A Importância Do Desenho Na Alfabetização

April 2, 2018 | Author: Cidinha Pinheiro | Category: Literacy, Writing, Drawing, Thought, Learning


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A IMPORTÂNCIA DO DESENHO NA ALFABETIZAÇÃORESUMO O desenho desempenha importante papel no desenvolvimento e na aquisição da língua escrita da criança. O ato de desenhar e o próprio desenho proporcionam, um conjunto de apoio, dentro do qual a escrita (texto) pode ser construída. As crianças, muitas vezes ensaiam para a escrita através do desenho e, à medida que desenham vão anunciando oralmente, o texto que pretendem escrever. No inicio da aquisição da escrita ela utiliza-se do desenho como apoio ao seu texto. Apresenta mais significado no desenho do que no texto propriamente escrito. Os desenhos das crianças nos mostram a visão de mundo que têm e como percebem as coisas e pessoas que estão ao seu redor e, principalmente como elas se percebem neste mundo. Com o tempo, as crianças aprendem a criar textos autônomos e explícitos, fazendo-os independentes do apoio dos desenhos, passando assim para um estágio mais avançado da leitura e da escrita. Palavras-chave: desenho, escrita, alfabetização. INTRODUÇÃO Pela análise dos estágios da evolução do desenho infantil e na pesquisa da bibliografia sobre o tema podemos compreender como o desenho infantil influencia o processo de alfabetização e também entender algumas falhas no processo de aprendizagem. Muitas crianças ao chegarem ao 1º ano do ensino fundamental apresentam dificuldades de aprendizagem relacionadas à escrita. É possível que estas crianças não tenham tido oportunidades significativas de interação na educação infantil, fase na qual se desenvolve a função simbólica e consequentemente os sistemas de representação, fato que pode ter prejudicado o desenvolvimento da criança. Em situações como esta, é perceptível a importância do trabalho na educação infantil que priorize e preserve os momentos lúdicos e prazerosos, que certamente contribuirão para o desenvolvimento do desenho infantil. Ao final do seu primeiro ano de vida, que compreende o estágio sensório-motor, descrito por Piaget (1948), a criança é capaz de manter ritmos regulares e produzir seus primeiros traços gráficos. O desenvolvimento progressivo do * Desenvolver uma imagem positiva de si. 1996. fazendo surgir os primeiros símbolos. de desenhos. entende-se que a representação é requisito básico para as operações mentais. desenvolvendo a função simbólica.desenho implica mudanças significativas que. e é assim que elas vão se inserindo no processo de alfabetização. o jogo simbólico e o desenho passam a ser uma necessidade. da linguagem. que compreende faixa etária de dois a sete anos. presentes e futuros [. cada vez mais independente. Entender como a criança desenha é entender como se dá seu desenvolvimento global e uma ferramenta para a real efetivação das propostas curriculares na prática pedagógica. Assim o desenho infantil pode ser considerado precursor da escrita. As crianças no início dessa fase começam a representar na tentativa de interagir com o mundo que a cerca. Dessa forma a escrita deixa de ser uma representação mental e passa a ser uma representação gráfica. de acordo com Ribeiro (2007) "[. OBJETIVOS DA EDUCAÇÃO INFANTIL DE ACORDO COM O PCN A importância e a compreensão de que o desenho é uma das manifestações do desenvolvimento da criança. O que constitui a função semiótica e o que a faz ultrapassar a atividade sensóriomotora é a capacidade de representar um objeto ausente. entendida como ato de representação. A criança passa a desenvolver essa função no estágio pré-operatório.] à tomada de consciência da organização do mundo e o entendimento de fatos passados. Sendo assim. no início. primeiro passa pelo plano da representação mental e só depois a criança passa a representá-lo graficamente. dizem respeito à passagem dos rabiscos iniciais da garatuja para construções cada vez mais ordenadas. pensamento e motricidade é de fundamental importância para o educador.26) A cada representação que a criança faz.. ao lado da afetividade. desde o estágio pré-operatório. . (PILLAR. assim como o desenho que.. com confiança em suas capacidades e percepção de suas limitações. 1.]".. possibilita à criança. contêm também o imaginário. p. por meio de símbolos ou signos. interagindo com a escrita como se a mesma fosse um jogo que contêm regras e. estando diretamente relacionado ao processo de alfabetização. De acordo com o mesmo autor.. o que implica poder diferenciar e coordenar os significantes e os significados ao mesmo tempo. a função semiótica é a capacidade que a criança tem de representar objetos ou situações que estão fora do seu campo visual por meio de imagens mentais. É através da grafia que ela apresentará o seu pensamento do mundo e sua capacidade cognitiva. carregada de sentidos. atuando de forma clara. onde se inicia o processo de representação. * Estabelecer vínculos afetivos e de troca com adultos e crianças. respeitando a diversidade e desenvolvendo atitudes de ajuda e colaboração. dependente e agente transformador. Entender como a criança desenha é entender como se dá seu desenvolvimento global. sentimentos. percebendo-se com integrante. aos poucos. *Brincar. pensamentos.* Descobrir e conhecer progressivamente seu corpo. * Estabelecer e ampliar as relações sociais. enriquecendo sua capacidade expressiva. a articular seus interesses e pontos de vista com os demais. 2. fortalecendo sua auto-estima e ampliando gradativamente suas possibilidades de comunicação e interação social. é de fundamental importância a compreensão de que o desenho é uma das manifestações do desenvolvimento da criança . desejos. necessidades. suas potencialidades e seus limites. aprendendo. pensamento e motricidade. expressando emoções. PRESSUPOSTOS TEÓRICOS QUE EMBASAM O DESENHO NA EDUCAÇÃO INFANTIL . Desse modo. * Observar e explorar o ambiente com atitudes de curiosidade. desenvolvendo e valorizando hábitos de cuidados com a própria saúde e bem-estar. É através da grafia que ela apresentará o seu pensamento do mundo e sua capacidade cognitiva. ao lado da afetividade. expressar suas idéias e avançar no seu processo de construção de significados. comecei a desenhar como criança”. a criança tem como hipótese que o desenho é simplesmente uma ação sobre uma superfície. que . sobre a maneira específica de ver e pensar da criança. só inteligência puramente vivida como no nível sensório-motor. reflexão e sensibilidade. por meio do desenho. as garatujas. fundados nas concepções psicológicas e estéticas daquele momento. Pablo Picasso chegou a escrever em relação às suas observações do desenho infantil a seguinte frase: “Quando criança. sem ela. objetos imaginários ou mesmo a outros desenhos. Na garatuja. eu desenhava como Rafael. XIX. incorporando esse conhecimento em suas próprias produções.Foi no final do séc. a criança cria e recria individualmente formas expressivas. que começaram a relatar suas impressões e a observar sistematicamente o desenho infantil. ela passa a articulá-los no espaço do papel. e podem estar se referindo a objetos naturais. Essa passagem é possível por interações da criança com o ato de desenhar e com desenhos de outras pessoas. a criança trabalha sobre a hipótese de que o desenho serve para imprimir tudo o que ela sabe sobre o mundo. As descobertas de Jean Jacques Rousseau . Começando com símbolos muito simples. na areia. passando a considerar a hipótese de que o desenho serve para imprimir o que se vê. que refletiam o prolongamento de movimentos rítmicos de ir e vir transformam-se em formas definidas que apresentam maior ordenação. que ocorreram os primeiros estudos significativos sobre os desenhos das crianças. vindo assim a transformar as concepções relativas à infância progressivamente. No decorrer da simbolização. a criança desenvolve a intenção de elaborar imagens no fazer artístico. É através do surgimento da função semiótica que a criança consegue evocar e reconstruir em pensamento ações passadas e relacioná-las com as ações atuais. e ela sente prazer ao constatar os efeitos visuais que essa ação produziu. Na evolução da garatuja para o desenho de formas mais estruturadas. No início. Os desenhos infantis chamaram a atenção de psicólogos e artistas da época. não há pensamento. foram fundamentais para que houvesse esta reflexão também sobre o grafismo infantil. a criança incorpora progressivamente regularidades ou códigos de representação das imagens do entorno. Passa também a constatar a regularidade nos desenhos presentes no meio ambiente e nos trabalhos aos quais ela tem acesso. uma vez que. á medida que fiquei mais velho. É assim que. Piaget (1948) diz que a representação é gerada pela função semiótica. integrando percepção. a qual possibilita à criança reconstruir em pensamento um objeto ausente por meio de um símbolo ou signo. imaginação. pois até então não eram conhecidas as especificidades do universo infantil nem admitidas no meio intelectual e acadêmico da época. na parede ou em qualquer outra superfície. A representação é condição básica para o pensamento existir. No decorrer do tempo. Vários teóricos seguem essa linha teórica quanto ao desenho infantil. dentre eles Luquet(1969). porém em cada estágio.podem então ser apropriadas pelas leituras simbólicas de outras crianças e adultos. (LUQUET.212)” A análise dos estudos piagetianos mostram que o desenvolvimento do desenho segue os mesmos estágios de Luquet (1969). é o principal estágio e caracteriza-se pelo fato que a criança desenha do objeto não aquilo que vê. assim são suas estruturas mentais é que definem as suas possibilidades quanto a representação e interpretação do objeto. a criança chega ao realismo visual cuja principal manifestação é a submissão mais ou menos infeliz na execução à perspectiva. A criança demonstra extremo prazer nesta fase. 1969. Pillar (2006) afirma que a criança não nasce sabendo desenhar. A cor tem . Méredieu (1995) dentre outros. Esta maneira de desenhar própria de cada idade varia. muito pouco de cultura para cultura. o desenho assume um caráter próprio. a criança procura reproduzir esta forma. o desenho como possibilidade de falar de registrar marca o desenvolvimento da infância. além de afirmar que existe uma tendência natural e voluntária da criança para o realismo. “Enfim. O desenho como possibilidade de brincar. Em Méredieu (1995). Luquet distingue quatro estágios do desenho infantil: o Realismo fortuito: começa por volta dos 2 anos e põe fim ao período chamado rabisco. Estes estágios definem maneiras de desenhar que são bastante similares em todas as crianças. assim como suas intenções e interpretações. Piaget classifica as fases do desenho como: • Garatuja: Faz parte da fase sensório motora (0 a 2 anos) e parte da fase pré-operatória (2 a 7 anos). ela aprende a desenhar a partir de sua interação com o desenho. Realismo fracassado: por volta dos 3 a 4 anos tendo descoberto a identidade forma-objeto. que este conhecimento é construído a partir da sua relação direta com o objeto. Piaget (1948). no entanto são analisados dentro da perspectiva das fases do desenvolvimento infantil da representação. Aborda os 'erros' e 'imperfeições' do desenho da criança que atribui a 'inabilidade' e 'falta de atenção'. Realismo intelectual: estendendo-se dos 4 aos 10-12 anos. Surge então uma fase de aprendizagem pontuada de fracassos e de sucessos parciais. aos quatro anos. mas aquilo que sabe. O autor buscou respostas para questões relativas o quê e como a criança desenhava. apesar das diferenças individuais de temperamento e sensibilidade. inclusive. p. analisando-o numa abordagem cognitiva. Assim a criança é o sujeito de seu processo. Gardner(1999). Luquet (1969) foi um dos primeiros teóricos a se interessar pelo desenho infantil. A figura humana é inexistente ou pode aparecer da maneira imaginária. A criança que começou por traçar signos sem desejo de representação descobre por acaso uma analogia com um objeto e o seu traçado passa a nomear seu desenho. pelo meio sócio-cultural. por fim. é possível que surjam os primeiros indícios de figuras humanas. Quanto a utilização das cores. Ocorre a mudança de movimentos. Há necessidade de que haja uma compreensão desses quatro . no estágio pré-esquemático. pois aqui existe a exploração do traçado. Ainda é um exercício. vemos a imitação "eu imito. braços. não relaciona entre si. mas não há intenção consciente. aparecem sóis. Então aparecem as primeiras relações espaciais. porém não represento". surgindo devido a vínculos emocionais. que se inicia por volta dos quatro anos e se estende até os sete anos. A fase da garatuja pode ser dividida em outras duas partes: • Desordenada: movimentos amplos e desordenados. baseada em sistemas de simbolização. vão se tornando circulares e. e uma análise afetiva. imutáveis. avançando os traçados pelas paredes e chão. Após esta fase. inicia a mudança de símbolos. Já conquistou a forma e seus desenhos têm a intenção de reproduzir algo. ou seja. mas não há relação ainda com a realidade. radiais e mandalas. pensamento e realidade. como deficiências física ou mental. se fecham em formas independentes. existem crianças que pulam alguns estágios de desenvolvimento e crianças que param de se desenvolver devido a vários fatores que influenciam em sua vida. como cabeças com olhos. aparece a descoberta da relação entre desenho. com o tempo. aparecendo o interesse pelo contraste. Quanto ao espaço. interesse pelas formas. situação social e econômica ou distúrbios psicológicos. vale ressaltar que estes estágios compreendidos entre os sete e onze anos estão dentro do período das operações concretas. formas irreconhecíveis com significado. No final dessa fase. Dentro da expressão. Gardner (1999) faz uma abordagem cognitiva baseada em Piaget. Estes estágios não são estáticos. como família. coordenação visomotora. a criança com idade entre sete e nove anos entra no estágio esquemático. A figura humana pode aparecer de maneira imaginária. simples riscos ainda desprovidos de controle motor. pescoço e tronco. Com relação a expressão. Dentro da fase pré-operatória. A figura humana torna-se uma procura de um conceito que depende do seu conhecimento ativo. Mas o grande salto é ser capaz de desenhar um ser humano reconhecível. que ficam soltas na página. pode usar. • Ordenada: movimentos longitudinais e circulares. São movimentos que mantêm sua essência. sendo maleáveis e modificando-se mediante as intervenções externas.um papel secundário. Este autor considera que o desenvolvimento do desenho infantil divide-se em quatro movimentos. pela família e pelo educador. o jogo simbólico aparece como: "nós representamos juntos". e após os nove anos passa para o estágio do realismo nascente. a criança ignora os limites do papel e mexa todo o corpo para desenhar. Ela também respeita melhor os limites do papel. • Essa fase inicia-se o jogo simbólico: "eu represento sozinho". dependerá do interesse emocional. atribui nomes. os desenhos são dispersos inicialmente. com pernas. As primeiras garatujas são linhas longitudinais que. conta histórias. A figura humana pode aparecer de maneira imaginária. De acordo com Piaget (1948). concluiu que havia níveis nesse desenvolvimento. 3. para Ferreiro citada por Ribeiro (2007). é preciso agir sobre eles de maneira a decompô-los e a recompô-los. (PIAGET. ou seja. O nível Pré-silábico I. considerando a escrita como sistema de representação. Assim como as primeiras civilizações faziam inscrições na pedra e a "escrita" representava o próprio objeto. 2007. Nesta etapa a criança pode ter a intenção de produzir marcas diferenciando desenhos de letras ou outros códigos. (RIBEIRO. converte-se na apropriação de um novo objeto de conhecimento.32). (PILLAR. silábico. O DESENHO E O PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO A partir dos estudos realizados é possível dizer que existe uma estreita relação entre a evolução da escrita e a do desenho. 1948.. e fundamentalmente.] para conhecer os objetos. (1999) a aprendizagem da língua escrita á a construção de um sistema de representação. produz traços visíveis sobre o papel. silábico-alfabético e alfabético. qual seja: Pictográfica: forma de escrita mais antiga que permitia representar só os objetos que podiam ser desenhados: desenho do próprio objeto para representar a palavra solicitada. p. [. Sendo assim.. A aprendizagem. põe em jogo suas hipóteses acerca do significado mesmo da representação gráfica. em m que a criança acredita que escrever é reproduzir ou imitar os traços da escrita do adulto.] quando uma criança começa a escrever. Para Ferreiro . Estudá-los é estar se fundamentando para poder fazer uma boa leitura da expressão artística da criança.] para que a criança se aproprie do sistema de representação da escrita. mas sua . diferenciando os elementos e as relações próprias ao sistema.. e. Os níveis descritos pelas autoras são: pré-silábico.movimentos e de tudo que os envolvem porque cada um tem sua beleza e significação. p... além disso.8) [. parece refazer o caminho percorrido pela humanidade. bem como a natureza do vínculo entre o objeto de conhecimento e a sua representação. Ideográfica: consistia no uso de um simples sinal ou marca para representar uma palavra ou conceito: uso de símbolos diferentes para representar palavras diferentes. Na pesquisa realizada por Emília Ferreiro e Ana Teberosky (1999) sobre a aquisição do sistema de escrita.. referentes ao nome dos objetos e não ao objeto em si. em uma aprendizagem conceitual. p. a autora observa que [. As pesquisas realizadas por Emília Ferreiro indicam que cada sujeito. nesse enfoque. no processo de construção da escrita. 40). 1996. a criança associa o significante ao significado. Logográfica: escrita constituída por desenhos. ela terá que reconstruí-lo. assim como o desenho. rua. Por conseguinte. variedade de caracteres gráficos. O adulto que. Outro ponto a ressaltar. animais ou objetos devem ter nomes grandes. porém uma particularidade: cada letra vale por uma sílaba. Posteriormente a criança nega esta sua hipótese. Pela primeira vez. é preciso haver letras variadas nas palavras. sol. para possibilitar a leitura. Posteriormente as formas gráficas adquirem maior proximidade com as letras convencionais. No nível pré-silábico II a criança já usa letras ou criam pseudoletras. De acordo com este critério de variedade. placas e outros). torna-se necessário. exige um mínimo de três letras para o escrito ser uma palavra. lar e outras. a criança passa por uma fase em que ocorre o que denomina eixo quantitativo da escrita. Assim. Daí a ênfase de Emília Ferreiro no sentido de que o processo de alfabetização tem que ser visto do ponto de vista de quem aprende (aluno) e não daquele que ensina (professor). para ler nomes diferentes. normalmente. as coisas pequenas terão nomes pequenos. com linhas retas e curvas. lê artigos. Ao trabalhar a escrita silábica. Segundo as autoras. A característica observada é que a criança acredita que os nomes das pessoas. Costuma. às vezes. jamais suspeitariam desse critério que a criança utiliza. constitui um grande avanço e se traduz num dos mais importantes e esquemas construídos pela criança. números. se for letra cursiva fará rabiscos ondulados. preposições. As crianças interagem com outros sistemas notacionais. escrever colocando numerais junto às letras. ela trabalha com a hipótese de que a escrita representada partes sonoras da fala. em função do critério interno de quantidade. As palavras que possuem letras iguais são também rejeitadas. conjunções e outros. durante o seu desenvolvimento. fará rabiscos separados. a criança não separa letras de números. São rejeitadas. eles devem ser escritos com letras diferentes. também. A criança pensa que é possível ler nomes diferentes com grafias iguais. é que numa determinada fase. segundo ela não poderão ser lidas porque tem poucas letras. neste nível. podem desaparecer momentaneamente. É o que chamamos de realismo nominal lógico. as exigências de variedade e de quantidade mínima de caracteres que aparecem na escrita présilábica. a criança começa a escrever como uma produção controlada pela segmentação silábica da palavra. já que ambos envolvem linhas retas e curvas. quando ainda não dominam as letras convencionais do nosso alfabeto para escreverem algo. a criança pode vir a passar por momentos onde afirmam que para que se possa ler ou escrever uma palavra. Se a forma básica de escrita que a criança tem contato for letra de imprensa. A criança acredita que "não servem para ler". os números fazendo distinção entre os símbolos (letras) que são usadas na escrita de outras formas de produção (desenhos. As palavras como pé. de um modo geral. como por exemplo. utiliza tantas letras quanto forem as sílabas das palavras. A criança. . Ainda de acordo com Ferreiro e Teberosky (1999). porque acredita que.escrita ainda não pode funcionar como um veículo informativo Pré-silábico II. A escrita. No nível silábico. No nível Silábico Alfabético. pois as crianças acham que sempre estão sobrando letras e então ela entra em conflito. surgirão os problemas relativos à ortografia. Ela já é capaz de fazer uma análise sonora dos fonemas das palavras que escreve. é certo descaso com a . que vá "mais além" da sílaba. acrescenta-se letras ao final da palavra. principalmente nas séries iniciais do ensino fundamental. e quando os adultos não conseguem ler o que a criança escreveu. surge um conflito cognitivo por causa da exigência de quantidade mínima de caracteres e a criança tenta buscar outra solução para o seu "problema". está correto. E a partir disso. e o problema se agrava quando a palavra a ser escrita seja um monossílabo. quando a própria criança não consegue ler o que escreveu. A partir daí.Mas se a criança já tiver internalizado a hipótese silábica. trata-se de outro tipo de dificuldade que não corresponde ao sistema de escrita que ela já venceu. A criança não aceita que uma palavra com menos de três de letras possa ser lida. porém não significa que todas as dificuldades foram vencidas. segundo Ferreiro e Teberosky (1999). De acordo com Ferreiro e Teberosky (1999) a criança abandona a hipótese silábica e descobre a necessidade de fazer uma análise. onde o sujeito cria os elementos e as relações que compõem este sistema de representação. pelo conflito entre a hipótese silábica e a exigência mínima de caracteres e o conflito entre a variedade interna das letras. Nesse nível. pois faltam elementos para que se faça a leitura. A criança percebe a insuficiência de sua hipótese ao associar uma letra para cada sílaba e passa a perceber a sílaba constituída com mais de uma letra. a exigência na variedade de caracteres reaparece. Nesta reconstrução. a passagem da hipótese silábica para a alfabética é um passo de extrema importância na evolução da leitura e da escrita. Entretanto. 4. PRÁTICAS COM O DESENHO NA EDUCAÇÃO INFANTIL No que diz respeito ao trabalho desenvolvido nas escolas em relação ao desenho. Outro fator que também explica essa passagem é impossibilidade de ler o que as pessoas alfabéticas escrevem. Podese explicar a passagem do nível silábico para o silábico-alfabético. Isso. o sistema alfabético de escrita é uma das representações da linguagem e não uma representação gráfica dos sons da fala. A fase final do processo de alfabetização de um indivíduo é marcada pelo Nível Alfabético. constatou-se que a apropriação do sistema de escrita passa pela reconstrução deste objeto de conhecimento. pois sabem que nos livros e nas escritas das pessoas alfabetizadas. o que está escrito. pois a criança não aceita que uma palavra poderá ser lida com todas as letras iguais. pode-se considerar que a criança venceu as barreiras do sistema de representação da linguagem escrita. De acordo com a pesquisa realizada por Ferreiro e Teberosky (1999). e então na tentativa de que se possa ler o que ela escreveu. mas por a criança em estado de desenhar convenientemente em realismo visual quando tenha esta intenção. e sente-se incapaz de fazer desenhos como quereria fazer. Os professores. objetos.145) Dessa forma. pessoas) para que possamos . que elas façam a leitura de suas produções e escutem a de outros e também que sugira a criança desenhar a partir de observações diversas (cenas. Isso deve ser feito mostrando-lhes objetos de seu quotidiano e exercitando o desenho tanto quanto possível ao natural. É aconselhável. mas um traçado executado simplesmente para fazer linhas. O desenho está também intimamente ligado com o desenvolvimento da escrita. dotada de prestigio por ser "secreta". em especial em relação à escrita. Para este autor. Mas o que foi observado durante estudos sobre o desenho infantil e suas contribuições no processo de alfabetização. deixar a criança use a sua criatividade. possibilitar às crianças que desenhem. sem intervenções ou críticas. é que a arte é importante não só porque é uma forma de construir conhecimentos. a principal atitude do educador deve ser a de "apagar-se". Muito cedo ela tenta imitar a escrita dos adultos. é propiciar-lhes representar graficamente as suas experiências. o pensamento. já que a escrita (considerada mais importante) passa a ser concorrente do desenho. mais tarde. para a criança. a cognição. quando ingressa na escola verifica-se uma diminuição da produção gráfica. Porém.com a sua conseqüência fundamental: a perspectiva. cabe ao professor estudar e conhecer as fases do desenho infantil e qual a relação que elas têm com os níveis de desenvolvimento da escrita. os desenhos que executava anteriormente de acordo com o realismo intelectual já não satisfazem o seu espírito crítico desenvolvido. e isso bem antes de ela própria poder traçar verdadeiros signos. ao contrário de ser perda de tempo. para que assim ele possa proporcionar aos alunos aulas que contribuíram tanto para o desenvolvimento artístico como o desenvolvimento do processo de aquisição da escrita. esse desinteresse é produzido na idade em que a criança chega à concepção do realismo visual . a escrita exerce uma verdadeira fascinação sobre a criança. Parte atraente do universo adulto. O autor afirma que o ensino do desenho deve visar não a acelerar artificialmente a evolução espontânea do desenho. que ofereça às crianças o contato com diferentes tipos de desenhos e obras de artes. (Luquet. A princípio. é uma atividade que envolve a inteligência. é construir representações de forma e espaço através do desenho. Luquet (1969) exemplifica como se dá o abandono da criança pela atividade do desenho. em sua maioria. ao professor. fazendo sempre com que estas sugestões não soem como imposições deixando-a desenhar ao seu modo. No entanto.disciplina que mais trabalha esse conteúdo a Artes como parte integrante do currículo e da formação das crianças. 1969 pg. ou seja. conforme sua teoria. mas também que a arte influi na construção de conhecimentos. o desenho não é um traçado executado para fazer uma imagem. acreditam que o desenho nessa fase escolar não é importante e por esse motivo não planejam o trabalho envolvendo a arte em sala de aula. Mente e Cerébro: uma abordagem cognitiva da criatividade. Enfim. Lisboa: Companhia Editora do Minho. podemos afirmar que o desenho precede á escrita. GARDNER. O desenho infantil e sua evolução é importante ferramenta de análise do progresso da criança. Arte Infantil.Arte. movimentos na definição de que o desenho evolui conforme o próprio crescimento da criança. contribui para a representação simbólica que se manifesta por volta dos dois anos de idade. onde a criança explora materiais e movimentos e não na fase préoperatória quando começa a construir e representar. Sendo assim.ajudá-la a nutrisse de informações e enriquecer o seu grafismo. Howard. uma relação de interdependência. o desenho infantil é um universo cheio de mundos a serem explorados. preparando-a para a apropriação do sistema da escrita. LUQUET. Assim elas poderão reformular suas idéias e construir novos conhecimentos. emocional e conseqüentemente necessárias ao processo de alfabetização que são desenvolvidas pela interação entre a criança e o objeto. G. Liana Di Marco e Mário Corso. Diana Myriam Lichtenstein. como uma outra forma de representação que não o de desenhar. estágios. Psicogênese da Língua Escrita. observamos que embora a abordagem e a nomenclatura possam ser diferentes. porém. fase pré-operatória. suas emoções e sua visão peculiar. dentro do seu processo como ser humano. Porto Alegre:Artes Médicas Sul. As garatujas ou os rabiscos aparecem na fase sensório-motor. Tradução: Sandra Costa. Possui. Porto Alegre: Artes Médicas Sul. TEBEROSKY. . Ana. etapas. motora. H. 1999. etapa da teoria do desenvolvimento humano elaborada por Piaget. 1969. O desenho infantil. Referências Bibliográficas: FERREIRO. 1999. Porto: Editora do Minho. CONCLUSÃO Finalmente. por possibilitar oportunidades da criança representar e transcrever para o papel toda a sua impressão sobre o mundo que vive. LUQUET. G. Trad. dano-lhe a capacidade de representar e interpretar. 1969. para o processo de desenvolvimento das estruturas cognitivas. Emília. os autores concordam no que diz respeito ao desenho infantil como sendo primordialmente composto por fases.H. com.com.pedagogia. Desenho & escrita como sistema de representação. A formação do símbolo na criança.MÈREDIEU.pdf http://revistaescola.br/artigos/desenhonaalfabetizacao/index.php? pagina=0 http://www. 1996. Porto Alegre: Artes Médicas. RABELLO. Documentos acessados na Internet em 30/10/2010: http://www. 1995.abril. O desenho infantil. PUF.br/site/bibdigital/monografias/IMPORTANCIA_LUDICO. F. Sylvio. 1948 PILLAR.unama. Analice Dutra. J.br/educacao-infantil/4-a-6-anos/importanciadesenho-preescola-educacao-infantil-desenvolvimento-541441.nead.shtml . PIAGET. 1935. São Paulo: Companhia Editora Nacional. São Paulo: Cultrix. Psicologia do Desenho Infantil.
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