A Complexidade Do Trabalho Docente Na Atualidade

March 29, 2018 | Author: Amada Campos | Category: Learning, Schools, Teachers, Complexity, Reality


Comments



Description

A COMPLEXIDADE DO TRABALHO DOCENTE NA ATUALIDADEJussara Bueno de Queiroz Paschoalino Mestre em Educação - UFMG RESUMO: Esse artigo traz uma reflexão sobre o trabalho docente a partir de sua complexidade na conjuntura atual. A análise proposta é parte de uma dissertação de mestrado em educação. Para compreender essa profissão requer ultrapassar visões compartimentadas e realizar numa dimensão pluridisciplinar, numa perspectiva ergológica, o entendimento das implicações na contemporaneidade na repercussão desse trabalho. O professor inserido na dinâmica capitalista e com o avanço dos meios de informação tem se posicionado no lugar da perda e do mal-estar docente. As alterações significativas do papel do professor deixam marcas de sofrimento no docente, que possibilita constatar um distanciamento entre os ideais da profissão e a realidade profissional. O isolamento docente no seu espaço de trabalho proporciona sua fragilidade diante de um panorama de culpalização que altera significativamente seu desempenho profissional. PALAVRAS-CHAVE: trabalho docente; mal-estar docente; contemporaneidade. 1. Introdução Esse artigo propõe traçar um panorama do trabalho docente que envolve matizes do âmbito histórico, social, cultural, político e econômico, que contribui para compreender a complexidade desse trabalho na atualidade. A profissão do professor tem sofrido ao longo dos tempos mudanças, que interferem drasticamente no seu papel deixando entreabertas lacunas entre o ideal e a realidade do trabalho docente. Para buscar compreender o trabalho docente esse artigo propõe uma análise que ultrapassa as visões compartimentadas e realiza numa dimensão pluridisciplinar, numa perspectiva ergológica, o entendimento das implicações na contemporaneidade na repercussão desse trabalho. acabar com a preocupação a respeito da legitimidade do corpus conceitual em relação as renormalizações e ressingularidades geradas nos debates mais ou menos locais da atividade. as diversas interseções do trabalho do professor passam a ser vistas por nós como matéria estrangeira2. traz como modelo da arte de ensinar uma íntima correlação com a arte de persuadir. p. entre o verbo e o corpo instaurando um lugar de debate. Nesse sentido. A escola era o lugar do ócio. pois: A disciplina ergológica não é. 1999. mas uma norma que a ambição intelectual deve se propor ao lidar com esse tipo de processos: o equipamento antecedente a toda leitura de um processo ergológico não deve nunca. tem um fator preponderante pois “para que o professor desempenhe seu trabalho de forma a atingir seus objetivos. se expressa no uso de si por si4 e no uso de si pelos outros5 numa configuração permanente.utilizando os termos conforme Schwartz (2000 e 2004). Essa dimensão do trabalho enquanto atividade humana nos evoca a condição da complexidade das ações humanas carregadas de significados construídos e ressignificados ao longo de suas vidas em constantes interlocuções com os outros. entre itinerário singular e história coletiva. O papel do professor era seduzir pelo conhecimento as mentes dos jovens. da argumentação e estava destinada apenas à elite. portanto.A complexidade do trabalho docente nos conduziu às ferramentas da Ergologia1.55).Do ideal ao realismo do trabalho Desde a Grécia antiga. o professor vive seu trabalho como um valor que . 2002. Assim. uma disciplina no sentido de um campo de saber específico. nesse sentido. que pelo outro e através do outro se impõem através das culturas. de forma a se emanciparem pelo conhecimento. valores e normas. Profissão professor . o estabelecimento do vínculo afetivo é praticamente obrigatório. Ao professor cabia a responsabilidade de ajudar os jovens cidadãos gregos livres a compreenderem o mundo e a argumentarem. portanto. 135-136). Com a ergologia. O trabalho do professor.” (CODO e GAZZOTTI. as diversas renormalizações3 realizadas pelo professor são decorrentes dessa interação maior. (SCHWARTZ. Para Gauthier (1999). a figura do professor já estava posta como uma necessidade. pois a atividade humana condensa a contradição entre o imaginável e o explícito. 2. na atualidade o professor continua tendo a tarefa de seduzir seus . Sócrates. Vale ressaltar que o caráter de controle da avaliação tinha o intuito de incluir ou excluir os escolhidos para o Reino. da avaliação como rito de passagem do aluno. Outras características da profissão docente nesse período em que a igreja católica esteve à frente do processo educativo foram as de aceitação. o trabalho docente é um verdadeiro trabalho emocional. Garcia (2001). ensinar uma doutrina era o indispensável na ação docente. Nesse sentido. afirma que a produção capitalista dita normas de relacionamento e traz a universalização do ensino. segundo Saviani (2006). na idade Média. Também aparece como destaque o sentido forte da profissão docente como vocação6 e que passa ser considerada condição essencial para o exercício da docência. Dessa maneira. rejeita-se esse termo pois ele implicaria uma atitude de resignação frente às dificuldades da profissão.alunos ou. Esse trabalho emocional do professor subentende ouvir o outro. 19-20).. quanto à capacidade de julgar. informa sobre o aparecimento. E a outra escola destinada à formação da elite dominante. mais do que isso. para que pudesse progredir nos estudos.” (GAUTHIER. na universidade medieval. Saviani (2006). O papel do professor adquiria também contornos de poder. A utilização desse termo é. Nesse sentido. o professor assume seu trabalho incorporando o valor de sacerdócio. Com o início da Modernidade o desempenho das fábricas passa ser uma referência para o funcionamento das escolas. 1999. o seu aluno e estimulálo a falar. persuadí-los: “[. é seduzir a mente e o coração ao mesmo tempo. o acesso à escola continuava sendo restrito à elite da sociedade. Além do trabalho das artes da educação.] persuadir é influenciar por meio da palavra e do gesto. Numa perspectiva racionalista. p. avaliar e excluir aqueles que não manifestassem a obediência necessária para o estudo. muito polêmica. A tarefa de professar uma fé atrelada à de professar uma verdade única passa a ser responsabilidade do professor. de correção e disciplinamento do corpo. de paciência mas também de impor limites. a utilizar o seu raciocínio para ir construindo conhecimentos. atualmente. Uma educação para o disciplinamento e com um currículo mínimo capaz de garantir a formação de um trabalhador com as elementares noções de leitura e de escrita e a matemática prática elementar.. Contudo. As mudanças na educação são históricas. . continua mantendo a dualidade da educação. A ênfase sai da aprendizagem e recai nas avaliações e pontuações de resultados. E o professor ficou numa posição de isolamento diante da realidade de seus alunos e de sua profissão. torna-se frágil diante das múltiplas cobranças. Para a ergologia. e nas suas profissões podem ser vistas como: “[. Dotti (1992).] os sindicatos deixaram de ser forças utópicas.. Recentemente. Diante do avanço do capitalismo a profissão docente foi.. p. p. não há como desvincular a escola do âmbito maior da sociedade capitalista e ao enfraquecimento dos sindicatos. “[. perdendo a dimensão de conceber o aluno como sujeito ativo de saber. voltando-se para os seus problemas cotidianos. sem conseguir nas dramáticas do uso de si. 2000..] mas vai além.” (NÓVOA. dinamizadas pela idéia de um futuro diferente. 13). recaí sobre o professor e a escola. portanto. assim. Assim.” (SCHWARTZ. em que o fracasso escolar é um drama na educação em níveis alarmantes na nossa história. porém. construir respostas aos problemas do mundo contemporâneo.30). no Brasil. desmistifica a singuralidade esperada e apresenta as teias complexas do fazer humano. Na década de 1980.] alquimias que vão além de nós: e que vão além tanto de quem mostra o espelho quanto de que está diante dele.. Diante desse problema a procura por um culpado é sempre uma saída estratégica. a profissão docente foi marcada por uma consciência de classe trabalhadora. 1999. Nesse contexto. nos apresenta o panorama triste da realidade brasileira. passando por situações tensas na procura de uma identidade. ao longo do tempo.. as incertezas e as crises econômicas mobilizam mais os aparelhos do que os projetos de sociedade. O processo fica. Isso levou as escolas e os docentes a se recolherem. De acordo com Nóvoa.. “[. O trabalho docente. Conceber o trabalho docente que se percebe isolado de seu coletivo e. entender as transformações históricas que ocorrem nos indivíduos. A profissão docente sempre foi questionada e julgada por suas ações sob a ótica da singularidade e não da complexidade de relações presentes no tecido de seu trabalho. subsumido aos resultados. nessa ótica. os professores tiveram um ápice de uma trajetória de identidade de categoria construída com lutas e movimentos para reconhecimento da profissão. Nossa categoria passa por uma desmoralização: somos . a culpa projeta-se inicialmente sobre o aluno e a família. o fracasso escolar conhecido como expressão comum a partir da entrada das classes populares na escola atinge maior dimensão. Na nova relação com os alunos fica instalada uma nova relação com nós mesmos. (ESTEVE. p. p. sofrem com a intensificação das cobranças e sentem-se frustrados diante do pouco êxito de seu trabalho. menos no poder que gera essa situação. com o qual se identificou durante o período de formação inicial. somos uma categoria muito heterogênea. Dessa forma. às quais todos estão subordinados. porque em muito pouco tempo descobre que sua personalidade tem muitas limitações que não se encaixam no modelo de “professor ideal”. Se os professores acumularam várias tensões e conflitos em sua formação teórica. 1992. mas que tocam nas raízes mais fundas de nossa docência. Tensões que partem do choque com as condutas dos alunos. isolados em suas escolas. Os ideais atribuídos à profissão docente são históricos e culturais. (ARROYO.. As tensões e medos são legítimos. cultural. apenas com imagens que não se coadunam com a situação do cotidiano. A correlação entre as palavras “docente” e “doente” não é aleatória. agora sentem-se desorientados em seu fazer prático. A culpa está em todos. 1999. político. (MASCARELLO e BARROS. E de maneira radical. algumas características estão expressas no cerne da profissão. O adoecimento do professor.37). que remete a uma história coletiva condensada e presente nas regras de trabalho. . p. mas também considera que: [. As condutas dos alunos põem em entredito nossos poderes e saberes.115). Os professores formados nessa perspectiva. No entanto. durante a formação do docente. da singularidade de cada ser humano com sua subjetiva relação com o meio em que está inserido.. 2004. Na raiz. somos descomprometidos. p.24-25). mas é preciso aproximar-se do contexto do trabalho dos professores para compreender os dilemas que tencionam e enfraquecem a profissão provocando mal-estares e adoecimento. nossas auto-imagens doentes.incompetentes.. esfarelam-se no decorrer do seu trabalho. Assim. Há motivos para perplexidades. sentem-se perdidos pois as imagens que tinham sobre a educação e sobre os alunos. ao ingressarem nas escolas..”(DOTTI.] tende a se culpar desde seus primeiros enfretamentos com a realidade cotidiana do magistério. entendido pela ergologia está tanto na sua dimensão individual. na maioria das vezes ele não toma contato com o contexto real das escolas.] a saúde também está referenciada a um meio social. Aprendemos e nos aprendemos. Assim. 2007. o próprio professor também [.50). histórico. ao se eximir de olhar a situação com a complexidade que ela exige os professores. p.19). O descompasso da valorização do trabalho docente no sistema capitalista é um dos aspectos de sofrimento do professor que luta para que seja reconhecido pelo trabalho que realiza e também exige condições financeiras para que possua sentir-se incluído. reconocemos que el trabajo há devenido em uma necesidad de sentirse útil y creativo para estar psicologicamente bien. pues es tan posible enterar-se de los acontecimientos trascendentes al momento de suceder.”(ESTEVE. investem na sua formação e. El influjo de la tecnologia em um mundo globalizado. professores. conquistar uma vida digna y afrontar decididamente um mundo complejo e cambiante. que son reconocidas y valoradas por otros. aqui o em cualquer parte del mundo. o velho discurso da abnegação e do valor espiritual e formativo de nosso trabalho.113). p. a relação professor e aluno: Las sociedades viven hoy tiempos dificiles donde la incertidumbre es la constante. El sujeto se valora positivamente cuando realiza tareas valiosas. sin importar donde estemos. 39-40). não conseguem o retorno esperado no aspecto econômico. “Nossa sociedade é hipócrita e ambivalente quando aplica a nós. p. O percurso da profissão docente tem sido na direção contrária a esse bem estar pois o não reconhecimento pelo seu trabalho extrapola a área econômica e atinge o próprio âmago do trabalho docente. teve que estender sua jornada de trabalho e postergar muitos de seus sonhos. Segundo Nacarato. perdidos por não sentirem reconhecidos financeiramente pelo trabalho que realizam. capaz de trazar horizontes de realizaciones. Esse profissional que lutou para ser reconhecido e ter uma posição digna. 1997. al tiempo que aproxima a las naciones acentua la brecha entre los poderosos y aquellos que luchan por sobrevivir. VALLES E KOHEN. em um mundo sin fronteiras. mesmo assim. capaz de manter sua sobrevivência. Es para este complejo escenario que los docentes son lhamados al desafio de acompañar el proceso de construcción de uma personalidad segura. Os professores. 1999. . Varani e Carvalho (2001) as constantes perdas salariais dos professores e conseqüentemente a ampliação da sua jornada de trabalho para sobreviver diante das exigências atuais aumentaram as tensões na profissão e a limitação desse profissional a um constante aperfeiçoamento. (CÁCERES. 2006. quando na verdade deprecia tudo o que não tenha valor material.Outro ponto nevrálgico do trabalho docente é a situação financeira do professor. Assim. La instataneidad es huésped principal em los hogares. (MARTINEZ. as tensões resultantes da não valorização no trabalho trazem repercussões no professor que: Siguiendo a Miguel Matraj. 2005. 1969). o professor sente o peso de uma cobrança. 1997. debiera trascender su mero valor de uso. constante e concomitantemente. su valor de producción como intercambio (de saber-de socializacíon). que se efetiva na interação. p. Dessa forma. As desigualdades sociais se evidenciam de forma expressiva e influenciam a sua prática. o mal-estar docente é uma realidade que passa a ser questionada e analisada por diversos autores tais como Nóvoa (1999). Valles e Kohen (1997). Conseqüentemente o professor. com a administração indireta. Assim. que é definido nas e pelas interações humanas. p. . Contudo. sujeito dessas intensas interações no seu trabalho. portanto. portanto um “trabalho interativo” (TARDIF e LESSARD. esto es. a sociedade sofre com o mal-estar o trabalho docente. sejam eles outras pessoas. a tarefa de ensinar. como oficio sostenido principalmente entre personas docente-alumno-comunidad). com o conteúdo. já tradicional na profissão. En el caso del trabajo docente es importante senãlar que. fazem com que o trabalho docente tenha suas próprias singularidades. também passa a estar em permanente contato com os problemas e as insatisfações do mundo em que vivemos. a imagem de professor que se espera é daquele que terá o desafio de ajudar as pessoas a construírem uma vida digna. com a comunidade escolar. Martínez.113). instituições e até mesmo as imposições do capitalismo atual. com seus alunos e a família de seus alunos. em que as incertezas são constantes no seu trabalho e no mundo. que nos advertem sobre as dificuldades de exercer essa profissão na contemporaneidade. (MARTÍNEZ. Diante das diversas pressões que afetam a profissão. às relações com outros. que traz a expectativa de que o professor seja um agente transformador da sociedade através da educação. pela fé no outro e de ter a vocação para a difícil. VALLES e KOHEN. As relações múltiplas do trabalho do professor. o professor sofre por não conseguir vivenciar as expectativas em relação ao seu trabalho. com as leis. com a administração direta.9) também está imerso nesse mal-estar.Cáceres retrata a situação difícil posta para o professor. Arroyo (2004) e Tardif e Lessard (2005). “impossível” (FREUD. habilidades para um supuesto mercado. Pois se para Bauman (1998). Os autores afirmam esse caráter interativo do trabalho docente condicionado. de encantar seu aluno no conhecimento. associadas às características das dimensões de persuadir. com os colegas. Esteve (1999). No caso da relação entre professor e aluno ambos passam a se desconhecerem em relação aos seus objetivos. o trabalho do professor deve atender a todas as exigências da contemporaneidade. do valor do saber e de uma ligação simultânea entre a escolaridade e o mercado de trabalho e o efetivo trabalho escolar já se deu. este autor apresenta as características da perda das relações estáveis de conhecimento de/para com o outro. ciente das expectativas em torno de seu trabalho se sente impotente. parafraseando Bauman (2004). Nesse sentido. o cuidado com a higiene e vários outros aspectos.A escola muitas vezes expressa o conflito da própria sociedade: seria a escola líquida. ao projetar na figura do professor o protótipo de salvador das juventudes e o professor se rende à culpa por não atingir os objetivos esperados pelo seu trabalho. com professores formados na ideologia da escola elitista. a formação integral e completa dos alunos. Como também trabalhar com os alunos as diversas dimensões do ser humano para alcançar sua plena formação psicológica. Em seu livro Amor líquido. criativos e com a capacidade de aprender a aprender. Do mesmo modo. nos falam das expectativas crescentes em torno do trabalho do professor atrelado às demandas da sociedade atual. que são individualizados e não coletivos e interativos. . Nacarato. esse discurso continua sendo usado como um artefato para se buscar um sentido para a escola e para o ato de ensinar. Todas essas demandas hercúleas aumentam os conflitos desse profissional que. que passam a não desejar uma interação com o objetivo de um crescimento recíproco. a comunicação e o raciocínio lógico. No entanto. que não estabelecem um vínculo consistente com a comunidade escolar mas apenas freqüentam as escolas. fragilizado diante dos resultados dos alunos. as ações de desfaçatez e desafio dos alunos. Varani e Carvalho (2001). O descompasso entre o discurso da escola. Dessa forma. que demanda profissionais flexíveis. o professor tem também o desafio de preparar os alunos para serem integrados ao mundo do trabalho. A sociedade espera a atuação do super herói. é própria da liquidez das relações fundadas no desconhecimento do outro. no parecer supérfluo que individualiza o sujeito e não estabelece liames de reciprocidades. Também será tarefa do professor enfocar a educação sexual. capacitá-los com uma cultura geral e também diversificada possibilitando o conhecimento científico. afetiva e emocional. 3. o professor frágil e sem o apoio do coletivo. de uma tensão problemática. As cobranças frente ao fracasso escolar interrogam o papel do professor impondolhe uma culpa sem uma análise mais profunda da educação que se espera hoje. O ideal da profissão está posto no imaginário do coletivo.Termo utilizado por Yves Schwartz originalmente expresso por Georges Canguilhem. -Ergologia . num processo de construção coletiva do trabalho docente. que influencia diretamente no seu trabalho estabelecendo um círculo vicioso de descontentamento. Negociações problemáticas. pois os trabalhadores renormalizam as prescrições e criam estratégias singulares para enfrentar os desafios do seu meio. diante das infidelidades do meio.Doutor em Letras pela Université de Lyon II.Disciplina trabalhada pelo professor Yves Schwartz . O trabalho é uso de si. 2 Matéria estrangeira . entremeada das relações. Assim. de espaço de 1 . porém a realidade atual desconserta constantemente esses profissionais. 4 Uso de si por si .Análise Pluridisciplinar das Situações de Trabalho/ Universidade de Provence. membro do Instituto Universitário da França.O que revela compromissos microgestionários. Professor de Filosofia. Considerações A complexidade do trabalho do professor na contemporaneidade precisa ser analisada como uma matéria estrangeira. que possibilitaram diversas renormalizações. Diretor cientifico do Departamento de Ergologia . no seu livro Normal e Patológico com a sua publicação em 1966. 3 Expressão utilizada por Schwartz pra indicar o processo que acontece em todas as situações de trabalho e de retrabalho das normas instituídas – normas antecedentes. A culpa sentida pelo professor diante do seu trabalho provoca diversos mal-estares. pois. que buscam realizar bem o seu papel de professor. Os conhecimentos da ergologia possibilitam o revisitar a história profissional do trabalho docente. está embrenhada de significados construídos ao longo do tempo. para que saia desse isolamento de seu trabalho e possa construir ressignificados para o seu papel na realidade. As reflexões sobre esse estudo analisam a necessidade de possibilitar esse profissional um espaço de interlocução. pois é o lugar de um problema. se percebe no isolamento e impregnado de um sentimento de culpa. que a tarefa cotidiana requer.41). CÁCERES. (SCHWARTZ. RJ: Vozes. 2004. Corina. Imagens quebradas: trajetórias e tempos de alunos e mestres. Rio de Janeiro: Imago. 5 Uso de si pelos outros. Jussara. Trabalho e Afetividade. James.Vem do latim vocare significa “chamar”. Tradução Carlos Alberto Medeiros. Jayme. Zygmunt.Petrópolis. Andréa. Fracasso escolar e Classes Populares. GARCIA. revisão técnica Luís Carlos Fridman. Alan. 1992. Regina. A avaliação e suas implicações no fracasso/sucesso. C. e LOPES. O mal-estar da pós-modernidade. recursos e capacidades infinitamente mais vastos que os que são explicados. In: ESTEBAN. a Síndrome da Desistência do Educador. Wanderley. Claudia Martinelli Gama. FREUD. Amor líquido: sobre a fragilidade das relações humanas.. mesmo no inaparente.21-28. Abriendo caminos.29-50.Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed. Edição Standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. p. 2006.Burnout. BAUMAN. Zygmunt. Vozes. são. tradução Mauro Gama.O que vai das normas econômico-produtivas às instruções operacionais. 6 Vocação . Alix.1999.. São Paulo. p.possíveis sempre a se negociar: há não execução mas uso e isto supõem um espectro contínuo de modalidades. STRACHEY. É o individuo no seu ser que é convocado. In: CALDERANO. In:GROSSI. José Manuel. Tal é a justificação da palavra “uso” e tal é aqui forma indiscutível de manifestação de um “sujeito”. FREUD. La formación docente. Há uma demanda específica e incontornável feita a uma entidade que se supõe de algum modo uma livre disposição de um capital pessoal. Edusc. p. -3ª ed.. STRACHEY. 1969. Sigmund. 39-54. TYSON. 2000. Paulo R. 1998. BAUMAN. Maria A. M. mesmo que este apelo possa ser globalmente esterilizante em relação às virtualidades individuais. Petrópolis:Vozes. p. Miguel. 24v.) Avaliação: uma prática em busca de novos sentidos. 48-59. que pode levar à falência da educação. . A paixão de aprender. DOTTI. (org. O mal estar Docente: A sala de aula e a saúde dos Professores.. . Esther e BORDIN. 2004. 2001. experiências e perspectivas.Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed. Norma D. Referências ARROYO. (org). No Ocidente considerado chamado de Deus. ESTEVE. SALOMÃO. 4.). 1999. Formação de Professores no Mundo Contemporâneo: desafios. Rio de Janeiro:DP&A. Maria Teresa (org. p. Juiz de Fora: EDUFJF. Anna. In: CODO. Wanderley e GAZZOTTI. Petrópolis. CODO. In: Revista Proposições.12 n. 2005. M. (org. p. NÓVOA. Dario. Marinete R.34. S. Buenos Aires: Kapelusz. 2007. Elisabete.. Profissão Professor. Imagens de sedução na pedagogia. Trabalho e gestão: níveis. Adriana. NACARATO. & LESSARD. O cotidiano do trabalho docente: palco. 13-54. . 13-44. 1999. SAVIANI. M. Adair. bastidores e trabalho invisível. critérios. instâncias. 75-98 jan/abr 2002. FIORENTINI. SCHWARTZ. Abrindo as cortinas. Disciplina epistêmica. p. em Caxambu. Jan/Apr. Dermeval. 1997. Corinta. PEREIRA. cartografia da relação saúdetrabalho numa escola pública de Vitória-ES.) Labirintos do Trabalho. 2000.. nº 32.73-104. RJ: Vozes. São Paulo: UNICAMP. VALLES. C.GAUTHIER.. Yves..). Salud y trabajo docenteTramas Del malestar em la escuela. (org. Petrópolis. In: GERALDI.(orgs. BRITO. 2004.104-119. 23-33. António. In: Revista Brasileira de Educação.A sedução como estratégia profissional. ALVAREZ. Deolidia. P. p. Clermont e MARTINEAU. TARDIF M. 2001.In: Trabalho encomendado pelo GT – Trabalho e Educação. In: FIGUEIREDO.v. TRABALHO E EDUCAÇÃO: FUNDAMENTOS ONTOLÓGICOS E HISTÓRICOS. apresentado na 29ª Reunião da ANPEd no dia 17 de outubro de 2006. vol 13. São Paulo: UNICAMP. p. Denise. ATHAYDE. Stéphane. Valéria.. disciplina ergológica.professor(a)-pesquisador(a). Campinas.ALB. SCHWARTZ. Yves. ano XX. In: Revista Proposições. p. nº 66. Jorge.Interrogações e olhares sobre o trabalho vivo. p. Rio de Janeiro: ANPED. Íris & KOHEN. Nos fio de Ariadne. VARANI. Yves. Trabalhos e uso de si. paidéia e politéia. O trabalho docente: elementos para uma teoria da docência como profissão de interações humanas. MARTÍNEZ. CARVALHO. In: Educação & Sociedade. SCHWARTZ.) Cartografias do trabalho docente. Abril/1999. Rio de Janeiro: DP&A Editora. Associação de leitura do Brasil. Jussara.: Mercado de Letras. dez. MASCARELLO.P. Porto: Editora Porto.
Copyright © 2024 DOKUMEN.SITE Inc.