A História do Povo Bantu

March 24, 2018 | Author: Eaine Tavares Florencio | Category: Angola, Africa, Portugal, Devil, Languages


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A História do Povo BantuA grande maioria dos 11.000.000 habitantes que formam a população de Angola, são de origem Bantu. No entanto, outra considerável parte é formada por misturas que começaram muito cedo: primeiramente. entre os diversos grupos que migraram para o território e depois com Europeus (na grande maioria Portugueses) durante a colonização. Existem ainda algumas minorias que não são Bantu, como os Bochimane e um considerável número de Europeus. Há 3000 ou talvez 4000 anos atrás, os Bantu sairam da selva equatorial (a região que é hoje ocupada pelos Camarões e pela Nigéria) e dividiram-se em dois movimentos diferentes: para o Sul e para Este criando a maior migração jamais vista na áfrica. De causa desconhecida, esta migração continuou até ao século XIX. A selva equatorial era uma área de passagem impossível. Só o machado ou o cutelo, a rápida e nutritiva produção de banana e o inhame possibilitaram uma façanha que durou séculos. O excelente nível de nutrição deu lugar a uma invulgar explosão demográfica. A exuberância da selva equatorial, os rios e lagos das grandes savanas, tão bons para a agricultura e a descoberta do ferro - um mineral muito comum na áfrica - deram força à grande aventura. Caminhando sempre em direcção ao Sul. estes vigorosos, armados, organizados e jovens povos, venceram e fizeram escravos os indefesos pigmeus e os Bochimane. O nome Bantu não se refere a uma unidade racial. A sua formação e migração originou uma enorme variedade de cruzamentos. Existem aproximadamente 500 povos Bantu. Assim, não podemos falar de uma raça Bantu, mas sim de povo Bantu, isto significa uma comunidade cultural com uma civilização comum e linguagens similares. Depois de muitos séculos de movimentações, cruzamentos, guerras e doenças, os grupos Bantu mantiveram as raízes da sua origem comum. A palavra Bantu aplica-se a uma civilização que manteve a no Continente Africano. Ambó. Bantu e Português. significa homem. Fora da sua identidade social. a Nilo-Sahariana (constituída pelo Sudanês. que por seu turno estão subdivididos em cerca de 100 subgrupos. uma escultura de grande originalidade estilística. o árabe e o aramaico). são por ordem de antiguidade: Bochiman. além do semelhante nível linguístico. um eminente estudioso do Bantu diz que o primeiro ponto obtido no domínio da linguística comparada foi a unidade dos povos Bantu. ser humano e ba é o plural. rituais e costumes muito similares. vulgar para a maioria das línguas Bantu. O radical ntu. tradicionalmente chamadas tribos. Herero e Xindonga. uma cultura com características idênticas e específicas que os tornam semelhantes e agrupados. mantiveram uma base de crenças. História Bantu Kubokuesa kuna Kimbundu (Introdução ao Kimbundo) O Kimbundu e os grupos linguísticos africanos. e existem centenas. são caracterizados por uma tecnologia variada. para sul do Equador) e Khoisan (línguas dos Pigmeus da floresta . o grupo Bantu. Bantu significa homens. Os dialectos Bantu. de que destacamos os Bantu. Os povos Bantu. Das três só o Português tem uma forma escrita. Nhaneca-Humbe. seres humanos. Também diz. o Sahariano e o Songhai). inserido na família Congo-Cordofaniana A grande maioria dos linguistas está de acordo em como. que os primeiros descobridores Portugueses viram que os Angolanos conseguiam comunicar com os povos da costa Moçambicana.sua unidade e foi desenvolvida por pessoas de raça negra. as línguas se dividem por quatro grandes famílias: a Afroasiática (inclui as línguas Berberes do Norte de África. Os Bantu Angolanos estão divididos em 9 grupos etnolinguísticos: Quicongo. as Cushitas da Etiópia e da Somália e ainda as semitas. apresentam uma unidade genealógica. Luanda-Quioco (Tchôkwe). Assim. a NigerCongo ou Congo-Cordofaniana (inclui numerosos grupos predominantes para sul do Sahara. têm uma tal semelhança que só pode ser justificada por uma origem comum. Ganguela. uma incrível sabedoria empírica e um discurso forte e interessante com sinais de expressão intelectual. tendo em conta a história desta unidade. Quimbundo. As línguas faladas hoje em Angola. Mbundo. Os dialectos Bantu. abrangendo o hebreu. Homburger. os LundaTchokwe.Muntuquer dizerindivíduo. correspondendo a cada uma delas uma língua diferente: Nação Bakongo Mbundu (ou Ambundu) Lunda-Tchokwe Ovimbundu Ganguela Nhaneka-Humbe Herero Ovambo Donga Idioma Kikongo Kimbundu Tutchokwe Umbundu Tchiganguela Lunhaneka Tchiherero Ambo Xindonga De todas estas nações. dos Ovimbundu e dos Nhaneka-Humbe se circunscrevem ao espaço angolano. Pelos exemplos acima indicados. A nação Mbundu reparte-se por 11 subgrupos (ou etnias). e do número. Malanje. cujo território é atravessado pelo rio Kassai. os Ganguela entre Angola e a Zâmbia e. sendo o seu plural. disseminados pelas províncias de Luanda. significando. São. Congo Democrático e Congo Popular.bantu. é plural demuntu.Cada uma destas nações é dividida por diversos subgrupos. diferenças dialectais nos subgrupos mbundu.ser humano. por exemplo.pessoasouseres humanos.pessoa. apalavramutusignificapessoa. só os territórios dos Mbundu. Bosquímanos ou. o kimbundu de Ambaka O território de Angola situa-se quase exclusivamente dentro da área de difusão das línguas bantu. Os Bakongo. Mucancalas)1[1].gente. finalmente. a cada um dos quais corresponde uma variante dialectal. consoante a difusão geográfica dos 1 . pertencendo à família linguísticaNigerCongo ou Congo-Cordofaniana. vulgarmente conhecidos como Hotentotes. OKimbundu é uma língua do grupo Bantu. feminino ou masculino. entre Angola e a Namíbia. em Angola. dividem-se entre Angola e o Congo Democrático. repartem-se pelos estados de Angola. a formação do género.indivíduos. Nações Bantu de Angola.pessoas.atu. Bengo. São nove as nações bantu de Angola. Os das outras são todos atravessados pelas fronteiras políticas delineadas após a Conferência de Berlim de 1885. Em Kimbundu. singular ouplural – se fazer por meio de prefixos. Kuanza Norte e ainda pequenas bolsas no Uíge e no Kuanza Sul. portanto. radical comum aquase todas as línguas do grupo. na província do Katanga (ex-Shaba). 11 as variantes do Kimbundu. portanto. os Ambo e os Donga. podemos desde jáconcluir que a principal característica das línguas Bantu é o facto da flexão –isto é.tropical do Congo Democrático e línguas faladas “com estalinhos” pelos povos !Kung. os Herero. o. kolombolo ou koromboro (galo). de resto. embora certos autores o usem enquanto prefixo para fazer o plural de ki. “macaco”. Luandas. Bondos.matubia – fogo(s) kuria. Cordeiro da Matta. ditadi ou ritari (pedra). bem como o c antes de a. Por exemplo. necessidade do emprego do y em Kimbundu. por exemplo. i. misericórdia).O som nh deve. dikania ou dikanya (tabaco). Foram eles que introduziram os princípios ortográficos ainda hoje vigentes. a. kitari ou kitadi (dinheiro). vocábulos como Angola derivado de ngola (rei) ou embondeiro derivado de mbondo (árvore). Dembos. “pássaro”. Ortografia e fonologia O Kimbundu deve sempre grafar-se com escrita sónica.O r é sempre brando e pode ser trocado por d ou. “chuva”nd como em ndandu. Os primeiros a escrevê-la e a estudar-lhe as regras gramaticais foram os missionários capuchinhos e jesuítas de Ambaka. dikanha. Classes nominais e concordâncias Nas línguas bantu.ima– coisa(s) ritari.mauta – arma(s) lumbu. “caminho”h como em hima. Por exemplo. embora haja quem escreva ni ou ny. os nomes substantivos ordenam-se em classes ou grupos consoante os pares de prefixos que definem os singulares e os plurais. escrever-se como em português. não tem tradição escrita. “coisas”O m e o n servem para nasalar.Não vemos. Libolos e Quissamas.mbcomo em mbambi. de onde destacamos Héli Chatelain. “parente”ngcomo em ngiji. Ibacos. como em henda (graça. e. Em tal caso sugerimos a grafia i. Jingas.atu – pessoa(s) mutue. à semelhança das outras línguas bantu. o e u. Ndenge (mais novo) e ngindu (trança) lêm-se ndengue e nguindu.Nos séculos XIX e XX surgem estudiosos do Kimbundu. O Kimbundu tem 10 classes nominais.O h é sempre aspirado. “frio”nvcomo em nvula. Antes de outra vogal. António de Assis Júnior e Óscar Ribas. distinto de ima.O Kimbundu. daí que tenham surgido. “gazela”. menos frequentemente. por l. “rio”nj como em njila. kudia ou kuria (comer). As cinco vogais.O g nunca tem o valor de j. são todas abertas.O k substitui sempre o q da língua portuguesa. u. Quibalas. Fizeram-no com o fim de ensinar a língua portuguesa e o catecismo aos africanos. em nosso entender. ie u funcionam como semi-vogais.makuria – comida(s) mbijijimbiji – peixe(s) monatuana – criança(s) . Songos. mesmo antes de e ou i.matari – pedra(s) uta. CLASSES 1ª 2ª 3ª 4ª 5ª 6ª 7ª 8ª 9ª 10ª SINGULAR mu mu ki ri u lu tu ku -ka PLURAL a mi i ma mau malu matu maku ji tu EXEMPLO mutu.malumbu – muro(s) tubia.11 povos que constituem esta nação: Ngolas. Bângalas.mitue – cabeça(s) kima. que designam a classe a que o nome pertence e o número em que seencontra. CLASSESINGULAR 1ª 2ª 3ª 4ª 5ª 6ª 7ª 8ª 9ª 10ª PLURAL ua ua kia ria ua lua tua kua ia ka a ia ia ma ma ma ma ma -tua A concordância faz-se.Estesprefixosabsolutos.Exemplifiquemos:Mubikauamiuakalaumoxi /Abik’amiakalaatatuO meu escravo era um/ Os meus escravos eram trêsMukolouamiuakalaumoxi /MikoloiamiiakalaitatuA minhacorda era uma / As minhas cordas eram três Kialukiamikiakalakimoxi /Ialuiamiikalaitatu A minha cadeira erauma / As minhas cadeiras eram trêsRilongariamiriakalarimoxi /MalongamamimakalamatatuO meu prato era um / Os meus pratos eramtrês Utauamiuakalaumoxi /Mautamamimakalamatatu A minha arma era uma /As minhas armas eram três Lumbuluamiluakalalumoxi /Malumbumamimakalamatatu O meu muro era um / Osmeus muros eram três Tubiatuamituakalatumoxi /Matubiamamimakalamatatu O meu fogo era um / Osmeus fogos eram trêsKuriakuamikuakalakumoxi /MakuriamamimakalamatatuA minha comidaera uma / As minhas comidas eram três Mbijiiamiiakalaimoxi /Jimbijijamijakalajitatu O meu peixe era um /Os meus peixes eram trêsKamonakamikakalakamoxi /TuanatuamituakalatutatuA minha criança era uma / Asminhas crianças eram três. através do prefixo do substantivo que inicia a frase e lhe serve desujeito. . que enumeraremosconsoante as classes e o número a que correspondem.em kimbundu. distinguem-se dosprefixos concordantes. significa: Encruzilhada. desenho de Neves e Sousa. fortalecendo nossa ligação. com o seu papagaio de papel.Menino pobre de Luanda. a receberem oferendas. estamos nos ligando a Eles e. seja o que for. trazendo aos homens os desígnios dos Makisi e levando a Eles as suplicas e as oferendas dos homens. Se nosso contato com Eles for fraco. Pambu N`jila. acendemos uma vela oferecendo-a a Eles. uma das linguas faladas em Angola(África). portanto. etc. que abrem e fecham as “porteiras” de nossa aura. Um pouco de cultura Bantu Mpambu na língua Kikoongo. A cada vez que levamos nosso pensamento a Eles. menos força Eles têm para nos defender. uma garrafa de cachaça entregue na encruzilhada. Receberam por este trabalho o título de Aluvaiá (mensageiro). São os nossos Guardiões (Nlundi). que pode ser traduzido como “Aquele que conhece o caminho mais curto”. São sempre e em qualquer ocasião os primeiros a serem chamados. são os mensageiros que transitam entre o natural e o sobrenatural. N`jila em Kikoongo significa: Caminho. uma rosa vermelha. permitindo ou não a penetração das energias com as quais lidamos e convivemos durante toda a nossa vida. Ao acordarmos devemos agradecer a Nzambi Mpungu pela noite . ao pé da letra. colocando Neles chifres e rabos. em 1902. Diabo vem da palavra diavolo que significa “o mentiroso” e a palavra demônio é formada por demos. A dignificação do negro. como uma reação ao labéu racista da inferioridade congenital do negro angolano. não acreditamos em um ser extracorpóreo que nos force ou nos conduza a praticar o mal contra a nossa vontade. Embora respondam a qualquer hora. Costa Andrade.. será estribado na polémica do “A voz de Angola clamando no deserto”. em que ainda aparece a fazer os papéis mais baixos reservados na escada social. sempre. . Vale recordar que. na telenovela. deixando-nos. Rosário Marcelino. mais a mais. na literatura brasileira é um fenómeno recente.Muitos querem igualar os Pambu N`jila ao diabo. na realidade estamos enfrentando um teste ou uma prova. pensamentos e palavras. contos e adivinhas.e pela nova oportunidade de mais um dia e saudarmos o nosso Guardião solicitando que possamos contar com Ele por mais um dia. O pregão e o drama do “modus vivendi” da quitandeira. que significa povo (democracia. já vai mais de um século. que significa ligação. fábulas. o imaginário indígena brasileiro. significa “o mal dentro de nós”. Cacueji. sem sucesso. portanto podemos afirmar que Pambu N`jila é um demônio e que o diabo nem demônio é. A palavra tentação vem de tester (grego) que significa teste ou prova.) e ions. demonstração. e a história parece querer repetir-se a todo gás e a todo tempo. o angolano assume-se como sujeito da sua literatura no conflito civilizacional entre o colono e o colonizado. Pretender o contrário para a literatura angolana é falsear a evolução do fenomeno literário angolano. responsáveis pela conseqüência de nossos atos. trago o assunto doutro modo: “in limini”. poderá suplantar ou não. ou mesmo atravessados nos textos narrativos e poéticos de Agostinho Neto.moleque ou doméstica. primacialmente.. veiculado nas línguas maternas angolanas de origem bantu. Ou seja. por total ignorância. António Jacinto. agrupamento humano de origem alógena. é basicamente índio. O imaginário angolano é. dia e lugar. etc. Koluki: O Imaginário Bantu na Cultura Angolana Contrariamente ao que pretendem fazer convencer alguns. só com a Semana da Arte Moderna em 1922 é que o negro brasileiro conquistou o seu papel de sujeito na literatura brasileira. para não falarmos dos provérbios. metonímia do sofrer colectivo (lutando pela . cujas ocorrências são detectadas em empréstimos e coloquiasmos embebidos na literatura angolana. etc. nós lhes reservamos as segundas-feiras. uma identidade literária distinta da potência colonial. “Mutatis mutandis”. Em kikoongo a palavra que os padres que montaram o dicionário de português-kikoongo e kikoongo-português. embora marginalizado.As cores reservadas a eles são a preta e a vermelha juntas. pelo livre arbítrio. encontraram para diabo foi “temba” que. que só nossa consciência. Viriato da Cruz. recolhidas e trabalhadas por Óscar Ribas. como procuraremos demonstrar à luz da raiz da sua cultura. Quando caímos em tentação. S. A literatura angolana emerge da manifestação inequívoca deste direito à diferença. pois nossos Ancestrais. assim como nós. Raúl David. recolhendo peças da oralidade kikongo e não só. daí que os escritores e demais homens de cultura deverão curar da sua reabilitação e preservação. este último no seu texto narrativo “kikinhas da fonseca”. quando a palhota do vizinho estiver a arder”. o imaginário português será o filão espiritual que enforma a sua cultura. que se distingue e contradistingue do vernáculo falado em Portugal. cultivada em língua portuguesa. nomeadamente. fazem apelo ao ambiente e espaço tributário do nosso contexto “local”. expressamente em “Kandudu”. cuja indumentária. autêntico modelo de representação cultural e simbólica dos ilhéus. A contribuição desses e outros autores não se esgotam no âmbito sócio-linguístico. pois. enquanto outros falam Bié outros ainda falariam Vié. a língua não ocorre da mesma maneira em Trás os Montes. a literatura portuguesa será aquela em que se deverá encaixar a literatura exótica cultivada por colonos ou neo-colonos em Angola. o que já deu motivo para “trazer água na barba” ou “pôr as barbas de molho. tende a desaparecer. De resto. Esta é devedora do contexto plurilinguístico e multicultural das suas ocorrências em Angola. por mais que doa a muito boa gente em “crise permanente de identidade”. bebendo empréstimos linguísticos decorrentes da interpenetração idiomática entre a primeira e segunda línguas. Luís Kandjimbo e dos também ficcionistas Cikakata Mbalundu e Rosária da Silva e Miguel Júnior. provérbios que dizem respeito ao imaginário português e que presidiriam o imaginário colonial ou neocolonial nos dias que correm. Timóteo Ulika. não exclusivamente. Jacinto de Lemos. substrato em que assentará a literatura portuguesa e seus afluentes. Convenhamos ainda que. Curry Duval. bem como enquanto cultora e transmissora dos valores antigos de geração para geração. Basta ver que enquanto uns falam vinho outros falam binho. A literatura angolana é uma expressão da cultura angolana e africana. O mesmo ocorre com outros poetas como Panguila. Disso se ocupara com proficiência e autoridade o pensador português Eduardo Lourenço. é paradigmático nestes autores. Mesmo em Portugal. do “hinterland” de Luanda. em Setúbal ou em Belém e no Algarve. Lopito Feijó. Jofre Rocha. este resgata os coloquialismos dos musseques. António Fonseca. embora seja primacialmente. sem esquecer os prosadores e poetas da nova fornada despoletada nos anos 80. O . geografia física e emocional que presidem o aludido imaginário identitário.vida). assim sendo. Jorge Macedo. a literatura angolana não é resultante da cultura portuguesa. veiculados por via da oralidade. representada simbolicamente por aquela franja que se revê basicamente nesta matriz bantu. representando figura feminina. Nestes termos. e qualquer tentativa de colocar um subgrupo marginal (no sentido antropológico do termo) ou que se assume como “gueto” sócio-linguístico. banhada em sucos vegetais avermelhados. A literatura angolana será. traz no seu substrato a cultura angolana. é feita em madeira e fibras vegetais representando a beleza da mulher Ngangela. em cerimônias sociais ou rituais. É sempre usada por um homem. utilizada em cerimônias ligadas aos ritos da puberdade e a outras cerimônias sociais. ORIGEM: Ovingangela FUNÇÃO: Animadora de cerimônias MATÉRIA: Madeira e Fibras DIMENSÕES: 30 cm x 25 cm A peça Mwana Mpwevo. os pormenores dos elementos que integram o conceito de beleza feminina no imaginário dos Ngangela. `a partida . A face em madeira tratada. a literatura angolana. A máscara Mwana Mpwevo atualiza o papel determinante da mulher com base no . cuja matriz é africana e bantu. -------------------------------------------------------------------------------------- DESIGNAÇÃO: MWANA MPWEVO DESCRIPÇÃO: Máscara feita em madeira. cultural ou rácico no seu centro. tudo resto será subsidiário e periférico. apesar de exercitada maioritariamente em Português. por maioria de razão. e o toucado elaborado a partir de fibras vegetais. refletindo uma profunda crise de identidade cultural.caso de Geraldo Bessa Victor e companhia é paradigmático. estará viciada e peca por defeito ou por excesso (dependendo do julgamento de valor de cada um). geradora de conflitos ainda que latentes. Ela retratada de forma ousada. é feita de fibras vegetais e ornamentada com partícula em argila. varas. utilizando muitas vezes acessórios para propositadamente provocarem momentos de feição cômica no evoluir da sua exibição. troncos. missangas.regime matriarcado. entronização). inclusive. De realçar o realismo inerente às tatuagens. . fazendo peditórios a favor dos atores sociais intervenientes nas referidas cerimônias. alfinetes e botões. DESIGNAÇÃO: MBUNDA DESCRIPÇÃO: Máscara com a função de dispor bem. na filigrana das notas de kwanza. figura emblemática do país. É muito apreciada na comunidade. alfinetes de latão e botões. Feita em fibras vegetais. botões e alfinetes. a moeda do país. nascimento.5cm x 20 cm A máscara Mbunda está presente nas cerimônias mais diversas (rituais da puberdade. Também designada por Likisi ou Cinganji. particularidade muito apreciada na beleza da mulher Ngangela. pelo que não admira o pormenor do seu embelezamento e o naturalismo de suas feições. DIMENSÕES: 50. De trás de toucados e na base da máscara aparece rede que se liga ao fato do bailarino. missangas. casamento. Participa em cerimônias várias. que aparece. -------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Kibatulu/Mambu (Artigo/Opinião) Estatuetas: arte popular com símbolos mágicos O pensador é a mais famosa estatueta angolana. ORIGEM: Ovingangela FUNÇÃO: Cria buo disposição entre os participantes em cerimônias rituais e sociais. É considerada uma obra de arte fidedignamente angolana. O toucado é feito com borbotos em fibras vegetais empapados em argila vermelha. MATÉRIA: Fibras vegetais. O gesto do bailarino recai principalmente na exibição de movimentos eróticos. e tem como função primeira criar um ambiente hilariante entre os circundantes. as quais irão determinar a sorte do consulente. chegaram a contratar artesãos locais e instalaram-nos em oficinas. com os quais o adivinho previne o consulente contra injúrias. curiosamente. seja ele físico (doença) ou social. pelo menos na acepção grega clássica. Representa um momento de lamentação (carpideira). está relacionada com feitiços mbimbi. particularmente cara aos escultores europeus renascentistas. a então Companhia dos Diamantes da Luanda. Personagem figurada com as mãos à cabeça. desempenhando a função de amuletos que conteriam forças ou seres sobrenaturais. Os funcionários da empresa. por exemplo. Mas o Pensador tem origem numa tradição “inventada” ou “convencionada”. as estatuetas são usadas em ritos mágico-religiosos. como Leonardo da Vinci ou Rodin: o Pensador. O sacerdote (nganga) utiliza vários processos de adivinhação. A adivinhação na região de Luanda é feita de modo simplificado. se assemelhasse a uma estatuária de origem grega. geralmente com objetos que simbolizam qualquer coisa. uma figura emblemática do país e que aparece inclusive na filigrana das notas de kwanza. incentivando-os a esculpir na madeira ou a modelar no barro figuras que fossem genuinamente “nativas”. A invenção do Pensador angolano deve-se a um caso destes. Katwambimbi é uma dessas figuras. aconselhando o uso de amuletos para defesa principalmente das crianças.O seu aparecimento vaticina infortúnio. do qual o sacerdote adivinhador retira pequenas figuras esculpidas em madeira. de figuras míticas africanas cujos pés. Uma das práticas utilizadas nesses ritos e na adivinhação. Ao conhecer figuras usadas nos ritos de adivinhação. chamado de ngombo. Neste ano. É considerada uma obra de arte fidedignamente angolana. no sentido ocidental. “O Pensador”. se junto dela não surgir outra peça que amenize esse prognóstico. em data posterior a 1947. . Se virmos o simbolismo de qualquer uma delas. por iniciativa da Diamang. os europeus induziram os africanos a criar uma figura que. Na origem do Pensador estão algumas figuras do cesto de adivinhação tahi (tchokwe). nenhuma sugere atitude introspectiva. eram grandes e foram reduzidos por razões “estéticas”. mas ao mesmo tempo interferindo. onde é friccionada uma vara. em consulta feita por uma pessoa interessada numa intervenção contra um mal. e etnia lunda-tchokwe ainda usa o cesto de adivinhação. na maioria belga e portuguesa. Na verdade. Houve casos. no sentido de aproximar as formas de uma estética que julgavam ser mais convencional. de algum modo. seguindo a tradição. como estatuetas. a moeda nacional. pedaço de madeira talhado com várias ranhuras. Foram estas figuras que resultaram na mais famosa estatueta angolana. verificamos que.Katwambimbi Na tradição cultural angolana. foi criado no povoado de Dundo um museu de arte tradicional e de coleções etnográficas e arqueológicas. os primeiros Pensadores angolanos foram esculpidos nas oficinas do Museu de Dundo. usando apenas o muxakatu. No nordeste de Angola. A estatueta designada por kalamba e kuku wa Pwo (ascendente feminino). bom prestígio. Personifica o estado de apreensão. ou lembrar compromissos entre duas pessoas. com chota (casa do povo) prevê prejuízos na casa. é fatídico. agonia e receio de fantasmas. no gado ou na agricultura. sobre uma base comum. tem uma das mãos no queixo e a outra colocada sobre o ventre. com upite (riqueza). Lembra ao viajante que deve respeito aos ídolos que encontrar no seu caminho e que só se pode abordar o feiticeiro quando este estiver sozinho. Já uma estatueta de mulher grávida significa recomendação para o consulente construir um altar próprio e usar amuletos propícios à natalidade. . questões resultantes de dote da noiva não satisfeito. Se for uma estatueta estilizada representando três. longe do povoado. chisola ou ruemba. é sinal de vida. aumentam as preocupações de uma futura mãe. como jinga. vaticina um mal apanhado durante viagem ou proveniente de coisas que foram transportadas. Junto ao símbolo upite (riqueza) indica dívida ou roubo. mas se surgir deitada ou de pé. vaticina mal iminente e pode indicar que o consulente não tem sorte porque esqueceu os seus antepassados (paternos e maternos) ou que uma herança não foi bem repartida pelos seus descendentes. e com tchilôwa (feitiço). Estatueta de homem e mulher unidos pode anunciar ao consulente descendência. quatro ou cinco pessoas em fila indiana. Se a figura aparecer de cabeça no meio das outras. para evitar espíritos de mulheres que faleceram durante o parto.
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