A Falsidade Da Utipia Socialista Segundo Jean François Revel

March 20, 2018 | Author: João Pedro Garcia | Category: Communism, Socialism, Europe, Liberalism, France


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A FALSIDADE DA UTOPIASOCIALISTA, SEGUNDO JEANFRANÇOIS REVEL (1924-2006) Ricardo Vélez Rodríguez Coordenador do Centro de Pesquisas Estratégicas “Paulino Soares de Sousa”, da UFJF. [email protected] Jean-François Revel, da Academia Francesa, foi um dos mais lúcidos críticos liberais do estatismo na tradição política do seu país e na atual conjuntura internacional. Revel foi autor de clássicos do pensamento político como Ni Marx, ni Jésus (1970), La Tentation totalitaire (1976), La Nouvelle Censure (1977), Comment les démocraties finissent (1983, obra ganhadora dos prêmios Aujurd'hui e Konrad-Adenauer), Le Rejet de l'État (1984), Le Terrorisme contra la démocratie (1987), La Connaissance inutile (1988, prêmios Chateaubriand e Jean-Jacques Rousseau), Le Regain démocratique (1992, prêmios Ville d'Ajaccio e Mémorial), L'Absolutisme inefficace ou contre le présidentialisme à la française (1992) ou Fin du siècle des ombres, chroniques politiques et littéraires (1999). O escritor francês publicou, em 2000, uma obra prima de crítica à ideologia socialista: La Grande Parade: Essai sur la survie de l'utopie socialiste (Paris: Plon, 344 p.). O notável escritor publicou, pouco antes de morrer, interessante análise sobre o sentimento antiamericano espalhado hoje pelo mundo, notadamente nos países sub-desenvolvidos: trata-se da obra intitulada L’Obsession anti-américaine (Paris: Plon, 2002). aliás. que foi publicada em 2001. como era de se esperar.Referir-me-ei. em que pese o fato de o mundo comunista ter desabado no leste europeu há mais de uma década. já mencionada. neste comentário. O autor retoma. tanto no debate das idéias quanto pelo seu peso na prática política. O escritor Jean-François Revel. ou a adotá-las com um atraso e uma má vontade tais que terminam por volatilizar os benefícios da aceitação da verdade" (p. assim. à obra. que no final do século XVIII substituíram alegremente o conhecimento da complexa realidade social por fórmulas gerais e simplórias. de que foram vítimas os próprios ideólogos do caos. como obra integrante da Coleção General Benício. a França ocupa um dos primeiros lugares. em O Antigo Regime e a Revolução. causou polêmica nos meios intelectuais do Velho Mundo e foi muito debatida no Brasil e na América Latina. 31/32 da edição francesa). . A França. é caracterizada por Revel com palavras que poderiam muito bem ser aplicadas ao Brasil: "Devo dizer que. à capacidade mistificadora dos philosophes franceses. sob o título de: A Grade Parada – Sobrevivência da Utopia Socialista. no Rio de Janeiro. senão o primeiro. pela Biblioteca do Exército. Ela constitui na Europa uma espécie de laboratório de ponta na produção das espertices destinadas a rejeitar ou a tornar inócuas as lições da experiência. La grande Parade. a crítica feita por Tocqueville. em português. Esta obra de Revel. entre os países que sempre escaparam do comunismo mas onde a ideologia totalitária permanece forte. A conseqüência dessa insensatez é por todos conhecida: a guilhotina e o terror jacobino. da Academia Francesa. fáceis de serem vendidas ao povão nos panfletos e nas tribunas. em decorrência da denúncia que o autor fez da capacidade que os defensores do socialismo têm para encobrir a realidade com o véu da ignorância. O próprio Revel confessa ter sido vítima. a sua pregação consiste em afirmar que o comunismo é a etapa suprema da democracia. afirmando que se o comunismo tinha desaparecido da Europa. morreram com ele também as esperanças da humanidade de ver concretizada a justiça social. o responsável pelo fim dos anos dourados do welfare state na Europa Ocidental e nos Estados Unidos. já que a retórica liberal estruturouse. "Uma grande parte de . no sentir de Revel. desaparecido este não faz mais sentido mantê-la. em contraposição ao comunismo. uma prova da lentidão do progresso da liberdade de espírito no mundo contemporâneo. dar vida ectoplasmática ao apodrecido paquiderme do socialismo real. os intelectuais ocidentais defensores desses ideais. não sendo socialistas militantes. contudo. a portadora da única mensagem de esperança para a Humanidade no novo milênio. com precisão cirúrgica. parte essencial da pregação dos novos messias consiste em denegrir a imagem dessa sociedade alimentando o espírito anti-americano. o capitalismo e a sua superestrutura ideológica. o embaixador José Osvaldo de Meira Penna) e daqueles que. ao longo dos últimos decênios. segundo os socialistas pensantes. passaram a lhe dar vida utópica. o liberalismo. Embora seja bastante simplório o arrazoado dos intelectuais socialistas.Em 14 contundentes capítulos Jean-François Revel desossa. sentem-se. 5) A intelectuária socialista é. em lugar de reconhecerem a falência do arquétipo dos seus sonhos. no sentir do autor. ao longo do século XX. tem conseguido ocupar espaços na mídia e tender um cordão de isolamento contra aqueles que ousarem divergir do seu ponto de vista. por obra e graça do demônio capitalista. segundo a exposição de Revel. o cadáver do dinossauro retórico com que os intelectuais socialistas têm tentado. a desinformação propalada por eles. Esse fato constitui. do patrulhamento ideológico das viúvas da Praça Vermelha (para utilizar a feliz expressão cunhada pelo meu amigo. 2) Para esses intelectuais. 3) Responsável fundamental pela pobreza dos países do leste europeu e do terceiro mundo é. presos pelo imperativo categórico do politicamente correto. nas seguintes considerações: 1) Já que o socialismo totalitário de carne e osso está morto e sepultado pelas suas antigas vítimas no leste europeu. O cerne da ressurreição ideológica da utopia socialista pode ser resumido. na França e nos Estados Unidos. 6) Posto que os Estados Unidos são o grande motor do capitalismo mundial. no mundo globalizado. para eles. 4) O binômio capitalismo/liberalismo também é. estamos diante de uma inversão dos papéis com o político. que em 1849. Capa da edição francesa de A Grande Parada. persistem em se perguntar. mas o que vai se pensar deles" (p. que deve agir calculando os resultados da ação. esse economista genial que hoje seria alcunhado de ultraliberal desenfreado. fez votar a primeira lei destinada a limitar o trabalho das crianças nas fábricas. frisa Revel. Esta situação constitui. Quanto ao segundo ponto. explicitando. 54). Foi o liberal François Guizot. afirma: "Dezenas de anos antes da aparição dos primeiros partidos comunistas. elaborando muitas leis fundadoras do direito social moderno. Ou melhor. foram os liberais do século dezenove os que colocaram.intelectuais. sendo deputado na Assembléia legislativa. ministro do rei Luís-Filipe que. defensor. não o que eles devem pensar. os interesses dela e. o reforço dos privilégios. antes que qualquer um. converteram-se nas principais causas do que a esquerda ousa ainda chamar de movimentos sociais. sem esperar pelos aplausos da platéia. No que diz relação ao primeiro ponto. sobretudo. mostrando quem foi que resolveu na França a questão social. A respeito. da verdade custe o que custar. Foi Frédéric Bastiat. a meu ver. Revel não duvida em afirmar que foram os liberais os que. de Jean-François Revel. em segundo lugar. Revel escreve: "A defesa de estatutos protegidos e. antes de tudo. enfrentaram e equacionaram a questão social. digamo-lo claramente. Jean-François Revel parte para desmascarar a falsidade do discurso ideológico da esquerda. o que se chamava então de a questão social e responderam a ela. em primeiro lugar. 54). interveio precursoramente na nossa história para . uma verdadeira inversão da ética de convicção weberiana que deveria animar ao intelectual. na França. que na verdade não são mais do que anti-sociais" (p. em 1841. a proibição que impedia os operários de se agruparem em defesa dos seus interesses). essa tentativa de estelionato utópico. embalados pelo discurso gramsciano em torno à idéia da escola .formular e exigir que fosse reconhecido o princípio do direito de greve. de singular atualidade neste Brasil que vê crescer. em 1864. O remédio para as trapalhadas socialistas é simples. no início da Terceira República. O grande pensador francês Alexis de Tocqueville (1805-1859). a única atitude válida é a integridade moral e a coragem dos intelectuais sensatos para denunciar. Como os amigos leitores podem ver. à maneira como Benjamin Constant de Rebecque pôs a nu. refugiam-se as ideologias quando ficam bem velhinhas. fez votar a lei que reconhecia aos sindicatos a personalidade civil. ainda. convenceu o imperador Napoleão III de abolir o delito de coalizão (ou seja. em cuja obra inspirou-se JeanFrançois Revel. 48). como frisava o humorista Millôr Fernandes. Foi o liberal Émile Ollivier que. em 1884. no início do século XIX. ou seguindo as pegadas de Tocqueville na defesa incondicional e constante da liberdade ameaçada pelo igualitarismo estatizante. sem temor. No sentir do autor. É o liberal Pierre Waldeck-Rousseau que. sobretudo para o Brasil. mas deve ser corajoso e rápido. a leitura de A Grande Parada é. de acordo com a sua lógica revolucionária (bem anterior à aparição do mais pequeno partido comunista) manifestaram uma violenta hostilidade contra a lei Waldeck-Rousseau" (p. abrindo assim o caminho para o futuro sindicalismo. a cada dia mais. país onde. Advertência de grande importância. os malucos e protosocialistas arrazoados de Rousseau em política e em economia. Permita-se-me sublinhar a seguinte lembrança: os socialistas da época. a pregação ignara dos socialistas de plantão. que.única. mediante a hegemonia da classe trabalhadora (leia-se dos sindicalistas petistas e seus aliados). de posse da máquina do Estado. da qual emergirão os intelectuais orgânicos que garantirão o equacionamento definitivo da questão social. nos presenteiam com os inúmeros apagões que infernizam a vida dos brasileiros e com os repetidos espetáculos de sem-vergonhice política a que estamos já cansados de assistir. .
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