INTRODUÇÃOEste livro é uma compilação de 14 anos de visões proféticas, sonhos e experiências que começaram em 1988 e se estenderam até 2002. Foi em 2002 que vi corno eles se encaixavam, constituindo uma parte importante da mensagem que foi publicada pela primeira vez em Á batalha final e continuou em Á chamada final, ambos publicados pela editora Danprewan. Este livro inclui experiências que aconteceram antes e depois daquelas escritas nos dois volumes anteriores. Talvez você esteja curioso para saber por que o Senhor daria uma revelação profética em uma linha do tempo tão confusa. Muitas vezes, me pergunto o mesmo. No entanto, uma mensagem nestas visões me ajudou a entender a razão. Além disso, se você passar a examinar as profecias bíblicas, logo aprenderá que os eventos preditos em um único capítulo das Escrituras podem estar a milhares de anos atrás e à frente. Em minha opinião, o Senhor faz isso para nos manter dependentes de Seu Espírito Santo não só para obtermos a revelação, mas também sua interpretação e aplicação A compreensão da profecia está intencionalmente fora do alcance da ciência e sabedoria humanas. Aqueles que procuram compreende-las através de suas próprias habilidades podem facilmente se desanimar. Mas, para os que buscam a Deus em espírito e verdade, os mistérios fazem parte do glorioso objetivo final - a grande aventura que deve ser a busca por Deus. A busca por conhecer Deus e Seus caminhos é cheia de mistérios. Há chaves que servem para desvendar esses mistérios, como fé, devoção à verdade, integridade e santificação. Entretanto, elas não são meios de se obter dons e revelação de Deus, mas de separar aqueles que são verdadeiros adoradores de um Deus santo dos que só estão em busca de conhecimento. Ainda assim, somos totalmente dependentes da disposição do Senhor em mostrar-nos algo antes de podermos entendê-lo do modo que se pretende. Felizmente, uma das maiores promessas de Deus é que, se nós O buscarmos, iremos achá-Lo. Espero que, ao ler esta compilação de experiências, você passe a compreender os caminhos de Deus. E que seja levado a experimentar a Deus por si mesmo, tendo como resultado final amá-Lo mais e estar mais próximo dEle. O PACOTE PROFÉTICO Sempre foi interessante para mim que pessoas me perguntassem como recebo as coisas. Escrevo e depois me faço as mesmas perguntas. Isso não é errado. É importante entender o pacote no qual vem a revelação. Isso porque muitas vezes o pacote faz parte da mensagem. Por essa razão, inclui nesta introdução e, algumas vezes, no texto do livro, o modo como tudo me ocorreu. Quase sempre, as pessoas também pedem que eu forneça mais informações a meu respeito. Este também é um pedido justo, uma vez que somos exortados a reconhecer os que se esforçam no trabalho entre nós (lTs 5.12). Penso que existem algumas questões e eventos em minha vida pessoal que podem ajudar a dar uma compreensão maior das experiências proféticas, por isso também as incluí nesta introdução. No entanto, se você não estiver interessado nesse tipo de informação, sugiro que passe ao capitulo 1, em que a visão começa. UMA JORNADA PESSOAL A maior parte dos sonhos, visões e experiências proféticas incluídos neste livro eram mensagens pessoais para mim, por isso as escrevi na primeira pessoa, assim como me ocorreram. Portanto, entender algumas partes de minha jornada no momento em que as coisas aconteceram pode ajudar na compreensão da mensagem. Contudo, não inclui nada que, ao meu ver, tivesse a finalidade de ser simplesmente uma mensagem somente para mim. Como me foi falado várias vezes nessas experiências, sou apenas um dos muitos que são chamados para as coisas tratadas nelas. É dessa mesma forma que os eventos ao longo das Escrituras, que marcaram a vida de indivíduos e se constituíram em mensagens pessoais para eles, ou cartas pessoais para grupos específicos, também falam a todos os cristãos. Se essas experiências aplicam-se a você ou à sua situação, fique à vontade para aceitá- las de forma pessoal. Para alicerçar as mensagens contidas neste livro, contarei rapidamente algumas coisas relativas ao meu ministério. Em 1980 deixei o ministério de tempo integral porque senti que meu relacionamento pessoal com o Senhor havia ficado superficial. Sentia-me extremamente superficial em minha fé e experiência para estar lide- rando outras pessoas. Fui plenamente convencido por Gaiatas 1.15,16: Mas Deus me separou desde o ventre materno e me chamou por sua graça. Quando Lhe agradou revelar o Seu Filho em mim para que eu O anunciasse. Eu estava começando a entender que, ainda que Deus tivesse me chamado para o ministério que estava experimentando, eu havia confundido Seu chamado com Seu comissiona mento. Por essa razão, comecei no ministério precocemente. O Senhor havia sido revelado "a mim", mas não "em mim", o que, segundo Paulo, viria a acontecer antes de ele sair para pregar. Paulo também estava pregando sobre "Ele", Jesus. Meu ministério dedicava- se, sobretudo, aos princípios e fórmulas do sucesso — sucesso espiritual e sucesso do cristão, mas, não obstante, minhas mensagens eram mais sobre nós do que sobre Ele. Eu me sentia como os homens de Atenas, adorando a um Deus desconhecido (At 17.25). Grande parte de meu conhecimento de Deus era decorrente de outras pessoas, em vez de ter sido revelado a mim pelo Espírito. Tudo isso contribuiu para me tornar um ministro do Evangelho muito superficial e ineficiente e forçou-me a renunciar ao ministério e procurar um trabalho secular até sentir que o Senhor havia de fato se revelado "em mim". Consegui um emprego como piloto de transporte de companhia aérea, uma vez que tinha licença para voar. Esse trabalho normalmente requeria que eu voasse algumas horas por dia e depois passasse horas a fio sentado em aeroportos e quartos de hotel. Isso me proporcionou muito tempo para estudar a Bíblia e buscar o Senhor. Por muitas vezes, passei cerca de 40 horas por semana em estudo e oração. A empresa para a qual eu trabalhava trocou de aeronave, e então perdi meu emprego. Enquanto procurava outro, fui surpreendido por uma palavra do Senhor que recebi que dizia que eu precisava retomar o ministério em tempo integral. Na verdade, foi-me revelado que, mesmo eu sendo tão superficial e despreparado como me via, minha reação havia sido exagerada, e o Senhor não queria que eu deixasse o ministério. Esta palavra veio em 1982. Entretanto, de forma alguma eu me sentia preparado para voltar ao "ministério", mas, em vez disso, achava que Levaria muitos anos para estar preparado. Quando compartilhei a palavra que havia recebido com minha esposa e meu melhor amigo, eles também sentiram que esse não era o caminho que eu deveria trilhar naquela época. Fui facilmente convencido a rejeitar o chamado por causa de meus sentimentos de despreparo; por isso, quando surgiu uma oportunidade de iniciar um negócio no ramo de fretagem de aviões, eu a agarrei. Para mim, iniciar aquele negócio foi o maior erro de minha vida, mas aprendi muita coisa com ele que me ajudou desde então. O plano do Senhor é a redenção, e Ele usará até nossos erros para o nosso bem. No entanto, é sempre melhor não cometê-los. Não estou, de forma alguma, insinuando que devemos cometer erros para que o bem possa vir à tona. Contudo, podemos ser gratos pelo fato de que Deus usará até os nossos erros para o nosso bem se realmente O amarmos e formos chamados segundo o Seu propósito. Com isso veio o bem, mas teria sido melhor se eu tivesse obedecido ao Seu chamado, em vez de ter passado por um desvio de sete anos. VOANDO ALTO E DEPOIS CAINDO A empresa de fretagem de aviões tornou-se um sucesso muito rapidamente. Não demorou muito e o negócio passou a incluir uma escola de aviação, vendas de aeronaves, manutenção, seguro e a supervisão do aeroporto mais movimentado do Estado em que eu vivia na época. Tudo isso me deixou com pouco tempo para estudar a Bíblia e buscar o Senhor. Embora tenha aprendido muita coisa sobre negócios e administração, esses foram, sobretudo, anos perdidos em termos espirituais. Quanto mais sucesso eu tinha, mais vazio me sentia. Mesmo assim, estava prestes a ter um patrimônio liquido que me permitiria aposentar-me de uma vez e dedicar-me ao ministério novamente sem precisar de qualquer suporte externo. Era assim que eu justificava minha tamanha motivação para continuar envolvido nos negócios e ganhar mais dinheiro. Durante uma viagem para caçar que fiz em 1986, eu estava sentado sozinho em um campo. De repente, senti a presença do Senhor, e Ele começou a falar comigo, pedindo-me que pusesse meus negócios "no altar". Percebi que Ele havia dito que esse era meu negócio, e não dEle, como sempre afirmava. Para minha surpresa, o Senhor também estava injuriado com minha visão de que eu seria capaz de ganhar dinheiro suficiente para sustentar-me no ministério, de modo que eu jamais teria de levantar qualquer recurso. Ele foi ultrajado porque isso implicava que Ele não era capaz de cuidar daqueles que estavam a Seu serviço. Mostrou-me que isso estava mais arraigado em meu orgulho do que em uma nobre devoção. Entreguei ao Senhor o meu negócio e pedi-Lhe que fizesse com ele aquilo que Lhe aprouvesse. No mesmo instante, o negócio peto qual eu havia 'trabalhado com tanto afinco para construir começou a desmoronar. Não demorou muito e lá estava eu em uma corte de falência, perdendo uma fortuna. Tive de vender nossos bens, inclusive a casa e a propriedade dos nossos sonhos, para pagar nossas dividas. Quando tudo acabou, eu tinha um carro e alguns milhares de dólares. Sentia que havia sido um fracasso no ministério e, agora, um fracasso nos negócios. Algumas das pessoas mais próximas a mim não deixaram de lembrar-me que eu era um fracasso. Mas eu não precisava de alguém para me dizer isso. Era o ponto fraco de minha vida. Eu sabia que havia sido chamado para um ministério e queria, um dia, devotar-lhe tempo integral, mas não desejava entrar nele com fracasso, mas com sucesso. Eu me envergonhava por sentir que não tinha nada para oferecer ao Senhor, mas isso também era orgulho. Havia provado, em todos os sentidos, ser fraco e tolo. Sei que as Escrituras dizem que normalmente esse é o tipo de pessoa a quem Ele chama, mas há uma grande diferença em ser um fracasso nos negócios e ser um fracasso espiritualmente, onde as pessoas podem sair machucadas. Então, em uma semana, logo no início de 1987, duas pessoas de diferentes partes do país, as quais eu sabia que não se conheciam, procuraram-me e entregaram- me a mesma palavra do Senhor: se eu não voltasse para o ministério naquele mesmo instante, Ele transferiria a minha comissão à outra pessoa. Eu não sabia qual era minha comissão, mas a mensagem abalou-me o suficiente para permitir que deixasse tudo de lado e voltasse para o ministério. Minha visível fraqueza e insensatez iriam levar-me a confiar mais no Senhor, o que era, sem dúvida, exatamente o que Ele queria. Eu mesmo publiquei meu primeiro livro, There were two trees in the garden (Havia duas árvores no jardim), em 1985, enquanto ainda estava envolvido com o negócio de fretagem. O único meio de divulgação desse livro era através de amigos, mas, por volta de 1987, a distribuição começou a crescer rapidamente. Isso proporcionou alguns convites para ministrações em igrejas e em conferências. Depois que veio a palavra que me intimava a voltar para o ministério, decidi aceitar alguns desses convites. Queria, sobretudo, ter uma idéia do que estava acontecendo no Corpo de Cristo naquele momento, já que havia estado fora de circulação durante sete anos. Depois de algumas viagens, cheguei em casa bastante desanimado com a falta de propósito e direção aparentemente devastadora na igreja. Essa falta de direção prejudicou o entendimento do meu próprio propósito e a direção para o ministério. Enquanto eu estava orando sobre essa situação, tive uma experiência profética que durou dois dias e meio, na qual me foi mostrado um panorama dos eventos que haveriam de vir (os quais publiquei em meu livro A Colheita - Danprewan Editora). Aquela visão me proporcionou uma grande esperança para o futuro, e para a igreja, o que trouxe uma nova direção a meu ministério desde então. UM NOVO NÍVEL DOS ENCO NTROS PROFÉTICOS Durante os dois dias e meio nos quais me foi dada essa visão abrangente da colheita vindoura, senti que havia recebido mais revelação profética do que havia recebido em qualquer outro período de minha vida. Naqueles dois dias e meio, senti que o tempo que eu havia perdido durante os sete anos em que me desviei de meu ministério havia sido compensado. De modo muito real, o Senhor tinha me compensado pelos anos de colheitas que os gafanhotos destruíram (JI 2.25). Isso também me levou a apreciar o valor das experiências proféticas como nunca havia apreciado. Depois de meses tendo essa visão, comecei a conhecer outras pessoas que possuíam alguns dos dons proféticos mais extraordinários que eu já havia visto ou ouvido falar fora das Escrituras. Muitas dessas pessoas passariam a ser meus amigos por toda a vida. Uma delas era Bob Jones. Quando o conheci, ele compartilhou alguns dos sonhos que havia tido comigo que descreviam minha difícil situação e me davam algumas respostas quanto à direção que eu havia tomado, todas com uma surpreendente clareza. Havia até detalhes nesses sonhos sobre minha família, dos quais eu não estava ciente, mas que, mais tarde, se confirmaram. Nos meses seguintes, Bob telefonava e me transmitia palavras ou compartilhava sonhos incrivelmente específicos e detalhados que, depois, vinham a se cumprir das formas mais surpreendentes. Isso era mais maravilhoso do que se pode descrever, dando-me uma sensação de estar na vontade do Senhor como nunca antes em minha vida. Cada dia, tornava-se uma aventura surpreendente e maravilhosa, e eu me convencia de que era assim que deveria ser a vida cristã. Então Bob me entregou uma palavra que dizia que eu receberia uma visitação do Senhor em outubro de 1988. Ele disse que, nessa visitação, eu receberia uma comissão que me firmaria em meu curso. Naturalmente, esperei com muita expectativa, mas não houve nenhuma visitação no mês de outubro. Imaginei que Bob não tivesse compreendido bem a revelação e prossegui com minha agenda cada vez mais cheia. G RANDE REPREENSÃO Em março, programei um encontro com Bob em Louisiana para visitarmos algumas igrejas ali. Antes de me encontrar com ele, fui para o Texas a fim de fazer alguns programas de televisão com James Robson. Depois de gravar os programas, James e eu ficamos sentados em seu escritório, conversando. De repente, ele começou a me repreender por eu estar tão ocupado. Tendo acabado de ouvir a mesma repreensão, levei seu conselho ainda mais a sério. Depois de deixar o escritório de James, pedi perdão ao Senhor. Ele falou, lembrando-me de que eu estava cinco meses atrasado na conclusão de um projeto que Ele me havia dado a realizar. Também me fez lembrar de que já haviam se passado cinco meses desde a visitação prometida e que essa era a razão por que eu ainda não tinha recebido a comissão. Disse-me o Senhor que, se eu me arrependesse e fosse para casa, Ele me visitaria. Telefonei para Bob e lhe deixei uma mensagem gravada, dizendo que não me encontraria com ele em Louisiana. Telefonei para minha esposa e disse-lhe a mesma coisa, uma vez que ela estava visitando seus pais lá e planejando ir com as crianças para as reuniões. Então fui para minha casa em Charlotte, Carolina do Norte. UMA VISITAÇÃO Quando cheguei em nossa casa vazia, comecei a orar e a buscar o Senhor. Queria mais clareza sobre quanto eu havia me distanciado em tão pouco tempo. Tudo o que Ele disse era que eu fosse para a cama porque me visitaria naquela noite. imaginei que seria em um sonho, mas eu estava tão emocionado que achei que não conseguiria dormir. Mesmo assim, apaguei todas as luzes da casa e fui para a cama. O Senhor certamente me fizera dormir, pois nem me lembro de quando me deitara. No meio da noite, acordei de repente sentindo uma presença na casa. Fiquei surpreso, uma vez que parecia que todas as luzes estavam acesas, apesar de lembrar que as havia apagado. Eu me perguntava se um de meus vizinhos teria entrado em minha casa, sem saber de minha presença ali. De repente, o Senhor entrou em meu quarto. Não havia Luzes na casa. A luz vinha dEle. Fiquei assustado. Eu estava agarrado ao meu travesseiro e queria levantar- me, mas não podia. Ele veio em minha direção e pôs Suas mãos em meus ombros. Senti o poder aumentando como se fosse uma corrente elétrica. Não era tão doloroso quanto desconfortável, pois uma grande pressão aumentava dentro de mim. Logo a pressão tornou-se tão forte que tive medo de explodir. Quando pensei que não poderia agüentá-la mais, o Senhor tirou Suas mãos de mim, e o poder se foi. Ele fez isso várias vezes e, a cada vez, tirava Suas mãos bem no momento em que eu pensava que estava prestes a morrer. Então, o Senhor Se levantou e começou a sair do quarto. Eu estava preocupado porque Ele não havia me dito nada, e eu não sabia o que essa experiência significava. Ele se virou pouco antes de passar pela porta e disse: "Bob Jones explicará isso a você". Eu não conseguia fazer outra coisa senão me perguntar por que Ele mesmo não o havia explicado. A próxima coisa que lembrei foi acordar de manhã. Fiquei deitado na cama por um tempo, lembrando-me de tudo que havia acontecido. Comecei a me perguntar se o Senhor realmente estivera comigo ou se tudo não passara de um sonho. Quando me sentei e peguei minhas roupas, senti um surto de poder passar por mim como quando Ele colocou Suas mãos em meus ombros. Eletricidade saia de minhas mãos e atingia a coluna da cama de metal. Então me convenci de que a experiência havia sido real e não apenas um sonho. Por alguns minutos, tive receio de tocar em alguma coisa por medo de que pudesse ser eletrocutado. Sentia tanto poder dentro de mim que isso era assustador. Quando o poder finalmente se foi, levantei-me e me vesti. Durante a manhã, tive surtos de poder a cada hora ou algo assim. Eu não sabia se queria que eles parassem ou continuassem, pois realmente não entendia o que eram. Mal podia fazer outra coisa senão ficar sentado, com medo. Por fim, fui à casa ao lado para visitar meus vizinhos, Harry e Louise Bizzell. Assim que passei pela porta, Harry olhou para mim e disse: "Você teve uma visitação!". Eu não sabia se parecia um tanto assustado ou se havia sido um discernimento de Harry, mas ele sabia. Isso fez com que me sentisse livre o suficiente para contar-lhe o acontecido. Disse-lhe que a única coisa que ''me incomodava era que eu não conseguia me lembrar de quantas vezes o Senhor havia me tocado com Suas mãos, e eu sabia que isso era importante. Harry sugeriu que eu telefonasse para Bob Jones, uma vez que o Senhor dissera que ele me daria a explicação de tudo. Hesitei em telefonar para Bob, pois queria que o Senhor falasse com ele e, assim, ele telefonasse para mim. No entanto, aceitando a sugestão de Harry, decidi telefonar para ele somente para perguntar como andavam as coisas em Louisiana, mas estava determinado a não lhe dar nenhuma pista sobre a visitação. Eu queria ter certeza de que qualquer coisa que ele recebesse fosse da parte do Senhor. Quando conversei com Bob pelo telefone, ele disse que tudo estava bem. No entanto, disse-me que, quando tentara orar naquela manhã, ficara impressionado com o quanto as regiões celestiais estavam agitadas. Disse-me que a única vez que as havia visto agitadas daquela forma foi quando Jesus passou para visitar alguém. Eu ainda não havia contado nada a Bob, mas fiquei muito entusiasmado em razão do modo como os Céus estavam agitados. Era simplesmente outra confirmação para mim de que a visitação havia sido real e não apenas um sonho. Isso não deveria ter importância, pois uma visitação do Senhor por meio de um sonho também é real, mas, por alguma razão, achava tal fato importante para mim. No dia seguinte, Bob me telefonou. Ele havia recebido uma visitação de um anjo que lhe contou sobre a visitação que recebi do Senhor e minha comissão. Disse- me por que o Senhor me havia tocado com Suas mãos por cinco vezes e compartilhou outros detalhes, dando-me os versículos bíblicos que, mais tarde, explicaram o ocorrido, além de algumas coisas sobre meu futuro. Reconheci tudo e lhe agradeci. Fiquei surpreso quando ele me repreendeu por ter tamanha falta de fé a tal ponto de precisar dele para confirmar as coisas assim. Eu não sabia se Bob estava brincando ou não, mas, quando ri de sua repreensão, percebi que falava sério. MENSAGEM O que o Senhor me revelou era uma comissão no sentido de ajudar a liberar os cinco ministérios de capacitação listados em Efésios 4 para a Igreja, que são es- senciais para que ela cumpra sua tarefa nos últimos dias. Isso é fundamental para meu propósito e faz, portanto, parte de cada mensagem que ministro, de cada livro que escrevo e de quase todos os pensamentos que tenho. Há poucas coisas mais gratificantes para mim do que ver alguém começar a andar em um desses ministérios e, de, fato, começar a tornar-se aquele que prepara os santos para fazer a obra do ministério. Outra parte da mensagem tinha a ver com o andar no poder de Deus e chamar e comissionar aqueles que são denominados "os mensageiros de poder". Eles também são aqueles sobre os quais Enoque profetizou e logo estarão liberados. Quando isso acontecer, as obras do Senhor serão vistas de um modo como nunca aconteceu. Tenho visto algumas obras extraordinárias de poder de vez em quando, mas estou começando agora a andar no sentido desta comissão. Além disso, o Senhor nunca me mostrou que eu seria um desses mensageiros de poder. Bem que gostaria de sê-lo, mas me foi dada simplesmente a comissão para fazer um despertamento e ajudar no preparo daqueles que seguiriam nessa direção. Também me foi dito que sou apenas um dentre os muitos que são chamados para tal tarefa. O que o Senhor me comissionara a fazer, cuja tarefa já estava cinco meses atrasada, era a conclusão do livro A colheita. Esta foi a mensagem que Ele me entregou um ano antes da experiência de dois dias e meio, a qual descrevi anteriormente. Resolvi concluí-lo rapidamente. Este livro continuou a superar o anterior - Havia duas árvores no jardim - em termos de distribuição, mas, ao longo dos anos seguintes, o Senhor me mostrou como ele teria alcançado mais pessoas se tivesse sido publicado no tempo certo. Ser pontual com as mensagens foi uma ordem básica que o Senhor me transmitiu quando iniciei a MorningStar Publications and Ministries, registrada em Mateus 24.45-47: Quem é, pois, o servo fiel e sensato, a quem seu senhor encarrega dos de sua casa para lhes dar alimento no tempo devido? Feli z o servo que seu senhor encontrar fazendo assim quando voltar. Garanto-lhes que ele o encarregará de todos os seus bens. O Senhor quer que os de Sua casa tenham seu alimento "no tempo devido", e o agora era uma de minhas maiores fraquezas — acho que ainda é. Tenho a tendência de ficar tão ocupado, na maior parte do tempo no ministério, que deixo passar importantes diretrizes, mensagens, reuniões e deixo de receber o alimento no devido tempo, o que Ele nos tem dado para Sua casa. Eu deveria ter voltado para o ministério logo no primeiro chamado do Senhor, em vez de haver começado o serviço de fretagem de aviões. Quase perdi minha comissão para outra pessoa por causa de minha reticência e sentimentos de despreparo. Então, reagi muito emocionalmente e fiquei tão ocupado por estar fazendo muitas coisas. Há uma trincheira em ambos os lados dos caminhos da vida, e eu quase caí nela em cada um deles. A razão por que estou compartilhando algumas dessas coisas pessoais é que elas são erros comuns para os cristãos, principalmente para aqueles que estão em posição de liderança. Além disso, são coisas que precisam ser corrigidas; do contrário, as conseqüências terão um preço mais alto à medida que nos aproximarmos do fim desta era. Essas são as principais razões por que a maioria dos cristãos não está seguindo seu chamado nem cumprindo seu destino e propósito. Eles estão perdidos nos dois sentidos em que eu quase me perdi. Muitos estão perdidos porque hesitam demais para começar. Outros entram para o ministério e logo - ficam tão ocupados fazendo coisas para o Senhor que não conseguem se aproximar dEle. Uma vida cristã bem-sucedida não estará tão baseada na quantidade de trabalho que temos feito, mas, em vez disso, em quão próximos estamos do Senhor e no quanto temos sido obedientes. Não é possível andarmos, quando somos chamados, sem um encontro pessoal com o Senhor todos os dias. Precisamos de um apego santo à Sua presença para que Ele se torne mais importante para nós do que o ar que respiramos. Não acho que eu mesmo tenha conseguido chegar a esse estágio, mas é o que mais busco. A COMISSÃO Quando falei com Jack Deere sobre a visitação que recebi no início de 1989, ele observou que mal podia esperar para me ver orar pelos doentes. Sentia que o poder que me havia sido concedido nessa visitação liberaria muitos milagres. Eu também mal podia esperar por isso. No entanto, os resultados não eram muito impressionantes. Na verdade, sentia que faltava tanta unção em minha oração pelos enfermos que tinha medo de que, ao orar por um aleijado, além de aleijada, a pessoa saísse também cega. Então, imaginei que os dons proféticos que possuía seguiriam para outro nível. Não foi o que aconteceu. Na verdade, eu não podia dizer que tinha mais unção para fazer alguma coisa. Mesmo assim, foi nesse mesmo ano que vieram as revelações que levariam nosso ministério a cumprir alguns de seus principais objetivos. Sem perceber isso até recentemente, foi durante aquele ano que me foi dado o entendimento fundamental da mensagem de minha vida. Não muito tempo depois disso, Bob Jones disse- me que eu receberia outra visitação do Senhor e outra comissão. Foi o que aconteceu no inicio da primavera, quando eu estava em Londres. Muitas das coisas que você lerá neste livro aconteceram durante aquela experiência. UM CH AM ADO P AR A P REP AR AR O C AM I NHO No final de 1989, pudemos arrendar uma proprie dade em Charlotte, Carolina do Norte, como sede da MorningStar Publications and Ministries. Nós nos mudamos para lá no início de 1990. Roger Hedgspeth e Steve e Angie Thompson tornaram-se os primeiros membros de nossa equipe. Logo depois, Leonard Jones uniu-se a nós como líder de adoração, embora não tivéssemos ainda nenhuma reunião que precisasse de um líder, nem qualquer plano para isso. Típico do lugar onde o ministério estava na época, encontramos um pequeno barracão na mata, o reformamos para Leonard e simplesmente dissemos a ele que fizesse o que estava acostumado a fazer diante do Se- nhor. Leonard era um obreiro fiel e trabalhador. Aparecia todos os dias e ficava ali por horas. O que ele fazia era adorar. Enquanto adorava, também criava algumas composições. Quando ele tocou pela primeira vez o que es - tava compondo, fiquei espantado. Eu nunca havia ouvido uma música como aquela. Também fiquei impressionado em ver que Leonard estava encontrando outras pessoas que precisavam de uma oportunidade. Eu sabia que, se as encontrássemos, coisas maiores do que as que já esperávamos viriam delas. Resolvi continuar a reduzir minha agenda de viagens para dedicar -me à edificação do ministério na Carolina do Norte. Steve Thompson, Robin McMillan, Leonard Jones e eu começamos o que denominamos de "escola do Espírito" e que logo recebeu o nome de reuniões "SOS". Coisas maravilhosas começaram a acontecer a partir da primeira reunião. Essas reuniões estavam instigando dons em muitas pessoas, por isso Steve Thompson perguntou se poderia realizar algumas reuniões de treinamento para pessoas que se sentissem chamadas para o ministério profético. Concordei e fiquei surpreso com a rapidez com que dons extraordinários estavam sendo liberados em inúmeras pessoas, sendo que muitas delas nunca haviam sido usadas daquele modo. Logo, todos os cristãos à nossa volta começaram a se convencer de que poderiam, pessoalmente, conhecer a voz do Senhor e ser usados por Ele para realizar proezas. A vida da Igreja começou a se parecer com a do Novo Testamento. A Visão Quando o Senhor me chamou para voltar para o ministério em 1982, Ele havia me mostrado um centro de ensino e uma comunidade profética. Dissera que quando os profetas e mestres aprendessem a adorá-Lo em conjunto como acontecia em Antioquia, poderíamos novamente liberar a autoridade apostólica. Nos anos que se seguiram, me foram mostradas muitas coisas sobre o ministério vindouro da Igreja dos últimos dias, ou seja, que ela seria realmente uma Igreja apostólica. Foi-me mostrado como o Senhor se revelaria por meio de Seu povo antes de Sua volta para governar a Terra. Vi uma Igreja que realmente não tinha mancha — era pura, santa e cheia de tamanha graça e poder que todas as nações teriam respeito por ela. Sua mensagem acerca do Reino vindouro abalaria todos os reinos. Meu principal papel no sentido de ajudar a preparar a Igreja para seu chamado girava em torno do centro de ensino e da comunidade profética. Seria um lugar de onde palavras e ensinos proféticos seriam espalhados pelo mundo. Ver isso se cumprir logo se tornou minha principal paixão. Mesmo assim, eu sabia que haveria um tempo certo para isso e que as coisas mais importantes normalmente levam um bom espaço de tempo para serem reveladas. Persuadi-me de que teria de continuar con- centrado, bem como paciente. Enquanto escrevo este livro, essa comunidade ainda está nos estágios de formação. Penso que levará mais alguns anos para que o alicerce esteja concluído. Na verdade, entendo que minha principal tarefa é lançar o alicerce para algumas coisas que outros foram chamados a edificar. É importante que você compreenda isso, se desejar entender a mensagem deste livro. Cabe a mim convocar aqueles que viverão para cumprir a vontade de Deus. Eles viverão de um modo que será um testemunho eterno de que a verdade é maior do que qualquer mentira e de que o amor é mais forte do que a morte. Ao mesmo tempo, a raça humana está aprendendo, sem dúvida, que qualquer coisa feita sem o Senhor levará, por fim, ao mais terrível desastre. Eles também verão as conseqüências mais maravilhosas de coisas que são feitas em obediência ao Senhor. Recebi a promessa de que verei, pelo menos, o começo do mais extraordinário mover de Deus desde que o próprio Deus andou na Terra. E esse mover será um preparo para que Ele ande mais uma vez. Se você for cristão, o seu chamado e destino é fazer parte disso. UMA SEGUNDA VISITAÇÃO A segunda visitação aconteceu em 1995, depois que Bob Jones visitou nossa sede em Charlotte. Após uma de nossas reuniões SOS, enquanto estávamos sentados em nossa cozinha na primeira noite, Bob olhava ao redor como se houvesse algo específico que quisesse encontrar. Ele então me perguntou onde ficavam os galpões do prédio e a placa que dizia: "Não há caixas vazias". Respondi-lhe que nosso depósito tinha um galpão e que eu o mostraria no dia seguinte. Ele disse que o havia visto em uma visão e que isso era importante. Mais tarde, Bob perguntou-me se eu ainda fazia planos de viajar para Londres. Eu havia, na verdade, aceitado um convite para ministrar em uma conferência lá. Fiquei surpreso ao constatar que Bob sabia disso. Ele então me disse que eu precisava estar lá no primeiro dia da primavera. Pensei em minha agenda e percebi que de fato estaria em Londres no primeiro dia da primavera. Perguntei a Bob por que precisava estar lá naquele dia, e ele me lembrou da palavra que havia me entregue anos atrás e que eu havia esquecido. Um pouco perturbado com meu esquecimento, ele começou a me fazer uma série de perguntas. Primeiro, me perguntou sobre quanto tempo vivíamos naquela propriedade. Respondi que fazia cinco anos. Então me indagou sobre quanto tempo fazia que ele me havia entregado a palavra acerca de Londres. Fazia cinco anos. Perguntou-me sobre quanto tempo vínhamos publicando o The Morning Star Journat. Há cinco anos, respondi. Quis saber quantos filhos eu tinha. Nosso quinto filho tinha acabado de nascer. Então me perguntou a idade de Amber. (Ela era nossa terceira filha, e Bob havia profetizado seu nascimento dois anos antes de ela nascer, sinalizando a data em que ela nasceria). Amber tinha 5 anos. Todas essas datas estavam relacionadas ao seu nascimento porque ela sena um sinal de um novo começo que haveria de vir para a Igreja. Ele então quis saber sobre desde quando vínhamos realizando as reuniões da Escola do Espírito. Fazia cinco anos. Por fim, disse que eu iria a Londres a fim de receber uma missão do Senhor, na qual eu receberia cinco coisas. "NÃO HÁ CAIXAS VAZIAS" No dia seguinte, levei Bob ao depósito, ao galpão e aos escritórios. Ele disse que havia visto o Lugar em uma visão, mas que não era aquele. Continuou a procurar por uma placa que dizia: "Não há caixas vazias", mas não tínhamos tal placa. Estávamos procurando um lugar maior para nossas reuniões, por isso decidimos levar Bob a um deles que estávamos quase alugando. Tão logo nos aproximamos, Bob animou-se. Quando entramos no lugar, ele teve certeza de que era o local que havia visto em sua visão. Ele queria ver o galpão. Enquanto olhávamos ao redor, passamos por uma porta que, do outro lado, tinha uma placa que dizia: "Não há caixas vazias". Não muito longe, estava o galpão exatamente como Bob o havia visto na visão. Assinamos o contrato de locação no mesmo instante, e aquele lugar tornou-se a sede da MorningStar Fellowship Church, em Charlotte. Lembrando-me da vez em que o Senhor havia imposto as mãos em mim por cinco vezes, segui minha viagem para Londres com muita expectativa. Quando me sentei em meu quarto de hotel em Londres no início da primavera, o dia estava sombrio e chuvoso. Eu estava um pouco deprimido por causa de algumas coisas que havia presenciado em um ministério que havia servido de sede para nossas reuniões. Então, de repente, fui levado para uma outra esfera. Foi nessa experiência que o Senhor me deu as cinco coisas que estão escritas neste livro. Durante os oito anos seguintes, Ele me fez compreender cada uma delas. Recentemente, em uma série de experiências proféticas, fui levado a revisitar os mesmos lugares. A segunda visitação foi, em certos aspectos, ainda mais poderosa do que a primeira. Quando o Senhor fala duas vezes assim, isso normalmente tem a ver com o grau de importância da revelação. Foi então que também decidi que essas experiências precisavam ser escritas. Essa mensagem não era somente para mim, mas para muitas pessoas que estão prestes a ser despertadas para um impressionante destino. Essas coisas logo começarão a ser reveladas. RESUMO Repito que escrevi essas visões na primeira pessoa porque foi assim que elas aconteceram. Eu me vi envolvido nessas experiências. Alguns me disseram que a mensagem seria mais agradável se eu tivesse escrito as visões na terceira pessoa ou como uma alegoria. Pode ser verdade, mas não achei que isso seria honesto ou correto. Tentei escrevê-las exatamente como as experimentei. Também vi muitos que tinham dificuldade de crer que o Senhor ainda fala às pessoas dessa maneira mudarem de idéia, sobretudo porque começaram a ter o mesmo tipo de experiências. Podemos esperar muito mais disso à medida que caminhamos para o fim desta era, o que está claramente anunciado em Atos 2.17,18: Nos últimos dias, diz Deus, derramarei do meu Espírito sobre todos os povos. Os seus filhos e as suas filhas profetizarão, os jovens terão visões, os velhos terão sonhos. Sobre os meus servos e as minhas servas derramarei do meu Espírito naqueles dias, e eles profetizarão. Você simplesmente não pode crer que estamos chegando aos últimos dias sem entender que haverá um aumento considerável de revelações e experiências proféticas. Na verdade, toda vez que o Espírito Santo é derramado, isso vem acompanhado por sonhos, visões e profecia. O texto em Atos 2, que é extraído de Joel 2, enfatiza isso porque, nos últimos dias, a liberação de revelações proféticas, sem dúvida, acontecerá em uma escala muito mais abrangente. Tenho visto com muito interesse, e às vezes com prazer, muitos que não criam que essas experiências eram para hoje começarem a vivenciá-las. Gostem ou não, elas estão acontecendo. Mesmo assim, uma das razões por que essa•'experiências irão tornar-se tão comuns à medida que seguimos para o final desta era é que vamos precisar delas. Elas não são para nosso deleite, ou simplesmente para que façamos melhor o nosso serviço. São 4mportantes para nossa direção, e vamos precisar de uma direção mais específica nos tempos que estão por vir. É esta convicção que me tem instigado a ser muito mais franco quando escrevo sobre a natureza das experiências que vivenciei. Tenho dois objetivos pessoais que me instigam em quase tudo que faço. Um deles é tornar-me tão obediente a Cristo a ponto de todos os meus pensamentos, literalmente, serem cativos a Ele. O segundo é que quero estar mais em casa na esfera celestial do que na terrena, assim como o apóstolo Paulo disse acerca de si mesmo. Vivo para o dia em que os cristãos poderão sentar- se na encosta de uma montanha com um exército inteiro à sua procura e desfrutarem da perfeita paz, pois eles estarão apercebidos de que aqueles que estão conosco são em maior número do que os que estão com nossos inimigos. Creio que esta é a herança do corpo de Cristo. É assim que deveria ser o Cristianismo. Paulo escreveu em 2 Coríntios 3.7,8: O ministério que trouxe a morte foi gravado com letras em pedras; mas esse ministério veio com tal glória que os israelitas não podiam fixar os olhos na face de Moisés, por causa do resplendor do seu rosto, ainda que desvanecente. Não será o ministério do Espírito ainda muito mais glorioso?" Tais palavras atestam que a glória que deveríamos estar experimentando na Nova Aliança é maior do que a que Moisés experimentou. Moisés encontrou-se com o Senhor face a face e, ainda, teve de colocar um véu sobre seu próprio rosto por causa da glória que refletia dEle. Deveríamos estar experimentando algo maior do que isso. Uma das perguntas fundamentais de nossos tempos deveria ser: "Onde está a glória?". Uma coisa na qual podemos confiar antes do final desta era é que a glória do Senhor será manifesta em Seu povo, assim como nos foi prometido em Isaías 60.1-3: Levanta-te, resplandece! Porque chegou a sua luz, e a glória do Senhor raia sobre você. Á escuridão cobre a Terra, densas trevas envolvem os povos, mas sobre você raia o Senhor, e sobre você se vê a Sua glória. As nações virão à Sua luz e os reis ao fulgor do Seu alvorecer. Ao mesmo tempo em que a escuridão está cobrindo a Terra, e densas trevas estão envolvendo os povos, a glória do Senhor está raiando sobre Seu povo e sobre ele aparecendo. Estes são os tempos aos quais estamos chegando. É isso que tenho visto em quase todas as visões, sonhos ou experiências proféticas sobre os quais escrevi — escuridão e conflito, glória e esplendor. Eu preferiria ver apenas a glória, mas eles estão vindo juntos, e devemos ver e entender a ambos. Conseqüentemente, o Corpo de Cristo está prestes a passar por uma metamorfose. É como uma Larva arrastando-se pela terra, mas que sem demora irá se revelar como uma maravilhosa borboleta. A igreja que está pronta a se levantar irá sentir-se mais em casa na esfera celestial do que na terrena. Os tipos de experiências sobre os quais estou escrevendo não parecerão estranhos para essa Igreja, e aqueles que farão parte dela logo ouvirão o nítido chamado feito pela trombeta, que está revelado no livro de Apocalipse 4.1,2: Depois dessas coisas olhei, e diante de mim estava uma porta aberta no Céu. A voz que eu tinha ouvido no principio, falando comigo como trombeta, disse: Suba para cá, e lhe mostrarei o que deve acontecer depois dessas coisas. Imediatamente me vi tomado pelo Espírito, e diante de mim estava um trono no Céu e nele estava assentado alguém. Há uma porta que está aberta, e há um convite _para que passemos por ela. Aqueles que responderem a este chamado serão tomados pelo Espírito e, conseqüentemente, sempre estarão vendo Aquele que está assentado no trono. Este é o principal objetivo de toda revelação verdadeira e profética: ver o glorioso Cristo ressuscitado e a autoridade que Ele agora tem sobre todas as coisas. Existe uma diferença entre crer com a nossa mente e crer com o nosso coração. Podemos muito bem conhecer e crer na doutrina de que Jesus está agora sobre todo governo e autoridade e domínio, mas, se realmente crêssemos nisso com o nosso coração, nossa vida seria radicalmente diferente. Como diz Romanos 10.10: "Pois com o coração se crê para justiça...". Um dos principais resultados de qualquer experiência é transformar conceitos em crenças no coração. Este será o resultado da revelação profética que será derramada nos últimos dias. Isto produzirá uma transformação da Igreja que será tão radical quanto à larva se tornando uma borboleta. Por essa razão, oro para que você não se satisfaça tão-somente com a leitura sobre meus sonhos e visões, mas que tenha os seus próprios sonhos e visões. Essa visão não está completa; ainda está se revelando. Concluí este livro em uma parte que parece o meio da história, porque é isso. Há muito mais por vir. No entanto, o restante é tão abrangente que será necessário outro livro. Mesmo assim, a mensagem contida neste é suficiente para que tratemos de parte do tempo que há de vir. Não se trata de uma fantasia. O verdadeiro Cristianismo é a maior aventura que se pode ter. A verdadeira vida na Igreja, o modo como deveria ser, é uma experiência sobrenatural. É a vida a partir de uma outra esfera que está além desta em que vivemos que traz a verdadeira vida à Terra. Oro para que a mensagem deste Livro levem aqueles que o lêem para uma vida com uma realidade maior — uma vida que testifica que o Céu é real e que nosso Rei está assentado em um trono acima de todos os outros. Rick Joyner CAPÍTULO 1 A TOCHA Sentei-me em meu quarto de hotel em Londres. Eu estava impaciente e pensei em ir a pé ao palácio de Buckingham, que ficava a alguns quarteirões de distância. Mesmo sabendo que eu estava no lugar certo e no momento certo, esta foi uma de minhas viagens ministeriais mais difíceis. Comecei a pensar na profecia que antevia essa viagem. Recostei a cabeça no encosto da cadeira para descansar por um instante. De repente, achava-me em outro mundo. Estava em pé em uma praia. A água batia suavemente em meus pés. Pensei que deveria estar sonhando, mas eu sabia que não estava dormindo. Olhei para o céu, que tinha uma cor refulgente. Não era como nenhum pôr-do-sol ou alvorada que eu já havia visto. Então percebi a atmosfera. Estava claro, e o ar, fresco. A cada respiração, sentia-me rejuvenescendo. Minha mente tornava-se mais despertada, e meus pen- samentos, cada vez mais aguçados e claros. Olhei para as montanhas a distância e comecei a estudá-las. Pareciam estar a, pelo menos, 80 quilômetros de distância, mas, quem sabe, muito mais longe. Á clari- dade que fazia era algo indescritível. Adoro montanhas, e já vi algumas das mais majestosas do mundo, mas essas eram mais maravilhosas do que qualquer outra que conhecia. Pareciam como grandes muros de uma fortaleza que transmitiam força e propósito, mas que também eram acolhedores e convidativos. Então, olhei para a água entre mim e as montanhas e me perguntei se havia um caminho em volta dela para que eu pudesse ir até lá. Tão longe como elas estavam, eu era atraído a elas como por um ímã e queria ir até lá no mesmo instante. Senti-me forçado a olhar mais de perto para a água. Ela também era cristalina, com um suave tom de azul e um maravilhoso contraste com o céu. Eu me perguntava se era possível haver um lugar mais lindo. De um modo estranho, era como se aquele lugar fosse meu lar, o lugar a que eu pertencia. Eu estava revivendo de um modo que era mais do que maravilhoso. Era como despertar de um sonho para a realidade, mas uma realidade muito mais maravilhosa. Então, notei um vulto vindo em minha direção pela praia. Pude ver a distância que Ele carregava uma tocha. Ela emitia uma luz igual à cor do céu. Eu soube no mesmo instante que era o Senhor. Cheguei a essa conclusão pelo modo como Ele andava, com um propósito, mas sem pressa. Ele nunca tem pressa porque o tempo se submete a Ele. À medida que Ele se aproximava, pude ver que usava uma veste branca com um cinto dourado amarrado na frente. A orla de Suas vestes tinha um contorno de ouro, assim como a barra de suas mangas. "É o pôr-do-sol e a alvorada" - Ele disse. "A alvorada em um lugar é o pôr-do-sol em outro. Você vive no pôr-do-sol de uma era e no amanhecer de outra. Esta é a razão por que está aqui, para aprender coisas sobre o final da era em que está e o início da que está despontando." Ao aproximar-se, Ele estendeu a tocha em minha direção, mostrando que eu deveria segurá-la. "É sua", Ele disse. "Fui eu que acendi este fogo, mas você deve mantê-lo aceso." Quando peguei a tocha, fiquei surpreso com sua tamanha leveza, o que me fez pensar que ela também deveria ser frágil. "Ela não é leve nem frágil" — o Senhor disse, respondendo aos meus pensamentos. "Tem mais substância e mais peso do que a própria Terra. Esta é a luz da minha presença. Se eu não estivesse ao seu lado, você não poderia segurá-la. Se você sair da minha presença, ela ficará pesada. Se vier a se afastar de mim, terá de abaixá-la. Então, outra pessoa irá pegá-la e carregá-la. Ela é sua enquanto estiver perto de mim." Enquanto eu continuava a examiná-la, o Senhor continuai: "Esta tocha exala o ar do Céu. Nenhum poder na Terra poderá extingui-la se quem a levar andar comigo nesta esfera. Seu brilho e poder dependem da vida de seu portador e do modo como ele permanece em mim." Eu ainda estava olhando para ela quando o Senhor começou a andar pela praia. Ele estava a alguns passos de distância quando percebi que a tocha estava ficando pesada. Rapidamente O alcancei. Então, outra voz atrás de mim começou a soar: "Até a própria tocha pode tirar sua atenção do Senhor." Virei-me e vi um homem de meia-idade que usava a veste simples de um monge. Seu rosto estava serio, porém alegre. Ele continuou a falar enquanto todos andávamos. "No seu tempo, haverá mais pessoas para carregar esta tocha do que em todos os tempos antes de você. Você conhecera aqueles que portarão a tocha quando encontrar-se com eles. Vocês devem incentivar e ajudar uns aos outros. Uma vez que nenhum de vocês poderá ficar sozinho, você devera unir-se a outros portadores da tocha. Quando fizer isso, poderá vencer o poder das trevas que o afrontara. Você poderá libertar pessoas, cidades e ate nações com a Luz dela." Então, percebi que a tocha estava respirando estava viva! Segurei-a com as duas mãos, e um surto de poder fluiu pelo meu ser como se eu tivesse fechado algum tipo de circuito. Minha visão aumentou, minha mente ficou ate mais aguçada e senti minha forca aumentar. Eu não podia compreender como alguém era capaz de por de lado tamanho tesouro. "Você ainda não sentiu a dor da tocha" - o Senhor interrompeu - "Sustento o Universo com a minha Palavra. E a minha Palavra que lhe permite segurar esta tocha. Esta tocha é a luz da minha presença e é também o que você chama de 'um movimento'. Eu Sou a Verdade Viva, e a verdade que é viva esta sempre em movimento. No inicio, o Espírito Santo Se moveu, e Ele não deixou de Se mover. A vida se move." O monge que estava andando conosco acrescentou: "Nele vivemos e nos movemos. O Espírito Santo esta sempre Se movendo. Quando Ele Se moveu no vazio sem forma, o caos produziu vida. Este é o Seu desígnio: transformar o caos que o mal criou no mundo na vida de uma nova criação. Quando você se mover com a vida do Espírito, a criatividade será o ar que seu espírito respira." "Quem é você?" - perguntei. "Sou aquele a quem você chama 'Thomas a Kempes' ." "É uma honra" - eu disse. "Conheço bem seus escritos. Eles me sustentaram durante alguns momentos difíceis. Na verdade, no geral, acho que são alguns dos es- critos mais poderosos que conheço fora das Escrituras." Thomas continuou como se nem tivesse ouvido minhas observações: "Os tempos de grande escuridão logo virão sobre a Terra. Havia escuridão na minha época, mas não como a que você esta prestes a ver. Lembre-se de que você jamais estará na escuridão se ficar perto do Senhor. A tocha que carrega tem sido a fonte de todo movimento verdadeiro do Espírito. Os lideres desses movimentos são todos portadores dela. Os movimentos que deixaram de se mover e, conseqüentemente, deixaram de viver, passaram por isso porque a tocha foi deixada de lado. Se você quiser resistir ate o fim, devera permanecer perto da Fonte desta luz e fogo. Ele esta se movendo, e você não deve deixar de se mover." O Senhor fez um sinal para que Thomas fosse para Seu lado. Quando colocou Sua Mao no ombro de Thomas, Sua afeição por ele foi visível. "Os homens pensavam que Thomas era somente um trabalhador humilde, alguém que cozinhava, lavava a louca e carpia as jardins, mas ele também carregou essa tocha. De sua função como lavador de pratos, veio a ser mais poderoso do que reis ou imperadores. Ele profetizou para milhões ao Longo de gerações. Ainda hoje, minha mensagem sai de seus escritos para ajudar na preparação dos que estão vindo. Você pode ser mais poderoso lavando pratos e ficando perto de mim do que liderando exércitos ou nações, mas longe de mim." Enquanto continuávamos a andar, Thomas começou a falar novamente. "Esta tocha é oferecida a todos os mensageiros do Senhor. Somente alguns a carregaram, e são poucos os que a têm carregado por um bom tempo. Não foram muitos que aprenderam a permanecer em Sua presença. Se ficar perto dEle, levará consigo o que vê e sente aqui e irá transmiti-lo a muitos outros. Com isso, muitos serão levados ao Senhor. Se pegar esta tocha e depois deixá-la, também poderá ser usado para fazer muito mal." "Como alguém que já viu o Senhor, e tirou esta tocha de Sua presença, seria usado para fazer o mal?" - protestei. "Esta tocha dará ao seu portador muita influência. Aqueles que a carregaram e a deixaram, muitas vezes fizeram isso porque começaram a admirar mais a influência dela do que a presença do Senhor. À medida que eles se afastavam dEle, a tocha ficou extremamente pesada, e, com isso, a puseram de lado e começaram a substituir as Palavras do Senhor por suas próprias palavras. Foi assim que as doutrinas e tradições humanas começaram a obscurecer a influência de seu Espírito sobre os homens. Isso aconteceu a todos os movimentos até agora. Você acha que pode se sair melhor do que todos os outros portadores da tocha?" Percebi a seriedade dessa advertência. Eu conhecia muito bem minhas inclinações no sentido de deixar de buscar o Senhor e de permanecer perto dEle. Também conhecia meu orgulho e presunção de pensar às vezes que meus pensamentos eram os pensamentos do Senhor e minhas palavras, Suas palavras. Mesmo sob a glória de Sua presença, enquanto andávamos, senti um calafrio. Uma vez que me foi dada essa tocha, minhas falhas iriam agravar-se, e muitas outras pessoas seriam afetadas. Pensei nos fracassos anteriores no ministério e depois em meu fracasso nos negócios. Cada um deles havia causado uma destruição um pouco maior. Agora, meu ministério estava crescendo novamente. Será que eu poderia carregar o peso dessa responsabilidade? Em quase todos os aspectos que tinham importância, tudo que eu havia iniciado no passado havia acabado em fracasso. "Será que seria diferente desta vez?" - pensei. O Senhor olhou para mim de um modo que expressou bondade e perdão, mas, ao mesmo tempo, senti a gravidade da advertência que eu estava ali para receber. "Meu Espírito irá com você e o convencerá de sua tendência de afastar-se de mim. Mesmo assim, você deverá seguir o meu Espírito. Mesmo os portadores da tocha não serão forçados a seguir-me. Cairão todos que não me amarem mais do que ao pecado e à maldade. Sucumbirão todos que não amarem a verdade mais do que aos elogios dos homens. Se você me amar e amar a minha verdade mais do que aos ídolos que o mundo adora agora, não cairá. Esta será sua escolha diária: seguir-me ou servir aos ídolos que podem facilmente obscurecer sua afeição por mim." Segurei a tocha com muito mais força. Ao fazê-lo, senti tanta energia fluindo por mim que era como se cada célula do meu corpo fosse despertada e estivesse pronta a saltar para fora. Pensei em Romanos 8.11: E, se o Espírito daquele que ressuscitou Jesus dentre os mortos habita em vocês, aquele que ressuscitou a Cristo dentre os mortos também dará vida a seus corpos mortais, por meio do seu Espírito, que habita em vocês. Estar perto dEle era algo que estava levando meu corpo a reviver como eu nunca havia sentido antes. Comecei a perceber que tudo naquele lugar estava vivo - as árvores e a grama - , e, de um modo estranho, as próprias montanhas também pareciam estar vivas. Até as nuvens estavam, de algum modo, tentando falar. De um modo profundo, isso parecia natural. Estava certo. Comecei a ter um tipo de comunhão com tudo o que eu podia ver. Enquanto absorvia tudo isso, o Senhor continuou: "Agora é tempo de mostrar à Terra que o Céu existe. Aponte a tocha Mira o mar." Eu a apontei para a água até que ela a tocou. Então, a introduzi na água até ficar totalmente submersa. Seu fogo continuou bem aceso e ainda mais lindo debaixo da água. De repente, a água incendiou-se. Chamas se espalharam da tocha e começaram a se arrastar em direção ao horizonte. Elas faziam isso lenta e continuamente, o que me fez lembrar do modo como o Senhor andava. Eu me perguntei se o mar tinha de fato algum tipo de combustível. Quando olhei mais de perto, constatei que ele também estava vivo. Fiquei observando enquanto o fogo queimava. Não havia fumaça nem vapores. Havia certo calor, mas era suave, um tipo de calor penetrante que parecia liberar uma energia ainda maior dentro de mim. Enquanto eu estava por perto, ele continuou a aumentar. Logo senti gire poderia saltar sobre uma casa, ou talvez até levantá-la. Era uma sensação extraordinária e maravilhosa. Enquanto me tornava vivo, eu estava me ligando a uma energia vital que me dava a força do todo. Era como experimentar uma massa crítica espiritual_ Thomas estava me observando de perto e sobriamente. Então acrescentou: "Enquanto você permanece nEle e faz Sua vontade, começa a fluir com Sua energia vital, que está em tudo o que vive. Desse modo, enquanto ajudamos os outros a reviverem, a vida cresce em nós também. Não comece a adorar essa energia vital; você só permanecerá no caminho da vida se buscar a Fonte de vida." Eu sabia que esta era outra advertência importante. Era nessa armadilha que muitas seitas e movimentos da Nova Era haviam caído. Mesmo assim, eu queria me lembrar da sensação. Sabia que todos que já haviam experimentado essa energia vital ficariam viciados nela para sempre, buscando-a eternamente como um viciado que procura sua próxima droga. Thomas, que obviamente também estava lendo meus pensamentos, continuou: "Não há embriaguez como a própria vida, mas Lembre-se de que ainda assim ela é embriagante. Muitos caem ao menor toque de Seu Espírito e podem embriagar- se no Espírito com um pequeno gole. No entanto, os sacerdotes tinham de aprender a ficar em pé e ministrar mesmo na presença de Sua glória. Se você entregar seu corpo a esta vida, ficará bêbado. Se entregar o seu espírito, será vivificado, fortalecido e até mesmo poderá conseguir enxergar com maior clareza. Você deverá preparar os que estão vindo não para que busquem seu beneficio próprio e se tornem embriagados por esse poder, mas, sim, a se manterem sóbrios, aptos a enxergar com maior clareza e desempenharem suas tarefas. Você sempre se sentirá bem após haver cumprido o seu objetivo." O Senhor virou-se e olhou bem para mim. "Você pode pôr fogo nas nações com esta tocha. Esse é o mesmo fogo que Moisés viu na sarça. Esse é o fogo que enviei com ele para libertar o meu povo. É o que estou prestes a enviar com os meus mensageiros para novamente libertarem o meu povo." Olhei para o fogo na água e vi que a água tinha multidões de seres - pessoas - que estavam no fogo, mas não estavam sendo consumidos. Estavam revivendo. Esse era um fogo que, um dia, cobriria o mundo. Consumiria a madeira, o feno e a palha, mas purificaria o ouro, a prata e as pedras preciosas em toda vida. Pensei no que o Senhor disse em Lucas 12.49: "Vim trazer fogo à Terra, e como gostaria que já estivesse aceso." Examinei Thomas. De sabia o que eu estava pensando: "Sim, chegou o tempo. O fogo agora está aceso." 1. Thomas a Kempes (1380-1471) foi um monge e escritor alemão. É o maior representante da literatura devocional moderna. CAPÍTULO 2 O MENSAGEIRO Permanecemos à beira do mar de fogo por um bom tempo. A vida, a energia e a paz que sentíamos continuavam a aumentar. Era como um surto de alegria que não passava, mas, ao contrário, aumentava até vir a se constituir em certa plenitude de alegria. Eu sabia que não havia nada que pudesse se comparar a isso, mas parecia algo vagamente familiar. "Você esta experimentando a alegria e a força que o homem conheceu antes da queda" - explicou o Senhor. - "Só está começando a experimentar o que, na verdade, é uma vida normal para o homem, do modo como eu o criei para viver." À medida que as chamas do mar tocavam suavemente o meu corpo, passei a reconhecer a sensação. Foi o que comecei a chamar de "coração ardente no caminho de Emaús". É o modo como o nosso coração queima quando andamos próximos do Senhor e Ele, em pessoa, nos ensina. Comecei a pensar em Adão, que havia andado com Deus no jardim do Éden, e em Enoque, que foi trasladado diretamente para o Céu. O Senhor novamente respondeu aos meus pensamentos. "Quando andei com Adão, eu o ensinei sobre a criação e sua finalidade de cultivá-la e mantê-la. Dei a ele também liberdade para ser criativo no seu cultivo. Ele foi criado à minha imagem. Para levar a imagem do Criador, é preciso ser criativo. Nisso, tivemos uma grande comunhão." "A verdadeira criatividade só pode ser encontrada por aqueles que andam ao meu lado. É um relacionamento comigo que alguns têm experimentado, mas é disso que gosto sobremaneira. Alguns fazem isso e andam muito próximos de mim, mesmo que não saibam o meu nome. Eles não sabem que eu me fiz carne e andei na Terra. Chegou a hora de todos os que me buscam e aos meus caminhos saberem o meu nome e conhecerem os meus caminhos, que foram revelados." "Quando Adão andava comigo, ele estava em harmonia com minha criação e sentia a energia e a força que você sente agora. Ele tinha tanta vida que viveu quase mil anos depois que o pecado entrou nele, e a discórdia do pecado penetrou em sua alma. Ha um grande poder na vida, mas toda vida perderá o seu poder se não permanecer junto a mim." "Enoque desejou aquilo que Adão perdeu. Ele andou comigo, e eu comecei a ensiná-lo como fiz com Adão. Ele descobriu a fonte de vida andando comigo. A vida foi tão grande nele que teria permanecido na Terra se eu não o tivesse levado para habitar comigo. Ele tinha muita vida para acabar morrendo, por isso tive de levá-lo." "Ainda estou aprendendo coisas sobre a vida" — disse outra voz atrás de mim. Virei-me e vi ao longe um homem de pé em uma bela campina verde. Sua voz parecia muito mais próxima do que ele realmente estava. Ele começou a caminhar em nossa direção de um modo parecido com o Senhor — determinado, mas sem pressa. À medida que se aproximava, percebi que sua face tinha a mesma cor do céu, da tocha e da face do Senhor. Usava também uma veste parecida com a do Senhor. Ele se aproximou e tirou a tocha da minha mão. "Tenho de abençoá-lo antes de você ir — tenho de abençoar os que carregam a tocha. O objetivo de cada movimento é instigar os homens a fazerem o que fiz — andar com Deus até que se sintam mais em casa na esfera celestial do que na terrena. O homem foi criado para habitar na Terra com seu corpo, enquanto seu espírito se eleva aos Céus." "Você é Enoque?" — perguntei. "Sou". ele disse ao estender a mão e tocar meu coração. "O fogo queima" - prosseguiu -, "mas o que lhe falta é disciplina e perseverança. Você anda apropriadamente por pequenos períodos. Agora precisa aprender a andar com perseverança. Precisa ter a determinação de andar a cada dia no domínio daquilo que o Senhor lhe tem dado para governar. Ele lhe tem dado autoridade, mas você precisa andar com Ele em seu domínio. Só então dará frutos e irá multiplicar-se como foi chamado a fazer. O seu domínio é o seu jardim. O caminho da vida sempre leva à unidade e à harmonia — com Deus, primeiro, e depois com tudo aquilo que é dEle. Para isso, é preciso força e perseverança, pois toda a criação está agora em desarmonia, e ela se opõe à unidade." Enoque então pegou a tocha e a tocou em meu coração. Ela trouxe à tona um grande fluxo de energia e poder e, depois, uma alegria que mal podia ser contida. Quando ele a tirou, o fogo continuou a queimar dentro de mim, e a energia continuou a correr como ondas pelo meu corpo. "O Senhor faz de Seus mensageiros chamas de fogo. Você não pode andar com Deus, ou cumprir Seu propósito a menos que mantenha esse fogo aceso em seu coração. A indiferença é seu inimigo mortal. Você não deve deixar o fogo se extinguir; afastando-se de Sua presença. Esse fogo que agora queima no seu coração deve ser alimentado a cada dia. Seu alimento é a atmosfera do Céu, que é o sopro de Deus. Aquilo em que Ele sopra, vive, e aquilo em que Ele não sopra, morre. Busque essa vida e persevere neta. Se fizer isso, deixará um rastro de vida no qual o Rio da Vida romperá e fluirá. Se você andar como foi chamado, ajudará a restaurar a verdadeira vida." Enoque então segurou o meu rosto com as suas mãos e olhou bem nos meus olhos. Ele era a própria definição de bondade. Parecia estar tão cheio de alegria e amor que tive a impressão de que era a pessoa mais parecida com o Senhor de todas que já conheci. Para mim, todos os que o vissem passariam a vida tentando ser como ele. Então percebi que a principal razão por que ele estava olhando para mim era para que eu olhasse para ele. Eu olhei. Então ele me soltou e seguiu na direção de onde havia vindo. "Enoque investiu especialmente em você" — o Senhor disse enquanto nós dois o observávamos partir. "Ele profetizou a chegada dos poderosos que logo haveriam de se levantar. A partir do instante em que teve permissão para vê-los, esperou por esse momento. Você foi chamado para ajudar a despertar esses poderosos para o destino que eles têm. Quando se despertarem, terão o coração de Enoque. Seu poder e sua força vêm dessa tocha que Enoque foi o primeiro a levantar e que outros fiéis mantiveram viva na Terra." "Dentre aqueles que hão de vir, muitos se levantarão como Abraão, Moisés, Rias, João Batista, Pedro, Paulo e João. Haverá cerca de mil homens como cada um dos grandes mensageiros da era que agora está se findando." "Depois que cada um dos carregadores da tocha deixou a Terra, eles deixaram seus mantos de autoridade para serem usados por outros. Eles foram divididos como foi o meu na cruz. Quando um homem tiver uma parte do manto que se junta à de outro homem, a autoridade deles aumentará. Muitos desses mantos foram escondidos e guardados para este tempo. Eles foram reservados para aqueles que serão meus mensageiros nos últimos dias." "É verdade que a autoridade espiritual aumenta a unidade. Um homem pode pôr mil homens para fugir, mas dois podem perseguir 10 mil. A unidade que esses mensageiros de poder dos últimos dias têm multiplicará a autoridade dos mantos que eles carregam. O mundo inteiro jamais viu algo como o que estou para liberar por meio desses mensageiros. Eles andarão no fogo de todos os que os precederam. Por isso, agora você precisa ajudá-los a encontrar o caminho e os seus mantos." "Senhor, aqui sinto que posso fazer alguma coisa. Será que continuarei a sentir isso quando voltar para a esfera terrena?" — perguntei. "Não. Quando você voltar, tudo isso lhe parecerá um sonho. O planeta está sob um manto de medo e desconfiança que está se tornando cada vez mais grosso e negro. Aqueles de sua época que vencerem o medo e a desconfiança para andar no poder da vida aqui terão a maior fé, e a eles será confiada a maior autoridade." "Você só conseguirá se lembrar vagamente do que vê e sente aqui. Mesmo assim, o desejo pelo que você agora está experimentando lhe foi dado a conhecer, e esse desejo não desaparecerá. Ele é verdadeiro e irá levá-lo à realidade." "Você poderá voltar a ter tudo o que experimentar aqui, mas também precisará desenvolvê-lo à medida que andar comigo na Terra. Somente dessa forma poderá ser sábio e humilde o suficiente para ser revestido da autoridade e do poder que sente aqui. A sabedoria e a humildade são mais importantes do que o poder. Sem elas, o poder irá corrompê-lo, e você será usado para o mal. É por meio de sua sabedoria e humildade que você poderá ajudar os meus mensageiros ao longo do caminho que eles têm pela frente." Voltei-me para ver Enoque novamente e me surpreendi ao verificar que ele havia dado somente alguns passos. Ele estava me observando com muito interesse. Tinha um olhar determinado que quase chegava a ser impiedoso, mas também mesclado de certa afeição. Isso o fazia parecer a própria definição de uma estabilidade sólida como a rocha. Imaginei o quanto seria maravilhoso ter tido um mentor como ele. O Senhor mais uma vez respondeu aos meus pensamentos: "Você foi chamado para ser como ele, como foram todos aqueles que estou enviando para preparar o caminho dos meus mensageiros de poder. Urna vez que você vê a minha glória em Enoque, será transformado por ela. É isso que você foi chamado a ser para os outros que carregarem a tocha, e assim eles serão para você. Você não está sozinho, já que há muitos outros que foram chamados para fazer isso, exatamente como você. No entanto, você não poderá ser como ele antes de ter andado comigo como ele andou. Este é o seu único objetivo agora - andar mais perto de mim a cada dia." Então olhei para as nuvens lá no céu. Elas eram tão magnificentes quanto às montanhas. Cada uma parecia estar no seu devido lugar, como as que um artista usaria para adornar com perfeição um quadro. De forma alguma, impediam ou obstruíam a luz solar nem o céu, mas se ajustavam de uma maneira a realçá-los. Havia uma que estava bem acima de nós que formava um perfeito dossel. As nuvens tinham tanta vida que gotejavam personalidade. Elas tinham um propósito. Eu sabia que se dedicavam a realçar com a maior perfeição possível a glória de todas as coisas que estivessem ao seu redor, e era o que elas estavam fazendo para nós. Eram tão agradáveis que eu gostaria que houvesse um modo de mostrá-las a cada criança. O Senhor deixou que eu desfrutasse disso e depois continuou: "Eu criei o homem para carregar a tocha por toda a criação. Todos os homens têm esse chamado, e foram criados para andar comigo e levar a luz da vida. Muitos são chamados, mas poucos são escolhidos. Você deve ir agora e encontrar aqueles que perseveraram para ser os meus escolhidos. Eles manterão o fogo e acenderão em todos os homens o fogo que o homem foi criado para ter." "Você conhecerá esses escolhidos pelo fogo que já arde neles. Eles jamais se contentarão com práticas religiosas, pois desejam a mim e a realidade desta esfera. Porque me buscam, me acharão. Eu lhes concederei o desejo de seu coração - a minha comunhão. Serei a sua herança." "Também lhes darei uma autoridade maior do que a que já tenho confiado aos homens. Eles a receberão porque terão a sabedoria e a humildade para usá-la. Quando o Dia do Juízo chegar, testemunharão que andaram comigo e que seu fogo não se apagou. Esses são os meus mensageiros que toda a criação vinha esperando e pelos quais sentia as dores de parto. É hora de eles despertarem." O Senhor então saiu andando sobre as águas, para o meio das chamas. Vi quando Ele começou a andar em direção às montanhas. Eu sabia que tinha de segui-Lo. Enquanto Ele caminhava sobre o mar em chamas, a tocha ficava mais pesada. Se eu quisesse continuar a segurá-la, teria de segui-Lo, mas eu estava indeciso quanto a tentar andar sobre as águas. Por fim, decidi sair andando sem pensar nisso. Ao fazê-lo, pude andar sobre o mar como se ele fosse uma estrada pavimentada. O fogo no mar não me queimava. Ao contrário, como a t ocha, parecia me dar energia. Enquanto andávamos, Ele se virou e disse: "Você está aqui porque aprendeu a ver. Ver é avaliar e procurar entender. É assim que a criança vê. Enquanto você continuar a ver, poderei ensiná-lo e conduzi-lo." "Aqueles que andam comigo crescem na força que está em mim. Dei a todos os homens a capacidade para isso, para crescer na força natural e sobrenatural. Aque- les que não andam comigo têm um vazio em sua alma no lugar dessa força sobrenatural. Eles voltam-se para o maligno em busca de poder para preencher o vazio de seu coração." "Dou o meu poder aos que são sábios e maduros o suficiente para usá-lo. O maligno dá o seu poder àqueles que são tolos e imaturos o suficiente para serem usados por ele. Está chegando o tempo em que todos deverão optar por andar comigo; do contrário, serão dominados pelo poder de um mal maior que ainda está para se manifestar na Terra." Enquanto andávamos, ondas de fogo se espalhavam de nós no mar como se fôssemos um vento soprando. Quando o Senhor apontava para uma direção, as chamas aumentavam na direção para a qual Ele estava apontando. Tentei apontar a direção, e o mesmo aconteceu. Então o Senhor parou e se virou para olhar para mim. "Tenho um fogo para lançar sobre a Terra que agora se acendeu. Ore para que venha o meu fogo. Purificar eia. Ore para que este fogo consuma a palha e purifique os meus escolhidos. Dou ao homem autoridade sobre a Terra e, conseqüentemente, devo ser consultado antes de movê-la. Este é o principal objetivo daqueles que andam nela: tomar conhecimento de mim e de minha vontade. Assim poderão pedir que seja feita a minha vontade assim na Terra como no Céu, e ela será feita. O que você verá aqui é para que conheça a minha vontade para a sua geração." De repente, me vi de pé em um vale. CAPÍTULO 3 O CAVALO E A MENINA Enquanto eu examinava o vale, a primeira coisa que chamou minha atenção f oi uma bet a correnteza que fluía lá no meio. Era um cenário natural, em bora, de algum modo, parecesse maravilhosamente feito à mão. Seu aspecto era tão perfeito que eu não podia dizer se ainda estava na esfera do Céu ou de volta à Terra. Então ouvi um ruído acima de mim e nos dois lados. Parecia o ruído de milhares de pisadas fortes. Era um som inquietante, principalmente em um cenário de tanta paz. Vi, bem ali, que algo não estava correto. Urna grande multidão apareceu lá no topo das montanhas ao redor. Era algum tipo de exercito. Enquanto eu os observava, eles começaram a descer das montanhas, movendo- se lentamente, até mesmo de maneira vacilante, mas de um modo implacável. Comecei a sentir fortemente que se tratava de um exército cuja intenção era maligna. Então, milhares de abutres apareceram, como uma nuvem, sobre eles, rodeando-os como se estivessem esperando pela matança. Fiquei apavorado ao pensar no que fariam a esse belo lugar, sem falar que temia por minha vida, uma vez que estava, obviamente, cercado por essa horda do mal. "O que você vai fazer?" — perguntou uma voz à minha retaguarda. Vir-me-ei para ver quem estava falando e vi um grande cavalo branco. Ele era lindo e tinha os músculos bem definidos, mesmo estando parado. Tinha uma in- teligência nos olhos que eu jamais vira em animal algum, por isso me perguntei se era ele quem havia falado. "O que posso fazer?" — perguntei. "Vejo que você é um dos que carregam a tocha. Esse cavalo é para você" — continuou a voz. "Você deve aprender a montá-lo, se quiser deter a horda do mal que está se aproximando." "Resta tempo para aprender a montar um cavalo?" — perguntei, olhando ao redor na tentativa de ver de quem era a voz, uma vez que agora estava claro de que não era o cavalo que estava falando. "Ainda há tempo." Então uma garotinha que parecia ter entre 10 e 12 anos saiu de trás do cavalo. Ela usava, ao que parecia, um uniforme escolar, guarnecido com uma armadura de prata e de ouro que estava gasta e batida. Uma espada estava atada ao seu cinto. Ela era magra e tinha um rosto lindo e olhos azuis brilhantes que estavam fixos em um alvo feroz e sagaz. Destilava uma ousadia e confiança com a pureza de uma criança que era impressionante em sua nobreza. "Estou aqui para ensiná-lo a cavalgar" — disse a garota. "Temos tempo, mas não podemos desperdiçá-lo". — ela repetiu como que tentando me acalmar. Eu estava fascinado por essa garotinha, mas ainda inquieto em função da enorme força das trevas que estava descendo o monte para vir ao nosso encontro. Estava admirado com a calma que ela aparentava. Eu me perguntava se ela era demasiadamente jovem para entender o que tal horda do inferno faria a ela e a esse lugar. No entanto, quando olhei para ela, ficou óbvio que tinha uma experiência e uma inteligência que iam além de sua idade. "Entendo muito mais do que você imagina" — ela respondeu, como se eu tivesse expressado os meus pensamentos em voz alta. "Estou aqui para pelejar ao seu lado, mas, primeiro, você precisa aprender a montar este cavalo. Temos tempo, mas não podemos desperdiçá-lo. Precisamos começar." "Vamos começar então" — eu disse, sem querer perder um segundo. "Sei montar um cavalo. Há alguma coisa especial que preciso saber para montar este cavalo?" - perguntei. "Não sei" — ela respondeu. "Nunca montei um cavalo." "Mas pensei que você tivesse dito que estava aqui para me ensinar a cavalgar. Como você vai me ensinar se nunca montou um cavalo?" "Você aprenderá ao me ensinar. Não se sentirá totalmente seguro com este cavalo antes que eu tenha o meu e possa montá-lo tão bem quanto você. Você também precisa entender que este não é igual a nenhum cavalo em que já montou." "Conte-me tudo o que sabe" — repliquei. "Podemos beber água deste rio?" — perguntei, com sede e sentindo-me fraco. "É claro. É por isso que ele está aqui." Estendi a mão e segurei as rédeas do cavalo. Então, o puxei levemente, e ele começou a me seguir sem nenhum sinal de resistência. Quando chegamos à margem do no, estendi a mão e levei um gole de água à boca. Imediatamente os meus olhos brilharam e a minha mente iluminou. Enquanto bebia da água, me sentia mais forte. Empurrei levemente o cavalo para frente, e ele se pôs de joelhos e bebeu da água. Nunca vi um cavalo fazer aquilo. A garotinha fez o mesmo, ajoelhando-se para beber. Resolvi fazer o mesmo e bebi até saciar minha sede. "O medo enfraquece" — disse a garotinha quando terminou de beber. "Você é uma garota muito inteligente" — respondi, pensando no quanto essa criança era extraordinária. "Como você tem tanta sabedoria e como sabe sobre esta tocha?" Antes que ela pudesse responder, o barulho cada vez maior que vinha do alto nos fez olhar para cima. Havia muita confusão nas fileiras do exército do mal. Meus olhos estavam tão aguçados agora por causa da água que pude decifrar algumas das bandeiras que estavam sobre as diferentes divisões. As bandeiras que pude ver tinham nomes de diferentes filosofias, religiões e ensinos místicos estranhos, a respeito dos quais eu já havia ouvido falar, mas com os quais não estava muito familiarizado. Havia outras bandeiras, mas eram muito pequenas ou estavam muito distantes para que eu conseguisse ler. Uma vez que continuamos a observar, a confusão aumentou até que algumas divisões começaram a pelejar entre si. Uma grande nuvem de pó se levantou, e batalhas eram travadas em todas as direções. Logo toda a horda começou a desaparecer, tornando a subir para o topo das montanhas. No entanto, não foram muito longe, pois ainda podia ouvi-los e ver o pó que se levantava por conta de um grande motim que, obviamente, acontecia entre eles. Mesmo assim, parecia que estávamos seguros por um instante. "É por isso que ainda temos tempo" — a garotinha explicou. "Os demônios odeiam tanto uns aos outros como nos odeiam. Eles não conseguem marchar juntos por muito tempo antes de começarem a pelejar entre si. A única coisa que pode mantê-los unidos é uma batalha contra nós. O medo que eles têm de nós é maior do que o ciúme que têm uns dos outros. É por essa razão que devemos estar preparados para vencê-los na peleja. Quando pelejamos, devemos destrui-tos a todos." "Você fala como se fosse uma guerreira experiente" — eu disse, examinando sua armadura. "Por favor, conte- me mais." "Já vi pessoas bem-intencionadas, porém tolas, tentarem pelejar contra os demônios antes de estarem fortes o suficiente para derrotá-los. Isso só serviu para deixar o inimigo mais forte e mais unido. As batalhas que não são travadas até que haja uma vitória completa sempre nos levam a perder mais terreno para o inimigo." "Muito embora tenha acontecido antes da minha época, eu soube que nós já tivemos o controle de grande parte deste pais. Agora estamos cercados por este pequeno vale. Da próxima vez que lutarmos, deveremos vencer, ou tudo estará perdido." Então ela olhou para mim com seus olhos azuis penetrantes. Eles eram como o azul da parte mais quente do fogo. "Bater em retirada não é uma opção! Não temos para onde ir!" - ela declarou com a maior seriedade que já vi em urna criança tão pequena. Isso me espantou, já que eu estava olhando ao redor para ver se havia uma forma de escapar. "Quantos anos você tem?" - perguntei. "Como sabe tanto?" "Tenho 12 anos, mas venho pelejando desde os cinco anos de idade. Aprendi muito nas batalhas, mas minha sabedoria vem deste rio. Este é o Rio da Vida. Ele me dá a vida que transforma a experiência em sabedoria, a visão que é verdadeira." "Esta é uma bela correnteza, mas não é exatamente um rio. Não pode ser o Rio da Vida." — protestei. "É. Ele é pequeno aqui, porque é sempre tão grande ou pequeno quanto a sua demanda. Não são muitos mais os que chegam até aqui para beber, porque têm de passar pelos demônios que se apoderaram dos lugares altos. A maioria preferiria beber dos rios poluídos que não estão sob ataque a beber das verdadeiras águas vivas que agora estão sempre sob ataque. Poucos têm sede o suficiente para lutar por isso, mas não conheço nada que valha mais a peleja." "Você teve de lutar para chegar até aqui?" — perguntei. "Tive. Vim por aquela estrada" — ela disse, apontando para um lugar do outro lado do vale à minha retaguarda. "Como você conseguiu passar pelo exercito do mal?" - perguntei. "Ainda há brechas pelas quais se pode passar?" "Não. Estamos completamente cercados agora. Mas aqueles que tiverem coragem de continuar a se mover mesmo quando atacados podem ganhar suas posições. Escolhi a parte mais fraca de suas fileiras e fui até o meio deles." "Qual era a parte mais fraca? E como você sabia que ela era fraca?" "Havia uma grande divisão chamada 'Ridículo'. Optei por passar por ela porque eu sabia que eles não podiam me ferir. Foi-me dito, quando viram a minha determinação, que eles abririam caminho diante de mim, e foi o que fizeram. Enfureceram-se e proferiram insultos e obscenidades, mas se dividiram e me deixaram passar. Defendi-me de todos os seus dardos com o meu escudo e saí ilesa." "Quem lhe disse que você poderia fazer isso?" "Minha mãe." "Ela também está aqui?" — perguntei. "Não." "Onde ela está?" "Ela não conseguiu. Quando estávamos passando pelo ridículo, ela parou e disse que voltaria para buscar mais pessoas e ajudá-las na travessia. Disse que se juntaria a mim mais tarde. No entanto, não acredito que conseguirá." "Por que não?" "Ela me ensinou muito bem, mas não conseguiu fazer o que havia me ensinado. Eu a vi hesitar diante dos insultos e do ridículo. Ela voltou para buscar mais pessoas porque precisa da aprovação dessas pessoas. Ninguém que se importa muito com o que os outros pensam a seu respeito consegue vencer." "Ela conseguirá de alguma outra forma?" "É possível, mas passar pelo ridículo é, sem dúvida, o caminho mais fácil. Na verdade, ao hesitar e começar a recuar, eia logo foi vencida. Então começou a me ridicularizar com o restante deles. Uma vez que você começa a recuar diante dos que são maus, torna-se urna presa fácil para eles. Ela agora é uma de suas prisioneiras." "Sinto muito. Imagino que você sinta falta dela. Ela foi, pelo menos, uma grande professora. Fez um maravilhoso trabalho ao ensiná-la." "Obrigada. Eu sinto sua falta. Aqui é muito solitário, mas ainda é melhor do que estar lá, sob a influência da horda do mal." Vi aquela garotinha ser levada para longe por seus pensamentos. Então logo ela retomou a conversa. "Eu sabia, quando começamos, que seria difícil para ela e que provavelmente não conseguiria. Também sabia que não poderia deixar que isso me detivesse. A única esperança para que ela consiga se libertar e beber deste no é que eu não pare até que tenha cumprido o meu destino." Após uma pausa, ela continuou: "Não desisti dela, mas eu e outras pessoas como eu somos a única esperança para pessoas iguais a ela. Estamos aqui para derrotar aquela horda do mal e libertar seus prisioneiros. Creio que chegará o tempo em que ela beberá comigo deste rio — ela e muitos outros — até que este volte a ser um grande rio. Então ele correrá para o mar e trará vida para todos." "Se houver muitos outros como você, então não terei dificuldade para crer que conseguirá a vitória. Já conheceu outras pessoas como você que tenham essa visão e estejam decididas a fazer isso?" — perguntei. "Acho que encontrei algumas, mas continuamos a ficar separadas. Sei, por meio de meus sonhos, que há muitas outras, e eu as encontrarei logo. Esta é a razão por que você está aqui. Eu também o vi em meus sonhos." "Diga-me, o que você viu a meu respeito?" "Bem, não vi você especificamente, mas vi a chegada dos que carregavam a tocha. A principio, havia somente alguns e, depois, um número cada vez maior continuava a chegar. A mim também, um dia, será dada uma tocha para carregar. Na realidade, muitos dos que a carregam são muito jovens." Enquanto ela falava, uma grande divisão do exército do mal chegou ao topo da montanha e começou a descer muito mais rapidamente e em uma ordem relati- vamente boa. Observávamos, paralisados, enquanto ela avançava montanha abaixo, quase um terço do caminho. Então, foi atacada pela retaguarda por outra divisão do mat. Logo a impressão que dava era de que várias outras divisões haviam se juntado para atacá-la. O avanço foi interrompido naquele ponto, enquanto grande parte da fileira de soldados se virava para pelejar. No entanto, uma grande parte deste grupo permaneceu no lugar de seu grande avanço e começou a levantar defesas, que logo começaram a parecer uma fortaleza. Enquanto eu olhava para a garotinha, a vi nervosa pela primeira vez. Então notei que o cavalo também estava agitado. "O que fazemos agora?" — perguntei, surpreso por ver que estava pedindo instruções a uma garotinha. Sem responder, a garota ajoelhou-se à beira do no novamente e bebeu da água com vontade. Logo ela recuperou sua compostura, mas sua atenção ainda estava na fortaleza que rapidamente estava sendo construída. O cavalo estava tão agitado que tive medo de que ele saísse correndo. Fui até ele para segurar suas rédeas e fiquei surpreso com o modo como ele me olhou bem nos olhos. Tentei continuar o mais calmo possível, pois percebi que, se ele sentisse medo em mim, certamente dispararia. Ele me deixou segurar as rédeas e levá-lo novamente ao rio. Não foi tão fácil fazê-lo beber da água, mas ele bebeu. Então, se acalmou. Eu bebi da água, e a paz e a alegria novamente encheram o meu ser, enquanto minha visão ficava mais forte. "O que faremos agora?" — perguntei novamente. "Você viu alguma coisa em seus sonhos sobre isso?" "Não vi isso em nenhum sonho, mas já vi acontecer antes. Se não agirmos logo, perderemos este vale." Então ela olhou para mim para ter certeza de que eu ouviria o que estava para dizer. "Toda vez que me perguntam o que fazer, sempre me viro, primeiro, para o rio e bebo de sua água. Então oro, como devemos fazer agora. Estive em outros dois lu- gares por onde este no corria, e ambos foram dominados pelo inimigo. Não devemos deixar que isso aconteça aqui. Devemos lutar desta vez" — ela disse olhando para mim, meio incrédula. "Lutarei mesmo que tenha de lutar sozinha. Não acredito que reste outro lugar por onde este rio corra." "É muito nobre de sua parte querer lutar e até estar disposta a lutar sozinha" — repliquei — "mas como nós dois poderemos oferecer resistência a tantos?" Ela não respondeu, mas começou a orar. Eu a ouvi por alguns minutos. Seus pedidos eram curtos e diretos. Não tentou explicar nada para Deus. Pediu, sobretudo, pelo Espírito Santo, coragem, sabedoria e poder para vencer o inimigo. Então orou por sua mãe e outros entes queridos que eram cativos da horda do mal. Foi a oração de uma guerreira experiente que havia visto muitas batalhas e que não queria perder tempo nem desperdiçar palavras. Foi também como uma conversa com seu amigo. Algo tão comovente que não pude acreditar que o Senhor se recusaria a atender seus pedidos. Feita a oração, ela olhou para mim. Tudo o que pude dizer foi "Amém". "Você me perguntou como poderíamos derrotar um exército tão grande. Por que não poderíamos? Temos o Senhor do nosso lado." "Entendo, mas como perderam os outros pelos quais você lutou? O que podemos fazer diferente desta vez? Você tem certeza de que não há outros rios como este?" "Todos eles perderam quando bateram em retirada. Não recuarei novamente. Não ouvirei aqueles que falam de 'retiradas estratégicas' ou de qualquer outro tipo. Permanecerei firme, ainda que tenha de fazê-lo sozinha. Também acho que nós os perdemos porque havia muitos de nós." "Como poderia haver muitos quando vocês estavam pelejando contra tantos outros?" — perguntei sem duvidar dela e, ao mesmo tempo, sentindo que a resposta para esta pergunta era importante. "É melhor contar com poucos que estejam unidos do que com muitos que estejam divididos e que não tenham uma visão única e focalizada. Muitos daqueles que estavam conosco antes raramente bebiam do rio, e mal os ouvia orar. Percebi que eles não perseverariam por muito tempo, e estava certa. Essas pessoas causam mais prejuízo quando a batalha começa. Nossos líderes tinham de passar mais tempo tentando encorajá-los do que lutando." "Muitos dos fracos até dependiam de nós. Resolvi, antes da próxima batalha, que não incentivaria demasiadamente a ninguém, persuadindo-o a permanecer e lutar. Se quisessem partir, que fossem, pois seria melhor para nós. Há também outra coisa muito importante que nunca tivemos e que devemos ter para vencer." "O quê?" "A tocha. Esta água é a verdade, e devemos tê-la e amá-la o suficiente para nos dispormos a morrer por ela. Mas a tocha é como a presença do Senhor aqui conosco. Quando estou perto de você e da tocha, eu O sinto. "Não há incentivo maior do que sentir a Sua presença conosco. Se tivéssemos levado a tocha antes, acho que nossos líderes não precisariam ter passado tanto tempo encorajando as pessoas e que elas não teriam sido tão fracas." "E sim, há outras correntezas como esta, mas só há um rio. Ele brota em diferentes lugares como este. Disseram-me que eles costumavam ser muito comuns. Agora não há muitos rios, porque foram poucos os que se dispuseram a lutar por eles. Tampouco estou certa de que haja algum outro como este." "Neste exato momento, precisamos de mais guerreiros fiéis, e não de mais rios. Ouvi falar que, a cada momento, novos rios rompem, mas eles logo se perdem porque são poucos os que se dispõem a lutar por eles. Esta é a razão por que precisamos de pessoas que levem a tocha." "Sei que o que você está dizendo é verdade, mas ainda não sei por que outras pessoas não lutarão para defendê-los. Elas sempre são vencidas pelo número, como nós desta vez?" "Não acredito na palavra 'vencidas', mas acho que aqueles que buscam este rio sempre excedem em número. Como eu disse, não acho que os números sejam impor- tantes. Precisamos de mais guerreiros, mas que sejam fiéis." "Ouvi alguns dizerem que cavar fontes secretas é melhor do que procurar este rio, pois elas não são um alvo tão importante para o inimigo. Tantos que parecem amar esta água também parecem ter uma atitude já frustrada." "É difícil entender isso, pois, se eles bebessem da água, não fariam outra coisa senão acreditar e ser fortes. Receio que a tenham provado somente de vez em quando e que não beberam dela de verdade. Eles amam mais a idéia dela do que a realidade. Para eles, é quase como se fosse algum tipo de fantasia romântica, e não a realidade." "Você sabe se há alguma das fontes aqui por perto?" — perguntei. "Nas fontes, devemos encontrar alguns que realmente estejam bebendo e que talvez estejam dispostos a juntarem-se a nós nesta luta pelo rio." "Conheço algumas fontes não distantes deste vale. A água lá é boa, mas não tanto como esta. As fontes, em sua maioria, acabaram por ficar muito rasas para resistir por muito tempo. Elas também logo ficam lamacentas. As fontes ajudam algumas pessoas, mas é somente quando a água flui como esta ao ar livre que pode transformar um vale em um paraíso, como o que você vê aqui. E essa água precisa fluir para continuar viva e pura por muito tempo." Então ouvi passos atrás de mim. Virei me e vi um homem se aproximando. CAPÍTULO 4 O PLANO Enquanto eu via o homem se aproximar, parecia que ele usava roupas no estilo dos tempos coloniais. Seus cabelos eram longos e grisalhos; pareciam uma peruca da época colonial. Ele andava com determinação e tinha as pernas um pouco tortas, como se tivesse passado grande parte de sua vida em um cavalo. "Ela está certa. As fontes podem ajudar algumas pessoas, mas são, na maioria das vezes, provisórias. Muitas vezes ficam poluídas ou secam. Você certamente tem um tesouro aqui" — ele observou. "Sim, nunca provei algo tão maravilhoso" — respondi. "Eu estava me referindo à garota" — ele disse. "Sim, ela de fato é fora do comum para alguém tão jovem. Nunca conheci ninguém igual a ela" — respondi. "Você está para conhecer muitos outros iguais a ela, tanto meninos como meninas. Eles lutam melhor do que a maioria dos homens de sua época. Você deve se preparar para encontrar-se com eles." "Como devo me preparar?" — perguntei. "Você precisa aprender a montar este cavalo." "Quem é você?" — indaguei. "Sou John Wesley. Estou falando com você como um portador da tocha a quem também foi dado um cavalo como este. Você está aqui para ajudar a preparar os que estão por vir. Na minha época, havia poucos portadores da tocha, e somente alguns montavam cavalos brancos. Na sua época, haverá milhares de portadores da tocha, e centenas destes grandes cavalos." "Você está aqui para descobrir seu objetivo. Foi chamado como um daqueles que ajudarão a despertar uma grande multidão no futuro. Por isso, precisará ajudar a treiná-los, preparando-os para a Ultima batalha." "Não consigo me imaginar treinando alguém aqui. Estou aprendendo mais com esta garotinha do que a ensinando" — respondi, com sinceridade." "É por estar disposto a aprender com ela que você se tornará um mestre confiável. Continue a beber da água e a ouvir. Irei ajudá-lo, como farão todos os portadores da tocha que cruzarem o seu caminho. Posso ensiná-lo em algumas horas o que levei a vida toda para aprender. O que não pudermos oferecer-lhe, as crianças o farão. Elas são inteligentes, pois aprendem com facilidade." "Se continuar receptivo ao ensino, você será extremamente inteligente para a sua idade, independente da idade que venha a ter. Você poderá receber a sabedoria dos séculos. Lembre-se de que seu principal objetivo é aprender, e não ensinar. A primeira lição que você tem para passar aos que estão por vir é ensiná-los a aprender. É isso que significa ser um discípulo — você é um aluno para sempre. Cada um dos que você conhecer irá ensiná-lo mais sobre como aprender, e você lhes ensinará a mesma coisa." "Naturalmente, estamos em uma situação que escapa ao meu presente conhecimento ou sabedoria no sentido de saber como lidar com ela" — respondi. "Parece que este cavalo e aprender a montá-lo são as nossas chaves para defender este rio. Se você está aqui para me ajudar, estou pronto." "Uma coisa que você deve saber e não se esquecer" — Wesley disse, austero —, "é que ela está certa quando disse que você não pode recuar. Você agora está cercado, e não há para onde correr. Restaram algumas fontes nesta região, mas elas estão secando rapidamente. Você precisa defender este rio e reunir o seu exército aqui." "Como vou reunir um exército se só existem algumas fontes nesta região? 1-lá homens fiéis o suficiente para formar um exército?" "Não, não há. Você poderá reunir alguns deles, mas o seu exército é o mesmo que está descendo em sua direção. A sua vitória sobre essa horda do mal é converter os soldados que estão nela. Depois, precisará ensiná-los a beber deste rio. Você precisará somar outros ao seu exército, e todos deverão marchar para a conquista. Também posso lhe garantir que, se lutar e não desistir, não perderá." Então a garotinha falou: "Eu sabia! Muitos de meus amigos e parentes estão naquele exército do mal. Eu sabia que, um dia, eles seriam soldados do Rei." "Você está certa" — continuou Wesley. "Você deve ir além de libertá-los da escravidão em que se encontram. Deve treiná-los, prepará-los e soltá-los para que eles vão e recuperem as fontes bloqueadas pelo inimigo e cuidem das correntezas do rio que foram poluídas e soterradas." Quando levantei os olhos e pensei na enorme horda que estava acima de nós, lembrei-me do que um grande general uma vez disse, quando lhe informaram que ele estava cercado: "Ótimo! Agora nós os temos onde queríamos e eles não poderão escapar desta vez. Ataquem em todas as direções.". Enquanto eu pensava nisso, percebi que Wesley estava olhando para mim. "Você é capaz de tanta ousadia?" — perguntou-me. "Não parece que temos outra escolha" — respondi. "É algo fora do comum. Eles são muito numerosos e nos cercaram, e nós somos tão poucos, mas caíram em nossa cilada. Naturalmente, só o Senhor poderia lograr esta vitória." "E certamente será o Senhor quem receberá o crédito por ela" — Wesley e a garota disseram ao mesmo tempo. Olhei para a fortaleza que a horda do mal estava construindo no vale. Seria difícil vencer tantos soldados. Ouvi o motim da horda que estava por toda parte no topo do vale. Ela era formada por multidões e multidões. O que urna garota, um cavalo, mesmo John Wesley e eu poderíamos fazer contra tamanha força? "Não posso mais travar as batalhas que estão na Terra. Agora faço parte da grande multidão de testemunhas. Por meio de minha vida, ainda posso falar e ensinar, mas é você que deve pelejar. Posso encorajá-lo dizendo que, por várias vezes em minha vida, estive cercado desta forma, tendo poucos ao meu lado. Todas as vezes, vi a vitória do Senhor. Não se deixe desanimar pelas trevas que podem surgir, ou pelos muitos que se levantam contra você. Se você não recuar, não perderá a guerra." Então a garotinha pôs-se a falar: "Sei que minha mãe é uma cativa na divisão chamada 'Ridículo'. Ela está lá porque precisa da aprovação dos outros. Também sei que ela nunca conheceu o verdadeiro amor em sua vida. Sei que, se eu puder amá-la de verdade, ela será liberta. "Creio que todos os que estão naquela divisão são iguais a ela. Podemos libertar os cativos com a verdade do amor de Deus_ Se pudermos fazer isso por eles, então deve haver outras chaves que libertarão os cativos que estão nas outras divisões." Wesley não disse nada, mas simplesmente olhou para mim para ter certeza de que eu havia entendido quanto isso era verdadeiro. Era óbvio que esta simples verdade era a chave para a nossa vitória. A verdade de quem é Deus pode romper quaisquer grilhões. Então tive de perguntar: "Por favor, diga-me por que a alguns é dada uma tocha em vez de um cavalo? Como podemos usá-los em conjunto para sermos capazes de cobrir um terreno maior?" "Muitos têm a honra de levar uma manifestação da presença do Senhor, mas poucos são chamados para iniciar um movimento. Todas as tochas são dadas para se iniciar movimentos, mas não são muitos que as levam adiante de um modo que se permita iniciar um avanço da verdade. O cavalo representa o movimento que você foi chamado a iniciar." "Os movimentos têm o objetivo de retomar o terreno do inimigo. Eles servem para que se estabeleçam fortalezas da verdade, contra as quais o inimigo não pode prevalecer. Essas fortalezas tornam-se refúgios para os cativos que ficam livres da escravidão, a fim de que ali sejam curados, restaurados e munidos de armas para voltarem para a batalha. Muitos irão aproximar-se daqueles que têm a tocha, mas só seguirão para a batalha os que também têm o cavalo." "Sua primeira missão é defender este lugar e, então, mobilizar aqueles que realmente buscam a água da vida. Então, eles deverão ser treinados e preparados para ir e retomar aquilo que a horda do mal contaminou e colocou debaixo de seus pés." "Cada cativo que for liberto daquela horda poderá curar e restaurar mais pessoas do que antes destruiu. A vida é mais forte do que a morte. Lembre-se de que você não foi chamado para retomar a Terra, mas para restaurar aqueles que são chamados para reinar sobre ela." "Como lhe disse aquela que carrega a sua armadura, quanto mais se beber deste rio, maior será o seu crescimento. Desse modo, você poderá transformar esta pequena cor- renteza em um rio que flua até chegar a muitos outros lugares. Quando ela começar a aumentar aqui, quando romper em outros vales e desertos, será muito mais forte e profunda." "O que devo fazer para atrair outros para este lugar?" — perguntei. "É óbvio que precisaremos de muita ajuda se quisermos converter este exército que nos cerca." "Você atrairá outros quando você mesmo estiver bebendo do rio. Lembre-se de que o rio aumenta quando você e os outros começam a beber das suas águas. Os cegos seguirão a quem puder ver, e quanto melhor você puder ver, mais cegos serão atraídos até você. Quando eles chegarem, muitos ainda serão cegos, e a maioria estará ferida." "Você deverá ensinar cada um deles a beber da água até que todos sejam curados e possam ver. Independente da aparência deles a principio, muitos que vierem até você serão os poderosos que Enoque profetizou que viriam em suas gerações." Então ele olhou para mim com um olhar penetrante, como se estivesse procurando ver se eu conseguia entender algo muito importante. "A tocha que você carrega também atrairá muitos a ela, mas a presença do Senhor não é suficiente." "Como a presença do Senhor não poderia ser suficiente?" — perguntei. "Não há nada maior do que isso. Ela é muito mais maravilhosa e revigorante do que esta água" — protestei. "Você está certo neste sentido, mas muitos que amam a presença de Deus ainda estão fracos e imaturos, pois só querem experimentar a alegria do Senhor. Eles raramente se dispõem a enfrentar o conflito dos tempos. A presença de Deus sempre será a melhor e a mais maravilhosa dádiva. Mesmo assim, na eternidade, teremos isto. Neste exato momento, há uma batalha a ser travada." Wesley aproximou-se da garotinha e colocou as mãos em seus ombros. Em seguida, olhou para mim e continuou: "Você precisa de adoradores que também sejam guerreiros. Todos os que não forem treinados e equipados para a batalha serão derrotados. Ainda que amem a presença de Deus, também devem ser ensinados a amar a verdade e a amá-la o suficiente para resistir ao maligno. Essa é a força que desenvolvi para treinar e equipar as pessoas para que defendam a verdade e lutem por ela. Essa é a razão por que há coisas que você deve aprender comigo." "Foram poucos os que conseguiram formar uma tropa para vencer. Fiz isso transformando pequenos grupos de pessoas em fortalezas da verdade. Alguns deles se levantaram para ganhar seus vizinhos para o evangelho. Outros se transformaram em poderosas fortalezas que conquistaram povoados. Alguns tomaram cidades. Juntos, traçamos o destino de nações — e até da sua nação." Senti, quando ele disse as palavras "sua nação", que se tratava, de um modo estranho, do vate em que estávamos. Quando pensei nisso e voltei a olhar para ele, estava com aquele inconfundível olhar sagaz. Então, ele prosseguiu: "A sua nação ainda honra Paul Revere2 por despertar as pessoas e chamá-las para a batalha, mas, muito mais do que isso, o Céu honrará aqueles que despertarem as pessoas e as chamarem para a batalha, que logo deverá ser travada." "Assim como os grandes mensageiros da era da Igreja não passaram de descendentes dos homens valentes que estão para ser soltos na Terra, o inimigo vem plantando suas sementes também. Você terá de pelejar contra todo o mal que foi solto e lutar contra ele em sua plena maturidade." "Com este cavalo, você deverá cavalgar e advertir as pessoas sobre a invasão que haverá na terra delas. Poderá mobilizá-las para que combatam o bom combate: Você não poderá mais recuar. Não há para onde ir, mas, se você resistir ao inimigo, ele, por fim, fugirá. Se não resistir, estará condenado." A garotinha estava prestando atenção em mim. Estava aprumada, alerta e preparada. Wesley e eu estávamos olhando para ela. Pensei que ela deveria ser como uma Joana d'Arc. Se houvesse alguns mais parecidos com ela, eu saberia que esses certamente seriam momentos maravilhosos. Wesley continuou: "O Senhor chamou 12 homens. Ele os transformou, e depois eles transformaram o mundo. Na sua época, Ele vai fazer o mesmo com as crianças. Também é o tempo da leoa. Grandes são as multidões de mulheres que pregarão o Evangelho. Haverá muitos homens de Deus importantes em sua época — mas o grande milagre, e a grande honra, será para as mulheres e crianças que andarem nos caminhos do Senhor." "Lembre-se de que foi a mulher que foi enganada e que teria inimizade com a serpente, mas seria a sua semente que esmagaria a cabeça da serpente. As mulheres têm um lugar especial nesta batalha." Wesley olhou nos olhos da garotinha e disse: "É a sua vez como mulher. É a sua vez como criança, pois as crianças serão para sinais e maravilhas. Elas darão um novo rumo à batalha final. Reúna as crianças e ajude as mães. Grande é o Senhor em você para suprir tudo aquilo de que precisa." Minha atenção então se concentrou em algo que tremeluzia e que eu via com o canto do meu olho. A fortaleza que os demônios haviam construído estava sendo usada para arremessar dardos inflamados em todas as direções. Era óbvio que eles estavam tentando incendiar o belo vale em que estávamos. Wesley virou-se, colocou as duas mãos em meus ombros assim como o Senhor havia feito e disse: "Você não poderá apagar cada fagulha. Você precisa destruir aquela fortaleza". Então, de repente, me vi sozinho e sentado em meu quarto. 1. John Wesley (1703 – 1791) foi um clérigo anglicano e teólogo cristão britânico, líder precursor do movimento metodista. 2.Paul Refere (1735-1818) é recordado como um dos patriotas da guerra da independência dos Estados Unidos. Além de ter sido mensageiro de batalha, colaborou na organização da rede de inteligência estabelecida cm Boston para controlar os movimentos das torças britânicas. CAPÍTULO 5 A ESPADA Sentado no meu quarto de hotel, me perguntava se tudo aquilo fora um sonho, urna visão, ou se real mente havia acontecido. Queria escrever logo todo o episódio para não me esquecer dele, mas estava exausto. Decidi deitar-me na cama para descansar por alguns minutos. Imediatamente, fui suspenso em um céu azul resplandecente. Quando piloto, costumava dizer que meu escritório era o céu e sempre apreciava muito os momentos que passava ali, mas nunca vi um céu tão bonito como esse. Senti-me mais em casa do que nunca. Então, senti o chão debaixo dos meus pés. Eu estava novamente à beira de uma praia. Sabia que estava, mais uma vez, na esfera espiritual por causa do ar que estava respirando e da beleza de tirar o fôlego de tudo o que eu contemplava. Enquanto eu olhava, senti que esse era o mundo do jeito como deveria ser. Aumentou o desejo no meu intimo de levar, de algum modo, essa beleza e esse ar lá. Assim como eu adorava ficar naquele lugar, sabia que teria de partir logo, que precisaria voltar. Senti uma compulsão cada vez mais forte dentro de mim para consertá-lo mais uma vez. Depois senti a presença do Senhor atrás de mim, mas, quando me virei para vê- Lo, Ele não estava ali. Fechei os olhos para me concentrar em aspirar o ar. Quando os abri, estava em pé em outro lugar. Achava-me no meio de uma rua, sozinho. Eu não a reconheci, mas sabia que era uma rua de Londres. A paz que havia sentido no lugar celestial ainda estava comigo, mas desaparecia rapidamente à medida que eu olhava para o que estava ao meu redor. A tocha estava na minha mão, mas, conforme a paz se ia, a tocha ficava mais pesada. Eu sabia que tinha de concentrar-me no Senhor e sentir Sua presença outra vez. Quando fiz isso, a paz, de certa forma, voltou, e a tocha ficou um pouco mais leve. Comecei a pressentir um grande perigo. Decidi manter a calma e, mesmo não sentindo medo, eu estava bastante alerta. Achava-me determinado a manter minha maior atenção na tocha enquanto olhava, de vez em quando, para as imediações. Não vi nenhuma ameaça, mas con- tinuei a pressentir o perigo. Lá no meio da rua, havia uma faixa de grama de aproximadamente 15 metros de comprimento. No meio dela, havia árvores cercadas por pequenos alambrados de proteção. Comecei a descer a rua. Então, notei um pequeno cercado sem a presença de uma árvore dentro dele. Presumi que a árvore que ali estava tivesse morrido. Isso não parecia ter muita importância a principio, mas comecei a sentir tal pesar pela falta dela que comecei a tremer descontroladamente. Parei ao lado da cerca para refletir no que estava sentindo. Ao fazê-lo, senti o Senhor em pé atrás de mim. "Ponha a tocha aqui" — Ele disse. Fui colocá-la no espaço vazio, fincando-a levemente no chão para que ficasse em pé. Ela logo ficou firme, como se tivesse criado raízes profundas. Aproximei-me para ver se eu conseguiria levantá-la e o fiz facilmente, ainda que já houvesse raízes profundas presas a ela. Eu a coloquei no lugar novamente e a observei. Ela ficou fortemente enraizada outra vez, e o fogo não se apagou. "Você pôde levantá-la com facilidade porque tem autoridade" — disse uma voz que veio de trás de mim. Vir-me-ei para ver quem havia falado e vi um homem que parecia ser um morador de rua, ou um sem- teto. Ele estava em pé junto à escadaria de uma casa. "Perdão" — eu disse —, "mas o que você sabe sobre esta tocha?" Ele não respondeu à minha pergunta, mas simplesmente continuou com a sua afirmação: "Cada uma dessas árvores já foi uma tocha antes e levada por alguém corno você. Esta é uma cidade onde os movimentos passaram a ser monumentos." Não gostei do tom daquela conversa. Minha tocha ainda estava viva, e eu não queria que ela se tornasse uma árvore em uma rua escura. Queria arrancá-la e levá- la comigo, mas, por outro lado, o Senhor me havia dito que a colocasse ali. Eu não sabia o que fazer. É claro que, vendo meu dilema, o homem continuou a falar: "Antes de chegar o fim, haverá movimentos que não deixarão de avançar. Talvez você seja um daqueles que poderão levar adiante um desses movimentos. Mesmo assim, por ora, deve fazer conforme o Senhor lhe disse e deixar a tocha onde ela está. Vejo que ainda não está preparado para levá-la muito longe, muito menos levá-la até o fim." "Quem é você?" — perguntei. "Sou um observador" — respondeu e, com isso, desapareceu. Então olhei para a rua novamente a fim de tentar reconhecê-la. Queria saber o nome dela e onde ela estava localizada na cidade. Sabia que estava em uma visão, mas também sentia como se essa fosse uma rua de verdade em Londres. Queria encontrá-la quando saísse da visão. Para mim, era uma avenida de monumentos, embora não pudesse ver nenhum movimento de onde eu estava. Vir-me-ei para tocar na tocha, para que seu fogo pudesse passar pelo meu corpo. Precisava de mais clareza. Ao fazê-lo, de repente vi-me em outro lugar, em pé diante do Senhor. Ele estava segurando uma grande espada. A lâmina era reluzente, feita de um material que parecia prata, quase transparente. Ela cintilava como um diamante. Ocorreu-me que a espada feita de prata não seria muito forte, e, como fez muitas vezes, o Senhor respondeu aos meus pensamentos. "Isto é prata, mas é mais forte do que qualquer outro metal. Esta espada é uma arma divinamente poderosa. É o poder da minha redenção. Aquele que a levar deverá estar de acordo com os meus propósitos de redenção. Você deverá se dispor a redimir; do contrário, ela ficará demasiadamente pesada para você carregar. Você deverá ser capaz de carregar isto também, se quiser ir muito longe com a tocha." Continuei a olhar para a espada. Seu modelo era muito simples, mas ela não só refletia a luz como emitia também. A luz que vinha dela era multicor, como a luz que passa por um prisma. A glória da luz emitida peta espada fazia dela a peça mais linda que eu já vira, mesmo tendo um aspecto tão simples. Era tão fascinante quanto a tocha. O Senhor segurou a espada pela lâmina e estendeu o cabo em minha direção, para que eu pudesse segurá-la. Eu imaginava que ela seria muito pesada por causa do tamanho, mas, ao que parecia, não tinha mais do que 30 ou 60 gramas. "Ela só ficará pesada se você tentar usá-la com sua própria força. Esta é a minha espada da redenção. Não pode ser destruída, mas permanecerá para sempre. Faz parte do meu arsenal. Esta é a arma que será carregada por meus profetas nos últimos dias. "Nenhum poder no mundo é mais forte do que a minha redenção. No entanto, se você a usar indevidamente, ela poderá trazer grandes problemas. Com esta espada, aqueles a quem você abençoar serão abençoados. Se você abençoar um demônio, ele será abençoado e prosperará. Você deve tomar cuidado para não tentar redimir aquilo que meu Pai não plantou." Assim que olhei para o cabo da espada, notei cinco pedras preciosas reluzentes. A primeira era azul; a segunda, verde; a terceira era clara como um diamante; a quarta, vermelha; e a quinta, âmbar. O cabo propriamente dito era simples, mas a beleza do ouro aparentemente transparente era impressionante. Era a espada mais bonita que eu já havia visto, não por causa de seu modelo, mas do material do qual era feita. Mesmo assim, é claro que não havia sido feita para ser exibida. Eu sabia que até as pedras preciosas estavam ali porque tinham uma finalidade, mas não sabia ao certo qual era. Levantei a espada e a brandi no ar. Meu braço não se cansou; ao contrário, o simples fato de balançá-la deu- me força. À medida que o meu braço adquiria força, esta continuava a percorrer todo o meu corpo. Quando percebi que ela havia atingido os meus olhos, tudo ficou mais reluzente, mais claro. Enquanto continuei a balançar a espada, pude enxergar mais longe. Então olhei para ela novamente. Ao olhá -la, meus olhos começaram a aumentá-la como se estivesse utilizando uma poderosa lente de aumento. Pude ver que a espada também estava viva. Até as pedras preciosas estavam vivas. "O Espírito moveu-se no princípio" — o Senhor continuou. "O Espírito nunca para de se mover. Esta é a espada do Espírito. Enquanto ela estiver se movendo, for- ça é liberada para aquele que a leva. Ela despertará o seu corpo mortal." "Lembre-se de que a minha Palavra nunca para, mas é viva, penetrante e eficaz. Recorde-se de que a vida sempre se move. Esta é a razão por que minha obra na Terra muitas vezes é chamada de 'movimento'. Assim como criei o Universo para que se expandisse sempre, minha Palavra estará se movendo e se expandindo para sempre. Aqueles que conhecem a vida que está em mim, também estarão se expandindo para sempre em conhecimento, sabedoria e poder. Nunca deixarão de crescer." "Desde que permaneça em mim, você estará crescendo para sempre em conhecimento e poder. Agora eu lhe ordeno que se mova e cresça. No devido tempo, lhe darei ordem para multiplicar e conquistar, não ceifando vidas, mas salvando-as." Sempre que o Senhor falava, eu queria memorizar cada palavra. Sentia que a vida que vinha por meio de Suas palavras era como aquela que vinha quando eu balançava a espada. Assim que pensei no que Ele havia dito, meu amor pela espada aumentou. Eu não podia acreditar que tal dádiva fosse possível. Queria segurar a espada para sempre. O que ela me transmitia era diferente do que transmitia a tocha, mas era simplesmente maravilhoso. Ela me fortalecia e me dava coragem. Eu sabia que as duas, a espada e a tocha, transmitiriam a mim uma clareza de percepção maior do que qualquer coisa que eu já houvesse experimentado. Mesmo quando pensava nisso, podia dizer que não estava só ficando mais forte, mas também mais saudável. Sentia as toxinas que haviam em mim sendo expurgadas. Então, comecei a sentir uma profunda paixão em meu coração pela espada. Queria que ela tocasse todos aqueles a quem eu amava. Eu sabia que, se ela tocasse naqueles a quem eu não amava, me levaria a amá-los. "O que você está sentindo é a paixão por minha Palavra. Você está segurando a minha Palavra viva. É isso que o verdadeiro amor à minha Palavra faz. Os que têm o verdadeiro amor pela minha verdade amam aqueles por quem eu a entreguei. O Espírito vai soprar novamente nas Escrituras, e esse amor por minha Palavra virá sobre os meus mensageiros em sua geração" — disse o Senhor de forma bastante sóbria. "Que tesouro", continuei a pensar. "Como alguém não poderia amar isso?", perguntei-me. Mal via a hora de começar a usar a espada. Então, senti uma forte compulsão para usá-la em mim mesmo — para cravá-la lá no fundo do meu coração. "Faça isso" - disse o Senhor. Apontei a lâmina para o meu coração e a enfiei no meu peito. Assim que fiz isso, ela desapareceu como se tivesse sido absorvida por mim. Senti uma leve dor, mas, quando olhei, não havia nenhum ferimento. Então, a sensação de força que eu havia percebido que ela estava me dando foi muito mais rápida. Em questão de minutos, senti como se pudesse voar, levantar prédios e até atravessar paredes. Comecei a sentir que poderia fazer qualquer coisa, pois o poder que estava em mim era tão grande que eu não precisava obedecer às leis físicas. Também senti que não havia limite para o alcance dos meus olhos, ou até onde eu poderia aumentar alguma coisa para a qual estivesse olhando a fim de vê-la com mais detalhes. Minha mente então começou a se despertar. Meu entendimento começou a aumentar até que senti como se o Universo estivesse aberto diante de mim, percebendo e entendendo seus segredos. Esse era outro tipo de sentimento incrivelmente maravilhoso. Eu estava vendo tudo pelo Espírito, não só com meus próprios olhos e mente. Sentia-me em unidade com tudo o que eu avistava. Também sentia um grande amor por tudo que eu contemplava. Não havia nenhum sentimento terreno que pudesse se comparar a isso, e era algo que aumentava. "Esse é o poder da minha Palavra para aqueles que a receberão no coração" — o Senhor explicou. "Receber minha Palavra no seu coração é algo que precisa ser sua busca diária. Então, você começará a ver e terá entendimento." "Foi pela minha Palavra que o Universo foi criado, e é por Ela que ele se sustém. Ela é a resposta para todo problema humano. Se você recebê-La no coração, Eia crescerá no seu interior, e você jamais parará de crescer." "Sua mente continuará a se abrir, e seu conhecimento aumentará para sempre. Eu criei a mente do homem para se expandir sempre, a fim de que ele pudesse conhe- cer-me, bem como aos meus caminhos e às minhas obras." "Primeiro, você precisa receber minha Palavra no seu coração. Depois Ela abrirá sua mente. Se você apenas recebê-La em sua mente, Ela não viverá. Minha Palavra viva deve ser recebida primeiro no coração, e, depois, sua mente se abrirá." Eu não conseguia parar de pensar na antiga controvérsia: "É preciso entender para crer ou devemos crer para entender?". Eu sabia a resposta. "Você está certo" — Ele disse. "Somente quando você crê é que pode entender. Mesmo assim, é correto procurar entender. Quando o seu entendimento deixa de crescer é porque você se desviou do caminho da vida. Uma vez que continuar nesse caminho, você crescerá. O seu entendimento crescerá também." Enquanto o Senhor falava, me virei para olhar para Ele. Comecei a ver a glória que não compete a qualquer linguagem humana descrever. Fisicamente, sentia a glória que estava vendo. Sabia que era ela porque Ele e a espada que eu havia cravado no meu coração eram uma coisa só. Quando a Sua Palavra estava em meu coração, pude ver a Sua glória como nunca antes. À medida que eu olhava para Ele, minha visão começou a aumentar. À medida que ela aumentava, eu via cada vez mais a Sua glória. Eu sabia que isso jamais poderia ter fim e não queria que tivesse. Entendi como os querubins e as miríades angelicais que adoravam diante dEle por séculos e séculos permaneciam em um estado contínuo de tão grande temor e maravilha a ponto de jamais quererem fazer outra coisa. Eu queria ficar ali para sempre e juntar-me a eles. "O que você experimenta é só um pouquinho da alegria que existe na verdadeira vida" — o Senhor continuou. "A verdadeira vida só é encontrada em mim. Essa alegria é a sua força. Para aqueles que me seguem, essa alegria não só será deles para sempre como aumentará para sempre." "Agora você deve se Lembrar disso. A alegria da minha presença pode tão- somente sustentá-lo para que você passe pelo que está vindo. Você conhecerá a minha alegria, e ela crescerá em você, mas, para fazer a minha obra, você também deve conhecer a minha dor." Então, Ele se virou, e eu vi as Suas costas. Ele ainda estava ferido, e as feridas eram terríveis. Enquanto eu olhava para elas, elas aumentaram. Comecei a ver a escuridão, a doença, o desespero e a morte. Senti uma tristeza e um lamento piores do que qualquer coisa que eu já havia sentido. A tristeza chegou a ser tão forte quanto a alegria. Tive a sensação de estar olhando para o próprio inferno. À medida que continuava a olhar, vi a raiva descer como uma cascata em forma de fúria e matança até o sangue começar a correr como um rio. Vi a luxúria se transformar em uma terrível e ardente doença que entrava em erupção como um vulcão e destruía tudo o que estava em seu caminho. Senti um pungente egoísmo por tudo, que era exatamente o oposto do que eu havia sentido antes, e esse egoísmo liberava uma escuridão asfixiante que queimava meus pulmões. Ele também aumentava e se expandia. Quando percebi que não poderia viver por muito mais tempo com o pavor e o desespero que tomavam conta de mim, clamei para que o Senhor me salvasse ou me matasse. O Senhor virou-se. Eu já não tinha mais força. Caí no chão e ainda desejei morrer. Deitado ali, pude ouvir o Senhor, mas Ele parecia estar muito distante. Eu havia, aparentemente, perdido toda a compreensão da glória que havia visto alguns instantes atrás. "Poderiam ser as trevas muito mais fortes do que a glória?" — perguntei-me. "Este é um pouquinho do poder que está diante de você em seu tempo. Se você não tivesse experimentado primeiro a minha glória, não teria sobrevivido. Eu venci todo o mal, e você virá a conhecer o poder da minha glória sobre todo o mal, mas precisa conhecer o poder do mal que os homens estão prestes a enfrentar. Você precisa aprender a andar na minha presença em meio ao mal e vencer. Se não permanecer em mim, será vencido." Ouvi tudo o que o Senhor disse, embora Ele ainda parecesse distante. Então senti algo em minha mão. Era a espada. Ela estava se movendo de um lado para o outro, sozinha. Em vez de eu a agarrar, era ela que se agarrava à minha mão. Logo minhas forças começaram a voltar. Levantei-me devagar. Não conseguia lembrar-me de outra ocasião quando me senti tão imundo. Aos poucos, a sensação começou a desaparecer como se eu estivesse sendo lavado pela leve brisa que a espada em movimento estava criando. Logo consegui ficar em pé. Então, pude ver o Senhor e a Sua glória novamente. "O que você viu é o peso que carrego" — disse o Senhor. "Você viu o que está acontecendo agora. As trevas também estão aumentando. A própria Terra não poderá suportar o mal do homem por muito mais tempo. Ela irá rebelar-se contra ele, e o pavor aumentará à medida que começar a se enfurecer e sentir as dores de parto." "O homem está prestes a conhecer um medo tal como nunca experimentou desde o princípio. Aqueles que permanecerem em mim irão, de igual modo, levantar- se com fé como nunca se viu antes. Por causa do medo que agora está sendo liberado, reservei as maiores demonstrações de fé para esse momento." "Senhor, como alguém poderá sobreviver?" — implorei, ainda um pouco abalado com o que havia visto. "As trevas até pareceram superar a glória e a beleza que eu estava contemplando." "Está se aproximando o tempo em que ninguém poderá sobreviver ao que liberou sobre si mesmo, e todos perecerão se eu não puser um fim a isso. Eu redimi a Terra e irei redimi-la. Em meio às maiores trevas, liberarei uma luz ainda maior. A maior luz é o meu amor pelo mundo e a minha redenção." "Você precisa aprender a carregar a tocha e a espada em meio às trevas. Necessita aprender a levar sempre o meu amor e a minha redenção. Quando você aprender a amar os mais miseráveis e os mais desprezíveis, até aqueles que estão nas garras das profundas trevas, então minha Palavra de redenção será de fato estabelecida em seu coração. O poder da minha redenção então fluirá por meio de você." "Quando Moisés pediu para ver minha glória, mostrei-lhe minhas costas. Ele viu os açoites que eu haveria de levar pelos pecados do mundo e contemplou o que você viu, que é o que suportei na cruz, o pecado pelo qual já havia pagado. Essa é a minha glória também." "Não há problema algum em você querer ver minha face, conhecer a beleza e a vida que há em mim. Não há problema algum em você querer levar isso ao mundo, mas há outra glória que você precisa conhecer e levar. Essa foi a dor que suportei por você." "Os maiores heróis do mundo são aqueles que vencem os maiores inimigos. Os maiores santos são aqueles que vencem as maiores trevas. Você está sendo enviado para convocar aqueles que me servirão nos momentos mais difíceis. Portanto, deve conhecer as profundezas da minha redenção." "Você deve conhecer, no fundo do seu coração, o meu amor por aqueles que estão nas garras do maior mal. Também deve saber que o poder da minha redenção é grande o suficiente até para eles. A espada que está sendo dada aos meus mensageiros nos últimos dias pode quebrar qualquer jugo e romper qualquer cadeia. Minha luz é mais forte do que qualquer escuridão." Suas palavras me lavavam, de modo que continuei a sentir uma profunda limpeza de tudo o que eu havia visto das trevas. Enquanto eu ouvia, continuei a brandir a espada até sentir que minha visão e minha força haviam retornado por completo. Eu sabia que não poderia esquecer o poder da Palavra da redenção para purificar-me a alma e restaurar minha visão e força. Meu coração estava ardendo, e eu sabia que era a vida da espada que havia sido cravada nele, bem como o seu poder em minha mão. Sabia que essa conexão entre a Palavra em meu coração e em minha mão era a conexão entre a fé e as obras. As duas eram necessárias para purificar-me e restaurar-me, bem como são necessárias para todos. Este era o entendimento que eu jamais poderia esquecer. Depois de um tempo, o Senhor continuou: "Você precisa ter a espada e a tocha. Necessita viver em minha presença manifesta e ter minha Palavra em seu coração e em sua mão. Você precisa ensinar isso a meus mensageiros. Ninguém vencerá os tempos que hão de vir sem elas. Você precisa crescer mais rápido na luz do que as trevas estão crescendo. Minha Luz é mais forte, mas, para permanecer na luz, é preciso estar crescendo." Enquanto eu ouvia, instintivamente continuei a balançar a espada, e, com isso, a força continuou a aumentar. Novamente comecei a sentir que poderia voar — que era capaz de vencer qualquer poder terreno. Enquanto eu olhava para o Senhor, Sua glória aumentava e se expandia. Então, segurei a espada com as duas mãos o mais firme possível. Eu sabia o que estava por vir e o que teria de fazer. O Senhor virou-se novamente para que eu pudesse ver Suas costas. Quando Ele fez isso, penetrei nas trevas. CAPÍTULO 6 O PODER Mais uma vez, eu estava na avenida onde tinha colocado a tocha. Então percebi que havia penetra do nas trevas sem levá-la comigo, mas que tinha, de algum modo, voltado à rua onde a havia deixado. Eu não podia ver a tocha de onde estava, por isso comecei a andar, balançando a espada como havia feito. Eu sabia que tinha de encontrar a tocha. Enquanto andava, comecei a sentir as trevas e a opressão aumentarem. Era, na verdade, uma avenida de monumentos. À medida que eu balançava a espada e a minha visão aumentava, fiquei assustado ao ver que não parecia haver vida em lugar algum. As árvores e a grama no meio da rua estavam verdes, mas eu não percebia vida nelas. Pensei que fossem artificiais, mas, quando as olhei mais de perto, tinham funções vitais, mas, de algum modo, estavam mortas. Continuei a andar. Era um lugar frio, úmido e sombrio. Por fim, cheguei a um monumento. Eram o verde e o marrom do bronze embaçado que pareciam intensificar a monotonia desse lugar. A estátua estava sobre uma base de mármore, mas tudo parecia frio e sem sentido. Mesmo assim, percebi que se tratava da imagem de uma pessoa importante, embora não reconhecesse quem era. Segui adiante, balançando levemente a espada, sem saber o que mais fazer. Então, vi um brilho dourado. Ele parecia ter vida. À medida que me aproximei, vi que era uma árvore. Ela ainda era pequena, mas era um pouco mais alta do que eu. Fiquei surpreso com o que vi enquanto me aproximava dela. A árvore era a tocha que eu havia deixado. Ela havia crescido e agora tinha galhos. Estava cheia de vida. Destacava-se nesse lugar como um oásis em um deserto. Estendi a mão para trazer um galho para perto de mim. No mesmo instante, ele caiu na minha mão. Era uma tocha como a primeira, agora transformada em árvore. "Leve-a de volta ao monumento" — disse uma voz que vinha de trás de mim. Vir-me-ei e vi uma águia branca. Ela estava mais branca do que eu me lembrava, ao tê-la visto antes, mas pensei que deveria ser por causa da escuridão do lugar onde estávamos. Também sabia que ela havia ficado ainda mais sábia. Suas garras estavam mais afiadas e mais fortes, e seus olhos eram mais penetrantes. "Você tinha razão ao plantar a tocha. Se tivesse se agarrado a ela, teria ficado com uma boa tocha, mas agora você terá muitas." "Como é possível?" — perguntei. "E onde estamos?" "Você está no coração de uma grande cidade que morreu, mas que está prestes a reviver." "Você é daqui?" — perguntei, sabendo que ela não era, mas querendo estender a conversa até pensar em algo melhor para dizer. "Tenho amigos aqui e alguns discípulos. Eles o ajudarão a fazer aquilo que você está para fazer." "O quê?" "Você tem a espada e a tocha e está aqui, por isso vai usá-las." "Eu mal sei usá-las. Acabei de recebê-las." Percebendo que a águia estava ficando um pouco impaciente, continuei: "Mas farei o possível. Diga-me o que você sabe sobre o meu propósito aqui." "Este é o meu trabalho e irei contar-lhe tudo o que puder. Também estou feliz por ver que você não sabe muita coisa. Está mais seguro assim. Você saberá o que fazer quando chegar a hora. Meus jovens amigos irão ajudá-lo." "Onde você estará?" "Estarei observando, assim como eu estava quando você tocou o mar com a tocha há alguns anos." "Alguns anos? Não faz mais de algumas horas que tudo aconteceu." — protestei. "Não, já faz mais de cinco anos. Lembre-se de que o tempo na esfera espiritual não é igual ao da terrena. Vi quando você o fez. Desde o momento em que o Senhor lhe deu a tocha até o momento em que você tocou a água com ela, se passaram três anos; por isso Ele a deu a você há oito anos." "Não me lembro de você lá. Onde estava?" "Lembre-se de que eu não precisaria estar lá para ver. Também vi os outros dons que você recebeu e os que logo lhe serão concedidos. É hora de usá-los, mas ainda há muitas coisas para você aprender. Seu treinamento não acabou, mas o tempo é curto. Você precisa aprender e cabe-lhe ensinar aos outros ainda mais depressa." Olhei para a espada e a tocha que estavam em minhas mãos. Reparei ao redor e tive vontade de usá-las, mas não sabia o que fazer com elas. Por isso, só segurei a tocha e balancei a espada. "Estou aqui para ajudá-lo a começar" — disse a velha águia. "Os outros irão ajudá-lo ao longo do caminho. Agora, volte ao monumento pelo qual você passou. Toque-o com a tocha e observe." A velha águia estendeu suas asas e voou alto em direção ao céu escuro com um vento que eu não podia sentir. Embora tivesse desaparecido logo, ainda a sentia e sabia que ela estava me observando. Então, comecei a perceber que muitos outros também estavam me observando. Comecei a andar, segurando a tocha na frente e balançando a espada enquanto seguia. Senti minha força aumentar. Minha visão ampliou-se. Enquanto isso acontecia, eu queria atacar a escuridão. "Nasci para isso", pensei. "Sim, você nasceu" — respondeu uma voz desconhecida. "Você e muitos outros também. Agora é a sua vez." Quando me virei, vi outra águia, mais jovem do que a primeira. Mesmo assim, essa águia parecia ainda mais majestosa do que a mais velha. Ela inflou um pouco o peito, e suas asas estavam um pouco abertas como que prontas para voar a qualquer momento. Era óbvio que possuía uma tremenda força, mas a continha com muita graça. Como se tivesse ouvido cada pensamento, ela respondeu: "Sou de outra geração. Não sou maior do que meu pai, mas a mim me foi dada mais autoridade. Estou aqui para despertar e guiar os grandes campeões que agora estão amadurecendo. Ajudarei você e os outros que estão preparados para o que há de vir." "Como eu os prepararei?" "Primeiro, você aprenderá a usar a espada e a tocha para algo que vai além de sua própria edificação. É importante saber isso, mas é apenas o começo. Quando tiver usado o que está em sua mão, você começará a entender o restante do que lhe será dado. Então, saberá o que deverá fazer com todos os seus dons." Começamos a andar. Meus olhos voltaram-se para as árvores pelas quais estávamos passando. Então notei o fruto. Era bonito, atraente, e, com isso, senti um pouco de fome. "Nunca olhe para ele" — a jovem águia disse como se tivesse de repetir isso com freqüência. "Por quê?" — perguntei. "O fruto parece ser muito bom, e estou com muita fome." Então, percebi por que não poderia comer dele. "Todas essas são árvores do conhecimento do bem e do mal, não são?" "São. Como você sabe?" "Elas parecem estar vivas, mas estão mortas, e os frutos parecem deliciosos. Por que estão nesta avenida de monumentos? E por que a avenida está cheia delas?" "Os monumentos são para as pessoas que estavam vivas, mas que agora estão mortas. Esses monumentos são para as pessoas a quem foi dada a vida para darem à Terra, mas, depois que começaram a andar no Espírito, tentaram consumar a obra usando sua própria sabedoria e meios. Com isso, começaram a cultivar essas árvores. É por isso que elas estão juntas nessa avenida." "Essa é uma das principais avenidas às quais as pessoas desta cidade vêm. Elas não amam esses monumentos, mas são tais monumentos que as fazem sentir seguras e importantes, como se fossem os herdeiros da grandeza daqueles que são representados por eles. Elas também adoram o fruto dessas árvores, mesmo sendo ele venenoso, e ele as mata assim como matou o império dessas pessoas." Enquanto andávamos, minha visão continuou a aumentar. Comecei a ver que a rua era muito ampla, bem cuidada, e que seria muito bonita durante o dia. Ela ainda parecia morta. A jovem águia voava sobre mim, e eu sabia que ela estava me observando de perto e discernindo meus pensamentos. "O que vou fazer aqui com a espada e a tocha?" — perguntei a ela. "Primeiro, entenda esses monumentos. Até o menor toque de vida de Deus tem o poder de se transformar naquilo que teria restaurado a Terra e feito dela um jardim novamente. Esses monumentos são para pessoas que tinham vida. Elas se tornaram em monumentos mortos porque começaram a pensar sobre como construir um monumento à sua própria vida. Para nada serve construir um monumento. Todos eles perecerão." "O que você está para construir faz parte da cidade celestial. Você não cumprirá seu objetivo caso se preocupe com o que os homens pensam de sua obra. Só deve se preocupar com o que o Senhor pensa dela. Você não está aqui para construir monumentos, mas um movimento que não há de findar. O Espírito jamais para de se mover. Se você parar, terá se desviado do caminho do Espírito e do caminho da vida." Quando nos aproximamos do monumento pelo qual eu havia passado, a jovem águia parou e disse: "Você deve trazer esse monumento à vida novamente." "Por que deveríamos fazer isso?" — protestei. "E como?" "O Pai ama a redenção. O Rei ama a redenção. Ele também honra os antepassados que andaram em Seus caminhos na Terra, ainda que só tenham andado nesses caminhos por pouco tempo. Esses monumentos não eram da vontade de Deus, mas Ele vai redimi-los e usá-los, por amor aos pais e por amor aos seus filhos que agora vivem nesta cidade." "Lembre-se de que Ismael também não era da vontade de Deus. Mesmo assim, Deus abençoou Ismael e fez dele urna grande nação. Você se surpreenderá com o modo como os filhos de Ismael glorificarão ao Senhor no final e se surpreenderá com esses monumentos também." "Se quiser permanecer no caminho da vida, terá de amar a redenção como Ele a ama. Ela faz parte de seu objetivo para redimir os monumentos. É por isso que você está aqui com a espada e a tocha." "Mas pensei que eles haviam caído porque construíram esses monumentos em honra a si mesmos" — protestei novamente. "Como vou ajudar a redimi-los? O que a espada ou a tocha fará por esses monumentos sem vida?" "Você continuará a andar na escuridão se sua compreensão da redenção não aumentar. Precisa honrar esses pais e mães. Tem de tocar neles com a palavra e com o fogo. Quando você fizer isso, a vida que estava neles, que é eterna, fluirá deles novamente. Você não poderá chegar ao seu destino sem a vida que eles tinham." "O Senhor vai vivificar esses monumentos, e água viva fluirá deles novamente. Isso será por sinal de Seu poder de redenção e de Sua ressurreição. Essas árvores parecem vivas, mas estão mortas, e seu fruto é a morte. Esses monumentos parecem mortos, mas ainda há vida neles. A vida que eles levaram é eterna. Ponha a tocha nesta estátua." Levantei a tocha e a pus sob o rosto da estátua de um grande poeta inglês. Logo, o bronze reavivou de modo que começou a reluzir. Não demorou muito e o rosto todo estava brilhando. "Basta" — disse a águia. Afastei-me e observei. A estátua ainda era uma estátua, mas havia vida em seu rosto, assim como havia vida na tocha e na espada que eu segurava. Então, peguei a espada e a cravei no coração da estátua. Ela entrou facilmente até o cabo. Quando a tirei, o peito da estátua começou a incandescer com o brilho das cores do nascer e do pôr-do-sol e da tocha. Quando isso aconteceu, houve também um leve brilho no horizonte. Mais uma vez, fiquei surpreso com as maravilhas realizadas pela tocha e pela espada e o modo como, em vez de tirarem, davam vida. "Elas também podem matar" — disse a águia que agora estava voando sobre mim. "Elas trazem vida ao que tinha vida, mas o grande perigo é que também podem dar vida ao que estava morto." "O que você quer dizer?" — perguntei. "Você tem nas mãos o poder de abençoar. O que abençoar será abençoado, ainda que não seja o que o Senhor quer que seja abençoado. Se você abençoar a obra do inimigo, ela prosperará. Você só deve abençoar segundo a ordem do Senhor." O inimigo só recebe sua autoridade graças ao homem. Quanto maior for a autoridade que foi confiada a você, maior será o mal que poderá causar ao usá-la indevidamente, e maior será o poder do inimigo quando você concedê-la a ele." "Você tem uma grande bênção ou uma grande destruição em suas mãos. Só deve edificar o que o Senhor quiser edificar e somente destruir aquilo que o Ele quiser que você destrua. Você recebeu ferramentas e armas. Quanto mais poderosas elas se tornam em suas mãos, maior o cuidado que você deve tomar." "Bem, acho que devo começar a matar aquelas árvores" — repliquei. Sim, você fará isso no devido tempo, mas agora não é o momento. Concentrar-nos-emos em dar vida. Essas árvores ainda são úteis para o Senhor." "Como assim?" "O Senhor pôs a Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal no centro do Jardim do Éden por uma razão importante. É impossível o coração ser obediente, a menos que tenha a liberdade para desobedecer. Essas árvores atraem pessoas a esse lugar, e algumas delas que vierem por causa das árvores notarão que há vida novamente em nosso amigo aqui." "É quando alguém tocar nele que a vida crescerá. Á vida cresce com interação. Não sabemos se a mensagem dele será completamente restaurada, mas é possível. O ensino desse homem poderia começar a fluir novamente. Mas isso não está em suas mãos. Você fez a sua parte. Por isso, agora devemos seguir em frente." "Para onde vamos?" "Há outros monumentos nesta cidade nos quais você deve tocar e ajudar a trazer à vida. Se as pessoas responderem a eles, rios de água viva começarão a fluir por toda esta cidade. Então, eles se unirão para formar um grande rio. Se os monumentos despertados forem suficientes para aqueles que viveram em seu passado, haverá vida no presente, e fluirão juntos para o grande rio, que os levará a um glorioso futuro." "Se você e uma águia aqui, deve conseguir ver o futuro desta cidade. Isso irá acontecer aqui novamente?" - perguntei, sem querer perder tempo com monumentos, caso isso não produzisse resultados. "Não cabe a você preocupar-se com resultados. O Senhor dá uma chance a todos, mesmo quando Ele sabe que a rejeitarão. No entanto, quando voo alto o suficiente, posso ver o futuro, mas somente uma pequena parte dele. Sei que a vida fluirá por esta cidade outra vez, e sei que tantas outras da minha espécie não estariam aqui se o potencial desta cidade não fosse grande. "Cabe a nós usar os dons que nos foram concedidos e deixar com o Senhor os resultados. Você deve aprender bem as lições desta cidade. Depois será enviado para muitas cidades e nações para fazê-lo novamente. Você foi chamado para dar vida às cidades e nações, dando vida ao passado delas e aos seus monumentos. Há outros que estão fazendo o mesmo, e há outros que estão se preparando para a colheita de outras maneiras, mas esse cabe a você." Enquanto eu andava e a águia continuava a voar sobre mim, senti um desejo de acertar uma das árvores do conhecimento com minha espada, só para ver o que aconteceria. "Vá em frente" - encorajou-me a voz, agora fraca, que estava sobre mim.Acertei a árvore um pouco acima da cerca em sua base. A espada passou por ela facilmente. Olhei para ver se ela viria ao chão, mas não foi o que aconteceu. Então, os frutos começaram a cair. Logo se levantou um odor terrível. Olhei para os frutos que ainda estavam na árvore, e eles apodreciam diante dos meus olhos. Tomei distância suficiente para que nenhum deles caísse sobre mim. "Foi assim que o Senhor amaldiçoou a figueira" — ouvi a águia dizer lá de cima, também admirada com o que via. "Essa espada é a Palavra de Deus. Ela pode dar vida ou pode tirá-la." Então, me aproximei o suficiente para pôr a tocha ao lado da árvore. O fogo pegou na árvore como se ela fosse papel seco, consumindo-a rapidamente. Não restou nada além de cinzas. Veio uma brisa que espalhou as cinzas. Logo não restou nenhuma evidência de que havia uma árvore ali. "Estas são armas divinamente poderosas." — observou a águia. "Aquela árvore enganou muitas pessoas." "Foi rápido" — respondi. "Não acredito que isso aconteceu dessa forma." "Eu não chamaria 17 anos de rápido" — a velha águia retrucou, tendo aparentemente surgido do nada. Ela estava visivelmente irritada. "Vocês são dois idiotas. Lembrem-se de que o tempo não é igual aqui. É por isso que a paciência deve acompanhar a sua fé; do contrário, vocês perderão o tempo do Senhor. Temos de voltar para limpar essa bagunça" — disse, partindo com a mesma rapidez com que havia aparecido. Parecia estar com uma terrível pressa. Eu ainda não sabia por que a velha águia ficara tão irritada. Também notei que minha jovem amiga águia estava igualmente confusa. Fiquei chateado por ela não ter explicado o motivo para nós. Comecei a andar novamente e a tocar outros monumentos. Não demorou muito e pude dizer que o dia estava amanhecendo. Também não estava tão sombrio. Eu sabia que o sol logo romperia a névoa. "Muitos acreditavam que esta cidade não teria futuro, que a sua noite havia chegado para sempre, mas talvez esteja começando o seu grande dia" — eu disse à jovem águia que ainda estava comigo. Podia sentir uma grande esperança peia cidade surgindo dentro de mim. Então percebi que a águia não parecia ouvir. Ela estava tentando olhar o futuro lá longe. Eu também havia me perdido em meus pensamentos. Comecei a pensar no vale, no cavalo e na garotinha. Estava curioso por saber se os rios da vida iriam começar nesta cidade novamente. Perguntava-me se havia uma conexão para que eles pudessem fluir para aquele vale também. Fiquei bastante preocupado com aquela garota corajosa. Sua graça, sabedoria e maturidade extremamente avançadas para sua idade fizeram dela um dos maiores tesouros que já encontrei. Eu queria voltar, mas sabia que o que me seria dado aqui e o que eu estava aprendendo faziam parte do plano para ela e para o vale que ela estava tentando defender. Olhei novamente para a águia. Ela havia, evidentemente, avistado algo, mas eu não podia dizer se eia estava alegre ou assustada. Enquanto olhava para ela, comecei a sentir o que ela sentia. Eu sabia que meu treinamento estava quase chegando ao fim. O alarme estava prestes a soar. Uma grande batalha iria começar. CAPÍTULO 7 A RAINHA A jovem águia pousou do meu lado. "Sei o que você vai me dizer" — declarei águia olhou para mim com as sobrancelhas das e, então, continuou o que havia começado a dizer. "As coisas estão acontecendo mais rápido do que imaginei. Pela primeira vez, eu não quis voar mais alto para ver mais longe. Eu não estava preparada para ver o que vi. Preciso reunir as outras águias e encontrar o nosso pai. O futuro é muito sombrio. Continue em frente, e eu o verei logo." Ela se foi antes que eu pudesse protestar. Lamentei por ter me apressado em falar, dando a entender que já sabia o que tinha a dizer. Eu sabia que suas noticias eram ruins, mas não conhecia os detalhes. "Meu estúpido orgulho" — pensei. Decidi não tentar fazer isso novamente. Isso sempre pareceu me custar conhecimento. Continuei a andar, brandindo a espada e segurando a tocha o mais perto possível, curioso por saber o que a jovem águia havia visto. Então, cheguei à estátua de uma senhora. Ela era surpreendentemente linda, e presumi que havia sido uma rainha inglesa. Quando a olhei de perto, meu coração quase parou. Não só reconheci muito bem o seu rosto, mas também ela estava viva e apontando seu cetro em minha direção. Águias pousavam nela e estavam ao redor de sua base, como normalmente fazem os pombos em volta de estátuas. Todos eles também estavam olhando para mim. Quando ela falava, era com uma dignidade que eu conhecia muito bem, e ela ostentava uma autoridade que me fazia tremer. "Você é a garotinha que deixei no vale. Como chegou aqui e como pode ser um monumento?"— gaguejei. Ela não respondeu, mas olhou curiosamente para mim. Uma das águias então falou: "Você se esqueceu de que o tempo aqui não é igual ao da esfera terrena. Entretanto, essa não é a garota que você viu, mas uma descendente dessa senhora." Vir-me-ei para a senhora e disse: "Sinto muito. Fiquei surpreso quando a vi, já que vocês são muito parecidas." A importante senhora parecia indiferente ao que eu disse e continuou a apontar seu cetro em minha direção quando começou a falar. "Você despertará as mães para a glória do chamado que elas têm? Você dará às minhas filhas espadas e tochas? Elas são as únicas que mantêm as tochas vivas e manejarão a espada com sabedoria. Minhas filhas deterão a morte e trarão de volta a vida." Fiquei sem fala, apavorado. Suas palavras surgiam com autoridade e nobreza e eram tão belas quanto ela. Eu não queria que ela parasse de falar, porque suas palavras eram tão estimulantes. "Você é Elizabeth?" — perguntei. "Não." "É Maria, a mãe de Jesus?" Fitando-me com um olhar amoroso, porém firme, o sorriso mais acanhado pareceu passar por seus lábios enquanto respondia: "Você me conhece. Elizabeth me conheceu. Abraão procurou por mim. Eu não sou Maria, mas também sou como uma mãe para Jesus. Sou Jerusalém. Sou sua mãe também, porque sou a mãe de todos os que adoram em Espírito e em verdade." Enquanto eu olhava para ela, pensei no quanto parecia ser a própria maternidade em toda a sua glória. Suas palavras não só expressavam verdade, mas também vida, esperança, coragem e força. Era impossível imaginar que haveria uma mulher mais atraente, e, não obstante, não havia nenhum sinal de sedução ou de atração sexual. Eu só queria estar o mais perto possível dela. Sua presença era tão amorosa e convidativa que comecei a me aproximar. Não conseguia parar de me perguntar como alguém, com tanta luz, poderia estar nessa avenida dos monumentos e não despertar a cidade inteira. "Por que você está aqui? Por que está nesta cidade?" — perguntei. "Como alguém, com tanta graça e vida, poderia estar nesta avenida? Por que não há multi- dões sentadas aos seus pés?" "Os homens fizeram muitos monumentos para mim, mas eu nunca morri. Muitos tentaram levar-me de volta à Terra, principalmente aqueles que se sentavam aos meus pés, tentando usar-me. Eles tentam levar-me por meio de suas próprias obras, e não pela fé, que tão- somente pode estabelecer-me." "Você pode me ver como o faz agora por causa da visão que tem. Se sua visão fosse maior, eu seria ainda mais para você. Na verdade, você só está vendo um pouco mais de mim do que aqueles que só vêem uma estátua de bronze." "Há alguns nesta cidade que começaram a me ver como algo mais que uma estátua. É por isso que estou viva aqui. À medida que a visão deles aumentar, serei revelada cada vez mais." "Quando eles começarem a crer em sua visão com o coração, e não só com a mente, eu me livrarei desta avenida de monumentos e me colocarei acima dos palá- cios e castelos dos homens. Quando isso acontecer, o Rei virá a esta cidade." Então, ela olhou para as minhas mãos, e outro sorriso acanhado enrugou seus lábios. "Você tem a espada e a tocha. É hora de usá-las aqui. Ninguém que não honra o pai e a mãe pode me ver. Se você honrar os pais, dará espadas para os filhos e fi- lhas." Suas palavras eram como fogo e mel juntos. Elas queimavam, mas também adoçavam e acalmavam. Eu não podia imaginar alguém que não quisesse ficar o mais perto possível dela. É óbvio que ela também podia ouvir meus pensamentos e responder a eles. "Como eu disse, a maioria só me vê como um monumento, frio e embaçado. Quando as pessoas começarem a me ver como sou, serão atraídas a mim como uma criança de peito à sua mãe. Eu também fui criada para ser um desejo de todo coração que busca. O Rei e eu somos um." "Você deve se lembrar disso. É preciso a luz dos pais e das mães, dos filhos e das filhas, para revelar-me como sou. Sou muito mais do que aquilo que você está vendo agora e também sou como a criança que você conheceu no vate." "Ninguém pode me ver como realmente sou se não vir a glória da maternidade, bem como da paternidade, espiritual. É porque muitos honraram somente os pais, mas não as mães também, que eles e seus frutos não permaneceram por muito tempo na Terra. Você deve honrar os pais e as mães para gerar os filhos e as filhas." "Ninguém que não vê a glória nas crianças pode me ver como sou. Tenho a sabedoria dos séculos e a sabedoria do novo nascimento. É a sabedoria dos pais e das mães, dos velhos e dos jovens, que o caminho da vida segue." Enquanto eu ouvia, fui levado às árvores que estavam alinhadas na avenida. Isso não escapou à sua atenção, e ela novamente respondeu aos meus pensamentos. "Sim, a mulher foi enganada e comeu do fruto proibido primeiro. Entretanto, o homem comeu dele mesmo sabendo o que estava fazendo. E não diz a profecia que a semente da mulher esmagará a cabeça da serpente?" "Sinto muito" — respondi. "É que fui tão ensinado sobre como as mulheres são tão facilmente enganadas que eu estava, na verdade, me perguntando se alguém poderia pensar assim em sua presença." "Entendo por que muitos pensam assim, mas você deve entender isto agora: aqueles que são remidos pertencem a uma nova criação. A mulher da nova criação é superior à da primeira." "Quando você se torna parte da nova criação, seus pontos fracos se transformam em pontos fortes. Grande parte daqueles que têm os maravilhosos dons do discernimento é formada por mulheres. Lembre-se de que, na nova criação, todas as coisas se fazem novas. É por essa razão que aqueles que têm uma mente renovada não julgam segundo a carne, mas segundo o Espírito." "A mulher da nova criação está para ser revelada, e todos os que a virem irão honrá-la. Nem os meus filhos nem as minhas filhas podem me ver como sou, a menos que comecem a olhar para mim juntos, abrindo seu coração para o que cada um deles vê. Os meus filhos e as minhas filhas devem profetizar. Você deve dar tochas e espadas para as minhas filhas e os meus filhos; do contrário, acabará como mais uma estátua nesta rua." "Você está preocupado que as filhas se deixem enganar facilmente. Todos podemos ser enganados, mas a sabedoria das mulheres poderia impedi-lo de praticar muita tolice, como a insensatez de cortar aquela árvore." Quando ela disse isso, tremi. Entendi no mesmo instante que algo muito mais terrível do que eu imaginava havia acontecido. "Eu só usei minha espada para cortar uma árvore que tinha um fruto do mal. Como isso poderia ser ruim? Que tipo de problemas isso poderia ter criado?" — perguntei. "Você não plantou uma árvore justa no lugar daquela. Agora ela brotou novamente, e o poder do mal que há nela se multiplicou. Você não pode dissipar o mal, mas deve sempre preencher o lugar dele com algo bom; do contrário, isso acontecerá." Mesmo não querendo sair da presença dessa grande rainha, vir-me-ei e comecei a correr em direção ao lugar onde havia cortado a árvore. Enquanto corria, olhei de relance para trás a fim de vislumbrar mais uma vez sua grande beleza e a vi fazendo sinal para as águias me acompanharem. A grande preocupação de todos era tão visível que cheguei a parar. "Diga-me. O que há de mal nisso?" — gritei. A grande senhora olhou para mim como se estivesse medindo as profundezas de minha alma. Eu sabia que ela estava pensando se eu agüentaria ouvir a resposta. Deve ter concluído que eu não conseguiria suportar, pois não disse nada. Então, uma das águias falou: "Você entenderá logo o que aconteceu. Não estávamos preparados, e não acho que você esteja preparado para o que nos espera. Mesmo assim, devemos ir agora. A batalha por esta cidade, e por muitas outras cidades, já começou." Alguém bateu à porta, e eu despertei, assustado. O relógio ao lado da cama marcava 5h55. Era difícil saber onde eu estava. Sentia-me entre dois mundos. Continuei a olhar para o relógio e orei pedindo graça para vencer o que haveria de vir. Sabia que havia, de fato, uma ponte entre as esferas do Céu e da Terra, e que o que eu havia visto era muito real. Também pensei em como o tempo entre elas não era como parecia. Às vezes minutos, ou horas, na esfera celestial acabavam sendo anos na Terra. Mesmo assim, eu sabia que era hora de acordar. A batalha final estava realmente para começar. Então, percebi que não havia ninguém na porta do meu quarto. Tive de me sentar por um instante. Pensei no quanto valia a pena buscar a "Jerusalém do alto" como nenhum outro tesouro no mundo. É para isso que a Igreja foi chamada. Não há sombra de dúvida de que, se ela for vista como realmente é, as nações virão para a sua luz. Quem não viria para ela? Como eu queria que cada igreja e cada cristão tivessem apenas um vislumbre dela, ouvissem sua voz, sentissem a grandeza de sua presença e a dignidade de cada movimento seu. Ela era uma mulher em toda a sua glória. Uma noiva digna do Rei. Eu me consumia na tentativa de encontrar uma forma de compartilhar o que havia visto. Desesperado, queria dizer a todos os cristãos que eles haviam sido chamados para fazer parte disso, mas minhas palavras eram extremamente insuficientes. "Ela não faz parte da avenida de monumentos. Ela faz parte da colina mais alta para que todos possam vê-la", pensei, mas minhas palavras pareciam tão mirradas e mortas quanto os outros monumentos. Comecei a desejar as palavras de vida. Então, comecei a pensar na iminente batalha. Um temor apoderou-se de mim como um cobertor negro. A minha força se foi. Eu estava tão cansado que fui vencido pelo sono. Então, eu a vi novamente. Ela não era mais uma estátua na avenida dos monumentos — era uma guerreira que usava uma armadura brilhante. Estava mais magnificente do que as palavras humanas podem descrever. Sua presença exalava graça e força, o que me enchia de medo. Ela olhou bem nos meus olhos enquanto o sorriso mais sincero e radiante passava por seus lábios. "Não teme. Eu também fui trazida a este mundo para a batalha que está à nossa frente. Devo ser conhecida como a própria maternidade, mas também devo ser conhecida como uma guerreira. Não teme. A luz que está em nós é maior do que as trevas. Chegou o tempo de a luz ser vista. É tempo de lutar." CAPÍTULO 8 A ÁRVORE E SEU FRUTO Eu estava correndo o mais rápido possível para o lugar onde havia cortado a árvore com minha espada. Sabia que algo terrível havia acontecido, mas não conseguia entender o que era. Então, comecei a sentir um mau cheiro terrível, como o fruto podre, mas muito mais intenso do que eu já havia sentido. Foi então que vi uma árvore que se elevava sobre todas as outras. Ela era tão alta que cobria uma grande parte da avenida dos monumentos. Seus galhos cobertos de folhas eram tão grossos que ficava escuro debaixo dela. Enquanto eu continuava a correr em sua direção, comecei a ouvir estrondos cada vez mais altos à medida que me aproximava. Diminuí o passo, uma vez que cada sentido dentro de mim estava me dizendo que se tratava de algo mais nefasto do que qualquer coisa que eu já havia enfrentado. Então, ouvi vozes. A princípio, eram apenas algumas, mas, à medida que me aproximava, começou a parecer que eram muitas, talvez centenas. Depois, pareciam milhares. O mau cheiro e a atmosfera criada por essa árvore forjaram uma depressão que parecia uma neblina sufocante. Por fim, tive de parar porque não suportava chegar mais perto. Então, uma das águias falou: "Isso não é bom!" "Qualquer um pode dizer que isso não é bom!" — repliquei. "Ajudaria um pouco mais se eu soubesse o que é isso." "Essa árvore não deveria estar assim" — disse a jovem águia com uma voz nitidamente trêmula. "Este é o resultado de sua própria impaciência, ignorância e imaturidade" — interrompeu a velha águia, que havia acabado de pousar atrás de mim. "O que aconteceu? Como isso é conseqüência do meu erro?" — reclamei. "Você, imprudentemente, cortou uma das árvores e não plantou a tocha em seu lugar. Você sabe muito bem que toda vez que você desloca o diabo, ou uma de suas fortalezas, ele tentará voltar e, se conseguir, voltará mais poderoso." "Não pensei nisso. Além disso, é difícil acreditar que um breve momento de descuido de minha parte poderia ter causado tudo isso." "As armas que nos foram confiadas são muito poderosas, mas você nunca deve destruir uma obra do diabo, a menos que a substitua pelas obras de Deus. Se você destruir uma plantação do diabo, deverá plantar aquilo que é de Deus em seu lugar e preparar-se para defendê-lo" — a velha águia disse com um claro tom de reprimenda. "Mas a águia que estava comigo me mandou 'ir em frente' quando eu quis cortar a árvore" — protestei. "Nós dois pensamos que era a coisa certa a ser feita." "As águias jovens estão aqui para ajudá-lo, e elas podem fazer isso, mas ainda são jovens. Não importa quem esteja com você, ou quem esteja de acordo com você, isso não o isentará de responsabilidade por suas próprias ações." "Muitos que receberam um grande conhecimento não têm uma grande sabedoria. Você tem andado com a própria sabedoria, e Ele permanece em você. É sensato consultar o Senhor antes de usar a autoridade e as armas que Ele lhe tem confiado. A sabedoria ainda pode falar com você por meio de um de nós, mas Ele, sobretudo, falará com você por meio do seu coração. Você deve obedecer a Ele, e não às jovens águias, ou às velhas." Percebi a frustração da velha águia, mas tive de pressioná-la para obter todo o conhecimento possível. Eu estava arrasado com a idéia de ter causado tamanho problema. "Se tivesse plantado a tocha no lugar daquela árvore, eu não estaria com ela para continuar a tocar nos monumentos" - protestei. "Primeiro, você não deveria ter cortado a árvore sem a ordem do Senhor. Depois, se Ele lhe desse essa ordem e você tivesse de plantar a tocha, deveria fazê-lo ainda que, para isso, fosse preciso esperar um tempo. Toda vez que você plantar essa tocha, ela se multiplicará. Tudo que se planta e que está de acordo com a vontade do Pai dará mais frutos e se multiplicará." "Talvez esperar por isso lhe pareça incompreensível, porque você é muito impaciente, mas o reino de Deus cresce mais mediante a paciente colheita dos frutos do que quando se ataca as obras do diabo. Há um momento para atacar as fortalezas do diabo, mas nunca é nisso que consiste a principal obra do Reino." "Lembre-se disto: Você não será julgado pelo número de monumentos que despertar, ainda que isso faça parte de seu chamado. Nem será julgado pelo número dessas árvores plantadas pelo diabo que você cortou. Você será julgado pelo grau de sua obediência. Agora, essa lição acabou." "Temos uma grande batalha em nossas mãos. Certamente será prudente de nossa parte prosseguir agora sem demora. Essa árvore ainda está crescendo, e o inimigo pretende tomar esta cidade. Isso não pode acontecer." Comecei a andar novamente. Sabia que a velha águia estava me dizendo a verdade. Eu havia, imprudentemente, usado o que me havia sido confiado e agora tinha criado um grande conflito, desnecessário, para o qual não estávamos preparados. Todas as águias estavam ao meu lado, inclusive a mais velha. "Vocês não poderiam ser um pouco mais úteis se voassem?" - perguntei. "É difícil voar nesse tipo de atmosfera" — uma delas respondeu com a concordância visível das demais. "Difícil? Bem, para mim, é difícil caminhar, mas sei que preciso fazê-lo. Vocês poderão lutar assim?" "Não muito bem" confessou a velha águia. "Você tem razão. Devemos voar." Com isso, ela subiu lentamente, e as outras começaram a segui-la. Elas não foram longe nem muito alto,e fiquei contente por isso. Quanto mais andávamos, mais sentíamos o mal. Eu não queria continuar. A depressão se transformou em um opressivo medo. Não demorou muito e minha vontade era abandonar toda a cidade e recomeçar em algum outro lugar. Se as águias não me tivessem feito companhia nem voado acima de mim, eu não teria como continuar. Mesmo assim, eu estava ficando cada vez mais lento. Logo comecei a ofegar por causa do terrível mau cheiro. Embora ainda estivesse a certa distância da árvore, pude ver o que estava causando o estrondo. Eram os frutos que caíam dela. Eles eram tão pesados que passavam pelo telhado dos prédios e das casas. Quando batiam na rua, espatifavam com tanta força que pareciam bombas. Quando cada um deles atingia o chão, uma névoa fétida se levantava do locai onde caía. Depois vi de onde vinham as vozes. Grandes multidões vieram comer dos frutos. Elas os devoravam como se fossem deliciosas iguarias. A cena era tão repulsiva que tive de me afastar para não vomitar. Percebi a velha águia ao meu lado. "É melhor que você veja isso" — ela exigiu. "Você precisa entender o que os frutos estão fazendo às pessoas. Balance a espada. Segure firme a tocha." Olhei para a espada e a tocha que eu tinha nas mãos. Quase havia me esquecido delas. Simplesmente as carregava. Assim que comecei a brandir a espada, uma brisa leve e refrescante começou a passar ao nosso redor. Era como respirar oxigênio novamente. Eu a balancei cada vez mais até poder ver que a brisa estava tocando nas águias que pairavam no ar. Com o ar fresco, nossa visão melhorou rapidamente. Aos poucos, a confiança começou a tomar o lugar dos nossos temores. Então, levantei a tocha o mais alto possível. Ela estava ficando mais reluzente por causa da brisa que a espada havia criado. Com a espada e a tocha, estávamos criando a nossa própria atmosfera. Enquanto olhava, podia dizer que todas as águias sentiam a emoção de voar. Uma grande fé para a esperada batalha começou a surgir em todos nós. As armas que nos haviam sido dadas eram maiores do que as que estávamos vendo. Comecei a orar com fervor, pedindo sabedoria para usá-las bem naquele momento. Reiniciei a caminhada, mas fui detido pela velha águia, que gritou: "Pare! Não dê nem mais um passo." Fiquei parado onde estava. "Qual é o problema?" — perguntei, um pouco atordoado com a força de sua ordem. "Você estava para ser morto. É bom ter coragem, mas você não é nem um pouco inteligente?" "Do que você está falando?" — reclamei. "Como estávamos para ser mortos? O que temos é, sem dúvida, muito mais poderoso do que qualquer arma do inimigo." "É verdade, mas os frutos que estão caindo dessa árvore poderiam ter acabado com todos vocês de uma só vez. Como eu disse anteriormente, precisamos ficar aqui e observar o que eles estão fazendo às pessoas. Devemos ter certeza de ir somente onde os frutos não estão para cair." Concluí naquele instante que a velha águia tinha razão. Senti-me tão tolo e imaturo como uma criança. Pedi desculpas. Estava certo de que todas as águias se sentiram repreendidas também. Então, comecei a observar as pessoas mais próximas de nós e que estavam comendo os frutos. Passei a balançar a espada novamente, o que havia deixado de fazer logo depois da repreensão da velha águia. Fiquei surpreso ao ver quanto o ar tornara-se fétido naqueles poucos instantes. Quando levantei a tocha novamente, a luz voltou aos nossos olhos, de modo que pudemos ver melhor. No entanto, logo ficou claro que as pessoas em meio à névoa não podiam nos ver. Pareciam estar quase totalmente cegas, enxergando só a alguns metros de distância. Isso as levava a procurar, como animais, os frutos que pareciam comer com avidez. À medida que comiam os frutos, elas ficavam pálidas e mais magras. Algumas engoliam os frutos como se estivessem morrendo de fome e, quanto mais rápido co- miam, mais perdiam peso por causa da diarréia. Grande parte do mau cheiro provinha daí, mas elas nem pareciam percebê-lo ou se importar com ele. Enquanto comiam, chagas começaram a aparecer nelas. A dor das chagas era, sem dúvida, terrível, uma vez que as pessoas esbarravam umas nas outras; isso gerava conflitos e agressões físicas. Como conseqüência, se afastavam cada vez mais umas das outras. Vimos até que aqueles a quem estávamos observando começaram a morrer. Alguns começaram a matar os outros que estavam próximos a eles. A violência estava aumentando, bem como a paranóia e a depressão. Eu não podia imaginar um cenário do inferno pior que esse. "O diabo não só gosta de matar. Ele adora atormentar" — observou a velha águia. "Ele tenta, em tudo o que faz, reduzir os seres humanos ao mais vil estado. Acha que se puder levar os homens que foram criados à imagem de Deus a tamanha humilhação, está zombando do próprio Deus." Era uma cena terrível e grotesca e se tornava cada vez pior. À medida que a depravação aumentava, logo ficou difícil acreditar que aqueles eram seres humanos. "Um bando de cachorros tem mais dignidade", pensei. Então, percebi sangue no chão. Ele estava sendo absorvido pela terra como que por um aspirador de pó lento, mas potente. Enquanto observava, podia dizer que ele estava sendo levado para as raízes da árvore. O sangue era seu alimento. No Local onde havia uma terrível batalha e muita morte, olhei e pude ver que os galhos acima estavam crescendo mais rápido e produzindo mais frutos mortíferos. "Não podemos esperar mais; do contrário, toda a cidade se perderá" — uma das águias gritou. "Precisamos fazer alguma coisa." Eu sabia que ela estava com a razão, mas também achava que, se fôssemos adiante sem conhecer o que havíamos acabado de presenciar, não conseguiríamos cumprir nosso corajoso encargo em meio às trevas. Também comecei a perceber que todos aqueles que trabalhavam pela paz estavam fazendo a obra do Senhor. Qualquer tipo de derramamento de sangue alimentava as raízes dessas árvores malignas, que produziam esses frutos do mal e aumentavam o domínio do inimigo sobre a Terra. "O que devemos fazer?" — perguntei à velha águia. "É por isso que você está aqui" — ela respondeu. "Posso lhe dar conhecimento e, às vezes, sabedoria, mas não cabe a mim comandar uma batalha como essa." "Mas foi a minha insensatez que levou a isso, e depois, por minha causa, quase perecemos." — protestei. "Está claro que não sou a pessoa indicada para comandar uma batalha como esta." "Talvez você esteja humilde agora e tenha aprendido o suficiente para fazer exatamente isso" — replicou a velha águia, obviamente decidida que não seria ela quem ficaria no comando, mas eu. Eu sabia que não havia tempo para discussões, por isso fiz o que julguei necessário até que um líder se manifestasse. Reuni todas as águias e as organizei em dois grupos, nomeando um líder para cada um. O primeiro grupo deveria voar e encontrar um caminho onde os frutos não estavam para cair. Eles também deveriam atacar qualquer fruto que, obviamente, pudesse cair prematuramente. Isso ajudaria a limpar mais o caminho e, se Deus quisesse, os frutos prematuros não estariam muito maduros para as pessoas os comerem no chão. O segundo grupo deveria seguir o primeiro. Eles deveriam procurar os frutos que se perderam, ou que estavam crescendo muito rápido a ponto de se tornarem uma ameaça para nós. Pedi à velha águia que ficasse ao meu lado. Ela concordou. Quando comecei a andar, todas as águias voaram para fazer suas tarefas. Continuei a balançar a espada e a levantar a tocha. Enquanto fazia isso, sentia minhas mãos revestindo-se de força, e até meus pés pareciam mais leves. Logo, isso foi purificando o ar e iluminando uma boa distância do caminho. Isso era crucial porque as águias não podiam voar além da Luz da tocha e do vento da espada; do contrário, se sufocariam e começariam a adoecer. Depois de andarmos devagar durante o que pareciam horas, começamos a ouvir um terrível tumulto a certa distância. Havia milhares de vozes furiosas. Todos sentimos um calafrio. Eu até podia dizer que a velha águia estava ficando tensa. Era óbvio que estava acontecendo uma grande batalha à frente. Teríamos coragem para continuar? Quem estava lutando? Onde estava o nosso líder? Olhei para trás para ver se vinha alguém para nos ajudar. Não pude ver nem ouvir ninguém, mas percebi que os frutos estavam caindo novamente no caminho, não muito atrás de nós. Simplesmente não podia acreditar na rapidez com que estavam crescendo. Eu também sabia que não tínhamos saída. Não podíamos voltar nem ficar onde estávamos. Não havia para onde ir senão seguir em frente, e eu não precisava da velha águia para me dizer isso. CAPÍTULO 9 OS GUERREIROS Convoquei uma rápida reunião com os líderes de ambos os grupos de águias. Eles também já tinham visto a nossa situação — estávamos agora tão cercados na retaguarda quanto na dianteira, mas também preparados para seguir em frente. Pedi a eles que voassem o mais alto possível e voltassem rapidamente para relatar algo relevante que vissem. Enquanto seguíamos em frente, cada vez mais nos aproximávamos dos rumores de uma grande batalha. Não demorou muito e uma das águias voltou para relatar o que elas estavam vendo. Havia um grupo de aproximadamente 200 pessoas com pequenas espadas e pequenas lâmpadas. Algumas das espadas eram menores que facas, mas as pessoas eram valentes e tinham habilidade para manejá-las. Elas estavam lutando para deter o que parecia ser uma multidão maior que um exercito, que consistia em alguns milhares de pessoas. O pequeno grupo de combatentes mal tinha luz para ver, e o ar que respirava estava cheio de morte e desânimo. Eles haviam erigido trincheiras e, com cora- gem, defendiam seu território enquanto a multidão lançava os frutos podres e venenosos contra eles. Esses frutos eram tão tóxicos que matavam ou feriam gravemente quem acertavam. Seus integrantes se esquivavam com destreza, mas era óbvio que alguns deles estavam cansados e não poderiam resistir por muito tempo. Eu não tinha idéia do que o nosso pequeno grupo poderia fazer para ajudá-los contra uma horda, mas sabia que tínhamos de fazer alguma coisa. A velha águia e eu nos aproximamos do local da cena. Antes que nos vissem, pudemos chegar bem perto da multidão, uma vez que a visão deles estava um tanto comprometida. Quando nos viram, começaram a arremessar os frutos contra nós. Eles estavam muito longe para nos acertar, por isso alguns começaram a correr em nossa direção. As águias jovens lançaram-se na frente deles, e, com isso, pararam onde estavam, visivelmente assustados com elas. Então, dei alguns passos na direção deles, esperando que o ar fresco e a luz da espada e da tocha os despertassem das trevas. Assim que a luz e o ar fresco tocaram neles, começaram a voltar correndo para as trevas, em pânico. Uma das águias desceu para nos dizer que não podia avistar a multidão e que ela estava se reagrupando. Por alguma razão, eles estavam furiosos, e era óbvio que não desistiriam de tentar destruir o pequeno grupo de combatentes. Andei até me aproximar da trincheira. Um homem e uma mulher, que obviamente eram os líderes, se aproximaram. Pareciam contentes em nos ver, mas cautelosos ao mesmo tempo. Eu lhes disse o meu nome e quanto estávamos impressionados com a grande coragem deles. "Sabemos quem você é" — respondeu a mulher. "Os seus livros foram úteis para nós." "Se eles foram úteis para vocês, por que parecem tão cautelosos comigo?" — perguntei. "Não estamos tão cautelosos com você quanto estamos com aqueles pombos. Estamos curiosos em saber o motivo por que eles estão com você" - explicou o homem, tentando, evidentemente, esconder sua irritação, mas sem ter muito êxito. "Aqueles não são pombos, são águias." — respondi, tentando controlar minha própria irritação. Incrédulos, o homem e a mulher olharam para mim. Eu não podia dizer que eles estavam forçando urna situação sem pretender me insultar, mas querendo muito mostrar seu desdém pelas águias. A velha águia puxou-me para o lado antes que eu pudesse dizer mais alguma coisa. "Chamar-nos de pombos foi, na verdade, um pouco de bondade da parte deles. Na verdade, queriam nos chamar de abutres. Para ser sincero com você, não posso culpá-los. As águias jovens podem criar uma confusão maior do que os pombos, e até águias velhas como eu são difíceis de aparecer por ai. Acho que alguns dos nossos amigos mais jovens aqui já criaram problemas para essas pessoas antes. Seja paciente e gentil." "Entendo" — respondi. "O que eles pensarão quando descobrirem que podem me culpar pela minha insensatez e imaturidade por causa dessa árvore?" "Todos nós já confundimos as coisas mais do que a maioria de nós perceberá nessa vida" — a águia respondeu. "Até os grandes santos nas Escrituras, como Abraão, Davi e o apóstolo Paulo, criaram alguns problemas no mundo por causa de sua insensatez ou imaturidade. Não somos melhores do que eles, somos?" "Não. É claro que não" — respondi. Perceber quanto isso era verdadeiro deu-me certo encorajamento. "O apóstolo Paulo expressou uma atitude contra a igreja que ele teve de enfrentar pelo resto de sua vida. É pela graça do Senhor que Ele também nos dá uma chance para confrontar e destruir os males pelos quais somos responsáveis por liberar" — continuou a velha águia. "Esta é a sua chance para com essa árvore. Nossas jovens amigas águias estão tendo outra chance para com essas pessoas, pois, gostem ou não, elas não sobreviverão sem a nossa ajuda." "É verdade, mas, para que cheguemos ao lugar onde poderemos trabalhar em conjunto, talvez seja preciso mais do que temos, principalmente quando vemos o modo corno a violência está aumentando lá fora, e essa árvore ainda está crescendo" — lamentei. "Eles não precisam nos chamar de águias. Eu nem me importo se eles nos chamam de pombos, mas devemos encontrar uma forma de trabalhar em conjunto" — respondeu a velha águia. Quando me virei para o casal, parecia um pouco mais à vontade. Eu podia dizer que os movimentos de minha espada haviam limpado o ar de certa forma, e a tocha havia iluminado toda a área. Quando olhei para o restante das pessoas, todas estavam olhando para as águias voando ali por perto. "Não sabíamos que eram águias de verdade" — o homem disse. "Receio que fizemos muito mal a elas e as afugentamos porque pensamos que eram..." — parou por um instante — "...estou muito envergonhado, mas, na verdade, pensamos que se tratassem de abutres." A velha águia começou a falar, quando uma das mais jovens, que havia pousado, a interrompeu: "Somos águias, mas sabemos da confusão que criamos quando estávamos com vocês. Não os culpamos por terem pensado o que pensaram de nós, ou por terem nos afugentado. Na realidade, vocês fizeram o que era certo. Somos nós que deveríamos pedir desculpas. Todos lamentamos muito os problemas que lhes causamos e o que fizemos à sua congregação." Eu só continuava a balançar a espada, a segurar a tocha e a observar. "De fato, é isso que significa limpar o ar", pensei. A situação era muito comovente, mas ainda fiquei surpreso quando me virei para a velha águia e vi lágrimas rolando pela sua face. Quando ela me viu, ficou um pouco envergonhada, mas era óbvio que estava muito feliz para se importar com isso. "Há muitos anos que espero para ver tal coisa. E há poucas mais belas do que isso" — ela expressou. "Entendo" — eu disse, tentando fazer com que nós dois nos sentíssemos um pouco mais à vontade. "Creio que, se eu soubesse de toda a história que se passa por aqui, estaria tão comovido quanto você." "Se você soubesse de toda a história, saberia que estamos testemunhando um grande milagre. Na verdade, é esse milagre que me dá confiança para essa batalha na qual estamos engajados." "O que você quer dizer com nós? Pensei que fosse eu que realmente havia nos colocado nessa situação." "Se quisermos vencer, precisamos permanecer unidos e cobrir os erros uns dos outros" — a velha águia disse. "Havia uma águia ao seu Lado quando você fez o que fez, por isso todos estamos juntos nesta situação. Eu também sabia que isso poderia acontecer, mas não movi um dedo para adverti-lo. Então, todos somos responsáveis." A atmosfera em torno do pequeno bando e de suas trincheiras obviamente havia mudado. Fiquei surpreso ao ver a rapidez com que a cautela que eu sentia a princípio havia se transformado em confiança, simplesmente com algumas desculpas e um pouco de humildade. Era óbvio que não poderíamos enfrentar o que estava pela frente se estivéssemos pelejando contra nós mesmos, e essa reconciliação tinha de acontecer. Nunca sonhei que isso poderia acontecer tão rápido. Se as águias tivessem se ofendido com aquilo de que foram chamadas a princípio, não haveria como sobrevivermos à iminente batalha. Na verdade, poderíamos muito bem lutar em duas direções ao mesmo tempo, o que certamente levaria a uma rápida derrota. Por fim, todos nós nos voltamos para a escuridão. Os frutos agora estavam caindo tão rapidamente que pareciam trovões distantes. Parecia que a escuridão além de nossa pequena área estava ficando ainda mais densa, se é que isso era possível. Olhei para a velha águia, e nós dois soubemos que tínhamos de fazer alguma coisa logo. Vir-me-ei para o casal e disse: "Por mais maravilhoso que tenha sido conhecer vocês, e vocês terem se reconciliado com meus amigos aqui, não temos muito tempo. Precisamos tentar destruir a raiz dessa árvore logo; do contrário, a cidade estará perdida." "Por favor, não nos deixe." — gritou a mulher, cujo clamor foi rapidamente seguido por muitos outros. "Você nos trouxe essa esperança de novo e a visão. Precisamos de você e das águias." Olhei para a velha águia e percebi que estávamos pensando a mesma coisa. Se deixássemos essas pessoas, a horda que estava atém da luz viria, arrastando todas elas. Elas estavam quase subjugadas quando aparecemos e não resistiriam por muito tempo após nossa partida. "O que podemos fazer por elas?" — perguntei à águia. "Se não chegarmos à raiz dessa árvore para cortá-la logo, essas e todas as outras pessoas desta cidade que estão lutando serão destruídas. Temos de seguir em frente, mas podemos ajudá-las. Reúna todos os seus líderes, rápido!" — a águia ordenou ao casal. Enquanto os líderes do grupo se reuniam, o homem e a mulher, a quem me dirigi primeiro, chamaram-me à parte e começaram a me advertir. "Você não conseguirá chegar à raiz da árvore. Há alguns anos, podíamos andar livremente por esta cidade. Até aqueles que nos odiavam tratavam-nos com um pouco de respeito. Mas, agora, todos eles estão tentando obrigar-nos a comer do fruto da árvore ou matar-nos." "Havia muitas outras congregações nesta cidade como a nossa, algumas com milhares de pessoas. Havia movimentos sediados aqui com congregações por todas as partes do mundo. Agora, somos os únicos. "Se você ficar conosco, poderemos resistir, poderemos até recuperar parte do território e continuar a ser uma luz para esta cidade até que o Senhor volte. Se partir, você perecerá e nós também, e não haverá nenhuma testemunha nesta cidade." "Vocês têm certeza de que são a única congregação que restou na cidade?" — perguntei. "Absoluta. Éramos, na verdade, uma das maiores e mais fortes igrejas na cidade. Fomos reduzidos a isso. Por essa razão, não acho que tenham restado outras. Se restassem outras, teríamos, pelo menos, ouvido falar de sua batalha. Não ouvimos nada já faz um bom tempo e não contamos com mais ninguém de qualquer um dos outros grupos há muito tempo." "Devemos ser todos os que restaram nesta cidade". — disse a mulher. "As outras igrejas costumavam nos irritar, mas agora daríamos qualquer coisa para saber que existiam outras, acredite. Não achamos que elas existam agora." "Vamos ver o que a velha águia tem em mente" — respondi. "Conheço muito bem as águias agora, e elas não se darão bem se permanecerem em um lugar como este, lutando atrás de uma trincheira. Elas se tornariam pombos ou pior do que isso se tivessem de fazer algo dessa natureza. Se não puderem voar, não serão nem um pouco úteis para vocês e talvez não passem de outro problema, o que, com certeza, vocês não precisam neste momento." "Então, deixe que elas vão e ataquem a raiz da árvore, e você fica conosco" - a mulher disse. Pensei no caso. Enquanto olhava para a escuridão, não era muito atraente a idéia de ir lá para o meio dela novamente. Também sabia que as águias não poderiam ir muito longe sem a luz e a espada que estavam em minhas mãos. Não parecia haver solução. "Não posso deixar as águias irem sozinhas" comecei a explicar. "Elas não teriam êxito. Descobri, há muito tempo, que não posso ir muito longe sem elas e, a despeito dos problemas que às vezes elas são, não quero mais estar em algum lugar onde elas não estejam por perto. Presumo que as águias e eu formamos uma bela parceria." "Você tem razão" — o homem disse. "Depende das águias." "Sinto muito por tentar separar-te delas" — a mulher também disse de um modo muito sincero. Vir-me-ei para a velha águia, curioso por saber se ela teria alguma solução para nosso dilema. Quando o casal virou-se para ela, obviamente querendo saber o que achava, ela começou a falar. "Só há uma solução" — disse. "Todos devemos lutar juntos até chegarmos à raiz da árvore e a destruirmos." No mesmo instante, percebi que isso era prudente, mas não esperava que um pequeno grupo se saísse bem. Como era de esperar, alguns imediatamente começaram a protestar. "Lutamos por este território já faz muitos anos" — um homem falou sem pensar. "Não espera que deixemos tudo para trás para seguir você e as águias, espera?" Houve silêncio por alguns instantes, uma vez que todos pareciam pensar nisso. Então, uma das jovens águias interveio. "Quando vimos a luta em que vocês estavam envolvidos, nunca vi tamanha coragem. Posso entender como se sentem. Vocês têm lutado por muito tempo e a duras penas. Obviamente, perderam muitos para defendê-la. Eu não os culpo por não quererem partir." "No entanto, diante do que podemos ver, vocês não sobreviveriam a outro ataque da horda do mal que os está cercando neste momento, sem falar nessa árvore que não para de crescer. Tampouco restaram muitas de suas trincheiras. Não acho que algum de nós tenha outra escolha senão seguir em frente. A nossa única esperança é cravar um machado na raiz dessa árvore." A velha águia então continuou: "É verdade. Vocês não mais teriam resistido se não tivéssemos aparecido, e não poderíamos ir muito longe sem certa ajuda. Parece que o Senhor nos uniu neste momento. Precisamos uns dos outros, e, ao que parece, só há uma opção possível quanto ao que devemos fazer." "Sem dúvida, você está certa" — o Líder finalmente disse. "Deixar este lugar para trás vai ser a coisa mais difícil que já fizemos. Pagamos um preço muito alto por ele, mas é óbvio que devemos lutar agora por algo maior do que o nosso pequeno espaço. Devemos lutar pela cidade inteira e atacar a raiz dessa árvore; do contrário, não teremos chance de sobreviver. Deixaremos o nosso pequeno espaço para seguir você e as águias." CAPÍTULO 10 ESTRATÉGIA Todos então se voltaram para mim. Por fim, a velha á g u i a f a l o u : " Q u a l é o s e u p l a n o ? " "Por favor, dê-me alguns minutos" — eu disse, retirando-me para orar e buscar sabedoria. Não conseguia parar de pensar na ironia dessa situação. Eu havia sido a principal causa dessa desgraça, contudo era eu quem deveria ter o plano para vencê- la. Também não conseguia parar de pensar em todas as congregações que haviam sido destruídas nesta cidade, e nas pessoas perdidas, por causa de minha imaturidade e insensatez no uso das armas que me foram dadas. Fiquei furioso comigo mesmo, mas também queria bater na velha águia. Queria perguntar-lhe por que ela não aparecera com um plano, já que era velha, sábia e experiente. Por fim, tive paz. Percebi que esse não era o momento para brigas e que uma afirmação como essa só semearia dúvida em todos, e eles não precisavam mais disso. Sussurrei uma rápida oração pedindo ajuda e depois comecei a falar. "Preciso conhecer seus líderes e todas as capacidades que eles têm" — eu disse ao homem e à mulher que lideravam o pequeno bando. "Quero que eles formem grupos de acordo com suas armas e habilidades e apontarei, pelo menos, uma águia para cada um, que servirá como olheiro. Marcha- remos e lutaremos juntos, mas precisamos nos organizar. Nossa unidade e organização ajudarão a rechaçar essa multidão desordenada." Então, voltei-me para a velha águia: "Coloque os seus melhores batedores lá no alto imediatamente e faça com que encontrem a parte mais fraca da multidão à qual, segundo eles, poderemos avançar, e depois o caminho mais curto daquele ponto até a raiz da árvore." "Certo" — ela respondeu e, logo em seguida, começou a despachar os batedores. "Por favor, tragam-me as informações de que preciso assim que as tiverem" — eu disse à velha águia ao homem e à mulher. "Gostaríamos que essa águia madura viesse conosco para nos ajudar a definir nossas armas e pontos fortes" — pediu a mulher, olhando, de certa forma, para mim e, em parte, para a águia. "É uma idéia muito boa" — respondi, e a velha águia concordou, acompanhando-os. Então, fui me sentar para pensar e orar. Quando me sentei, o peso daquilo que eu havia causado caiu sobre mim. Não pude conter a tristeza por todas as grandes igrejas que haviam sido destruídas nesta cidade que, outrora, era conhecida por sua cultura e império e que, agora, era mais conhecida pelo mau cheiro dessa árvore podre e de seus frutos. As multidões pensavam que os frutos eram bons e vinham de todas as partes do mundo para comer aquilo que, na verdade, as estava matando. Então, ocorreu- me que, se conseguíssemos cortar a árvore na raiz, essas pessoas pensariam que as havíamos privado de sua fonte de alimentação. "Você precisa dar-lhes o que comer" — disse uma voz que veio de trás de mim. Quando me virei para ver quem era, fiquei surpreso. "O que você está fazendo aqui?" — perguntei à garotinha do vale. "Eu vinha pelejando com essas pessoas." "Como você conseguiu chegar aqui?" — perguntei, ainda surpreso em vê-la. "Não acho que você me conheça" — ela respondeu. "Entendo que há muitos que se parecem comigo em outros lugares. Você deve estar me confundindo com um deles." "A sua semelhança é fora do comum, se você não for a mesma pessoa em quem estou pensando. Olhando para você mais de perto, posso dizer que há uma pequena diferença, mas vocês devem ser irmãs, se não forem gêmeas. E como sabia o que eu estava pensando?" "Algumas pessoas pensam mais alto do que outras. Às vezes consigo ouvir os seus pensamentos. Tenho esse dom para poder ajudá-las." "Entendo, mas você não só ouviu meus pensamentos, mas também me disse o que fazer. Onde conseguiu isso? Como eu poderia dar de comer a essas pessoas?" "Meu dom é conhecer as pessoas segundo o Espírito, e não segundo as aparências. Esse dom surgiu em mim quando comecei a prestar atenção nas águias_ Essa é uma das coisas que elas melhor sabem fazer — despertar os dons que estão nos outros." "Como você conseguiu fazer isso, uma vez que todos aqui se sentem tão ofendidos por elas?" "Tive de fazê-lo às escondidas, mas foi preciso. A maioria dos mais jovens aqui também aprendeu com as águias. Elas nos ensinaram a ouvir a voz do Senhor. Foi o Senhor quem me ordenou a lhe dizer o que acabei de expressar." "Você parece muito segura disso para alguém tão jovem" - respondi. "Pode me contar mais coisas?" "Eu realmente não entendo o que disse a você, ou como você poderia alimentar aquelas pessoas, mas sei que foi o Senhor quem me mandou dizê-lo. Uma das primeiras coisas que as águias ensinam é que você não precisa entender para obedecer, mas que, depois de obedecer, começará a entender" — respondeu a garotinha com uma atitude desarmada de confiança e humildade. "Enquanto olho para você, vejo que você é um mestre e um pastor" — ela continuou. "Cabe a você dar às ovelhas o alimento no tempo certo. O Senhor ordenou- me- a dizer o que disse a você porque aquelas pessoas devem ser ovelhas dEle também. Elas ainda não sabem disso. Acho que seria útil para nós se olhássemos para todos dessa forma. Não será ferindo aquelas pessoas que venceremos essa peleja, mas ajudando-as." "Você é incrível. O que mais pode me dizer para me ajudar?" - perguntei, sentindo que ela naturalmente era alguém que falava pelo Senhor. "Posso lhe dizer que a maioria daqueles que têm muitos dons, e são eficientes tanto para pelejar quanto para esquivar-se do mal, é muito jovem. Se os nossos lí- deres tivessem reconhecido isso, não estaríamos em um número tão pequeno, mas teríamos muitos milhares." "Se as congregações que desapareceram tivessem entendido isso, não teriam perecido. Creio que estou aqui para lhe dizer que, se escolher os seus líderes de acordo com a unção e os dons que eles têm, e não por causa da idade ou da aparência, você terá êxito." Eu soube naquele instante que essa era a Palavra do Senhor. "Por favor, vá, encontre e traga até mim o homem e a mulher que são seus líderes, bem como a velha águia" — pedi. Assim que eles apareceram, pude dizer que não estava sendo muito fácil identificar as armas e os pontos fortes das pessoas que restaram. "Então, vocês estão tendo dificuldade para entrar em um acordo" — eu disse, expressando o óbvio. "Sim" — respondeu o homem. "Aprecio a sabedoria e o dom de uma águia tão madura, mas ela não conhece essas pessoas como eu. Estou com elas há muitos anos. Sei que algumas das coisas que ela diz a respeito delas são o oposto do modo como realmente são. Estamos tendo dificuldade para chegar a um acordo com relação a quase todos." "O que você diz?" - perguntei à velha águia. "É verdade. Não acho que tenhamos concordado com relação a alguém." "Senhor" — eu disse ao homem — "a principal razão por que sua congregação ficou tão pequena não é a batalha na qual vocês estão engajados, mas porque você não discerniu os dons e os chamados das pessoas." Isso não só atordoou o homem, mas, evidentemente, o deixou ofendido. Esperei um minuto antes de continuar. "Houve uma época em que você conseguiu reunir grandes multidões. Você fez isso de inúmeras formas que funcionaram, mas os tempos mudaram, mas você não. Você é um grande líder e lutou bravamente pela verdade com uma notável persistência, mas os únicos que conseguem sobreviver e prevalecer nessa batalha são aqueles que investem o mesmo tempo que passam liderando, preparando outros líderes. Este foi o seu ponto fraco e o dos outros: aqueles que você considera líderes também são fracos." Eu podia dizer que o homem agora se sentia mais ofendido e com vontade de discutir, mas se conteve. Ele havia sido tão humilhado pelas contínuas derrotas, e agora mostrava-se tão desesperado, que estava disposto a considerar que havia errado em algumas coisas, talvez até errado muito em sua abordagem para a batalha e a liderança de seu povo. Enquanto eu o observava acalmar- se, continuei: "Senhor, por favor, não pense que estou dizendo que não fez nada certo. Sua coragem e resistência serão os alicerces sobre os quais qualquer vitória futura será edificada. No entanto, acho que precisa admitir que algo muito fundamental não está funcionando. É óbvio que é preciso haver uma mudança no modo como as coisas são feitas; do contrário, teremos os mesmos resultados. Há uma razão por que o senhor precisa das águias. Devemos descobrir os verdadeiros líderes e levantá-los logo." "Eu sei que você está certo" — o homem finalmente disse. "Fui um fracasso nisso, e agora posso ver que foi por essa razão que perdemos tantas batalhas e pessoas. Eu simplesmente não conseguia enxergar isso. Acho que foi por causa disso que precisei das águias, para ver o que eu não poderia fazer sozinho. Farei tudo o que você disser. Sei que é preciso haver uma mudança, e ela, sem dúvida, está ocorrendo. Espero que não seja muito tarde." "Novamente acho que você está provando ser um bom líder" - eu disse. "As águias podem ver, mas elas não são boas para liderar. Vocês realmente precisam uns dos outros. O fato de você ter a humildade para reconhecer isso irá incentivar o seu povo, e não desanimá-lo." "E não acho que seja tarde; do contrário, não estaríamos aqui. Descobri que, quando algo parece impossível, o Senhor está prestes a se mover. Definitiva- mente demos a Ele uma boa oportunidade para isso agora. Precisamos da estratégia certa; porém, mais do que isso, necessitamos dEle, de Sua graça e de Seu favor. Ele dá graça aos humildes, e precisamos ter isso em mente. Provavelmente, você seja, de fato, o mais humilde aqui. Agora deve continuar a liderar o seu povo, mas nós o ajudaremos." "Realmente posso ver o quanto perdi por não reconhecer os dons das pessoas e por não deixar que elas crescessem ao usá-los" — respondeu o homem — "Também não reconheci a liderança que foi dada aos outros. Confesso que eu os via como uma ameaça. "No passado, eram os que tinham dons que causavam os problemas e as dissensões. Era difícil dar-lhes muita influência ao deixá-los assumir parte da liderança. É óbvio, no entanto, que fracassei ainda mais por não deixá-los crescer." "Senhor, se soubesse quão terrível foi o meu fracasso, e o tipo de problema que minha falta de sabedoria e imaturidade causaram, acho que todos os problemas que o senhor ou as jovens águias causaram seriam leves" — respondi. "É óbvio que todos fracassamos em alguns aspectos primordiais, mas descobri que muitas vezes o que nos desqualifica aos olhos das pessoas é o mesmo que nos qualifica pela graça de Deus." "Ao que parece, somos tudo o que Ele tem aqui, e Ele obviamente ainda gosta de usar os tolos e os fracos para confundir os sábios e os fortes. A nossa fraqueza e insensatez são o que, a meu ver, nos prendem aqui. Mas eu também sei que Ele não quer que permaneçamos fracos e insensatos, mas humildes o suficiente para ver Sua sabedoria e Sua força." "Você disse bem, mas agora precisamos do plano" — a velha águia interveio. "Você sabe como vamos romper e atacar a raiz da árvore? Não temos mais tempo para olhar para o passado." "Tenho um plano" — respondi. "Primeiro, precisamos encontrar os verdadeiros lideres e as armas eficientes que temos entre nós. Devemos, então, observar um local onde poderemos avançar e seguir até a raiz da árvore, sem distração. Agora vão e encontrem os dons e os lideres que estão nesse grupo." Olhando para o homem, eu disse: "Confie nesta velha águia e nessa garotinha" — e fiz a atenção deles se voltar para a garota. "Ela tem o dom de que vocês precisam." O homem e a mulher levantaram as sobrancelhas quando mencionei o dom da garotinha. É óbvio que começaram a protestar e, depois, simplesmente disseram: "Tudo bem". Com isso, todos eles se foram. Logo depois, as águias batedoras começaram a pousar e a trazer noticias. À medida que faziam isso, comecei a pensar que havia sido uma péssima ideia tê-las enviado sem a velha águia. Elas voltaram com notícias aparentemente divergentes. Rapidamente resolvi atender uma a uma, em particular. Não demorou muito e ficou claro que cada uma delas havia visto uma parte da situação como um todo, mas, como ainda eram muito jovens, tinham a tendência de pensar que a sua parte descrevia toda a situação. Percebi que todas as suas informações provavelmente eram valiosas; só precisavam ser reunidas adequadamente para que tivéssemos a descrição da realidade como um todo. Para meu desânimo, depois de ouvir todas as notícias trazidas pelas águias, ainda senti que tinha uma descrição bastante incompleta da situação. Devia 144 A ESPADA E A TOCHA haver alguma coisa que não "Você não sabe o que fazer, não é?" — a garotinhaestávamos vendo, uma vez que eu não podia acreditar que nossa situação estivesse completamente perguntou ao mesmo tempo que afirmava. perdida. Não só estávamos completamente cercados por "Eu certamente poderia receber uma palavra multidões, sem pontos do Senhor agora. Você tem uma palavra para mim?" aparentemente fracos em suas' — perguntei. linhas, mas outros milhares estavam se juntando a elas de todas "Acho que precisamos discernir os dons e os as direções. Sua confiança estava chama- dos que o Senhor nos tem dado, e seguir com a força que aumentando, e eles logo viriam "Bem, talvez. Sei que não importa quem está lá fora, para liquidar o pequeno bando, e a Ele nos tem dado, em vez de tentarmos identificar os pon- tos fracos do inimigo." nós, que estávamos com ele. mas o que importa é Quem está conosco." Então, comecei a questionar algumas informações "É verdade." — afirmei. "Você tem mais alguma "Bom! Acho que já temos o quadro completo da situação" -divergentes que os batedores coisa a dizer?" respondi. haviam trazido. Um deles vira uma parte da linha como o ponto mais forte, enquanto outro a enxergara "O que você quer dizer?" - perguntou minha amiguinha. corno o mais fraco. Enquanto "Explicarei isso a você depois que estivermos des-pensava nisso, sentado, ouvi cansando novamente a voz na pilha de de que lenha minha pequena faremos amiga árvore" daquela atrás de mim. — respondi. Você não sabe o que fazer, não é?" — a garotinha perguntou ao mesmo tempo que afirmava."Eu certamente poderia receber uma palavra do Senhor agora. Você tem uma palavra para mim?" — perguntei. "Bem, talvez. Sei que não importa quem está lá fora, mas o que importa é Quem está conosco." "É verdade." — afirmei. "Você tem mais alguma coisa a dizer?" “acho que precisamos discernir os dons e os chamados que o Senhor nos tem dado, e seguir com a força que Ele nos tem dado, em vez de tentarmos identificar os pontos fracos do inimigo." "Bom! Acho que já temos o quadro completo da situação" - respondi. "O que você quer dizer?" - perguntou minha amiguinha."Explicarei isso a você depois que estivermos descansando na pilha de lenha que faremos daquela árvore" — respondi. CAPÍTULO 11 A BATALHA Como eu havia suspeitado, constatou-se que alguns dos dons mais poderosos foram encontrados nos mais jovens. Alguns já haviam aprendido a lutar muito bem, usando seus dons como armas. Faltava-lhes treinamento, o que era compensado por sua extraordinária fé. Os jovens não pareciam ter dúvida alguma quanto a vencer a batalha ou cortar a árvore. Eu sabia que o restante de nós tinha uma fé muito pequena de que podería- mos conseguir isso. Estávamos saindo para lutar porque não tínhamos mais outra opção. Conseqüentemente, decidi colocar algumas das crianças e das águias em cada grupo de adultos e lutar com eles lado a lado. Para mim, suas principais qualidades de liderança nesse momento seriam ousadia e coragem, o que realmente precisávamos. As principais palavras que eu havia recebido para a batalha se resumiam em tomar decisões com base nos nossos pontos fortes, e não nos do inimigo. Além disso, não poderíamos nos distrair do nosso principal objetivo: cortar a árvore. A espada e a tocha eram a nossa força, e era eu quem as carregava, por isso, sabia que tinha de ir na frente. Eu não queria hesitar. Assim, uma vez formados os regimentos, oramos, agradecendo ao Senhor todas as grandes coisas que Ele já havia feito por nós, pedindo-Lhe que sempre nos conduzisse em Seu triunfo. Então, com a determinação de continuarmos a expressar ações de graças e louvor em nosso coração, começamos a marchar. Eu balançava a espada como o rotor de um helicóptero acima de minha cabeça. Também segurava a tocha o mais alto possível. Estava impressionado com o vento que estava sendo criado e sabia que minha espada não poderia gerar tudo aquilo. Olhei para os grupos em marcha que estavam logo atrás de mim, e todos estavam com suas espadas desembainhadas e fazendo a mesma coisa que eu. Muitas das espadas dos adultos estavam tascadas e danificadas, e algumas até quebradas, mas tinham um brilho que emitia uma grande luz. Era óbvio agora que essas espadas estavam vivas e que pareciam tornar-se ainda mais vivas com os movimentos. Quanto mais seus portadores as balançavam, mais brilhantes ficavam. A luz que vinha de todo o grupo balançando suas espadas logo tornou-se espetacular. Enquanto fazíamos isso, eu tinha certeza de que não haveria trevas em que ela não pudesse penetrar. O vento que estava sendo criado afastava de nós o mau cheiro dos frutos podres. O ar à nossa volta ficou limpo e fresco. Sair de trás das trincheiras foi uma atitude que contribuiu para liberar uma poderosa força espiritual, e era nítido que todos a estavam sentindo. A cada passo, a luz e o vento pareciam aumentar, bem como a nossa fé. Comecei a pensar que eu não teria mais confiança se estivesse liderando um exército de centenas de milhares. Sabia que esse pequeno grupo de pessoas tinha poder para fazer tudo aquilo que precisávamos. As águias começaram a voar sobre nós assim que iniciamos a marcha. À medida que o vento aumentava, elas subiam cada vez mais. Depois de termos percorrido uma boa distância, fiquei surpreso ao ver que ainda não tínhamos nos deparado com a multidão enfurecida que vinha cercando o pequeno grupo. Também fiquei surpreso ao ver que nenhum fruto do mal havia caído sobre nós dos galhos da árvore sob a qual estávamos marchando. Eu sabia que esses frutos eram tão grandes e tóxicos que seriam fatais caso acertassem diretamente qualquer um de nós. No entanto, não havia evidência de que algum desses frutos houvesse caído re- centemente em algum ponto de nosso caminho. Havia somente alguns montões, aqui e ali, de algo parecido com um tipo de pá, que o vento estava Levando. Fiz sinal para uma das águias descer e trazer notícias do que ela estava vendo. A águia disse que a horda do mal fugira apavorada no momento em que havíamos começado a marchar. Posso imaginar o tipo de impacto que foi para eles ver este grupo surgir das trincheiras com tamanha luz e poder. Mesmo assim, não pude imaginá-los deixando de se reagruparem e nos atacarem com o que podiam. No entanto, eles fugiram para tão longe que as águias não conseguiram mais vê-los. Então, pedi várias vezes que algumas delas voassem o mais distante possível à nossa frente, e para os lados, enquanto respiravam o ar fresco. Quando voltaram, suas notícias foram ainda mais surpreendentes. A atmosfera que estávamos criando estava matando os galhos da árvore e secando seus frutos. Isso explicava por que nenhum deles havia caído sobre nós. O mais incrível era até onde se espalhava essa atmosfera.Pudemos percorrer, sem nenhum perigo, todo o caminho que levava à raiz da árvore. Lá para os lados, a horda do mal havia se reunido fora do alcance do ar fresco, mas parecia estar de pé, estonteada e simplesmente movendo-se em círculos. Nem parecia que as pessoas estavam comendo mais dos frutos tóxicos, e todas pareciam ter a mesma aparência de quem está confuso, fraco e faminto. Reuni os líderes do pequeno grupo e expliquei o que estava acontecendo. Eu sabia que tínhamos de marchar mais rápido para destruir a raiz dessa árvore. Eles concordaram. Todos começamos a correr, e pudemos fazê-lo como o vento, sem ficarmos cansados. Não sei se já havia sentido tal alegria. Quando chegamos à raiz da árvore, foi difícil para todos conter a alegria. Mesmo não tendo nós, de fato, enfrentado o inimigo no combate, eu me perguntava se já havia um encargo mais maravilhoso ou um exército mais nobre, enquanto olhava para o rosto dos combatentes de nosso pequeno grupo. O tronco da árvore era tão grande que todos tivemos de estender os braços um ao lado do outro para cerca- to. Enquanto fazíamos isso, continuamos a balançar nossas espadas. Em seguida, ao mesmo tempo, todos cravamos as espadas no tronco da árvore, e ela logo morreu. Suas folhas começaram a cair como neve. Os frutos nos galhos estavam longe da direção de que havíamos vindo e secaram rapidamente. O pó desses frutos criava uma grande nuvem enquanto era levado pelo vento. Então, todos passamos a cortar o tronco da árvore até ela começar a vir ao chão. Depois, alguns começaram a cortá-la. Outros foram atrás das raízes e dos tocos. Não paramos até que só restassem serragem e lenha. No lugar onde estava o enorme tronco ficou uma grande cratera, mas eles a fecharam, e logo o local ficou parecendo um jardim recém-arado. Eu sabia o que tinha de fazer. Plantei a tocha bem no lugar onde essa grande árvore estava. Ela criou raízes no mesmo instante. Começou a florescer diante dos nossos olhos. Em seguida, apareceram os frutos. Então, reuni todo o povo, e a velha águia começou a falar conosco. "Essa vitória merece uma grande comemoração. Mas não temos tempo para isso agora. Todavia, uma história precisa ser contada para que compreendamos plenamente o que aconteceu aqui." Ela então olhou para mim, e eu soube o que tinha de fazer. "Esta catástrofe aconteceu porque usei minha espada para cortar uma árvore pequena e não plantei uma árvore de vida em seu lugar. O Rei mostrou misericórdia para comigo ao permitir que eu visse o meu grande erro corrigido. Isso agora se cumpriu, e os frutos da Árvore da Vida já estão crescendo no lugar onde prevalecia a morte. Com isso, podemos lembrar-nos de que a vida é mais forte do que a morte." "A atmosfera espiritual de boa parte desta cidade foi transformada agora. Nos lugares distantes dela, estão multidões de famintos que agora se acham prontos para comer dos frutos dessa árvore. Vocês devem levá-los para eles. Haverá muitas igrejas maravilhosas aqui, sendo todas elas fortalezas da verdade e da vida. Vocês devem lembrar-se de que todos são um." A velha águia novamente interveio: "Teremos a eternidade para celebrar nossas vitórias aqui. Haverá um grande memorial no Céu para essa vitória. Vocês aprenderam o mesmo que muitos dos que vieram antes de vocês: que um pode colocar mil para correr, e dois podem colocar 10 mil para fugir (ver Dt 32.30). Agora vocês aprenderão que um pode reunir mil, e dois de vocês juntos podem reunir 10 mil." "Vocês estão para fazer uma grande colheita aqui. Logo, multidões de todas as partes do mundo também virão até vocês. Virão por causa da luz, do ar fresco espiritual que existe aqui e dos frutos dessa árvore. Não estarão aqui por sua ou por minha causa. Não fizemos nada hoje senão crer e obedecer, e, para muitos de nós, só fizemos isso porque não havia outra opção. Não sejamos arrogantes, mas tornemo-nos humildes por causa do que aconteceu aqui." "Mesmo assim, cada um de vocês deverá conduzir muitos agora. Vocês devem conduzi-los até aqui para que comam desse fruto. Devem dar-lhes espadas e ensinar- lhes o poder delas. Vocês só os terão conduzido bem quando eles também se tornarem lideres. Desse modo, a vitória continuará a se multiplicar. Sempre se lembrem do que acontece quando vocês começam a Levantar trincheiras para se esconderem por detrás delas. Agora vão e façam discípulos das grandes multidões que estão vagando por esta cidade. Elas agora ouvirão o chamado." CAPÍTULO 12 A CAPA Novamente acordei em meu quarto de hotel. Por mais que soubesse que havia tido uma visão, tudo par ecia m uit o real. Eu q uer ia im ediat ament e r e gistrar tudo para não me esquecer. Ainda chovia e es- tava sombrio lá fora, mas me sentia revigorado, como se ainda fosse capaz de respirar parte da atmosfera do céu. Então, de repente, me vi sentado em um enorme cavalo branco. Parecia ser aquele que eu havia encontrado no vate com a garotinha. Mesmo assim, ele parecia extremamente grande para mim. Eu estava muito acima do chão para ser aquele um cavalo de tamanho normal. Então, notei que o Senhor estava a meu lado. "Agora você encontrou seu assento" — Ele observou. Quando Ele disse isso, olhei para a sela. Era uma sela de estilo ocidental. Parecia de couro, de uma forte cor púrpura que chegava a ser quase preta. Tinha uma borda dourada e parecia ajustar-se perfeitamente a mim e era tão confortável quanto uma cadeira antiga. "Senhor, a sela é perfeita" — eu disse. Eu estava curioso para saber como conseguiria subir e descer do cavalo, já que ele era tão alto. Então, quando olhei para as patas do cavalo, vi que elas não es- tavam tocando o chão, mas que estávamos flutuando no ar a vários metros de altura. "Esse cavalo não é um cavalo comum" — o Senhor continuou. - "Ele pode levantar você acima do chão. Quando estiver nesse cavalo, sua jornada não terá de seguir o contorno da Terra, mas você poderá levantar-se acima de qualquer condição terrena." "Senhor, esse é o mesmo cavalo que vi com a garotinha no vale?" "Sim, é o mesmo e faz parte de sua missão. É em um deles que montarei quando voltar, um que me foi dado por meu Pai. Eles são dados àqueles que estão preparando caminho para a minha volta." "Muitos já montaram nele no passado, e muitos ainda montarão nele no seu tempo. Essa é a missão que lhe foi dada lá. Quando você aprender a montar, então deverá ensinar outros a montar em seus cavalos." Pensei na garotinha no vale e naquela que havia lutado conosco para matar a árvore do mal. Elas já eram grandes guerreiras e muito inteligentes para a idade que tinham. Se existissem muitos iguais a elas, logo seriam a maior força espiritual que o mundo já conheceu. Eu também sabia que esse cavalo era capaz de fazer maravilhas que eu jamais poderia imaginar. Perguntava-me como seria um exército de crianças se todas tivessem cavalos como esse. "Você vive nos dias das grandes maravilhas" — o Senhor disse segurando as rédeas do cavalo em Sua mão e começando a andar. "O Céu é um lugar de constantes milagres e temor, e aqueles que estou para enviar levarão muitas dessas maravilhas para a Terra. As crianças que você irá conhecer são por sinais e maravilhas. Elas logo sairão para cumprir minha Ultima missão antes de minha volta." Quando havíamos percorrido alguns metros, entramos em um grande corredor. Havia uma longa fila. Assim que chegamos no meio do corredor, paramos, e todas as pessoas se juntaram na nossa frente. "Estes são aqueles que ajudaram a prepará-lo para o seu objetivo. Você aprendeu com seus ensinos ou com suas histórias. Eles são suas testemunhas. Você os está representando, assim como aqueles que você ajuda a preparar irão representá-lo também. Todos somos um no grande propósito do Pai: a restauração do homem e da Terra ao Seu propósito." Enquanto eu estava sentado no cavalo, cada uma dessas pessoas aproximava- se do Senhor e se curvava. Em seguida, cada uma olhava nos meus olhos e me entregava uma palavra, como "Seja forte", "Seja destemido", "Seja amável", "Ame o seu próximo" e "Siga o Rei". Isso continuou por um tempo que deve ter sido de várias horas, mas eu gostaria que tivesse durado muito mais. Eu sentia uma ligação e uma revelação especial enquanto olhava para elas, e elas falavam comigo. Algumas delas reconheci claramente, mas, quanto às outras, não tinha idéia de quem eram. No entanto, ainda, de algum modo, as conhecia. Eu, sobretudo, as observava enquanto elas se aproximavam do Senhor. Era óbvio que todas eram Seus amigos especiais e amigos entre si. Era uma experiência gloriosa estar com elas e ser objeto de seus comentários. Eu tinha um anseio no coração de ser uma delas. Havia uma nobreza e uma graça muito além da mera elegância humana. Quando veio a última pessoa da comitiva, o Senhor virou-se para mim e disse: "Em breve, você se juntará a elas, mas, primeiro, tem um trabalho a fazer. Elas não são completas sem você. Nem você é completo sem elas. Isso também se aplica àqueles que deverão ser chamados por seu intermédio e aos mensageiros de sua época. As palavras dessas pessoas irão ajudá-lo a continuar no caminho que foi escolhido para você. Você também pode entregar essas palavras aos outros para mantê-los no caminho. Todos aqueles que têm vida vieram de mim." Então duas das pessoas se aproximaram com uma grande capa púrpura que tinha o mesmo tipo de borda dourada que a sela. Elas a entregaram ao Senhor. Ele a examinou e, então, a colocou sobre mim, apertando o fecho na frente. Ela era tão grande que não só cobria o meu corpo, mas todo o cavalo. Olhei para a multidão ao redor e, novamente, para a capa. Fiquei surpreso ao ver que sua cor agora era vermelho-claro. Ao fechar e abrir meus olhos, ela se transformou no azul mais maravilhoso que já vi. Fechei e abri os olhos novamente, e ela havia se transformado em um branco puro. Todas essas cores tinham a mesma borda dourada. "Essa é a sua capa" — o Senhor disse. — "Ela cobrirá você e sua missão. Somente aqui você a pode ver como a vê agora. No campo da Terra, ela parece ser diferente. Lá, ela é muito simples. É isso que protege o seu coração e a sua missão. Enquanto você a usar, andará na minha graça e autoridade. Lembre-se desse manto como ele realmente é. Ele o protegerá da frieza dos maus tempos pelos quais você passará." Então o Senhor fez um sinal para que eu descesse do cavalo, o qual se ajoelhou para que eu pudesse fazê-lo. Eu sabia que também deveria me ajoelhar, e foi o que fiz. O Senhor passou-me as rédeas, enquanto eu estava ajoelhado ao lado do cavalo. Então, Ele despejou óleo sobre a minha cabeça e começou a esfregá-lo nos meus cabelos como se fosse um xampu. "Este é o óleo da unidade" — Ele disse enquanto continuava a esfregá-lo. Enquanto fazia isso, eu sentia o óleo penetrar em minha mente. Paz e clareza assumiram o lugar de meus pensamentos tempestuosos e comuns, que, muitas vezes, pareciam fugir do meu controle. Então, senti uma sensação que havia sentido algumas vezes antes que me fazia amar tudo o que eu via de maneira profunda. De todas as experiências gloriosas que eu havia recebido na esfera celestial, esse amor foi realmente a coisa mais maravilhosa. Eu não queria que o Senhor parasse até que esse amor penetrasse cada célula do meu ser. Desesperado, queria continuar com essa sensação. Então, o Senhor parou, bem antes de eu estar pronto. "Este óleo da unidade é a unção" — o Senhor começou a dizer enquanto me colocava em pé para olhar nos meus olhos. "O que eu lhe dei, dou a todo o meu povo. Derramo minha unção sobre cada um para purificar sua mente. No entanto, nos lugares pelos quais você andará na Terra, haverá muito pá e sujeira, que serão lançados em você a cada dia. Você precisa aprender a vir até mim para ser purificado novamente toda vez que sua mente tiver se contaminado." "À medida que fizer isso, você não conseguirá deixar a imundícia deste mundo em sua mente, mas amará a pureza e a visão clara que só vêm por meio dessa unção do Espírito Santo." "A santidade é a natureza do Céu, e ela deve ser seu objeto de devoção. A verdadeira santidade é o verdadeiro amor, e este não pode surgir sem aquela. A verdadeira santidade sempre o leva a amar, e não a condenar. Você pode vir a mim sempre que quiser ter esse óleo. À medida que usá-lo e tocar os outros, eles também terão o desejo de ser Limpos." CAPÍTULO 13 O CONSELHO É CONVOCADO De repente, me vi no vale novamente. A linda garotinha ainda estava lá, lutando. Ela est ava ma chucada, sangrando e muito suja. Mesmo assim, quando olhou para mim, pude ver que seus olhos estavam tão cheios do espírito de luta e de determinação como quando a deixei. Olhei para o meu manto, agora um simples e humilde pano marrom. Sob ele, vi o brilho de uma armadura. Eu tinha a espada e um frasco, que continha o óleo. Despejei parte do óleo na bainha de meu manto e comecei a lavar o rosto da garotinha. Ela olhou no fundo dos meus olhos com uma seriedade incomum a uma criança. "Eles estão vindo mais rápido agora." — ela começou — "Estão avançando mais do que antes porque não estão brigando mais entre si. Não sei se poderemos defender este vale por muito tempo sem ajuda." "A ajuda está chegando, mas preciso ensiná-la, primeiro, a montar o cavalo" — respondi. Depois de olhar para mim, ela olhou para o cavalo, que estava logo atrás de mim. "Você aprendeu a montá-lo?" — ela perguntou. "Não, eu só me sentei nele. Precisamos aprender juntos" — respondi. Os gritos da horda do mal aumentavam terrivelmente. Com isso, despejei o restante do meu óleo sobre a cabeça da menina. Olhei para o frasco que deveria estar vazio, mas ele estava cheio novamente. Continuei a despejar o óleo sobre ela até que pareceu estar limpa. Então, eu a coloquei sobre o cavalo e passei-lhe as rédeas. "Você terá de aprender a montar este cavalo no meio de uma batalha" — eu disse. "Então, eu me sentirei em casa" — ela respondeu. "Acho que nunca conheci uma época em minha vida sem batalha." Isso me tocou profundamente. Lamentei muito por essa menina que, embora jovem, já havia passado por tanta coisa. Pensei que ela talvez jamais tivesse conhecido a paz ou descansado de uma peleja em toda a sua vida. Senti um forte desejo de levá-la para um lugar onde pudesse ser uma criança, estar em uma família, brincar como uma menina. "Nem pense nisso." — disse uma voz aguda e familiar atrás de mim. Era a velha águia. Havia uma terrível ferocidade em seus olhos, que parecia ainda maior do que quando „estava na batalha. Também notei que a menina parecia conhecê-la, uma vez que ela não estava surpresa com sua presença, ou com o fato de a águia estar falando. "Há muitas crianças que são chamadas para uma vida de batalha neste mundo. É o destino delas, e você não deve privá-las disso. Aquelas que lutam aqui da maneira que ela está fazendo terão uma recompensa que poderão desfrutar na Eternidade, mas aqui ela tem de lutar." "Meus pensamentos foram tão impróprios?" — protestei. "Eu só estava sentindo um pouco de dó por ver alguém tão jovem passando por tanta coisa. Acho que eu não agüentaria isso se uma de minhas próprias filhas tivesse de passar pela mesma experiência. O que há de errado em me sentir assim por ela?" A nossa atenção voltou-se para os gritos da tropa do mal que agora estava avançando. Então, a velha águia olhou para mim com uma implacável ferocidade em seus olhos, da qual jamais me esquecerei, e continuou. "O poder que está nela é tão grande quanto o poder que está em você. A sabedoria e a fé para usar o poder que há nela têm sido, em alguns aspectos, maiores do que as suas. Você não agüentará por muito tempo na batalha sem ela, assim como ela também precisa de você. "Eis o meu conselho: não sinta pena dela. A auto piedade é um dos maiores inimigos dessa menina. Ela não poderá ser derrotada pelo inimigo se continuar a Lutar, mas, se ela se entregar à auto piedade, será desarmada e facilmente derrotada." A garotinha estendeu a mão e tocou em meu braço para dizer: "Ela está certa. Toda vez que começo a pensar em mim mesma dessa forma, começo a perder minha fé e minha coragem. Por favor, não sinta pena de mim. Sei que a mim foi dada a grande honra de lutar nas batalhas do Rei. Entreguei minha vida a Ele e, agora, devo viver somente para Ele, e não para mim mesma." "Eu sei que vocês duas estão certas" — admiti. "Certamente este não é o momento nem o lugar para o tipo de compaixão que estou sentindo" — eu disse, mesmo estando ainda um pouco irritado pela tempestade que estava sendo feita pelo fato de eu estar sentindo um pouco de pena de urna garotinha cicatrizada por batalhas. A águia não desistiu. "A auto piedade é o inimigo mortal da geração dessa garota. Não abra a porta para esse inimigo, mostrando piedade a essas crianças. Dê a elas esperança e coragem. Ensine-as a perseverar. Dê a elas o treinamento e as armas de que precisam, mas eu lhe aviso: nunca dê a elas piedade. Deve-se ter mais temor a essa mentalidade do que à horda do mal que está lá fora." "Sei que chegará uma época em que todas as crianças poderão brincar" — acrescentou a menina. "Elas poderão brincar em paz e segurança com todas as criaturas. Então, o amor, a alegria e a paz serão a habitação feliz de todos. Vi isso nos meus sonhos, e o li nas Escrituras. Estou lutando para que esse dia chegue. Minha recompensa será vê-lo chegar. Essa esperança é mais importante para mim do que todas as brincadeiras infantis. Ao lutar, viverei uma vida mais cheia de aventuras e glória do que qualquer criança que leva uma vida de brincadeiras e fantasia. Eu deveria lamentar por elas, e é o que faço." "Sem dúvida, você está certa" — confessei, sentindo-me agora adequadamente punido. "Eu realmente terei de ser como essa criança para entrar no Reino" — pensei comigo mesmo. "Agora temos coisas importantes para resolver" — começou a águia. "O grande conselho de apóstolos e anciãos está para se reunir aqui. Isso não acontece desde o século I. Essa reunião marcará o começo da transição desta geração para aquela que há de vir. Eles se reunirão aqui. Beberão desse no pelo qual vocês vêm lutando." Olhei ao redor, incrédulo. Não parecia muito provável que alguém pudesse beber desse rio por muito tempo, visto que a horda do mal já estava ao alcance de um tiro de arco dali e se aproximando cada vez mais. O olhar na face da águia me dizia que ela havia discernido os meus pensamentos, porém ela continuou como se não o tivesse feito. "Quando esse conselho se reunir, não estaremos longe da última batalha na qual aquelas coisas pelas quais esperamos se cumprirão. Cada um dos que estão vindo representa rios que regarão a terra. Todos são guerreiros experientes que lutaram por muito tempo e com grande coragem, mas poucos já viram uma vitória. Muitos perderam seus próprios rios, e alguns chegarão aqui terrivelmente feridos." "Não há um lugar melhor do que este para tal conselho?" — perguntei, pensando que este não seria o lugar para se trazer guerreiros terrivelmente feridos, ou aqueles que nunca haviam testemunhado uma vitória. A velha águia olhou ao redor com cuidado antes de responder: "Não. Este é o melhor lugar. Já os convidei para vir, e eles já estão a caminho. Espero que comecem a aparecer logo." "Senhor, eu não gostaria de falar tanto, uma vez que parece que deveríamos estar lutando, mas como eles vão chegar aqui? Estamos cercados. E os que estão terrivel- mente feridos? Eles não ficarão ainda mais feridos aqui ?" - perguntei, ainda desacreditando que esse poderia ser o lugar certo para a realização de tal conselho. "Esse lugar é tão bom e seguro quanto o lugar onde o primeiro conselho se reuniu no século 1" - a águia disse. "Os feridos começarão a ser curados nesse conselho. Todos eles são grandes guerreiros. Depois desse conselho, jamais voltarão a recuar diante dos inimigos da cruz. A comunhão entre coração e devoção que encontrarão aqui será alimento para eles, e as águas da vida que fluem por esse rio serão sua bebida. Essa é a mesa que está posta para eles na presença de seus inimigos." Os gritos do exército do mal eram tão intensos que eu já não podia mais ouvir a águia. Uma grande nuvem de poeira se levantou e, então, desceu sobre nós, de modo que ficou difícil respirar ou enxergar. Por instinto, desembainhei minha espada e comecei a balançá-la. A poeira se foi como se tivesse sido soprada por um enorme ventilador. Logo pude ver o cavalo, a menina e a águia. Estávamos todos atentos aos contínuos gritos e tumultos que vinham do ocidente. Fiquei surpreso ao ver dois senhores idosos surgirem da nuvem de poeira, passando pelo exército do mal como que em um passeio de domingo. A horda correu em sua direção gritando, berrando e arremessando flechas, das quais os homens veteranos facilmente se defendiam com seus grandes e reluzentes escudos. Eles pareciam completamente tranqüilos diante dos ataques. Se eles tão-somente olhassem na direção dos que eram maus, recuariam, bastante apavorados. Nunca vi esse tipo de autoridade nos homens antes. À medida que andavam, criavam uma grande trilha através da horda que não parecia se fechar atrás deles. Quando chegaram ao rio, eles pararam. Um se curvou para beber da água, enquanto o outro permaneceu alerta. Quando ambos acabaram de beber da água, continuaram a andar em nossa direção. Os dois anciãos provavelmente tinham seus setenta e poucos anos, mas eram extraordinariamente saudáveis. Andavam um pouco devagar em virtude de suas velhas feridas, e não por causa da idade. Mesmo assim, sua autoridade e presença eram tão grandes que eu me senti como se um exército houvesse chegado para aumentar nossa força. A águia se curvou quando eles pararam na sua frente, e eles fizeram o mesmo. Havia um visível respeito e afeição mútua entre eles. Eles então olharam para o cavalo e a garota. Ela se jogou ao chão e também se curvou. Eles fizeram o mesmo, com um respeito sincero por ela. "Ouvimos muito a seu respeito" - um deles disse a ela. "Sem dúvida, você é muito conhecida, não só na Terra, mas no Céu e no inferno também. É um grande prazer conhecê-la." Acho que foi a primeira vez que vi essa brilhante garotinha sorrir ao responder: "Nunca imaginei que de fato conheceria vocês, mas tê-los aqui certamente compensou todas as batalhas por este lugar". "É sobretudo por sua causa que um grande conselho de guerreiros, profetas e sábios está para se reunir aqui" - um dos anciãos respondeu. "Todos os que ouviram falar de sua coragem e perseverança quiseram vir a este lugar para ajudá- la. A batalha logo assolará todo o mundo. Você os inspirou a lutar com coragem e per- severança, independentemente do que eles enfrentem. Sua amiga, a águia, a tornou muito famosa. Agora sei, só ao olhar para você, que cada palavra que ela falou a seu respeito é verdade." Enquanto eu observava os dois senhores, senti quase como se estivesse na presença do próprio Rei. Pensei que se houvesse somente alguns outros como eles, e alguns outros como essa garota, não haveria uma batalha que não pudéssemos vencer. É óbvio que, ao ouvir meus pensamentos, a velha águia virou-se para olhar para mim enquanto respondia: "Você pensou que estivesse sozinho, não é? Há muitos outros como esses homens e milhares de outros como você. Há mais mal do que você imagina também. Mas de urna coisa tenha certeza: o Rei será vitorioso, e alguns de nós aqui ainda estarão lutando quando Ele vier para o Seu reino. As lutas que conhecemos até agora, logo iremos considerá-las conflitos quando a grande batalha despontar. Benditos são aqueles que foram escolhidos para a honra de pelejar esta grande batalha. Agora as grandes maravilhas começarão." "Quem é ele?" — disse um dos anciãos, olhando para mim ao perguntar à águia. Também esperei para ouvir a resposta dela. O som da chuva batendo nas janelas me despertou. Fiquei deitado ali por alguns minutos, ouvindo. Enquanto isso, pude ouvir na chuva o som de muitos pés em marcha. Eu sabia que o véu entre a esfera terrena e a celestial estava ficando mais tênue, e a ponte entre elas, mais forte. "Para andar na verdade, é preciso viver em dois mundos" — disse uma voz. Desesperado, eu queria voltar para o meu sonho. Queria ver a garotinha novamente, e a águia, e os anciãos que eu havia acabado de conhecer. Então, um forte sentimento de consciência veio sobre mim. O sonho era real. Eu já conhecia, ou iria conhecer, todos que estavam em meu sonho. Eu pelejaria na grande batalha com eles. Todos os que seguem o Rei neste momento logo conhecerão uma aventura maior do que qualquer história, maior do que qualquer sonho. CAPÍTULO 14 A BATALHA COMEÇA Meses depois, sentei-me em uma cadeira para ouvir a chuva bater nas janelas. Pude ouvir nela os gritos crescentes da horda do mal. Lá estava eu novamente com meus companheiros, no meio dela, enquanto os que eram maus nos pressionavam de todos os Lados. É óbvio que eles logo invadiriam o lugar onde estávamos. Os dois anciãos analisaram a cena, e ambos continuaram com uma incrível paz. "Devemos deixar Lugar para os outros" — um dos anciãos disse enquanto o outro balançava a cabeça em sinal de concordância. "Pegue esses vasos e os encha de água" — um deles disse enquanto olhava para a menina e para mim. Fizemos o que ele disse, e então ele nos ordenou entregá-los àqueles da horda do mal que estavam perto de nós. A situação era tão desesperadora que não tivemos tempo para questionar suas estranhas ordens, simplesmente obedecemos, pensando que realmente não havia muito a perder. O fato de oferecermos água aos nossos inimigos os espantou, de modo que eles ficaram parados, e um grande silencio se fez no lugar. Sem saber mais o que fazer, eles beberam da água que lhes demos. Beberam com uma sede tão intensa que logo estávamos correndo de um lado para o outro para buscar mais água. Os outros que estavam à volta deles também pareceram perceber sua própria sede e começaram a pedir água. Todos os que a experimentavam queriam mais. Não demorou muito e ficamos tão emocionados que tudo o que podíamos fazer era levá-los ao rio e convidá- los a beber. Esperando que eles se atirassem no rio, fiquei surpreso com o grande respeito com que eles o trataram, curvando-se e bebendo de sua água, mas tomando cuidado para não sujar as margens dele. Enquanto bebiam, eles se transformavam diante dos nossos olhos. Os olhares severos, atormentados e demoníacos se abrandavam e se transformavam em rostos humanos. Eles continuaram a se transformar até que voltavam a ser como crianças puras. Uma vez transformados, pediram vasos para levar água aos outros que estavam na horda do mal. Demos a eles todos os que tínhamos, mas eram apenas alguns. Então, eles começaram a fazer recipientes com as próprias roupas. Depois, alguns começaram a esvaziar suas aljavas e enche-las de água para levar aos outros. Isso não acabou completamente com o ataque, uma vez que muitas das divisões estavam resistindo à água, indignadas com o que estava acontecendo. Mesmo assim, eu sabia que o vale havia sido salvo e que essa seria uma grande vitória. Fui até os dois anciãos e disse: "Bem, parece que este vai ser um bom lugar para realizar o seu conselho. Para quando vocês esperam os outros?" "Eles estarão aqui logo" — respondeu o que mais falava. "Todos eles responderam ao grito de guerra e, certamente, ouviram os gritos desta batalha. Receio que, se não chegarem logo, lamentarão por não poderem, pelo menos, contribuir um pouco para a vitória." "Quem imaginaria que um simples copo de água para eles faria tanta coisa?" — continuei, realmente surpreso com o que estava acontecendo. "As armas da nossa milícia não são naturais, mas divinamente poderosas. A sua força está na vida e na natureza de Deus. Ele veio para dar vida, e não para tirá- la. Vencemos o mal com o bem. Vencemos quando damos a vida que nos foi dada. Mesmo assim, esta batalha está longe de ter um fim, e o principal assunto desse conselho será como continuar até que a vitória seja completa. Jamais devemos voltar a interromper uma batalha antes do seu fim. Mas a mudança começou. O inimigo está o mais distante possível, e agora começaremos a recuperar aquilo que, por direito, pertence ao Rei." Enquanto eu olhava, pude ver homens abrindo caminho pela horda do mal que ainda estava pelejando. Eu sabia que eles eram os apóstolos, profetas e anciãos que estavam sendo chamados para o conselho. Todos eles pareciam andar totalmente indiferentes às ameaças e gritos da horda do mal que os cercava. Eles andavam em meio ao mal de um modo tão majestoso que é impossível descrevê-lo. Levavam a horda à loucura, mas eu podia dizer que aqueles que haviam provado das águas vivas se maravilhavam com o que viam. O temor e respeito por eles eram evidentes no rosto das pessoas recém-transformadas, que me diziam estar dispostas a seguir esses líderes. "Certamente, este era o começo de um grande exército que jamais recuaria novamente", pensei. "Certamente é" — disse uma voz ao meu lado. "Este é o começo daquilo que todos vínhamos esperando" — a velha águia continuou. "Ver isso, o começo, fez tudo valer a pena." Nenhuma palavra parecia possível enquanto todos nós estávamos ali, sabendo que de fato achávamos no limiar da maior aventura de todas, mas também da maior batalha. Aqueles que tinham sonhos, e os que tinham visões, logo veriam seus sonhos e visões cumpridos. A última batalha começou. Os guerreiros que haviam se preparado para esse dia logo seriam mobilizados. Eles responderam ao grito de guerra, e toda a Terra logo ouviria o som dessa batalha.