A Chave Dos Grandes Misterios - Eliphas Levi

A Chave dos Grandes Mistérios - Eliphas LeviA Chave dos Grandes Mistérios - Eliphas Levi A Chave dos Grandes Mistérios - Eliphas Levi s A CHAVE DOS GRANDES MISTÉRIOS..................................................... ...................................1 A TÍTULO DE INFORMAÇÃO................................................................ ...............................1 PREFÁCIO.......................................................................... ................................................................2 PRIMEIRA PARTE.................................................................. ..........................................................4 MISTÉRIOS RELIGIOSOS.............................................................. ........................................4 Problemas a resolver............................................................ ..........................................4 Considerações preliminares.......................................................... ..................................4 ARTIGO I........................................................................ .........................................................8 Solução do primeiro problema........................................................ ...............................8 Esboço da teologia profética dos números.............................................. .......................9 ARTIGO II....................................................................... .......................................................39 Solução do segundo problema......................................................... .............................40 ARTIGO III...................................................................... .......................................................41 Solução do terceiro problema........................................................ ...............................42 ARTIGO IV....................................................................... ......................................................44 Solução do quarto problema.......................................................... ...............................44 ARTIGO V........................................................................ ......................................................47 Solução do último problema............................................................ ............................47 RESUMO DA PRIMEIRA PARTE EM FORMA DE DIÁLOGO...................................... ...48 A Fé, A Ciência, A Razão.............................................................. ..............................48 SEGUNDA PARTE................................................................... ........................................................53 MISTÉRIOS FILOSÓFICOS............................................................... ...................................53 Considerações preliminares.......................................................... ................................53 Solução dos Problemas Filosóficos..................................................... .........................55 TERCEIRA PARTE.................................................................. ........................................................61 OS MISTÉRIOS DA NATUREZA.......................................................... ...............................61 O Grande Agente Mágico............................................................ ................................61 LIVRO I......................................................................... .........................................................61 OS Mistérios Magnéticos............................................................. ................................61 LIVRO II........................................................................ .......................................................117 Os Mistérios Mágicos................................................................ .................................117 QUARTA PARTE.................................................................... .......................................................134 OS GRANDES SEGREDOS PRÁTICOS OU AS REALIZAÇÕES DA CIÊNCIA............134 Introdução.......................................................................... .........................................134 EPÍLOGO........................................................................... .............................................................145 1 A CHAVE DOS GRANDES MISTÉRIOS A CHAVE DOS GRANDES MISTÉRIOS A TÍTULO DE INFORMAÇÃO A sabedoria gnóstica samaeliana reconhece publicamente que Eliphas Levi é com toda c erteza um grande mestre de Consciência desperta, membro da Grande Fraternidade Branca. Alto e profundo conhecedor da Magia, da Cabala e da Alquimia. Grande desbravador das Dimensões da Teurgia e da Goécia, revelou, até onde lhe permitiam, os muitos segredos das práticas antigas, até en tão fechadas em segredo iniciático. O mestre Eliphas Levi conheceu decididamente os Mistérios do Grande Arcano, do Arc ano AZF, e o praticou intensa e secretamente, como todo bom e digno Alquimista. Recomendamos, a título de informação, que o distinto leitor entre no site www.gnosison line.org e visite o link Mestres da Senda e leia o capítulo relativo à experiência do Mestre Sama el com este mestre. Isso por si já demonstra o poder da sabedoria desse Iluminado. Entretanto, o VM Samael fez um profundo comentário a alguns de seus discípulos diret os. Que o mestre E. Levi, apesar de ter um grande nível de consciência interna estancou-se nas dimensões da Magia, e daí não evoluiu. Sendo grande conhecedor da Magia, não pôde ou não quis avançar em seus processos internos de crescimento... Resumindo, estancou nos mundos de Hod e de Netzach... De qualquer forma, não podemos nem queremos desmerecer a profunda sabedoria iniciáti ca deste grande mestre. Por isso sua obra foi incluída na Biblioteca Gnóstica de nosso site www.gnosisonline.org. Aproveitamos para recomendar as outras obras dessa Biblioteca, especialmente as do VM Samael Aun Weor. Boa leitura e ótimas meditações!!! Os responsáveis pelo site. 1 PREFÁCIO PREFÁCIO O maior mistério do infinito é a existência de Aquele para quem e somente para Ele - t udo é sem mistério. Compreendendo o infinito, que é essencialmente incompreensível, ele próprio é o mistério i nfinito e externamente insondável, ou seja, ele é, ao que tudo indica, esse absurdo por excelênc ia, em que acreditava Tertuliano. Necessariamente absurdo, uma vez que a razão deve renunciar para sempre a atingi-l o; necessariamente crível, uma vez que a ciência e a razão, longe de demonstrar que ele não é, são fatalmente levadas a deixar acreditar que ele é, e elas próprias a adorá-lo de olhos f echados. É que esse absurdo é a fonte infinita da razão, a luz brota eternamente das trevas ete rnas, a ciência, essa Babel do espírito, pode torcer e sobrepor suas espirais subindo sempre; ela p oderá fazer oscilar a Terra, nunca tocará o céu. Deus é o que aprenderemos eternamente a conhecer. É, por conseguinte, o que nunca sa beremos. O domínio do mistério é um campo aberto às conquistas da inteligência. Pode-se andar nele com audácia, nunca se reduzirá sua extensão, mudar-se-á somente de horizontes. Todo saber é o sonho do impossível, mas ai de quem não ousa aprender tudo e não sabe que, para saber alguma coisa, é preciso resignar-se a estudar sempre! Dizem que para bem aprender é preciso esquecer várias vezes. O mundo seguiu esse métod o. Tudo o que se questiona em nossos dias havia sido resolvido pelos antigos; anteriores a nossos anais, suas soluções escritas em hieróglifos não tinham mais sentido para nós; um homem reencontrou su a chave, abriu as necrópoles da ciência antiga e deu a seu século todo um mundo de teore mas esquecidos, de sínteses simples e sublimes como a natureza, irradiando sempre unid ade e multiplicando-se como números, com proporções tão exatas quanto o conhecimento demonstra e revela o desconhecido. Compreender essa ciência é ver Deus. O autor deste livro, ao terminar sua obra, acreditará tê-lo demonstrado. Depois, quando tiverdes visto Deus, o hierofante vos dirá: Virai-vos e, na sombra que projetais na presença desse sol das inteligências, ele fará aparecer o Diabo, o fantasma negro que vedes quando não olhais para Deus e quando acreditais ter preenchido o céu com vossa sombra, porq Estabeleceremos. em filosofia.ue os vapores da terra parecem tê-la feito crescer ao subir. Pôr de acordo. na ordem religiosa. a ciência com a revelação e a razão com a fé. revelar enfim o equilíbrio universal das forças naturais. que é. crente ou não. mas segundo as matemáticas de Deus. 2 . realidade. pode rá desconhecê-la. não m ais de acordo com os sonhos do homem. Enfim. em moral. tal é a tripla finalidade desta obra. Convidaremos também os grandes poetas do futuro para refazerem a divina comédia. faremos conhecer estas leis da natureza cujo equilíbrio é o sustento e mostra remos o quanto são vãs as fantasias de nossa imaginação diante das realidades fecundas do movimento e d a vida. por con seguinte. dividida em três partes. Mostraremos a verdadeira religião com caracteres tais que ninguém. razão e. em julgamento. em ciência. que será. os caracteres imutáveis dessa verdade. justiça. será o absoluto em matéria de religião. demonstrar em filosofia os princípios absolutos que conciliam todas as antinomias. por s uas combinações. os gregos a Cadmo e a Palamédio. e abrimos sem dificuldade todas as portas dos antigos santuários. As clavículas de Salomão. Lede.A Chave dos Grandes Mistérios . nós as encontramos. como aquela princesa de um conto infantil que espera durante um século de sono o esposo que deve despertá-la. sempre jovem e sempre bela. penetra-se o sentido oculto do Zohar. o grande livro dogmático d a Cabala dos hebreus. compõe-se de idéias absolutas ligadas a signos e a números e realiza. é o Sepher Yétsirah. conhecido pel os pitagóricos. 3 . e. refleti e julgai. uma mistificação ou um monumento. Esse alfabeto. ond e a verdade absoluta parecia dormir. Esta publicação é uma luz ou uma loucura. com a inteligência do Sepher Yétsirah. esquecidas com o tempo e que se dizia estarem per didas. Depois de nosso livro. Salomão havia representado esse alfabeto por setenta e dois nomes escritos em trinta e seis talismãs e é o que os iniciados do Oriente deno minam ainda de as pequenas chaves ou clavículas de Salomão. mas mais alto e mais longe nas profun dezas infinitas. as matemáticas do pensamento.Eliphas Levi Existe um alfabeto oculto e sagrado que os hebreus atribuem a Henoch. Essas chaves são descritas e seu uso é expl icado num livro cujo dogma tradicional remonta ao patriarca Abraão. os egípcios a Tot ou a Mercúrio Trismegistos. ainda haverá mistérios.Eliphas Levi A Chave dos Grandes Mistérios . elas se impõem. assim como é prováv el que Deus. Considerações preliminares Quando o conde Joseph de Maistre. verdade ira e universal. III. Indicar o alcance e a razão de ser de todos os mistérios da religião única. manifesta-se. V. a humanidade é religiosa: a palavra religião tem. o amor moral. portanto. Não se imaginam as revelações. e freqüentemente o mais i ndócil dos pensadores coraria em aceitar o título de homem sem religião. Transformar as objeções da filosofia em argumentos favoráveis à verdadeira religião. IV. não se estabelece por convicção política. a religião do juramento e das lembranças são coisas que a humanidade ja mais . A religião ocupa um espaço bem maior entre as realidades da vida do que pretendem cr er aqueles que dispensam a religião ou que têm a pretensão de dispensá-la. e nelas se crê. com efeito. O culto da pátria e do lar. A fé não se inventa. está subjugado pela atração dessas mesmas obscuridades. Demonstrar de uma maneira certa e absoluta a existência de um Deus e dela dar u ma idéia satisfatória para todos os espíritos. um sentido necessário e absoluto. a abnegação. O mundo. Tudo o que eleva o homem acima do animal. a honra são sentimentos essencialmente religioso s. Estabelecer a existência de uma verdadeira religião de maneira a torná-la incontes tável. está sem a religião do conde Joseph de Maistre. A religião é uma idéia apoiada num fato constante e universal. o domínio sobrenatural da fé. não se impõe. A própria natureza consagra a idéia que representa essa palavra e a eleva à altura de um princípio. a vida. disse com desespe ro: O mundo está sem religião.PRIMEIRA PARTE PRIMEIRA PARTE Problemas a resolver I. não exista. A necessidade de crer liga-se estreitamente à necessidade de amar: é por isso que as almas têm necessidade de comungar com as mesmas esperanças e com o mesmo amor. Por mais que o espírito proteste contra as obs curidades do dogma. com uma espécie de fatalidade. além de todas as previsões humanas. O mesmo poder que dirige os fenômenos da nature za estende e limita. Traçar o limite entre a religião e a superstição e dar a razão dos milagres e dos prodíg os. As crenças isol adas não passam de dúvidas: é o laço da confiança mútua que faz a religião ao criar a fé. assemelhou-se àqueles que dizem temerariamente: Deus não existe. II. este grande lógico apaixonado. tal qual o concebe a maioria dos ateus. 4 . é preciso. o esquecimento do passado e a dis plicência para com o futuro seriam nossos únicos deveres. Enquanto houver homens. em oposição à natureza. Considerada assim.Eliphas Levi Se a perda eterna no nada tivesse de ser o resultado de todas as nossas aspirações às coisas sublimes que sentimos serem eternas. a religião existirá. a paixão religiosa é a mais poderosa e a mais v seja pela negação. É a essa necessidade inata de crença que se poderia dar o nome de religião natural. A dúvida é.A Chave dos Grandes Mistérios . ela sente que a interv r divino é necessária para cobrir o abismo que separa o finito do infinito e afirma es sa intervenção com todo o ímpeto de seu coração. pois. outros negando Deus com temeridade. existe além de toda discussão dogmática. inteira. de todas as paixões ivaz. com efeito. Peloquê? Pela ciência? Vimos que nesse caso a ciência é impotente. que a fé dê à necessidade religiosa uma satisfação real. que o homem que pensa é um animal degradado. É uma faculdade da alma humana. como s devastar por um único pensamento todo o infinito que Os filósofos não refletiram suficientemente sobre o fato fisiológico da religião na huma nidade: areligião. com igual fanatismo. permanente. em uma palavra. e seria rigorosamente verdadeiro dizer. da mesma forma que a inteligência e o amor. para que o ato de fé não seja um ato de loucura. Pela autori dade civil? É absurdo. uns afirmando com à sua imagem. aliás. a necessidade religiosa não encontra satisfação e transmuta-se em ceticismo e em desespe ro. Produz-se seja pela afirmação obstinação o deus que fizeram e tivessem podido compreender e está ligado a seu grande nome. a razão quer que ele seja dirigido e regulado. com toda a docilidade de sua inteligência. necessidade que justifica todas as aspirações ao progresso. mas não conforme às suas ordens. a autoridade moral. mortal à fé. na ordem religiosa. que sozinha impede a virtude e a honra de serem unicamente palavras que servem para iludir a vaidade dos fracos e dos tolos em proveito dos fortes e dos hábeis. humanas. e tudo o que tende a diminuir e limitar o impulso dessa crença está. ela não é outra coisa que a necessidade de um idealismo infinito. A essência do objeto religioso é o mistério. Mas.Eliphas Levi A Chave dos Grandes Mistérios . indubitável. a fruição do presente. Colocai guardas para vigiar as orações! Resta. com um sofista célebre. com a autoridade civil. Fora desse ato de fé. única que pode constituir o dogma e estabelecer a disciplina do culto de comum acordo. uma vez que a fé começa no desconhecido e aband ona todo o resto às investigações da ciência. Por isso. . dessa vez. que inspira todas as abnegações. salvavam os outros e não o justificavam. assim compreendida. Ora. Mau e padre são palavras que não se ajustam. com uma fé absoluta. E chegamos por nós mesmos a esta dup la definição: a verdadeira religião natural é a religião revelada. na Igreja hierárquica e divinament e autorizada. O padre. é a religião hierárquica e tradicional que se afirma absolutamente acima das discussões humanas pela comunhão da fé. os sacramentos que. de um dogma conservado por uma h ierarquiaautorizada. Ao representar a autoridade moral e ao realizá-la pela eficácia de seu ministério. nunca houve e nunca haverá nem maus papas nem maus padres. o s acerdote é santo e infalível. 5 . em suas mãos. É preciso um culto eficaz que dê. invariável. deve ser chamada de a única verdadeiramente natural. o papa Alexandre VI nunca corrompeu nem falsificou os dogmas que o co ndenavam. era o papa. é preciso a afirmação absoluta. ao agir c omo padre. mas. A religião. uma realiz ação substancial aos signos da crença. enquanto a humanidade está sujeita ao vício e ao erro. não era o envenenador que impunha as mãos aos bispos. da esperança e da carida de. Quando Alexandre VI fazia uma ordenação. sendo a única que satisfaz a necessidade natural de religião. é sempre o representante de Deus. Pouco importam as faltas ou mesmo os crimes do h omem. Houve sempre e em todos os lugares homens mentirosos e criminosos.Para tanto. de um espírito evidentemente divino. Devendo caracteriz ar o que está acima da razão científica. portan to. e é igualmente i mpossível chegar a saber o contrário do que se crê sem deixar imediatamente de crer. mais positivo que a ciência em suas obras. em . Crer e saber são dois termos que nunca se podem confundir. ele só exprime sua profundidade desconhecida por imagens paradoxais emprestadas do conhecido. c onsiderada como um fato fisiológico. de um espírito desconhecido pelos antigos. o mistério de um Deus em três pessoas não é m problema de matemática. credo quia absurdum. A ciência não pode. a partir da época em que começa a revelaçã ristã. Ousemos afirmar agora que existe um fato imenso. esse nome foi criado. é provar que não se compreende nem a ciência nem a fé: com efeito. Uma afirmação de fé c e a ciência tenha a temeridade de ocupar-se será apenas um absurdo para ela. um espírito para o qual era preciso criar um nome novo. que essa palavra é. acrescentemos que não há mistérios sem símbolos Sendo o símbolo a fórmula ou a expressão do mistério. e isso em nome da ciência. um fato incontestável e de alcance universal. Negar ou mesmo contestar as decisões da fé. por isso mesmo. tanto quanto a fé não pode decidir em matéria de ciência. aliás. no mundo. realizar a obra da fé. a fé em si mesma. e demonstraremos que esse nome. é evidentemente uma necessidade e uma força. destruiria a si própria. a forma simbólica deve necessariamente encontrar-se fora de ssa razão: daí. completamente inaudito nos sa ntuários da Antigüidade. a encarnação do Verbo não é um fenômeno que pertença à medicina. será preciso que a ciência o admita e tome o sábio partido de contar sempre com a fé. crer no contrário do que se sabe sem deixar. Se a ciência afirmasse o que não sabe. a palavra célebre e perfeitamente justa de um Pai da Igreja: Creio. se a fé torna evidentemente os homens melhores.A Chave dos Grandes Mistérios . um fato que torna Deus visível de algum modo sobre a terra.Eliphas Levi Dissemos que não há religião sem mistérios. porque é absu rdo. igualmente apreciável pela fé e pel a ciência. Tampouco poderiam opor-se um ao outro num antagonismo qualquer. A ciência é absolutamente impotente para decid r se se tem ou não razão de se acreditar ou não no dogma. com ef eito. da mesma fo rma que uma afirmação de ciência que nos fosse dada como artigo de fé seria um absurdo na ordem reli giosa. de o saber.Eliphas Levi A Chave dos Grandes Mistérios . esse fato é a manifestação. Assim. É impossível. ela pode constatar somente os result ados da crença e. mais magnificamente ideal em suas aspirações que a mais elevada poesia. a redenção escapa à crítica dos historiadores. se. o mundo abandonará todas as suas tolices. depois. 6 . inclina-se. É mais forte do que todas as paixões.tão bem nomeadas. a fé prosterna-se e a ciência. a palavra é cari dade e o espírito de que falamos chama-se o espírito de caridade. triunfa sobre o sofrimento e a morte. vencida. que venha a mais humilde e a mais simples de todas as irmãs da caridade. a expressão do absoluto. Há evidentemen te aqui algumacoisa maior do que a humanidade. as blasfêm ias dessa revolução cuja voz extingue-se uma vez no sangue e outra no silêncio do desprezo . todos os seus crimes. acrescentei a isso o que o futuro pode nos reservar de monstruosidades e devaneios. Diante da caridade viva e atuante. Diante da caridade. as Ruínas de Volney . tanto para a ciência quanto para a fé. pois esse homem não poderia fazer senão ruínas -. os sofismas de Diderot. para inclinar-se diante dessa realidade sublime. faz que Deus seja c ompreendido por todos os corações e parece já preencher a eternidade pela realização iniciada de suas legít mas esperanças. os argumentos críticos de St rauss.religião. que Proudhon ousará blasfemar? Que Voltaire ous ará rir? Empilhai. a caridade prova por suas obras q ue não é um sonho. todos os seus devaneios doentios. um sobre os outros. t ornada tão nobre e tão grande pelo espírito de caridade. fim e meio d e seus esforços. O símbolo é a arca sagrada da caridade. tudo empreender e tudo cumprir. triunfando sobre as angústias do mais horrível suplício. É a herança sagrada de nossos filhos. o que é a Igreja universal senão a comunhão em espírito de caridade? É pelo espírito de caridade que a Igreja é infalível. é o preço do sangue de nossos pais. o espírito de caridade abrange t udo. expirando na cruz. O espírito de caridade é a virtude div ina do sacerdócio. foram considerados fiéis.Eliphas Levi O que é Deus para nós senão o espírito de caridade? o que é a ortodoxia? não é o espírito d idade que não discute sobre a fé a fim de não alterar a confiança dos pequenos e de não perturba r a paz dacomunhão universal? Ora. . amar am a verdade mais do que suas vidas. Mostraram às multidões a imortalidade viva em sua morte e regaram a terra com um sangue cujo calor não podia extinguir-se. quem quer que o toque é atingido pela morte et erna. objetivo glorioso dado a sua existência." Foi pelo espírito de caridade que doze artesãos da Galiléia conquistaram o mundo. perfeição de sua moral individual. Disseram que acreditar juntos é melhor do que duvidar separadamente. pois neles ardia a chama da caridade. e foram sozinhos dizê-la aos povos e aos reis. pois acaridade retira-se dele. tudo pode esperar. eternida de de felicidade iniciada para eles na terra. prova de sua imortalidade. provados pe la tortura. nas tuas mãos entrego meu espírito. aplica-se a tudo. garantia de seus direitos.A Chave dos Grandes Mistérios . que servir assim é reinar. constituíram a hierarquia sobre a obediência. Dever dos homens. Era pelo espírito de caridade que Jesus. dava a sua mãe um filho na pessoa de São João e. Foi pela caridade que os apóstolos constituíram seus símbolos. pois é um deicida que quer desmembr ar o corpo do Senhor.Eliphas Levi A Chave dos Grandes Mistérios . soltava um grito de lib ertação e de salvação ao dizer: "Pai. civil e religiosa. Era em nome da caridade que São Martinho de Tours protestava contra o suplício dos p riscilianos e separava-se da comunhão do tirano que queria impor a fé pela espada. Era pela caridade que os mártires se consolavam nas prisões dos césares e atraíam para s ua crença seus guardas e mesmo seus carrascos. formularam a fé de todos e a esperança de todos e puseram esse símbolo sob a guarda da caridade de todos. Ai do e goísta que se apropria de uma só palavra dessa herança do Verbo. e fizeram calar de antemão o riso dos filhos de Voltaire dian te da seriedade imponente de suas virtudes. que a loucura da cruz tornou-se a sabedoria das nações.Foi pela caridade que tantos santos consolaram o mundo dos crimes cometidos em n ome da própria religião e dos escândalos do santuário profanado. po rque todos os nobres corações compreenderam que é mais elevado acreditar ao lado dos que amam e devo tam-se do que duvidar ao lado dos egoístas e dos escravos do prazer! 7 . Foi pela caridade. enfim. Foi pela caridade que São Vicente de Paulo e Fenelon impuseram-se à admiração dos séculos. mesmo aos mais ímpios. As poucas páginas que se seguem são simples apanhados das hipóteses cabalísticas. sem ela. Será o Ser universal uma máquina fatal que tritura eternamente as inteligências ocasio nais ou uma inteligência providencial que dirige as forças para a melhoria dos espíritos? A primeira hipótese repugna à razão. No mundo. todos o teoremas tornam-se absurdos ou duvidosos. porque os sintomas são as figuras analógicas da harm onia que vem dos números. a ciência não pode negar nem afirmar que ele existe. o equilíbrio e o fim dos núm eros. 8 . inclinar-se diante da segunda. Para os iniciados da cabala. Deus é uma hipótese. Vamos esboçar uma explicação da Bíblia pelos números. A unidade demonstra a analogia dos contrários. O ato de fé parte da unidade e retorna à unidade. Proudhon. Perguntaremos aos números a razão dos dogmas da religião eterna.A Chave dos Grandes Mistérios . mas é uma hipótese tão necessária que. e nossas asserções como iniciado estão inteiramente subordinadas à nossa submissão como cris tão. Ciência e razão devem. é o princípio. reunindo-se na síntese da unidade. porque a Bíblia é o livro das imagens Deus. Deus é o objeto absoluto da fé humana. Não nos cabe inovar em matéria de d ogma. é a inteligência suprema e criadora da ordem. A chave dos números é a dos símbolos. uma vez que são a expressão da exatidão que é o caráter da mais suprema razão. A unidade da inteligência humana demonstra a unidade de Deus.Eliphas Levi A Chave dos Grandes Mistérios . Sim. são exte rnas à fé e as indicamos somente como pesquisas curiosas. portanto.Eliphas Levi Solução do primeiro problema O Verdadeiro Deus Deus só pode ser definido pela fé. As matemáticas não saberiam demonstrar a fatalidade cega. é o espírito de caridade. é desesperadora e imoral. No infinito. Deus é a unidade absoluta que cria e anima os números. e os números responderão sempre. eu respondo: "Acredito que sim. e. e esse triplo ímpeto da alma é chamado virtude. será concebível que se exija a graça. eu o saberia. po is é metade científico. uma vez que só é definid o em sentido inverso de nossas experiências. mas as fórmulas de fé são constatações sociais das ten cias dafé numa época dada. Ampliar a ciência é aparentemente suprimir a fé. metade hipotético. por conseguinte. Se me per untam: "Existe um Deus?"." Formular a fé é admitir termos da hipótese comum. uma vez que o objeto da fé é externo à razão. porque é preciso coragem para realizá-lo. poder duvidar é duvidar. é idêntica à esperança. O que é o Homem-Deus? É o que realiza na vida mais humana o ideal mais divino. Dogma verdadeiramente mediador. é ampliar igualmente seu domínio. é exigida pelo amor. A fé e. é a idéia de Deus e do homem. Deus é necessariamente o mais desconhecido de todos os seres. longe de impô-lo s aos outros." "Mas o senhor tem certeza di sso?" "Se tivesse certeza. a esperança e o amor são tão livres que o homem. infalibilidade de evidênci e de fato. é a aliança zão e da fé.Eliphas Levi I . Ora. pois é ampliar sua base. A dúvida é a força equilibrante da fé e tem todo o seu mérito.A Chave dos Grandes Mistérios . que se queir orçar oshomens ao que vem livre e gratuitamente do céu? É preciso desejar-lhes isso. é tudo o que não somos. na re lidade. É o que dá a infalibilidade à Igreja. é o infinito oposto ao f inito por hipótese contraditória. Só se pode adivinhar o desconhecido por suas proporções supostas ou passíveis de serem s upostas do conhecido. metade razão e metade poesia. Esse dogma foi e será sempr e o gerador de todos os outros. A fé não pode ser oposta à razão. Amar é acred esperar. Mas haveria coragem nisso se a dúvida não fosse possível? Ora. São graças. isto é. A analogia era o dogma único dos antigos magos.Eliphas Levi A Chave dos Grandes Mistérios . não os impõe a si mesmo. Raciocinar sobre a fé é disparatar. A própria natureza nos induz a crer.A Unidade A unidade é o princípio e a síntese dos números. diz a religião. A fé começa onde a ciência acaba. não acreditaria nele. A fé é uma adivinhação da inteligência e do amor dirigidos pelos índices da natureza e da r . A fé é uma realização hipotética dos fins últimos da esperança. portanto.zão. da essência das coisas de fé serem inacessíveis à ciência. 9 . duvidosas para a filosofia e indefinidas para a certeza. Faz parte. É a adesão ao signo visível as que não se vê. aplicam-se a nós mesmos. Obedecendo e abstendo-se por temor ao fruto da ciência. o Verbo de Deus é o que revela o homem. curioso e rebelde como o anjo de luz. ver com o coração é acreditar e. o homem cortou o cordão de sua ing enuidade e. . pois verão a Deus. analógica e negativa do finito conhecido. e não se deve desesperar a o ver o deus de nossos bárbaros pais tornar-se o diabo de nossos filhos mais esclarecidos. Ora. Isto é. é o absoluto sem realidade e sem luz. Foi depois de ter feito Deus em sua inteligência e seu amor que a humanidade compr eendeu o verbo sublime que disse: Faça-se a luz! O homem é a forma do pensamento divino. O ideal divino do velho mundo fez a civilização que acabou. Antes de dizer: Deus quer. Nossos ju lgamentos. tendo sido inocente e estúpi do como o cordeiro. manifestado. Quem faz os deuses torna-se semelhante a eles. se essa fé se relaciona ao verdadeiro bem. O homem é o filho de Deus. em matéria de fé.Eliphas Levi A Chave dos Grandes Mistérios . é chamado o filho do homem.A Chave dos Grandes Mistérios .Eliphas Levi Argumentum non apparentium Para afirmar sem disparate que Deus existe ou não. é preciso partir de uma definição sen sata ou insensata de Deus. próprios nos fazemos à semelhança de nosso ideal. é o misté io sem verdade. e Deus é o homem do céu. é o enigma sem solução. essa definição para ser sensata deve ser hipotética. O homem é o Deus do mundo. e Satã só é assim tão incoerente e tão disforme porque é feito com todos sretalhos das antigas teogonias. o homem quis. e o Verbo do homem é o que revela Deu s. mas o Deus absoluto não se nega tanto quanto não se prova. e Deus é a síntese idealizada do pensamento hu mano. Pode-se negar um Deus qualquer. não pode ser enganada contan to que não procure definir muito seguindo as induções arriscadas da ignorância pessoal. disse o Mestre. porque Deus. Faze m-se diabos com deuses de refugo. Bem-aventurados os que têm o coração puro. assim como todos aqueles que lhes dão sua confiança. é preciso que o homem seja livre. Para compreender e honrar Deus todo-poderoso. é sensatamente suposto e nele se acredita. será para nós como tivermos acreditado. Assim. É a esfinge sem palavra. do fundo dessa queda sublime. Pois o reino do céu pertence à inteligência e ao amor. arrastou Deus em sua queda. E é por isso que. e. O homem amou e sentiu-se Deus. para pôr seu coração à prova. deu por ela isto que Deus acabava de nos dar: a e sperança eterna. ambos filhos da liberdade! Deus mostrou ao homem a liberdade como uma amante. revela-se glorioso com o grande co ndenado do calvário e entra com ele no reino do céu.caindo livre sobre a terra. entre ela e ele. 10 . fez passar. o fantasma da morte. o homem. os primogênitos de uma nova raça. diz a parábola celeste. então. a viu tão bela e a compreendeu tão generosa. Então. tinha abraçado a vida. vogaremos na imensidão e as estrelas serão nossas brancas naus .Eliphas Levi A Chave dos Grandes Mistérios . O homem possuía a liberdade. que não quis sobreviver a ela. seremos fortes o bastante contra a dor para sermos imortais. A mulher foi quem primeiro se iniciou na imortalidade pela morte. a mulher fechou seu coração como um santuário desconhecido e disse aos homens ind . Seremos. Transformar-nos-emos em doces visões para acalmar os olhos dos que choram. Então viveremos em Deus. é o teu abutre e Júpiter que morrerão. O homem é o amor na inteligência. Um dia despertaremos enfim dos sonhos penosos de uma vida atormentada. numa vida mais abundante. mais do que sua felicidade eterna. Expia agora tua glória. esposa do homem e mãe da sociedade. seremos levados ao infinito pelo sopro de seu amor. porque é mãe e tudo lhe é perdoado de antemão porque dá à luz m dor. Mas os filhos de Caim revoltaram-se contra a mãe de Abel e escravizaram sua mãe. A beleza da mulher tornou-se uma presa para a brutalidade dos homens sem amor.A Chave dos Grandes Mistérios . anjos do porvir. colhere mos lírios resplandecentes em prados desconhecidos e espargiremos seu orvalho sobre a terra . sem dúvida. II . a obra de nossa provação terá acabado. e amou-a mais do que sua vida.O Binário O binário é mais particularmente o número da mulher. A mulher é o sorriso do criador contente de si próprio. ó Prometeu! Teu coração devorado sem cessar não pode morrer. e foi depois de tê-la feito qu e ele descansou.Eliphas Levi . e desceremos às suas obras com a luz de seu pensamento. Tocaremos a pálpebra da criança que dorme e alegraremos docemente o coração de sua mãe com o espetáculo da beleza de seu filho bem-amado. a mulher é a inteligência no amor. Mensageiros celestes. Feliz proscrito! já que lhe foi dada como companheira de seu exílio. A mulher está antes do homem. ignos dela: "Sou virgem. mas quero ser mãe." Ó Eva! sê saudada e adorada em tua queda! 11 . e meu filho ensinar-vos-á a me amar. e nós. à semelhança dos primeiros dias do homem típico no paraíso terrestre. cada rei progressivo do mundo foi por um dia a imagem e aencarnação de Deus! Sonho sublime que explica os mistérios da Índia e justifi ca todos os simbolismos! A elevada concepção do homem-Deus corresponde à criação de Adão. Jesus chamava-o de meu Pai. Esperamos o culto da esposa e da mãe. aspiramos às núpcias da nova aliança. O homem também afirma e cria a si próprio: enfeita-se com suas conquistas. os cegos. pensando em ti. porque terão chorado muito tempo. que dormimos em seu seio. Filhos da mulher. Deus criou a si próprio eternamente e o infinito que ele preenche com suas obras é u ma criação incessante e infinita. e experimenta todas as formas como enfeites.Eliphas Levi Santa crucificada que sobrevivia a teu Deus para enterrar teu filho. todos os proscritos do velho mundo serão convidados para o festim e receberão um traje nupcial. sê para nós a últ ima palavra da revelação divina! Moisés chamava Deus de Senhor. pois é o noivo da vida.A Chave dos Grandes Mistérios . O amor supremo contempla-se na beleza como em um espelho. di remos à Providência: "Sois nossa mãe!" Filhos da mulher. Cada dia forneceu uma revelação nova. Então os pobres. A grande semana da criação foi imitada pelo gênio humano divinizando as formas da natu reza. amemo-la e amemo-nos entre nós! III . reveste-se com suas obras como que com vestes nupciais.Eliphas Levi A Chave dos Grandes Mistérios . que fomos embalados em seus braços e c onsolados por seus carinhos.O Ternário O ternário é o número da criação. ilumina-s e com suas concepções. e o cristianismo. foi apenas uma asp iração e uma viuvez. e olhar-se-ão uns aos outros com uma grande doçura e um in efável sorriso. adoremos a mulher regenerada. 12 . perdoemos a mulher decaída. Filhos da mulher. . quando se quebrarem as últimas correntes materiais das consciências. e os avaros de esperança. que enterrou o exército do Faraó no mar Vermelho! Glória ao Filho que rasgou o véu do templo e cuja cruz extremamente pesada posta sob re a coroa dos . o pai dos homens. Jó. e Jeová.A Chave dos Grandes Mistérios . embriagado às vezes como Noé. tendo esquecido sua mãe. es tes são os réprobos e os malditos do Pai! Cristo não foi excomungado e crucificado pela sinagoga? Savonarola não foi queimado por ordem de um pontífice da religião cristã? Os fariseus não são hoje o que eram no tempo de Caifás? Se alguém lhes fala em nome da inteligência e do amor. Glória. divinizada por suas aflições. tornava-se esposa do Amor. escutá-lo-ão? Foi arrancando os filhos da liberdade à tirania dos Faraós que Moisés inaugurou o rein o do Pai. pois.Eliphas Levi O quaternário é o número da força. Foi quebrando o jugo insuportável do farisaísmo mosaico que Jesus convidou todos os homens à fraternidade do filho único de Deus. Quando caírem os últimos ídolos. deixava o mundo perce ber os mistérios da vida. O sombrio Saturno. compreendeu Deus apen as como um pai inflexível e cioso. quando os últimos sufocadores d o Verbo forem confundidos. será o reino do Espírito Santo. No ardor primeiro da vida. Amar a vida mais do que se teme as ameaças da morte é me recer a vida. Psiquê. e os servidore s do temor. A lei é uma prova de coragem. Os eleitos são os que ousam. o homem. Adônis ressuscitado ree ncontrava Vênus no Olimpo.Eliphas Levi A Chave dos Grandes Mistérios . E. Júpiter teve cenhos que abalaram o Olimpo. vitorioso ao mal. recuperava mais do que tinha perdido. trovões que ensurdeceram as solidões do Sinai. armado com sua foice parricida. os escravos da lei que se fazem os tiranos das consciências. É o ternário completado por seu produto. ao Pai. no entanto. e os fariseus de todas as sinagogas e de todas as igrejas. ai dos tímidos! Assim. é a unidade reb da reconciliada à trindade soberana. quando os últimos matadores de profetas. põe-se a devorar seus filhos. Césares quebrou contra a terra a fronte dos Césares! Glória ao Espírito Santo que deve varrer da terra com seu sopro terrível todos os ladrõe s e todos os carrascos para dar lugar ao banquete dos filhos de Deus! Glória ao Espírito Santo que prometeu ao anjo da liberdade a conquista da terra e do céu. 13 . Brilhas quando o sol se põe e teu olhar resplandecente precede o nascer do dia. eis como uma elevada poesia explica a queda dos anjos. que m orre para Caim por amor. ser fe iz é devotar-se.Eliphas Levi A Chave dos Grandes Mistérios . é Satã. e é seu nada. não dá.Amar é dar-se aos outros. existir somente para si é reprovar a si próprio. a estrela da noite. será verdadeiramente o anjo d a luz quando. e é seu exílio. mesmo para amar. respondeu Deus -. para as glórias antigas do mundo. Ó Lúcifer. respondeu Deus.A Chave dos Grandes Mistérios . o caluniador do amor. O homem do direito é Caim. O direito é apenas a raiz do dever. e separemo-nos. não amar nada é estar morto. . o porta-luz. . é seqüestrar-se no inferno. inaugurando assim as glórias da obediência voluntária. Deus tinha dado aos espíritos a luz e a vida. é preciso possuir para dar. Lúcifer. e nada queremos sofrer. disseram os espíritos ini migos do amor. Ser rico é dar. porque ela reivindica o direito. . . tendo conquistado a liberdade ao preço da reprovação. não ama. Eu e os meus querem os sofrer emorrer. para a verdade renascente. O céu é a harmonia dos sentimentos gerais. não dar nada é ser pobre. responderam os espíritos. e é toda a sua miséria. depois lhes disse: Amai. És. não sofre. A liberdade é a guardiã do dever. para sulcar com teus próprios raios os campos agrestes da noite.Eliphas Levi a inteligência. Cais para de novo levantar. o inferno é o conflito dos instintos lassos . fizer uso dela para se submeter à ordem eterna. . tu te desligaste voluntária e desdenhosamente do céu onde o sol te inundava c om sua claridade.Temos o direito de não dar nada. viver é amar. O anjo caído não é Lúcifer. experimentas a morte para melhor conhecer a vida.Os que amarem sofrerão. e Deus o denominou estrela da manhã. que matou Abel por inveja. o homem do dever é Abel. e é todo o seu sup lício.O que é amar?.Estais em vosso direito. cujas idades das trevas fizeram o gênio do mal. . Ora. mas serão amados . É nosso dever! O anjo caído é pois aquele que desde o princípio recusou amar. a bela estrela da manhã! A liberdade não é a licença: a licença é a tirania. não morre. O dever é a expansão e a fruição da liberdade. 14 . é pelo dever. Não é pelo direito que devemos ousar em tudo. o direito é o egoísmo. O dever é a obrigação. o direito isolado é o pai da servidão.E tal foi a missão do Cristo. o grande Abel da humanidade. Um homem rejeita uma idéia indigna da divindade. devotarmo-nos e. mas prefere a justiça e a verdade a qualquer coisa. A fé é um sentimento necessário à alma como a respiração à vida: é a dignidade do coração. o direito é a morte eterna. diz o livro santo. Negar toda uma religião e mesmo todas as religiões de preferência a aderir a fórmulas qu e a consciência reprova é um corajoso e sublime ato de fé. O dever é amar: pereça todo aquele que cria obstáculos ao amor! Silêncio aos oráculos do ód o! Aniquilamento aos falsos deuses do egoísmo e do medo! Vergonha aos escravos avaros de amor! Deus ama os filhos pródigos! V . O dever é o amor. o direito é o ódio. e dizeis que é um ateu? Os perseguidores da Roma decaída também chamavam os primeiros cristãos de ateus. assemelharmo-nos a Deus? Se é preciso infringir a lei.Eliphas Levi A Chave dos Grandes Mistérios . fé é o grito da razão que persiste em negar o absurdo. quebra suas falsas imagens. A fé não consiste na afirmação deste ou daquele símbolo. mesmo diante do desconhecido. é quando ela submete o amor ao medo. assim. pois é o número de Deus reunido ao da mulher.O Quinário O A A A quinário é o número religioso. mas na aspiração verdadeira e cons te às verdades veladas por todos os simbolismos. e aquele que consen tir em perdê-la salvá-la-á. Todo homem que sofre por suas convicções é um mártir da fé. porqu e não adoravam os ídolos de Calígula ou de Nero.Eliphas Levi . O dever é a vida infinita. Se é preciso combater pela conquista do direito. fé não é a credulidade estúpida da ignorância maravilhada. realidade do entusiasmo.A Chave dos Grandes Mistérios . não o co ndeneis sem . Talvez se explique mal. fé é a consciência e a confiança do amor. revol ta-se contra odiosas idolatrias. Aquele que quiser salvar sua alma perdê-la-á. é somente para adquirir a potência do dever: e por que seríamos livres se não fosse para amar. 15 . Acreditar na verdade suprema não é defini-la. e declarar que nela se crê é reconhecer ig norá-la.entendê-lo. menos se acredita. porque precisa menos dos artigos da crença. a fé é um sentimento comum a toda a humanidade. É o sorriso da criança para a mãe. Oremos em silêncio e ergamos em direção de nosso Pai desconhecido um olhar de confiança e de amor. És um hipócrita e um ímpio. velas e crês que escaparás assim sozinho. no que pressentimos sem saber. É a doce felicidade da alma amante que se dilata num oceano de amor. Rezas. um dogma a mais é uma cre nça de que uma seita se apropria e eleva assim. Esperar não é ter medo. É o pensamento do pobre que trabalha para alimentar a mulher e os filhos. à perda ime nsa dos homens devorados por um Deus cioso. É o olhar do espírito para a verdade e o suspiro do coração para a beleza suprema. Acreditemos na razão suprema. és um doente ou um insano. É o suspiro do viajante que pensa em sua pátria.A Chave dos Grandes Mistérios . Um dogma qualquer constitui apenas uma crença e pertence a uma comunhão especial. e acreditemos na verdade indizível. Ó homem! dize-me o que esperas. no absoluto que a razão admite sem compreender. Fazes da vida uma orgia e esperas o nada como sono. Estás pronto a sofrer como os outros e pelos outros e esperas a salvação de todos. Deixemos os sectários fazerem e refazerem seus dogmas. É o murmúrio do bem-amado que se debruça para os beijos de sua bem-amada. A oração é o derramar-se da alma na sabedoria e no amor eternos. de alguma maneira. aceitemos com fé e resignação a parte que nos cabe nas penas da vida. jejuas. à fé universal. deixemos os supersticiosos detalharem e formularem suas superstições. e todas as batidas de . Acreditemos no amor infinito e tenhamos piedade das estupidezes da escola e das barbáries da falsa religião. ou quase sozinho. como dizia o Mestre. Quanto mais se discute para precisar.Eliphas Levi A Chave dos Grandes Mistérios . É a tristeza da esposa na ausência do novel esposo. és um sábio e um justo. Ter medo de Deus! Que blasfêmia! O ato de esperança é a oração. deixemos os mortos enterrarem seus mortos.Eliphas Levi A fé é maior que as religiões. e eu dir-te-ei o que vales. 16 .nossos corações serão palavras de oração. E. não procures mais. Deus é quem dá a vida. não duvideis mais . dirijamos-lh e o nosso sorriso. O egoísmo do homem merece o isolamento e o desespero. como amará a Deus que não vê? É preciso dar a Deus o que é de Deus. justiça. este se e ngana. religião quer dizer caridade. se nos regozijamos. Pois. Eu já vos disse: amar é dar. mas não se deve recusar mesmo a César o que é de Césa . o egoísmo da pátria merece a guerra e a invasão. pois está dito no livro sagrado: Quem com fer ro fere com . eis a lei e os profetas! Meditai e compreendei essa pal avra. o egoísmo da família merece a ruín a e o exílio. O homem que se isola de todo amor humano ao dizer: Eu servirei a Deus. O homem pio é aquele que se expande na humanidade. É preciso amar a Deus e não temer a César. se ele não ama ao próximo que vê. se ele o faz resplandecer fora. à humanidade. baixemos a cabeça. E doces lágrimas vêm umedecer os olhos. e o próprio Deus não é senão amor. tornase um doce sol de amor. se nos acaricia. diz o apóstolo São João.Eliphas Levi A Chave dos Grandes Mistérios . Pois a oração é a vida eterna da inteligência e do am or. O homem doa-se à família. Se o coração do homem concentra em si próprio o fogo com o qual Deus o anima. Fica-se tomado por um inefável amor a tudo o que é beleza. palpita-s e de uma nova vida e não se teme mais morrer. não mais sejais eruditos.A Chave dos Grandes Mistérios . A oração não é um ruído que fere os ouvidos. amai! Não mais sejais sábios. verdade. não leiais mais. amai! Essa é a doutrina da verdadeira religião. adormeçamos em seus braços! Nossa oração será perfeita. é um infer no que devora tudo e que só se preenche de cinzas. quando tiverdes compreendido. quando orarmos sem sequer saber que oramos. a pátria. Amai-vos uns aos outros. César é quem pode dar a morte. a família doa-se à pátria. O ímpio é aquele que absorve os outros.Eliphas Levi ? Se choramos. se ele nos atinge. apresentemos-lhe as nossas lágrimas. é um silêncio que penetra no coração. e suspiros escapam como a fumaça dos incensos. é a vida de Deus na terra. sede justos. Olhai o bêbado e dizei-me se essa besta imunda pode ser livre! O avaro maldiz a vida de seu pai e. sede livres! Os vícios que deixam o homem semelhante à besta são os primeiros inimigos da sua liber dade.ferro perecerá. quereis ser justos. como o corvo. 17 . tem fome de cadáveres. Quereis ser bons. Todos esses corações sem amor são punidos pelo mais cruel dos suplícios: o ódio. e as grandes revoluções do mundo são a l avoura de Deus. Mas. Se o tempo pudesse transformar os carneiros em leões. O mal é o apelativo da desordem do bem. é o hieróglifo da c bem e do mal. saibamo-lo bem. Para o rebanho dos homens. é a tentativa infrutífera de uma vontade inábil. nos sonhos de nossa inteligência imperfeita." A natureza continua calma e realiza sua obra. o sofrimento é como o cão pastor que morde a lã das ovelhas para recolocá-las no caminho. com os escombros da alma. VI .O Senário O senário é o número da iniciação pela prova. Pois. O homem que faz o mal é como um vaso de barro defeituoso.Eliphas Levi A Chave dos Grandes Mistérios . tendes razão. Quem procura a origem do mal procura o que não é. refaz anjos. é por causa do frio que sentimos o calo r. acusamos o trabalho providencial . Tudo tem seu tempo: aos povos ferozes. é por causa da dor que somos sensíveis ao prazer. a expiação está contida no pecado. para nós.Eliphas Levi e abortos as entranhas da morte. Cada um possui o fruto de suas obras. a ocasião e o começo do bem. a fatalidade o quer. portanto. eles comeriam os açougueiros e os pastores. Assemelhamo-nos ao ignorante que julga o quadro no começo do esboço e diz. quando a cabeça está feita: "Então esta figura não tem corpo.A Chave dos Grandes Mistérios . Com os escombros do mundo. aos homens. mas os povos instruem-se . e a pobreza é somente o aguilhão do trabalho. em ver como inimigos aquel es que falam a . juizes e pais. Pastores e açougueiros dos povos. ao gado. senhores bárbaros. O mal é. açougueiros. quebrar-se-á. é o número do equilíbrio. Os carneiros nunca se transformam porque não se instruem. por não o compreender. portanto. A relha não é cruel quando rasga o seio da terra. É por causa da sombra que podemos ver a luz. Deus refaz estrelas. 18 .vosso rebanho. a dúvida deve pôr à prova o dogma e o homem i ntelectual deve estar pronto a tudo sacrificar diante da razão suprema. mostra-se à ciência e apenas o lado materi al do dogma é imolado. Moisés deixou cinco livros. os persas. então. a árvore da ciência é o direito. homem do dever. deve confirmar suas conquistas pel o sacrifício. Alexandre. Deus abandona-te! Eli! Eli! Lamma Sabachtani! VII . quand o a força produz seu fruto. nessa época. a expiação pelo trabalho é o dever. é seu pensamento. Napoleão. e uma escrava fecunda. Tem uma mulher estéril. Caim é maldito por ser seu revelador. intervém: a razão universalcede aos esforços do trabalho. O homem de inteligência é submetido a duras provas.A Chave dos Grandes Mistérios . o Grande. Roma. e sempre inacabado por causa da dispersão de interesses. isto é. a Nemrod. A arca é a tradição conservada numa família: a religião. a violência e a harmonia. é sua força. Nemrod e Babel são duas alegorias primitivas do désposta único e do império universal se mpre sonhado desde então. empreendido sucessivamente pelos assírios. o pensamento torna-se fecundo. Deus. é um livro de alegorias e imagens. A história de Abr aão é pois um símbolo à moda antiga e contém uma elevada revelação dos destinos da alma humana. é uma coletânea de poemas. Caim e Abel representam a carne e o espírito.Eliphas Levi A Chave dos Grandes Mistérios . a força e a inteligência. É a chave da criação de Moisés e o símbolo de toda a religião. Tomada a . A Bíblia não é uma história. a serpente que tenta é o tempo que põe à prova. mas pela inteligência e pelo amo r.Eliphas Levi Ó Cristo! Os grandes condenam-te. teus discípulos renegam-te. homem do direito selvagem. os medas. Adão e Eva são somente tipos primitivos da humanidade. somente tua mãe chora. que se exila para buscar a liberdade e a luta numa terra estrangeira de que se apodera pelo pensam ento. o povo amaldiçoa-te e ac lama teu suplício. Deus quer que ele imole seu filho. o dilúvio foi um imensa revolução. os sucessores de Pedro.O Setenário O setenário é o grande número bíblico. torna-se um mistério propriedade de uma raça. Os gigantes são os antigos usurpadores da terra. e o filho da inteligência exila o filho da força. Por isso. e a lei resume-se em dois testamentos. mas. figurada pela confusão das línguas. É o que representa o carneiro preso pelos chifres entre os arbustos. O império universal não deveria realizar-se pela força. a Bíblia opõe Abraão. hospitaleira. é um relato absurdo e revoltante. laboriosa. Santo Agostinho não tomava ao pé da letra o Asno de Ouro de Apuleu! Pobres grandes homens! A história de Isaac é uma outra lenda. Rebeca é o tipo de mulher oriental. Jacó e Esaú são ainda os doi s tipos 19 .o pé da letra. astuta e ardilosa em suas manobras. parcial em suas afeições. feres esse homem e corres a salvar teu filho!. A servidão dos filhos de Jacó prepara sua libertação: eles têm uma idéia.. e Cristo. mas é ocultada com cuidado.. O direito para os judeus era a doutrina dos fariseus. e os filhos de Israel velam. com efeito.A Chave dos Grandes Mistérios . o Faraó cai e a coluna de nuvens e chamas que precede um povo livre avança majestosa mente no deserto. a idéia encarna-se num homem. um homem impede-te de socorrê-lo. têm uma religião. quando os velhos símbolos não têm mais virtude s. Hermor e Siquém querem introduzir-se pela força na família sagrada e perecem com seu povo em conseqüência de uma falsa iniciação.Eliphas Levi A Chave dos Grandes Mistérios . quando a pátria da inteligência está extinta. A perseguição suscita vingadores. como um germe precioso. e não se acor ta um verdadeiro povo. e não se acorrent ma idéia. tens o direito de resistir até a morte a quem quer que te impeça de cumprir o teu dever! Mãe! teu filho afoga-se. Um signo doloroso e indelével é imprimido nos iniciados. Para dominar os povos. ressuscitará o mundo abandonado ao culto morto dos ídolos. segurando o sabre em torno da unidade do tabernáculo. Essa idéia é a da independência humana e a da realeza pelo trabalho. é preciso que o santuário já es a cercado de sacrifícios e terror. Cristo veio para opor o direito do dever ao dever do direito. desconh ecido por seu povo. Vem para fazer Israel voltar à vida e. O Cristo é o pai e o rei pela inteligência e pelo amor. Cristo é o direito do dever! O homem tem o direito de cumprir o seu dever e não tem outro. E. Moisés levanta.Eliphas Levi A história ou lenda de José contém em germe todo o gênio do Evangelho. a unção da fé. a unção do gênio. toda imagem da verdade é proibida. Ele vem quando o sacerdote está esgotado. Homem. o conservador da idéia e o depositário do Verb o. teve de chorar mais de uma vez ao reler esta cena em que o governador do Egito lança-se ao pescoço de Benjamim dando um grito e dizendo: "Eu sou José!" Israel torna-se o povo de Deus. e não se violenta uma religião. a unção da virtude que é a força. Recebeu a unção santa. morto pelos f ariseus. são por fim um povo. Quem ousará condenar-te?.. pareciam te . isto é. se não puder galvanizar Israel.. O Cristo é a protestação viva.r adquirido o privilégio de dogmatizar. Mas protestação de quê? Da carne contra a inteligência? Não! Do direito contra o dever? Não! Da atração física contra a atração moral? Não! não! 20 . não eram eles os legítimos herdeiros da sinagoga? Tinham o direito de condenar o Salvador. e o Salvador sabia que seu direito era o de resistir-lhes. homens do mundo inteiro. o Salvador legou a seus filhos o símbolo imortal da salvação: a comunhão. Cristo é julgado. É que a sociedade é acusada de roubo. o Cristo é triste: por quê? É que a mulher prostituiu-se. sede atentos e pensai naquele que julgará vossos j ulgamentos. condenado. Não bebais o sangue do Cristo. Vós todos que não estais prontos para dar à humanidade vosso sangue. É a devoção revoltada contra o egoísmo. é minha carne e meu sangue! Ele deu sua carne aos carrascos. É a emancipação do espírito que quebra a servidão da carne.Eliphas Levi a uma vez! O Cristo é o dever real que protesta eternamente contra o direito imaginário.A Chave dos Grandes Mistérios . po is faria nódoas sobre vossa fronte! Não aproximeis vossos lábios do coração de Deus. Ó signo da união dos ho mens! Ó mesa comum! Ó banquete da fraternidade e da igualdade! quando enfim serás melhor compreendido? Mártires da humanidade. ele sentiria vossa mordedura. Juizes do mundo em que vivemos.Eliphas Levi A Chave dos Grandes Mistérios . Mas. antes de morrer. também não dizeis ao impor a mão sobre esses símbolos da comunhão universal : Isso é nossa carne e nosso sangue! E vós. seu sangue à terra que quis bebê-lo: e por quê? Para que todos repartam o pão da inteligência e o vinho do amor. vós que destes a vida para que todos tivessem o pão que alimen ta e o vinho que fortifica. É que a felicidade egoísta é ímpia. o Cristo é só. queimaria vossas entranhas. É a modéstia sublime que responde ao orgulho: Eu não te obedecerei! O Cristo é viúvo. O pão e o vinho repartidos entre todos. vós a quem o Mestre chama irmãos: oh. executado. disse ele. e nós o adoramos! Isso se passou num mundo talvez tão sério quanto o nosso. vossa carne e vos sa vida não sois dignos da comunhão do Filho de Deus! Não o façais derramar seu sangue sobre vós. Comunhão! União comum! Última palavra do Salvador do mundo. não sentis que o pão universal é Deus! Devedores do crucificado. já é suficiente que ele o t enha derramado inutilmente por vós! 21 . . é a te imosia dos doutores e dos sectários. O papa respondeu: Todo herege é um anticristo. que escandaliza ao invés de edificar. é o orgulho da dominação e o despotismo do pensament . olhai os padres indignos. O cristianismo devia produzir o anticristianismo. É o egoísmo pretensamente religioso dos protestantes da mesmíssima maneira que a ignorân cia crédula e imperiosa dos maus católicos. O anticristo não é mais o papa do que Lutero: o anticristo é o espírito oposto ao do Cri sto.Eliphas Levi A Chave dos Grandes Mistérios . E não compreenderam que o altar não é uma manjedoura para os animais preguiçosos. o de forçar todo o mundo a sofrer a estreiteza de nossos julgamentos. É o fanatismo odioso que desencoraja a boa vontade. a fim de que viva do alta r. Por isso. de olhos inexpressivos. que condena ao invés de salvar. é o espírito de disputa. de lábios cerrados ou escancarados? Escutai-os falarem: o que vos ensina esse ruído desagradável e monótono? Rezam como dormem e sacrificam como comem. O anticristo já se produzia na Igreja na época dos apóstolos: Aquele que resiste agora resiste até a morte. É a usurpação do direito pelo direito. É o culto da morte. dizia São Paulo. ele é fraco de espíri to e de corpo e seu coração não dá ainda sinal de vida: faremos dele um padre. Toda ação produz uma reação. O que é que dizem a vossos corações esses homens gordos ou cadavéricos. é o contraste e a prova do Cristo. O anticristo é o que divide os homens ao invés de os unir. É a lei universal do mundo.Eliphas Levi O octonário é o número da reação e da justiça equilibrante. o desejo ímpio de se apropriar da verdade e dela excluir o s outros. Os protestantes disseram: O anticristo é o papa. Que futuro daremos a nosso filho? disseram os pais insensatos. O anticristo é o pai que amaldiçoa ao invés de abençoar. contemplei esses pretensos servidores do alt ar. O anticristo é a sombra.A Chave dos Grandes Mistérios . que afasta ao invés de aproximar. e o filho da iniqüidade manifestar-se-á. da tristeza e da fealdade. de vinho e de palavras vazias de sentido. por estarem sem pensamento e sem amo r. de carne. diz-se que têm paz de espírito.São máquinas de pão. como ostras ao sol. 22 . E. quando se regozijam. Encontrei alguns nas prisões. na véspera dos grandes desastres. Assim. Os profetas são solitários. dizendo: Pão de Deus. faze-te pão para todos! Conheço outro que gritou: Não quero mais adorar o Deus do diabo. como sempre. e ele quer ser seu enfermeiro. eis o número dos iniciados e dos profetas. apenas diz: Enquanto eu for melhor. desceu a rua. . que ama e que combate pela justiça. Vê os maus como doentes de quem é preciso ter pena e cuidar.O Número Nove Eis o eremita do tarô.Eliphas Levi O verdadeiro padre do Cristo é um homem que vive. Toda grande cidade viu algum cuja profecia silenciosa era girar incessantemente e andar sempre coberto de andrajos no palácio do luxo e da riqueza. vi outros que morriam esquecidos em pardieiros. não reprova. Não. outros talvez tomarão meu lugar e nos servirão. Um dia. o hospital de Deus.A Chave dos Grandes Mistérios . o símbolo inteiro tem para ele som ente um sentido de doçura e amor: deixa para Deus os segredos da justiça e só compreende a caridade.Eliphas Levi A Chave dos Grandes Mistérios . ele é tudo para todos e vê todos os homens como filhos de um pai comum que quer salvar a todos. que sofre. sirvamos os outr os. Agora. O verdadeiro cristão é estranho ao espírito de seita. quando os eventos ocorrem. pressentem as desgraças por vir. Vêem muito mais que os outros. sobre esta coluna de ouro e aço. numa grande assembléia do povo. pois seu destino é nunca serem ouvidos. Vi um cujo rosto resplandecia como o do Cristo: tinha as mãos calejadas e a roupa do trabalhador e moldava epopéias como argila. Depois. mortos ou vilipendiados. a inteligência e o amor. quando for preciso cair e morrer. não quero um carrasco como Deus! E acreditou-se que ele blasfemava. IX . difunde o perdão. Torcia juntos o gládio do direito e o cetro do dever e . mas a energia de sua fé transbordava em palavras inexatas e imprudentes. o mundo com seus erros e seus vícios é. Não se acha melhor que ninguém. ou deixam-nos morrer de fome. para ele. inaugurava o símbolo criador do amor. nossas ruas estão plenas de pr ofetas. Não briga. são aprisionado s. dizemos: Foram essas pessoas que nos trouxera m desgraça. segurando um pão que partia e distribuía. são rejeitados como leprosos. na loucura de sua caridade ferida: Todos os homens são solidários e exp iam uns pelos outros.Dizia ainda. da mesma forma que se merecem uns aos outros. O castigo para o pecado é a morte. 23 . em verdade te digo que virá o tempo em que os homens não adorarão mais a Deus nem em Jerusalém nem sobre esta montanha. enfim. O que chamamos de liberdade é somente a onipotência da atração divina. Quando todos respeitarem o que o próprio Deus respeita na menor de suas criaturas: a espontaneidade da obediência e a liberdade do dever. Uma prática de religião nunca é desprezível. a religião cristã e universal. O menos perfeito ato de amor vale mais ao que a melhor palavra de piedade. pois Deus é espírito. A religião é o laço mais sagrado e mais forte da associação humana. que não se deve discutir sobre coisas que s e ignora. Não julgueis. uma vez que são passivos. na mesma caridade. Mulher. Que cada um reze seguindo seu rito e comungue com os seus. Restabelecei todos os altares.A Chave dos Grandes Mistérios . Então. mas não v os separeis de ninguém. Quando sentirem que um pouco de caridade vale mais que muita influência e dominação. Paixão significa sofrime nto e redenção pela dor. dizia o Salvador à samaritana. Os homens apaixonados são escusáveis. a verdadeira religiã atólica que não renegará mais a si própria por restrição de lugares ou de pessoas. mas não condeneis os ou tros.Eliphas Levi O pior dos homens é o que se acredita melhor do que os outros. X Número Absoluto da Cabala A chave das sefirotes (ver Dogma e Ritual da Alta Magia). Rezar em conjunto é comungar na mesma esperança. Quando os homens compreenderem. só haverá uma religião no mundo. purificai todos os templos e estai prontos para a visita do espírito do amor. O signo não é nada para si próprio: é a fé que o santifica. na mesma fé. e fazer um ato de reli gião é fazer um ato de humanidade. amai e agi. e s eus verdadeiros adoradores devem servi-lo em espírito e em verdade. falai pouco. .Eliphas Levi A Chave dos Grandes Mistérios . pois é o símbolo de um grande e santo pensamen o. Um outro que veio disse: Protestai contra as más doutrinas por boas obras. Os mártires diziam: Mais vale obedecer a Deus que aos homens. 24 . nosso dever é defender nossos direitos. o despotismo isolado de um indivíduo que usurpa a realeza e faz guerra por sua conta e risco. O reino dos céus é dos lutadores e se ganha à força. o que podemos ainda reclamar? Honra a todos os que combatem bravamente e lealmente! Vergonha somente aos traid ores e aos covardes! O Cristo morreu entre dois ladrões e levou consigo um deles ao céu. tendo pago. os mártires caem dos dois lados. O que é um crime? É o exagero do direito. Não existem crimes isolados nem expiações solitárias. O crime deve ser sem dúvida reprimido. pois morre pelos outros. 25 .A Chave dos Grandes Mistérios . Todo homem que morre por uma idéia é um mártir. Sendo o direito a raiz do dever. Gosta de triunfar sobre o ódio. é o que morre para salvar. pois é como um soldado vencido na batalha da vida. Não existem virtudes pessoais nem devotamentos perdidos. nas grandes lutas da revolução contra o poder.Eliphas Levi Onze é o número da força. O dever é viver. mas quem po deria ser justo o suficiente. Todo homem que morre na guerra é um mártir. nem que seja por um instante! É belo ter reinado por um dia. pois nele as aspirações do espírito triunfa am sobre os temores dos animais. mesmo por uma hora! Mesmo que seja sob a espada de Dâmocles ou na fogueira de Sardanapalo. Todo homem que morre miserável é um mártir. mesmo na guerra ilegítima.Eliphas Levi A Chave dos Grandes Mistérios . pois arriscaram a cabeça e perderam-na. Aqueles que morrem pelo direito são tão santos em seu sacrifício quanto as vítimas do de ver e. O assassínio e o roubo são negações da sociedade. Deus dá sua onipotência ao amor. e. Mas é mais belo ter visto a seus pés todas as coisas do mundo e ter dito: Serei o re i dos pobres e meu trono será sobre o calvário. grande o suficiente e puro o suficiente para ter a pretensão de puni r? Paz a todos os que tombam na guerra. é o da luta e do martírio. e a sociedade deve defender-se. Existe um homem mais forte do que aquele que mata. mas vomita a tibieza. . Eliphas Levi A Chave dos Grandes Mistérios . ousados de toda sorte. realistas degolados. Creio no Rei salvador. bravos filhos de Prometeu q ue não tendes medo nem do raio nem do abutre. Descido entre nós para libertar a terra. Desejado pelo mundo sempre e em todos os lugares.Eliphas Levi É por isso que um suplício é sempre uma expiação humanitária. sábio e doce homem. paz e veneração a vossas memóri as! Sois os heróis do progresso. palavra e esplendor. 26 . Eterno criador do céu e da terra. Padres da Abbaye e dos Carmes. nosso pai. rev olucionários sacrificados. Concepção viva do eterno amor. Mas que não é um Deus separável de Deus. Eis uma tradução dos versos feitos para o símbolo mágico e católico sem restrição: Creio num só Deus onipotente. Santificou a mulher em sua mãe. É por isso também que o mais nobre e o mais santo dos mártires podia. filho. vós todos que morresses com sofrimento. honra a vossas cinzas. judeus e protestantes massacrados por indign os cristãos. chefe da humanidade. guilhotinados do terror.O Número Doze O doze é o número cíclico. Era o homem celeste. é o do símbolo universal. ao entrar em sua consciência. saudando o gládio pronto a ferilo: Justiça seja feita! Puras vítimas das catacumbas de Roma. Da divindade. e toda cabeça que é recolhida m cadafalso pode ser saudada e honrada como a cabeça de um mártir. soldados de nossos grandes exércitos que semeasses as ossadas pelo m undo. Divindade visível e luz atuante. Nasceu para sofrer e morrer como nós.A Chave dos Grandes Mistérios . achar-se digno da pena que iria suportar e dizer. os mártires da humanidade! XII . da ignorância. as nuvens dissipar. da A sociedade O direito é número da morte e o do nascimento. não é nem o direito de destruição nem o direito de seqüestro. por sua doutrina. a boa fé. a necessidade. Creio que. Serão o julgamento dos vivos e dos mortos. E que em nós. do lugar. XIII . É um sopro de vida e fecundidade Que provém da humanidade e do Pai. o dever. do dever e da fé mútua. Creio na família única e sempre santa Dos justos que o céu reuniu em seu temor.A Chave dos Grandes Mistérios . A propriedade é o direito de dispor de uma parte da fortuna comum. Aquele que quer receber mais do que dá ou que quer receber sem dar é um ladrão. Seus preceitos. a morte nos renove. tem por bases as trocas do direito. 27 . em nos transformando. é o da propriedade e da herança. da socie guerra e dos tratados. Deve.O Número Treze O treze é o dade e da família. Todos os que o tomarem por guia e apoio Podem. Creio na unidade do símbolo. a troca.Eliphas Levi . a propriedade. ser Deus como ele. Do pontífice e do culto na honra de um só Deus. a vida é eterna. Morreu na cruz para nos dar a vida.Eliphas Levi A Chave dos Grandes Mistérios . Ressuscitou para reinar sobre os tempos. como em Deus. Creio no Espírito Santo cujos únicos intérpretes São o espírito e o coração dos santos e dos profetas. um dia mais fortes e mais conhecidos. deslocar a propriedade. mas o próprio trabalho não é uma garantia segura de posse. porque o verdadeiro proprietário de todas as coisas é Deus. Ora. o bem que não circula está morto. o que vos deve ser tomado um dia não vos pertence realmente. Foi apenas um em préstimo. ma s acidental. Usai vossos direitos. Será que querem executar o julgam ento de Salomão e separar também o filho? Prometer-se um amor eterno é puerilidade: o amor sexual é uma emoção sem dúvida divina. Fazei. mas a promessa do devotamente recíproco é a essênci a do casamento e o princípio da família. é o resultado do trabalho. O que quer o pobre. um bom uso das coisas que perecem. A sanção e a garantia dessa promessa devem ser uma confiança absoluta. não entesoureis a morte. subtraída à troca. ele poderia ir mais longe e dizer que tal supressão da vida pública é um verdadeiro assassínio. A família é uma associação natural que resulta do casamento. pois. mais fazei vosso dever: o dever do rico é exp andir a riqueza. Dois esposos que têm um filho e se separam são ímpios. . pela devastação ou pelo incêndio. desviada da utilidade COMUM. vós que perecereis antes delas! Levai em consideração que o egoísmo provoca o egoísmo e que a imoralidade do rico corres ponderá a crimes dos pobres. e a guerra pode vir.A Chave dos Grandes Mistérios . se é honesto? Quer trabalho. que o instinto público sempre viu como um crime de lesa-m ajestade humana. não levareis convosco ao morrer nenhum dos bens des te mundo. Quanto ao usufruto. que quer que tudo seja de todos. Um sofista disse: A propriedade é o roubo. involuntária e transitória. O que quer que façais. Se esse era seu pensamento. e toda suspeita é um ultraje. E queria sem dúvida falar da propriedade absorvida.Eliphas Levi Digo bem público. Todo ciúme é uma suspeita. O casamento é a união de dois seres que o amor uniu e que se prometem um devotamento mútuo no interesse dos filhos que podem nascer.Eliphas Levi A Chave dos Grandes Mistérios . É o crime do açambarcamento. esses traem verdadeiramente a fé conjugal. 28 . o homem que confia a outra mulher. que não a sua. são faltas humanas . As surpresas dos sentidos só são infidelidades por causa dos arrebatamentos do coração q ue se abandona mais ou menos ao reconhecimento do prazer. as aflições ou as esperanças de seu coração.O verdadeiro adultério é o da confiança: a mulher que se queixa de seu marido perto de outro homem. Afora isso. os bons costumes são a proscrição do escândalo. mas que nunca se deve procurar surpreender. de que é preciso envergonhar-se e que se deve esconder: são indecências que é preciso evitar af astando as ocasiões. Não se é indecente porque tem-se órgãos que o pudor não nomei mas se é obsceno quando são mostrados. Todo escândalo é uma torpeza. indissolúvel. quando existe realmente. mas nunca têm uma família: o casamento. seus casamentos. Depois tremei. Quereriam sempre e não querem nunca.. começam sempre e não terminam nunca. oque é então? É uma apóstata da honra. Os casamentos que são rompidos não são casamentos. Para tais pessoas. Vivemos num século em que mais do que nunca a família é desconhecida no que tem de aug usta e sagrada: o interesse material mata a inteligência e o amor. Esses miseráveis eram órfãos pelo espírito e pelo coração e vingaram-se de seu nascimento!. t entativas e simulacros de amor. vós todos que não sancionais a autoridade paterna pela virtude do bom exemplo. e os homens que vivem como animais sofrem as fatalidades de sua natureza. do homem emancipado. Tais seres podem ter uma ninhada. a família são direitos do homem perfeito. as leis só se aplicam pela repressão.A Chave dos Grandes Mistérios . que carinhos as enobreceram. são acasalamentos.. não é viúv a. No que se pode transformar uma mulher que abandona o marido? Não é mais esposa. Fazem sem cessar tentativas para agir racionalmente. Suas promessas são tentativas e simulacros de promessas. Por isso. tentativas e simulacros de casamento. É preciso uma elevada dignidade de coração para conservar a fé conjugal: é um pacto de her oismo que somente as grandes almas podem compreender em toda a extensão. . porque não é nem m nem livre. Os animais não se casam.. não exibais as misérias do leito conjugal: seria vos ínscreverdes na opinião púb lica como prostituídas. Um marido que abandona a mulher a prostitui e merece o nome infame que é dado aos amantes das jovens perdidas. O casamento é sagrado. que leite sugaram. seus amores. que é forçada a ser licenciosa..Eliphas Levi Mulheres. do homem inteligente e livre.Eliphas Levi A Chave dos Grandes Mistérios . as lições da experiência são d . consultar os anais dos tribunais e lede a história dos parricidas. Mas só pode existir para seres de elevada inteligência e nobre coração. vós tod os que não dais a vossos filhos o pão da inteligência e do amor. Erguei o véu negro de todas estas cabeças cortadas e perguntai-lhes o que pensaram d o casamento e da família. A carne insulta o espírito.. o mai s sublime dos direitos é o de morrer para não matar. a carroça anda. 29 . e será escrito num túmulo de ruínas: Aqui az o século parricida! o século carrasco de Deus e de seu Cristo! Na guerra tem-se o direito de matar para não morrer: mas na batalha da vida. a fraude ri na cara da lealdade. regateia-se as coisas de Deus.esprezadas. mais justiça: a vida humana ficou órfã dos dois lados... Quanto mais ideal.. mais um século será julgado pela história. Logo. Vede como é t riste! O tédio é o véu negro de sua cabeça. e a multidão segue estremecendo. Coragem e paciência! Este século irá para onde devem ir todos os culpados. Quéreas apenas d eu lugar a Cláudio e a Nero. Sansão cego e acorren tado que sacode as colunas do templo e grita: Que eu morra com os filisteus! Acreditai. sobre o egoísmo pela abnegação. Massacra-o com tua grandeza: perdoa-o! . E miríades de homens avançavam conduzidos pelos séculos. entretanto. tivesse ido a Roma apunha lar Tibério. o qual não faz questão da sua. que.Mas e se o tigre ameaça meus filhos? . Mas. plantou a vinha da fraternidade. entre duas multidões e duas épocas. deixando cair lágrimas no regat o.A própria natureza vos responderá. pois ele é senhor da vi da dos outros. A Bíblia consagrou os nomes de Judite e Aud e uma das mais sublimes figuras do livro santo.Eliphas Levi . e nunca havia o suficiente para lavar uma mancha de sangue. antes de morrer. . E.A Chave dos Grandes Mistérios . Protestar contra a violência com violência é justificá-la e forçá-la a se produzir. teria salvado o mundo como fez ao perdoar seus carrascos e até mesmo ao morrer por Tibério ? Brutus. no entanto. sobre a ferocidade pelo perdão: é o segredo do cristianismo e da vitória eterna. a moral nada prescreve. se Jesus. aqu i. veio o Cristo. contava-as uma a uma. é mais belo deixar-se devorar. contemplava as lágrimas que caíam. salvou a liberdade romana? Ao matar Calígula. e as lágrimas e o sangue . Eu vi o lugar em que a terra sangrava ainda pelo assassínio de Abel e nesse lugar passava um regato de pranto. Harmódio e Aristogiston tinham festas e estátuas na Grécia antiga. a vida daquele que te ofendeu está em tuas mãos. ao matar César.Se for um tigre com rosto humano. pálida e resplandecente figura .Mas será proibido matar o tigre que nos ameaça? . E a eternidade. agachada e morna. Mas triunfar sobre o mal pelo bem.Eliphas Levi A Chave dos Grandes Mistérios . na terra do sangue e das lágrimas. Homem de coração. aspirados pelas raizes da árvore divina tornaram-se a seiva deliciosa da uva que d eve embriagar de amor os filhos do futuro. por que.O Número Catorze Catorze é o número da fusão. da associação e da unidade universal. em meio ao movimento das nações. continuais imóveis como se guardásseis os túmulos de vossos pais? 30 . e é em nome do que repre enta que faremos aqui um apelo às nações. XIV . a começar pela mais antiga e mais santa. Filhos de Israel. Há somente lei como há somente um Deus. e comei conosc o hóstias pacíficas nos altares que o sangue nunca conspurca. Pois doravante não recusareis mais um asilo em vossa casa e em vosso coração a vosso i rmão José que vendesses às nações. Porque ele se tornou poderoso na terra do Egito onde procuráveis pão durante os dias de esterilidade. em memória de Abraão. como dizem todos os vossos profetas. és mais bela do que Maria? Ó Maria. pois sereis ainda amigos do viajante. vem . e os povos ao vos ver passar não dirão mais: Aí estão os judeus! gritarão: Abram alas para nossos irmãos. Deus é Deus. Ó mulher idealizada. seu jovem irmão.Eliphas Levi A Chave dos Grandes Mistérios . o Alcorão e o Evangelho são três traduções diferentes do mesmo livro. tornai-vos filhos de Deus: compreendei e amai! Deus apagou de vossa fronte a marca de Caim. Moisés é o precursor de Jesus. cantaremos convosco: não existe outro Deus senão Deus e Maomé é seu profeta. Filhos de Israel. E ele recordou-se de seu pai Jacó e de Benjamim. E iremos todos os anos comemorar convosco a páscoa na nova Jerusalém. Filhos dos crentes. O que é um profeta? É um representante da humanidade que procura Deus. grande como as aspirações maternais . E em memória daquele que disse: Quem ao menor dentre vós recebe a mim me recebe. E descansaremos debaixo de vossa videira e de vossa figueira. A lei de Moisés está cumprida: lede vossos livros e compreendei que fostes um povo c ego e duro. de Tobias e dos anjos que os visitavam.A Chave dos Grandes Mistérios . o homem é o profeta de Deus quando faz que acreditemos em Deus. Mas fostes também um povo corajoso e perseverante na luta. e perdoa vossa inv eja e vos abraça chorando. ó recompensa dos eleitos. Dizei com os filhos de Israel: Nenhum Deus existe senão Deus e Moisés é seu profeta! Dizei com os cristãos: Não existe outro Deus senão Deus e Jesus Cristo é seu profeta! Maomé é a sombra de Moisés. abram alas para os que nos prece deram na fé.Eliphas Levi Por que imprimis sempre a vossa geração a marca sangrenta do cutelo? Deus não quer mais separar-vos dos outros homens. filha do Oriente. A Bíblia. casta como o puro amor. sede nossos irmãos. Convida-os para o festim da nova aliança.ensinar aos filhos do Islã os mistérios do céu e os segredos da beleza. em três tronos resplandecentes de pedrar ias. três profetas estarão sentados. A árvore tuba fará de seus galhos recurvados um dossel para a mesa celeste. 31 . lá. a grande nação que se extingue na terra transfigura-se numa estrela para iluminar as obscuridades da história. Ó nações da Europa. O progresso é o movimento. pois. Não digais que a civilização é má. e o movimento é a vida. É como o anjo do julgamento que separa os maus dos bons. tal é o objetivo para o qual nos empurra todo o movimento do mundo.A Chave dos Grandes Mistérios . O que ele escreveu por suas ações fica gravado no livro eterno. As nações sucedem-se como os homens e nada é estável porque tudo caminha em direção da perfeição. que o comércio entrelace os b raços do mundo e que uma civilização nova. Sem o progresso. e aos que caírem a esposa estenderá seu véu perfumado e os trará em sua direção.Eliphas Levi A Chave dos Grandes Mistérios . O progresso é a única resposta que a razão pode opor às objeções relativas à existência do Nada está bem. O grande homem que morre lega a sua pátria o fruto de seu trabalho. é a corrupção dos corpos e a emancipação das almas. sobre essa ponte cortante como uma lâmina de barbear. a quem o Oriente estende as mãos. Negar o progresso é afirmar o nada e deificar a morte. acrescentou uma página à bíblia do gênero humano. o mal seria imutável como Deus! O progresso explica as ruínas e consola Jeremias que chora. desenvolve rapidamente os princípios da vida e os princípios da morte. saída do Evangelho armado. A civilização transforma em anjos de luz os homens de boa vontade e coloca o egoísta a baixo da besta. reúna todos os rebanhos da terra sob o cajado do mesmo pastor! Tais serão as conquistas do progresso. mas tudo estará bem um dia. o Salvador estenderá sua cruz e virá estender a mão aos que vacilarem. Povos. . mata e vivifi ca. Deus inicia e acabará sua obra. batei palmas e aplaudi o último triunfo do amor! Somente a morte ficará morta e somente o inferno será queimado. pois assemelha-se ao calor úmido que amadurece as colhei as. uni-vos para expulsar os ursos do Norte! Que a última guerra faça triunfar a inteligência e o amor.Eliphas Levi Todos os povos acorrerão para vê-Ia e não temerão mais passar Al Sirah. O mundo ímpio dos gigantes elevou ao céu a alma de Henoch. Platão e Aristóteles resumem. 32 . todas as aspirações do do antigo. acima das bacanais da Gréci a primitiva eleva-se o espírito harmonioso de Orfeu. as fábulas de Homero permanecem mais verdadeiras do que a história. e só nos r estam das grandezas de Roma os escritos imortais que elaborou o século de Augusto. ao explicá-las. Sócrates e Pitágoras. Assim. Roma talvez só tenha abalado o mundo com suas guerreiras convulsões para gera r seu Virgílio. como se agita. nunca! nunca! XV . mas para a imbecilidade e a ignorância das primeiras idades. ela ri. como cresce! Freqüentemente enganada e ferida. vede como ela caminha. é o próprio gênio da França. Por isso. Confiai no entusiasmo de nossos fil hos. são os pilares de uma imensa a rcada que o arco-íris do último dilúvio forma e que lança uma ponte entre dois mundos. as almas dos povos mortos brilharam sobre os povos rejuvenescidos e au mentaram neles o espírito de vida.A Chave dos Grandes Mistérios . formigueiros de homens novos espalharam-se por um mundo exaurido. que querem ser um dia. pois essas duas palavras são s inônimos do nome França. Essa nação sempre foi. para o abismo talvez. Movidos por esse calor desconhecido. ela consagra a aliança da razão e da fé. nunca batida. E pensaríeis que a espora de um tártaro quebrará um dia o pacto de nossas glórias. e osdoces raios do sol da Ásia tocaram os gelos do Norte. mas para os cueiros que nossa própria i nfância rasgou. como luta. o Cristo conquistou o Ocidente.Eliphas Levi A Chave dos Grandes Mistérios .O Número Quinze . Há no mundo uma nação que se chama franqueza e liberdade. para os cemitérios do esquecimento. a luz dos espíritos nasceu onde nasce o sol do mundo. entusiasta com seus triunfos... E para onde vamos? Para o desconhecido. caminha!. A França das cruzadas. a França de Rabelais e de Vo ltaire. soldados da velha guarda! Napoleão não é mais um homem. a França dos trovadores e das canções. o tes tamento de nossa liberdade! Dizei antes que voltaremos a ser crianças e retornaremos ao seio de nossas mães! Caminha!. morre e ensina ao mundo a fé na sua imortalidade..Eliphas Levi Assim. ela é a síntese dos povos.. da revolução e do poder. é o segundo salvador do mundo. A velha guarda não se rende. mais católica do que o papa e mais protestante d o que Lutero. a França de Bossuet e de Pascal. de algum modo. Avança! avança! grita para a França o destino do mundo!. e também deu como símbolo a seus apóstolos a cruz! Santa Helena e o Gólgota são os marcos da nova civilização. canta. não import a! Mas para o passado. da crença mais terna e da dignidade humana mais altiva. mas também não morre. eles também. auda ciosa em seus reveses. diz a voz divina a Aasveros. Quinze é o número do antagonismo e da catolicidade. 33 . a infalibilidade do papa. que ele seja um espírito comum. A Igreja ativa realiza Deus pelos homens e só ela crê na divindade do Verbo humano. Ao admitir dogmas novos. a cátedra de São Pedro acaba de se pronunciar solenemente progressiva. senão a autocracia da inteligênci a confirmada pelo sufrágio universal da fé? A esse respeito. A pátria do cristianismo católico é a da ciência e das belas-artes. ao jansenismo absurdo e a todas estas vergonhosas e supersticiosas interpretações do dogma eterno. o cr escente uniu-se à cruz latina. na realidade. O que é. d e algum modo. israelitas.Eliphas Levi Uma é ativa. É para sempre um fato consumado. dir-se-á. intérprete do Verbo de Deus. Os acontecimentos não falam mais alto do que os rancores e as ignorâncias irreligios as? Não vedes a França católica sustentar com uma mão o papado desfalecido e com a outra segurar a esp ada para combater na liderança do exército do progresso? Católicos.A Chave dos Grandes Mistérios . mais humana. afinal de contas. turcos. Os exércitos do Apocalipse um dia talvez . ao presbiterianismo arrogante. os acontecimentos os arrastarão ou passarão sobre eles! Imensas calamidades podem ainda pesar sobre o mundo. e juntos lutamos contra a invasão dos bárbaros e contra sua embrutecida ortodoxia. Sua supremacia não é mais divina. E será que sabeis o que deve ser o catolicismo do futuro? Será o dogma evangélico posto à prova como ouro pela crítica dissolvente de Voltaire. tão justamente estigmatizadas pelo gênio impiedoso de Vo ltaire! Voltaire e Napoleão morreram católicos. o papa deveria ser o primeiro gênio de seu século. Por quê? É m elhor.Eliphas Levi A Chave dos Grandes Mistérios . e realizado no governo do mundo pelo gênio de um Napoleão cristão! Os que não quiserem caminhar. porque é. uma vez que os reis a temem. a outra é passiva. protestantes já combateram sob a mesma bandeira. Silêncio pois aos fariseus da nova sinagoga! Silêncio às tradições odiosas da escola. uma sempre condenou as nações e os governos. e o Verbo eterno do Evangelho vivo e encarnado numa autoridade visível é ainda a luz do mundo. a outra submeteu-se a todos os despotismos e só pode ser um instrumento de servidão. Então.desencadearão os quatro flagelos. O santuário será depurado. A santa e severa pobreza enviará seus apóstolos para sustentar todo aquele que cambalear. esses dois monstros ávidos de sangue. segundo a promessa do Evangelho só haverá um rebanho e um pastor. dizem as tradições apostólicas: ou seja. 34 . no ideal religioso pela hierarquia dos pastores. pelo próprio entrelaçamento de sua luta. durante uma seqüência de séculos. E o governo do futuro será aquele cujo modelo é mostrado na natureza pela família. dilacerar-se-ão e a niquilar-se-ão um ao outro depois de serem mutuamente sustentados. Os eleitos devem reinar com Jesus Cristo durante mil anos. reanimar aquele que estiver fa tigado e espalhar o óleo santo em todas as feridas! O despotismo e a anarquia. por pouco tempo. a inteligência e amor dos homens de elite dedicados aos encargos do poder administrarão os interesses e os bens da família universal. e a virgindade v ai orgulhar-se de ser mãe! Sai da tumba. em suas mágicas lembranças.Eliphas Levi A Chave dos Grandes Mistérios . Reerguei-vos. novo e eterno Salomão. Todas as formas que o pensamento divino revestiu sucessivamente renascerão imortai s e perfeitas. toda trindade manifes tar-se-á em sua verdade e em sua glória. terá a graça da infância em sua poesia. Quando o espírito de inteligência e de amor tiver se revelado. nele cantará. A índia ensinará a nossos climas encantados as fábulas maravilhosas de Vishnu. Vênus purificada sob o véu de Maria não mais chorará seu Adônis.A Chave dos Grandes Mistérios . e verbo de Deus campos solitários da templos de Delfos e Éfeso! O deus da luz e das artes tornou-se o Deu o concorda em ser chamado de Apolo! Diana não reinará mais como viúva nos noite. e experim entaremos na fronte ainda ensangüentada de nosso Cristo bem-amado a tripla coroa de pérolas da mística trimurti. seu Endimião acaba de despertar. o vigor da juventude em sua razao e a sabedoria da idade madura em suas obras. Jerusalém reconstruirá o templo de Jeová de acordo com o modelo profetizado por Ezequi el. debaixo de lambris de cedro e de cipres tes. a jovem esposa do cântico. Entretanto. Todos os traços que a arte sucessiva das nações tinha esboçado reunir-se-ão e formarão a im gem completa de Deus. Mas Jeová terá largado seu raio para abençoar com as duas mãos o noivo e a noiva: aparec erá sorridente entre os dois esposos e alegrar-se-á por ser chamado de pai. O esposo ressuscitou para não mais morrer. suas núpcias com a santa liberdade. como que ressuscitada. Mas Diana não foi vencida por Vênus. ainda o chamará de Brama e Júpiter. seu crescente prateado está agora sob os pés da esposa. ó Fídias.Eliphas Levi Dezesseis é o número do templo. e o javali infernal encontrou a morte e m sua passageira vitória. Digamos o que será o templo do futuro. A humanidade transformada em rainha e. s do mundo. a poesia do Oriente. e alegra-te com a destruição de teu primeiro Júpiter: é agora que v is gerar um Deus! . e o Cristo. sê ainda a rainha do mu ndo e panteão das nações.Ó Roma! Que teus templos reergam-se ao lado de tuas basílicas. antigas catedrais de nossos pais. e que a pedra conte por figuras animadas as sombrias lendas do Norte. que Virgílio seja coroado no capitólio pelas mãos de São Pedro. alegradas pelos apólogos dourados e maravilhosos do Alcorão! 35 . arremessei até as nuvens vossa s flechas cinzeladas e vivas. e que o impo e o Carmelo unam suas divindades sob o pincel de Rafael! Transfigurai-vos. louvor a ti em tua audácia! Quiseste saber para ter. creio porque amo e porque não temo m ais nada. tendo alcançado todo o seu poder. a sede. até a re rovação! Direito divino do homem. terá feito para si um corpo à s ua imagem. é o da inteligência e do amor. tu a quem os pobres pecadores amaram até o delírio. o desenlace. essência e alma da liberdade. Toda a terra revestida com os ricos ornamentos que todas as artes lhe bordaram s erá então um templo magnífico. por ti.O Número Dezessete Dezessete é o número da estrela.A Chave dos Grandes Mistérios . tu que fazes tanta felicidade de tanta s torturas. até o escândalo. e a forma e o pensamento. o . quando a alma. Inteligência guerreira. audaciosa. tudo o que foi doce nos séculos pa ssados reviverá gloriosamente nessa transfiguração do mundo. desafiaste todos os trovões e afrontaste to dos os abismos! Inteligência. e eles conquistaram-te! Agora eles podem chorar e crer. e que os mártires do Salvador ensinem castas carícias aos belos anjos de Maomé. primogênita de Lúcifer. podem submeter-se e rezar! Caim arrependido teria sido maior do que Abel: é o legítimo orgulho satisfeito que t em o direito de se fazer humilde! Creio porque sei por que e como é preciso crer. o Verbo e a revelação permanente e visível de Deus. da mesma forma que o universo regenerado será o templo de Deus. a fo me. os fantasmas mais amados de se u coração! Por ti foram repelidos e proscritos.Eliphas Levi Que Maomé liberte a mulher para dar ao verdadeiro crente as huris com que tanto so nhou. cúmplice do divino Prometeu. cujo padre eterno será o homem! Tudo o que foi verdadeiro. todos os sonhos mais caros de sua imaginação.Eliphas Levi A Chave dos Grandes Mistérios . e os corpos serão os templos da alma. tudo o que foi belo. louvor a ti! Pois perseguir am-te pisoteando. e o universo inteiro serão a luz . como o corpo será um dia inse parável da alma. Amém! Assim seja! XVII . o abandono daqueles que amavam e as sombrias tentações do desespero! Eras o direito de les. por ti suportaram a prisão. Amor! amor! redentor e reparador sublime. E a forma bela continuará inseparável da idéia verdadeira. Esse será o reino do céu sobre a terra. tu. E os corpos e as almas. força da resignação. amor infinito e ideal que seria suficiente para criar mundos. amor! amor! bênção e glória a ti! Glória às inteligências que se encobrem para não ofender os olhos doe Glória ao direito que se transforma inteiramente em dever e que se torna a devoção! às a lmas viúvas que amam e consumam-se sem serem amadas! aos que sofrem e não fazem nada sofrer. é felicidade! Amor pleno de orgulho e pudor nos mistérios. último e inefável segred da viuvez cristã. Titã que toma o céu com duas mãos e que o força a descer. louvor e glória a ti! Se a inteligência é uma lâmpada. amor divino. tu que és a própria virtude e o salário da virtud e. se é o direito. alegria das dores. és o dever.sacrificador do sangue e das lágrimas. vida da morte. louvor. amor oculto. liberdade da obediência. amor insano e sublime. és a sua chama. amor eterno. a os que 36 . se é a nobreza. Eliphas Levi A Chave dos Grandes Mistérios . 37 . XIX . mas deve. a última palavra de todas as iniciações. se a fé for superior à razão. 3º Que é próprio da fé e da graça não enfraquecer. Mas o Salvador sabia que não seria compreendido a princípio.Eliphas Levi XVIII .O Número Dezenove É o número da luz. não poderia senão ser-lhe útil. e a inauguração do Espírito Sant na terra. o véu do templo rasgou-se. e disse: Não suportaríeis a gora toda a luz de minha doutrina. longe de prejudicar a fé. que é toda poesia e todo mistério.A Chave dos Grandes Mistérios . O Evangelho diz que. o último e o mais sublime dos arcanos. e que uma não deve usurpar as f unções da outra. que a fé. quando se manifestar o espírito de verdade. Ora. perfeitamente racional em seus princípios. o espírito de força e conselho. quando ela decla rou nos quatro artigos do decreto de 12 de dezembro de 1845: 1º Que. quando da morte do Salvador. o poder de Deus no homem. em outr as palavras. mas. ele vos en sinará toda verdade e sugerirá o sentido do que eu vos disse. mas. não deve temer. 2º Que a fé e a ciência tem cada uma seu domínio separado. o milagre da caridade. desejar o exame sincero da razão. a humanidade divina e a divindade humana. Semelhante decreto é toda uma revolução religiosa acabada. ao contrário. Foi esse espírito que se manifestou solenemente na Igreja romana. ao cont rário. a razão deve apoiar as inspirações da fé. que examina não as decisões da fé mas as bases naturais e raci onais da autoridade que decide. porqu e essa morte manifestou o triunfo da devoção. 4º Que o concurso da razão.O Número Dezoito Esse número é o do dogma religioso. o espírito de verdade é o espírito de ciência e de inteligência. afirmar e desenvolver razão. para quem nenhuma de minhas fantasias pode fixar definição: eis por que vigiarei minha conduta. Sois um enfim. A luz é real e vivificante. Sois um. a inteligência é apenas uma decepção pois ela carece de absoluto e seu ideal é uma mentira. O Ser é vivo com inteligência. Cegos os que não vêem que a luz física é apenas o instrumento do pensamento! Somente o pensamento vê a luz e a produz empregando-a em benefício próprio. É uma página do Kether-Malkuth. "Sois um. Resumamos o que dissemos de Deus citando uma bela evocação emprestada da liturgia is raelita. sois um e. ora. e a vida. uma forma sempre morta e cadavérica.A Chave dos Grandes Mistérios . O Ser é. evitando cometer faltas com a língua. O Verbo da razão universal é uma afirmação e não uma negação. . pois vossa unidade não admite nem multiplicação. A luz é uma noite sempre enganada pela miragem dos sonhos. uma morte que se disfarça. e não como em um que pode deixar de ser. nem fórmula. as dezenove primeiras são as chaves da teologia oculta. a verdade do ser é Deus. Sem Deus. poema cabalístico do rabino Salomão. o fundamento de todos os edifícios. A afirmação do ateísmo é o dogma da noite eterna. As outras são as chaves da natu reza. nem mudança. a afirmação de Deus é o dogma da luz! Vamos parar aqui. e o ser do ser. mas não como o um em matéria de cálculo. ou é preciso admitir o princípio absoluto da inteligênc ia e da vida. a realidade e a vida de toda luz é Deus. o começo de todos os números. Sois um. Sois um. e a inteligência viva do Ser absoluto é Deus. no décimo nono número. os homens mais sábios perdem-se porque não a conhecem.Eliphas Levi Ou é preciso dizer que o Ser imenso é um túmulo universal. voltaremos a elas na terceira parte desta obra. A luz universal está morta ou viva? Fatalmente dedicada à obra da destruição ou providen cialmente dirigida para a criação universal? Se Deus não existe. no segredo de vossa unidade. ou que se move automaticame nte. nem sofre nenhuma alteração. cuja excelência é tão elevada que não pode cair de maneira alguma. embora o alfabeto sagrado tenha vinte e dua s letras. o ser é um nada que se afirma. nem aumenta.Eliphas Levi A Chave dos Grandes Mistérios . filho de Gabirol. O primeiro e o mais essencial ato de fé é pois este. e vossa unidade nunca diminui. sois vivo. que são comparadas a um sopro. o como e o porquê."Sois existente. pois sois a alma de todas as almas. mas não como as vidas dos mor tais. e aquele que puder atingir vossos mistérios desfrutará as delícias eternas e viverá para sempre. entretanto. mas não por um espírit o e uma alma. o entendimento e a vista dos mortais não podem atingi r vossa existência nem colocar em vós o onde. mas não desde um tempo conhecido e fixo. "Sois vivo. Sois enfim existente e vossa existência é tão oculta e tão profunda que ninguém pode descobri-Ia ou p enetrar seu segredo. mas em vós mesmo. Sois vivo. 38 . Sois vivo. uma ve z que outro não pode existir convosco. e cujo fim será o alimento dos vermes. Sois existente. Sois existente desde antes do tempo e em lugar al gum. Ideal incompreensível como o infinito e indispensável como a própria essência do mistério.Eliphas Levi A Chave dos Grandes Mistérios . se os véus com que os textos divinos são cobertos projetam uma grand e sombra. compreenderão ao lê-la que a própria razão sem a fé pode encontrar no livro sagrado outra coisa além de escolhos. ARTIGO II 39 .Eliphas Levi Extraído das orações do Kippur Demos a essas ousadas especulações cabalísticas a única forma que lhes convém. a da poesia ou da inspiração do coração. As almas crentes não precisam das hipóteses racionais contidas nessa explicação nova das figuras da Bíblia. essa sombra é tão maravilhosamente desenhada pelas oposições da luz que se torna a única i magem inteligível de um ideal divino. mas os corações sinceros e afligidos pela dúvida.A Chave dos Grandes Mistérios . e que a crítica do século dezoito atormenta. nomeando-a de caridade organizada. Podem-nos dizer que a religião é isto ou aquilo. A ciência não poderia. está na humanidade. mas. seja aceita ou negada. sem temeridade. a religião é o que é. é única e eterna como a beleza. Pode-se dizer da religião o que se diz da arte verdadeira. sombras mentirosas dela própri a. A verdadeira religião é bela. A arte prova-se por s i. A caridade é paciente. e é por esse caráter divino que se impõe aos respeitos da ciê cia e ao assentimento da razão. Uma só coisa evidentemente divina manifestou-se para todos no mundo. portanto. Sofre as perseguições e nunca perseg ue ninguém. e falsas religiões são superstições dela copiadas. A obra da verdadeira religião deve ser a de produzir. está. não tem a melhor parte que nunca lhe será tira da? Não é nem inquieta e nem intrigante. Não é invejosa. reunindo todos os aspectos que convêm a essa grande e uni versal aspiração da alma humana. afirmar ou negar as hipóteses do dogma que são ve rdades para a fé. dela emprestadas. existe ou não existe nesta ou naquela alma.Eliphas Levi A Chave dos Grandes Mistérios . ou se ja. a única religião verdadeira. brilha com seu próprio esplendor. chamando para si os pequenos e não rechaçando os grandes. É a caridade. A verdadeira religião é a que sempre existiu. As tentativas bárbaras de pintura ou escultura são tentativas da ignorância para se chegar à verdade. Como ele. Ora.Eliphas Levi A Verdadeiro Religião A religião existe na humanidade como no amor.A Chave dos Grandes Mistérios . É única como ele. é incontestável diante da ciência e mesmo diante da razão. é preciso que ela própria tenha todas as características da cari dade. está na natureza. na vida. mas pode reconhecer. Paciente como Deus. Para alcançar esse objetivo. A quem e a que invejaria. quais são as características da caridade? É São Paulo quem vai nos ensinar. em certos aspectos. É benevolente e indulgente. porque ela é eterna como ele. a única que merece o nome de religião. de modo que se possa bem defini-la. conservar e difundir o espírit o de caridade. . que existe e que sempre existirá. A religião é ela. ambição.Não tem orgulho. ira. egoísmo. 40 . como os Vicentes de Paulo e os Fenelons. Não deseja nem as dignidades nem os bens da terra. uma vez que São Pau lo queimouno Éfeso os livros dos hierofantes. invejosos. é doce. o espírito de fé. E por que seriam reconhecidos. a verdadeira religião é essencia lmente realizadora. É a religião dos pais do deserto. É humilde. Os homens. Filha da caridade e criando por sua vez a caridade.Eliphas Levi Suporta tudo sem jamais tolerar o mal. acredita nos milagres da fé. Sustenta tudo. Tem. É benevolente como o Cristo e os apóstolos. Não é nem inquieta nem intrigante.Eliphas Levi A Chave dos Grandes Mistérios . Crê em tudo. injustos mostram-se rigarão a mentir. e nunca impõe fardos que não carregasse antes. . Assim. abandonados pela ciência e privados d a vida da fé. mas que nunca ob homens passam. O espírito do Salvador. e não estav a cometendo um atentado contra a ciência? Não. não mais figuras que não tenham sua força na graça e que não dêem realmente o ue prometem. ambiciosos e como tais em nome dessa religião que puderam caluniar. São Paulo era pois um bárbaro. d e São Francisco de Assis e de São Bruno. submissa. assemelhavam-se a essas ossadas embranquecidas que cobriam o campo de Ezequiel. Os ao contrário. ela reza. A fé anima tudo. Uma religião que faz a caridade pode vangloriar-se de realizar todos os sonhos do amor divino. hierárquica e universal. a fé da Igreja hierárquica transforma o mistério em realismo pela eficácia de seus sacrame ntos. o espírito de caridade sopraram esse pó. faz o bem e espera. só ins pira a devoção e o sacrifício. uma vez que o mundo renovou-se. porque os cumpre todos os dias quando fa z a caridade. todas as características da caridade. Não mais signos. sua fé é simples. Os simbolismos esparsos das religiões primitivas. torna tudo de algum modo visível e palpável. e a verdade é eterna. são impacientes. A religião é paciente. porque é a própri caridade. as próprias parábo las de Jesus Cristo tomam um corpo e uma alma.A Chave dos Grandes Mistérios . cruéis. é a religião dos grandes trabalhadores do pensamento: é a religião d s mártires. e tudo o que estava morto recuperou uma vida tão real que não se reconhece mais nesses vivos de hoje os cadávere s de ontem. perseguidores. mas ele queimava os sudários dos ressuscitados para fa zê-los . enfim. das irmãs de caridade e dos irmão de São João de Deus. Mostra-se em Jerusalém a casa do mau rico. pois os crentes não necessitam de nosso livro. não o lerão. não o quererão compreender Mas queremos mostrar à multidão inumerável dos que duvidam que a fé relaciona-se à razão de tod s os séculos. à ciência de todos os sábios. ARTIGO III 41 . nunca mais proscrevam nem a liberdade nem a razão. para que a fé e a autoridade.esquecer a morte. Por que então lembramos hoje as origens cabalísticas do dogma? Por que então lembramos hoje as origens cabalísticas do dogma? Por que relacionamos as figuras d a Bíblia com as alegorias de Hermes? Será para condenar São Paulo. a razão a reconhecer as bases da fé. Queremos forçar a liberdade humana e respeitar a au toridade divina. para trazer a dúvida aos crentes? C ertamente não. por sua vez . isto é. Para os cristãos. não mo infinito. a impossibilidade o desconhecido. porta nto. Fazer entrar na lógica do conhecido os termos de uma profissão de fé é fazê-los sair da fé ue tem por bases positivas o ilogismo. eterno.Eliphas Levi A Chave dos Grandes Mistérios . Para formular suas aspirações. Para os muçulmanos. A fórmula do mistério exclui necessariamente a própria inteligência dessa fórmula. Tal é a profunda razão do aparente absurdo do simbolismo. As matemáticas absolutas provam somente a necessidade e. por conseguinte. reina pel . prova-se a ordem que de explicar logicamente vive nas criaturas. pois se fosse compreendida exprimiria o conhecido e não o desconhecido. Demos um exemplo: Se a fé dizia que Deus é impessoal. poder-se-ia concluir daí que Deus é apenas uma palav ra ou. a fé é forçada a emprestar do conhecido aspirações e imagens Mas ela especializa o emprego dessas formas ao reuni-las de uma maneira impossível na ordem conhecida. na medi da em que empresta do Verbo coisas conhecidas.Eliphas Levi Razão dos Mistérios Sendo a fé a aspiração ao desconhecido. então. Se ela dizia que Deus é uma pessoa. Pertenceria. o objeto da fé é absoluta e necessariamente o misté io. Para os israelitas. à fé. O mistério é. é um egoís prosternamos sobre a fé de M pela caridade. uma coisa. isto é. Deus é uma palavra diante da qual nos aomé. à ciência e não mais à religião. Ela diz Deus é um em três pessoas para exprimir que se concebe em Deus a unidade e o número. O objeto da fé é um problema de matemática onde o x escapa aos procedimentos de nossa ál gebra. mas sempre relativ amente finito. Deus está separado da humanidade. Deus revelou-se na humanidade.A Chave dos Grandes Mistérios . a existênc ia desse conhecido representado pelo x intraduzível. o infinito inteligente seria representado sob a forma necessariamente limitada de um indivíduo. por mais que a ciência avance em seu progresso indefinido. Ora. nunca encontrará na língua do finito a expressão completa do infinito. no máximo. Os s ectários que. em nome de sua razão. ou melhor. isto é. O dogma católico. reconhece em si a trindad e infinita da geração eterna com Zoroastro. universal. concilia com o Verbo único de São João os 42 . de sua desrazão individual. excomungaram a si próprios. por esse mesmo fato. ele afirma a unidade de Deus com Moisés e Maomé. perder am. cuja letra e cujo espírito quer que respeitemos. o espírito de caridade.constitui a hierarquia. merece esse belo nome resumindo todas as aspirações religiosas do mundo. A hierarquia é guardiã do dogma. Hermes e Platão. tocaram o dogma. Ora. Se todos homens fossem cegos. se a moral é uma luz. A divindade de Jesus Cristo só existe na Igreja católica. só há um meio possível: o m istério da santíssima trindade. é preciso que o dogma seja um sol. em outras palavra s. Entre a fatalidade imoral e a responsabilidade draconiana que decidiria pela dan ação de todos os seres. antes. Entre os abismos do politeísmo e do deísmo absurdo e limitado. Essa divindade é sacerdotal e real por comunhão. a ficção do poder não san nado pela autoridade. a claridade não vem das trevas. Pouco importa à verdade católica o número dos protestantes. A encarnação é a esperança. mas é f orçada a admirar a moral que resulta desse dogma. só há um meio possível: o mistério da redenção. A trindade é a fé. O que os homens chamam de liberdade é a sanção da autoridade ilegítima ou. A trindade é a hierarquia. . ma s fora dessa comunhão toda afirmação da divindade de Jesus Cristo é idolátrica. para a qual ele transmite hierarquicamente sua vida e seus poderes divinos. João Calvino protestava contra as fogueiras de Roma para se dar o direito de queim ar Miguel Servet.A Chave dos Grandes Mistérios . essa seria uma razão para negar a existência do sol? A razão.Eliphas Levi Substituir o despotismo legítimo da lei pelo arbitrário humano. A encarnação é a autoridade divina da Igreja. Todo povo que se libertou de um Carlos I ou de um Luís XVI submeteu-se a um Robesp ierre ou a um Cromwel. prova suficientemente que não o inventou.Eliphas Levi A Chave dos Grandes Mistérios . e existe um antipapa mais ou menos absurdo por trás de todos os protes tos contra o papado legítimo. porque Jesus Cristo não oderia ser um Deus separado. Entre o ateísmo especulativo e o antropomorfismo só há um meio possível: o mistério da enc arnação. pôr. A redenção é a caridade. a tirania no lugar da autoridade é obra de todos os protestantismos e de todas as democracias. protestando contra o dogma. Assim.A redenção é o sacerdócio único. o dogma daimaculada concepção não é novo. explica. infalível. por exemplo. 43 . estava inteiramente contido no Théotokon do concí io de Éfeso. ela não inova. Somente a Igreja católica possui um dogma invariável e encontra-se por sua própria con stituição na impossibilidade de corromper a moral. indefectível e católico. e o Théotokon é uma conseqüência rigorosa do dogma católico da encarnação. Mas. acus desordem que toda paixão rancorosa introduz no espírito dos homens e a necessidade i ncessante que ele tem de ser reerguido e dirigido pelo espírito de caridade. por sua vez. só há o abismo. tal qual é constituída na Igreja católica. ARTIGO IV Solução do quarto problema A Religião Provada pelas objeções que lhe são opostas As objeções que se pode fazer contra a religião podem ser feitas seja em nome da razão. Se não existisse. se não o fosse.Eliphas Levi Fora da barca de Pedro. que de fato aprecia com severidade. A ciência arma-se comumente contra a religião com uma série de fatos que tem o direito de apreciar. de seu estabelecimento e de suainfluência sobre os acontecimentos da história. se ela o compreendesse. Seria uma demonstração matemática do infinito. e é então que se pode gritar com o Salvador do mundo: Felizes os que têm o coração puro.Eliphas Levi A Chave dos Grandes Mistérios . Os protestantes assemelham-se às pessoas que. não seria mais a fórmula do desconhecido. mas que a religião condena mais energicamente ainda do que a ciência. A caridade não se inventa. revela-se por suas obras. carece de lógica. seja em nome da fé. Assim fazendo. jogar-se-iam na água para evitar o enjôo. o dogma pertence inteiramente à fé. poi s verão a Deus! Entender o espírito de caridade é ter a inteligência de todos os mistérios. seria preciso inventá-la. a razão compreendê-lo-ia. cansadas da arfagem. que é preciso dizer o que Voltaire disse de Deus com tanta ousadia. Mas. examina o dogma e considera-o absurdo. É proibido a ela tocar no dogma. 44 .A Chave dos Grandes Mistérios . E da catolicidade. teria também inventado Deus. a ciência dá razão à religião e censura a si própria. se um homem fosse capaz de inventar o espírito de caridade. A razão. A ciência não pode negar os fatos da existência da religião. . A lei é imutável. Somos. é uma língua. diante da fé. acreditamo-lo presente em todos os lugares.Eliphas Levi A Chave dos Grandes Mistérios . O culto é um ensinamento. porque está fundamentada em princípios eternos da natureza. Esperamo-los de coração e braços abertos. por termos mudado uma lei imutável e eterna. da ciência. mas Deus unido à humanid ade. Mas nós estamos na terra prome tida. Somos. Deus único. é somente Deus que adoramos. acr editamos com eles e melhor que eles. Como eles. viemos do Egito e detestamos sua servidão. Adorando Deus em Jesus Cristo. não estamos adorando a própria criação. O Deus dos judeus era inumano.Eliphas Levi . o mais monstruoso e o mais impossível de todos os absurdos. e eles obstinam-se em permanecer e morrer no deserto. nossos pais em religião. discípulos de Moisés. censuram-nos por termos atentado contra a unidade de Deus. mais israelitas que os próprios israelitas. da razão e do bom senso reunidos. mas o cult o exigido pelas necessidades do homem pode variar e modificar-se com os homens. como eles. No que acreditam. para se torn ar. que querem estar separados de nós. Adorando Deus na criação. portanto. Como os judeus. é preciso traduzi-lo quando as nações não o compree m mais. por adorarmos a criatura no lugar do criador. ao contrário. . O que o culto significa é imutável. Isso quer dizer que o dogma só deixaria de ser absurdo diante da razão. o cristianismo revelou a divindade humana. Restam as objeções da fé dissidente. Não mudamos sua lei. pensante e amante na humanidade e adoramo-lo em suas obras.A Chave dos Grandes Mistérios . Traduzimos e não destruímos o culto de Moisés e dos profetas. mas o culto modifica-se como as línguas. Essas censuras são fundamentadas numa noção perfeitamente falsa do cristianismo. infinito. Os israelitas. pois o decálogo dos israelitas é também a lei dos cristãos. acredítamo-lo vivo. Nosso Deus é o Deus de Moisés. Tornando a humanidade divina. o só adorável e sempre o m esmo. como eles dever iam fazer. Acusam-nos de estarmos separados dele e são eles. porque eles não o compreendiam em suas obras. mas. imaterial. como Esaú. Reconhecem a inspiração divina de Moisés e não vêem os judeus como irmãos. pois admitem que Jesus é um grande profeta. 45 . são seus filhos deserdados. e tratam os cristãos com o infiéis. ou melhor. Sua crença é ilógica.Os muçulmanos são os bastardos de Israel. Eliphas Levi Não tiremos. e Maomé é seu profeta. colo rida e dourada com todas as suas lendas e com todos os seus ritos que os popes não compreendem ma is. múmia curiosa da Igreja primitiva. é preciso instruí-los e civilizá-los. Os muçulmanos nada censuram nos cristãos. que nã tem mais importância nos faustos religiosos. os protestantes. que. aqueles que. É lendo essas páginas que se pode dizer com os filhos de Ismael: Não existe outro Deus senão Deus. cindiram a ca ridade e tomaram atos de anarquia pelos princípios de uma hierarquia para sempre impossível. esses fantasistas rel igiosos cujas inovações em sua totalidade são negativas. tendo rompido o laço de união. Chamam-nos de infiéis e de giaurs. no entanto. Encontram-se no Alcorão páginas puras e sublimes. isto é. isto é. Há três tronos no céu para os três profetas das nações.A Chave dos Grandes Mistérios . que quintessenciaram o absurdo. esses eternos reguladores da anarquia. A ortodoxia grega. uma imensidão mais restrita. eles injuriam-nos. Depois. irmã gêmea da Igreja romana. uma fé mais duvidosa.Eliphas Levi A Chave dos Grandes Mistérios . mas que quis parar quando essa Igreja avançava e que não é mais que u ma silhueta apagada e sem cabeça. . não são mais. mesmo sobre a terra. porque a caridade lhes escapa e que nada m ais podem realizar. Não se deve refutar os turcos e os árabes. que romperam o d ogma e tentam sempre preenchê-lo com raciocínios. pois seus pretensos sacramentos não são mais que fars as alegóricas. que formularam para uso próprio um desconheci do pretensamente mais conhecido. de Maomé a glória de ter proclamado a unidade de Deus entre o s árabes idólatras. mistérios mais explicados. não dão mais a graça. esses ho mens que querem realizar a salvação somente pela fé. Não temos nada a lhes responder. mas. Maomé será substituído por Elias. como o tonel das Danaides. sombra de uma Igreja viva. decl aram-se estrangeiros à caridade da Igreja. Restam os cristãos dissidentes. desde Fócio. não fazem mais ver a Deus nem tocar em Deus. em uma pal vra. um infinito mais definido . no fim dos tempos. não inspirou uma única eloqüênci . que não cresceu desde sua separação. cães. Igreja que se tornou inteiramente temporal e cujo sacerdócio não é mais que uma função regulada p ela política imperial do czar de todas as Rússias. Quando sentirem novamente a necessidade de acreditar. Os protestantes tiveram razão contra o zelo inconsiderado e perseguidor que queria forçar as consciências. quando seu coração revoltar-se por sua vez contra a tirania de uma razão falseada. contra a própria fé que a reforma protestou. 46 . portanto. Foi. suas igrejas sem divindade e sua moral sem perdão os aterrorizarem enfim. o direito de ter menos religião ou de não a ter absolutamente. conquistaram-no. assim qu e ficarem doentes da nostalgia de Deus. quando sua comunhão sem presença real. pecamos contra o céu e contra vós. não se levantarão como o filho pródigo e não virão jogar-se aos pés do sucessor de Pedro dizendo-lhe: Pai. mas incluí-nos ao menos entre vossos mais humildes ser vidores. das vãs observâncias de seu culto sem efeito. Exigiram o direito de duvidar.os signos da onipotência da fé. quando se cansarem das frias abstrações de seu dogma arbitrário. Não falaremos da crítica de Voltaire. possuem-no. mas não nos tirarão o de lastimá-los e de amá-los . já não somos d ignos de ser chamados vossos filhos. Esse grande espírito estava dominado por um arde nte amor pela verdade e pela justiça. derramaram seu sangue p or esse triste privilégio. mas as testemunhas forçadas da impotência eterna da dúvida . mas faltava-lhe esta retidão do coração que dá a inteligência a fé. sobrevivente. Tertuliano ria. outrora. depois ridicularizou. e que representava o Deus dos cristãos na figura de um homem com cabeça de asno. a pedra do moinho do progresso religioso. seu nome vem da palavra fanum. foi também. num de seus mais e loqüentes paradoxos. é a inspiração substituída pelo embrut cimento. O s voltairianos assemelham-se às rãs da fábula que saltam sobre as vigas e. é a fé tornada insensata.Eliphas Levi Voltaire parodiou a Bíblia. com efeito. um ser ao mesmo tempo providencial e fatal. Voltaire. Os cristãos darão de ombros ao ver essa brejeirice e pedirão a Deus pelo s pobres ignorantes que pretendiam insultá-los. São livres para tomar a viga por um rei. é a honra do sacerdote substituída pelo interesse . é o templo colocado no lugar de Deus. para fa zê-lo girar. achincalhou. Foi. O fanatismo é a superstição apaixonada. da palavra latina superstes. Apenas aqueles que vêem a religião na paródia de Voltaire podem se ofender com isso.Eliphas Levi A Chave dos Grandes Mistérios . é o símbolo que sobreviveu à idéi . um executor das grandes obras. são livres para refazer est a caricatura romana de que. no domínio da inteligência. queria que se erguesse para o ancião de Ferney uma estátua pela mão do carrasco . O senhor conde Joseph de Maistre. dotado de insensibilidade para a realização de suas terrív eis funções. mas. que significa t emplo. v ilipendiou sua paródia.A Chave dos Grandes Mistérios . depois de ter representado. E. a Providência parecia ter c egado seu coração. a morte da vida. ARTIGO V Solução do último problema Separar a religião da superstição e do fanatismo A superstição. o dogma. no mundo. Deus enviou Voltaire entre o século de Bossuet e o de Napoleão para aniquilar tudo o que separa esses dois gênios e reuni-los num só. sempre pronto a sacudir as colunas do templo. Existe profundidade nesse pensamento. um executor armado com a própria justiça de Deus. Era o Sansão do espírito. o carrasco como um ser sagrado e como uma encarnação permanente de justiça divina na terra. é a forma preferida à coisa. em seguida. o cadáver da religião. o culto. z ombam da majestade real. a contragosto. porque se isola. por conseguinte. é o rito sem razão. humano e 47 . Mas vossas aspirações e seu objeto são e só podem ser hipóteses para mim. A Ciência. mas nunca me provareis que Deus não existe.Nunca me fareis acreditar na existência de Deus.Para vo-lo provar. A Razão A CIÊNCIA . então. poderíeis ensinarmo. sem saber em que estais acreditando? A FÉ . uma vez que sem essas hipóteses eu duvidar ia até .A Chave dos Grandes Mistérios . Tendes a pretensão de ser infinita? Não sois inter rompida a cada instante pelo mistério? O mistério é para vós uma ignorância que reduziria ao nada o finito de vosso saber. pois da supe rstição ao fanatismo há um só passo. é preciso que. Sois vós quem não sabeis em que eu acredito. o fanatismo é a religião servindo de p etexto à fúria. quando eu o soubesse . se eu não o iluminasse com minhas ardentes inspirações.Não o sabereis nunca. teriam-no talvez assassinado. RESUMO DA PRIMEIRA PARTE EM FORMA DE DIÁLOGO A Fé.Eliphas Levi A Chave dos Grandes Mistérios . Se alguém tivesse rido de suas tolices. A CIÊNCIA .Sem dúvida. Os que confundem proposital e preconceituosamente a própria religião com a superstição e o fanatismo emprestam à tolice suas prevenções cegas e talvez emprestassem ao fanatismo suas injustiças e seus ódios. Se soubésseis. A FÉ . eu gritaria: Quanto a mim. Essas pessoas eram os supersticiosos.Acreditais.Não tendes o privilégio de acreditar. A CIÊNCIA . precisamente porque vós não o sabeis. A superstição é a religião interpretada pela tolice. não nos diz que algumas pessoas acreditaram de fato adorar o animal.Eliphas Levi Na fábula do asno carregado de relíquias. e quando dizeis: Eu não sei mais. Inquisidores ou participantes dos Massacres de Setembro. e. A CIÊNCIA . não mais acreditaria nele. mas são certezas para mim. La Fontaine diz-nos que o animal acreditou ser adorado.Ali! não joguemos com as palavras. eu saiba o que é Deus . A FÉ . que importam os nomes? A religião de Jesus Cristo condena e sempre condenou os assassinos. começo a acreditar. em primeiro lugar. A FÉ . se começais onde eu paro. A CIÊNCIA .mesmo de vossas certezas. Meus progressos atestam que eu ando sempre. começais temerariamente muito cedo.Mas. 48 . e não posso nunca o fazer.O que a razão pensa disso? A RAZÃO . A FÉ . A CIÊNCIA .A Chave dos Grandes Mistérios . como.Pelo menos.Assim. e a razão. deter-se-ia sempre cegada por tuas dúvidas tão infinitas quanto o espaço.. pelos meus . teus pés estão dormentes. não . Que o Eterno morreu. e a fé diz que a ciência não e da eternidade.O que é que chamais de absurdos? A CIÊNCIA . desfrutam de dupla visão. Externadas por ti. essas proposições são.Nunca o fiz.São cegos que carregam um outro.Tu. que uma virgem possa ser mãe sem deixar de ser virgem. andar! sonhadora da eternidade.Não digas mais nada. e tu serias eu.Não. que três são um. meus filhos não são cegos. A CIÊNCIA . pois se entendesses minhas afirmações.Eliphas Levi A CIÊNCIA . eu seria tu.Penso. A FÉ . e eu quero andar s m ela. A ciência nada no céu das aspirações a ciência carregue a caras mestras. nunca usurpes minha autoridade. que o infinito fez-se fini to. ó co e o do cego. desdenhaste demais a terra. P or acasosabes o que é o número em Deus. natural e positiva. que um Deus fez-se homem. cuidado com os precipícios! A FÉ . Ao invés de brigarem. que poderíeis realizar um apólogo tocante.Chamo de absurdos as proposições contrárias às minhas demonstrações. ensinando-lhe esperar e amar. vêem r teus olhos o que tu podes demonstrar para eles na terra e contemplam. de fato. A fé dir-me-á absurdos. muito pelo contrário. mas é uma utopia. o que lhes mostro no céu. absurdos. A FÉ . em pr esença do infinito.Eliphas Levi A Chave dos Grandes Mistérios . por exemplo. A CIÊNCIA . A CIÊNCIA . eu não existiria mais. elas seriam absorvidas por t eus teoremas.. por exemplo. a despeito de todas as lei s da natureza. tu que não conheces Deus? És capaz de raciocinar sobre asoperações do desconhecido? És capaz de entender os mistérios da caridade? Devo ser sempre absurda para ti. e isso na ordem física. nunca acreditaste. não me desmintas em meus domín ios.Essa idéia é bela. isto é. para dizer melhor. que Deus puniu seu filho inocente pelo pecado dos homens culpados . ciência e fé deveriam unir-se: qu fé e a fé console a ciência. A FÉ . o do paralíti censura a fé por não saber andar na terra.Sou carregada por meus filhos! A CIÊNCIA . por conseguinte. nada que. minhas palavras são espírito e vida? Não te apresento o mistério da encarnação como um fenômeno de anatomia nem o da transubstanciação como uma manifestação química. Isso prova o suficie nte que eles não entendem meus ensinamentos dessa maneira positiva e grosseira. as palavras de fé só são compreendidas pela fé. com o ssos e veias. de maneira que fazes de teus filhos que comem esse pão um pov inho antropófago. com que direito dirias que eu disparato? 49 . órgãos. A FÉ . porque não tenho outras. O sobrenat ural que afirmo está acima da natureza e não poderia. opor-se a ela.afirmas que um pedaço de pão é não somente um Deus mas um corpo humano verdadeiro. mas uma vez que achas meus discursos absurdos. O Salvador. sangue. deves conc luir que dou a essas mesmas palavras um significado que te escapa. Com que direito gritarias ao absurdo? Eu não raciocino so bre nada do que conheceis.Não é cristão quem não se revolte com o que acabaste de dizer. Sirvo-me de t uas palavras. não disse: A carne aqui não tem nenhuma serventia. a ciência desnature. ao revelar o dog ma da presença real. em as repetindo. cuja existência e necessidade são. a aceitar as definições da fé que lhe é até smo impossível de criticar. como manifestação da luz de eus na inteligência humana. O meio de as unir é nunca as confundir. de São Francisco de Sales. ma s sem nunca usurpar uma à outra. no entanto. Saber não é m ais acreditar. Talvez também sem mim esta rias bem triste e bem desesperada. A fé. Mas a qual de seus símbolos vais-me associar? Serei judia. pertence ao domínio da ciência.Sou menos orgulhosa e reconheço que me podes ser útil. Procure a caridade verdadeira e.Eliphas Levi A Chave dos Grandes Mistérios . muçulmana ou protestante? A FÉ . católica. que faria sem vós? Preciso saber e crer para ser justa. Mas não deve haver contra dição entre elas. dorava nte. de Fenelon e de tantos outros. acreditar não é saber ainda. A CIÊNCIA . O objeto da fé é o desconhecido. pois servindo-se das mesmas palavras não falam a mesma língua. aceitarse. a menos que a razão o co nsinta.A Chave dos Grandes Mistérios .Reconheceis que. . tão evidentes para a ciência quanto para a fé. e a ciência.Digo que estávamos separadas por um deplorável mal-entendido e que. respeitar-se mutuamente. podemos andar juntas. e não quero separar-me de ti. Mas nunca devo confundir o que sei com o que acredito. Sou necessária a ambas. A CIÊNCIA .Continuarás sendo a ciência e serás universal.Não será certamente ao dos inquisidores e dos carrascos da Noite de São Bart olomeu.Pois bem! irmã ciência. E eu. de São Vicente de Paulo. Somente se a ciência renuncia à fé. o que dizeis disso? A CIÊNCIA . a ciência pode buscá-lo.É ao de São João. se a religião produziu algum bem. até mesmo sustentar-se e socorrer-se nas necessidades. é portanto forçada. fez também muito mal. renuncia à esperança e ao amor. como fato psicológico. A CIÊNCIA . Mas o que devo pensar das diferent es religiões? A FÉ . A ciência e a fé devem. portanto. O objeto da ciência é o conhecido.Julga-as por suas obras. pertence ao domínio da fé. quando a tiver en contrado. a fé não se ocupa dele e de xa-o inteiramente à ciência. mas não d ni-lo. c atólica.Ou seja. o Esmoler. pelo menos provisoriamente. A RAZÃO . se bem compreendo.Eliphas Levi A FÉ . A FÉ . A FÉ .Não façais isso. pergunta-lhe a que culto pertence. hospícios para os doentes. apesar da religião. quando esquecem a re ligião que os abençoa e perdoa. quando se propaga trevas em nome daq uele que não quer que se oculte a luz. retiros para o arrependimento? Essas in stituições tão gloriosas quanto modestas são obras reais de que os anais da Igreja estão cheios. também. será justo atribuir o crime à própria lei que o condena? Diz e. Mas. quantos devotamentos e sacrifícios ignorados? Contaste estes nobres corações d e ambos os sexos que renunciaram a todas as alegrias para se pôr ao serviço de todas as dores? Essas obras devotadas ao trabalho e à oração que passaram fazendo o bem? Quem pois fundou asilos p ara os órfãos e os idosos.Quando se mata em nome do Deus que disse: Não matarás. as guerras de religião e os suplícios dos sectários pertencem à política dos séculos bárbaros. 50 . Esquecestes a fogueira de Miguel Servet e o massacr e de nossos padres renovado ainda em nome da humanidade e da razão pelos revolucionários inimigo s da inquisição e da Noite de São Bartolomeu? Os homens são sempre cruéis. muito mal foi feito na terra. quantas v irtudes ela fez nascer.A FÉ . quando se persegue em no me daquele que quer que se perdoe os inimigos. eram eles próprios assassinos. Os sectári liás. que. se quereis ser justa. Andai distintas uma da outra. ó ciência. então.Eliphas Levi A RAZÃO . Quando tua ida deixar uma lacuna no ensinamento universal. e nunca vos separeis.Trabalha e procura.A Chave dos Grandes Mistérios .Eliphas Levi A Chave dos Grandes Mistérios . mas apoiadas uma na outra. permite à fé preenchê-la. 51 . mas respeita os oráculos da fé. A Chave dos Grandes Mistérios .Eliphas Levi . torna-se acessível à própria ciência. a ciência está circunscrita por uma dúvida absoluta e encontra-se eternamente estacionada no empirismo arriscado a um ceticismo raciocinador. por esse ponto de vista. é preciso ter uma noção exata do ser. Para ser justo. A ciência busca a verdade em todas as coisas. é preciso ter consciência da verdade. a fé constrói suas hipóteses ao acaso e só pode prejulgar cegamente as causas dos efeitos que ignora. ou melhor. é preciso agir com razão. subordinand à Providência. a fé dá justeza absoluta à justiça. mas que a própria existência dos detalhes parece forçá-la a reconhecer e a admitir. Para ter consciência da verdade. a fé explica-as por uma realidade de conju nto que a ciência não pode verificar. A ciência verifica realidades no detalhe. Vê-se aqui tudo o que a fé empresta à ciência e tudo o que a ciência. Para ser bom com inteligência. deve à f Sem a fé. a razão e a justiça são os objetos comuns das buscas da ciência e das aspirações da fé. o admite a priori em sua generalidade. A ciência demonstra a justiça pela justiça. a fé relaciona todas as coisas a uma v erdade universal e absoluta.SEGUNDA PARTE SEGUNDA PARTE Considerações preliminares Diz-se que o belo é o esplendor do verdadeiro. por sua vez. sem a ciência. A grande corrente que reúne ciência e fé é a analogia. ou melhor. transforma a justiça em Providênci . . A ciência submete as razões das pessoas e das coisas à razão matemática e universal. Ora. real ou hipotético. a beleza moral é a bondade. supõe nas próprias matemáticas e acima das matemáticas uma razão inteligente e abs oluta. A concepção de um poder supremo. é preciso ser justo. é preciso ter a ciência da realidade. A ciência estuda o ser em suas manifestações parciais. a fé p ocura. a verdade. e a noção divina. O ser. É belo ser bom. Para agir com razão. Para ter a ciência da realidade. a fé o supõe. 53 . . A int eligência existe no ser. a justiça é a Providência. o espírito de caridade deve assim tudo conciliar e tudo transformar em sua própria luz. o espírito de força? Ele deve vir.Na sua identidade com o espírito de caridade. diz a ciência.Em sua identidade com minhas demonstrações. Acordo sublime de todas as certezas com todas as esperanças. disse Pascal ao fazer alusão a esta filosofia cética e duvidosa que não . o espírito de ciência espírito de conselho. diz a ciência. . a verdade é Deus. uma vez que está regulada. se a ciência desconhece a fé. únic em sua essência e imutável em suas leis.Em sua identidade com o ideal.Em sua identidade com o princípio de caridade.Em sua identidade com a idéia. abdica. .Em sua identidade com minhas legítimas aspirações. O relativo demonstra a existência do absoluto. diz a ciência. "Rir da filosofia já é filosofar". retorque a fé. somente a ciência que demonstra a razão de ser dos mistérios da fé. blasfema.A Chave dos Grandes Mistérios . o ideal vivo dos espíritos é Deus. diz a ciência. . O Espírito Santo. o ser é a realidade. O absoluto em inteligência. diz a fé .Na sua identidade com o verbo. A inteligência anima e modifica a matéria. Em nenhum lugar a vida é fatal. . diz a ciência. Fora da união e do concurso dessas duas forças vivas da inteligência. diz a liturgia católica. . para a fé.Em sua identidade com o motivo dos atos racionais. a mais elevada razão é minha obediência. o ser é a razão. que pode dar uma solução aos mistérios da ciência e é. o ser é a verdade. e isso será com o uma criação nova.O Ser está em todos os lugares. Se a fé insulta a ciência. . responde a fé. escutemo-las falar de comum acordo. A regra é a expressão de uma sabedoria suprema. e ele mudará a face da terra.A inteligência está em todos os lugares. em contrap ida. a realidade é meu dogma. Agora. . É múltiplo e variável em suas formas. . temeridade e fanatismo. não há para a ciência senão ceticismo e desespero.Eliphas Levi É somente a fé. Não é ele o espírito de inteligência. o regulador supremo das formas. portanto. diz a fé. o ser é a justiça. do absoluto em inteli gência e do absoluto em amor.Eliphas Levi A Chave dos Grandes Mistérios . diz a fé. justiça. providência. tais são os cinco raios da estrela flam ejante no centro da qual a ciência escreverá a palavra Ser. não diríamos que rir de s emelhante fé seria dar provas de verdadeira religião. E.reconhece a fé. se existisse uma fé que pisoteasse a ciência. a que a fé acrescentará o nome inefável de Deus . realidade. m as ter-se-ia razão em censurar esse amor pela ignorância e em dizer a essa fé temerária: Já que desconh eces tua irmã. 54 . que não tolera o riso. razão. que é toda caridade. não és a filha de Deus! Verdade. Conheceis e podeis defini-la? R .Acima da verdade conhecida existe a verdade desconhecida.O que é a realidade? R .Eliphas Levi A Chave dos Grandes Mistérios . P .Como se pode racionalmente supor essa verdade? R . P .Eliphas Levi Primeira Série Pergunta .Pela analogia e pela proporção.É o verbo idêntico ao ser.É o motivo dos atos idênticos ao ser. P .O que é a justiça? R . P . mas concebe-se no próprio ser algo de supereminente e de transcendental.Existe algo acima da verdade? R . P .É o ser.Pode-se dizer da realidade a mesma coisa que da verdade? 55 .Concebe-se algo acima do ser? R . P . P .O que é a razão? R .O que é? R .Não.O que é o absoluto? R .Como se pode defini-la? R .Pelos símbolos da fé. P .A Chave dos Grandes Mistérios .Somente a fé afirma-a e nomeia-a Deus. P .É a idéia idêntica ao ser. P .A razão suprema do ser. P .É a ciência idêntica ao ser.O que é a verdade? Resposta . A Chave dos Grandes Mistérios - Eliphas Levi A . P R P R P R P R P R P Chave dos Grandes Mistérios - Eliphas Levi - Existe algo acima da razão? - Acima da razão finita existe a razão infinita. - O que é a razão infinita? - É esta razão suprema do ser a que a fé chama de Deus. - Existe algo acima da justiça? - Sim, de acordo com a fé, existe a providência em Deus e, no homem, o sacrifício. - O que é o sacrifício? - É o abandono benévolo e espontâneo do direito. - O sacrifício é racional? - Não, é uma espécie de loucura maior que a razão, pois a razão é forçada a admirá-lo. - Como chamar um homem que age de acordo com a verdade, a realidade, a razão e a justiça? R - É um homem moral. P - E se pela justiça ele sacrifica seus atrativos? R - É um homem de honra. P - E se, para imitar a grandeza e a bondade da Providência, ele faz mais do que s eu dever e sacrifica seu R P R P R P R P R P R P 56 direito pelo bem dos outros? É um herói. Qual é o princípio verdadeiro do heroísmo? É a fé. Qual é o seu sustento? A esperança. E sua regra? A caridade. O que é o bem? É a ordem. O que é o mal? É a desordem. Que prazer é permitido? A Chave dos Grandes Mistérios - Eliphas Levi A Chave dos Grandes Mistérios - Eliphas Levi . P - Que prazer é proibido? R - O gozo da desordem. P - Quais são as conseqüências de um e de outro? R - A vida e a morte na ordem moral. P - O inferno, com todos os seus horrores, tem, pois, razão de ser no dogma religi oso? R - Sim, é a conseqüência rigorosa de um princípio. P - E que princípio é esse? R - A liberdade. P - O que é a liberdade? R - É o direito de fazer o dever com a possibilidade de não o fazer. P - O que é faltar com o dever? R - É perder o direito. Ora, sendo o direito eterno, perdê-lo significa perda eterna . P - Não se pode reparar uma falta? R - Sim, pela expiação. P - O que é a expiação? R - É uma sobrecarga de trabalho. Assim, porque fui preguiçoso ontem, devo realizar, hoje, uma dupla tarefa. P - Que pensar dos que se impõem sofrimentos voluntários? R - Se é para remediar a atração brutal do prazer, são sábios; se é para sofrer no lugar do outros, são generosos; mas, se o fazem sem conselho e sem medida, são imprudentes. P - Assim, diante da verdadeira filosofia, a religião é sábia em tudo o que ordena? R - Vós o vedes. P - Mas se enfim estivermos errados em nossas esperanças eternas? R - A fé não admite essa dúvida. Mas a própria filosofia deve responder que todos os pra zeres da terra não valem um dia de sabedoria, e que todos os triunfos da ambição não valem um só in stante de heroísmo e de caridade. 57 A Chave dos Grandes Mistérios - Eliphas Levi A Chave dos Grandes Mistérios - Eliphas Levi P - O que é o homem? R - O homem é um ser inteligente e corporal feito à imagem de Deus e do mundo, uno e m essência, triplo em substância, imortal e mortal. P - Dizeis triplo em substância. Teria o homem duas almas ou dois corpos? R - Não. Tem em si uma alma espiritual, um corpo material e um mediador plástico. P - Qual é a substância desse mediador? R - É a luz em parte volátil e em parte fixada. P - O que é a parte volátil dessa luz? R - É o fluido magnético. P - E a parte fixada? R - É o corpo fluídico ou arornal. P - A existência desse corpo é demonstrada? R - Sim, pelas experiências mais curiosas e mais conclusivas. Falaremos disso na t erceira parte deste livro. P - Essas experiências são artigos de fé? R - Não, pertencem à ciência. P - Mas a ciência preocupar-se-ia com isso? R - Ela já se preocupa, uma vez que escrevemos este livro e uma vez que o ledes. P - Dai-nos algumas noções sobre esse mediador plástico. R - Ele é formado por uma luz astral ou terrestre e transmite ao corpo humano a du pla imantação. Ao agir sobre essa luz, a alma, por suas volições, pode dissolvê-la ou coagulá-la, proje tá-la ou atraí-la. Ela é o espelho da imaginação e dos sonhos. Reage sobre o sistema nervoso e pr oduz, assim, os movimentos do corpo. Essa luz pode dilatar-se indefinidamente e comuni car suas imagens a distâncias consideráveis, ela imanta os corpos submetidos à ação do homem e pode, fechan do-se, atraí-los para si. Pode assumir todas as formas evocadas pelo pensamento e, nas co agulações passageiras de sua parte resplandecente, aparecer aos olhos e até mesmo oferecer u ma espécie de resistência ao contato. Se essas manifestações e esses usos do mediador plástico são anorm ais, o instrumento luminoso não pode produzi-las sem ser falseado e causam necessariament e ou alucinação ou loucura. P - O que é o magnetismo animal? R - É a ação de um mediador plástico sobre um outro para dissolver ou coagular. Aumentan do a elasticidade da luz vital e sua força de projeção, ela é enviada tão longe quanto se desej e e é retirada totalmente carregada de imagens, mas é preciso que essa operação seja favorecida pelo sono do 58 A Chave dos Grandes Mistérios - Eliphas Levi A . P R P R P R s Chave dos Grandes Mistérios - Eliphas Levi - O magnetismo é contrário à moral e à religião? Sim, quando dele se abusa. O que é abusar dele? É servir-se dele de maneira desordenada ou para um fim desordenado. O que é um magnetismo desordenado? É uma emissão fluídica malsã e feita com más intenções, por exemplo, para saber os segr dos outros ou para chegar a fins injustos. P - Qual é, então, seu resultado? R - Falseia no magnetizador e no magnetizado o instrumento fluídico de precisão. E é a essa causa que se devem atribuir as imoralidades e as loucuras reprovadas num grande número d e pessoas que lidam com o magnetismo. P - Quais as condições necessárias para se magnetizar convenientemente? R - A saúde do espírito e do corpo; a intenção reta e a prática discreta. P - Que vantagens pode-se obter pelo magnetismo bem dirigido? R - A cura das doenças nervosas, a análise dos pressentimentos, o restabelecimento d as harmonias fluídicas, a descoberta de alguns segredos da natureza. P - Explicai-nos tudo isso de uma maneira mais completa. R - Nós o faremos na terceira parte desta obra que tratará especialmente dos mistérios da natureza. 59 A Chave dos Grandes Mistérios .Eliphas Levi . Essa luz é o espelho comum de todos os pensamentos e de todas as formas. os reflexos dos mundos passados e. No infinito. os esboços dos mu ndos futuros. Nos astros que magnetiza. ela denomina-se luz. Nos seres organizados. LIVRO I OS Mistérios Magnéticos 61 . torna-se luz astral. É um fluido e uma vibração perpétua. É essa substância que Deus cria antes de todas as coisas. guarda as imagens de tudo o que foi. por meio dela . luz ou fluido magnético. por analogia. No homem. forma o corpo astral ou o mediador plástico. Essa substância é o que Hermes Trismegisto chama de grande Telesma. conforme seus graus de polarização. sutil ou fi a. Ela é ao mesmo tempo substância e movimento. Quando produz o esplendor. como nos resta explicar na terceira e últ ima parte desta obra. A vontade dos seres inteligentes age diretamente sobre essa luz e. E o instrumento da taumaturgia e da adivinhação. A força que a põe em movimento e que lhe é inerente denomina-se magnetismo. sobre toda a natureza submetida às modificações da inteligência. essa substância única é o éter ou a luz etérea. isto é.TERCEIRA PARTE TERCEIRA PARTE O Grande Agente Mágico Falamos de uma substância propagada no infinito A substância una que é céu e terra. quando diz: Que seja a luz . luta. É assim que. . a mesma força que dilata o vapor contrai e endurece o gelo. . . destrui . é andrógina. abraça-se e fecunda-se.Eliphas Levi A Chave do Mesmerismo Mesmer encontrou a ciência secreta da natureza. renova. . Submetida ao movimento é volátil. enquanto o volátil corrói o fixo para volatilizá-lo. . A substância primeira. cuja existência ele proclama em seus aforism os. . era conhecida por Hermes e por Pitágoras. . segundo Hermes. hino 11 Mesmer viu na matéria elementar uma substância indiferente tanto ao movimento quanto ao repouso. e ele não compreendeu que o movimento é inerente à substância primeira. Sinésio. Peri gan spareisc pnoic Cqonoj` ezwwse moifcj Polndaidcloisi morcij "Uma única fonte. todas as partes da s ubstância animada. . o que está no alto é com o o que está embaixo. . . . . mas nunca se abandona à inércia. uma única raiz de luz jorra e abre-se em três ramos de esplendor." Hinos de Sinésio. sob inumeráveis formas. é dupla. mic riza Trifahj elcmfe morfc .Eliphas Levi A Chave dos Grandes Mistérios . mas que o fixo atrai o volátil para fixá~l o. Um sopro circula em volta da terra e vivifica. essa substância atrai e repele e coagula-se e dissolv e-se numa constante harmonia. encontrara sua revelação em meio às lembranças platônic s da escola de Alexandria: Mia paga. tudo obedece às leis da vida inerentes à substância primeira. única e elementar. ele não a inventou. que resulta não de. . mas de su a aptidão combinada a um movimento e a um repouso equilibrados um pelo outro: que o repous o não está em nenhuma parte na matéria uníversalmente viva. . . Que o pretenso repouso das partículas aparen temente fixadas é somente uma luta mais encarniçada e uma tensão maior de suas forças fluídicas qu e seimobilizam neutralizando-se. pois a inércia seria a morte para ela. . triunfa.A Chave dos Grandes Mistérios . quando o ve . É essa substância primeira que se designa na narrativa hierática do Gênesis. sua indiferença. de volta ao repouso é fixa. . que a canta em seus hinos. rbo dos Eloim faz a luz ordenando-lhe que seja. 62 . e a luz foi. Eloim diz: Que seja a luz. Dirigir os ímãs. esvair-se em fumaça e tor nar-se invisível. E deste deduzir os seguintes: A regularidade e a variedade no movimento resultam das combinações diversas do equilíb rio. por uma espécie de respiração mais ou menos lenta. portanto. sim se pudesse equilibrar imediatamente suas moléculas constitutivas." Estabelecer este: A matéria universal é necessária ao movimento por sua dupla magnetização e procura fatalme nte o equilíbrio. impele instintivamente o medi ador em direção aos órgãos para liberá-lo. se o equilíbrio de suas moléculas viesse a cessar de repente.A Chave dos Grandes Mistérios . embora ligada pelo torpor do sono. que equilibra p lomovimento do corpo a luz do mediador. é destruir ou criar as formas. É o espelho da imaginação. durante a vigília.Eliphas Levi o que eles denominaram seu sal. Durante o sono ele absorve a luz por imersão e. O sólido é a mesma matéria em pequeno movimento ou em repouso aparente. É um corpo luminoso que reproduz com a maior facilidade as formas correspondentes às idéi as. O fluido é uma matéria em grande movimento e sempre agitada pela variação dos equilíbrios. pois. em vez do sexto aforismo de Mesmer assim concebido: "A matéria é indiferente a estar em movimento ou a estar em repouso. o mediador plástico está sobrecarregado por uma alimentação que di gere mal. Não há corpo fluido que não possa tornar-se num segundo mais duro que o diamante. Nosso mediador plástico é um ímã que atrai ou repele a luz astral sob a pressão da vontade . A vontade. Esse corpo alimenta-se de luz astral. exatamente como o cor po orgânico alimenta-se dos produtos da terra. então. e produz-se uma reação.Eliphas Levi A Chave dos Grandes Mistérios . é exercer a onipotência da natureza. É por isso que é tão perigoso acordar os sonâmbu . Não há corpo sólido que não possa ser imediatamente pulverizado. de certa forma mecânica. Um ponto equilibrado por todos os lados permanece imóvel pelo próprio fato de ser do tado de movimento. Quando se produzem os fenômenos do sonambulismo natural. Seria preciso. porque está mais ou menos equilibrada. é produzir em aparência ou anula r os corpos. ao reunir os fenômenos da vigília aos do sono. nesse momento. Nos êxtases de todos os tipos a situação é a mesma. é. a alma. pois o mediador ingurgitado pode.los com um sobressalto. Ao movimentar as moias da vida particular. 63 . o sujeito pode ficar idiota. paralisado ou morrer. banhando-se na vida u niversal. extremamente perigos o. experimenta um bem-estar indizível e abandonaria de bom grado as ramificações nervosas que a mantêm suspensa acima da corrente. seja natural. Se a vontade aí mergulha num esforço apaixonado ou mesmo se a isso se abandona inteiramen te. separados da alma. porque. O estado de sonambulismo. retirar-se subitamente pa ra o reservatório comum e abandonar inteiramente os órgãos que se encontram. constitui uma espécie de grande lacuna ent re dois mundos. seja factício. pois. o que ocasiona a morte. então. puramente nervoso e a paixonado. e todo ódio exaltado está bem próximo do amor. É o que produz as simpatias e as antipatias instintivas. assim. Esses fenômenos são constantes como a natureza.Eliphas Levi Sendo as alucinações sonhos de pessoas acordadas. É a história das aparições estranhas e dos prodígios populares. recolhe-se e cresce lentamente pelas provações e pelos sacrifícios. a perturbação de um doente ganha as naturezas mais sen sitivas. é egoísta. que reproduzem em nossos dias os êxtas es dos dervixes giradores. Equ ilibram-se. trata o objeto amado com o coisa conquistada. o sonambulismo é o sono tomando emprestado a o despertar seus fenômenos. e é por isso que as alucinações são frequentemente contagiosas. então. o do coração e o da mente. exigente. A ignorância. inexoráv eis como a fatalidade.A Chave dos Grandes Mistérios . segundo leis consoa ntes às daeletricidade. a reação dá-se frequentemente com o estrondo e a violência do raio. seus deuses ou seus diabos em nada contribuem. umcírculo de ilusões estabelece-se e toda uma multidão é facilmente arrastada p ara ele. deve-se compreender a razão disso. vai contra todos os deveres. a alucinação é a vigília sujeita ainda em parte à embriaguez astr l do sono. . Assim explicam-se os milagres dos médiuns da América e as vertigens dos giradores de mesa. Nossos corpos fluídicos atraem-se e repelem-se uns aos outros. inquieto. tirânico e traz fatalmente consigo o suicídi o por catástrofe final ou o adultério por remédio. Um amor exagerado transforma -se em aversão. Os loucos e os idiotas são mais sensíveis ao magnetismo do que as pessoas sãs de espírit o. Há dois amores. vive apenas de entusiasmo. o amor do coração nunca se exalta. as projeções anorma s mudam as correntes luminosas. o amor da mente. supõem sempre um estado análogo ao sonambulismo. e contrai-se mais facilmente uma doença quando todos os órgãos estão predisp ostos a sofrerem suas impressões e a manifestarem suas desordens. é preciso pouco para virar completamente a cabeça de um hom em embriagado. Uma jovem artista cheia de futuro e de coragem tinha por marido um homem de bem. a ciência r esigna-se e cala-se. desola-se e indigna-se. Toda tensão anormal do aparelho nervoso ter mina em tensão contrária segundo as leis necessárias do equilíbrio.Eliphas Levi A Chave dos Grandes Mistérios . uns aos outros. As doenças fluídicas têm suas crises fatais. Os bruxos lapões com seus tambores mágicos e os malabaristas cur andeiros chegam a resultados parecidos por procedimentos semelhantes. porém em sentido contrário. O que dissemos do amor pode-se dizer também da religião. Mas. um poeta a quem não podia reprovar senão um excesso de amor po r ela. ela não o é mais desde que se abandona à vertigem das paixões. Sua culpa.Não. abandonou-o ultrajandoo e. as paixões desordenadas são o domínio da loucura. se é permitido lhe imputar alguma. No entanto. Todavia. que é o mais poderoso mas tam bém o mais inebriante dos amores. ela também é uma boa mulher. continua a odiá-lo. a alma humana então não é livre? . Apenas a sabedoria é ivre.um pesquisador científico. como São Francisco de Assis. desde então. dir-se-á. e a loucura é a fatalidade. e cair em seguida em ab ismos de 64 . Pode-se ter êxtases e estigmas. não é agora que ela é culpad a. foi em primeiro lugar ter amado louca e apaixonadamente seu marido. A paixão religiosa tem também seus excessos e suas reações f atais. mas o mundo impiedoso a julga e condena. absorvida pelo carvão.A Chave dos Grandes Mistérios . para que a vontade impressionada modifique. Podemos magnetizar de duas maneiras: primeiramente. A vigília e o sono vital do mediador plástico. segundo a direção dada pela vontade do magnetizador. o mediador plástico e os atos dessa pessoa. ou melhor. atraem ou repelem com força.Eliphas Levi As naturezas apaixonadas são ímãs exaltados. pelo contato. como por exemplo medicina.Eliphas Levi A Chave dos Grandes Mistérios . Os passes magnéticos servem apenas para dirigir a vontade do magnetizador. abaixo do cerebelo. confirm ando-a através de atos. gostam de rolar-se no carvão. segundo nosso desejo. Magnetiza-se pela irradiação. por e sses sinais. e pode-se ocasionar uma revolução nervosa em seu organismo com a rapidez de um raio. As vibrações da voz modificam o movimento da luz astral e são um veículo poderoso do magnetismo. cuja vontade e atos encontram-se. e as pessoas alívio. e não operado. seja por intimidação. e o sopro frio magnetiza negativamente. torna-se os animais que a eletricidade atormenta. Se for colocada a mão direita sobre a cabeça e a mão esquerda sob os pés de uma pessoa e nvolta em lã ou em seda. . A nervosas encontrarão aí um grande Capítulo II A vida e a morte. Figuras desenhadas a carvão aparecem luminosas para uma pessoa magnetizada e tomam para ela. por conseguinte. Em segundo lugar. O carvão em pó absorve e retém a luz astral. O sopro quente magnetiza positivamente. Uma insuflação quente e prolongada na coluna vertebral. seja por persuasão. São sinais e nada além disso. utilizará essa propriedade. subor dinados a essa ação. agindo pela vontade sobre o mediador plástico de outra pessoa. as mais graciosas ou as mais at errorizantes formas. agindo pela vontade de uma pessoa. É o que explica o espelho mágico de Dupotet. é por isso que os gatos. totalmente negativa. ela será inteiramente atravessada por uma fagulha magnética. A luz astral. pelo olhar e pela palavra. um dia. pode oca sionar fenômenos eróticos. O ato da vontade é expresso. 65 . A natureza submete-nos ao sono para habituar-nos à idéia da morte. a morte é um sono perfeito.O sono é uma morte incompleta. e adverte-nos por meio dos sonhos sobre a persistência de uma outra vida. se a fadiga é acompanhada de irritação nerv osa. o sono pode ser incompleto e tomar os caracteres do sonambulismo. no estado de vigília. quer de um eretismo qualquer. quer de trabalho. As alucinações. a limalha de ferro. Por que temos reminiscências de coisas que nunca nos aconteceram? É que as sonhamos acordados.Eliphas Levi Nossa disposição nervosa atrai-nos para aquelas imagens que correspondem à nossa agitação. Os monomaníacos dormem quando se entregam a atos insensatos. quer de vigílias. Os sonhos revelam-nos a doença ou a saúde. sonha-se. e então.A Chave dos Grandes Mistérios . quer de bebida. relativo à nossa dupla vida. O sono pode ser vertiginoso ou lúcido. sobretudo. disse-lhes tranqüilamente estas palavra s notáveis: . como um ímã colocado em meio a detritos metálicos atrairia e es colheria. Esse fenômeno do sono involuntário e não sentido. Existe uma língua do sono. que atravessa de repente a vida real . A loucura é um estado permanente de sonambulismo vertiginoso.Eliphas Levi A Chave dos Grandes Mistérios . compreender e até me smo reunir as palavras. também de nosso aparelho nervoso. Era ainda o sonâmbulo que falava. e não têm mais consciência de nada ao acordarem. de que é impossível. A língua do sono é a da natureza. à nossa fadiga especial. em vez de pensar. assim como pode matá-los. hieroglífica em seus caracteres e ritmada apenas em seus sons. Quando Papavoine foi preso pelos soldados. quando trazem consigo a adesão da inteligência. Formulam nossos presentimentos por meio da analogia das imagens. por conseguinte. Adormece-se por vezes sem disso se aperceber em meio à vida real. são acessos passageiros de loucura. Pois todas as idéias têm um duplo signo para nós. Toda fadiga do espírito provoca o sono. . mas. Uma comoção violenta pode despertar os loucos. produz-se freqüentemente em todos aqueles que superexcitam seu organismo nervoso com excesso s.Vós tomais o outro por mim. a calma ou a agitação de nosso mediador plástic o e. descreveu de um modo terrível o son ambulismo dos monomaníacos. Ora é um assassino que ouve. o c oração de sua vítima bater através das lajes do túmulo. ora é um envenenador que.Edgar Poe. esse gênio infeliz que se embriagava. contanto que não vá denunciar a mim mesmo. e acredita que todo o mundo ouve. termina por sonh ar em voz alta que se denuncia e denuncia-se de fato. 66 . por força de dizer a si mesmo: Estou em segurança. mas vossa voz os importuna. freqüentemente tam bém. Desde esse momento.Eliphas Levi A Chave dos Grandes Mistérios .Eliphas Levi O doutor Brière de Boismont. solta o elo. Sendo a força de repulsão igual à de atração. os epiléticos e todos aqueles que se abandonam ao delírio de uma paixão. os sonâmbulos extáticos. freqüente ente. não vos compreendem mais. e não ouve mais a voz de Hércules que o chama de volta aos trabalhos da v . Os abismos atraem. a corrente que retém o barco estira-se e parece querer romper-se. entrar am na dança macabra e sentem-se arrastados no turbilhão da vertigem. fica-se violentamente preso à vida. que apenas ele podia ver. morre sonhando com ninfas que o acariciam. e que reencontrava sempre quando estava só e acabava de jantar bem. não vos ouve m mais.A Chave dos Grandes Mistérios . leva a mão à corrente. da margem e plana cantando sobre as ondas alegres. aliás muito sensato. A morte é uma corrente que arrasta. tendo-o convidado a visitar a Igreja de São Paulo. a loucura possui irresistíveis atrativos para a loucura. o cântaro cheio cai ao fundo e Hilas segue-o. Quando um homem sucumbe ao sono. têm sono do sono da morte. o frescor da fonte adormece-o. por complacência para com o sono. ei-lo debruçado sobre a água como um narciso cuja haste fosse quebrada por uma criança a brincar. então. Eles ouviram a música fatal. os seus enfraquecem e não podem retirar o cântaro pesado. que acreditava ter encontrado um homem com quem travara conhecimento. no instante mesmo de expirar. um pássaro maravilhoso lança-se. este o conduzira a almoçar em sua taberna. a criança quer segui-lo. abomina tudo o que poderia acordá-lo. Vós lhes falais. Um bote balança-se próximo às margens do lago. conta a história de um inglês. mas de cujas profunde zas o menor movimento vos pode trazer de volta. em sua notável obra sobre as Alucinações. passa-se do sono à morte. ele vê uma ninfa estender-lhe os braços. os perfumes da margem embriagam-no. aproxima-se de uma fonte par a retirar água. a água brilhante de m il reflexos dança à sua volta chamando-a. Acontece o mesmo com os alucinados. um precipício que absorve. vós os advertis. o inglês estava obcecado por esse desconhecido. a embriaguez chama a embriaguez. pela mesma lei de equilíbrio. depois. Cansado após uma longa navegação. os maníacos. uma miragem graciosa lhe sorri. A Antigüidade adivinhara o mistério da morte atraente e representara-o na fábula de Hi las. Hilas chega a uma ilha florida. A criança nele entra. tentara precipitá-lo do alto da torre onde haviam subido juntos . e canta.. ele. com um único olhar.ida. Eurídice. está em pé. Adônis que volta à vida para escutar os lamentos de Vênus e que se reanima como uma flor so b o orvalho brilhante de suas lágrimas. ora na terra. e lentamente sobe em direção à luz. o amor virginal.. Eurídice. a lira nas mãos. as terríveis divindades d o Érebo não ousam fechar-lhe a passagem. as ondas da doce claridade escorrendo da teta negra da mãe do s deuses. esta sensiti va rompida no próprio dia de seu casamento e que se refugiou na tumba ainda trêmula de pudor! Logo . está deitada no leito nupcial. mas por um instante esqu ece. em suas brancas vestes de noiva. os olh os voltados para o Oriente. Depois ele chama suavemente Eurídice. a poesia que ela adora. 67 . sua querida Eurídice. que sai das sombras da iniciação órfica. é a de Eurídice chamada de volta à vida pelos milagres da harmonia e do amor. ou antes. não menos comovente.. Canta as flechas luminosas do amor que atravessam as so mbras do antigocaos. Ela segue o poeta. Orfeu sabe disso. ela ouve alira de Orfeu. Castor e Pólux que a morte não pôde desunir e que se amam or a no inferno. Hilas! Outra fábula. Ma s ai do amante se mudar a corrente magnética e se seguir. sob as vestim entas de grande hierofante. Eros e Ânteros. a cabeça coroada com os louros sagrados. sua Eurídice tão amada: Ah! miseram Eurydicen animâ fugiente vocabat. e que percorre todas as margens gritando mil vezes: Hilas.. o amor mais forte que o túmulo busca apenas a dedic ação e foge desvairado diante do egoísmo do desejo. aquela que ele deve some nte atrair! O amor sagrado. aquela pálida estátua que a morte fez colore-se com as primeiras nuanças da vida. Mas o insensato viu o olhar da ressuscitada. ousamos dizer que a ressurreição dos mortos não é um fenômeno impossível na própria ordem da natureza.A Chave dos Grandes Mistérios . treme. não afugentes a bo rboleta de Psiquê. Jesus prec isou gritar e sacudi-la.. Quantas a lmas assim agitadas pelo pesadelo do inferno refugiaram-se em seus corpos gelados e já cobert os pelo mármore da tumba! Foram encontrados esqueletos revirados. nesse momento. mas ela empalidece novamente.Eliphas Levi A Chave dos Grandes Mistérios . a eternidade aparece para a alma ignorante ou culpada com tão formidávei s proporções de dores que ela tenta algumas vezes lançar-se novamente na vida mortal. a t erra era mais bela e mais desejável do que o céu. e nisso não negamos nem contradissemos de nenhum modo a fé fatal da morte. não olha mais senão para o céu. Orfeu a vê. Ap erta-a em seus braços e a encontra ainda gelada. O estado de quietude profunda que se sucede. Foi a poder de frémitos e de lágrimas que chamou de volta do túmulo o amigo Lázaro. e foi d ito: Aí estão homens que foram enterrados vivos. a sensitiva estremeceu. Em nosso Dogma e Ritual da Alta Magia. Eurídice está morta e os hinos de Orfeu não mais a trarão de volta à vida... forçá-la a novamente mergulhar. balbucia... que quer pousar nesta flor!. então o gr ande hierofante tira de sua lira cantos dilacerantes e sublimes. não s e pode fazê-la voltar. convulsos. estava na terra. implora. Uma morte que pode cessar é apenas uma letargia e u m sono. chora . retorcidos.. para acordar a filha de Jairo. Enganavam-se frequentemente. e bem podiam ser retomados da . mas é sempre pela letargia e pelo sono que a morte começa.. Infeliz! não olhes para ela. tão difícil é interromper uma alma cansada que dorme o seu primeiro sono! Todavia. a lira cai de suas mãos.. olha Eurídice. seus olhos tornaram a fechar-se. e Eurídice abre os olhos. senão excitando violentamente todas as s uas feições e todos os seus desejos. o hino vai expirar em sua boca. Quando Jesus. o rosto da morte não tem a mesma serenidade para todas as almas que o con templam. quando se teve frustrado o objetivo da vida.Eliphas Levi Enquanto ele canta. seus lábios brancos começam a avermelhar-se como a aurora da manhã.. seus lábios estão mais pálidos e mais frios do que nunca. e no entanto. e o vínculo delicado da a lma rompeu-se novamente e para sempre. o gr ande hierofante cede à embriaguez do amante. às agitações da vida leva então a alma distendida e dormente. corre em sua direção. o Salvador do mundo. canta ainda. quando se levam consigo cobiças desen freadas ou ódios insaciados.. uma história de que todavia não garantimos a autentic idade. Essa revelação nada tem de estranho pa ra quemconhece bem as analogias da natureza. Quando a comunicação é bem estabelecida. Um magrietista célebre. Contaram-nos. 68 . pode-se separar sua alma de seu corpo.morte. a peso d e ouro.. Era uma natureza impressionável e nervosa . a insensibilidade. etc. ressuscitados da sepultura que. como verdadeira.. e já enojada da existênci a. Vamos contá-la porque pode ser verdadeira. É certo que. quando o magnetizador pode prod uzir à vontade o sono. Pessoas que duvidavam ao mesmo tempo da religião e do magnetismo. cansada além disso pelos excessos de uma vida mais do que irregular. Falam-lhe de Deus. Basta algumas vezes provocar numa pessoa uma violenta cólera ou um enorme susto para matála subitamente. O uso habitual do magnetismo geralmente coloca o sujeito que a ele se abandona à m ercê do magnetizador. tremem-lhe todos os membros. com ela foram ter por duas vezes. ensina no seu livro secreto sobre a Magia q ue se pode matar pelo magnetismo como pela eletricidade.. o barão Dupotet. ela chora e debate-se. uma pobre moça a submeter-se às suas experiências. ordenam-lhe que veja. desses incrédulos que se prestam a todas as superstições e a todos os fanatismos. dilatando-se além dos limi tes-ou coagulando-se repentinamente o mediador plástico de um sujeito. só lhe custaria um esforço a mais trazer também a morte. haviam convencido. a catalepsia. por se terem abandonado completamente às an gústias do limiar da eternidade. Adormecem-na.. .Eliphas Levi .Não consigo dizer.Olhe dentro do paraíso.. . . olhe e diga o que está vendo.Não! Não! .Para onde mais querem que eu olhe? .Não. . cairia. Desses olhos saem raios que se enrolam em serpenti nas e ocupam todo o espaço.. .Misericórdia! . Aí. me daria vertigem.Então olhe dentro do inferno.Aonde querem que eu desça? .Olhe para ele.. fica apavorante. eu quero. . .Não.É horrível! Não. por misericórdia. . Ela abre então os olhos. acordem-me! .Não.Eliphas Levi A Chave dos Grandes Mistérios . a sonâmbula agita-se convulsivamente.. desça.Vá. não quero.Vejo uma noite negra em que turbilhonam fagulhas de todas as cores em volta de dois grandes olhos que se movem sem parar. eu quero.Ao inferno. não.Não. suas pupilas dilatam-se.O que você está vendo? . a grande noite me rechaça e volto sempre a cair. olhe. Oh! segurem-me! detenham-me! .Vá.grita soluçando -. . . não quero ir! .A Chave dos Grandes Mistérios . não posso subir até lá. Oh! por misericórdia. Oh! isso me dói! acordem-me! . . não f m perseguidos. . Aproximam-se dela.Vá até lá. eu quero . os olhos esbugalhados só mostram o branco.Estou aqui . 69 . mandaram-no enterrar e encerrouse o caso. não tinha nenhuma marca de violência. Depois. os cabelos em pé. já tarde demais.repete o magnetizador. e a morte foi atribuída à ruptura de u m aneurisma. acordá-la. . a cabeça inerte tomba sobre os ombros.As feições da sonâmbula ficam terríveis de se ver. a mulher estava morta e os autores dessa experiência sacrílega. Querem.diz entre dentes a infeliz. os braços pendem ao longo do corpo. Coube à autoridade atestar um óbito. graças à incredulidade pública em matéria de magnetismo. o crime estava consumado. o peito arfa e deixa escapar um som rouco. O corpo. toca m-na. não responde m ais. caindo esgotada. aliás. Pois então fuja! . Uma noite. Capítulo III Mistérios das alucinações e da evocação dos espíritos Uma alucinação é um ilusão produzida por um movimento irregular da luz astral. um suspiro. Nosso corpo. também algumas circunstâncias fenomenais podem tornar a luz astral malsã e não assimilável. está se soltando da montanha. vai me esmagar. Se o m olde está defeituoso. puxa o colega pelo braço.Eliphas Levi Dois companheiros hospedavarn-se no mesmo albergue e dividiam o mesmo quarto. Nosso mediador plástico aspira e respira a luz astral ou a alma vital da terra. do mesmo modo que em alguns lugares o ar é impuro e irrespirável. uma convulsão. Tal ar também pode ser muito vivo para algumas pessoas e convir perfeitamente a ou tras. ela torna-se disforme. co mo nosso corpo aspira e respira a atmosfera terrestre.diz rindo o outro.Mas então você não está vendo . Um grito terrível.diz o que está dormindo não está vendo esta pedra enorme. quando então respondia às perguntas que seu colega l he fazia. O desastrado brincalhão levanta-se. É.. lá está a grande pedra que vem para cima de mim.. como dissemos antes. mas a fadig a local ou a ..Impossível. . Um dos dois tinha o hábito de falar dormindo. a mistura dos fenômenos do sono aos da vigília. o infeliz sonâmbulo estava morto. O mediador plástico assemelha-se a uma estátua metálica permanentemente em fusão. que lhe atira na cabeça o travesseiro pa ra acordá-lo. ela foge. . meus pés estão enroscados num espinheiro que se aperta cada vez mais.. . assusta-se po r sua vez.. atrai e retém essa forma fugidia de luz especificada. O molde do mediador plástico é a força vital equilibrada e polarizada. depo is mais nada..Eliphas Levi A Chave dos Grandes Mistérios . sendo assim também com a luz magnética.. Ai! Socorro! lá. aqui está ela! . chama-o. ele começa. po r meio do sistema nervoso.A Chave dos Grandes Mistérios . o outro companheiro acor da e pergunta-lhe o que está havendo. de repente. grita. está caindo sobre mim. subitamente sufocado na garganta.Toma. alguém traz uma luz. a soltar gritos sufocados. se o molde se quebra. Ora.. 70 . Essas disformidades alteram parcialmente o espelho da imaginação e ocasionam alucinações habituais próprias aos visionários extáticos.superexcitação parcial do aparelho pode ocasionar disformidades fluídicas. recolhemo-nas numa casa onde o médium americano foi acolhido com benevolência quando estava infeliz. foi gentil com ele. da fábula de La Fontaine sobre o louco que atirava pedras num sábio. conhecido. o sr.Não julgo esse homem . mas três vezes francesa pela nobreza de seu coração. nós mesmos.Eliphas Levi Achamos oportuno relatar aqui o que publicamos no jornal O Estafeta sobre os pro dígios do médium americano Home e sobre vários fenômenos da mesma ordem. . Home. perto dele me sentiria s em forças e como que sem vida. É a casa de uma senhora nascida na Polônia. mas sua atmosfera me faz mal. nem afirmo que ele seja bom ou mau. n a ocasião. E. desde então. com ar triste e desiludido. então. não passariam muito tempo por s eres maravilhosos. as feições do sr. e. cuj a benevolente acolhida fora uma de suas primeiras alegrias na França. e quis retê-lo para jantar. Home alteraram-se de repe nte. B. mas nossas infor mações vêm das melhores fontes. como é impossível ser "padre que abandonou a batina" sem nunca ter sido padre.Eliphas Levi A Chave dos Grandes Mistérios . o senhor Home queria mais uma vez deixar Paris. Nunca fomos. e com indulgência quando chegou a tomar sua doença por umafelicidade e uma ventura. Naquele dia. sem que saibamos bem por quê. . despedia-se.dizia ele -.. essa Paris on de. O senhor De Pène tra tava-nos de "padre que abandonou a batina" e de mau católico. Tudo o que lhe disse ram para tranqüilizá-lo foi inútil. por seu duelo infeliz. O sr. a sra. de uma nobre dama. e nada melhor teriam a fazer senão retornar logo ao céu ou ao inferno. e ele declarou balbuciando e com uma visível perturbação que não podia ficar e que a aproximação daquele professor de magia causava-lhe um insuperável terror. A publicação dessas informações no Estafeta atraiu-nos. depois dessa explicação. Home apressou-se a despedir-se e a sair. testemunhas dos milagres do senhor Home. o misterioso personagem ia aceitar. Lembramo-nos. pelos encantos inefáveis de seu espírito e pela celebridade euro péia de seu nome.A Chave dos Grandes Mistérios . qu ando alguém disse que era esperado um cabalista conhecido no mundo das ciências ocultas pela publicação de um livro intitulado Dogma e Ritual da Alta Magia. as i njúrias de um senhor De Pène.. deixamos cair por terra uma injúria que não nos atingia. como sempre. para escapar ao esquecimento e ao abandono dos humanos. Na semana passada. Mostramo-nos pelo menos bom cris tão compadecendo-nos dele e perdoando-o. se os próprios anjos e demônios aparecessem sob uma forma qualquer. nada sei sobre isso. Nosso admirável escritor Alexandre Dumas dramatizou essa l enda mágica no belo resumo de todas as lendas que serviria de prólogo à sua grande epopéia ro manesca do Judeu Errante. e a bel a noivarespira mais aliviada. como uma Vên us de Corrégio ou uma Graça de Cânova. é uma cerimônia de casamento antiga co m belas crianças coroadas de flores que carregam archotes nupciais e cantam epitalâmios grac iosos e ornados de voluptuosas imagens como as poesias de Catulo. O mestre prometeu vir às núpcias de seu discípulo. um discípulo do célebre Apolônio de Tiana. A noiva está linda. o dia não acabou. como a Polímnia antiga. em suas cast as vestes. Aquele que ela desposa é Clínias. A cena passa-se em Corinto.Esse terror dos homens de prestígio em presença dos verdadeiros iniciados à ciência não é u fato novo nos anais do ocultismo. Pode-se ler em Filóstrato a história da estrige que tre me ao ouvir chegar Apolônio de Tiana. mas não vem. No entanto. está amorosa e deliciosamente provocante em seu pudor. pois teme Apolônio. É cheg ada a hora do leito 71 . mas te ria certamente temido a presença de Paracelso e de Henri Khunrath. A verdadeira magia. O célebre médium americano é doce e ingênuo como uma criança. uma maravilha. o verdadeiro prodígio sempre resplandecente aos olhos de todos é a harmonia sempre constante dos efeitos e das causas. com todo o mundo dos espíritos. Em primeiro lugar. de qualquer explicação ou comentár io. a ciência tradicional. eis os fatos em toda sua singularidade. inicialmente. são os esplendores da ordem eterna! Não saberíamos dizer se Cagliostro teria feito milagres diante de Swedenborg. e a verdadeira boa fé nunca deve recear exa miná-los. hostis à luz e fascinadores de um pequeno número de t estemunhas preparadas ou crédulos. e ele próprio é certamente a primeira de suas vítimas. não é. que nega tud o o que ainda não pode explicar. é o joguete de uma força terrível que ele i gnora. e la impede ou faz cessar os falsos milagres.Eliphas Levi O vulgo sempre se enganou sobre a magia. Os fatos são inexoráveis. A explicação desses fatos que todas as tradições obstinam-se em afirmar e que se reprodu zem diante de nós com uma incômoda publicidade. Comprovamo-os e vamos restabelecê-los com uma rigorosa exatidão abstendo-nos. no entanto. pois não nos seria permitido a esperança audacios a de concluí-lo. e de ab rir diante da ciência e da razão horizontes menos estreitos que os da crítica burguesa. pela intermediação desta. rigor osa como a matemática. segundo ele. A maravilha verdadeira. A desordem aparente nas leis da natureza é uma mentira. O estudo dos estranhos fenômenos que se produzem em torno desse moço é da maior importân cia. O sr. um charlatão. como os . dos magos. Home está sujeito a êxtases que o põem.A Chave dos Grandes Mistérios . em contato diretamente com a alma de sua mãe. e confunde os adeptos com os encantador es. é inimiga mortal dos encantamentos. seria um grande evento científico. e. Home como um bruxo de baixa cat egoria. se pudesse obter bastante luz e publicidade. sem intriga e sem defesa. Vamos talvez preparar esse evento. isto é. p ois. Trata-se de rever seriamente as denegações demasiado levianas do século XVIII. essa explicação. É um pobre ser muito sensitivo. Descreve. se esses dois grandes homens t ivessem sido seus contemporâneos. antiga como os próprios fatos. Longe de nós.Eliphas Levi A Chave dos Grandes Mistérios . a idéia de denunciar o sr. isto é. mas pela primeira vez tirada das sombras onde a escondiam os hi erofantes de todas as idades. ruídos inexplicáveis fazem-se ouvir. fora. Batidas violenta s ecoam nos móveis e nas paredes. 72 . Quando ele está num apartamento. Lápis escrevem sozinhos. carecem de seriedade. As pessoas presentes sentem-se tocar e agarrar por mãos invisíveis. que parecem escolher as damas.sonâmbulos de Cahagnet. ao sair. Os móveis são erguidos e deslocados sem que ninguém os toque. e por vezes mesmo de conveniência. A caligrafia é a do sr. algumas vezes as portas e as janelas abrem-se como se fossem impelidas por uma tempestade. pessoas que nunca viu e que são reconhecidas pelos que as ev ocam. Esses contatos. em sua aplicação. e cometem os mesmos erros que ele. Home. Pensamos que nos compreendem o suficiente. o céu está sem nu vens. vos dirá mesmo seus nomes e responderá de sua parte a perguntas que só podem ser compreend idas por elas e por vós mesmos. e não se sente nem o mais leve sopro de vento. chega-se a ouvir o vento e a chuva. o lápis foi lançado ao outro extremo do apartamento. pareceu experimentar uma grande contrariedade e manifestou um certo temor. Um fidalgo polonês. respeita ao menos nisso a delicadeza ser sob um cortinado ou uma toalha. então. Guardaram-nos. . todavia. Eram. O espírito. O fidalgo ab aixou-se. formas perfeitas de mãos humanas. Mas a coisa invisível foi mais forte do que o romancista inglês. agarra-a como se temesse afogar-se. também viu e apertou vigorosamente as mãos misterios as. Durante alguns ins tantes nada se moveu. Um dos mais recomendáveis personagens da Inglaterra. no lugar de mãos. dizem que os dedos são inchados e rígido ar fosforescente e quente. e trouxeram-nos para este professor de magia. Um fidalgo russo. sir Edward Bulwer Lytton. e comparam-nos a luvas de borracha cheias de um es. para fazer saírem do seu esconderijo os braços a que naturalmente el as deviam estar ligadas.A Chave dos Grandes Mistérios . viu e tocou essas mãos.Eliphas Levi Essas mãos mostram-se sobretudo na escuridão. lemos a declaração escrita e assinada por ele. e o conde acabou por nada mais segurar. Escrevem tolices ou tocam piano.Eliphas Levi A Chave dos Grandes Mistérios . são pés que se exibem. e pedira um sinal da presença do espírito. e as mãos escaparam-lhe. disse ele. cuja aproximação o médium tanto receara. o conde A. e quando tocam piano é preciso vir o afinador. quentes e vivas. as mãos não lutaram para escapar. colocara no chão en tre seus pés um lápis sobre um papel. Cerradas num aperto inevitável. só que não se sentiam os ossos. Outras pessoas que viram e tocaram essas mãos s. Só o senhor Home. a quem provavelmen das damas. De repente. ao vê-los. po is seu contado é sempre fatal à afinação do instrumento. fundir am-se de algum modo. Declara mesmo tê-las apertado e pux ado para si com toda a força. que foi o protetor do senhor Home e cujo caráter e boa fé não poderi am ser alvo de nenhuma dúvida.. Ele procura então aproximar-s e de alguma pessoa saudável. e nunca mostra seu pé a não A aparição desses pés cansa e assusta muito o senhor Home. e a pessoa assim agarr ada pelo médium sente-se de repente num estado singular de esgotamento e debilidade. pegou o papel e viu aí três signos cabalísticos que ninguém compreendia. são quentes e fosforescentes ou frias e negras. porém recusou-se a explicar a natureza e a significação desses caracteres. mas diminuíram.. que assistia a uma das sessões do senhor Home. Por vez descoberto.B. nunca a te faltam sapatos. O segundo caráter representava uma cruz de grande hierofante com as três travessas h ierárquicas. é ainda o atributo de nossos soberano s pontífices e arremata a extremidade superior de seu bastão pastoral. em vez de quatro pontos. havia somente d ois. sob o duplo traço horizontal um duplo traço oblíquo em forma de V invertido. Esse símbolo. o símbolo do ódio e do combate eterno. uma cruz com alça tendo no alt o um círculo. Estavam espalhados na folha sem ordem e sem alinhamento. era duplo e formava ainda o terrív el V tifoniano.Examinamo-os e aqui está sua minuciosa descrição. uma cruz de quatro r amos iguais com um ponto em cada um dos ângulos. o signo do antagonismo e da separação. Estavam desenhados com força e o lápis quase rasgara o papel. que remonta à mais alta Antigüidade. 73 . abaixo do círculo um duplo traço horizontal. O terceiro caráter era o que os maçons denominam cruz filosófica. a cabeça da cruz. Um tau com duplo traço vertical aberto em forma de compasso. Porém. Mas o signo traçado pelo láp is tinha de particular que o ramo superior. O primeiro era o signo que os iniciados egípcios geralmente colocavam na mão de Tífon. Eliphas Levi O professor. ao invés do primeiro princípio inteligente. "A segunda pertence aos hieróglifos filosóficos. a negação da misericórdia e do amor. pois. o mais antigo. mestre Elip has Levi. foi em todas as iniciações o símbolo da natureza e de suas quatro formas elementares. é o pensamento humano afirmando alternativamente o absol uto nos três mundos. para não cansar nossos leitores parecendo falar-lhes de nós.A Chave dos Grandes Mistérios .Eliphas Levi A Chave dos Grandes Mistérios . "Os dois pontos da direita representam a força. e a s quatro letras devem ser lidas da direita para a esquerda começando pelo alto à direita. a explicação científica das três assinaturas. . Dobrar a linha vertical é afir mar que a natureza tem dois pais. ou seja. A. pois. e representa a força paterna e ativa de Deus (a linha vertical sa indo do círculo) fecundando a natureza passiva (a linha horizontal). é colocar o adultério no lugar da maternidade divina. se o primeiro caráter queria dizer: Não existe Deus. . "O terceiro. De tal modo que. e assim para as outras fazendo a cruz de Santo André. deu às pessoas reunidas na sala da senhora B. Pois a cruz com alça de Osíris é um linga invertido. Ele exprime a blasfêm ia desse espírito do mal estabelecendo o dualismo no princípio criador. "Essa primeira assinatura é hierática e refere-se aos caracteres ocultos do mundo di vino. e indo daí p ara a letra embaixo à esquerda. a fatalidade cega que tem por resultado o conflito eterno d as aparências no nada. o mais autêntico e o mais terrível de todos os estigmas do inferno. os quatro pontos representam as quatro letras indizíveis e inc omunicáveis do tetragrama oculto. os da esquerda figuram o amor. pelo signo da dúvida e do antagonismo. representa a medida ascensional da idéia e a extensão progressiva da forma. ou a cruz filosófica. Significa o deus ateu.. é afirmar. que nos será permitido distinguir aqui do narrador e nomear na tercei ra pessoa. o professor. é. e eis o que ele disse: "Estes três signos pertencem à série dos hieróglifos sagrados e primitivos conhecidos so mente pelos iniciados da primeira ordem. e ste tem por significação rigorosa: A verdade hierárquica não existe. .. pois. e esse absoluto termina aqui por um forcado. "A supressão dos dois pontos da esquerda exprime. é a assinatura de Satã. esta fórmula eterna do grande arcano G. a negação da cruz. "É um triplo tau invertido. o primeiro é a assinatura de Tífon. não desprezar nenhuma averiguação e nenhum indício. de alto a baixo e de baixo ao alto."A afirmação do reino absoluto da força. "A glorificação da tirania e da revolta. é o signo da desordem e do desespero eternos. havia alguns anos. uma série de fatos inexplicáveis pro duziam-se. "O signo hieroglífico do vício imundo. seja-nos permitido relacionar essas assinaturas estranhas a outras aparições contemporâneas de escrituras fenomenais. as primeiras revelações da ciência oculta dos magos sobre esses fenôme nos de manifestações sobrenaturais. 74 . sob a influência de um médium ou de um extático chamado Eugène Vintra s. em Tilly-sur-Seulles. pois. Nas proximidades de Caen. Agora. pois é um verdadeiro processo que aciência deve instruir antes de levá-lo ao tribunal da razão pública. portanto. É preciso." Tais são. que se teve ou não razão de reprovar aos Templários . e de seu antagonismo eterno. "um diabo que Deus tolera. depois conheceu Vintras.Senhor. Era o Marquês de Sade tornado pregador. "é uma religião condenada!" Depois pregava a licença mais absoluta sob o pretexto de caridade. médicos. aliás irrepreensíveis.. "Podeis conceber". Enfureci a-se contra toda repressão e toda danação. uma vez que ela era a conseqüência de uma sentença de morte. Na época em que Eliphas Levi publicava seu Dogma e Ritual da Alta Magia. a vida bastava para a expiação dos grandes crimes.. Depois negava o diabo com um e ntusiasmo por vezes pleno de eloqüência. e c hegava até a dizer que o ato de amor mais imperfeito e aparentemente mais repreensível valia ma is que a melhor das preces. Existe em Paris um escritor. vimos. pareciam-lhe oferecer a Deus uma expiação mais sublime. preconceituoso e mal superado em suas vinganças por um diabo de Deus!. dizia ele. e eis a seguir mais ou menos o que foi a c onversa: Eliphas Levi: . recebeu u ma brochura de Madrolle que o surpreendeu. exclamava ele. que se chama Madrolle. por serem o s mais infelizes de todos. Para ele. os milagres tão autênticos de Vintras? Sobre esse assunto estamos melhor informados do que ninguém. no mínimo excêntrico. foram-nos comunicados. padres. . O professor de magi a esteve a ponto de aterrorizar-se e tratou de conseguir o endereço de Madrolle. que Deus autoriza! Conc eber além disso um Deus que fez o diabo e que o deixa atormentar criaturas já tão fracas e tão prontas a se enganarem! Um Deus do diabo enfim. secundado.Eliphas Levi Quais são. como logo se notará. Os piores homens. pois. receb eu os estímulos mais lisonjeiros das autoridades eclesiásticas e até mesmo breves emanações da S anta Sé. recebi sua brochura. O autor sustentava abertamente os paradoxos mais inauditos no estilo desordenado dos extáticos. artistas. As coisas merecem ser contadas com alguns detalhes. tornou-se u m sectário determinado e um inimigo irreconciliável da hierarquia e do clero. É um ancião cu ja família e relações são honradas. e.Eliphas Levi A Chave dos Grandes Mistérios . "Uma religião que condena". Escreveu primeiramente no sentido católico mais exaltado. Au tos assinados por testemunhas honradas.A Chave dos Grandes Mistérios . arrastado pelo prestígio de seus milagres. melhor do que isto. Venho agradecer-lhe e testemunhar-l he ao mesmo tempo meu espanto e meu pesar. e." O restante da brochura tinha a mesma força. Não foi sem alguma d ificuldade que ele chegou até esse singular panfletário. interrogamos testemunhas oculares. de que prodígios se trata? 75 .. pois é impossível permanecer frio na presença dos prodígios. no meu lugar. contra abusos na moral. isso me interessa. vê-lo cometer erros que outrora eu mesmo cometi. Mas não é de hoje que os crentes devem suportar a loucura da cruz.Sem dúvida! Já se disse e ainda se diz que sou louco. . Por certo sua intenção era protestar contra erros na crença. o senhor também e staria. Falta alcance à sua broc hura porque falta-lhe medida. não estou entendendo. então. Vejamos.Madrolle: . Mas eu tinha. Estou exaltado porque. . pelo menos a desculpa da inexperiência e da juventude. cá entre nós e de boa fé. .. A exaltação que transbor da em seu pequeno escrito deve mesmo causar-lhe muito transtorno.Lamento profundamente. senhor! Queira explicar-se. senhor. e acontece serem a própria crença e a moral que o senhor ataca.Seu pesar.Oh! Oh! o senhor está falando de prodígios. e alguns de seus melhore s amigos devem ter-se preocupado com seu estado de saúde. " Eu lhe direi como Jan Hus: Antes de haver uma Igreja e concílios.... goteja e por vezes jorra das hóstias deixando nelas caracteres misteriosos! Estou lhe dizendo o que vi... quadragésima terceira carta. . respondi. um sangue de verdade. o vinho bro ta em cálices vazios. a que se reduziria. o senhor quer dizer Eugène Vintras.. eis o que se lê nas cartas de Jan Hus..) . com efeit o.! . po is não lhes resta nem mesmo o recurso de se deixarem conduzir. a influência do sacerdócio. Ouça.. o bem é a hierarquia. um vinho delicioso. ainda assim seria preciso dizer que o concílio tem razão. Não pode permitir que a boa fé seja ludibriada.Eliphas Levi A Chave dos Grandes Mistérios . Mas ele realmente faz milagres? (Nesse momento. há uma . Mas Deus não pode estar em d esacordo consigo próprio. Ouvi falar de suas obras. Como! milhares de hóstias aparecem sobre altares onde não havia nenhuma.Estou ouvindo. é vinho... provei! E o se nhor quer que eu permaneça frio diante de uma autoridade eclesiástica que acha mais cômodo negar tudo d o que examinar qualquer coisa. estou dizendo. meu senhor." Quando o mundo inte iro... um verdadeiro sangue humano (foi examinado por médicos!). e a própria Igreja não po deria decidir que sou cego quando tenho dois olhos. Madrolle dá um salto da cadeira. toquei. exal am-se aromas do outro mundo. Os mais verdadeiros milagres que se tenham feito na terra desde Jesus Cristo!. Em religião. tudo então seri a bom e legítimo para mim. e o mal é a anarquia.. meu senhor! E os maiores!... sei tanto quanto o senhor essas coisas. afirmasse tal coisa. não poderia concordar sem feri r minha consciência. e finalmente sangue.Com licença. e não é uma ilusão.. O s mais incontestáveis!. é sobretudo em matéria de religião que a autoridade nunca pod e errar. ouvem-se músicas celestes... enquanto tivesse o uso da razão.. ergue os olhos e as mãos para o céu. ouvi. se o senhor coloca como princípio que é preciso acreditar no testemunho dos sentidos mais do que nas decisões da Igreja? A Igreja não é mais visível do que todos os seus mil agres? Os que vêem milagres e não vêem a Igreja são bem mais dignos de compaixão do que os cegos.Eliphas Levi . embora tenhais dois. Os mais surpreendentes!.. e termina por sorrir com uma condescendência que se assemelha a uma profunda piedade.Se ele faz milagres.." Acrescentou: "Se o concílio dissesse que tendes apenas um olho.A Chave dos Grandes Mistérios .. no final: "Um doutor disse-me: "Em todas as coisas submeter-me-ia ao concílio.Meu senhor. não é mais. bem circunstanciado. Antigamente o senhor era católico. a de me dizer de qual olho. exaltações à parte. se tivesse sacrificado um de seus olhos à concórdia universal. Observarei apenas que a instituição da infalibilidade hierárquica em matéria d e dogma é de modo bem diverso racional e bem mais incontestavelmente verdadeira que todos os milagres do mundo. mas. e que sobretudo seja evidentemente um milagre. que a Igreja decida quando lhe ap rouver que sou caolho. ao invés de inundar a Europa de sangue! Oh! Senhor.verdade e uma razão. Mas voltemos aos prodígios! O senhor os viu. só lhe peço uma graça. apenas em pensamento. o profeta está em Londres e nós estam os aqui. sentiu. Estou sendo indiscreto ao lhe pedir iss o? .acrescentou Madrofle após um instante de reflexão e com um leve tremor de emoção na voz -. .Estou percebendo. mas qual escolherei? Há tantos! Ouça .Um momento. o que não se deve fazer para conservar a paz! Acredita o senhor que Ja n Hus não teria sido um homem bastante superior. Pois bem! se o senhor lhe pedisse. as consc iências são livres. para que eu possa fechá-lo e olhar através do outro. meu caro senhor.De modo nenhum.Confesso que não sou ortodoxo ao seu modo. vejamos. . pr ovou. tocou. com uma ortodoxia irrepreensível! . Aliás. que lhe enviasse imediatamente a 76 . queira me contar um bem detalhado. Oh! com certeza ele possui os segredos da quiromancia num grau bastante notável. Alguns dias depois.no entanto.Eliphas Levi A Chave dos Grandes Mistérios . é isso que muitas vezes me acontece. O prezado Desbarolles surpreendeu-o. Esse eclesiástico estava munido de uma carta de recomendação assim escrita: "Caro Mestre.Declararia esse fato inexplicável pelos meios usuais da crítica. senhor.diz Eliphas sorrindo após haver lido -. Receba-o como eu mesmo (quero dizer como eu mesmo o recebi).Senhor Abade . o cabalista Eliphas foi acordado muito cedo por um visitante desconhecido. de aspecto. Eliphas Levi. acredito serem dignos da verdade que recentemente se manifestou através de surpreendentes m ilagres e das revelações positivas do arcanjo São Miguel. Era um homem de cabelos brancos. Desbarolles.Sim. e encontrei nele um homem muito amável e muito sábio. apenas com a leitura de minha mão contou-me quase toda minha vida. Ad. encontro a hóstia q uando a peço.O senhor nos deixa honrados. Envio-lhe um velho sábio que deseja "arranhar" com o senhor o hebraico da bruxaria . isto é. por sua ciência? . despediu-se do antigo escritor católico e saiu m editando sobre a estranha influência desse Vintras.A Chave dos Grandes Mistérios . então o senhor esteve com meu excelente discípulo D esbarolles? ." . O senhor e ele. todo vestido de preto. estou à sua inteira disposição e nada posso recusar ao amigo que me escreve. quando quero.exclama então Madrolle triunfante . Todo seu na sacrossanta Cabala. desembaraçando-se dele da melh or maneira possível. senhor. . senho r! . que se sentia pouco à vontade para discutir fatos a que se misturava uma espécie de profanação das coisas mais veneradas. inteiramente respeitável. a fisionomia de um padre ext remamente devoto. quando estou preparado e quando espero ser digno! Sim.Pois bem. que modificara assim esta velha crença e esta velha mente de sábio. em suma. então. . . eu a encontro real. mas freqüentemente decorada com pequenos corações milagrosos que se acreditaria pintados por Rafael.Eliphas Levi . palpável. . Quando ouviu seu nome empalideceu e levantou-se como se fosse impulsionado por uma mola. a cada uma dessas três fr ases. dera um salto na cadeira.. faço-me chamar La Paraz. para convencer-me de seus conhecimentos extraordinários. na diocese de Tours? Que é o discípulo mais zeloso do extático Eugène Vintras? E que se chama Charvoz? Tamanha reviravolta causou-lhe um choque: o velho padre.Ele é bem capaz disso.O suficiente.Charvoz é de fato meu nome. 77 .. .Disse-lhe que o senhor é o antigo pároco de Mont-Louis. mas não é o que uso. . Mas entrou em detalhes? . .exclamou ele.O senhor é realmente um mágico? . senhor. antes.Eliphas Levi A Chave dos Grandes Mistérios .A Chave dos Grandes Mistérios .. olha-se para o teto. senhor. alguns detalhes exatos e conscienciosos sobre os milagres? . olho no fundo: estava inteiramente vazio. Q uando o cálice ficou cheio. e todos vós poder eis saborear o produto das vinhas do porvir. Coisas como por exemplo: . Viro-o diante de todos. provaram o vinho milagroso. e o vinho brotava do fundo do cálice para a borda. Um cálice vazio estava sobre o altar. pois nossa simples capela estava armada num quarto pob re. Venh a a Londres e verá! Os milagres são permanentes. e todos. eis o que pedimos. . segurando o cálice entre as mãos. ." .Diga de um grande profeta! .Pois não.Pode me dar. nada se via cair. pego o cálice .. "Para vos provar". cálice bem conh ecido pelo abade Charvoz. o grande dia.Um dia. passei-o lentamente sob os olhares da assembléia. o vinho que devemos beber com o Salvador no reino de seu pai.. um após o outro. vinte e cinco pessoas assistiam a esse sermão. trouxera-o ele próprio de sua igreja de Mont-Louis.Tomado de espanto e medo . Vintras. o exame. e tinha absolut a certeza de que esse cálice sagrado não tinha nem conduto misterioso nem fundo duplo. diz Vintras. num acesso de entusiasmo. a luz da ciência.. no teto não havia buraco nem fenda.Senhor.continua o abade Charvoz subo ao altar.Eliphas Levi .. depois volto a me ajoe lhar ao pé do altar. Qualquer lembrança de um sabor . depois o profeta mo lhou aí seus lábios. como se tivesse caído do teto uma gota de água no cálice. acredito inteiramente em sua boa fé. Mas vai me permitir examinar um pou co a missão e o caráter de seu profeta. E o velho padre começou imediatamente a contar coisas que todo o mundo teria consi derado impossíveis. e uma gota de vinho aparece no fundo. "que é o próprio Deus quem me inspira.Oh! quantos quiser. e no entanto o barulho da queda das go tas multiplicava-se mais rápido e mais apressado. De repente ouve-se um leve ruído.. pregava diante de seu altar heterod oxo. mas que não fizeram o professor de alta magia sequer franzir as sobranc elhas. Todos os olhares v oltam-se para mim. ele me faz sa ber que o cálice vai se encher com as gotas de seu sangue sob a aparência de vinho. . tinha na voz aquela espécie de tremor nervoso que Eliphas Levi já observara em Mandrolle. Os estigmas sagrados aparecem diante de todos aqu eles que os querem ver. . por que tentar negar? 78 . marmorizam-se lentamente de caracter es e de corações ensangüentados.delicioso não poderia dar a idéia de seu gosto.acrescentou o ab ade Charvoz .. As hóstias. O mágico balançava a cabeça com um ar pensativo. Milhares de hóstias feridas e sangrentas refugiam-se em nossos altares. Seja gentil deixando-me vê-Ias. de re pente: . depois.diz ao abade -.. E o que lhe direi . inicialmente brancas. Deve-se acreditar que Deus abandona aos prestígios do demônio a s coisas mais santas? ou antes de mais nada é preciso adorar e crer que é chegada a ho ra da suprema e última revelação? O abade Charvoz. ao falar assim.Senhor.Senhor .Eu sei que o senhor as tem.dos prodígios de sangue que nos surpreendem todos os dias.. o senhor traz consigo uma ou várias dessas hóstias.. .. Mostre-me.diz o abade Charvoz após ter ainda hesitado um pouco -. A aparência do fenômeno era a mesma dos dois lados.Não . Essa emoção não escapou ao velho pároco que.A Chave dos Grandes Mistérios .Senhor Abade .diz solenemente o professor de magia .disse ingenuamente o abade -.Senhor Abade . Então ele desabotoou o alto de seu colete negro e tirou um pequeno relicário de prat a. A princípio creio em sua convicçã uma vez que o senhor aceitou uma vida de privações e mesmo de reprovações por essa infeliz c rença.diz ele a Charvoz -. mas o profeta garante que são da mais alta imp ortãncia e que sua significação oculta deverá ser conhecida logo. emblemas de todos os gêneros. O sangue não poderia ter sido aplicado por fora. a incredulidade é a desconfiança de uma i gnorância quase certa de estar enganada.antes mesmo do fim d os tempos vou explicar-lhe: estes três signos cabalísticos são a assinatura do diabo! . Mas três sobretudo excit aram ao máximo a curiosidade de Eliphas. um grumo de sang ue moldado na forma de coração. . .diz gravemente Eliphas -. no final dos tempos. A ciência não é incrédula. tendo adorado mais uma vez e fechado seu re licário. e o abade abriu o relicário.Eliphas Levi .exclama o velho padre. uma inteira. Havia corações de todos os tipos..É impossível! . suas hóstias milagrosas e creia em todo o meu respeito pelos obje tos de uma sincera adoração. pois. isto é. Eram cópias de todos os caracteres sangrentos observados nas hóstias desde o começo dos êxtases e dos milagres de Vintras . . e que parecia ter-se formado na própria hóstia de modo inexplicável. diante do qual pôs-se de joelhos com lágrimas nos olhos e preces nos lábios. Eliphas ajoelhou-se pert o dele. O m estre de magia foi tomado por um tremor involuntário. Havia no relicário três hóstias. vou mostrarlhe. senhor . conhece estes três signos? . tirou do bolso um álbum e entregou-o a Eliphas sem nada dizer.Eliphas Levi A Chave dos Grandes Mistérios . A hóstia inteira tinha no centro um coração em relevo dos dois lados. pois a coloração por embebição deixara brancas as partes aderentes à superfície exterior. as duas outras quase em pasta e como que amassadas com sangue.Pois bem! .Pois bem. Acima da cabeça das serpentes via-se o V fatal.A estrela do microcosmo. estar desenhada na estrela. os quatro membros nas quatro outras.continuou com firmeza Eliphas. cuja cabeça pode. É a estrela de cinco pontas da m açonaria oculta. É o signo do antagonismo e d a fatalidade. À direita e 79 . É o bode da luxúriaatacando o céu com seus chifres.As duas serpentes herméticas. É um signo execrado me smo no sabbat pelos iniciados de uma ordem superior. porém as cabeças e as caudas. ao invés de se juntarem e m dois semicírculos paralelos. 2º . a estrela em que Agripa desenhou a figura humana. o forcado tifoniano. a barba embaixo. à direita e àesquerda as orelhas. então. A estrela flamejante que. invertida.. os dois chifres no alto.É isso mesmo . e não havia linha intermediária representando o caduceu. ou o pentagrama mágico. a cabeça na ponta superi or. o caráter do in ferno. eis que signos eram esses: 1º . é o signo hieroglífi co do bode da magia negra. estavam de fora. Ora. o prazer mais que o pensamento.A Chave dos Grandes Mistérios . e é através delas que a discórdia se perpetua.Eliphas Levi A Chave dos Grandes Mistérios . a guerra delas se aproveita. O signo do linga trazido na fronte é. o vício mais que a virtude. o que forma. o monograma cabalístico de Jehova. uma branca e luminosa encerrando as idéias positivas. A forma é mais que a idéia. a loucura mais que a razão!" Eis o que estava escrito em caracteres de sangue nas hóstias supostamente milagros as de Vintras! Damos nossa palavra de honra de que todos os fatos acima enunciados são tais como os relatamos e de que nós mesmos vimos e explicamos os caracteres. o Iod e o He. a multidão mais que seus c hefes. porém invertidos. Ora. O discípulo de Vintras comunicou-nos também a descrição e o desenho das vestes pontifica is dadas. a mulher mais que o homem. ou de Satã. Vintras mandou confeccionar essas vestes e enfeita-se com elas para fazer seus milagres. na Índia. segundo os doutores da ciência oculta. a outra negra e obscura contendo as idéias negativas. e não é uma coisa verdadeiramente maravilhosa e ssa intuição dos signos de uma ciência perdida? Pois foi a alta magia que. Deus é a luta das forças fatais que criam sempre destruindo. à síntese da outra o nom do diabo. de qualquer modo que se leia: "Só a fatalidade existe: Deus e o espírito não são. Ele deve trazer na fronte uma cruz em forma de linga. à exceção do polegar e do auricular. A audácia delas se serve. ter um bastão pastoral encimado por uma mão. São vermelhas. tudo isso é diabólico por excelência. os filhos mais que seus pais. a marca distintiva dos adoradores de . cujos dedos estão todos fechados. segundo a verdadeira ciência mágic a e as verdadeiras chaves da Cabala. a mais terrível de todas as blasfêmias e signif ica. apoiando o univ erso sobre as duas colunas de Hermes e de Salomão. dizia ele. e que deu à noção sintética da primeira o nome de Deus.Finalmente.Eliphas Levi O antagonismo é eterno. 3º . dividiu o mundo metafísico em duas zonas intele ctuais. As coisas religiosas são passivas e passageiras. e o espírito é apenas ficção dessa mesma matéria em demência. A matéria é tudo. pelo próprio Jesus Cristo ao pretenso profeta durante um de seus sonos extáticos. O indicador. representava Júpiter. Apolo ou o Sol. tradução abusiva e material desta grande fala de Santo Agostinho: "Amai e fazei o que quiserdes. Hórus. o indicador. sendo esse signo o do grande arcano mágico que detém o mistério da geração uni versal. O pudor é a aceitação da maternidade. o anular. Saturno. que é estéril. A mão com os três grandes dedos fechados expressa a negação do ternário e a afirmação das ú forças naturais. a habilidade insinuante. Ora. Os antigos hierofantes. emlíngua hieroglífica sagrada. haviam feito da mão humana o resumo da ciência mágica. o dedo médio era Ops. Para os egípc ios. o destruidor. dizem os orientais. o grande dedo ou dedo médio. o polegar representava a força ger adora. para eles. logo acabará por falta de mães.Shiva. como vai explicar nosso sábio e espirituoso amigo Desbarol les num belo livro. A mão mostrando apenas o polegar e o auricular equivale. e o auricular." C omparai agora esse signo à doutrina de Madrolle: o ato de amor mais imperfeito e aparentemente mais c ondenável vale 80 . e este estiver abandonado à devassidão. à afirmação exclusiva da paixão e da habilidade. trazê-lo sobre a fronte é fazer profissão de impudor dogmático. Osíris e o anular. no dia em que não houver mais pudor no mundo. Há muito tempo já essa doutrina. e se foram precisamente. respondeu: . aban donaram-se à influência daquele soberbo e poderoso gênio. por exemplo. ou a doutrina espírita. em seu entusiasmo que os levava a investigar a natureza e suas profundezas. "Se. uma parte dos anjos criados não tard ou em decair.O senhor deve saber. o próprio movimento. para aí encontrar a vida. Ludwig Tieck. de olhar direto e que falava de modo bastante sensato. trabalha o mundo para precipi tá-lo numa anarquia universal. Foi assim que os Eloim cri aram o mundo. e que é a reabsorção do espírito u niversalnos abismos. equilibrou o princípio criador. e quando num doce enlevo precipitaram-s e na morte.Eliphas Levi A Chave dos Grandes Mistérios . como é dito ainda. como uma instrução jurídica. Porém a lei de equilíbrio nos salvará.Eliphas Levi Que força é essa? Eu vos direi. transcrever aqu i uma página de um iluminado alemão. Quando em seguida os homens foram colocados na terra. Devemos antes de mais nada completá-la. ou mais passivos. essa força que impulsiona o mundo. começaram então a existir de modo verdadeiro. natural e como convém às criaturas. outras ocup ações e uma outra vida.. por sua resistência. Perguntado sobre o motivo de sua visita. a vida. e o grande movimento de reação já começou. pelo Senhor. Mas tenho ainda muitos outros prodígios a vos contar. é assim que a v ida é noiva da morte. e este trabalho é. os mais brilhantes. É assim que a morte conserva e reproduz a vida. ser-nos-á permitido. pode-se de preender dessa queda apenas que eles buscavam um caminho novo. Era um homem de uns cinqüe nta anos. e que regula o curso das forças suc essivas? Essa força.. antes de passar a outros relatos. digamos. No entanto. Su a queda foi essa gravidade da forma que agora chamamos realidade. como espíritos intermediários. alto. ou essa antidoutrina. Retomemos o relato dos fenômenos. seu apanágio comum. venho pedir-lhe e suplicar-lhe que me devolva o que perdi .A Chave dos Grandes Mistérios . ao contrário daqueles espíritos ortodoxos. como narra uma antiga tradição. Um operário apresentou-se um dia na casa de Eliphas Levi. Compreendeis agora o que é Lúcifer? Não é o gênio mesmo do antigo Prometeu. que permane ceram na região que lhes era destinada e não fizeram nenhum uso da liberdade. uma outra atividade." Esta página não necessita de comentário e explica o suficiente as tendências do que se d enomina espiritualismo. não sei quem é nem o que pro cura. reconhecerá pelo menos isso . Assim. Era o grimório do papa Honório. respondeu-lhe: . portanto. para sermos sinceros.Pois bem! uma vez que não quer me compreender.disse então o desconhecido.. tirando do bolso um pequeno livro negro e roto.Acredita-me muito mais bruxo do que na realidade sou. Uma palavra sobre esse pequeno livro tão desacreditado. 81 . . é necessário que se expl ique e esclareça o seu pedido. que Eliphas nada sabia sobre esse visitante nem sobre o que ele pudesse ter perdido. Devemos dizer. se acredita que lhe possa ser útil em alguma coisa. . a um único sinal os espíritos obedecerão. a primeira. aliviar a dor dos que sofrem e livrar os obcecados. mas ele não posso mais ver. Eli. Mas perdi uma página do meu grimório. a mais importante.Chamava-o Adonai. Sou um homem perdido.Eis duas assinaturas que os espíritos das trevas nunca falsifica rão. os inferiores maus. tenha piedade de mim e devolva-me o que perdi! .disse Eliphas -. eu lhe suplico.disse o operário suspirando -.O senhor devolveu-me a esperança e a vida. . durma bem e não evoque mais os fantasmas. minha força voltou em parte. ele est ava sempre perto de mim. com as assinaturas que me deu.Meu caro senhor .Dê-me seu grimório . Antigamente. e. O operário retirou-se. mas suponho que fosse hebraico.Que nome dava ao espírito que lhe aparecia? . os intermediários alterna tivamente bons e maus. não aparece mais quando o chamo. Este livro não me deixa. era bem vestido e sempre me dava respostas favoráveis. não parodie as mais formidáveis palavras que uma agonia já f ez o mundo ouvir! Quais são os seres que o visitavam pelo poder deste livro horrível? Conhece-o s? Prometeu-lhes alguma coisa? Assinou um pacto? . a que trazia a assinatura do espírito. estarei triste até a morte.interrompeu o proprietário do grimório -. Oh! mestre. não tenho mais força nem coragem. Sei apenas que entre eles os chefes são bons. Por que então os que me visitavam abandonaram-me? Eli.disse o professor de alta magia após haver traçado duas palavras hebraicas no começo e no final do livro. . o senhor a quem a uma única palavra.Tome . Vá em paz. e sigo rigorosamente todas as pre scrições que ele contém..A Chave dos Grandes Mistérios . . e.Não .Eliphas Levi A Chave dos Grandes Mistérios . . mas não cegamente e sem que lhes seja possível fazer mel hor. enquanto não o vir de novo. po is tinha boa aparência.Eliphas Levi .disse Eliphas. posso. não d eixei uma única vez de fazer meu serviço. Estou nu como Jó. tocava-me por vezes e acordava-me à noite para me dizer tudo o que eu precisa . Aquele a quem evoquei e que freqüentemente me apareceu pertence à hierarquia mais elevada.. . desde a idade de seis anos. Lamma.Em que língua era sua assinatura? . não os conheço e não assumi com eles nenh m compromisso. Oito dias depois voltou a procurar o homem de ciência.Ignoro. d esde então.Pare . . 82 . Mestre.va saber. faça com que o veja de novo.Sabe quem é Adonai? . eu lhe suplico.Adonai.Não.Quem? . mas gostaria de revê-lo. . quando falavam do cabrito virgem. não era nem um brinquedo de criança nem um animal empalhado. .Sem dúvida. .. e talvez saiba mesmo. Teria diante de si um louco perigoso capaz de repetir as atrocidades do Senhor de Retz? No entanto. Acredite. Oh! custou-me muito. do Oriente ao Ocidente. queriam dizer uma crianci nha. e a partir desse momento tinha a impressão de ouvilo sempre. . .Tinha um rosto bom e jovial. tinha acabado de cumprir os ritos fúnebres. . o senhor sabe melhor do que eu .. Eliphas respirou. ou antes senti.Sem dúvida. na soleira interna da minha porta. varre as es trelas da manhã. De repente.Ele não tem forma. . Ouvi um lamento dilacerante. . essa vítima. num único golpe com a faca mágica cortar a garganta dessa criatura inocente! Uma noite. O senhor supõe que eu já sai ba.Os profetas dizem que a orla de sua roupa. de acordo com o ritual mágico. que ele passava.Infeliz! mas quem era a vítima? A essa pergunta. virgem e sem defeit os. seu olhar perturbouse. perto de mim.A Sagrada Escritura diz ainda que não se pode vê-lo sem morrer.Era. "Ainda bem!" pensou.A Chave dos Grandes Mistérios . e a vítima acabava de se consumir num grande fogo feito com álamos e ciprestes.Mas enfim.Um cabrito de verdade? ." 83 .. parecia chorar.Mas como o senhor procedia para obter essas aparições? .Tinha um sobretudo muito limpo e a roupa muito branca.Eu o vi.Ele é infinito.O quê! mesmo o sacrifício de sangue? . empalideceu.Mestre.Ora! Fazia tudo o que está indicado no grande grimório. . . mas tenho razões para querer que me diga. isso não era possível. . . estava sentado de ntro do círculo. um cabritinho de um ano. . Eliphas levantara-se e olhava fixamente seu interlocutor. .É mais ou menos do meu tamanho. Não. Não sabe que os abo mináveis autores dos grimórios. "este homem não é um bruxo digno da fogueira. vi.Eu o toquei. . .. a aparência desse homem e ra suave e honesta.. diga-me claramente o que era..Eliphas Levi .disse humildemente e em voz baixa.. . o operário teve um leve tremor.Eliphas Levi A Chave dos Grandes Mistérios ... sobretudo a primeira vez. . . Que defe ito é esse? Só o espírito de malícia poderia dizer. e sobre o fundo luminoso distingui a silhueta de um homem que cruzava os braços e me olhava. antes. mas ela mudara de lugar.Está bem.Eliphas Levi O bruxo. mais ou menos à uma hora da manhã. que é artista em magia. Pegue meu livro. Mas tudo isso era contado num tom de verdade. e esses fatos eram precisa mente idênticos aos fenômenos do senhor Home: mãos que saíam das paredes. Oito dias depois. um verdadeiro bruxo da Idade Média.disse a seu novo discípulo -. Um dia. . Satã vestido como um burguês e A staroth sob sua verdadeira forma diabólica! que obra de arte! que tesouro de arqueologia! . não funciona: um defeito imperceptível está no mecanismo. alguns instantes depois. tendo novamente acordado. Comece esta noite. falta apenas uma coisa. um bruxo ingênuo e convicto! Um bruxo que viu Satã sob o nome de Adonai.Eliphas Levi A Chave dos Grandes Mistérios . Então. que excluía qualquer dúvida sobre a boa fé e a inteira convicção do narrador. encantou-se com esse achado.Acordei de repente. tornei a dormir. nosso homem não faltou ao encontro. agitações de móveis. . pois é preciso chamá-lo pelo seu nome.. absolutamente necessário evocá-lo!. No século XIX. pois. o temerário aprendiz de mágico ousara chamar Astaroth. nova conferência.Aproximadamente da sua estatura e do seu peso. .A Chave dos Grandes Mistérios . observe as prescrições do ritual e venha ver-me daqui a oito dias. . e volte amanhã para me dizer o que viu. e vir a aparecer um monstro gigantesco que tinha o corpo de um porco e a cabeça tirada de um colossal esqueleto de boi. Vá e continue a fazer o que eu lhe disse.Cuidado .Meu amigo . pois esta noite o senhor terá uma manifestação. e então o operário declarou que inventou uma máquina de salvamento da maior importância para a marinha.disse Eliphas -..Como era esse homem? . Eliphas. com uma certeza de ter visto. o bruxo contou-lhe então uma série de fa tos estranhos de que duas famílias haviam sido testemunhas. revi a mesma luz. aparições fosforescentes. quero ajudá-lo a encontrar o que diz ter perdido. e dentro dessa luz um braço de sombra que passava e repassava diante de mim c omo para magnetizar-me. No dia seguinte. Vi diante de minha cama uma grande luz. diga durante nove dias esta invocação cabalística (e entregou-lhe uma folha manuscrita).. Passara da esquerda para a direita. É. e. . A máquina está perfeitamente montada.. disse o outro suspirando.. e tudo isso graças ao seu poder. pois o senh or não havia falado em dinheiro. mas dessa vez muito feliz e agradecido. e agora adeus. preciso trabalhar.. pessoas que eu não conhecia vi eram colocar à minha disposição o capital de que necessitava para terminar meu empreendimento.exclamou -. certamente. reen contrei a paz do sono. o que ainda quer de mim? . nova visita do adepto.. ao final desse tempo.Sim. . mas gostaria muito de revê-lo! 84 . e até mais do que pediu. E e ntão? por que este ar suplicante.Se quisesse o quê? Não obteve tudo o que pediu. .Passaram-se os nove dias. a máquina funciona. Ao ver ao longe Eliphas: .. mestre! .Oh! se o senhor quisesse!. .Obrigado.Diga antes graças à sua fé e à sua docilidade. então. e aqui estou. o professor de alta magia foi acordado mais ou menos às du as horas da manhã por uma dor de cabeça aguda. Eliphas levantou-se. . para onde era preciso correr? Que perigo o ameaçava? Era e m sua casa ou em outra parte? A voz nada dissera sobre isso. um pesadelo. viu. e essa noite um pouco de sangue subiu-me à cabeça. acalmado pelo ar fresco da manhã.Eliphas Levi Algumas semanas depois.Muito bem . .Mas essa noite. meu amigo . Mas. em primeiro lugar. resta-nos revelar . ele está em perigo. apenas isto." Levantei-me precipit adamente. Sonhava. ficar tranqüilo e voltar ao trabalho. Mas como sabe dis so? Na mesma hora. Durante alguns instantes. Agora es tou perfeitamente bem. . nenhum que eu saiba. . Por mais estranhos que sejam os fatos que acabamos de contar.O senhor não foi atacado por um fantasma monstruoso que tentava estrangulá-lo? O s enhor não sofreu? Eliphas lembrou-se.Sim. receou uma congestão cere bral. certamente tive um começo de apoplexia e um sonho horrível.disse-lhe o mágico estendendo-lhe a mão.respondeu Eliphas. o gigante de cabeça de boi des carnada de que lhe falara o mecânico.Um perigo? não. com uma aparência terrível de realidade. desde que o dia clareou. passeou pelo seu gabinete de estud os. abriu a janela.Eliphas Levi A Chave dos Grandes Mistérios . Sentei-me na cama e uma voz disseme ao ouvido: "Levante-se e vá em socorro de seu mestre. às duas horas da manhã. então.Obrigado. o senhor não correu perigo? Eliphas não sabia do que se tratava e já não se lembrava de sua indisposição da noite.A Chave dos Grandes Mistérios . que o via lutando com Astaroth. levantou-se.Mestre . portanto. voltou a deitar-se e adormeceu profundamente. acendeu a lâmpada. Esse monstro perseguia-o e lutava com ele. Pode. jogou uma roupa sobre o corpo e foi a brir: era o operário. . depois. Astaroth é um bufão desagradável. Tomei a decisão de esperar o nascer do sol. e. como o senhor e stá se sentindo? .disse entrando apressadamente e com um ar alarmado -. Quando acordou já era dia e alguém batia à sua porta. te ve. vim em seu auxílio. uma mão invisível bateu-me com força no ombro e acordou-me em sobressal to. . mergulhou no luto e no estupor Paris e toda a cristandade. Eliphas Levi não se sentiu... de início. indicou uma casa amiga. Eis o que aconteceu: Durante o inverno.. Na hora combinada e no dia marcado. Trata-se do fato cruento.um drama fúnebre ainda bem mais extraordinário. eles foram à casa da senha A. no início do ano passado. onde deveria estar com s eu fiel amigo Desbarolles. tomado de confiança por esse desconhecido a pon to de expor-se sem precauções à sua visita. e encontraram o eclesiástico que já há alguns instantes os esperava. que no início deste ano. fato a que ninguém suspeitou que a magia negra não fosse estranha. 85 . um livreiro informou ao autor de Dogm a e Ritual da Alta Magia que um eclesiástico procurava seu endereço e demonstrava o maior desejo d e vê-lo. Seus hábitos são contemplativos e um pouco indolentes.. mas persigo a realização de uma idéia. . mas é uma sonolência cujos despertares podem s er dignos detemor.A Chave dos Grandes Mistérios . O senhor procura muito. a linha da vida curta e interromp ida. No entanto. . que o senhor talvez encontre citada por algum colecionador de constituições apócrifas. pelo outro. . os dedos lisos e espatulados.Eliphas Levi .E.Senhor abade .A obra em si nada vale . É levado a uma paixão que seu estado. no momento não.Não está ocupado no ministério de Paris. senhor ab ade. pois em Paris passo quase todo o meu tempo na bibliotecas públicas. que se supõe ser de Honóri o II.Farei isso. cruzes no centro da mão.Eliphas Levi A Chave dos Grandes Mistérios . Um pálido sorriso. . o quiromante Desbarolles observava atentamente a mão do padre. como eu. pelo que vejo. mas imagina mais ainda.Suponho que essa alguma coisa não seja uma operação de magia negra.Não exatamente.disse Eliphas. Desbarolles franziu as sobrancelhas e pareceu embaraçado. . receio ter . marcado por uma espécie de ironia sarcástica. Estive trabalhando durante algum tempo na paróquia São Germano de Auxerre..Não. sabe.. este pe rcebeu e seguiu-se. de um desenvolvimento bastante notável. o s enhor poderia procurar na biblioteca. A mão era úm ida e fria. . pois. à obstinação mais concentrada e menos comunicativa que possa existir no mu ndo. foi toda a resposta d o abade. . ocupa-se agora com pesquisas curiosas sobre as ciências oculta s.disse Desbarolles -. . naturalmente. estrelas no monte da Lua. por um lado. tornar-se-ia um perigoso sectário.. Tenho alguma coisa a fazer. o abade então ofereceu de bom grado sua mão ao experimentador. perdoe-me. s enhor abade.dizia ele. que a Igreja sempre condenou e ainda condena severamente tudo o que se re laciona com essas práticas proibidas. o monte de Vênus.Eu daria cem francos por um exemplar desse grimório . se o senhor não tivesse uma sólida instrução relig iosa. e a conversa interrompeu-se. ou a parte da palma da mão que corre sponde ao polegar. . uma explicação. Mas. é inclinado ao misticismo mais exaltado e.É uma constituição. e como não confia a ninguém suas imagi nações elas poderiam atingir proporções que as transformariam em suas verdadeiras inimigas. Pois bem! se.ultrapassado os limites da discrição. o senhor dedica à caridade toda a atividade inquiet a que as paixões do coração lhe dariam. deve ser muitas vezes bendito por suas boas obras. . senhor. como não duvido. Mais uma vez o abade deu aquele sorriso duvidoso e fatal que dava ao seu pálido ro sto tão singular expressão. 86 . posso ouvir tudo e desejo tudo saber.Diga tudo. . O que nos disse ao partir parece-se bastante com uma ameaça. ..Ora essa! o que ele queria então? .. no campo .Deve estar apenas ingenuamente apaixonado . mas nada viu.disse Eliphas. as vigas rangeram. à minha filha e a mim. as janelas abriram-se com estrondo. acrescentou subli nhando cada palavra. ele começava a expor todo seu pensamento. então. É por isso que ele procura o grimório de Honório. e ouviram-se assovios em todos os cantos da casa.Quem sabe? Talvez tencione seqüestar a rainha da Inglaterra ou a mãe do sultão. .Pareceu-me ver Pierrot des Furn ambules no papel de um traidor.Eis aí um singular personagem .Antes de sua chegada.. que o trago no bolso? . pois espera e ncontrar aí conjurações mais fortes e ritos mais eficazes. ou um louco.Mas como. mas o senhor falou-lhe de consciência e das leis da Igreja. numa palavra. mas sabe que o senhor dá aulas de cabala e de magia.Realmente! esse homem então é um monstro. Os dois amigos retomaram à casa da senhora A. .Pensaria.Não.. . ouviremos falar dele? . esperava que o ajudasse em seus empreendimentos.disse Desbarolles..Em breve os senhores ouvirão dizer algo. então. Esperava. a visão formidável. Ouvirão falar de mim. . as po rtas balançaram-se. . um redemoinh o pareceu abalar o presbitério. por acaso..Eliphas Levi A Chave dos Grandes Mistérios .. . o diabo nãoquis aparecer. a menos que o diabo se intrometa.disse a senhora A. já fizera uma noite uma evocação com o auxílio de um grimório vulgar. Perto da escada. a madeira do forro estalou. Então. que em seu presbitério. e um ano inteiro se passou sem que nem a senhora A. ele não ousou confessar o que queria.Ver o diabo. .. voltou-se e disse lentamente: . disse ele. Depois saudou-os com um gesto de cabeça e com a mão. nenhum monstro se apresentou. ne m Desbarolles.Está tormentado por alguma paixão absurda e não espera absolutamente nada. A conversa parou por aí. . . .Eliphas Levi Eliphas e Desbarolles reconduziram-no até a escada em respeito à sua dignidade de pa dre.. virou-se sem acrescent ar uma só palavra e desceu a escada..O senhor intimidou-o . Contou-nos.A Chave dos Grandes Mistérios .. Venha ver seu pai que vai morrer! 87 . aproximavase do pano negro. uma mão estendeu-se e agarrou o braço de Eliphas. e parecia a Eliphas que.. Então o pano entreabriu-se. Parecia-lhe estar num qua rto gótico em ruínas muito semelhante à capela abandonada de um velho castelo. mas ouviu uma voz baixa que dizia em seu ouvido: . Ele não vi u ninguém. levado por uma curiosidade cheia de terror.nem Eliphas ouvissem falar do jovem padre desconhecido. Na noite do primeiro para o segundo dia de janeiro do ano de 1857. Uma porta oculta por um pano negro dava para esse quarto. Eliphas Levi acordou sobressaltado com as emoções de um sonho estranho e fúnebre.. atrás do pano adivinhava-se a luz tênue e avermelh ada dos círios. "Meu pai morreu há muito tempo. vestida s de preto com um véu branco na cabeça. cujo resultado foi q ue Eliphas saiu para reconduzir o visconde. No fundo da igreja. com tal abundância que Eliphas ofereceu seu guarda-chuva a o visconde. a que lhe deu São Germano de Auxerre. disposto às orações. p or conseguinte. recebeu a visita de um de seus discípulos de magia. Os estandartes das paróquias da cidade e do subúrbio atestavam a vener ação pública por essa virgem que salvou Paris da fome e das invasões.Venha ver seu pai que vai morrer! Essa repetição de pesadelos impressionou Eliphas penosamente: ele aceitara para 3 de janeiro um convite para jantar em companhia alegre. ao invés de voltar para casa. em seu gabinete de e studos. quatro horas da tarde. e segurando um círio que o demônio esforça-se em apagar. o mesmo sonho voltou com as mesmas circunstâncias. e Eliphas Le vi acordou mais uma vez ouvindo repetir ao seu ouvido: . atravessou maquinalmente o Luxemburgo. Podiam ser. por que me dizem que ele vai morrer. sa iu pelo portão que dá para a Rua do Inferno. acompanhada de seus acólitos e seguida pelos meninos do coro. e por que essa advertência perturbou meu coração?" Na noite seguinte. o visconde de M. e o ofício realizava-se com um grande recolhimento e uma solenidade extraordinária. que recusou-se a aceitá-lo. e encontrou-se diante do Panteão. ness e momento. Permaneceu. Seguiu-se uma discussão de polidez.A Chave dos Grandes Mistérios . e Eliphas. A igreja estava cheia de fiéis. ao meio-dia. nos antigos legendários. uma fita azul ao pescoço e a medalha da legenda. um círio na mão encimado por uma pequena lanterna gótica.Eliphas Levi A Chave dos Grandes Mistérios . então. escreveu para desculpar-se. achando-se pouco disposto para a alegria de um banquete de artistas. Eliphas. pensou. vinha o e standarte de Santa Genoveva. depois caminhavam em duas filas as senhoras genovevinas.Eliphas Levi "O que quer dizer esse sonho?". seguiu essa via e entrou na Igreja. Enquanto estavam fora. Após a cruz. o tempo estava carregado. cujo coração estava triste e. o túmul o de Santa Genoveva resplandecia de luz. como as que a tradição atribui às imagens da s anta. então. Pois. Santa Genoveva é sempre representada com uma medalha ao pes coço. A chuva caiu.. Uma dupla fileira de barracas improvisadas para a novena de Santa Genoveva indic ava aos peregrinos o caminho de Santo Estêvão do Monte. Cantavam-se as ladainhas e a procissão saía do coro. a chuva cessou. o visconde en controu um carro.. mas . depois voltou pela nave da direita c ontinuando a cantar ladainhas.que é preservado do sopro do espírito imundo por um pequeno tabernáculo milagroso. estava adiante 88 . o arcebispo. o prelado. mas podia-se notar aí a expressão de um grande cansaço e mesmo de um sofrimento nervoso penosamente dissimulado. Expressavam a bonomia e a doçura. o arcebispo chegava à grade da nave : aí o vão era muito estreito para que três pessoas pudessem passar de frente. aparecia o venerável arcebispo de Paris. pensativo e enternecido com essa pied osa solenidade. Eliphas misturou-se a esse grupo para atravessar mais facilmente a multidão que ia se formar novamente e para alcançar a porta da igreja. subiu pela nave à esquerda da porta de entrada e chegou ao túmulo de Santa Genoveva. A procissão desceu até o ádrio da igreja atravessando a nave. caminhava lentamente e abençoava à direita e à esque rda a multidão que se ajoelhava à sua passagem. portando uma capa levantada de cada lado por dois gran des vigários. A frente da procissão já tornava a entrar no coro. mitrado de branco. apoiando-se em seu báculo. depois. Após as senhoras genovevinas vinha o clero. finalmente. porta nto. Um grupo de fiéis seguia a procissão e caminhava logo atrás do arcebispo. Eliphas via o arcebispo pela primeira vez e observou os traços de seu rosto. e ouviu-se uma interpe lação feita em voz alta. só. atenta às nossas revoluções e às nossa s angústias. um braço erguido. uma prece por seu povo e um perdão para o seu algoz. os que estavam atrás do arcebispo viram-no estremecer. E enquanto todo esse tumulto acontecia no ádrio da igreja. No meio de um círculo alargado pelo terror dos que o rodeavam. uma pintura apo calíptica representando os quatro flagelos prontos a lançarem-se sobre o mundo. No e ntanto. sempre apoiado em seu báculo e sustentado pela rigidez de sua capa. e que pendia agora até o chão. destacava-se cont ra um fundo sombrio. gritos de mulheres. tão deslocada e sem sentido parecia essa frase. Sua atitude era a que Eugênio Delacroix deu ao Bispo de Liège assassinado por bandidos do Javali das Ardenas. . e a igreja começava a escurecer. O que fora dito? Parecia ter sido: Abaixo as de usas! mas acreditava-se ter ouvido mal. no fundo. Saíra pela porta da direita. Eliphas Levi fora arrastado para fora pela multidão. e um grupo furioso precipita va-se para fora da igreja. arrastado pela multidão. então. O arcebispo. era uma aceitação e uma oferenda. precipitou-se para as portas gritando. e Eliphas. alguém gritou: "Salvem o arcebispo!" outras vo zesresponderam: "Às armas!" A multidão dispersou-se. revirando as cadeiras e as barreiras. o prelado estava em pé. que se desenhava na sombra como uma silhuet a infernal. A cabeça do arcebispo estava um pouco inclinada. a porta da esquerda abria-se com violência.Eliphas Levi A Chave dos Grandes Mistérios . os olhos e a mão que não segurava o bác ulo estavam erguidos para o céu. Diante do arcebispo. todavia sem clamor. e mais adiante. o canto das ladainhas c ontinuava no coro como a harmonia das esferas celestes perpetua-se. que os grandes vigários haviam soltado. a exclamação repetiu-se duas ou três vezes. mas os últ imos olhares que pôde lançar aí dentro depararam-se com um terrível e indelével quadro. havia no seu gesto toda a epopéia do martírio. Qu ase no mesmo instante. e os turbilhõe s do inferno seguindo os rastros poeirentos do cavalo pálido da morte. A tarde caía. segurava e brandia uma faca: soldados avançavam com a espada em punho.Eliphas Levi Então. onde se distinguia apenas um pedestal sem estátua em que estavam escritas estas duas palavras da paixão de Cristo: ECCE HOMO. com os braços erguidos par a o céu e iluminado por um último raio de luz vindo dos caixilhos da nave.A Chave dos Grandes Mistérios . foi de certo modo carregado para fora da igreja. Eram choros de criança. Ele morreu . e as versões contraditórias entrecruzavam-se.diziam outras vozes. .diziam alguns. mais tarde. Mulheres corriam em seu encalço gritando: Matem-no! . queixou-se de ter sido maltratado pelos soldados.O miserável! deu um soco no arcebispo. t anto quanto se podia observar nesse tumulto. 89 .acrescentava um novo interlocutor. os soldados protegiam-no contra a exasperada multi dão.Viram a faca? .Esse grupo girava em volta de um homem que cinqüenta braços pareciam segurar. diziam as mulheres. Esse homem. Depois outras pessoas saíram da igreja. que ce m punhos estendidos queriam socar.Mas o que ele fez? . .O arcebispo teve medo e passou mal . .respondiam outros. mas. . pois vejo que é um homem de Deus. e olhe. . .Eliphas Levi . A igreja será fechada. Ele achou-se no dever de responder a esse apelo. . e de certo modo desviou o seu espírito da profunda dor pelo que acabava de acontecer. Depois acrescentou: . .O ofício não pode prosseguir.Quisera Deus que todo o mundo pensasse como o senhor .talvez nos ouçam. e talvez nesse momento mesmo em que falamos ele esteja morto! A multidão dispersou-se consternada.acrescentou. e como é possível existirem seres tão depravados para alegraremse com tamanha infelicidade? ... quando interrogado sobre o que acabava de acontecer. uma mulher idosa e de aparência muito respeitável tomara-lhe o b raço solicitando sua proteção.disse nesse mesmo instante a voz grave e desolada de um padre. e o homem teria sido imediatamente preso. senhora.Como está o arcebispo? . . Sim . .Eliphas Levi A Chave dos Grandes Mistérios . . acabam de declará-lo no púlpito .disse a velha senhora .Não foi nada! Não foi nada! . Oh! não foi nada! foi uma aranha que tombou! .por ter encontrado um homem que se aflige com e sse grande crime com o qual alegram-se.Silêncio! . A multidão.Não. Esse pobre monsenhor perdeu um de seus sapatos .Recomendo-me às suas orações.disse então um homem. tantos miseráveis! . para ir divulgar essa funesta notícia em toda P aris.Podem voltar para a igreja: monsenhor não está ferido. Na hora do tumulto. quando saiu da multidão com es sa senhora: . fez um movimento para retornar à igreja. há poucos minutos.respondeu o padre -.A Chave dos Grandes Mistérios .Senhor .. está profanada. o arcebispo está morrendo. então. . uma locadora de cadeiras.observava uma velha senhora jun tando as mãos. ali.O que diz.Saiam! Saiam! .disse-lhe . ha via um homem de aparência sinistra. e. A multidão não teria permitido esse abominável pro pósito. nesse momento. Uma circunstância estranha envolveu Eliphas.. que dizia para a multidão inquieta. há pessoas que estão encantadas com o que aconteceu. abaixan do a voz -. então. a senhora deve ter ouvido mal.Como estou feliz .veio anunciar.disse a dama. compreenderia por que desprezo sua opinião. e se o senhor pudesse saber o que ele diz de mim.continuou a senhora com vivacidade . .respondeu Eliphas.O mundo fala mal da senhora! 90 .E o que nos importa o mundo? .ele é mentir oso. ímpio! talvez fale mal do senhor. caluniador. ..Talvez não seja a opinião de todo o mundo . Não me espanto com isso. . O julgamento do assassino começou.Quê! seria.Ouvi falar de seu processo. . .Eliphas Levi . e sentiu a vista turvar-se quando leu o trecho em que se descrevia o acusado: "Ele é loiro".De uma indigna comédia que teria representado para enganar duas crianças na montan ha da Salette. que fizera parte do clero de São Germano de Auxerre. Mas a des crição que as páginas públicas davam desse criminoso contrariava as lembranças do professor de ma gia. . e o ac usado foi condenado à morte. No entanto. é um homem talentoso que eu gostaria de ganhar para Deus. senhorita.disse Eliphas. . senhora. Com efeito.Venha ver-me. Conversando assim os dois interlocutores haviam chegado à Rua do Velho Pombal. . senhor.Acusa-me de sacrilégio.Não tardarão a saber algo. não é ele. ao ler nos jornais que esse homem er a padre. mas parece-m e que sua idade e sua responsabilidade deveriam protegê-la de semelhante acusação. E separaram-se.Dutruck.Mas. perguntarei ao porteiro pela senhor ita Merlière? . O julgamento teve lugar com todas as horríveis peripécias que todos conhecem.Eliphas Levi A Chave dos Grandes Mistérios . que pa recia furioso. No dia seguinte. pergunte pela senhora Dutruck.A senhora está me assustando. queira aceitar meus humildes cumprimentos. pen sava Eliphas. Em breve ouvirão falar de mim. e do escândalo que provocou.A Chave dos Grandes Mistérios . e o apresentarei a meu advogado.Cuidado! não me conhecem por esse nome. E de qual sacrilégio. se for. Portanto. tenho ainda no ouvido e na memória as palavras que para mim estariam agor a explicadas por esse grande crime: . está bem. A d ama agradeceu ao seu cavalheiro improvisado e renovou o convite para que fosse vê-Ia. Eliphas leu numa folha judiciária o relato dessa cena inaudita no s anais da justiça.Sou a senhorita Merlière. .. . por favor? . lembrou-se do padre pálido que um ano antes procurava o grimório de Honório. . e Eliphas. .. senhor Farre..Como assim? .. que fora pároco no interior. a maioria dos jornais atribuíam-lhe cabelos negros.Vou tentar . uma pessoa que na audiência pudera traçar um esboço do perfil do c ondenado mostrou-o a Eliphas. tremendo de espanto. Alguns dias depois.disse o professor de magia.Deve ser ele .. Fez a cópia e levou-a ao seu amigo Desbarolles a quem perguntou sem maiores explic ações: 91 .Deixe-me copiar este desenho .disse. . Um jovem padre! e lembra-se qual era sua fisionomia? ." "Na terça-feira." "Não comer carne e não beber vinho nesse dia.É agora um artigo impossível de ser encontrado.Eliphas Levi ? .A Chave dos Grandes Mistérios . pois este padre pálido. preparar uma vela de cera amarela. e. não tornaremos mais a ver. a mão que o senhor examinou tornou-se sanguinária. O último que ti ve nas mãos cedi-o a um padre que ofereceu cem francos por ele." . espere. . o infeliz padre encontrara o fatal grimório. .Oh! perfeitamente. era o infeliz Louis Verger! Algumas semanas depois do que acabamos de contar. pois eis no que consist e a evocação infernal. segundo o grimório de Honório: "Escolher um galo preto e dar-lhe o nome do espírito das trevas que se quer evocar . ao nascer do dia. Ouvimos fa lar dele. . Eliphas Levi conversava com um livreiro que tem por especialidade colecionar velhos livros de ciências ocultas sobre o grimório de Honório. sozinho numa igreja.Oh! meu Deus! . não havia mais dúvida. é o padre misterioso que vimos n a casa da senhora A." "Traçar sobre o altar com a pena do galo molhada em vinho consagrado assinaturas d iabólicas (aquelas do lápis do senhor Home e das hóstias ensangüentadas de Vintras). começar o ofício dos mortos..Pois bem. dizer uma missa dos anjos. fizera a ev ocação e preparara-se para o crime através de uma série de sacrilégios. dizia o comerciante." "Na quarta-feira. o coração e a primeira pena da asa esquerda.receio saber. levantar-se à meia-noite. sabe qual era seu nome? . e fui eu quem o indicou. . e que queria fazer evocações mágicas.Pois o senhor sabe.. Mas o senhor deve conhecê-lo. Assim. como nos anunciara. meu amigo! o senhor confirma minha triste convicção. pois ele contou-me tê-lo visto.assentiu vivamente Desbarolles -. reservar sua língua.Eliphas Levi A Chave dos Grandes Mistérios .Sim .disse Desbarolles mudando de cor ." "Misturar a esse ofício evocações infernais. O homem que vimos.." "Deixar secarem a língua e o coração e reduzi-los a pó." "Matar o galo. " "Na quinta-feira. e permanecer se m luz na igreja assim profanada até o nascer do sol."Terminar o ofício à luz de uma única vela.. que será em seguida apagada." A mão recusa-se a escrever o resto. e fazer m cordeiro macho de nove dias engolir a mistura. É um misto de práticas brutais e atentados revolta ntes apropriados a matar o discernimento e a consciência. 92 . misturar à água benta o pó da língua e do coração do galo preto.. seu crime lhe daria uma enorme celebridade. toda hierarquia. O imperador. Era com promessas semelhantes que outrora o fantasma do demônio também tentava e fazia saltar de um crime a outro Gilles de Lava l. Assim Verger adormecia no sangue para acordar em não sei que abominável Panteão. a obediência. pois. "não p sso morrer assim! Uma hora apenas. eng ajou-se de tal maneira na trilha do mal que está disposto a todas as alucinações e a todas as men tiras. Esse infeliz estava certo de que não morreria. atrairi a a atenção de uma grande dama e se casaria do outro lado do mar. Pode-se observar também a aparição de um homem sinistro regozijando-se com o luto públic o e sustentando um propósito verdadeiramente infernal em meio à multidão consternada. senhor de Retz. segundo os ritos do grimório de Honório. toda magistratura. a doçura sob o símbolo tão comovente de uma mãe.Eliphas Levi Aí está certamente o segredo dessa inacreditável perversidade. que. acreditava ele. Mas as aberrações da perversidade não constituem uma loucura. um exílio honroso esperava-o. a tão célebre senhorita Merlière. e acordou n o cadafalso. seus dev aneios seriam comprados a peso de ouro pelos livreiros. uma hora para escrever ao Imperador! O Imperador deve salvar-me. visto que ela teria re voltado a consciência pública? Perguntai tudo isso ao grimório de Honório! Duas coisas nessa história tão trágica relacionam-se com os fenômenos do senhor Home: o ruído de tempestade ouvido pelo mau padre quando de suas primeiras evocações e a perturbação que o impediu de expor todo seu pensamento na presença de Eliphas Levi. dessas fúrias assassinas. "É uma traição". dessa fúria sobretu do contra o dogma que santifica a paz. apar ição observada apenas pela extática da Salette. desse ódio doentio contra toda ordem." Quem. assegurara-lhe de antemão uma clemência impossível. Um homem capaz de evocar o diabo. dizia. o traía? Quem.A Chave dos Grandes Mistérios . a execução desse miserável provou-o. não obst ante ter a . pois. Tornar-se-ia imensamente rico. Sabe-se que resistência desesperada ele opôs aos executores.Eliphas Levi A Chave dos Grandes Mistérios . pois. seria forçado a perdoá-lo. prometera-lhe a vida? Quem. e nossos relatos não n os fizeram esquecer do que o título deste trabalho prometia a nossos leitores. Isso é uma asserção. O senhor Home é um doente afetado por um sonambulismo contagioso. Esta palavra sonambulismo traz-nos de volta ao senhor Home. 93 .aparência de uma pessoa boa e respeitável. sob a influência de um sonambulismo ascético. Restou-nos uma explicação e uma demonstração a dar. Devemos dizer-lhes o que é o senhor Home. sem se aperceber. Vamos manter nossa promessa. é muito exaltada e capaz talvez de agir e d e falar. Eis seu título: A Razão dos Prodígios. uma fraqueza. o haxixe. o conde de M. Um médium disse: O inferno não é um lugar. enquanto para nós é o uso abusivo de uma força natural. Os médiuns geralmente são seres doentes e limitados. é um vício e. Os fenômenos não são os mesmos para todos os espectadores.. para o senhor Mirville. Numa reunião de pessoas que verão os prestígios. Esse livro está pronto e publicá-lo-emos brevemente.. por exemplo: Numa noite.Eliphas Levi A Chave dos Grandes Mistérios . via um pequeno vapor esbranqu içado em forma de pirâmide. onde um verá uma mão. Nada de extraordinário podem fazer diante das pessoas calmas e instruídas. Apenas a senhora B.. é um Estado. Dizemos incompletamente porque o diabo é. É preciso estar habituado a seu contato para ver e sentir algo. As pessoas impressionáveis pelo magnetismo do senhor Home experimentam uma espécie d e mal-estar. Todo mundo sabe que certas substâncias. e têm a sensação de que a temperatura abaixa-s e rapidamente. o outro notará apenas um vapor esbranquiçado. Poderíamos acrescentar: O diabo não é nem uma pessoa nem uma força. não vêem todas a mesma coisa.. via a criança.Eliphas Levi r um livro. Os prodígios ou os prestígios realizam-se melhor diante de um pequeno número de testem unhas escolhidas pelo próprio médium. as outras pessoas nada viam. uma personagem f antástica. Assim. parece-lhes que a sala gira. ou o Diabo diante da Ciência. na casa da senhora B. Dentre as pessoas que vêem. Voltemos por um momento ao estudo dos fenômenos. Assim.. pode encontrar-se uma que não verá absolutamente nada.. por conseguinte. Por que o diabo? Porque demonstramos através de fatos o que antes de nós o senhor Mi rville incompletamente pressentira.A Chave dos Grandes Mistérios . I o médium fez aparecer o filho que essa senho ra perdeu. entorpecem sem priv . por exemplo. 94 . e fazem ver. Eis por que o médium quer operar apenas diante de um pequeno número de pessoas escol hidas por ele.ar do uso da razão. coisas que não exist em. Grande parte dos fenômenos do senhor Home pertencem a uma influência natural semelha nte à do haxixe. com uma surpreendente impressão de realidade. A luz corresponde-se com a vida. Todos os dogmas da verdadeira religião estão escritos na cabala em caracteres de luz numa página de . os pretensos milagres obedecem a um desses dois pode res. a pessoa se tornaria seriamente d oente. Aliás. Deus é a alma da luz. um sobre o Verbo cabalístico. A luz cria as formas segundo as leis das matemáticas eternas. O reino das trevas é a morte. loucuras e mortes violentas a mania das me sas girantes já produziu? Esses fenômenos tornam-se particularmente terríveis quando deles a perversidade se a podera. Quem sabe quantas catalepsias. e deles tiraremos conclusões que completarão de modo satisfatório para todos a explicação que prom etemos para os fenômenos do senhor Home.Eliphas Levi . Quanto às escrituras cabalísticas e às assinaturas misteriosas. Existe um poder gerador das formas.Eliphas Levi A Chave dos Grandes Mistérios . essa visão revela uma perturbação passageira do aparelho nervoso em suas relações com a imaginação e com a luz. o outro sobre os segredos da cabal a. vamos antecipa r dois capítulos dessa obra inédita. diremos que se reprodu zem pela intuição magnética das imagens do pensamento no fluido vital universal. este poder é a luz. É o que demonstramos em nosso livro. Ver algo com o senhor Home não é um indício tranqüilizador para a saúde de quem vê. Mas. Se essa perturbação fosse frequentemente repetida. Perversidade ou fatalidade. mesmo que a saúde fosse excelente. pelo equilíbrio univer sal do dia e da sombra. A luz universal e infinita é para nós como o corpo de Deus. Esses reflexos instintivos podem produzir-se se o Verbo mágico nada tiver de arbit rário e se os signos do santuário oculto forem a expressão natural das idéias absolutas. Os signos primitivos do pensamento delineiam-se por si sós na luz. que é o instrumen to material do pensamento. É então que se pode realmente afirmar a intervenção e a presença do espírito do mal. tétanos.A Chave dos Grandes Mistérios . para não remetermos nossos leitores do desconhecido ao futuro. A cabala ou a alta magia é a ciência da luz. A aliança da alma com o corpo é um casamento de luz e de sombra.sombra. A página de sombra são as crenças cegas. A luz é o grande mediador plástico. 95 . publicou um tratado sobre a idolatria entre os antigos e os modernos. Não devemos refazer aqui o seu trabalho. que seria um grande cabalista se tivesse visto uma harmonia de verdades onde suas preocupações negativas apenas o deixaram ver um concerto de erros. segundo os iniciados nessa ciência. enfim. e que o cristianismo. Vi ncent (de Yonne). Convidamos os homens de estudos conscienciosos a lerem essas diferentes obras e nós nos concentraremos no estudo especial da cabala entre os hebreus. Mas só há um verdadeiro dogma. simplesmente reaproximou-se das fontes primitivas do mosaísmo. lançou nova luz sobre essa questão e encontrou nos símbolos do Egito todas as figuras alegóricas do Gênesis. em todos os simbolismos encontramos as idéias de antagonismo e de harm onia produzindo uma noção trinitária na concepção divina. a sombra e sua união que é a visão dos seres. depois a personificação mitológica dos ro pontos cardeais do céu completa o setenário sagrado. A luz. Com efeito. mas muito pouco conhecido. on de ergue o véu da mitologia universal. da Encarnação e da Redenção. e é nela que se deve buscar a origem de todos os do gmas religiosos. Para convencermo-nos disto. M. mas o que importa pro var é que a reforma religiosa de Moisés era inteiramente cabalística. de vasta erudição. toda a revelação. bastará relermos e meditarmos sobre a sábia obra de Dupu is.Eliphas Levi A luz é a fonte dos pensamentos. pelos signos do Verbo p rimitivo. tal é o princípio analógico dos grande dogmas da Trindade. ou a palavra. e que o Evang elho não é mais do que um véu transparente lançado sobre os mistérios universais e naturais da in iciação oriental. apenas a sombra é infinitamente va riada. ao i nstituir um dogma novo.Eliphas Levi A Chave dos Grandes Mistérios . Eis o que nos será fácil provar pelos monumentos religiosos. P. em seu livro sobre os Elo im ou deuses de Moisés. Tal é também o mistério da cruz. como só há uma pura luz. base de todos os dogmas e de to dos os ritos. os princípios da . um bravo pesquisador. Mais recentemente. que todos conhecem. pela explicação racional.A Chave dos Grandes Mistérios . Lacour. de todos os mistérios por meio das chaves da magia cabalística. pelos livros iniciados na cabala. Sendo o Verbo. M. Um sábio notável. tau. ghimel.alta cabala devem se encontrar reunidos nos próprios sinais que compõem o alfabeto p rimitivo. A unidade é representada de modo relativo pelo aleph. daleth. resch. o Daleth s . Há sete letras duplas. eis o que encontramos em todas as gramáticas hebraicas. 96 . Finalmente há doze simples que são as outras letras. vinte e duas. o Aleph t e o Mem n . O setenário por beth. Há duas outras letras mães opostas e análogas entre si. o Beth c . Ora. schin. o ternário é figurado ou por iod . o Caph f . seguindo -se a outras o Schin a . mem. ao todo. o R esch r e o Tau . mem. . phé. o Ghimel d . o Phé p . É o Iod h . Há uma letra principiante e universal geradora de todas as outras. schin. caph. ou por aleph. a destruição e a regeneração. o trabalho. Saturno. o ser produtor. a luta. Reuchlin. rei dos Eloim.o princípio absoluto. o anjo Anael. Daleth . rei dos reis. Pico delia Mirandola e os outros autores. a vontade. Phé . Micael. o Tempo. Vênus. príncipe das falanges. 97 . Caph . príncipe das ciências.A Chave dos Grandes Mistérios . Mercúrio. o anjo Gabriel.a matéria.o reflexo. O mem .a força.a violência. Ghimel .o amor. São Jerônimo.o espírito. Júpiter. rei dos túmulos e das sol idões. Kabbala denudata. o poder. As Simples As simples dividem-se em quatro ternários trazendo por títulos as quatro letras do t etragrama divino v u v h . Sachiel Melech. Resch .Eliphas Levi m no simbolismo do setenário. príncipe dos mistérios. Os números representam idéias filosóficas absolutas. Cassiel. As Duplas Beth .) As Mães O iod . As letras são hieróglifos abreviados. especialmente os da coleção de Pistorius. Tau . a luz. Mars Samaël Zébaoth. ou o Jaquim de Salomão. o pensamento.a verdade. ou a coluna Boaz. a lua. o Sol.Eliphas Levi A Chave dos Grandes Mistérios . príncipe da vida e da morte. Cada letra representa um número: Cada conjunto de letras uma série de números. Technica curiosa do padre Schott. (Ver Belarmino. O schin . Rafael. Vejamos agora as significações hieroglíficas e filosóficas de cada uma das vinte e duas letras.a eloqüência. a inteligência. o Sepher Yétsírah. da Índia e do Egito) é coloc ado à porta do jardim da verdade para impedir os profanadores de destruírem a árvore da vida. em eguida. Abandonar uma força a seu s próprios excessos é condená-la ao suicídio. Privado dessa chave do dogma transcendental.Eliphas Levi A Chave dos Grandes Mistérios .A Chave dos Grandes Mistérios . A força vinga-se. O ídolo substituiu Deus. o bem e o mal. "No princípio (iod. e a humanidade decadente não tardará a dedicar-se ao culto do novil ho de ouro. Aí são colocados o homem e a mulher. os sete . em outras palavras. O que faltou a Dupuis para compreender o dogma religioso universal da cabala foi a ciência desta bela hipótese demonstrada em parte e realizada a cada dia mais pelas descobertas d a ciência: a analogia universal. o ativo e o passivo. Assim revela-se o equilíbrio do mundo moral. Depois. a unidade do ser). eles são. a fraqueza mártir expia e intercede pela força condenada em conseqüência do crime à vergonha e ao remorso. com a interpretação e sob a influência de cada uma das letras do te tragrama. depois de duas árvores. plantada s perto do rio. por opressão. Vê-se que a filosofia e o dogma religioso da cabala estão indicados aí de modo complet o mas velado. o dogma misterioso com todas as suas alegorias e seus horrores que sucede à simples verdade. a mulher simpatiza com a mo rte e arrasta consigo em sua ruína Adão. Interroguemos agora as alegorias do Gênesis.Eliphas Levi As doze letras simples v u z y j h k b o g m e . quando se trata de dar um lugar ao homem e um primeiro santuário à sua aliança com a divindade. as forças equilibradas (Jaquin e Boaz) fizeram o céu (o espírito) e a terra (a matéria). Eloim. divididas em grupos de três. a afirmação e a negação " Assim começa o relato de Moisés. pois. repr oduzem a noção do triângulo primitivo. não pôde ver em todos os deuses senão o s ol. expulsos do santuário da verdade e um chérub (u maesfinge com cabeça de touro. das seduções da f raqueza. portanto. uma da vida. assim assenta-se a base de t odas as profecias e o ponto de apoio de toda política inteligente. Aí está. ver os hieróglifos da Assíria. indicado pela alegoria de Caim e Abel. Moisés fala de um jardim no meio do qual uma fonte única dividia-se em qu atro rios (o Jod e o Tetragrama). outra da morte. O mistério das reações necessárias e sucessivas dos dois princípios um sobre o outro é. Juliano tem o Deus supremo que os cristãos pensavam serem os únicos a a dorar.planetas e os doze signos do zodíaco. nos sete planetas as sete notas da gama celeste. esse iniciado cujo paga nismo era menos idólatra do que a fé de certos cristãos. e no zodíaco a quadratura do ciclo ternário de todas as iniciações. esse espiritualista incompreendido. Em seu hino ao rei Hélio reconhece que o a stro do dia é apenas o reflexo e a sombra material daquele sol de verdade que ilumina o mundo da inteligência e que é ele próprio apenas um clarão tomado emprestado ao absoluto. mas não viu no sol a imagem do logos de Platão. o imperador Juliano. compreendia mel hor que Dupuis e Volnay o culto simbólico ao sol. Coisa notável. adversários e contemporâneos desse imperador. Eis como ele expressa-se em sua defesa do helenismo: 98 . dizemos. idéias bem maiores e bem mais justas do que as de vários pais da Igreja. O imperador Juliano. . de fato.Eliphas Levi A Chave dos Grandes Mistérios . É a essa crença que devem ser relacionadas todas as superstições eprovadas aos adeptos das ciências ocultas. mas Deus a quer porque ela é justa. e exprimir a coisa pelo signo. pois as verdades muito belas ou muito simples para agradar aos home ns sem véus foram todas ocultadas sob essas sombras engenhosas. O signo de sua eleição ou de sua reprovação. e mais tarde um doutor cristão. os animais foram e studados analogicamente. em que delfins morrem de dores a pós haverem feito ingratos entre os homens. acabou-se por confundi-los. A coisa é a virtude do signo. a noção de uma hierarquia ascenden te e de uma influência descendente em todos os seres fornecerá aos antigos hierofantes a pri meira classificação de toda a história natural." A idéia de uma ordem perfeita e imutável na natureza. e tal é a origem da história natural fabulosa em que leões deixam-se abater por galos. em que mandrágoras falam e estrelas cantam. Os minerais. depois. o objeto de uma fé cega efanática. desenhado na sua fo ma. mas tem como realidade apenas a signific ação dos hieróglifos que lhe deram origem.Eliphas Levi Eis como falava esse apóstata e esse ímpio. esse país fabuloso das fadas é uma região ainda fér em descobertas. A lei das analogias foi. nesse uso alegórico das analogias. Sim. devia. Eis como raciocinavam: O signo exprime a coisa. de tanto tomar o signo pela coisa. já se pode compreen der os abusos possíveis e pressentir os erros que se devem ter originado na cabala. que se tor nou o oráculo das escolas de teologia. inspirando-se talvez nas belas palavras do descr ente. porque a vigilância freqüent emente substitui a força e consegue domar a cólera. Esse m undo encantado é verdadeiramente o domínio poético da magia. e. colocar um freio em todas as superstições ao escrever esta bela e corajosa máxima que tão bem resume o pe nsamento do grande imperador: "Uma coisa não é justa porque Deus a quer. Para o sábio que compreende as analogias da alta c abala e a relação exata das idéias com os signos. o galo pode intimidar o leão e tornar-se seu mestre. As outras fábulas da pretensa história natu ral dos antigos explicam-se do mesmo modo. e atribuíram-se sua origem e suas propriedades ao princípio passivo ou ao princípio ativo. às trevas ou à luz. para os cabalistas da segunda ordem.A Chave dos Grandes Mistérios . tornou-se o caráter hieroglífico de um vício ou de uma virtude. os vegetais. Há correspondência analógica entre o signo e a coisa significada. Invocar é adjurar. o signo desse pensamento escreve-se por si só n a luz. pode-se. é manifestar Deus. portant o. por exempl o. Quanto mais perfeito é o signo. matar e ressuscitar por palavras. isto é. Dizer uma palavra é evocar um pensamento e torná-lo presente. Proferir um nome é criar ou chamar um ser. jurar por um nome: é fazer ato de fé nesse nome e comungar na virtude que ele 99 . curar. A palavra age sobre as almas e as almas reagem sobre os corpos. No nome está contida a doutrina verbal ou espiritual do próprio ser. fazer adoecer. mais a correspondência é total. assustar. consolar. Dizer Deus. Quando a alma evoca um pensamento. . Dentre os segredos d a cabala. Foi assim que uma simples e sublime filosofia tornou-se a ciência secreta da magia negra. porque são a bortos voluntários do pensamento.A Chave dos Grandes Mistérios . e das conseqüências mais ou meno s exageradas que deles tiravam. evocações. as curas maravilhosas. Ei-lo: 1º . que baseava suas operações. Um belo estilo é uma auréola de santidade. oculto sob parábolas cabalísticas dos antigos. É sobretudo desse ponto de vista que a cabala pode ainda excitar a curiosidade da maioria em nosso século tão desconfiado e tão crédulo. aliás.A luz é o fogo que serve à grande obra sob forma de eletricidade. portanto. Conseguimos decifrá-lo e v amos confiá-lo às investigações dos fazedores de ouro. É um infanticídio intelect al. No entanto. O verbo de cada pes soa é uma impressão ou uma prece habitual. As coisas são para cada pessoa o que ela as faz ao denominá-las. Os homens raramente procuram a verdade por ela mesma. resultantes da harmonia dos contrários. a verdadeira c iência não está aí. Um segredo físico im enso estava. a alquimia tomou emprestado à cabala todos os seus signos. resultava para os cabalistas supersticiosos uma co nfiança absoluta nos encantamentos. Desses princípios. venenosas ou salutares. são por si próprias boas ou más.Os quatro fluidos imponderáveis são apenas as manifestações diversas de um mesmo agen te universal que é a luz. uns verdadeiros. como a fé sempre realiza prodígios. De fato.Eliphas Levi A Chave dos Grandes Mistérios . e era na lei d as analogias. há um que sempre atormentou os pesquisadores: o segredo da transmutação dos metais e a con versão de todas as substâncias terrestres em ouro.Eliphas Levi As palavras. os oráculos. as doenças súbitas e estranhas. como acabamos de expor. Falar bem é viver bem. têm sempre por motivo secret o em seus esforços alguma paixão a satisfazer ou alguma cupidez a saciar. outros hipotéticos. 2º . Ora. nunca lhe faltaram as aparições. As palavras mais perigosas são as palavras vãs e proferidas levianamente. Uma palavra inútil é um crime contra o espírito de inteligência. conjurações e orações misteriosas. Acabamos de dizer que a alquimia é filha da cabala.A vontade humana dirige a luz vital por meio do aparelho nervoso. não duvidamos da alta importância desse grande arcano hermético. para convencer-se disso. o azote dos sábios. no entanto. o agente produtor metálico universal é a ELETRICIDADE MAGNETIZADA. à noção completa e absoluta das oisas 100 . o ouro vivo e vivifica nte dos filósofos. pois.O agente secreto da pedra filosofal.3º . as páginas do judeu Abraão e os oráculos mais ou menos apócrifos da mesa de esmeralda de Hermez. A aliança dessas duas palavras ainda não nos diz muito e. ba sta interrogar os símbolos de Flamel. de nossa parte. 4º . e. no Sepher Yétsirah. Dizemos talvez por conveniência filosófica. de Basílio Valentim. Em toda a parte encontram-se os traços des sa década de Pitágoras tão brilhantemente aplicada. Em nossos d ias isso denomina-se magnetizar. elas talvez en cerrem uma força capaz de revolucionar o mundo. A Chave dos Grandes Mistérios - Eliphas Levi A Chave dos Grandes Mistérios - Eliphas Levi Falamos, com certa extensão, em nosso livro intitulado Dogma e Ritual da Alta Magi a, de um monumento hieroglífico conservado até os nossos dias sob um pretexto fútil, e que sozi nho explica todas as escrituras misteriosas da alta iniciação. Esse monumento é o tarô dos Boêmios que deu origem a nossos jogos de cartas. Compõe-se de vinte e duas letras alegóricas e de qu atro séries, cada uma de dez hieróglifos relativos às quatro letras do nome de Jehovah. As diversas co mbinações desses signos e dos números que lhes correspondem formam a mesma quantidade de orácu los cabalísticos, de modo que a ciência inteira está contida nesse livro misterioso. Essa máquina filosófica perfeitamente simples surpreende pela profundidade e exatidão de seus res ultados. O abade Trithème, um de nossos maiores mestres em magia, compôs sobre o alfabeto cab alístico umtrabalho muito engenhoso a que ele denomina poligrafia. É uma série combina da de alfabetos progressivos em que cada letra representa uma palavra, as palavras correspondemse e completam-se de um alfabeto ao outro, e não há dúvida de que Trithème teve conhecimento do tarô e dele se utilizou para dispor numa ordem lógica suas sábias combinações. Jerônimo Cardano conhecia o alfabeto simbólico dos iniciados como se pode reconhecer pelo número e pela disposição dos capítulos de sua obra sobre a sutileza. Essa obra, com efei to, é composta de vinte e dois capítulos, e o tema de cada capítulo é análogo ao número e à alego ia da carta correspondente no tarô. Fizemos a mesma observação sobre um livro de São Martinho intitulado Quadro Natural das Relações que existem entre Deus, o Homem e o Universo. A tradição desse segredo não foi, pois, interrompida desde os primórdios da cabala até os nossos dias. Os giradores de mesa e os que fazem falar os espíritos através de quadrantes alfabétic os estão, pois, muitos séculos atrasados e não sabem que existe um instrumento de oráculo claro e de u m sentido exato por meio do qual se pode comunicar com os sete gênios dos planetas e fazer f alar à vontade as setenta e duas rodas de Aziah, Jezirah e Briah. Para isso basta conhecer o siste ma de analogias universais, tal como expôs Swedenborg na chave hieroglífica dos arcanos, depois emba ralhar as cartas e tirar ao acaso, dispondo-as sempre pelos números correspondentes às idéias cu jos esclarecimentos se deseja, depois ler os oráculos como devem ser lidas as escritur as cabalísticas, isto é, começando no meio indo da direita para a esquerda para os números ímpares, começando à d reita para os pares e interpretando sucessivamente o número pela letra que lhe correspon de, o conjunto das cartas pela adição de seus números e todos os oráculos sucessivos por sua ordem nume ral e suas relações hieroglíficas. Essa operação dos sábios cabalistas para encontrar o desenvolvimento rigoroso das idéias absolutas degenerou em superstições em meio aos padres ignorantes e aos nômades ancestrais dos B oêmios que possuíam o tarô da Idade Média, sem conhecer seu verdadeiro emprego e que dele se serviam unicamente para ler a sorte. O jogo de xadrez, atribuído a Palamedes, não tem outra origem senão o tarô, e nele encon tram-se as mesmas combinações e os mesmos símbolos, o rei, a rainha, o cavaleiro, o soldado, o lo uco, a torre, depois casas representando os números. Os antigos jogadores de xadrez procuravam e m seu tabuleiro a solução dos problemas filosóficos e religiosos, e argumentavam um contra o outro em silêncio manobrando os caracteres hieroglíficos através dos números. Nosso vulgar jogo do ganso , copiado dos gregos e igualmente atribuído a Palamedes, é apenas um tabuleiro de figuras imóvei s e númerosmóveis por meio dos dados. É um tarô disposto em roda destinado ao uso dos as pirantes à iniciação. Ora, a palavra tarô, em que se encontram rota e tora, exprime ela própria, como demo nstrou-o Guilherme Postel, essa disposição primitiva em forma de roda. Os hieróglifos do jogo do ganso são mais simples que os do tarô, mas encontram-se aí os mesmos símbolos: o bobo, o rei, a rainha, a torre, o diabo ou tífon, a morte, etc. As proba bilidades aleatórias desse jogo representam as da vida e escondem um sentido filosófico bastante profun do para fazer meditar os sábios e bastante simples para ser compreendido pelas crianças. 101 A Chave dos Grandes Mistérios - Eliphas Levi A Chave dos Grandes Mistérios - Eliphas Levi A concepção do alfabeto primitivo era, como se pode ver, a idéia de uma língua universal , encerrando em suas combinações e em seus próprios signos o resumo e a lei da evolução de t odas as ciências divinas e humanas. Acreditamos que, desde então, nada mais bonito nem maior foi sonhado pelo gênio dos homens e confessamos que a descoberta desse segredo do mundo antigo compensou-nos plenamente por tantos anos de pesquisas estéreis e trabalhos ingrato s nas criptas das ciências perdidas e nas necrópoles do passado. Um dos primeiros resultados dessa descoberta seria uma nova direção dada ao estudo d as escrituras hieroglíficas ainda tão imperfeitamente decifradas pelos êmulos e pelos sucessores de Champollion. Sendo o sistema de escritura dos discípulos de Hermes analógico e sintético como todos os signos da cabala, para a leitura das páginas gravadas nas pedras dos antigos templos não impor taria recolocar essas pedras em seu lugar e contar o número de suas letras comparando-as com os núme ros das outras pedras? O obelisco de Lúxor, por exemplo, não era uma das duas colunas da entrada de um temp lo? ficava à direita ou à esquerda? Se ficava à direita, seus sinais referem-se ao princípio ativo; se ficava à esquerda, é pelo princípio passivo que se devem interpretar seus caracteres. Mas dev e haver uma correspondência exata de um obelisco ao outro, e cada signo deve receber seu senti do completo da analogia dos contrários; Champollion encontrou traços do copta nos hieróglifos, um out ro sábio talvez encontrasse mais facilmente e mais felizmente o hebraico, mas o que diria m se não fosse nem hebraico nem copta? Se fosse, por exemplo, a língua universal primitiva? Ora, essa língua, que é a da alta cabala, existiu certamente, existe na base do próprio hebraico e de todas as línguas orientais que dele derivam, essa língua é a do santuário, e as colunas da entrada dos templos geralm ente resumiam todos os seus símbolos. A intuição dos extáticos aproxima-se mais da verdade sobre esses signos primitivos do que a própria ciência dos sábios. Isso porque, como dissemos, o fluido v ital, universal, a luz astral, sendo princípio mediador entre as idéias e as formas, obedece aos impu lsos extraordinários da alma que procura o desconhecido e fornece-lhe naturalmente os s ignos já encontrados, mas esquecidos, das grandes revelações do ocultismo. Assim formaram-se as pretensas assinaturas dos espíritos, assim produziram-se as escrituras misteriosas de Gablid one que visitava o doutor Laváter, dos fantasmas de Schroepfer, do São Miguel de Vintras e dos espíritos do senhor Home. Se a eletricidade pode mover um corpo leve ou mesmo pesado sem que seja tocado, seria impossível, pelo magnetismo, dar à eletricidade uma direção e assim produzir naturalmente sinais e escrituras? É certamente possível, uma vez que isso é feito. Assim, portanto, aos que nos perguntarem qual é o maior agente dos prodígios, respon deremos: - É a matéria-prima da pedra filosofal. - É a ELETRICIDADE MAGNETIZADA. Tudo foi criado pela luz. É na luz que a forma conserva-se. É pela luz que a forma reproduz-se. As vibrações da luz são o princípio do movimento universal. 102 A Chave dos Grandes Mistérios - Eliphas Levi A Chave dos Grandes Mistérios - Eliphas Levi Os homens e as coisas são imantados de luz como os sóis e podem, por meio de cadeias eletromagnéticas estendidas pelas simpatias e afinidades, comunicar-se uns com os outros de uma à outra extremidade do mundo, acariciar-se ou bater-se, curar-se ou ferir-se de mo do natural certamente, mas prodigioso e invisível. Aí está o segredo da magia. A magia, a ciência que nos vem dos magos. A magia, a primeira das ciências. A mais santa de todas, uma vez que estabelece de modo mais sublime as grandes ve rdades religiosas. A mais caluniada de todas, porque o vulgo obstina-se em confundir a magia com a bruxaria supersticiosa cujas práticas abomináveis denunciamos. É somente pela magia que pode, diante das questões enigmáticas da Esfinge de Tebas e d as obscuridades por vezes escandalosas difundidas nos relatos da Bíblia, responder a tais perguntas e encontrar a solução desses problemas da história judaica. Os próprios historiadores sagrados reconhecem a existência e o poder da magia que co ncorria abertamente com o de Moisés. A Bíblia conta-nos que Janes e Mambres, os mágicos do Faraó, fizeram em primeiro lugar os mesmos milagres que Moisés, e que declararam impossíveis à ciência humana os que não puder am imitar. Com efeito, é mais lisonjeiro para o amor-próprio de um charlatão confessar o milagre do que declarar-se vencido pela ciência ou pela destreza de um colega, sobretudo quan do esse colega é um inimigo político ou um adversário religioso. Onde começa e onde termina o possível na ordem dos milagres mágicos? Eis uma grave e i mportantequestão. É certa a existência dos fatos habitualmente classificados como mila gres. Os magnetizadores e os sonâmbulos fazem-nos todos os dias; a irmã Rose Tamisier os fez, o iluminado Vintras ainda os faz; mais de quinze mil testemunhas atestavam ultimamente os do s médiuns da América, dez mil camponeses do Berry e da Sologne atestariam, se necessário, os do d eus Cheneau (um antigo comerciante de botões retirado dos negócios e que se acredita inspirado p or Deus). Todas essas pessoas são alucinadas ou espertalhonas? Alucinadas, talvez, mas o próprio fat o de ser sua alucinação idêntica, seja separadamente, seja coletivamente, não é um milagre bastante gra nde da parte de quem o produz sempre que deseja e no momento oportuno? . sobretud o num século tão leviano e tão zombeteiro quanto o nosso. uma ocasião para exercerem-se. Os gourmets mais delicados apreciam as trufas e cons omem-nas. com precisão e calma. Cagliostro estava longe de ser um i niciado da primeira ordem. Mas os milagres não são um quinhão exclusivo dos iniciados da primeira ordem e freqüente mente são realizados por seres sem instrução e sem virtude. já que a grande associação dos adeptos abandonou-o à inquisiçao romana. deu uma ridícula e odiosa explicação do tri grama maçônico L. o mundo está cheio de taumaturgos. e a ciência é freqüentemente obrigada a negar suas obras ou a recusar-se a vê-las para não ser obrig ada a examiná-las e atribuir-lhes uma causa.D. Quem não sabe de todo o poder que se atribuía a seu vinho do Egito e a seu elixir? Que poderíamos acr escentar a tudo o que se conta daquelas ceias do outro mundo. diante da q ual. em que ele fazia aparecer em carne e osso os personagens ilustres do passado? No entanto. cujas qualidades excepcionais nos escapam. mas 103 . se se deve acreditar nas peças de seu processo. . e fazem sua obra. Ora.Fazer milagres ou persuadir a multidão de que os faz é quase a mesma coisa. No século passado.P. As leis naturais encontram num o rganismo. . repercutiram em toda a Europa os prodígios de Cagliostro. como sempre. 2º predizendo muitas coisas futuras. assustar a multidão e confundir até mesmo as pessoas instruídas: 1º . por seus diferentes modos de imantação. Esse agente. atrai-nos uns para os outros ou distancia-nos uns dos outros. recebe e transmite as impressões da força imaginária. a realidade da pedra filos ofal e da transmutação dos metais. como o cavaleiro de Reichenbach. 6º devolvendo a vida a sujeitos em que se manifestam todos os sintomas da morte.Eliphas Levi A Chave dos Grandes Mistérios . a outra o frio. em que uma atrai enquanto a outra repele. 3º dominando a vontade dos outros de modo a impedi-los de fazer o que desejam e a forçá-los a fazer o que não desejam. É o elemento vital que se manifesta pelos fenômenos de calor. que chamamos luz astral. enfim em que uma dá uma luz azul e esverdeada. Todos esses prodígios operam-se por meio de um único agente que os hebreus chamavam OD. com a escola de Pasqualis M artinez.Adivinhando as coisas ocultas. Um sábio cabalista ainda pode. restabelece ou perturba o equilíbrio na economia animal por suas transmutações e seus eflúvios alternativos. uma vez que não se conhece nem a força da imaginação nem a r azão de ser e o poder do magnetismo. segundo os segredos de Abraão. 4º excitando à vontade aparições e sonhos. demonstrando. queMirville chama diabo. se necessário. assim. de Flamel e de Raimun do Lúlio. portanto. Nesse agente manifestam-se as provas d a doutrina cabalística sobre o equilíbrio e o movimento pela dupla polaridade. que os antigos alquimistas denominavam azote. com exemplos. a outra uma luz amarela e avermelhada. submete um às vontades do outro fazendo-o entrar em seu círculo de a tração.Eliphas Levi O progresso atual do conhecimento humano diminuiu muito as chances dos prodígios. 5º curando um grande número de doenças. em que uma produz o quente. mas resta ainda um grande número deles. de luz. que é no homem a ima gem e a semelhança do verbo criador. que i manta todos os globos terrestres e todos os seres vivos.A Chave dos Grandes Mistérios . A observação das analogias universais foi negligenci ada e é por isso que não se crê mais na adivinhação. de eletricidade e de magnetismo. produz. o Judeu. 7º finalmente. os pressentimentos e determina os sonh . foi. que comumente se dá aos adeptos.os. muito ma l interpretado quando lhe deram um sentido místico. o ouro fluido e potável dos mestres da alquimia. perguntava-se aos recipiendários de todas as iniciações. verdad eiramente. Encontra-se aí. o conhecimento dessa força maravilhosa. como se significasse homens cuja inteligência t eria se tornado iluminada num dia miraculoso. seja pela ciência do grande agente mágico. "O que quereis?". Preferimos a palavra luz a magnetismo. que significa luz. devia-se responder. porque ela é mais tradicional no ocultismo e expressa de modo mais completo e perfeito a natureza do agente secreto. pois. a palavra ouro vem do hebraico or. pois. e a arte de fazer mila gres é tão simplesmente a arte de imantar ou de iluminar os seres segundo as leis invariáveis do magnetismo ou da luz astral. Iluminados quer dizer simplesmente conhecedores e possuidores da luz. 104 . O nome iluminados. seja pela noção racional e ontológica do a bsoluto. A ciência dos milagres é. "Ver a luz" . mais revoltantes dos mistérios? Nessa ocasião. mas que teve certa repercussão há al guns meses. E sem falar dos milagres tão averiguados dos jansenistas de PortRoyal e do diácono Páris. nem umpoder distinto das próprias forças da natureza. Teria encontrado melhor do que isso na história.Eliphas Levi A Chave dos Grandes Mistérios . bem menos culpado s por terem prestado culto a Baphomet do que por terem revelado sua imagem a profanos. pois. deu-se muito trabalho para reunir algumas bruxarias no gênero das que enchem as co mpilações dos Delancre. existe de modo muito real para os cabalistas. Mirville. do ativo sobre o passivo. Jeh ovah é aquele que doma a natureza como a um cavalo bravio e a faz ir onde ele quer. mas os iniciados ao culto de Hermès-Panthée compreendiam a alegoria e cuidavam em não expl icá-la aos profanos. não é outra coisa senão o demônio barbudo dos alquimistas . pois. Isso é toda uma revelação para o iniciado aos mistérios do tetragrama. assim explicam-se também os est ranhos símbolos de alguns iniciados. chevajoh ( o demônio) é o cavalo sem freio que. que pode hav er de mais maravilhoso do que a grande monomania do marítimo que fez as crianças e as próprias mu lheres acorrerem ao suplício como a uma festa durante trezentos anos? Que pode haver de m ais magnífico do que essa fé entusiasta atribuída durante tantos séculos aos mais incompreensíveis e.A Chave dos Grandes Mistérios . De fato. O Bap homet. como os dos Templários. semelhante aos dos egípcios no cântico de Moisés. os milagres vinham d e Deus. humanamente falando. Sabe-se que os mais graduados na antiga maçonaria hermética atribuíam a um demônio barbudo dar conclusão à pedra filosofal. mas não é nem uma pesso a. dos Delrio e dos Bodin. cabendo ao não iniciado nesta palavra persignar-se e tapa r a vista. num livro atualmente quase esquecido.Eliphas Levi Os cabalistas dizem que o nome oculto do diabo. figura panteística do agente universal. e servimo-nos deles até como uma prova para estabelecer a verdade da religião. O diabo. da causa sobre o efeito. O diabo é a divagação ou o sono d a inteligência. também a razão e a vida ao seu credo? Oh! com relação aos heréticos é evidente que o . a ordem das letras desse grande nome indica a predominância da idéia sobre a forma. Ora ess a! Os heréticos também deixavam-se matar por dogmas francamente bastante absurdos. seu verdadeiro nome. Assim explicam-se todos os pesadelos da Idade Média. por exemplo. é o mesmo de Jehovah escrito às avessas. Invertendo-se essa ordem obtém-se o contrário. direis. sacrifi cavam. É a loucura e a mentira. derruba seu ca valeiro arrastando-o consigo para o abismo. pôde compreender e reproduzir as evocações do primeiro eremita.iabo estava em jogo. ficar am muito 105 . na ciên cia. os legendários tenham inventado? Não. que fazem aparecer o diabo após uma série fatigante e quase impossível das mais revoltantes evocações. as rochas e os animais mais selvagens. E credes que ao descre verem os sonhos assustadores da maceração e do jejum. como de Orfeu se conta que at raía para si os carvalhos. Pobres-coitados que tomavam o diabo por Deus e Deus pelo diabo! Como desiludiram-se quando os fizeram reconhecer o verdadeiro Deus na caridade. Somente Callot. na justiça e sobretudo na misericórdia de seus ministros! Os necromantes. iniciado pelos boêmios nômades durante a infância aos mistérios da bruxa ria negra. são apenas crianças ao pé do Santo Antônio da lenda que os tirava ao milhares do inferno e os arrastava sempre consigo. Eliphas Levi Deus e o diabo são o ideal do bem e do mal absolutos. nada amar. porque se sois mornos fazeis-me vomitar. A vontade humana desenvolve-se e aumenta pela atividade. e o mal é relativo unicam ente a nossas ignorâncias e a nossos erros. recaem no domínio dos homens-Deus e são salvos por aqueles que inicialmente pareciam ser suas vítimas. Saber é a cabeça humana. Na da pensar. Para querer realmente. Por quê? Pensais que a opinião pública nunca possa rend er homenagem ao vício? Não. Quantos poltrões e covardes crêem-se virtuosos por que têm medo! Quantas mulheres honradas olham com inveja para as prostitutas! Não faz aind a muito tempo os galerianos estavam na moda. nada querer. calar-se são as asas místicas da águia. para recolher em paz os frutos da própria audácia. eis o verdadeiro pecado. esgotados seu recursos. a hierarquia existe no inferno como no céu.Eliphas Levi A Chave dos Grandes Mistérios . Só o bem pode ser absoluto. os quatro verbos cabalístic os que correspondem às quatro letras do tetragrama e às quatro formas hieroglíficas da Es finge. como a lei da solidariedade é universal. mas. Então os homens-diabo. CALAR-SE são. O grande mestre. nada fazer. condena unicamente o preguiçoso que enterro u seu depósito por medo de perdê-lo nas operações arriscadas desse banco que se chama vida. e quando o mal atinge seu ápice é pr eciso que cesse. mas o homem que se esmera em v iver fazendo omal presta homenagem ao bem por toda a inteligência e energia que de senvolve em si próprio. Apenas mantém-se acima dos outros homens quem não prostitui o . e. para realizar. para querer verdadeiramente. QUERER. Para empreender. é preciso agir. é preciso saber. OUSAR. e está na ordem que o covardes infames estimem os bandidos audaciosos. o que é impossível. Um ser malévolo sempre encontrará um pior do que ele para fazer-lhe mal. pois só poderia continuar pelo aniquilamento do ser. Todo homem para ser deus faz-se primeiro diab o. É por isso que o grande iniciador dizia em sua linguagem figurada: Sede frios ou quent es. SABER. querer são as ilhargas laboriosas do touro . A ação domina e sempre arrasta a inércia. ousar são as garras do leão.A Chave dos Grandes Mistérios . Tal é o segredo da influência dos pretensos celera dos sobre as pessoas supostamente honestas. Mas o homem nunca concebe o mal absoluto senão como uma falsa idéia do bem. mas ela faz justiça à atividade e à audácia. é preciso ousar . A audácia unida à inteligência é a mãe de todos os sucessos neste mundo. numa de suas parábolas. é preciso calar-se. como dissemos antes. é preciso querer. A natureza reconhece e recompensa apenas os trabalhadores. s segredos de sua inteligência aos comentários e ao escárnio daqueles. Todos os homens verdadeiramente fortes são magnetizadores e o agente universal obe dece à suavontade. É assim que eles operam maravilhas. Fazem-se acreditar, fazem-se seguir e quando dizem: Isto é assim, a natureza de certa forma muda aos olhos do vulgo e torna-se o que o grande homem quis. Isto é minha carne e isto é meu sangue, disse um homem que se fez Deus por sua s virtudes e, em presença de um pedaço de pão e de um pouco de vinho, dezoito séculos viram, tocaram, provaram, adoraram a carne e o sangue divinizados pelo martírio! Dizei-nos agora q ue a vontade humana nunca realiza milagres! Não nos faleis aqui de Voltaire, Voltaire não foi um taumaturgo, foi o espiritual e eloqüente intérprete daqueles sobre os quais os milagres não agiam mais. Tudo em sua obra é nega tivo; ao 106 A Chave dos Grandes Mistérios - Eliphas Levi A Chave dos Grandes Mistérios - Eliphas Levi Quando os reis da França viviam cercados pela adoração de seu povo, quando eram vistos como os ungidos do Senhor e os primogênitos da Igreja, curavam escrófulas. Um homem em voga fará milagres quando quiser. Cagliostro podia ser apenas um charlatão, mas, desde que a opinião pública fizera dele o divino Cagliostro, ele devia operar prodígios, e foi também o que acon teceu. Quando Céphas Barjona era apenas um judeu, proscrito por Nero e que vendia às mulher es dos escravos um específico para a vida eterna, não passava de um charlatão para todas as p essoas instruídas de Roma; mas a opinião pública fez do empírico espiritualista um apóstolo; e os sucessores de Pedro, sejam eles Alexandre VI ou mesmo João XXII, são infalíveis para t odo homem bem-educado e que não deseje ser inutilmente banido da sociedade. Assim segue o mu ndo. O charlatanismo, quando bem-sucedido, é, pois, em magia como em todas as coisas, u m grande instrumento de poder. Fascinar habilmente o vulgo não é já dominá-lo? Vê-se que os pobresdiabos dos bruxos que, na Idade Média, tolamente faziam-se queimar vivos não tinham um gran de domínio sobre os outros. Joana d'Arc era mágica à frente dos exércitos, e em Rouen a pobre moça não foi bruxa. Sabia apenas orar e combater, e o prestígio que a rodeava cessou assim que lhe colocaram os grilhões. Consta de sua história que o rei da França a tenha reclamado? Que a nobreza francesa, que o povo, que o exército tenham protestado contra sua condenação? O papa, de quem o rei da França era o primogênito, excomungou os algozes da Virgem? Não, nada disso. Joana d'Arc foi bruxa para todos assim que deixou de ser mágica, e certamente não foram os ingleses os únicos a q ueimá-la. Quando se exerce um poder aparentemente sobre-humano, é preciso exercê-lo sempre ou resignar-se a perecer. O mundo vinga-se sempre covardemente por ter acreditado m uito, admirado muito e sobretudo obedecido muito. Só compreendemos o poder mágico em sua aplicação às grandes coisas, se um verdadeiro mágico prático não se torna mestre do mundo é porque o desdenha; e para que desejaria diminui r seu soberano poder? "Eu te darei todos os reinos do mundo se tu caíres a meus pés e me a dorares", diz a Jesus o satã da parábola. "Retira-te", diz-lhe o Salvador, "pois está escrito: Tu ador arás somente a Deus..." Eli, Eli lammah Sabbachtani! devia gritar mais tarde esse sublime e div ino adorador de Deus. Se tivesse respondido a satã: Não te adorarei e és tu que vais cair a meus pés, po is ordeno-te em nome da inteligência e da eterna razão!, não teria devotado sua santa e nobre vida ao mais atroz de todos os suplícios. O satã da montanha foi bem cruelmente vingado. Os antigos chamavam a magia prática de arte sacerdotal e arte real; e lembramos qu e os magos foram os mestres da civilização primitiva, porque foram os mestres de toda a ciência d e seu tempo. Saber é poder quando se ousa querer. A primeira ciência do cabalista prático ou do mago é o conhecimento dos homens. A fren ologia, a psicologia, a quiromancia, a observação dos gostos e dos movimentos, do som da voz e das impressões, sejam simpáticas, sejam antipáticas, são ramos dessa arte, e os antigos não os ignoravam. Gall e Spurzëim reencontraram em nossos dias a frenologia, Laváter depois de Porta. Cardano, Taisnier, Jean Belot e alguns outros novamente adivinharam mais do que reencontraram a ciência da psicologia; a quiromancia está ainda oculta e é com dificuldade que se enco ntram alguns traços seus na obra bastante recente e muito interessante, aliás, do cavalheiro d'Ar pentigny. Para se ter noções suficientes dessa ciência é preciso remontar às próprias fontes cabalísticas em seinspirou o sábio Cornélius Agrippa. É oportuno, pois, dizer algumas palavras a esse respeito, 107 A Chave dos Grandes Mistérios - Eliphas Levi A Chave dos Grandes Mistérios - Eliphas Levi A mão é no homem o instrumento da ação; é, como o rosto, uma espécie de síntese nervosa, e também deve ter seus traços e sua fisionomia. O caráter dos indivíduos está traçado aí em s os irrefutáveis. Assim, dentre as mãos, umas são laboriosas, outras preguiçosas; umas pesad as e quadradas, outras insinuantes e leves. As mãos duras e secas são feitas para a luta e o trabalho, as mãos macias e úmidas aspiram somente à volúpia. Os dedos pontudos são escrutadores e místic s, os dedos quadrados, matemáticos, os dedos espatulados, pertinazes e ambiciosos. O polegar, pollex, o dedo da força e do poder, corresponde no simbolismo cabalístico à primeira letra do nome de Jehovah. Esse dedo, pois, é por si só como a síntese da mão: se ele é forte, o homem é forte moralmente; se é fraco, o homem é frágil. Ele possui três falanges, das quais a pr imeira está oculta na palma da mão, como o eixo imaginário do mundo atravessa a espessura da ter ra. Essa primeira falange corresponde à vida física, a segunda à inteligência, a última à vontade. A palmas da mão gordas e espessas denotam gostos sensuais e uma, grande força física; um polega r longo, sobretudo em sua última falange, revela uma vontade forte que pode chegar ao despo tismo; polegares curtos, ao contrário, são caracteres dóceis e fáceis de dominar. As pregas naturais da mão determinam suas linhas. Essa linhas, portanto, são o traço d os hábitos, e o observador paciente saberá reconhecê-las e julgá-las. O homem cuja mão fecha-se mal é desa strado ou infeliz. A mão tem três funções principais: pegar, segurar e apalpar. As mãos mais maci as pegam e apalpam melhor; as mãos duras e fortes retêm mais tempo. Mesmo as mais leves rugas atestam as sensações habituais desse órgão. Cada dedo, aliás, tem uma função especial que lhe ocasiono nome. Já falamos do polegar; o indicador é o dedo que aponta, é o do verbo e da profec ia; o médio domina toda a mão, é o do destino; o anular é o das alianças e das honras: os quiromante s consagraram-no ao sol; o auricular é insinuante e loquaz, ao menos no dizer dos si mplórios e das amas a quem seu dedinho conta tantas coisas: a mão tem sete protuberâncias que os ca balistas, segundo as analogias naturais, atribuíram aos sete planetas: a do polegar, a Vênus; do indicador, a Júpiter; do médio, a Saturno; do anular, ao Sol; do auricular, a Mercúrio; dos dois ou tros, a Marte e à Lua. De acordo com sua forma e sua predominância, eles julgavam os atrativos, as a ptidões e, por conseguinte, os prováveis destinos dos indivíduos submetidos à sua apreciação. Não existe vício que não deixe marca, nem uma virtude que não tenha seu sinal. Além disso, para os olhos exercitados do observador, não há hipocrisia possível. Compreender-se-á que tal ciên cia já é um poder verdadeiramente sacerdotal e real. A predição dos principais acontecimentos da vida já é possível pelas numerosas probabilida des analógicas dessa observação, contudo existe uma faculdade que se designa pressentiment os ou sensitivismo. As coisas eventuais freqüentemente existem em sua causa antes de rea lizarem-se em ações, os sensitivos vêem antecipadamente os efeitos nas causas, e existiram antes de todos os grandes acontecimentos surpreendentes predições. Durante o reinado de Luís Filipe, ouv imos sonâmbulos e extáticos anunciarem a volta do Império e precisarem a data de seu advent o. A República de 1848 estava claramente anunciada na profecia de Orval, que datava no mínimo de 1830 e de que suspeitamos, bem como daquelas atribuídas aos Olivarius, ter sido obra ps eudônima de Mlle. Lenormand. Mas isso pouco importa para nossa tese. Essa luz magnética que faz prever o futuro também faz adivinhar as coisas presentes e ocultas; como é a vida universal, ela é também o agente da sensibilidade humana, transmitindo a uns os males ou asaúde dos outros, segundo a influência fatal dos contatos ou as leis da vontade. É o que explica o poder das bênçãos e dos feitiços tão claramente reconhecido pelos grandes adeptos e sobret udo pelo maravilhoso Paracelso. Um crítico judicioso e sagaz, M. Ch. Fauvety, num artigo pu blicado pela Revista Filosófica e Religiosa, aprecia de modo notável os trabalhos avançados de Para celso, Pomponace, Goglenius, Crollius e Robert Flud sobre o magnetismo. Mas o que nosso sábio amigo e colaborador estuda somente como uma curiosidade filosófica, Paracelso e os seus pr aticavam sem preocuparem-se muito em torná-lo compreensível para o mundo, pois era segundo eles, um desses segredos tradicionais para os quais o ocultismo é de rigor, e que basta indicar ao s que sabem, 108 no sono a razão não age. pois. mas sua substância natural é fluídica e coletiva. explica as correntes simpáticas que ocorrem em proximidade ou à distância. o mens divino lhe é oferecido para imortalizá-la e fazê-la viv er espiritual e individualmente. ensina que é preciso agir sobre o corpo astral para reagir sobre o corp o materialmente visível. podem também absorver-se. De fato.A Chave dos Grandes Mistérios . ocorre apenas fortuitamente e segundo os acasos das reminiscências puramente físicas. ao a r e à terra. eis o que Paracelso reservava somente para os iniciados. estamos embriagados de luz astral. É por esta última que se pode viver uns nos outros. assim a alma respira algo de i nsalubre na . como todo o rganismo nervoso com uma consciência separada. aqueles que se deixaram dominar pelos instintos da besta em prejuízo da razão humana. e que compreendemo s ao definir os caracteres cabalísticos e as alegorias de que ele faz uso na coleção de suas obras: A alma humana é material. tornamos a mergulhar na morada comum. como acontece d e modo mais completo na morte. duas vidas. voamos como os pássaros. afogam-se no oceano da vida comum com todas as angústias de uma morte eterna. rastejamos como as serpentes. isto é. Essa identidade da vida física permite às vontades mais fortes apoderarem-se da exis tência das outras e tornarem-se suas auxiliares. as idéias ou as imaginações de um podem influenciar sobre a forma do outro e reagir em seguida sobre o corpo exterior. propagar-se uns nos outros e realizar trocas.Eliphas Levi Ora. ensina também que a essência da luz astral é um duplo movimento de atração e de pr jeção. porque essa medicina tem por p rincípio a grande hipótese das analogias universais e. Vivemos da vida comum e universal no embrionato. Há no homem. e dá todo o segredo da medicina oculta. Nos sonhos. ao fogo. misturamo-nos à água. e a lógica. Assim produzem-se os fenômenos tão estranhos da influência dos olhares na gravidez. e a vida comum ou instint iva. temos a consciência da vida universal. quando é encontrada em nossos sonhos. a individual ou racional. atribuindo todos os fenômenos da vida físi ca ao agente universal. as sim a proximidade de pessoas doentes causa maus sonhos. assim como os corpos humanos atraem-se e repelem-se uns aos outros. os o utros flutuam e gozam para sempre das riquezas daquele ouro fluido que conseguiram dominar. uma vez que a alma universal. no êxtase e no sono. é a mesma para todos. escalamos como os esquilos. mas então (e é assim que Paracelso explica os mistérios da outra vi da) os maus.Eliphas Levi A Chave dos Grandes Mistérios . Aqui se compreende que abandonamos Paracelso para entrar nas conseqüências e nas apl icações de suas idéias." Para exprimir esse sistema ressurreicionista de modo que não ofenda o senso comum. Pode-se observar que nos pensionatos as crianças adquirem um pouco a fisionomia um as das outras. Jesus exprimia o mesmo pen samento quando dizia da filha de Jairo: "Esta moça não está morta. das artes ou da glória. que seria possível interromper em seu iníc io exercendo uma poderosa ação de vontade sobre o corpo astral que se desprende e chamando-o de v olta à vida por algum interesse poderoso ou alguma afeição dominante.companhia dos loucos e dos maus. e de Lázaro: "N osso amigo adormeceu e vou acordá-lo. todas as garotas parecem-se e adquirem todas essa fisi onomia obediente e apagada que caracteriza a educação ascética. está dormindo". isto é. digamos que a morte. Nos escola s de órfãs dirigidas por religiosas. Segundo os princípios cabalísticos formulados pela escola de Paracelso. e de ar triste nos seminários e nos conventos. um ar de família que lhe é próprio. é sempre precedida de uma letargia mais ou me 109 . que são simplesmente as dos antigos magos e os elementos dessa cabala fís ica que chamamos magia. tornam-se feios na prisão. a morte seri a apenas um sono cada vez mais profundo e definitivo. cada casa de educação tem. por assim dizer. as opiniões geralmente adotadas. Os homens tornam-se belos na escola do en tusiasmo. quando não há destruição ou alteração essencial dos órgãos. " Vê-se que esse texto é ainda totalmente obscuro para alguém que não conhece o valor cara cterístico de cada uma das trinta e duas vias. . mas eles sabiam equilibrar sua força por uma influência magnética que concentr avam em seuatanor. unum quodque in orbe suo. que pretendem. (As trinta e duas vias são os dez números e as v inte e duas letras hieroglíficas da Cabala. Eis a tradução do texto hebraico que transcrevemos em nosso ritual: "A trigésima primeira via chama-se inteligência perpétua e rege o sol e a lua e as out ras estrelas e figuras.A Chave dos Grandes Mistérios . quando imanta os mundos. 1642): Semita XXXI Vocatur intelligentia perpetua. ter operado a transmutação como Raimundo Lúlio. comentado pelo alquimista Abraão (Amsterdam. quando dá vida aos animais. A luz universal. É o signo cabalístico do od ou da luz a stral com seus dois pólos e seu centro equilibrado. todos. dicit: Semita trigésima prima vocatur intelligentia perpetua: et illa ducit solem et luna m et reliquas stellas et figuras. denomina-se azote. Rabbi Abraham F. cada qual em seu orbe respectivo.Eliphas Levi Voltemos agora ao segredo da pedra filosofal que demos somente em hebraico não pon tuado no Ritual da Alta Magia. Sabe-se que na linguagem dos alquimistas o sol significa o olho. D. É o que resulta dos dogmas obscuros de Basílio Valentim. utrumque in orbe sibi conveniente. que representa a lâmpad a mágica ou aluz entre os chifres de Baphomet. a prata. e aí está a metade de seu grande arcano. tal como é encontrado à página 14 4 do Sepher Yétsirah. quando forma os m etais. pois. Arnaud de Villen euve e Nicolas Flamel. et quare vocatur ita? Eo quod ducit motum solis et lunae juxta constitutionem eorum. chama-se luz astral. Bernard Trévisan e Henri Kunrath. . deve chamar-se . ou mercúrio dos sábios.Eliphas Levi A Chave dos Grandes Mistérios . e que as outras estrelas ou planetas referem-se aos outros metais. et impertit omnibus creatis juxta disposit ionem ad signa et figuras. Deve-s e compreender agora o pensamento do judeu Abraão. A trigésima primeira refere-se ao a . a lua. a eletricidade. Eis o texto completo em latim. O fogo secreto dos mestres em alquimia era. E distribui o que convém a todas as coi sas criadas segundo sua disposição nos signos e nas figuras. A luz universal é como a imaginação divina. atrai para si luz suficiente para dar as f ormas convenientes a seus pensamentos e mesmo a seus sonhos. cria as formas e as imagens. e esse mundo que muda sem cessar. O homem formula a luz por sua imaginação. se essa luz o invade. é o sonho imenso de Deus. permanec endo sempre o mesmo quanto às suas leis de configuração. O bruto sofre as fatalidades dessa luz. É a inteligência que . o homem pode dirigi-la. ao adaptar o sinal ao pensamento. se afoga seu 110 .magnetismo animal. A Chave dos Grandes Mistérios - Eliphas Levi A Chave dos Grandes Mistérios - Eliphas Levi As formas que a imaginação superexcitada produz para perturbar o entendimento são tão re ais quanto as impressões da fotografia. Não se pode ver o que não existe. Os fantasmas dos sonhos, e os próprios sonhos das pessoas acordadas, são, pois, imagens reais que existem na luz. Existem, aliás, alucinações contagiosas. Mas afirmamos aqui algo mais do que alucinações c omuns. Se as imagens atraídas pelos cérebros doentes são algo real, eles não podem projetá-las exteriormente, reais como as recebem? Essas imagens, projetadas por todo o organismo nervoso do médium, não podem afetar t odo o organismo daqueles que, deliberadamente ou não, entram em simpatia nervosa com o méd ium? Os feitos do senhor Home provam que tudo isso é possível. Agora, respondamos aos que crêem ver nesses fenômenos manifestações do outro mundo e fat os de necromancia. Tomamos nossa resposta emprestada ao livro sagrado dos cabalistas, e nisto nossa doutrina é igual à dos rabinos compiladores do Zohar. Axioma O espírito reveste-se para descer e despoja-se para subir. De fato: Por que os espíritos criados são revestidos de corpos? É que eles devem ser limitados para terem uma existência possível. Despojados de corpo e, por conseguinte, tornados sem limites, os espíritos criados se perderiam no infinito, e, por não poderem concentrar-se em algum lugar, estariam mortos e impotentes em toda a parte, porq ue estariam precipitados na imensidão de Deus. Todos os espíritos, portanto, têm corpos, uns mais delgados, outros mais espessos, s egundo os meios em que foram chamados a viver. A alma de um morto não poderia, pois, viver na atmosfera dos vivos, assim como nós não poderíamos viver na terra ou na água. Seria necessário a um espírito aéreo, ou antes, etéreo, um corpo factício semelhante aos a parelhos de mergulhadores, para que pudesse chegar até nós. Tudo o que podemos ver dos mortos são os reflexos que deixaram na luz atmosférica, l uz cujas impressões evocamos pela simpatia de nossas lembranças. As almas dos mortos estão acima de nossa atmosfera. Nosso ar respirável torna-se ter ra para eles. Foi o que o Salvador declarou em seu Evangelho, quando fez a alma de um bem-aven turado dizer: "Agora o grande caos firmou-se para nós, e os que estão no alto não podem mais descer para os que estão embaixo." 111 A Chave dos Grandes Mistérios - Eliphas Levi A Chave dos Grandes Mistérios - Eliphas Levi o doente atrai e projeta. São tocadas como são vistas: metade ilusão, metade força magnética e nervosa. A nosso ver aí estão explicações bastante claras e precisas. Raciocinemos um pouco com os partidários de aparições do outro mundo: Ou essas mãos são corpos reais. Ou são ilusões. Se são corpos, não são, portanto, espíritos. Se são ilusões produzidas por miragens, seja em nós, seja fora de nós, então vós me dais ga ho de causa. Agora, uma observação: Todos os doentes de congestão luminosa ou de sonambulismo contagioso perecem de mo rte violenta, ou pelo menos de morte súbita. É por essa razão que antigamente se atribuía ao diabo o poder de estrangular os bruxos . O bom e honesto Laváter evocava habitualmente o suposto espírito de Gablidone. Foi assassinado. Um vendedor de limonadas de Leipsick, Scroepfer, evocava imagens animadas dos mo rtos. Suicidou-se com um tiro de pistola. Sabe-se qual foi o final infeliz de Cagliostro. Apenas um mal maior que a própria morte pode salvar a vida desses experimentadores imprudentes. Podem tornar-se idiotas ou loucos, e então só não morrem se forem atentamente vigiados para impedir que se suicidem. As doenças magnéticas por si próprias são um encaminhamento para a loucura, e sempre nas cem da hipertrofia ou da atrofia do sistema nervoso. Assemelham-se ao histerismo, que é uma de suas variações, e freqüentemente são produzidas ou por excessos de celibato, ou por excessos de um gênero totalmente oposto. Sabe-se qual a relação existente entre o cérebro e os órgãos encarregados pela natureza da realização de suas obras mais nobres: as que têm por finalidade a reprodução dos seres. Não se viola impunemente o santuário da natureza. Ninguém ergue, sem arriscar a própria vida, o véu da grande Ísis. A natureza é casta, e é à castidade que ela deve as chaves da vida. Entregar-se aos amores impuros é desposar a morte. 112 A Chave dos Grandes Mistérios - Eliphas Levi A Chave dos Grandes Mistérios - Eliphas Levi Então, ao invés de sermos guiados e preservados pela razão, somos abandonados às fatalid ades do fluxo e do refluxo da luz magnética. Ora, a luz magnética devora sem cessar porque está sempre criando; para produzir con tinuamente, é preciso eternamente absorver. Daí vêm as monomanias assassinas e as tentações de suicídio. Daí vem esse espírito de perversidade que Edgar Poe descreveu de forma tão impressiona nte e tão verdadeira, e que Mirville teria razão em chamar diabo. O diabo é a vertigem da inteligência atordoada pelas oscilações do coração. É a monomania do nada, é a atração do abismo, independentemente do que isso possa ser se gundo as decisões da fé católica, apostólica e romana, em que não receamos tocar. Quanto à reprodução dos signos e dos caracteres por esse fluido universal a que chamam os luz astral, negar sua possibilidade seria importar-se pouco com os fenômenos mais comuns da na tureza. A miragem nas estepes da Rússia, os palácios da fada Morgana, as figuras impressas nat uralmente no coração das pedras que Gaffarel denomina gamahés, a configuração monstruosa de algumas cri anças proveniente dos olhares ou pesadelos das mães, todos esses fenômenos e muitos outros provam que a luz está repleta de imagens e reflexos que projeta e reproduz de acordo com as evo cações da imaginação, da lembrança ou do desejo. A alucinação não é sempre um devaneio sem objeto: de que todos vêem uma coisa, ela certamente é visível; mas, se essa coisa é absurda, deve-s e rigorosamente concluir que todos estão enganados ou alucinados por uma aparência rea l. Dizer, por exemplo, que nas sessões magnéticas do senhor Home saem das mesas mãos reai s e vivas, mãos verdadeiras, que uns vêem, que outros tocam, e pelas quais outros ainda sentemse tocados sem vê-Ias, dizer que essas mãos verdadeiramente corporais são mãos de espíritos é falar co o crianças ou como loucos, é implicar contradição nos termos. Mas reconhecer que esta ou a quela aparência, esta ou aquela sensação se produz é ser simplesmente sincero e zombar da zomb aria dos homens probos ainda quando esses homens fossem espirituosos como este ou aquele redator brincalhão do jornal. Esses fenômenos de luzes que produzem aparições mostraram-se sempre em épocas difíceis par a a O iniciado. Mas o reino da ve rdade. as portas do Templo de Jerusalém abriam-se sozinhas. os diabos retornam. sob Vespasiano. ao contrário. um a chave. mas somente para advertir os que procuram. uma tradição sublime. O dogma mágico não é aquele dos médiuns. porque tê sede de ter esperança." Ora. Como a fé pode perder-se? Como a ciência pode duvidar do infinito e da harmonia? Porque o santuário do absoluto está sempre fechado para a maioria. que é o de Deus. na época de César. uma vez que nós encontramos. o preservativo contra toda loucura. essa tradição é a alta magia. pois as almas têm necessidade de acreditar. eles certamente encontrarão.humanidade. como Vintras. uma vez que sua inspiração resulta de uma exaltação desordenada. 113 . Apenas aí encontr m-se o absoluto da ciência e a base eterna da lei. negam a autoridade hierárquica. e ouvia-se gritar : "Os deuses se vão. Os médiuns que dogmatizam só podem ensinar a anarquia. Eles sempre p revêem desastres. sofre violências e deve ser conquistado pelos fortes. essa chave. é o histerismo de uma sociedade que se entedia. o Éden da inteligência. O sentimento religioso tra nsforma-se em superstição quando a fé está perdida. Virgílio conta-nos em belos versos que. respeita antes de tudo a hierarquia. ama e cons erva a ordem. São os fantasmas da febre do mundo. quando os deuses partem. assumem a postura de soberanos pontífices . Roma estava repleta de espe ctros. e esse dogma. Existe um dogma. to da superstição e todoerro. o repouso do coração e a quietude da alm . Cor agem e esperança a estes. Não dizemos isso na esperança de convencer os que riem. como dizem os magistas. A jovem América delira.A Chave dos Grandes Mistérios . os homens sérios devem observar os fenômenos.Eliphas Levi Acabamos de ler um livro publicado sob a influência da vertigem astral e magnética e ficamos chocados com as tendências anárquicas de que ele está repleto sob uma grande aparência d e benevolência e religião. símbolo de harmonia. aliança e regularidade. propaga-se como uma peste intelectual. pois eram mortais. Conservar a razão em meio aos loucos. diz ele. a dignidade em meio aos caracteres enfraquecidos e a independência em meio aos carneiros de Panur go é de todos os milagres o mais raro. a renegarem as doutrinas. Assim. vê-se aí a vara de videira tortuosa. Eram coagulações fluídicas que se podiam destruir. estão em toda a parte. a assinatura das doutrinas que ela ensina. . tem febre. de Igreja. a fé em meio às superstições. e fugiam do gume do gládio. empusas. lêmures. com seus brotos em gavinhas. Em vez da cruz cristã. o delírio alçado à c ondição de verdade. não eram espíritos. imag ens da alucinação e da embriaguez. grandes homens que deixam a serenidade dos destinos eternos para fazer dançarem no ssos móveis e manter conosco conversas semelhantes àquelas que lhes empresta Béroalde de Verville como meio de ter sucesso. dividindo-as. Tudo isso causa piedade. Mas. Gostavam do vapor do sangue derramado. As almas dos morto s. Eram larvas.Eliphas Levi A Chave dos Grandes Mistérios . e no entanto. o mais belo e também o mais difícil de realizar. Mas a França! A França acolher semelhantes coisas! Não. No entanto. talvez esteja em sua primeira dent ição. e a cabala conhecia-os sob o nome de espíritos elementares. A teurgia evocava-os. Eis o infinito todo povoado de deuse s que entram uns nos outros. e nada mais as limita. Encabeçando a obra. na América. Capitulo IV Os fantasmas fluídicos e seus mistérios Os antigos davam-lhes diferentes nomes. permanecer cal mos em meio às agitações de todos os fanatismos (pois a incredulidade também tem o seu). ou. vê-se o signo. isso não é possível. julgar após haver examinado. As primeiras idéias formuladas nesse livro são o cúmulo do absurdo. nada mais de ensino regulamentado. oráculos que escrevem para a salvação do gênero humano a palavra atribuída a Camb ronne. e isso não é. As almas podem e querem comunicar-se conosco por meio das mesas e do s chapéus. de sacerdócio. Paracelso diz que os vapores do sangue das mulheres histéricas povoam o ar de fantasmas. emanações imperfeitas da vida humana: as tradições da magia negra as fazem nascer do celibato de Adão. e essas idéias são tão antigas que as encontramos e m Hesíodo. 114 . que defende expressamente fazer secar diante do fogo roupa branca manchada por u ma poluição qualquer. As pessoas obcecadas pelos fantasmas geralmente estão exaltadas por um celibato mu ito rigoroso.Eram espécies de miragens animadas. ou enfraquecidas por excessos de devassidão. ex iste uma fotografia acidental e fortuita que opera. São fotografia s astrais feitas pela imaginação dos médiuns com ou sem a ajuda das larvas fluídicas. e vaporou-se. o sangue escorre realmente. Ora. as pedras a que ele atribui uma virtude oculta. o soro tornou-se vapor. segundo as miragens errantes na atmos fera. A existência dessas larvas nos foi demonstrada de modo peremptório por uma experiência bastante curiosa. Assim. analisam-no. depois foi atraído para a corrente de um eletromagnetismo especificado. os embriões fluídicos errantes devem ser prodigiosamente variáveis e transformar-se co m uma surpreendente facilidade. e que lhes emprestam. sempre para desviá-los e aluciná-los mais. Várias pessoas. Vintras e Rose Tamisier não são impostores nem vítimas de alguma ilusão.Eliphas Levi Esses mediadores errantes podem ser atraídos por certos doentes que lhes são fatalme nte simpáticos. Mas não são os únicos a vê-lo. os glóbulos poeira intangível. e o s angue escorreu. esse sangue circulou em veias. Se os embriões corporais têm a propriedade de tomar as formas que lhes dá a imaginação das mães. impressões duráveis em folhas de árvores. O . dessecou-se. então. retomou e embebeu novamente os glóbulos que a luz astral coloriu. às suas expensas.Eliphas Levi A Chave dos Grandes Mistérios . pediram-lhe q ue evocasse parentes que elas alegavam ter perdido. para curá-los. refazem sangue. e que denomina gamahés. na madeira e até no coração das pedras: assim formam-se as figuras naturais a que Gaffarel consagrou várias páginas em seu livro Curiosidades Inauditas . Sua tendência a darem-se um corpo para atrair uma alma f az com que condensem e assimilem. para testar o poder mágico do americano Home. o todo flutuou e voltejou na atmosfera. O soro voltou a ser líquido. o mesmo sangue que os ma níacos alucinados vêem escorrer nos quadros e nas estátuas. é sangue. todavia. S ervem. de instrumentos suplementares para as vontades instintivas desses doentes: nunca. verdadeiro sangue humano: de onde vem? Pode te r se formado espontaneamente na atmosfera? Pode sair naturalmente de um mármore. unia t ela pintada ou uma hóstia? Não. assim traçam-se as escri turas e os desenhos que tanto surpreendem os observadores dos fenômenos fluídicos. as moléculas corporais que flutuam na atmosfe ra. A fotografia é prova suficiente de que as imagens são modificações reais da luz. depois propagou-se. naturalmente.A Chave dos Grandes Mistérios . uma existência factícia mais ou menos durável. médi cos examinam-no. ao coagularem o vapor do sangue. certamente. mas que na realidade jamais existiram. por manifestações tolas e inúteis . Não há nisso nada de sobrenatural nem de infern l. acreditamos na existência dos espíritos das trevas. que se produzem à revelia dos médiuns. e demônios não seriam tão facilmente enganados por nossas mistificações. "que Satã ousa imprimir seus hediondos estigmas nas espécies consagradas e tornadas o própr io corpo de 115 . Para que mortos retornem. Se os demônios nos tentam é pela cumplicidade voluntária de nossas paixões más. a ordem eterna da natureza. e não lhes é permitido afrontar o império de Deus e perturbar. Os caracteres e assinaturas diabólicos.s espectros não faltaram a esse apelo. A natureza também tem suas reminiscências e envia-nos os mesmos signos com relação às mesmas idéias. Essa experiência por si só bastaria para convencer de credulidade deplorável e de erro formal os que crêem na intervenção dos espíritos nesses fenômenos estranhos. mas sabem os também que o poder divino lhes deu as trevas por prisão eterna e que o Redentor viu Satã ca ir do céu como um raio. Como todos os católicos. dizia-nos o pároco Charvoz. "Como quer o senhor que eu admita". é reciso antes de mais nada que tenham existido. primeiro vigário de Vintras. Esses signos serviram em todos os tempos para exprimir a vertigem astral e permanecera m no estado de miragem nos reflexos da luz extraviada. e os fenômenos que habitualmente seguiam-se à evocação do médium manifestaram-se plenamente. evident emente não são provas de um pacto tácito ou formal entre esses doentes e as inteligências do abis mo. nos lábios militares de Cambronne. no princípio disformes e semelhantes a larvas. igualmente absurdo. Logo. apresenta as duplas características de uma miragem e de uma projeção repentina de larvas astrais. segundo dizem. O doutor Brière de Boismont. Um grupo de peregrinos japoneses. O macaco estava lá perfeitamente idêntico àqu ele do pesadelo. que o pálido vadio. Acordou sobressaltado. ob servando esse singular fenômeno e perguntando-se se estava com febre alta ou se estava fica . desenha assoviando ao long o dos muros de Paris. deslizando em si lêncio por entre as fileiras. que o espírito não preside de nenhum m odo a essas manifestações e que seria soberbamente absurdo reconhecer aí sobretudo a intervenção dos e spíritos desligados da matéria. O personagem em questão não podia acreditar em seus olhos. atravessando um dia um deserto. igualmente assustador e fazendo as mesmas caretas. Viu em seu quarto um macaco enorme. Quando os peregrinos se levantaram. tomavam ao se aproximarem a aparência do corpo humano. Esse fenômeno. Os desenhos que o s lápis traçam por si sós reproduzem com freqüência essas figuras priápicas informes. horrendo. então os japoneses viram-se duplos. que não colocamos em dúvida. interrogados sobre os maiores mistérios da natureza. Os japoneses aterrorizados prosternaram-se . viu aproximar-se um bando de espectros em igual número ao seu e que caminhava no mesmo passo. permaneceu cerca de meia hora imóvel. encontraram os peregrinos e misturaram-se a eles. era dia claro. nar ra um caso muito interessante. e o bonzo que os conduzia pôs-se a orar por eles com grandes contorsões e em altos brados. O jesuíta Paul Saufidius. Esses espectros. e que jamais tivera visões. para servirmo-nos da pitoresca expressão de Augusto Barbier. conta que um home m perfeitamente sensato. foi atormentado uma manhã por um terrível pesadelo. isto é.Eliphas Levi As escrituras astrais são freqüentemente ridículas ou obscenas. Os pretensos espíritos. prova recente do que adiantamos. que escreveu sobre os usos e costumes dos japoneses. os fantasmas haviam desaparecido e o grupo devoto pôde continuar li vremente seu caminho. em seu curioso Tratado das Alucinações. respondem muitas vezes com uma expressão gro sseira tornada heróica. ocasionadas pelo calor da atm osfera e esgotamento fanático dos peregrinos. saltou da cama e ficou apavorado ao ver realmente o medonho objeto de seu sonho. que rangia os dentes e f azia as mais hediondas contorsões.Eliphas Levi A Chave dos Grandes Mistérios .A Chave dos Grandes Mistérios . tendo cada fantasma se tornado a imagem perfeita e como que a miragem de cada peregrino. Aproximou-se. A notícia desse prodígio espalhou-se. acredita-se num milagre mais extraordinário do que foi outrora a travessia do mar Vermelho. os fantasmas da superstição projetam sua dis formidade real na luz astral e vivem dos próprios terrores que os conceberam. e a alucinação só s extinguiu com a vida da maioria desses infelizes visionários. e dizendo isso ocultamos ainda metade de nosso 116 . Esse gigante n egro que estende suas asas do oriente ao ocidente para ocultar ao mundo a luz. Os judeus formam-se em colunas cerradas e correm em direção ao mar. no dizer do cronista. do fantástico animal para tocá-lo e a aparição dissipou-se. a maravilhosa aparição: eram em número de vinte mil. Cornelius Gemma. Em nosso Dogma e Ritual da Alta Magia. trazia na fronte seus chifres lumi nosos. o diabo. conta que em 454. esse monstro que d evora as almas. numa palavra. enfim.ndo louco. par a uma multidão de crianças de todas as idades. e convidava-os a segui-lo apontando-lhes o horizonte na direção da Terra Santa. que supomos ter exagerado um pouco. Foi um terrível desastre: essa multidão quase toda afogou-se. O pensamento humano cria o que imagina. representamo-lo como a sombra de Deus. na ilha de Cre ta. Todos viram. na mão sua vara fulminante. Logo as cabeças esquentam-s e. essa aterrorizante divindade da ignorância e do medo. ainda é. as imaginações exaltam-se. e uma multidão de israelitas precipitou-se em direção à margem. o fantasma de Moisés apareceu para alguns judeus na praia. ou imaginaram ter visto. em sua História Crítica Universal. os últimos empurravam os primeiros com frenesi: acreditavam ver o suposto Moisés caminh ando sobre as águas. uma aterradora realidade. o fantasma do que não tem corpo. é muito difícil de se imaginar! Assim. em conformi dade com a ciência do verdadeiro. A experiência é a ciência. a educação da vontade do homem. é preciso nele crer e adorá-lo. espiritualmente. sem morrer ao menos em inteligência e em razão. a experiência e a hipótese. o infinito intelectual. Nosso espírito deve calar-se diante dele e apenas nosso coração tem direito a dar-lhe um nome: Pai nosso! LIVRO II Os Mistérios Mágicos Capítulo I Teoria da vontade A vida humana e suas dificuldades incontáveis têm por finalidade.A Chave dos Grandes Mistérios . é improvável o absurda quando é rejeitada por esse ensinamento. puramente. Aquele que é essencialmente. não sendo nem o ser absoluto. O homem chega à idéia absoluta do ser por duas vias. essa personificação finita do infinito. A verdade é a história idêntica ao ser. nem um ser abstrato. esse espectro antropomórfico que se to rna maliciosamente invisível.Eliphas Levi A Chave dos Grandes Mistérios . A justiça é a prática da razão. pois que para ver o invi sível é preciso estar louco. toda imaginação a seu respe ito é uma idolatria. 117 . A razão é o verbo da realidade. esse invisível que não s e pode ver sem morrer. A hipótese é provável quando é solicitada pelos ensinamentos da experiência.Eliphas Levi O fantasma de Deus! Esse último ídolo da terra. A dignidade do homem consiste em fazer o que quer e em querer o bem. numa palav ra. O bem conforme ao verdadeiro é o justo. nem a coleção dos seres. A realidade é a ciência da verdade. e a hipótese é a fé. na ordem da sabedo ria eterna. a forma confusa que é sem formas e sem limites: eis o que adora sem saber a maioria dos crentes. quando declarava absurda toda hi pótese da fé e admitia por regra da razão apenas o testemunho dos sentidos.A Chave dos Grandes Mistérios . como a entend ia a escola de Voltaire. libertan do-se das más paixões e de sua servidão. por divisa e repetiremos sem contradição e sem erro: Deus e a Liberdade Como só há liberdade para o homem na ordem que resulta do verdadeiro e do bem. o que exclui toda idéia de Deus. pela razão. um mestre supremo: o que exclui toda idéia de liberdade. A palavra DEUS exprime a personificação suprema da lei e. assim. AXIOMA III Querer o bem com violência é querer o mal. AXIOMA IV 118 . as últimas palavras de Voltaire foram esta fórmula contraditória: Deus e a Liberdade Deus. tomarem os. isto é. e .Eliphas Levi A Chave dos Grandes Mistérios . de nossa parte. Uma vontade perversa é um começo de suicídio. uma independência absoluta de todo mestre. AXIOMA II Querer o mal é querer a morte. Assim. de certo modo cria-se a si próprio uma segunda vez. o representante da divindade na terra e exerce relativamente sua onipotência. do dever. E a liberdade. por conseguinte. isto é. pois a violência produz a desordem. Pascal morreu louco. o homem não pode cheg ar ao conhecimento de nenhuma verdade. A natur eza fizera-o vivo e sofredor. se pela palavra LIBERDADE se quiser entender conosco O DIREITO DE FAZER O DEVER. e a des ordem produz o mal. Assim. ele se faz feliz e imortal.Eliphas Levi Pascal blasfemava contra a ciência quando disse que. AXIOMA I Nada resiste à vontade do homem quando ele sabe o verdadeiro e quer o bem. Mas Voltaire não blasfemava menos contra a ciência. torna-se. podese dizer que a conquista da liberdade é o grande trabalho da alma humana. O homem. . é reprovada pela eterna razão. põe no mundo vampiros. AXIOMA VII Quanto mais a vontade supera obstáculos. sem nunca saciá-los. AXIOMA VI Passar a vida querendo o que é impossível possuir.A Chave dos Grandes Mistérios . sua inteligência e sua razão. queima os que dela abusam.Eliphas Levi AXIOMA V Para se ter direito de possuir. que são sóis abortados. AXIOMA X É pela vontade que a inteligência vê. sua vida. e será preciso alimentar esses fi lhos de um pesadelo voluntário com seu sangue. AXIOMA XV As grandes inteligências cuja vontade equilibra-se mal assemelham-se aos cometas. vontade é sã. Deus disse: Que a a luz! e a luz é. a visão é justa. a vontade disse: Que o mundo seja como eu o quero ver! e a inteligência o vê como a vontade quis. que confirma os atos de fé. AXIOMA VIII Quando a vontade é consagrada ao absurdo. sempre é preciso querer pacientemente e por muito tempo. AXIOMA XIV O império do mundo é o império da luz. AXIOMA XII Afirmar e querer o que deve ser é criar. sempre é abdicar da vida e aceitar a eternidade da morte. AXIOMA XI Quando alguém cria fantasmas. AXIOMA IX A vontade do homem justo é a vontade do próprio Deus. afirmar e querer o que não deve ser é destrui r. e é a lei da natureza. AXIOMA XVI . É por isso que Cristo gl orificou a pobreza e a dor. Se a. É o que significa a expressão assim seja. mais se fortalece. AXIOMA XIII A luz é um fogo elétrico colocado pela natureza a serviço da vontade: ilumina os que d ela sabem servir-se.Eliphas Levi A Chave dos Grandes Mistérios . 119 . por sua vez.Eliphas Levi A Chave dos Grandes Mistérios . AXIOMA XXII Antes de declarar um homem feliz ou infeliz. Pergunta-se se o homem algumas vezes pode ser necessariamente impelido para o ma l. sabei como o fez a direção de sua vonta de: Tibério morria todos os dias em Capri. e ela se tornará até mais do que um prazer. e o leão vos temerá. AXIOMA XX Consegui não temer o leão.Eliphas Levi AXIOMA XVII Sofrer é trabalhar. AXIOMA XIX O medo é apenas uma preguiça da vontade. Dizei à dor: Quero que tu sejas um prazer. é a apoteose da vontade. AXIOMA XXI Uma corrente de ferro é mais fácil de quebrar que uma corrente de flores. AXIOMA XVIII A morte voluntária por abnegação não é um suicídio. enquanto Jesus provava sua imortalidade e sua div indade no Calvário e na cruz. uma felicidade. por conseguinte. 120 . quando ele tem o julgamento falso e. e é por isso que a opinião desencoraja os covar des.A Chave dos Grandes Mistérios . o verbo injusto. Mas alguém é tão responsável por um julgamento falso como por uma má ação. O que falseia o julgamento são as vaidades injustas do egoísmo. Os que sofrem m uito vivem mais do que os que não sofrem. Sim. Capítulo II O poder da palavra É o verbo que cria as formas. reagem sobre o verbo para modificá-lo e terminá-lo. Uma grande dor sofrida é um progresso realizado. e as formas. Toda palavra de verdade é o começo de um ato de justiça. os homens de iniciativa. Uma palavra verdadeira é sempre bela. O arado necessita de uma terra e a terra resiste porque trabalha. uma bela palavra é sempre verdadeira.Eliphas Levi Se pudesse permanecer sem ação seria a maior de todas as desordens. Tal é a palavra ociosa da qual Cristo disse que se prestará conta no juizo final. Porém. Que a contradição nu nca desencoraje. do sarcasmo. uma blasfêmia dura doura contra a verdade. depois aquela ainda bem mais cruel da indiferença e do esquecimento. Não há maus livros senão os livros malpensados ou malfeitos. Aprende-se o mal nos livros de moral tolamente escritos. para tornar-se eficaz. A beleza da palavra é um esplendor de verdade. por causa da beleza da forma. é preciso uma sombra para que a mais brilhante luz produza-se e torne-se visíve l. necessita de contraditores. É por isso que as obras de arte são sempre santas quando são belas. "É preciso". Que me importa que Anacreonte cante Batylle. É uma luz formulada em palavra. bem mais do que nas poe sias de Catulo ou nas engenhosas alegorias de Apuleio. É preci so que suporte a prova danegação. Um gracejo. É a necessidade que deve constranger os t rabalhadores a escolherem por pedra angular a que inicialmente fora desconhecida e rejeitada. apalavra real e progressiva. dizia o Mestre. Todo verbo de beleza é um verbo de verdade. Ela . Ai daquele que quisesse erguer o véu para perceber fealdades.Eliphas Levi A Chave dos Grandes Mistérios . uma tolice que recreia e que faz rir não é uma palavra ociosa." O verbo que afirma e a palavra que nega devem casar-se. ouço as notas da divina harmonia que é o hino eterno da beleza? A poesia é pura como o sol: ela estende seu véu de luz sobre os erros da humanidade. e de sua união nascerá a ver dade prática. se. Uma estátua de Nero ou de Heliogábalo feita como as obras-primas de Fídias não seria uma obra absolutamente bela e absolutamente boa? E os que gostariam de vê-la destruída por re presentar um monstro não mereceriam as vaias do mundo inteiro? As estátuas escandalosas são as estátuas malfeitas. "que o grão apodreça para germinar. e a Vênus de Milo seria profanada se fosse exposta ao lado das Virgens que ousam expor em algumas igrejas. mesmo obscenos.A Chave dos Grandes Mistérios . pois. em seus versos. O Concílio de Trento disse que é permitido às pessoas sábias e prudentes lerem os livros dos antigos. e apalavra criadora. compreendei e respeitai a s resistências pudibundas da experiência limitada e da razão tardia. necessita de laços e cueiros. o esquecimento para ela é um repouso favorável e as contradições são uma cultura. Uma única fagulha de luz fixa promete ao e spaço um universo. Vós. que quereis semear uma planta nova no campo da inteligência. foi o gênio que a concebeu. Quando uma palavra nova vem ao mundo.defende-se como todas as virgens. mas é a experiência que deve alimentá-la. Com o nome de Jod he van he domina -se: os reinos 121 . Quando um sol desponta no espaço. e essa palavra. da terra e do inferno. concebe e dá à luz lentamente como todas as mães. cria ou atrai mundos. pronunciada cabalisticamente. Não receeis que seja desamparada e morra. pois. Toda a magia está numa palavra. é mais forte que todos os poderes do céu. Mas o homem armado de semelhan te fé poderá remover montanhas. o inferno é um fogo que dorme. É pela devoção absoluta que a fé se prova e se constitui. Que combates de gigantes! Quantos erros experimentados e rechaçados! Quanto cristianismo desiludido e irrita do no fundo do protesto. ous ai prever quanto ainda correrá antes que se chegue ao reino messiânico do Homem-Deus. do sal e do amargor das lágri mas. necessitam das tormentas do céu e da agitação das tempestades. amotinou sucessivamente todas as suas estupidezes.Eliphas Levi Para pronunciar segundo a ciência as grandes palavras da Cabala. a fortuna e a vida.Eliphas Levi A Chave dos Grandes Mistérios . Segundo a magnífica e terrível expressão de São João. A inteligência fala e a matéria agita-se. Revestiram o Salvad or do mundo com todos os andrajos e todas as púrpuras derrisórias: depois de Jesus o Inquisidor. com todas as forças a ponto de expor a saúde. termina com atos. Se fordes capaz. queremos ser carregados. é enxofre em estagnação: stagnum ignis et sulphuris. Quando. desesperado com suas derrotas.A Chave dos Grandes Mistérios . ao invés de caminharmos na rota do progresso. para conservarem-se. a ponto de por isso ferir as mais caras afeições. Em magia ter dito é ter feito. o verbo começa com letras. que subj uga ao mesmo tempo todas as paixões aos poderes e todos os poderes à justiça! ADVENIAT REGNUM TUUM! Eis o que setecentos milhões de vozes repetem noite e dia em toda . As faculdades da alma humana são como as ondas do oceano: necessitam. est amos dormindo nos braços da morte. O inimigo mais fatal de nossas almas é a preguiça. mas o sono da inércia é a corrupção e a morte. é para nós que é dito. medi quantas lágrimas e quanto sangue correram. com uma atividade que nada rejeite. fez -se o Jesus Revolucionário. É uma a sem atividade e sem progresso. A vida que dorme é análoga à palavra ociosa e é disso que os homens terão de prestar conta s no dia do juízo final. desde o século XVI até o século XVIII! O egoísmo humano. só descansará depois de ter tomado a forma dad a pela palavra. Vede o verbo cristão há dezenove séculos trabalhando o mundo. como ao paralítico do Evangelho: Carregai voss a cama e andai! Somos nós que devemos carregar a morte para precipitá-la na vida. A inércia possui uma embriaguez que nos adormece. é preciso pronunciá-l as com uma inteligência inteira. com uma vontade que nada detenha. Só se quer re almente algo quando se quer com todo o coração. abjurará do inferno do egoísmo para entrar no céu da abnegação e da caridad e cristã. há quase mil e novecentos anos. É que a harmonia é a verdade. INFERNO É O CONFLITO DOS INSTINTOS COVARDES. tiver compree ndido bem essa dupla verdade. a poder de experiências sangrentas e dolorosas. Quando a humanidade. e prometeu retornar para vive r. enquanto os israelitas contin uam a esperar o Messias. e ele voltará. CÉU É A HARMONIA DOS SENTIMENTOS GENEROSOS. Ele falou. A lira de Orfeu desbravou a Grécia selvagem. e a lira de Anfião construiu a misterio sa Tebas.a superfície da terra. A natureza inteira é harmonia. veio para morrer. mas o Evangelho não é uma lira: é o livro dos 122 . Existem pessoas perto de quem sentimo-nos melhores. mas sua fala é malévola. quando fala sobre virtude poderia provocar o amor ao vício. igualdade. suas máximas são desoladoras . senti-vos cheio de amor por tudo o que é belo. são. pois são imbecis e covardes. as ações mais vãs que caridosas e poder-se-ia dizer após a ter encontrado na igreja: Vi o d iabo orando a Deus. a feta a mais rígida devoção e se escandalizaria ao ouvir os anjos cantarem. maus. tudo nela é melhor e mais perfeito? Nada mais natural que sua distinção. por que. suas ações são fáceis e inimitáveis como a bela música e os belo ersos. razão. P ara ela Deus é um marido ciumento que ela tem o grande mérito de não enganar. nada mais franco e mais nobremente despretensio so que sua conversa.A Chave dos Grandes Mistérios . prende-os e os instrui. mas eles são impossíveis perto dela.Eliphas Levi Enquanto o mundo não compreender estas três palavras: verdade. será apenas uma tríplice mentira. os que permanecem neutros traem igualmente os d ois lados e renunciam ao direito de serem contados dentre os filhos da pátria. sociedade. a divisa revolucionária. Perto dela tudo deve achar-se à vontade. por tudo o qu e é bom e generoso. Os homens inteligentes e bons são.Eliphas Levi A Chave dos Grandes Mistérios . O combat e da vida assemelha-se a uma guerra civil. Ela não encontra os corações. sem saberem. é mais graciosa que a graça. Vede ao contrário esta outra mulher. os médicos da humanidade. justiça. Vede esta jovem senhora da a lta sociedade. Estais feliz por lhe terdes dito tudo o que ela vos inspirou de bem e . liberdade. ri. Todos nós respiramos a vida dos outros e de algum modo insuflamo-lhes uma parte de nossa existência. Era dela que uma encantadora mundana. Capítulo III As influências misteriosas Não há meio-termo possível. dizia depois d e um baile: Pareceu-me ver a Sagrada Bíblia em movimento. os mornos não são bon . encanta. não embriaga . exceto os maus sentimentos. se u olhar é altivo e desdenhoso. muito amiga para ser rival. os homens tolos e maus são envenenadores públicos. Os indiferentes. Todo homem é bom ou mau. e os piores de todos os maus. então. e estas: dever. Ao deixar a primeira. fraternidade . O que toda sua pessoa prega parece ser uma perfeição mais aprazível do que a própria vir tude. hierarquia. ela conversa. adorna-se como todas as outras. pois. dizei-vos que a vida é boa. ficais descontente com ela e convosco mesmo. estais cheio de coragem e de esperança. vos faz duvidar da honra. uma vez que foi dada por Deus a semelhantes almas. rejeitado. perto dela só escapais ao tédio pela porta dos maus desejos. A outra vos deixa enfraquecido. o que é pior. diminuíste-vos para adular seu orgulho. 123 . Falastes mal de alguém para agradá-la. e é precisamente o que os antigos escritores ascéticos chamava m graça do discernimento dos espíritos. ou tal vez.por terdes sido por ela aprovado. estimulado a fazer o mal. da piedade e do dever. O sentimento vivo e certo dessas diversas influências é próprio dos espíritos justos e d as consciências delicadas. Repousamo-nos pela proteção dos cansaços da admiração. quando se tratasse de estabelecer a sucessão temporal de Jesus Cristo. todos os movimentos. o Evangelho é um guia seguro. Preferimos dar ao vício. que na linguagem das bestas chama-se vida real.Eliphas Levi Espera e trabalha. isto é. desesp era e morre. Nosso coração gosta dos contrastes. foi perguntado a out ro." "Oh! certamente já conheceis algu ns. sentivos menos amigo do bem e menos forte. absorver e irradiar. O homem. mas por vezes também as naturezas sublimes surpreendem-se em caprichos de vulgaridade. e não lhe dão o que lhe cabe. se não os conheceis?" "Dou-lhes minha admiração e minha estima. é a sombra de um Deus no corpo de um animal: existem os amigos do an jo e os complacentes para com o animal. e muitas pessoas. nada lhe deve." "Apresente-os a mim. Se. t al homem célebre não tivesse escandalosamente mendigado a riqueza. é a b esta que nos leva: ela deve mesmo fatalmente levar-nos quando se trata de asneiras. Tenho . ao deixá-la. nos sa bolsa. O anjo atrai-nos. "Mas o que lhes dais. disse Juvenal. ele é tão pobre! "Não gosto dos mendigos e dou apenas aos pobres vergonhosos". eis o que o inferno nos grita em todas as palavras. é a lei do equilíbrio. por exemplo. talvez dê-lhes também. alternadamente. Em religião. alguém teria pensado em reco mpensar sua velha musa? Alguma herança lhe teria caído do céu? A virtude toma nossa admiração.A Chave dos Grandes Mistérios . essa grande dama é bastante rica sem nós. mas. Qualquer que seja a reputação de uma pessoa e quaisquer que sejam os testemunhos de amizade que ela vos dá. se.Eliphas Levi A Chave dos Grandes Mistérios . eis o que o céu nos diz pela voz de todas as boas almas. das satisfações desta vida nutriz da morte. Nossa dupla imantação produz em nós duas espécies de simpatias. se não tomamos cuidado. o mesmo não sendo em negócios." "Como necessitais de tanto dinheiro". se entenderiam melhor com Judas I scariotes do que com São Pedro. disse o abade Gerbet. dizia um homem intel igente. "se não tendes filhos nem encargos?" "Tenho meus pobres vergonhosos a quem não me posso impedir d e dar muito. todas as amiz ades e todos os afagos dos seres imperfeitos ou degradados. Temos necessidade de. e não p reciso conhecê-los para isso. portanto. Admiram a probidade. e existem p oucos exemplos de mulheres que tenham amado sucessivamente dois gênios. ela é pernicio sa para vós: evitai-a. Toma.. 124 ." "Ah! isso é mau. e não mendiga!"." "Meu amigo. dai-me cinco francos. na Inglaterra e em outros lugares. agir como um per feito cavalheiro. preciso de um milhão de escudos para seduzir uma mulher honesta. "O homem honrado sem trabalho rouba. o oitavo é o jogo. talvez o célebre ladrão e o grande general tenham ambos respondido do mes mo modo." "Senhor. e um oitavo que come mais do que os outros sete: os sete são os sete pecados capitais. e.sete deles. nutriz de teu suicídio! Qu eres um prêmio pela miséria? Por quem me tomas? Acaso sou um traste da tua espécie." "Imbecil! estás morrendo d e fome e queres que te encoraje a prosseguir em tão mau caminho! Morres de fome e tens a im prudência de confessá-lo! Queres tornar-me cúmplice de tua incapacidade.. É enfático como a palavra emprestada a Cambronne . e quando tiveres conseguido dá-me o ender eço dessa pessoa. que comem excessivamente. na realidade." Eis o que se chama. estou morrendo de fome. respondeu um dia Cartouche a umtranseunte que lhe pedia esmola. mas não sei recusar nada a um amigo. sujeitando-nos aos perigos. resistir-lhes por orgulho. Apossaram-se de nosso ascendente. tornada sua atmosfera eletromagnética: assim. pela audácia de Cartouche. Mas que pode haver de mai s perigoso para nós que nossos cúmplices hipócritas e ocultos? Seguem-nos como o desgosto. tornaram-se servas-senhoras. Nossas paixões. . Respiramos nossos pensamentos e aspiramos os dos outros impressos na luz astral. como diz Paracelso. esperam-nos c omo o abismo. os aprovamos estamos loucos como eles. a companhia dos maus é menos funesta para as pesso as de bem do que a dos seres vulgares. poi s fizemo-nos seus servidores. covardes e mornos. Ajudar nossos semelhantes é ajudar a nós mesmos . diminuídos de c rto modo e tornados quase amáveis. habituamo-nos à sua lógica excepciona l e transviada. os justificamos para justificarmo-nos e os supor tamos em seguida porque é preciso. os defendemos para defendermo-nos. porqu e não desejamos isso. Uma forte antipatia adverte-nos fac ilmente e salva-nos do contato com os vícios grosseiros. saberemo s. e os complacente s para com nossas paixões são valetes que se tornaram nossos mestres. Todos admiramos e amamos São Vicente de Paulo. mas tem tudo a recear das seduções de uma doidivanas. Nós os amamos. e onde quiserem conduzir-n os iremos. Mas acima da assistência mútua eleva-se uma lei maior e mais santa: é a assistência universa l. é a caridade. envolvem-nos como a vertigem.Eliphas Levi A Chave dos Grandes Mistérios . sobretudo. Nós os desculpamos para desculparmo-nos. pela presença de espírito e. Os cúmplices confessos de nossas paixões podem repugnar-nos humilhando-nos. São nossos maus anjos. porque não temos força para resistir a nossas inclinações. Entramos pouco a pouco em seu círculo de idéias.A Chave dos Grandes Mistérios . chegamos a pensar que não são tão loucos quanto acreditávamos no início. sabemo-lo no fundo de nossa consciência. mas os poupamos. chegamos a compre ender seus exageros compartilhando seus entusiasmos. mas quase todos temos também um fraco secreto pela habilidade. Uma mulher honesta sentirá apenas repulsa em companhi a de uma moça perdida. mas os loucos são mais particularmente perigosos quando são amáveis e simpáticos. Daí a acreditar que são os únicos a ter razão não há muita distância. Sabemos que a loucura é contagiosa. aduladas e poupadas. a fim de que eles também nos sirvam. não é assim com os vícios disfarçados.Eliphas Levi A assistência mútua é uma lei da natureza. 125 . A especialidade equilibrante do mediador plástico de cada pessoa é o que Paracelso c hama seu ascendente. e denomina flagum ao reflexo particular das idéias habituais de cada u m na luz universal. mas as simpatias são fatais e muito freqüentemente desarrazoadas. equilibrando-se depois. quando se quer apoderar-se do outro e dominá-lo. os fluidos repeliam-se no início. Chega-se ao conhecimento do ascendente de uma pessoa pela adivinhação sensitiva do f lagum. e agem sobre os homens do mesmo modo que sobre os animais.As afeições são livres e podem ser racionalizadas. e por um direcionamento perseverante da vontade vira-se o lado ativo do próprio ascenden te para o lado passivo do ascendente do outro. dependem das atrações mais ou menos equilibradas da luz magnética. Freqüentemente. Divertiremo-nos tolam ente com uma pessoa que nada tem de amável porque estamos misteriosamente atraídos e dominado s por ela. que o chamaram turbilhão. essas simpatias estranhas começaram por vivas antipatias. O ascendente astral foi adivinhado por outros magistas. Na Normandia. mas em sua própria pessoa. há alguns anos. que vivem no isolamento e na privação de toda comunicação humana e que estão diariamente em relação fluídica com animais reunidos em gran e número. não em aparência fluídica. Cideville é um pequeno vilarejo da Normandia onde. diz ele. "Com cert eza não temos duas almas". Trata-se de um pastor. tal como o concebem. cuja forma fluídica infestava um presbi tério e que foi ferido à distância pelos golpes desfechados à sua larva astral. quer voluntariamente. produziram-se fenôm enos semelhantes aos que se produziram. a verdadei a chave das evocações e das comunicações com a alma fluídica da terra. Aqui perguntaremos aos senhores Mirville e Gougenot Desmousseaux se eles tomam e sse pastor pelo diabo e se. pode ser arr anhado ou ferido." Com efeito.Eliphas Levi Essa revelação do grande mestre da medicina oculta lança uma enorme luz sobre todos os fenômenos do sonambulismo e da adivinhação. e. Aquelas. tudo o que ele conta pareceria provar essa hipótese. até então. depois. segundo se diz. de uma corr ente de luz astral desviada. para quem souber encontrá-la. como estão normalmente os pastores. esses estão possuídos pelo demônio a que se denomina legião. Mirvil le estudou-os cuidadosamente e Gougenot Desmousseaux repetiu todos seus detalhes num livro pub licado em 1854 e intitulado: Costumes e Práticas dos Demônios.Eliphas Levi A Chave dos Grandes Mistérios . por exemplo. "mas talvez tenhamos dois corpos. convenh um singular gênero de exorcismo! Se realmente essas violências aconteceram. quase não eram conhecidas as doenças magnéticas dos médiuns e o in eliz sonâmbulo. reinam despoticamente sobre as almas fluídicas dos rebanhos confiados à sua guarda: desse modo sua benevolência ou sua malevolência faz prosperar ou morrer o rebanho. Aí está. e se são i mputáveis a . de perto ou à distância. quer sem saberem. pelo próprio pároco. sob a influência do senhor Home. O que há de notável nesse último auto r é que ele parece adivinhar a existência do mediador plástico ou do corpo fluídico. Aí está. Assim explicam-se os encantamentos operados habitualmente pelos pastores e os fe nômenos ainda muito recentes do presbitério de Cideville. também. por sua vez. As pessoas cuja influência perigosa se faz sentir num único contato são as que fazem p arte de uma associação fluídica.A Chave dos Grandes Mistérios . podem exercer essa influência de simpatia animal sobre mediadores plásticos humanos mal defendidos por uma vontade fraca ou uma inteligência limitada. que fora preciso tratar e curar. foi rudemente maltratado e até agredido. ou que dispõem. o diabo. nos são possíveis na terra: uma fatal. 126 . Sem dúvida. portanto. Duas existências diferentes. muito bom e respeitáve l. credulidade à parte. a outra livre . O ser fatal é o joguete ou o instrumento de uma força que ele não dirige: ora. os seres ve rdadeiramente libertos não temem nem as bruxarias nem as influências misteriosas. Dir-nos-ão que o encontro de Caim pode ser fatal para Abel. é uma infelicidade apenas para o assassino. As leis da vida física são inexoráveis e. o mais forte destrói ou domina o mais fraco. mas semelhan te fatalidade é uma felicidade para a santa e pura vítima. e é à custa de lutas contra os instintos que ele pode conquistar a liber dade moral. em sua natureza animal. o homem nasce escrav o da fatalidade. reconheçamos que escritores como Mirville e Gougenot Desmousseaux tornam-se de cer to modo seus cúmplices. quando os instrumento s da fatalidade se encontram e se chocam.um eclesiástico que dizem. e que pode ser. Girondinos e Montanh eses fatalmente mataram-se uns aos outros e suas mortes violentas foram apenas catástrofes necessári as. Tráseas. eles são poupados. Mas era impossível uma transação entre a ordem e a desordem. a liberdade conquistada compra o impér io do mundo. e a Revolução reabilitou Luís XVI ao assassiná-lo. seria ele ou seus vigias q uem deveria prestar contas? Todo aquele que se liberta dos erros comuns deve pagar um resgat e proporcional à soma desses erros: Sócrates responde por Anito. Mas.Eliphas Levi A Chave dos Grandes Mistérios . elas devem trabalhar para eles.A Chave dos Grandes Mistérios . Sêneca. porque eles respondem por ela s. Robespierre e Marat haviam feito o que deviam fazer. é a ela que compete ligar ou desligar: Deus entregou-lhe as chaves do céu e do infer no. e Jesus teve que sofrer um suplício que se igualou em horrores a toda a traição de Judas.Eliphas Levi Nero era cúmplice de todo o povo romano e os únicos responsáveis pela fúria desse monstr o eram os que a deveriam ter impedido. quereis que elas vos devorem. Se um dos ursos do Jardim Zoológico escapasse e devorasse algumas pessoas. quando o cego conduz os cegos. Homens que abandonais as bestas a si mesmas. Após ta tas concessões. O princípio da realeza devia cair se esse príncipe demasiado fra co tivesse sido absoluto. esse homem sagrado uma segunda vez pela d esgraça pôde ao menos dizer. ao subir ao cadafalso: a Revolução está julgada. quando a besta governa as bestas. fraquezas. É assim que. Não se herda dos que são assassinados. quando o h omem fatal governa as massas fatais. houve nessa época apenas um grande e legítimo suplício. ser mau é sofrer por si mesmo sem conquistar a vida. Burro. eis os verdadeiros culp ados desse reino terrível: grandes homens egoístas ou incapazes! Souberam apenas morrer. ao pagar as dívidas da fatalidade. agir mal e morrer eternamente. As multidões escravas da fatalidade só podem gozar da liberdade pela obediência absolu ta à vontade dos homens livres. indignas vilezas. A partir desse momento todos os crimes da Revolução pesaram unicamente sobre ele. mas é viver. Ao admitir os dogmas anárquicos de 89. verdadeiram ente expiatório: o do rei. apenas ele faltar a a seu dever. o que se deve esperar? Terríveis catástrofes. Corbulão. verdadeiramente sagrado. e eu continuo sendo o rei da França! Ser justo é sofrer por todos os que não o são. e elas nunca faltarão. Luís XVI lançara o Estado num declive fatal. . é enganar-se. Esse poder oculto não é senão demasiado real. Capítulo IV Mistérios da perversidade 127 . Conforme sejamos mais fracos ou mais fortes na vida. mas a inteligência e a virtude terão sempre os meios de evitar suas obsessões e seus ataques. atraímos ou repelimos o malefício.Resumindo: as influências fatais são as da morte. as influências salutares são as da vid a. O verdadeiro mal sem remédi o é a inércia.. então. "Os mortos não te louvam. morda-me. A alma desesperada que se acredita apaixonada pela morte está ainda mais viva do que uma alma sem amor. Os que não querem caminhar. aliás. Aos abismos da perversidade correspondem os abismos da graça. . esse gênio da extravagância lúcida. ir em direção à vida. Desafiar Deus e injuriá-lo é um último ato de fé.Eliphas Levi A Chave dos Grandes Mistérios . não importa o que faça." "Oh! meu filho!". prevenir o atentado daquele miserável Ve rger. caído em letargia após um violento acesso de delírio. descreveu com uma realidade assustadora o s pesadelos da perversidade. Freqüentemente Deus fe z de celerados santos. A atividade p ara o mal pode e deve reconduzir o homem ao bem por contragolpe e reação. e poderíamos acrescentar. ela nos precipita com todas as suas forças para a morte. de Tertuliano. se ousássemos: "Os mortos não te blasfemam. é preciso trabalhar. ela os arrasta. Cem mil padres honest os teriam podido. Mas não fiques para sempre neste silêncio medonho da tumba!" Um grande crime sempre protesta contra uma grande tepidez. dizia um pai inclinado sobre o leito do filho.. com toda nossa coragem. A Igreja deve julgar. sentirei que ainda vives. abandonar-se à fatalidade. é preciso agir. toda in justiça é uma abdicação da inteligência. Fiz isso porque não deveria ser feito. cujas reações sempre esma tudo o que se afasta do equilíbrio. diz o salmista. "insulta-me. Edgar Poe." Eis a terrível contrapartida do Credo quia absurdum. como es te. esse aluc inado sublime. A natureza. batame. sob o império da força. O amor pelo mal e a adesão formal da vontade à injustiça são os últimos esforços da vontade expirante. "Matei este velho porque era estrábico. através de uma caridade mais ativa. provê para sso. é um abandono de nós mesmo s às leis materiais da gravidade.A Chave dos Grandes Mistérios . Caímos.. é mais forte que o bruto e não pode. punir um eclesiástico escandaloso. É necessário que escolha e que ame. condenar. Um homem que poderia ser chamado o grande profeta dos ébrios. Sob pena de reprovação. O homem.Eliphas Levi O que é um pecado mortal? É uma apostasia de nossa liberdade. e se não queremos. mas não tem o direito de a bandoná-los aos frenesis do desespero e às tentações da miséria e da fome. nunca fez nada de mornos e de covardes. um ato injusto é um pacto com a injustiça: ora. Senhor".. eis por que a pena de morte é o direito natural e nunca desaparecerá das leis humanas. A mácula do homicídio seria indelével se Deus não absolvesse o cadafalso. e se se pudesse jamais formular sua concepção. transformar-se-ia em virtude quando exercesse as represálias da natureza ultrajada . o poder divino abdicado pela sociedade e usurpado pelos celerados pertencer-lhes-ia sem contestação. se f osse possível admiti-lo. Eis por que a própria natureza procura e impõe a expiação como um remédio.Nada é tão assustador quanto o nada. 128 . como tão bem o compreendeu esse grande católico chamado conde Joseph de Mai stre. As vinganças particulares protestariam contra a ausência da expiação pública. o inferno seria uma esperança. e com os restos do gládio quebrado da justiça a anarquia fabricaria punhais para si. O assassinat o. então. eis por que o s uplício suplica. e o espírito naturalmente volátil só pode durar fixando-se. os gregos representavam-na sob os símbolos de Eros eAnteros. Enquanto o amor é apenas um desejo e um gozo. sabiamente organizados. ele é mortal. a embriaguez de Saturno que quer ser pai para ter crianças a quem devorar. arrastam-se uns aos outros. o resultado dessa luta é o equilíbrio no progresso e o diabo contribui sempre. nem verdade. nem justiça. das sociedades ocultas e todo-poderosas. Para eternizar-se é precis . ela reabsorve e retoma em seu seio tudo o que não nasceu do espírito.Eliphas Levi A Chave dos Grandes Mistérios . e o que há de verdadeiro e sério no fundo de t udo isso é apenas a luta necessária entre a ordem e a desordem. as maiores obras da revelação cristã são a criação da virgindade vol ia e a santificação do matrimônio. Essa guerra é tão antiga quanto o mundo. A emancipação das leis fatais pela adesão livre do espírito ao verdadeiro e ao bem é o que o Evangelho denomina nascimento esp iritual. Vencer o amor é triunfar sobre toda a natureza. É o anarquista por excelência.Eliphas Levi É pelas vitórias do trabalho que se escapa às fatalidades da dor. os instintos e o pensamento. acreditam em vastos complôs. O que chamamos morte é somente o parto eterno da natureza. Wronski sonha com seus bandos místicos. Submetê-lo à justiça é reabilitar a vida d evotando-a à imortalidade. e os espírito s livres devem lutar energicamente contra eles para não serem por eles retidos em seu vôo e rebaixa dos fatalmente ao inferno.A Chave dos Grandes Mistérios . Os dois exércitos estão em toda a parte. Faria a moça passar por cim a do cadáverde seus pais. são invasores e tenazes como pessoas que se afogam. É uma embriaguez irresistivel. Os seres não-emancipados são atraídos para essa segunda morte por uma gravidade fatal. As pessoas ingênuas dos dois partidos. É a guerra dos titãs e dos deuses. Ininterruptamente. não conhece nem leis. A matéria inerte por si mesma só pode existir pelo movimento perpétu o. uma ve rtigem da fatalidade que procura novas vítimas. pessoas da Igreja falam de iluminados e de maçons. a reabsorção na morada eterna da natureza é a segunda morte. mas disciplinados e sempre prontos ao ata que ou à represália. uma loucura furiosa. contra a sua vontade. O amor físico é a mais perversa de todas as paixões fatais. surpresas com as resistências súbitas e unânimes que encontram. nem deveres. assim. p ara a glória de São Miguel. Eugène Sue inventa Rodin. como o divino Michelangelo tão bem nos faz ver em sua grande pintura sobre o juízo final. e os hebreus pelo antagonismo de Caim e Abel. invisíveis. chegará talvez ao deplorável e irreparável absurdo de suicidar-se para admirar-se e en ternecer-se consigo mesma vendo-se morrer. buscamo-las por elas mesmas. então. Os hábitos romanescos levam as mulheres à histeria e os homens à depressão. pois torna-se. As lágrimas chama m o sangue. Perguntamo-nos aterrorizados que monstro poderia nascer do casamento de Manfred e Lélia! 129 . Existem grandes emoções que são como licores fortes. Renê. Ora. É a luta de Eros e Anteros que faz o equilíbrio do mundo. sacrif icamos tudo para obtê-las. Tudo o que superexcita a sensibilidade conduz à depravação e ao crime.o que setorne um sacrifício. uma força e uma virtude. Manfred. Lélia são tipos de perversidade muito mais profunda por racionalizarem seu orgulho doent io e poetizarem sua demência. todo abuso das emoções perverte o sentido moral. Uma mulher romanesca se tornará facilmente uma heroína de Tribunal do Júr i. usá-las habitualmente é abusa r. equilibrando suas faculdades. tivesse sido um homem de conventículo ou de partido. possa produzir-se ao lado do s eu. Mas nem todos os espíritos vêem com justeza porque nem todos os corações querem com just iça. aliena sua personalidade e torna-se escravo desse gênio das multidões que o Evangelh o chama Legião. . tornam-se sujeitos a acessos. que seja a luz! E a luz é.Eliphas Levi A Chave dos Grandes Mistérios . A luz eterna como Deus começa todos os dias para os olhos que se abrem. é o grito de vitória da i nteligência triunfante sobre as trevas. a presença num mesmo corpo de várias almas que o disputam entre si e freqüentemente tentam dest ruí-lo. mais ou menos como os náufragos da Medusa. doentes. o grande universal de nossa époc a. A verdade será eternamente a invenção e como que a criação do gênio: ele grita: Que seja a luz.Eliphas Levi As correntes impetuosas da vida instintiva e as fracas resistências da vontade for mam um antagonismo tão distinto que os cabalistas acreditaram no embrionato das almas. Quanto mais o sucesso os faz crescer junto à opinião pública. não admitem que outro mérito. que no momento em que disputavam a jangada m uito estreita. Para escapar a essa fatalidade os verdadeiros grandes homens isolam-se de toda camaradagem liberticida e salvam-se dos atritos da vil multidão por uma impopularidade orgulhosa: se Balzac.A Chave dos Grandes Mistérios . ou pelo menos só as ilu mina em proveito dos que vêem. coléricos. invej osos. mais sua personalidade enfraquece. mesmo de ordem diferente. e ele próp io é porque ela é. Tornam-se médiuns. É certo que alguém ao se tornar servo de uma corrente qualquer de instintos. quando vivo. isto é. Essa palavra é sublime porque exprime com simplicidade a maior e mais sublime coisa do mundo: a criação da inteligência por si mesma quando. Ele é imortal porque compreendera eterna. Os artistas sabem algo sobre isso. Suas freqüentes evocações da luz universal enervamnos. e a imortalidade como seu triunfo porque ela será sua re compensa e sua coroa. A luz não ilumina as coisas insensíveis nem os olhos fechados. tentavam fazê-la soçobrar. não teria permanecido. absurdos. Ele contempla a verdade como sua obra porque ela é sua conquista. Que se faça a luz!. convocando seus poderes. is to é. ela diz: Quero imortalizar-me vendo a verdade eter na. e desde que se tornam injustos eximem-se até de serem polidos. ou mesm o de idéias. após sua morte. A palavra do Gênesis. não sabem o que fazem. dep oiscaluniam. a percepção desejada da ment 130 . concebida. apaixonadas por esses fantasmas. voltariam a cair numa profunda escuridão. pois não vivestes ainda. A concepção da verdade faz nascer em nós o bom gênio. A verdadeira luz repousa e satisfaz a alma. abortos de luz. Content am-se com visões fosforescentes. insultam. não é a morte que vos seria preciso. Cada um de nós de algum modo concebe. "eis por q ue queremos morrer!" Pobres crianças. e. e todos os alucinados voluntár ios podem ser fatalmente levados a tornarem-se grandes criminosos. Nossa luz pessoal espec ializada. É preciso compadecer-se deles e perdoá-los. O que tomais por vid a são as alucinações e os sonhos do primeiro sono da morte! Todos os grandes criminosos são alucinados voluntários. temem. Desde que estai s no mundo morreis todos os dias. cansa-a e ator menta-a. Assim é que os loucos. põe no mundo e alimenta seu bom anjo ou seu ma u demônio. "A vida sempre nos mentiu". alucinações do pensamento. é à cruel volúpia do nada que deveis pedir o remédio do nada de v ossas volúpias? Não. os desencorajament s e os desesperos. determinada por nossa afeição dominante é o germe de nosso paraíso ou de noss o inferno. Daí nascem as irritações e as perturbações. é a vida. temem o dia que os faria fugirem porque sentem que. perseguem e condenam os sábios. As satisfações da loucura assemelham-se aos sonhos gastronômicos das pessoas famintas que aguçam sua fome sem nunca saciá-la. dizem os discípulos de Werther. no início. a vida nunca vos enganou. não sendo o dia feito para seu s olhos. a alucinação. ao contrário.Existem almas para as quais a verdadeira luz parece nunca dever existir. ou nos frenesis do jogo. duvi dam de tudo porque nada sabem. "que é preciso desesperar e morrer. a verdadeira tradução da palavra grega diabolos. por uma perversidade secreta. antes de aniquilar-se na embriaguez. Para eles. Perto deles sentimo-nos irritados e ao deixá-los sentimo-nos encolerizados. mesmo os materiais. e parece-lhes que a natureza é impotente. acocorou-se sobre seu cadáver como um vampiro e rasgou seu sudário. "Prova". é preciso ser bom. porque eles próprios o são. porque nada podem amar: para amar. portanto. entretanto. como também gostaria. O assassino Eliçabide. O prazer é a música das harmonias interiores . esse avatar mitológico do espírito de perversidade. São doentes contagiosos do espírito de perversidade. invocar todos os dias a morte sem poder morrer. se afagam.Eliphas Levi Existem alguns seres inquietos e atormentados cuja influência é turbulenta e a conve rsa. Lacenaire. segundo suas próprias declarações." Que apostolado e que doutrina! Mas eis as conclusões necessárias e rigorosas do espírito de perversidade. fatal. o infeliz fora enfeitiçado pelo respir de uma mulher profundamente perversa. que. ou diabo.A Chave dos Grandes Mistérios . Chamava a isso viver! E cantava um hino à guilhotina. nós os procuramos para afrontar a perturbação e gozar as emoções malé olas que eles nos dão. que chamava sua bela noiva! E o mundo estav a repleto de imbecis que admiravam esse celerado! Alfred de Musset. é o suplício de Satã. pelo sentido moral. instrumentos que desafinam ao contato com uma alma d egradada. desperdiçou um dos primeiros talentos de seu século em contos de fria ironia e desgo sto universal.Eliphas Levi A Chave dos Grandes Mistérios . tudo é vazio. não só experimentava uma necessid de selvagem de matar seus parentes e amigos. é para emurchecer. se isso fosse possív el. é o perverso. O espírito de perversidade sempre tem por móvel secreto a sede da destruição e por fim o suicídio. Eis um mistério de que os pervertidos não desconfiam. É que só se pode gozar os prazeres da vida. caluniar a vida e a natureza. é o inferno eterno. . após tê-lo morto. Aspirar incessantement e ao suicídio. blasfemam contra tudo porque de nada gostam. de fazer o globo saltar como uma ca stanha cozida. vangloriava-se abertamente de ter vivido . respondeu-nos franca e ingenuamente. Os maus nada podem sentir. que passava seus dias combinando assassínios para obter meios de passar as noites em ignóbeis orgias. Perguntávamos um d ia a um jovem escritor dessa escola o que provava sua literatura. e disse-o com suas próprias palavras diante do tribunal. os sentidos são apenas seus instrumentos. crispa os lábios do avarento. estai certas de não permanecerdes belas por muito tempo. a harmonia das formas desaparece e. justa ou injusta. se acordam. é para entediar -se mortalmente: assim viverá. esse arquiteto interior de nosso edifício corporal. segundo a espe cialidade absorvente ou irradiante desse egoísmo. torna impudentes os o lhares da mulher impura e venenosos os do invejoso e do mau. e retoca-o incansavelmente. isto é. o olhar torna-se frio. Nossa vontade. modificado incessantemente segundo nossas necessidades verdadeiras ou factícias. nossa vontade. se dormem. os membros dessecam-se ou ficam comprometi dos por uma excessiva gordura. A natureza. a monstruosidade m oral produz a fealdade física. é para esquecer. assim morrerá todos os dias aquele que se liber ta de toda lei e de todo dever para tornar-se escravo de suas fantasias. A beleza é um adiantamento que a natureza faz à virtude: se a virtude não está pronta para o acerto da dívida. os traços duros. é para embriagar-se.se bebem. configu ra o mediador à sua imagem e dá-lhe aptidões conforme os nossos atrativos. sobre a po rção de luz astral que se especializou em nós e que serve para a assimilação e configuração dos elementos nec essários à nossa existência. Assim. 131 . garantiu tal semelhança para sempre. E le faz crescer o ventre e os maxilares do glutão. pois o mediador astral. a emprestadora recupera rá impiedosamente seu capital. Quando o egoísmo prevaleceu numa alma. Lindas mulheres que não sois bon dosas. O mundo e a própria eterni dade tornam-se inúteis para quem se torna inútil para o mundo e para a eternidade. harmoniosa ou perversa. ou antes. ao agir diretamente sobre nosso mediador plástico. ao fazer de nosso corpo o retrato de nossa alma. A Chave dos Grandes Mistérios .. mais um espa smo.Eliphas Levi o perverso desfruta. mais sede de prazer tem. mais parece-lhes que a suprema felicidade se aproxima. A volúpia que lhes escapa tra nsforma-se para eles num longo desejo irritado.. O vinho é como água para o ébrio. Messalina cansa-se sem ficar saciada. extingue-se para sempre na morte! 132 .. n o paroxismo de sua insaciável fome. Quanto mais seus excessos são homicidas.Eliphas Levi A Chave dos Grandes Mistérios . Mais uma golada de licor forte. e seu desejo... mais uma violência contra a natureza. Ah! finalmente.. o prazer! a vida. o ouro derrete nas mãos do jogador. Eliphas Levi 3 .A Chave dos Grandes Mistérios .Eliphas Levi A Chave dos Grandes Mistérios . realizador. É preciso adquiri-las pela luta e pelo trabalho. senão por seus próprios esforços. e as maiores de todas as riquezas. a . As qualidades do espírito. sem sombra e sem espaço. O Deus que ele adora é sempre seu próprio reflexo aumentado. Deus. Mas devemos crer que tais organ izações são o resultado de um trabalho mais avançado da natureza e que as crianças delas dotad as adquiriram-nas. efetivo. Assim. e essa regra de julgamento é infalível. ao menos pelas obras solidárias dos se reshumanos a quem sua existência está ligada. mostrai-me o que fazeis. esse programa é paradoxal apenas na forma que empresta a uma falsa e sacrílega inter pretação. esconde-se dele e de certo modo abandon a-lhe o governo do mundo. Num sentido ele é perfeitamente razoável. TORNAR-SE INDEPENDENTE. ele é de certo modo o criador daquele que o cr iou. O homem. Objetar-nos-ão a desigualdade das a ptidões e as crianças que nascem com uma organização mais perfeita. e a ciência dos adeptos promete realizá-lo e dar-l he uma perfeita execução. dizia o mestre supremo. CRIAR DEUS. ampliando indefinidamente sua própria miragem. CRIAR-SE A SI PRÓPRIO. acredita poder esboçar no espaço infinito a sombra daquele que é sem corpo. Acredita-se o espelho de Deus e. e deve-se encará-las como vãs e mentirosas se não o dão. É um segredo da natureza. a fim de que o homem se aperfeiçoe progressivamente. rea l. as qualidades morais são riquezas. Se quereis que eu acredite no que sabeis. O homem conhece Deus apenas pelos nomes que dá a esse Ser dos seres e só o distingue pelas imagens que dele tenta traçar. Po is bem. sempre ampliando a idéia que faz de seu autor. que nada faz a o acaso. com efeito. Deixa-se adivinhar pelas grandezas e harmonias da natureza. cria um Deus conforme à sua própria inteligência e à sua própria bond ade. IMPASSÍVEL E IMORTAL: aí está com certeza um programa mais temerário do que o sonho de Prometeu. Conceber o que seja o absoluto em bond ade e em justiça é ser ele próprio muito justo e muito bom. não pode elevar seu ideal mais alto do que lhe permite seu desenvolvimento moral.QUARTA PARTE QUARTA PARTE Introdução As altas ciências da Cabala e da magia prometem ao homem um poder excepcional. para elevar o homem à emancipação moral. Vós julgareis os doutores por suas obras. É pela conquista de uma inteligência para sempre reta e de uma vontade para sempre justa que ele se torna vivo para a vida eterna. pois que nada sobrevive à injustiça e ao erro. e cada um dos instantes p or eleempregados para tornar-se melhor ou perder-se é decisivo para toda uma etern idade. Sim. o homem é chamado a terminar a obra de seu Criador.propriedade das faculdades intelectuais mais desenvolvidas como a do dinheiro e das terras constitui um direito imprescritível de transmissão e de herança. a não ser a pe na por sua 134 . como exercem as adivinhações de Apolônio. neste último livro. O homem pode matar ou vivificar suas faculdades pela negligência ou pelo abuso. O homem que sabe comandar a si próprio é rei de toda a natureza.Eliphas Levi Nossas obras tanto nos fazem o que somos. Pode-se dar a calma da just eza ao espírito como a onipotência da justiça à vontade. O grande arcano dos jesuítas e o segredo de seu poder A Bíblia conta que o rei Nabucodonosor. e permaneceu nesse estado durante sete anos. A magia vencida por suas próprias armas. Essas figuras estranhas que os egípcios davam aos símbolos humanos da di vindade representam as formas fatais. como já dissemos. bem como as unhas. Po de criar para si faculdades novas pelo bom uso das que recebeu da natureza. Pode-se reinar no céu pela fé. quando sinceramente o quer. Em nosso Dogma e Ritual da Alta Magia. Vamos mostrar. como operam em si mesmos e nos outros as transf ormações de Proteu. a última palavra da magia. por sua voracidade e sua fealdade. os segredos de Postel. pôs-se a pastar a relva.A Chave dos Grandes Mistérios . que a fé não é possível a todos. devoto.Eliphas Levi A Chave dos Grandes Mistérios . o Ressu scitado. Freqüentemente se diz q ue as afeições não podem ser comandadas. algumas vezes. Alguém pode se torna r crente. Tífon. transformação total de sua forma. dissemos o que pensamos dos mistérios da li . para renovar sua juventude. piedoso. A vara de Circe. que. foi repent inamente transformado em besta. por que meios os verdadeiros iniciados tornaram -se mestres de vida comandando a dor e a morte. e do fabuloso Cagliostro. os cabelos e todo o pêlo do corpo. Fugiu para lugares selvagens. nosso corpo sofre modificação com nossos hábitos e. CAPÍTULO I Da transformação. como possuem. deixou crescer a barba. é consagrado à destruição eterna. e to essas asserções são verdadeiras apenas para os preguiçosos ou os perversos. enfim. por sua boca de crocodilo. como fazem o ouro de Raimundo Lúlio e de Flamel. e na terra pela ciê cia. Assim. O banho de Medéia. Vamos dizer. no auge de seu poder e orgulho. amante. Uma forma conquistada ou suportada torna-se para toda a existência uma providência o u uma fatalidade. que não se refaz o caráter. está condenado a dev orar incessantemente para encher seu ventre de hipopótamo. Todos conhecem a fábula de Circe e compreendem sua alegoria.cantropia. da metamorfose dos homens em lobisomens. 135 . O ascendente fatal de uma pessoa sobre outra é a verdadeira vara de Circe. ou seja. mas que narrou melhor do que ninguém. Eis sua fórmula em termos técnicos: "Polarizar sua própria luz animal. e se quereis que uma linda gatinha vos ame. de vontade expressa por um sinal. Pensamos que se compreende aqui nossa linguag m figurada.Eliphas Levi A Chave dos Grandes Mistérios . Num dos admiráveis contos que não inventou. tendes apenas uma medid a a tomar: metamorfosear-vos em gato.A Chave dos Grandes Mistérios . Como? Pela observação. aí está o mais profundo de todos os segredos de sua arte. o cão explora o medo do lobo. e vice-versa. os formidáveis segredos da ciência? Sabe-se que os magnetizadores dão à água pura. foi devorado pelo gato.Eliphas Levi Ora. Os contos da Mamãe Gansa seriam. s ois uma ratazana. Demos um exemplo: Quereis agir magneticamente sobre uma pessoa polarizada como vós. ela é um pouco menos forte que vós: é um rato. por seus ardis. Para dominar os carneiros. Fazei-vos gato. Sabe-se também que os domadores de animais ferozes subjugam os leões fazendo-se eles mesmos . porém. apenas com a imposição das mãos. de Apuleio. os instintos são balanceados pelos instintos contrários e dominados por instint os mais fortes. dos licores e de todos os medicamentos possíveis. se fordes magnetizador. em antagonismo equilibrado com um pólo contrário. Se vós sois cão. mal ele acabara de fazê-lo. isto é. e ocultariam. como o Asno de Ouro. imitação e imaginação. sob a aparência pueril. o que sabereis n o primeiro contato. Esse governo de nossa polarização magnética pode ser feito com o auxílio das formas anim ais de que falamos. verdadeiras lendas mágicas. e que servirão para fixar a imaginação. as propriedades e o sabor do vinho. induz um ogro a metamorfosear-se em rato." Ou então: Concentrar em si mesmo as especialidades absorventes para dirigir as irradiantes para uma morada absorvente. e tomá-la-eis. e recomendamos essa revelação a todos os magnetistas. Perr ault põe em cena um mestre gato que. calcular as i nvestidas do animal. Fourier sonhara os antileões: Jules Gérard realizou essa quimera do sonhador falanst eriano. ser mestre na 136 . é preciso dizer a si mesmo: O leão sou eu. basta ser um homem corajoso e ter armas. Não. adivinhar seus ardis. fazer-se mais f orte e mais selvagem que o próprio animal. Jules Gérard. Mas. o intrépido matador de leões da África. e este animal diante de mim é apenas um cão que deve sentir medo. conhecer de cor seu leão.mental e magneticamente mais fortes e mais ferozes que os leões. dirão. numa p alavra. para não temer os leões. isso não basta. evitar suas garras. por assim dizer. seria devorado se tivesse medo. para não ter medo de um leão. Ma s. prever seus movimentos. é preciso. É preciso. por um esforço de imaginação e de vontade. cada um dos padres é forte como a sociedade. Se é o inferno. ele vos faz tatear rochas ardentes. de modo a destruir até o menor ve stígio de sua primeira forma. cheirem. to queis. fazeis dele um tigre. mas sempre da forma mais capaz de impressioná-lo. vejais. freqüentem ente caluniada e sempre soberana. impeli-o à ferocidade. enche vossas narinas de um abominável mau cheiro. uma criação verdadeira da inteligência e da fé. Santo Inácio quer primeiramente que construais um lugar. quer que os sentidos sejam exaltados na oração até a alucinação voluntária. Lede atentamente o livro intitulado os Exercícios de Santo Inácio e vede com que mágic o poder esse gênio opera a realização da fé. é iss o o que vos anunciamos. Mas nenhuma metamorfose se opera sem destruição. depois fervê-lo no banho mágico de Medéia.A Chave dos Grandes Mistérios . uma alucinação sem loucura. Para transformar um gavião em pomba. é um sonho sem sono. o que nossas mãos tocaram. Não é mais a embriaguez do haxixe servindo à fraude do Velho da Montanha . o que ouvimos com nossos ouvidos. que o sonheis. por exemplo. sempre desconhecida. Cada um o faz a seu modo. como fazem. e a sociedade é mais forte que o mundo. coloca em vossa língua enxofre líquido. Meditais sobre um mistério fé. Vede como os hierofantes modernos procedem para realizar a regeneração humana. vós o transformais em lebre. nadar em trevas espessas como o pez . uma visão racional e intencional. mostra-vos a trozes suplícios. Ele ordena a seus discípulos que vejam. o jesuíta poderá dizer: É o q e vimos com nossos olhos. se. O jesuíta assim formado comunga com um círculo de vontades exercitadas c omo a sua: desse modo. Capitulo II . Aí está o grande segredo dessa ordem venerável e terrível. ao pregar. Se tornais um homem temeroso. depois cortá-lo em pedaços. e os companheiros de Ulisses trans formados em porcos não são uma história apenas daquele tempo.Eliphas Levi Os animais são os símbolos vivos dos instintos e das paixões dos homens. vos faz ouvir gemidos sobre-humanos. degustem as coisas invisíve is. A vara de Circe é o poder fascinador da mulher. Daí em diante. é necessário primeiro matá-lo. na religião católica para transformarem um homem mais ou menos fraco e apai xonado num estóico missionário da Companhia de Jesus.Eliphas Levi A Chave dos Grandes Mistérios . diz à vossa vontade para criar tudo isso através de exercícios persistentes. ao contrário. toquem. a nosso ver. etc. a prolongação da velhice. Os segredos de Cagliostro. temos o direi to de pedir à ciência que professamos outros privilégios e outros segredos.Como se pode conservar e renovar a juventude. De um operário taumaturgo. dito o Ressuscitado. A possibilidade da ressurreição. Sabemos que uma vida sóbria. Mas é pouco. 137 . Exemplo de Guilherme Postel. moderadamente laboriosa e perfeitamente regular geral mente prolonga a existência. m as ninguém acreditaria. e a que chamaremos miragens primitivas da verdade ete rna. por um instante. não afirmava possuir o gran de arcano da filosofia hermética. se ousasse mostrar-se. não duvidamos disso. barba e cabelos negros.A Chave dos Grandes Mistérios . resplandece de imortalidade confiante . como também gabav a-se de operar a regeneração física por meios que detalhamos e analisamos em nossa História da Magia. desse modo. O grande meio mágico para conservar a juventude do corpo é impedir a alma de envelhe cer. todo o vigor da juventude. numa Providência materna qu e conta todos os nossos passos e recompensará todas as nossas lágrimas é ser perfeitamente ingênuo. be la e sedutora.Eliphas Levi A Chave dos Grandes Mistérios . e no entanto. após o terem visto velho e alquebrado. Acreditar na felicidade da terra. Cagliostro e o conde de Saint-Germain atribuíam a conservação de sua juventude à existênci a e ao uso da medicina universal. inutilmente procurada por tantos sopradores e alquimi stas. O que é a in fância? É a idade da fé. Aparentava sempre quarenta anos. pois os zombeteiros e o s falsos sábios necessitam de uma explicação qualquer para fenômenos que não compreendem. tendo atingido uma idade avançada. dirá o mundo corrompido. viram-n o novamente com uma tez vermelha e sem rugas. era ainda uma mulher jovem. o bom e sábio Guilherme Postel. A criança ainda nada sabe da vida. S eus inimigos pretenderam que ele se maquiava e que tingia os cabelos. e não apenas pretendia possuir um e lixir que devolvia aos idosos.Eliphas Levi O famoso conde de Saint-Germain morreu. que se acredita forte privando-se de todas as delícias da alma. e não vê que o ingênuo é ele. Morreu sem ter envelhecido. conservando-lhe preciosamente o frescor original de sentimentos e pensamentos qu e o mundo corrompido denomina ilusões. na amizade. Cagliostro sempre foi visto com a mesma idade. o célebre quiromante. Um iniciado do século XVI. e no auge de sua celebridade afirmava ter mais de oitenta. corpo ágil e vigoroso. mas nunca o viram env elhecer. Ninon de l Enclos. Desbarrolles. Sua certidão de nascimento diria outra coisa. há muito tempo é para todo o mundo um homem de tri nta e cinco anos. Acreditar no bem da ordem moral é possuir o bem: e é por isso que o Salvador do mund o prometia oreino do céu aos que se tornassem semelhantes às criancinhas. no amor. Como poderia duvidar da dedicação. como provamos. reconduz o homem às leis da mais pura moral. por seus dissabores. para ser f eliz. da vida. que beberam apenas em fontes lamacentas. mesmo sensuais. e o s desiludidos provam. Vel sanc tum invenit. mas como dar-se a fé. do amor.. Assim. disse um adepto. A alta magia. é preciso ter o sentido moral. é preciso ser santo. mesmo neste mundo. os empedernidos são pessoas que nunca souberam ser felizes. da Providência. quando está nos b raços de sua mãe? Fazei-vos crianças de coração e permanecereis jovens de corpo. Ser santo! é fácil dizer. As realidades de Deus e da natureza superam infinitamente em beleza e bondade to da a imaginação dos homens. e os que caluniam a existênc ia certamente deles abusaram. da amizade. quando não se acredita mais? Como reenco ntrar o gosto da virtude num coração tornado insípido pelo vício? 138 . Para gozar os prazeres. vel sanctum facit. pois ela nos faz compreender que. da ternura. Não tenho dúvidas de que na vida criminosa de Cartouche e Mandrin tenha havido lances de virtude capa zes de tirar lágrimas dos olhos. Aí está o segredo dos jesuítas. que certamente. e que faríamos bem pior em seu lugar. servindo-vos das fórmulas cristãs. mudam-se certamente os do corpo: já o dissemos e expl icamos como. para envelhecer-nos tornando-nos feios são os pensamen tos rancorosos e amargos. Nunca houve ninguém totalmente mau nem totalmente bom. e a fé virá. e foi para nos dar esse bem que Cristo veio ao mundo. Se nada tivésseis em comum com os vícios dos home ns.A Chave dos Grandes Mistérios . "cremos que Deus os submete a maiores provas do que nós. O homem mais perverso tem seu lado bom e abranda-se quando se sabe abordá-lo. O que contribui.Eliphas Levi É preciso impor silêncio aos dissabores. "Ninguém é bo m. co tido nos exercícios espirituais de Santo Inácio. por exemplo. Por exercícios análogos. Uma filosofia benevolente e doce evitar-nos-ia todos esses males. se o quisesse com perseverança. A amizade e as dedicações que ela inspira encontram-se até nas penitenciárias e nas prisões de forçados. nossas raivas por orgulho ferido e paixões malsatisfeitas. sobretudo. tornar-se-ia um home m inteligente. Fazei os exercícios de um cristão." A paz! a paz! Tal é o bem supremo da alma. nem mesmo os perceberíeis. não as merecemos. encontraríamos o bem e a benevolência em toda a parte. O que tomamos em nós por zelo da virtude é freqüentemente apenas um secreto amor-próprio dominador. Vós sois incrédulo. dizem os autores da teologia místi ca. um tolo. Mudando-se os hábitos da alma. os julgamentos desfavoráveis que fazemos dos outros. Se fechássemos os olhos aos defeitos do próximo. Orai regularmente. O horrível Lacenaire devolvia fielmente o dinh eiro que lhe haviam emprestado. a não ser Deus". estudar o dever e começar por praticá-lo como s e o amasse. e gostaríeis de tornar-vos cristão. ou pelo menos muito p rovavelmente. aproximai-vos dos sacramentos supondo a fé. e várias vezes teve atos de generosidade e beneficência.Eliphas Levi A Chave dos Grandes Mistérios . . disse o melhor dos mestres. "Quando vemos desordens manifestas e pecadores escandalosos". um ciúme dissimulado e um instinto orgulhoso de contradição. levando em conta apenas suas boas q ualidades. uma alegria e um triunfo. é a loucura e o pecado. Visto que estamos livres. pois seu espírito divino denomi na-se espírito de inteligência. pois estamos salvos e todos os mortos que nos amam regozija m-se no céu! Todos trazemos em nós um princípio de morte e um princípio de imortalidade. é um conso lo.Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens que desejam o bem!. O bastão é feito para as bestas. riamos e gritemos de alegria. o próprio arrependimento para o verdadeiro cristão não é uma tristeza. A tolice expia pela dor e escravidão. Deus não ama os tolos. que pode fazer o filho pródig o? Chorar. estava morto e estou vivo. e a besta sempre produz a tolice. 139 . A morte é a besta. "Queria o mal e não o quero mais. mas sobretudo de alegria! Existe apenas uma coisa triste no mundo. De fato. Os antigos pais do cristianismo contavam um oitavo pecado capital: a tristeza. O pai do filho pródigo matou o novilho gordo porque seu filho voltou. clamavam o s espíritos do céu quando o Salvador acabava de nascer. um pouco de confusão. que acreditava nele. então. Se o operador inspira à alma defun ta muita afeição. reapareceu com uma juventude nova e passou a chamar-se Postel. exceto na cavidade do estômago. Leriche pôs um espelho diante do rosto do paciente e achou-o levemente e mbaçado. Trata-se de magnetizar o defunto colocando os pés sobre seus pés. uma pessoa que saía disse-lhe: "É inútil o senhor su bir. colocara m-no. disse o ferrador.A Chave dos Grandes Mistérios . Uma dançarina da ópera. ele morreu há seis horas. Os cuidados foram redobrados e logo houve um sinal de vida mais acentuado. deixamos a vida sem pesar e nada nos faria retornar. "já que eu vim. No ano de 1799." Subiu. então. um ferrador que se faz ia passar por adepto da ciência hermética. a boca so bre sua boca. enco ntrou um cadáver com o corpo todo gelado. Mandou acender um grande fogo. Quando entrava. u m dia foi procurá-lo em lágrimas e disse-lhe que seu amante morrera. mas quando a morte é prematura a alma lamenta a perda da vida. e um taumaturgo hábil pod eria chamá-la de volta ao corpo." "Não importa". Os livros sagrados indicam-nos o procedimento que se d eve. havia no subúrbio de Santo Antônio. o Ressus citado. O senhor Leriche acompanh ou-a àcasa mortuária. enquanto isso a amante do morto chorava e chamava-o à vida com as mais ternas palavras. Ess e ressuscitado . Após uma hora e meia de seme lhantes cuidados. esfregou-o com medicina universal diluída em álcool (sua pretensa medicina universal devia ser um pó mercurial análogo ao quermes das farmácias). as mãos sobre suas mãos.Eliphas Levi A Chave dos Grandes Mistérios . se no pensamento que lhe comunica magneticamente o t aumaturgo pode persuadi-la de que a vida lhe é ainda necessária e que dias felizes lhe estão ain da prometidos aqui embaixo. vou vê-lo. operou fricções em todo o corpo co m toalhas quentes. adotar. em Paris. chamava-se Leriche e passava por ter operado. e para os homens de ciência vulgar a morte ap arente terá sido apenas uma letargia. depois reunir toda a vontade e chamar a si longamente a alma evadida com t odas as benevolências e carinhos mentais de que se é capaz. onde ele acreditou sentir ainda um pouco de calor. pela medi cina universal. chamado de volta à vida pelos cuidados da mãe Joana. num leito bem aquecido e poucas horas depois ele retomara inteiramente à vida. Postellus restitutus. curas milagrosas e até mesmo ressurreições. Foi após uma letargia semelhante que Guilherme Postel. ela certamente retomará.Eliphas Levi Quando estamos maduros para a morte. O profeta Elias e o apóstolo São Paulo empregaram-nos com sucesso. ou um grande respeito. Contava sua ressurreição a quem quisesse ouvir. e provocava o riso dos médicos e dos membros do conselho profissional de seu bairro. 140 ." Capítulo III O grande arcano da morte Entristecemo-nos com freqüência ao pensar que a mais bela vida deve terminar. sem nunca adoecer. que a inumação estava permitida. e a ap roximação deste terrível desconhecido a que se denomina morte faz com que nos enfastiemos co m todas as alegrias da existência. Tudo o que sei é que o médico-legista tinha vindo. desde então. O bom homem consolav a-se à maneira de Galileu e respondia-lhes: "Oh! riam o quanto quiserem. Em 1845. que dezoito horas mais ta rde iam me enterrar e que aqui estou.chamava-se Candy. n° 6. vivia ainda e mo rava na praça Chevalier-du-Guet. viveu. livre e impassível. despojando-o de seu invólucro protetor. . invertido como um espelho de sua mãe. que comunica sua forma aos próprios membros. o espírito encarnado acorda aí lentamente. é uma providência desconhecida. corpo inútil para uma outra vida e que deve ser rejeitado como uma imun dície no instante do nascimento. a forma humana torna-se distinta e o sexo determina-s e. au mentam seu mal-estar na situação presente. A seguir vem a adolescência. atormenta-se. então. Ele é. Lançado pelas leis da natureza no ventre de uma mulher. sob a simples forma de uma crisálida. essa sujeição incomoda-o. Está feito. Essa idade feliz poderia chamar-se a infânc ia do embrião. à medida que crescem. e com esforço cria em si órgãos indispensáveis mais tarde. sente que vai cair no abismo do desconhecido. Pouco a pouco.A Chave dos Grandes Mistérios . A placenta. no entanto. sente que sua vida vai terminar. mas que. é para ele que Deus é para nós. parecia-lhe que a placenta era seu corpo. então. Está preso a ela. mais tarde. estende à sua volta a membrana que lhe serve de abri go e que nada com ele num fluido nutriente e conservador. sofre. agita-se. ele cai. m orreu para a vida embrionária. que é o corpo externo e real do feto. Chega uma hora de angústia e convulsão. Sua mãe. sente germinar em si alg o de desconhecido que já tende a escapar-se. solta um último suspiro que se transforma num primeiro grito. um frio estranho invade-o. rompendo-a.Eliphas Levi Eis também o que vagamente se pode perguntar o embrião humano ao aproximar-se o nasc imento que vai lançá-lo num mundo desconhecido. reproduz com tanta força as imaginações desta. vive da vida universal e recebe o cunho das lembranças da natureza que determinarão. e de fato era seu c orpo especial embrionário. então. um movimento opera-se no ovo materno semelhante aos vagos devaneios da idade que su cede à infância. seus liames desprendem-se .Eliphas Levi A Chave dos Grandes Mistérios . vive através dela e não a vê. A criança. e se pudesse filosofar talvez negasse a existência pessoal e a inteligência dessa mãe que para ele ainda é apenas uma prisão fatal e um aparelho conser vador. nasceu para a vida humana! Na vida embrionária. invisível. a que ele aspira a ponto de identificar-se em tudo com o que ela admira. entra mais distintamente na v ida dos sonhos. Estud emos o mistério do nascimento e teremos a chave do grande arcano da morte. uma sensação dolorosa oprimeo. a configuração d e seu corpo e a forma dos traços de seu rosto. seu cérebro. nem mesmo pode compreendê-la. O tempo mais feliz da vida do embrião é aquele em qu e. alimentam seu corpo aéreo c om o vapor do sangue propagado e temem a ponta das espadas. a outro um braço. o que nos expõe à dissolução terrível a que São João chama segunda morte. este já tem só o tronco. por esse ferimento. este último é uma cabeça pálida que rola. ferimento moral que causou uma disform idade física e. Essas almas feridas são as larvas do segundo embrionato. podem. tomar as mais horrív eis 141 . Quando as más paixões nos matam. então. Freqüentemente ligam-se aos homens v iciados e vivem de sua vida como o embrião vive no seio da mãe. Logo. as águas adormecidas do antigo caos. sua alma imortal ficará nua e. a natureza aborta e nascemos antes do tempo para a eternidade. para esconder sua vergonha criando a qualquer preço um novo véu. Têm a forma humana. mas sempre imperfeita e truncada: a um falta a mão. pouco a pouco toda sua existência se vai. será obrigada a arrastar-se nas trevas exteriores e a atravessar lentamente o m ar morto. O que os impediu de subirem ao céu foi um ferimento recebido durante a vida humana. os abortos da vida humana permanecem nadan do na atmosfera terrestre que eles não podem ultrapassar e que aos poucos os absorve e o s afoga.Nosso corpo na vida humana é como um segundo invólucro inútil para a terceira vida e é p or isso que o rejeitamos no instante de nosso segundo nascimento. isto é. Segundo a tradição constante dos extáticos. A vida humana comparada à vida celeste é um verdadeiro embrionato. túnica devorante de Dejanira. é a ciência absoluta do bem e d o mal. sereis como deuses". na Palestina. Saber o segredo ou a ciência de Deus é ser Deus. Tudo o que aqui revelamos pertence à tradição hipotética dos videntes e só pode ser afirmado diante da ciência em nome dessa filosofia excepcional que Paracelso chama va a filosofia da sagacidade. responde a sabedoria divina. é profanar o santuário.Eliphas Levi A Chave dos Grandes Mistérios . diz a serpente. É cobrir com a máscara de Tífon o rosto irradiante de Osíris. o segredo indizível inexplicável. Capítulo IV O grande arcano dos arcanos O grande arcano. à mais pronta e mais terrível de todas as mortes. 142 mais tensas.Eliphas Levi Essas larvas temem a luz. morrereis". "Se comerdes. as duas forças contrárias É beber um É vestir a É votar-se Ai daquele o tornará louco! Comer o fruto da árvore da ciência do bem e do mal é associar o mal ao bem e assimilá-lo s um ao outro. philosophia sagax. "Quando tiverdes comido o fruto desta árvore. o bem e o mal frutificam numa mesma árvore e brotam de uma mesma raiz. Saber o segredo ou a ciência do diabo é ser o diabo. Um clarão de inteligência bas ta para fulminá-las e precipitá-las nesse mar morto que não se deve confundir com o lago Asfal tite. é querer abrigar um antagonismo infinito. veneno que apagaria os sóis e que consumiria mundos. que quer saber demais! Pois se a ciência excessiva e temerária não o matar . Assim. É erguer o véu sagrado de Ísis. O mal personificado é o diabo. O bem personificado é Deus. isto é. sobretudo a luz dos espíritos. Querer ser ao mesmo tempo Deus e diabo é absorver em si a antinomia mais absoluta.A Chave dos Grandes Mistérios . terminaremos nossa revelação pela figura de três pentáculos.Eliphas Levi ! É proibido contarmos mais. para completar nossa obra. cujos emblemas hieroglíficos compõem os vinte e um grandes trunfos de nosso jogo atual de tarô. copas. s t n h v k t n h k t a h . depois os sete signos planetários com a indi cação de sua tríplice repetição expressa nas três cores. Essa chave é a do tarô. Primeiro Pantáculo. paus. n h v k t s n t h u s u t h t h u s u t h t h Em volta do triângulo está a cruz que divide o círculo em quatro partes iguais. e reunindo as quatro será possível chegar a entrever o grande arcano dos arcanos. pode-se compará-las àquelas que desenhamos no iníc io de nossa história da magia. ouros ou círculo . os números e as letras dispostos em círculo. sentir-se-á que o cristianism o não trouxe senão a luz e o calor ao templo universal ao fazer descer nele o espírito de caridade que é a vida do próprio Deus.Eliphas Levi A Chave dos Grandes Mistérios . Vêem-se aí os quatro naipes. vê-se o duplo triângulo formando a estrela ou selo de Salomão. assim os símbolos da religião reúnem-se às linhas da geometria. Essas três estrelas dizem o bastante. espada. 143 . é o te rnário religioso e metafísico análogo ao ternário natural da geração universal na substância equil brada. o mundo hum ano e o mundo divino.A Chave dos Grandes Mistérios . resta-nos dar a grande chave de Guilherme Post el. que correspondem aos quatro pontos cardeais do céu e aos quatro animais ou signos simból icos. para significar o mundo natural. a estrela branca Agora. a fé completa a ciência e a ciência dá a razão d Com o auxílio dessa chave pode-se compreender o simbolismo universal do antigo mun do e comprovar suas surpreendentes analogias com nossos dogmas. No centro do anel. Reconhecer-se-á assim q ue a revelação divina é permanente na natureza e na humanidade. . Eliphas Levi 4 .A Chave dos Grandes Mistérios .Eliphas Levi A Chave dos Grandes Mistérios . Hermes adivinhou-vos. Pla tão aspirava a vós em tolos os sonhos de seu gênio. um único pôde dizer de vós: Meu pai e eu somos apenas um. pois. no entanto. porque restava-lhe por consolo a verdade e a justiça! Vós sois o único santo. e destes-me. e sabeis se al gum dia acreditei estar puro diante de vós. glória se ja. se rros. a calúnia. Amo a humanidade porque os homens.EPÍLOGO EPÍLOGO o infinito com uma criação inesgotável. e. um único sábio vos revelou aos filhos da terra. mas um único iniciador. que devem ser reconduzidos cedo ou tarde ao cul to da justiça pelo amor da verdade. que lhes destes como um sustentáculo em meio a suas provações. aquele que escreve estas linhas muito lutou e sofreu. o abandono dos que amava. as formas passam e vos adoram! Abraão conheceu-vos. As matemáticas vos provam. a proscrição odiosa. enquanto não são insensatos. depois venci-as. Que meus livros vão agora onde Vossa Providência os s de vossa sabedoria. Deus dos corações verdadeiros e das almas justas. fui como todos os homens o joguete das paixões h umanas. para ele. Pitágoras calculou vossos movimentos. a prisão. nunca são maus a não ser por erro ou fraqueza. sei ao menos que meu amor pela justiça e pela verdade lhes alidade não pode deixar de recolher as aspirações e os votos de Eliphas Levi FIM 145 enviar. nunca se julgo u infeliz. vós o sabeis. as harmonias vos cant am. venceste-as em mim. a paz profunda dos que buscam e ambicionam a vós somente. serão mais fortes que o esquecimento. suportou a pobreza. Se contiverem as palavra ao contrário contiverem apenas e sobreviverá. pois que toda sua glória é para vós! Pai. e que assim a imort minha alma que criastes imortal! . ou antes. para que aí repousasse. Amam naturalmente o bem e é por esse amor. A Chave dos Grandes Mistérios .org 146 .Eliphas Levi A Chave dos Grandes Mistérios .Eliphas Levi www.gnosisonline.