$LPDJHPWHPSR±*LOOHV'HOHX]H_ $LPDJHPWHPSR±*LOOHV'HOHX]H “Em suma, se houvesse um cinema político moderno, seria sobre a seguinte base: o povo já não existe, ou ainda não existe… o povo está faltando.” (DELEUZE, Gilles. A Imagem‑Tempo. São Paulo: Brasiliense, 1990, p. 258‑259) “É preciso que a arte, particularmente a arte cinematográfica, participe dessa tarefa: não dirigir‑se a um povo suposto, já presente, mas contribuir para a invenção de um povo.”(DELEUZE, Gilles. A Imagem‑Tempo. São Paulo: Brasiliense, 1990, p. 259) “Há uma segunda diferença entre o cinema político clássico e o moderno, que se refere à relação político‑privado.” (DELEUZE, Gilles. A Imagem‑Tempo. São Paulo: Brasiliense, 1990, p.260) “É desse modo que a obra de Glauber Rocha, os mitos do povo, o profetismo e o banditismo, são o avesso arcaico da violência capitalista, como se o povo voltasse e duplicasse contra si mesmo, numa necessidade de adoração, a violência que sofre da outra parte (Deus e o Diabo na Terra do sol). A tomada de consciência é desqualificada, seja porque se dá num vazio, como no caso do intelectual, seja porque está comprimida num vão, como em Antônio das Mortes, capaz tão‑somente de captar a justaposição das duas violências e a continuação de uma na outra.”(DELEUZE, Gilles. A Imagem‑Tempo. São Paulo: Brasiliense, 1990, p. 261) “O que resta então? O maior cinema de ‘agitação’ que se fez um dia: a agitação não decorre mais de uma tomada de consciência, mas consiste em fazer tudo entrar em transe, o povo e seus senhores, e a própria câmera, em levar tudo à aberração, tanto para pôr em contato as violência quanto para fazer o negócio privado entrar no político e vice‑versa (Terra em transe). Daí o aspecto tão particular que a crítica do mito assume, em Glauber Rocha: não é analisar o mito para decobrir seu sentido ou estrutura arcaica, mas sim referir o mito arcaico ao estado das pulsões numa sociedade perfeitamente atual – fome, sede, sexualidade, potência, morte, adoração.”(DELEUZE, Gilles. A Imagem‑Tempo. São Paulo: Brasiliense, 1990, p. 261) “Extrair do mito um atual vivido, que designa ao mesmo tempo a impossibilidade de viver, pode fazer‑se de outras maneiras, mas não deixa de constituir o novo objeto do cinema político: fazer entrar em transe, em crise.” (DELEUZE, Gilles. A Imagem‑Tempo. São Paulo: Brasiliense, 1990, p. 261) “Tudo se passa como se o cinema político moderno não se constituísse mais sobre uma possibilidade de evolução e de revolução, como o cinema clássico, mas sobre impossibilidades, a maneira de Kafka: intolerável.” (DELEUZE, KWWSVJSHVFZRUGSUHVVFRPDLPDJHPWHPSRJLOOHVGHOHX]H não é o eu do intelectual do Terceiro Mundo. pois o povo só existe enquanto minoria. Não haverá mais conquista do poder pelo proletariado ou por um povo único e unificado. a tomada de consciência de que não havia povo. é o próprio esquema da reversão que se revela impossível. de tomar personagens reais e não fictícias. p. o autor não tem condições de produzir enunciados individuais. vimos. imediatamente. isto é.”(DELEUZE. tampouco inventar ele próprio uma ficção que ainda seria história privada: pois qualquer ficção pessoa. p. para que o problema mudasse.” (DELEUZE. a questão do eu: pois. 1990. Gilles. como qualquer mito impessoal. Gilles. p.” (DELEUZE. se ele se estilhaça em minorias. essa condição ainda mais o capacita a exprimir forçar potenciais e. São Paulo: Brasiliense. p. 1990. que seriam como que histórias inventadas. político. O autor dá um passo rumo a suas personagens. se o povo falta. por isso ele falta. a maneira de Kafka: intolerável. Gilles. em sua solidão. 263) “Muitos filmes do Terceiro Mundo invocam a memória. mas as personagens dão um passo rumo ao autor: duplo devir. Gilles. 1990. p. São Paulo: Brasiliense. do ponto de vista da cultura: colonizado por histórias vindas de outros lugares. mais ou menos analfabeta. A Imagem‑Tempo. mas colocando‑as em condição de ‘ficcionar’ por si próprias. ainda que apenas esteticamente. Não é uma memória psicológica como faculdade de evocar lembranças. o assunto do povo e o assunto privado. A Imagem‑Tempo. Gilles. sou eu que sou primeiro um povo. ‘fabular’. É nas minorias que o assunto privado é. É assim que vemos Glauber Rocha destruir de dentro os mitos. 1990. mas também porque falta o povo. uma membrana. um catalisador. um ato de fala pelo qual a personagem nunca pára de atravessar a fronteira que separa KWWSVJSHVFZRUGSUHVVFRPDLPDJHPWHPSRJLOOHVGHOHX]H . A Imagem‑Tempo. não deve se fazer etnólogo do povo. mas será que só pode faze‑lo passando para o lado do colonizador. $LPDJHPWHPSR±*LOOHV'HOHX]H_ mas sobre impossibilidades. Resta ao autor a possibilidade de se dar ‘intercessores’. A Imagem‑Tempo. A fabulação não é um mito impessoal.” (DELEUZE. o povo de meus átomos. mas também por seus próprios mitos. É. 261‑262) “Se o povo falta. um duplo devir. que se tornaram entidades impessoais a serviço do colonizador.” (DELEUZE. uma via estreita entre os dois riscos: precisamente porque os “grandes talentos”ou as individualidades superiores não são abundantes nas literaturas menores. 263) “Esse eu no entanto. o povo que falta e o eu que se ausenta. é a questão do dentro. o autor está em condições de produzir eninciados coletivos.” (DELEUZE. p. uma infinidade de povos que faltava unir. 1990. se já não há consciência. mas também não é ficção pessoal: é uma palavra em ato. evolução. revolução. de ‘criar lendas’. um fermento coletivo. São Paulo: Brasiliense. A Imagem‑Tempo. ou que não se devia unir. devido as suas influências artísticas? Kafka indicava uma outra via. mas sempre vários povos. Por mais que o autor esteja à margem ou separado de sua comunidade. 1990. 262) “Por quê?. justamente. Gilles. 262) “O que soou a morte da conscientização foi. São Paulo: Brasiliense. e que deve romper com o papel de colonizado. nem mesmo uma memória coletiva como a de um povo existente. que são como que os germes do povo por vir. está do lado dos ‘senhores’. 264) “O diretor de cinema se vê perante um povo duplamente colonizado. É por aí que o cinema do Terceiro Mundo é um cinema de minorias. O autor portanto. São Paulo: Brasiliense. a estranha faculdade que põe em contato imediato o fora e o dentro. ser um autêntico agente coletivo. e cujo alcance político é imediato e inevitável. muitas vezes retratado por Glauber Rocha. São Paulo: Brasiliense. A Imagem‑Tempo. 266) Sobre estes anúncios (https://wordpress. que é o único capacitado a constituir o conjunto. dos discursos do intelectual. O leão de sete cabeças. para contribuir à invenção de seu povo. 2009janeiro 19. depois passava a arrancar do invivível um ato de fala que não pudesse ser calado. São Paulo: Brasiliense. A Imagem‑Tempo. e lhe dá valor de enunciado coletivo. São Paulo: Brasiliense.” (DELEUZE. um ato de fabulação que não seria uma volta ao mito. É a personagem real que sai de seu estado privado. O transe.”(DELEUZE. um atual vivido que seria como o intolerável. p. mas uma produção de enunciados coletivos capazes de elevar a miséria a uma estranha positividade. passagem ou devir: é ele que torna possível o ato de fala. a impossibilidade de viver agora ‘nessa’sociedade (Deus e o diabo na terra do sol). 1990. 264) “(…) a fabulação que serve de base a fala viva. Mas as partes não são extamente reais em Glauber. São Paulo: Brasiliense. $LPDJHPWHPSR±*LOOHV'HOHX]H_ de fala pelo qual a personagem nunca pára de atravessar a fronteira que separa seu assunto privado da política. porém recompostas. mas a fabulação do povo por vir. o que não pode ser vivido. para apô‑la aos mitos do colonizador islâmico. BLOG NO WORDPRESS. para formar a dois. Gilles. p.COM.com/about-these-ads/) 5 5 &OLTXHDTXL Publicado em novembro 23. 2010 por GPESC Publicado em Fichas de Leitura (Glauber). Cabeças cortadas). ao mesmo tempo que o autor deixa seu estado abstrato. A Imagem‑Tempo. Gilles. o fazer entrar em transe é um transição. KWWSVJSHVFZRUGSUHVVFRPDLPDJHPWHPSRJLOOHVGHOHX]H . p. dos mitos do colonizado. O autor faz entrar em transe as partes. Não era esta operação que Glauber Rocha fazia sobre os mitos do Brasil? Sua crítica interna começava desgarrando. 1990.”(DELEUZE. Gilles. ou com mais. É preciso que o ato de fala se crie como uma língua estrangeira numa língua dominante. precisamente para exprimir uma impossibilidade de viver sob a dominação. 1990. e produz ela própria enunciados coletivos. a invenção de um povo (Antônio das mortes. Crie um bookmark dolink permanente. A Imagem‑Tempo. os enunciados. por baixo do mito. que garante sua liberdade e circulação. 264) “Não um mito de um povo passado. através da ideologia do colonizador. | O TEMA TONAL.