A Extensao Rural Como Processo (Texto Prof. Rosani)

March 18, 2018 | Author: Marcel Augusto Chormiak | Category: Economics, Agriculture, Industries, Sociology, Economic Development


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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA Centro de Educação Superior do Norte do Rio Grande do Sul (CESNORS) Extensão e Comunicação Rural A EXTENSÃO RURAL COMO PROCESSO EDUCATIVO1 1. Abordagem Histórica da Extensão Rural As primeiras atividades relacionadas ao serviço de extensão rural aconteceram na Irlanda entre os anos de 1845 a 1850. Segundo documentos e registros, esta prática iniciou a partir das necessidades dos camponeses em relação ao cultivo das plantações de batata inglesa, que haviam sido atingidas por espécie de ferrugem, comprometendo sua produção e colheita. Como a maioria da população rural irlandesa sustentava-se da batata e a doença persistiu durante cinco anos, isso ocasionou em fome, epidemias e uma situação generalizada de pobreza, principalmente nas regiões mais povoadas, em que residiam os pequenos agricultores. Deste modo a extensão rural surgiu como forma sistematizada de assistência técnica e educação não formal, para a difusão de conhecimentos, com o objetivo de atender as necessidades reais desses agricultores e suas famílias. Na Carta do Conde de Claredon, da Irlanda, tais intenções foram expressas na forma de uma proposta para resolver o grave problema de abastecimento de alimentos e promover a recuperação e viabilização da renda e das condições de sobrevivência dos agricultores, que tiveram sucessivas frustrações na safra da batata inglesa, principal cultivo e base da alimentação irlandesa (Colombo, 2000). A Extensão Rural teve suas raízes históricas ligadas a crises ocorridas nas economias da Europa e dos Estados Unidos durante o século XIX. Na década de 50, de modo geral na América Latina, os pequenos agricultores passavam por muitas dificuldades, porque não podiam sustentar a concorrência das emergentes empresas capitalistas, as quais obrigavam o abandono de todas as formas de produção para o próprio consumo. E estes eram obrigados a trabalhar na política imposta por estas multinacionais, além de serem responsáveis por baixarem o preço dos produtos agrícolas (Fonseca, 1985). Desta forma, este fator proporcionou a transformação de um mercado local para um mercado mundial, em que começaram a atuar as empresas multinacionais. O modelo clássico de extensão rural implantado no Brasil, após a 2ª guerra mundial, como parte integrante da estratégia americana de diminuir as possibilidades de expansão do comunismo junto à empobrecida população rural da América Latina, utilizou os mesmos objetivos do modelo americano para nossa realidade, tendo como principal suporte o uso do crédito rural supervisionado (Pinto, 1998). Estes modelos norte-americanos da (American Internacional Association, e Fundação Rockfeller para o desenvolvimento social e econômico) propuseram ao governo brasileiro a realização de um convênio de cooperação para a promoção do desenvolvimento do meio rural. No ano de 1947, na cidade do Rio de Janeiro, abriu-se um escritório responsável por esse programa no Brasil, tendo como diretor o Dr. John Griffing, o qual tinha um currículo com longa experiência na área da Agricultura e conhecimento das características do país. Em sua meta principal de ação o trabalho de Extensão Rural, seria bem sucedido se possibilitasse às pessoas a ajudarem-se a si mesmas. De forma geral, a Extensão Rural no Brasil tem como marco inicial o acordo realizado entre Brasil e Estados Unidos, que originou a implantação de um programa piloto no Estado de São Paulo. Essa 1 Material didático preparado pela professora de Extensão e Comunicação rural, Dra. Rosani Spanevello, docente do curso de Zootecnia CESNORS/UFSM, campi Palmeira das Missões. a identidade do papel que o setor agrícola desempenhou na condução de um modelo de desenvolvimento econômico dependente. que permeavam o programa extensionista. com objetivo de formar líderes e inovadores. Colombo (2000). 1985). Caracterização da Evolução da Extensão Rural De acordo com Fonseca (1985). procurou-se elaborar um Plano de Recuperação Econômica e Fomento da Produção. e melhores condições de vida no campo. percebemos que a experiência da Extensão Rural. essas elites afirmavam ser necessário abrir-se ao capital estrangeiro sem discriminações.primeira experiência do serviço de Extensão Agrícola realizou-se em Santa Rita do Passa Quatro e São José do Rio Pardo. a extensão rural visava a transmitir conhecimentos científicos válidos e aplicáveis à agricultura e pecuária. que buscavam a redução do êxodo rural. de modo especial. a qual segundo o governador. para suprir os rebanhos em período de seca. entre as atividades de assistência técnica. o silo a trincheira de milho. Em uma análise sobre este início das atividades (Fonseca. aconteceu melhoria na sanidade e alimentação dos rebanhos leiteiros. Portanto. teve início de maneira formal com a instituição denominada Associação de Crédito e Assistência Rural (ACAR-MG) no ano de 1948.1 Primeiro Período (1948-1960) O trabalho educativo da Extensão Rural. não se justificava mais pelo “despreparo do homem do campo”. Por fim. Ainda. o capital hegemônico passava a ser capital industrial para a modernização do sistema econômico. além de ser um projeto comunitário-educativo centrado na ambição de se converter num instrumento de solução para os problemas sociais (Fonseca. hortas e pomares domésticos (Silva. no Brasil. já que a situação da economia mineira encontrava-se crítica na época. que tinha no princípio a contradição entre o capital e o trabalho. Silva (1992). melhoria nas habitações. podemos dizer que a Extensão Rural brasileira passou por cinco períodos. As questões educativas. Nos países latino-americanos. é fator relevante na compreensão de como um projeto educativo para a zona rural pôde ser colocado a serviço da manutenção deste desempenho. A partir daí. sob o comando das forças democráticas e liberais. através de atividades como: a organização de clube dos jovens agricultores. As datas estão utilizadas como recurso didático pedagógico para facilitar a compreensão e não em sentido fechado. far-se-ia sem entraves e desvios em termos do processo de produção capitalista. também poderiam ser descritas e analisadas sob diferentes óticas e com específicas contribuições de seus autores. cujo carro-chefe era o capital industrial. desenvolveu-se nas comunidades rurais. foi singular e de formação preconizada. 2. No que concerne à população rural. as elites (agrária e industrial) se aliaram para manter o caráter excludente da participação nas decisões e o isolamento político da classe trabalhadora pelo usufruto da modernização econômica das forças dominantes. conforme descreveremos a seguir de uma maneira a enfatizar os elementos e questões referentes ao seu processo educativo e pedagógico. procuramos abordá-las não de forma fragmentada até porque as mesmas acontecem no interior das relações sociais estando presentes em todos os momentos e lugares da sociedade. 1985). 2. 1985) comenta dizendo que “em nenhum momento as . no Brasil. Nesse sentido. foram traçadas medidas no âmbito da política social. Vela (1998). era imprescindível que as camadas rurais alcançassem duas metas essenciais para o conquista do desenvolvimento econômico-social: a obtenção de melhores índices de produtividade. aliada a uma maior racionalização da produção agrícola. pois indicam uma aproximação. Nestas circunstâncias. Portanto. como algo consentido das elites na defesa de seus interesses imediatos e não como algo necessário e imprescindível aos interesses das camadas populares rurais (Fonseca. Rapidamente. assumiu o Governo do Estado o udenista Milton Campos. trabalhos de preservação e recuperação do solo. 2000). mas sim pelas reais condições econômicas sob as quais estavam vivendo o agricultor e sua família. assumindo no discurso da ABCAR. 2000. com base em uma política de substituição de importações. Também o modelo primário exportador nestes anos. é criada a Associação Brasileira de Assistência Técnica e Extensão Rural (ABCAR). afetando diretamente o projeto extensionista. portanto. sem ameaçar os interesses dos grupos dominantes. Em resumo. com o propósito de disseminar os ideais democráticos e viabilizar o exercício da cidadania” (Colombo. Os métodos pedagógicos dos extensionistas eram intensivamente baseados em recursos audiovisuais e em conseguir a confiança e carisma dos agricultores. O programa tinha como objetivo inicial trabalhar com as questões sociais do meio rural. entidade civil. Essa conclusão baseou-se nos estudos e avaliações dos resultados obtidos até então. políticas e religiosos. política agrícola e agrária. havendo. A nova roupagem metodológica do serviço de Extensão Rural brasileira utiliza-se do modelo difusionista-inovador. com o qual não se conseguiu alcançar as metas previstas. privada. No ano de 1956. Assim. A estratégia utilizada para tal função e para garantir um número significativo de interessados foi a criação do então crédito rural supervisionado. visando a quebrar o isolamento do homem do campo. 75). com a imposição de novas técnicas. Isso não aconteceria sem relacionar com as necessárias reformas na estrutura fundiária e de distribuição de renda. formalizando grupos. “educando lideranças positivas para a articulação com lideranças formais. p. tinha ênfase na mecanização da agricultura e na substituição por produtos industrializados. p. Os extensionistas começam então um trabalho com a comunidade. mas para isso era preciso sensibilizar a população rural. sendo composta por membros das seguintes instituições: Americam Internacional Association. sem fins lucrativos e com filiais em nível estadual. em realidade. buscou-se uma revisão e reorganização das ações extensionistas.A. como uma forma também de motivar a participação destes contando com o auxílio dos recursos financeiros do sistema de crédito agrícola. quando. uma desarticulação entre agricultura e a indústria nacional (Vela. Acreditava-se elevar o nível de vida da população rural pela introdução de um novo padrão de produção e consumo. de acordo Fonseca (1985) – centralizar para . o que se apresentava como maior interesse era a modernização do ambiente rural. métodos e valores comportamentais (Silva. 1998). 1992). que assessorava o sistema brasileiro priorizando os meios de comunicação de massa para atingir ao maior número de agricultores. pois nestas alturas. ouvir os interesses das populações rurais. sendo que alguma coisa deveria ser elaborada modificando as ações transformadoras do cenário rural brasileiro. A prática da Extensão Rural era permeada por uma ideologia contraditória em seu discurso através dos extensionista que pregam a tarefa de “educar” a população do campo para questões mais amplas que a simplesmente melhoria de sua situação econômica. a confederação Rural Brasileira e o banco do Brasil S.32). nas décadas de 50 e 60 pela colaboração americana. a dinâmica de ações da Extensão Rural se dá. em decorrência da ineficiência do que se esperava inicialmente com o fornecimento do crédito. buscando apoio das lideranças formais. a educação na prática extensionista aparece como um instrumento de dominação e subordinação das famílias rurais. Neste contexto.questões do êxodo rural foram tratadas fora dos limites da interpretação das elites. traria a tona à estrutura secular do sistema agrário brasileiro” (p.2 Segundo Período (1960 – 1970) Este momento é fortemente influenciado pela instabilidade política que o Brasil passava. 2. conforme (Colombo . o Escritório Técnico de Agricultura. o projeto extensionista consegue alicerçar as bases para o seu funcionamento prático. 2000.30): A partir de 1952. efetivamente. e extensão rural poderia definir-se como o ato de estender o conhecimento dos centros de saber (Universidades. é criada a EMBRAPA haja vista a necessidade de articular a Extensão Rural e a pesquisa. vinculados ao crédito e a acompanhar os produtos através de assistência técnica. tecnologia agropecuária. em seus diagnósticos. em função do regime militar. uma nova filosofia para a Extensão Rural brasileira. 2. No ano de 1972. moradia. visando à difusão de conhecimentos científicos. com objetivo de gerar tecnologia para o setor agropecuário. Para Silva (1992. de natureza técnica. Dentro dessa contextualização.141) nos coloca que: . A principal dificuldade em transpor o estágio da “agricultura tradicional” para uma “agricultura moderna” foi o baixo índice de escolaridade no meio rural brasileiro. da renda. da educação nutricional. isso somaria a tão esperada mudança em suas condições de vida. necessários ao desenvolvimento do setor rural. O serviço de extensão rural e assistência técnica contava com um sistema de crédito supervisionado. somando-se ao bem-estar social e melhoria da moradia. dirigido para a saúde. simultaneamente. Ficava presente a influência do modelo de desenvolvimento econômico e social. A empresa caracteriza-se por uma ação de promover e a avaliar programas de Assistência Técnica e Extensão Rural. Esse enfoque prolongou-se. esse deveria ser aplicado na administração da propriedade. As orientações e as técnicas empregadas eram a escolha e abertura de novas áreas nas florestas.planejar e controlar a ação educativa no meio rural. mas continuavam garantindo o desenvolvimento dentro dos moldes capitalistas. Os princípios e a Filosofia extensionista sofrem redefinições no começo da década de 60. Ele focalizava as pessoas de maneira especial. econômica e social. Esta fase inicial do projeto da extensão rural brasileira podemos caracterizá-la mais próxima de um enfoque humanista. diminuindo a oferta de emprego no campo. a queima da vegetação roçada e o plantio contando com a fertilidade do solo. Centros de Pesquisa. por desenvolver um trabalho centrado na família rural. Esses conhecimentos eram transmitidos através de um modo educação não formal. das condições sanitárias. que passa o trabalho extensionista a elaborar projetos técnicos. isso justificava a demora do progresso e a modificação no meio rural. pois os princípios teóricos do modelo difusionista-inovador haviam se esgotado. em 1968. O desenvolvimento da época caracterizou-se pelo processo de urbanização e formação de complexos industriais. No fim da década de 60. através do crédito supervisionado e da assistência técnica e educativa para as famílias rurais. O serviço de bem-estar-social das famílias compreendia orientações quanto à melhoria das habitações. Neste momento. o que determina as novas ações extensionistas seria o “fator econômico”. fica evidente o comprometimento da Extensão Rural com os interesses produtivistas e com o aumento da transferência de tecnologia. p. O resultado esperado era o aumento da renda. com objetivos de provocar mudanças culturais e prepará-las para receber inovações. marcando assim. até início da década de setenta. como o melhor meio de disseminá-la de forma rápida e eficiente por todo o território brasileiro. Os programas baseavam-se na experiência americana de atuar em extensão rural.3 Terceiro Período (1970-1980) Este período caracteriza-se pelo auge do crescimento e consolidação da “modernização conservadora”. de modo geral. é divulgado um relatório contendo uma avaliação do Plano Quinquenal apresentando novas mudanças para a Extensão Rural. através do aumento da produção e. a melhoria da qualidade de vida da família rural. Segundo conclusões das equipes técnicas. entre outros) para a população rural. alimentação. dos equipamentos e conforto. como por exemplo com agricultores do Movimento dos Sem Terra (MST) de maneira que as questões polêmicas não são trabalhadas na prática cotidiana do extensionista para que possibilitem ao camponês uma reflexão do funcionamento estrutural da sociedade. o surgimento de movimentos populares. O raciocínio funcionalista e linear encarrega-se de correlacionar – dentro da conexão proporcionalmente direta – “adoção de novas tecnologia ao aumento da produtividade” que. 2000. indicando a insatisfação da população com contexto da época. na esteira da simples transmissão de tecnologia. era conseguida por intermédio do crédito rural que servia ao capital industrial como consumidora de produtos tecnológicos e ao sistema financeiro bancário. mas significou também profundas mudanças na sociedade rural latinoamericana: I) consolidou também a agricultura empresarial em detrimento à economia dos camponeses ou familiar e II) acelerou o processo de deteriorização do meio ambiente mediante a artificialização dos ecossistemas a um grau tal que começou a comprometer o patrimônio ambiental latinoamericano a um longo prazo.. Todo esse encadeamento de intenções tencionava então atrelar a produção agrícola. formouse o Conselho Brasileiro de Extensão Rural – CONSIBER. . bem como as diretorias passam para cargos ocupados ou nomeados pelo sistema político. fundamentalmente. que. p.sobretudo a pequena produção – à engrenagem capitalista. neste processo de transmissão de valores para o meio rural. orientar seus esforços no intento de materializar a ação educativa em consonância com as políticas governamentais para o meio rural. . p. Nesse sentido. Com a criação da Empresa Brasileira de Assistência Técnica e Extensão Rural (EMBRATER) em 1974. ainda em 1979.14) complementa dizendo que . salvo raras exceções. A ação educativa para o contexto rural fica então condicionada às orientações previamente estabelecidas pelo sistema dominante e por políticas de governos. 2. Na década de 70. reflete-se a primeira mudança no sistema. O conselho definiu. conforme seu mandato têm determinadas prioridades e metas. segundo descreve (Colombo. A importância da educação.44-5). neste encontro. priorizando a Assistência Técnica em prejuízo de Extensão Rural. O crédito orientado financiava os componentes de tecnologia de produção ou os pacotes tecnológicos das lavouras comerciais. o crescimento da dívida externa. persistindo muitas até hoje.Ao extensionismo oficial competia e interessava. tanto no campo como nas cidades. a partir daí os cargos da EMBRATER E EMATER’S. Este processo de modernização que ocorreu em todo o continente permitiu sem dúvida um avanço tecnológico. houve também outra alteração na filosofia do trabalho extensionista na primazia pela assistência técnica centrada na difusão maciça de tecnologia para o aumento de produtividade e da produção. reunindo os presidentes das EMATER’S..4 Quarto Período (1980-1990) O modelo econômico de desenvolvimento adotado pelos regimes militares e caracterizado pela abertura do mercado para os países estrangeiros estimulou as exportações. fazendo “crescer a renda” apresentaria como resultado final o “bem estar social”. Logo após a realização do Congresso Nacional dos Trabalhadores Rurais. Vela (1998. os seguintes objetivos para o período de 1980-85: a) A ação extensionista deve ser educacional. O conteúdo do discurso educativo extensionista é organizado de maneira a ocultar as contradições do modelo capitalista de produção. c) Atenção especial aos efeitos ecológicos das técnicas recomendadas. O crescimento e a evolução desse movimento ganham corpo. com a adoção de um sistema de planejamento simples. dentro de um processo de “engajamento pedagógico” (SILVA. Com isso. d) Maior entrosamento da pesquisa e extensão com as formas organizacionais e associativas de agricultores. promovia reflexões e discussões embasadas nas vivências e experiências de campo. sem considerar seus limites. A nova postura dos extensionistas. A opção pela industrialização também acelerou o êxodo rural. a partir de 1985.Deve concentrar seus esforços nos pequenos e médios produtores. O sistema EMBRATER. e ele ficou conhecido como o ‘Repensar da Extensão Rural’. A ênfase dada ao rápido crescimento da produção industrial acelerou a utilização dos recursos naturais. beneficiando a indústria pelo aumento da concorrência de mão-de-obra e incorporação de mais pessoas ao mercado consumidor. de seu bem-estar e defesa do Meio Ambiente. As unidades demonstrativas e concursos de produtividade devem ser enfatizadas. reduzindo os recursos de serviços prestados pelo estado como (saúde. produtividade. Este novo modelo de programa pouco se desenvolveu nível prático. conforme seus documentos estão presentes: a) Inclusão da pequena produção como público alvo. agora. geralmente os possuidores de maiores recursos. houve o privilégio dos agricultores adotantes das novas tecnologias. denominada como produtivista. p. O aumento da produção e da produtividade deve ser acompanhado de aumento de renda líquida. Começam-se também questionamentos sobre a prática educativa dos extensionistas neste movimento do ‘Repensar da Extensão Rural’ através de perguntas como. pois seu crescimento esteve comprometido devido à tentativa de pagamento da dívida externa. com orientação produtivista. uma dimensão educativa baseada no diálogo entre técnico e agricultor. acompanhados de aumento de renda líquida do produtor.Será que os extensionistas não estão desqualificados ou ainda estes foram formados com visão autoritária voltada ao favorecimento do modelo difusionista? Isso exigiu. do bem estar e da defesa do meio ambiente. porque a ação conjunta pesquisa-extensão não se diferenciou daquele modelo de difusão tecnológica que vinha sendo praticado pelos extensionistas. relacionadas com o desenvolvimento rural. b) Valorização do saber e da participação crítica dos produtores rurais. Deve ser ampliado o trabalho com a juventude rural. os valores principais eram o produto com a adoção de tecnologias visando ao aumento do capital. provavelmente como forma de amortecer os impactos e danos sociais causados pelo “processo tecnológico”.(Colombo. Devem ser estimulados os agentes multiplicadores. flexível e desburocratizado. buscava a melhoria das condições de vida no meio rural. Os extensionistas consideravam que a aplicação desses métodos deveria levar a resultados mais efetivos. A década de 80 ficou caracterizada. agravando a degradação ambiental. e) Maior entrosamento com todas as organizações públicas e privadas. 2000.). extensão. na América Latina como a década perdida para o desenvolvimento. 1992). dentro do quadro funcional. com seu discurso educativo sobre as ações no campo social. na busca de melhor renda e condições de vida nas cidades. Nas linhas de ação das EMATER’S. g) A organização e o trabalho com grupos de produtores são necessários. no aumento da produção. h) O planejamento deve ser participativo. etc. educação.48). por exemplo: . perdendo a concepção original de caráter voltado para família como um todo. Os novos princípios da ação extensionista contribuíram para uma nova visão dos métodos educativos. b) c) d) e) f) . Nesta fase. Grande parte do serviço de Extensão adotou o enfoque de produto. formação de blocos econômicos. gerado pelas políticas de privatização e com o fim dos empréstimos internacionais. mulheres e crianças.. O objetivo disso foi dar livre abertura à empresa privada e ao mercado. com o avanço da globalização da economia. segundo reconhece a Comissão Econômica para a América Latina – CEPAL” (Hegedüs. A exclusão social afeta todos os pobres. “Nunca existiram tantos pobres como agora. Apesar de todo o processo de transição e novo planejamento. Desse modo. 2 Tradução livre da autora. No começo do ano de 2000. terra. A qualidade dos serviços de extensão rural também foi afetada em conseqüência da perda de muitos técnicos qualificados e da oscilação de seu quadro pessoal. O ambiente institucional dos serviços de Extensão Rural também sofreu os reflexos dessa conjuntura. Conforme descreve (Colombo. mais de 224 milhões de latinos americanos e caribenhos se encontram na mais angustiante pobreza. 2001. trabalhadores informais e os desempregados e subempregados e grande parte da população que vive no meio rural. saúde. Podemos caracterizar essa fase como integradora a partir do início da década de 90.50) .6)2 Com o desgaste do setor público. Aconteceram mudanças na política agrícola. abrindo a economia à concorrência internacional. a política nacional de extensão praticamente foi extinta. os estados foram impulsionados a fazer reformas que incluíssem privatização e a minimização de seus encargos sociais. Historicamente. p. contrariando os interesses das forças dominantes. concluiu-se que o projeto educativo proposto pela Extensão Rural não cumpriu com seu objetivo principal de melhorar as condições de vida do produtor. também contribuiu para a extinção do sistema EMBRATER como órgão de coordenação e direção. a partir 1990. formação de blocos. 2000. 2. Estas mudanças têm efeitos dramáticos para milhões de seres humanos que estão excluídos de emprego. . houve um declínio da renda. problemas de competividade.Foram diminuídos os recursos. Surgram espaços para o desenvolvimento da Assistência Técnica Privada para os grupos que podiam pagar (Vela. Cabe a reflexão a todos os extensionistas se a sinalização do discurso e da prática da empresa voltar-se cada vez mais por um trabalho direcionado aos reais interesses da família rural. passando aos estados e municípios a responsabilidade pela sua gestão. o sistema EMBRATER entra em crise com a determinação do governo central de extinguir a empresa. texto trabalhado em sala de aula do curso de mestrado em Extensão Rural. passando a responsabilidade aos estados que tiveram que responsabilizar pela manutenção das instituições como as EMATER’S. para melhorar sua renda e muitos continuavam foram da política oficial da economia de mercado. Mesmo nesta última década. o que acarretou em uma queda acentuada na qualidade e quantidade de serviços oferecidos. 1998). com altas taxas de juros. abertura do mercado. a descentralização contribuiu para a construção de instituições estaduais com identidade própria mais preocupadas com a realidade local.. havendo um aumento da safra agrícola. com reduzidos recursos financeiros. quando o Sistema de Extensão Brasileiro sofre uma das suas maiores crises com a extinção da EMBRATER. a ação educativa mais crítica e mais afinada com a realidade não pode ser executada pela EMBRATER devido à sua extinção. Nesta época. que apontava para a necessidade de mudança na filosofia produtivista. minimizando o papel econômico e social do estado. povos indígenas e negros. educação. evidenciou-se um quadro de incerteza e de perplexidade diante desta realidade. de maneira que os agricultores precisaram buscar novas atividades não agrícolas. homens. comunicação e justiça. p.5 Quinto Período (1990 – 2000) A década de 90 pode ser chamada a “década da exclusão social”. Conforme Tamayo apud Hegedus (2001). moradia. Universidade Federal de Santa Maria. Referência bibliográfica principal TURCHIELLO. Programa de Pós Graduação em Extensão Rural. a ascensão da filosofia neoliberal.As recentes mudanças ocorridas na sociedade brasileira passaram a gerar novos desafios para Extensão Rural. 2000). 2003. prescrevem sobre sua conduta e procedimentos com comunidade. Dissertação (Mestrado em Extensão Rural). Estes períodos descrevem as principais características da prática extensionista no Brasil. mobilização por políticas públicas para o meio rural são alguns elementos e questões que configuram o novo papel social e educativo da Extensão Rural. adaptando a informação técnica a sua realidade. Neste momento. bem como a filosofia das instituições. Santa Maria. Acentua-se a necessidade de trabalhar com o uso de técnicas qualitativas (métodos educativos e participativos). B. sendo uma condição fundamental para que essa instituição não se torne obsoleta e mantenha-se a sua sobrevivência institucional e sua sustentabilidade (Silva. é importante deixar claro que os extensionistas eram e ainda são formados e treinados por marcos teóricos que orientam e. Estudo das percepções de educação ambiental dos extensionistas rurais da EMATER/RS na região do COREDE/Centro. a necessidade de trabalhar com o produtor. L. como a valorização e consciência sobre a questão ambiental. cobrando-lhes algumas transformações e adequações. em alguns casos. .
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