperio que era con grandes pretensiones hegemonistas en la guerra contra Espana (1898) por su ambicion de Cuba y Puerto Rico. En 1846 la parte sur del territorio de Oregon que era dominio britanico (constituida por Washington.' Estos rasgos historico-culturales que han marcado la vida y las tradiciones de las naciones y pueblos de Sudamerica nos permiten. cuya independencia temprana de Inglaterra. Wyoming. Peru y Ecuador contra Espana en 1865-66) genero. historia y antropologla). al decir de Marti (1895) bien conoda sus entranas por haber vivido en el. Nuevo Mexico y Colorado. el4 de julio de 1776. Oklahoma. Utah. Arizona.y mi honda es la de David". UU. Es este enunciado el fundamento de nuestra propuesta que analiza. Dakota del Sur. . Missouri.4 la compra de Florida a Espana en 1819. Primero la evidencio en Norteamerica con la compra de Luisiana en 1808 y cesion de Oregon en 1846. ripidamente durante el siglo XIX. ese Goliat que. Dakota del Norte. rapidamente el ideario de integracion sudamericano fue opacado por las luchas intestinas entre unitarios y federalistas. Minnesota. la anexion de Texas en 1845 y la guerra contra Mexico en 1846. y contribuyo en un primer momento al sentimiento autonomista. 6 Dice Marti (1895) refiriendose a la voluntad anexionista de EE. Nebraska. Colorado. 5 Que Ie reporto California.: "Vivl en el monstruo. desde un punta de vista transdisciplinario (sociologla. Arkansas. con algunas porciones de Montana y Wyoming) paso a formar parte de Estados Unidos. Napoleon. u f- identidad latina e integracion sudamericana 63 continental termino consolidando las republicas independientes de la Gran Colombia de un lado (que se anexo Ecuador) y de Peru y Bolivia de otro. Idaho y Oregon. Kansas. el propio concepto de "latina" adquirio una connotaci6nJuertemente antinorteamericana. Con esa compra se adquirieron: Louisiana. De esta manera.la viabilidad a los proyectos integradores a inicios del siglo XXI. fue inspiracion y ejemplo para las colonias hispanoamericanas. entonces. nuevamente un sentimiento antiespanol. y Montana. Estc convenio casi duplic6 la superficie territorial de Estados Unidos. dejo sentir su voluntad expansionista. . que riene una secretarfa ejecutiva permanente cuya sede esta en Quito. el 17 de abeil de 2007.r 64 cristian parker gumucio Sur y como ellos posibilitan y ofrecen una base para los procesos de integracion intrarregional y con otras regiones. La vigencia y actualidad de este planteamiento se justifica a la luz de la conformacion en el ano 2004 de la "Comunidad Sudamericana de Naciones". se generan. Las identidades hist6rico-culturales son elementos de fijacion simb6lica de un conjunto de representaciones colectivas. 2005a y 2006). Entendemos que la identidad se manifiesta en el plano del discurso y surge como representacion de un "nosotros colectivo" que posibilita. los mandatarios acordaron que Union de Naciones Suramericanas (Unasur) seria el nombre oficial del mecanismo de integracion regional. que no pueden. Todo proceso de integracion requiere del reconocimiento que las identidades son factores culturales dinamicos. desarrollan. especialmente del Mercado Comun de Sur (Mercosur) y de la Comunidad Andina de Naciones (CAN). la construccion de la autidentificacion (identidad propiamente tal) en oposici6n semantica con el Otro (alteridad) en el marco de un contexto (totalidad) cultural e historico. proyecto que ya esta en marcha sobre los pies de las experiencias previas de integracion. negocian. pero tampoco permanece como concepto limite irrealizado en tanto moviliza y se transforma en praxis y en politica. La identidad es una definicion en tension entre el ser y el deber ser: nunca se verifica plena mente en tanto conlleva trazos de idealizacion etnoccntricos. . ser comprendidas en forma esencialista 0 como fijaciones estanco y permanentes: las identidades se construyen socialmente. Cuando las identidades se rigidizan y se defienden de manera fundamentalista la dinamica se torna confrontacional y no existe posibilidad alguna de integracion. modifican y sobreviven y/o mueren en procesos dinamicos en que la interacci6n de los actores sociales adquiere multiples vias en el proceso historico (Parker. La identidad es un recurso 7 En la Cumbee Energetica Suramericana de Porlamar (Venezuela). ni deben. Sobre la dimimica de la identidad cultural Para comprender como es que la identidad "latina" puede ser uno de los pilares del proceso de integracion sudamericano conocido como Union de Naciones Sudamericanas (Unasur)? debemos comprender que se requiere de un enfoque historico y dimimico de los procesos identitarios. en un proceso dialogico. implica que rada construccion de identidad tiene un componente ideol6gico (Hammond. dialogo y/o formas divers as de dominacion cultural ya que siempre entre las culturas (de regiones. Por 10 mismo ciertas coyunturas historicas que evidencian la confrontacion bajo la forma de dominacion.identidad latina e integraci6n sudamericana 65 fundamental para la existencia de un minimo vital de mantenci6n de la organizaci6n. clases. grupos. neocolonialismo. religiones) median relaciones de poder que generalmente son inequitativas.en contextos de interculturalidad (Salas. 2003). el hecho de que se desarrollan en contextos de relaciones inequitativas de poder. 1962. Los pueblos que pertenecen a una misma cultura viven su identificaci6n comun en forma evidente pero la consciencia de los codigos comunes se logra cuando su propia cultura se ve exteriorizada. .en forma reconocida 0 no . Es posible distinguir una identidad hist6rico-cultural factual que es la que opera en forma. Toda identidad se construye sobre la diferencia y se define sobre relaciones entre culturas. solidaridad e integraci6n cultural de un grupo determinado (Sorokin. generos. Su preservaci6n es un proceso dificil y complejo y no esta garantizado sino por el dinamismo inmanente y la tensi6n entre coyunturas y procesos de larga duraci6n que en cada caso deben ser estudiados. reproduce 0 subvierte un determinado orden sociohistorico. 602-07). que es propia del discurso y el debate de los intelectuales que constituyen la vanguardia cultural de una epoca (Goldmann. imperialismo 0 hegemonismo y las variadas formas de resistencia 0 voluntad emancipatoria son privilegiadas para el estudio de las configuraciones de sistemas de identidad. naciones. Dado que la identidad es siempre un proceso historico en Cllrso (no es esencia inmanente). esto es. colonialismo. 1978). El sistema de identidad no se reduce a la mera ideologia pero la conlleva ya que al establecer identidades la practica cultural construye. Esta interculturalidad implica oposicion. en los c6digos del sentido comun de los grupos socioculturales en una epoca determinada y una identidad sistematica e intelectual. 2006). 1999). no es unlvoca ni estatica y admite multiples configuraciones. mas menos implicita. El caracter unico de las relaciones interculturales. etnias. pp. Ella es dinamica y esta sometida a tensiones y conflictos (Parker. Toda conformaci6n de identidad se da siempre . objetivada por la comparacion y/o confrontacion con orras. La identidad sociocultural es dialectica y por cierto no tiene que ver con el principio 16gico de la identidad metafisica. ni siquiera en terminos de "ideal tipo" ala manera weberiana. dinamica y compleja del factor identitario. multiples (multi e interculturales) y dinamicos pero no necesariamente homogeneos (cf. Margulis. con la identidad latinoamericana y no es posible comprender este tipo de identidades historico-culturales sino en el dinamismo de sus procesos historicos. hasta el pensamiento de la Cepal (Deves. 2000) y el debate contemporanea (Deves. En terminos historico-sociales no es posible hablar de "identidad" a secas refiriendose a un continente. En los contextos de globalizacion la identidad es puesta a prueba (Castells. 1986) procediendo a hablar de "sistemas identitarios" que funcionan sobre la base de nucleos de sentido sinteticos (identificables). en cierto senti do. 2000). a una region 0 a una naci6n . Sabre la identidad latinoamericana de America del Sur Es posible sostener que la identidad cultural mayoritaria de America del Sur se confunde. la cuestion de la identidad no es nueva y coma problematica se puede rastrear en la historia del pensamienta latinaamericano desde el "prota-tratamiento" (Deves.r ! 66 cristian parker gumucio Por ello como dice Hall (1990) hay dos tipos de identidad. Por 10 mismo proponemos aqui fundamentar una concepcion dialogica. Puede entenderse la cuestion de la identidad como "sistema cultural" (Geertz. de la distanciacion espacio-tiempo que ha desenraizado las relaciones sociales de sus contextos locales de interaccion (Giddens. Las crisis de identidad son el resultado. 1997) Y ahara se propane . En todo casa la emergencia de una mayor preacupacion de parte de los intelectuales por la tematica no ha dejado nunca de estar jalonada por la tension entre identidad y mademizacion (AAW. en cierta medida. 1999). Ahora bien. 2005) con las cartas de Colon. Son muchos los factores que intervienen y la complejidad de la dinamica es tal quetodo reduccionismo se toma ideologico. 2004). la identidad que es (que ofrece un sentido de unidad y comunalidad) y la identidad del llegar a ser (0 proceso de identificacion que muestra la discontinuidad en nuestra formacion identitaria). Por ello la problematica de la identidad se da en los tiempos actuales de manera radicalmente diversa a como fuese planteada en epacas anteriores. 1997) y con estabilidades estructurales y no sustantivas ni esenciales que se desarrollan contextuados por el fenomeno del conflicto historico-cultural. 1979). tenencias y cristalizacion de proyectos diversos (Rojas-Mix. y sin duda. se apropia de el con exdusividad en 1a primera Conferencia Panamericana de 1889-90. La cuestion de la identidad en America Latina ha sido. America Latina se caracteriza por ser un continente diverso culturalmente: la multiplicidad de culturas que la han habitado y que se han desarrollado historicamente en sus territorios se han representado. en fin. motivada par la influencia paulatina en el desarrollo de la conciencia continental sobre la modernidad" (De la Fuente. ya en los anos sesenta del siglo XIX.identidad latina e integration sudamericana 67 como tematica pertinente para el analisis de las transformaciones de America latina y las perspectivas de la integracion. un tema recurrente (Zea. Afroamerica. circulaba en forma corriente. ± . Durante todo el siglo XIX se empleo la denominacion de "Hispanoami'rica" conservado el patronimico de "americano" para designar la identidad personal. en el momento de la independencia. Latino-America. sin embargo bajo categorias de interpretacion historico-culturales mas 0 menos coherentes que obedecen a periodos. Si historicamente. UU. con la influencia norteamericana se propone el ideal del "panamericanismo" frente a las pretensiones neocoloniales de Espana. Iberoamerica. surge el concepto moderno de "America Latina" a pesar de que su concepto privilegiado fue el de "Nuestra America" (Marti. del fenomeno racial del mestizaje comO producto de blancos y amerindios. Como recordaremos Marti hace un ferviente llamado a la union ticita y urgente de los pueblos de America del Sur y Central contra el predominio de su "vecino pujante y ambicioso". Se ha dicho que el concepto de "America Latina" fue inventado en S Se conservo eI patronimico de americano para todos los habitantes de America Latina hasta que EE.Indo-America. Ella se fue instalando "a partir de la colonizacion. con el fuerte acento de revision critica del pas ado his panico colonial. 1991): Nuevo Mundo. pues. de la "otra" mirada del criollo frente al mundo europeo. y de que mucho antes de que 1'110 empleara. los ide ales revolucionarios y bolivarianos enuncian el concepto de "Hispanoamerica". 1986). Hispanoamerica. Nuestra America. Panamerica. Cada una de esas categorias ha conjugado una can tid ad de cuestiones vinculadas a problemas historicamente acotados y a debates que han tenido su correlato no solo en la vida intelectual sino que tambien en la vida politica y en las relaciones internacionales de la region. Patria Grande." Con Jose Marti. a su herencia cultural. 2005). Hacia 1830 los territorios del continente que habian estado bajo la corona espanola quedaron divididos en once naciones. 167). que se va definiendo con mayor c1aridad "Latino America" como forma de reivindicar derechos propios frente al hegemonismo norteamericano. eI de Hispanoamerica" (Rojas Mix. al igual que el resto de Hispano America. 1991. se desintegr6 pese a que tenia una historia comun desde los procesos de conquista y colonizacion. America del Sur de habla hispana. S610 en 1889 una revuelta contra Pedro II instaura el regimen republicano en Brasil. Es en el transcurso del debate y al calor de la dinamica historica. p. es decir EE. y sus c1ases diri- .r 68 cristian parker gumucio Francia hacia la mitad del siglo XIX y mas precisamente en 1861. un gobierno imperial comun. En todo caso. America latina no se Ie llama asi porque se descienda de los latinos del Lacio 0 de pueblos europeos colonizados por Roma (aim cuando esos factores influyen). uu. Esto es. EI proceso de independencia tuvo como consecuencia el establecimiento de gobiernos republicanos pero tambien la . A principios del siglo XX con la independencia de Cuba y Republica Dominicana. Lo cierto es que el chileno Bilbao parece ser el primero que menciona en 1856. el gentilicio de "Iatinoamericano" y emplea el concepto de "raza latinoamericana". Luego 10 habrian hecho suyo autores como Carlos Calvo y Jose Maria Torres Caicedo. Por su parte la porci6n de America del Sur colonizada por la corona portuguesa mantiene la unidad bajo el Imperio de Pedro I que se independiza de Portugal en 1822. y la desintegracion de Centro America se lIega a dieciocho republicas. 10 efectivo es que el concepto. Con todo. si bien el termino pudo haber sido funcional a la justificacion del imperialismo frances con la intervenci6n de Napoleon III en Mexico (1863-1867). a fines del siglo XIX vuelve a reafirmase el concepto de Hispanoamerica. "el termino verdaderamente cargado de animosidad contra la peninsula era.fragmentaci6n en variadas naciones. precisamente.llamaba la "raza sajona" de America. Pero olvidan los intelectuales de la Generacion del 98 que America Latina como concepto no surgi6 para desconocer el aporte de Espana sino contra la Americaanglosajona y que en el siglo XIX. mas bien se trata de un concepto con valor cultural y politico. en una conferencia en Paris. como sentido de identidad. concentro su carga semantica en contraponerse a 10 que Caicedo . la escision de Colombia que origino Panama. porque tanto para liberales como para conservadores ese nombre es adecuado dado que describe una realidad y reconoce la participacion de Espana en su formacion. Aunque existe tal independencia. especialmente iberica. Todas las republic as latinas sudamericanas han gozado de independencia por casi doscientos anos. dos naciones no latinas y una dependencia francesa. y con ellos de los diversos populismos caracteristicos de la historia intelectual y politica de America de Latina del Sur durante el siglo pasado. la religion y el modo de vida 'predominante de la cultura oficial fueron traidos desde la Europa latina. Los esfuerzos emancipadores se han traducido tambien en un pensamiento filosOfico y teologico liberador (Schutte. (Puerto Rico). La America del Sur comprende 10 naciones latinoamericanas. entonces. En nuestra epoca de globalizacion la influencia de la modernidad neoliberal ha sido muy relevante. Las corrientes del humanismo laico. el idioma. a pesar de los intentos de integracion durante los ultimos doscientos anos. el Brasil siguio su curso como nacion independiente con una historia que tenia sus trayectorias particulares. 10 que predomino fue un sistema que combinaba tanto tradiciones conservadoras hispanicas con aportes delliberalismo y positivismo y ellibrepensamiento. Iniciando el siglo XXI America Latina comprende 20 paises independientes y un Estado asociado con EE. En Brasil los ideales republicanos llegaron mas tardiamente hacia los ultimos decenios del siglo XIX. Espana y Portugal. La cultura de las naciones latinas independientes de America de Sur debe comprenderse. democratico y socialista han estado presentes de diversas maneras durante todo el sigIo XX. desarrollo y vicisitudes propias de la cultura latinoamericana. en los hechos. UU. por los procesos sociales que impulsaron el ascenso de clases medias y populares. 10 que ha repercutido en terminos de un cierto paralelismo que. atravesado. 1993).identidad latina e integraci6n sudamericana •II ! I: 69 gentes y los sectores hispanizados de los otros estratos. ha dividido la America del Sur en una region hispanoamericana y otra lusoamericana. por 10 demas. acentuados estos ultimos en la segunda mitad del siglo XIX. Durante los anos coloniales las instituciones. compartian lengua y cultura. Durante el siglo XIX las jovenes republicas procuraron estructurar las naciones sobre la base de la ruptura con las tradiciones hispanicas basadas en principios jacobinos e ilustrados bajo la lectura criolla que se hiciera dellegado de la revolucion norteamericana y francesa. Por su parte. en el marco de la evolucion. es innegable la herencia y ellegado cultural del colonialismo iberico al cual estuvieron sometidos estos paises por cerca de tres siglos. . Con todo. sin mas. 724 97 39 98 94 96 72 5 72 96 95 76.755.0 4.742 44.coffi.0 0.0 35.460.0 72.4 25.0 0. guarani y aymara.0 46.4 45.0 2.086 28.siendolalengua romance mas hablada par un 54% de los latina hablantes del subcontinente.0 1.0 88.0 3.0 0. Sin embargo no es menor la gravitacion del espanol hablado en nueve paises y por 160 millones de habitantes. .0 0.0 81.' El portugues es el idioma hablado par el mayor numero de sudamericanos.1 43.0 61.0 0.0 29.0 2.0 9.0 3. (l) Ouos idiomas relevantes: quechua.9 100 100 100 100 100 100 100 100 100 100 100 de habla latina (1) Argentina Bolivia Brasil Chile Colombia Ecuador Paraguay 40.0 1.8 6.7 35.0 16.r " 70 cristian parker gumucio Sobre la latinidad de la cultura en America Latina del Sur Si tomamos a la lengua como uno de los factores culturales de primer orden en la difusion y vigencia de pautas culturales tenemos que las principales lenguas romances habladas en America del Sur son el espanol y el portugues. Colombia y Venezuela.0 30.010.0 0.2 Fuentes: Elaboraci6n del auror sobre base de Nationmster.0 0.284.0 4.669.0 1.023. Colombia y Venezuela tambien tienen un alto porcentaje de poblacion de habla hispana.0 48.0 49. Si observamos el cuadro de uso de lenguas de origen latino en Sudamerica vemos que el porcentaje hablante en cada pais es diverso y variado.0 8.9 0.. 9 El frances de Guyana francesa es un caso excepcional en el contexto del continente.757 3. aun cuando hay elementos lingiiisticos que se entremezclan con influencias europeas e indoamericanas de diverso origen.0 9.0 8. 186 millones. (2) Incluye mulatos en casas de Brasil.0 3. En los paises del Cono Sur como Argentina.0 20.0 3.0 3.528 Peru Uruguay Venezuela Total/medias 378.6 62.0 0.0 8.152 190.679. Brasil es el unico pais de habla portuguesa pero su dimension y peso demograiico en la region hacen que resalte de manera decisiva.0 4.0 7.680 6.0 21.0 2.0 43.0 68.0 6.0 14.Negros de poblaci6n (2) dios Otros Total 3.379598 13.119.607 26. Composicion etnico-linguistica de palses latinos de America del Sur (hacia 2005-2006) Poblacion Pais total Porcentaje Blancos Mestizos Amerin.927 9.301. Uruguay y Chile la influencia his pan a se muestra en el empleo del castellano.8 8.647 16..6 55. Censos Oficiales y Estadisticas de Obras de Referenda.674. para el caso sudamericano. es la lengua nativa mas hablada con mas de 12 millones de personas. tam bien en la costa atlantica de Colombia y ciertas regiones de Uruguay e incluso Argentina y menos en Ecuador y Peru. descendiente de las migraciones forzadas de poblacion africana traida como esclava al continente americano. idioma oficial. el sur de Colombia y el norte de Chile y de Argentina. EI quechua. es hablado por mas de seis millones trescientos mil habitantes. Paraguay y Chile. en dos paises por mas del 70 por ciento solo en dos paises las lenguas latinas . son predominantes en las costas atlanticas y en dimas tropic ales. Aportes latinos Es un hecho de muy alta relevancia anotar que en todos los paises de la America Latina del Sur se observan contextos de interculturalidad: es en el marco de esta realidad que debemos analizar la "Iatinidad" de la cultura sudamericana.6 de mestizos hay a 10 menos un 14% de mulatos y en Venezuela al menos un 2 % de mulatos. De manera mas precisa. Hay que recordar otros idiomas. en casi todos los paises las lenguas romances son mayoritarias: en seis de los diez paises las lenguas latinas son habladas por mas del 94 por ciento de la poblacion. en Paraguay un alto porcentaje de mestizos tienen ancestros de origen guarani. Por ello predominan en Brasil y Venezuela. lengua oficial en Bolivia y Peru. La poblacion afroamericana. principalmente de los inmigrantes que han llegado a America del Sur durante fines del siglo XIX y a 10 largo del siglo XX y que en algunas microrregiones sus colonias alcanzan densidad y conservan su lengua materna: junto al italiano (idioma romance) hay que mencionar en este caso a idiomas no latinos: al aleman y al japones. Desde el punto de vista etnico la categoria de "mestizo" incluye a mulatos y otras mezclas etnicas.identidad latina e integracion sudamericana II f 71 EI cuadro se torna mas completo cuando comparamos con los datos de composicion ernica de la poblacion respectiva. siendo casi inexistentes en Bolivia. EI aymara es tambien idioma oficial en Bolivia y Peru y se habla en el norte de Chile. mulatos y en mucho menor porcentaje a mestizos de blancos con indigenas: en Colombia del 72. En el caso de Paraguay el guarani. En Brasil el 44 % de mestizos induye pardos. tambien 10 hablan en Ecuador. 2003) es asi heredero de un conjunto de tradiciones mediternineas que durante la cristiandad medieval fuesen desarrolladas por el escolasticismo y Juego el tomismo y fuesen reactualizadas y potenciadas con el Renacimiento. ingles. Surinam. En efecto las culturas "oficiales". la economia y el comercio y los rituales religiosos principales. EI "humanismo ·latino" (Bombassaroet aI. es decir lenguas de la cultura oficial. las leyes. esto es las que han predominado en las instituciones. Guayana Francesa e Islas Malvinas. se hacen las instituciones. Con todo. el estudio de las influencias latinas en la cultura latinoamericana del sur no puede basarse solamente en el factor lingiiistico por relevante que sean las lenguas como vehfculos de cultura. Las tradiciones culturales hispanoamericanas se alimentaron tanto del escolasticismo y ellatin ensenado en los Colegios y Universidades coloniales como de las herencias del Derecho Romano presentes en la jurisprudencia cristiana y occidental y que se proyecto en los codigos civiles y las tradiciones juridicas de las nacientes republicas. l d . han estado marcadas por c6digos y tradiciones que se remontan a la cultura latina de occidente. Por cierto en las formas que adopto el cristianismo catolico y la teologia durante la colonia que perduran en sus rasgos fundamentales hasta mitad del siglo XX y que recogen roda la herencia 10 En Guyana se habla ingles. redamado por este pais y sometido a dominio colonial por Gran Bretafia (como Falkland). la educacion y la religion. siendo idioma oficial en todos los paises a excepcion de Brasil. Guyana. Todas esas tradiciones "Iatinas" han sido objeto de multiples reapropiaciones por diversas culturas y epocas que van desde la cultura germana a la britanica. en Guyana francesa. La cultura latina chisica. en Surinam neeriandes. eLpoder. Tercitorio Argentino en disputa. pasando ciertamente por la cultura iberica. en las cuales se ensena. la de Roma republicana y del Imperio de occidente que se extendio hasta el siglo V se confunde con los aportes del clasicismo griego anterior y luegocon los-desarrollos del cristianismo de los primeros siglos. EI concepto de "cultura latina" es ambivalente porque designa un conjunto de fenomenos y cristalizaciones diversas de patrones culturales a 10 largo de epocas historicas muy distintas con referentes geoculturales diversos. lO En todos estos paises el espanol 0 el portugues son lenguas "oficiales". EI espanol es el idioma materno de cerca de la mitad de los sudamericanos. frances y en las Islas Malvinas.72 cristian parker gumucio son minoritarias. se hace politica. se constata. Se sa be. Peruano 0 Boliviano. Si bien el catolicismo sigue siendo mayoritario en todos los paises latino-sudamericanos no debe olvidarse que es necesario hacer distinciones originadas en las formaciones historicas diferentes de regiones y paises. En efecto durante varios siglos el catolicismo ha sido el componente religioso-cultural predominante que ha marcado a las regiones coloniales y a las naciones independientes de America del Sur. de manera explicita 0 implicita. En las regiones andinas. "que se deberia acatar para no ser aniquilados". 1996a. Como dice Zea (1993). una pluralizacion creciente del campo religioso latinoamericano (Parker. con mayor claridad a con tar de la segunda mitad del siglo XX. el Logos de la modernidad occidentallejos de ser una forma de comprension y de comunicacion se transformo en afirmacion totalitaria. De esta manera el tema de la dominacion cultural (colonialista. Elias son muy diferentes a los rasgos sincreticos afro-catolicos que encontramos tan acentuadamente en la cultura brasileiia. Pero estas filosofias estin siendo superadas y surgen nuevos pensamientos que dan espacio a 10 plural y 10 diverso. 200Sb).identidad latina e integraci6n sudamericana I 13 de los Padres de la Iglesia fuertemente influidos por la filosofia greco-romana y decisivos gestores de la cultura latina occidental y cristiana. en todo caso que la cultura va cambiando y con ella las religiones. como por ejemplo en el Chaco guarani 0 en la Araucania mapuche 0 en regiones del Amazonas Colombiano. neocolonialista. en una interaccion constante entre tradiciones locales y globales. En este pais y en zonas de mayor predominancia negra 0 mulata encontramos formas de catolicismo muy caracteristicas y muy distintas a los catolicismos en areas de mayor concentracion indigena. 1977). al respeto al otro y a la construccion comun rescatando asi 10 mas valioso del humanismo latino. La herencia de la cultura latina no ha estado exenta de debates y confliccos precisamente porque en vez de exponer y hace valer sus vertientes propiamente humanistas se convirtio. Ecuatoriano. muchas veces. Sin embargo. dependentista).coda reflexion sobre el pensamiento y la cultura latinoamericana (Dussel. en instrumento de colonizacion occidental. n0 ha sido ajeno a . la fortaleza de las tradiciones religiosas indigenasha contribuido a la conformacion de los "catolicismos indigenas" y de varias formas de sincretismos. 'En el contexto de los procesos de pluralizaci6n de la cultura latinoamericana se ha discutido ampliamente el caracter "catolico" de su cultura. incuestionable y magistral. . por ejemplo. tradiciones. "culturalmeme cat6Iicos". sin embargo. Nombres. Entendiendo que esa cultura catolica latinoamericana . En algunos paises de Sudamerica como Chile y Brasil se estima que el porcentaje de evangelicos se eleva por sobre el 15 porciento (estimaciones hacia 2003). no dejan de ser.se origino en el barroco colonial y no es ciertamente la predominancia del dogma romano y de sus tradiciones eclesiales.. signos y simbolos que impregnan las costumbres de la vida cotidiana de los pueblos no dejacian de ser tales por el simple hecho de que el dia de manana la mayocia de los sudamericanos se convirtiere al protestantismo (Prandi. Argentina se eleva por sobre el diez por ciento y constituyen el cinco por ciento y menos en el resto de los paises. Otros aportes a la cultura latinoamericana EI aporte historico mas relevante a la cultura latinoamericana par su decisiva influencia demografica en la epoca colonial y por la vigencia - i .74 cristian parker gumucio La fuerte introduccion de misiones protestames y especial mente de movimientos pentecostales desde la segunda mitad del siglo XX en todos los paises de la region ha variado el panorama religioso globaL En efecto el crecimiento de los evangelicos en algunos paises ha sido explosivo en este ultimo tiempo y se trata de un movimiento mayoritario de tipo pentecostal que ha relegado a un tercer plano a los protestantismos historicos locales. fiestas. Ecuador.de fuerte connotacion latina y mediterranea . estando el porcentaje de catolicos por debajo del novema poc ciento en la totalidad de paises y en algunos casos por debajo del ochenta por ciento como en Brasil y Bolivia e incluso por debajo del setenta por ciento como en Chile. sino una forma sincreticocultural de convivencia de tradiciones que permean las culturas nacionales y que influyen incluso en las peopias formas de manifestacion de los evangelicos y de los no creyentes. toponimia. PerU. feria dos. En todo caso si es efectivo que los paises sudamericanos son ahora mucho mas pluralistas yhan dejado de ser "catolicos" en el sentido de la vigen cia fuerte y monopolica del catolicismo como religion. se eleva hoy a casi el nueve por ciento. rituales. Es importante anotar que el promedio de poblacion evangelica en estos paises sudamericanos que habian sido cat61icos en casi el noventa y cinco al noventa y ocho poc ciento a principios del siglo XX. 2007). En paises como Bolivia. 2001). en el Chaco y zonas a>ledanas de Paraguay y Bolivia (guarani). soterrada . y con menor densidad de poblaciones indigenas. 2000) y estan conformando un daro fundamental de la realidad sociocultural de la America Latina desafiada par la interculturalidad (Morales. Para el caso brasileno eI aporte afroamericano resulta decisivo dado que su trayectoria es . Pano-Tucan. en la Amazonia (en Brasil. Tupi y otras como eI Mapudugun. Caribe. Sullivan (1988) registra no menos de 82 gtupOS lingiiisticos nativos en America del Sur pertenecientes a las siguientes familias Iingiiisticas: Arawak. es evidente que el aporte afro-americano tanto en paises del Caribe como en zonas geograficas donde el regimen economico de plantacion demando mana de obra esclava durante la colonia (Brasil. 1999) en el inicio del siglo.identidad latina e integraci6n sudamericana ) 75 dominada. Peru. Bolivia norte de Chile. creencias y tradiciones y en muchos casos hasta su propia lengua. a un modo de vida occidentalizado y en proceso de modernizacion. En efecto. Tucano. Ello da origen a vastas regiones del continente en los wales el habla espanola /portuguesa se ve disminuida par la extensa poblaci6n que todavia habla idiomas indigenas: en los Andes desde Ecuador al norte de Argentina. Todas estas poblaciones se han movilizado -por la defensa de sus derechos (Bengoa. Los aportes a la cultura latinoamericana provenientes de otros horizontes historico-culturales tales como el Africa subsahariana y el Este de Asia deben ser sopesados a la luz de un minucioso analisis de los procesos historico-demograficos determinando los f1ujos migratorios en cada epoca y los influjos culturales en cada caso. conservan muchas de sus costurnbres. Chibcha. Bolivia. encubierta. Colombia y Venezuela) yen algunos valles Colombianos. aunque sometidos en forma mas 0 menos"sistematica. Quechua. En la actualidad. Nos referimos ala existencia de vastas poblaciones indigenas que son los primitivos pobladores y descubridores autenticos del continente. costa atlantica de Venezuela y Colombia) no puede ser olvidado y ciertamente la matriz cultural que aporta tiene rasgos difinitoriamente propios y muy alejados de la matriz latina. La gran mayoria de las lenguas vivas 10 son de minorias etnicas y representan la gran riqueza etnico-lingiiistica. Asi las cosas.de sus elementos y tematicas culturales son las wlturas indigenas americanas (Bastida. Ecuador. cultural y religiosa de la America del Sur. mas alia de la poblacion mestiza es importante anotar la relevancia del componente etnocultural propio de los pueblos originarios todavia presentes en escena. pasando por Peru. Ge. filipinos. y tambien en las practicas magicas que se ofrecen a los demandantes de suerte y milagros (Prandi. umbanda). las artes culinarias. vallenato. 2007). con otras minortas de descendencia asiatica (principalmente japoneses) y arabe (libaneses y sirios).500. espanoles y alemanes).500. Pequenas oleadas de inmigraciones asiaticas (chinos. el japones (500.000).000). Su impacto se verifica en la musica popular. europeos (principalmente portugueses. Padre espanol y madre indtgena en condiciones de supremada el uno y subordinaci6n la otra. y en el carnaval y la danza.000 en la frontera) el aleman (1. coreanos recientemente) no han sido 10 suficientemente decisivas como para equiparar 0 sobrepasar los aportes latinos. aunque modesto. batuque. el raget6n y la salsa) y se dejan empapar por un amplio repertorio de guscos. existen importantes comunidades que hablan ademas del portugues. EI caso brasileno es paradigmatico ya que su cultura es el resultado de una gran mezcla de culturas y etnias. africanos y minortas indtgenas. no menos relevante en la conformaci6n de una identidad multiple y plural de la America Latina que inicia el siglo XXI. la rumba. pasando por ritmos como la cumbia. el mambo. lambada. el espanol (2. el jazz y el blue. el merengue. signos y patrones esteticos y una forma especial de asumir la vida. tango. merecumbe.r 76 cristian parker gumucio mas antigua por la presencia temprana de la poblaci6n esclava y por la incidencia relevante de los cultos afrobrasilenos (candomble. los "pueblos nuevos" segun Ribeiro (1999). En fin son rasgos de las culturas populares de todos los rincones de la America del Sur que se mueven bajo ritmos de inspiraci6n 0 con componentes afroamericanos (desde la samba. bossa nova.000). la poesta. hasta el reggae. el rap y el hip hop. yel coreano (100. en la literatura.000. Debido a las sucesivas oleadas de inmigrantes. en el cine y la televisi6n. que incluyen.000). en las artes plasticas. Hace algunas decadas los cultos afro se han multiplicado tambien en Montevideo y Buenos Aires. que ciertamente generaran conflictos de . y el teatro. y tam bien italianos. (segunda mitad del siglo XIX en adelante). Las influencias de los cultos afroamericanos van mas alia de la poblaci6n negra o mulata con antecedentes afroamericanos y traspasa barreras etnicas e incluso fronteras. japoneses. merecum be. pero sin ducla juegan un papel. el italiano (1. Se afirma que America Latina es mestiza en la medida en que la mayorta de su poblaci6n tiene un origen etnocultural derivado de la mezcla de la cultura hispano-Iusitana con la cultura indigena. 2005). Ese mestizaje. chino. chino y mulata. mulato. Ecuador. hijo de tornatras y de india. mulato con espanola. La tolerancia del sistema por parte dela Corona se debi6 a que se consideraba un factor de pacificaci6n e integraci6n social. abandonando a los bastardos a su suerte. Bolivia. jibaro. solfanunirse libremente con . 1996a) y mas recientemente por la socializaci6n de la escuela. en la. castizo.nativas. Venezuela y Brasil. Pero en ambos grupos las raices latinas de la cultura predominante ha dejado sus huellas y sobre todo por los procesos de cristianizaci6n (Parker.r l identidad latina e integraci6n sudamericana 77 identidad al futuro bastardo (Montecinos. Como sabemos el terminode mestizo deriva del latin vulgar mixticus. hijo de espanol e india. 11 Tal proliferaci6n de mestizaje se debia a que las expediciones ibericas traian pocas mujeres y la soldadesca. Todo 10 cual es cierto pero merece precisiones regionales dado que ese mestizaje se ha dado con mayor intensidad en algunas partes como Peru. ha sido muy distinto en zonas d6nde 0 bien la densidad indigena era menor 0 bien se produjeron exterminios de poblaci6n nativa. Ambiguedades y paradojas 11 Habran varias clasificaciones. morisco. coyote. del latin mixtus (mezclado) y se emplea principalmente para designar personas cuyo origen geneal6gico se remonta ados culturas diferentes que en el caso americano son principalmentela europea y la amerindia. paises donde previamente habia una mas a de poblaci6n indigena de mayor densidad poblacional.Patagonia. Asi. Para el caso de los mestizos la influencia de las tradiciones latinas ha sido mayor que para el caso de los indigenas. hijo de espanal con negra. lobo y mulata. Una de elias definia las principales castas de la siguiente manera: mestizo. hijo de blancos con rasgos negros. lobo. hemos visto mas arriba. mestizo e india: tornatras. 't . j6venes varones solteros 0 que habian dejado sus esposas en la peninsula. los elementos de identidad de America Latina pueden entenderse como un complejo entramado de textos cuyas lecruras multiples resisten comprensiones univocas y plurlvocas precisamente porque los acto res son diversos y los nucleos de sintesis son sincreticos. etc. y en zonas amaz6nicas de Colombia. Ya en la epoca inicial de conquista y colonia se empleaba el termino de "castas" y los cronistas nos informan de una variedad de "castas" que poblaban las colonias de la America Hispana. Los medios de comunicaci6n y la industria cultural ya no son portadores de tradiciones latinas sino de patrones de la cultura anglo-norteamericana hollywoodense y globalizadora.como en regiones de la costa caribeiia. hijo de mestizo y espanola. 2004.y la pluralidad de relatos no occidentales de los componentes culturales amerindios y afroamericanos. Es necesario precisar con mayor detenimiento y referirse a los espacios geoculturales que es posible identificar en la America Latina. Identidad latino-sud-americana Hemos afirmado que la identidad cultural historica de America del Sur se confunde . 1990) mediante un proceso de sintesis que "no es fusion. p. En realidad es posible trazar un mapa geocultural de todo el espacio que llamamos Latino America y dividirlo en. es sincretismo. Pero es obvio que el concepto de America Latina y el de America del Sur no son sin6nimos.con la America Latina. al menos. tienen origenes. es convivencia" (Oro. aun cuando en mas de algun momento historico en discursos del siglo XIX asi 10 fuesen. afirmar que en estesubcontinente hay fuertes elementos de cultura latinos y al mismo tiempo un crisol de diversidad sociocultural que Ie dan una riqueza cultural caracteristica. vida. cinco areas geograficas delimitadas que. heterogeneamente articulados. mas alia de com partir elementos comunes con la totalidad Ilamada America latina. todos ellos contemporalidades y espacialidades referenciales diversas. adaptados y reelaborados "a la latinoamericana". para avanzar en nuestra reflexion sobre la integracion sudamericana. no es mixtura. se despliegan como un plexo en el cual confluyen poderes y contrapoderes. 8).de raiz culturallatina . Tambien resulta insuficiente. imaginarios todos ellos que ·forman discursos en distintos pIanos.. En efecto es posible dividir el continente Americano en varios subconjuntos de paises y regiones de la America Latina como sigue: . Los sistemas identitarios en el espacio-tiempo entonces. trayectorias y particularidades que posibilitan agruparlas entre sl.78 cristian parker gumudo que envuelven valores. y cosmovisiones diversas 'en las cuales convergen en forma compleja los metarrelatos occidentales .tanto como los discursos identitarios de sus elites intelectuales . De esta manera podremos reconocer cuales son los componentes que estamos refiriendo cuando introducimos el concepto de Latino-Sur-America. discursos oficiales y contradiscursos. sobrevivencia. todos elementos que son leidos. que reflejan 'proyectos de dominacion. humanismos y vision de mundo latino-americanos (Marquinez. Costa Rica y Panama y basicamente comprende 10 que historica y geoculturalmente fue el asiento de las altas culturas meso american as precolombinas. d) Latino-sudamerica-cono sur: Argentina. luego el Virreinato de Nueva Espana. Uruguay y Chile. El Salvador. Guatemala.r I I identidad latina e integraci6n sudamericana 79 a) Latino-mexico-mesoamerica. En realidad cuando hablamos de Latino-Sud-America nos estamos refiriendo a los procesos de integracion entre los espacios geoculturales e). e) Latino-lusoamerica: basicamente es Brasil que por su dimension y densidad tiene un peso decisivo en la conformacion de la cultura latinoamericana. Ecuador. e) Latino-sudamerica andina. c) Latino-sudamerica andina. Es esta una cuestion no menor dado que el uso habitual del concepto de America Latina no suele entrar en distinciones intern as y en realidad ellenguaje comun 10 . b) Latino-caribe-america: comprende todos los paises independientes latino hablantes del Caribe con historias e influencias culturales muy diversas: Cuba. d) Latino-sudamerica-cono sur. e) Latino-lusoamerica. paises del cono sur que han tenido una historia marcada par un mestizaje de menor influencia indigena y una inmigracion europe a significativa. Peru. En general. b) Latino-caribe-america. habiendo tenido una historia diferente a los paises hispanoamericanos y par 10 mismo teniendo una dinamica politico-cultural bastante apartada. y la historia de los paises centro american os mencionados y destacindose Mexico como gran polo de la cultura latinoamericana pero que por su proximidad a los Estados Unidos tiene una historia propia. a) Latino-mexico-mesoamerica: comprende Mexico. UU. paises que tienen trayectorias historic as compartidas y que fueron el principal asiento de las grandes culturas andinas y que todavia el influjo de la poblacion indigena se deja sentir. Republica Dominicana. Haiti. d) y e) y estamos excluyendo a los espacios geoculturales a) y b). casi todos esos paises estan marcados por las poblaciones afroamericanas y la historia de un colonialismo tardio. que comprende Bolivia. Hon- duras. Nicaragua. Colombia y Venezuela. y se suele agregar a Puerto Rico a pesar de su caracter de Estado Libre Asociado de EE. Esta distincion se encuentra ya presente en autores europeos y sudamericanos del siglo XIX. por su parte. los segundos estados en continua revoluci6n. disico representante el pensamiento eurocentrico nada importante habia pasado en America que en realidad pertenecia a la prehistoria y los influjos de los europeos que habian colonizado el norte y conquistado el sur no agregaban nada nuevo a la Historia universal (Arciniegas. En todo caso la relaci6n entre America del Sur y la America del Norte ha servido para identificar a esta ultima. 1990. en que la importancia de la Historia Universal deberia manifestarse. nos habla en la mitad del siglo XIX de la necesidad de distinguir el proyecto de desarrollo de la America del Sur del de EE. europeos germanicos. desde el punto de vista sociocultural. mestizos de razas debiles. Los norteamericanos. a referirse de manera mas sistematica a America Latina comprendiendo a toda Sudamerica Latina y a Mexico y Centroamerica. 2007). eso si. Analiza las constituciones generadas a partir de 1810 y las critica precisamente porque no incluyen los valores de la libertad de industria y trabajo. protestantes. Los primeros organizaron comunidades prosperas. catolicos. los sudamericanos. Para Hegel. Sin explicitar a que tipo de conflicto se referia. Hegel predijo una pelea entre la America del Norte y la America del Sur. y precisamente .80 I ~ I I cristian parker gumucio emplea con un sentido de generalidad que sirve muy poco para precisar contornos subregionales. Durante buena parte del siglo XIX se tendi6 a confundir America Latina con America del Sur pero sera desde la II Guerra y con los planes desarrollistas y las politicas integracionistas que se tendera. en los 'grandes foros multilaterales y los organismos econ6micos internacionales que se incluye al Caribe. a partir de sus principios liberales. sino mucho maS a los otros paises caribefios (no latinos) que se han independizado durante la segunda mitad del siglo XX. entre la America del Norte y la del Sur. Cabia distinguir. Alberdi (1852). desarrollaron un principio de gobierno del enriquecimiento por medio de la exacci6n. UU. Luego ha sido necesario precisar. y de Europa. Mayobre. en ellenguaje oficial. pero es claro que con este ultimo termino se refieren no tanto a los paises latinos del Caribe. su sentido del trabajo e individualidad. hoy America Latina. Afirmando que America era la tierra del futuro. se caracterizaban por su prosperidad. En todo caso es Alberdi un claro ejemplo de un sudamericano que se refiere constantemente a "Sudamerica" como proyecto. enemiga mortal. EI escritor y diplomatico colombiano Jose Maria Torres Caicedo (1857) denuncia el olvido de la Union de sus valores de libertad en el Norte y declara condenable su invasion y guerra contra Mexico y Nicaragua ocasion en que tam bien asecha Europa. pero sin descuidar la denuncia frente a los vecinos anglosajones de la America del Norte. en el mismo sentido de tension con la America del Norte que hemos venido anotando. Al decir de algunos analistas el Brasil tiene por objetivo estrategico.identidad latina e integraci6n sudamericana 81 cuestiona la imitacion de las constituciones francesas y norteamericanas por la insuficiente consideracion que estima tienen aquellas acerca del progreso economico del pais. el hacer de America del Sur una potencia economic a y polftica mundial. Desde este punto de vista geopolitico y geoeconomico Mexico 4 . Iniciando el siglo XXI. al apoyar la creacion de la Comunidad Sudamericana de Naciones. En su famoso poema de "Las dos Americas" evidencia la confrontacion entre America del Sur y America del Norte: "Ia raza de la America latina. Es claro entonces que hay una forma de entender a la America del SurAmerica Latina donde 10 que prima en el contenido semantico del concepto es su oposicion geo-polftica-cultural. reconoce que la politica exterior de Brasil estuvo orientada desde el siglo XIX por el concepto de America del Sur. Hay entonces una connotacion "defensiva" del concepto de America Latina cuando se la asocia geograficamente a America del Sur. el politologo e historiador brasileiio Moniz (2005). " y llama a la America del Sur a unirse a "defender la libertad genuina" contra el despotismo europeo y el expansionismo norteamericano. .. Ya Francisco Bilbao en La America en Peligro (de 1862) denunciaba tambien el despotismo europeo y la polftica panlatinista de Francia que queria anexarse a Mexico. al frente tiene la sajona raza. con implicaciones economic as y politicas". la comprension brasileiia resultada de un analisis de las dos Americas. Claro que agrega algo que resulta necesario analizar. en primer lugar a la cultura norteamericana (por ser yanqui y expansionista) y en segundo lugar a la cultura europea (por ser tambien expansionista). sobre base de una distincion no tanto por sus origenes etnicos 0 idiomaticos sino "por la geografia. Esto quiere decir que existe una doble lectura de la diferencia entre America del Norte y America Latina del Sur: una lectura historico-cultural y otra de tipo geopolitico. a partir de las tradiciones. La construccion de una identidad "Latino-Sud-Americana". en el marco de sus otros componentes ilustrados. UU. una realidad imagin ada pero no geopolitica y economicamente factible. un "continente joven". se ha dicho que se trata de un "nuevo mundo".r 82 cristian parker gumucio estaria en la otra America al compartir un mercado com tin. y dado que la cultura sud americana moderna existe desde la conquista. En este concepto la America latina se vuelve insustancial. Por el contrario nuestra hipotesis de trabajo afirma que el concepto de America latina. 0 mejor dicho. Este motive. tan extensa frontera y relevante intercambio comercial y de flujos migratorios con EE. de los element<'" "Iatinos" que hemos anotado en la seccion antecedentes. sincretismos y toda clase de nuevas formas mixtas de culturas sin que elias hayan decantado como expresiones antagonist as un as de otras. EI componente latino de la cultura sudamericana ha side un factor proclive a la integracion. puede ser una de las bases de (auto) representacion cultural que posibilita en terminos de sistema identitario definirse frente a las culturas anglosajonas (especialmente norteamericana) y recoge una herencia comun mas amplia con la latinidad del resto de America Latina y con Europea. es importante constatar que la diversidad y la pluralidad de los procesos historico-culturales no han derivado en conflictos intrarregionales y mas bien han origin ado diversas formas de "sintesis" culturales donde el crisol culturallatinoamericano ha generado mestizajes. 10 que favorece procesos de integracion que vayan mas alia de los acuerdos economicos y comerciales y consoliden una futura Union de Naciones Sudamericanas. el rescate de 10 "Iatino" de America del Sur. historias y antecedentes ya presentes. tiene mucho que ver con unconcepto mucho mas integral deJos procesos de integracion y en particular tiene que ver con la factibilidad·de los procesos de aproximaciompara la conformacion de una union de naciones en el Sur de America (Unasur). permite pensar una base comun cultural para los pro. En efecto pens amos que el componente latino de America Latina es uno de los componentes principales de su sistema identitario que.cesos de integracion en Sudamerica. Mas alia de las lenguas comunes. desde una optica geocultural e historico-cultural. indigenas y diversos. mestizos. pero que se conserva como un rasgo potencialmente favorable. que no siempre ha cristalizado en procesos efectivos de integracion. unas culturas "nuevas" si se las compara . hace unos quinientos anos. 000 anos y las civilizaciones precolombinas se remontan desde tres a cinco mil anos. identidad latina e integraci6n sudamericana 83 con las milenarias culturas de oriente (China. en terminos generales.. para distinguirlas de la cultura sudamericana antigua donde el poblamiento12 se remonta a unos 40." No es 12 Los sitios arquel6gicos de Monte Verde (Chile). entonces que la America del Sur moderna ha tenido. Si bien hubo y hay una diversidad considerable de grupos etnicos y de culturas.000 e incluso 50 0 60. Es posible afirmar. India Japan) y occidente (Europa latina occidental). por parte de los europeos. . En efecto.. la extension ni la magnitud. la interculturalidad se ha dado como un proceso de dominacion y resistencia. el Pais Vasco.500 anos del presente sino hacia 33. la primera en 1941 y la segunda en 1995) ellos no han tenido. Ello caracteriza la inexistencia de conflictos semejantes a los casos de la ex Yugoslavia.) han replanteado la teorla prevaleciente del poblamiemo tardio basada en la Cultura Clovis. Piedra Museo (Argentina) y Pedra Fiurado (Brasil) en Sudamerica. Quiebre que no se ha presenciado de forma tan radical en el caso de otras civilizaciones milenarias como la China. \3 Cifra que contrasta con el4% del PIB que dedica la Union Europea a gastos militares. 2005). America Latina es una de las zonas de menor tension en el mundo y una de las que menos recursos de su Producto Interno Bruto (PIB) dedica al presupuesto militar.000 auos arras. eI 3% de Estados Unidos (que realiza el47% de los gastos militares del planeta) y el12% de Media Oriente. la India. Pese a ausenta de canflictos graves hay riesgos para la segucidad: . una historia comun. Ello ha significado aceptar que posiblemente el hombre emigre a America por Beringia no haee 13. relevancia e impacto que tuvieron por ejemplo en Europa las devastadoras I y II Guerras Mundiales.000 a 60. durante el siglo XX. America del Sur no ha sufrido guerras devastadoras. el Medio Oriente. donde los conflictos intrarregionales remontan a culturas asentadas territorialmente desde hace milenios. marca un quiebre de continuidad historico-politico-cultural de gran magnitud. junto a Topper (EE. Hablamos aqui de las culturas sudamericanas modernas en las cuales los componentes de las culturas originarias esran por cierto presente. apenas el1.5% (Zibechi. Ciertamente la conquista de America. e incluso la latina occidental. pero no conformando espacios nacionales 0 subnacionales en conflicto. UU. el Caucaso. Los conflictos de derivados de la imprecision de definicion de espacios nacionales y fronteras si bien en algunos casos han derivado en conflictos armados locales (como la guerra del Chaco entre Bolivia y Paraguay en 1932-1935 0 las guerras entre Ecuador y Peru. Las tensiones entre las corrientes evangelic as . sin embargo. tradiciones y significados particulares. A ello contribuye una comun historia religiosa marcada por el catolicismo y. y com parte su cultura elllamado "ethos catolico". conflictos de tipo religioso con componentes etnicos y nacionales. bajo usos. que incluye eI combate al narcotrafico y la guerrilla. 14 I. .los intentos de las elites de cada pais para confener la protesta social a traves de la militarizaci6n de las sociedades. estrategia regional de Washington. formas de resistencia estas han sido simbolicas y en la mayorla de los casos el contacto ha dado origen a distintas formas de sincretismos cat6Iico-indigenas.principalmente pentecostales . han sido pacificas y nunca han incluido componentes de reivindicacion etnieo-territorial ni menos nacionalismos. desde Venezuela hasta Bolivia. . en ocasiones. que la violencia civil se ha incrementado estos anos. America del Sur no tiene..I 84 cristian parker gumucio menos cierto.y eI nuevo papel de Brasil en el continente. En la propia dinamica religiosa-cultural hay que destacar la peculiar interaccion entre el catolicismo dominante y las multiples expresiones de religiones indigenas colonizadas.por otras expresiones religiosas que han sido minoritarias y que en todo caso han convivido en forma pacifica con el catolicismo. uoiea naci6n del Sur en vias de desarrollo que tiene autonomia estratl!gica militar. de otra. 14 EI caso del Frente Zapatista para la Liberaci6n Nacional en Chiapas. y el control de la biodiversidad de la region andina. producto de la guerra/guerrilla en Colombia. como es el caso dramatico en otras zonas calientes del planeta. /1 Podemos afirmar entonces que la caracteristica "latina" de America del Sur ha contribuido de manera relevante a conformar factores que pueden contribuir a procesos de integracion subcontinental. Casos como ese no se han dado en America del Sur ya que eI conflicto colombiano obedece a otras inspiraciones y causas. ~ ~ . .y el catolicismo de una parte y las religiones indigenas. del narcotnifico y del incremento de la criminalidad en todos los paises (Briceno Leon. Si bien estas ultimas han adoptado. . De hecho conserva elementos importantes de la cultura cristiana-occidenta'l. se proyecta mas como un movimiento politico democratizador de la sociedad mexicana toda y no reivindica un territorio nacional. 2002).eI Plan Colombia. El mejor ejemplo de este tipo de patron cultural-religioso compartido es el "catolicismo popular" que se presenta con asombrosa semejanza hasta en los mas variados rincones del continente sudamericano. y si bien tiene componentes etnico-nacionalistas. . claro que bajo formas de apropiacion semantica especificas. no tiene inspiraci6n religiosa como legitimacion principal.las nuevas faemas que adopta la privatizaci6n de la guerra. frente a los cuales emergen la reivindicaci6n social y de grupos . Es necesario mencionar tambien una historia politica compartida. durante el siglo XX. claro que dur. el domino oligarquico. Todo ello se ha dado desde la epoca colonial. los procesos de redemocratizaci6n recientes. los partidos politicos democraticos. que comparten intereses y val ores comunes" . el despertar de las clases medias y populares. asi como politicos y de flujos migratorios. pero que son. los movimientos socialistas. de los paises sudamericanos que.identidad latina e integraci6n sudamericana 85 Todo ello nos posibilita afirmar que existe cierta homogeneidad cultural y ciertamente muchos mas claros facto res de unidad cultural que en otros continentes. Union de Naciones de America del Sur (Unasur) y cultura latina Es precisamente uno de los focos de atenci6n del presente estudio sacar a luz aquellos elementos que constituyen una base deintegraci6n. en todo caso. No es ninguna novedad afirmar que desde su temprana historia America del Sur no s610 ha sido un espacio de contactos e intercambios culturales y de ideas sino que fundamentalmente ha sido una zona de intercambios comerciales y econ6micos. Historia tensionada por la dinamica local-universal: el analisis de cada pais es de una riqueza enorme. y Africa. Lo cierto es que los procesos de globalizaci6n recientes. bajo Ie hegemonia norteamericana. junto con abrir los mercados e intercambios con otras regiones del planeta han intensificado los intercambios intracontinentales. en el pIano cultural. Asia. los modelos politicos desarrollistas. pero al mismo tiempo es posible encontrar patrones de evoluci6n politico-cultural que son compartidos. los golpes de Estado y los regimenes de seguridad nacional. Y en las ultimas decadas el dominio de los modelos neoliberales. como reza el discurso oficial "estan muy cerca desde el punto de vista hist6rico-cultural. y con los procesos independentistas se acentu6. los populismos latinoamericanos. Hay una dinamica mas o menos comun en la cual se pueden detallar: las luchas entre conservadores y liberales.ante la historia republicana los intercambios al interior de la America del Sur han estado bajo el dominio del Imperio Ingles por un buen tiempo y luego. De hecho esta homogeneidad cultual se da sobre la base de diversidades y pluralidades de tradiciones locales y subregionales. de mucho menor envergadura que aquellas que existen al interior de otros continentes como Europa. e integrando a paises asociados que no forman parte integra de esos dos referentes: Chile. 2003). En las proximidades del Bicentenario de Ia declaracion de Ia Independencia de Ia mayor parte de las naciones sudamericanas. al fortalecimiento de Ia integracion de los pueblos de America Latina y el Caribe. los Presidentes y Jefes de Gobiemo de los Paises de Ia Comunidad Sudamericana de Naciones. [. La in mensa mayoria de estos paises se inscriben culturalmente en tradiciones culturales que tienen a Ia cultura latina como uno de sus antecedentes relevantes... La esencia de Ia Comunidad Sudamericana de Naciones es el entendimiento politico yla integracion economica y social de los pueblos de America del Sur. Ia solidaridad. En Brasilia. a fines del 2004. el 30 de septiembre de 2005 los Presidentes en]a Primera Reunion de Jefes de Estadode Ia Comunidad Sudamericana de Naciones. La Comunidad Sudamericana de Naciones fortalecera Ia identidad de America del Sur y contribuira. y Guyana. 2.r . en el Cusco los Presidentes de las naciones Sudamericanas acuerdan dar inicio a Ia Comunidad Sudamericanade Naciones. como hemos visto. Aunque de los estados sudamericanos Surinam y Guyana no son de Iengua latina. en coordinacion con otras experiencias de articulacion regional y subregional. 86 cristian parker gumucio populares e indigenas y se moviliza Ia sociedad civil y crecen las Iuchas antiglobalizacion (Harris. 2005). Surinam. Esta comunidad de naciones se esta estructurando sobre Ia base de dos grandes procesos de integracion del subcontinente: el Mercosur (Mercado Comun del Sur) y Ia CAN (Comunidad Andina de Naciones). En este contexto es que surgen iniciativas mas concretas de integracion para el subcontinente del Sur. el respeto a Ia integridad territorial.. dedaran que Ia "integracion sudamericana es y debe ser una integracion de los pueblos en favor de Ia construccion de un espacio sudamericano integrado" (Jefes de Estado. Ia igualdad soberana de los Estados y Ia solucion padfica de controversias. J dedaran: 1. Ia no discriminacion y Ia afirmacion de su autonomia. ellos fueron colonizados por potencias como Holanda e In- . los derechos humanos. a Ia diversidad. Ia libertad. Ia justicia social. Sigue Ia dedaracion presidencial "inspirados en valores comunes tales como Ia democracia.. Esta compuesta por doce paises. el fortalecimiento de la gobernabilidad democratic a. con integraci6n lingiiistica. y la integraci6n sudamericana con un desarrollo humano. Sus reservas de agua dulce y biodiversidad son las mayores del mundo. mas Chile. UU. Tiene un tercio de la biodiversidad del planeta. . Los paises integrantes del Tratado de Libre Comercio de America del Norte (TLCAN) constituyen un mercado equivalente al 23. Posee inmensas riquezas minerales. 9% de las reservas mundiales de petr61eo y 4 % de las reservas mundiales de gas. cerca de 17 millones de kil6metros cuadrados. tiene 360 millones de habitantes. y dentro de un espacio contiguo. cerca del 67% de toda la America latina y el equivalente al 6% de la poblaci6n mundial. La busqueda del desarrollo competitivo pero con inclusi6n social. es el doble tanto del territorio estadounidense. y su territorio. sustentable e integral son algunos de sus objetivos globales. • Obtener mayor gravitaci6n en relaciones internacionales.un mill6n doscientos mil millones de d6lares) y el cuarto mere ado mundial (medido en terminos de la demanda potencial). hace de la Comunidad Sudamericana de Naciones una potencia mundial con una masa econ6mica mayor que la de Alemania y muy superior a la suma del PBI de Mexico y de Canada. que los paises latinoamericanos han iniciado este proceso de integraci6n que busca garantizar una "globalizaci6n con integraci6n y desarrollo" (Wagner. Es en el marco de los procesos de globalizaci6n. con unProducto Bmto Interno de 1. de pesca y agricultura. (293 millones). dado que la casi totalidad habla portugues 0 castellano. Los objetivos politicos explicitamente declarados de la Unasur son: • Constmir un orden mundial multilateral. La integraci6n del Mercosur.2 billones . que ofrecen amplias oportunidades asi como grandes desigualdades y riesgos. con sus respectivos aportes derivados de la cultura clasica. 25% de agua dulce del mundo. como de China. Este proyecto de Uni6n de Naciones Sudamericanas tiene el potencial de ser la quinta economia mundial (PIB de US$ 1.7% del Producto Interno Bmto mundial y un 14. democratico y multipolar.000 billones de d61ares y la CAN. 2005). Su poblaci6n es mayor que la de EE. Sin embargo su peso relativo esea ciertamente por debajo de su vecino del norte.identidad latina e integraci6n sudamericana 87 glaterra que comparten la comun herencia occidental y cristiana.7% de la exportaci6n de bienes y servlclOS. permeando la vida cotidiana latinoamericana de signos. y momentos de gran proximidad e incluso movimientos de admiracion de la cultura norte americana (movimientos de derecha y proNorteamerica). 10 cual se ha acentuado con la globalizacion y la universalizacion del mere ado como factor regulador de la vida social.r 88 cristian parker gumucio • Afianzar la paz. la musica. el proceso de integracion americano en el marco del Alca ya inicialmente impulsado por el tratado de libre comercio de Chile con los tres paises que 10 componen (Canada. • Impulsar reformas para un nuevo Estado democnitico. nacionalista 0 de izquierda). como hemos ya analizado. Pero el principal esfuerzo de la integracion sudamericana es intensificar sus intercambios intern os. UU. La logica de los bloques comerciales es la de impulsar el comercio entre sus miembros y hacer uso de sus respectivas preferencias arancelarias. Se suceden 0 coexisten movimientos de repulsa y rechazo a la injerencia norteamericana (generalmente de tendencia populista. con mercados de bienes y servicios y de trabajo cada vez mas mundializados America del Sur busca establecer una politica de apertura que garantice el respeto a sus legitimos intereses sociopoliticos y culturales. UU). Algunos paises de America Latina han percibido los nuevos tiempos y. En efecto. en consecuencia. Mexico y EE. Un balance historico de las relaciones entre America Latina y su vecino del Norte revelan. des de la comunidad latinoamericana de naciones. seguridad y fomento de la confianza regional e internacional. En el marco de los procesos de globalizacion. con recelo y se han congelado sus negociaciones precisamente por el hecho de que Brasil y Argentina buscan consoli dar sus proyectos de integracion ampliando el Mercosur hacia todo el continente sudamericano. 0 de algunos de sus aportes como la cultura liberal democratica. • Fortalecer el Estado de Derecho y la gobernabilidad democnitica. Sin embargo. es ambigua y ha estado sometida a dimimicas paradojales y/o ciclicas y muchas veces contradictorias. la relacion de America del Sur con EE. se ve. Mercado que trae consigo un cierto "estilo de vida americano". la industria cultural. • Asegurar la cohesion social y la correccion de asimetrias. han firmado 0 firmaran tratados de . tales como la Union Europea y el Asia-Pacifico. antecedentes de hegemonismo de parte de este ultimo actor 10 que ha llevado a los paises sudamericanos a volver su mirada hacia otras regiones. simbolos y actitudes propias del American Way of Life. a las negociaciones y los acuerdos economicos y comerciales. par ende. Promovida por Cuba y Venezuela como contrapartida del Area de Libre Comercio de las Americas (Aka). Dominica y San Vicente y las Granadinas han suscrito el Memorando de Entendimiento. Aprovechando la ventaja de la cercania de tradiciones culturales.que superan la politica bilateral convencional . por el contrario. asi como las dimensiones medioambientales. impulsada por Estados Unidos. Se trata de la busqueda de una expresion juridica que constituya acuerdos de asociacion. en 1999. los paises latinoamericanos se han aproximado a la Union Europea. La Alternativa Bolivariana para America Latina y el Caribe es una propuesta de integracion errfocada para los paises de America Latina y el Caribe que pone enfasis en la lucha contra la pobreza y la exclusion social. 2004). y siendo la tradicion latina una de las fuentes comunes de convergencia. en Rio de Janeiro. En efecto. ir hacia la cohesion social de nuestros paises". Otros. 2004). que "superan la naturaleza y alcance de los Acuerdos Marco de Cooperacion que utiliza generalmente la Union Europea para sus relaciones con terceros paises 0 agtupaciones" (Vikhes. Es claro tambien que en la epoca de la globalizacion que vivimos los intereses politicos y culturales. .. En igual sentido se desarrollan las Cumbres Iberoamericanas de Jefes de Estado y de Gobierno cuya sesion XVII se celebr~ en Santiago de Chile en noviembre de 2007 reafirmando un plan de ace ion con acentuado sentido social. la conformacion de una Asociacion Estrategica Interregional fue lanzada como un objetivo en la I Cumbre de la Union Europea y de America Latina. ]"podremos empezar a escribir un nuevo pacta social para construir sociedades mas justas e inclusivas y. promueven bloques puramente regionales 0 basados en afinidades ideologicas.identidad latina e integraci6n sudamericana 89 libre comercio con las principales economias del mundo. ya incorpora a Nicaragua y Bolivia y en 2007 los est ados caribefios de Antigua y Barbuda. al clausurar la Cumbre afirm6: "si efectivamente somas capaces de poner en marcha los acuerdos que hoy dia hemos firmado [. en primera instancia. En este sentido debe mencionarse a ese proyecto alternativo que significa el Alba. comienzan a tomar cada vez mas relevancia en las relaciones internacionales (Parker..cuentan. Es claro que los actuales procesos de integracion y de alianzas entre regiones ." 15 Michelle Bachelct. Presidenta de Chile. que en forma simultanea. desde el punto de vista de los factores culturales. Fondo Latinoamericano de Reservas (Flar). como es natural. Sistema Economico Latinoamericano (SEL) y organismos como el Banco Interamericano de desarrollo (BID) y la Comision &onomica para la America latina y el Caribe (Cepal). Asimismo movimientos y partidos polfticos. intelectuales y artist as de las mas diversas extracciones han expresado reiteradamente su adhesion a las mas divers as formas de unidad latinoamericana. es que los pilares de la Asociacion son: "el dialogo politico fructifero y respetuoso de las normas de derecho internacional". y la CAN.I 90 cristian parker gumucio I . 2004). cientifico. ~! t = r . En general es importante destacar que esran operando multiples instancias y mecanismos de integracion. desde organizaciones supranacionales como la hasta instancias de coordinacion politica como la Conferencia Permanente de Partidos Politicos de America Latina (Coppal). "las relaciones economicas y liberalizacion reciproca de los intercambios comerciales" y "cooperacion en los ambitos educativo. La existencia de acuerdos y tratados de libre comercio entre paises de Sudamerica y paises de la cuenca del Asia-Pacifico. culturaly social" (Vilches. Mas alia de las grandes instancias que hemos mencionado como la Unasur.I. socio-historicos y culturales que vinculan a la America Latina con Europa y ya hay acuerdos de asociacion suscritos como el caso de Chile-UE. se ha desarrollado con creciente interes y veremos en los anos venideros que muchos paises de ambas riberas del Pacifico extenderan estos acuerdos. el'Mercosur. Pero 10 que es decisivo es que solo entre la Union Europea y Sudamerica sera posible avanzar en acuerdos de asociacion precisamente por los lazos culturales e historicos comunes. movimientos sociales.I Son claros los lazos politicos. Tambien organismos politicos supranacionales como el Parlamento Latinoamericano (Parlatino). es importante anotar variados mecanismos latinoamericanos que favorecen la integracion en sudamerica: Asociacion Latinoamericana de lntegracion (Aladi). Asociacion Latinoamericana de Libre Comercio (ALLC). Lo mas decisivo. apuntan a un tejido de mayor densidad integrativa en el subcontinente sudamericano. Las herencias de la cultura latina occidental juegan aqui un pape! de la mayor importancia. culturales y educacionales como la Union de Universidades de America Latina (Udual) y el grupo de Montevideo y variadas instancias sectoriales bajo forma de "uniones latinoamericanas". los Estados de Mato Grosso. Indonesia. las Provincias del Noroeste Argentino: Jujuy. Nueva Zelanda. Asi como. gran zona constituye un vasto complejo economico capaz de interactuar en el nuevo panorama global de la economia. Mexico. Australia. Formosa. comercial y cultural. En ella confluye la vigorosa voluntad de las Regiones: Tarapac:i. Hay tambien importantes iniciativas subregionales como Zicosur. Corea del Sur.identidad latina e integraci6n sudamericana II 91 Las similitudes historicas y culturales de los pueblos latinoamericanos han llevado a crear la idea de America Latina como una Patria Grande con roda una teorizacion acerca de la integracion. los Departamentos de Potosi y Tarija en el sur de Bolivia. Flagelo que se hace mas evidente por contraste a las enormes riquezas naturales del subcontinente. Chaco y Misiones. Mato Grosso do SuI y Parana en el occidente brasilefio. Zicosur. potenciando ofertas productivas conjuntas con el objetivo de abastecer las crecientes demandas de los mercados de la Cuenca del Pacifico. Estados Unidos y Canada. Malasia. y las Provincias del Noreste Argentino: Corrientes. Uno de los mas decisivos proviene del panorama social del subcontinente: la pobreza y la desigualdad. Esta. hay serios obstaculos para la integracion. tales como: China. Todos estos proyectos han tomado cuerpo en instituciones y tambien en diversos proyectos de integracion fisica. Tal vez por eso no sorprenda que la politica de Cumbres de Jefes de Estado tome acuerdos de menor envergadura y el conjunto del proceso de integracion avance con bastante lentitud. Antofagasta y Atacama del Norte Grande de Chile. logistica y cultural y se han expresado en un cuerpo teorico particular acerca del proceso de integracion. Tambien es digno de mencionar las asimetrias intra-regionales y los divers os grados de integracion nacional y sociocultural entre los diversos paises de America del Sur (Jaguaribe. Tucuman y Catamarca. la Republica del Paraguay y las Regiones del sur de Peru. Japon. Sin embargo. . La Zona de Integracion del Centro Oeste de America del Sur. Tailandia. es un proyecto de complementacion economic a. Salta. ademas de cooperacion intergubernamental y empresarial que congrega a las regiones aledafias con el Tropico de Capricornio. 2007). Hemos fundamentado ampliamente los facto res culturales comunes. pero todo ello resulta insuficiente para hacer realidad el sueno de Sim6n Bolivar. llenos de obstaculos y vicisitudes. ellenguaje. Hemos dicho en nuestro analisis te6rico sobre identidad que se trata de una construcci6n social. los problemas energeticos y los focos de violencia. Por 10 mismo. Se enarbol6 como lema de identidad (cuando no 10 habia). Unasur tiene una amplia agenda pendiente que incluye desde cuestiones de infraestructura. la historia. como factor de reconocimiento y de uni6n de una America del Sur dividida frente a los Estados Unidos de America. como los nacionalismos y regionalismos y la incorporaci6n de naciones musulmanas a un grupo de tradici6n cristiana. a pesar de la polemica que se 10 atribuye a intelectuales franceses del siglo XIX. La problematica identitaria contemporanea en el subcontinente dice relaci6n con la definici6n de los rasgos culturales fundamentales que permiten definir al subcontinente como una unidad politica y cultural y por ello es un componente clave al momento de comprender los factores culturales en los procesos actuales de integraci6n en el marco de la globalizaci6n creciente. 2000). Las instituciones de muchos paises son debiles y la corrupci6n es un factor dificil de erradicar aunque las fuerzas armadas se han democratizado y hay menos riesgo de golpes de estado como antano. Algunos esperaban que se anunciaraque America del Sur tomada el camino que adopt6 Europa. Son procesos que pueden llevar siglos en consolidarse. 2007). los corredores bio-oceanicos. El concepto de "America Latina" ha sido un concepto forjado por latinoamericanos y apropiado por los latinoamericanos. America . el componente cultural del proceso de integraci6n es el que puede garantizar una perspectiva ·de larga duraci6n.92 cristian parker gumucio America del Sur no enfrenta los problemas culturales que ha encontrado y aun tiene que resolver Europa. Ferreti. Los procesos de integraci6n entre naciones son. guerrilla. donde confluyen voluntades integradoras e intereses en conflicto (Sosa. La propuesta de politicas culturales integradoras es una base para el desarrollo de America del Sur (Radl. la defensa de la biodiversidad y del Amazonas. su fijaci6n fundamentalista podda danar u obstaculizar seriamente los procesos de integraci6n sub-regional. Los conceptos identitarios han de ser concebidos en forma dinamica. pero la regi6n todavia esra lejos de aquello.penosos y dificiles. narcotnifico y problemas bilaterales pendientes. Porto Alegre: EDIPUCRS-Cassamarca. indigenas. Bases y puntos de partida para la organizaci6n politica de la Republica Argentina. Universidad Catoliea Silva Henriquez. 9-18. Mexico: Siglo XXI. 1915. Las fuentes latinas. Buenos Aires: Biblos. Vol. 2003. 1999. BOMBASSARO. Torno III: Hacia el 2000. Literatura Latinoamericana. BASTIDA MUNOZ. con Norteamerica. Buenos Aires: La Cultura Argentina. Pensamiento critico latinoamericano. Tablero. Jose. German. pp. No. CASTELLS. EI pensamiento latinoamericano en el siglo XX.). 2005. BENGOA. tradiciones. Dibam. La emergencia indigena en America Latina. 119-25. Ricardo (coord. Santiago: Ed. Mindahi C. afro y otras de variada indole. pp. 2005. Latin America. Luiz Carlos et al. Ed. Digital a partir de la edicion de Francisco Cruz. As fontes do humanismo latino. Santiago: Ed. costumbres y la historia comlin pueden contribuir a afianzar los actuales procesos de construccion de la integracion sudamericana y en especial a construir la Unasur. Concepto que tam bien de be comprenderse en forma dinamica y a bierta hacia otros procesos de integracion con el resto de America Latina. In: SALAS. DE LA FUENTE. con Europa. In: SALAS. Referencias AA.identidad latina e integraci6n sudamericana 93 del Sur y sus procesos de integracion necesitan una revision de sus conceptos identitarios. pp. sociedad. . Roberto. Alicante: Biblioteca Virtual Miguel de Cervantes. Hegel y la historia de America. Noviembre. Mexico: UAEM. 2001. ALBERDI. Idenridad latinoamerieana. 551-60. Current Sociology. 2001. Historia Critica. las lenguas y religion. Eduardo. Santiago: FCE.Juan Bautista (1852). . 33-66. BRICENO-LE6N. a Challenge for Sociology. pp. pp. Jose. II: EI poder de la identidad. Ricardo (coord. 2000. Enero-Junio 1990. 2004.VV. Vol. Universidad Catoliea Silva Henriquez. 1997.). ARCINIEGAS. 601-16. N°3. Aiio 21 N° 57. Todo ello a condicion de re-apropiarse de un sentido de identidad que en parte ya existe en el continente sudamericano y que en parte debeni construirse: Latino-Sud-America. cultura..1. 50. con el Asia-Pacifico. Manuel.2003. Quinientos anos de resistencia: los pueblos indios de Mexico en la actualidad. La era de lainformaci6n: economia. Pensamiento critico latinoamericano. DEVEs. La identidad de America Latina y las perspectivas de la integracion. Revista del Convenio Andres Bello. 4 94 cristian parker gumucio DEVES. HAMMOND. Un mundo desbocado. Popular Resistance to Globalization and Neoliberalism in Latin America. 2003. GIDDENS.imd. Mario & URRESTI Marcelo (comp. pp. pp. Jose. 1990.ac. Helio. 2-3. No 3. Eduardo. Summer. Luiz Alberto. Journal of Developing Societies. New York: Simon & Schuster. GOLDMANN. 2America Latina moderna? Globalizacion e identidad.America latina 0 Sudamerica? Clarin. Culture. Identity: Community. Conferencia el3-10-2007. ESTRADE. Introduccion a America Latina a traves de Jorge Guillermo Federico Hegel.uncu. Ensayos sobre la dimension cultural. pp. Declaracion sobre la Convergencia de los Procesos de Integracion en America del Sur. Samuel P. ' HALL. No. Clifford. EI hombre latinoamericano y su mundo. Difference.). Tomo I: Del Ariel de Rodo a la CEPAL.edu. In: RUTHERFORD Jonathan (ed. Brasilia. 1990. HUNTINGTON.html>. Enrique. 1993. Epistemologie etphilosophie politique. La cultura en la Argentina de fin de sigio. Cultural Identity and Ideology. UBA. -. America del Sur en el Siglo XXI. razon e identidad en America Latina. Anthony. 18 de mayo de 1895. Vol. Conciencia Activa. UNCU. pp. German L y otros. pp. JEFES DE ESTADO. 1977. Cultural Identity and Diaspora. DUSSEL. Santiago: LOM. Instituto de Estudios Politicos y Sociales. 2005.365-426. Rio de Janeiro: Zahar. MONIZ BANDElRA. 72.arlskins/www _imd/downloadl AMERICA % 20DEL %20SUR %20EN%20EL %20SIGLO%20XXl. Mexico: Siglo XXI.wikisource. A interpreta¢o das culturas. Concepto de America Latina. HARRIS. Carta a Manuel Mercado. Rdbala. MARQUINEZ ARGOTE. Mexico: EDICOL. 2000. 1999. JAGUARIBE. 19. 2007. The Clash of Civilizations and the Remaking of World Order. Paul. 79-82. Buenos Aires: Oficina de Publicaciones del CBC.orglwikilCarta_a_Manuel_Mercado>. MAYOBRE. 1996. Stuart. Paris: Denoel Gonthier. 1994. Primera Reunion de Jefes de Estado de la Comunidad Sudamericana de Naciones. 22-49. Santiago: Andres Bello. 1997.). Politica de Nuestra America. 2005. LARRAlN. Campamento de Dos Rios. Mendoza. <hrtp: IIwww. N° 13. MARTi. Richard. Dibam. 30 de septiembre de 2005. Vol. Jorge (1996). 2000. Isbu. The Clash of Civilizations? Foreign Affairs. GEERTZ. London: Lawrence and Wishart. 1986. In: <http://es. 222-37. 1979.1978. Argentina. Lucien. Filosofia hica latinoamericana. EI pensamiento latinoamericano en el siglo XX. Biblos. Philip. Bogota: Nueva America. De- .pdf>. 49-76. -. Buenos Aires. N° 18. Modernidad. -. Eduardo. . In: <http://myweb.uklphilip-hammond/1999b. Madrid: Taurus. MARGULIS. religi6n popular y modernizaci6n capitalista. Santiago. 79-100.1990. Sobre Politic a Exterior Iniciando el Siglo XXI. Pensamiento crftico latinoamericano. 1991. pp. pp.htm>. (re)lecturas del pensamiento latinoamericano. SOSA. Santiago: FCE. Madrid: Aguilar. pp. Roberto. Alberto J. N° 41. Universidad de Costa Rica. Universidad Catolica Silva Henriquez. Guillermo (ed. pp. Alejandra. noviembre.23-62. America Latina ya no es catolica: pluralismo religioso y cultural creciente. 2005a.oes sociais e humanismo latina no Brasil atual. Ari Pedro (org. RIBEIRO. N° 2. Identidades abiertas: entre la {ijaci6n fundamentalista y la perdida de sentido. In: SALAS. Cultura. 35-56. 25-28 de septiembre. Sonia. Mas sebre logocentrismo y la cultura latinoamericana. 2006. San Jose: Ed. 655-62. In: Fernandez-Beret. UFRGS-Fundacion Cassamarca. Revista Academia. 2005. America del Sur: un breve balance sobre su proceso de integracion. 2007. N° 18.identidad latina e integracion sudamericana 95 bate. America Latina Hoy. Buenos Aires. 1999. Ricardo (coord. Marco de Interpretacion Dinamico. Conferencia Inaugural. V. EI pueblo latinoamericano. MORALES 0.htm>. N° 2. pp. Ricardo. Miguel.). AMESUR. Santiago: Ed. 16. RADL. -. 2004. Pensamiento crftico latinoamericano. Cristiano Otra 16gica en America Latina. Santiago: Ed. Sociedad.2005. XIV Jornadas Sabre Alternativas Religiosas en America Latina. Porto Alegre: Ed. 2000. Mestizaje. In: <http://www. -. MONTECINOS. en La Investigaci6n Accion Socioambiental: repaso de lecciones I I t b destiladas. eso que descubri6 Col6n.. Pitirim. -. Ricardo (coord.doc>. Universidad Catolica Silva Henriquez.clarin. 1996b. 1996a. Logocentrismo y crisis de la modernidad. amersur. Darcy. Maria Marta.arlIntegiSosa0704-2. Revista de Sociologfa. 71-7. EI caso chileno: la interculturalidad como espacio a construir. 2004. Cap. Universidad de Chile. cultura y personalidad. Representa.200. ORO. & FERRETTI. Revista Academia. Buenos Aires: BID INTAL.org.). 51-102. 149-57. In: <http://www. -. Los cien nombres de America. 2005b. base para el desarrollo de America Latina y el Caribe: desde la solidaridad hacia la integraci6n. U. Identidades e Interculturalidad en America Latina. Santiago: Instituto Pedro de Cordoba. de Salamanca. pp. La dimensi6n cultural. 1996c. -. Concilium.96.17/arllibros/ paragua y/cerilfogell.). 2003. pp. PARKER. 2007. SOROKIN.). Etica intercultural. N° 232. In: SALAS.5 . ROJAS MIX. -. In: <http://168. PRANDI. SALAS. 1962. . As reljgioes e as culturas: Dinamica religiosa na America Latina. Santiago: USCH.com/diario/2005/05/16/opinion/o01901. Reginaldo. 96 cristian parker gumucio SCHUITE, Ofelia. Cultural Identity and Social Liberation in Latin American Thought. Albany: State University of New York Press, 1993. SULLIVAN E., Lawrence. lcanchu~ Drum, an Orientation to Meaning in South American Religions. New York: Macmillan, 1988. TORRES CAICEDO, jose Maria. Las dos Americas. In: EI Correo de Ultramar, Paris, afio 16, 15 de febrero de 1857. In: <http://www.filosofia.orglheml 185/18570215.htm>. VILCHEZ, Prisea. Los Acuerdos de Asociacion: un reto comon para la Union Europea y la Comunidad Andina. In: Diplomado en Estudios Europeos y Relaciones Uni6n EuropealAmerica Latina y EI Caribe, organizado por el Centro Latinoamericano para las Relaciones con Europa (CELARE) del 4 al 8 de octubre 2004. In: <http://www.comunidadandina.orgldocumentos. asp>. ~ I I WAGNER, Allan. La Comunidad Sudamericana de Naciones: Un gran prograrna de desarrollo descentralizado. Secretaria General de la Comunidad Andina, 2004. In: <http://www.comunidadandina.orgldocumentos/docSGI Ayudamemoria8-12-04.htm>. -. Integraci6n para el Desarrollo y la Globalizaci6n, Lima, mayo, 2005. In: pagina web de la CAN, <http://www.comunidadandina.orglprensaldiscursos/integracionyglobalizacion.pdf>. ZEA, Leopoldo. Cultura occidental y culturas marginales. In: SOBRERILLA David (ed.). Fi/osofia de la cultura. Madrid: Trotta, 1993, pp. 197-211. -. America Latina en sus ideas. Mexico-Paris: Siglo XXI-UNESCO, 1986. ZIBECHI, Raul. EI nuevo militarismo en America del Sur. Informe especial, Prograrna de las Americas, Silver City, NM, International Relations Center, 10 de mayo, 2005. In: <http://www.americaspolicy.orglreports/2005/sp_ 0505militar.htmb. f t Capitulo 3 EL PROBLEMA HERMENEUTICO DE UNA "LATINIDAD" PLURAL. UNA RECONSTRUCCION A PARTIR DE LASTEORiAS DE LA IDENTIDAD EN EL PENSAMIENTO LATINOAMERICANOACTUAL RICARDO SALAS ASTRAiN Introduccion E I proceso de este articulo es profundizar y madurar teoricamente una nocion de latinidad e identidad que brote de la riqueza del pensar latinoamericano actual. Se trata, a partir de algunas controversias acerca de las categorias claves de las teorias de la modernidad y modernizacion cultural, explicitar algunos topicos presentes en 10 que denominaria una interpretacion del canieter latino de la identidad cultural, relevando asi los principales temas relativos a una reconstruccion del concepto de una "latinidad" plural. En este mismo sentido, Pierre Sanchis ya indica en una conclusion de uno de sus textos: "Si las condiciones sociales de la modernidad contemponinea se revelan propicias a la valorizacion retrospectiva de esta vivencia de una latinidad sincronicamente plural, es claro tambien que los espacios de latinidad de la expansion, especial mente en America Latina, siempre exigirian tales aperturas" (Sanchis, 2004, p. 231). En este sentido especifico hay ciertamente que cuestionar, descle nuestros contextos mestizos, una asimilacion a-critica de una nocion europeo-mediteminea de latinidad que se heredo - como por 10 demas varias categorias socioculturales - en vistas a profundizar otras modalidades interpretativas de [0 latino, que se ajusten mejor a los interrogantes de los procesos identitarios acordes a los 98 ricardo salas astrain contextos historico-culturales, y que responda especificamente a las problematicas socioculturales vividas por las comunidades latinas en suelo americano, a sus multiples cruces y a sus actuales modos de reabsorcion en el espacio europeo producto de las migraciones. Por otra parte, el entrecruzamiento de latinidad e identidad no es una cuestion teoretica que refiera unicamente al pas ado de los paises latinos, sino que reflere a los modos de entender multifaceticas vivencias de los mundos latin os de vida que se expanden hoy en dia al nivel planetario. En este sentido especifico, pueden indicarse tres fenomenos socioculturales contemponineos de gran dinamismo: los actuales cruces y tensiones "fronterizas" en- tre el mundo cultural "latino" y la "cultura anglosajona" de la America del Norte, las nuevas intersecciones entre las culturas indoamericanas y las culturas mestizas en America Latina, y la nueva presencia de rakes culturales que aportan los emigrantes latinoamericanos al interior de la cultura europea. En los tres cas os descritos encontramos fronteras culturales, a veces porosas, que exigen nuevos tratamientos interculturales. Estas diversas reconfiguraciones de otros modos de vivir 10 latino en interaccion con otras culturas y tradiciones, permiten descubrir el nuevo surgimiento de una multiplicidad de flujos y entrecruzamientos de 10 latino, 10 que permitiria hacer referencia a un as identidades latinas hibridas, para retomar una nocion puesta en boga por Garcia-Canclini. La tesis que plantearemos aqui ciertamente va mucho mas alia de la descripcion de estos fenomenos socioculturales Iigados a las migraciones actuales, ya que trata de proponer una hermeneutica que permita comprender la disputa sobre la identidad cultural latina. Para ello es esencial al cabal analisis de nuestra experiencia historic a, dellenguaje, de las artes que constituyen nuestra manera problematica de ser "latinos" extramediternineos, de modo que la especificidad cultural hay que asumirla tambien desde nuestra experiencia polftica y economica comun - como diria el filosofo chileno Giannini - para encontrar nuestras formas de valorar y actuar en el mundo, pero por sobre todo comprender los nuevos desafios que tiene el mundo latino en el contexto planetario. En estas diversas experiencias existen multiples procesos socioculturales que remiten a formas nuevas de irradiacion de una plural cultura de raiz latina en el planeta, donde ella se difunde, se enriquece y se exporta bajo diferentes formas donde aparecen nuevas y emergentes cuestiones. Podriamos t- el problema hermeneutico de una "Jatinidad" plural I 99 reromar las preguntas que sintetiza el brasileiio Ari Pedro Oro del planteo explicitado por Pierre Sanchis: "IPosee la «Iatinidad» un contenido?, ICual?, I En nuestros imaginarios 0 en la vida real? I Hasta que punto sus areas de vigencia en el pasado es continua y detectable en el presente?, ICual es el estatuto de los cruces fluidos de identidades contemporaneas y sus resultados multiples?" (Sanchis. In: Oro, 2004, p. 12). En este marco, las preguntas anteriores apuntan a cuestiones ya planteadas a prop6sito de la identidad cultural latinoamericana, pero elias se inscriben en un complejo debate de ideas que buscan expresar sentidos y significados de los disimiles tejidos historicos, lingiiisticos y etico-politicos especificos que han consolidado los pueblos latino-americanos. La idea central que buscamos defender es que los valores y las practicas vitales de los "Iatinos" que estan en juego en los procesos historicos que nos han constituido como pueblos latinos, se han visto especificadas en otros contextos, 10 que presupone un tipo de comprensi6n de otras formas de latinidad, que posibilite entenderlas en plural. Esto permite reconocer diversas identidades latinas en juego, pero no solo como "juegos de discursos", sino como practicas vitales de un humanismo vital que se expreso en las diversas tradiciones que trajeron los conquistadores, colon os, misioneros, inmigrantes, etc., proveniente de las diversas tradiciones latinas europeas. Estas plurales y diversas formas obligan, por otra parre, a postular una dimension conflictiva de las identidades culturales de nuestras sociedades latinoamericanas concretas porque son parre de formas de vivir y convivir definidas por 10 general en el disenso cultural. En otras palabras, encontramos variadas interpretaciones de la experiencia historica que se abre al reconocimiento de los otros y tambien a la exclusion de los otros. Esta latinidad plural y conflictiva no esnunca autocentrada, sino relacional porque se enlaza con la constitucion de una universalidad situada, que se consolida a traves de una nueva figura del polilogos y que aspira hacerse comun como proyecto hist6rico y cultural intercontinental, que nos entronca con la latinidad mediterranea europea, pero que nos singulariza como experiencia latina mas alia de sus fronteras. En nuestro enfoque, la pluralidad de las identidades se construye a traves de la "busqueda de una autentica identidad arraigada en contextos", pero insertada en medio de un mundo globalizado, que condiciona fuertemente nuestras posibilidades de ser nosotros y de lograr el heterreconocimiento i l___- - - OQ 100 'I I i ricardo salas astraln de esta "latinidad" como una tradicion de hum ani dad abierta a otros. Se podria formular una· gruesa interrogante que vamos a precisar a continuaci6n: iQue sucede con las diversas ideas de modernidad cultural, de modernizacion y de identidad cultural, presentes en textos individuales y colectivos publicadas por autores latinoamericanos?, iQue aspectos convergentes a divergentes se encuentran en la producci6n de los teoricos latinoamericanos de estos ultimos anos, en auto res tan disimiles como Zea, Roig, Morande, Quijano, Darcy-Ribeiro, Hinkelammert 0 Garcia"Candini? Como se 10 ha sugerido (Deves Valdes, 2005, p. 78; Salas, 1997, p. 54 ss), esta noci6n de identidad aparece de un modo polisemantico, dejando entrever un debate intelectual entre diferentes proyectos filos6ficos, culturales y politicos entre connotados intelectuales. Empero cabe reconocer tam bien que estas categorias son equivocas, para comprender ;por elIas mismas la complejidad de los procesos sociales, econ6micos y politicos de America Latina, porque elIas pueden ser utilizadas como justificacion ideologica y al mismo tiempo ut6pica. En sintesis, nos parece que es preciso reconectar el anal isis de 10 latina can las categorias de modernizacion, identidad cultural y globalizacion. Pero este lazo 10 entenderemos con{lictivamente a partir de las figuras del disenso en America Latina. Aparece con fuerza, en este sentido, un con{licto de interpretaciones, como 10 diria P. Ricceur - pero no solo conflicto discursivo como 10 proponen algunos autares - sino conflictividad que refiere a praxis identitaria que contiene dimensiones sociales, politicas y economicas, ya que la lucha por el reconocimienta de las comunidades latino-americanas forma parte de diferentes esquemas historico-interpretativos en pos de la autenticidad. Son siempre sujetos historicos, movimientos sociales y etnicos que buscan dar cuenta de los valores humanos y universales que portan sus experiencias sociopoliticas en medio de sociedades latinoamericanas marcadas por profundas asimetrias y por logicas de la negacion que afectan desde siglos a las comunidades indigenas, afroamericanas, campesinas y urbano-populares donde se reconstruyeron estas formas de 10 latina mestizo. De un modo esquematico, destacaremos unos elementos esenciales que aparecen en tres modelos interpretativos vigentes en estos debates: uno de critica cultural, en Brunner y Garcia-Canclini, otro de tipo etico-religiosa, en Morande y Scannone; y por ultimo, el modelo hist6rico-ut6pico, que aparece en la obra de Roig e Hinkelammert. Estos esquemas demuestran el problema hermeneutico de una "Iatinidad" plural 101 una cierta irreductibilidad teorica que impide llegar a una mirada teorica ultima acerca de la identidad latino-americana en singular, como ya 10 dijimos, y exige retomar de otro modo, mas fructifero, el problema identitario en el marco de un pensamiento critico intercultural en el que la latinidad aparece en el centro de un campo de disputas acerca de nosotros mismos y de 10 que nos diferencia de otras forma de vivir la latinidad. EI debate sobre la modernidad y la identidad cultural en America Latina Se reconoce que las ciencias sociales han tenido serias dificultades para pensar categorias que asuman la compleja totalidad de un continente mestizo atravesado por contradicciones y paradojas socioeconomicas, que muestran 1a imposibilidad de comprender, de un modo integrado, todos los problemas que plantea el cambio social y cultural de nuestras sociedades en las ultimas decadas. Frente a la tentacion de un anal isis dicotomico como en decadas pasadas, 0 de fragmentacion como se presenta en algunas exageraciones postmodernistas, se ha hecho patente la necesidad de avanzar en una critica mas radical del concepto de modernidad y de las consecuencias principales que se desprenden para una teoria de la identidad cultural. Aun hoy, existen dicotomias y rupturas al interior de 'estas cosmovisiones que no permiten dar cuenta de los nuevos fenomenos y desplazamientos de identidades. Es preciso reconoeer que las identidades lat,inoamericanas se encuentran hoy en un periodo de ebullicion sociocultural a traves de los profundos impactos que trae la migracion de millones de personas al interior de nuestro continente y al exterior de eI, de la influencia de los grandes medios de comunicacion, television e internet, en grandes capas de la poblacion, trayendo aparejados una serie de nuevos procesos culturales entre las comunidades indigenas, en los grupos de jovenes, en la configuraci6n de las familias y los roles sexuales, de los nuevos espacios de configuracion de senti do, etc. Dos relevantes sociologos chilenos, Morande y Brunner, han emprendido una critica de varios de los estereotipos de las sociologias modernizadoras de estos ultimos anos en los anos 80 - en un Chile sometido al experimento neoliberal y que se exporta como un modelo exitoso pero frecuentemente acritico -, ellos han culminado elaborando una relevante nocion de modernidad cultural. Segun Brunner la aparicion de las teorias de la modernizacion permite . los populismos."cuando entraron en crisis todos los programas de modernizacion y cambio social (los desarrollismos.ico-cultural en la disputa teorica latinoamericana y enfaticemos algo del pensamiento chileno y argentino contemporaneo que conocemos un poco mas. especialmente la popular" (Garcia-Canc1ini. 203).r . para Morande estas teorias debieran ser criticadas porque no han desenmascarado del todo eI rol ideologico de las teorias sociologicas. Es justamente al interior de estos tejidos conflictuales e intersubjetivos de vida. Entre los autores latinoamericanos se encuentran planteamientosexplicitos acerca de la relacion de los valores y las formas concretas de vivir en sociedades conflictivas y asimetricas. para abrirnos en un segundo momento a otras reflexiones criticas de otros pens adores latinoamericanos que nos ayuden a restablecer un vinculo profundo con la problematica identitaria del sentido de 10 humano en nuestras contextualidades culturales. algunos teoricos postulan una categoria que integra los valores culturales a la vida social. La reflexion de ambos cientistas sociales chilenos 'converge con una discusion latinoamericana de las ciencias sociales. Consideremos brevemente la tematica valor.las significaciones y los sentidos que tienen los bienes generados por las industrias culturales en nuestros paises. los marxismos) que los sociologos latinoamericanos comenzaron a estudiar la cultura. p. Vamos a considerar en forma iniciallos aportes de]. 102 ricardo salas astrafn rastrear eI origen actual de la "modernidad cultural".para no quedarse en una perspectiva reductivamente socioeconomica . J. donde desde hace~muchos arlOs se ha preocupado de la cuestion'de la relacion elitre I@s sistemas sociales y los sistemas simbolicos. se han desplegado unas nociones acerca del problema identitario y de los val ores culturales: por un lado. donde se ha mostrado que las sociologias de la modernizacion no han logrado captar la especificidad del movimiento de la cultura y de la identidad cultural en nuestros paises: "Fue en anos recientes". . La evolucion del debate acerca de los marcos teorico-conceptuales de la modernizacion ha demostrado que se requiere asumir . en cambio hay otros autores.nos dice Garcia-Canc1ini . 1990. Garcia-Canc1ini. que han aceptado eI presupuesto de la Ilustracion identificando eI ambito de los valores y eI ambito de la funcionalidad de las estructuras. 'I I. Brunner y N. que consideran los valores como simples determinaciones de las estructuraciones sociales e historic as. En Chiley en Argentina. de simbolos y practicas. Al contrario. de valores. no es preciso imaginar . 1994. y de recepcion. p. religiosas 0 politicas del pensamiento europeo sino de la determinacion de los nucleos organizacionales que reducidos a sus unidades minimas son esencialmente sociologicos: 1) la escuela. en fin. 0 . 2) la empresa. Brunner sostiene que la cuestion cultural en America Latina debe ser conceptualizada de otra manera porque el mercado internacional . Segun este sociologo. las ciencias sociales latinoamericanos han descuidado los problemas culturales de manera que ellas han desplegado dos perspectivas limitadas: la del funcionalismo preocupado de saber si la cultura es un obstaculo 0 un apoyo para la modernizacion. estimulando y reproduciendo una pluralidad de 16gicas que operan de una manera simulcanea. El. creando. que exagera 10 que resiste al pensamiento y en ultima instancia no puede ser de ningun modo pens ado. 157). 0 la del comprensivismo.motor de la modernidad cultural segun el produce y refuerza un movimiento incesante de heterogenizacion de la cultura. Sin embargo.(Id. 125). algo bien distinto que culturas divers as (subculturas) de etnias.seiiala clara mente que la busqueda de la significaci6n sociol6gica de la modernidad esta dellado no de las condiciones filosOficas. bajo la idea de una cultura 0 de un substrato cultural.el problema hermeneutico de una "Iatinidad" plural 103 a) La identidad cultural como procesos discursivos plurales Brunner considera ellugar de la modernidad cultural en el seno de las sociedades latinoamericanas a partir de una definicion bastante diferente de la anteriormente seiialada: "La Cultura es un universo de sentidos que no se comunica ni existe independientemente de su modo de produccion. Segun la tesis propuesta en Un espe. grupos 0 regiones. No se puede entender la modernidad cultural.. clases. de circulacion. Ibid. sino mas bien una heterogeneidad cultural. Esta nueva situacion de la sociedad y de la cultura latinoamericana es 10 que nuestro autor denominara modernidad.que este proceso sea completamente lineal: es mas bien un proceso heterogeneo y polivalente. consumo 0 reconocimiento" (Brunner. p. 3) los mercados y 4) las constelaciones de poder .como 10 han sostenido de hecho ciertas teorfas de la modernizacion . Como 10 define Brunner en forma explicita: Heterogeneidad cultural significa.o trizado y profundizado en los textos posteriores.hegemonias . sino que aparece como un mero efecto del discurso: Las identidades colectivas pertenecen a esta clase de objetos que son creados por la manera como la gente habla de ellos. . . llevando a una verdadera implosi6n de los sentidos consumidos/producidoslreproducidos y a la consiguiente desestructuraci6n de representaciones colectivas.104 ricardo salas astrain que mera superposici6n de culturas. Para Brunner 10 que es relevante entonces en el analisis de la cultura no son las tradiciones culturales. 1994. El analisis de la identidad cultural se desplaza entonces hacia 10 que ocurre con las instituciones y empresas que generan cultura. 1988. Siguiendo una term in alogia en boga. participaci6n segmentada y diferencial en un mercado internacional de mensajes que "penetra" por todos lados y de maneras inesperadas el entramado local de la cultura. sino la emergencia de nuevas formas culturales asociadas al consumo cultural. 218). y a idea de una identidad cultural entendida ella misma como collage. perdida de utopias. se podria decir que los divers os procesos plurales que surgen de la modernidad cultural ya no plantearian tanto un problema acerca de la identid ad cultural. directamente. sino. interpretaciones (Brunner. 191). tales identidades . En verdad. historiadores y ensayistas que contimian insistiendo en una busqueda de 10 que somas.carecen de sustancia. Esta observaci6n de Brunner se aplicaria a las visiones epicas de la identidad forjada por los literatos. confesi6n de horizontes temporales. fallas de identidad. obsolecencia de tradiciones (Brunner.. naciones 0 continentes . ante todo. anhelos de identificaci6n. p.. hay an estas 0 no encontrado una forma de sintetizarse. etnias. atomizaci6n de la memoria local. un collage de culturas que va surgiendo ininterrumpidamente. no estin ahi afuera como algo que pudieramos aprehender. Lo que queda en claro en este enfoque es que la identidad no forma parte de la realidad hist6rica y sociocultural. y en particular a las relaciones que los consumidores tienen con aquellas. Significa.de pueblos. paralisis de la imaginaci6n creadora. su sustancia son discursos. p. tal como se encuentran en las grandes ciudades de nuestros paises. El aporte de las culturas hibridas de Garcia-Canclini nos parece clave porque permite mostrar los variados procesos que siguen las culturas en America Latina. educativas y comunicaciones modemas. con el hispanismo colonial cat61ico. Tanto las transformaciones de las culturas populares como las del arte culto coinciden en mostrar la realizaci6n heterogenea del proyecto modemizador en nuestro continente. Segun el autor. del catolicismo his panico y de las acciones politicas. America Latina no tendria entonces una identidad. cultura hibrida significa que todas las culturas latinoamericanas son el resultado de "diversas mezclas interculturales" (Garcia-Canclini. la diversa articulaci6n del modelo racionalista liberal con antiguas tradiciones aborigenes. la modemidad y la post-modemidad para analizar los procesos culturales del subcontinente. . 1990. sino varias. La tesis principal que se encuentra en Culturas hibridas es la afirmaci6n del pluralismo de la cultura latinoamericana: para el es preciso aceptar los diversos pedazos y las combinaciones multiples entre la tradici6n. de yuxtaposici6n y de entrecruzamiento de las tradiciones indigenas. 10 que es nacional y 10 que no 10 es. p. la renovaci6n y la democratizaci6n. sobre todo en las gran des ciudades. porque justa mente las culturas se caracterizan siempre por su modo de crear de 10 nuevo a partir de las herencias pasadas. El termino hibrido que va adjetivar la cultura en el titulo de la obra es utilizado para designar este rasgo de fragmentaci6n y de renovaci6n cultural. Segun el.. sino varias. p. J no hay una sola forma de modemidad.. las culturas latinoamericanas han sido forjadas por procesos de sedimentaci6n. 15).el problema hermeneutico de una "Iatinidad" plural 105 Esta perspectiva brunneriana ha sido ampliada por Garcia -Canclini a partir del analisis de las hibridaciones que surgen en el impacto de los massmedia y de las industrias culturales. 1990. la modemidad se puede definir por cuatro rasgos principales: la emancipaci6n. con desarrollos socioculturales propios de cada pais (Garcia-Canclini. 235). Del anal isis de estos rasgos concluye Garda-Canclini que: [. desiguales y a veces contradictorias. La cultura aparece no como una entidad sino como una construcci6n. la expansi6n. Segun el. A partir de esta tesis se analiza la modemidad cultural de America Latina a traves de los deslizamientos permanentes entre 10 que es cultivado y 10 que es popular. no se debe oponer las tradiciones a las innovaciones culturales. aparentemente antagonicas. 'i ~ !I r \ l Garcia-Canclini se plantea la cuesti6n de saber si la discontinuidad. Para avanzar en esta querella es relevante intentar tensionar estas dos formas de aproximarse a la cultura y a 10 cultural. religiosos. empero el analisis del consumo cultural esboza una tesis antropol6gica y etica de 10 humano que se ubica de un modo resignado frente a la facticidad de un modelo econ6mico hegem6nico y frente a 10 humano en America Latina. las tradiciones forjadas en el nucleo etico-mitico permiten responder a un cuestionamiento del sentido cultural fragmentado por el mercado ya que en el analisis de las simb6licas y pnicticas « . en culturas y subculturas dominadas. de manera hibrida y plural (revista Tab/ero. en esferas aparentemente contradictorias. con las religiones.106 ricardo salas astra(n ya que la cultura visual multi plica las visiones posibles y al hacerlo multi pi ica los espacios identitarios: Las identidades aparecen en diferentes tiempos y espacios al mismo tiempo. la relativizaci6n y los cruces <'tnicos. porque tiene una mirada excesivamente sociol6gica dejando de lado los aspectos semi6tico-antropol6gicos de 10 cultural. que se preocupan de conducir y comprender las grandes redes de objetos y de sentidos culturales. para aprehender la espinuda cuesti6n de los desafios culturales que surgen en la consideraci6n del ethos de las clases populares frente a la modernizaci6n del sistema productivo y consumo. Empero. Al contrario de dicho esquema. el esquema de analisis del consumo cultural aparece significativo en cuanto que hay que reconocer que el peso de las industrias culturales es central en el modo de constituir el imaginario. artisticos. no reconociendo de ningun modo la contribuci6n de los valores mitico-religiosos. nacionales y politicos no refuerzan el poder de las empresas culturales y de los estados. el exito de las politicasneoconservadoras se ha debido al hecho de que elias han nipidamente comprendido el sentido sociocultural de las nuevas estructuras del poder. este autor no acepta las tesis brunnerianas en torno al concepto de modernidad cultural. La critica principal apunta a que las categorias del soci610go chileno no dan cuenta del caracter de la cultura popular en America Latina. Seguneste autor. 1997. 45). Ambos son los unicos. en comunicaciones de masas e imagenes veloces. p. En sintesis. nadie elegiria razonablemente una de las dos alternativas mencionadas en la pregunta sacrificando a la otra. no solo de la situacion «latinoamericana». 1996. . La cuesti6n detras de la contra posicion es como reconciliar ambos aspectos" (Morande. especificamente los val ores constituidos en la gran primera stmesis cultural. De esta manera el peligro que representa la modernidad para la I V y VI. 1996. las relaciones entre cultura y modernizacion son estrechas porque no se puede resolver el paradigma sociol6gico de la modernizacionsin aproximarse al analisis del ethos latino-americano. por su parte. operada gracias al catolicismo del siglo XVII: el ethos latinoamericano puede ser caracterizado por la presencia de valores del cristianismo resguardados por las masas populares que han rechazado modernizarse. Para Morande no es posible establecer un vinculo satisfactorio entre las formas productivas y los valores si no se asume la tradicion cultural presente en nuestros pueblos: "El concepto de cultura representa la unica puerta para pasar del universalismo al particularismo.. Para Morand. 97). 0 debe. p. quien ha levantado una critica relevante de la teoria de la modernizacionporque considera que la unica·forma de conceptualizar una critica latinoamericana de la racionalidad instrumental consiste en ubicar ellugarde los valores en la vida social. Una critica de este concepto de identidad cultural en J. la preservaci6n de la cultura sacrificar el evidente mayor bienestar que ha hecho posible la modernizaci6n?" El mismo mas adelante responde (A) la cuesti6n: "Ciertamente. Larealn. sobre todo en caps. p. 1996.. regional o local. b) EI componente sapiencial de la identidad cultural I I Otro modelo diferente es el que define el soci610go chileno Pedro Morande. 11).el problema hermeneutico de una "Iatinidad" plural 107 rituales de resistencia de las mas as populares se observan elementos identitarios fuertes. En este sentido se plantea Morande varias interrogantes en Torno a la subordinacion de la moralidad a la funcionalidad econ6mica. sino 10 que es todavia mas importante de la «identidad» latinoamericana"l (Morande. pregunrandose: "{Debe la moclernizaci6n sacrificar la tradicion cultural nacional. y la identidad cultural. El intento de Morand" seria tratar de hacer conmensurable la modernidad . que el designa con la expresion ethos cultural. La tesis de Scan none es que la mediacion hist6rica de los valores es ante todo etica. En la decada de los '70. muy difundido. . "Por «ethos cultural» entiendo el modo particular de vivir y habitar eticamente el mundo que tiene una comunidad historica (un pueblo.. 1997. Tambien en el filosofo jesuita J. p. que encontramos particularmente en la religiosidad popular latinoamericana. Morande analiza la identidad cultural desde una experiencia historica fundante (el barroco) y de una base religiosa mayoritaria (la catolica). Para Scannone esta nocion encierra no solamente las estructuraciones economicas. Empero es preciso indicar que tal enfoque sociologico no es parte exclusiva de la discus ion sociologica chilena sobre la modernizacion y la cultura. no de las relaciones de dominacion entre las diferentes culturas. La cuestion central es demostrar como existe este ethos barroco. En este sentido. ya habia sido considerada en los trabajos del pensador argentino R.. Scannone enc@ntramos una reflexion parecida en un articulo. sino tambien un nucleo etico-sapiencial de los principios vividos y de los valores que los orientan. es posible pensar en el desarrollo de nuestros paises (revista Tablero. es por ello que busca comprender la historia latinoamericana como la historia del an- l .. 148). para en seguida proponer una busqueda de cambios sociales. 42). ethos que.I 108 ricardo salas astrain identidad cultural es tal si se siguen patrones de una modernidad que no es la nuestra. economicos y politicos. Aqui eI muestra los problemas eticos de los diferentes procesos de modernizacion que ha vivido la sociedad y la cultura latinoamericana. mas especfficamente quiere emprender una critica que adjetivara de antal6gica de las proyectas historico-culturales que considera inautenticos. ha sido desconocido por las elites progresistas que han intentado cambiar el continente forzando su identidad. p. porque el ethos cultural se constituye como eleccion cultural fundamental. en general. una familia de pueblos. 1990.) en cuanto tal en su historia" (Scannone. en caso contrario. Pero este filosofo reconoce que la eleccion etica-comunitaria no es ni univoca ni homogenea entre las diversos sectores sociales. etc. sociales. estableciendo continuidades y elementos comunes en nuestro singular sincretismo cultural. titulado: "La mediacion historica de los valores". politicas de la coexistencia. catolico y mestizo donde se han fundidos diversos elementos culturales. c. Kusch sobre el pensamiento indigena y popular. basados sobre un nucleo etico-cultural. el problema de una eticidad latinoamericana se impone como prioritario. proyectiva de nuestra eticidad? La pregunta adquiere sentido para este autar si se piensa en la profunda devaluacion que ofrecen conceptos y valoraciones sobre cuya base se habia organizado tradicionalmente nuestro filosofar (Roig. Los principales criterios de una critica ontol6gica de los proyectos sociales y politicos en America Latina son los siguientes: deben estar enraizados en una fuente historico-cultural propia. esta critica ontologica es relevante porque permite comprender que el nexo entre modernidad-modernizacion requiere desplegar tanto los aspectos descriptivos propios de una sociologia como los aspectos epistemologicos y ontologicos propios de la reflexi6n filosofica. Roig y del latino-aleman F. 5i esto es correcto universalidad y alienacion cabe entenderlas como dos caras de un mismo problema. la mediacion de los valores que suponen deben ser esencialmente dialogicos (dialogo entre los pueblos y las culturas). sino formas de racionalidad de modo tal que elias se encarnan en el mundo contradictorio social. las nuevas stntesis emergentes deben permitir los conflictos en su seno. porque ha apuntado. En nuestra opinion. A. c) La identidad cultural como utopia hist6rica Una perspectiva diferente a las dos anteriores se abre en la importante obra del argentino A. Este modo de entender el problema cultural de la resistencia exige un planteamiento de un horizonte historico que se encuentra en la elaboracion de las ciencias sociales y de la teoria critica. entre otros aspectos. p. . Para este pensador mendocino no hay una razon. por eso mismo. En ese marco se pregunta Roig: (no sera que esta filosofia es tambien una inquisicion igualmente crttica y. 1994.A. como la proponen Roig e Hinkelammert. A. etc. y que surge desde otros lugares teoricos. 136).piensa Roig . a la busqueda de las normas de objetivacion sobre cuya base se ha constituido el mundo cultural. al que manifiestan y a la vez ocultan. En lareconstruccion de las ideologias predominantes . ya que sedan los puntos clave (5) de esa eticidad a la que se quisiera reforzar y revitalizar. Hinkelammert. diferentes al del analisis del consumo cultural y a las propuestas etico-sapienciales ya consideradas. Roig ha hecho un aporte relevante a una filosofia de las formas de objetivacion relativa a sociedades concretas.el problema hermeneutico de una "Iatinidad" plural 109 tagonismo que opone el proyecto de la comunidad al proyecto de otra comunidad. . su "peso axiologico y posible fuerza normativa. con la pregunta por 10 ideologico en el doble aspecto seiialado" (Id. a su vez. no cabe duda que mas alla de toda respuesta pragmatista que la considere como "10 dado". si la eticidad constituye tam bien el mundo nuestras objetivaciones. realizado como valor universal y atendiendo a 10 humano. Este es ellugar donde se puede estudiar el aspecto integrador de los valores y la especificidad de la hermeneutica que Ie es asociada. 10 que de un modo u otro se ha acumulado sobre el asunto a 10 largo de nuestra experiencia historica. 78). mas alia de todos los fetichism os. sino que por sobre todo norman y pes an por su valor. La hermeneutica va de la mano.).110 ricardo salas astraln La critica de la razon latinoamericana que propone Roig es una base teoretica y pnictica porque busca responder a la proyeccion de una eticidad que ha sido profundizada en nuestros pueblos. p. Para Roig los sfmbolos y pr:icticas de nuestras culturas son sistemas semioticos que "no solo designan. es tambien riqueza. para Roig esta busca determinar la direccionalidad de los sfmbolos. el de 10 humano. 1984. arguye: Una moralidad objetiva que busque de modo constante su razon de ser en el fin que ha de perseguirse. En este sentido. que tendni entre sus temas fundamentales el de la alienacion. p. la de nuestros pueblos. pues. dirfamos. op. Toda simbolica es una axiologfa" (Roig. con todo 10 cual resulta organizado y. 141). cit. el discurso justificador podrfa ser caracterizado entre otros aspectos porque en et la carga ideologica (y por tanto el modo como se echa mano de 10 simbolico y como a su vez 10 simbolico ejerce su papel "direccional . partiendo de la base de que aun no se ha dicho todo sobre la misma y que mucho es. Ibid. Roig es uno de los autores que ha desplegado mas claramente una propuesta para "analizar los valores presentes en la cultura latinoamericana" a partir de "conceptos integradores" que no fueran "opresivos" ni "ideologicos". cualificado todo 10 que podrfa ser entendido como un contenido teorico. deberemos estar en condiciones de luchar por la modificacion necesaria de las bases sociales indispensables para su desplegamiento (Roig. En este sentido. A nuestro parecer. Se habra de tener presente que 10 etico. por ultimo. como la unica riqueza valida. Roig se pregunta: Icomo hemos de construir nuestro discurso de modo tal que nos exprese en 10 que somos y que no implique la negaci6n de otros? IComo lograr que nuestros universales sean ciertamente concretos y. En este sentido. 81)..... los mismos deberfan surgir de nuestra propia . Ibid. p. sino que permanece presente en la crisis del cosmopolistismo actual que esta ejemplificado en la ideologia actual del pensamiento unico: Estamos ahora ante una ideologia pretendidamente cosmopolita que viene a ocultar el poder mundial de un Estado que no deja de ejercer un fuerte nacionalismo interno y a cuyos sectores de poder les molestan los nacionalismos del Hamado "Tercer Mundo" (Roig. EI "discurso reversivo" tiene como punto de partida tambien la dicotomia.el problema hermeneutico de una "Iatinidad" plural III semantico") aparece colocado fuertemente sobre 10 dicotomico . La tesis de Roig surge a partir de un anaIisis certero de la histaria de las ideas desde donde se indica que el pensamiento europeo desde casi los mismos inicios de la modernidad y hasta nuestros dias ha vivido una crisis que se basa en la autosuficiencia de la racionalidad cientifica justificada par el ego cogito cartesiano y Sil versi6n hist6rico-politica como ego conqueror. simbolos como el de Guadalupe. pero Sil "sentido" no apunta necesariamente a una confirmaci6n 0 justificaci6n de una futura situaci6n. En este marco se plantea una comprension de una identidad que surge desde nuestra especificidad historico-cultural. 50). J cualesquiera que sean los prinClplOs de identidad que pongamos en march a. sino que gira alrededor de la categorfa de "Iiberacion" (Id. por tanto. no meramente ideologicos? ITenemos en nuestra situacion cultural algo que nos favorezca en el sentido indicado. Para Roig el ego moderno en cuanto ego conqueror no ha muerto. p. la nueva tierra 0 la patria grande pueden ser justificadores 0 liberadores. a mas de nuestra voluntad y de nuestra conciencia? En otro texto afirmaba: [. una vez lograda la "reversi6n".. 1994. .112 ricardo salas astraln realidad social y de una historia -Ia nuestra .. EI aporte de Hinkelammert. en la que todos los hombres puedan tener 10 necesario para vivir. se trata mas bien de reenfocar la utopia como 10 "absoLutamente imposible" 10 que es en ultima instancia una cuestion metafIsica. Hinkelammert se opone a las tesis derrotistas que vienen asociadas a la nueva etapa del capitalismo que irrumpe en la historia latinoamericana de la mano de los gobiernos autoritarios. ni menos aun regresar a valoraciones irracionales de particularidades que sin embargo han de ser defendidas (Id.10 cual serfa un absurdo . proyectos provisionales que no han logrado resolver la crisis de los paises latinoamericanos. Este enfoque de la historia de las ideas de Roig.regresar al ideologico proyecto hegeliano en el que la eticidad resultaba construida a expensas de la moralidad. Y en cuanto al estado.. negador en ultima ins tan cia. parte de este tercer esquema. EI rechaza este creciente pragmatismo economi· cista que surge mundialmente en los' 80 y que sostiene la imposibilidad de construir una sociedad mas perfecta. EI desaflo de hoy no serfa sumarse a la posicion nihilista de los post-modern os que proyectan 10 peor de la modernidad. p. Pero el anal isis de la sociedad concreta nos debe llevar a repensar una relacion tensionada y de complemen· tariedad entre los desequilibrios macroeconomicos y el mercado (Hinkelam· mert. La superacion de la modernidad en esta critica supone tambien varias ideas fundamentales que hem os bosquejado en esta panoramica de auto res • . 128).asumida creadoramente desde la actual situacion. Hinkelammert hace un balance de 10 acontecido con la derrota de variados proyectos de cambio socioeconomico y politico en America Latina. al seudocosmopolitismo. sin que ello signifique . reside en que explica la modernidad latinoamericana de estas ultimas decadas a partir de nuevos modelos de desarrollo que no han logrado visualizarse concretamente. mas solidaria. p. nuestra respuesta no podni ser otra que la de oponernos. En un lenguaje abstracto. en ambas propuestas se pueden encontrar elementos vinculantes. 1987.. puede conectarse con· sistentemente con la tesis central que recorre ellibro famoso de Hinkelammert. Critica a La Razon Utopica. una vez mas. de la particularidad de nuestros pueblos. Ibid. en particular con las dificultades que ha tenido el proyecto neomarxista en el terreno economico y politico. 51). la crisis de la modernidad parece muy vinculada a la relacion entre la utopia elemental y los proyectos sociopolfticos que buscan realizarla.. p. sino que va abriendo temas nuevos a traves de los cuales se avanza a un proceso de desestructuracion de la cultura predominante. Este nuevo ---- . renunciar al antiestatismo ambiente y finalmente buscar un lazo que permita mediar entre las subjetividades individuales y la autoridad. porque ?como 10 dice Hinkelammert? "en toda la modernidad se interpreta la utopia como una imagen de sociedad perfecta. por un lado... La reconfiguraci6n intercultural de las Identidades La dinamica de la discusion identitaria presentada por estos tres modelos no agota de ningun modo las formas de considerar el juego de los valores y de las tradiciones al interior de la modernidad culturallatinoamericana. En otras palabras.. --------------------------------------------------------------- el problema hermeneutico de una "Iatinidad" plural 113 latinoamericanos. Hinkelammert seiiala en este sentido que el problema de la modernidad consiste en que "vivimos en plena cultura de la modernidad. en primer lugar es necesario sobrepasar la metafisica del progreso implfcito. de los viejos y nuevos pobres. reforzar un pensamiento utopico.. 114). En un segundo momento digamos que la mentada perdida de las utopias de este fin de siglo no implica la perdida de la idea de una nueva utopia porque la modernidad siempre ha estado en crisis como 10 seiiala acertadamente Roig. por otro. y se recupera las formas de resistencia de las otras culturas silenciadas por los procesos hegemonic os. Ibid. p.. elementos de la tradicion y de la memoria cultural de nuestros pueblos. Es preciso reconocer que los procesos que genera este mercado cultural de las grandes industrias transnacionales no se integran a un concepto mas humano de 10 cultural. no buscar soluciones definitivas. Ibid. nos referimos entre otras a los modos de vida de comunidades indigenas. En este sentido se requiere avanzar en la crftica de la legitimacion de facto de un orden instrumental asociado a la cultura cosmopolita. pero ya no podemos creer en ella" (Id. por ello una asuncion de esta crftica a la racionalidad obligarfa a integrar. sino a una fragmentacion valorica que sirve a una logic a del mercado. 115). afroamericanos.. que en nuestros dias aparecen limitados en su capacidad imaginativa de pensar "nuevas sociedades". que hace falta realizarla" (Id.. tensionadamente. y la innovacion cultural y la apertura a una utopia. etc. Esta tesis de fondo del dialogo de eticidades ya expuesta en Etica Intercultural. 2006. entre nativos y extranjeros. entre si . Las polivalentes significaciones quetiene 10 intercultural en dichos trabajos. Podriamos sintetizar este aporte comun a un paradigma convergente. hoy marcado especialmente por la unilateralidad de un mercado hegemonico definido por la globalizacion f"ctica. y otros estudiosos.' nos ponen en la buena pista de esdarecer que una de las dificultades mayores es intentar resolver la tematica por la determinacion de una definicion. sino tambien de entender los tipos de normatividades presentes en el dialogo yen el reconocimiento. adarando las dificultades de darificar del nudeo semantico de 10 intercultural. Se trata de una nueva forma de dar cuenta de las relaciones entre las valoraciones tradicionales que estan a la base de la propia identidad y el reconocimiento a la identidad de los atros: no se trata entonces solo de valoraciones culturales. donde todos podamos convivir. Henneneutica Y slljetos historicos. por el que ya no se puede seguir concentrando la discusion teorica en los significados del problema de la modernizacion y la identidad cultural de America Latina.intercultural que implicauna propuesta diferente de asumir las identidades en conflicto. sino que se traspasa al campo cultural entero deconstruyendo los temas de estos modelos del pensar latinoamericano y abre la cuestion a la diversidad de las culturas humanas y a sus interacciones. Se trata de entender que la identidad aspira a conseguir el reconocimiento universal. de las asimetrias culturales y que permite sobre todo esdarecer la relacion renovada entre identidad y diferencia.iene una profunda convergencia con el planteo de Fornet-Betancourt. Estudios InteTculturales.114 ricardo salas astrafn hito refiere a un giro "intercultural" del pensar identitario latinoamericano. que beneficia ciertamentdos intereses de los poderosos exduyendo y subordinando a los menos poderosos. entre contextualidad y universalidad en un marco etico-politico que aspira a construir un mundo humaFlo. sobre todo en cuanto se insiste que la interculturalidad es ciertamente una categoria general para dar cuenta de una parte importante de la discusion de las eticidades. en estos ultimos anos han hecho un planteo dialogico . pero donde las logicas del sileneio y de la negacion han sido definidas como mundos exduidos. tentacion de querer precisar categorialmente esta nocion. que cabria reconstruirlo intersubjetivamente. Las Aetas de ASAFTI. t. • . diferentes e iguales al mismo tiempo. 10 que 2 b Cf.mismo y otro. Fornet-Betancourt. El presupuesto es que 10 intercultural debiera ser definido desde una cultura cientifica. pp. 4. esto impediria ver un aspecto central de 10 intercultural. / Suponiendo la logica de esta tendencia. una definicion de 10 intercultural correria el peligro de concebir el campo de la interculturalidad como un mundo objetivo que se examina a distancia y en el que incluso los sujetos sin cuyas pnicticas y relaciones no se tejeria dicho espacio intercultural. Una segunda razon asociada a la primera. 10 que implica romper 3 Fornet-Betancourt. .. Elias son en forma muy resumida:' 1. Sintetizadas de este modo estas cuatro razones descritas por FornetBetancourt. y por tanto de una forma cultural occidental.orglIMG/pdf/betancour . Una primera razon radica en una tendencia de la logica "occidental" para precisar y delimitar las categorias. 10 que es un acontecimiento que no esti presente en todas las culturas.el problema hermeneutico de una "'atinidad" plural 115 implicaria necesariamente reducirse a la logica del concepto. 3. la interculturalidad aparece claramente como una nocion indefinible desde los marcos de la perspectiva intercultural.pdf>. 9-11. . y esto vuelve de nuevo la sospecha que se trata de una construccion occidental. aparecen como un "objetivo" de estudio que como gestores y autores de los procesos en cuestion.aulaintercultural. Tambien en internet: <http://www. Como 10 dice Fornet-Betancourt con precision epistemica. es que toda precision y delimitacion supone entrar en 10 que es el ejercicio teorico de una determinada disciplina cientifica. Fornet-Betancourt ha llamado acertadamente la atencion acerca de cuatro principales razones que dificultan alcanzar una adecuada definicion intercultural de 10 intercultural. que predominan en el mundo occidental. a saber. que es una calidad que est" dentro y no fuera de la vida que llevamos. Una tercera razon asociada a las primeras. Filosofar para nuestro tiempo en clave intercultural. 10 que presupone una mirada desde fuera a 10 intercultural. es que la definicion implica un ejercicio cognoscitivo que presupone la diferencia entre un sujeto y un objeto. 2. La cuarta razon es que la definicion se ubica en el marco de la elaboracion de una teoria. que es la . sino que permite reubicarla. que conduce no solo a la exclusion del otro (xenofobia).base de una actitud de encuentro entre todos los hombres y mujeres. sino a argumentar y reconstruir valores y normas pluriuniversales en vistas a generar una debida etica y politica universal. 10 que quiere decir a su vez que es necesario reconocerle como persona humana portadora. bajo la forma colectiva de etnocidio. Este modelo intercultural naciente no quiere perder de ningun modo la narrativa de la identidad propia. alas deficientes categorias de1multiculturalismo hegemonico asociado a un'mercado capitalista y que impide una resistencia a la globalizacion facti ca. pero que requiere generar los caminos de reconocimiento para establecer caminos comunes. pues es que justamente la afirmacion de la identidad es parte de un proceso plural de comunidades de vida. recontextualizarla espacial y temporalmente. y de todas las culturas y pueblos. que no refiere solo a valores sino a normatividades. surge la conciencia de las permanentes asimetrias que han vivido las comunidades de vida. colectivo 0 individual. Desde estas injusticias generalizadas en tierra americana surge este verdadero imperativo etico. En este sentido. propios y ajenos. de las logicas disciplinarias y de definiciones teoricas. que esta es una propuesta etica no significa que ella no pueda concretizarse en los diversos espacios socioculturales donde predomina la anomia. Lo que es relevante. Desde este enfoque. de entrar en un contacto justo con el otro libre. sintetizado por Fornet-Betancourt del modo siguiente: "De donde se desprende que la necesidad del dialogo intercultural es la necesidad de realizar la justicia. La critica de la idea vigente de cultura se requiere urgentemente en una epoca en que tomamos cada vez mayor conciencia de vivir y convivir "entre" tiempos y espacios que son if· I i I ( I. pero donde se esta obligadono solo a reinterpretarla permanentemente. sino muchas veces a la eliminacion del otro. es men ester indicar que las razones que impiden una definicion clara y precisa como se acostumbra en los trabajos cientificos occidentales no impide de ningun modo reconocer los contornos de una categoria clave en tiempos de globalizacion. justamente en su . la heterogeneidad y la exclusion en las sociedades interculturales.116 ricardo salas astrain con los modos habituales de las ciencias sociales.a esta epoca de critica del monoculturalismo. 10 que es relevante en una aproximacion etica intercultural. Ella es mas bien una categoria etico-politica inheIente. si se quiere evitar caer en el despeiiadero del fundamentalismo y del cierre cultural. Tercero.que puede ser simetrico 0 asimetrico . 1999). que la primera nota relevante que nos reune radica en algo que se deja entrever en el prefijo "inter" . 2001. 10 que permite pensarla como una categoria eminentemente eticopolitica que surge desde el mundo de la vida y no desde fuera de eI. de una dignidad inviolable que nos hace iguales" (Fornet-Betancourt. Olive. evitando su reconocirniento y sobre todo evitando asumir en su sentido fuerte los procesos coloniales de asimetria y de negacion del otro. en este sentido. por las instituciones como una categoria geopolitica. 2005). Mignolo). En este sentido.culturas nacionales. que supera las limitaciones de las categorias de aculturacion. 78 ss). He indicado. del heterorreconocimiento de culturas que han vivido en la asimetria y mas fundamentalmente plantean el gran problema de las identidades morales. en estos ultimos an os (Salas. populares y etnicas . hay una prevenci6n en la dimension del "inter"'. 2003. transculturacion y mestizaje. pp. la interculturalidad es de este modo una categoria que permite dar cuenta del modo de contacto . 264.y que remite siempre a un tipo de contacto entre una 0 mas culturas. p. Estas tres indicaciones basicas nos permitirian reformular los contornos donde se juegan los ejes centrales convergentes de un programa de investigacion de la identidad que asume la centralidad de la nocion de "interculturalidad". En estas exigencias etico-politicas hay algo crucial para entender los rasgos basicos de la interculturalidad. "intervalo". la interculturalidad no se puede separar de procesos de auto y de heterorreconocimiento entre culturas diversas . Es clave esta acepcion pues permite ser consciente de que el proceso de descentramiento no siempre sera aceptado y que muchas veces detds de una propuesta "intercultural" existe aun el deseo de la primacia de una cultura sobre otra (Tubino Fidel. la interculturalidad puede ser concebida tambien desde los diferentes espacios de poder del conocimiento (W.el problema hermeneutico de una "Iatinidad" plural 117 diferencia.que existe por 10 demas en otros llSOS: "internacional". que j ~ . Segundo. que permite asimilar 0 reducir las demandas culturales de las etnias y minorias que han sido sojuzgadas por largo 0 corto tiempo. Ella puede ser utilizada de este modo por los Estados.que muchas veces han vivido historicamente relaciones de exclusion y de negacion ad intra y ad extra.de las culturas. "intersticio" . que frecuentemente presuponen una indicacion semantica del tipo de absorcion evolutiva. la interculturalidad nos conduce a una discus ion acerca de las formas de reconocimiento de las identidades culturales. Elias son relevantes porque nos ayudan a situar en nuestro medio intelectual una idea de latinidad contextualizada. se descubren un os topicos principales para la interpretacion intercultural del caracter latino de la L . para profundizar y madurar teoricamente una nocion donde se haga sinergia entre una idea de latinidad y otra de identidad es preciso reconocer la fecundidad que ilustra todas las distinciones brotadas desde este contexto del pensar latinoamericano. Si la crftica. Lo que importa destacar criticamente es que un enfoque intercultural de los procesos identitarios de la diversidad cultural exige una nueva relacion entre los seres hlimanos y los pueblos. 10 que implica una dimension critica de este proceso de reconocimiento y del heterorreconocimiento que inaugura una nueva relacion entre eI sf mismo y eI otro. puedan trascenderse en vistas de un nuevo ejercicio de dialogo intercultural de las identidades. Lo que nos ocupara aquf es eI planteamiento no de un tipo de definicion de 10 intercultural que se dada por obvio. En primer lugar. que aunque sea asimetrica hoy. puede dar forma a nuevas relaciones de simetrias.118 ricardo salas astrai" alude a cuestiones que rompen eI marco monocultural en el que somos sociaIizados. A partir de dichas controversias teoricas y conceptuales presentes en las teorias de la modernidad y modernizacion cultural.intercultural de la identidad refiere a un mundo "abiertoque se debe (IR) construyendo para podercon-vivir con otros. A modo de conclusion A 10 largo de este trabajo hemos explicitado los principales elementos de tres modelos explicativos de la identidad en boga en las ulnimas decadas y que contribuyen a desplegar otro marco de comprension intercultural adecuado para sugerir una idea de latinidad plural. sino de un cuestionamiento por eI que ella puede lIegar en ciertas situaciones a ser meramente funcional a la vision hegemonica de la globalizacion factica. es preciso insistir que eI nuevo espacio donde se juega la identidad no es algo que sea aceptado siempre por todos pues existen intereses divergentes ad intra y ad extra del propio mundo de vida. y que no asume la dificultad que tiene su definicion explfcita. donde laincomunicacion y la ex-comunicacion existentes en la actualidad. y que cuestiona el caracter homogeneizante de la globalizacion factica. que vaya mas alia de las referencias que se encuentran historicamente en eI pensar europeo. una categoria de latinidad plural cama la que buscamas no padria recanstruirse sin una referencia aunque sea esquematica a la elasificae ion explicitada. como se constituyen diferentes farmas de vida . secunda. sina enfatizar una dinamica historica de la latina y la indigena. En atras palabras. e hist6rico-ut6pica. dande prosiguen las adhesianes valorativas propias de nueleas mitica-religiosas. Para nuestra caso. que por un lada destaca la heterageneidad de estas identidades. desde donde desplegar la critica de las madelas idealogicas vigentes. hay definido por un mercada cultural dande existe un predaminia de la cultura de cansuma narteamericana.plural? iEs simplemente referencia a tres farmas de leer la situacion cultural de las paises Hamadas latino-americanas?. Hablar en plural no es caer en una camprension de una diversidad esteril. y dande las sujetas historicas prosiguen imaginando nuevas mundas. Can esta queremas relevar que las principales temas relativas a una recanstruccion del cancepta de una "latinidad" plural estan siempre enraizadas en cantextas relativas a una situacion cultural. a litico-reiigiosa. estas tres madelas dan cuenta. y par otro lado. eHas nas canducen a un gira intercultural que nas muestra que las madelas de la identidad ya explicitadas ilustran los elementas que deben dar cuenta una idea de una "latinidad" plural. En segunda lugar esta optic a intercultural. Pero ique es la que pueden afrecernas teoricamente estas tres madelas respecta de laidentidad latina . cama eje centre en Raig e Hinkelammert. presente en las propuestas de Marande y Scannone. reestructura ejes que las "atraen" y las proyectan de acuerdo a atras formacianes culturales que se expanden hoy. En sintesis. el rechazo de tada justificacion del manaculturalisma y de la hegemania . en primer lugar.siempre plurales que asume entre nosotros el imaginaria identitaria y las pricticas culturales asaciadas a los valares de la latinidad. tanta de una critica cultural. ia hay alguna apartacion mas especifica que nas sirva para nuestros prapositas? Estas madalidades camprensivas nas Hevan a asumir de otra manera las experiencias historica-saciales de la identidad. que encantramas en Brunner y Garcia-Canelini. la latina y la sajon. per mite reconocer tres elementos centrales que ciertamente pueden valararse de mados distintos. pero cuyas presupasicianes san relativas claramente a las tearias identitarias latinaamericanas: prima.el problema hermeneutico de una "Iatinidad" plural 119 identidad cultural. 10 latina eurapeo y 10 latino en America. la cuestion de la critica del esencialisma. es decir respecto del caracter latino nos debiera llevar a definir 10 que no es latino (ad extra)." En seguida. y los diversos modos de ser latino (ad intra) como 10 encontramos en el planteamiento intercultural. a sus propios lugares. por el que es preciso asumir un nuevo analisis que empuje. Estos tres elementos esbozados son parte de una teorfa critica de una identidad sociocultural que aparece ya de algun modo en los enfoques mencionados. que no se mantengan en el mero reconocimiento multicultural de las facticidades socioculturales. • . pero los limita ya que refieren. la necesaria apertura a un modelo diferente que presupone la dialogicidad. porque comprenden a partir de lugares teoricos y praxicos propios. Por el primero. sino a configuraciones siempre plurales asociadas a los conteJOtos desde donde afirmamos nuestro ser cultural. sino que entendiendolos ad extra. de interpretaciones que tienen su propia consistencia. Esta crftica intercultural de los esquemas explicitados contiene un relevante aporte ya que al reconocerlos los considera epistemicamente consistentes. que no solo se define desde sf misma y de sus propios lugares intern os. en su singularidad. sino que requiere explicitar los elementos que se definen desde el exterior e interior de ella misma. En tanto existen lugares diferentes es desde ellos de los que se va elaborando el proceso del auto y del heterroconocimiento de 10 latino-americano asociado a contextos que no son siempre conmensurables. no hay posibiiidad de elaborar un metadiscurso ultimo para cuestionar a las otras esquematizaciones. y ligado a 10 anterior. tal trilogfa de modelos de identidad permite dar cuenta de un doble proceso. Por ello el cuestionamiento de la latinidad exige una elaboracion de matrices que partan desde un "pensamiento crftico". queda en evidencia que las tres perspectivas nos muestran una irreductibilidad teorica que impide llegar a una mirada ultima. Por ultimo. 10 que permite aclarar el sentido del juego de las contextualidades del ser y del vivir. y tertio. donde ya no es posible pensar en una identidad latina monolftica y substantiva. donde el anal isis de la identidad latina permita desentranar y articular procesos de reconocimiento y de desconocimiento siempre enraizados en contextos historicos y culturales. de una forma mucho mas sistematica"y crftica la problematica identitaria no solo relevando ad intra los procesos latinoamericanos. en un' cierto sentido. pero que nos lleva a proponer una otra categorfa de identidad. al ser prisioneros.120 ricardo salas astraln cultural del multiculturalismo. pues las identidades desde la . aparece una compleja problematicidad cultural que responde por cierto a una diversidad problematica de America Latina inserta desde hace cinco siglos en logicas de negacion y de exclusion. 10 que exige por cierto. Esto se liga. nos parece. Es este modo de irradiar el pensar y el actuar favorecieron dinamicas culturales que desplegaron permanentes conflictos discursivos y pnixicos. etapas. no puede transformarse en el criterio linico ni definitivo de una comprension del sentido cultural por parte de ciencias sociales llamadas a ser verdaderamente criticas. 10 que obliga a superar una nocion esencialista de la identidad latina.En este enfoque ubicamos el cruce de tradiciones y el entrecruzamiento de relatos y practicas identitarias. A traves de esta nueva reelaboracion de una identidad latina que se procesa a partir de conflictos discursivos y pnixicos contextuales y globales. 10 latino se expande e irradia en capas. como una suerte de interpretacion ultima de un substrato cultural a-historico. Si algo cabe conduir de este nuevo giro intercultural de los procesos identitarios es que el estudio del "consumo" de los productos culturales.el problema hermeneutico de una "Iatinidad" plural . concepciones y valores de los cenquistadores. pero donde siempre es preciso reconoeer que las posibilidades ineditas y creativas aparecen asociadas a las virtualidades de los contextos mismos en que existen y viven los sujetos y las comunidades historicas. proees@s y desplazamientos. que obliga a abrirlos a otros lugares teoricos y pnixicos. en el ethos religioso cristiano y en las luchas por una nueva alternativa a un proyecto historico-global conducido hegemonicamente desde el Norte. ellos encierran una limitacion tematica. I I I 121 En este sentido especifico. y que ahora se expresa en que somos parte en un mundo global. de parecer y de valorar de nuestro sef'latinos perifericos. porque desde sus origenes. con la vocacion crltica del pensamiento latino-americano insertado en un juego donde los mundos de vida se hacen desde hace siglos en una tension entre contextos propios y formas universalistas globales de gran complejidad. colonizadores e inversoreschan condicionado las formas de ser. Estas dinamicas condicionan sus propias posibilidades de ser y de reconocerse consigo misma y con los otros. que destacan los auto res citados. una profundizacion critica de tal pensamiento identitario de tipo latino. Esto es capital. las culturas lalinas llegados en los diversos utensilios. En consecuencia. proponemos una interpretacion de la identidad cultural latina como siendo parte de un mundo latino periferico que se despliega en el mercado mediatico. El punto ctucial no es solo indicar que tales procesos de resignificacion existen. Es innegable que en la trama interior de las culturas populares y etnicas aparecen y reaparecen signos. por las cuales las identidades latinas no estan jamas fosilizadas. en Norteamerica y en Europa. sino como los tematizan dentro de nuevas propuestas sociales y cultumles. Explicitando la enorme influencia de los grandes medios de comunicacion a veces aparece una vision fatalista asociada a la difusion sin mas de la american way of life. porque la comprension en el marco de la reconstruccion de las identidades latinas es siempre parte de una necesaria biisqueda de articular las tradiciones culturales con innovaciones que no se definen ni se detienen. y de la pasividad de los receptores. y les llevan a reelaborar sus propuestas acordes a sus mundos de vida. epistemica y metodicamente hablando. y desde ahi resisten a las ideologias encubridoras de los mundos hegemonicos. El reconocimiento de esta dimension creat~va es parte de una critica intercultural frente a los" estudios culturales" . Son nuevas subjetividades emergentes las que no se satisfacen con los desechos de significacion que proponen las industrias. Pero los estudios inspirados interculturalmente demuestran'que todos estos elementos exogenos no se desvinculan nunca de ejercicios de resignificacion por parte de los sujetos. yaparecen en una rica gestacion de creatividades permanentes en los dinamicos mundos de vida en America Latina. Nos parece relevante destacarla. pide una . Una metacritica.122 ricardo salas astrain matriz de 10 latino exigen develar los complejos procesos de formacion de los sentidos humano-culturales y los procesos de encubrimiento ideologico en las comunidades latinas. En este sentido se podria concordar con una idea de Alain Touraine de que "la modernidad es una nocion critica antes que consttuctiva. conduce a privilegiar la innovacion con el exclusivo trabajo de biisqueda de sentido por parte de los artiotas. y que opera en el seno mismo de las eticidades. rechazando estas biisquedas anonimas de las comunidades de vida. requiere esbozar daramente un lugar de enunciacion por el que una cierta forma intelectualizada y abstracta de entender la critica cultural. donde la fragmentacion del mundo cultural cotidiano ya no exige nuevas utopias. de forma que cabe un resguardo respecto de aquellos teoricos que nos quieren demostrar la fragmentacion del sentido como algo ya dado. simbolos y relatos que producen las industrias massmediaticas. Este modo critico se impone sobre todo en estos tiem pos de "incertezas" porque asi como ya no tenemos la confianza de los antepasados decimononicos ni de los proyectos del siglo XX. a saber. en otras palabras. donde . desarrollar una comprension de las nuevas expresiones culturales en el terreno etico y politico. Las nuevas cuestiones de la transformacion de la identidad latina serian desde nuestra optica inspirada por Ladriere y Ricreur: (como el tamiz de las criticas identitarias permite esperar en una historia nuestra abierta al futuro y que se sigue escribiendo a pesar de los escritos de algunos intelectuales que cierran la imaginacion de la historia? (como resituar este inacabamiento y este futuro de la latinidad en un mundo marcado por 10 anglosajon. 1992. de un estallido categorial sin forma. 'quepodria ser objetado a lasderivaciones extremas de las teorias del con sumo cultural. la cuestion que se plantea aqui para las ciencias sociales. La critica intercultural de las categorias . de pura ebullicion de interpretaciones que lleven al escepticismo en 10 teorico y a la desmovilizacion en 10 practico.identitarias requiere situarlas siempre en el espacio teorico e interdisciplinario que les corresponde dentro de nuestros contextos culturales. pero donde se requiere. en sentidos sacrales de las sociedades que aparecen cada vez mas dificil de asir en los paises de America Latina. 94). 10 cual protege contra nostalgias que facilmente toman un giro peligroso" (Touraine. presuponen una vision sacralizada del ser humano. por sobre todo. porque implica que el analisis de las mediaciones culturales de la catolicidad latina no remite a la "conservaci6n de tradiciones originales". de manera mas profunda. destacadas certeramente por Morande y Scannone. Pero esta modalidad critica del cuestionamiento de las categorias no conduce necesariamente al desmontaje conceptual. Pero. es que estas logicas religiosas. que cuestione el inmovilismo en elplano de la accion cultural.Esta manera "critica" de comprender interculturalmenteel problema de laidentidad cultural en America Latina tiene consecuencias para una reflexion sobre las tradiciones religiosas y emicas. de espacios de vida en que emergen al interior de los sujetos vivos y de comunidades autenticas. sino que al mismo tiempo exige una critica de las ideologias que permita entender las tradiciones catoticas en el dialogo con las religiones cristianas y/o con las religiones etnicas. Sostenemos que se trata de un proceso intelectual y politico de un "rearme categorial" de 10 latinoamericano como 10 preconiza Roig.el problema hermeneutico de una "Iatinidad" plural 123 critica que debe ser ella misma hipermoderna. p. abierto a las interacciones de la imaginacion humana? Proponer un pensamiento critico de la latinidad supone estar consciente de estos saberes y pracricas situadas y que oscilan entre memorias y proyectos de los actores y de10s movimientos s(lciales. pero se transforman . y el de la eticidad. el ethos religioso continua siendo un elemento central para redefinir el sentido humano de las diversas practicas culturales. icwil podria ser la raiz historica de una cultura 0 del humus cultural de los pueblos latinos en un mundo cada vez mas internacio- . Varias preguntas surgen en este movimiento critico de las interpretaciones explicitadas. Pero es preciso reconsiderar la idea de la identidad cultural como substrato religioso que permite reconstruir una critica a la razon subyacente a los proyectos modernizadores.124 ricardo salas astraln las religiones no desaparecen. En este sentido la limitacion de la perspectiva de la "critica cultural" es que en alguna de sus formulaciones desconoce el sentido de reconstruccion de las identidades culturales. estos implicitos nos llevan tanto al terreno de una eticidad intercultural como al de una practica politica de reconocimientos multiples.dirian algunos completamente . donde los que nos precedieron imaginaron en parte nuevas sociedades. donde no hay espacios para reconocer la existencia de identidades religiosas que resisten a los procesos de modernizacion homogeneas. Se podria plantear de otra forma. y a una filosofia culturalista de 10 popular. el enfatizar solo el consumo de los bienes de las empresas culturales ino es cierto que se renuncia a destacar el valor de nuestra memoria cultural. y desde donde resignifican humanamente los disimiles productos de las empresas culturales en nuestros paises. En este plano sostengo que el debate sobre el ethos religioso latinoamericano esta de cierto mal planteado. sino que es una parte de la dinamica de dialogo de eticidades al interior de procesos de universalizacion. que en parte hemos heredado. A nuestro entender. como ya 10 he mostrado. como ya 10 argumente en Etica Intercultural. Parece como 10 muestran los estu'!ios interculturales. sino que requieren la asuncion de otra forma de comprender la realidad historico-social. ellas no se pueden encontrar sin mas y de un modo definido en las tradiciones culturales religiosas. pues se trata de entender un ethos que no es solo resistencia a un mundo que se moderniza. que se requiere principalmente avanzar en orra direccion para entender este sentido plural del ser humano y a sus valores asociados a los contextos. si Itay una perdida de la imaginacion trascendental del valor de 10 humano 0 una perdida de las utopias en el consumo cultural globalizado.de acuerdo a las transformaciones sociopolfticas y culturales. y que estan presentes en las pluriformes identidades nuestras? Un consumo que genera unicamente diseminacion de la memoria local. y que no solo su mirada de 10 religioso es limitada. a mi parecer hay un esbozo de una tesis antropologica y etica de tipo derrotista y desesperanzadora sobre el porvenir de 10 humano en America Latina y de su contribucion a la humanidad. Para cerrar este analisis epistemologico acerca de las interpretaciones. como 10 releva J. eticas y esteticas que no se dejan explicitar nunca por las estructuraciones sistemicas del mercado. Su articulo en Sociedad y Mundo de La Vida. . Porque los sujetos latinos se abren a los mundos de vida desde visiones religiosas. pero esto no significa que el propio campo religioso puede responder por si solo al campo cultural en ebullicion. tiene que ver con la imposibilidad de proyectar imaginativamente el decurso de la racionalidad cientHico-tecnico y la recuperacion humanizadora en los proyectos modernizadores tal cual han sido formulados. Alreves de 10 que piensan sus teoricos. En conclusion. Pizzi en su analisis de los mundos luso-afroamericanos de vida. y asumir. como ya se observa en los dialogos y controversias del segundo centenario de la independencia? Esto obliga a resituar de otro modo el peso del consumo de los bienes simbolicos y cuestio"ar las limitaciones de una racionalidad medi. la crisis del paradigma utopico de 10 identitario latino. se ubican casi siempre mas alia de los esquemas instrumentales que tienden a predominar en el espacio publico a traves de la dinamica hegemonica de -4 Cf. porque las tradiciones mitico-religiosas pueden servir para responder a un cuestionamiento del sentido cultural fragmentado. es preciso ir mas aHa del debate sociologico sobre la modernidad cultural. {como el ideario latino tuvo una presencia en el imaginario de la emancipacion. hay que considerar que la necesidad de explicitar los diferentes niveles en la constitucion de la nocion de identidad latina en el marco de este desaflo de la modernidad en America Latina.el problema hermeneutico de una "Iatinidad" plural 125 nal?. 2007. hay que cuestionar 10 que detras del analisis del consumo cultural aparece como impensado. es crucial entender el sentido cultural en su amplitud de la praxis humana. El problema de las utopias humanistas de los pueblos es que los nexos que se requieren para vivir humanamente en America Latina. es insuficiente. la sobrevalorizacion de las tradiciones religiosas {que relevancia poseen otras tradiciones historicas y valoricas de nuestros pueblos?. que en una parte fundamental. en varias formulaciones.itica. sino que tambien sus analisis de los sentidos culturales human os. 4 Para responder a 10 que hemos indicado en la introduccion. sino que ademas apunta a una racionalidad de la aocion de los sujetos y de los pueblos. a las diversas formas que asumen nuestras sociedades latinoamericanas. en las que se hace patente la dificultad de 3. Quiero dejar de manifiesto que la cuestion de una critica de la identidad cultural latina desde la utopia remite a una consideracion de las variadas dificultades que asume la racionalidad en losproyectos sociales y politicos en las historias de nuestros paises. En este sentido. El modelo historico del humanismo latino destaca la problematicidad de la racionalidad cuando referimos. como ya se ha dicho. que nO solo religiosas 0 esteticas. Con ello no quiero subscribir sin mas a las tesis de Roig e Hinkelammert.Coplarse a un proyecto cada vez· masinternacional en 10 macroeconomico y desde donde emerge un futuro precario creciente no solo en el mundo laboral de las mayorias latinas pobres. por una parte. el apuntar a una racionalidad utopico-humanista ya presente en los mundos de vida se vuelve centralisima.126 'II :~ 'I i ricardo salas astrain los mercados. En este senti do. en desmedro de la racionalidad cultural de los sujetos y de los movimientos vitales de las comunidades. En este sentido. Parte del problema que subyace en estas nociones analizadas de los teoricos latinoamericanos de la modernidad. Las perspectivas teoricas que abre un modelo historico-utopico me parece que estan mas de acuerdo al modelo hermeneutico asumido para dar cuenta de ese movimiento que permite entender la identidad latina en un juego de interrelaciones de 10 local. la latinidad exige la tarea valorico-cultural de una nueva utopia latina. sino a las consecuencias que se derivan en el marco de las politicas culturales y a la articulacion de espacios democraticos donde se vivan humanamente el sentido y los significados de nuestras culturas latinas en contextos de sociedades economicas exitosas. . Esta se vuelve relevante en paises con enormes asimetrias y desigualdades que no disminuyen sino que se acrecientan producto del privilegio de una racionalidad tecnologica-formal que se opone tensionadamente a la tradicion de un h umanismo. es que la manera de considerar la racionalidad no remite solo a una explicacion de las estructuras de nuestras sociedades complejas. sino que expresan en una fuerte reserva de sentido la dignidad del ser humano. el paradigma historico-utopico me parece que responde en general a las dos limitaciones de las teodas ya evocadas. y que corresponden a otras tradiciones no siempre humanistas. en un movimiento que va desde abajo hacia arriba y viceversa. 10 nacional y 10 mundial. que es un patrimonio de toda la humanidad. Mexico: Grijalbo. 1994. ORO. Les incertitudes de la conscience historique. Cultura y modernizaci6n en America Latina. Cristiano Resena de los libros de J. Santiago: Cuademos de Sociologia. Torno I. 1984. 1996. Eduardo. 1988. Pedro. 2004. Arturo Andres. -. Representafoes sociais e humanismo latino no Brasil atual. 1994. Multiculturalismo y pluralismo. pp. pp. Transformacion intercultural de la filosofia.. . Nueva 50ciedad. Santiago: Andres Bello. 1987. X-I. Estrategias para entrar y salir de la modernidad. Cahiers des Sciences Philosophiques et Religieuses. pp. 114-28. Lebenswelt: iuna nocion apropiada para eI mundo luso-afrolatinoamericano de vida? In: Sociedad)' mundo de la vida. 96-107. 91. 2004. 1984. OLIVE. HINKELAMMERT. Santiago: Dolmen. Franz. pp. 1994. -. Salas.Band 37. Rodolfo. 2 tomos. Larrain y R. DEVES VALDES. Jose]. 1994. Las cultums hibridas. Modernidad. EI pensamiento latinoamericano y su aventura. Critica a la razon ut6pica. Mexico: Paidos. LARRAIN.. UFRGS. PUC Chile. Identidad. Buenos Aires: Centro Editor de America Latina. Bilbao: Desclee de Brouwer. Cultura. 1997. Ari Pedro (org. In: Pensamiento aitico latinoamericano. MORANDE. Tomo l. Leon. Santiago: FLACSO. 75-87. -. 397-415. GIMENEZ. Porto Alegre: Ed.2005. -.1977. FORNET-BETANCOURT.el problema hermeneutico de una "Iatinidad" plural 127 Referendas BRUNNER. Santiago: Ediciones UCSH. Jorge. 1984. XXXVIII. Aachen: CONCORDIA Reihe Monographien . pp. Jovino. ROIG. . In: Teologia y Vida. 1990. 255-72. In: Pensamiento crftico latinoamericano. PIZZI. La pregunta acerca de la identidad cultural iberoamericana. Pensamiento popular e indigena en America. razon e identidad en America Latina. Filosofar para nuestro tiempo en clave intercultural.). Santiago: Ediciones UCSH. Raul. San Jose: DEI. Nestor. cultura e identidades tradicionales en Mexico. 2007. GARCIA-CANCLINI. 2005. Buenos Aires: Hachette. Revista Mexicana de Sociologia. . Cartografias de la modernidad. 101-20. La cultura de la postmodemidad. Modemidad. Persona y 50ciedad. Santiago: Ediciones UCSH. 4. KUSCH. 2001. PARKER. Ref/exilo 38. 1999. Acotaciones para una simbolica latinoamericana. Jean. Un espejo trizado. 1996. Gilberto. pp. Utopia y proyecto politico. LADRIERE. Fidel. In: SIDEKUM & HAHN (ed. Para una crftica latinoamericana de la globalizaci6n. pp. Juan C. 2006. Hermeneutica y Modernidad en America Latina. TUBINO. Didlogo critico-educativo.1-2. VERGARA. 145-78. Etica. polftica del reconocimiento y culturas indfgenas. 1997. Buenos Aires: FCE. . . TOURAINE. I. La identidad culturallatinoamericana.). Pontes interculturais. Pensamiento crftico y mundo de la vida en la filosoHa latinoamericana. Santiago: Ediciones UCSH. 2003. Santiago: Ediciones UCSH. -. pp. 2006. pp. Niimero especial sobre Pensamientos renovados sobre integraci6n. Stromata. 2007. 151-66. XLVII. pp. Nuevo punta de partida de la filosofia latinamericana. XIN° 1. 1990. Alain. Etica Intercultural. Nueva Modernidad adviniente y cultura emergente en America Latina. Aportes desde la filosoffa intercultural. (Re) Lecturas del pensamiento latinoamericano. 2004. Buenos Aires: Guadalupe.). 25-40. -. Um debate filos6fico. . 1996. Estudios interculturales. & VERGARA. 77-95. Persona y Sociedad. Rostros y fronteras de fa identidad. SCANNONE. 1991. pp. TABLERO (Revista del Convenio Andres Bello). XXXVIII-Ill. Del interculturalismo funcional al interculturalismo critico. hermeneutica y suietos hist6ricos. Ricardo. Sao Leopolda: Nova Harmonia. 1992. In: SAMANIEGO & GARBANI (ed. pp. N° 57 (1997). Critica de la modernidad. J. pp.). Temuco: UCT.128 ricardo salas astraln SALAS. Pelotas: EDUCAT. 75-104. 63-83.. J. -. In: SALAS & ALVAREZ (ed.. 39-56. Teologia y Vida. SINCRETISMOY EVANGELIZACION: CATOLICISMOY PROTESTANTISMO COMPARADOS CARLOS GARMA NAVARRO Introduccion uestro proposito aqui es mostrar las diferencias y semejanzas entre dos proyectos misionales: la evangelizacion catolica 0 "conquista espiritual de los clerigos que arribaron a la Nueva Espana durante el siglo XVI. Benedict. Es mas facil ser critico de los fenomenos que tenemos mas de cerca. La posicion tradicional cristiana es que el no creyente 0 pagano debe ser convertido y su proselitismo comienza con la salida de los primeros apostoles de Jerusalen despues de la muerte de Jesucristo.) Las concepciones que enfatizaban a la salvacion espiritual como un camino con multiples vias para recorrer nunca fueron una parte de la teodicea occidental a diferencia de su aceptacion en religiones orientales como en el budismo. A primera vista la comparacion puede parecer desatinada. y la Hamada "penetracion" protestante que se ha dado en Latinoamerica a traves de los ultimos cuarenta anos. por 10 cual el proselitismo protestante suele ser considerado popularmente como mucho mas danino y negativo que la labor ardua y amorosa de los sacerdotes y frailes coloniales. Sin embargo. Tambien abordaremos como se ha tratado la reelaboracion de los significados religiosos en la constitucion de nuevas N I 1 129 . (Posicion que comparte con el judaismo y el Islam. 1984. que son credos monoteistas. sufismo y jainismo (Weber.Capitulo 4 MISION. 1974). extrema 0 curiosa. la raiz de ambos proyectos misionales se deriva de una cosmologia cristiana que se concibe a si misma como la unica religion capaz de salvar al hombre. La sociologia y la antropologia han dedicado mucha esfuerzo a separarsc de la teologia. Jackson. EI misionero ayuda a construir una base social de legitimacion para nuevas formas de dominio sobre los pueblos indigenas 0 nativos (Lanternari.130 carlos garma navarro formas de expresion. Asi llegaron los misioneros catolicos a las tierras americanas. y con resultados distintos. el misionero se debe entender como un sujeto social que se dedica al proselitismo de una forma de fe y que busca atraer conversos a su institucion eclesial (Rambo. al menos que sea tambien un activista . 1974.1 L Las ciencias sociales han tenido dificultades notables en estudiar el cristianismo. Mision y evangelizacion Desde las ciencias sociales. Visto como un ejemplo de la larga duracion a traves de la historia. misioneros protestantes llevan a comunidades rurales aisladas una etica de trabajo que consolido a las burguesias europeas en siglos pasados y que esta desempenando un pape! importante en el surgimiento de burguesias agrarias dedicadas a cultivos comerciales en zonas que anteriormente solo tenian una agricultura de subsistencia (Garma. esto nos llevani a considerar finalmente cuales son los aspectos de semejanza y diferencia entre dos movimientos de propagacion de fe. mientras que el antr6pologo busca reducir su influencia al minima eo la cultura que estudia. Con demasiada frecuencia. Actualmente. Una consecuencia de este distanciamiento es con frecuencia una notable hostilidad hacia eI misionero. Los fundadores de la ciencias saciates Max Weber. representa al imperio y busca la conversion de nuevos adeptos mediante la difusion de una fe llamativa y extranjera. separados en tiempo historico. 1987). 1996). 1984). esto es la cuestion del sincretismo. el misionero ocupa a traves de los siglos e! pape! de un emisario 0 augurio de un nuevo orden. que se reconoce como una disciplina que parte desde una posicion deisra y con frecuencia cclesia!. pero afines en cuanto sus estrategias. y se ha mantenido hasta la fecha una clara orientacion hacia el encapsulamiento de las propias orientacioncs de creencia del analista en las ciencias sociales. Emile Durkheim. eran no crcrentes. Es e! agente de una sociedad diferente al de las civilizaciones autoctonas a las cuales llega a predicar. recuerdese a los primeros doce franciscanos recibidos con pompa por Hernan Cortes en la Nueva Espana en 1523. El ageo_te religioso busca intervenir activamente en las culturas aut6ctonas. La conquista espiritual se unio al sometimiento de las culturas precolombinas que tuvo como consecuencia su incorporacion al capitalismo mercantilista naciente. Sera importante senalar bajo cuales circunstancias los distintos credos puedan aceptar 0 rechazar estas mezclas 0 "mixturas" y cuando no. Karl Marx y James Frazer. quemado en 1539 politico. algunos autores han considerado como un atenuante de la evangelizacion cristiana novohispana el hecho de dade al indigena un espacio en el mundo colonial. es impuesta. 2001. y ahora amenazadas con la destruccion completa del mundo que conocen por el ecocidio capitalista (Jackson. y quiza nunea sera posible lograr una posicion unificada. Moore. Es posible que incluso 10 rechaze intente buscar aliarse a los suyuzgados y argumentar a su favor. 1972).catolicismo y protestantino comparados 131 El misionero. Marzal. Como resultado de una larga guerra de reconquista contra los moros. Se planteaba asi la conversion de toda una poblacion indigena amerindia hallada y no el recutamiento de individuos aislados. 1981. Si bien. Phelan. el misionero actua para lograr que el adepto a la nueva religion encuentre un sentido a una situacion novedosa y extraiia a la que se debe enfrentar. pero no tienen que ser forzosamente incomprensibles entre si. la Iglesia Catolica y el estado Iberico desarrollaron metodos de represion de suma crueldad contra los infieles (Lison Tolosa. Esta justificacion se da entre los misioneros protestantes que trabajan con tribus amazonicas en Sudamerica. y era necesario obtener nuevos con versos para recompensar la perdida de almas que habia provocado la Reforma protestante. . y 10grar que los nuevos conversos esten mejor adaptados para sobrevivir en un nuevo mundo. el misionero tomara la posicion de tratar de suavizar el contacto entre civilizaciones 0 sistemas socio-economicos diferentes. los indigenas no eran llevados ante el Tribunal de la Santa Inquisicion . Otra posiblidad es mas frecuente. como fue el caso de Fray Bartolome de las Casas. La nueva posicion social que se obtiene para el indigena. 2002). 1977. El catolicismo debra ser llevado a toda la humanidad. La Iglesia Catolica colonial era una institucion salvacionista con fines universales (Ribeiro. 1997. aisladas desde hace milenios. EI problema de las creencias propias del investigador no se ha resuelto todavia. Por otra parte. Aqui una observacion pertinente. el misionero considera que el avance de un nuevo orden 0 sistema de dominio es inevitable 0 inaplazable (como en el caso de los pueblos conquistados). 1984. no siempre acepta pasivamente su papel como un agente del orden dominante. sin embargo.con la ultima excepcion del cacique Carlos Ometochtzin de Texcoco. don de podria defender sus derechos como miembro de una comunidad autoctona y como cristiano converso (Zavala y Miranda. En estos casos. En todo es conveniente aceptar que el agente religioso y el investigador son generalmente distintos. 10 cual implica otras problemas. En esta situacion. no obstante. 1984). Una discusi6n interesanre al respecto se puede encontrar en Canton. y Salamone y Adams. 1979). Corten y Mary. No se busca entonces salvar a toda la humanidad. quienes eran considerados como simples brujos y hechiceros paganos.UU. 1990. asambleas del Norte.132 1 I carlos garma navarro por idolatra y apostata . 1987). que ccomo seiialamos mas adelante.UU. sino de unos cuantos individuos escogidos. las jglesias Bautistas. comunmente Hamada "fundamentalista". 2000). Estas agrupaciones religiosas enfatizan la importancia de los "elegidos" 0 sea los pocos hombres y mujeres que podran ser redimidos par la divinidad. 1980. Las iglesias sureiias defendieron la scgracion racial durante decadas. 1968). con excepci6n de las comunidades de habla hispana y partes del estado de Louisana. Ir6nicamente. al considerarlo tambien como brujo y hechicero. la mayor expansion protestante en Latinoamerica se ha dado en los ultimos ailOs a traves del pentecostalismo. debido a sus desacucrdos sobre la validez del esclavismo. _I . EI protestantismo moderno comparte con el catolicismo colonial su intolerancia hacia el sacerdote nativo.2 2 La evangelizaci6n protestante en Latinoamerica se deriva inicialmente de iglesias denominacionales establecidas en los EE. La discriminacion hacia las culturas indigenas implico la destruccion de los documentos tradicionales indios y la persecucion de los sacerdotes nativos de las religiones amerindias.UU. particularmente durante los primeros anos posteriores a la Conquista. 1968. dande hubo colonos franceses. Bailey. es una derivacion afro-americana del protestantismo (Bastian. que buscaran destacarse del resto de la poblacion. a cambio de ello fomenta las divisiones sociales y el faccionalismo. Herberg. A partir de la Guerra Civil Norteamericana. Este tipo de evangelizacion no requiere de aparatos de represion colectiva. 10 cllal impidio su reunificaci6n despues de la guerra con la. zona donde hasta la fecha la gran mayorla de la poblaci6n es protestante. 1994. se habia forjado una "religion de frontera". que era emotiva. sino solo a una parte muy selecta de ella. La implantacion de la nueva religion se puede dar con la conversion de un numero reducido e personas. Imagenes y edificios de culto fueron destruidos (Aguirre Beltran. Las sociedades misioneras que operaron en Mexico durante ese siglo. donde los misioneros "evangelicos" extranjeros criticaban a las ceremonias de religiones autoctonas como "supersticiones" (Garma. con una etica rigida y una ideologia conservadora apegada a interpretaciones literates de 1a Biblia. de forma predominante. Las denominaciones protestantes que desarrollan su actividad misionera en Mexico y Centroamerica no buscan la conversion de poblaciones enteras. Resultado de 1a expansion del protestantismo hacia las regiones del oeste y sur de EE.. como hemos 'observado en la Sierra Norte de Puebla. tenian asiento en eI sur de los EE.la represion religiosa contra los nativos mesoamericanos fue dura e implacable (Reyes Garcia.. est os son los adeptos 0 creyentes. 1994). metodistas y presbiterianas se dividieron cada una en convenciones del Norte y del Sur. Se senala que es pecaminoso y pagano acudir a los ritos tradicionales. no obstante multiples esfuerzos a traves de los aoos. al enfatizar la importancia de la salvacion del individuo a costa de su participacion en la comunidad (Stoll. Gruzinski. 1983). habia estudiado 500 lenguas a traves del mundo. William Cameron Townsend en 1935. Brice Heath. y algunos religiosos incluso conocian y predicaban en varias. catecismos. el I. EI primero es la importancia que se asigna al uso de las lenguas indigenas. los sacramentos. 66 de las cuales eran en nahuatl. En 1634. En Mexico. Ricard (1986) senala que entre 1524 y 1572 se produjeron 109 obras en lenguas indigenas. los clerigos catolicos abandonaron el uso extensivo de los idiomas amerindios desde mediados del siglo XVII (Aguirre Beltran. al considerar los frailes que era el idioma mas utilizado y adecuado para la comunicacion entre los diversos pueblos mesoamericanos. y mandaba a parejas estadunidenses con entrenamiento en linguistica a comunidades indigenas con el propos ito de traducir la Biblia a los idiomas autoctonos y propagar una version neoconservadora del evangelio. Se consideraba que el clerigo debia comunicarse en la lengua de sus fieles. fundado por el pastor conservador norteamericano. Los ultimos reyes de Asturias decidieron que las colonias debian de tener una poblacion hispanohablante.I 133 Con respecto a sus estrategias para la conversion. Los reyes borbones insistieron aun mas en la necesidad de la evangelizacion en castellano.catolicismo y protestantino comparados I !: ii I '. Ante los multiples obst:iculos politicos y burocraticos. la evangelizacion en idiomas mesoamericanos implicaba una renuncia a la castellanizacion de los indigenas. En 1976. Se producian vocabularios. Aillegar los misioneros catolicos a Mesoamerica encontraron una gran diversidad de lenguas y rapidamente comprendieron que para comunicarse con la poblacion nativa debian de dominarlas.L. los primeros catolicos del siglo XVI y la evangelizacion protestante moderna muestran dos puntos de contacto que merecen discutirse. Felipe IV publica un decreto donde especifica que el sacerdote debe ensenar el espanol a los indigenas. confesionarios. La misa. gramaticas. Para la monarquia hispanica. La evangelizacion protestante hizo amplio uso de las lenguas indigenas para la conversion de adeptos. A este respecto destaca sobre todo el trabajo del Instituto Linguistico de Verano. un convenio firmado con la Secretaria de Educacion Publica durante el periodo de Lazaro Cardenas favorecio . Hubo una preocupacion por crear una literatura en lenguas indigenas hecha para ser usada con propositos de evangelizacion.V. 1977). 1983. Esta agrupacion tenia como fin el proselitismo reiigioso. El nahuatl se convirtio en una lengua franca en las comunidades indigenas cristianizadas. y los sermones debian de hacerse en los idiomas autoctonos. y sermonarios. 1990). 1972.V. Las limitaciones sobre este proyecto se hicieron sentir rapidamente desde la jerarquia eelesiastica. fue retomado siglos despues por los protestantes. "EI Concilio Eelesiatico de 1555 prohibi6 ordenar a mestizos. Era evidente que una iglesia indiana requeria de una elerecia nativa que la atendiera. 349). Los misioneros-lingiiistas dell. 1998). Este proyecto fue un anhelo predilecto de los franciscan os.L. asi evitando la necesidad de traer sacerdotes extranjeros para atender a los fieles. EI Colegio de Tlatelolco. que se intent6 desarrollar durante los prim eros anos de la colonia fue la creaci6n de una iglesia indiana. Otro proyecto importante y breve. utilizadas tanto por los cat6licos. En zonas indigenas de Mexico es frecuente ver a las Biblias elaboradas originalmente por el I. al que asistian los hijos de nobles indigenas fue fundado para educar a los primeros sacerdotes indigenas cat6licos. durante anos. como por los protestantes. 1986. p. negros y en 1570 leemos en el C6dice franciscano que no se administra a los indios el sacramento de la ordenaci6n ni ninguna de los 6rdenes men ores porque aun no tienen las aptitudes necesarias" (Ricard. Sin embargo. provocaron multiples luchas y enfrentamientos entre cat61icos y protestantes por su proselitismo ingenuo e torpe.L. Una iglesia indiana libre de los vicios y odios de la poblaci6n hispana era la meta de la evangelizaci6n franciscana temprana (Phelan. . mostrandose como un ejemplo de la misma discriminaci6n etnica a la que deberia precisamente oponerse.134 1 I I' carlos garma navarro all. El hecho de tener material de lectura en su propio idioma es importante para muchas personas de los grupos etnicos. ya que muestra que los idiomas american os son tan validos como el castellano (Stoll. V. 1987). la mayor parte de los sacerdotes en zonas indigenas son mestizos. Hasta la fecha.L.L. las traducciones de la Biblia a lenguas indigenas fueron altamente valoradas en muchas comunidades. dandole acceso a recursos gubermentales. indios.V. Dicho convenio fue terminado y ell. V. influidos por las utopias milenaristas y el pensamiento de Joaquin de Fiore. siendo el elero indigena una excepci6n en lugar de ser la regIa (Ai Camp. iEstaban los indigenas listos para ser sacerdotes 0 era demasiado reciente su pas ado pagano? La hierocracia opt6 por el segundo punto de vista. actualmente ha abandonado sus instalaciones centrales en el pais. EI sacerdote mestizo es ajeno a la cultura nativa. Florescano. EI uso de las lenguas indigenas para la evangelizaci6n originalmente plante ado por la Iglesia Cat6lica novohispana y luego abandonado por ella. el misionero extranjero abandona la comunidad y se dirige a otra. 1991). En la Sierra Norte de Puebla. la evangelizacion protestante es mas cuidadosa. podemos senalar que la formacion de una clerecia nativa y el uso de las lenguas autoctonas fueron proyectos de la Iglesia Catolica colonial que fueron abandonados por la imposicion de poderes imperiales e hierocraticos. pero dejando a un ministro nativo encargado del cuidado del grupo religioso establecido en la zona. mayo de 2007. el consejo central de la denominacion paga a los predicadores de pequenos pueblos para que completen su formacion en estos centros y puedan recibirse como pastores investidos. El sujeto social. Garma. Para terminar esta seccion. ambas estrategias de evangelizacion fueron retomadas exitosamente por misioneros protestantes. No obstante los vinculos de colonizacion y dominio presentes. Brasil. El nuevo mensaje . a las cuales accuden futuros pastores para recibir una instruccion religiosa adecuada. la relacion no es unilateral. Asi. reciba y acepte un mensaje religioso. Los comentarios recientes del Papa Benedicto XVI en el Santuario de la Virgen de la Aparecida. Las denominaciones protestantes han establecido numerosas escuelas biblicas y seminarios en zonas interetnicas. Con frecuencia. 1987. El resultado se evidencia en un mimero fuerte de dirigentes religiosos indigenas en las distintas denominaciones (Bastian. Lamentablemente. El templo recien creado debe quedar a cargo de un miembro de la misma congregacion. Cabe preguntarse si los proyectos de los primeros frailes mendicantes no se adelantaron a su epoca y porque la Iglesia Catolica no logro recuperarlos. el eurocentrismo de los maximos Hderes de la institucion no es cosa del pasado. 1994. Siglos despues. el converso. el pueblo indigena 0 nativo puede escojer los elementos que mas se pueden adecuar a su propia cultura. 10 cual contrasta con la presencia de sacerdotes catolicos mestizos. La evangelizacion parte de un agente.catolicismo y protestantino comparados 135 A este respecto. muestran que la jerarquia de mayor nivel eclesial todavia no comprende el sufrimiento humano que se dio durante el sometimiento de los pueblos indigenas durante y despues de la conquista (Boff. El misionero extranjero se establece en una zona y permanece alli fundando un nuevo templo de su denominacion. el misionero. cuya labor consiste en que un sujeto social. hemos constatado que la mayor parte de los pastores y predicadores protestantes son indigenas de la misma comunidad. 2007). Martin. Esta tactica permite a las poblaciones locales tomar rapidamente el control de sus congregaciones. Foster. 1988). muestran rasgos culturales que manifiestan sus origenes celta -helenicos cristianizados (Frazer. Debemos evitar asignar a este termino connotaciones negativas. Dificilmente es aceptada una nueva religion en su totalidad. Sahlins.136 carlos garma navarro religioso es reelaborado para encajar dentro de un campo de significaciones ya aceptados. 1985. Sincretismo y religion popular r' I \ En la antropologia se ha dado una discusion interesante sobre el uso del concepto del sincretismo (Greenfield y Droogers. 1973. formas de organizacion y normas etnicas)" (Marzal. sino que se retoman aquellos elementos que pueden adquirir un nuevo sentido en las expresiones tradicionales 0 que implican modificaciones sobre el significado de simbolos ya integrados en una cultura.entran en contacto dos civilizaciones con sistemas religioaos distintos. Los iberos y celtas mezclaton sus cultos nativos primero con los elementos greco-Iatinos traidos por la conquista del Imperio Romano. otro proceso sincretico se daria con la conversion al cristianismo cuya influencia seria mucho mas persistenteo Algunos rituales como las fiestas de la Candelaria en partes de Espana. 1984. Bastide. de una civilizacion hacia otra (Balandier. Este proceso no es exclusivo del contacto entre el cristianismo y religiones amerindias. 30). Gaignebet. Generalmente. La mejor definicion contemporanea es °la de Manuel'Mawl!l: "La formacion a partir de dos sistemas religiosos que se ponen en contacto en un nuevo sistema. sino conceptualizarla como una via valida de expresion cultural. Posteriormente. como la de una religion "pagano-cristiana". 1962). p. 1973). Cabe senalar que este culto popular "hispano" y "catolico" fue llevado a America por los . 1985. Algunos pueblos pueden tener religiones que han sufrido varios procesos sincreticos. La reelaboracion de elementos religiosos novedosos que permite su coexistencia con manifestaciones culturales autoctonas es 10 que con frecuencia se ha llamado sincretismo (Marzal. se da tambien en situaciones donde hay alguna forma de dominio. ritos. politico 0 economico. 2001). Esto significa la seleccion de algunos elementos y el rechazo de otros. Del contacto de los dos sistemas religiosos surge asi uno nuevo. ni exclusivo del periodo colonial como se podria creer. 1974. que es producto de la interaccion dialectica de los elementos de los dos sistemas originales (sus creencias. Es un ptoceso casi universal donde . 1996). 10 cual muestra que las concepciones sohre 10 sagrado eran diversas desde el momenta del contacto en el periodo colonial. Esto puede incluso ser una estrategia consciente. Se presentaron multiples puntos de contacto. Como ha senalado Bonfil (1991).) declaro que tanto la figura de la sagrada 3 Los colonos espafioles Jlevaron a America Latina muchos elementos de la religiosidad popular iberica. Sin duda. 1993. Pasemos a considerar el sincretismo que se produjo entre el catolicismo colonial y las religiones de los pueblos mesoamericanos. . este puede ser un medio importante para mantener un control cultural y mantener la autonomia en una civilizacion dominada. El mensaje mismo del simbolo puede ser modificado para tener nuevas significaciones que esten mas acordes a una tradicion cultural. Se mantiene de esta manera' como un sujeto activo y no pasivo. pero como veremos mas adelante algunos proyectos misionales sincreticos si fueron aceptados y prosperaron (Bokenkotter. Varias de las grandes religiones han utilizado imagenes 0 iconos para representar sus dioses 0 seres sagrados. muchos miembros del bajo clero tam bien compartian estas creencias y participaron en su difusion. 787 A. La civilizacion dominante puede tambien obtener rasgos de los soyuzgados (Greenfield y Droogers. sefialan ambos como en varias sociedades campesinas mediternineas se crcia que el fraile 0 el sacerdote tenia poderes magicos secretos y tomaha parte en ritos ocultos. donde se transformaria otra vez mediante el contacto con las religiones indigenas (Parker. porque podia favorecer la entrada de nuevos adeptos. Este proyecto audaz fue aplastado por el Papa Clemente XI que 10 desaprobo. Mientras que el judaismo y el Islam prohibieron el culto a las imagenes para diferenciarse de las religiones idolatras que existian a su alrededor. "El segundo concilio de Nicea (septimo concilio ecumenico. Caro Baroja. como 10 fueron los esfuerzos de los jesuitas italianos cbajo las ordenes de Matteo Ricci. As!. 2001). el grupo puede escoger aquellos elementos que pueden ser mejor readaptados a la cultura que posee. cuando una religion es impuesta.3 El sincretismo es una de las vias por las cuales un grupo social puede apropiarse de elementos ajenos a el y volverlos propios. demuestra la existencia de una gran heterogeniedad en las visiones del mundo en los distintos estratos sociales durante los siglos XVI y XVII en Espana. Es importante senalar que el sincretismo puede operar en ambas direcciones. D. Es interesante notar que autores tan disimiles (y separados por varias decadas) como son Frazer (1962) y Lison Tolosana (1979). el catolicismo encoBtro que la aceptacion de las imagenes al contrario Ie beneficiaba. quienes en el siglo XVI intentaron adoptar formas orientales al catolicismo para convertir a China. 1979). El agente religioso puede terminar asemejandose a los sujetos que se proponia evangelizar.catolidsmo y protestantino comparados 137 colon os. Lison Tolosana. que al convertirse en el centro de un culto local. se popularizaron los santuarios en Europa. p. sino superficial y convenciera. La aceptacion de las imagenes fue una gran ayuda para la conversion de los pueblos paganos europeos. Los pueblos indigenas llegaron entender que su lugar en la sociedad colonial era por medio de su aceptacion de la organizacion eelesial occidental que los reconoda como nuevos creyentes (Gruzinski. de la fertilidad. ya que eran representaciones de 10 sacro. capaces tanto de obrar milagros como de castigar al impudico e irrespetuoso (Reyes Garda. 1987). Las imagenes adquirian una personalidad propia. sus quejas no fueron escuchadas. Las peregrinaciones y procesiones a lugares sagrados eran parte de una tradicion catolica en el momento de la conquista. En un principio. El uso de figuras cristianas para reemplazar a los idolos paganos opero eficazmente gracias a la ayuda de muchos elerigos evangelizadores. 1978. La figura'clel santo patr6n asi reunia y defendia a su pueblo (Foster. no seres divinos" (Turner. 141). pero cuando esta ciudad cayo en man os de los seguidores del Islam. Los indigenas mesoamericanos utilizaban ampliamente imagenes de sus divinidades en sus ritos. 1979). Aguirre Beltran. 1994). Dow. pero se senalaba que debian de ser veneradas. con caracteristicas humanas. Esta estrategia volvi6 a brindar excelentes resultados en la Nueva Espana. 1977. ya que la labar de la conversion era gigantesca y todas las herramientas disponibles para lograrla fueron utilizadas (Lafaye. Fray Bernardino de Sahagun manifesto sus dudas sobre la utilidad de sustituir a la diosa azteca Tonantzin por la Virgen de Guadalupe. cuyos dioses nativos fueron reemplazados por las imagenes sagradas. convirtiendose en duenos de la lluvia. 1986). Simbolicamente fue un auxiliar de la reconquista hispanic a contra los moros. Uno de los mas importantes fue Compostela en Espana. de tanto las bestias salvajes como de los domestieos. se peregrinaba a Jerusalen. 1974. segun las representaciones donde aparece como una figura . Sin embargo.138 carlos garma navarro y redentora cruz y las imagenes sacras y veneradas podrian ser colocadas adecuadamente en las iglesias cristianas. Asi. Moreno Navarro. el result. 1960. donde se dice segun la tradici6n popular que estan los restos de Santiago Apostol. 1962. 1972. Florescano. incluso llegaron a conformar una parte importante de la identidad local. el idolo cristiano incluso cumplia las mismas funciones que antes tenian las figuras autoctonas. Para algunos de los evangelizadores. mas no adoradas.ado no era una cristianizacion profunda 0 verdadera. Con frecuencia. quien convirtio Iberia al cristianismo. En muchos casos. etc. se crearon gran des santuarios como Chalma. el Tepeyac. No todas las religiones tienen la misma actitud hacia el sincretismo. a este respecto la posicion del protestantismo es mas cercana al judaismo. Gimenez. Como ha sefialado Weber. no obstante 10 cual son consideradas popularmente como indigenas (Garma y Shadow. pero que aun presentaban multiples rasgos hispanicos. En casi todos los sitios. como en el caso de los hebreos y musulmanes frente a pueblos idolatras. De esta manera. EI movimiento sincretico mas importante del protestantismo se daria siglos despues de la Reforma y lejos de Europa. algunos de sus rituales se convervaron bt . se llevaban a cabo danzas. el afan por distinguirse de los cultos de los vecinos y competidores religiosos. Una vez mas. Los esclavos negros traidos a America fueron cristianizados violentamente y sus religiones propias fueron desarticuladas. el protestantismo es mucho mas rigido hacia las practicas sincreticas. ya que en las religiones mesoamericanas tambien se peregrinaba a centros espirituales para entrar en contacto con 10 sagrado. 1994. aunque sus autoridades eclesiasticas pueden desautorizar 10 que consideran como excesos. EI racionalismo que esta implicado en los ritos severos y austeros de las primeras iglesias protestantes se difundia como norma hacia sus adeptos. Bajo el catolicismo. Turner. Se deda que Santiago aparecio en las batallas de los conquistadores contra los indigenas. Por otra parte. simplemente sustituyendo una imagen cristiana por la pagana y construyendo sobre el antiguo recinto hierofanico. Dentro de ciertos limites. el catolicismo es tolerante hacia el sincretismo. 1978. como sucedio con los jesuitas en China. EI sistema de peregrinaciones catolicas a santuarios paso con facilidad a America. lIevo el protestantismo a adoptar una posicion iconoclasta que fustigaba el uso de las imagenes y ritos relacionados con ellos. Ocotlan. 1985). Warman. pero reorientadas hacia la nueva religion impuesta. el santuario prehispanico fue convertido en catolico. Es notable que en los relatos la Virgen Maria se Ie presenta a personas "humildes" como son los "indios". ya consideradas como autoctonas. op. 1985.. EI contexto es una vez mas el dominic de una civilizacion sobre otra. condenando ambos severamente a la idolatria.catolicismo y protestantino comparados 139 guerrera. con una espada en una mafio y montado sobre un corcel blanco. Asi se conservaron muchas de las tradiciones locales. y ademas en much as fiestas rituales. Imagenes y procesiones fueron duramente criticados por los fundadores de las agrupaciones protestantes como parte de los excesos del catolicismo. cit. a favor de los primeros. . tiene una amplia membreda entre la c1ase media de origen europeo. Greenfield y Droogers. Seymour predicaba que eI Espiritu llegaba por igual a todas las personas. particularmente en Cuba y Brasil (Bastide. Predicaba que todo creyente podia Tecibir los dones del Espiritu Santo. Seymour fundarfa la primera Iglesia pentecostal.140 I carlos garma navarro en forma sincretica. poderes de profecia y sanacion. el grupo pentecostal mas grande de EE. llamado Charles Parham. incluso en areas conservadoras del sur de los Estados Unidos. 2001). 1994). estos son hablar en lengua. el pentecostalismo. EI pentecostalismo se ha arraigado en zonas indigenas y areas urbanas marginadas. California en 1906 (Hollenweiger. ver Garma. 1994). 4 Las iglesias protestantes mas grandes de Latinoamerica son precisamente las pentecostales. Esto no es sorprendente. las Asambleas de Dios. recibio el mensaje del Espiritu Santo de un predicador blanco metodista. 1994). Gaxiola. un numero mayor de seguidores blancos se fueron incorporando al pentecostalismo. Cuando surgieron las primeras iglesias pentecostales eran consideradas solo aptas para negros y personas marginales. 0 glosolalia. UU. y las asociaciones religiosas minoritarias no evangelicas. renovando completamente la escenificacion de la alabanza evangelica (Garma 2000. muchas partes de Mexico tuvieron una poblacion negra durante diversos perio" Para una tipologia que marca con mayor profundidad las diferencias entre las iglesias protestantes denominacionales. Cox. ya que una religion con orfgenes sincreticos puede abrirse con facilidad al mismo proceso otra vez y asf difundirse mas ampliamente en sectores populares. predicador afro-americano nacido en Tejas. la Azuza Street Mission en Los Angeles. con elementos de clara influencia cultural afro-americana pero ya protestante en su formacion.UU. como el bautismo por inversion en el agua al nuevo creyente. que enfatizaron ritos emotivos. Ademas. En los EE. Entre sus primeros convers~s de otros sectores sociales estuvieron braceros mexicanos (Garma. Los rituales pentecostales destacaban la posesion del adepto por el Espiritu Santo. el canto y el baile se volvieron parte esencial del ceremonial pentecostal. 1969. la poblacion negra fue convertida al protestantismo y primordialmente a las iglesias bautistas y metodistas. 2004. 1976. Actualmente algunas de las iglesias pentecostales norteamericanas tienen numerosos miembros de distintos grupos etnicos. EI resultado era una religiosidad negra. hecho que ocurria durante un estado de trance acentuado. EI uso de la musica. Poco a poco. William Seymour. 1988 y 2004. Asi. Gaxiola. quienes desempeiian puestos de autoridad dentro de las estructuras religiosas eclesiales. 1977.). EI pentecostalismo presenta afinidad con creen· cias populares iberoamericanas relacionadas con el poder sobrenatural y la posiblidad del milagro. La dicotomia entre iglesia institucional y religiosidad popular ha sido expresada de diversas maneras por diferentes autores que la han nombrado con varios terminos. la religiosidad de las capas privilegiadas y los sectores negativamente privilegiadas segun Max Weber (Gramsci citado en Portelli. No todos los credos han actuado de la misma forma ante la religiosidad popular. Ellos deben decidir sobre las normas y reglas mas acordes para los seguidores y conformar los dogmas y creencias que deben seguir los adeptos. llegamos al tema de la religiosidad popular. ibid. La iglesia de los intelectuales y de los simples segun Gramsci. 1996). 2007). enfatizando la participacion activa del creyente en su culto y ritual. EI resultado es un nuevo proceso sincretico donde elementos indigenas 0 mestizos se mezclan con una religiosidad protestante aun con rasgos afro-americanos que confluyen en la creencia de milagros sobrenaturales. EI pentecostalismo en muchos casos sustituye al brujo por el predicador que sana y. La uniformidad en las normas no es enfatizada. Redfield. la gran tradicion y la pequeiia tradicion segun Redfield. Inevitablemente. Su fundamentacion suele ser teologica. que tambien ha sido estudiada desde diversos enfoques (Martin. Numerosos auto res han seiialado la existencia de una iglesia institucionalizada compuesta por una jerarquia hierocnitica y la clereda. Canton. Es parte de la produccion cultural de los sectores y grupos subalternos de la sociedad (Parker. y el sentido de la religion se da alrededor de la busqueda de fines validos para la vida cotidiana y no hacia la existencia sobrenatural despues de la muerte. 2001). 1987.obra milagros por sus oraciones.catolicismo y protestantino comparados 141 dos historicos (Aguirre Beltnin. 1972) y los rasgos culturales que dejaron pueden todavia recuperarse. Elliderazgo del aparato eclesial esta en las manos de las autoridades .Muchos adeptos pasan al pentecostalismo despues de que un miembro de la familia ha recibido un milagro libnindolo de una enfermedad "incurable" 0 mortal. que probablemente escandalizarian a Martin Lutero y Juan Calvino (Garma. Pero por otra parte. existen los estratos populares que mantienen una vision del mundo diferente. Weber. Los rituales de curacion que destacaban la necesidad de la intervencion del shaman 0 hechicero ante la comunidad para aliviar al enfermo forman parte de muchas religiones indigenas (Greenfield y Droogers. 1999). 1960. Este poder no es compartido con la religiosidad popular. Lanternari. Puesto que los escogidos seran s610 unos cuantos. pero en todos los casos dicho simbolo es el mismo. Jesucristo. no hay necesidad de aceptar la heterodoxia entre los elegidos. Las diferencias se pueden resolver mas facilmente por medio de la escisi6n y formaci6n de nuevos grupos religiosos que por la coexistencia de diferentes tradiciones. en la epistola a los roman os. mas no son considerados como sacerdotes investidos (Gruzinski. Turner y Turner. cit. Al ser una religi6n universalista. 1988.). Esto 10 comprendi6 el papa Gregorio Primero al promover la evangelizaci6n de Europa Occidental en el siglo sexto y al aceptar el sincretismo en los pueblos convertidos. Tambien 10 comprendi6 Pablo el Ap6stol. Ha permitido el desarollo de practicas y creencias de grupos subordinados cuando no ponen en jaque el poder establecido. 2002). ibid. Se reconoce que los simbolos religiosos son los mismos aun cuando las interpretaciones de sus significados no 10 son. La tolerancia hacia diferentes visiones del mundo al interior de su mismo credo en el catolicismo contrasta con su rechazo de las diferencias religiosas fuera de su seno. para un campesino. Asi. 1978). el protestantismo ha mostrado una tendencia opuesta respecto a la tolerancia de la religiosidad popular. aun cuando no Ie son reconocidos sus dirigentes propios a la religiosidad popular. solo el significado es diferente (Turner. al aceptar las formas de vida de los gentiles y no exigirles la adopci6n de la ley hebraica. las iglesias protestantes no tienen necesidad de mantener a su interior gran des diferencias en la interpretaci6n del mundo segun sus adeptos. la Iglesia Cat61ica ha tenidogran exito en mantener unidos a la religiosidad oficialista de la clereda y aquella de los estratos populares. para el Papa. Sus lideres con frecuencia son llamados hechiceros y brujos (especialmente si son aut6ctonos).142 carlos garma navarro clericales reconocidas. Como ha sej\alado acertadamente Gramsci (op. La pastoral de la inculturaci6n forma parte de este proyecto humanista mas tolerante de las diferencias entre los pueblos (Marzal. muchas iglesias protestantes comenzaron como sectas minoritarias que se separaban de una agrupaci6n . san Isidoro son diferentes para el sacerdote.). 1996. Sin embargo. Al no ser religiones universalistas. La Virgen Maria. esta puede ser ampliamente tolerada para evitar la separaci6n de los fieles. 1994). En cambio. La aceptaci6n de la religiosidad popular es una tradici6n de la religi6n cat61ica que podria y debia de ser recuperada en un sentido amplio (Parker. el catolicismo debia de aceptar las diferencias a su interior para abrirse a un mayor numero de pueblos. catolicismo y protestantino comparados 143 religiosa mas antigua a raiz de las diferencias en las interpretaciones del credo y de las norm as aceptadas por la mayoria de los miembros de la agrupaci6n matriz (Wilson, 1969; Yinger, 1966). Las nuevas agrupaciones pueden arraigarse particularmente en sectores sociales que no estan representados en la estructura tradicional de las iglesias ya establecidas, y que como tales pueden encontrar una via para expresarse a traves de los nuevos cultos religiosos. Un caso muy estudiado podra servirnos de ejemplo. El anglicanismo al posicionarse en la religi6n oficial de la monarquia inglesa, se volvi6 una instituci6n fastuosa y opulenta. Para algunos de sus miembros, estaba traicionando sus origenes al asemejarse cada vez mas a la riqueza del papado romano y cat61ico. John Wesley fund6 un movimiento para volver la Iglesia Anglicana a una espiritualidad mas austera. Todayia a su muerte en 1791, no era su intenci6n fundar una iglesia nueva. Sin embargo, su mensaje de reforma se difundi6 ampliamente entre la clase obrera inglesa. Los adeptos se autodenominaron "los metodistas primitivos" y lleyaron al cabo la separaci6n de la nueva agrupaci6n del anglicanismo, que para ellos ya era una iglesia de las clases encumbradas. El metodismo se volyi6 el culto predominante de los obreros de Inglaterra durante la Revoluci6n Industrial. Posteriormente, se difundiria ampliamente en las zonas rurales del oeste y sur de los Estados Unidos entre granjeros y trabajadores agricolas que encontraron una respuesta a sus duras condiciones de vida en la erica rigurosa de esta denominaci6n. El contacto del metodismo con la poblaci6n negra de estas regiones produciria otra escisi6n, el pentecostalismo; siendo esta nueva religi6n, como hemos seiialado anteriormente, mas adaptado a las necesidades de este sector social discriminado (Herberg, 1964; Hobsbawm, 1974; Martin, 1991; Pike, 1986). La fragmentaci6n y 1a divisi6n es un elemento que ha persistido en el protestantismo hasta nuestros dias. Por una parte ha auxiliado el crecimiento de numerosas iglesias, ya que ha permitido 1a creaci6n constante de nuevos templos y denominaciones. Sin embargo, por otra parte, ha fomentado el surgimiento de barreras y separaciones entre los mismos protestantes, en ocasiones por simples detalles en el credo sin importancia para la mayor parte de la feligresia. En otras ocasiones, las divisiones se dan por readaptar el mensaje religioso a grupos sociales nuevos. La fragmentaci6n de las iglesias protestantes les ha dado mucho mas autonomia a sus templos a nivellocal. No estan sujetos a controles tan rigidos como las parroquias cat61icas. Sin 144 carlos garma navarro embargo, dicha autonomla se ha logrado al precio de un faccionalismo religioso persistente. A grandes rasgos se puede seiialar que cuando la brecha entre iglesia y pueblo es demasaido grande, en el protestantismo el resultado es la escision y la division (Garma, 1987; Martin, 1991). Conclusion Destacaremos brevemente algunos seiialamientos que hem os hecho a 10 largo de este ensayo. La aceptacion de una nueva religion implica tanto al agente religioso (aquI el misionero) como al sujeto social que recibe el mensaje religioso. Esta relacion implica estrategias para difundir el mensaje por parte del agente, pero tambien implica la posiblidad de que el sujeto social escoja (consciente 0 inconscientemente) aquellos elementos novedosos que puedan ser readecuados dentro de su cultura propia. En este sentido, sincretismo y religiosidad popular pueden ser vIas para obtener una situacion mas ventajosa en una relacion de dominio 0 desigualdad. La reelaboracion de los slmbolos permite formas de expresion que pueden recibir un tratamiento especial que varia segun la posicion social de quien observa, juzga 0 participa. No es la finalidad de este ensayo encontrar una superioridad de la evangelizacion catolica colonial sobre la experiencia misional protestante 0 viceversa. Ambas pertenecen a coyunturas y contextos sociales disfmiles. Pueden ser comparadas, sin embargo, en cuanto que ambas ofrecen de formas diferentes ciertas posibilidades a sus miembros recien integrados para encontrar una posicion y un sentido dentro de la religion. El catolicismo a traves del sincretismo y religiosidad popular que es tolerada dentro de ciertos limites en la misma iglesia. El protestantismo permite a SU vez, un clero nativo y autonomia local, pero es mucho mas rigido hacia la aceptacion de creencias y ritos heterodoxos. Podemos resumir esto a traves del siguente cuadro: Evangelizacion Catolica Colonial Protestantismo Misional Rechazo a una clerecia nativa Aceptacion de una derecia nativa Abandono del usa amplio de lenguas indigenas Amplio uso de las lenguas nativas Aceptacion del sincretismo bajo limites, mante- Rechazo del sincretismo, excepto por media de niendolo dentro de 1a Iglesia la creacion de nuevas iglesias Aceptaci6n de la religiosidad popular bajo Iimi- Las expresiones de religiosidad popular de distes, manteniendolo dentro de la Iglesia - tintos sectores sociales con frecuencia ocasionan la creacion de nuevas agrupaciones catolicismo y protestantino comparados I 145 Como en todo modelo dicotomico generalizado, existen formas intermedias que aqui no estan esbozadas. No se trata de polos mutuamente excluyentes. La posibilidad de proyectos ecumenicos que fomentan una estrategia liberadora para la humanidad que podria retomar las expresiones mas dignas de los grandes credos religiosos, aceptando tanto la tolerancia como la autonomia, se mantiene como un reto al futuro. Referendas AGUIRRE BELTRAN, Gonzalo. La poblaci6n negra en Mexico. Mexico: Fondo de Cultura Economica, 1972. -. Medicina y magia. Mexico: Instituto Nacional Indigenista, 1980. - . Lenguas verndculas, su usa y desuso en La ensefianza, fa experiencia de Mexico. Mexico: Ediciones de la Casa Chata, 1983. - . Zongolica: encuentro de dioses y santos patrones. Xalapa: Universidad Veracruzana, 1986. AI CAMP, Roderic. Cruce de espadas, politica y religion en Mexico. Mexico: Siglo XXI, 1998. BAILEY, Kenneth. Southern White Protestantism in the Twentieth Century. New York: Harper and Row Publishers, 1968. BALANDIER, George. Teoria de la descolonizacion. Buenos Aires: liempo Contemporaneo, 1973. BASTIAN, Jean Pierre. Protestantismo y sociedad en Mexico. Mexico: CUPSA, 1983. - . Protestantism os y modernidad latinoamericana, historia de unas minorias religiosas activas en America Latina. Mexico: Fondo de Cultura Economica, 1994. BASTIDE, Roger. EI pro;imo y el extrano. Buenos Aires: Amorrortu, 1973. BENEDICT, Ruth. EI crisantemo y la espada. Madrid: Alianza, 1969. BOFF, Leonardo. Los silencios reveWores de Benedido XVI. In: <www.servicioskoi nonia.orglboffl>, accesado 16 de mayo, 2007. BOKENOTTER, Thomas. A Concise History of the Catholic Church. New York: Doubleday Image, 1979. BONFIL, Guillermo. Pensar nuestra cultura. Mexico: Alianza, 1991. EATH, Shirley. La politica de lengua;e en Mexico, de La colonia a la nacion. Mexico: Instituto Nacional Indigenista, 1977. CANT6N, Manuela. Bautizados en fuego: protestantes, discursos de conversion y politica en Guatemala (1989-1993). La Antigua, Guatemala: Centro de Investigaciones Regionales de Mesoamerica, 1998. CANT6N, Manuela. La razon hechizada: teorias antropol6gicas de la religion. Barcelona: Ariel, 2001. I J 146 carlos garma navarro CARO BAROJA, Julio. Religion, visiones del mundo, clases sociales y honor durante los siglos XVI y XVII en Espana. In: PIIT RIVERS, Julian & PERISTANY, J., (coord.). Honor y gracia. Madrid: Alianza Universidad, 1993, pp. 124-39. CORTEN, Andre & MARY, Andre (coord.). Imaginaires politiques et pentecotismes: Afrique-Amerique Latine. Paris: Karthala, 2000. COX, Harvey. Fire From Heaven; the Rise of Pentecostal Spirituality and the Reshaping of Religion in the Twenty First Century. New York: Addison Wesley, 1994. DOW, James. Santos y supervivencias. Mexico: Instituto Nacional Indigenista, 1974. FLORESCANO, Enrique. Memoria mexicana. Mexico: Editorial Joaquin Mortiz, 1987. FOSTER, George. Cultura y conquista, la herencia espanola de America. Xalapa: Universidad Veracruzana, 1962. FRAZER, James. La rama dorada. Mexico: Fondo de Cultura Economica, 1962. GAIGNEBET, Claude. EI camaval: ensayos de mitologia popular. Barcelona: Alta Fulla, 1984. GARMA, Carlos. Protestantismo en una comunidad totonaca de Puebla. Mexico: Instituto Nacional Indigenista, 1987. -. Los estudios antropologicos sobre el protestantismo en Mexico. Iztapalapa, Ano 8, No. 15, 1988. -. Del himnario a la industria de la alabanza: un estudio sobre la transformacion de la mllsica religiosa. Ciencias Sociales y Religion, Ano 2, No.2, 2000, pp.63-85. -. Buscando el espiritu: pentecostalismo en Iztapalapa y la ciudad de Mexico. Mexico: Universidad Autonoma Metropolitana - Plaza y Valdes, 2004. GARMA, Carlos & SHADOW, Robert. Las peregrinaciones religiosas: una aproximacion. Mexico: Universidad Autonoma Metropolitana, 1994. GAXIOLA, Manuel. La serpiente y la paloma. Segunda edicion, corregida y aumentada. Mexico: Pyros, 1994. GIMENEZ, Gilberto. Cultura popular y religion en el Anahuac. Mexico: Centro de Estudios Ecumenicos, 1982. GREENFIELD, Sidney & DROOGERS, Andre. Reinventing Religions: Syncretism and Transformation in Africa and the Americas. Maryland: Rowman and Littlefield Publishers, 200l. GRUZINSKI, Serge. La eolonizaeion de 10 imaginario: soeiedades indigenas y oceidentalizacion. Mexico: Fondo de Cultura Economica, 1994. HEBERG, William. Catolieos, protestantes y judios. Mexico: Editorial Limusa, 1964. HOBSBAWM, Eric. Rebeldes primitivos. Barcelona: Ariel, 1974. HOLLENWEGER, Walter. EI penteeostalismo. Buenos Aires: La Aurora, 1976. catolicismo y protestantino comparados 147 JACKSON, Jean. Traducciones competitivas del Evangelio en el Vaupes, Colombia. America Indigena, Ano XLIV, Vol. XLIV, No.1, 1984. LAFAYE, Jacques. Quetzalcoatl y Guadalupe. Mexico: Fondo de Cultura Economica, 1977. LANTERNARI, Vittorio. Occidente y Tercer Mundo. Buenos Aires: Siglo XXI, 1974. LIs6N TOLOSANA, Carmelo. Brujeria, estructura social y simbolismo en Galicia. Madrid: Akal, 1979. MARTIN, David. Tonques of Fire: The Explosion of Protestantism in Latin America. Oxford, United Kingdom: Blackwell, 1991. MARTiN, Eloisa. Aportes al concepto de religiosidad popular. In: CAROZZI, Marfa Julia & CERIANI, Cesar (coord.). Ciencias sociales y religion en America Latina, perspectivas en debate. Buenos Aires: Biblos, 2007, pp. 61-86. MARZAL, Manuel. EI sincretismo iberoamericano. Lima: Pontificia Universidad Catolica,1985. -. Tierra encantada, tratado de antropologia religiosa de America Latina. Madrid: Pontificia Universidad Catolica del Peru-Editorial Trotta, 2002. MOORE, Thomas. EI ILV Y una tribu recien encontrada, la experiencia Amarakaeri. Amercia Indigena, Ano XLIV, Vol. XLIV, No.1, 1984. MORENO NAVARRO, Isidoro. Propiedad, clases sociales y hermandades en la Baja Andalucfa. Madrid: Siglo XXI, 1972. PARKER, Cristiano Otra logica en America Latina, religion popular y modernizacion capitalista. Santiago de Chile: Fondo de Cultura Economica, 1996. PIKE ROYSTIN. Diccionario de religiones. Mexico: Fondo de Cultura Economica, 1986. PHELAN, John. EI reino milenario de los franciscanos en el Nuevo Mundo. Mexico: Universidad Nacional Autonoma de Mexico, 1972. PORTELLI, Hugues. Gramsci y la cuestion religiosa. Barcelona: Laia, 1977. RAMBO, Lewis. Psicosociologia de La conversion religiosa. Barcelona: Herder, 1996. RIBEIRO, Darcy. Las Americas y la civilizacion. Mexico: Extemporaneos, 1977. RICARD, Robert. La conquista espiritual de Mexico. Mexico: Fondo de Cultura Economica, 1986. REDFIELD, Robert. The Little Community: Peasant Society and Culture. Chicago: University of Chicago Press, 1960. REYES GARCIA, Luis. Pasion y muerte del Cristo Sol. Xalapa: Universidad Veracruzana,I960. -. La represion religiosa en el siglo XVI, la ordenanza de 1539. Civilizacion. configuraciones de la diversidad, No.1, Universidad Autonoma Metropolitana,1983. SAHLINS, Marshall. Islas de historia. Barcelona: Gedisa, 1988. SALAMONE, Frank & ADAMS, Walter (coord.). Explorations in Anthropology and Theology. New York: Universiry Press of America, 1997. 148 carlos garma navarro STOLL, David. Is Latin America Turning Protestant? The Politics of Evangelical Growth. Berkeley: University of California Press, 1990. TURNER, Victor. El proceso ritual. Madrid: Taurus, 1988. TURNER, Victor & TURNER, Edith. Image and Pilgrimage in Christian Culture. New York: Columbia University Press, 1978. WARMAN, Arturo. La danza de moros y cristianos. Mexico: Instituto Nacional de Antropologfa e Historia, 1985. WEBER, Max. Economfa y soeiedad. Mexico: Fondo de Cultura Econ6mica, 1984. WILSON, Bryan. La religion en la soeiedad. Barcelona: Nueva Colecci6n Labor,1969. YINGER, Milton. Soeiology Looks at Religion. New York: Macmillan, 1966. ZAVALA, Silvio & MIRANDA, Jose. Instituciones indfgenas en la Colonia. In: La polftica indigenista en Mexico. Metodos y resultados. Mexico: Instituto Nacional Indigenista, 1981. • 0 conteudo e a difusao de cren\.. pode ler-se como atributo do sujeito. Onde pode ser encontrada a Africa na na~ao? Qual e 0 seu lugar na forma~ao nacional? Como foi processado 0 elemento africano na constru~ao de cada sociedade nacional ao longo do tempo? Como as tradi~oes africanas adentraram seu caminho na historia? Nao hi como falar da Africa no Novo Mundo sem localizi-Ia na equa\. . pois. 0 lugar da Africa e 0 lugar da ra\... b. isto e.. oa expressao inglesa. ja que joga com 0 dupla significado da palavra "subject": sujeito e assunto . sem contemplar a variedade de opera\.Capitulo 5· A MONOCROMIA' DO MITO.ao da Na~ao.a nas na~oes do Novo Mundo permeiam-se mutuamente em uma complexa articulac.------------------------ .oes continentais e empaises especificos. nao hi como falar sobre a participa~ao da Africa onde quer que se tenha assentado apos a escravidao. a icrelevancia da cor. Nao hi Africa no Novo Mundo sem a dupla hifeniz~ao que sinaliza sua inser\. do mita ou do tema do qual 0 mita trata: "'The color-blind subjetc of myth".ao em subse\..as e praticas culturais.oes cognitivas de discrimina~ao e exclusao que fundimos sob 0 termo comum "racismo" .ao extremamente dificil U 1 0 titulo original em ingies cantem uma ambiguidade intraduzivel ao portugues.. A civiliza<. OU ONDEACHARA AFRICA NA NA~AO RITA LAURA SEGATO Localizando a influencia rn exame da Africa no Novo Mundo e a influencia de suas tradi~oes deve considerar mais que apenas a forma. 0 adjetivo "cegueira para cor"..... Deve tam bern examinar a sua localiza~ao e recep~ao.. De modo semelhante.ao africana e a negritude se atravessam... 2005. que "nao existia previamente": "Essa ideia de ra~a foi tao profunda e continuamente imposta nos seculos seguintes e sobre 0 conjunto da especie que. ou quando e 0 caso de apoiar a cor com algum conteudo cultural comum. conteudo e difusao. e que estas categorias classificatorias.a" e erioil "cor" a significa\3. e. ficou associada nao somente a materialidade das rela~6es sociais. Se aceitamos a historicidade destes conceitos . Subalternidade. 17).em oposi~ao a sua materialidade . foram inven~6es historicas funcionais as condi~6es da colonialidade e da situa~ao pos-colonial. Numa sintese recente dessa tese. Os sentimentos peculiares que estao na base do racismo em cada caso encontram-se profundamente enraizados nas estruturas de relacionamento desenvolvidas atraves de uma historia nacional particular. talvez pre-rnodernos ou ao menos "hibridos" (Garda Canclini. engajadas em seus processos tradicionais. Anibal Quijano define a "ideia de ra~a" como a "primeira categaria social da modernidade". cor e ra~a . para muitos. Urna observa~ao deste tipo encontra tambern suporte no grupo de autores que vem mostrando para a America Latina que a "colonialidade do poder" erioil "ra<.o social cla COf. longe de se basearem na descri~ao de dados objetivos biologicos ou culturais.150 rita laura segato de desemaranhar. entrincheiradas em suas proprias fronteiras de alteridade. porem enganosa e. quando desvelados. p. infelizmente gente demais. mas nao sao dados objetivos da percep~ao da cor ou de uma unidade preexistente de certos universos culturais.no sentido da racialidade dos nao-brancos na modernidade colonial .para entender a diferen~a da inven~ao de ra~a no universo anglo-saxao e no universo ibero-americano se faz necessaria um exame da percep~ao do lugar da negritude e das tradi~6es africanas no Novo Mundo • rl . neste ponto de vista. atributos da mesma posi~ao social nurn universo assimetrico e constituem conceitos historicos emergentes na modernidade colonial. A ideia de uma Africa comUm.sao. muito tem a dizer acerca da inser~ao dos proprios portadores da cultura africana em cada cenario nacional particular. mas a materialidade das proprias pessoas" (Quijano. verdadeira em muitos casos com rela~ao a forma. 1989) de produ~ao de subjetividade. e parte de meu argumento aqui que esta articula~ao varia de acordo com os contextos nacionais. e atraente e estrategica. ineficiente quando se tenta interpelar com ela pessoas ainda inseridas em seus nichos locais. como a que prop6e Paul Gilroy com sua categoria de um Black Atlantic (1994). acima de tudo. Entretanto. em vez de urn nicho africano discreto e separado. se perce berm os. Estas tres amplas questiies formam o arcabou~o indispensavel dentro do qual e possivel pensar a localiza~ao da Africa nas na~iies do Novo Mnndo hoje. Refiro-me aqui a duas questiies que possuem urn impacto sobre 0 modo como viemos a compreender a insef<. seremos compelidos a considerar caminhos politicos alternativos em dire~ao a uma sociedade livre da discrimina~ao baseada na ra~a. do "mito" latino-americano da miscigena~ao . entao deveremos endossar a no~ao de que somente apos 0 estabelecimento da segrega~ao como 0 ponto zero da "verdade" racial. Por outre lado.a monocromia do mito. a partir da nossa perspectiva latino-americana. Dependendo de qual lado nos posicionemos ao longo dos eixos destas duas questiies. poderiamos iniciar uma verdadeira politica anti-racista e garantir urn lugar legitimo para a presen~a africana em nossos paises. 0 que para nos e relevante aqui. Teremos tambem de lutar por uma nova conscientiza~ao da presen~a difusa da Africa na cultura e na sociedade. seremos obrigados a perceber a diferen~a entre a matriz multicultural dos Estados Unidos. terminaremos por percorrer uma via ou outra. ter a Africa entre a America em urn regime unificado de regras economicas. ou onde achar a africa na n~ao 151 a partir de dois discursos emergentes na literatura. tendo origem de cima ou de baixo. apresentando-nos como vias alternativas para tal entendimento. se decidirmos que 0 mito fundador das na~iies latino-american as e mera fraude. Seria razoavel imaginar se e de fato possivel haver uma diversidacle radical de culturas em urn regime de mercado total ou. a qual ancora politicas de minorias no mito da "ra~a" como etnicidade ou diferen~a cultural substantivada. a segrega~ao. e se apresentarao conforme eu examine a presen~a da Africa dentro das forma~iies nacionais anglo e iberica. Tomarei 0 Brasil e os EUA como exemplos paradigmaticos em minha analise.ao da presen~a africana nos paises deste continente. Estas discussiies sao relevantes porque. I .I i I i I A primeira destas discussiies pode ser sinteticamente assim retratada: 0 ideal declarado da miscigena~ao em paises latino-americanos e urn mito enganoso ou uma utopia legitima? A segunda: as identidades politicas transnacionais emergindo sob as pressiies da globaliza~ao sao realmente representativas das formas de alteridade externas aos centros que ordenam 0 processo da sua difusao? A estas duas questiies. em primeiro lugar. Qualquer que seja a escolha que fizermos. como uma distopia da sociabilidade. uma terceira preocupa~ao que abrange as duas deve ser adicionada. se acreditamos que somente sao validas as experiencias de alteridade que possam ser traduzidas em politicas de identidade. Autores contemporaneos niio apenas contestam as pressuposi~6es do deter- . a defender a diversidade nas solu~6es human as. como cQntribui~iio original a ser tomada em conta (Hellwig. ja que vivemos em uma epoca em que 0 quadro da na~ao e desprezado e declarado negligivel enquanto variave! em urn mundo representado eufemisticamente como "globalizado". Finalmente. na qual 0 "modelo" brasileiro. Williams. Esta ultima questiio e provave!mente a mais decisiva no que diz respeito a Africa. 1996). 1992). estaremos prontos a aceitar que uma variedade de maneiras tradicionais de intera~iio ao longo das fronteiras da ra~a podem ser descartadas sem custo. Esta gera~iio de estudos chegou para contradizer e rejeitar as vis6es de uma gera~iio previa. por exemplo. a expo-las. para ser sucinta. Entretanto. Enquanto antropologa sou compelida. Todavia.152 rita laura segato e sua denunciada oblitera~iio do pluralismo. se assumirmos a posi~iio de que nenhuma Africa e possive! denteo de urn regime pleno de mercado. 0 meu dilema aqui e de como introduzir a na~iio na luta por direitos africanoslraciais. somente dentro do marco da forma~iio nacional enquanto matriz idiossincratica de produ~iio e organiza~iio da alteridade interior da na~iio seria possive! avaliar 0 destino da contribui~iio africana e 0 significado da negritude em todo 0 contexto do Novo Mundo. etica e teoricamente. o mito norte-americano da separa~o e seus criticos Em anos recentes. a ra~a e as politicas no Novo Mundo. com tadas as suas deriva~6es. Meu argumento aqui e que. teremos de questionar nossas certezas re!ativas ao valor das politicas de identidade em urn mundo global. era entendido como uma alternativa e. neste sentido. e a exigir reconhecimento de respeito por e!as. surgiram algumas publica~6es de autores norte-americanos avaliando a situa~iio da popula~ao africano-americana no Brasil em compara~iio ados EUA. Em segundo lugar. podemos escolher niio acreditar nisso e permanecer fieis a ideia de que ha mais de uma modalidade de produ~iio de uma subjeti vidade re!acionada a Africa e mais de uma estrategia para defender sua reprodu~iio no Novo Mundo. Poderia ate mesmo dizer que minhas dificuldades siio de uma magnitude maior. baseado na ideia da miscigena~iio. se em outros casos 0 dilema moral tern sido 0 de como introduzir 0 genero no quadro das lealdades raciais (ver. Andrews. em vez de unificada e disputada (1996a) tern sido fortemente contestada a partir do Brasil (Fry. 1979 e n. mas tambem recusam a ideia de urn "mulato como valvula de escape" (inicialmente formulada por Degler. 1992. seleciono do argumento de Hanchard as partes que melhor revelam minhas discrepancias com a posi~ao que representa.d. 1992. 1995a e 1995b. Hasenbelg. 1994. embora nao exclusivamente. au onde achar a africa na na~ao 153 minismo economico e a preeminencia da classe para explicar a exclusao no Brasil (ver. 1994 e Hanchard. por exemplo. Alem de Howard Winant (1994). 1978.a monocromia do mito. ou. p. tomando as ultimas como modelo (ver especialmente Gillian. a ler a cena brasileira a partir da perspectiva e da experiencia norte-americanas. por exemplo. 1971). os Estados Unidos sao urn padrao perante 0 qual outras formas de organiza~ao social americanas sao julgadas quanto a questao das rela~6es raciais. e ele tern se engajado nesta polemica ja hi algum tempo (Hanchard. 1990. 1994. 83). Skidmore. 1996b. mais precisamente. brasileiros (ver. Valle Silva & Hasenbalg. Hanchard lamenta 0 fato de que nao existiu no Brasil nenhuma igreja crista dividida racialmente. portanto que fonte de insights poderia ter maior impacto senao as observa~6es dos pr6prios africano-norte-americanos?". 1996. que sugeriria a miscigena~ao como urn caminho para a ascensao social. 1991. como em geral se argumenta. 1996).o como urn "mita".J b . Rodesia pre-Zimbabue ou EUA (Hanchard. no sentido preciso de uma representa~ao enganosa empregada para preservar a falsa no~ao de uma de- mocracia racial brasileira. 1994) e sua proposta de uma esfera publica dividida e abertamente racializada. Dzidzienyo. 1994). nas modalidades conhecidas na Africa do Sui.. Winant. com sua proposta de uma "forma~ao racial". 1969). Em acordo com sua perspectiva. Se urn grupo de academicos especialmente. 1955. as criticas de Nogueira. Suas observa~6es sobre as poHticas raciais no Brasil (1993. estudiosos norte-americanos tern cad a vez mais se inclinado a focalizar em uma compara~ao da situa~ao brasileira com ados Estados Unidos. talvez 0 autor mais representativo deste segundo grupo seja Michael Hanchard. e a cole~ao de ensaios editada por Fontaine. Para tornar minha argumenta~ao rna is clara.. entre outros. 1971.Nascimento. Winant.. na qual a ra~a e urn fato naturalizado que atravessa fronteiras contextuais. "[ . diz Hanchard. Particularmente revelador neste aspecto e a resenha de Anani Dzidzienyo apresentada na contracapa do livro de Hellwig (1992): "Se. Barrios. 1985) contribuiram para rejeitar criticamente a miscigena<. 1996c). Fernandes.3. "Os afro-brasileiros". ao a cena nacional de sua pesquisa. ele demonstra uma completa falta de sensibilidade etnografica em rela<.oes culturais afrobrasileiras de urn modo geral. portanto. e a organiza~ao religiosa do Candomble nao deve ser considerada como tal (1994. 1991. poderia ser 0 conteudo do "processo cultural" ou a "cultura de urn processo profunda mente politico" aos quais ele se refere. porque deveria ele negar tao insistentemente as idiossincrasias da historia negra brasileira e suas estrategias. 1997).154 rita laura segato nao desenvolveram institui~oes paralelas" como as que os afro-norte-americanos desenvolveram. Alem dis so. Ao considerar os Quilombos como fatos do passado. A concep~ao de "cultura" de Hanchard nao difere muito do proprio "culturalismo" que ele rejeita. Isto esta bern em acordo com sua rejei~ao das institui<. E permanecemos especulando sobre 0 que. uma agenda estrategica de interesses privativos do grupo. Hanchard nao toma em considera~ao uma linhagem de analistas sociais que tern repetidamente enfatizado as dualidades do sistema normativo brasileiro. Enquanto critica aquilo que percebe como perspectiva "culturalista" dos lideres do Movimento tNegro Brasileiro em detrimento de uma real imersao em urn "processo cultural" . Soares. estrategias e objetivos afro-norte-americanos. 1988. urn tipo de olhar lan"ado a uma ja perdida Euridice que decidiu a morte de Orfeu no mito grego. reduzindo 0 problema inteiro ao desenvolvimento da esfera publica. 0 qual combina padroes civis modernos com principios relacionais pre-modernos (da Matta. como sugere Hanchard. que se oponha a articula~oes publicas seja de consentimento ou de obediencia material a atores dominantes em uma dada sociedade" (1994. 1996). Carvalho. 1996. 0 que nos leva a indagar.Hanchard afirma que "[. Recusando as religioes afro-brasileiras 0 status de institui~oes africanas. p.. Somos tambem levados a suspeitar que a principal proposi~ao da tese seria a simples transferencia para 0 Brasil dos slogans. 18).. 71). neste caso. estes valorizem . 7 j . 0 problema com os lideres do movimento afro-brasileiro nao reside em que. p. as quais me referi anteriormente. E tambem sugerido que encarar os quilombos (comunidades de descendentes de escravos fugitivos) ou outras institui~oes tradicionais africanas como uma fonte de referencia e for~a e urn "olhar para mis" (164ff). 0 autor grosseiramente desconsidera a crescente batalha contemporanea das popula~oes brasileiras quilombolas por seu direito a terra (Leite. J muitos trabalhadores pobres nao possuem urn subtexto proprio (hidden transcript) "[ ••• J quer dizer. Em termos mais radicais. incapazes de ouvir as vozes inspiradoras que neles ressoam. nos tornarmos capazes de entender."apropria~ao" da cultura. que tern sido indicada com base em diversos pontos de vista. ou onde achar a africa na na. que descreveu essa estrategia como "uma ordem" do branco com a qual 0 negro poderia estar inadvertidamente aquiescendo. Eurn subtexto diferente do que tern os negros norte-americanos. Nao se trata de citar aqui urn argumento desse tipo para negar a importancia da luta pela igualdade racial e 0 desmonte do racismo. por Anthony Appiah (1990b. 1992. em seus proprios termos. nao esta na re. nem muito menos de tomar inviaveis as a~6es afirmativas de promo~ao daqueles que. Uma critica a premissa essencialista no entendimento da etnicidade foi formulada por Michael Fischer (1986). 0 que as vozes nele inscritas vern dizendo ao longo da historia. Em outras palavras. A questao. mas. b . mas procurar 0 que esta codificado neles e onde neles se poderia encontrar uma estrategia poHtica plausfvel. gostaria de chamar a aten~ao para a debilidade da modalidade separatista de contesta~ao na poHtica negra.a monocromia do mito. e as conseqiiencias discutfveis da injun~ao essencialista sobre o tema foram convincentemente argumentadas. que os valorizem de menos. Mas sim de conceber essas poHticas com a clareza necessaria a respeito do contexto nacional e historico em que se formulam e se implantam. em urn esfor~o de contrabalan~ar a apropria~ao constante de sfmbolos africanos por toda a na~ao brasileira e sua conseqiiente nulifica~ao para uma identidade poHtica (Hanchard. 1994). por exemplo. os perigos da segrega~ao enquanto estrategia polftica foram expostos por Gerhard Kubik (1994). no entanto. 1993. apos aceitarmos que existe urn poderoso texto afro-brasileiro. a hegemonia do Estado. Os sfmbolos nao constituem uma emissao ornamental epifenomenica. E 0 branco quem racializa. em urn novo ato de canibalismo. sofrem e sofreram desvantagens historic as. antes de passar a esse ponto. 59). Como diz Hanchard.. creio eu. mas. e me referirei a esta diferen~a abaixo. "politizando-os".ao 155 demais os sfmbolos culturais afro-brasileiros. Em suma. mediantee urn ato honesto de "escuta" e dialogo etnografico. a cultura tern sido tomada nao mais do que de uma forma emblematic a. Entretanto. como conseqiiencia dos seus tra~os raciais. eles transmitem valores. urn "subtexto" privativo e exatamente 0 que os trabalhadores negros pobres possuem no Brasil. escolhas e uma filosofia expressa metaforicamente que quase sempre contradizem. 0 lance nao deveria ser de "infundir" novos significados nos emblemas. p. Sollors. pp. 1979). Tudo isso sem mesmo se dirigir it questao acerca de se ha ou nao "embranquecimento" nos Estados Unidos. Homi Bhabha critica uma ideia inerte e morta de '~diversidade" .em oposi~ao a uma produ~ao da diferen~a dialogic a e. nomeou de "etnicidade simbolica" a redu~ao de caracteristicas etnicas a uma fun~ao quase meramente emblematica na cena narre-americana moderna. por necessidade.156 . mas e quase inteiramente destituida de conteudo (nos Estados Unidos. lan~am uma luz interessante sobre essa questao). p. 55-6. ja que. 1997b). Mohanty. 1997) ou pela interpela~ao do proprio Estado nacional. e ainda possivel questionar 0 obvio e exemplar "descoloramento" cosmetico dos artistas da Black Entertainment Television . 1997b). a despeito da aparente leal dade it luta "racial" pelos africano-norte-americanos classificados por descendencia. "0 conteudo cultural da etnicidade [. acerca da revista de moda que completa urn ano. 1994.Mais recentemente. Peter McLaren tentou transpassar as no~oes statu quo do . inspirada na publica~ao gemea norte-americana Ebony.nao apenas serve para manter fronteiras em seu lugar. sob as pressoes do processo globalizante conduzido por aqueles mesmos agentes (Gros. mas. em que 0 valor social do cidadao e 0 do consumidor na~ apenas convergem. Ra(a Brasil. 28). a partir de urn conjunto diferente de preocupa~oes. Herbert Gans. 1984). Werner Sollors (1986. p. Outros autores perceberam a imposi~ao de identidades "hiper-reais" ou abstratas a indigenas. 1997a. "hibrida" e vital como estando na base de urn "multiculturalismo liberal anodino" (Bhabha. 1986. Em texeos influentes. algumas vozes manifestaram sobre como urn novo conjunto de representa~oes de identidades emicas transnacionais tern sido induzido pela influencia de agentes rransnacionais (Mato. outros autores apontaram para 0 caniter vazio e artificialmente imposto do regime de etnicidade nos Estados Unidos. tornam-se indistinguiveis do valor social da etnicidade. africano-norre-americanos ou mulheres (Ramos. Je amplamente intercambiavel e raramente autenticado historicamente" . que acaba por ser reduzida ao segundo (discussoes atuais em encontros brasileiros relacionados ao tema afro. 1997a. sobrerudo. em urn ja classico artigo (Gans. Ainda. 1989) enfatizou como a classifica~ao norre-americana de linhagens literarias quanto a emicidade . 1994.i I I rita laura segato As polfticas do multiculturalismo tern tambem sido questionadas por favorecerem identidades enlatadas e comercializaveis e minorias emicas como grupos de consumidores etiquetados (Segato. 34).BET... pp. 1997a e 1997b) dentro de contextos nacionais como resultados de historias nacionais particulares. 78). Os casos paradigmaticos do Brasil e dos Estados Unidos mostram que concep~oes etnicas e modalidades espedficas de exclusao estao profundamente relacionadas. ou onde achar a africa na na. 1994. por outro. 474. eles 0 fazem nas opera~oes cognitivas que implicam. (ver discussao em Goldberg. mas antes enfatizar a significancia das politicas raciais e da "forma~ao da diversidade" especificas (Segato.a monocromia do mito. Apesar de que. acumulado no curso de experiencias hist6ricas diversas. o ponto principal de meu argumento aqui. 1995. p. eles sao baseados em proposi~6es teoricas impHcitas de varios tipos e. 472. racismos nao difiram muito em quantidade ou intensidade. "modificadas e transformadas pela especificidade historica dos J . Finalmente. discernir concep~oes. percep~oes e padroes raciais de discrimina~ao em urn contexto nacional providencianos com fortes indicios sobre 0 lugar e 0 papel designado apresen~a africana naquele contexto. mais bern propiciada em "culturas fronteiri~as" em que uma nova consciencia mesti~a ou subjetividade brie-abrae poderia surgir. que implicaria uma especie de diferen~a no relacionamento. 21). no entanto. como apontou Stuart Hall. nao e meramente descrever os pontos fracos das poHticas raciais nos Estados Unidos. David Hollinger propos uma sociedade multiculturalista p6s-etniea. -1996a. onde lealdades etnicas duplas seriam possiveis e existiria a possibilidade de escolha (Hollinger. 1993. nao seria correto reduzir ra~a a etnicidade. Por urn lado. qui~a. escritores como Stuart Hall e Paul Gilroy temrefor~ado 0 hibridismo como uma qualidade quase sempre silenciada da cultura africana diasporica (Hall. como afirmo. as caracteristicas do racismo sao. o paradigma etnorracial de clma a baixo e ao reves Constru~6es naeionais da ra~a Enquanto as poHticas de minorias hoje apresentam uma tendencia p6snacional globalizada muito influenciada pel a experiencia historica dos africanas norte-americanos. Se. Gilroy..ao i I 157 multiculturalismo sugerindo uma pritica "critica" deste. p. p. como mostrou Kwame Appiah (1990a). 100). em um conhecimento etnico codificado. como argumentaram diversos autores. Racismos e 0 lugar da Africa no Novo Mundo. ao passo que nos Estados Unidos esta ligada a origem (Nogueira. mas.158 rita laura segato contextos e ambientes nos quais se tornam ativas" (Hall. Outras caracterfsticas os posicionam a parte tambem. politicas. E aceito hoje. nos ·Estados Unidos. nao apenas a na~ao nao pode ser desconsiderada como urn marco de referencia para a produ~ao de formas particulares de racismo ao longo do tempo (como ja mostraram muitos autores. . 1974. 1974. negociada e mutavel e deixado permanentemente aberto. Portanto. 0 caminho para a afilia~ao ambfgua. hoje em dia rna is importante ainda. e Skidmore. No que diz respeito ao Brasil e aos Estados Unidos. p. 19). 1996. ao passo que. Nao somente a diversidade (ernica ou de outro tipo) . 1996b. estrategias e slogans locais devem ser delineados a partir dessas especificidades. contudo sempre assume a forma de agressiio interpessoal virulenta. 1986). . e inserir uma segmenta~ao por ra~a nestas frentes populares seria nao apenas espurio. nos Estados Unidos. a ra~a nao e uma caracteristica saliente e registrada pelos lideres de sindicatos ou do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra. devido ao fato de que a mistura racial ira inescapavelmente significar exclusao desta categoria. 1996. como urn racismo de contingentes e perform ada como agressao entre grupos beligerantes. suas concep~iies de ra~a e racismos tern sido repetidamente relatados como diferentes na literatura. No Brasil.nao e urn fato da natureza e sim uma produ~ao da hist6ria . e que. de modo geral.! d . Finalmente. mas poderia tambem ter conseqiiencias desastrosas. 1985).tambem as tensiies e discrimina~6es ao longo das linhas de diversidade tern de ser entendidas e tratadas de acordo. A cor e aberta a interpreta~iio (Maggie. e uma questao sempre presente. a uma discussao atualizada em Sansone. enquanto a tendencia norte-americana e a de abolir a ambigiiidade. depende de consentimento. que a ra~a no Brasil esta associada a marca fenotfpica. Ainda. 0 branco brasileiro e polufdo e inseguro enquanto portador de tal status (Carvalho.em que as constru~iies nacionais da diversidade desempenharam urn papel crucial. a ra~a nao e urn fator relevante em toda e qualquer situa~ao. 1991. ao passo que. Por exemplo. a discrimina~ao nunca e expressa. p. como nos Estados Unidos. uma dimensao visfvel da intera~ao. Por essa razao. significativa e discursivamente indicadaem qualquer ambiente social. no Brasil. Viveiros de Castro. segue a regra compuls6ria da descendencia (Sollors. no Brasil. no Brasil. desde Harris. 472). 1996). 1988). enquanto 0 branco anglo-saxao e distintamente branco em termos raciais e geneal6gicos. Sansone. fechado. Williams conclui que grupos raciais foram sempre construidos como uma fun<. 154).ao de ra<.a colonial". e que resultam numa percep<.ao como processo de produ<. portanto. a na<. 436. surgido tanto da importa<. no "ponto de atticula<.ao. 0 circuito da na<.ao branca europeia transplantada por seus proprios interesses.a ontologica. 70).iio e da minoria e circular. Isso originou. Como Brackette Williams mostrou.ao colonial que podemos recorrer para melhor compreender essa inseguran<. como a propria subordina<. na maioria dos casos. queriam se-lo" (Ibidem.ao da na<.ao ou atribui<.ao de escravos africanos como da popula<.0. para a origem desta estrutura na racializa<. ja que. As cliferen<. a partir do momento em que a "etnorracialidade" se converteu na "engrenagem da diferen<.ao do irlandes pelo britiinico). mas se faz extensivo ao «criollo». em oposi~ao ao que assim se acredita ser 0 elemento "nao etnico" dominante (Williams. A partir de sua observa<.ao entre espanhois e amerfndios. a racializa<. 63).as apontadas entre a racialidade anglo-sax6nica e a racialidade iberica. isto e. no branco periferico. uma realidade integrada dupla.ao que persigo entre a posi<. .ao tern papel decisivo em moldar sua diversidade e suas fraturas internas. 1995. seja este branco. auto-alimentado. 1989. negro ou mesti- <.ao anglo-sax6nica (Guiana e Estados Unidos).ao etnica em ambas as na<.ao colonial. no fundo. e dentro das historias estudadas por Williams e Allen. dois lados da mesma moeda. as Americas" (Mignolo 2000. e foram esperados destes que se comportassem.ao de nao-brancura ao nativo destas costas "nao se reduz a confronta<.a monocromia do mito. aqui exemplificadas na compara<.ao de risco de "contamina<. ou onde achar a africa na nar. Visto dessa forma.ao da unidade da na<. p. E aos autores que postulam a "colonialidade do poder" e os processos de racializa<.oes demograficas como a escassez de brancos.oes. 0 Qutro interna.a" (Williams. nenhum branco brasileiro e nunca branco de forma completa e fora de qualquer duvida. como nem mais nem men os do que urn componente "etnico". p.ao da condi<. somente sao compreensiveis em rela<.ao a forma<. p. p. Ela se referiu a "0 processo de constru<.ao da Africa e a negritude nos Estados Unidos e 0 Brasil. europeus que nao eram mas que. como afirmam. ver tambem Allen. uma "dupla consciencia que nao se reconheceu como tal" e permaneceu como uma aspira({ao insatisfeita de "se saber e se sentir europeus nas margens.ao de paises de coloniza<.ao" desse imaginario assimetrico. 1993.ao 159 Por uma variedade de razoes que envolvem tanto determina<.ao" biologica ou cultural. de cima a baixo.:ao de sangue misturado.ao ao amparo unificador de urn mito monocromatico comum de esfor<. Se.a em rela. 1991.:ao enfatiza a mistura de sangue e a convergencia de civilizac.:ao e representada em termos que sao simultaneamente biologicos e culturais". 45). 1995.:os compartilhados e recompensa merirocratica. Reconhecer esta diferenc. de cima a baixo. como 0 fez Paul Gilroy para a Inglaterra (1991).ao iberica nao sao as mesmas. a indusao e seu tema forte. Se a separariio e a lingua franca de roda a sociedade nos Estados Unidos. Wade. Se formos analisar. Por exemplo.ao ao paradigma etnico brasileiro.:ao e suas divagens internas nos paises de coloniza.. David Hollinger conta-nos que a imagem do melting t . o paradigma etnico norte-america no: retribuindo 0 olhar Analisando a genese do pentdgono etnico que hoje organiza a etnicidade nos Estados Unidos. J a distin~ao entre «ca<. uma ideologia ou sistema de val ores hegemonicos.a» e «nac. em que a "ra<.a brasileira" '. ele expoe uma diferen. uma "fabula das tres fa. 1984).1 I e sempre apresentada como mistura. ver tambem Maggie & Gon. Chamo de mita monocromatico urn campo unificado de cren. pode encontrar expressao. onde U[ . 0 paradigma etnico baseia-se em abarcar 0 outro.ao da na<. no Brasil.160 rita laura segato No entanto. as bases etnicas para representar a na<. para uma discussao sofisticada sobre 0 "triangulo das tres rac.ao»" eapagada (Gilroy. independentemente de sua posic. as articula<.ao.. mas acarreta conseqiiencias importantes ao tentarmos empregar estrategias eficazes para a contestac.:ao no Brasil.ao.as" (Da Matta.:ao no conjunto da America Latina como uma ideologia racial enganosa (ver. p.:ao para 0 papel da miscigena<. onde cada urn em uma dada sociedade. quaisquer que sejam as praticas que se multipliquem por tras dessa fachada iniimeros autores tern chamado aten<. e 0 mito aqui e 0 mito monocromatico de urn povo interconectado. quando Gilroy afirma que "Frases como «the Island Race» e «the Bulldog Breed» claramente expressam a maneira na qual esta na<. a relariio e a chave de acesso no ambiente social brasileiro.a nao esimplesmente fazer etnografia comparativa. 1995. teremos de aceitar que 0 Brasil descreve e institui a si mesmo em seus texros oficiais como uma na<.as. 0 paradigma ernico norte-americano esta baseado na separa.oes.as" brasileiro). A repfesentac.alves. para uma discussao atualizada.:oes e a retorica do poder no interior da na<. ele teve origem no processo de "constru~ao da ra~a" descrito por Brackette Williams. como acreditam Hanchard e autores da sua gera~ao. que estabele~a urn conjunto alternativo de objetivos de vida. Este modelo prevaleceu e hoje toma a forma de um "pentagono etnico" formado por africano-norte-americanos. p. eles sao abandonados a uma perspectiva niilista (West. 32). Na melhor das hi poteses. 1995). 0 problema maior com 0 paradigma etnico norte-americano nao esta meramente na consistencia entre 0 codigo da opressao e 0 codigo da contesta~ao. na mesma linguagem que a discrimina~ao e. No entanto. euro-americanos. como mostrarei. urn paradigma de inclusao atravessa a sociedade de cima a baixo. a contesta~ao e formulada. se hoje 0 modelo e aplicado como urn modo de controlar a eqiiidade na distribui~ao de empregos e outras oportunidades. 1993. fazendo musica harmoniosa com outros grupos. 17ss). Todavia. a arquitetura dessa estrutura possui suas origens inequivocas na rna is grosseira e ofens iva das imagens populares acerca do que torna seres humanos diferentes uns dos outros. a partir de velhos materiais racistas" (Holinger. Desse modo. temos uma sociedade separada. com sua analogia de uma orquestra sinfonica: "cada instrumento era um gtupO distinto transplantado do Velho Mundo. Assim. emanando tanto das classes que controlam 0 Estado quanta das oprimidas por este. de mane ira que. Neste ultimo pais. "Se a teoria classica de ra~ado seculo dezenove nao esta diretamente par tds do penragono. pp. os excluidos nao estao mais protegidos por urn mito alternativo. hoje. asiatico-americanos. na- tivo-americanos e latino-americanos. com formas proprias de solidariedade e satisfa~ao. urn resultante unico de uma variedade de componentes_ Nao obstante. au onde achar a africa na na~ao . foi mais tarde reinterpretada sob a luz do modelo de "pluralismo cultural" de Horace Kallen. I 161 pot foi inicialmente cunhada por Israel Zangwill para exprimir a ideia de urn amalgama social. ou seja. em . 1995. sob aquele paradigma emico. porem urn conjunto comum de valores. Destituidos de urn mundo alternativo. a atitude niilista pode ser interpretada como uma pdtica de resistencia (De Genova. foi 0 anti-racismo esclarecido que levou a manufatura do pentagono etno-racial atual.a monocromia do mito. isto nao esra tao distante do que acontece no Brasil. Esta unifica~ao do campo ideologico tern aumentado uniformemente ao longo do tempo. Este e de fato um paradigma etnieo de dois lados pois. e sim no fato de que todas as partes conflagrantes lutam it sombra do mesmo mito. Ele enfatizou a integridade e autonomia de cada grupo definido por descendencia". contudo sempre como urn comportamento reativo. parece nao haver permanecido nenhuma via aberta para a dignidade negra dentro de costumes alternativos. Contudo.162 rita laura segato vez de uma proposi~ao positiva de reclusao em uma existencia distintiva. e 0 momenta da queda em uma atitude niilista por parte dos excluidos desse processo. visao de mundo espedfica. desafortunadamente. Parece razoavel concluir que a perda de urn verda- . contrariamente ao que afirma 0 autor. Comentando sobre uma produ~ao da midia. Somente a negritude e retida como uma plataforma para reivin- I I dica~ao. em meu proprio vocabulario . Isto e. de separa~ao. p. evidentemente. 87). exceto pelo faro de que eles permanecem separados. A "America". Neste mundo televisivo. e tambem datou sua origem it era pos-direitos civis...recentemente periferializados. pp.e comovente. Com a unifica"ao do campo idecilogico. Herman Gray afirma que "0 Cosby Show [. 0 niilismo e coeraneo ao processo de inclusao dos africanos norte-americanos no mercado como produtores e consumidores de importancia crescente. como urn conjunto de val ores nacionais timbrados por sua funda~ao branca anglo-saxonica. na medida em que urn grupo de interesse nao mais se relacionava a densidade de uma. salvo diferen~as menores de habito e perspectiva [. 1995. Nesse sentido. a contesta~ao torna-se uma simples competi"ao 'Pelos mesmos fins. E possivel que estejamos diante de urn caso de separa"ao entre ethos e visao de mundo. sirua. 17ss) descreveu 0 "niilismo" dos negros excluidos na America do Norte. Entretanto. negros e brancos sao exatamente iguais. J apelava para os temas universais da mobilidade e do individualismo" (Gray. Africano-norte-americanos enfrentam as mesmas experiencias. assim como do impero autodestrutivo que se instalou entre os negros norte-americanos pobres e marginalizados .J. parem as pr6prias reivindica~oes tornaram-se "brancas". os temas nao sao universais. parece ter definitivamente assumido 0 comando. '89). p.realiza~ao meritocratica individual nos Estados onidos..6es e conflitos que os brancos.. diacriticos. The Cosby Show. Dentro do quadro ideologico hegemonico da na~iio norte-americana. que e paradigmatic a para se compreender a unifica"iio do campo ideologico.. no qual 0 ethos foi reduzido a sinais emblematicos. "E uma inclusao separada-porem-igual. porem iguais" (Gray. ele falha em analisar a coincidencia entre 0 momenta do acesso sem precedentes a oporrunidades por parte de uma parcela da popula~ao negra norteamericana. Cornell West (1993. 1995. 0 miro difuso e dominante da . Sua descri"ao da falta de sentido e proposiro. iies agora incorporados pelos negros.. nos direcionaria a questiies importantes e inevitaveis no que diz respeito ao tipo de compromissos e concessiies ideologicos que vieram junto com as novas oportunidades. no entanto. a economia de mercado total niio e mais inocua para 0 . esri diretamente ligado a expansao da regra de mercado. Em seu classico ensaio sobre a relevancia de Gramsci para 0 estudo da rac. dominar e explorar estas qualidades particulares da forc. adaptar a sua trajetoria fundamental.iies tem sido mantidas e.ao: "[. ou onde achar a africa na nac. pode proporcionar uma inibic. incorporando-as em seus regimes. onde os imperativos de produtividade e lucro raramente deixam espac. Uma analise deste tipo certamente suscitaria duvidas dolorosas quanta ao verdadeiro carater das conquistas proporcionadas pela luta dos anos sessenta.iies socia is humanas.a e da etnicidade. J 0 que nos de fato encontramos sao os muitos caminhos pelos quais 0 capital pode preservar. A visao de Hall pode ser verdadeira para a Inglaterra. 0 capital nao apenas nao torna 0 campo sociocultural·homogeneo. mas que. desenvolvidas e refinadas. Na Inglaterra. 0 Caribe ou ate mesmo 0 Brasil. particularmente.a de trabalho. ou seja. a risco de que 0 niilismo autodestrutivo descrito por West atinja os cantos mais distantes. em condiC.ao do mere ado (como definido por Jung Mo Sung. mas pode ate mesmo prevenir esta uniformizac. Stuart Hall argumenta com veemencia contra a visao de que 0 fundamento economico possui um impacto unificador em relac. na expansao global do modo capitalista" (1996b. onde a alteridade ainda tem lugar e a experiel)cia negativa de estar as margens da regra do mercado ainda nao se apossou inteiramente. 0 declinio de um espac.o para um residuo de gratuidade ou dadiva nas relac. nenhum ativista negro norte-americano esta plenamente autorizado a se dirigir aos brasileiros no tom condescendente adotado por Hanchard e outros.a de trabalho.. 436). um forte movimento trabalhista compartilha hoje a arena politica com a conscientizac.ao aos sujeitos sociais. estas distinc.ao etniea e racial da forc. "E. p.iies extremas de sacralizac. Sem um escrurinio completo do mito a espreita por detras dos trabalhos. assim como a sua composic.ao por genero.:ao 163 deiro conjunto alternativo de costumes. contudo. Porem. responsabilidades e obrigac. privilegios. de fato. Em sua visao. falando em termos propriamente etnicos.. profissiies.ao das tendencias "globais" racionalmente concebidas do desenvolvimento capitalista. A estruturac. semelhante ao que se pode testemunhar nos Estados Unidos. .o tradicional afro-americano. 1997). i r a monocromia do mito.ao politica de minorias. penso eu. e nova.como se argumenta cada vez mais 'freqiientemente.tambemos grupos minoritarios. entrelarada a outros aspectos civilizat6rios de uma determinada sociedade. 0 que Stuart Hall chama de "0 terreno diferenciado" da ideologia. uma sociedade multietnica. p.l 164 rita laura segato campo da cultura. 0 mercado niio faz concessoes a deuses inferiores. Em outras palavras. Esta situa~ao. mas e em si mesmo uma escolha cultural. nao se vi' onde e como valores outros que nao a maximiza~ao da produtividade e do lucro podem encontrar urn lugar legitimo ao sol. reinando acima de qualquer outro conjunto de valores. nessas condi~oes. 0 que quero dizer e que nao mais esta claro se. mesmo quando seus intelectuais e ativistas disseminam uma politica racial baseada na experiencia particular dos negros neste pais. a ins is- . mas·. Somente isto poderia ser capaz de garantir uma diversidade e multicultura· lismo radicais em um sentido forte. do ponto de vista da cultura.E concep~oes divergentes sobre 0 que sao recursos e para que fins etes servem sao melhores indicadores de pluralidade etnica do que os indicadores de quem os controlam na sociedade. minha percep~ao e que este terreno de verdadeiro desacordo cultural esta sendo progressiva· mente banido do campo social. e os Estados Unidos lideram esse processo. eu nao consigo vislumbrar como. e possibilita uma compreensao da globaliza~ao como expansao das regras de mercado para abarcar rodos os aspectos da vida social e sobredeterminar nao apenas a localidade. com suas "correntes discursivas diferentes. seus pontos de jun~ao e ruptura e as rela~oes de poder entre eles" (1996b. Da minha perspectiva latino-americana situada. E outros deuses sao necessarios para se ter uma pluralidade de culturas em urn sentido radical. Assim e por' que 0 sistema economico nilo esta. Reverenciado e sacralizado. Alem disso.cerca do significado dos recursos. sob tal pressao. Diria que. seus modos de produ~ao e destina~ao na vida humana. urn grupo possa subsistir sustentando uma visao diferente a. mas com rela~ao ao que e 0 lucro e como este deve ser obtido e usado. 434) nao deveria se referir simplesmente as discrepancias com rela~ao a quem acede ao lucro. Adaptando a expressao de Habermas. fora. sob a sombra totalizadora do mercado (que e quase a presente situa~ao nos Estados Unidos). acima e intocado pelo reino cultural. alguns tipos de arranjos socioculturais podem continuar a se desenvolver desimpedidos. a economia de mercado colonizou completamente 0 mundo da vida e. a regra de mercado total e monop61ica. ao mais ..em uma rela<. e nao o conflito propriamente politico entre visoes divergentes acerca dos recursos. 1996. J nos Estados Unidos da America [. sua produ~ao e usufruto. 39). p. A abdica~ao individual da vida social. as quais Paul Gilroy (1994.io 165 tencia de Hall no reconhecimento da heterogeneidade (de classe. por si propria. e na qual. uma diferen~a existe nao apenas quando urn estilo ou ethos distintivo esta presente sob a forma de signos diacrfticos. Isso e verdadeiro para uma sociedade na qual a hegemonia. no sentido forte das concep~oes diversas acerca de recursos. vinculando uma mercadoria particular marcada "etnicamente" a urna popula<. isto nao sugere que a negritude. urn conjunto de signos diacrfticos tribais da moda assumem e come~am a se comportar como emblemas de mercado. que geralmente desempenha 0 papel de garantir a diversidade no sentido forte do conteudo. do comunicar e do lembrar". Tal etnicidade "enlatada" tao caracterfstica dos Estados Unidos nao necessaria mente corresponde a urn discurso etnico. . nos termos de Gramsci.) no interior da economia capitalista nao implica que os negros. mas quando ha alguma forma (ainda que hfbrida . e nao constitui alternativa real para a integra. p. irao garantir com seguran~a urn territorio de cultura.a monocromia do mito. genero. Mesmo a religiao. e totalizante. apenas pela cor das suas peles. tern sido amplamente homogeneizada por tras das fachadas do diacrftico ornamental: "[ ..J uma forma particular de interpreta~ao da Biblia tern servido como uma logica geral para 0 pais inteiro assim como para muitos grupos emicos" (Sollors. etc. Da perspectiva da qual aqui falo. ra~a. as politicas emicas no interior de urn campo ideologico unificado devem necessariamente significar competi~ao pelos mesmos recursos. Quando as "estruturas do sentir. Ou seja. garanta diferen~a e emicidade... a diversidade. entao. e 0 unico caminho disponivel para 0 escape.ao total e a completa erradica~ao das marcas da diferen~a. 3) chama de 0 "mundo negro atlantico" deixam de ser fundantes para a constante reprodu~ao de urn nicho alternativo de cultura (ainda que constantemente negociado e dialogico).ao de consumidores marcados "etnicamente" . Em termos estritamente antropologicos geertzianos. i I 1 constrita e menos criativa entre consumo e cidadania do que a proposta par Nestor Garcia Canclini (1995). 0 intraduzivel dropping out dos norte-americanos. tern sido sobrepujada. apesar das aparencias externas. e tornam-se apenas urn residuo ornamental de uma diferen~a previa no sentido forte.. do produzir. em urn contexto como 0 norte-americano. ou onde achar a africa na nac. 0 pular fora. ao de uma "cultura da pobreza" na qual.ao" impressos pela participa. Pois esta ultima ja e urn desenho do Estado moderno e nao se encontra livre de suas premissas impregnadas • .oes de extrema pressao da regra do mercado.ao retorica hegemonica do mito da realiza<. p. entao. a pobreza e a unica coisa deixada como cultura para os negros que nao participam no mito branco.ao material? Ha ainda alguma coisa entre isto e seu designado oposto de uma minoria-dentro-da-minoria de pessoas bem-sucedidas em termos brancos? Esta destinada a poHtica a ser reduzida meramente a uma luta por participa.ao no lucro.a no sentido e na destina.ao individual e do. como Ii a caso dos !novimentos sociais nos Estados Unidos hoje.lucro ilimitado.no poder.ao.grau de disfuncionalidade com a regra de mercado (como aponta Hall).0 "hidden transcript" que Michael Hanchard sugere como panaceia .a preservar tais formas de solidariedade alternativa. 'Podemos cair na armadilha de algum tipo de formula. ou seja.ao das mulheres na greve do carvao inglesa'de 1984-1985.ao do lucro e da produtividade. sob certas condi. Meu ponto aqui Ii que. Esta concep.sao de mundo nao integrados. resto do embate com 0 mito americano? Para achar uma alternativa nao basta urn subtexto ou projeto oculto proprio dos dominados . por meio da a. e certamente implicara urn . Urn exemplo disto e dado por.ao da Africa com a pobreza? Nao hi nada que tenba permanecido como "africano" fora da priva. 0 que importa nao e a quantidade de riqueza ou poder que se·'rorna disponlvel para 0 grupo.o diferenciado na esfera publica. quando urn grupo minorit:irio'lttta por ou expande seu acesso a direitospara uma parte maior no lucro e . Onde esta a Africa.ao alternativa certamente envolvera prioridades distintas da maximiza. e as valores radicalmente divergentes que as sustentam estao inevitavelmente recuando. enquanto se esquece de refletir sobre a verdadeira natureza do lucro e da satisfa.ao alternativa com respeito ii finalidade e ao sentido da vida social.ao desse lucro ou poder.166 rita laura segato do ponto de vista dos materia is culturais que incorpora) de concep. 32) ao discorrer sobre os "Novos tipos de solidariedade e novos padroes de comunica. urn sistema de valores e vi. nos Estados Unidos? Deveremos aceitar de uma vez por todas a equa.que reflita a coesao do grupo racial e Ihe garanta urn espa. mas ate que extensao isso impoe uma mudan. torna-se cada vez mais inatingivel para as lutas de genera e de ra. Prosseguindo com esta linha de argumenta.ao? Nao e este naufragio da Africa.Paul Gilroy (1991. a monocromia do mito. Eu sustento que. ha ainda urn Outro culturaL Essa outra cultura torna-se interpretada como uma cultura da po breza. sem rela"ao com a economia de mercado. ha uma outra popula~ao. e tambem urn comentario sobre 0 Outro. como periferia em rela~ao a esta.do mundo tecnologicamente desenvolvido. no Brasil. Isso nao significa que essa outra popula~ao seja fechada em si mesma. hibrida pelas inclusoes interlocucionais processadas atraves da historia. social e culturalmente . mas que ela nao esta inteiramente engolfada por seus mitos e continua a aceder a seus valores tradicionais proprios.ainda existe. No Brasil. uma plataforma dialogante e negociadora. porque nenhum dos mitos operantes oe. Sera necessario urn mito proprio. 0 qual alude it popula~ao que vive nas margens e sob a penumbra da economia de mercado. uma inscri~ao codificada da historia branca em termos etnicos. e continua a falar de uma Africa . a alteridade radical . e que 0 mundo afroamericano continua a ser realmente diverso e divergente. especialmente a corrente representada pelos autores indianos. ou onde achar a africa na na~ao 167 pela continuidade colonial no Estado nacional e urn direito orientado it prote~ao das regras do mercado. Alem do problema que e comumente chamado de exclusao ou apartheid social. podem ser denominadas uma periferia economica. urn territorio denso de cultura com valores e metas nao necessariamente compatfveis e uma retorica alternativa cuidadosamente articulada capaz de defender uma poHtica de difenen~a radicaL Nao me refiroa urn mito encapsulado e solipsista.nestes termos nao fundamentalistas e nao essencialistas . como em outros paises latino-americanos. e possivel dizer que. 0 mercado nao coloRizou a vida na mesma dimensao de como 0 fez nos Estados Unidos. somente quando vista da perspectiva dos centros economicos os escritos pos-coloniais. mas urn mito vivo: urn mito em rela~ao. uma inscri~ao da historia e das aspira~oes emicas. Da mesma forma. em alguns momentos inclusive sugerem a ideia de que a periferia e . exclusivamente definida por falta e deficiencia. enquanto algumas partes do Brasil.viva com seus valores nao seqiiestrados pela modernidade coloniaL o paradigma etnico brasileiro: repatriando 0 olhar Uma analise similar do caso brasileiro certamente esclarecera 0 que eu disse ate agora. as totalmente engajadas em uma busca de modernidade. incompativeis sobre os recursos e no~oes exoticas acerca do que fazer com estes e como atingir satisfa~ao. ideol6gico) para a outredade. com concep~oes . Freqiientemente. 0 abarcamento e periferializa~ao simultiineos do mundo radicalmente outro seja uma realidade crescente. este c6dice opera como urn reservatorio estavel de significados do qual flui a impregna~ao capilar. atraves do processo de globaliza¢o. Neste sentido. afetando a sociedade como urn todo. a partir das acusa~oes de feiti~aria entre 1912 e 1945. mas esta ali. onde talvez seja 0 caso da indigencia material. pelos agentes modernizadores. Essas tradi~oes inscreveram urn c6dice africano monumental. apesar de que. pOft!m. e tam bern verdade que. desde que haja ainda enclaves autonomos nao totalmente engolfados pela -logica inexoravel do mercado. tambern. E importante. informal e fragmentaria de toda a sociedade. simples mente como "cren~as disfuncionais" . existirao mitos alternativos. em sua linguagem metaf6rica propria"nao apenas sobre religiao. foram recolhidas par Yvonne Maggie (1992) nas cortes de justi~a do Rio de Janeiro. sua presen~a e difusa e tenue. sob a forma de servi~os terapeuticos. reconhecer a existencia de urn outro espa~o. Ele contem urn repertorio bastante estavel de imagens que compoe urn verdadeiro mito alternativo. por exemplo. 1997a). b . e as formas de conv1vio que eles implementam difundem-se longinquamente. mas tam bern da densidade cultural e riqueza simbolica de urn outro tipo. acerca das rela~oes entre os negros e 0 Estado branco (Segato. mas. que contem a experiencia e as estrat<'gias etnicas acumuladas dos afro-descendentes como parte de uma na~ao. Segato. 1995a. como fonte de respostas acerca do sentido das circunstiincias mais variadas da vida. As tradi~oes afro-brasileiras constituem urn de tais conjuntos de concep~oes.168 rita laura segato o tinico espa~o disponivel (geografico. assim como inscreveram 0 registro de sua percep~ao deste cenario nacional e seu lugar nele. Esse c6diee nos fala. E sempre visivel e disponivel para qualquer pessoa. Em certos cantos da sociedade. bern como urn nicho muito importante de preserva~ao e criatividade da cultura. essas concep~oes sao vistas. 1995b). mostrando que juizes e reus partilhavam urn conjunto comum de cren~as. Evidencias dessa presen~a. Assim. muito alem dos nichos da ortodoxia onde 0 trabalho de elabora~ao e preserva~ao deste codice ocorre. inspira~ao estetica. ou mesmo como urn repert6rio simbolico para processar os materiais de outras religioes localmente (refiro-me aqui particularmente ao catolicismo popular e ii variedade de pentecostalismos que proliferam no Brasil. cultural. Espanha.Por mais paradoxal quepossa parecer. onde. mais cedo ou mais tarde. percebe a si mesma como agregandQ e abafcando 0 branco. bem-estar. Sell necente processo de expansao em dire~ao a novos territ6rios "brancos" na Argentina. como geralmente aceito pelos historiadores. 0 potencial expansivo da l . mostra a for~a de uma "ancestralidade africana" baseada nao na comunalidade do sangue. embora na maioria dos casos informal. De fato. quando interpreta a cren~a em espiritos e a experiencia da possessao como as praticas mais espalhadas e aglutinantes da cena social brasileira como urn todo. conhecimento terapeutico e potencial civilizador. A introdu~ao de linhagens religiosas afrobrasileiras em urn pais como a Mgentina. esses enclaves garantem 0 tipo de alteridade nao periferica cujo espa~o esta retrocedendo nos Estados Unidos. como argumentei anteriormente (Segato. 1991. 1995a. tendo conhecimento ou nao. Elas nao dominam a cena cultural do pais. Significativamente. da parafernaIia relacionada aos cultos. 1995b). Todos os brancos sao vistos. a filosofia contida nesse codice resiste a racializa~ao porque se percebe maior que a ra~a e aspira a universalidade. icalia e Portugal pro va que esta aspira~ao tern sentido (Segato. como sujeitos a essa logica. mas na comunalidade na cren~a enos pressupostos filosOficos. a parte do Brasil que se expandiu com mais vigor para os paises do SuI vistas como "brancos" nos ultimos anos e a parte negra. nos termos norte-americanos.a monocromia do mito. ou onde achar a africa na na~ao 169 Uma ideia semelhante e tambem sugerida por Gilberto Velho (1992). 0 afro-brasileiro e tambem uma for~a exportadora. atraves do mercado com 0 Sui. 0 Brasil africano e visto por muitos nestes paises como fonte de religiao. arte. Uruguai. gratuidade e dadiva tradicionais. filosofia. como 0 faria Hanchard. mas como uma conseqiiencia de for~a. apesar de isso nao poder ser tornado como indica~ao de fraqueza. a filosofia e as politicas sustentadas por esse outro c6dice nao podem ser racializadas e transformadas em uma politica racial. mas estao entcre as referencias que asseguram heterogeneidade deste no campo da cultura. depois que a economia de mercado e seus preceitos inexoraveis proprios se apossaram dos enclaves negros e fizeram retroceder formas "disfuncionais" positivas de solidariedade. consistente ou racionalmente articulada) em todos os niveis da sociedade brasileira de·pende. 1980). Essa penetra~ao branda (no sentido de nao realmente organica. por sua vez. da exisrencia de enclaves de ortodoxia preservados pelas casas de santo mais conservadoras. a presen~a africana esvanecera misteriosamente (Andrews. 1996). Entretanto. Alem disso. Essa determina~iio inclusiva poderia ser lida como urn texto que expressa a percep~iio. o primeiro e 0 substrato sincretico. o sobredeterminante elemento universal abarcador e agregador da cultura afro-brasileira esta inscrito no codice religioso como urn preceito para a inclusao. Como me disse recentemente urn prestigiado sacerdote "[ . concluimos que.Brasil em qualquer politica baseada em urn divisor etnico.. aos interesses da classe . pan-africano. Nessa recria~iio da Africa no Brasil. nao havia nenhuma. porranto. biologicas e culturais que aconteceram na historia. o segundo fala da preponderiincia da mesti~agem que constituiu a base da popula~ao brasileira contemporiinea. quer dizer. a percep~iio da forma~iio da sociedade brasileira por miscigena~iio massiva. como evidencia da for"a e do alcance da presen"a africana no Brasil. hi vinte anos atris. com a socializa~iio das crian~as brancas por amas negras. Se aplicarmos a visiio gramsciana de que hi aspecros eticos. no que concerne a sua composi~iio racial. 0 estado etico fracassou em sua missao de elevar "a grande massa da popula~iio a urn nivel cultural e moral capaz de corresponder as necessidades do desenvolvimento das for~as produtivas e. mistura tal que teve e continua a ter lugar na intimidade dos assim chamados lares "brancos" . Nosso axe (poder) reside em outro lugar". J isto seria ostensivamente politico.170 rita laura segato cultura afro-brasileira e a habilidade dos seus atravessadores sao evidenciados pelos altares altamente elaborados das recem-formadas casas de culto de Montevideu e Buenos Aires. e que continuou no Novo Mundo. a racializa~ao. prevenindo. 0 terceiro fala da profunda mistura e interpenetra~iio do ambiente europeu dos donos de terras pela cultura afrobrasileira. onde.. estruturando urn ambiente africano no Brasil ao longo das linhas das "na~5es" religiosas artificialmente arquitetadas. a aberrura para individuos de qualquer origem foi e continua a ser a regra e tam bern a pista para compreender a sobrevivencia e a gradual expansiio do sistema inteiro. incluidas as elites. pelos afro-brasileiros. come~and0 cedo na vida e hi muito tempo na historia. transformando-as em uma pe~a fundamental de sua filosofia. de tres processos historicos caracteristicos da forma~iio brasileira. como eu disse. no Brasil. e impedindo a parricipa~iio dos portadores da tradi~iio africana no. que deve ter come~ado a se constituir nos proprios navios negreiros durante a jornada da Africa para a America. As vozes que falam no c6dice afro-brasileiro levam em considera~iio estes tres processos e transformam a seu favor as integra~5es etnicas. morais e culturais da hegemonia. Talvez tenhamos aqui urn aspecto peculiar do que Stuart Hall.. a mae de David. se ele teve uma rela~ao emocionalmente satisfatoria com urn adulto na sua familia de origem. relata acerca de urn caso clinico norte-americano que pode ser considerado muito proximo a experiencia brasileira. que Gramsci chama hica. Nisso reside tambem sua capacidade de sobrevivencia e crescimento nas circunstancias mais adversas. a teve com Annie [. Annie e negra". neste caso particular.l . J. com os enclaves negros que ativamente produzem e expandem a cultura africana atraves da na~ao e para alem desta. "Se Annie foi a mae de David. Charles Lemert. p. para dizer 0 minimo. em terapia. urna baba negra que desempenhou 0 papel da figuramaterna em sua infancia: "David compreendeu que.a monocromia do mito. pp. 472 e 474). E nao porque negue sua africanidade (como na posi~ao antiessencialista tambem mapeada por Gilroy). nao estao em questao aqui estas multiplas fusoes. mas. David e branco. em urn processo unificador. creio. 258. em que sentido David e branco?" Para concluir: "Esta e uma questao sobre a qual nossa cultura nao nos permite falar. 0 Estado foi for~ado. mas sua e transcri~ao em urn conhecimento codificado. Entao Lemert se pergunta. Em sua especificidade. p. mas porque pretende falar por todos e representa a si mesma como uma tradi~ao abarcadora e aglutinante . 100) critica como uma caracteristica de alguns estilos radicais de musica negra..suas mensagens assumidas como sendo tao relevantes para urn africano-brasileiro como para uma pessoa chinesa. atuando como pilar de sua for~a civilizatoria. Para David considerar que em a/gum sentido ele poderia pensar sobre si mesmo como sendo algo outro que nao branco. p. em urn artigo onde investiga "0 lado escuro do self". esse c6dice em caso nenhum apresenta 0 "afro-centrismo mfstico" essencialista ou "a nao-inteligibilidade antiassimilacionista" que Paul Gilroy (1994. Urn homem branco de classe media norte-americano descobriu. talvez ate mesmo negro. mas bate precisamente na teela oposta: sua universalidade. Todavia. de fato. em sua forte critica aosessencialismos (incluindo 0 "essencialismo estrategico" proposto por Gayatri Spivak). a compartilhar esta fun~ao agregadora. citado por Hall. 429). ou porque seja hibrida e dialogica enquanto urn produto (como Hall e Gilroy dizem da cultura negra diasporica). e percep~ao . em qualquer sentido que seja. au onde achar a africa na na~ao 171 governante" (Gramsci 1971. descreveu como 0 caniter hibrido e dialogico que e inerente a cultura negra (1996b. Nesse sentido. Annie era. 1996b. De fato. mais cedo ou mais tarde. 1990a. Ao mesmo tempo. 1994. p. essa filosofia contrapiie uma alternativa real ao essencialismo racista branco. mais cedo oU'mais tarde. abertas a todo e qualquer um por meio de um voto ritual.ao da subjetividade e identidade rfgida. os negros nao imitam 0 movimento do selfbranco que visa uma concre~ao. Amparada por estes dois pilares. 0 c6dice africano no Brasil fala ao branco deste "lado escuro" (literal e metaforicamente) de seu self quando the design a a tutela de uma deidade africana. No Brasil. 31). num gesto inclusivo desta tradi~ao. no entanto. Alem disso. desafiando 0 principio do sangue e todas as determina~iies raciais (Segato. p. as genealogias religiosas. E aqui e exatamente onde a fronteira pass a entre 0 ambiente brasileiro e 0 norte-americano. tfpica do estilo monol6gico dominante da civiliza.ao ocidental. No Brasil. no clima cultural norte-americano. libertando-se da armadilha que o ultimo coloca para um senso de self negro .ao nao e imperativa e nem mesma significativa. . uma "narrativa de conversao" (Sollors. como Hall e Gilroy indicam. esta oposi<. permite ambivalencia e multiplas afilia~iies e valoriza os transitos. seja dentro de uma posi~ao forte do nos (identificada com a brancura e a universalidade) ou de uma posi~ao fraca do nos (identificada com uma marca etnica). podese dizer que a filosofia do codice religioso afro-brasileiro evita os pontos fracos do que Anthony Appiah chama de "racismo intrinseco". p. 1986. substantiva e essencialista. 10). independentemente de origem. Nesse sentido. " e a possibilidade de uma permanente ambigiiidade permanecera aberta. 12) e seu "familismo" falaciosamente restritivo.172 rita laura segato um pensamento que contradiz em seus alicerces afirma~iies fortes sobre a constitui~ao do nos" (Lemert. incorporando elementos de outras . ainda que no Brasil qualquer senso forte do self do branco seja impedido pelo codice africano. junto com 0 valor universal atribuido aos orixas para falarem sobre a personalidade humana e predizerem 0 comportamento. com seu "erro moral" (Appiah. mas simplesmente desestabilizam a pretensao de "pureza "na identidade etnica. por uma afilia~ao identitaria clara e exclusiva. 0 modelo nao e mecilnico. 0 problema e que. 1995b e 2003). sera imperativo optar. 0 self africano "escuro" aspirani de forma constante e explicita a particularidade e a universalidade simultaneamente. Ou seja. criam um senso de comunidade e solidariedade disponivel a todos. e the oferece participa~ao em uma genealogia religiosa africana. os materiais culturais sao eles mesmos hibridos e maldveis.uma armadilha que 0 confina em uma defini. 0 self tera de produzir. com suas implica~oes poHticas e economicas. A cultura com a qual eu lidei parece afirmar claramente que representa urn corpus de conhecimento originalmente criado por africanos e descendentes de africanos no Novo Mundo. e6bvio que se encontram em uma posi~ao extremamente fragil sob esta resistencia flexivel e difusa. acerca de se existem tradi~oes brancas e negras ou se existem apenas pessoas de diferentes origens que participam em variadas tradi<. Esti relacionado com intimidade. 0 6dio racista no Brasil e 0 resultado do horror causado por este segredo muito intimo que carregam as familias: 0 lusco-fusco da mem6ria da bisav6 negra. urn medo (e uma certeza) de ter sido de alguma forma contaminado. A pretensao universalista e equiparada aqui a urn grande dinamismo na prolifera~ao e apropria~ao de materiais para 0 repert6rio simb6lico. etnicos e sociais mutuamente exclusivos. tampouco representa uma posi~ao essencialista. de religioes do Oriente.a do interior do ser "branco". mais recentemente. el1Jbora sempre mutavel. au onde achar a africa na nat. tao caracteristico do comportamento racista dos Estados Unidos. Finalmente. 0 "racismo" no Brasil e urn expurgo que come<. nunca desliza para uma posi~ao afrod!ntrica. 0 resultado de uma barreira que separa e exclui 0 "Nos" do "'Eles". a questao principal permanece. na medida em que podemos manter que 0 racismo .sempre em uma base individual e interpessoal e nunca como urn confronto de uma comunidade contra a outra. 0 amor edipico pela ama-de-Ieite negra violentamente reprimido (Segato 2006). uma discrimina~ao de dais territorios cultu- rais. que continua a espreitar no horizonte da forma~ao do self "branca". Portanto. Sua apreensao das virias fusoes com 0 componente negro traz importantes conseqiiencias.branco no Brasil nao e. como nos Estados Unidos. mas que tern sido enfitico em incluir nas suas linhagens pessoas de qualquer ancestralidade. com respeito aos seus conteudos. E0 resultado de urn relacionamento inter-racial intimo EufTu que Ii esteve. com proximidade. brasileira e diasp6rica.ao cognitiva bern diferente. e que deve ser repelido. Evidentemente.a monocromia do mito. 0 "racismo" no Brasil denomina uma operac. serve como urn reservat6rio de significados para todos.oes. I rL . Contudo. pela qual uma grandeproximidade. sua originalidade reside na proposi~ao militante de uma ideia de uma Africa universal. a qual. devido a sua perspectiva'radicalmente pluralista. intimidade e mesmo identidade com 0 "outro" negro cleve sec exorcizada - dai a extrema viru- lencia e paixiio que por vezes isso envolve . quer dizer.ao 173 tradi~oes religiosas como 0 catolicismo. cren~as indigenas nativas e ate mesmo. Quanta as elites" brancas" . nunca e indubitavel no Brasil (Carvalho. fundada na diferen~a. de sentimentos e atitudes racistas virulentos contra pessoas de cor negra. enquanto sugiro tambem a importiincia do exame das complexidades e ambivalencias do sujeito racista destes sentimentos e atitudes. 1988).ao e a transforma<.ao". transformando-se em um tipo mais convencional de domina<. 0 "sohrado". 1995). na man sao opulenta moderna. Um Brasil branco que oculta uma mancha negra. que numa organiza~ao moderna e contratual.. onde dois grupos sociais com fronteiras claras competem por recursos de varios tip os.as modernizadoras (Needell. nunca e inteiramente alcan~ada. uma marca da Africa na pele. na avalia~ao de Gilberto Freyre. a entrada em uma modernidade plena torna-se aqui relacionada a urn tipo particular de rela. patriarcal e baseado no status.6es raciais que seguem 0 padrao do apartheid.174 rita laura segato nao com distancia etnica e medo de estranhos.ao das formas econ6micas de explora<. Coloco meu foco numa analise critica do tipo de processos • d . No primeiro. no ultimo. Minha amilise pode parecer aproximar-se da c1assica tese de Gilberto Freyre. inteiramente contaminado pela presen~a africana. tres sao as rna is relevantes e conclusivas para completar meu argumento: A primeira esta relacionada com 0 fato de eu apontar para a existencia. e Ricardo Benzaquen de Araujo (1994.5es raciais aparece como oposto a paisagem americana "moderna". 133) tambem afirma que. escondida em algum lugar.ao aristocratica. apoiando tambem a ideia de um Brasil. No entanto. nos termos do autor. em confronto aberto. "quanta menos patriarcal eles se tornavam. no Brasil. como urn sinal de um status seguro e inconteste. ha inumeras diferen"as substantivas entre a argumenta"ao que aqui fa~o e 0 que pode ser entendido como neofreyrianismo. p. 0 sentido ultimo desta tese foi relacionado a um ataque a modernidade e as fon. A "brancura" no Brasil e impregnada pela "negritude".ao da "casa grande" escravista tradicional. Embora nao as enumere tadas aqui. mas tambem. mais excludentes devinham. na separa<. 0 esquema tradicionalbrasileiro para relac. 0 poder e exercido em meio 11 promiscuidade e a intimidade. com a moderniza<. e principal mente. no modelo freyriano. Estas complexidades demandariam uma polftica capaz de tocar 0 calcanhar-de-aquiles de tal estrutura. Um Brasil onde 0 negro e 0 branco nao se estranham uns aos outros na medida em que 0 fazem nos Estados Unidos. uma estrutura que se apoia mais em um ordenamento pre-moderno. A "brancura". De fato. Portanto. a politica de cotas ou reserva de vagas na educa~ao superior e no servi~o. Qualquer politica inteligente para uma sociedade brasileira racialmente justa. 0 que eu encontrei no campo das religioes afrobrasileiras e que os proprios agentes da cultura negra levantam esta questi'io. eu sustento que as proprias pessoas identificadas com os enclaves negros da ortodoxia religiosa afro-brasileira declaram que sua cultura engloba 0 branco. ou onde achar a africa na na~ao 175 menta is e afetivos que estao em jogo. mudando assim 0 signa ideologico dela. diferentemente dos defensores do excepcionalismo brasileiro. de acordo com minha interpreta~ao. estao inscritos no proprio c6dice religioso afro-brasileiro e na sua inteligente estrategia de inclusiva para garantir a sobrevivencia. e miuha alega~ao e que as opera~oes cognitivas e psicologicas que operam no racismo brasileiro estao inseridas numa estrutura de rela~oes diferente daquela propria dos Estados Unidos. mas. isto e entendido aqui nao como consequencia de urn tra~o benigno e condescendente da elite de raiz portuguesa.publico.W r a monocromia do mito. Qualquer boa estrategia somente podera resultar da consciencia desta diferen~a como parte de urn desenvolvimento historico local e localizado. A terceira diferen~a entre minha tese e a de Freyre e os neofreiryanos e que. no Brasil. em co-autoria com Jose Jorge de Carvalho. e por consequencia exige urn exame adequado dos processos peculiares que estao por tras da forma brasileira de racismo. Ou aceitamos esta por~ao de sabedoria . A segunda diferenp que me distancia da tese freyriana e que proponho todo este exercicio analitico comparativo para preparar a formula~ao de politicas adequadas e a implanta~ao eficiente de medidas contra 0 rae ismo no Brasil. no Brasil. a qual adiro e da qual foi propositora ao assinar. muito pelo contnirio. toda a sua popula~ao se alimenta da mesma feijoada (Fry. eu argumento. Portanto. embora eu pare~a confirmar a ideia de Freyre de urn Brasil extensivamente impregnado pela presen~a negra. o escopo e a capacidade de penetra~ao da cultura african a no Brasil. 1982). deve tirar vantagem deste precedente. Se nao ha.entre elas. 0 resultado de uma forte presen~a africana que invadiu e colonizou o espa~o cultural branco num processo irreversivel. este nao e0 resultado de urn processo de expropria~ao e canibaliza~ao dos simbolos negros pela sociedade brasileira em geral. no sentido de que. urn equivalente do "soul food" separado dos negros do suI norte-americana. mas como uma reivindica~ao da potencia do discurso negro. 0 primeiro projeto de uma politica de cotas dentro de uma universidade brasileira em 1999. Da mesma maneira. BENZAQUEN DE ARAUJO. Survival: Multicultural Societies and Social Reproduction.Q 176 rita laura segato popular e a traduzimos num discurso politico. 5(17). 1990a. Blacks and Whites in Sao Paulo. 1988. Vol. 5(91). The Commitment to Theory. Carl N. Kwame Anthony. lutas. Theodor. In my Father's House: Africa in the Philosophy Culture. Madison: The University of Wisconsin Press. George Reids. pp. 3-17. CANCLINI. "Race". 19-39. Brazil. seguindo a agenda norte-americana. pp. Authenticity.). . 149-60. 1996. In: Gutmann. 1980. The Afro-Argentines of Buenos Aires. 1992. 1990b.1997. Salvador: CeaolEdufba. DEGLER. 493-509. Princeton: Princeton University Press. 1989. In: GOLDBERG. 1888-1988. 1994. Consumidores y ciudadanos. Multiculturalism. pp. David (ed. -. BARRIOS. Mesti~agem e segrega~ao. -. 1995. Mexico: Grijalbo. -. Orfeu e Poder: Uma Perspectiva Afro-Americana sobre a polltica racial no Brasil. Neither Black Nor White: Slavery and Race Relations in Brazil and the United States. -. Historias. I. Nestor Garcia. Nova York: Routledge. Examining the Politics of Recognition.1996. 1994. Identity. tradi~oes. In: The Location of Culture. 1800-1900. ANDREWS. Rio de Janeiro: Editora 34. pp. Guerra e Paz. 17. CARVALHO. 87. Ricardo. Minneapolis: University of Minnesota Press. 1994. 1995. Ethnicity. Afro-Asia. pp. -. pp. -. Madison: University of Wisconsin Press.). Luisa. 1991. 173-86. Nova York: Macmillan. Racisms. Jose Jorge. (ed. APPIAH. Racial Oppression and Social Control. Referencias ALLEN. Journal of Philosophy. But Would That Still Be me? Notes on Gender. ou as politicas anti-racistas nunca atingirao uma capacidade de interpela~ao capaz de mobilizar pessoas nao pertencentes as dasses medias negras indufdas que. Humanidades. Mexico: Grijalbo. The Invention of the White Race. Homi. Culturas hibridas. perderam contato com suas bases culturais e socia is. Casa-Grande e Senzala e a Obra de Gilberto Freyre nos Anos 30. Cultura Vozes. Estrategias para entrar y salir de la modernidad. 0 Quilombo do Rio das Ras. -. tornando-a 0 material do qual os slogans sao feitos. Londres: Verso. Nova York: Oxford University Press. BHABHA. Con{lictos multiculturales de la globalizacion. as Sources of "Identity". Anatomy of Racism. 1971.35-39. Amy (ed. Quilombos: sfmbolos da luta pela terra e pela liberdade.). GILLIAM. GANS. Los Angeles: Center for Afro-American Studies. Philosophy and the Politics of Meaning. There ain't no Black in the Union Jack. 1993. What is this "Black" in Black Popular Culture. In: URIBE. Race. 1997b. The Negro in Brazilian Society. 0 que a cinderela negra tern a dizer sobre a "politica racial" no Brasil. Herbert J. Stuart. David & CHEN Kuan-Hsing (ed. 8. 1979. 1971. Symbolic Ethnicity in America. James & MARCUS. FERNANDES. 1996. Writing Culture: The Poetics and Politics of Ethnography. The Cultural Politics of Race and Nation. Modernity and Double Consciousness. Gangster Rap and Nihilism in Black America. Antropologia en la modernidad. Critical Dialogues in Cultural Studies. 31. FONTAlNE. 28. Television and the Struggle for "Blackness".1995.1994. 1991. . Chicago: The University of Chicago Press. Times Literary Supplement. Bogota. LondreslNova York: Routledge. Identidade e politica na cu/tura brasileira. Michael J. Nova York: International Publishers. 1982.). 1969. The Position of Blacks in Brazilian Society. Why Brazil is Different. Universidad Nacional. Los grupos etnicos y el Estado nacional en Colombia. pp.). Cambridge. The Black Atlantic. GOLDBERG. African-American Reflections on Brazil's Racial Paradise. 122-35. GILROY Paul. Class and Power in Brazil. 1994. In: CLIFFORD. 1995a. 1985. Bogota: Instituto Colombia no de Antropologia. -. In: MORLEY. 1995. au onde achar a africa na nat. 2. Social Text 43. Minneapolis: University of Minnesota Press. Ponencia presentada en el Simposio Central del VIII Congreso de Antropologia en Colombia. University of California. December. Herman. Peter. Revista Brasileira de Ciencias Sociais. Mass. 1995b. Anani.:ao 177 DE GENOVA. Pierre-Michel (ed. -. DZIDZIENYO. -. HALL. pp. Resenha: Orpheus and Power de Michael Hanchard. Nova York: Columbia University Press. Watching Race. 173-18l. George (ed.). 178-82.). 89-132. 15-60. Selections from the Prison Notebooks. pp. -. Ethnicity and the Postmodern Arts of Memory. -. In: HELLWIG. 1971. FISCHER. David T. Londres: Minority Rights Group. Revista USP. Oxford UK/Cambridge USA: Blackwell. Nicholas P. FRY. From Roxbuty to Rio .r ! I r I I I a monocromia do mite.: Harvard University Press. pp. GRAY.and Back in a Hurry. 1992. Racist Culture.). Angela M. Rio de Janeiro: Zahar. Para ingles ver. Stuart Hall. Christian. Some Questions of Life and Death. Philadelphia: Temple University Press. pp. Berkeley: University of California Press. David (ed. Indigenismo y etnicidad: el desaflo neoliberal. Ethnic and Racial Studies. 1986. Antonio. Florestan. GROS. GRAMSCI. 1-20. Maria Victoria & RESTREPO Eduardo (org. 1996a. 1997a. pp. 4 (2). 1993. David J. pp. Key (ed. Michael G.d. Dark Thoughts about the Self. 1996a. pp. 1996b. University of New Mexico.iio da diferen<. MA GGIE Yvonne. 1997. UFSC. Nova York: Norton Library. Medo do feitifo: relafoes entre magia e poder no Brasil. LondreslNova York: Routledge. textos y debates.). Identities. -. Albuquerque: Latin American Institute. pp. Race Relations in Modern Brazil. A. David & KUAN-HSING Chen (ed. (ed. African-American Ref/ections on Brazil African Paradise. HARRIS. Ministerio da Justi. Marvin. Ilka B. A ilusiio do concreto: analise do sistema de classifica<. HOLLINGER.). 1992.:ALVES. -. MAGGIE. Brazil. Rio de Janeiro: Graal. d . 18. 1974. Patterns of Race in the Americas.). Afro-Asia. Rio de Janeiro: Relume Dumara. In: CALHOUN. 41-59. Resposta a Luiza Bairros. Florianopolis: Nucleo de Estudos sobre Identidade e Rela~oes Interetnicas. NJ: Princeton University Press. 1996b. pp. Stuart. In: MORLEY. Critical Dialogues in Cultural Studies. -. G. Cinderela negra?: ra~a e esfera publica no Brasil. Gramsci's Relevance for the Study of Race and Ethnicity. Apresentado na 15. 1979. (ed. Cultural ism Versus Cultural Politics: "Movimento Negro" in Rio de Janeiro & Sao Paulo. 1996c. Rio de Janeiro: Arquivo Nacionol. New BrunswickILondres: Transaction. On Global Agents. Postethnic America. HELLWIG. -. Craig (ed. M. 1991. Music and Black Ethnicity: The Caribbean and South America. 155-200. Transnational Relations.a no Brasil. -. (ed. Cultural Identity.178 rita laura segato HALL. KUBIK G. 164-75. 1994. Princeton. Boulder: Westview Press. and the Social Making of Transnational Identities and Associated Agendas in "Latin" America. brasileiros e a cor da especie humana: uma resposta a Peter Fry. Beyond Multiculturalism. In: BEHAGUE. 1994. In: 0 Brasil na virada do secula. Yvonne & GON<. In: WARREN. The Violence Within: Cultural and Political Opposition in Divided Nations. FiladeIfia: Temple University Press. 1991. s. LEMERT. Revista USP. pp. 31. Caxambu.a. Ethnicity. Social Theory and the Politics of Identit. HANCHARD. LEITE. 1945-1988. and the Psychology of Culture Contact. Stuart Hall. 1994. 227-34.). HASENBALG. 1992. Estudos Afro·Asiaticos.' reuniiio anual da Anpocs.iio racial no Brasil. . Oxford UKlCambridge USA: Blackwell. Carlos A. "Americanos".).. Nova York: Basic Books. 1995. 1995. Pessoas fora do lugar: a produ<. Daniel. Orpheus and Power. Discriminafao e desigualdades raciais no Brasil. David A. 30. MATO.) Terras e territarios negros no Brasil. Charles. The "Movimento Negro" of Rio de Janeiro and Sao Paulo. 57-86. Brazil. SEGATO. Barbara. 19 (55). The Post-Colonial Studies Reader. 34 (2).). -. Rio de Janeiro: Graal.).ao racial no Brasil que muda. pp. pp. 16 (4).6es do numero tees. White Terror and Oppositional Agency: Towards a Critical Multiculturalism. pp.r t r a monocromia do mito. Under Western Eyes: Feminist Scholarship and Colonial Discourses. 1995. 14 (2). Walter. Rita Laura. MATIA. Buenos Aires: Clacso. .ao. 1995b.: Basil Blackwell. 2005. pp. Rela~i5es raciais entre negros e brancos em Sao Paulo.). Dados . Dados . 165-87. ou as li. 18. Brasil & EUA. The Hyperreal Indian. "Forma. 55-85.6es de diversidade": urn modelo para interpretar a recep. MOHANTY. Peter. 38 (3). 1994.A. 40-79.ao de op. Joseph D. MIGNOLO. Rubem Cesar et allii. Revista de Estudos Avan~dos da Universidade de Sao Paulo. 1985. pp. NEED ELL. In: ASHCROFT.ao de minoria: a expansao dos cultos afrobrasileiros na Argentina como processo de re-etniza. GRIFFITHS. Brasil e EUA. Mass. Critique of Anthropology. Oracy. The Brazilian Puzzle. 1988. In: LANDES.). Rita Laura. Perspectivas latinoarnericanas.. Critique of Anthropology. Processo de urn racismo rnascarado. and Modernity in the Origins of Gilberto Freyre's Oeuvre.Revista de Ciencias Sociais. David. G. Chandra Talpade. Multiculturalism. -. 45-74. Petropolis: Vozes. 343-59. RAMOS. & TIFFIN. La colonialidad del saber: eurocentrismo y ciencias sociales. Frontiers and Margins: The Untold Story of the Afro-Brazilian Religious Expansion to Argentina and Uruguay. NASCIMENTO. 249-78. Nem somente preto ou negro. Religiao e identidade nacional. Relativizando. Afro-Asia. Livio. In: FERNANDES. Roger (org. 1995a. 0 politeismo afro-brasileiro e a tradi~o arquetipal. Uma voca.6es raciais em Itapetininga. 1995. Edgardo (ed. 1994. (ed. David T. Alcida. Brasilia: Editora da Universidade de Brasilia. LondresINovaYork: Routledge. 2000.Revista de Ciencias Sociais. Sao Paulo: T. Abdias do. H. 1955. 1996. The American Historical Review. Roberto da. Rela. In: GOLDBERG. Cidadania: por que nao? Estado e sociedade no Brasil it luz de urn discurso religioso afro-brasileiro. pp. 1994. Santos e daimones.ao. Culture on the Borderlands of the Western World. Gender. pp. Mclaren. Introdu.9-31. (ed. Aniba!' Dom Quixote e os moinhos de vento na America Latina. Cambridge. Queiroz. Race. La colonia lid ad a 10 largo y a 10 ancho: el hemisferio occidental en el horizonte colonial de la modernidad. 1991. Roberto da & HESS. SANSONE. Florestan & BASTIDE. A Critical Reader. 0 genocidio do negro brasileiro. 1996. 1978. 100 (1). 1984. NOGUEIRA. In: FERNANDES. Sao Paulo: Anhembi. ou onde achar a africa na na~ao 179 MATIA. pp. 1995. Tanto preto quanto branco: estudos de rela~i5es raciais. sistema de classifica..6es religiosas nos paises da America Latina no contexto ° . 11-139. SEGATO. QUIJANO. . Nova York: Columbia University Press. Rio de Janeiro: Paz e Terra. Identity. WILLIAMS. Anuario Antropologico/97.O 3. & PIERCE. Gilberto & VELHO. VALLE SILVA. 1992.ao. Rio de Janeiro: Rio Fundo. Politics and Comparisons. pp. Center for Latin American Studies. VELHO. In: FEMENjAS. Buenos Aires: Editorial Catalogos. Perfiles del feminismo latinoamericano. 1996. 1992. Racial Conditions: Theories. 1990. WILLIAMS. 5-28. pp. Black into White: Race and Nationality in Brazilian Thought. 186-215. WADE. In: ORO. 1989. Ari P. SKIDMORE. Nova York: Oxford University Press. SOARES. In: VELHO. 143-91. Duas conferencias. SOLLORS.). Gilberta. . The Dynamics of Racial Identity in Colombia. Stanford University.1997. The Double Bind of Brazilian Culture. The Impact of the Precepts of Nationalism on the Concepts of Culture: Making Grasshoppers of Naked Apes. Cornell. A Class Act: Anthropology and the Race to Nation Across Ethnic Terrain. Petr6polis: Vozes. Brackette (ed. Religiiio e globalizariio. Maria Laura. Racial Ideas and Social Policy in Brazil.). Howard. Nova York: Vintage Books. Insurgent Masculine Redemption and the Nation of Islam. Peter. -.). Brackette F. Nova York/Londres: Routledge. Blackness and Race Mixture. 1870-1940. Relaroes raciais no Brasil contemporaneo. Revista Brasileira de Ciencias Sociais. -. Otavio. Brackette F. WINANT. Nelson do & HASENBALG. The Invention ofEthnicity. 1986. VIVEIROS DE CASTRO CAVALCANTI. The Idea of Race in Latin America. Annual Review of Anthropology. BaltimorelLondres: The Johns Hopkins University Press. Women out of Place. Thomas E. Nova York: Oxford University Press. 24. Minneapolis: University of Minnesota Press. Race Matters. -. Unidade e fragmenta. Oracy Nogueira e a antropologia no Brasil: a estudo do estigma e do preconceito racial. Luiz Eduardo. Paulette. pp. -. 1996. 1974. 1995. In: GRAHAM. Rio de Janeiro: Forum de Ciencia e CulturalUFRJ. 1999. Identidades politicas/alteridades hist6ricas: una critica a las certezas del pluralismo global. "And Your Prayers Shall Be Answered Through the Womb of a Woman". Carlos. Oxford: Oxford University Press. 1993. Beyond Ethnicity. Consent and Descent in American Culture. 1996. . In: WILLIAMS. WEST. 1992.). 1870-1940.ao em sociedades complexas.). Austin: Texas University Press. 1994.(ed. Trabalho apresentado na conferencia "Negotiating Rights in Emerging Democracies: the Case of Brazil". 31. Werner. pp. Cultural Critique. Maria Luisa (comp. EI Edipo Brasilero: la doble negacion de genero y raza. Richard (ed. (ed. 1989. n. 7-36.180 rita laura segato da globaliza. 18. 2006. que e lido por urn jornalista. ENTRE OVELHO E 0 NOVO MUNDO RUBEN GEORGE QLlVEN tema da cultura brasileira e da identidade nacional e recorrente no Brasil e e constantemente reatualizado e reposto no debate sobre nossa sociedade. que divulga as ideias centrais da obra. Se 0 tema da Cultura Brasileira e Identidade Nacional e uma constante no Brasil. Se esse e urn exemplo de uma expressao cultural de origem erudita que aos poucos vai se popularizando. etc. as diferentes formula~6es sobre 0 tema freqiientemente acabam se transformando em senso comum. Essa discussao pass a inexoravelmente pelo debate sobre 0 que e a cultura brasileira. Estamos sempre discutindo quem somos.Capitulo 6 BRASIL. 0 que a diferencia de outras culturas e a faz ser tao peculiar. que acabam aparecendo no discurso de urn politico. sem que a maior parte delas tenha lido Casa-Grande e Senzala. ele necessita de intelectuais que 0 formulem. Para dar urn exemplo: as ideias de Gilberto Freyre sobre a "democracia racial brasileira" sao senso comum entre amp las parcelas de nossa popula~ao. Ele e discutido por intelectllais e tam bern pela popula~ao em geral e se constitui numa forma de falar sobre 0 que a sociedade brasileira pens a sobre si mesma. que e noticiado em urn jornal. E dificil determinar como se da exatamente esse processo. muitas vezes a circula~ao de ideias se da O '" l r . como somos e por que somos 0 que somos. Uma vez desenvolvidas. Podemos imaginar urn intelectual que escreve urn livro. e vista como algo que vem de fora e que deve ou ser admirado e adotado. visto como moderno. etc. A modernidade tambem se confunde. Quem fala em na~ao refere-se a uma institui~ao relativamente nova. num processo em que representa~iies que tem origem na cultura popular recebem uma formula~ao mais elaborada e acabam entrando num circuito erudito. No Brasil. A referencia ao passado tem sua contrapartida na modernidade. freqiientemente. Trata-se de estar em dia com 0 "mundo adiantado". a Europa e. o pensamento da intelectualidade brasileira tem oscilado no que diz respeito a essas questiies. em sua genese. muitas vezes. em geral. tomando-se em seu lugar a cuItura europeia (ou mais recentemente a norte-americana) como modelo de . A importa~ao implica intelectuais que se inspiram no centro para buscar as ideias e os modelos la vigentes. 0 importante a ressaltar e a intera~ao entre cultura erudita e cultura popular e a circula~ao de ideias (Oliven. 1999). de baixo para cima. Na~ao e modernidade caminham juntas. sociedade civil. isto e. os Estados Unidos. da na~ao (Thiesse. 0 papel dos intelectuais tambem e fundamental nesse processo de apropria~ao de manifesta~iies que tem origem nas classes populares e sua subseqiiente transforma~ao em simbolos de identidade nacional. ao contrario. em certos moment os. na medida em que aderir a tudo que esra em voga nos lugares ditos adiantados e. Igreja).182 ruben george oliven num sentido inverso. ela implica igualmente fazer aclimatar essas ideias num novo solo que e a sociedade brasileira. No Brasil. Ela pressupiie a existencia de cidadaos com direitos iguais. com pouco mais de dois seculos de existencia. e preciso que haja intelectuais que ajudem a formula-lao Essa cultura. de uma sociedade secularizada com institui~5es separadas e desenvolvidas (Estado. com a ideia de contemporaneidade. Assim. muitas vezes. faz referencia a um passado comum e a um povo que seria a base e 0 portador da cultura e. posteriormente. Para construir uma na~ao e preciso que haja uma cultura que Ihe de suporte e. II o tema da identidade esta associado a forma~ao da na~ao. a cultura brasileira e profundamente desvalorizada pelas elites. como nos demais paises da America Latina. a modernidade. ou seja. ou. portanto. 1989). por conseguinte. encarado com cautela tanto pelas elites como pelo povo. 1942. a familia real portuguesa. A abertura dos portos brasileiros ao comercio exterior promoveu urn grande fluxo de comerciantes e viajantes estrangeiros para 0 pais e varios deles deixaram descri~Oes muito interessantes a respeito da vida e dos costumes do Brasil durante 0 seculo XIX. eminentemente urbano. a difusao cultural do genero de vida burgues. onde a familia real vivia. 1928) . III Em 1808. que acontecia no Rio de Janeiro. come~ou a se desenvolver entre as classes altas. As demais cidades eram menores e a vida nelas era bastante simples quando com parada com a capital (Pereira de Queiroz. Exatamente por isso. mais fortemente. transferiu-se para 0 Brasil. p.a figura do malandro. A "moderniza~ao" observada pelos viajantes . Os gostos requintados da elite do Rio de Janeiro foram observados por George Gardner. 0 superintendente britanico dos Jardins Botanicos Reais do Ceilao que percorreu 0 Brasil de 1836 a 1841: o grande desejo dos habitantes da cidade parece que e dar-lhe ares europeus. entre 0 velho e 0 novo mundo 183 modernidade a ser alcan~ado. 0 que ate certo ponto ja acontece. Como rea~ao.brasil. o samba. 5). personagem do romance homonimo modernista (Andrade. 0 Rio se tornou uma cidade "cosmopolita" na qual as pessoas mais abastadas tentaYam se comportar de uma maneira que elas supunham ser europeia. para 0 resto do pais. etc. Ai. (Oliven. Boa parte desses relatos concentrou-se no Rio de Janeiro. que de colonia se tornou sede da monarquia e vice-reino.0 heroi brasileiro sem nenhum carater e pregui~oso de nascen~a. 0 carnaval. 1973). em outros momentos nota-se que certas manifesta~oes culturais brasileiras passam a ser profundamente valorizadas. 1989). fugindo do cerco napoleonico. Os treze anos durante os quais a corte permaneceu no Rio de Janeiro foram de grande importancia politica e economica e foram seguidos pela declara~ao de independencia do Brasil em 1822. 0 futebol. em parte pelo influxo dos proprios europeus. em parte pelos proprios brasileiros que tern visitado a Europa para se educarem ou para outros fins (Gardner. Mas nao se deve generalizar essa situa~ao. exaltando-se simbolos como Macunaima . cit. a forma de tratar da questao e importada: 0 romantismo europeu. Temos assim uma aparente defasagem entre 0 que ocorria no mundo real e o das ideias. "urn poeta nao e nacional s6 porque insere nos seus versos muitos nomes de flores ou aves do pais. muito antes de o pais come~ar a se tornar industrializado. publicado em 1873. Machado de Assis ja se havia ocupado da questao da nacionalidade na literatura brasileira. quando na verdade a popula~ao indigena brasileira ja sofria ha muito as conseqiiencias do contato com 0 homem branco. Retrata-se urn indio do tipo "born selvagem". 1992. p.. p. Pereira de Queiroz formulou a hipotese de que a difusao de urn modo de vida burgues come~ou a ocorrer no Brasil aproximadamente a partir de 1820. Urn processo inverso do que acaba de ser descrito ocorre quando os intelectuais e elites valorizam 0 que eles consideram rna is "autenticamente brasileiro". Ele considerava erronea a posi~ao "que s6 reconhece espirito nacional nas obras que t .ponto de vista cultural. o que pode dar uma nacionalidade de vocabulario e nada mais". nos quais se valorizam nossas raizes culturais: 0 indio. Esse novo modo de vida promoveu tambem uma diferencia~ao na popula~ao urbana nao somente em termos economicos. etc.. Bernd assinala que no Brasil 0 Romantismo operou uma revolu~ao estetica que"desejando imprimir ii literatura brasileira 0 carater de literatura nacional. a vida nas cidades mais ricas quando comparada com a do campo come~ou a se tornar muito diferente em qualquer nivel social (Pereira de Queiroz. mas principalmente do. 184 ruben george oliven estava de fato limitada nao somente ii entao capital do Brasil. mas tambem ii sua elite com a qual eles tinham contato mais intimo. ja que os estratos superiores adotaram 0 requinte e 0 arremedo de vida intelectual como 'urn simbolo de distin~ao. A partirdesse periodo. Mas mesmo nesse caso. 18). No seculo XIX. 210). 1980). a vida rural. op. agiu como for~a sacralizante que seria caracteristica de uma consciencia ainda ingenua (Bernd. Essa tendencia ja aparece na segunda metade do seculo XIX nos escritos dos representantes da escola indianista da nossa literatura e atinge seu apogeu nos romances de Jose de Alencar. A tendencia a exaltar as virtudes do carater brasileiro tern seqiiencia no seculo XX e e tambem uma constante em nossa vida intelectual (Pereira de Queiroz. Em urn ensaio. ele argumentava que nao se devia carregar no uso do local sob 0 risco de restringir a com preen sao das obras a urn grupo muito restrito. Para Machado. embora reconhecesse a legitimidade de urn "instinto de nacionalidade" por parte da literatura da entao jovem na~ao brasileira. A rigor nada esra no lugar e tudo sai de urn lugar e entra em outro em que e adaptado aos interesses de grupos e as circunstancias cambiantes. 0 que prevalecia no Brasil niio era a ideia dos direitos humanos. de receber. Os emprestimos culturais siio uma constante em qualquer cultura. como a francesa. entretanto. ainda quando trate de assuntos remotos no tempo e no espa~o" (Machado de Assis. 16 e 17-8). e certo sentimento intimo.. cad. Todavia. entre 0 velho e 0 novo mundo 185 tratam de assunto local. viver e ser capaz de dar. que do ponto de vista 16gico. Pode-se argumentar. «para qualquer civiliza~iio. [. IV Analisando os primeiros romances de Machado de Assis. A tese das "ideias fora do lugar" se desvinculou da inten~iio original de Schwarz. em geral.. "0 que se deve exigir do escritor. que era a analise da obra de Machado de Assis.• 'f brasil. Segundo Machado. pois para as elites brasileiras o escravo era uma mercadoria que estava sujeita a ser usada e trocada como qualquer outra. "fora do lugar". 5. 30. J A ideia de uma cultura «pura». 1999. Ha urn sentimento muito difundido de que no Brasil as ideias e pdticas culturais estariam. llao contaminada par influencias externas. Folha de S. 1977). doutrina que. a ser exata. A tal ponto e forte essa ideia que 0 historiador ingles Peter Burke assinala que e dificil para urn intelectual estrangeiro entender por que os brasileiros estiio obcecados com a no~iio de emprestimo cultural: "Somos todos «emprestadores» . a italiana a norte-americana ou a chinesa. A dinamica l . 2716/1997. e urn mita. Como escre- veu Fernand Braudel em seu famoso estudo do mundo contemporaneo.Paulo. p. mas a do favor paternalista para os brancos que niio possuiam terras e a opressiio para os escravos. Embora a economia brasileira estivesse durante tres seculos baseada na explora~iio da miio-de-obra escrava. a escravidiio niio era incompativel com 0 liberalismo. de emprestap>" (Burke. Schwarz argumentou que a ideologia liberal estava "fora do lugar" no Brasil Imperio (Schwarz. limitaria muito os cabedais de nossa literatura". pp. e acabou virando "senso comum". que 0 tome homem do seu tempo e do seu pais.mesmo quando fazemos parte de culturas «financiadoras». antes de tudo. 3). parte das elites poHticas do pais da epoca aderiram ao ideario liberal que fora criado na e se aplicava a Europa. de Carvalho. frisava que eles deveriam ser respeitados e nao mortos. E da epoca da Republica Velha a tendencia de intelectuais pensarem 0 Brasil e discutirem a viabilidade de haver uma civiliza~ao nos tropicos. Os militares e politicos brasileiros que proclamaram a Republica em 1889 estavam fortemente imbuidos da ideologia positivista. Euclides da Cunha. numa linearidade evolucionista que se encaixava na ideia de progresso do positivismo. M. 1995). Apesar de ser uma filosofia criada na Fran~a. Ha mesmo cidades. 0 positivismo era uma ideologia que vislumbrava a modernidade e que justificava os meios autoritarios de alcan~a­ la. Dois seriam os obstaculos a este projeto: ra~a e clima. como Rio de Janeiro e Porto Alegre. Hi varios momentos neste processo no Brasil. 0 positivismo teve muito mais sucesso no Brasil que no seu pais de origem. Ai elas encontram urn ambiente muitas vezes diferente daquele no qual se originaram. Era uma questao de estagios. 1989). 0 marechal Rondon. Ideias e pniticas que se originam num espa~o acabam migrando para outros. 0 lema "Ordem e Progresso". mas de os indios se civilizarem em rela~ao ao Brasil. preocupados em explicar a sociedade brasileira atraves da intera~ao da ra~a e do meio geogr:ifico. Intelectuais como Silvio Romero. contido na bandeira brasileira. 1990). mostra a centralidade de Auguste Comte em nossa simbologia U. Oliveira Viana e Anur Ramos.186 ruben george oliven cultural implica urn processo de desterritorializa~ao e de reterritorializa~ao. reelabora-lo e dar-lhe urn cunho proprio que 0 transforma em algo diferente e novo (Oliven. Tao forte foi 0 positivismo no Brasil que ate hoje existe 0 que echamado de arquitetura positivista referindo-se aos predios que foram mandados construir pelos que estavam no poder durante a Republica Velha (1889-1930). Nina Rodrigues. sao profundamente pessimistas e preconceituosos em rela~ao ao brasileiro que e caracterizado como apatico e indolente. e a . que dedicou sua vida aos indios. Foram militares positivistas os primeiros que se preocuparam em rela~ao ao que fazer com os indigenas. Assim. mas de integra-los a civiliza~ao (Lima. Uma das riquezas da dinamica cultural brasileira e justamente a capacidade de digerir criativamente 0 que vern de fora. 0 positivismo era uma forma nao so de 0 Brasil se modevnizar em rela~ao a Europa. mas acabam sendo adaptadas ao novo contexto e por assim dizer "entram no novo lugar". onde ainda existem templos positivistas. Para parte das elites brasileiras. mas sua ideia nao era de deixa-Ios seguir seu modo de vida tradicional. os modernistas recusavam 0 regionalismo ja que acreditavam que era por meio do nacionalismo que se chegaria ao universal. por urn lado. A ideologia da "democracia racial" I' tao forte no Brasil que permeia parte do pensamento sociologico e 0 senso comum brasileiro (Ortiz. Apesar de urn certo bairrismo paulista. "para os modernistas. a partir da segunda parte do modernismo (1924 em diante). A unica solu~ao visualizada era 0 embranquecimento da popula~ao mediante a vinda de imigrantes europeus. entre 0 velho e 0 novo mundo 187 nossa vida intelectual destituida de fllosofia e ciencia e eivada de urn lirismo subjetivista e morbido. 1994). significa a reatualiza~ao do Brasil em rela~ao aos movimentos culturais e artisticos que ocorrem no exterior. urn dos principais expoentes do modernismo.brasil. como a problematica da nacionalidade. representa urn divisor de aguas nesse processo. Uma das contribui~iies do movimento consiste justamente em ter colocado tanto a questao da atualiza~ao artistico-cultural de uma sociedade subdesenvolvida. com toda sua complexidade e diferencia~ao ideologica. 0 movimento modernista. 1 . moralizante. nacional. v A seman a modernista de 1922 (mesmo ana da funda~ao do Partido Comunista do Brasil. Assim. da primeira revolta tenentista e do centenario da Independencia). Nesse sentido. 105). E so se pode ser. 1978. 1985). Nos temos 0 problema atual. ocorrendo uma redescoberta do Brasil pelos brasileiros. Problema de ser alguma coisa. p. como a mesti~agem e a constru~ao de uma democracia racial (Araujo. a opera~ao que possibilita 0 aces so ao universal passa pela afirma~iio da brasilidade" (Moraes. sendo nacional. E recem na decada de trinta com Gilberto Freyre que se crian! uma nova visao racial do Brasil em que 0 pais sera vista como uma civiliza~ao tropical de caracteristicas unicas. 0 ataque ao passadismo I' substituido pela enfase na elabora~ao de uma cultura nacional. implica tambern buscar nossas raizes nacionais valorizando 0 que haveria de mais autentico no Brasil. a Sergio Milliet: Problema atual. Na visao de Freyre a mistura racial nao I' urn problema mas uma vantagem que 0 Brasil teria em rela~ao a outras na~iies. Eo que fica claro numa carta de Mario de Andrade. por outro lado. E entao seremos universais. e que reagiu. Socialmente. Segundo Moraes. p. Filosoficamente" (Ibidem. destroi. 52). 1978. um dos expoentes da Semana Modernista. Problema atual. 1983. p. 1978. Moraes.. J. 0 que Oswald argumenta e que os brasileiros se dedicaram a esta pratica desde 0 come~o de sua historia. visando estudar os elementos que compiiem a cultura brasileira (Ibidem. o instinto antropofagico. 1983). assegura a sua manuten<.ao de certos elementos alienigenas. op. de Andrade. Coerente com esta postura. Mais do que iBtO. por um lado. No final. atraves de um processo de transforma<. o que esta sendo proposto no Manifesto Antrop6fago e uma modernidade brasileira que se caracteriza por saber ingerir e digerir criativamente 0 que vem de fora. cit.. 0 texto come~a afirmando que "so a Antropofagia nos une. E nos so seremos universais 0 dia em que 0 coeficiente brasileiro nosso concorrer para riqueza universal (apud E.ou 0 Manifesto Antrop6fago. numa referencia ao prelado portugues que naufragou na costa do Brasil e foi comido pelos indigenas em 1554. degluti. p. 16).ao. modernismo. pel.. Ou seja: antes do processo colonizador. 13). Em 1928. repara bem porque hoje so valem artes nacionais. elementos de cultura importados..ao em nossa realidade.. Mario transformou-se num autodenominado "turista aprendiz". Entao passaremos do mimetismo pra fase da cria~ao. par outro lado.aol absor<. 13). Uma carta que Mario de Andrade escreveu em 1924 ao poeta Carlos Drummond de Andrade aponta para a mesma dire~ao: "Nos so seremos civilizados em rela~ao as civiliza~iies 0 dia em que criarmos 0 ideal. 0 Brasil tinha descoberto a felicidade". 0 autor data 0 Manifesto como sendo do Ano 374 da Degluti~ao do Bispo Sardinha. havia no pais uma cultura na qual a antropofagia era praticada. sempre antropofagicamente mas com pesos diferentes. a orienta~ao brasileira. E de uma maneira alegre e intuitiva: "Antes dos portugueses descobrirem 0 Brasil. Economicamente. ao contato dos diversos elementos novos trazidos pelos po- b - . lan. "A alegria e a prova dos nove" (Ibidem. porque nacionais" (M.188 ruben george oliven humano de brasileirar 0 Brasil. Oswald de Andrade. desenvolvendo uma intensa atividade de pesquisa e viagens. 'p. Ele se caracteriza por defender ferrenhamente a intui~ao e pelo poder de sintetizar em si os tra~os marcantes da nacionalidade que garantem a unidade da na~ao (Moraes. E este instinto antropofagico que deve ser agora valorizado pelo projeto cultural defendido por Oswald de Andrade. J se esmeraram [. In: G. em 1926 teria sido lan~ado em Recife. op. algumas de!as. sem deixar de incluir importa~6es dessa especie.. 0 autar do Manifesto afirma que 0 texto foi lido em 1926 no Primeiro Congresso Brasileiro de Regionalismo realizado em Recife e publicado em primeira edir. p. ao mesmo tempo que decorativas.brasil. populares. da do borda do..o em geral. da do dace. 52). algumas como que amropologicamente intuitivas. preservar nao s6 a tradi'$3. a das batidas: quase tudo aioda feito em casa mas susceptive! a industrializar-se sem perderem tais valores. 2 Num documento e!aborado para comemorar os cinqiienta anos do Manifesto. na epoca a capital mais desenvolvida do Nordeste. J 0 Movimento do Recife. E significativo que. da do bolo. se 0 movimento modernista de 1922 surge em Sao Paulo.' 0 movimento de 1926 tern urn sentido. 0 Manifesto . mas sim em 1952.da cozinha. p. seu autor afirma que "enquanto a Semana de Arte de Sao Paulo e 0 modernismo do Rio [. Joaquim. [. ] em renova~6es. Freyre. folcl6ricas. ao contnirio. 28.. cit. ate entao desprezados. reinterpretar. Pa de Cal. orais.. em setores eruditos da cuitura. tradicionalista e a seu modo modernista" .escaodalo. Coisas cotidianas. p. Isto nao significa.faz ! \ \ 1 1 ]oaquim Inojosa afirma que 0 Manifesto Regionalista nao foi publicado em 1926. espomaneas. 1978). da da talha e 0 . empenhou-se tam bern em. 2 o Manifesto Regionalista desenvolve basicamente dois temas interligados: a defesa da regiao enquanto unidade de organiza~ao nacional e a conserva~ao dos valores regionais e tradicionais do Brasil em geral e do Nordeste em particular. Rio de Janeiro: Editora Meio·Dia. repita-se. 0 caso tambem da arte da renda. desde 0 seu infeio. 1976.ao em 1952 (d. seus toques ou sabores caseiros". rusticas desprezadas pelos em aete ou em cultura senslveis somente ao requintado e ao eruditO. entre 0 velho e a novo mundo 189 vos europe us. cidade que ja despontava como futura metr6pole industrial. . Recife: Instituto Joaquim Nahuco de Pesquisas Sociais. 0 Manifesto Regionalista de Gilberto Freyre. para a epoca em que surgiu 0 movimento . 144). mas que deseja. alias admiraveis. ja adaptadas a ecologias e a tradi~6es regionais. Manifesto regionalista. como a do move! e a da arquitetura domestica. tradicionais..que cinqiienta anos mais tarde Freyre chamaria de "regionalista. inverso ao de 1922. Gilberta. pesquisar. da bebida com sucos de frutas nacionais e regionais. entretanto. data em que Gilberto Freyre provavelmeme 0 teria redigido (d. Inojosa. Freyre. valorizar inspira~6es vindas das raizes teluricas. mas especificamente a de uma regiao economicamente atrasada. Trata-se de urn movimento que nao atualiza a cultura brasileira em rela~ao ao exterior. da mesma cultura.. de certa maneira. que Freyre nao possa ser encarado como compartilhando uma significa parcela do campo de preocupa~oes em que se movimentavam os modernistas paulistas. Coisas tidas como desprezive!mente arcaicas em arte uteis. 1978.. primeiro tema central do Manifesto e preocupa~ao constante de pens adores do fim do seculo XIX e come~o do seculo XX . A discussao sobre a conveniencia ou nao de importar modelos e ideias estrangeiros e urn tema recorrente entre nossos intelectuais e dele 0 Manifesto de 1926 tratad tambem ao analisar a questiio da tradi~ao. as conseqiiencias maleficas de modelos estrangeiros que the sao impostos sem levar em considera~ao suas peculiaridades e sua diversidade fisica e sociaL A formula~ao de urn sistema alternativo de organiza~ao do Brasil esta ancorada na denuncia da importa~ao de modelos alienigenas considerados imcompativeis com nossas peculiaridades. 1976. Freyre escolha itens do que e considerado atrasado e/ou simbolo da pobreza. ou seja. por ocasiao da vinda da familia real portuguesa. ao fazer a defesa intransigente dos valores do N ordeste e da necessidade de preserva-Ios. Freyre toea num ponto importante e atual. por exemplo. Freyre critica 0 habito que nossas elites tern de arremedar os costumes que julgam modernos. 0 inverso dos modernistas. desde que e na~ao. e justamente a uma conclusao semelhante que chegaram os modernistas a partir da segunda fase do movimento quando se deram conta que a unica maneira de ser universal e ser nacional antes. ao contrario. p. Ao frisar a necessidade de uma articula~iio inter-regional. A conserva~iio dos valores regionais e tradicionais do Brasil em geral e do Nordeste em particular e 0 segundo grande tema do Manifesto Regionalista. no sentido de abrigo humane adaptado a natureza tropical e 7 . no come~o do seculo passado. Mas seu modo de argumentar e. mas. Esignificativo que. como propiciar que as diferen~as regionais convivam no seio da unidade nacional em urn pais de dimensoes continentais como 0 BrasiL 0 que Freyre afirma e que 0 unico modo de ser nacional no Brasil e ser primeiro regionaL Guardadas as propor~oes. 80). Assim.decorreria do fato de ele sofrer. ele tece urn elogio aos mocambos como exemplo da contribui~iio do Nordeste a cultura brasileira. na critica dos maleficios do progresso e da importa~ao de costumes e valores estrangeiros. de certa maneira.) no que diz respeito a cidade do Rio de Janeiro. A necessidade de reorganizar 0 Brasil.190 ruben george olive" a defesa do popular que precisaria ser protegido do "mau cosmopolitismo e do falso modernismo" (Freyre. cit. tendencia ja apontada por Pereira de Queiroz (op. ja que nao esta alicer~ado numa atualiza~ao cultural atraves de val ores modernos vindos do exterior. p. p. se resume a: popular e regional equivalem a tradicional (e born). representada pela madeira. 80). nacrao versus regiao. p. pelo cipo. que por tras da orienta<. Freyre vaticina que "uma cozinha em crise significa uma civiliza~iio inteira em perigo: 0 perigo de descaracterizar-se" (Ibidem.ao aristocratica as mudan<. pelo homem.ao versus modernidade. 1976.brasil. 0 Manifesto suscita uma serie de questaes que sao recorrentes em nossa hist6ria: estado unitario versus federacrao. ou datas politicamente insignificantes.as decorrentes da urbaniza<. Ele tambem faz a defesa das ruas estreitas e critica a tendencia ja entao existente de construir grandes avenidas e a mania de mudar nomes regionais de ruas e lugares velhos para nomes de poderosos do dia. De fato.ao e que estava vazada numa critica a perda de valores comunitarios e da pureza cultural que supostamente teriam existido no pass ado. 72). tradi<.ao conservadora do Manifesto estao temas que continuarn sendo muito atuais no Brasil. Outro aspecto defendido por Freyre e a culinaria do Nordeste. . Uma segunda leitura ressaltaria.0 autor do Manifesto constroi uma oposi~ao que. ao passo que cosmopolitismo equivale a modernismo (e ruim). Sua rea~ao e de cunho tradicionalista e se assemelha a rea<. da natureza regional. nacional versus estrangeiro.aes que colocam em xeque 0 padrao tradicional de domina~iio. 1992). Poder-se-ia argumentar que ha pelo menos duas leituras que podem ser feitas do Manifesto Regionalista. 59).ao e da industrializa<. popular versus erudito. em ultima analise. Depois de afirmar que toda tradi~ao da culinaria nordestina esta em crise e que 0 doce de lata e a conserva imperam. Ao se erigir em bastiiio da defesa do popular que precisa ser protegido do "mau cosmopolitismo e do falso modernismo" (Ibidem. pela palha. A primeira enxergaria nele urn documento elaborado por urn intelectual que representa uma aristocracia rural periferica e que vi' a ordem social passar por transforma<. entre 0 velho e 0 novo mundo 191 como solu~ao economica do problema da casa pobre: "a maxima utiliza~iio. entretanto. E justamente na fusao de uma perspectiva conservadora com 0 levantamento de questaes ainda nao resolvidas no Brasil que reside a originalidade do Manifesto Regionalista. Sua posi~iio se aproxima muito da visiio dos romanticos que se ocuparam da cultura popular na Europa do seculo XIX e para os quais a autenticidade contida nas manifesta~aes populares constituiria a essi'ncia do nacional (Ortiz. pelo capim facil e ao aleance dos pobres" (Freyre. unidade versus diversidade. .... VI Durante muito tempo 0 Brasil tinha uma popula~ao majoritariamente rural. Comparando-se este retrato buc6lico com 0 apresentado por Getulio Vargas em urn discurso em 1943 em Volta Redonda onde a prime ira us ina siderurgica estatal brasileira foi construida. as bases em que se assenta a estabilidade admiravel da nossa sociedade no periodo imperial (Vianna. vern do campo. 0 pais continua girando em torno da questao da identidade nacional. Essa questao e reposta e re-atualizada a medida que novos contextos sao criados. [. portanto. portanto. pode-se constatar que ocorreu. 0 adversario de Getulio Vargas nas elei~iies presidenciais que acabaram pretextando a Revolu~ao de 1930: "0 fazendeiro e 0 tipo representativo da nacionalidade e a fazenda e ainda 0 lar brasileiro por excel en cia.49). • • . onde 0 trabalho se cas a com a do~ura da vida e a honestidade dos costumes completa a felicidade. 1933. no periodo colonial. 0 urbanismo e condi~ao modernissima da nos sa evolu~ao social. Ou seja. 1965. 0 dinamismo da nossa hist6ria. o quanto alguns politicos ainda acreditavam na "voca~ao agriria" do Brasil nas primeiras decadas deste seculo e bern caracterizado pela seguinte afirma~ao de Julio Prestes. Toda a nossa hist6ria e a hist6ria de urn povo agricola. mas atrasado para outros) e 0 que e estrangeiro (e.192 ruben george oliven o Brasil continua discutindo a formula~ao de modelos para organizar a na~ao e esse debate acaba inevitavelmente passando pela discussao do que e nacional (e.o deste seculo. e a hist6ria de uma sociedade de lavradores e pastores. pp. Isto fez com que varios pens adores achassem que 0 pais tivesse uma "vocac. Escrevendo no comec. autentico para uns. Do campo. temos sido urn povo de agricultores e pastores [. Oliveira Viana sustentava que Desde os primeiros dias de nossa hist6ria. espurio para uns. p.ao agraria". J 0 Brasil repousa sobre 0 nucleo social express ado pelas fazendas" (apud L. 88-9). Pereira. J. mas moderno para outros). E no campo que se forma a nossa ra~a e se elaboram as for~as intimas da nossa civiliza~ao. 0 que deveria ser feito atraves da impressao de urn conteudo nacional it educa<. na base do salario comum. custa ao lavrador 30 cruzeiros. raizes mais profundas que precisam ser rastreadas na Republica Velha (1889-1930).brasil.5es que assumiram uma dimensao mais ampla na Republica Nova (a partir de 1930). 0 crescimento das cidades que eram capitais de mercados regionais. esse indispensavel e primitivo instrumento agririo. Mesmo os mais empedernidos conservadores agraristas compreendem que nao e possivel depender da importa~ao de maquinas e ferramentas.ao de uma industria de substitui~ao de bens na~ duriveis. a crise do sistema baseado em combina~5es politicas entre as oligarquias agrarias (a "politica dos governadores") e 0 surgimento de revoltas sociais e militares que come~a­ ram na decada dos vinte e culminaram com a Revolu<. Cria-se tambem 0 Ministerio da Educa~iio a quem caberia papel fundamental na constitui~ao da nacionalidade. Do ponto de vista economico.iio do sistema educacional L .ao de 1930. 1971. da padroniza<. embora mantendo os privilegios dessas oligarquias sob uma forma alterada. ]>1 nao e mais adiavel a solu~ao. p. 63). provendo as suas necessidades de defesa e aparelhamento. Em poucas palavras. podeni arcar com as responsabilidades de uma vida industrial autonoma. 0 Estado regulamenta as rela~oes entre 0 capital e 0 trabalho. sob novo signo. No plano social. urn deslocamento de uma ideologia agriria para uma mais industrial: o problema basico da nossa economia estara. 0 Estado abole impostos interestaduais e passa a intervir mais na economia ajudando a fazer com que parte do excedente criado pelas oligarquias agrarias fosse usado para iniciar urn processo de industrializa~ao. 0 Pais semicolonial. entretanto. uma semana de trabalho" (apud O. essas transforma~5es foram a cria<. 0 Brasil experimentou importantes transforma<. ou seja. E a partir desse periodo que urn aparelho de Estado mais centralizado e criado e que 0 poder se desloca crescentemente do ambito regional para 0 nacional. entre 0 velho e 0 novo mundo 193 pelo menos no discurso. importador de manufaturas exportador de mathias-primas. Ianni. a crise do cafe. quando uma enxada.iio veiculada pelas escolas. em breve. por exemplo. Naquele periodo. criando uma legisla~iio trabalhista e urn Ministerio do Trabalho. agrario. As mudan~as sugeridas neste discurso tern. Costa.:iio das virtudes do trabalho) ajudam a criar urn modelo de nacionalidade centralizado a partir do Estado. a proibic. De fato. 0 Brasil ja I' urn pais diferente.:iio da disciplina de Moral e Civica. I' ele que toma a si a tarefa de constituir a nac. ocasiiio em que os governadores eleitos siio substituidos por interventores e as milicias estaduais perdem forc. quando no fim da Segunda Guerra Mundial termina 0 Estado Novo e I' eleita uma Assembleia Nacional Constituinte com a tarefa de pensar urn novo modelo de organizac.:avam a perder sua vocac. M.194 ruben george oliven e do enfraquecimento da cultura das minorias etnicas (S. R. . Nessa epoca.:iio de rodovias e a abolic.:6es que ocorrem no periodo de 1930 a 1945 siio profundas.:iio. a exaltac.:iio do Departamento de Imprensa e Propaganda (que tinha a seu cargo. o nacionalismo ganha impeto e 0 Estado se firma.:6es que pairavam em relac. Schwartzman. no p6s-guerra. aiI'm da censura. rna is especificamente no periodo de 1946 a 1964 a questao nacional e retomada com intensos debates dos quais 0 Iseb (Instituto Superior de Estudos Brasileiros) e 0 CPC (Centro Popular de Cultural seriam exemplos eloqiientes. a criac.:iio administrativa e politica. Os brasileiros comec. A migrac. A partir dessa epoca I' preciso repensar 0 pais (Miceli. 1984).. B.:iio da autonomia dos estados ajudaram a unificar 0 mercado interno bern como a diminuir 0 poder das oligarquias locais. medidas que aumentam a centralizac. H.:iio agraria.:iio do ensino em linguas estrangeiras. Essa tendencia se acentua muito com a implantac. as modificac. Assim. uma das acusac. M. a introdw. VII A problematica do nacional versus estrangeiro tern sido uma constante na vida politica do Brasil.:a. 1979) que experimenta urn processo de consolidac. a manufatura ja sendo responsavel por 20% do produto domestico bruto. No plano da cultura e da ideologia. De fato. A construc.:iio politica e economica e que ted de enfrentar as conseqiiencias da crise de 1929 e da Segunda Guerra Mundial.:iio campo-cidade se acentuou e criou urn novo protagonista no cenario politico: as massas urbanas que seriam interpeladas como agentes sociais pelo populismo. Assim. Bomeny & V.:iio daditadura do Estado Novo (1937-1945).:iio aos intelectuais brasileiros era a de que eles seriam colonizados e que contribuiam para eriar uma cultura alie- • .:iio politica e administrativa. as militares estaduais pelo Exercito e da ingerencia na po utica estadual. criando urn quadro em que hi simultaneamente uma miseria extrema e elementos de progresso tecnico e de modernidade. batalha na qual a industria era urn elemento-chave. nao passaram de prepostos do presidente da Republica. 0 que foi feito em associa~iio com 0 capital estrangeiro. politico e cultural. A partir de 1964.. 0 Brasil pas sou por urn processo de desenvolvimento desigual e combinado. numa situa~ao semelhante ados interventores do Estado Novo. ! brasil. mediante a integra~iio do mercado nacional. que iria propiciar uma marcha para 0 oeste e conseqiiente integra~ao territorial. da concentra~iio de tributos na esfera federal. de telefonia. gerando assim uma dependencia maior em rela~ao ao capital estrangeiro. Configura-se uma nova situa~iio do ponto de vista econ6mico. Todos esses processos diminuium 0 poder dos estados substancialmente. de modo que atualmente se produzem quase todos os bens de consumo dentro das fronteiras nacionais. Entre esses bens estiio os bens simb6licos. categoria vaga e policlassista. suscita debates acalorados que giram em Torno da necessidade de gastar tanto dinheiro em sua realiza~iio e do arrojo de sua arquitetura considerada extremamente moderna e avan~ada. hi uma crescente centraliza~iio politica. Dai a necessidade de uma vanguarda para ajudar a produzir uma autentica cultura nacional para 0 povo. de modo que se compararmos a figura dos presidentes estaduais da Primeira Republica com ados governadores eleitos indiretamente depois de 1964 veremos que esses ultimos. de comunica~ao de massa. ao passo que os primeiros desfrutaram de consideravel autonomia. No mesmo periodo sao criados orgaos como a Sudene (Superintendencia do Desenvolvimento do Nordeste). em geral. o novo regime levou a acumula~ao de capital a patamares mais elevados. do controle das fon. Os temas do progresso e da modernidade tambem eram candentes nesse periodo. das quais 0 Nordeste era considerado 0 exemplo mais significativo. Tratava-se de vencer a condi~ao de subdesenvolvimento. entre 0 velho e 0 novo mundo 195 nada. economica e administrativa. da implanta~ao de redes de estradas. l . varios deles sendo tam bern exportados. Surgem industrias de substitui~ao de importa~ao. cujafinalidade explicita era reduzir as desigualdades regionais. com a tomada do poder pelos militares. Houve nova substitui~ao de importa~6es. A inaugura~ao de Brasilia em 1960. dessa vez de bens duriveis. resultado de nossa situa~iio de dependencia. 0 tropicalismo mostrou no plano do simbolico que a realidade brasileira tinha mudado muito. E significativo.1997). e 0 nivel tecnico das redes de comunica~ao de massa e comparavel ao dos paises mais adiantados. Do ponto de vista estetico. E significativo que os criadores do tropicalismo. que sao justamente • « . a ser uma ruptura estetica e ideologica e por outro. a maior parte dos produtos manufaturados consumidos no pais e produzida dentro das fronteiras nacionais e a maioria de sua for~a de trabalho urbana se encontra no setor terciario. Liderado pelos compositores baianos Caetano Veloso e Gilberto Gil. 0 fato de esse mesmo Estado ter propiciado uma intensa desnacionaliza~ao da economia nao e visto como contraditorio. varias delas ministrando ensino de pasgradua~ao. movimento artistico que iniciou em 1968.sidades. A continuidade do tropicalismo ocorreupor sua liga~ao com Q movimento modernista da decada de vinte e com os temas que este suscitou. 0 tropicalismo se propos. por urn lado. aruptura se deu pela valoriza~ao da televisao como meio de expressao e pelo fato de as letras cantarem urn Brasil em que havia aviDes no ar e crian~as descal~as na terra. Do ponto de vista ideolagico. realiza transplantes cardiacos e conta com mais de cern unive. uma musica que se dava conta de que 0 moderno estava cada vez mais se articulando com 0 atrasado. 0 Brasil tern usinas nucleares. . plataformas maritimas de petroleo. nesse sentido. A admira~ao provinha pelo fato de Oswald ter pensado 0 Brasil de uma forma aberta e enquanto na~ao capaz de deglutir diferentes influencias aparentemente contraditorias. Novamente 0 Estado avoca a si 0 papel de ser o criador e bastiao da identidade nacional. tenham sido artistas do Nordeste. pelo qual Caetano Veloso nutria grande admira~ao (Veloso. uma vez que essas duas questoes sao tidas como desvinculadas. mas e recolocado em novos termos. regiao que continuava em seu processo de periferiza~ao. a ruptura se deu pelaintrodu~ao de instrumentos como a guitarra e pela cria~ao de ritmos dissonantes. Nesse periodo 0 debate sobre 0 nacional e 0 regional continua. responsavel simultaneamente por promover 0 progresso e manter acesa a memoria nacional. Oswald de Andrade. ou seja. principalmente pelo criador do Manifesto AntropOfago. 0 pais possui salida rede de transportes e eficiente sistema de comunica~ao. uma retomada de temas suscitados pelomovimento modernista de 1922.196 ruben george oliven Hoje aproximadamente 80% da popula~ao do Brasil e urbana. diferen~as em rela~ao ao resto do Brasil (Oliven. as identidades regionais (representadas pelo renascimento das culturas regionais no Brasil). etc. Varios destes movimentos estao mais preocupados com questOes freqiientemente consideradas locais e melwres. do clamor por uma reforma tributaria que entregue mais recursos para estados e municipios.f brasil. A afirma~ao de identidades regionais no Brasil pode ser encarada como forma de salientar diferen~as culturais e como rea~ao a. por exemplo. a identidade de genero (representada. 2006). e da afirma~ao de identidades regionais que salientam suas. entre 0 velho e 0 novo mundo 197 I grandes empresas multinacionais como a Shell e a Xerox que fazem a defesa do folclore brasileiro em suas publicidades. observam-se atualmente tendencias contnirias a ela. as identidades religiosas (representadas pelo crescimento das chamadas religioes populares). velhas questoes come~aram a vir a tonanovamente.ou talvez por causada crescente centraliza~ao. Esta redescoberta das diferen~as e a atualidade da questao da federa~ao numa epoca em que 0 pais se encontra bastante integrado do ponto lie vista politico. Assim. que com as grandes tematicas tradicionais. economico e cultural sugere que no Brasil o nacional passa pr4meiro pelo regional. e movimentospopulares come~aram a se organizar. por exemplo. Eles incluem a identidade etaria (representada. E justamente com 0 processo da abertura politica que a cultura passou a ganhar maior visibilidade no Brasil. Novas questoes come~aram a vir a tona. as identidades etnicas (representadas pelos movimentos negros e pela crescente organiza~iio das sociedades indigenas). VIII Com a luta Pl!la redemocratiza~ao do pais e com 0 processo de abertura politica que marcaram 0 fim do cicio militar (em1985). pelos movimentos feministas e pelos homossexuais). pelos jovens enquanto categoria social). apesar . da proclama~ao das vantagens de uma descentraliza~iio administrativa. o que se observou no Brasil a partir de sua redemocratiza~ao foi urn intenso processo de constitui~ao de novos atores politicos e a constru~ao de nevas identidades sociais. uma tentativa de homogeneiza~iio cultural. nao obstante serem fundamentais. L . que se manifestam atraves da &lfase da necessidade de urn verdadeiro federalismo. IX A especificidade do Brasil sempre foi tema de discus sao entre intelectuais brasileiros. etc. emprego. e mais especificamente lusa. a debilidade da sociedade civil. ora como negativa. por sua vez. Os que estao na primeira categoria.a africana e da necessidade de valoriza-Ia. etc. a culinaria. fazemos parte de uma area que e chamada de America Latina. Nessa discussao esta presente a influencia de nossa tradi<. apontampara urn modelo alternativo de estilo de vida na medida em que estabelecem uma rela<. os negros tern uma contribui<.iio marcante nas principais manifesta<.iies de inferioridade no que diz respeito a renda.a que a coloniza<.iies . Nesse processo de definir nossa heran<. Talvez 0 maior representante dessa visao seja Gilberto Freyre. a musica popular. De fato.iies universais e baseadas na lei.iio mais integrada com a natureza.198 ruben george oliven Os movimentos negros colocam em discussiio 0 fato de no Brasil. veem 0 nosso relativo atraso como sendo decorrente de tra<. existem autores que procuram comparar 0 Brasil com os Estados Unidos. saude. nas quais os mitos e a magia sao elementos centrais. 0 latino muitas vezes e contraposto ao anglo-saxao. ao passo que 0 anglao-saxao seria "estrangeiro". os negros estarem sempre em condi<. etc. sugerem tambem que ha outras formas de pensar 0 mundo que nao seja so 0 da racionalidade tecnica. Estes movimentos tambem apontam para 0 fato de 0 Brasil ser urn pais de impressionante presen<. Ja os autores que encaram a heran<. expectativa de vida.ao portuguesa legou ao Brasil? Os autores oscilam entre ve-Ia ora como positiva. Qual e 0 peso do latino em nossa cultural Afinal.ao iberica. Qual foi a heran<. Os movimentos indigenas.a latina. a enfase em rela<. que tam bern e 0 criador do mito da democracia racial brasileira. 0 latino seria assim "nativo".os como 0 patrimonialismo. escolaridade. 0 futebol. pensam que os portugueses teriam ajudado a criar no Brasil uma civiliza<.a iberica como negativa. as religiiies populares. As sociedades indigenas. Nesse processo. a incapacidade de considerar 0 lucro como urn movel positivo. pais que projeta a imagem de ser uma democracia racial.iio que se moldou aos tropicos e legou ao mundo uma cultura singular.culturais do Brasil como 0 carnaval. a dan9a. Viana Moog tentou • . desponta a questao da latinidade do Brasil.iies pessoais e familiares em detrimento de rela<. organiza~ao. p. Segundo ele. ao contrario. Sergio Buarque de Holanda. Frente a esta matriz e possive! identificar duas posi~oes: ados "americanistas". dignidade do trabalho. espirito tecnico e cientifico". 0 atraso e conseqiiencia da persistencia historica do mundo iberico. nem 0 ianque. Em seu livro 0 Espelho de Prospera. sao n~oes que nem 0 puritano. a matriz de uma gramatica. na cultura norte-americana. a cultura brasileira poderia ser caracterizada pelo "desamor ao trabalho organico e tudo quanta Ihe esteja ligado: iniciativa. 1987.brasil. embora materialmente 0 pais fosse capitalista (Vianna. "a santidade da divida. 1966. 2000. e!e utiliza os conceitos de Ibero-America e Anglo-America. Enquanto autores como Tocqueville (2002) e Weber (2004) salientaram os aspectos individualistas e modernizantes da sociedade norte-americana. foi capaz de preservar uma etica moderna nao individualista e comunitiria (Oliveira. 0 autoritarismo e 0 burocratismo presentes na vida politica e social do Brasil. incapaz de possibilitar a cria~ao dos fundamentos da razao moderna. 0 historiador norte-americano Richard Morse examina a cultura e as ideias nas Americas. e ados "iberistas". pp. tornados como heran~as ideologicas e institucionais l . 242 e 178). Lucia Lippi Oliveira assinala que Para muitos intelectuais e pensadores. 47). A heran~a iberica seria assim uma especie dedetermina~ao estrutural. que cunhou 0 termo "cordialidade" para explicar a sociedade brasileira. que regulatia a rnarcha da historia. afetivas. No lugar de opor a America Latina e os Estados Unidos. Assim. particularistas e clientelisticas recebidas dos portugueses (Holanda. entre 0 velho e 0 novo mundo 199 utilizar a tese weberiana da etica protestante e 0 espirito do capitalismo numa analise sobre os dois paises. Apesar de ter urn posicionamento politico distinto. a perspectiva de Oliveira Viana e parecida com a de Buarque de Holanda. coopera~ao. para quem esta matriz. Fazendo uma analise de autores que discutiram as causas do "atraso" do Brasil em re!a~ao a outros paises. Por outrolado. sustentou que ela era caracterizada por rela~oes socia is personalizadas. os escritores brasileiros dos ·anos 1930 freqiientemente afirmavam que 0 Brasil nao era uma sociedade capitalista. Ele dizia que prevalecia no Brasil 0 que chamava de mentalidade ou espirito anticapitalista. Gomes 1989 e 1990). 1969). nem 0 criptoianque estao dispostos a deixar perecer" (Moog. que identificam na heran~a iberica 0 obscurantismo. como tambem marcariam a decadencia e a falta de sentido da sociedade capitalista e burguesa. 193). 55-6). J Para Morse. Mas. As sociedades iberas seriam organicas e baseadas em urn principio arquitet6nico em oposi~ao a sociedade anglo. ao contnirio de auto res que fazem a apologia do modelo anglo-saxao.e guiada por urn principio nivelador (Oliveira. em urn ut6pico passado iberico. os espanhois e portugueses teriam transposto para a America uma ordem politica transcendente aos individuos. marcada pelo individualismo . com sua o~ao individualista. [••. que retem uma "visao abrangente e unificadora do mundo". p.. J nao significa que esta alternativa nao continue presente" (Schwartzman. 1989. Ao passo que Morse enfatiza a continuidade de padroes culturais. subjetivista e contratualista. as fontes de uma civiliza~ao latino-americana que mostraria sua superioridade em rela~ao ao Ocidente em decadencia" (Ibidem. Assim.. .sociedade mecanica . Para ele. em oposi~ao aos ingleses. perde sua essencia". Para esse ultimo autor. mesmo inconsciente.200 ruben george oliven desses dois paises. A reden~ao dessa sociedade dar-se-ia pela contempla~ao do universo latino. 2000. ao questionar 0 utilitarismo individualista e proclamar as vantagens do atraso que permitiriam transcender as matrizes do liberalismo anglo-saxao e do marxismo. 0 'liberalismo. 0 racionalismo. a tese de Morse poderia ser resumida do seguinte modo: A America Iberica tenta se contemplar no espelho da prospera America anglo e. a tradi~ao iberica poderia oferecer uma resposta a crise moral e existencial do mundo anglo-saxao. pp. assinalando que "0 relativo fracasso politico e ideologico da alternativa racional-legal na historia brasileira [. a democracia representativa. que mantem "uma cren~a profunda. p. Schwartzman critica Morse. 1988. em uma realidade social que transcende 0 individuo". na "bhlsca inutil da imita~ao do outro. 189). fundada na etica e na religiao. ele se filia claramente com os "iberistas". 0 erro de Morse e a tentativa de "buscar. 0 empirismo cientifico e 0 pragmatismo nao s6 seriam incompativeis com a realidade mais profunda da America Iberica. 0 livro de Morse acabou sendo motivo de uma polemica travada com 0 soci610go brasileiro Simon Schwartzman. Schwartzman aponta para impedimentos de ordem politica oriundos da coloniza~ao que persistem ate nossos dias. • . 0 movel alto e desinteressado na a~ao. Para Rodo. 25-6). Ariel e 0 imperio da razao e do sentimento sobre os baixos estimulos da irracionalidade. e mais guiado pelosinstintos que pela razao.6A'. mas no pinaculo da civiliza~ao. Advertindo sobre os perigos do que ele considerava como 0 materialismo norte-americano. genio do ar. a Europa e a civiliza~iio. 0 titulo do ensaio faz referencia a urn personagem da pe~a The Tempest de Shakespeare. a vivacidade a gra~a da inteligencia. e urn ser monstruoso. entre 0 velho e 0 novo mundo 201 A polemica lembra 0 livro Ariel do escritor uruguaio Jose Enrique Rodo. pp. . nem nas civiliza~6es indigenas das Americas. o argentino Anibal Ponce interpretou Caliban como 0 simbolo dos povos . Ariel. Por isso. malcheiroso e trai~oeiro. Este ultimo. com o cinzel perseverante da vida (Rod6. Para ele. Apos ter tido seu trono usurpado na Europa. it semelhan~a da . Rodo exortou 0 idealismo dos jovens hispanoamericanos e os conclamou a fazerem brotar as melhores caracteristicas da democracia. Segundo Rod6. ao passo que Ariel simbolizaria a America Latina. filho de uma bruxa. Em contraposi~ao. a espiritualidade da cultura. no simbolismo da obra de Shakespeare. Pensadores marxistas discordaram da visao de Rod6. Caliban e a personifica~ao dos Estados Unidos e seu agressivo e expansivo capitalismo. Assim. grega. Escrito em 1900.brasil. uma Grecia antiga idealizada. 0 Duque de Milao.. simbolo da sensualidade e da torpeza. Prospero. a parte nobre e alada do espirito. e 0 entusiasmo. a America Latina escaparia da barbarie se conseguisse localizar suas verdadeiras raizes nao na Espanha. representa. retificando no homem superior os tenazes vestigios de Caliban. em 1938.0 termino ideal a que ascende a sele~ao humana. 1948. pensava que a riqueza so servia para providenciar a base material para as poucas pessoas privilegiadas que se dedicavam aos valores mais altos. habita uma ilha com sua filha Miranda e seu escravo Cali ban (anagrama de canibal).generoso. Ariel e urn espirito do ar que tambem habita a ilha. Ele se assustava com a democracia de massas que amea~aria a hegemonia das elites. A critica de Rod6 era menos aos Estados Unidos como pais e mais ao utilitarismo que ele achava que hi imperava. nativo da ilha. argumentei que na sociedade norteamericana 0 dinheiro ec01lsiderado menos poluente do que no Brasil. Enquanto nos Estados Unidos a sociedade tende a se basear no modelo igualitirio individualista... DaMatta (1979) sustenta que 0 Brasil hoje se situ a.0 crescimento da prapor~ao de bens e servi~os comprados e vendidos por meio do dinheiro . Para ele. mas Caliban. 0 Brasil se aproxima mais do modelo hierarquico e pessoal. que existe formalmente nas leis brasileiras. Por isso existe maior aversao a lidar diretamente com 0 dinheiro e com as rela~oes face a face ligadas as transa~oes. on de ele erepresentado como algo potencialmente sujo. A india seria o exemplo classico de uma sociedade hierarquica. entre as sociedades hierarquicas e as sociedades igualitiirias. Nosso simbolo nao e Ariel. as segundas no conceito do indivfduo livre. 1938). como pensou Rodo. Os Estados unidos sao freqiientemente retratados como uma sociedade na qual a monetariza.202 ruben george oliven colonizados ante os colonizadores (Ponce. Haveria assim um dilema entre a adesao a um modelo individualista impessoal. escritor cubano coincidia com Ponce. .se realizou integralmenteo Trata-se de urn pais em que 0 processo de mercantiliza~ao se estendeu a b . Escrevendo em 1971. matau nossos antepassados. a nossa realidade (Retamar. Isso se torna particularmente claro para nos. Tomando como base 0 modelo de Dumont. 1988. Numa pesquisa em que compara significados simbolicos do dinheiro no Brasil enos Estados (Oliven. talvez por causa das enormes desigualdades sociais e economicas do pais. de alguma forma. 17-29). mesti~os que habitamos as mesmas ilhas onde morou Caliban: Prospero invadiu as ilhas. escravizou Cali ban e the ensinou sua lingua para poder se entender com ele: Nao conhe~o outra metiifora mais atual para a nos sa situa~ao cultural. e a tendencia cotidiana de recorrer constantemente a rela~oes pessoais.i'io . enquanto os Estados Unidos seriam 0 exemplo mais acabado de uma sociedade igualitaria. x Ao contrastar 0 que chama de sociedades hierarquicas e sociedades igualitarias. 2001). Dumont (1980) argumentou que as primeiras sao baseadas no conceito de pessoa. Roberto Fernandez Retamar. pp... embora 0 Sui dos Estados Unidos tenha mudado desde 0 fim da Guerra Civil e 0 dinheiro tenha alcan~ado urn uso muito mais amplo. em virtude do elevado grau de auto-suficiencia dos fazendeiros. o Brasil nao tern uma cultura de valoriza~ao positiva do trabalho. nos Estados Unidos ele e uma questao central e parte da retorica cotidiana. sociedade essa que despreza comerciantes e homens de negocios (Ibidem. caracteristicas dos dias da economia das plantations auto-suficientes. Em urn pais com tradi~ao cultural diferente da norte-americana como o Brasil. p. sobreviveram ate a era da civiliza~ao industrial do seculo XX" (Ibidem. a cren~a de que e grosseiro falar de negocios antes de conversas preliminares. uma questao naturale central. Tendo sido urn dos ultimos paises a abolir a escravidao. a popularidade de express6es tais como "isso e algo que 0 dinheiro nao pode comprar". ocorred no Brasil ou se as especificidades culturais de nosso pais servirao de contra peso a crescente influencia do dinheiro.brasil. principalmente 0 manual. Enquanto em outras sociedades ha freqiientemente uma atitude desconfiada em rela~ao ao dinheiro. e naono dinheiro. mais ceda au mais tarde. "algumas ideias. 203). embora 0 capitalismo esteja avan~ando. Ogburn sustenta que essas atitudes tern muito a ver com uma sociedade aristocratica cuja riqueza e baseada na terra. p.1'99). Em portugues. 0 dinheiro nao e a principal for~a simbolica que molda 0 comportamento e 0 sentimento. Pode-se discutir se a monetariza~ao sera urn processo que. entre 0 velho e 0 novo mundo 203 todas as esferas da vida. 0 trabalho arduo e designado pelo verbo + . De acordo com Ogburn (1964). Algumas das atitudes quanta ao dinheiro mencionadas por Ogburn como caracteristicas do velho Sui dos Estados Unidos podem ser observadas tam bern no Brasil. Alguns exemplos da sobrevivencia de atitudes caracteristicas deuma economia com pouca circula~ao de dinheiro sao a resistencia ao uso do dinheiro para acertar diferen~as pessoais. Estrangeiros que visitam os Estados ficam freqiientemente surpresos em ver 0 quanta se verbaliza 0 dinheiro. "Quanto custa?" e. o fato de a gorjeta ser mais rara no sui do que nas cidades do norte. o Brasil ate recentemente provavelmente estivesse mais proximo as atitudes em rela~ao ao dinheiro encontrado no velho Sui dos Estados Unidas antes da Guerra Civil no qual nao havia uma economia monetaria muito desenvolvida. e assim par diante. As pessoas estao constantemente falando sobre dinheiro e medindo coisas e pessoas em terrnos monetarios. portanto. 0 DIP (Departamento de Imprensa e Propaganda). decidiu intervir atraves de seu orgao de censura. para designar 0 trabaIho pesado e "trabalho de negro". quando se formava a sociedade urbano-industrialbrasileira. e proibiu can. ao mesmo tempo que premiava cao.ao em re!a.5es pode-se notar que 0 dinheiro e uma realidade inescapavel numa sociedade monetarizada. que pode ser vista simultaneamente como uma estrategia d. 205) faz men.ao do trabaIho assalariado nas fabricas. 0 "horror ao batente" se transformou na malandragem.l' I 204 ruben george oliven "mourejar".ao da escravatura e cla introdu. 0 trabalho nunca foi muito valorizado. Era possive! naque!a epoca encontrar 0 mesmo "ressentimento contra expressar valores em termos de dinheiro" a que Ogburn (Ibidem. Como mostrei em outro texto (Oliven. o lado negativodo trabalho aparece na musica popularbrasileira. Quando a industrializa. Uma outra expressao.ocio. 0 fenomeno se tornou tao vislve! que a ditadura do Estado Novo.e sobrevivencia e uma concePS'ao de mundo pe!as quais alguns segmentos das classes mais baixas rejeitavam a disciplina e a monotonia associadas ao mundo do trabalho assalariado.E claro que se pode perceber aqui 0 "complexo das uvas verdes": esses homens sabiam que nunca conseguiriam ganhar dinheiro. uma referencia direta a escravidao. na decada de 1930. p. Mas tudo isso e encarado com urn tom me!ancolico.ao com~aram a se-acelerar. os compositores de samba faziam 0 elogio do . durante aos anos 1930 e 1940. 1984). em varias letras dessas can. os brasileiros desenvolveram uma etica da malandragem. A malaRdragem se tornou urn meio de vida e uma forma de encarar a vida. Em vez de desenvolver uma etica do trabalho (no sentido weberiano).. algo que os portugueses achavam que os mouros deviam fazer. geralmente exigido pormulheres que nao entendiam que os homens a quem pediam dinheiro tinham algo muito mais precioso para Ihes oferecer: 0 seu amor. Por outro lado. Os mesmos compositores que e!ogiavam a malandragem retratavam 0 dinheiro como algo ignobil.ao e a urbaniza. por rna is que tentassem. ou seja. Ninguem gosta ! .6es que exaltassem a malandragem. .ao contra 0 trabalho e contra a crescente monetariza. porque a ordem social continua sendo altamente excludente.ao ao Sui dos Estados Unidos antes da Guerra Civil. mesmo depois da aboli. profundamente racista.ao da vida. Ate a decada. houve forte ·rea.de1930 0 Brasil era uma sociedade eminentemente rural.6es que elogiassem 0 trabalho. e por isso desprezavam 0 dinheiro como 0 "vii metal" . entre 1937 e 1945. No entanto. 1996-1997). no fim das contas. Existem atualmente cerca de dois milhoes de brasileiros vivendo no exterior. a situac. de Carvalho.ao I Nunca tomei parte I Neste enorme batalhao I Pois sei que alem das flores I Nada rna is vai no caixao". J.ao. muito destrutivo: ele poe fim ao amor e a amizade. de 1933: "Nao tenho herdeiros I Nem possuo urn sa vintem I Eu vividevendo a todos I Mas nao paguei a ninguem". Na verdade. A situac. Entre estes estao 0 fast food.ao mudou. 0 Brasil. Noel Rosa.brasil. o trabalho em si mesmo nunca foialgo de que os brasileiros se orgulhassem. assim se expressou sobre 0 dinheiro.ao tornou a interac.oes no contexte economico-politico mundial. que tradicionalmente era urn pais que recebia imigrantes. certo tipo de musica. XI o advento do fenomeno da gtobalizac. entre 0 velho e 0 novo mundo 205 de trabalhar.ao do Brasil com 0 resto do mundo multifacetada. Outro compositor do periodo.ao Fita Amarela. e mais complexa.. intitulada Meu Mundo E Hoje. canais de televisao como a MTV e a CNN. mas e cheia de significado em portugues. a protagonizar 0 fluxo contrario. a maioria deles nos Estados Vnidos. e muito provavel que ele responda: "nada". passou. na Europa e no Japao.a pouco sentido em ingles. E 0 dinheiro e. 0 padrao de trocas entre diferentes paises e desigual e depende de suas posic. colocou a questao da seguinte forma na sua canc. Isto faz com que alguns autores vejam 0 Brasil como sendo cada vez mais atingido pelo imperialismo cultural U. Se durante muito tempo 0 pais recebia imigrantes e importava mercadorias manufaturadas e produtos da industria cultural. Existem produtos. 0 cinema de Hollywood continua sendo hegemonico em todo 0 mundo.iio. talvez 0 maior dos compositores da decada de 1930. que sao exportados para todo 0 mundo em escala crescente. '6 . Quando se pergunta a urn brasileiro 0 que ele esta fazendo. Wilson Batista.ao. apesar de a maior parte deles trabalhar durante muito mais horas do que os norte-americanos. entretanto. "fazer nada" e uma categorianativa que talvez fac. suscita falsidade e traic. com a globalizac. Eu Sou Assim: "Tenho pena daqueles I Que se agacham ate 0 chao I Enganando a si mesmos I Por dinheiro ou posic. principa'lmente culturais. Do mesmo modo.numa musica composta em 1968 (pouco antes de sua morte). 206 ruben george oliven A ida para 0 exterior nao ocorre somente no nlvel da migra~ao humana. Roots estava entre os discos mais vendidos na Europa. 0 Brasil e atualmente urn pals urbano e industrializado. tern atua~ao em cerca de oitenta outrospaises. a musica. os membros do grupo se embrenharam numa aldeia xavante localizada no Mato Grosso. A banda brasileira Sepultura lan~ou no com~o de 1996 urn disco chamado ROGts. Trata-se de uma multinacional dos meios de comunica~ao. Ela tambem exporta suas telenovelas e seriados para paises como Portugal. Se no passado. mercado mundia!. etc. incluindo avioes. 0 pals era visto como constantemente importando ideias e modismos que vinham das metropoles. etc. atualmente existem grupos brasileiros que compaem can~oes em ingles que fazem sucesso nos Estados Unidos e na Europa. Corten & Dozon. No que diz respeito a musica. Para buscar suas raizes. 0 Brasil foi urn pais exportador de produtos agricolas e importador de bens manufaturados. Outra area em que 0 Brasil come~oua exportar e ados bens simb6licos. mas tambem no que diz respeito a exporta~ao de bens materiais e culturais. incluindo a America do Norte e a Uniao Europeia. 0 pais exporta varios bens manufaturados. A 'religiao e . alem da que 0 Brasil sempre exportou desde os tempos de Carmen Miranda e mais tarde daBossa Nova. o Brasil continua recebendo influencias que vern do exterior em areas como o cinema. Nesse sentido a tese da "voca~ao rural" do Brasil nao se sustentou. seus bens competindo no. h . ha muito tempo produz a maior parte dos programas que exibe no Brasi!. Durante a fase populista da historia do Brasil (1945-1964). perigoso. e vendendo mais de quinhentos mil exemplares nos meses de fevereiro e mar~o daquele ano. as telenovelas. paises que em geral se veem como europeus e com pouca influencia africana. uma religiao pentecostal criada em 1977 no Brasil. 0 fluxo de bens culturais para 0 exterior pode ser exemplificado em rela~ao a religiao. cabe ressaltar que a Igreja Universal do Reino de Deus. Em apenas quinze dias. Atualmente. a musica.uma das areas em que isto ocorre de forma notive!. Durante seculos. Mas faz algum tempo que ele passou tam bern a ser urn exportador de cultura. A Globo. 2003). atualmente a situa~ao se alterou. Igualmente. Fran~a e China. 0 que vinha de fora era freqiientemente visto como impuro e. Ii impressionante a penetra~ao das religioes afro-brasileiras no Uruguai e na Argentina. superando Michael Jackson e Madonna na Inglaterra. movimentando milhaes de fieis e uma quantidade impressionante de recursos financeiros (Oro. portanto. a maior rede de televisao brasileira. ela perde 0 sentido. ao passo que 0 samba e 0 Cinema Novo (feito com "uma ideia na cabe~a e uma camara na mao". Trata-se de saber que rumos 0 pais vai seguir.na camiseta de nossos principais times de futebol brasileiros. Trata-se de urn pais que experimentou uma moderniza~ao conservadora em que 0 tradicional se combinou com 0 moderno. entre 0 velho e 0 noyo mundo 207 Assim. 0 Que E Isto Companheiro e Central do Brasil sao estrelados por artistas da Rede Globo e concorrem ao Oscar. 0 filme A Grande Arte. e falado em ingles. roqueiro ingles. Atualmente a questao e outra. XII Urn dos aspectos centrais do projeto da modernidade sempre foi 0 da emancipa~ao humana.. A renda e a terra continuarao coneentradas na mao de poueos. em que ha enormes latifundios freqiientemente improdutivos. patrocinado por essa companhia de. 0 que sera feito com 0 progresso e a riqueza que estao sendo gerados. Ora. o Brasil e hoje uma sociedade de imensas desigualdades sociais e economicas e. A constru~ao da cidadania no Brasil e urn processo que ainda esta por ser feito de forma rna is plena. de acordo com Ghiuber Rocha) eram vistos como exemplos do que havia de mais autenticamente nacional.. contratando lobbies profissionais para que os filmes sejam premiados. a Coca-Cola e 0 cinema de Hollywood eram muitas vezes apontados como exemplos do imperialismo cultural norte-americano. tern uma das piores distribui~6es de renda do mundo. e 0 progresso vive com a miseria. Ao contrario de outros paises que passaram por processos de urbaniza~ao e industrializa~ao. 0 Brasil nao mexeu em sua estrutura fundiaria. de acordo com dados do Banco Mundial. e Sting. apesar de ser dirigido por urn brasileiro e rodado no Brasil. a mudan~a articulou-se com a continuidade. 0 que caracteriza 0 Brasil e justamente uma contradi~ao gritante entre uma crescente modernidade tecnol6gica e a nao-realiza~ao de mudan~as sociais que propiciem o acesso da maioria da popula~ao aos beneficios do progresso material. Se a modernidade tecnica nao estiver a servi~o do bemestar social e da conquista da cidadania plena.refrigerantes diz defender os indios que vivem no Brasil. que ja foi em grande parte atingida. Em primeiro lugar. Hoje a situa~ao se tornou mais complexa: 0 logotipo da Coca-Cola est.brasil. Por enquanto predominam rela~6es soeiais e politicas que tern fortes resquicios da era colonial e do legado da eseravidao. Hoje no Brasil a questao central nao e mais alcan~ar a modernidade tecnol6gica. Filmes como 0 Quatrilho. ou havera maior • . e Macunaima. Isto pode significar tanto que as rela. a moderniza. 0 Brasil segue urn caminho sui generis. heroi sem nenhum carater e pregui.ao esta questao se torna mais crucial.a do que ocorreu em outros paises latino-american os. Ha uma ordem juridica que coloca 0 Brasil ao lado de outras na.ao? Em epoca de globaliza.a.a 208 ruben george oliven redistribui. 0 que se traduz tambem no grande numero de leis e regulamentos existentes no pais.ao e associada ao individualismo que substituiria gradativamente as rela. patrono do Exercito Brasileiro e simbolo de alguem extremamente serio.oes se preocuparam intensamente em saber se nos tropicos as caracteristicas de racionalidade associadas a modernidade teriam validade ou se no seu pais as coisas se dariam de uma forma menos racional e mais afetiva e pessoal.oso de nascen. a cultura brasileira e uma constru.oes que adotaram 0 ideario individualista e liberal. Mas 0 Brasil e uma sociedade em que as rela.oes pessoais continuam exrremamente importanres e.oes pessoais sejam utilizadas para manter privilegios e demarcar fronteiras sociais. por conseguinte. provavel que 0 que haja de peculiar a sociedade brasileira seja justamente sua capacidade de deglutir os aspectos da modernidade que !he interes- 7 . incluindo 0 Brasil.ao hibrida feita atraves de diferentes apropria. A semelhan. Isto aponta para 0 carater sincretico da modernidade brasileira. XIII Em geral. Isso coloca a questao de saber como a sociedade brasileira vai conciliar as caracteristicas associadas a modernidade com 0 seu modo peculiar de ser. A dificuldade sempre foi conciliar as exigencias da modernidade com 0 que ha de peculiar ao Brasil. herois brasileiros oscilam entre 0 duque de Caxias. quanta que haja formas de se contrapor a uma excessiva burocratiza. formal e individualista da vida social se combina com uma forma pessoalizada e informal de resolver os problemas que a propria modernidade coloca no dia-a-dia. F. tendem a gerar desemprego e exclusao social.oes mais pessoais de sociedades tradicionais. Assim como em termos populacionais houve certa mestipgem que as vezes e negada (quando se aponta para 0 embranquecimento do brasileiro) e outras vezes e enaltecida (quando se afirma 0 carater "moreno" do brasileiro).ao e formalismo da pratica social. uma organiza~ao burocnitica. ja que as politicas neoliberais implantadas em varios paises. os intelectuais brasileiros de diferentes gera. Assim.oes criativas de coisas. Ciencia Hoie. A Ii¢o do amigo. A forma. Rio de Janeiro: Editora Meio-Dia. Peter. 1978.iio do Estado no Brasil. Pd de cal. DAMATIA. Porto Alegre: Editora da UFRGS. Chicago: Chicago University Press. ANDRADE. IANNI. Revista Brasileira de Ciencias Sociais. 1983b. LIMA. 5. Porto Alegre: Mercado Aberto. 1999. Raizes do Brasil. Joaquim. Sao Paulo: Duas Cidades. Poder tutelar. MACHADO DE ASSIS. HOLANDA. 0 individual ao pessoal. Sao Paulo: Companhia das Letras. Rio de Janeiro: Civiliza<. GARDNER. entre 0 velho e 0 novo mundo 209 sam e transforma-la em algo adaptado a sua propria realidade em que 0 modemo se articula ao tradicional.iio das almas. Sergio Buarque de. 1992. 1980. Cartas a Carlos Drummond de Andrade. Instinto de nacionalidade. Jose Murilo de. Joaquim Maria. Recife: Instituto Joaquim Nabuco de Pesquisas Sociais. 27/6/1997. Referencias ANDRADE. Mario de. Ricardo Benzaquen de. A dialetica da tradi~ao.. 66-89. In: Do Pau-Brasil a Antropofagia e as utopias. The Caste System and its Implications. 1995. Estado e planejamento economico no Brasil (1930-1970). Rio: Jose Olympio. 1979. Bela Horizonte: Villarica. 32. BERND. Folha de S. ARAUJO. 1987. Petropolis: Vozes. Louis. Homo hierarchicus. 1983a. Carnavais.Paulo. INOJOSA. Urn grande cerco de paz. Rio de Janeiro: Jose Olympio. George. CARVALHO. Rio de Janeiro: Zahal. 1990. 0 imagindrio da Republica no Brasil. Oswald. BURKE. Casa-Grande & Senzala e a obra de Gilberto Freyre nos anos 30. Jose Jorge de. Macunaima: 0 heroi sem nenhum carater. 5 (12). DUMONT. cad. 1993. . Octavio. Roberto. Angela de Castro. Publicado originalmente em 1846. 1971.ao Brasileira. 1978. Revista USP. indianidade e forma. A etica catolica e 0 espirito do pre-capitalismo. GOMES. Sao Paulo: Nacional. p. 0 racional ao afetivo. 1976. 9 (52). Imperialismo cultural hoje: uma questao silenciada. 3. 1969. Rio de Janeiro: Editora 34. Literatura e identidade nacional. pp. 1996-1997. Inevitaveis emprestimos culturais. Angela de Castro. GOMES. CARVALHO. Manifesto antropOfago. Manifesto regionalista. primeira edi~ao 1928. FREYRE. principalmente nas provincias do norte enos distritos do ouro e do diamante durante os anos 1836-1841. Gilberto. 1942. Rio de Janeiro: Civiliza~ao Brasileira. Zila. -. 1990. . Viagens no Brasil. 1994.brasil. Antonio Carlos de Souza. malandros e herois.0 turista aprendiz. Sao Paulo: Nacional. TOCQUEVILLE. 1984. 22. Violfincia e cultura no Brasil. Sao Paulo: Companhia das Letras. Sao Paulo: Difel. BOMENY. Estudos Hist6ricos.1988. Vida rural e mudan~a social no Brasil. 2000. Tempos de Capanema. Rio de Janeiro: CivilizaC. Eduardo Jardim de. Rio de Janeiro. SCHWARTZMAN. 2003. Chicago: Chicago University Press. Maria Isaura de. Caliban e outros ensaios. Tamas & QUEDA. RETAMAR. 1977. MORAES. Verdade tropical. Sao Paulo: Nacional. 1984.Jose Enrique. Oriowaldo (org. Rio de Janeiro: Graal. A brasilidade modernista. SCHWARTZMAN. SCHWARZ. A parte e 0 todo. 66-96. Cientistas sociais e autoconhecimento na cultura brasileira atraves do tempo. Lucia Lippi. OLIVEIRA VIANNA. 1966. Texas. Sao Paulo: Duas Cidades.. Sao Paulo: Dlfel. pp. Representa~oes da identidade nacional no Brasil enos EUA.0 gato de Cortazar. CORTEN. Americanos. -. Southern Folkways Regarding Money. 1997. pp. Vanda Maria Ribeiro. 1948. 1992. Mexico: Editorial America. 1973. Novos Estudos Cebrap. Helena Maria Bousquet & COSTA. Sergio. WEBER. Cultura brasileira e identidade nacional. Andre & DOZON. In: SZMRECSANYI.r . 1933. OLIVEIRA. 1938. Sao Paulo: Busca Vida. Caetano. PONCE.. Sua dimensiio filos6fica. Bandeirantes e pioneiros. Roberto. PEREIRA. USA. 1988. Chicago: Chicago University Press. 0 espelho de Morse. 15 (27). Roberto F. Sao Paulo: Companhia das Letras.. Belo Hor>zonte: Ed. Ao vencedor as batatas. VELOSO. . MOOG. Do rural e do urbano no 'Brasil. 13. Sao Paulo: Paulinas. Evolu~iio do povo brasileiro. UFMG. 1980. . Trabalho e desenvolvimento no Brasil. Alexis de. Francisco Jose de. Sao Paulo: Olho d' Agua. 1989. 1985. 242 e 178. pp. Igreja Universal do Reino de Deus.ao Brasileira. 5 (1). ROD6. Simon. S. Novos Estudos Cebrap. Ariel. l rl . OGBURN. Austin. 210 ruben george oliven MICELI. 1965. Vianna. OLIVEN. Ari Pedro. Ruben George. 1989. PEREIRA DE QUEIROZ. A diversidade cultural no Brasil-Na¢o.. A etica protestante e 0 espirito do capitalismo. ORTIZ. Anfbal. Simon. Luiz. A malandragem na musica popular brasileira. Buenos Aires: Espasa-Calpe Argentina. Petr6polis: Vozes. 1964. Max.Jean-Pierre. In: On Culture and Social Change. .1979. Democracy in America. 206-35. ORO. Humanismo burgues y humanismo proletario.). . 2001. 1978. 2002. Paraleto entre duas culturas. Renato. Rio de Janeiro: Paz e Terra. .. Intelectuais e classe dirigente no Brasil (1920-1945). Latin American Music Review. 25. De olho no dinheiro nos Estados Unidos.: Brasiliense. Petr6polis: Vozes. 2006. 2004.P. Cultura popular: romanticos e folcloristas. William F. Cadernos CERU. ~r'\ Capitulo 7 RELIGIAO. neste sentido. onde procuramos saber: a opiniao dos sujeitos representativos do pluralismo religioso dessa regiao acerca da liberdade religiosa. apresentamos. em particular? Haved. nessa regiao. que inicia com urn esclarecimento conceitual acerca da laicidade.oes estabelecem entre a instancia religiosa e as demais que conformam a sociedade. prossegue com urn voo panoriimico em torno dessa questao nos paises ocidentais a partir das suas Cartas Constitucionais e.ao da laicidade latino-americana? Tais sao algumas questoes de fundo que motivaram este texto. 0 grau de 211 . 32). 1999.durante os meses de janeiro a julho de 2007.ao das instancias sociais. apos. recupera brevemente a constru.ao que eles detem sobre cidadania. Sed. uma distin.ao religiosa" (Hervieu-Uger. na segunda parte do texto. incompleta. tanto no plano leg".capital do estado do Rio Grande do Sui . LAICIDADE E CIDADANIA ARI PEDRO ORO A laicidade caracteriza as sociedades modernas ocidentais. alguma influencia na conforma. sobretudo a politica. sobretudo a politica da religiao. eivada de religiosidade crista. fazendo-se necessario observar os sentidos que os individuos atribuem it religiao e que rela. os resultados de uma pesquisa de campo efetuada na regiao metropolitana de Porto Alegre . laica a America Latina em geral e 0 Brasil. Mas como a analise legal e. p.ao da laicidade no Brasil. por si so. a no.1 quanta das experiencias quotidianas dos individuos? Ted a latinidade da America Latina. Trata·se de urn "processo pelo qual a autonomia da ordem temporal constituiu-se progressivamente emancipando-se da tutela da tradi. 1 Segundo os dados do Censo de 2000. seglle -. doutorando do Programa de Pos-Gradua~ao em Ciencias Sociais (PPGAS) da UFRGS. estas ultimas. a ponto de assegurar.OO a 926. A2 (de R$4.804. devo agradecer tambem as sugestoes dadas sobre 0 conteudo deste texto.00). E (de R$207. dessa forma. mas. segundo 0 Censo Nacional do ano 2000. confronta-la com a bibliografia teorica de referencia e. Por exemplo.5% pertencentes a outras religioes.00). na montagem do banco de dados e na tabula~ao dos resultados utilizados nesta comunica~ao. 1 A divisao das camadas sociais se da por renda familiar.' tendo sido contatados 384 individuos. a catolicidade. e a forma como eles perce bern as rela~6es entre religiao e politica. a cristandade e. foram levadas em conta as variaveis de genero e camadas sociais. A questao da latinidade se inscreve como horizonte epistemologico do objeto posto que uma de suas historicas caracteristicas.792. em terrnos religiosos: 72% cat6licos. sustenta-se que. mais especificamente. 3 I 0 instrumento de pesquisa utilizado reline diferentes faemas de tamada de opiniao do entrevistado. divididos segundo as porcentagens de filia~6es religiosas que vigoram na . 7% evangeJicos historicos.647.212 ari pedro oro consciencia de sua responsabilidade social. em varios paises. naquele momento. uma rela~ao estreita entre identidade nacional e identidade religiosa.669. na rela~ao entre Igreja e Estado e na constru~ao da cidadania. o objetivo da pesquisa de campo era captar a concep~ao que os indio viduos detem acerca da laicidade para. 7% evangelicos pentecostaisj 2. ele e levado a se posicionar diante de 52 enunciados.regiao metropolitana de Porto Alegre. A metodologia empregada para a pesquisa de campo foi ao mesmo tempo quantitativa e qua.00). de acordo com a proposi~ao feita pelo Criteria Brasil. a catolicidade da America Latina repercute na propria condu~ao da laicidade latino-americana. como veremos. e 6% sem religiao.668. D (de R$424.793. bern como a Daniel Alves. perceber a existencia de alguma especificidade brasileira acerca desse tema. tamhem.1 . contribuiu nao somente na apljca~:io dos questionarios. tanto do ponto de vista legal quanto das experiencias religiosas dos sujeitos socia is. assim dividida: At (mais de R$7. A e1e.00 a 2. Mauro Meirelles.5% espiritas. de alguma forma. e a discanee qualitativamente diante de quarro quest5es que lhe sao formuladas. assim. isto e. C (de R$927. A pesquisa de campo foi realizada com 0 auxilio imprescindivel dos seguintes estudantes do Curso de Ciencias Sociais da Uni'lersidade Federal do Rio Grande do Sui e bolsistas: Rosilene Schoenfelder (bolsista PibiclUFRGS).00 mensais). 3.00 a 4.00).00). a popula~ao da regiao mctropolirana de Pono Alegre era assim distribuida.648.litativa. Assim sendo. B2 (de R$1.00 a 7.00 a 423. a indicae 0 grau de importancia atribuida a nove instancias de valores. Bl (de R$2.00). 2% afro-brasileiros. doutorando do PPGASIUFRGS. Eleana Paola Catacora Salas (bolsista BIC) e Joana Morato (Boisista Fapergs). em numero de sete.803. ainda detem grande importancia na Ameri· ca Latina. 2 Tambem.00 a 1. qualq. segundo 0 Criterio Brasil. mais precisamente em 1871. 0 universo da pesquisa foi assim dividida. confessional.religiao. em terrnos confessionais: cat6licos. 7% = 27 casos.. + . 7% = 27 casos. 2 % = 8 casos. p. 6% = 23 casos. segundo 0 criterio de cotiza~ao por classe social. que esta na propria origem e consolida~ao do Estado moderno. e de uma "laicidade ab. 0 Estado laico nao e.. A2 5%. 2. depois. B2 17%. D 28% e E 5%. afro-brasileiros. laicidade e cidadania 211 Iniciemos. 2003. Este ultimo ponto e importante. ) possa se reconhecer nessa republica ou Cidade. defende a no~ao de "laicidade distin~iio" (0 temporal A distribui~ao da popula~ao. pelo esclarecimento do termo "laicidade" para. C 38%. e a seguinte: Al 1 %. 0 principio da laicidade reside na separa~ao entre 0 poder politico e 0 poder religioso. Por isso mesmo.na qual esta inserida a no~ao de liberdade reIigiosa . 2000. A estratifica~ao por camada social ficou assim distrihuida: Al 3 casos.. 9). C 146. espiritas. distinguem diferentes laicidades. que flerta as vezes com 0 anticlericalismo e e hostil a toda forma de reIigiao.5% = 8 casos. ao recordar a existencia de uma "laicidade intransigente". Par isso. como faz Ternisien. ). Levando-se em conta as porcentagens constantes na nota anterior e nessa. costumam enfatizar seu carater polissemico. que correspondem a 72% = 276 casos. Esta ultima. evangelicos pentecostais. portanto. "0 Estado e laico quando ja nao requer mais a religiao como elemento de integra~iio social ou como cimento para a unidade nacional [. B1 7%. B2 65. D 107 e E 19. 3). no contexto do ideal republicano da liberdade de opiniao . Ou seja.erta". sobretudo franceses.. p. na regiao metropolitana de Porro Alegre.uer que sejaa sua convic~iio espiritual [.5% = 13 casos e sem religiao. onde todos os membros se encontram assim no mesmo pe de igualdade" (Pena-Ruiz. 0 Estado laico surge realmente quando a origem dessa soberania ja na~ e sagrada e sim popular" (Blancarte. outras religioes. no Brasil. nas palavras de Roberto Blancarte. evangelicos nao pentecostais. Laicidade: 0 conceito. suas nuan~as e sua situ a~io nos paises ocidentais Laicidade e urn neologismo frances que aparece na segunda metade do seculo XIX.e da funda~ao estritamente politica do Estado contra a monarquia e a vontade divina. a "aberta". Nesse contexto. onde ha espa~o para debates e opinioes divergentes. 0 principio da neutralidade do Estado e "ao mesmo tempo a garantia da imparcialidade e condi~iio para que cada urn. enfim. vermos a situa~ao legal da laicidade nos paises ocidentais e. Os analistas da laioidade. A2 18. 3. portanto. B1 26. peia existencia ou nao de uma reiigiao de Estado. 2000. a "intransigente". "secularizado" -. p. a proposito. Por isso I L . Seculariza~ao expressa a ideia de exclusao do teiigioso do campo social. A laicidade diz respeito. nao ocorreram de forma homogenea nos diferentes paises ocidentais. p.). usado nas linguas neolatinas. ao de laiciza~ao. como Marcel Gauchet. 17). 26-8). porem. "saida da religiao". 14). 0 conceito de seculariza~ao nao se recobre. seculariza~ao e laiciza~ao. p. 9 ss. pp. e sustentamo principio da liberdade reiigiosa na esfera privada. 2007.que se encontra. ambos os conceitos. sobretudo do politico em reia~ao ao religioso. Mas hi autores. Para ele. Porem. Laicidade e. Em seu lugar. Jean Beauberot. por serem de origem eclesiistica. muitas vezes. 0 Estado republicano operou a separa~ao nao somente da Igreja. enfatiza que eia se caracteriza por uma dupla recusa. p. da reiigiao. 26).214 ari pedro oro do espiritual) ou "Iaicidade separa~ao" (Igreja-Estado)." (Ternisien. recordemos que a no~ao mais ampla de laicidade aponta para a separa~ao do temporal e do espiritual e nao para a elimina~ao total da reiigiao da sociedade. sobretudo. compartilham a n~ao de autonomiza~ao das esferas socia is. laicidade ou seculariza~ao. Porem. pelo lugar do ensino reiigioso na escola. que refuta tanto 0 conceito de laicidade quanta 0 de seculariza~ao. 118). mas. 2007. entao. tida como sinonimo de seculariza~ao. laicidade designa a maneira peia qual 0 Estado se emancipa da referencia reiigiosa. Nao se confundem com atefsmo. e tambem tida como "Iaicidade de combate". etc. 0 primeiro por designar 0 que nao e da Igreja e 0 segundo por sublinhar 0 que sai da sua jurisdi~ao (Gauchet. Seja como for. Usado preferencialmente no contexto anglo-saxonico. pp. pois visa excluir definitivamente a reiigiao do espa~o publico (Ternisien. ji a anterior. e "a saida da religiao e a passagem num mundo onde as religioes continuam a existir no interior de uma forma politica e de uma ordem coletiva que elas nao determinam mais" (Ibidem. Somente a no~ao de "Iaicidade de combate" se aproximaria da de seculariza~ao. ou laicidade. 0 filosofo e antropologo frances propoe a expressao "saida da reiigiao" para caracterizar 0 movimento da modernidade de supera~ao de urn mundo onde a reiigiao e estruturante da sociedade (Ibidem. 1998. que exclui toda a religiao. e primeiramente ao Estado. Como afirma Ternisien: "Ela se mede peia existencia ou nao de uma dimensao reiigiosa da na~ao. ao analisar a historia da laicidade francesa. da reiigiao oficial e do ateismo (Beauberot. tambem. porern. 0 embate se estabeleceu entre os "Iaicos" e os "religiosos". Mas desde 1989 0 terna da laicidade voltou com for~a na sociedade francesa. e 0 luteranismo na Finlandia.catolicismo. nas escolas. que "reconheee" oficialmente quatro re1igioes: Catolicismo. Sete outros sustentam legalmente a separa~iio das Igrejas e do Estado. Republica Tcheca. Ternisien. apesar da contesta~ao pelas autoridades das tres religioes mais importantes da Fran~a . mas tambem que garantisse 0 respeito it diversidade religiosa. Dinamarca. 4 Este terna reativou antigas oposi~oes e tensoes e. com as minorias religiosas. que atribui a seis re1igi6es . Na seqiiencia do mencionado relatorio ocorreu urn importante debate publico e em 15 de mar~o de 2004. Eo caso da Hungria. associado ao desenvolvimento do Isla e. a Igreja Ortodoxa na Grecia.religiao. Anglicanismo. p. novarnente. a . Portugal. 34). 2006.Fran~a e 0 unico que se proclama laico em sua Constitui~ao e a "laicidade a francesa" foi. considerada como urn mode1o para 0 mundo ocidental. Sete paises adotam 0 regime de "igrejas de Estado". de se beneficiarem de parte do imposto de renda.Catolicismo.0 status de "re1igioes reconhecidas" . Eslovenia e Fran~a. em certo sentido.' Considera-se. que culrninou com 0 envio do Relatorio Stasi. e de Luxemburgo. da Alemanha. sobretudo no campo educacional. da Austria. ao presidente da Republica. laicidade e cidadania 215 mesmo. Letonia. a saber: 0 anglicanismo na Inglaterra. Igreja Ortodoxa e Islarnismo . mantem alguma rela~ao preferencial com certas Igrejas. que "reconhece" oficialmente mais de uma dezena de re1igi6es. mas mantem acordos bilaterais ou concordatas Com Igrejas e re1igi6es. a exibi~ao de sinais ou simbolos que manifestem ostensivamente 0 pertencimento religioso do aluno. Entre todos os paises da Europa.habilitadas a receberem subven~6es publicas. colt~gios e liceus publicos franceses.criou-se uma lei que proibe. De fato. 0 catolicismo em Malta. . ao uso do veu islarnico ("l'affaire du voile") nas escolas publicas. da Holanda. propondo a ado~ao de uma lei que precisasse as regras do funcionamento dos servi~os publicos e das empresas. Eslovaquia. urn olhar sobre a atual situa~ao dos vinte e cinco paises da Uniao Europeia acerca da laicidade faz aparecer uma tipologia composta de tres diferentes mode1os. Noruega e Suecia. e dutantes alguns anos. 2005. com a Igreja Cat6lica. nesse pais. Protestantismos. mais particularmente. que permite aIgreja Luterana. da Belgica. Os onze outros paises tambem sustentam a separa~ao Igrejas-Estado. Ou seja. Judaismo e Igreja Ortodoxa (revista Problemes Politiques et Sociaux. Judaismo. 2007). islamismo e judalsmo . em 23 de dezembro de 2003. Protestantisrno. referindo-se aos paises europeus Bressler & Simard afirmam que e1es "estao longe de apresentar uma concep~ao uniforme das re1a~6es entre o poder politico e as instancias re1igiosas" (Bressler & Simard. e as re1igi6es em geral. E 0 caso da Italia e da Espanha. a analise das Constitui~oes nacionais de vinte paises indica que a diversidade de situa~oes legais coincide com os tres ordenamentos juridicos observados nos paises europeus. apesar dos discursos alarmistas sobre 0 aumento do Isla" (Bressler & Simard.216 ari pedro oro que 0 fundamento juridico sobre 0 qual foi construida a laicidade . 31). ao contra rio. Oro & Ureta. p. Ha. antes de tudo. com dispositivos particulares b . embora nao esteja isento de modifica~oes (Bauberot. nos dias atuais. p. 1998. Mesmo assim. na America Latina. continua este autor. Gauchet alerta . 32). Lembra Ternisien que neste pais. p. p. conduzindo os seus analistas a terem diferentes posi~oes sobre ela. como se sabe. pp. 9) e Werebe afirma que "0 laicismo constitui urn dos problemas polemicos do ensino frances . Mesmo assim. paises que adotam 0 regime de Igreja de Estado.Ela e tam bern considerada como urn cimento do corpo social. "0 pertencimento religioso faz parte da identidade publica do individuo. a laicidade e afirmada em sua Constitui~ao d. Nos Estados Unidos.baseado na liberdade de consciencia e no principio de separa~ao . a tipologia proposta para a situa~ao europeia e tam bern aplicivel no subcontinente americano.. 2007). Ela nao e fechada no segredo das consciencias. 42-3). mas ele tambern "esta presente em hospitais e em varias administra~oes publicas" (Werebe. Tambemna America Latina nao se veri fica uma homogeneidade de posicionamentos legais acerca das rela~oes entre Igreja e Estado. 2004. acordam urn lugar importante a religiao. Assim. 2006. as Estados Unidos. a liberdade religiosa" (Ibidem. bern como no Bill of Rights que a completa.. 2004. como urn pedestal de valores comuns que unem as pessoas de diferentes confissoes ou religioes <liferentes" (Ternisien. "isto nao significa que os Estados Unidos nao respeitam a liberdade de consciencia.pp. 2007. 0 tema da laicidade continua na ordem do dia na Fran~a. De fato. Neles sao explicitamente postos os dois principios fundamentais da laicidade: 0 Estado federal americano se separa de todas as religioes e garante aos cidadaos a plenitude de sua liberdade religiosa ('Bressler & Simard.que "a laicidade e urn dos centros de inquietude de uma Fran~a inquieta" (Gauchet. 124). 2006. ". 194). enquanto para Bressler & Simard "a laicidade nao parece mais poder ser posta profundamente em questao. No entanto. com efeito.. Alias. 192.e 17 setembrode 1787. paises que adotam 0 regime de separa~ao Jgreja e Estado.deve ser preservado. 0 respeito a liberdade de consciencia passa pelo fato de nao atentar. 0 casamento e os cemiterios. Bolivia e Costa Rica. portanto. Colombia. em razao de acordos feitos com esta e com outras Igrejas. Portanto. de El Salvador. Trata-se da Guatemala. em todos eles trata-se da Igreja Cat61ica. Chile e Uruguai. constitui mais Mm ideal a ser alcan~ado do que uma realidade observada. Senao vejamos: enquanto na Europa sete paises adotam o modelo de Igrejas de Estado aqui sao somente tres. 0 que significa urn tratamento estatal desigual (Mariano. do Panama. em rela~ao as religioes. Nicaragua. extinguiu 0 Regime do Padroado. e. mas 55% dos paises latino-americanos se apresentam como sendo Estados plenamente laicos. tal neutralidade inexiste". enfim. pela primeira vez. discriminativo. enquanto na Europa sete paises adotam 0 modelo de . Venezuela. Uma analise comparativa entre os paises europeus e latino-americanos mostra que do ponto de vista juridico a laicidade e mais significativa deste lado do Atlantico. onze paises adotam 0 regime de separa~ao Igreja-Estado: Mexico. ocorrida com a promulga~iio da primeira Constitui~ao Republicana de 1891. pp. e garantiu. o Brasil encontra-se entre os paises que sustentam constitucionalmente a separa~ao Igreja-Estado. que pos fim ao monopolio catolico. Sao eles: Argentina.i sao onze os paises que adotam esse regime. Como observa Ricardo Mariano. e paises que mantem urn regime de separa~ao Estado-Igreja com a consequente igualdade de cultos. laicidade e cidadania 217 em rela~ao a Igreja Cat61ica. Enfim. Honduras. 227-8). Este ultimo ponto. 0 da ado~ao legal de uma religiao de Estado. Haiti. Seis paises adotam 0 regime da separa~ao Igreja-Estado com dispositivos particulares em rela~ao a Igreja Cat61ica. na sua -forma positiva ou negativa. porem.religHio. Equador. Obviamente. Cuba.separa~ao Igreja-Estado aqui 0 numero chega a onze paises. Tres paises inscrevem-se no primeiro modelo. a liberdade religiosa para todos os cultos. do Peru e do Paraguai. Brasil. Neles. secularizou os aparelhos estatais. "nas mais diferentes experiencias hist6ricas. a separa~ao Igreja-Estado e acompanhada das no~oes de liberdade de cren~as e de igualdade entre os cultos. porque 0 Estado tende a dispensar urn tratamento nao igualirario. da Republica Dominicana. autonomizados em rela~ao as Igrejas e mantendo uma neutralidade em rela~ao as religioes. 18% dos paises europeus. . 2006. enquanto aqui seis paises adotam 0 modelo de separa~ao Igreja-Estado com aten~ao especifica a Igreja Cat61ica I. Ii. vedado ii Uniao. avaliando a percep~ao acerca da liberdade religiosa pelos diferentes atores sociais. a colabora~ao de interesse publico. em seu artigo 19. ~a. aos Estados. contatados na pesquisa realizada na regiao metropolitana de Porto Alegre.2 % do total da amostra. situa~ao esta que foi reafirmada na Constitui~ao de 1946. das diferentes religi6es e camadas sociais. inciso I.0%) concordaram plenamente com 0 enunciado. ao Distrito Federal e aos municipios: estabelecer cultos religiosos ou igrejas. Iniciemos a segunda parte do texto justamente por essa questao. 2002). assim diz: Ninguem sera privado de direitos por motivo de cren~a religiosa ou de convic~ao filosOfica ou politica. Enfim. salvo se as invocar para eximirse de obriga~ao legal a todos imposta e recusar-se a cumprir presta~ao alternativa. foram 73.218 ari pedro oro Porem a Constitui~ao de 1934 introduziu 0 principio da "colabora~ao reciproca" entre Estado e religiao (subentende-se Igreja Cat6lica) (Giumbelli. 1 1 Liberdade religiosa Diante do enunciado "no Brasil existe totalliberdade religiosa". subvenciona-Ios.2 % concordaram em parte. ressalvada.! . a larga maioria dos entre vista dos. assim disp6e sobre 0 tema: Ii. posicionaram-se favoravelmente. na forma da lei. inciso VIII. fixada em lei. Praticamente a metade dos entrevistados (49. Juntos. a Constitui~ao de 1988 manteve os dispositivos vigentes nas constitui~6es anteriores acerca da separa~ao entre a Igreja e 0 Estado e. Como se pode ver. no artigo 5. embara~ar-Ihes 0 funcionamento ou manter com eles ou seus representantes rela~6es de dependencia ou alian~a. que concordaram . A mesma Constitui~ao tambem manteve 0 direito it liberdade de crenonde. uma das premissas da laicidade e a liberdade religiosa dos cidadaos. a Constitui~ao de 1967 que vai interpor uma chiusula restritiva ii "cola bora~ao reciproca". de distintas religi6es. e outros 24. dos novos movimentos religiosos. e os sem religiao. 7. e os espiritas.4% e os menos discordantes acerca da existencia religiosa no Brasil sao os evangelicos hist6ricos.. na ordem de 10. discordaram em parte 13. laicidade e cidadania 219 com 0 enunciado. totalizando 20. . 0 fato de serem os sem religiao os rna is discordantes acerca da existencia da liberdade religiosa no Brasil' talvez esteja confirmando 0 fato de que esses individuos nao somente nao se identificam com nenhuma das institui~iies religiosas que conformam 0 pluralismo religioso existente .403 pessoas) no Brasil. e os evangeticos hist6ricos. Alguns comentarios sobre esses dados. Dai 0 seu desabafo quanto it ausencia de liberdade religiosa. e das outras religiiies com 28%.35% (ou 12. os pertencentes it "nebulosa mistico5 Segundo os dados do mGE apresemados no ultimo Censo do ano 2000. com 60. a eles seguem os evangelicos pentecostais.algo que tern sido apontado pelos estudiosos . os cat6licos.9%. Disseram nao ter opiniao formada diante da questao 5. com 89.3% dos entrevistados.5%. A analise das discor<iancias sao compativeis com 0 que precede.6%. Discordaram totalmente somente 7. Na sequencia aparecem os frequentadores das "outras" religiiies e das afro-brasileiras como os menos favoraveis it existencia da liberdade religiosa no pais. Sao os sem religiao que discordam em numero mais acentuado acerca da existencia da liberdade religiosa no Brasil.5%. com 68%. o recorte dos posicionamentos acerca da liberdade religiosa segundo a op~ao religiosa dos entrevistados revelou 0 seguinte ranking: em primeiro lugar figuram os espiritas. em parte ou no todo.7% dos entrevistados e 2 deles optaram por niio responder a questao.6%. as outras religiiies. seguidos dos afro-brasileiros. segundo a expressao de Fran~oise Champion. Os primeiros seriam os membros de religiiies neopagas. os cat6licos na ordem de 19.2%.mas tam bern que seriam individuos que gostariam de expressar suas cren~as e c@ncep~iies religiosas de maneiras e formas outras.religiao. Em primeiro lugar. com 71. com 10%. os afro-brasileiros. com 72.492. etc. das religiiies ayauasqueiras. os sem religiao seriam 7. segundo os dados obtidos na capital gaucha. com 74%.62% (ou 205. Eles somam 34. Os pentecostais discordam na ordem de 22.6%. mas encontram entraves e dificuldades para tanto.7% da amostra.83 % (ou 106. ou.3%. de algumas religiiies orientais. com 28. com 90% dos entrevistados concordando com a liberdade religiosa no pais.9%.730 pessoas) na regiao metropolitana de Porto Alegre.510 de pessoas) em Porto Alegre e 5. alem de deterem hoie. h. e mesma liberdade para reproduzir suas cren~as e convic\. Relativamente aos primeiros. individuos das camadas medias e medias-baixas da sociedade. repercutindo. sobretudo. fazem parte h. J. como se sabe. e pelo tipo de a~ao religiosa e de peaticas sociais que realizam . assumiu contornos claros de uma tentativa de discrimina~ao religiosa. de tolhimento it liberdade de reprodu~ao ritualistica desse meio religioso (Oro. os catolicos e os pentecostais se situariam a meio caminho entre os segmentos religiosos mencionados: de urn lado os mais criticas it existencia l - . por seu tumo. 0 que nao logrou exito devido it importante mobiliza~ao deste segmento religioso.1 mais de urn seculo da paisagem religiosa gaucha e tern recolhido aceita~ao social. favorecendo. No lado oposto encontram-se os dois segmentos mais favor. em 2003. que em razao do significado atribuido ao trabalho lograram obter importante desenvolvimento socioeconomico nas regioes onde se estabeleceram (Roche. 1982). segundo seus membros. 1990). Ofato. Seyferth.1 que se recordar que eles tambem foram historicamente vitimas de preconceitos e discrimina~oes. como fteis preferenciais de suas igreias. que sao os espiritas e os evangelicos historicos. nas ultimas decadas. porem. e mesmo na atualidade. menos suscetiveis a discrimina~oes.1 os membros dos cultos afro-brasileiros de todo 0 territorio nacional foram historicamente. uma certa dificuldade de expressao de suas convic~oes e cren~as. 2007). internamente. Particularmente no Rio Grande do Sui. na auto-avalia~ao da existencia atual de maior liberdade religiosa. Enfim. Os evangelicos historicos. 1969. vitimas de inrolenlncia religiosa (da Silva. melhorado a sua imagem social. dai. tam bern. mas. visava tambem proibir 0 sacrificio de animais nos cultos religiosos. eles . que ao propor urn Codigo Estadual de Defesa dos Animais.1veis it existencia da liberdade religiosa no pais. 2005). devido. ou seia. como. os membros das religioes afrobrasileiras foram vitimas de mais uma tentativa de discrimina~ao religiosa devido a urn projeto de lei apresentado na Assembleia Legislativa por urn deputado da Igreja Quadrangular. que tendem a perceber a existencia contra e1es uma certa discrimina~ao religiosa e. it autopercep~ao da existencia de liberdade religiosa. predominantemente alemaes.por atrairem urn segmento social detentor de certo prestigio e status social.tern nao somente conseguido reduzir a carga de preconceitos contra si.oes religiosas.220 ari pedro oro esoterica" (Champion. it historica origem etniea de parcela importante dos seus membros. tudo isso. ao menos no Rio Grande do Sui. grac. 276). arremata: "para um pais de terceiro mundo como 0 nosso. Seja como for. por exemplo. nas camadas B2. se situam nas faixas intermediarias e baixas da sociedade. tornando-se um dado indisputavel da realidade brasileira. 0 grau de liberdade que os cultos religiosos tem e adminivel. de outro lado. que os debates acerca da "liberdade reiigiosa" fac. da liberdade religiosa no Brasil. 2001.falta por aqui.am parte do passado.as a Deus. nao s6 se efetivou plenamente na segunda metade do seculo XX. 1996. e nas camadas DeE predominantemente os pentecostais e os adeptos das religiiies afro-brasileiras. Nao falta mais.2% do con junto dos entrevistados.religiao. os membros das "outras" religiiies e os afros) e. nao . Vale ressaltar que se situam predominantemente nas camadas intermediarias (B2 e C) os individuos que se identificaram como pertencentes aos sem-religiao e as "outras" reiigi6es. C. como lembra Emerson Giumbelli. 165). F. os individuos que se situam nas tres camadas sociais mais altas da piramide social os mais favoraveis a existencia da liberdade religiosa. convenhamos" (Ibidem. ao contrario. Ao contrario. Foi-se 0 tempo. p. a concordancia com a existencia de fato. das diferentes camadas sociais. DeE. A. Tambem Ricardo Mariano afirma que a liberdade religiosa. alem de direito. grac. Se levarmos agora em conta a variavel "renda familiar". veremos que sao. recentemente redemocratizado. os mais favoraveis a liberdade religiosa (os espiritas e os evangeIicos hist6ricos). p. quando <liz: "liberdade para religiiies e 0 que. laicidade e cldadania 221 de liberdade religiosa (os sem religiao. Esses dados obtidos na regiao metropolitana de Porto Alegre confirmam as analises feitas por estudiosos no assunto que tomam como foco a rea:lidade brasileira como um todo. e. dos distintos segmentos religiosos. na ordem de 73. p. sobretudo. Isto nao significa. fato inegavel. decididamente. as pessoas que se mostraram menos concordantes com a existencia da liberdade religiosa. Pierucci. em termos estatisticos prevalece sobremaneira.ao do pluralismo e do desenvolvimento de nosso dinamico mercado religioso (Mariano. sancionada pelo Estado. como se situa na raiz da constituic. eles possuem uma "espantosa atualidade" e voltam a ocorrer nao so- .as aos deuses" (Pierucci. 277). E 0 que sustenta. E. porem. 6 individuos nao responderam ii questao e 3 disseram nao saber responder a ela.7%.8% e os membros das outras religioes. na D.05% importante. com 5 cas os. significa que os indivfduos contatados pela pesquisa tern tam bern consciencia da sua condic. As respostas segundo a variavel religiosa mostrou que todos os membros de tres segmentos religiosos responderam .a ("que pareciam ter solucionado 0 problema ha muito tempo") (Giumbelli.a razao. com 7. Existindo a consciencia da liberdade religiosa. com 1 caso. 12).2% dos indivfduos estimam ser importante a cidadania. Consideram a cidadania pouco ou nada importante pela ordem: os cat6licos.3%.0%. com 4. com 93. de 100% . quais sejam: a percepc. 2002.4% e os das outras religioes. portanto. com 8.ao de cidadaos? E 0 que indagamos a eles. Mas 0 que entendem os nossos entrevistados por cidadania? As respostas livres a esta questao permitem montar uma tipologia composta de tres tendencias. p.5% a consideram pouco ou nada importante.7% das respostas. com variac. ou seja. 93.oes entre eles.oes pessoais visando 0 bem-estar coletivo.iio e de solidariedade sociais. Seguem os cat6licos.ao dos direitos .iio quase que equilibrada entre as tres tendencias acima indicadas. Alem disso. com 88%. presentes em todos os segmentos religiosos estudados. com 91.ao de cidadania enquanto garantia dos direitos individuais. e mesmo na Franc. e cidadania enquanto defesa dos direitos individuais ali ada a praticas e ac. Portanto. os pentecostais.ser muito importante e importante a cidadania. os espiritas e os afro-brasileiros. com 10.222 ari pedro oro mente no Brasil ("em que aparentemente nao teriam razao de ser"). com 8 casos e na E. cidadania enquanto praticas sociais de participac. Cidadania Instados a dizerem quao importante e a cidadania para cada urn dos 384 entrevistados. Sao eles: os evangelicos hist6ricos. Somente 3. os sem religiao. Os que responderam ser pouco ou nada importante a cidadania se situam nas camadas mais baixas da sociedade. com 88. as respostas indicam que 62. os sem religiao.9% e 0. Observando as respostas dos membros dos segmentos religiosos contatados nota-se que em quatro deles vigora uma oscilac. a reivindicac. a saber: na camada C. respectivamente.4%. os pentecostais.2 % deles a consideram muito importante e 31. "e sec solidario. as defini~oes que agregam a dimensao pessoal e coletiva sao ditas desta forma: "cidadania e ter direitos e deveres para com a comunidade". "e saber seus direitos e deveres e saber exerce-los na sociedade". No meio pentecostal. plena dos meus direitos". "e estabelecer direitos e deveres de forma igual ! J . "sao os direitos e deveres do individuo por pertencer a uma sociedade". "e exercer as direitos e deveres de cidadao". constatou-se entre os individuos do segmento "sem religiao" a preeminencia de respostas tais como: "cidadania e fazer valer os direitos iguais para todos". A percep~ao social da cidadania e definida assim pelos pentecostais: "cidadania e ajudar 0 pr6ximo ever 0 born andamento da sociedade".religiao. "cidadania No meio espirita ouviram-se semelhantes manifesta~oes. os afros. educa~ao. ate "cidadania e ajudar uns aos outros". Por exemplo: "cidadania e defender aquilo a que 0 homem e a mulher tern direito". os pentecostais e os cat6licos. a enfase as pniticas sociais. "e respeitar 0 proximo". "cidadania e 0 exerdcio pleno dos meus direitos e dos meus deveres". As respostas ditas pelos cat6licos vao desde: "cidadania e buscar nossos direitos". "cidadania e quando varias pessoas se unem para fazer 0 que e de melhor para os bairros e ajudar os mais necessitados". os membros das "outras" religioes e os evangelicos hist6ricos. "cidadania eparticipa~ao ativa na sociedade e nao dizer que tudo eculpa do governo". amar uns aos outros". Com efeito. passando por "cida- dania e a no~ao de direitos e deveres na convivencia em grupo" . "cidadania e direito a moradia. enfim. Eis algumas respostas ouvidas no meio afro que revelam a representa~ao de cidadania nas tres tendencias indicadas: "cidadania e 0 exerdcio e ajudar uns aos outros". "cidadania e cada urn ajudar 0 outro". se importar com os problemas dos ou- tros. laicidade e cidadania 223 pessoais. Em tres outros segmentos religiosos nota-se uma predominancia de respostas que associam a dimensao dos direitos do individuo com a sua responsabilidade sociaL Sao eles os sem religiao. "cidadania e eu exercer os meus direitos". os espiritas. "cidadania e sentir-se util". as respostas que contemplam preferencialmente o individuo enquanto cidadao sao ditas assim: "cidadania para mim e lutar pelos meus direitos". liberdade de expressao e oportunidade de trabalho". "e exercer os meus direitos e deveres como cidadao". e a associa~ao do reconhecimento dos direitos pessoais com a responsabilidade sociaL Sao eles. "cidadania esaber que eu tenho direitos e deveres". "e exercer as direitos. "e viver bern e proporcionar que 0 semelhante tambem viva bern". Olha-se a sociedade como se olha a comunidade da igreja (Corten. Segundo eles. em Montreal. nao so em mim". tais como: "ajudar 0 proxirna". coordenado por Andre Corten. "amar llns aos outros". Eis alguns exemplos: "cidadania e dar 0 melhor de mim como cidadao. pensar tambem no bem-estar do todo. Os evangelicos historicos tam bern se pronunciaram predominantemente nesta dire~ao. "ajudar os necessitados". acerca das suas no~oes de cidadania. genero. Este fato estaria a revelar. "arnor e solidarieclade ao proximo". . 278). de distinros segmentos religiosos. que a aproxima~iio entre religiao e politica ja foi evidenciada por varios autores e ultimamente resulrou como conclusao de uma importante pesquisa realizada pelos pesquisadores do Groupe de Recherche sur les Imaginaires Religieux et Politiques de l'Amerique Latine (Gripal). Dizem eles: "cidadania e ser personagem da vida social. das diferentes expressoes religiosas. p. 2007. com direitos e deveres". pois rerornaremos ao tema mais a frente. de urn lado. religiao. de outro lado. "e exercer a sua responsabilidade na sociedade. antes de nos atermos mais de perto na rela~ao entre religiao e politica con vern analisar as respostas dadas pelos entrevistados em rela~ao a dois enunciados que abordavam a responsabilidade social dos cidadiios. Molina & Chiasson-Lebel. Diga-se de passagem. Econtribuir com a sua parcela". da Uniyersidade de Quebec. As respostas predominantes dos membros das "outras" religioes tambern afirmam 0 individuo de direitos atuando na sociedade. Nota-se. Nos nao somos isolados". a rela~ao relativamente estreita que os individuos. orienta~ao sexual e deficiencia fisica e c1asse social".224 ari pedro oro para todos sem diferen~as de ra~a. Porem. estabelecem entre religiao e politica. em certo numero de depoimentos. o Brasil oferece urn uniYerso onde os imaginarios religiosos e politicos se confundem. respeitar as outros". Exprime-se em linguagem politica 0 que se ere no plano religioso e vice-versa exprime-se em termos religiosos como se ye a organiza~iio (politica) da sociedade. a importiincia da motiva~ao religiosa para a a~ao social dos individuos e. "e sempre agir pensando no todo. a apropria~iio de termos e expressoes de uso corrente no campo religioso. Ii os sujeitos que se situam nas duas outras camadas baixas. a E. com 85. mesmo assim com escores da ordem de 78% e 77% respectivamente.5%. A discordancia ao enunciado segue a seguinte ordem: as espiritas. Portanto. assim como da mais miserivel. ou seja. la 0 indice dos que discordaram em parte foi de 15. as afros.3%.1 %. afirmando nada pode· rem fazer para mudar a sociedade. 81 % dos informantes discordaram do enunciado acima. Os menores indices de desaprova"ao situamse nas faixas C e D.1 %.religiao. as evangelicos . as sem religiao com 8. ou estao dispostos. 2. Alem disso. Os mimeros sugerem que a grande maioria dos individuos pertencen· tes as camadas medias e altas.9% e dos que discordaram plenamente foi de 65. as evangelicos historicos. os afros. Os maiores indices de desaprovac.7%. na ordem de 26%. Mesmo assim. Em seguida. com 10. com 88%.ao parcial (acima de 90%) ao enun· ciado situam-se nas tres mais altas camadas da sociedade. os espiritas com 10%. e as membros das outras religioes com 8%. sao mais de dois ter"os deles que discordam com 0 enunciado. C e D. a saber: que podem fazer algo para mudar a sociedade. A porcentagem dos que concordaram plena ou parcialmente com ele alcanc. talvez a sua posi"iio esteja associada a importante mobiliza"ao da opiniao publica posta em pratica pelo governo atual. as de religioes "outras". por meio de propaganda e programas sociais direcionados justamente aos menos favorecidos. o recorte do enunciado por filia"oes religiosas apresentou a seguinte situa"ao: os pentecostais sao os que mais concordam com ele. com 90%. provenientes da camada intermediiria B2 e da mais baixa camada social. sao os menos discordantes dessa possibilidade.7%. vern os catolicos. afirmando assim 0 seu contrario. sao somente 2 entre 10 individuos dessas camadas sociais que estariam. Especificamente em rela"ao aos mais miseraveis. com 14.4%. a agirem no sentido de mudar a sociedade.oes da ordem de 84%.3% deles nao responderam. afirmam ser capazes.9% disseram-se sem opiniao e 1. Seguem desaprovac. com 15. laicidade e cidadania 225 Responsabilidade social Foi proposto aos entrevistados que se posicionassem ante 0 enunciado "eu nao posso fazer nada para mudar a sociedade".ou somente 14. mas distanciados. Os que rna is contestaram 0 enunciado de nada poderem fazer para mudar a sociedade sao os espiritas. desta vez.3 %.4%. e. com 85. ou seja. sao os sem religiao os que mais discordaram com 0 enunciado. os pentecostals. enfim. Sao predominantemente sujeitos que se situam nas faixas socioeconomicas ditas C e D. com 14. seguidos dos afros. seguidos dos frequentadores de "outras" religi6es e dos evangelicos historicos. pela ordem. os que mais se posicionaram favoravelmente ao fato de. com 4%.7% dos entrevistados. Mas ha tres segmentos religiosos que concordaram plenamente ou em parte com ele. das outras religi6es.9%. os membros das "outras" religioes./' 226 ari pedro oro hist6ricos. 3. discordaram em parte. Sao eles: os evangelicos historicos. e em parte 27. e dos catolicos. aquelas em que se encontra a maioria dos fieis do pentecostalismo (Fernandes et alii. C. com 2. isto e. Estao abaixo da media. da classe E. na ordem de 17. e 1 unico individuo discordou plenamente: urn homem membro de "outra" religiao.6%.3%. com 82. o enunciado acima foi complementado por outro que enfocava. Veremos logo abaixo se hit alguma rela~ao entre a~ao individual e a~ao coletiva dos pentecostais em prol da sociedade. recebeu os seguintes escores: concordaram plenamente 66.0%.6%. nada poderem fazer para mudar a sociedade. Os catolicos situam-se na media acima apontada. 1998). 94. a rigor cerca de urn ter~o deles. individualmente.5% concordam com 0 enunciado.60/0. DeE. e os sem religiao. a importancia da a~ao em conjunto para melhorar a situa~ao coletiva. Somente 14 pessoas. Portanto. 0 enunciado "so a a~ao em con junto pode ajudar a melhorar a sociedade".3%. com 880/0. com 82. os afros. tanto individual quanto coletivamente. Juntos. os evangelicos pentecostais e os espiritas. b .70/0. sao os pentecostais. os sem religiao. com 84.1%. com 74. Inversamente. Os poucos discordantes acerca da importancia da a~ao conjunta para melhorar a sociedade situam-se nas faixas medias-baixas e baixas da sociedade: camadas B2. concordaram com a afirma~ao 94. Juntando os dois enunciados pode-se fazer uma leitura segundo a qual os espiritas e os evangelicos historicos despontam como os segmentos religiosos que mais estao dispostos a exercerem a sua cidadania no sentido de agirem em beneficio da coletividade. Assim. quando os atores socia is dos diferentes segmentos religiosos afirmam concordar majoritariamente com 0 enunciado de que somente a a~ao em con junto pode ajudar a melhorar a sociedade.8 100. ou dificuldade.2 33.8 2.4% dos entrevistados afirmaram que sua contribui~ao para 0 bem-estar coletivo ocorre.6 8. Enfim. os dados revelaram que um ter~o dos pentecostais se expressaram no sentido de afirmarem a impossibilidade.1 25. Mediat. Mas. se sua contribui~ao para a melhoria da sociedade se da por institui~oes vinculadas ao Estado. por essa via.6 0.1 12.7% dos informantes.0 100.8 100.9 17.5 16.0 13. da at. plena ou parcialmente.7 14. ou 0 desinteresse.oes vinculadas ao Estado Concordo plenamente Concordo em parte Discordo em parte Discordo plena mente Sem opiniao NR Total 13.7 10.8 1.0 42. ou pelas Igrejas e religioes.:ao estatal.religiao. Portanto.ao para 0 bem-estar coletivo se da por meio (%): de instituir.8%. Indagamos a eles. por meio de que media~oes tais a~oes em conjunto podem se dar? E 0 que perguntamos a eles. 227 laicidade e cidadania Por outro lado. a media~ao por meio de insdncias nao-governamentais das praticas coletivas desponta como a mais significativa. Ja a contribui~ao pessoal para 0 bem-estar coletivo por meio das igrejas e religioes obteve 0 escore de 39. de agirem sozinhos para mudar a sociedade. mas sao totalmente favoniveis a agir em conjunto.0 A observa~ao da primeira coluna mostra que 45. nao-governamental e religiosa. Ela e da ordem de I : J .7 31. ou por organismos e institui~oes nao-governamentais.7 16. 0 enunciado que falava da contribui~ao para 0 bem-estar publico por meio de orgaos e grupos nao-governamentais ou politicos recolheu a concordancia plena ou parcial de 55.9 29.:ao coletiva Vimos acima que 94 % dos entrevistados concordaram plena ou parcialmente com 0 enunciado de que somente a a~ao em conjunto pode ajudar a mudar a sociedade. A minha contribui«. A Tabe1a 1 apresenta uma sintese percentual dos resultados Tabela 1.0 de Igrejas e religioes das insrancias naogovernamentais 9. entao. 32% dos entrevistados de Porto Alegre afirmaram ter participado de campanhas de solidariedade.9% por meio das igrejas e religiiies. supostamente das classes A2. h .iies vinculadas ao Estado acompanha a propria hierarquia que vigoca na piriimide social.5%.1 %. 0 das camadas DeE e de 39.8% poc meio das agencias governamentais e de 39.8%.ao de fundos visando beneficios sociais.7%.2 % e com 26.3% e de 13. B2: 49% e C: 45. associa~oes. h:i que se levar em conta 0 fato de que se encontram tambem nas camadas mais baixas. entidades.ao de que contribuem para 0 bem-estar por meio das suas igrejas que..228 ari pedro oro 55.ao por meio da mediac. contra a de 44. politicos e medicos. muito mais do que de trabalho voluntario (13%) (Siqueira & Hollinger. 2004). enquanto 0 fndice de concordancia das camadas A1 e A2 e de 100% e de 76. 2002).' o recorte poc camadas socia is acerca da concordiincia com 0 enuncia· do da contribui~ao pessoal para bem-estar coletivo poc meio de institui. Tais pr:iticas ocorrem. existir urn descompasso entre 0 alto grau de vontade ou de motiva~ao pessoal dos entrevistados para agirem coletivamente em beneficio da sociedade . respectivamente. nota-se a preeminencia de institui~iies e agrupamentos nao vinculadas ao cEstado e a politica como mediadoras das a~iies coletivas. os indivfduos que mais se disseram sem opiniao diante dessa questao. mais. e 52% dos gauchos tinham participado de campanhas para arrecadar fundos para institui~Oes (Meirelles. Em autra pesquisa. grupos. au menos.e a sua efetiva realiza~ao. Esses dados mostram que os indivfduos detentoces de mais renda de· tern tam bern mais contato com os organismos de Estado e agem por meio deles para 0 bem-estar coletivo. respectivamente. a DeE.Oes de ensino superior do pais e do exterior. respectivamente. Porem.ela alcan~ava 94 % dos entrevistados. em primeiro lugar. 50% dos cariocas afirmaram ter contribuido para a campanha contra a fome e a miseria. comites. bern como a participa~ao em campanhas de arrecadac. Essas porcentagens sugerem. formalizados. lares. realizada entre os anos de 2001 a 2003. Em segundo lugar. os fndices sao os seguin· tes: B1: 45. etc. E entre elas. como vim os. foi de {. B e C) de diferenres metropoles do pais.7%. que quase se reduz a metade. Em Qutra pesquisa. com 23. como vimos acima . a margem dos aparelhos estatais e englobam urn sem-numero de organism os. com formadores de opiniao (jornalisras. em detrimento dos que se situam nas cama· das mais baixas da sociedade que agem socialmente em menor propocc. portanto. Assim.ao estatal. centros.4%. clubes. realizada em 1999 com esrudantes universitarios de diferentes instituiC. Os indivfduos que estao acima da media na aprovac. 8%. com 57%. e nas camadas B2 e C. os catolicos. com 21 %. Os que menos dizem agir em vista do bem-estar coletivo por meio das instituic. formais ou nao.3 %. os pentecostais. Como se sabe. com 43.5% e os afros. 1". os sem-religiao. com 14. entre os pertencentes do campo afro-religioso. 0 assistencialismo e urn item do ethos espirita que pode. Bern mais abaixo. a contra.8%.1 % para a camada E. por exemplo. com 59.os evangi'licos hist6ricos. os sem religiao. Portanto. com 52%.rio ocorrendo com os membros das mais baixas camadas sociais.9%. com 50 e 52. estaduais ou municipais (Giumbelli. com 44. Quanto ao engajamento dos individuos visando ac. com 63. respectivamente. seguido dos evangi'licos historicos. . seguem os catolicos com 36.6% e E. Abaixo desta media encontram-se as camadas D. como instancias de a~ao em prol do bem-estar coletivo acompanha.9%.oes do Estado sao os afro-brasileiros e os pentecostais. federal. a media~ao das associa~oes e organismos nao-governamentais. laicidade e cidadania 229 39. com 4. 1995). nota-se que os individuos situados nos mais altos graus da piriimide social tendem a participar rna is das tres media~oes de pniticas coletivas mencionadas. A camada E. os membros de "outras" religioes. com 83.2 %.3% e.2% e dos membros de outras religioes. os sem religiao.2%.0%. dos pentecostais. obviamente.7%. Bl.oes para 0 bemestar por meio de suas igrejas e religioes. ele ocorre. os membros de outras religioes. tal como ocorre no caso do acesso as instancias estatais. Enfim.1 % e 43.%. Quanto a identifica~oes religiosas tal foi a ordem de engajamento dos individuos em a~oes visando 0 bern comum por meio de instituic. com 35. com 80%.oes estarais: os espiritas. e a que esri menos integrada tanto nas instancias politico-gavernamentais quanta nao-governamentais e mesmo eclesiais e religiosas. os cat6licos. o fato de os espiritas despontaFem como prestadores de ac. com 28. situam-se nas camadas Al e A2.oes sociais por meio de institui~oes vinculadas ao Estado nao e novidade. a hierar- quia da propria piramide social. no sentido de que e maior 0 acesso na mais alta camada social e menor na medida em que se desce para a base da piriimide. com 50%.3%. com 29.religilio. ser implementado na orbita das politicas publicas dos govemos. situam-se na media com cerca de 45% de respostas concordantes com 0 enunciado. dos espiritas com 60. com 46. pela ordem. num total de 100% para a camada Al e de 42. os evangi'licos historicos. e em muitas regioes do pais de fato 0 e. porem.o e wna religiao que e agregadora. seguidos dos evangelicos historicos. com 55%. Os catolicos sao os que men os afirmam contribuir para 0 bem-estar por meio da Igreja. Mas. . com 44%.. " (entrevista feita em Porto Alegre. " 7 confirma Urn depoimento da mae-de-santo Maria Angelica Borges dos Santos.. com diversidade de opl):ao sexual. E campanha do agasaiho. e das igrejas e religiiies. Isto significa que nao e por meio das igrejas e religiiies.6%. denteo das possibilidades. Ela nao exclui ninguem: acolhe branco. que tais priticas estejam dissociadas de igrejas e religiiies e mesmo do politico.8%. com 80% de concordancia.no sentido mais generico possivel. nem por meio dos organismos de Estado. Ela se da. doente.1 % em rela~ao as ONGs.. Diz ela: "A nossa re1igia. dos membros das "outras" religiiies. que passa preferencialmente a contribui~ao pessoal dos informantes com vistas ao bem·estar coletivo.. Esta constata~ao resulta da analise dos resultados obtidos de uma outfa questao. a ordem de discordancias de contribui~ao por meio de igrejas e religiiies e de 33. que se intitulava: "as mudanc. sobretudo. traballio social. aqui e preciso inserir uma relativiza~ao. de 25. Todos esses dados permitem conduir que. De faro. Se esses numeros podem ser relativizados pelas afirma~iies de discordancias parciais. em agosto de 2007). das institui~iies estatais.230 ari pedro oro Quanto a a~ao pela media~ao de ONGs .. areas pabres . campanha do quilo. entao se faz a distribuiITao a5sim [.novamente despontam os espiritas. se faz trabalha na medida do possivei. com criam. mais 0 fazem por meio da religiao. com 55. a saber: de que a a~ao coletiva preferencial por meio de organismos nao associados ao campo politico nao implica. porem. ] nas areas perifericas. com velhos. peeto. os espiritas sao os que mais afirmam contribuir para 0 bemestar coletivo tanto pela media~ao estatal quanta nao·governamental..4%. Portanto. com idosos. e dos afro-brasileiros com 42. porem.:as. Se acoihe. de Porto Alegre. dos catolicos e dos pentecostais. eles sao. com 39. a contribui~ao pessoal para 0 bem-estar coletivo OCOffe na seguinte ordem: por meio das ONGs. que menos dizem contribuir por meio das ONGs e do Estado. com 45. para 0 conjunto da amostra.' Mais proximos dos espiritas se encontram os evangelicos histori· cos e os sem-religiao e mais proximos dos afro-brasileiros os membros de "outras religiiies" e os pentecostais. por praticas nao atreladas a instancias politico-governamentais.4%.7% por meio de institui~oes vinculadas ao Estado e de 16.7% das respostas.9%. No sentido oposto se encontram os afro-brasileiros. dos sem religiao com 60. confirmados pel as discordancias rotais aos tres enunciados.8%. 0 que precede. com 68.as 56 podem ocorrer a partir da . ao religioso.9% no caso da mudanc.8% (E). . os evangelicos hist6ricos. com 66. ainda menos. + .as devem ocorrer por via simultanea do religioso e do politico. e nao ac.8 % sustentam a primeira possibilidade.7% (A2). qual seja a de que os indices de concordancia .ao it assertiva acima e de 100% para a camada Al e vai baixando. com 60% e os cat6licos.ao estreita? E0 que veremos mais it frente. Isto implica. com 68. Isto significa. a politica e a religiao. com 52. e nao uma ou outra isoladamente.no caso de que as mudanc. com 71. portanto.. PoHtica Religiiio Ambas NR Total N % 138 9 35.7%. 66. os pentecostais.oes: a politica. que na visao dos entrevistados religiao e politica mantem entre si uma relac. observamos novamente uma tendencia ja vista em outras variaveis. a religiao. os afros. 54. vale assinalar que se situam acima da media de 57.ao coletiva visando 0 bem-comum.ao entre as instancias religiosa e politica em se tratando de ac. que a maioria dos informantes defendem a aproximac. a tendencia predominante e de os entrevistados apostarem na mudanc. em outras palavras. Tabela 2. Ou seja. % e os sem-religiao.acompanham a propria distribuic.0 222 15 384 Como se verifica.a exclusiva pela politica e somente 2.as devem dar-se por via simultanea do religioso e do politico . e 36.as sociais.ao das camadas sociais segundo a piramide social. Quanto a faixas sociais.a que privilegia ambas as instancias sociais.9 100.oes de que as mudanc.8% das aprovac. com 58.3 57. com 34.4%.3% pela via religiosa.7% (Bl).2%.2% (C).7% (B2).8%. Abaixo da media situam-se os membros de outras reiigioes. 0 indice de aprovac. laicidade e cidadania e apresentava como opc.231 religiao. ambas. ou sem resposta. 56. 63. As mudanflas s6 podem ocorree a partir da .oes que se restringiriam exclusivamente ao campo politico e. conforme mostra a tabela a seguir. da seguinte forma: 73. os espiritas.4%.8 3. a porcentagem cai para 35. mediante mudanc. ao passo que 57. Por ora.9 2.7% (D). Ou seja. dos afro-brasileiros.7%.2 %. essas instiincias do social nao podem ser misturadas.9%. porem. Note-se. os sem religiao. com 44. com 50%. com 40. com 42. a aproxima~ao do religioso e do politico sobe para 57. que neste particular 0 levantamento mostra-se incompleto devido ao alto indice de individuos das camadas C.3%. como nao poderia deixar de ser. com 63. seguidos dos afro-brasileitos. que os indices mais favoniveis a aproxima~ao do religioso e do politico se situariam nas camadas mais altas. com 57.2%.232 ari pedro oro o que precede remete a explora~ao das rela~oes que os individuos que participaram da pesquisa detem acerca das politico.5 % quediscordaram parcialmente e 19. seguidos dos evangelicos histaricos.ao das aprecia~oes do enunciado ao longo das camadas sociai~ mostrou que os seus indices de aprova~ao sao mais ou menos homogeneos. mas para 54.8%. com 73. dos espiritas. e dos pentecostais. Os grupos religiosos que mais se posicionaram contrarios a "mistura" entre religiao e politica sao. Ou seja. Ocorre. religiao e politica podem ser misturadas. DeE. portanto. por exemplo.3 % totalmente. ou seja. Os espiritas discordam na ordem de 50%.2 %. se trata de agir com vistas a mudan~a social. dos membros de outras religioes.9%. constituem eles (os afro-brasileiros e os pentecostais) os grupos mais favoraveis a aproximac.1 % parcialmente favoraveis. dos cat6licos. eles se mostram maiores quando.8% dos entrevistados.6% deles. Foram os pentecostais. como vimos acima. que se disseram sem opiniao e que nao responderam ao enunciado. A distribuic. contra 18. com 55.ao entre religiao e politica.9%. posicionaram-se plenamente. com 59. este grupo religioso esti literalmente l . os que mais discordaram da impossibilidade da aproxima~ao entre religiao e politica. Neste caso.2 % e nao responderam.5% e 16. De sorte que para 37. 0 mesmo vale para os indices de discordiincia. As respostas tomadas pelo lado inverso confirmam 0 que vern de ser dito. ou seja. embora a primeira vista pare~a 0 contrario. Rela~io rela~oes entre 0 religioso e 0 entre religiio e politica Ao enunciado "a religiao e a politica nao podem ser misturadas". 2.3%.favoniveis 38. Disseram nao ter opiniao formada sobre a questao 5. que se tais sao os indices de rela~i'ies atribuidas pelos informantes. a variavel religiao mostra-se importante nos posicionamentos dos sujeitos sociais. p. sobretudo. as evangeJicos hist6ricos.religiao. Ji 0 vinculo entre religiao e politica expresso pelos fii'is das religioes afro-brasileiras e menos da rela~ao com 0 politico institucional. 1997. com 26. . assim. Os espiritas revelaram que estao divididos entre os que aprovam e os que rejeitam a aproxima~ao entre religiao e politica. e. embora ele nao esteja ausente naquele meio religioso. e assumiram os slogans" irmao vota em irmao" e "urn crente vota em urn crente" (Fresron. Os grupos religiosos que se posicionaram mais contrariamente it rela~ao entre religiao e poHtica foram. os pertencentes a "outras" religioes. Enfim. 2003).9% de discordancia com 0 enunciado. com 360/0. Relativamente aos pentecostais. as sem religiao. como se ve. laicidade e cidadania 233 dividido quanta it aprova~ao e desaprova~ao do enunciado. os evangelic os hist6ricos. os sem religiao. .ao do religioso e do politico para os entrevistados.8%. 46). os cat61icos.em seu discurso e estrategia correm serio risco de se complicarem ou inviabilizarem eleitoralmente" (Burity. pela ordem. Dessa forma. E foram os pentecostais e os afro-brasileiros os que mais se posicionaram favoravelmente ao vinculo de rela~oes entre religiao e politica. como ocorre com os pentecostais. de longe. os cat6licos. encetaram esfor~os tanto no sentido de inserir seus membros em cargos eletivos quanta de capitalizar seu potencial politico nos periodos de campanha eleitoraL E isto tern sido com tal enfase que Joanildo . Neste caso. essa posi~ao esta condizente com a mudan~a de percep~ao da rela~ao do crente com a politica que tem ocorrido nas ultimas decadas. com 36.Burity chega a afirmar que "os partidos e candidatos que nao levam em considera~ao os grupos religiosos . tambem 0 espa~o publico e 0 politico. i' claro. A tabela seguinte apresenta as porcentagens das respostas obtidas. e mais da percep~ao imanente do sagrado que atinge todas as instancias socia is alcan~ando. posto que abandonaram os slogans "tu nao participanis" e "crente nao se mete em polftica" . Depois seguem. para melhor compreender a representa<. acrescento eu . as espiritas e os membros de outras religioes. com 35.1 %.os evangelicos. indagamos a eles qual e a importancia atribuida a essas instancias sociais. em rela~ao ao Brasil.6 100. qual seja. a e a . ou seja. os mais ricos e os mais pobres. uma "desqualifica~ao do politico" devido a imagem negativa dos politicos. que e 78%. 99). e.0 29. urn certo "deficit global" do politico.5 1. em certa medida. Indique quao importante Muito importante Importante POllca importante Nada importante Nao sabe NR Total .3 1.234 ari pedro oro Tabela 3. Situa-se abaixo da media geral somente os pertencentes a camada B1. Ou seja. Seja como foc. ao nepotismo e corrup~ao.. pode-se tambem indagar se essa porcentagem estaria confirmando.' epara voce (%) .1 % contra 69%.2 14. 0 de que a importancia atribuida a politica esta diretamente relacionada a faixa social na qual os entrevistados se encontram. para 0 conjunto da amostra alcan~ada pela pesquisa e maior a valoriza~ao atribuida a religiao do que a politica. p. "a opiniao publica brasileira bastante cerica em rela~o aos politicos" (Ribeiro. Portanto. Ela e maior nas mais altas camadas sociais e menor nas mais baixas camadas socia is. de urn lado. Ja a rela~ao entre camada social e politica mostrou urn quadro interessante. urn certo "desencantamento" do politico que vigora no Ocidente (Michel.7 39.8 5. oscilando de 100% de importancia atribuida a politica na camada mais alta. Religiao Politica 41. Sao 78. 1997). ou nao. de outro lado. 2002.3 1. associada ao patrimonialismo.' A distribui~ao da importancia dada a religiao segundo as camadas sociais mostrou que as faixas Al e A2. as respostas de atribui~ao de importancia a religiao totalizaram 78. pois sua pritica esta.3 22. I.0 Como se ve.2 % deles. situam-se acima da media geral. e1a precisaria sec comparada com outeOs universos sociais.2 0. a AI. e descendo para 52.7 5. Mesmo assim. Totalizaram 20% as respostas de atribui~ao menor de importancia a religiao. a E.9 36.6 100. Situam-se na media os membros das camadas B2 e E. S Para melhor compreender a magnitude dessa porcentagem de 69% de entrevistados que dizem atribuir impordocia politica. com 70% de atribui~ao de importancia da religiao em suas vidas. 9 No dizer de Renato Janine Ribeiro. nao deixa de ser consideravel a importancia atribuida ao politico' quando se sabe que nos dias atuais se verifica. bern como as faixas C e D. Ja a politica foi tida como importante para 69% dos entrevistados e de menor importiincia para 28.1 %..6% na camada mais baixa. 0 que se costuma repetir acerca do elevado grau de consciencia politica existente no Rio Grande do Sui. menos para os sem religiao. laicidade e cidadania 23S Nota-se. a A2 e a B1. os pentecostais e os afro-religiosos. DeE. Mas nas camadas imediatamente abaixo. Sao eles: os evangelicos hist6ricos. Ela e da ordem de 100%. com 73. C. com 68%.9%. os espiritas. quatro del as responderam integralmente que a religiao e importante em suas vidas. portanto. C e B2. com 90% das respostas. Situam-se na media os cat6licos. seguido dos evangeticos hist6ricos. A maioria dos individuos. ou se distanciam. e maior a imporrancia atribuida a politica do que a religiao. ela e maior na camada E. das diferentes expressoes religiosas que configuram a diversidade religiosa local. ou menor. os membros de outras religioes.7%. e somente urn quarto dos sem religiao. a saber: nas camadas B2. Esses tees grupos situam-se acima da media geral das respostas favoniveis que foi de 69%. tam bern. Ou seja. com 66. com 42. Abaixo da media situam-se os pentecostais. emaior.3. Dois ter~os dos cat61icos e dos membros de "outras" religi6es se pronunciaram nesta dire~ao. os espiritas e os afros.9%.6% e os afro-religiosos. au a aproxima<.o. que para os membros da camada mais alta e igual a importancia atribuida a politic a e a religiao. segundo os grupos religiosos. considera existir liberdade religiosa no pais. Atribuem maior importancia a religiao do que a politica por ordem crescente: os cat6licos. seguida da D. Relativamente as categorias religiosas. a defasagem de importancia atribuida a religiao em detrimento da politica acompanha exatamente a ordem das camadas que vern a ser apresentadas. tambern. com 68.5%. os evangelicos hist6ricos. Esses dados sugerem. os evangelic os pentecostais. Conclusao Os dados empiricos obtidos na pesquisa realizada na regiao metropolitana de Porto Alegre sugerem as seguintes tendencias. Relativamente a politica rlisseram atribuir maior importancia os espiritas. e dos sem religiao. • . Neste caso. 0 contr:irio ocorre com as demais camadas sociais onde e a religiao que detem maior importiincia na vida dos informantes. que 0 distanciamento. com 73. importa ver. levando-se em conta a variavel identifica~ao religiosa temos que a religiao e mais importante do que a politica para os membros de todas as religioes.religiao. e os membros de "outras" religioes. que mais do que se afirmar que no Brasil religiao e politica se aproximam. Portanto. a liberdade religiosa constitui urn entre os demais direitos do individuo enquanto cidadao. mostraram-se os mais I dispostos a colaborarem coletivamente. Mas todos os pentecostais consideram que podem faze-lo conjuntamente. Para a maioria dos entrevistados das diferentes igrejas e religi6es. mecanismos de comunica~ao de massa -. a grande maioria dos individuos. Os grupos que mais refor~am esta afirma~ao sao os espiri· tas e os evangelicos hist6ricos. nacionais e estrangeiros. nao se restringe it defesa dos direitos pessoais. Os que mais agem por pniticas e organiza~6es nao-governamentais sao os espiritas. na ordem de 94%. tiveram exito em construir . A no~ao de cidadania.tais como grupos de produtores de bens de servi~os. os membros de "outras" religioes. nota-se que as mentalidades dos individuos permanecem relativamente encantadas. contra 81 % que dizem agir individualmente. Os que menos transitam por ali sao os afro-brasileiros e os membros das "outras" religi6es. Assim. seguido das instancias estatais e politicas e. os cat6licos e os pentecostais. por fim. embora haja. E des sa forma que entendem estar exercendo a cidadania. As a~6es dos cidadaos em vista do bem-estar coletivo sao pensadas principal· mente na perspectiva coletiva. os membros das "outras" religi6es e os afro-brasileiros. por exemplo. A a~ao individual em prol da coletividade se da. Mesmo assim. figurando os cat6licos e os pentecostais a meio caminho entre os dois blocos religiosos mencionados.236 ad pedro oro de fato e de direito. mostrou-se sensibilizada e clisposta a agir visando a mudan~a da sociedade. neste particular. porem. varia~6es segundo as igrejas e religi6es. Os mais restritivos it a~ao individual em prol da sociedade sao os pentecostais. sobretudo. Ela contempla tam bern os deveres dos individuos em prol do bemestar coletivo. Relativamente it questao da laicidade e da seculariza~ao. os evangelicos hist6ricos. pode-se inferir que no Brasil ao mesmo tempo que se reconhece que o Estado e as institui~6es sao secularizadas. pela media~ao de campanhas. que abriu este texto e sobre 0 qual se inscreve teoricamente a pesquisa realizada na capital gaucha. e os que menos a confirmam sao os sem religiao. na ordem de urn ter~o deles. organiza~6es e institui~6es nao-governamentais. de todas as camadas sociais. em esfor~o conjunto. Estes ultimos tendem a agir em beneficio comum por meio da media~ao religiosa. pela via religiosa. Seguimos aqui as conclus6es de Lisias Negrao quando diz: o Estado e seus aliados privados . as evangelicos historicos e as cat61icos. osespiritas. 2). tanto nas mentes dos sujeitos quanta nas proprias institui~6es socia is. urn elemento da especificidade brasileira. e tambern na politica (Negriio. Ela e a base da ordem social (Ibidem. laicidade e cidadania 237 uma na~iio secularizada. 2005. detem urn peso e ocupa ainda urn espa~o importante nas sociedades latino-americanas incidindo tam bern. nao sem implica~6es de ordem cultural. A semelhante conclusiio chegou Andre Corten a partir de suas pesquisas realizadas em varios paises latino-american os. 2006. incluindo 0 Brasil. embora em graus diferenciados segundo os diferentes paises. nos dados da pesquisa apresentados acima. posto que aqui as mentes dos individuos continuam encantadas. Mas tal racionalidade e relativa. uma vez que lhe falta 0 fundamento das mentalidades desencantadas. que. como se sabe. Sem duvida. Assim sendo. 35). Neles. ao menos no ambito do imaginario. e associada a catolicidade. especialmente em tres paises. 0 Brasil se caracterizaria por ser urn pais de semi-encantamento e de seculariza~iio relativa. diz 0 cientista politico canadense. Aqui radica. com as inerentes implica~6es em suas vidas quotidianas. merece aprofundamento a rela~ao que essa especificidade mencionada para a America Latina guarda com a sua latinidade. p. assim como entre 0 imanente e 0 transcendente. A conclusao geral a que se pode chegar. a religiiio constitui urn dos aspectos incontornaveis da vida social. Isto e. mesmo entre 0 religioso e 0 politico. tt . mesmo que religiosas (Negriio. relativamente as vivencias quotidianas dos cidadaos predomina maior laicidade nos paises europeus do que nos latino-american os. Foi 0 que apareceu. segundo Negriio. Segundo suas palavras: "0 Brasil. enquanto cultura e religiao.religiao. p. mesmo nao essencializada. em rela~ao ao que predomina na maioria dos paises europeus. entao. ao observarmos que a religiiio niio tern perdido a sua influencia e continua ativa na sociedade. 2005). parece. os individuos latino-americanos tendem a perceber mais continuidades do que rupturas entre os distintos campos sociais. Esta. da economia fundada na racionalidade instrumental capitalista. tudo indica. e de que enquanto do ponto de vista legal os paises latino-americanos se apresentam numericamente mais laicos do que os europeus. a Argentina e a Venezuela sao tres paises em que a impregna~ao do religioso parece forte" (Corten. p. 115). no tipo de laicidade que vigora na America Latina. e latino-americana. em grande medida. Paris: Flammarion.16 pp. pp. FERNANDES. CORTEN.). pp. HERVIEU-LEGER. Renouveaux et traditions. Sao Paulo: Attar Editorial-CNPqlPronex. ana 13. In: ORO. Les frontieres du politique en Amerique Latine: imaginaires et emancipation. Mauro. Jean. 1999. La lai·cite. 1993. Sonia & SEMARD. Rosny-Sous-Bois: Breal. Campinas: Programa de P6s-Gradua. GIUMBELLI. Paul. Interview "Etat. Emerson. -. David. Fran. Dilemas da liberdade religiosa no Brasil e na Fran~. Rio de Janeiro: Mauad. Doutorado. .238 ari pedro oro Referencias BAUBEROT. Mexico. 2006. n. 1997. Seculariza~ao na Argentina. La laicidad mexicana. Joanildo. GAUCHET. In: ORO. Rubem Cesar et alii. CARVALHO. 1995 e 1996. 253-80. 2007. Andre. 6 de abril de 2000. Protestantes e politica no Brasil: da Constituinte ao Impeachment. Paris. Brasil e Uruguai. Antilise sociologica do crescimento pentecostal no Brasil. 1998. "Trabalho. Paris: Centurion. La nebuleuse mystique-esoterique.22 pp. Fran. BLANCARTE. FRESTON. Sao Paulo: Attar Editorial-CNPqlPronex. n. In: CHAMPION. La religion dans la democracie. Lecture de la cloture du politique et des imaginaries: la lunette des enquetes d'opinion. Ricardo. 17-69. MARIANO. 2 vols. MOLINA. De l'emotion en religion. no Brasil e no Uruguai: suas lutas no passado e no presente. CHAMPION.. In: Serie Antropologia. In: Coloquio Laicidad y Valores en un Estado Democratico. BURITY. Jose Jorge de. Recife: Ipespe-Editora UniversitarialUFPE. pp." 298. Rio de Janeiro: Iser. retos y perspectivas. Daniele. Daniele.oes espiritas. n. Andre et alii. Vanessa & CHIASSON-LEBEL." 27.ao em Ciencias Sociais da Unicamp.o publico encantado. Identidade e politica no campo religioso. 101-16. 0 rim da religiiio. Religiiio e politica no Cone-Sui: Argentina. 2006. Novo Nascimento. 2004. 1999. Plural ida de religiosa e modernidade no Brasil. Os evangelicos em casa. 1998. na Igreja e na Politica. In: Regards sur l'actualite. Sao Paulo: Departamento de Sociologia da USP." 249. Roberto.-jun. Marcel. laicite. Andre (org. MEIRELLES. Brasilia. Dutorado. BRESSLER. Paris: Karthala. jan. Urn espa. religions". . 1990. Horizontes Antropologicos. Imaginaires religieux et politiques en Amerique Latine. Le peterin et Ie converti.oise.o: alguns impasses no mundo contemporaneo frente aos valores humanistas". 2002. In: CORTEN. pp. CORTEN. 200!. Ari Pedro. 2006. Porto Alegre. 223-52. Thomas. Paris: Gallimard. solidariedade e cidadania em quest.oise & HERVIEU-LEGER. UNB. Em nome da caridade: assistencia social e religiiio nas institui. O 917. 27-44. Religiao e Sociedade. Deis & HOLLINGER. A coloniza. Religiao paga. PIERUCCI. Xavier. Intoleriincia religiosa. Paris: Albin Michel. 2 vols. laicidade e cidadania 239 Ari Pedro.ao e religiao. 115-34. Rio de Janeiro. politica. 1969. Jean. A realidade social das religiaes no Brasil. TERNISIEN. 27. 11-31. 27. In: Religion et democratie. pp. 33 pp. 2007. Reginaldo. 2007. Paris: Odile Jacob/La Documentation Fran~aise. conversao e servi~o. pp. Etat et religions. 0 sacrifkio de anima is nas religi6es afro-brasileiras: Analise de uma polemica recente no Rio Grande do SuI. Religiao e esoterismo entre estudantes: urn estudo comparado internacional. Representa. In: Ciencias Sociales y Religion. pp. Petr6polis: Vozes. Carlos Alberto (org.). Franz. Nem "jardim encantado" nem "clube dos intelectuais desencantados". Reginaldo. Rio de Janeiro. Pierre. ORO. Reginaldo. pp. 22 (2). Interesses religiosos dos soci6logos da religiao. Antonio Flavio. PENA-RUIZ. SILVA. pp.ao alerna e 0 Rio Grande do Sui.). 1996. Vagner Gon~alves da (arg. n. Horizontes antropologicos. 1997.aes sociais e humanismo latino no Brasil atual: religiao. A realidade social das religiaes no Brasil. Ari Pedro & URETA. ROCHE. pp. out. 9-28. Antonio Flavio & PRANDI. 2004. In: PIERUCCI. set. familia e trabalho. Revista Brasileira de Ciencias Sociais. Patrick. 2005. n. 2007. Antonio Flavio & PRANDI. PIERUCCI.religHio. 25. 2003. 2001. 257-74. Porto Alegre. Sao Paulo: Hucitec. Desencanto e formas contemporaneas do religioso. 2005. 23-36. out. Marcela. vol. SAN CHIS. nouvelles approches. MICHEL. Sao Paulo: Hucitec. Qu'est-ce que la laicite? Paris:Gallimard. ano 3. pp. Lisias. Sao Paulo: Edusp. Religiao e Sociedade. Paris. Religiao e politica na America Latina: uma analise da legisla~ao dos paises. REVlSTA Problernes Politiques et Sociaux. Porto Alegre: Ed. Rio de Janeiro.O 37. 249-62. 1997. Globaliza. Henri. Giralda. Introduction. SEYFERTH. pp. Porto Alegre. PRANDI. NEGRAO. 192-97. UFRGS. 2004. 20 (59).2005.-dez. i J . 281-312. Ari Pedro & STEIL. Nouveaux enjeux. 2002 WEREBE. Ari Pedro. pp. pp. PPGASIUFRGS. 1996. In: ORO. Maria Jose Garcia. Porto Alegre: Globo. ORO. outubro 1982. A laicidade do Ensino Publico na Fran~a. Boletirn do Museu Nacional. Revista Brasileira de Educa¢o. SIQUEIRA. 14176. A representa~ao do "trabalho alemao" na ideologia ernica teuto-brasileira. Je!in. a Virgem de Lujan desempenhou pape! importante na constru~iio da identidade nacional argentina (Parker. sabe-se que assim como a Virgem de Guadalupe constituiuum e!emento simb6lico fundamental para a organiza~ao das assimetrias de poder entre indios e colonizadores espanh6is no Mexico. E aqui. Peru (Senhor dos Milagres) Cuba (Virgem da Caridade do Cobre). Afinal. 2001). Nicaragua (Purisima). 2006. Colombia (Virgem de Chiquinquira). verifica-se forte consenso em torno da influencia decisiva do catolicismo e da Igreja Cat6lica na matriz cultural e na organiza~iio das sociedades nacionais que integram 0 continente. 1996. nao estamos nos referindo apenas as circunscritas a esfera privada ou das microrre!a~oes onde essa importancia e mais evidente. Martin. 1983. De modo geral. Nesse sentido. Paraguai (Caacupe). apresenta-se a ideologia familista e hienirquica que marca varias. As inumeras apari~oes de virgens em regioes da Bolivia (Nossa Senhora de Copacabana). Ve!ho. destaca-se a importancia do catolicismo na constitui~iio do modele patriarca I de familia (Therborn. dessas sociedades como urn desdobramento da presen~a hist6rica da institui~ao cat6lica na regiao (Arraigada. 1981). Salem.G Capitulo 8 RELIGIAO EASASSIMETRIASDE GENERO NAAMERICA LATINA MARIA DAS DORES CAMPOS MACHADO Catolicismo e patriarcalismo naAmerica Latina A despeito da diversidade etnica e cultural da America Latina. etc. Chile (Virgem da Tirana). 1998. 2006) e 0 pape! do culto a Virgem nos processos de constru~ao de identidades . apontam para pro240 . Brasil (Nossa Senhora Aparecida no Brasil).dos sujeitos sociais. um "edificio secular de cren~as e de praticas relativas a posi~ao das mulheres na sociedade". Nesse contexto. embora se reconhe~a a hegemonia das re!a~6es patriarcais e a fun~ao paradigmatica que 0 culto a Virgem Maria pode ter na regula~ao do corpo e da vida das mulheres. Assim. a generosidade e abnega~ao associadas as mulheres no marianismo podem ser interpretadas como contrapontos importantes aos atributos masculinos.religiao e as assimetrias de genero na america latina 241 cessos culturais similares e refor~am a tese de que. e. a intransigencia. constatase uma tendencia de idendficar conseqiiencias ambivalentes no marianismo. Como Eva. pp. a despeito do cariter naclonal ou regional. Na mesma trilha aberta por Stevens. sendo. privilegiaremos as contribui~6es que tentaram estabe!ecer uma rela~ao entre 0 marianismo e a cultura da America Latina. a submissao. Dentro dessa chave interpretativa. semidivinas. portanto. na doutrina cat6lica a mulher e res". a mae). Stevens (1977) define 0 marianismo como "0 culto da superioridade espiritual feminina". uma vez que 0 pape! central reservado a mae nas familias express a a autoridade moral feminina na esfera privada. as devo~6es marianas constituem num dos tra~os marcantes da religiosidade no continente (Parker. Mas a imagem . identifica-se a cren~a de que as mulheres sao moralmente superiores e espiritualmente mais fortes do que os homens. 0 sentido da "mariologia" reificada e apresentada ora como objeto sexual e sedutor (a imagem de Eva). Considerando os prop6sitos dessa publica~ao. 1996). 2-3) interpreta 0 marianismo como "um tipo especial de poder ou de contrapoder das mulhe- e normatizar papeis para os homens e mulheres cristaos. em especial ao culto sentimental e mistico da mae nessa regiao. Varios estudiosos exploraram as ambigilidades das representa~6es dos homens e mulheres na doutrina crista e destacaram a forte influencia do modelo mariano de castidade. Na base desse edificio. portanto. amea~ando os homens de desvia-los de seus destinos de perfei~ao espiritual" (racional). Segundo essa autora. pureza e bondade na constru~ao do genero feminino no Ocidente. "seres sexualmente perigosos. ora como serva e/ou salvadora do sujeito sexual (a imagem de Maria. 0 interessante neste tipo de abordagem e que estas cren~as constituem a "outra face do machismo" predominante na cultura latino-americana e cujos traCfos centrais sao a arrogancia. Nesse sentido. as mulheres constituem 0 sexo fragi!. Faria (1988. a violencia e a agressao sexual dos homens nas re!a~6es com as mulheres. sao vulneriveis a tenta~ao. a pureza. . Mallimacci. 1978. a ponto de hoje estar im· pregnado nas mulheres das sociedades de cultura machista (Machado. das Comunidades Eclesiais de Base a Renova~ao Carismatica e as Comunidades de Vida. Parker. Os movimentos de mulheres e 0 desenvolvimento da Teologia da Liberta~ao. Drogus & Stewart-Gambino. 2004. porque assexuada". "nesse novo espa~o de apreensao das ambiguidades cristas com rela~ao ao masculino e ao feminino [ . 1994. e e nessa condi~ao que a natureza inferior feminina adquire urn caniter benigno e a mulher uma superioridade moral (Idem. entre outros. 0 paradigma mariano nao teve e tern a mesma importancia em todas essas expressoes do catolicismo. Maduro. Mariz. 2000. Deve-se considerar ainda. 1996. Mariz & Machado. Seguindo 0 modelo mariano. 2000. J poderia se dizer que as homens sao encarados como natureza superior. 2004. colltudo benigna. . Mallimacci. porque sexuada. 1988. A enfase na maternidade virginal cria condi~oes para que Maria seja vista como urn ser assexuado. seriam encaradas como natureza inferior. contudo maligna. a mulher (assexuada e mae) pode entao exercer urn "contrapoder maternal".242 maria das dores campos machado de Maria traz elementos que subvertem essa rela~ao de inferioridade das mulheres diante dos homens. 2 para citar so alguns exemplos do seculo passado. contribuiu para as transforma~oes no imagimirio social e para 0 surgimento de interpreta~oes alternativas do papel da Virgem. Prandi.' Mas esse "contrapoder feminino" nao amea~a 0 sistema hierarquico que reserva aos hom ens a posi~ao de destaque nas esferas publica e privada. Prandi & Pierucci. Afinal. 1996. 1998. 1997. pela contra rio. por exemplo. pp. 4-6). Machado. 1997. e inegavel. Martin. e em fun~ao de sua pureza pode salvar os filhos do chamado sexo forte. 1994. Soneira. do movimento Tradi~ao Familia e Propriedade a Teologia da Liberta~ao. Nunes. 2003. 6). 1996). 2005. Faria. Essa pluraliza~ao institucional no continente. Certamente. Gimenez.. 2005. abriram brechas para novas apropria~oes da figura mitica da t Segundo Faria (1988. Seman. 2000. p. que a segunda metade do seculo passado foi marcada pelo surgimento de importantes movimentos sociais na esfera publica 0 que ampliou muito 0 leque das institui~oes culturais e sujeitos coletivos com os quais a Igreja Catolica teve de conviver. Mariz & Machado. 1996. esta e uma das razoes por que essa ideologia encontrou terreno Jertil na America Latina e 0 "estereotipo derivado do culto catolicQ" obteve tanto sucesso. e que as mulheres. mostrando a for~a do sexo {nigil e a coragem de quem suporta as dores do parto. Essa discussao fica bern mais instigante quando se considera a ambivalencia historica entre a inflexibilidade moral da estrutura hierarquica e as multiplas formas de se viver 0 catolicismo no continente: do catolicismo popular a A~ao Catolica. 2 Ver Brandao. 1987). tanto dos grupos carismaticos quanto das apari~6es marianas ness a virada de seculo. como em El Salvador. 2003) e 0 apoio de certos setores da hierarquia ao marianismo (Machado. demonstram a vitalidade do mito da Virgem (Steil et alii. E importante deixar claro. os dirigentes religiosos em terras argentinas revelaram-se mais refratarios as mudan~as socioculturais e polfticas. por exemplo. que. apresentam carater ecumenico articulando lideranc. 262). Nicaragua e Colombia nas ultimas duas decadas.ao. E aqui.ao religiosa assumiu. talvez seja adotar a perspectiva de que existem nas sociedades contemporaneas diferentes constru~6es discursivas e simb6licas em torno da figura da Virgem Maria em disputa e que elas sao influenciadas pelas representa<. mas existe forte consenso de 0 papel desempenhado pela instituic.ao na regiao. p.as cat6licas e representantes das denominac. em alguns contextt . Nesse sentido. que nao se trata de uma adapta~ao da estrutura eclesiastica como urn todo as outras esferas da vida social. contudo. 4 As experiencias mexicanas e uruguaias sao os casos mais radicais de laicizac. 0 caminho mais pr6spero. Segundo Parker (1996.6es evangelicas mais progressistas. se reconhece a pluralidade de arranjos entre os atores politicos e religiosos nas configura~6es nacionais.ao e a feminista. 3 Assim como se buscava uma dimensao revolucionaria nos atos e palavras do filho.religiao e as assimetrias de genero na america latina 143 mae de Jesus e para 0 surgimento de uma teologia feminista. Os estudos. 0 papel de mediadora negociando com os diversos segmentos em prol da pacificac.ao nas sociedades latinoamericanas ser ainda muito marcante. 1996).. a literatura destaca a influencia da Igreja na politica institucional e a porosidade das fronteiras entre os movimentos religiosos e as a~6es coletivas que se desenrolam nas diferentes configura~6es nacionais do continente.6es de genero que se delineiam nas agendas culturais das outras institui~6es e dos movimentos sociais transnacionais e locais. No que se refere ao primeiro aspecto. embora se verifique a tendencia de alinhamento das hierarquias cat6licas com 0 Estado na maior parte da hist6ria politica das sociedades. . a instituic. No caso do 3 As duas teologias. a da libertac.4 Circunscrevendo a analise ao periodo das ditaduras militares. se poderia identificar em Maria tra~os mais condizentes com as propostas fe· ministas de revis6es nas identidades de genero (Bingemer & Gebara. as discuss6es em torno da familia e das representa~6es femini· nas no ideario cat6lico se articulam com os temas das rela~6es da institui~iio confessional com as elites e com os movimentos socia is locais. Je intensos conflitos sociais. observase. enquanto os integrantes da Igreja no Brasil e no Chile se mostraram mais permeaveis as ideologias de esquerda e movimentos progressistas nos ultimos cinqiienta anos. De modo geral. onde a alian~a da Igreja local com os militares fez 0 feminismo colocar-se em polo oposto. Ja na Argentina. Assim. Essas experiencias de articula~iio com os movimentos sociais e politicos de inspira~oes ideologicas distintas certamente influenciaram nas estrategias adotadas pe!os organismos da institui~iio em cada configura~iio nacional para fazer frente a agenda politica dos grupos feministas e. Chile..1 na Argentina. maior penetra~iio do imaginario feminista nesses segmentos sociais (Drogus & Stewart-Gambino. sabe-se que 0 segmento mais conservador do dero manteve ahegemonia resultando num maior alinhamento da estrutura eclesiastica com 0 regime ditatorial dos anos 1970 (Obregon.244 maria das dares campos machado Brasil..rte desigualdade social. vet Navarro & Mejia (2006).' deve-se reconhecer que as hierarquias locais assumiram uma posi~iio de rejei~ao it agenda politica do movimento criando dificuldades para 0 processo de mobiliza~iio social nas camadas mais pau perizadas da popula~iio. percebe-se que os grupos feministas enfrentaram e enfrentam dificuldades muito maiores para ampliar seu dialogo com os segmentos catolicos populares (Tarducci. Brasil. as Comunidades Eclesiais de Base e a teologia da liberta~iio encontraram terreno fertil para se desenvolverem e provocaram tensoes nas rela~oes da hierarquia religiosa com 0 governo militar. ficou conhecida a posi~iio dos dirigentes da Igreja Catolica na defesa des direitos humanos e no combate as arbitrariedades cometidas pelo governo Pinochet (Parker. No Chile. etc . no Brasil e no Chile. em especial as demandas por direitos reptodutivos e por uma revisao na ordem de genero. ainda que tenham sido identificadas fissuras ideologicas na hierarquia. portanto. . Argentina. junto aos movimentos pela redemocratiza~iio do pais. onde parte significativa da hierarquia se aproximou dos movimentos de resistencia it ditadura militar.]. 2006). 1995 e Cruz. ·Em outras palavras. Di Marco. 2005). Sobre a atua~ao desse gcupo na America Latina. pais marcado por f". Uruguai. 2004). tornou-se possive! umaparticipa~iiodos grupos feministas nos processos de forma~iio de lideran~as catolicas populares e. 2005). 2005. mesmo que se considere 0 esfor~o de algumas inte!ectuais catolicas em fazer a media~iio do campo re!igioso com 0 feminismo a partir de redes movimentalistas de carater transnacional. 0 caso mais radical e0 da hierarquia argentina que incita as catolicas conservadoras a participarem dos encontros nacionais organizados pelos movimentos de mulheres para conter as de5 Urn exemplo dessa cede poderia sec enconrrado em Cat6licas pelo Direito de Decidir que atualmente articula militantes no Mexico. procurando mostrar como a chave interpretativa do carater ambivalente das doutrinas religiosas tem contribuido para explicar as mudan~as em curso e a grande atra~ao das mulheres das camadas popularespelas express6es religiosas de diferentes ideologias dentro do cristianismo. Pierucci. na Costa Rica e na Republica Dominicana.ao maior de lares chefiados par mulheres que a total dos domicilios e. Pluraliza\. acirramento da ideologia do individualismo. 6 7 .religiao e as assimetrias de genero na america latina 245 mandas dos coletivos feministas por politicas de saude reprodutiva.3 fosse maior em lares com mlllheres na chefia de jure: em 13 dos 17 palses os domicllios indig ~ . crescente descredito nas institui~6es. 2005. Machado & Mariz. as investiga~6es sobre as pastorais sociais da Igreja Cat6lica enfatizam a atua~ao das mulheres como voluntarias na pastoral da crian~a e da saude em curso no Brasil (David.. 1990). 1990. mais da metade dos lares indigentes eram encabelfados por uma chefe It. como tambem das lideran~as dos movimentos sociais e dos atores politicos interessados em ampliar suas bases de apoio nas sociedades.es apresentavam uma propon. Ao mesmo tempo persistia a tendencia de que a incidencia da extrema pOhre7.ao religiosa e 0 tema da reconfigura\..ao date de muitos seculos atras e esteja relacionado com as ondas migrat6rias vindas dos palses de tradi. 2001. p.ao das subjetividades femininas o declinio do catolicismo e a expansao dos movimentos carismaticos e· pentecostais nas ultimas decadas do seculo xx tem chamado aten~ao nao s6 de pesquisadores na area da sociologia da religiao' e da hist6ria social da America Latina. Nicaragua (35% em 1998). 1990. Republica Dominicana e Urugllai (com 31 % cada urn em 1999) registravam as mais altas taxas de domicilios chefiados por mlliheres. Marrin.o dos lares. de um modo geral. pela descriminaliza~ao do aborto e pela revisao dos papeis de genero (Tarducci. 8 etc .ao protestarite na Europa. 2000). Nesse sentido. assim como a importancia da Stoll.. Embora 0 infcio desse processo de pluraliza. 208). relaciona a recente difusao do movimento pentecostal com processos macrossociais em curso no continente como: empobrecimento das popula~6es. de acordo com 0 pals.. 1990. assim como com a expansao das missoes norte-americanas. 2005). 8 A partir da decada de 90 0 numero de domicilios chefiados por mulheres (seja de jure ou de facto) chega a representar urn quarto e urn teCl. Martin. observa-se urn incremento desse processo a partir dos anos 70 do seculo passado (Stoll. Tendo em vista 0 escopo desse artigo privilegiaremos os estudos sobre os grupos cat6licos e pentecostais dessa virada de seculo. Ainda que a pluraliza~ao do universo cristao nao ocorra com a mesma intensidade nas diferentes configura~6es nacionais/ a literatura. entre outros. "entre os de jltre. Segundo Arriagada (2006. mudan~as nos arranjos familiares. nas expressiies movimentalistas que questionam a politica da Igreja.ao do imaginario feminista expresso por essas organiza~iies seja bastante desiguaJ!. .' De qualquer modo.aram a se fazer sentir os efeitos da politica de JoaoPaulo II de nomear bispos de perfis mais conservadores para as dioceses dos paises onde a Teologia da Liberta~ao se difundia. 2005 e Navarro & Mejia. cabe destacar que. esse movimento cat61ico foi perdendo sua vitalidade a partir dos meados dos anos 80. 1992. 13. a primeira. 0 que se pretende enfatizar aqui e que.upos que seguem de perto as orienta~iies da hierarquia cat61ica quanto . num contexto de intensa repressao politica. Ja os estudos sobre as comunidades eclesiais de base destacam a importancia dos cursos de formac. No Brasil. mesmo sendo pentecostal atuava no movimenro das CEBs no Morro Chapeu Mangueira e reconhece que esse trabalho conjunto foi muito importante em sua forma~ao polltica. 1994. No Brasil. 2006. esperava-se que a experiencia de organizac. A segunda era cat6lica e pretendia sec freira e sua conversao ao pentecostalismo e urn poueo mais recente.ao de lideran~as femininas e a produ~ao de cartilhas por ONGs como Cat6licas pelo Direito de Decidir em varios paises. podemos mencionar os casos da ex-governadora Benedita da Silva e da exministra do Meio Ambiente Marina da Silva que. contudo. Nunes. Nicaragua e Colombia. temas relevantes da agenda politica do feminismo entre os que definiam as diretrizes e as estrategias do movimento das comunidades de bases (Macedo. Chile. 70 e 80. Veja. 2005). em especial 0 feminista. Drogus & Stewart-Gambino. que a despeito da atua~ao importante das mulheres nesses movimentos. Com for~a :politica e maior capacidade de mobiliza~ao e organiza~ao em paises como 0 Brasil. havia pouca sensibilidade para. e inegavel 0 pape/preponderante das mulheres na intermedia~ao da institui~ao com a sociedade. por exemplo. De qualquer maneira.ao em comunidades ajudasse no processo de forma~ao de lideran~as femininas que articulassem 0 tema da desigualdade entre as classes sociais com 0 da assimetria de genero (Drogus & Stewart-Gambino. investiga~iies socioantropol6gicas realizadas no ·inicio dos anos 90 mostrariam.10 Entretanto. ainda que a capacidade de penetrac. quando comec. 0 desenvolvimento da Teologia da Liberta~ao gerou uma expectativa ·de que a esfera religiosa poderia criar uma disposi~ao interna nos sujeitos sociais para o engajamento nos movimentos libertarios. 2005). tanto nos g. embora sejam evangeIicas.246 maria das dores campos Machado participa~ao feminina no trabalho assistencial desenvolvido pelas Caritas na Argentina (Zapata. 0 movimento das comunidades eclesiais de base constituiu importante espa~o lie forma~ao de lideran~as populares nas decadas de 60. registram em suas 9 10 biografias publicadas a importancia das CEBs na sua fonna~ao. No que se refere as mulheres pobres. al. Mariz & Machado. Gimenez (2003).bem como nas a~oes assistenciais freqiientemente aparecem alusoes it subjetividade feminina hegemonica nas sociedades cristas nas quais 0 cuidado do outro. a freira e te610ga feminista Ivone Gebara a valiaria que "0 clamor por justi~a social" dos principais formuladores da teologia da liberta~ao "nao incluia justi~a e igualdade de genero" e que. Gimenez. 2006). mobilidade religiosa. Machado. II l Ver Prandi (1998). 1998. uma vez que. ja se veri fica aproxima~ao crescente entre os integrantes dessas duas formas de organiza~ao dos fieis cat6licos: a de ins pira~ao libertaria e a pentecostal (Boff. 2003. 0 desenvolvimento dos dons espirituais. bem como os principais responsaveis pelas a~oes sociais desenvolvidas nos setores marginais (Gimenez. Mais recentemente e radicalizando as criticas dos pesquisadores. 1996. De qualquer modo. Na explica~ao para esse maior engajamento das mulheres em comunidades religiosas. verificava-se crescente interessepelas questoes relacionadas a sexualidade e it contracep~ao em grupos cat6licos na literatura brasileira. 2000.!m da preocupa~ao com a tematica da forma~ao de lideran~as femininas e do engajamento das mulheres em a~oes coletivas. Fernandes (2005). Machado.religiao e as assimetrias de genero na america latina 247 Ribeiro. Mariz & Machado. refor~aria a tendencia de incorpora~ao de novos temas e a articula~iio das variaveis classe social e identidade de genero na sociologia da religiao da virada do seculo. especialmente a Renova~iio Carismatica Cat6lica e 0 pentecostalismo." as mulheres aparecendo como dirigentes de grupos de ora~ao e intercessao. 2003. entre outros. 2000). ficou reservado fundamentalmente ao segmento feminino. se mantinha 0 carater patriarca I tipico da religiao cat6lica (Rosado-Nunes. a despeito do comprometimento com os pobres. . seja 0 fisico e 0 material. 2000). seja 0 espiritual. 1996. como e 0 caso do Brasil. Mariz & Machado. 1994). Mariz & Machado. os efeitos da adesiio religiosa na familia. na~ se pode perder de vista que o arrefecimento das CEBs e a expansao dos grupos carismaticos apresentam-se em ritmos diferenciados nas sociedades nacionais e que em alguns paises. Deve-se registrar que a literatura sobre a Renova~ao Carismatica tambern destaca 0 protagonismo feminino. passam a disputar espa~o com os estudos sobre 0 potencial emancipat6rio das Comunidades Eclesiais de Base (Fernandes. percebe-se uma amplia~ao da agenda de investiga~ao local. Soneira (1997). Discussoes a respeito do usa do corpo nos cultos. De qualquer maneira. 1994. 2004). o desenvolvimento em varios paises do continente de movimentos religiosos com afinidade maior com a ideologia individualista. a inser~ao religiosa pode estar criando motiva~oes para a atua~ao politica partidaria e para 0 fortaleciment@ da presen~a feminina na politica institucional. Mariz & Machado. nao s6 a busca de'maior nivel educacionalpelas fieis pobres. mais. Trata-se de rela~ao complexa entre a identidadereligiosa e 0 engaiamento em a~oes coletivas e politico-partidarias. sao maiores as possibilidades de que as zonas de autonomias$e estendam para alem da famnia aumentando tambem a capacidade critica das fieis em rda~ao a institui~ao religiosa. com as valores religiosos motivando. 1996. especialmente ·nas relacionadas as multiplas formas de associativismo cat6lico. E inegavel.248 maria das dores campos Machado Para alguns autores. por outro. Investiga~oes recentes sobre as candidaturas politicas de lideran~as femininas ligadas if Renov. alem do fortalecimento moral. entretanto. da . se por urn lado.por outros movimentos so· ciais e conhecer ideologias seculares. a agenda dessas lideran~as expressa grande alinhamenta com as orienta~oes morais do Vaticano (Mariz & Machado. 2006). do nivel de instru~ao das mulheres e da capacidade de penetra~ao dos movimentos feministas nas diferentes esferas das sociedades. Mariz & Machado. quando essas mulheres tern a oporrunidade de transitar . pode criar possibilidades para urn processo de individualiza~ao em rela~ao ao coniuge e aos mhos (Machado. que. E. mas tambem maior circula~ao de mulheres nas esferas tradicionalmente associadas ao segmento masculino. A expansio do pentecostalismo e as fric~oes com 0 feminismo latino-americano o pentecostalismo nao e urn fenomeno novo no continente uma vez que paises como 0 Chile e 0 Brasil contam com grupos desse ramo do protestantismo desde 0 inleio do seculo xx. a participa~ao de mulheres em atividades dessa natureza.competi~ao religiosa. urn dos primeiros autores que chamou .a~ao indicam. a possibilidade de a lideran~a feminina formada nesse movimento ampliar a sua autonomia em face da Igreia e muito reduzida. entre outras coisas. A realiza~ao de tais possibilidades depended. 1996. na medidaem que a orienta~ao teol6gica do movimento em questao dificulta a visao critica dos seus membros em rela~ao a instiru~ao e aos valores religiosos. entretanto. Nesse sentido. Ou seia. que as denomina~oes com atua~oes transnacionais e a capacidade de mobiliza~ao nas camadas populares do continente ampliaram-se consideravelmente nas ultimas quatro decadas. 2000). :ao das mulheres no universo domestico.:ao da distiincia entre os generos e fruto do abandono do duplo padrao moral e da mudanc. Na decada de 1970. Flora (1976) constataria 0 descompasso entre a igualdade espiritual proposta na ideologia e a subjugac. Seu trabalho mostra como a diminuic.as significativas no que se refere aparticipac.religiao e as assimetrias de genera na america latina 249 atenc. 2004). Estudos em outros paises da America Latina avanc..:ao entre a expansao do protestantismo no Chile e no Brasil.:ariam 0 debate sobre a potencialidade disrruptiva da ideologia pentecostal sugerida por Willems.:aopara a necessidade de se distinguir com clareza entre os valores religiosos (0 nivel da doutrina) e a conduta (nivel da pratica concreta) dos que se confessam pentecostais. Cornelia Flora (1975. ficando as mulheres sobrecarregadas com a dupla jornada de trabalho.:oes sociais desenvolvidas na esfera publica do que no plano familiar.:o do feminismo se faz sentir muito rna is no que se refere as relac.:ao aos papeis de genero indicam que.:ao das formas de lazer e de a agenda de consumo favorecer 0 grupo familiar. posteriormente.:ao para as mudanc. foi Witlems (1967) que realizou uma comparac. a dominac.. 2005. Analisando as condic.:ao do conjuge masculino e a maior responsabilidade da mulher para com os trabalhos domesticos teria se mantido. entretanto. Retomaremos esse ponto. embora tenham ocorrido mudanc. Ou seja. . Segundo seus dados.:ao feminina na esfera publica. apesar da redefinic. que 0 descompasso entre 0 nivel ideologico e as revisoes dos papeis de genero na familia extrapola 0 universo pentecostal. estudos importantes sobre percepc. Venturi et alii. os padr6es de relacionamento familiar nao teriam sido significativamente alterados com a afiliac. No Brasil.:oes generos dominantes na sociedade latino-americanas. antes se faz necessario verificar como 0 desenvolvimento do ideario feminista desafiava a tese de que a expansao do pentecostalismo poderia fomentar novos arranjos familiares e alterar 0 sistema de genero da regiao.:as que a conversao ao pentecostalismo provocam no comportamento de homens e mulheres.:oes e atitudes em relac. a desigualdade na distribuic. Pesquisas recentes demonstram. 1976) chamaria atenc. 0 avanc. a doutrina pentecostal seria ambivalente e apresentaria capacidade virtual de fortalecer as mulheres cujos parceiros aderirem aos movimentosreligiosos dessa natureza.:a no comportamento social masculino.ao pentecostal.:ao das responsabilidades domesticas se mantem na maioria das familias (Araujo.:oes de vida das mulheres pentecostais da classe trabalhadora colombiana. afastando-os das definic. No essencial. por exemplo. Segundo esse aut0l. e sao definidos subjetivamente por elas com base em suas experiencias cotidianas.ao e implicam uma forma mais ampla de mobiliza~ao das mulheres (Brusco. discutiria a possibilidade da "androginiza~ao das familias" a partir lila adesao aos grupos pentecostais. criando urn modelo alternativo para a tradicional familia patriarcal ou urn "novo ethos familiar".12 Brusco (1994) salientaria as virtuais "propor~iies revolucionarias" das mudan~asprovocadas pela conversao do casal ao pentecostalismo. a doutrina pentecostal ajudaria a mudar 0 poder relativo dos esposos. De saida.ao desta rela(fao 12 posi~ao de dominat. 13 "In Colombia.r 250 maria das dores campos machado Na decada de 1990.oes concretas da das mulheres na divisiio do trabalha.ao de subordinar. 146-7). investiga~iies na Colombia.ao das mulheres peIos homens e das faemas de reprodut. . a autora lembra que a doutrina pentecostal serve aos interesses praticos das mulheres. It may well be helping women (and some men) in more pratical ways than feminist refonn movements have. os "interesses estrategicos" sao definidos a partir da analise da condit. despite its mighty labors. redefinindo a participa~ao do homem e da mulher na esfera privada e colocando a casa e a familia no centro da vida dos dois. cannot claim to have achieved to the same degree" (Ibidem. negando as diferen~as entre os sexos e igualando homens e mulheres como Desta perspectiva os "interesses pniticos de genero" resultam das condir. 1999). 1994. as visitas as prostitutas e 0 vicio do cigarro. in that it seeks to redress underlying gender inequalities. That it accomplishes this through the transfonnation of male as well as female roles is the key to its effectiveness. a generosidade e a humildade em homens e mulheres. na Argentina e no Brasil acrescentariam novos elementos na discussao sobre as afinidades das mulheres com as religiiies e as diferen~as entre as transforma~iies nas rela~iies de genero provenientes da ideologia pentecostal e do feminismo. e refor~ar a passividade. a arrogancia e 0 uso da violencia. Segundo essa autora.u A justificativa para esta diferen~a em favor do pentecostalismo estaria na pr6pria cultura machista do continente. 1994.E mais: an condenar 0 orgulho. que uma vez convertidos a'handonam 0 consumo dabebida alc06lica. Yet evangelical Protestantism is not just practical but strategic. 152). inspirada nos ideais feministas. canalizando 0 dinheiro para a familia e suas demandas. a despeito de urn discurso "andr6gino. the template of evangelical Protestantism is helping men and women rc~ define their roles around the institution of the family. 0 pentecostalismo poderia ser comparado aos movimentos feministas e seria bern mais eficaz do que eles nas sociedades latino-americanas. Gra~as a mudan~as dessa natureza. Trabalhando com os conceitos de "interesses pniticos e interesses estrategicos de genero" da feminista Maxine Molineaux. p. 13. at least to date in this particular context. pp. This is an achievement that western feminism. Esse tema tambem se apresentaria no debate argentino em que Monica Tarducci (1993. ja que por essa expressao religiosa elas podem "domesticar seus conjuges". Nas palavras da antropologa. como toda religiao. p. percebe-se que foi com 0 progressivo esvaziarnento das Comunidades Eclesiais de Base e a prolifera~ao de igrejas pentecostais nos bols6es de pobreza das metropoles brasileiras que as compara~6es levando em conta a identidade de genero dos fieis tornaram-se mais freqiientes. autores como Mariz (1996) e Burdick (1998) identificariam no discurso pentecostal sobre a familia. 14 Nesse sentido. queremos examinar como a rapida multiplica~ao das denomin~oes pentecostais no . que em terras argentinas havia sido interpretado por Tarducci (1994) como fundamentalista. porem. Retomaremos 0 tema do fundamentalismo mais adiante. ao contrario de Brusco (1994) que enfatiza a eficicia do pentecostalismo na promo~ao dos interesses praticos das mulheres. cabe registrar que as investiga~6es comparando os segmentos pentecostais com os cat6licos e outras uadi~oes religiosas nao sao propriamente recentes ness a configura~ao nacional. De qualquer modo. Inicialmente.Brasil estimulou aperspectiva comparativa e possibilitou a identifica~ao de mudan~as nas percep~6es dos papeis de genero para alem da familia. uma vez que desde 0 final dos anos 60. Nessa chave interpretativa.pesquisadora sobre as potencialidades disrruptivas da religiao em expansao nas camadas populares latino-americanas. sacraliza a subordina~ao da mulher" (Lbidem. ainda que as mulheres consigam converter seus conjuges. e melhorem a auto-estima. 0 pentecostalismo apresentaria uma visao fundamentalista da familia que refor~a a importancia dos papeis de esposa e mae na identidade feminina e dificulta as revisoes nos arranjos afetivos e sexuais. Procopio Camargo (1971) vinha realizando estudos dessa natureza. Como se pode perceber. 6 incorpora~ao da iden- . eliminando as atitudes nocivas ao grupo domestico. Na perspectiva \4 Os estudos sobre as tradi~5es afro-brasileiras foram pioneiros na tidade de geneco como dimensao analitica. Tarducci (1994) assinala os limites dessa expressao religiosa que atuaria muito mais como urn grupo de auto-ajuda do que urn espa~o de forma~ao de sujeitos politicos. a valoriza~ao da submissao nao permite que elas se transformem em sujeitos politicos e lutem pela supera~ao da subordina~ao degenero. antes.religiao e as assimetrias de genero na america latina 251 irmaos na fe". 161). A op~ao pelo conceito de fundamentalismo ja expressa as desconfian~as da . um dos principais fatores de atra~ao das mulheres pobres. "ainda que todo fenomeno religioso seja ambiguo em termos de «conservadorismo e progressismo» parece-nos hoje que. no casu que nos diz respeito. 0 pentecostalismo legitima normas e. concediam pouco espa~o para os problemas afetivos. as Comunidades Eclesiais de Base. 0 carater circunscrito do feminismo nos setores medios da popula~ao. Corn esse tipo de invesriga~ao se pode perceber a crescente mobilidade dos fieis no pais. verificou-se que a subjetiviza~aodas escolhas religiosas encontrava-se na base da expansao desses grupos nos setores medios e populares e que tal processo estava simultaneamente ern sintonia corn as transforma~6es societarias que levantavam novos desafios as mulheres e em tensao corn as propostas e estrategias das organiza~6es feministas do Brasil. sexuais e familiares enfrentados pelo segmento feminino nas periferias das gran des cidades. a expansao das familias monoparentais e da chefia do domicilio feminino. mas tam bern uma tensao entre este e 0 mundo social mais amplo. se por urn lado ajudavam na organiza~ao das mulheres nos movimentos sociais relacionados ao saneamento basico. etc. Dito de outra maneira. onde tambem se faria notar a preeminencia das mulheres. 1996). Ainda que existam varias maneiras de interpretar 0 impacto do feminismo nos grupos religiosos. (Machado. corn alguns estudos optando pela antinomia ada pta~aolrejei~ao. e outros enfatizando a absor~ao seletiva dos temas e 0 processo de ressignifica~ao das propostas. equipamento urbano e democratiza~ao do ensino. 1996). a literatura dos ultimos dez anos aponta para mudan~as na distribui~ao da autoridade de homens e mulheres nas igrejas e na representa~ao dos grupos pentecostais na sociedade. 1994. A despeito das divergencias entre os movimentos revivalistas cat6lico e evangeJico. 1996). a adesao ao pentecostalismo repre- . 0 pluralismo religioso intrafamiliar e a preferencia das mulheres pelas comunidades confessionais corn ideologias centradas no individuo (Mariz & Machado. Nessa vertente te6rica. refor~aria a perspectiva comparativa corn base na identidade de genero dos adeptos dos grupos religiosos e faria as pesquisas come~arem a relacionar as mudan~as religiosas com processos macrossociais como a participa~ao crescente das mulheres casadas no mercado de trabalho. 0 crescimento do pentecostalismo expressa uma tendencia de interioriza~ao das escolhas religiosas e encontra-se estreitamente relacionado com 0 processo de individualiza~ao dos atores sociais das camadas populares (Mariz & Machado. a decisao de tornar-se pentecostal numa sociedade majoritariamente cat6lica exprime nao s6 uma op~ao consciente e deliberada do individuo.252 maria das dores campos machado desses autores. o desenvolvimento da Renova~ao Carismatica Cat6lica. Entre as autoras que seguem a linha interpretativa inaugurada por Max Webet. Fernandes. 0 pentecostalismo combate a identidade masculina predominante na sociedade brasileira estimulando nos homens que aderem ao movimento as formas de conduta e as qualidades tradicionalmente alocadas ao genero feminino. -1994.tolerantes. etc. Alem disso. ja as mulheres quase sempre associam suas escolhas religiosas com as desaven. em especial do ethos pentecostal. enquanto os homens procuram a comunidade religiosa em situa~oes que poem em amea~aa-iden­ tidade masculina predominante na sociedade. mas tal fato nao deve ser interpretado como urn simples refor~o a submissao das mulheres. dificuldades financeiras e pr9blemas pessoais na area da saude nas justificativas para a adesao religiosa ao pentecostalismo. 2005). as mulheres se colocam como guardias das almas de todos os '1ue integram a familia.ao e acompanhamento dos filhos. Assim como as mulheres.materiais e espirituais . . Nessa perspectiva. Em outras palavras. A adesao a esta forma de religiosidade tam bern provoca a redefini~ao da subjetividade feminina na medida em que 0 pentecostalismo estimula 0 processo de autonomiza~ao das mulheres ante seus maridos e filhos. 1998).. sao extensivos aos homens da comunidade. enquanto os atributos femininos favorecem as experiencias das mulheres com 0 sagrado e os vinculos com as comunidades religiosas (Machado. buscando os grupos confessionais sempre que urn dos seus familiares se encontre em dificuldades. Machado. Nesse sentido. estes devem ser d6ceis. carinhosos.do grupo dornestico (Mariz. a doutrina pentecostal enfatiza os valores associados ao feminino. bern como os constrangimentos a sexualidade. A ado~ao da perspectiva de genero permitiria reconhecer tam bern que a o~ao de ingressar nesse movimento religioso resulta de experiencias bastante diferenciadas dos hom ens e das mulheres e pode produzir modifica~oes nas rela~oes de generos (Machado. Tais expectativas apontam para uma reconfigura~ao da subjetividade masculina criando a possibilidade de arranjos familiares mais igualitarios. As historias de conversao masculinas revelam situa~oes de desemprego. as qualidades alocadas ao genero masculino no sistemahegemonico de representa~oes parecem distanciar os homens das prescri~oes religiosas de uma forma geral e..as familiares e as necessidades . levando urna vida ascetica regidapor uma moral sexual rigida. 1996). espera-se que eles se preocupem com 0 bem-estar da familia dedicando-se rna is a educac.religiao e as assimetrias de genero na america latina · I 253 senta uma ruptura com as expectativas sociais e simultaneamente urn corte na propria biografia do individuo. Ou seja. 1996. uma vez que esses principios. A conquista . cuidadosos.. com algumas pentecostais evangelizando em pra~as publicas. 172-5). 1996). Mariz & Machado.502 mulheres. 0 engajamento nesses grupos possibilita as mulheres tambem maior participa~iio na esfera publica. a produ~ao de novas formas de subjetividade feminina esta relacionada com 0 incremento do nivel educacional das mulheres. hospitais e entidades filantr6picas. com anos anos Oll mais. Entretanto. Nos setores medios a cultura psicanalftica fornece elementos argumentativos para a revisiio do conceito de individuo e liberdade individual. 2005). participando de programas religiosos televisivos e radiofonicos (Gouveia. e vivendo em 187 municipios de 24 estados das cinco macrorregioes do pais (Vera Soares. 2004. Como exposto anteriormente. com o aumento do numero de separa~5es e 0 crescimento da chefia feminina das familias. Nessa chave interpretativa. rna is recentemente. 1999. conseqiientemente. aprendem "a ver a si mesmos como seres autonomos que sao igualmente responsaveis por seu sucesso e destino" (Mariz & Machado. independentemente da identidade sexual. 1999) e. Entretanto. ja a cultura feminista proporciona os recursos discursivos para 0 desenvolvimento de uma consciencia de genero e para 0 combate das rela~5es assimetricas entre os homens e mulheIS Ver. a individualiza~ao feminina (Machado. Sinteticamente.254 maria das dores campos machado de uma autoridade moral e 0 fortalecimento da auto-estima amplia as possibilidades de as mulheres desenvolverem atividades extradomesticas e as redes de sociabilidade. favorecendo. a importante investiga~ao realizada pela Funda~iio Perseu Abramo com 2. b . Machado. 1996. a existencia de urn hiato temporal nos processos de autonomiza~iio de homens e mulheres das diferentes classes sociais indica que a o~ao das mulheres das camadas populares pelo pentecostalismo favorece a expansiio da cultura individualista nos extratos sociais onde predomina a visiio de mundo hierarquica e baseada na familia.15 0 que certamente auxilia na cria~iio de novas zonas de autonomia individual (Machado. dedicandose a militancia polftica em favor dos candidatos da igreja (Machado. E aqui. uma vez que os fieis. com a incorpora~iio da teologia da prosperidade no sistema axiol6gico dos principais grupos pentecostais. deve-se lembrar tambem que. 1996). pp. realizando trabalhos voluntarios em presidios. 0 estimulo a individualiza~iio nao se circunscreve ao universo feminino. 2005). reconhece-se que siio multiplos os recursos discursivos e simb6/icos acionados pelas mulheres nesse processo. com a amplia~iio da participa~iio em atividades remuneradas. por exemplo. as lideran~as passaram a estimular a entrada das fieis no mercado de trabalho. oMariz & Machado (2004. 2006) argumentam que a competi~ao religiosa e os prajetos de amplia. as mudan~as nas representa~iies dos generas nestes segmentos confessionais encontram-se tambern relacionadas com a tendencia de apropria~ao seletiva de ideias feministas pela sociedade e em especial pelas institui. Novamente. 2005). a despeito do combate das lideran~as religiosas pentecostais ao movimento de mulheres. nao estamos diante de urn problema especHico ao universo pentecostal. 2005) estabelecem distin~iies entre 0 individualismo pentecostal e 0 feminista e alertam os leitores de que 0 fortalecimento da auto-estima das mulheres e 0 desenvolvimento de rela~iies mais simetricas nas familias onde os conjuges partilham os valores pentecostais nao devem ser interpretados a partir do idea rio feminista. entretanto. 2005). mas sim pelo pragmatismo institucional que acaba por garantir 0 lugar privilegiado dos homens no sistema de autoridade. No caso do Brasil. 2005.ao da capacidade de influencia de algumas denomina~iies pentecostais vern favorecendo a assimila~ao de alguns temas dos movimentos de mulheres e sugerindo transforma~iies na hierarquia de generas. argumentam que. Mariz & Machado. Nas duas situa~iies percebe-se a tendencia de acomoda~iio as tradicionais prescri~iies de genera (Machado. E mais. Mariz & Machado (1994.iies culturais (Machado. Em varias publica~iies. De forma diversa. as caracteristicas e a capacidade de mobiliza~ao do movimento feminista e do pentecostalismo variam de sociedade para sociedade. 2005). 2002.religiao e as assimetrias de genero na america latina 255 res.as partidarias e 0 acornpanhamento da atua~ao parlamentar das poucas mulheres no Legislativo sugere que a presen~a . 2006). percebe-se que as pentecostais das camadas populares tern identificado nos valores religiosos que tam bern propugnam 0 individualismo os elementos que dao sentido a reestrutura~ao das suas condutas. o tema dos limites desse pracesso de revisao das representa~iies e das rela~iies de genera passa a integrar a agenda de discussao tao logo come~am as pesquisas empiricas sobre a consagra~iio feminina e 0 desenvolvimento do ministerio do casal nas igrejas brasileiras (Santos. Machado. assim como as analises da participa~iio das mulheres pentecostais na politica institucional (Machado. Machado. As analises do crescimento de candidaturas femin in as nos ultimos processos eleitorais tam bern relacionam esse fenorneno com 0 pragmatismo das lideran. Afinal. das rela~iies familia res e das expectativas em rela~ao a vida. 1997. com as mulheres sendo consagradas e ou indicadas por lideran~as masculinas para atuarem na politica nao pela 16gica da eqiiidade de genera. E." No que se refere ao sacerd6cio. 64% dos brasileiros e 61 % dos chilenos que integram os grupos pentecostais sao favoraveis aconsagra~ao de mulheres. 17 Na Guatemala.256 maria das dares campos machado feminina nesses espa~os. de se alcan~ar os ideais emancipatorios dos movimentos feministas. AmbivaU.ncias nas percep~oes dos papeis de genero e 05 desafios a interpreta~io feminista do fundamentalismo religioso no continente Vma pesquisa quantitativa realizada recentemente em varios continentes do mundo.pdb. as pentecostais apresentam uma visao alinhada com a posi\. 1a no caso da participa~ao no mercado de trabalho. ao passo que na Guatemala e de 40 e no Chile e de 41 %. 2002). conseqiientemente. observa-se que bern menos da metade dos entrevistados desses paises acha que os homens tern mais direitos a urn posto de trabalho do que as mulheres. nao e suficiente para garantir mudan~as na forma de se pensar e se fazer a politica (Araujo.se da pesquisa Spirit and Power cealizada pela Pew Foundation e divulgada no 0 seguinte endere~o: <http://pewforum. 73% dos entrevisrados concordam com a assertiva de que as esposas devem obedecer aos seus maridos. 79% dos guatemaltecos. a despeito de a maioria dos pentecostais dos tres paises concordarem com a ideia de que as esposas devem obedecer sempre a seus maridos. e com a America Latina ·representada pelos entrevistados do Brasil. embora seja condi~ao necessaria. No caso do Brasil a propor~ao dos entrevistados que concorda com a prioridade mascuIina na ocupa~ao de urn cargo e de 29%. 16 site com . a tendencia a reacomoda~ao nao esta circunscrita aos grupos pentecostais que se flexibilizam. 2005.ao majoritaria na sociedade mesmo quando sao question ados sobre a possibilidade das maesque exercem uma atividade prafissional conseguirem desenvolver Trata. 42). p. no Brasil e no Chile a represemaifao dos que pensam igual e de 61 % e 52%. Segundo os dados dessa pesquisa. Chile e Guatemala.16 indica descontinuidades interessantes com as representa~oes de genera tradicionais entre os pentecostais da regiao e reafirrna a pertinencia do argumento de que as modifica~oes relacionadas a esfera publica sao mais faceis do que no interior da familia. a posi~ao dos fieis no que se refere ao sacerd6cio feminino e aparticipa~ao das mulheres no mercado de trabalho expressa uma visao rna is igualitaria dos generos. respecrivamente (Pew Foundation. AU seja. e na realidade constitui num desafio para toda a organiza~ao so·cial brasileira.orglpublications/surveysfpentecostals-06. na medida em que a logica de genero come<. e importante nao perder de vista as especificidades historicas e as descontinuidades entre essas expressoes do evangelicalismo no norte e no centro-sui do continente americano. a maioria dos entrevistados nao concorda com a assertiva de que os homens sao melhores lfderes politicos do que as mulheres.as a.ao dos pentecostais com uma percep. ao passo que no Chile e na Guatemala a porcentagem e de 40%. Ainda que nao se ignorem as rela. A 18 Segundo Arraigada (2006.oes dos papeis de genero dos pentecostais como tambem para problematizar 0 uso generalizado da categoria fundamentalista para caracterizar os grupos em expansao na contemporaneidade (Da Silva.as quanto as que nao exercern atividades remuneradas fora de casa. 2006). De qualquer maneira. religiao e as assimetrias de genero na america latina 257 uma boa rela. Diro de outra maneira. mas se devem considerar os impactos das politicas publicas que incorporam demandas dos movimentos feministas nos diferentes segmentos socia is. Os dados apresentados acima servem nao so para evidenciar as ambivalencias nas percep.ao com os seus filhos. respectivamente. 208). a pesquisa revela que 0 principio da obediencia feminina ao c6njuge nao impede que os pentecostais tenham percep.oes afirmativas sao born exemplo nesse sentido .oes tao boas e seguras com suas crian. em bora os pentecostais apresentem uma visao menos igualitaria dos papcSs de genero do que a identificada na popula. Chile e Guatemala eram de 33%. . esfera tradicionalmente masculina.oes das identidades de genero nos diferentes setores sociais.. Sessenta e nove por cento dos pentecostais brasileiros.ao geral de cada pais.oes mais equilibradas dos papeis de genero na esfera publica.ao assimetrica em favor dos homens: 36% dos entrevistados. 28% 30%.a ser levada em conta na defini.existe uma tendencia de revisao das percep. E aqui novamente 0 Brasil se destaca com a menor representa. 0 crescimento das familias monoparentais e da chefia feminina nos domicilios nessas sociedades" pode estar favorecendo essa visao mais simetrica do papel social de homens e mulheres. p. no final da decada de 1990 as porcentagens dos domicilios que eram chefiaclos de facto por mulheres no Brasil. No campo da polftica partidaria. 61% dos chilenos e 59% dos guatemaltecos concordam com a afirma.oes seminais do pentecostalismo latinoamericano com 0 movimento fundamentalista norte-americano que se desenvolveu na virada do seculo XIX para 0 seculo XX.ao no mercado de trabalho pode desenvolver rela.ao das polfticas publicas .ao de que a mulher com inser. a despeito da forte rejei~ao as propostas de descriminaliza~ao do aborto e da uniao civil de homossexuais. 2005. tensoes e ambivalencias. 0 termo "fundamentalismo" parece mais confundir. C. suas potencialidades heurlsticas sao pequenas quando se pretende explicar 0 fenomeno da expansao do pentecostalismo em terras tradicionalmente cat6licas.r 258 maria das dores campos machado posi~ao subalterna em face do catolicismo. 0 surgimento de inumeras igrejas aut6ctones. . Afinal. ainda que tfmida. enquanto a Igreja Cat6lica mantem sua posi~ao inflexivel no interdito as mulheres para 0 cargo de sacerdote. ARAUJO. Feminismo e poder politico: algumas reflexoes sobre trajet6rias. 2002.. Referencias ARAUJO. lnterse~oes. familia e trabalho no Brasil. Resumidamente. Com isso. Nesse sentido. do que ajudar na identifica~ao das especificidades do movimento na regiao. Clara. verifica-se maior flexibilidade no campo da saude reprodutiva em rela~ao a institui~ao religiosa hegemonica na regiao com a maioria das comunidades estimulando 0 planejamento familiar. como 0 feminismo. encobrindo importantes diferen~as no interior do campo pentecostal que explicam a plasticidade e dinamicidade desse movimento religioso na contemporaneidade. c. 139-58. etc. & SCALON. mas argumentar em favor da necessidade de estudos comparativos sobre as comunidades em expansao para verificar as continuidades e descontinuidades no universo e conhecer os fatores de atra~ao delas nos segmentos sociais masculinos e femininos. pp. Genero. de crescimento do numero de pastoras nesse universo religioso. a difusao da teologia da prosperidade. nao se pretende desqualificar as criticas dos movimentos feministas as posi~oes mais tradicionalistas de grande parte dos grupos pentecostais no campo da moral sexual e do ordenamento hierarquico de genero. De mesma forma. percebe-se a inclusao do tema do sacerd6cio feminino na pauta de discussao dos grupos pentecostais de diferentes paises e a tendencia. se a categoria fundamentalismo pode ser util no embate politico dos movimentos sociais e no processo de mobiliza~ao de importantes atores sociais coletivos como os grupos feministas. sao alguns dos fatores que devem ser levados em conta quando se analisam as expressoes pentecostais desse inicio de seculo na America Latina. ana 4(2). Rio de janeiro: FGV.-dez. jul. 0 desenvolvimento concomitante com movimentos sociais impor- tantes. Belo Horizonte. 1995. M. D. Maria. 0 pluralismo religioso intrafamiliar e as transforma~oes recentes nos campos da famflia e da religiiio. Graciela. 2006. S. Helena Maria Scherlowski Leal. 40. DROGUS. 1. In: DOMINGUES. Maria. 24556. Maria Angelica. 249-72. Buenos Aires: Libros Del Zorzal. A. 1998. (arg. DA SILVA. Karina. BURDICK. L. 237. In: SACHS. pp. Sao Bernardo do Campo: Editora da Universidade Melodista. Editora UFRMG. Bernal: Universidad Nacional de Quilmes. Rio de Janeiro: Civiliza~ao Brasileira. Carismaticos e libertadores na Igreja. Teoria e Sociedade. Movimientos sociales y democratizacion en Argentina. 1987. 2004. EI caso chileno. 1992. et alii. Rio de Janeiro: Funda~iio Oswaldo Cruz. DROGUS.' ed. ESQUIVEL. Mexico: Siglo XXI-Unifen-LASA. & STEWART-GAMBINO.) Conflict and Competition: the Latin American Church in a Changing Environment. 2003. . Carol. C. M. Elizabeth E.1985. 200l. Fundamentalismo evangelico e questoes de genero: em busca de perguntas. America Latina hoie. 2005. C. 2006. (ed. Religiao e identidade nacional. 2006.. pp. Ser cat6lico: dimensoes brasileiras: um estudo sobre a atribui~ao de identidade atraves da religiiio. & STEWART-GAMBINO. pp. Revista Eclesitistica Brasileira. Grande Sinal. Petropolis: Vozes.). BRANDAO. L. M. J. C. Creencias y religiones en Gran Buenos Aires. 8. Lynn. 2001. Genero e religiao no Brasil. In: BOLLES. 6. Clodovis. M. Pensilvania: Pennsylvania State University Press. BINGEMER. Irma. The Reformation of Machismo: Evangelical Conversion and Gender in Colombia. De 10 privado a 10 publico: 30 anos de luta ciudadana de las muieres en la America Latina. BINGEMER. L. Iglesia. In: CLEARY. Austin: University of Texas Press. fasc.]. 1988. Activist Faith. C. 195-225. 11-26. Maria T. represion y memoria. pp. Procurando Deus no Brasil. Mae de Deus e Mae dos Pobres. Popular Movements and the Limits of Political Mobilization at the Grassroots in Brazil. Religiosidade e cotidiano das agentes de saude. Zaira Ary. & GEBARA. FARIA. Marianismo como culto da superioridade da mulher: algumas indica(oes da presen(a desse esteriotipo no Brasil. (arg. CRUZ. E. Juan et alii. E. Mas alld de la nadon: las escalas multiples de los movimientos sociales. Londres: Lynne Rienner Publishers. a que soube dizer nao. & MANEIRO. 49-60. M. pp. In: JELIN. Rio de Janeiro: Graal. Doutorado. BIDASECA. El movimiento de Mujeres Agropecuarias en luta. 1998. H. R. V.religiao e as assimetrias de genero na america latina 259 ARRAIGAD A. H. BOFF. Madri: Siglo Veintieuno de Espanha. E. DI MARCO.). COUTO. pp. Transforma~6es sociais e demograficas das famflias latinoamericanas. Petropolis: Vozes. Rio de Janeiro: Mauad. mimeo. In: DE SOUZA. BRUSCO.161-202. DAVID. Sao Paulo: Palabra & Prece Editora.). pp. GOUVEIA. Fortunato. & Medeiros. jan. Buenos Aires: FCE. MACHADO. Carismaticas e pentecostais: a dimensao feminina nos movimentos revivalistas. In: ORO. 0 desa(io do catolicismo nas cidades. M. A situa. Secretaria da Cultura e Desporto. Catolicismo: cotidiano e movimentos. Democracia e politica no cotidiano das mulheres brasileiras. Estud. Petropolis: Vozes. 2006. C. La comunidad. Florianopolis.ao Perseu Abramo. Sao Paulo: Anpocs.'los peregrinos. Sao Paulo: Loyola.). 2005. GODINHO.ao Catolica II Teologia da Liberta\'iio. 1. 1998. E. Filadelfia: Temple University Press.) Mudanl'Q de religiao no Brasil. FERNANDES. 1994. 73-92. -. R. Pierre (org. Religiao & Sociedade. p. Religion y conflicto social. 2005. V.6es de genero em grupos pentecostais. -. Zaira Ary. Globalizacion y diversidad reiigiosa en Colombia. Porto Alegre: Editora da Universidade Federal do Rio Grande do SuI. S. 14(1). Formas de sociabilidad en dos grupos catolicos emocionales de la periferia de Buenos Aires. Pan ya(ectos. Representa. Masculino e (eminino no imaginario catolico: da A.ao e rela. Catolicismo e sexual ida de. (org. vol. 1978. K. A mulher brasileira nos espa. Carmem Cinira. Rompendo 0 silencio: uma (enomenologia (eminista do mal. Bogota: Unibiblos. Ari Pedro & STEIL. 2000. Revista Magis. Otto. Suely (org. S. GIMENEZ. E. JELIN. Juan Diego (comp. Centro LoyolalPUC.. MACEDO. 1992. Ciencias Sociales y Religion. GEBARA. pp. Ana Marla & DEMERA. In: BIDEGAIN. Carlos Alberto. Sao Paulo: Loyola. FERNANDES. In: VENTURI. 1(1). Ivone. Porto Alegre.A. D. 2006. 106. 2000. Sao Paulo-Fortaleza: Annablume-Governo do Estado do Ceara.iio religiosa na Argentina urbana do fim do milenio. Rio de Janeiro. 2003. SOS Mulher: uma analise da midia pentecostal. C. MADURO. Fem. Marisol & OLIVEIRA. 23(1). 31-60. . R. 0 compartilhar no catolicismo contemporiineo: discursos e praticas na vida . 1999. Os e(eitos da adesao religiosa na es(era (amiliar. Coping with Poverty: Pentecostals and Base Communities in Brazil. -.os publico e privado. pp. Sao Paulo: Funda. Rev. pp. pp. 2000. 2004. 1997.). RECAMAN. Globalizacion y catolicismo: la mirada desde arriba y las relaciones cotidianas. la iglesia. Rio de Janeiro. FGV. (org.-abr. Politica e religiao. MARIZ. 149-59. 2006.ao e religiao.r 260 maria das dores campos Machado FARIA. Comunidades eletronicas de Consolo. 167-88. 1999.. MALLIMACI. Tatau. -. Petropolis: Vozes. A. Globaliza. Ciencias Sociales y Religion. Merida.). 115-30. -. 1996. Iser. In: SAN CHIS. Gustavo. La trans(ormacion de las (amilias. MARIZ. Marysa & MEJiA.Comunica~i'ies do ISER. Religiao popular e moderniza¢o capitalista: outra logica na America Latina. Antropolitica. Alternativas -escassas: saude. Niteroi: Eduff. 1999. 1996_ PIERUCCI. ° . pp. 2. 203-31. Um sopro do espirito: a renova¢o conservadora do catolicismo carismatico. Estudos de Politica e Teoria Social. NAVARRO. Florianopolis. 17-28. Madri: Trotta. dedinio das religioes tradicionais no Censo de 2000. Oxford. 136-58. 1996. J. 2004. De mulheres. 17(1). pp.). A danfCl do sincretismo . Sao Bernardo do Campo: Editora da Universidade Metodista. M. pp. 2005. 1994. Sao Paulo: Edusp. 2004. PARKER.). Sao Paulo: Funda¢o Carlos Chagas.. Tina (org. 8-29. -6. 1990. Buenos Aires: Universidad Nacional de Quilmes Editorial. 177-203. C. 45-67. 367-79. OBREG6N. Silvia (ed. MARTIN. pp.. Teologia feminista e a critica da razao religiosa patriarcal: entrevista com Ivone Gebara.religiao e as assimetrias de genero na america latina 261 em comunidade no Rio de Janeiro.2000. F. PRANDI. Mudan~as recentes no campo religioso-brasileiro. Sao Paulo: Hucitec. PRANDI. Mexico: Siglo XXI-Unifem-1. Bye Bye. Reginaldo. Petropolis: Vozes. sexo e igreja: uma pesquisa e muitas interroga~6es. Antonio Flavio. A. Religion y genero. De 10 privado a 10 publico: 30 anos de luta cidadana de las mujeres en la America Latina. M. Sincretismo e transito religioso. D. La Red Latinoamericana de catolicas por el derecho a decidir. R. S. Genero e religiao no Brasil. Reginaldo & PIERUCCI. pp. jan. NUNES. UK: Basil Blakwell. Progressistas e catolicas carismaticas: uma analise de discurso de mulheres de comunidades de base na atualidade brasileira. Tongues of Fire. Trabalho apresentado na Reuniao da ABA. A. Mujeres en tres grupos religiosos en Brasil: una comparacion entre pentecostales y catolicas. -. Brasil. 1998.asa. 2006. In: MARCOS. Praia Vermelha. In: BOLLES. 2 (3). Fern. Lynn. ano 13. pp. D. C. A realidade social das religii'ies no Brasil. USP. In: COSTA. 14(1). Pentecostalismo e a redefini~ao do feminino. Religiao. 2006.' ed. -. pp. Rev. Sao Paulo: USP. lmaginario. 2000. La virgen de Lujan: el milagro de una identidad nacional catolica. pp. Estud. . Albertina de Oliveira & AMADO.2006. Estudos AvanfCldos. MARTIN. C. Eloisa. 1994. In: DE SOUZA. Entre la cruz y la espada. 52. pp. M. -. Rio de Janeiro: Iser. Religiao e Sodedade. 45.abr. 2144. mulheres e politica institucional: evangelicas e catolicas na disputa pelo poder no Rio de Janeiro. Maria Consuelo. -. & MACHADO. sexualidade e reprodu¢o na America Latina. 140-59. 1996.2000. D. 5. G. A. TARDUCCI. MuNoz. Marianismo: la otra cara del machismo en Latino-America. Folower of the New Faith: Cultural Change and The Rise of Protestantism in Brazil and Chile. (arg. Alternativas escassas. Cadernos Pagu. 2004. STEIL. 1990. 1977. In: AMADO. lliERBORN. feminismo e 0 machismo na percep. Marisol & DE OLIVEIRA. In: VENTURI. A familia no mundo: 1900-2000. Diana. 13 (2). Is Latin America Turning Protestant? California: University of California Press.. In: PESCATELO. Sao Paulo: Funda. In: ORO. Gustavo. L. pp. Sexo e poder. Porto Alegre: Ed. Anticoncep. 2006. D. WILLEMS. SEMAN. Revista Estudos Feministas. Abelardo Jorge. Individualismo e cultura: notas para uma antropologia da sociedade contemporanea. C. La religiosidad popular. T. 161-82. A. STEVENS.ao religiosa nos paises do Cone-SuI: comentarios. A situa. SOARES. Mexico: Ed. Ana Maria & DONOSO. 147-9. Monica. REESINK. 2003. 1967.ao e comunidades eclesiais de base.). Vera.). pp. 1997. Teresa. pp. da Universidade Federal do Rio Grande do SuI. Nashville: Vanderbilt University Press. Campinas: Nucleo de Estudos de Genero. Alina (coord. pp. La Iglesia Catalica y los Encuentros Nacionales de Mujeres. 200l.ao das mulheres brasileiras. ° . 2005. Senhor nos libertou.). Suely (arg. Hembra y macho en Latino-America: Ensaios. & COSTA. MARIZ & c. Sao Paulo: Editora 34. SONElRA. 2004. 47-64. Florianapolis. 3. . 397-402. RECAMAN. Petr6polis: Vozes.).. E. VALDES. Pablo. In: NUNES. Entrevistando familias. ° -. Carlos Alberto. Rio de Janeiro: Zahar. Siio Paulo: Contexto. STOLL. T.1994. pp. A. L. Rio de Janeiro: Zahar. Ari Pedro & STEIL. VELHO. Chile: Flacso-Unifem. Globalizafiio e religiiio. 1994. 143-63. SALEM. Maria entre os vivos: ref/exoes tearicas e etnogrtificas sobre aparifoes marianas no Brasil. Buenos Aires: Capital Intelectual. A aventura sociolagica.262 maria das dores campos machado RIBEIRO. 19952003: Han avanzado las mu.eres? Indice de Compromiso Cumplido Latinoamericano. 1981. A mulher brasileira nos espafos publico e privado. Petr6polis: Vozes. M. Edson de Oliveira (org. G.ao Perseu Abramo. Evelyn. L Sexualidade e reproduriio: 0 que os padres dizem e 0 que deixam de dizer. 1978. notas sobre 0 trabalho de campo. da academia. em que amplio e Husteo de modo distinto alguns dos temas aqui desenvolvidos (Carvalho. conectado basicamente com a voracidade das industrias do entretenimento e do turismo e tam bern com a manipula~iio politica dos artistas populares. comunidades e organiza~oes dos priiprios artistas populares.' Trata-se de urn esfor~o conjunto do Ministerio da Cultura. 0 tema da conferencia suscitou tambem uma entrevisra tonga concedida em Buenos Aires a revista Morea.. ocorrido em Brasilia em setembro de 2005.. das associa~oes. nos seus varios niveis de complexidade. da sociedade civil organizada. Capitulo 9 ESPETACULARIZAC. realizado na expectativa de promover urn florescimento cada vez mais pleno e mais digno das tradi~oes culturais do nosso continente. principalmente. 2007). o tema da espetaculariza~ao e cariibaliza~iio foi resultado dos dialogos iniciados apiis 0 1 Seminario Nacional para Politicas Publicas para as Culturas Populares. JORGE CARVALHO 0 1 Encontro Sul-Americano das Culturas Populares oferece mais uma chance de dialogo com os artistas e mestres da cultura popular para avan~armos na constru~ao de urn projeto articulado capaz de superar. organizado pelo Ministerio da Cultura em Brasilia..::A. em setembro de 2006. 1 Versao ligeirameme revisada da conferencia proferida no I Encontro Sul~Americano das Culturas Populares.O E CANIBALlZAC.O DASCULTURASPOPULARES NAAMERICA LATINA J osP.. Esses dois termos procuram exprimir a percep~iio e a consciencia de que as culturas populares estiio sendo expostas a urn movimento crescente e continuo de invasao. '" . expropria~ao e preda~ao. os problemas enfrentados hoje pelas culturas populares no Brasil enos demais paises da America Latina. dos produtores culturais e.::A. os artesanatos . deslocado de sua comunidade ou circuito de origem).. comunidades e expressoes culturais. como a Bienal de Sao Paulo. de modo que possa transitar entre fenomenos de pequena e de grande escala.mola mestra da ideia de desenvolvimento no Brasil. Para unir em urn mesmo esfor~o analitico cultura popular e politica estatal. Se e essa de fato a inten~ao. asordens politica e economica estarao implicitas nos dilemas e encaminhamentos que venham a surgir. Ainda que tenhamos optado por concentrar a discussao nas questoes esteticas propriamente ditas. tradicional ou folcl6rica) irao ocupar de fato esse lugar. faz-se necessario trabalhar simultaneamente com varias escalas distintas. tanto de incluir quanto de excluir artistas. traduzido em cifras de milhares e de milhoes de reais. Essa demanda por transparencia se impoe como inevitavel porque. Se nao conhecemos a grande escala nao podemos saber em que ponto estamos da constru~ao da prometida igualdade na area das politicas de desenvolvimento da cultura no pais. Sao essas cifras que compoem 0 patamar maior onde se colocam as decisoes do poder. os folguedos. Uma reflexao consistente sobre esse tema pressupoe 0 acesso publico e transparente ao quadro total dos gastos do Ministerio da Cultura para apoio as varias atividades artfsticas e culturais do pais. que nao e possivel separar os problemas especificos das culturas populares da ordem politica e economica do pais. os autos dramaticos. a Orquestra Sinfonica do Teatro Nacional do Rio de Janeiro. popular comercial. ha que se perguntar de que modo os diversos estilos de expressao cultural (erudita. os Festivais (nacionais e internacionais) . A pequena escala refere-se as especificidades das expressoes da cultura popular . enquanto a grande escala diz respeito ao or~amento total do Ministerio. de saida.Q 264 jose jorge carvalho Hierarquia econ6mica e hierarquia estetica: onde estiio as culturas populares? Afirmemos.as festas. a poesia popular. quando a cultura popular e convertida em espetaculo desterritorializado (isto e. ela passa a ganhar valor diante de consumidores que podem transitar tam bern por outras atividades culturais. Esses dados sao essenciais para se ter uma ideia exata do lugar ocupado por cada urn dos setores da cultura dentro do Ministerio e tam bern para avaliar 0 discurso projetado pelo governo federal de que a cultura ira funcionar como . nem para sua produ~ao nem para sua circula~ao no contexto em que foram criadas e em que sao preservadas. Dialogando com 0 tema da resistencia desenvolvido por Claudio Spiguel neste mesmo Encontro. lan~ando mao de varios modos de . . Inclui-se nessa perspectiva homogeneizadora 0 cristianismo como dominante e a religiao cat6lica como compuls6ria. podemos pensar em dois processos principais: por urn lado. como urn conjunto de formas culturais - musica. tradi~oes de espiritualidade -. nem para a sua concep~ao. As culturas populares distinguem-se tambem do que chamo de cultura popular comercial por nao necessitarem dos implementos da industria audiovisual.a. pode-se indagar: quanto vale a cultura popular na visao do Estado brasileiro? Quem definiu. direitos e deveres. dan<. uma vez pressionados a conformar. as culturas populares podem ser concebidas. Musica e Teatro. que foram criadas. desenvolvidas e preservadas pelas comunidades. Vma vez dominada a grande escala. mudan~as e transforma~oes. Ao falar de resistencia das culturas populares.io das culturas populares 265 de Dan~a. as artistas populares resistiram a unilateralidade estatal e negociaram posi~6es. com relativa independencia das institui~oes oficiais do Estado. ciencia sobre a saude. que a cultura popular recebera sempre urn apoio tao menor que 0 oferecido a arte erudita ou a arte popular comercial? E quanto rende a cultura popular como produto ou servi~o oferecido pela industria do entretenimento? Para definir minimamente 0 campo em discussao. ainda que estabelecendo com elas rela~oes constantes de troca e del as recebendo algum apoio eventual ou parcial. na medida em que se reproduzem utilizando seus modestos recursos materiais e simb6licos e tomando em conta seus ritmos pr6prios de continuidade.espetaculariza~o e canibaliza~.poesia. etc. podemos dizer que a autogestao e a auto-sustentabilidade comunitarias sao os principios que organizam a produ~ao das culturas populares. Em urn nivel diferente de abstra~ao. formas rituais. urn embate aberto com a Estado que procurou dirigir e controlar as expressoes simb6licas em uma dire~ao distinta dos val ores estericos e espirituais das classes populares. Nesse sentido. pautam-se por urn prindpio de autonomia na frugalidade. em termos gerais. e com que criterios. autos dramaticos. artesanato. e a oralidade e 0 seu meio predominante de expressao e transmissao. digamos que a marca fundante da cultura popular na America Latina tern sido a sua capacidade de resistir a pressao das elites para homogeneizar uma cultura nacional segundo a perspectiva da cultura erudita ocidental. nossos biomas foram sendo predados pela expansao do sistema economico desigual e excludente que enossa marca de sociedade desde 1500. os produtores tambem h . assistimos a urn interesse crescente por manifesta~oes populares que por muito tempo nao haviam despertado a aten~ao das classes dominantes nacionais nem daindustria do entretenimento. coloca-os sob a lupa do marketing para avaliar o potencial economico do exotico. Primeiro. a qual pertencem Holywood e as megacorpora~oes da industria do disco). o percurso das culturas populares no ultimo seculo e. Dai ser possive! conceber a tradi~ao cultural popular como uma tradi~ao de institui~oes culturais populares.invasao. e depois diante dos holofotes dos espetaculos. Nos primeiros seculos dessa . coloca todas as tecnologias audiovisuais a servi~o da mobiliza~ao cultural. disfarce oucamuflagem. com suas pedagogias e hierarquias distintas das impostas it popula~ao por meio dos apare!hos ideologicos do Estado.foram simplesmente silenciadas ou exterminadas em nome de urn projeto de domina~ao cultural intolerante. portanto. como no caso da floresta amazonica: urn por urn. 0 outro modelo de resistencia consistiu em aproveitar as brechas. foi mais faeil para as classes populares mantelas por mais tempo mediante uma estrategia consciente de ocultamento. a maioria das expressoes artistic as e as tecnicas de espiritua'lidade nao cristas dos povos indigenas. As tradi~oes . as lacunas e as cegueiras das elites estatais que nao perceberam ou nao julgaram de interesse controlar certas expressoes simb6licas. invisibiliza~ao. Quando essa industria (apoiada sempre pelo Estado por intermedio dos segmentos de classe que controlam suas principais institui~oes) avalia que certos cliches e certas modas da cultura popular comercial come~am a declinar na bolsa de valores dos bens esteticos e simbolicos do mundo (bolsa evidentemente informal. a urn so tempo eurocentrico ecatolico romanizador. 0 ouro em aluviao ou os terrenos ferteis para os projetos de agroindustria. Atualmente.266 jose jorge carvalho organizar seus interesses artisticos proprios. Assim. remotas ou exoticas que possam ser transformadas em novos bens simbolicos e esteticos comereializaveis. para que passem a render dividendos para os produtores e empresarios. ela passa a procurar expressoes culturais virgens. analogo a historia de todos os biomas brasileiros. Para isso. dos africanos escravizados e das classes populares permaneceram sem maior interesse de explora~ao pela elite branca controladora do Estado. da economia e dos meios de produ~ao. Assim como se mensuram as jazidas de petr6leo. mas tam bern dos academicos e dos intelectuais. entao. ao escrutinio mercantilizador dos produtores e dos interesses de manipula~ao da classe politica. Essas dimensoes de troca certamente existem. A partir das ultimas decadas. 0 maracatu. 0 artesanato. em que um evento. esta datada em rela~ao a situa~ao atual das culturas populares. Afinal. 0 samba-de-roda. nossa reflexao sobre 0 tema da preda~ao e da mercantiliza~ao da produ~ao cultural. No ponto em que estamos atualmente. Vale ressaltar que os artistas populares nao sao vitimas apenas da classe politica e da industria do entretenimento. No momenta presente. muitas manifesta~oes devocionais que se mantinham ate entao intocadas tambem estao sendo submetidas. porem nao conseguem eliminar as perversidades e as manipula~Oes a que sao expostos os mestres e mestras em seus contratos de apresenta~ao e grava~ao de discos com as proclutoras. alem de escassa e fragmentaria. por muito tempo. ligados as festas voltadas para a confraterniza~ao e a diversao eram as expressoes que mais interessavam as elites. regionais e estaduais podem tambem avaliar as contribui~oes dos artistas populares para a legitima~ao de suas politicas reprodutoras das desigualdades sociais e raciais das quais. paradoxalmente. Espetaculariz~ Defino "espetaculariza~ao" como a opera~ao tipica da sociedade de massas. em geral de carater ritual ou artistico. esses pr6prios artistas sao vitimas. ja nao "faz sentido falar em culturas hibridas ou em trocas culturais sem tomarmos em conta as gritantes assimetrias de poder. apenas os brinquedos e folguedosque tinham carater realmente laico. em meio a essa nova onda de preda~ao cultural. E os donos dos poderes locais. A maioria dos pesquisadores ainda trata este assunto a partir de uma teoria do hibridismo e da negocia~ao de sentido que sustenta uma id"ia nada realista de mutua influencia e reciprocidade. uma grande parte da cultura popular sofre pres sao sem precedentes para ser espetacularizada.espetaculariza~ao e canibaliza~ao das culturas populares 267 calculam quanta podem lucrar com 0 bumba-meu-boi. Um sintoma claro da preda~ao cultural " 0 fato de que. a classe media urbana consumidora de espetaculos avan~ou mais em dire~ao as culturas populares. porem. criado para atender a uma necessidade expressiva especifica de urn grupo e preservado e . ou em suas parcerias com as secretarias municipais e estaduais de cultura para projetos culturais e educativos. Conseqiientemente. apreensao e mesmo de confinamento. e 0 espectador que aprecia 0 spectaculum. desvinculado da comunidade de origem. que passou a ser manipulada tanto pelo Estado como pelo capital por meio da industria cultural. E se speculum e 0 espelho. vern do latim que significa.historia e 0 exemplo mais obvio seria 0 circo romano: 0 espetaculo dos gladiadores no Coliseu tornou-se simbolo da ideia de entretenimento. 2 o processo de transformar eventos publicos (sociais ou comunitarios) em espetaculo tern longa . quem observa pode tambem dedicar-se aspeculatio e especular. A espetaculariza<. ver Marilena Chaui (1988).ao e urn processo multidimensional. Tambem na Europa moderna. 0 fonografo. os autos-de-fe da Inquisi<. as coroa<. as execu<. a circula<.iio e manipula<. com sua raiz specs. aliena<.ao da televisao.o de urn terceiro.iio das massas exploradas e excluidas do poder politico. como ja havia sido feito antes.oes e linchamentos dos despotas franceses. "tudo 0 que chama a aten<. as grandes lojas de departamentos. Resumindo urn tema complexo.oes pU'blicas e privadas do mundo moderno ocidental e urn processo derivado diretamente de varias revolu<. mas tam bern os aspectos mais privados da vida individual e em sociedade.iio das revistas de moda.oes barrocas. 2 b Para uma etimologia detalhada da raiz specs.ao da fotografia. implica urn movimento de caprura. 0 termo "espetaculo".ar. a festa publica ou espetaculo.oes tecnologicas coetaneas ao alto capitalismo. a expansao das radios e do cinema e finalmente a inven<. par sua vez.iio das institui<. urn novo sentido de espetaculo surgiu no inicio do seculo XIX com a sociedade de massa da era urbano-industrial.r 268 jose jorge carvalho transmitido por urn circuito proprio. e transform ado em espetaculo para consumo de outro grupo. realizar urn escrutinio objetificador a respeito do outro que para ele se espetaculariza. ou por sua propria decisiio ou porque foi. a espetaculariza<.iio de tipo ocularista: spectator. I. e entao possive! espetacularizar. Dessa raiz derivou-se enorme gama de termos vinculados a idi'ia de distanciamento e objetifica<. Para come<. eram eventos concebidos como espetaculo para as massas. basicamente. nao apenas 0 poder. atrai e prende 0 olhar" (Antonio Geraldo da Cunha. isto e. Dicionario Etimol6gico Nova Fronteira). de olhar. na vida urbana.iio. aquele que ve. as quais se acumularam e se articularam seguidamente a partir da segunda metade do seculo XIX: a inven<. No momento em que se impoe.iio. Contudo. . espetacularizado a servi<. uma industria audiovisual poderosa. espetaculariza~ao e canibaliza~ao das culturas populares 269 Trata-se de enquadrat; pela forma, urn processo cultural que possui sua logica propria, cara aos sujeitos que 0 produzem, mas que agora ten. seu sentido geral redirigido para fins de entreter urn sujeito consumidor dissociado do processo criador daquela tradi~ao. A metafora basica do olhar ("ver 0 evento" e nao participar dele, a nao ser apenas como voyeur, 0 espectador que nao se expoe nem se entrega) aponta para uma atitude de distancia, de nao-envolvimento; ver a brincadeira espetacularizada e, a urn s6 tempo, consumila e defender-se dela, para que nao seja capaz de influenciar 0 horizonte de vida do consumidor. E quando essa influencia de fato nao sucede, 0 espetacu10 fica esvaziado do seu poder maior, que seria 0 de irromper no horizonte existencial do sujeito que se expoe ao seu campo expressivo e entao transformar 0 sentido de sua existencia. Assim definido, 0 espetaculo moderno aproxima-se da ideia de vivencia, que Walter Benjamin opunha a ideia de experiencia. Enquanto a experiencia aponta para urn imp acto existencial no individuo (de cunho estetico, emocional, intelectual, espiritual, afetivo) que ajuda a reconecta-lo com a comunidade a que pertence e com a sua tradi~ao espedfica, permitindo-lhe maior enraizamento do seu proprio ser, a vivencia e 0 fenomeno tipico do mundo moderno urbano-industrial massificado, caracterizado pela ausencia de profundidade historic a e tradicional dos eventos e, conseqiientemente, por sua superficialidade e fugacidade, tanto no nivel individual como no coletivo. 3 Espetacularizar significaria, entao, entre outras coisas, dissolver 0 sentido do que e exibido para deleite do espectador. Dizer que as culturas populares sao espetacularizadas significa afirmar a existencia de varios processos simultiineos: a) que elas sao descontextualizadas segundo os interesses da classe consumidora e dos agentes principais da espetaculariza~ao; b) que elas sao tratadas como objeto de consumo e, mais complexo ainda, como mercadoria. Passam, assim, do valor de uso com que se inscrevem no contexto das comunidades que as criam e reproduzem para se tornarem valor de troca, passiveis de serem mais ou menos importantes a depender dos padroes de desejo e de frui~ao dos consumidores que as escolhem e identificam; c) que sao ressignificadas de fora para dentro. Serao os interesses embutidos no olhar do consumidor que definirao 0 novo papel que passarao a desempenhar. Trata-se aqui de uma opera~ao muito distinta das eventuais e 3 Walter Benjamin elaborou intensamente para os olhos do consumidor (Benjamin, 2006). 0 fetiche das mercadorias como urn espetaculo -270 ., I , I jose jorge carvalho multi pI as ressignifica<;:oes que sueedem, provocadas de dentro, ou seja, pelos proprios artistas populares no contexto das comunidades onde atuam. Esse formato de espetaculo de que falamos inverte a logica de subjetiva<;:ao proposta pela industria audiovisual. No caso da publicidade e do cinema, o espectador e capturado pela mirada que the e lanc;ada pelos sujeitos representados na tela, no outdoor ou na foto da revista. A condi<;:ao de sujeito, isto e, 0 protagonismo principal (ou agenda, como querem alguns teoricos) esta no palco e nao na plateia. Inversamente, ja no caso das culturas populares, os artistas chegam ao palco por uma opera<;:ao de captura, quase sempre como urn coletivo que se apresenta em uma condi<;:ao de objeto para deleite dos sujeitos consumidores. A espetaculariza<;:ao e 0 poderdo olhar, que po de ser construido de fato como dois poderes opostos e conflitantes. Por urn lado, 0 poder do espetaeulo pode ser 0 poder de quem olha e e olhado, como e 0 caso do poeta popular que recita na feira, os brincantes de uma .folia que se deslocam toeando e cantando pelo povoado, ou os dan<;:arinos que se apresentam em seu ambiente comunitario. Em todos esses casos, artista e publico se olham em urn espa<;:o comum e familiar aberto as trocas, tambem de posi<;:oes, entre quem olha e quem e olhado. 0 outro lado da espetaculariza<;:ao (0 seu lado predador, objetificador) e 0 olhar que nao se sabe olhado por quem comanda 0 seu olhar; e e tambem 0 olhar de quem se recusa a ser olhado. Este e 0 olhar do consumidor, que nao pode suportar 0 espelho da sua condi<;:ao objetificada de sujeito para 0 consumo. Esse alhar que se recusa a ser olhado e 0 mesmo que, contraditoriamente, torna-se prisioneiro da fantasia de que sera olhado com urn olhar de aceita<;:ao por aquele a quem olha como objeto de seu entretenimento. E, na verdade, 0 olhar do consumidor, sujeito-objeto da vida em uma sociedade espetacularizadora. Ha que mencionar aqui dois dos principais teoricos do espetaculo nas sociedades ocidentais contemporaneas: Guy Debord, autor do chissico A Sociedade do Espetaculo, publicado em 1967 e Jean Baudrillard, autor de textos igualmente classicos sobre 0 tema, entre eles A Sociedade de Consumo, de 1970.4 Ainda que inspiradores, esses dois auto res distanciam-se parcialmente da presente discussao sobre a espetaculariza<;:ao por do is motivos que se complementam. Primeiramente, porque ambos partem do principio de que • Ver Debord (1997) e Baudrillard (1975). espetaculariza.;ao e canibaliza~ao das culturas populares 271 o esvaziamento de sentido trazido por esse capitalismo espetacularizante e generalizado; e em segundo lugar, porque sua leitura, ainda que uti! para entender muitos dos dilemas contemporaneos da cultura na America Latina, concentra-se nas expressoes culturais das sociedades industriais avan~adas do mundo ocidental (Europa e paises ricos anglo-saxoes), sociedades que nao possuem mais (como ja tiveram no passado) 0 rico circuito das culturas populares que e uma marca tao forte das nossas sociedades latino-americanas. Em resumo, Debord e Baudrillard dissecam 0 vazio de uma sociedade inteiramente e~petacularizada, ao passo que procuro aqui teorizar os dilemas da espetaculariza~ao de algumas das expressoes culturais populares (processo mais recente e ainda passivel de interven~ao), consciente, porem, de que ainda contamos com inumeros generos de espetaculos de cultura popular em esc ala comunitaria. Em outros termos, ainda temos espedculos tradicionais produzidos e absorvidos pelas comunidades a que pertencem os artistas populares. Enfim, muitos dos espetaculos de cultura popular, como tradi~oes de Cavalo-Marinho, Cabocolinhos, Sambas-de-Roda, Coco-de-Zambe, entre tantas outras, ainda nao foram absorvidos pelo circuito da espetaculariza~ao mercantilizadora que ja absorveu completamente 0 espa~o vital dos membros das sociedades industriais avan~adas sobre as quais eles escreveram. Isto posto, vale reafirmar que a espetaculariza~ao que ocorre neste momento com as culturas populares no Brasil e na America Latina nao se equivale ainda, em esc ala de di!ui~ao de sentido, it espetaculariza~ao geral da vida nas sociedades de massa industrialmente mais avan.;adas, tanto na esfera do cotidiano como ate mesmo na esfera do poder. A espetaculariza~ao da politica, como um processo de dimensoes mundiais, alcan~ou seu paroxismo nas ultimas decadas, como no caso das campanhas estaduais e presidenciais em varios paises. Os Estados Unidos sao aqui 0 exemplo mais grotesco por converterem os comicios e os debates em shows midiaticos destinados a esvaziar inteiramente 0 sentido politico das propostas dos candidatos. As elei~oes sao, portanto, como diz Jean Baudrillard, carnavalizadas - e 0 verbo carnavalizar ja aponta para a retirada da dimensao de seriedade do fenomeno, ao mesmo tempo que funciona como a referencia tipica do espedculo da moderna sociedade de massas: turistico, narcotizante, mercantilizado. No nosso caso, a intensidade da canibaliza~ao e da espetaculariza~ao e ainda um fenomeno relativamente recente e confinado predominantemente a um nicho especifico dentro da industria do entretenimento. I 272 jose jorge carvalho A primeira vista, 0 processo de espetaculariza~ao coloca os artistas populares na condi~ao de objeto: deverao apresentar-se, alterando as bases de seus c6digos especificos, para deleite dos espectadores de classe media, em seus momentos de consumo de lazer ou cultura de turismo. Colocados no palco, sao objetificados pelo olhar desses sujeitos que se entretem. Visto 0 processo mais de perto, porem, tam bern os espectadores sao objerificados pelos mesmos agentes que contratam os artistas populares. Afinal, os brincantes, ainda que objetificados, sao sujeitos que seduzem os espectadores, que passam agora a ser objetos dessa sedu~ao. 1sso aponta para a estrutura subjacente de assujeitamento dos artistas e do publico, estrutura que e produzida e controlada pela industria do entretenimento ou pe1a ordem polftica que contrata o espetaculo. Ha urn sujeito oculto (e hegemonico) ness a intera~ao espetacularizada; rrata-se do produtor cultural ou do politico contratante. Podemos regressar aqui de novo ao exemplo classico do Coliseu romano. Se os gladiadores eram objetos de entretenimento para as massas, essas por sua vez eram tambem objeto de manipula~iio pelas elites do poder, que as controlavam ao oferecer-lhes 0 espetaculo da morte exposta na arena. 0 sujeito do poder assujeitava simultaneamente os gladiadores e a massa de subalternos, colocando a ambos 'em uma condi~iio de objetos segundo os interesses daquele poder. Assim, independente e por acima do fato de que tanto os gladiadores quanto a massa de espectadores fossem, mutuamente, sujeitos e objetos, respectivamente, uns para os ourros, essa simetria de posi~oes cessava quando se relacionavam com 0 poder que instituiu 0 Coliseu. o poder construfa, por meio do espetaculo, tanto os que se apresentavam quanto os que a eles assistiam. A unica possibilidade de alcan~ar a condi~iio plena de sujeito se dava por rebeliao (tema praticamente intocavel nas alternativas atualmente postas para os mestres das culruras populares em suas rela~oes com 0 Estado e com a industria do entretenimento). Tomar em conta esse duplo processo de objetifica~ao ajuda-nos a compreender os determinantes da intera~ao entre os espectadores de classe media e os artistas populares que se apresentam para entrete-los. Ambos se encontram, trocam olhares e sao mutuamente olhados (os espectadores para consumir, os artistas para seduzir) em urn espa~o definido nao mais inteiramente por eles. Caso a apresenta~ao seja contratada pelos poderes publicos, serao eles que tentarao orientar, para seu beneffcio, 0 sentido e os limites dessa intera~ao; e quando se tratar de urn evento apenas comercial seriio os espetacu'ariza~o e canibaliza~ao das culturas populares 273 produtores que procurarao estabe!ecer os contornos precis os do evento segundo a 16gica da mais-valia. Essa estrutura especifica da espetaculariza~ao das culturas populares condiciona e dificulta a forma~ao de alian~as politicas entre os artistas populares e a classe media. Apesar de aumentar a proximidade entre os dois grupos, ambos sao assujeitados (como os espectadores e os gladiadores do Coliseu romano ou os assistentes e os participantes do Big Brother Brasil da TV Globo) pelas condi~oes do espeticulo que nenhum dos dois controla e as quais lhes cabe responder e reagir segundo limites muito estreitos. Nos do is casos aqui mencionados, os consumidores nao podem muito mais que escolher com que gladiadores ou com que participantes do BBB irao se identificar, positiva ou negativamente. Por Dutro lado, no que tange aos "artistas" desses i j eventos (\utadores e pretendentes ao premio final), sua escolha e ainda menor, pois esra condicionada ao enfrentamento com os concorrentes e a rea~ao do publico consumidor a esse enfrentamento. Em suma, nao se deve falar da espetaculariza~ao sem por 0 tema da rebeliao. Nem 0 populismo politico nem 0 capitalismo do entretenimento permitirao que os artistas populares possam expandir suas tradi~oes sem que sejam expropriadas, espetacularizadas ou canibalizadas. Tambem nao permitirao a classe media urbana, por rna is bem-intencionada que seja, a possibilidade de apreender os c6digos esteticos e espirituais contidos nas express6es da cultura popular de modo que infunda outras dimensoes as suas vidas. A espetaculariza~ao assim concebida e urn fen6meno nao apenas estetico-simb6lico, mas tambem econ6mico, social e politico. As injun~oes esteticas e economicas impostas aos artistas populares pela industria do entretenimento ja estao razoavelmente descritas e avaliadas. Em algum momento, contudo, sera preciso abrir a discussao com os mestres e as mestras acerca das injun~oes estritamente politicas que condicionam a espetaculariza~ao das suas expressoes artisticas. Se os grupos e associa~oes correm risco de descaracteriza~ao (diante ate mesmo dos olhos da propria comunidade) e perda de sua autonomia estetica, simb6lica e espiritual, isso se deve tambem a coopta~ao de mestres e mestras pelas classes politicas locais e regionais. Como e possive! que tradi~oes culturais populares tao ricas e tao intimamente conectadas com a vida das comunidades em que florescem sejam postas a servi~o da legitima~ao de populismos estaduais e municipais corruptos? No caso do Maranhao, por exemplo, Jose Sarney e Roseane Sarney 274 jose jorge carvalho construiram, ao longo de tres decadas, uma rela~ao de aparente cumplicidade com os mestres e mestras da cultura popular, 0 que nao os impediu de deixar o estado entre os mais injustos socialmente do pais, com os piores indices nacionais de desenvolvimento humano. E os tantos mestres e mestras da Bahia, tam bern cooptados pelo mesmo tipo de populismo corrupto capitaneado por Antonio Carlos Magalhaes? Ao longo de quarenta anos 0 carlismo conseguiu projetar uma imagem espetacularizada da chamada "cultura popular baiana", enquanto os indices sociais do estado chegaram a ficar entre os tres mais baixos do pais, ao lado justamente do Maranhao. Essa mesma pergunta pode ser feita para os mestres e mestras de outros estados e municipios: as expressiies locais de cultura popular ajudaram a legitimar regimes estaduais e municipais corruptos e injustos e assim perpetuar seu controle sobre os estados e os municipios. E foi justamente nos ultimos vinte anos, desde 0 inicio da chamada Nova Republica, marcada pelos populismos regionais corruptos, que as culturas populares mais tern sido espetacularizadas. Obviamente, a mesma pergunta pela coopta~ao deve ser dirigida aos ativistas politicos, aos funciomirios publicos federais, estaduais e municipais, as ONGs que trabalham na area da cultura popular, aos produtores culturais, aos jornalistas e tambem a nos, intelectuais e academicos. Canibaliza~ao e espetaculariza~ao somente sao possiveis com a participa~ao de varios atores, seja na produ~ao e divulga~ao dos eventos, na media~ao e na negocia~ao com a comunidade e final mente na justifica~ao (em vez da critica e da contesta~ao) do uso da cultura popular em espa~os extracomunitarios com fins de mercantiliza~ao ou de propaganda de regimes politicos. o que nao pode deixar de ser apontado e a parte desse problema complexo que toea mais diretamente aos proprios artistas populares. Sabemos que nao sao eles os primeiros responsaveis pela espetaculariza~ao profanadora: afinal, a desigualdade de poder, 0 baixo indice de cidadania e a carencia material extrema de 99% dos brincantes dificulta a decisao do grupo de recusar ofertas para apresenta~iies, mesmo quando tenham de ceder sobre aspectos importantes das tradi~iies. Por outro lado, nao e possivel colocar a todos os mestres e mestras na condi~ao de vitimas absolutas da falta de escrupulos dos demais agentes envolvidos no processo de expropria~ao. A questao central e que essa estrutura de coopta~ao somente funcionou bern para os politicos e os produtores culturais. Ainda que alguns mestres e brincantes tenham melhorado urn pouco de padrao de vida pelos apoios recebidos, espetaculariz~ao e canibalizac. 0 banner. literatura.ao das culturas populares 275 as comunidades que abrigam essas tradi~6es populares cooptadas continuam pobres (e algumas miseraveis) ate hoje. Por outro lado. 0 cartaz. . a revista. fotografia em movimento. A partir dos anos 1960. A publicidade articula com eficacia todos os formatos narrativos e todos os meios de comunica~ao existentes. 0 cinema se construiu como um intertexto e uma forma de expressao multimidia. desde a segunda decada do seculo passado. pon:m maximizando os elementos visuais de mais ficil identifica~ao com 0 publico (os primeiros pianos. por exemplo. a enfase nos rostos. sejam eles materiais ou imateriais. . arquitetura. 0 decalque). a televisao. tornando-as infinitamente mais invasivas na vida cotidiana em virtude da grande mobilidade do aparelho de TV. Retomando um ponto anterior.o espetacularizada da vida no cinema transformou a propria vida em urn espetaculo de cinema (Gabler. como um megadiscurso para 0 qual convergiram outras linguagens artisticas e expressivas: fotografia parada. sintetiza 0 intertexto cinematogrifico basico em series e telenovelas. a capacidade de gerar espeticulo com as formas concretas de vida se intensificou a partir dos anos 1950 com a expansao dos programas de televisao. artes sonar as. como a represenral. 1998). decora~ao. pensemos nos efeitos das tecnologias de espetaculariza~ao desde 0 inicio do seculo xx ate os dias de hoje. acredito que a publicidade converteu-se no megadiscurso que articula todos os generos de produ~ao cultural conectados diretamente com 0 espeticulo (0 cinema. que puderam reproduzir e recriar a representa~ao espetacular da vida produzida pelo cinema. enquanto todos os outros meios ainda guard am suas especificidades expressivas (0 disco. enfim. Obviamente. 0 radio. mas suas administra~6es nao resultaram em nenhuma amplia~ao significativa do aces so a cidadania para as classes populares que preservam essas tradi~6es. os interiores e os exteriores empobrecidos de signos). moda. teatro. passou rapidamente a funcionar.f3. a publicidade nao se preocupa com limites e por isso e 0 reino da espetaculariza~ao 5 Neil Gabler mostra. a camara fixa. a fotografia e os shows de musica e dan~a). 0 cinema. Alem disso. em ensaio bastante original sobre a industria cultural norte-americana. a televisao. 0 poster.' A televisao reproduz e intensifica 0 e£eito ideol6gico das narrativas do cinema. estiticos ou cineticos. Talvez os tres governadores mencionados tenham contribuido para dar maior visibilidade as manifesta~6es culturais dos seus estados. paisagismo. sedutor. surgida que foi na epoca em que declinaram. profano. nos paises industriais avan~ados. de uma pessoa ou de urn evento e representa-Io como urn espetaculo.c 276 jose jorge carvalho levada ao extremo: qualquer meio e qualquer formato narrativo pode ser atrofiado. que sao distintas. Voltando ao tema da cultura popular. obviamente. as sistemas de transporte. produto ou pessoa e neutralizado pela industria da publicidade no momento em que e formatado como espetaculo. de cada evento. 0 sentido especifico basico. elas certamente nao saem ilesas da espetaculariza~ao publicitaria. No caso das express6es de tradi~ao oral. hiperb6lico. egolatrico. urn reisado. pelo produto ou pela pessoa ou grupo de pessoas focalizadas pela campanha publicitaria. as igrejas hegemonicas (cat6licas e protestantes). urn . a industria da publicidade faz propaganda de si mesma. as produtos industriais. estridente. as expressoes artisticas. 0 esporte. A espetaculariza~ao . pois seu senso estetico e espiritual esta calc ado em elementos alheios a industria audiovisual moderna. Fazer publicidade de urn produto. inconsequente (sao campanhas "publicitarias". as formas orais de cultura popular. singular. subvertido ou hipertrofiado. que gerou 0 mundo informe da publici dade. o centro vital do discurso publicitario e 0 espetaculo: exteriorizante.tear tradicional ou 0 trecho de urn filme classico. prazeroso aos olhos e aos ouvidos independente do conteudo ou do significado especificos que possam ser transmitidos pelo evento. Resta avaliar as conseqliencias. 0 sentido que transmite quando e encenado como urn espetaeulo eomunitario praticamente tende a desaparecer. as institui~oes educativas (privadas e publicas). universo delas antitetico. Paralelamente. para cada uma dessas formas culturais quando elas sao formatadas segundo os interesses da publicidade. E importante lembrar que todas as institui~6es complexas e especializadas de uma sociedade de massa com as dimens6es da sociedade brasileira dependem da publicidade: 0 poder politico faz propaganda de si mesmo. sem nenhuma fidelidade as caracteristicas tecnicas de produ~ao estetica e simb6lica que justificaram previamente a necessidade de inova~ao que eles representam. as meios de comunica~ao .e. quando urn folguedo popular e espetaeularizado (isto e. enganoso. para a publicidade qualquer forma cultural ja estabelecida nao passa de materiaprima a ser manipulada na constru~ao de uma campanha: 0 mesmo valor instrumental e atribuido a urn bale. afinal: nada nesse mundo e feito para durar) e 0 que e ainda mais crucial: controlador do sentido. 0 comercio. reformatado para atender a estrutura de consumo de escala urbana). esse discurso nao passa de uma racionaliza~ao. isto e. estao saturadas por urn horizonte de vida nao satisfatorio. de express6es culturais que ja se consolidaram em simbiose com a propria industria cultural nas sociedades de massa. de modo que satisfa~a as necessidades de ambos. em grande medida. de tarde e de noite. Enfim. Uma vez que e preciso trabalhar de manha. em termos quase sempre desiguais. dentro de urn regime estritamente capitalista de produ~ao). lugares. entreter-se e suspender. entre os produtores e os artistas populares. eventos e tambem com as tradi~6es das culturas populares. coisas. Essa ideia do entretenimento refere-se a urn momento de pausa diante de urn mundo ja desencantado e laico. provisoriamente. Nesse horizonte existencial esvaziado pelo capitalismo.:ao das culturas populares 277 atua assim como se fosse uma tradu~ao real mente traidora (lembremos da celebre expressao italiana: traduttoreltradittore). tem como referencia os panlmetros retirados de outros tipos de espet:\Culos.espetacularizat. transfere-se para as culturas populares negocia~6es que sao basicamente familiares as express6es da cultura popular comercial. mas invariavelmente acarretam em perdas. surgem as negocia~6es. ao pensarmos na historia dos ministerios nos nossos paises. as atividades produtivas e remuneradas. pois 0 espectador assimila urn sentido enganosamente distante do que acredita ser 0 original. 0 turismo funcion". A partir do momento em que a industria cultural come~a a organizar espetaculos de cultura popular (obviamente.ria supostamente como urn estimulador e um regulador do consumo . Essas negocia~6es. no qual as pessoas. percebemos que praticamente no mundo inteiro 0 turismo se torn a cada vez rna is uma questao de Estado. com pouco retorno de gozo e de realiza~6es em outros pianos pessoais e coletivos. alem da entrega ao trabalho e a gratifica~ao financeira dele derivada. musica popular comercial. . de geopoHtica e de capital. possuir no intervalo.e da convivencia. simplifica~6es e deforma~6es para as express6es culturais orais tradicionais. 0 entretenimento e procurado para preencher os intervalos com televisao. apenas de procurar incrementar 0 consumo e com isso "aquecer a economia". N'iio e a toa que.:ao e canibalizat. E experimentar a ilusao de que se e dono daquela manifesta~ao durante urn curto espa~o de tempo. Na pratica. porem.de pessoas. £las nao sao problematicas para os artistas que ja se formaram nesse meio mercantilista. eventos . na verdade. E possuir algo no momenta fugaz e morto entre dois vazios. Entreter e "ter entre". A industria que mais organiza esse entreter como ilusao de posse provisoria e a industria do turismo. incluidas as sagradas. pois se trata. 0 tempo de dura~iio do espetaculo. de interesse comum. 0 espa~o da expressao cultural pode ser tambern urn espa~o de constru~ao de cidadania. ou parametros sociais. Essas negocia~aes. negocia-se quase tudo com os mestres da cultura popular: 0 tamanho do grupo que ira se apresentar (numero total e tipos de brincantes). vaG se transformando em negocia~aes financeiras: incluir (ou niio) sensualidade ou recato pode (ou nao) trazer luero para 0 contratante. sejam retirados. meditativa ou contemplativa. urn determinado espetaclilo popular pode incluir como parte constitutiva do drama desenvolvido uma dimensiio mistica. urn contratante pode adotar uma logica purista ou superficial de espetaculo e decidir domesticar os significados mais desafiadores da obra excluindo aspectos considerados incomodos ou inconvenientes para 0 grupo interessado em consumi-Ia. Separado dos interesses mercadologicos canibalizadores e espetacularizadores. que dizem respeito a escolhas na area da arte. outra dimensiio mais proxima do erotico ou do grotesco. . humor e erotismo. se mudar 0 contratante. Essa interferencia com fins mercadol6gicos na dimensiio do sublime e do transcendente transforma grande parte dos espetaculos de cultura popular em meras historias de aventuras. no sentido inverso. Por exemplo. Em outros casos. Existe tam bern uma esfera de negocia~ao entre os grupos de cultura popular e as instiincias do Estado. Ou entao. pode suceder 0 inverso e as arestas dionisiacas serao polidas para que 0 resultado seja urn espetaculo contido. que provavelmente exigiriam urn esfor~o maior do consumidor para alcan~a-Ios. Dessa forma. dimensaes que ja fazem parte da fantasia do consumidor e que passam a ser hipertrofiadas nas apresenta~aes espetacularizadas. urn espetaculo que se moveria entre a introspec~iio e a exposi~iio pode transformar-se em espetaculo de pura exposi~iio e externalidade. Os artistas populares negociam recurs os a partir do que poderiamos chamar de parametros do publico.278 jose jorge carvalho Dentro da logica do entretenimento. ou. pode ser tentado a manipular os mitos fundantes da obra popular. de forma que seus aspectos mais sublimes. Todavia. e acima de tudo. deixando em seu lugar os aspectos considerados mais faceis de assimila~iio. E assim que a dimensao do lucro passa a organizar a emergencia do simb6lico e do estetico popular na perspectiva dos espectadores. violencia. devocionais e transcendentes. que partes da manifesta~iio serao excluidas (0 que afeta diretamente 0 sentido do evento). Urn dos fetiches mais vendidos para esses consumidores e 0 corpo dos artisras populares. vivendo em corp os de pouca realiza~ao estetica e espiritual. 0 congado. as comunidades afroamericanas tern sido especialmente bombardeadas. Dado que ja e praticamente inevicivel negociar com a industria e a polftica do entretenimento.ao das culturas populares 279 Esse mesmo avan~o na espetaculariza~ao e na expropria~ao dos generos tradicionais vern sendo feito pela classe politica e pela industria do entretenimento em praticamente todos os paises latino-americanos. Tal movimento de consumo atende simultaneamente as classes medias nacionais e aos turistas estrangeiros.espetaculariza~ao e canibalizac. ii intoxica~ao e a seriedade for~ada da acumula~ao e da busca incessante de mais-valia. As culturas populares como artes sagradas Em se tratando da espetaculariza~ao dos corpos. ·Muitas das tradi~oes afro-americanas desejadas para consumo sao tradi~oes sagradas e 0 sagrado e a propria dimensao do inegociavel. notadamente do Primeiro Mundo. Podemos imaginar toda a complexa hierarquia do trabalho no mundo atual como composta de potenciais consumidores que. elegancia. porem profundamente devocionais: ocorrem de acordo • Ver Carvalho (2003. 6 Dai os grupos tradicionais de raizes africanas serem os mais pressionados para espetacularizar suas tradi~oes. a coura~a do nao-sentir. veste-se com singeleza. a imagem do corpo afro-americano e cada vez mais construida pela industria do turismo como urn simbolo globalizado do gozo por meio do lazer consumista (sem falar do gigantesco problema da prostitui~ao. dan~a. que comentaremos em seguida). exibido como uma imagem estetizada para 0 prazer do espectador. born gosto e naturalidade. 0 corpo da cultura popular que canta. explode de alegria e vitalidade passa a ser urn bern escasso em urn mundo cada dia mais desencantado que submete os corpos de quem trabalha.. . sorri espontaneamente. recita. tomam-se voyeurs da espetaculariza~ao dos corpos dos artistas populares. seguindo essa logic a capitalista cada vez mais excludente e desumanizada a repressao. entra em extase. Dan~as rituais de origem africana como 0 candomble. 0 dilema principal agora pass a a ser como estabelecer limites para essas negocia~oes. 0 maracatu. as taieiras e seus equivalentes em outros paises sao esperaculos de extrema sofistica~ao estetica. 2004). Conforme desenvolvi em outros ensaios. Se uma expressao se torna secular. A perda do sagrado incide na transmissao da continuidade cia expressao. No caso das culturas populares. Os proprios mestres encontram mais rivais entre si. Talvez ela nao incida apenas instantaneamente. encontramos mais expressOes culturais dispostas a se apresentar de urn modo espetacularizado fora de suas comunidades e dos seus cooigos simbolicos de origem. retirar sua tradi~ao cultural e devocional da dimensao protegida do sagrado e expo-la para entretenimento dos consumidores em urn contexto profano. que consiste em empurrar para 0 campo do profano 0 que antes pertencia ao campo do sagrado. do significado da existencia e em razao tambem da escala bern menor da industria cultural quando com parada com ados dias de hoje. em razao de urn desgaste ainda menor. entre outras razoes porque deixaram de ser novidade. Esse processo de desrespeito pode ser condensado em Dutro termo: "profana~ao". naquele entao. a dimensao profana das tradi~oes era suficiente para satisfazer a demanda por espetaculo. A partir de urn certo momento. Comodito antes. para as massas urbanas inseridas plenamente no regime capitalista de produ~ao. da televisao e da musica popular comercial. Foi preciso procurar novas dimensoes da cultura popular que antes eram indiferentes para 0 Estado e os contratantes. porem. Em alguns cas os. A classe media urbana esta va. Se ha negocia~ao para que as festas e rituais afro-americanos se transformem em espetaculo. durante a maior parte do seculo XX. Por outro lado. a dev~ao e a principal for~a de preserva~ao da sua dignidade. A pressao por espetacularizar a tradi~ao faz com que 0 grupo seja obrigado a conviver com 0 desrespeito it dimensao sagrada e devocional das tradi~oes que apresentam. as expressoes culturais que haviam sido geradas e formatadas dentro. A profana~ao (como a espetaculariza~ao e a canibaliza~ao) e uma via de mao dupla. no campo secular. porque a devo~ao e a principal for~a para preserva~ao das culturas populares. Ii 0 proprio grupo que aceita autoprofanarse. s6 faz sentido definir urn campo de negocia~ao se se estabelece previamente urn campo do inegociavel. ja que. isto e.desse mundo do consumo industrial come~aram a esgotar a sua capacidade de entreter. sao os espectadores que tambem contribuem It .280 jose jorge carvalho com urn calendario religioso e segundo as conexoes mitol6gicas e rituais que dao sentido e poem limites as expressoes artisticas dele derivadas. e mais dificil para as comunidades manter 0 controle sobre 0 seu significado e sua difusao. mais saciada com os produtos do cinema. e possivel contratar varios grupos musicais. independente do esfor~o dos artistas populares. com a inten~ao de reverencia-Ios. Quando 0 codigo sagrado e afastado e 0 espetaculo e apresentado exclusivamente na logica profana da mais-valia. 0 mito vivo e forte demais para uma imagina~ao tao desencantada. fixando-se apenas nos aspectos exteriores do espetaculo. urn incidente interpessoal e interetnico de violencia simbolica que aponta para esses problemas da profana~ao das tradi~oes sagradas. Esses processos dramaticos podem ser ilustrados com urn exemplo por mim presenciado no Peru. com as apresenta~oes belissimas de seis grupos distintos de dan~ils devocionais da area do Cusco (incluindo nessa area a milenar cidade de Pauqartambo. uma das mascaras se dirigiu a uma mesa tomada por urn casal jovem. o que torna a profana~ao urn fenomeno dramatico e que ela presentifica 0 ato de nega~ao do sagrado. a jovem turista empurrou-a para longe. Quando os artistas apresentaram a dan~a dos Saqras. Deleitava-me uma noite em urn restaurante. A mascara aproximou-se da mo~a dan~ando. uma suite de baile de mascaras que representam uma versao dos diabos que procuram perrurbar a Virgem. em meio a tanta beleza e hospitalidade.espetaculariza~ao e canibalizar. Com pouco dinheiro. segundo os padroes do Primeiro Mundo (dolares ou euros). a convite de urn congresso da Unesco de que participava. os artistas populares ficam expostos a agressao simholica dos espectadores. Em urn movimento nipido e brusco. Para todos que presenciamos a cena. Chocou-me testemunhar.ao das culturas populares 281 para esse desgaste. girando os longos dedos posti~os das duas maos e inclinando 0 corpo vestido de traje barroco colorido. para nossa alegria e deleite neste Encontro. os dan~arinos da maravilhosa tradi~ao devocional do Qapaq Negro). enfastiada. amea~ando levantar-se e se retirar do restaurante. de onde vieram. profana e sagrada. A cidade de Cusco e conhecida como uma meca do turismo internacional e por ser urn polo de concentra~ao de arte tradicional andina. em urn gesto elegante de cortesia. A desigualdade de recursos do mundo gerou urn tipo muito particular de mais-valia esterica na industria'!ocal do turismo com rela~ao as apresenta~oes de grupos tradicionais. de dan~a e de mascara em uma unica ocasiao. ficou evidente que a mulher foi incapaz de devolver minimamente 0 gesto de acolhimento ludico a ela dirigido pela mascara em seu momento de arte. uma vez que rejeitam a dimensao mitica e sagrada. de origem anglo-saxa. que jantava e tomava vinho. A mascara que se apresenta continua . ao do filme e que os neoguineenses experimentam seus mitos como mitos. mesmo que deslocado de seu contexto ritual pr6prio. Podemos aqui lan<. enquanto os turistas experimentam os seus mitos como sintomas e histeria". entre uma turista-espectadora do Primeiro Mundo e urn grupo de artistas de urn pais pobre do Terceiro Mundo que se apresentam em urn espetaculo preparado para 0 entretenimento de turistas.ao de Edison Carneito. autor do excelente documentario Viagens Canibais. S Vet Carneiro (1962). Vern a calhar aqui perfeitamente uma frase do cineasta Dennis O'Rourke. uma dupla fantasia de prazer e posse pode ser realizada pelo turista quando contrata os servi<.oes de turistas podem os mitos nativos resistir ate perder definitivamente 0 seu lugar de mito.oes culturais ex6ticas e 0 pano de fundo do incidente do Cusco e de inumeros outros que ocorrem freqiientemente durante as apresenta<. 0 acolhimento. pesquisadores e artistas populares parecida com a que foi feito em 1962. como nos casos tao freqiientes do turismo sexual. a hospitalidade) e agora reduzida pela turista que a rejeitou it condic.ao de urn ser particular.282 jose jorge carvalho sendo urn objeto artistico sagrado.os sexuais de uma jovem que seja tambem uma brincante de algum grupo que se apresenta. pois cabe ao corpo exotizado nao-branco permanecer no seu lugar e manter a distiincia t:icita ou permitir a aproxima~ao fisica requ. quando foi redigida a Carta do Samba sob a coordena<. Nesse epis6dio esta embutida tambem uma dimensao do racismo e da desumaniza~ao radical que estruturam essas rela~5es entre turistas e nativDS. A mascara da Saqra. ainda que fantasiada. Essarelac. que ate entao se percebia como portadora de urn valor universal (a gentileza. b . 8 Naquela epoca.ao pr6pria que deved ser colocado devidamente no seu lugar subalterno.oes de artistas populares. de 1988.erida pelos turistas espectadores.ar a proposta de urn novo pacto entre governo.ao pode alcanc. sociedade civil. sobre 0 turismo etnico de brancos ocidentais na Nova Guine: "Uma li<. Em tais casos. a cortesia. A estrutura do turismo etnico. que e a principal responsavel pela espetaculariza~ao das tradi<. Ver tambem 0 excelente estudo de Deborah Root sobre canibalismo cultural na esfera das exposi\=Oes de arte (Root. urn mero objeto incomodo sem volic. 7 A questao e saber a quantas profana<. 1996). que muitas vezes inclui apresenta~oes de cultura popular. representantes de todas as escolas de samba do Rio 7 Ver 0 texto do proprio O'Rourke sobre 0 seu filme (1999). Dai a sua rejei~ao aparecer como urn sintoma de uma rela~ao impossivel.ar niveis obscenos de desigualdade. pondo urn limite aos aspectos que pode ou nao expor ao publico em situa~oes profanas.' Paralelamente.ao e canibaliza. preparou recentemente urn grupo jovem de dan~a e percussao especificamente para apresenta~oes fora do calendario religioso da comunidade. Minas Gerais. portanto. entre mesrres. a Associa~ao Brasileira de Etnomusicologia (Abet) criou. os mestres e brincantes poderiam resistir melhor it pressao dos ell}presarios. Assim organizados. dedarado inegociavel. Algumas irmandades tradicionais ja estao experimentando com solu~oes proprias no intuito de proteger os aspectos sagrados de seus rituais.'terceiro setor.ao. 2006b). 0 que exatamente pertence ao reino do negociavel.espetaculariza.. Quem quiser aprecia-Io devera obedecer as regras de tempo e espa~o que regem as tradi~oes sagradas. Proponho agora que definamos coletivamente. da c1asse media canibal. por meio de grava~oes. do lado dos pesquisadores. 9 Sobre essa solw. filmes e demais mathias de registro que ate agora muito raramente tern retornado para as comunidades uma vez concluidos os trabalhos de pesquisa. pesquisadGres e governo. fotografias. 0 que ficar definido como sagrado nao podera mais ser descontextualizado para fins de entretenimento ficando. em 2006. ver os ensaios de Glaura Lucas (2006a.. do ponto de vista estetico e 0 que pertence ao reino do sagrado.:iio dos Arturos. produtores culturais. Em casos como este. bern assim como as regras proprias de etiqueta que definem os papeis e os lugares sociais e fisicos dos que sao iniciados na tradi~ao ou membros da sua comunidade de origem e os que dela se aproximam na condi~ao de meros observadores ou apreciadores. famosa pelo seu Congado. a propria comunidade come~a a controlar 0 grau de espetaculariza~ao de suas tradi~oes. das secretarias (municipal e estadual) edas empresas de turismo. A reda~ao dessa Carta foi uma maneira encontrada por todos os interessados no ass unto para por limites ao que percebiam como uma descaracteriza~ao dessas formas artisticas.ao das culturas populares 283 de Janeiro se reuniram no Instituto Nacional do Foldore para definir qual seria o formato do samba como geneto musical e da escola de samba como espetaculo coreografico. A comunidade dos Arturos de Contagem. para que suas rela~6es com as comunidades em que desenvolvem seus trabalhos de campo sejam pautadas pel as id"ias de colabora~ao e parceria e nao mais pela profana~ao e a canibaliza<. . uma Comissao de Etica com a finalidade de estabelecer urn c6digo minimo de postura para os pesquisadores. 284 jose jorge carvalho Canibaliza~ao A espetaculariza~ao e conseqiiencia de urn longo processo de preda~ao e expropria~ao das culturas populares que estamos chamando de canibaliza~ao. Esse e0 modelo de canibalismo cultural que e mostrado magistralmente no ja mencionado documentario Viagens Canibais. isto e. lembremos que no seculo XVI a cultura ocidental foi imposta violentamente aos indios e aos negros escravizados. enfim. do ato de deglutir a cultura do outro. a ideia da canibaliza~ao. 0 turista embarca em uma viagem de aventuras controlada pela com pan hi a de turismo para conhecer e tornar-se. a lingua portuguesa e as tradi~oes culturais e as institui~oes politicas de . mas principalmente por outros intermediarios das elites politicas. como se a propria comunidade. A metifora do canibalismo na area da cultura ja tern longa trajetoria e e associada hoje em dia principalmente a industria do turismo. A historia da cultura popular na America Latina ea historia desse movimento constante de ziguezague cultural e de classe. 0 que produz a espetaculariza~ao contemporiinea e a canibaliza~ao praticada nao apenas pelo turista que deseja entreter-se com a cultura dos nativos. que estimula as viagens de pessoas do Primeiro Mundo para lugares distantes de onde elas vivem e supostamente inexplorados. canibal do canibal. Contudo. os quais foram submetidos a catequiza~ao. Tudo se passa como se 0 palco da espetaculariza~ao nao precisasse mais ser removido da comunidade onde vivem os brincantes para ser montado no ambiente urbano onde mora 0 consumidor. como produtores culturais. servidores publicos e pesquisadores. aldeia ou tribo em que vive 0 nativo Fosse transformada em urn palco onde 0 seu proprio modo de vida tradicional Fosse espetacularizado segundo os padroes do olhar do turistalespectador. urn consumidor de costumes alheios e para is so se desloca de seu contexto para 0 contexto do outro. ONGs. artistas urban os. por breve tempo. "primitivo". muito anterior ao desenvolvimento da industria do turismo. com a finalidade de usufrnir de seu modo de vida e de suas expressoes culturais. onde habitam seres de costumes exoticos. tipicamente. 0 canibal cultural e entao. Urn dos costumes exoticos que mais fascinam os turistas ocidentais e justamente 0 canibalismo! Ou seja. desde a Colonia ate os dias de hoje. possui uma longa historia no Brasil. Resumindo ao maximo urn processo de grande complexidade. sociais e economicas. Nos seculos seguintes se consolidaram varias expressoes culturais hibridas nas classes populares. na musica. a maioria dessas expressoes exibindo urn sincretismo religioso e uma recoloca~ao tanto dos elementos autoctones quanta dos europeus. tal como os encontraram ou transformados. quem tern sido ate agora 0 outro canibalizado e averiguar o que acha de ser objeto dessa canibaliza~ao. de difusao) .espetaculariza~io e canibaliza~io das culturas populares 285 Portugal. 0 que significa identificar.talvez 0 Brasil fosse cultural mente muito mais rico pelo seu lado dos artistas populares do que por suas institui"oes (frageis ate hoje) e movimentos de cultura erudita de base eurocentrica. na vestimenta. 0 famoso lema antropofagico "S6 me interessa 0 que nao e meu" afirmou uma especie de direito inconteste dos artistas e intelectuais de elite a retirarem todos e quaisquer elementos das na~oes indigenas. as elites brasileiras foram canibalizando aquelas formas hibridas (que ja entao passaram a ser vistas como originais ou autenticamente populares. etc. Tudo em nome de uma unidade nacional que foi decretada por essa mesma elite sem nenhuma consulta ou combina~ao com as classes populares. como testamento ideologico. Paralelamente. Trata-se agora de nos colocarmos no lugar da vftima desse canibal. na dancra. Esse ziguezague de hibridismo alcan~ou seu apice no movimento modernista dos anos 20 do seculo passado. No movimento pendular seguinte. absorvendo parcialmente aquelas novas sinteses eruditas. em Belo Horizonte e demais centros de poder localizados no Sui e no Sudeste. de que sobressai. sociologic a e historicamente. principalmente nos generos de poesia oral. A questao e que ja ness a epoca 0 pais era riquissimo em tradi~oes culturais populares .opulares surgiram. dada a consolida~ao de urn circuito comunitario proprio para sua transmissao) nos movimentos artisticos do romantismo. procurando representa-Ias em outro codigo estetico. tecnologico. Esse manifesto deu a justificativa ideologica para a canibaliza~ao irrestrita das culturas populares por uma elite social e politica centrada em Sao Paulo e com ramifica~oes no Rio de Janeiro. A canibaliza~iio e sempre discutida no Brasil na perspectiva de urn antropofago pertencente it elite social do pais. em suas obras e suas apresenta~oes publicas. 0 Manifesto Antropo£agico de Oswald de Andrade. politico. mais formas culturais p. das tradi~oes afro-brasileiras e do chamado folclore em geral e inclui-Ios. A atitude antropofagica tern sido uma pratica ininterrupta de canibaliza~ao cultural durante mais de oitenta anos sem haver sido jamais questionada a assimetria de poder (economico. musicos e escritores podem extrair elementos das tradi.ao no seu meio (artistico. neste caso. A canibaliza. Indiferente aos efeitos do seu ato na vida dos que deglutiu. sente-se autorizado para narrar a saga do canibalismo como algo positivo que ele realiza em prol do canibalizado. por exemplo) possam utiliza-Ias. b) Em outra vertente legitimadora da antropofagia. com os seus sinais diacriticos proprios. ribeirinha e equivalentes). 0 canibal torna-se assim. costuma-se argumentar que 0 ato da canibaliza~ao possibilita a continuidade. pretos ou pardos). social. sertaneia. A comunidade do outro cuia expressao ele canibalizou nao e assunto do seu interesse. essa instiincia da canibaliza. enquanto os artistas antrop6fagos de classe media contam com mecanismos legais para preservar a autoria de suas obras e impedir que outrem (como os artistas populares. a Dutra forma. Em uma perspectiva mais fenomenologica.286 jose jorge carvalho entre os canibais urbanos de classe media (em sua esmagadora maioria brancos) e os canibalizados artistas populares de origem camp ones a (ou cai. muitos pinrores. pobres. Contudo.ao e uma forma de pilhagem ou preda~ao cultural.am uso dos seus repertorios.ara. politico.ao ocorre quando uma forma cultural e incorporada. a canibaliza. Assim. mas tambem do que foi canibalizado e que sobrevivera nas entranhas do corpo do canibal.oes culturais indigenas ou afro-brasileiras e inseri-Ios nas suas obras. Esse e1emento devorado sobrevive como urn cristal. Essa versao da canibaliza~ao e defendida polos que a praticam como urn caso de hibrida~ao agregadora ou aglutinadora. marginalizados das redes de cidadania e de decisao nas esferas politicas (em sua maioria negros. depositario de duas historias: da historia da forma cultural "primitiva" que deglutiu e da historia da sua propria arte. nao apenas do que canibaliza. eles nunca questionam a dupla assimetria de direitos que os favorece: os artistas populares nao tern (ainda) mecanismos legais para impedir que os de fora fa. Eis alguns deles: a) 0 canibal devora 0 outro para adquirir para si mesmo uma sobrevida e reafirmar sua posi. 0 canibal. cultural. Os intolectuais e artistas que ainda hoie defendem a antropofagia cultural procuram sempre restringir a discussao as questoes de estetica: todo artista tern 0 direito de utilizar 0 repert6rio das culturas populares em suas cria~oes.ao cultural tern sido concebida e iustificada de varios modos. economico). distinto . mediante a forma cultural hibrida que produz. o que os antrop6fagosculturais da nossa elite nunca fizeram foi perguntar para os brincantes e para os mestres se eles gostam de ser devorados. apresentar-se em contextos de classe media com 0 repert6rio dos grupos. gravar CDs. esse simbolo ganha mais prestigio no novo contexto da arte erudita do qual passa a fazer parte. filmar DVDs. de uma apropria~ao bem intencionada das tradi~6es do outro. niio compartilham seus valores e nem se sentem comprometidos com 0 destino das suas comunidades. e as vezes. ate mesmo. folhetos. Ou seja. publicar livros.espetacularizaJ. "aprendem" ou mesmo retiram elementos da cultura popular para desenvolver seus projetos. Muito longe desse modelo romantizado. podera ser absorvido e sobreviver ainda como parte da expressao de um outro artista. Ele foi retirado porque houve interesse artistico de alguem da elite em faze-lo. Ou seja. comerciais el ou politicos com grupos de cultura popular com a finalidade de produzir eventos. a pratica da antropofagia cultural hoje e uma atividade calculada e pragmatic a que passa necessaria mente pelo estabelecimento de vinculos estrategicos. e os artistas populares tambem podem inspirar-se na cultura dos visitantes e incorporar alguns dos seus elementos nos folguedos e tambem retirando recursos materiais desse encontro.3. Conseqiientemente.o das culturas populares 287 e nitido na sua singularidade. ainda que agora em um novo contexto. artistas ou produtores. Revisar a ideologia modernista da antropofagia e questionar a legitimidade politica de um artista burgues que se aproxima das artes populares com uma inten~ao exclusiva de coleta de dados para estimular e dar corpo a sua inspira~iio estetica. dessa ou de qualquer outra maneira. Quem defende a antropofagia como atitude de rela~ao com 0 outro argumenta que os dois grupos saem ganhando do encontro: os citadinos brancos de classe media.3. Mais adiante. Todas as informa~6es de que dispomos indicam que a maioria dos grupos de cultura popular deseja que seus simbolos sobrevivam e se transformem ao seu modo e nao conforme os designios de pessoas que nao pertencem ao seu mundo. . 0 primeiro ponto da canibaliza~ao e uma recontextualiza~ao e uma ressignifica~ao de um signo que antes circulava no mundo chamado do folclore pel as culturas populares.o e canibalizaJ. para defender moralmente essa pdtica de antropofagia e preciso provar que e esse 0 modo como os grupos de artistas populares querem que os seus simbolos e a sua arte sobrevivam. alem disso. congados de brancos. direitos autorais (individuais e coletivos). duas destitui~Oes: urn achatamento e uma banaliza~ao do jogo polissemico das metamorfoses dos mestres e uma simplifica~ao e uma redu~ao desse lugar de expressao e criatividade. que denomino de "mascarada". Em outro ensaio denominei esse processo de expropria~ao de mascarada. passam a se apresentar em espetaculos tomando 0 lugar dos verdadeiros mestres populares. Nao esque~amos. na epoca em que os chamados minstrels. . Quando a discussao sai da estetica de elite e entra em questoes de cidadania. lembremos que uma das principais habilidades de urn mestre da cultura popular I' sua capacidade de brincar de ser muitos outros. Essa pratica implica quase sempre roubar a cena do outro. ela implica. das complexidades embutidas nessa alternancia topol6gica de identidades. brincar de ser 0 outro ocupando 0 lugar do outro. 0 paradigma antropofagico dos modernistas tern os seus dias contados quando come~am a aparecer grupos culturais de canibais de classe media que. Por exemplo. pintavam-se de negros e apresentavam-se em shows. portanto. industria cultural e turismo. isto 1'. A mascarada significa.288 jose jorge carvalho c) Em uma terceira metamorfose antropofagica. pensemos que 0 branco que canibaliza 0 lugar do mestre e rouba a sua cena deseja brincar de ser 0 outro que e 0 mestre. estar no lugar do outro. Em primeiro lugar. Por essas razoes. alem de copiar as expressoes populares. Em outro ensaio teorizei com detalhe esse processo. Mas 0 canibal nao consegue brincar de ser os varios outros que 0 mestre ou a mestra sao capazes de brincar. Enquanto 0 canibal s6 consegue vestir uma mascara. grupos de capoeira de brancos. apenas a usurpa~ao de urn lugar que nao nos pertence. pode performar de ser 0 outro. 0 canibal devora 0 outro e na medida em que 0 leva dentro de si. Logo. porem. caricaturizando uma gestualidade tradicionalmente negra. portanto. retira-Io da cena do espetaculo e apresentar-se como se fosse 0 outro. esse direto auto-outorgado das elites de espetacularizar e canibalizar as expressoes populares ja nao convence. reprodu~ao audiovisual de apresenta~oes. Esse terceiro sentido da canibaliza~ao I' 0 que melhor revela a dimensao racista dessa antropofagia cultural. pode passar agora pelo outro. musicos brancos. 0 mestre pode lan~ar mao de varias. A mascarada nao 1'. Ele permite urn paralelo com os Estados Unidos. neste momento ja temos maracatus de branco. Rio de Janeiro: Centro Nacional de I'olclore e Cultura Popular! Iphan. Passagens. La etnomusicologia en tiempos de canibalismo musical.). CARNEIRO. Entrevista a Jose Jarge de Carvalho por Cristina Mateu. In: CANCLINI. contribuir para a constru~ao de um novo modelo de interc:imbio e de acesso pleno a cidadania para os que preservam as culturas populares no Brasil e na America Latina. Una reflexi6n a partir de las tradiciones musicales afroamericanas". 2006. In: Celebra(oes e saberes da cultura popular. 101-38. Silvia (arg. Referencias BAUDRILLARD. 14 (28). pp. Culturas populares: contra a piriimide de prestigio e por a~6es afirmativas. pp. Hamilton & LIMA. Josep & MARTINEZ. espelho do mundo. Jose Jorge. Ricardo (arg. 2007. Espetacularizaci6n y canibalizaci6n de las culturas populares. In: FARIA. 65-83. Sao Paulo-Brasilia: Instituto P6lis-Ministerio da Cultura. -.). pp. -. Confiamos em que um paradigma mais justo e igualirario de relacionamento das classes detentoras do poder politico e econ6mico com os mestres e mestras devera surgir a partir do dialogo que agora aprofundamos. esperamos que a partir deste Encontro.). 0 olhar. com os mestres e mestras presentes e preparados para demandar politicas publicas para as culturas populares. Sao Paulo: Moderna. Serie Encontros e Estudos. CHAUI. marque 0 inicio do fim da era da canibaliza~ao unilateral e da espetaculariza~ao profanadora. difusiio e representa(iio das culturas populares. Fomento. . Sao Paulo: Companhia das Letras. Voces e imagenes de la etnomusicologfa actual.l espetacularizaljao e canibaliza~io das culturas populares 189 Finalmente.1975. Carta do samba. Marilena. 2006. A tarefa de todos os presentes neste Encontro havera de ser. Edison (org. 37-51. In: Semintirio Nacional de Politicas Publicas para as Culturas Populares. Lisboa: Edi~6es 70. pp. Janela da alma. BENJAMIN. 1988. pp.). 34-7. pp. A sociedade de consumo.Jean. Belo Horizonte-Sao Paulo: Editora da UFMGImprensa Oficial do Estado de Sao Paulo. Madri: Ministerio de la Cultura. In: NOVAES. 2005. CARVALHO. In: MAR"fl. 2003. 31-63. La Marea. Sao Paulo-Brasilia: Instituto P6lis-Ministerio da Educa~ao. Nestor Garda (arg. 2004. -. Adauto (arg. As culturas afro-americanas na tberoamerica: 0 negociavel e 0 inegociavel. 1962.). 2004. 4-9. Por que e como apoiar as culturas populares". a partir de agora. 12-28. -. Culturas da iberoamerica. Walter. Rio de Janeiro: Campanha de Defesa do Folclore Brasileiro. -. pp. Metamorfoses das tradi~6es performaticas afro-brasileiras: de patrimonio cultural a industria de entretenimento. Neil. Deborah. neiro: Nova Fronteira. 1999. ROOT.290 jose jorge carvalho CUNHA. -. 1997. Sao Paulo: Contraponto. Coloniza~ao e resistencia nas culturas populares da America do SuI. 1998. Musica e tempo nos rituais mineiros dos Arturos e do Jatoba. Vida. On the Making of "Cannibal Tours". VIDEOGRAFIA Cannibal Tours. LUCAS. Cannibal Culture. Guy. 1988. Trabalho apre. Glaura. ' . 72 min. disponivel na Wikipedia. Appropriation. sentado na ill Reuniao da Associa~ao Brasileira de Etnomusicologia (Abet). Dir: Denis O'Rourke. 2006. 1996. Trabalho apresentado na ill Reuniao da Associa~ao Brasileira de Etnomusicologia (Abet). Texto de 9 pagins. Rio de Ja. DEBORD. em Brasilia. 15 de setembro de 2006. Antonio Geraldo. and the Commodification ofDifferenee. SPIGUEL. 0 batuque e os "Filhos de Zambi": recria~oes socio-musicais na comunidade negra dos Arturos. A soeiedade do espetaeulo. Art. 1982. Boulder: Westview Press. O'ROURKE. 0 filme. Dieionario etimol6gieo Nova Fronteira." . GABLER. Australia: CameraWork. . Conferencia proferida no I Encontro SuI· Americano das Culturas Populares. 2006. Sao Paulo: Companhia das Letras. Dennis. Claudio. dandome salud permanente. equilibrio integral. Pero no entienden nada. catequista y rezadora de la Capilla de "La Merced" en Villa Independencia.Capitulo 10 COSMOLOGICA. Pastor J . Yo voy al seminario. Talisman: pido al Padre eterno y poderoso. Porque ahi. Esos tipos son un peligro.. Felicidad" (del cuaderno de poesias de Mari. Que rechace con firmeza y arroje para siempre de mi cabeza todo espiritu maligno. Esta es la que hago cuando voy a rezar al altar del Gauchito: "Con la extraordinaria fuerza que me confiere la fe. que por medio de este gaucho invencible. HOLISTAY RELACIONAL: UNA CORRIENTE DE LA RELIGIOSIDAD POPULAR CONTEMPoRANEA PABLO SEMAN Introduccion y o escribo muchas poesias. Antonio Gil. Que me brinde su poder para que no haya mal alguno en este mundo que pueda vencerme o lastimarme. 10 leen todo como para controlar 10 de la sanidad divina. Dinero. en el seminario. Provincia de Buenos Aires). tampoco seamos evangelio (Carlos V. La gente me pide. Justicia. Mira. 5i es asi. Yo quiero aprender alguna vez a leer la Biblia en la lengua original. en hebreo. Antonio Gil dame 5alud. Dicen que es para que no nos persigan por ejercicio ilegal de la medicina. creador del universo. en griego. Pero para que me habiliten la Iglesia. dominador de la vida y la muerte. Arnor. proteja mi cuerpo y mi alma contra toda clase de danos y peligros. Pentecostalismo. Provincia de Buenos Aires). de 10 que se trata es de ver como es uno mismo eI que se corta los caminos. Las afirmaciones de la catequista catolica y la del pastor pentecostal contrastan con la de lacurandera: si las dos primeras afirman una especie de razon mistica. vease Pierre Sandlis (1997a) que muestra que el campo religioso brasilefio debe dividirse en rerminos de vertientes y 16gicas culturales antes que en denominaciones religiosas .292 pablo seman de la Iglesia "Vina del Senor" en Villa Independencia. 0 yes algo de el. 0 del uso de los curanderos. A modo de ejemplos paradigmaricos. de curanderos que se apoyan en la difusion de una cultura psicologizada quiero plantear un punto de partida que. es mucho mas que una hipotesis: eI mundo de las denominaciones religiosas (cada uno de los segmentos en que dividimos a las experiencias religiosas: Catolicismo. Provincia de Buenos Aires). Pero yo siempre me quedo con bronc a con eso y les pregunto.) esta atravesado por logicas culturales diferentes y eI sentido de la experiencia religiosa. depende de la tonalidad que impongan esas logicas tanto 0 mas que la pertenencia a una u otra religion. un continuum de experiencias ] Numerosos autores realizan esta actitud analitica de diversas maneras. al mismo tiempo. que reune los hechos de ser cosmologica . sino en eI "mas ad" . a esta altura.' Asumiendo estas consideraciones como premisas. Con esta evocacion de agentes religiosos catolicos y pentecostales que parecen curanderos. Peropasa al reYes: es que como vos no te pones a ver las cosas mejor. curandera y cartomante de Villa Independencia. (1997). aboga por amilisis que teogan en cuenca tanto la porosidad de las fronteras denominacionales como la creacion de homogeneidades y continuidades que subviertan las heterogeneidades institucionales.holista y relacional . Porque capaz que vos crees que alguien te esta haciendo algo y entollces ya 10 yes cerCa de tl. .en tanto afirma. los caminos se los corta uno (Pequi. Entonces. y crees que eso te corta el camino. se te cortan los caminos. 0 con que les cierran caminos. la ultima subraya eI poder del yo en la constitucion de una imagen positiva del mundo y en la produccion de acontecimientos felices.y el de Otavio Velho (1987). quien en trabajos tan distintos como los tres citadas. etc. La gente siempre viene con que alguien les dio un gualicho. me propongo mostrar que entre los sectores populares existe una corriente de pnicticas y representaciones que atraviesa denominaciones y pnicticas autonomas. en realidad. Porque.en tanto presupone que 10 sagrado esta no en eI "mas alia". Elimaginario religioso es la via regia para acceder a una concepcion de la persona que con todas las variaciones que puedan existir se opone a las nociones de persona que fueron elaboradas en el sene de la cultura europea. al describirla y considerando que la primera parte de este trabajo muestra la eficacia de las visiones mecanicas de la modernidad en la oclusion de las diferencias culturales. en el marco de una operacion de racionalizacion que consiste en su comprension. existen razones especiales para referirse a ella. Sin embargo. De cierta forma esto es 10 que permite entender que ciertas formas de concebir y presentar a Latinoamerica caen en el error de tomar a ese imaginario en su apariencia irunediata de irracionalidad: no se trata de presentar a Latinoamerica como si fuera el Macondo fantastico pintado por Gabriel Garcia Marquez sino de producir interpretaciones que sean capaces de ofrecer una alternativa a la captacion literaria de ese imaginario. Lo que pretendemos aquf es una exposicion que pueda dar cuanta de ese rasgo contrastante mas alla de la folklorizacion 0 el denuesto. la preeminencia de la totalidad y el caracter de parte con el que participa cada sujeto en esa integridad -. Este desarrollo simbolico es una de las claves de la contraposicion entre la modernidad y el desarrollo de la cultura europea clasica concebida como cuna y entorno del individualismo en sus versiones mas diversas. Esta no es la unica corriente que observamos en la vida religiosa de los secrores populares. romanticamente influenciada. nuestro ensayo intenta captar los fundamentos de esa imagen reduciendolos a sus premisas. como quien ex- . es la presencia de una logica de constitucion de la persona cuyos terminos no son el puro contrario de los supuestos del humanismo sino una singularidad que puede iluminarse en el contraste que ejercemos en este articulo. Si algo permite muchas veces imputar un caracter magico a la mentalidad popular latinoamericana.cosmol6gica. si algo permite comprender los problemas y obstaculos para la instalacion plena de una logica de la autonomfa y la ciudadanfa. holista y relacional: una corriente de la religiosidad 293 que la ideologfa moderna divide en compartimientos estancos. Mientras esa captacion litera ria. intenta versionar esa identidad como quien intenta reproducir una imagen. Si bien la presentacion chisica de los temas y practicas de esta logica culturailleva a considerarla agonica y crepuscular intentaremos ofrecer claves de interpretacion que muestren hasta que punto se trata de una corriente vital y contemporanea. en la explicacion de sus aparentes inconsistencias. Asirnismo. estaremos ofreciendo un ejemplo paradigmatico de la consistencia de esas diferencias. incluido el humanismo. un conjunto de colo res. mas que realizar el ideal de la neutralidad cientrfica.294 pablo seman plica una imagen. Esta reza que la cultura de los grupos populares merece un enfoque que. enfrentaron el problema yhan dado lugar a terminos e impasses que permiten elaborar la premisa en que desemboca este punto. un conjunto de colores. por el otro. Tambien aFgiiire a favor de la necesidad de relativizar categorfas de analisis que. Cultura y religiosidad popular La nocion de "cultura de los grupos populares" abarca multiples trazos culturales y multiples sujetos sociales segun las mas diversas interpretaciones. efectue un movimiento de desfamiliarizacion en el que la homogeneizacion cultural no sea la unica deducci6n posible de la generalizacion de usos y objetos del ambito urbano (que no se deduzca de la extension de la escuela. etc. mas alia de los condicionamientos derivados de las situaciones de subalternidad y privacion asuma. una forma de obrar de la luz. la primera parte del trabajo explicita un concepto de cultura popular del que deriva las premisas que utiliza en el abordaje de la religiosidad popular. y los conecta con una investigacion bibliognifica en la que se fundan las pretensiones del grado de generalidad que nos hemos propuesto sostener. por sus fundamentos fisicos una longitud de ondas. y en el contexto de reflexion generado por las premisas de la :primera. Del estudio de la cultura de estos grupos es preciso resenar concepciones que. de los sectores populares urbanos. la positividad y el sentido fuerte de la diferencia que esa cultura presenta y. con importantes matices y divergencias. la television y las zapatillas Nike. por un lado. En este articulo. remitimos el sentido de la expresion a una de sus posibles acepciones: la produccion simbolica de las camadas sociales de bajos ingresos. 1 . Con este proposito. la homogeneidad cultural entre los sectores populares y el resto de la sociedad). presenta afirmaciones de canicter general: recoge resultados de una investigacion empirica que forma parte de mi tesis doctoral. En la segunda parte. y segun una definicion que subraya los aspectos culturales de un recorte sociologico y sociodemogr:ifico. Este trabajo. que concierne a la religiosidad contemponineamente desarrollada por sujetos de los sectores populares urbanos de paises como la Argentina y Brasil. expresan el compromiso con una version de la cultura moderna y sus presupuestos. describire tres trazosque caracterizan las experiencias religiosas de los sectores populares en nuestros dras. y que no implican. mas actualizados y profesionales han descripto 10 popular como e1 resultado'de procesos de produccion simbolica de los grupos subalternos en relaciones de intercambio y conflicto con otras clases sociales. es posible observar la tension entre una caracterizacion negativa que subraya la relevancia de la privacion. en relacion con los patrones contemporaneos (modernos). tropiezan con el obstaculo que supone el interes politico e inmediato han referido. Grignon y Passeron serian ejemplos paradigtmiticos de las segundas. un abordaje antropologico (Sl es que. rouy discutiblemente. de contraste y comparacion. un momento transitorio de un camino forzoso y finalmente feliz: en e\ mismo serian liquidados los rasgos de tradicionalismo y adquiridas las competencias y recursos que sancic)Uarian la inclusion de los marginados en la modernidad. 3 Dado que me referire frecuentemente a este concepto valga una larga explicitaci6n. pueden ser estudiados en su positividad y. como a la posesion de una heterogeneidad que deriva de la coyuntura historica en la que surge as! como de sus diversas raices sociales. un imaginario. debido tanto a la naturaleza cambiante de su historicidad. en la medida en que en eUos predominan las referencias a la marginalidad. Por otta parte. a veces mas empiricos. la c1ase. Thompson. al mismo tiempo. 3 EI evolucionismo implicito de esteplanteo 2 Redfield. mas sistematicos. una ideologia. muchas veces depositaria del sentido del devenir social (el pueblo en sus mas diversas inflexiones. al canicter pobre de 1a cultura de la pobreza. en amplia escala.). holista y relacional: una corriente de la religiosidad 295 Diversos abordajes como el folklore. el ensayismo social. y otra positiva. Este trabaio se alinea con las visiones positivas que implican un fuerte movimiento de relativizacion. apuntalado en los valores individualistas y en dispositivos de racionallzaci6n tecnica sigue . 2 La perspectiva que enfatiza las categorias de desposesion ha supuesto que 10 popular urbano representa. pese a su valor analitico. se deduce que 10 popular no liene un canicter esencial. Williams. en algunos casos con el de los anteriores. En este articulo entendemos el termino en dos sentidos: 1) Como ideologia y proyecto cultural plasmado en buena parte de las sociedades occidentales. un sujeto popular que se presenta como una totalidad homogenea. En 'sintesis. se identifica este termino con 10 exdusivamente micro): una tradicion cultural. Entre las concepciones que de alguna forma respetan esta definicion. la carencia y las re1aciones de dominacion. De esta consideracion. Otros desarrollos cuyo origen coincide. una y otra vez. necesariameme. que busca captar 10 que esas culturas afirman pese a sus condicionamientos. a la que suscribimos. pero si un area de la sociedad donde se constituyen sujetos". etc. Con esto se ve que esta clasificacion es abarcadora y que no se propone dar cuenta de especificidades dentro de esas dos grandes categorias. los grupos populares "no son un sujeto historico. a su imposibilidad de ser algo mas que una imitacion degradada de la cultura dominante. y versiones de las ciencias sociales que. el campo popular. Lewis 0 Bourdieu pertenecerian a 'las primeras.cosmol6gica. la politica. y como afirma Romero (1987). . 2) Mas ampliamente. Ademas. 0 herramientas aun no sustituidas por (que gobiecnan la re1acion con la naturaleza). el de la cultura de los grupos populares latinoamericanos. 0 a constituirse en una forma solo resistencial 0 contestataria. contestaciones y/o superposiciones con logicas culturales distanciadas de Ja modemidad. En uno y otro caso las configuraciones culturales de los grupos populares son reconocidas como el efecto de un ajuste a situaciones de carencia (desposesion material. Estos patrones nenen una relacion de afinidad con la modemidad que puede ser mentada s610 en tu1 sentido muy generico y que. Asi. en los analisis de 1a religiosidad popular. con penosas consecuencias. la modemidad implica una dimension ffiitica en la que se concibe a sf misma como automatismo que Ie da camino y destino homogeneo a la experiencia humana (sobre esta definicion. una vez perdido su anclaje supuestamente primario. 1986).' Y como resultado de la aplicacion de esas premisas. esci sujeto a lU1 grado mucho mas alto de variaciones. 4 Nuestro argumento problematiza la pretension de exclusividad de esta opcinn pero no desconoce que en terminos de ciertas relaciones y distribuciones esa negatividad sea exacta. son apenas el negativo de la modernidad. la medicina 0 la estetica popular sedan gestos de reconocimiento incompetente de la cultura legitima. las teodas sociologicas y antropologicas del conflicto intuyen que la opresion es la unica reaiidad que se expresa en la cultura de los grupos populares: esta se desarrolla exclusivamente en funcion de esa situacion y esta condenada a reflejar la dominacion que padece.296 pablo seman se complementa con la suposicion de que los modos de vida de esos grupos. politica (que regulan a traves del derecho el vfnculo entre los individuos) y psicol6gica (que ordena las relaciones de los individuos consigo mismos instituyendolos como tales). es 16gico que puedan verificarse sus puntas de fracaso. las cosmovisiones expresadas en la religiosidad. politica 0 cultural). Uno de los casos que simomatiza 1a situacion singular y reelaborada de la modemidad latinoamericana es. En tanto la modernidad es un proyecto. ver HervieuLeger. refiere a los patrones de desarrollo privilegiados par los grupos dominantes de las diversas naciones latinoamericanas. donde la sociologia modernizante ve atraso. formas de resistencia en las que el ingenio popular se sobrepone a las carencias. debido a las caracteristicas de las sociedades 1arinoamericanas. Mas adelante mostrare que esta dimension mirica media. Paralela y convergentemente. En todo caso. como intentaremos mostrar aqui. se burla corrosivamente del poder. a los grupos populares les sobrarian supervivencias del pasado y les faltarian la racionalidad y los bienes que los tornadan ciudadanos plenos de la cultura contemporanea. inconsecuencia e incompleto desarrollo debido a contestaciones 0 variaciones sociales e hist6ricas de ese proyecto. las teodas del conflicto social contribuyeron a ignorar la positividad de la cultura popular al definirla solo en funcion de relaciones de hegemonia. sugerimos que existen orras categorias que contienen y redimensionan las posiciones negativamente privilegiadas y las identidades en las que se manifiesta el reconocimiento de esas situaciones. y no un automatismo metasocial. concebida como un imperativo a un mismo tiempo etico y objetivo: asi. conflicto y subordinacion. Tampoco pretende sostener que los grupos populares en su produccion simbolica no se reconOlcan en diversas categorias de privaci6n. Asi..cosmol6gica. sino una capacidad de reelaboracion apoyada en una matriz cultural "otra" permanentemente activa en la reutilizacion de todo aquello que Ie imponen la dominacion y la cultura dominante. referente a un elemento sociocultural que se imp one inmediatamente a los sentidos y resiste a la aculturacion con fuerza proporcional a su inconciencia. una etnografia lucida y reciente muestra que aun en ellimite inferior del "hambre" se sigue seleccionando. holista y relacional: una corriente de la religiosidad 297 medios mas eficientes de resolver los apremios vitales y nunca una forma diferente de problematizar la experiencia. J se funda entonces en ·Ia tendencia etnocentrica a no desterrar el sujeto mas que cuando se trata de las clases populares". 1998). y avanzar hacia los fundamentos del enfoque positivo. Si el modo de vida de esas clases es una elaboracion activa en la que pese a todas las condiciones se ejerce una seleccion valorativa. un corte organico. 5 Justamente por ser extrema. Quizas. que aun recogiendo comida de la basura se elige y se prepara con "estilo" 10 que se termina ingiriendo (vease Marta Jardirn. no implican una posicion estructuralmente escindida. permitiria capitalizar el concepto de Grignon y Passeron bajo una forma menos voluntarista.. no debe ser considerado solo como e1 resultado de las imposiciones del medio social (sean estas el "atraso" 0 la dominacion). con menos concesiones a una imagen filosoficamente liberal de la autonomia y la capacidad de elaboracion cultural alternativa. » . Frente a la distincion ideologica entre capas populares condenadas a un supuesto "gusto de la necesidad" y capas dominantes que ejercerian monopolicamente el "gusto de la libertad". 10 que supone repatriar la antropologia posevolucionista del campo de las culturas indigenas al de las culturas populares.5 De acuerdo con 1a vision de estos teoricos la positividad de la cultura de los sectores populares. Grignon y Passeron (1992) responden a estos supuestos e insisten en la necesidad de percibir una estructura diferencial de la experiencia popular. ambos autores afirman que las clases dominantes no son las unicas que poseen un modo de vida elaborado activa y creativamente (un "estilo de vida para si") ni dejan de Tener un modo de vida que no sea derivado de constricciones y reconstituido por un observador externo (un "estilo de vida en si"). "Ia oposicion entre el estilo de vida en si de las clases populares y el estilo de vida para si de las dominantes [. y su diferencia con la cultura dominante. podria incorporarse un matiz correctivo: la formula de Gruzinski (1991). con que Bourdieu y Wacquant (1999) caracterizan al imperialismo cultural que co-constituye al modernocentrismo."t 298 pablo seman EI modernocentrismo como obsmculo epistemol6gico en el amilisis de la religiosidad popular La apreciacion de la citada capacidad de elaboracion pone en juego dos problemas intimamente vinculados. dare las indicaciones mas generales acerca de la matriz cultural en que se apoya la produccion de una corriente "cosmoI6gica". y carece de hipotesis acerca de versiones historicamente cualificadas por distintas formas de vivir su proyecto y de organizar su hegemonia. En primer lugar. Esta identificacion consuma el poder de universalizar los particularismos ligados a una tradicion historica singular (haciendolos desconocer como tales). Touraine discute estos conceptos y presenta los puntas ciegos de la teoria social en cuanta a sus versiones de (y sus compromisos can) la modernidad. una nueva teologia. De un lado. pero tambien como obstaculo para el conocimiento de la cultura de los sectores populares. Segun los modernocentricos la modernidad transforma el mundo como el paso de Atilao como el rey Midas: esta privada de singularizaciones. El modernocentrismo resulta tanto mas peligroso (mas eficaz) cuanto mas asume en la descripcion de 10 social una teoria social que. 1. capitalizando los conceptos hasta aqui presentados. Vease Touraine (1994). con casos relativos al analisis del campo religioso. En los dos puntos siguientes. De otro. . la identificacion con su mito. el hecho de que la capacidad de los grupos populares de elaborar formas culturales propias no significa escision de la totalidad ni la aparicion de un caos de apropiaciones sin tradiciones de apoyo. "holista" y "relacional" de la religiosidad popular. el hecho de que la identificacion con el proyecto de la modernidad debe ser entendida como impulso. resumire brevemente estas cuestiones. paradojicamente. agobiada por una vision metasocial de la 6 En una obra insospechable de antimodemismo romantico. peeo iluminadora y arrasadora de prenociones. resulta en un particular etnocentrismo: 6 el que se identifica con los valores liberadores de la modernidad pero. como bien observo Castoriadis (1990). La representacion deshistorizada de la modernidad. definire y ejemplificare. mecanicismos y senridos comunes modernistas. asume una vision historic a que la piensa metasocialmente como un mecanismo de imposicion absoluta y homogenea subtendiendo. Luego. el obstaculo epistemologico que supone el modernocentrismo. sobre todo. 8 Es el modernocentrismo el que. el testimonio de su problematica . es la escuela la que conduce en las clases medias a la erosion de las etiologlas mlsticas. Se trata. como si su difusion ocurriera en una cultura cerrada. 8 No todas. supo existir desde antes de esa hipotetica revolucion. en complejas negociaciones con las Iglesias establecidas. como expresi6n de una forma de piedad que ya en sus origenes distaha de los moldes modemos que encriptan e interio~ cizan 1a emocion. te6rico del positivismo y dotado de un profunda sentido comM. acabaria con la supersticion. en d pentecostalismo como sub·version 0 ampliaci6n permitida de la version ortodoxa de la santidad limitada a 1a declama~ cion puritana. holista y relacional: una corriente de Ia religiosidad 299 modernidad. disuelve la especificidadde la practica cosmologica popular 'al interpretarla como expresion de una crisis de la madurez de la modernidad siendo que es.la riqueza heterodoxa de la mal llamada "multiple afiliaci6n religiosa" (sobre este punto ver mas adelante). 7 Es el modernocentrismo el que universaliza los problemas de su temporalidad social y 10 mide todo por referencia a Sl mismo. Bunge explicaba este "fracaso" en terminos que atienden. Esta suposicion es la que lleva ecuacionar bajo el titulo de religiosidad "nominal". hipostasia la familiarizacion indebida de las pnicticas populares. inflexible y eterna. Lo que dicen las maestras es desmentido por las familias".cosmol6gica. Lo que en algunos casos sude confundirse con emocionalismos retornan~ tes. en una arcanoamerica 7 La prevision de los efectos secularizantes de la difusion de la ciencia. progresista. Mientras el modernocentrismo inhibe la percepci6n de los efectos diferenciales de la difusion -de la medicina. se condena a interrogar la expansion del pentecostalismo como si s610 pudiera ser la perversion 0 la replica del protestantismo. ASI 10 hace cuando. . maestros. con los padres preconciliares. mas que mucha ciencia social imbuida de precauciones epistemologicas. no reparaba en la cantidad de mediaciones que reinterpretarian ese influjo en las innumerables casamatas que resistirian 10 que era imaginado como una blitzkrieg cultural que. yen-las clases populares a una duplicidad defensiva -frente a la inquisicion de medicos. al centrarse en un conjunto limitado de experiencias historicas. de no asimilar a ella 10 que se parece en terminos exteriores pero tiene otras rakes y. plantada desde el centro de los ideales y estrategias modernizantes. Otro contexto. den unci ada por los sacerdotes. supuestamente tenue y poco intensa. a la riqueza y complejidad de 10 social y del conflicto implicado en la seculari~ zacion: "no pensemos que la gente va a dejar de creer en el empacho porque en la escuda se enseiia sobre virus y bacterias. No se trata de negar la existencia de 1a portentosa corriente de religiosidad que se genera en el seno de las tensiones propias de 1a modernidad.implantaci6n. Agnostico. simplemente. fenomenos que apenas tienen similitud externa como las propensiones laicas de las clases medias y la irregular pnictica sacramental popular que. psic610gos y asistentes y cientistas sociales. mas bien. En el catolicismo. tal como 10 observo agudamente Francisco Rolim (1985). en una sociedad multitemporal. son hrotes de emocionalidad que reaccionan frente a 1a sequedad de iglesias racionalizantes. se desquita en . en pocas generaciones. ni la mayor parte de las practicas religiosas populaces crecientemente visibles en las ultimas decadas. encuentra corroboraciones en la antropologia de sociedades complejas contemporaneas. en su interpretacion acerca del sistema de castas de la India. Lutero y Calvino. Maria das Dores (1996) muestran que fa salida pentecostal a los problemas familiares exige un modelo mas complejo que la simple tension entre el individualismo dasico y una posicion irreductiblemenre patriarca!' Ademas debe decicse que la igualacion pentecostalismo-protestantismo se basa en una homogeneizaci6n indebida: el pentecostalismo supone ya en su origen importantes diferencias con las teologias protestantes clasicas. para recrear la aventura americana. Daniel (1997) e1abora una critica de los terminos de este debate y muestra en que medida se deriva de supuestos etnocentricos sabre America Latina.I . sino de la perspectiva teorica escogida. En un nivel mas concreto y mas especifico. Esta posibilidad desarrollada teorica y empiricamente por Dumont (1992). Cecilia y Machado. Dayton. Nos permitimos seiialar brevemente la alternativa conceptual en la que se basa este articulo: a la idea de agente como individuo historicamente invariable. . jerarquica y complementaria (opuesta al individualismo moderno). no es cualquier diferencia. ecualizada y relacionada por convenio es un caso en el que esa construccion es radicalmente negada). la quiebra del modernocentrismo no puede ser efecto de una declaracion 0 de la simple intensificacion de la suma de datos acumulados. 300 pablo seman I macondiana. cual peregrinos del Mayflower. y que las clases populares. cuya variabilidad cultural es empiricamente constatable (y dentro de las cuales el individuo moderno y su representacion atomizada. encuadran su experiencia de forma holista.. Mariz. no es una matriz "otra" en abstracto. Miguez Bonino (1991) y Corten (1997). 10 Duarte (1986) ha desarrollado con profundidad estas altemativas. insisto.10 2. Este dato. Frente a diversas versiones del impulso 9 Miguez. abarca un hecho pleno de consecuencias: el pemecostalismo disponia en su propia estructura teologica de un potencial de apertura frente a la religiosidad popular y sus cosmologias holisticas que hace mas plausible la interpetacion que sostenemos en los proxirnos puntos. El paso que hace equivaier esa posicion con modemocentrismo es responsabilidad del que suscribe. Ahora bien la cultura de los grupos populares urbanos de latinoamerica no es cualquier cultura popular. 0 en una tierra vada a la que los bautizados en el espiritu llegarian.' Al originarse en las formas que nos informan como sujetos. Miguez Bonino y Corten destacan que el pentecostalismo y los movimientos que estan en su raiz reintroducen enfasis teol6gicos que colocan el problema de la gracia en rerminos menos rigidos que los de las teologfas de Zwinglio. que no es superfluo. amortiguando la trascendentalizacion de 10 divino y alentando una b6squeda de mediaciones y rnilagros. revela que no es necesario ir tan lejos en el tiempo y en el espacio para encontrar variaciones respecto de las figuras ideales de la modernidad. existen en los sectores populaces otras corrientes cuya diferencia requiere para su descripcion de otrOS apoyos teoricos. en forma relativa a la cultura dominante en las clases medias yen las elites innovadoras. Mauss opuso el concepto de "persona" como construccion. Vease Dayton (1991). Mi argumento despliega algunas de sus consecuencias e intenta proseguir su notacion teorica para caracterizar este aspecto de la religiosidad popular aunque. sino de desfamiliarizat. es relativa. mas necesariamente cargada de precauciones. si es efecto de la reinterpretacion de rerminos compartidos con esa cultura. 10 que complejiza aquello que en la arquitectura social de las elites (yen los analisis que presuponen hegemonias absolutas y totales) era un drculo perfecto que las tenia por centro exclusivo. ver Geertz (1999) ." No se trata de tornar familiar algo que seria extraiio.otra" a la que he referido mas arriba. presenta una diferencia que. pero es un foco en el que ella se ha consumado en una combinaci6n espedfica. de esta matriz cultural y sus determinaciones mas generales desarrollare la parte mas espedfica de mi a 11 Sabre la viabilidad. En el contexto de la postulaci6n de esta diferencia y de esta relatividad. mas necesaria. como una cultura indigena 0 una supuestamente arcaica y simple comunidad tradicional.L . . vis vis la cultura englobante. mas dificultosa. la relatividad de esta diferencia no la toma menos importante 0 menos consistente y hace asu captacion. holista y relational: una corriente de la religiosidad 30 I modernizante sostenido por las elites. esa matriz procesa segun sus reglas las mas diversas interpelaciones.todo 10 que esto difiere del "desarrollo y la realizacion personal". se ha moldeado aquilatandolo en composiciones de una configuracion espedfica: priorizando los valores de la familia (en la que la diferenciacion de papeles y complementaridades difiere del universo moderno del proyecto individual y la carrera). de volver extraiios los terminos que supuestamente se comparten con los sectores populares pero que en su experiencia reciben otra interpretaci6n. pero no deja de ser una estructura de acogida que "distorsiona" 10 que viene de otros polos de la sociedad: como la ostra mitica. ese epicentro de elaboraciones diferenciales se renueva y cambia. la localidad (que supone toda una distancia de los modemos "nfasis universalistas y humanistas). la necesidad y la dificultad de los ejercicios de relativizacion en la sociedad contemponinea. que pertinazmente transforma en perlas los mas diversos elementos. No obstante. 1deologemas de losgrupos afinados con lamodernidad. "corazon" y templanza en dosis apropiadas al hombre y la mujer y en .cosmol6gica. la reciprocidad (Ia conciencia de pertenecer a un entramado de dones y contradones y todo 10 que esto dista del contrato) y el trabajo {ia capacidad de combinar "fuerza". Esa matriz ". Tal idea conduce a una especificaci6n de importantes consecuencias para nuestro argumento: si la cultura popular se constituye en intercambio y relacion can 1a cultura de la sociedad englobante a la que pertenece su diferencia. Esta configuracion de motivos no es ajena a la modernidad. paradojalmente. en cambio. en todo caso. y supone que 10 sagrado es un nivel mas de la realidad. holistas y relacionales que son la expresion analiticamente disociada de una de las corrientes en que se organiza la religiosidad de los sectores populares. una concepcion que torna efeeto de esa vision la vivencia del cuerpo y de sus propias divisiones. nos enfermamos. . una autonomia y una segmentacion de dominios de modo que desde el punta de vista moderno es justificado hablar de 10 trascendente y 10 sobrenatural. obliteradas por el obstaculo epistemologico que representa el modernocentrismo. nos curamos y nos ligamos a instancias totalizantes y sobrehumanas de acuerdo con un concepto de persona que esta encriptado en esa lengua madre. La experiencia cosmol6gica de los sectores populares no ha perdido esas referencias que. "holistas" y "relacionales" de la religiosidad popular. sobre todo. esta mas aca de las distinciones entre 10 trascendente y 10 inmanente. La religiosidad popular de cualquier tiempo no es la simple subversion 0 el libre uso de las nociones oficiales. Esta ha sido la cultura que instauro una cisura radical entre el aqui yahora y el mas aHa. la forma y la localizacion de 10 sagrado.pablo semm 302 argumento: la caracterizacion de los trazos "cosmoI6gicos". En este contexto y dentro de las plurales expresiones populares. un divorcio entre los hombres y los dioses. sino su declinacion en terminos de otra lengua madre a la que es preciso dar relevancia en la interpretacion. recortamos y exponemos aqui los tres trazos que caracterizan a una parte relevante de esas expresiones: los caracteres cosmologicos. entre 10 natural y 10 sobrenatural. la forma dellazo que une a unos sujetos con otros y la totalidad. reflexiono acerca de una contraposicion clave de la tendencia propia de la modernidad. Cosmologica Cuando afirmo que la experiencia popular es cosmologica. Tres claves de interpretacion de la religiosidad popular Esta problematizacion radica la cultura y la religiosidad de los sect ores populares en el seno de una concepcion singular del mundo. La vision cosmologica. Nos relacionamos social y politicamente. fueron roidas por algunos de los avances de la modernidad y. 1994). 248) genera una sacralidad que no es radicalmente trascendente y que. 10 es en los terminos propuestos por P. si permite su permanente invocacion por la logica popular. ni mas ni menDs. En la experiencia popular. contrastan· do concepciones del creyente moderno con las de un peregrino que vive el "realismo fantastico". Como muestra Duarte (1986). pp. 206. holista y relacional: una corriente de la religiosidad 101 La diferencia de posiciones de 10 sagrado en la experiencia moderna y en la cosmologica popular es evidente en dos manifestaciones clave. 12 Ahora bien. Este "plano de posi~iio rnais encompassadora da visiio de mundo dos grupos populares" (Ibidem. mientras Rubem Cesar Fernandes. 10 espiritual y 10 divino que integran un continuum y no un sistema de compartimientos estancos. Mi interpretacion de la diferencia entre la idea de milagro propuesta par la IVRD y la de la tradicion moderna. como banal. en la forma espedfica que cobra la existencia de una pluralidad de religiones. Si esta es una vision magica. es por que ella supone 10 sagrado a la orden del dia.<plicable. Para la experiencia moderna. como clave de interpretacion. en segundo termino. . 209) "supoe a intima conexao entre os pianos da Pessoa. en'la que este termino es empleado con frecuencia significa 10 mismo. p. p. da Natureza e da Sobrenatureza" (·Ibidem.cosmol6gica. Mi propuesta de interponer. 11 Andre Conen (1998) muestra como estos son los trazos caracteri'sticos de la idea de milagro en la tradicion que va de San Agustin a Hobbes y de que manera la IURD desarrolla una idea de milagro diferente de la de esa tradicion al instituirlo como natural. una mentalidad cosmologica haria entender par que la estrategia descripta par Corten resulta tan eficaz. En primer lugar en el valor diferencial con que se presenta la categoria de milagro y. Sanchis (1997a. ya que la definicion de la totalidad que encuadra la experiencia siempre incluye. la experiencia popular esta centrada en la totalidad e implica un plano de representaciones hiperrelacionales (que vinculan elconjunto de las relaciones que defienen a un sujeto con otro nivel) que "conforme a defini~iio de Levi-Strauss. afirma que en esta perspectiva se vive la "presen~a na terra de uma for~a maior que as for~as terrenas" (Fernandes. refiere a esto como una'vision encantada. se habla. sigue el argumento propuesto par Corten. opera «a exigencia de urn determinismo·mais imperioso e mais intransigente»". Patricia Birman (1995). el termino "milagro" es sinonimo de excepcional e inel. el "milagro" nunca ha dejado de estar a la orden del dia. y en un nivel sobredeterminante. es preciso preguntarse si en la experiencia cosmologica popular. de la eficacia de uno de los principios constitutivos de 10 real. Cuando en la experiencia cosmologica se habla de "milagros". entre otros. perciben la complejidad social en la que se inscribe la presencia de este e1emento y afirman que el esta en la base de una relacion de simultanea resistencia y adaptaci6n a la modernidad. alejada de cualquier iglesia. Es cierto que muchos de los que habian dejado atras las tradiciones religiosas las han recuperado como Fuente de sentido en una actividad que. describe en su funcionamiento en las dos denominaciones citadas y en otras espacios del campo religioso brasilero. no refieren entonces a una infra religion o a la expresion de un utilitarismo amoral. recurren cada vez mas. Parker (1993). con ponderaciones relativas al grado en que este factor inhibe la emergencia de una America Latina protestante. Mariano (1998). Stoll (1990) Bastian (1992a. sino al efecto de una perspectiva imaginaria: segun ella. muchas veces. Estado y medicina. En la experiencia popular. Maues (1995).304 pablo seman 104). es de busqueda deliberada y reactiva frente a esas vicisitudes criticas.ausente y no es necesario volver a la Fuente. Esta mentalidad no se manifiesta exclusivamente en la cotidianidad domestica. Varios trabajos seiialan cantinuidades de una vision encantada en las practicas y representaciones de miembros de iglesias catolicas y pentecostales (aunque conciben y evaluan este e1emento cosmol6gico de formas diferentes). tias que rezan y altares hogareiios . las ofrend as. politica 0 econ6mica. 10 muestra presente en eI catolicismo y Sanchis (1997). Oro (1994) y Mariz (1994). como consecuencia de ello. la magia sobre la cual eI autor citado tiene eI cuidado de poner camillas. la capacidad de donacion de sentido de la experiencia religiosa no se ha hecho . 1992b). Los sujetos modernos sufren muertes de familiares. 0 en abstracto. las mediaciones sensibles no son meros medios sino elementos portadores de matices eticos que son movilizados en un regimen de intercambio con los niveles superiores de 10 real. Estos terminos. Los analisis del pentecostalismo de Martin (1990). pera tarn bien curanderos. desilusiones politicas y amorosas. 10 seiiala como base de otra logica que designa una particularidad de la cultura latinoamericana. Suele afirmase que la religiosidad crece en virtud de la crisis social. pera en ultima instancia. a las religiones. estres laboral y. que observa en esta sensibilidad un "universo religioso «ritual. tambien resaltan eI peso de 10 cosmol6gico en las realidades sociales. magico-religioso» dominado pela obriga~ao e imperfeitamente etico para 0 nosso olhar contemporiineo". En la experiencia popular este recurso esta dado de antemano en la definicion de la realidad que se aprende en una socializaci6n primaria que incluye escuela. 13 Por ese presupuesto puede entenderse que una encuesta (Esquivel. pluralista 0 ecumenica: afirma su verdad contra todas las otras 0 debate racionalmente. es tam bien un efecto del elemento cosmologico: desde el pWlto de vista de la docttina pentecostal. holista y relacional: una corriente de la religiosidad 305 en los que se ofrend a a los santos por los examenes aprobados. es dogmatica. Asi. sino una variable siempre presente. tan poco efecto entre los fieles. La experiencia cosmologica incluye otro trazo que la opone paradigmaticamente a la experiencia moderna. segun diversos arreglos. como 10 muestran los porcentajes. que nunca faltan. Cualquier exito y cualquier tropiezo. Dios. como \3 EI hecho de que esos creyentes pentecostales efectUen bautismos protectivos de la vida. 10 sobrenatural.son sagradas. y que la prohibicion del curanderismo por los pastores pentecostales tenga. Hadida y Houdin. Estos no son la ultima respuesta ni el resultado del descarte. La experiencia popular abraza la diversidad y es abrazada por ella: organiza una vision en la que todas las religiones. mas alia de la acwnulaci6n de religiones ya indicada. contrapuestos pero pasibles de ser integrados en una composicion. envuelven inmediatamente una dimension de la realidad que es 10 sagrado. . Una interpretacion centrada en el presupuesto cultural del grupo comprended que la presencia del elemento cosmologico had que.cosmologica. A diferencia del dogmatismo. es posible comprobar queen el Gran Buenos Aires existen fieles pentecostales que bautizan a sus hijos en esa religion y en la catolica para aumentar las fuerzas protectoras del niiio. valores diferentes. nunca afirmara el error sino el caracter sacralmente negativo de otra religion. poderes especificos. las fuerzas ocultas. Reconoce poderes mayores y menores. Esta omnivaloracion de las religiones no deja de asignarles. sean consideradas desgraciadas (en el sentido teologico del termino). acepta que cada cual siga su verdad 0 pretenda encontrar en todas las religiones un nucleo comun de verdad. inevitablemente. no hay bautismo sino "presentacion de los hijos al Senor" y el bautismo debe suceder a la elecci6n. 0 bien. 1998) realizada en la misma zona evidencie el hecho de que pentecostales y catolicos recurran a curanderos en un 30 y un 37% respectivamente. frente a la diversidad religiosa. vease Seman (2000). efecto de la ruptura y turbia relacion con 10 sagrado. por relacionarse con un nivel de la realidad . Esta ultima. Solo la interpretacion modernocentrica puede entencler que la religiosidad aumenta entre los sectores populares como unico efecto del incremento de situaciones infelices. cuando adopta un espiritu tolerante. Garcia. cualitativamente diferentes. las situaciones infelices.10 sagrado . A diferencia del ecumenismo. Para cada sujeto popular pueden ser diferentes. ademas de ser pasible de un uso pluralista admite otro que es el de la logica integradora de las compatibilizaciones y que se bas a en presupuestos cosmologicos.necesidades y la pertinencia decada religion es parte de una cosmologla singular y situacionalmente constituida (que es siempre mas englobante que una teologia escrita que se obliga a enunciar geometricamente su coherencia . 1996. Si eI pastor desea la exclusividad de los fieles para ganar en eI mercado. Birman. organizadas desde otra mentalidad. el individuo que realiza trayectorias en las que libremente escoge y en cada e1eccion tambien anula una alternativa). 2000). Esta idea supone que los presupuestos culturales del pluralismo y el exclusivismo (la separacion de 10 religioso de otros campos y la de las diversas religiones entre Sl. . cuando no demonizan a la otra religion. eI pentecostal. Todo esto no es equivalente a multiple afiliacion. Pero para ninguno de e1los esa posibilidad esta inhibida por disposiciones de Iglesias que. eI catolico de una parroquia. tienden a reconocer el valor sagrado positivo de la religion de la que no forman parte (Birman. La existencia de una multiplicidad de religiones no debe ser confundida con la homogenea difusion de una experiencia pluralista de esa multiplicidad. operan de acuerdo con presupuestos exclusivistas ylo concurrenciales. La Hamada multiple afiliacion religiosa no es una incoherencia 0 una simple astucia de los sujetos populares frente a la exigencia exclusivista de sus iglesias: es eI ejercicio de una compatibilizacion que organiza cosmovisiones y arreglos especificos de poderes sagrados. la experiencia cosmologica popular no piensa en terminos de paralelismos entre denominaciones. Sanchis. que afirmemos que la cosmologica popular no tiene una coherencia. la perspectiva cosmologica c1asifica y jerarquiza las diferentes religiones: aSI es que el devoto del santo. 1995.10 que no implica. y Seman. 1989. 1996). La multiplicidad de religiones. 1994. A diferencia del pluralismo. las mas de las veces. pero se integran en un arreglo en eI que la definicion de esas . por otra parte. es decir que esos sujetos tienen principios alternativos. esten totalmente difundidos y que los sujetos actuan negativamente frente a e1los y no 10 que en realidad ocurre.r 306 pablo seman 10 muestran varios trabajos que analizan la forma en que la critica del pentecostalismo a los cultos afrobrasileros y a las otras religiones implica. eI fiel recorre eI campo religioso acumulando en su mochila las mas diversas propuestas: estas atienden diferentes necesidades. la afirmacion de la inocuidad 0 del caracter contraproducente de su magia (Wynarczyk. Un principio monista supone a la persona como una unidad diferenciada entre momentos conectados de manera tal que la afeccion de cualquiera de esos momentos tiene consecuencias para los otros. emociones. en la experiencia de sus acto res.cosmol6gica. en la cultura de las clases trabajadoras urban as de las mas diversas formaciones sociales nacionales. Trataremos de hacerlo tangible al explicitar sus premisas centrales y sus manifestaciones en diversas formas de pnictica religiosa. recurrente en varias manifestaciones religiosas. . 10 animico y 10 biologico). su articulacion con el principio cosmologico y la diferencia especifica que opone este principio a los modemos holismos de las expresiones de la new age. pese a ser conocido. un supuesto que. holista y relacional: una corriente de la religiosidad 307 EI caracter holista de las practicas religiosas en los sectores populares La pnictica religiosa en los sectores populares implica. 1993a). del temperamento. Veamos ahora cuales son las manifestaciones mas gruesas del funcionamiento de este principio. como 10 hace notar Duarte (1986. Tomamos de Duarte (1993a) la sugerencia de utilizar los vocablos "fisica" y "moral" para no suscribir a priori las representaciones de la cultura modema. y sfntomas. 10 moral. Tal principio puede indicarse en su version sintetica: La vigencia de prdcticas y representaciones que suponen tanto categorias de representacion holistas como la unidad de los fenomenos "fisicos y morales". Mas aun: se trata de la imposibilidad de distinguir estos momentos como compartimientos estancos y de que el hecho de hacerlo no pasaria de una proyeccion etnocentrica como la que. a una economfa de f/uidos. que conectan en un continuum las diversas facetas del malestar (aqueUas que nosotros catalogamos en los capitulos de 10 fisico. salvando las distancias. la division de la experiencia humana entre el cuerpo y el alma. de la degeneracion nerviosa y tambien. La principal forma de manifestacion del principio de la unidad de 10 fisico y 10 moral es la referencia. estaria implicada en la tentativa de encontrar la nocion de electron entre los aztecas. Este monismo de car:icter holista no es privativo de las visiones cosmologicas de las culturas y poblaciones indigenas en las cuales ha sido reseiiado profusamente: se encuentra presente en las visiones occidentales previas al dualismo de 10 fisico y 10 psiquico como la teoria de los humores. debe ser retomado en su profundidad y sus consecuencias. En la practica religiosa popular.perspectiva holista. el "mal de aja". Entre pentecostales. Y estas enfermedades. asi como sus procesos de cura. el "empacho". incluyen. sobrenaturales y donde los agentes de cura pertenecen. cit. muchas veces con anterioridad a cualquier diagnostico de la biomedicina y. el bautismo en el espiritu y la cura 0 las sensaciones fisicas agradables e intensas conforman una igualdad distante de la austera y biologicamente inocua salvacion del alma pregonada por las versiones eruditas y/o modernas de estas religiones. 14 Estas enfermedades. aun. eabe aclarar que esto no solo OCUffe en el campo autonomo de las nociones folk de alteracion: las categorias de la terapeutica popular y de la 14 Pablo Seman. las hechicerias recibidas y las practicadas con resultados infelices y se vuelven 'contra el hechicero. es la distincion entre agentes terapeuticos y religiosos: en la . neopentecostales y carismaticos. en algun grado. en op. A.r 108 pablo seman EI enfasis general en la sanacion es el mas evidente de los grados de manifestacion de la ideologia que supone la continuidad de 10 fisico y 10 moral. realiza una descripci6n general del funcionamiento del curanderismo en el Gran Buenos Aires. Loyola (1982) presenta un panorama general y plantea. por primera vez. en la definicion de sus terapeutas. la salvacion y la sanacion. la '·'pata de cabra".. las posibilidades interpretativas de las que este articulo se beneficia. implican vaivenes entre 10 fisico-moral habida cuenta de que siempre conectan las manifestaciones fisicas con efectos" callsas 0 concomitancias animicas. este principio se manifiesta mas alla de las comunidades rurales en donde se supone afincada la tradicion y su diferencia con la modernidad: en las grandes aglomeraciones urbanas de trabajadores se recrean sistemas terapeuticos en los que el "susto". En Brasil. al orden de 10 santo. en nuestra perspectiva. . el dasico trabajo de M. como premisa del exito de esta ultima. un nivel espiritual que es parte del continuum de momentos que caracterizan al bienestar y al padecer y que constituyen la base de la superposicion entre 10 que. el desgano. Evangelina Mazur (2001) muestra la forma de actualizacion y vigencia de las practicas de los curanderos en forma detallada y a partir de un extenso analisis de caso. como el deseo desmedi- do y la envidia. todo sufrimiento extiende los polos de 10 animico y 10 fisico a un contexto mas amplio que puede ser llamado sobrenatural y que tiene posibilidades de variacion negativa 0 positiva que se correlacionan con el sufrimiento 0 el bienestar personal. Dicho en otras palabras: siempre se suponen una etiologia y una cura en la que operan vectores misticos. se detectan y tratan cotidianamente en forma independiente 0 simultanea al tratamiento medico. de maneras diferentes. . que los sacerdotes piensan como una instancia de "verdadera" educaci6n evangelica. como respecto del sentido que la experiencia religiosa cobra para los fieles. En esos mismos ambitos pude observar como las redes de catequistas. La casuistica de agentes que cubren estas afirmaciones es amplia: los "padres sanadores". . funcionan como estructura de institucionalizaci6n y consagraci6n oficiosa de mujeres que. casa por casa. . pueden observarse hechos reveladores de la vigencia de esa concepcion: que la imposici6n de manos es localizada (en la zona de dolor 0 de enfermedad). son portadores de la misma y han accedido a lugares de importancia relativa dentro dda estructura denominacional). como ocurre en la Ibgica moderna). producidas por sujetos que. de las versiones orientadas a esa mentalidad. rezan para curar a las personas enfermas y reivindican con cierto reconocimiento del vecindario una santidad especial. Las denominaciones.ser corregidos (pero no negados. Esto ocurre tanto en ciertos aspectos cristalizados en las instituciones eclesiasticas pentecostales y catolicas. producen moclulaciones de su discurso que dialogan con estas categodas para producir sus propias nociones de cura (se trata.populares anuncian la superioridad de su oracion para curar las patologias populares. 0 reciclaban en clave evangelica las tecnicas de cura del empacho . En los niveles institucionales. que las curas sanadoras siempre hacen intervenir una merliaci6n fisica (el aceite 0 el simple toque de las manos). y otras veces denuncian como demonios a los agentes que han tratado de curarlas con medios espirituales errados que deben . en el seguimiento de las apropiaciones mas informales en las parroquias. me ha sido posible "descubrir" pastoras que curaban. holista y relacional: una corriente de la religtosidad 309 ideologia monista en general estan en coalescencia con versiones ampliamente circulantes e institucionalizadas de la espiritualidad catolica y pentecostal (aunque obviamente no se trata de 10 que pueda ser considerado como el discurso oficial 0 dominante). los laicos catolicos consagrados de origen popular y los cultos a determinados santos populares que la iglesia catolica permite y muchas veces estimula. Entre carismaticos y pentecostales. hadan fluir la leche de sus pechos para donar la uncion a los hijos de sus compaiieras de Iglesia. pese a que doctrinariamente los desconoce 0 minimiza. justamente.cosmologica. en mi trabajo etn0grafico con pentecostales. iglesias y grupos de oracion. muchas veces.~a traves de algunos de sus agentes y/o momentos institucionales. Por otra parte. el pentecostalismo y la renovacion carismatica desarrollados en contextos . Se puede padecer. . .310 pablo seman La continuidad de 10 fisico y 10 moral y su prolongaci6n a 10 espiritual se manifiesta. parcialmente. La moralidad modema. Quien ante la desgracia piensa queha fallado en sus obligaciones con 10 sagrado. Estas representaciones que interpretan el malestar iluminan. ICual es ese sentido en que difiere contrastante y aleccionadoramente de otras apropiaciones de las mismas religiones? Ciertas versiones del Pente15 Sobre este punto vease el articulo "Por que no? Del matrimonio entre espiritualidad y confort del Mundo evangelico a los best-sellers".porque no se ha cumplido con un·csanto 0 un difunto. como 10 afirman muchos pentecostales. sino puniciones racionalmente establecidas 0 culpas que deben ser elaboradas (mas que expiadas). no las cumple posteriormenteporque no pudo alcanzar sus objetivos por otros medios. 10 errado de la categoria de acci6n utilitaria 0 de magia para analizar el comportamiento religioso popular. Puede haber causa biol6gica y. constantemente. contrarrestan y manipulan. sufrimiento psiquico que las diversas formas de medicina y psicologia establecen. por una maldici6n que nos han hecho personalmente y aun a nuestros antepasados. por otra parte. En esta configuraoi6n cultural. no 10 es menos que invoca y moviliza expectativas providencialistas que son propias de un sistema de representaciones que conecta dioses y hombres en un circuito de efectos y causas que. miden.15 Si es cierto que ella se apronta en un modemo afan de hedonismo y consumo. Se padece en la persona propia 0 en la de los familiares. Es en la vigencia de esta mentalidad donde reside. pivotean entre 10 moral y 10 sagrado a traves de las cosas y los cuerpos. separadamente. tambien en la atribuci6n de caracter moral-espiritual a la enfermedad 0 a la desgracia (10 que resulta consistente con 10 sefialado en el punto anterior acerca del predominio de las interpretaciones cosmol6gicas de los sucesos infelices). EI caracter espedfico de este sistema de representaciones se patentiza cuando se contrasta esta categoria con 10 que surge de los supuestos culturales de la modemidad en cuanto al padecer. Asi. el mal esta desconectado de cualquier relaci6ncon 10 sagrado. se define con prescindencia de fuerzas espirituales y sus infracciones no traen desgracia 0 dolencia al infractor. las diversas categorias de bienestar 0 sufrimiento varian al calor del cumplimiento 0 incumplimiento de obligaciones para con 10 sagrado. la causa de la aCllptaci6n de la teologia de la prosperidad. Lo hace porque ese entramado de obligaciones con 10 superior es elcontexto cognitivo y moral de su experiencia. mucho mas que las que dan cuenta de los estados positivos. " La orientacion monist a que estamos resaltando es logicamente anterior a esa division. y aun en el discurso de cierros lideres afrobrasileros.\as medicinas faltantes por carenciade recursos. el Pentecostalismo. 16 La comparacion del holismo popular con el que aparece a partir de las manifestaciones de la Nueva Era sirve para realzar su diferencia especifica y para plantearla mas agudamente. Sin embargo. del dualismo". remite a las decenas de variantes psicologizadas de Guerra Espiritual y de liberacion que se practican en iglesias de paises del Cono Sur y que se divulgan a naves de una bibliografia creciente. por esta via.cosmologica. en 10 que respecta a los carismaticos. al menos parcialmente. directamente. reaccionan en forma consciente y crltica contra el dualismo de la modernidad. la religion puede estar definida como practica al servicio del autorreconocimiento y. en todo caso. Mi cita de lideres de religiones afrobrasilenos sosteniendo discursos de una logica semejante surge de entrevistas y de la recoleccion de testimonios mediaticos. como cientifica. en las apropiaciones de la Renovacion Carismatica estudiadas por Csordas en los Estados Unidos yen algunas de las que han sido reconocidas en la Argentina y Brasil. Las corrientes de pensamienro teologico y practica religiosa que se relacionan con la Nueva Era y que inclusive permean el espacio catolico. Para estalectura de las propuestas religiosas no se trata de reintegrar 0 reconciliar practicas terapeuticas y religiosas. y el ahora. en el Catolicismo. como 10 demuestra Menendez (2000). Ahi se presentan tanto los efectos de modernizacion de la practica cat6lica (que ataoeo principaimente a los laicos) como la parcial continuidad de la vision propia del catolicismo popular. . de la persistencia de una 16 Csordas (1994) muestra que el movimiento central del MRCC en los Estados Unidos es el de sacralizar y resacralizar momentos propios de las identidades sociales definidas en contextos modemos (el yo ahora transfonnado en "sacred self'). la reinterpreta desde sus representaciones previas (yes . en su analisis de la compleja difusion del MRCC en el medio social popular. que fue propuesta por misiones espiritualistas como una forma de bienestar que abarca la materia. mis conclusiones coinciden con las de Maues (1998). como practica terapeutica. No negamos la presencia de estos desarrollos que son parte de una sensibilidad modema fuertemente presente y probablemente dominante en la apropiacion de las celigiones. Se trata. \7 Inclusive. faetica. en la ·forma de sanacion 0 de prosperidad). casi sin proponerse una especie de "critica no letrada. EI hecho de que esta logica mas moderna se presente menos entre los afrobrasilenos puede tomarse como un ejemplo potencial de la mayor afinidad que puedan tener una denominaci6n religiosa y una logica cultural de apropiaci6n de la nUsma.por eso que. el aqul. no la tolera. de COflffiUtar unaS conotras 0 de C0mpensar con las religiosas. Mi referencia de pentecostales mas afectados por una vision moderna en la apropiacion de la religion. indicamos que hay otras formas de apropiacion y que. holista y relacional: una corriente de la religiosidad 3II costalismo y del Catolicismo reniegan por completo de cualquier otro bien que no sea el de la vida eterna y la salvacion espiritual. la critica al dualismo que dara bases a la Nueva Era se desarrolla y es reconocida. y la resiste 0. En esa linea de interpretaci6n se inscriben los trabajos recientemente realizados en la Argentina por Roldan (-1996). desarrolla la salvacion. r 1 312 pablo seman representacion holista pero multifacetica frente a 10 que la cultura de la modernidad segmenta presentando como religion. en cambio. hermanos entre sf. hay una cita de 1969 es la misma publicacion?): "Tout y est imbu de religion. una vez mas. debe asumirse el valor diferencial de la eficacia de la ideologfa que tiene en su centro los valores familiares y que. Y. la experiencia popular hace operar. en su diferencia y su jerarqufa. Es. en ellfmite. religion no significa. porque. como mostramos en el punto anterior. y nunca significo. tout est signe des forces divines". 10 que quiere decir para nosotros: un campo de practicas autonomo. Debido a su caracter relacional. EI caracter relacional de la experiencia religiosa popular Un tercer atributo de la configuracion que me interesa describir es el caracter relacional de la experiencia religiosa. una ideologfa que 10 define y relaciona con otros hombres y con 10 sagrado mismo. Desde la perspectiva holista 0 monista. En primer lugar. de acuerdo I• . se percibe otro modelo de relacion con 10 sagrado. terapeutica. a ser planteada como relacion de seres individuados e iguales frente a un principio sobrenatural 0 divino. Y mas que un cuestionamiento a la misma. En la experiencia de los sectores populares la tendencia a la igualacion es mucho mas problematica. Si bien este modelo tiende a excluir mediaciones burocraticas y racionalizantes como las desarrolladas por cualquier Iglesia (10 que haria suponer una subyacente voluntad igualitaria). Los hijos de Dios. En esta. La irrupcion del pluralismo cultural en el seno de las religiosidades modernas no cambia esta situacion: cada uno de los culturalmente diversos es igualmente valioso frente a dioses que 10 cobijan en su singular diversidad. pueden apuntarse elementos que muestran que el "pueblo de Dios" de la logica popular se representa a sf mismo a traves de un prisma desigualador y jerarquizante. esta situacion esta signada por aquello que afirma Benveniste (1965. ideologfa. en la ligazon de cada hombre con 10 sagrado. son las figuras tendenciales del igualitarismo moderno proyectado a las practicas creyentes: solo admite desnivel en la relacion entre cada uno y la divinidad (aun cuando a veces se de el extremo teol6gico de humanizar a la divinidad y proponerla como amiga). podemos aprehender mejor este caracter por contraste con 10 que resulta tfpico dela experiencia moderna. el ambito de una relacion de intercambios que antecede y moldea los niveles mas concretos e inmediatos de experiencia. la relacion con 10 sagrado tiende. estetica. y en cualquier corriente religiosa habitan. En otras palabras: mientras en la experiencia moderna son enfatizados eI yo. Este problema. lleva a postular como causa un desbalance de la relacion con 10 espiritual (al que Ie corresponded una accion compensadora que tambien sera de orden espiritual y que se manifestara tanto en el plano familiar como en el del comportamiento del nino rebelde). intra 0 extra contexto religioso. tambien. Este problema. Se trata del problema de los hijos "rebeldes". EI mismo des balance es el que se percibe. y para los matrimonios reconciliados. muchas veces en clave humanista. que en la logica modern a. Los trabajos empiricos sobre genero y pentecostalismo aciertan al afirmar que esta religion protege a las mujeres pero no altera los arreglos familiares que llaman patriarcales. y todo 10 que Dios ha reservado para el individuo. es de violencia 0 armonia familiar y no de una cuestion de derechos individuales. su libertad. religion. de los maridos hacia sus esposas. los val ores individualistas de la cultura moderna): "a favor del machismo" 0 "contra el machismo" son categorias de interpretacion limitadas en la medida en que en la practica familiar y religiosa que estamos describiendo. viendose desbordada. Sin embargo. se vive con preocupacion y se resuelve religiosamente en las familias en las que los maridos agreden fisicamente a las mujeres.cosmologica. holista y relacional: una corriente de la religiosidad 3 13 con los papeles desplegados en su estructura. derechos y obligaciones en la relacion con 10 sagrado. ala preocupacion por los "traumas infantiles" que subyacen al mal comportamiento. No se trata aqui de 10 que en las capas medias psicologizadas e individualistas llevaria ante la misma situacion. en general. yerran al razonar como si estas Iglesias ejercieran su influencia exclusivamente sometidas a las alternativas del universo cultural de los academicos (uno de los pianos en que mas se han desarrollado. En la experiencia popular. recibe una interpretacion diferente en las iglesias mas eficaces en el mundo popular (y enla raiz del exito evangelizador que ostentan en este item): de 10 que se trata para las iglesias. asigna posibilidades. sus deseos. los reclamos por el comportamiento de los hijos en la escuela y en el ambito familiar. Considerense los siguientes dos ejemplos de esta afirmacion: el trato de los hijos rebeldes y los casos de agresion en el seno de las familias y. por ejemplo. depende para su definicion de un ideal de moralidad familiar que. . la definicion jerarquica y complementaria de la familia es de caracter positivo (10 contrario de la ausencia de una definicion) vivida como rectora y legitimado por hombres y mujeres que a partir de sus diferencias jerarquizadas hacen familias y. "Ia rebeldia". es leido como el de la mujer golpeada. mientras los anglicanos promueven el sacerdociofemenino. infancia y vejez dan lugar a participaciones diferentes que no se resuelven. Esta estructura viene a complejizar la logica y la realidad de la red de reciprocidad que. padre 0 madre y las soluciones que implora aDios. Esta antepuesta la comunidad. Lo hace siempre desde su lugar de hijo. En el continuum de 10 fisico. 314 pablo seman en la experiencia relacional se trata siempre de un yo anclado en una red de reciprocidades que determinan obligaciones de don y contra don y que surgen de un lugar en una estructura de papeles y responsabilidades familiares.con 10 espirirual en forma polfticamente correcta. media la relacion del hombr-e con 10 sagrado en la perspectiva monista. como un hijo de Dios que se representa a este como un padre comprensivo y bondadoso. adultez. como totalidad y como conjunto internamente diferenciado. Esto es casi obvio en fenomenos como las procesiones 0 las fiestas de santo en las que femineidad. en terminos de un pluralismo abierto. como en la corriente moderna. en la experiencia relacional unos influyen espiritualmente sobre otros. masculinidad. el colectivo no se constituye como suma de individuos 0 de comunidad que se relaciona. En la lectura popular nadie ruega desde la individualidad pura. Este canicter relacional se veri fica en otra cuestion: mientras en la experiencia moderna el contacto con Dios es personal e fntimo. el catolicismo vive tensionado por la presencia de grupos que no renuncian ni a la fe catolica ni a laetica sexual individualista que se opone al dogma de la jerarqufa (surgen asf las tentativas de lograr la conciliacion entre el derecho a la com union y la libre definicion de practicas sexuales y modos de alianza y de reproduccion). La lectura y practica modernas de la religiosidad Ie abren cada vez mas espacio al individuo y no es casual que entre fieles y sacerdotes modernos surjan toda una serie de figuras propias de la epoca del individualismo.. La modernidad tiene en el encuentro fntimo y personal una matriz de santidad que contrasta con usos corrientes en la piedad popular que se desarrolla entre catolicos y pentecostales: en la experiencia popular el continuum fisico-moral que inte- . 10 moral y 10 espiritual cada hombre no es un punto igual a otro. sino una figura desigual de las otras debido a una malla de relaciones que 10 une legitimamente a esas personas.. En la experiencia relacional. 0 las faltas que deben expiarse se relacionan con las formas en que esos sujetos han desempefiado aquellos papeles. segun afirmamos en el punto anterior. sino de una compatibilizacion y un orden. En el interior de las mas variadas y establecidas iglesias. ahijados y rivales. Asi es que. la fotografia que ha llevado al pastor. Conclusion· El punto de partida de este articulo ha sido la distancia de las concepciones que asimilan el contenido de la practica religiosa a la pertenencia a una denominacion 0 fraccion denominacional. como 10 comprueban varios trabajos relativos a iglesias pentecostales y catolicas. por su parte. no se desarrollan segun criterios individuales. pero los padres deben y pueden garantizar resguardo a traves de medios religiosos. Estas son las que encarrilan las trayectorias al modelar las preferencias y orientar las lecturas de 10 que llega desde las mas variadas teologias e instituciones religiosas. En acta hemos intentado mostrar uno de los cruces culturales que singularizan la vida denominacional y conforman una corriente de religiosidad de rasgos sistematicos: como corriente cosmol6gica afirma la imbricacion de los niveles que son para nosotros el mas alia y la tierra en un realismo que induye en sudefinici6n a 10 santo. En nuestros dias esta corriente forma parte de la experiencia de los sujetos populares: al mostrarla en sus manifestaciones contemporaneas. Estas. en un ideal en que las divisiones del cuerpo y el alma son relativas y posteriores a la unidad que traza un arco dinamico de experiencias fisicomorales en las que etica y dolor no se separan como razon y sensibilidad. Renovacion Carismatica 0 Neo-Pentecostalismo son terminos que operan mas en la logica de las intenciones de las instituciones que en la de las apropiaciones en las que cada religion se consuma. como corriente holista se apoya en una vivencia. Estas tradiciones son el sillar de corrientes de cultura que atraviesan la experiencia denominacional y configuran el sentido especifico que adquiere la vida religiosa. holista y relacional: una corriente de la religiosidad 315 gra a los sujetos como padres. Catolicismo. segun decisiones y funcionalizaciones realizadas por creyentes privados de tradiciones c1:l1turales. hemos querido tamar distancia de las visiones que. una madre puede ser el vehiculo de sanacion para un hijo descarriado. como corriente relacional proyecta un sujeta de la experiencia religiosa que es siempre parte de una red jerarquizada y articulada en relaciones de donaci6n especificas. formando una corriente de poder entre el templo. hijos. su propia persona y el hijo de marras. ademas . en una practica.it I I cosmologica. tambien permite la circulacion de 10 sagrado por las vias de los lazos sociales: los pecados de los padres traen maldiciones a los hijos. Pentecostalismo. Ralees teol6gicas del pentecostalismo. Emile. 4. Rio de Janeiro: Jorge Zahar. 8. CORTEN. CASTORIADlS. psicossocial. BIRMAN. Vocabulaire des institutions indo-europeennes. Problemes d'Amerique Latine. 1998. Cornelius. Rio de Janeiro. en su permanencia. 1997.e: PPGASlUFRGS. Laic. Institucion de la saciedad y religion. Berkeley-Londres: University of California Press. 1986. Revista Vuelta Latinoamericana.pero no aleatoriamente . Andre. reducen a "folklore". es el fundamento de una diferencia y un contrapunto con el universo simbolico que prioriza Ia autonomia. -. Eerdmans Publishing Company. La Iogica cultural presentada.1992. Uorj. Trabajo presentada en la XX Reuniao Anual Anpacs. Apuntes de Investigaci6n. 1994. Social C011'!pass. 17-31. Da vida nervosa nas classes trabalhadoras urbanas. pp. BOURDlEU. CORTEN. Les protestantismes Iatinoamericains. 1991. Nueva creacion. Referencias BASTIAN. . fisico moral? Trabajo presentado en el Encontro Nacional de Antropologia Medica. CSORDAS. Ed. Andre. Pierre y WACQUANT. 1996. 39 (3). 1999. Revista Brasileira de Ciendas Sociais. BENVENISTE. Ia frustracion desesperanzada 0 el asombro que por poco informado resulta superficial. -. Horizontes AntropoLOgicos. y Ia fraternidad abstractas y despojadas. Dias. Patricia. Caxambu. Luiz F. . 22. DUARTE.' Religiao em familia: entre crentes e nao crentes. Sobre la astucias de la razon imperialista.pp. Donald. Paris: Minuit. Thomas.las realidades Iatinoamericanas en terminos mas maduros que Ia rabia critica. Ia igualdad. Buenos Aires y Grand Rapids: W. 1990. 1995. A outra saude: mental. pp. Jean. Vicissitudes e limites da conversao acidadania nas classes populares brasileiras. a "tradicion" 10 que no ingresa facilmente en un sistema de categorias involuntaria .particularista. DAYTON. Pentecotisme et politique en Amerique Latine. 327-56. 24. en su vivencia activa. 1993 -. 5-19. Fazer estilo criando generos: estudo sobre a constru¢o religiosa da possessao e cla diferenrya de generos em terreiros de Umbancla e Candomble do Rio de Janeiro. The Sacred Self: A Cultural Phenomenology of Charismatic Healing. 1994. Salvador. ano 8. Comprender y registrar Ia profundidad de esa presencia es comenzar a entender Ia distancia entre los anhelos del humanismo y. La banalisation du miracle: analyse du discours de I'argumentation.pablo seman 316 de ignorar Ia transversalidad de Ia experiencia denominacionaI. 1969. Porto AlegJ. 1999. HERVIEU-LEGER. Belem: Cejup. holista y relacional: una corriente de ~a religiosidad 317 DUMONT. Creencias y practicas religiosas en el Gran Buenos Aires. Rio de Janeiro: Museu Nacional!UFRJ. Doctorado. mazelas e triunfos de urn sacerdote particular. 1992. 10. pp. 1992. Jean C. Porto Alegre: PPGASIUFRGS. Victor. Reiigiiio e Sociedade. Cecflia & MACHADO.13. Clifford. MARIZ. LOYOLA. Sociedades indigenas y occidentalizacion en el Mexico espanol siglos XVI-XVIII. a mendicancia e 0 crime: uma etnografia sobre familia e trabalho na grande Porto Alegre. Rio de Janeiro: Instituto Universitario de Pesquisas. p. 1994. GRIGNON. Coping with Poverty: Pentecostals and Christian Base Communities in Brazil. MARIZ.cosmologica. Cura e media(iio social.ao. Manhas. Sao Paulo: Edusp. Oxford: Basil Blackwell. GEERTZ. Evangelina. Rubem C. 1998. 1982. Disserta. Lo culto y 10 popular: miserabilismo y populismo en la sociologia y en literatura. Daniele. 179-8l. Os usos da diversidade. Horizontes Antropologicos. Sao Paulo. ESQtnVEL. 1990. 1991. 43. MARIANO. GARCiA. Tongues of Fire: The Explotion of Protestantism in Latin America. Maria das Dores. "Pentecostalismo e a redefini. Buenos Aires: Eudeba. Cure des corps et cure des ames: les repports entre les medicines et les religions dans la banlieue de Rio. Cultura holistica. auto-ayuda: inuevas caras para el individualismo 0 nuevo paradigma para el sentido comun?". 2000. . A. 13-34. 1998. pp. Disertaci6n. Padres. o leigo cat61ico no movimento carismatico em Belem do Para. FERNANDES. Negociando fronteiras entre 0 trabalho. Serge. MARTIN. Caxambu. Madri: Ediciones de la Piqueta. MENENDEZ. 2225 de Noviembre de 1998. Fabian. Ricardo. Gerardo. Homo hierarquicus. MAZUR. pajes. Raymundo.127-65. MAUES. M. HADIDA. Claude & PASSERON. In: Romarias da paixiio. La colonizacion de 10 imaginario. santos e festas: catolicismo popular e controIe eelesiastico: um estudo antropologico numa area do interior da Amazonia. 1996. EI caso de Quilmas. 1994.iio do feminino". JARDIM. Marfa Eva & HOUDIN. Rio de Janeiro: Rocco. 0 peso da cruz. Urn estudo de casu no interior da Argentina. Vers un nouveau christianisme? Paris: Cerf. 200l. Mexico: Fondo de Cultura Econ6mica. Actes de la Recherche en Sciences Sociales. Trabajo presentado en la VIII Jornadas de Alternativas Religiosas na America Latina. pp. GRUZINSKI. 0 futuro nao sera protestante. Louis. Minas Gerais. Trabajo presentado en el XXII Encontro Anpocs. Cecilia. Juan. 1986. new age. Marta Denise da Rosa. Temple University Press. 1998. 1995. David. Porto Alegre: UFRGS. 1987. c. SANCHIS. (org.).1994.iio do Cosmos. P. A. Berkeley: University of California Press. Buenos Aires: Prensa Ecumenica. Los sectores populares urbanos como sujetos hist6ricos. 0 cativeiro da besta fera. -. VELHO. 1997.0 repto pentecostal it cultura catolico-brasileira. A fragmentar. Hilario. 1997b. Petr6polis: Vozes. 14 (1). T0URAINE. Pentecostais no Brasil: uma interpretar. Um estudo sobre as sensibilidades religiosas de (ids pentecostais e cat61icos de um bairro da Grande Buenos Aires. A.iio s6cio-religiosa. Pablo. Bonino Jose. ORO. Santiago de Chile: Fondo de Cultura Economica.· 7. In: Nem an. Petropolis: Vozes. Carlos Annacondia. 1994. Doutorado. P. Hector Gimenez. Petropolis: Vozes. Evaluation de I'emergence des sectes en Amerique Latine".os nem demonios. 1985. PARKER. C. pp.1987. To Help you Find God: The Making of a Pentecostal Identity in a Buenos Aires Suburb. 23 (2). 1997. ROLDAN. 34-63. & STEIL. In: ORO. -. WYNARCZYK. . 1989. 12 (33). Estudios Sobre Religion. 1990. MIGUEZ.Revista Brasileira de Ciencias Sociais. 103-26. Pierre.Porto Alegre: UFRGS. 212-25. Buenos Aires: Fondo de Cultura Economica de Argentina.iio e religiiio.318 pablo seman MIGUEZ. Is Latin American turning Protestant? The Politics of Evangelical Growth. SEMAN. Buenos Aires y Grand Rapids: Nueva Creacion y Eerdmans. -. STOLL. Luis A. Francisco. Cristiano Otra l6gica en America Latina. 1993. Amsterdam: Vrije Universitat. 1994. Globalizar. In: ORO. Tres evangelistas carismdticos: Omar Cabrera. 1995. Da quanti dade it qualidade: como detectar as linhas de for~a antagonicas de mentalidades em dialogo. David. pp. (org. Newsletter de la Asociaci6n de Cientistas Sociales de la Religi6n en eI Mercosur. Ari Pedro. La religiosidad en eI movimiento carismatico catolico: Un estudio comparativo Buenos Aires-Roma. ROMERO. 2000. 1997a. Alain. Petr6polis: Vozes. Globaliza~ao: antropologia e religiao. 43-62. 427.iio e religiiio. Rostros del pentecostalismo latinoamericano. Religi6n popular y modernizad6n capitalista. n. Daniel. & STEIL. Religiiio e Sodedade. pp. Buenos Aires: Cisea-Pehesa.). Otivio. 1999. A. pp. ROLIM. pp. Veronica. 0 campo religioso contemporineo no Brasil. A. Studies in Religion / Sciences Religieuses. Globalizar. Critica de la modemidad.
Copyright © 2024 DOKUMEN.SITE Inc.