A alteridade como desafioReconhecer o próximo é parte essencial para a própria percepção de si, já que o "eu" só existe no contato com o outro, em um processo em que cada um se torna interdependente Por Rodrigo Santos Manzano O “EU” EM FOCO Talvez um dos grandes pontos da história do pensamento humano para o desenvolvimento do individualismo tenha sido a descoberta da consciência. O primeiro filósofo a dar uma forte contribuição para esse tema foi Santo Agostinho (354-430). Buscando expor o caminho que cada homem devia traçar para chegar ao Sumo Bem, Deus, e assim à felicidade, Agostinho usa exemplos de sua própria vida na mais conhecida de suas obras, Confissões. O filósofo traça os diversos caminhos vividos por ele, experimentando as mais diversas filosofias as, até encontrar no cristianismo fortemente influenciado por Plotino da Milão do século IV, respostas mais firmes para seus questionamentos, de forma especial sobre a questão do mal. Seguido por ele, René Descartes (1596-1650) defendia a certeza do cogito, único ponto inquestionável numa primeira análise e acabou por justificar o egoísmo, mesmo sem ter intenção, uma vez que nem mesmo a certeza das consciências alheias me são possíveis, pois o mundo interior de alguém é algo totalmente inatingível pela razão humana. A Fenomenologia desenvolvida por Bertrand Russell (1872-1970) acabou afunilando ainda mais essa posição, já que só conhecemos aquilo que as coisas nos mostram, os fenômenos (do grego, “aquilo que aparece”) e não a coisa em si, sendo m uito difícil explicar ou mesmo conhecer a consciência alheia. Desta forma, a individualidade e a subjetividade, conceitos que ganharam espaço na re exão sobre o ser humano a partir destes pensadores, geraram seus respectivos “ismos”, ou seja, o individualismo e o subjetivismo. O contexto econômico que surge a partir do século XVII, com o capitalismo comercial, depois no século XVIII, com o industrial, fez que este cenário fosse se intensificando cada vez mais, trazendo a questão da posse, da obtenção por meio da compra, e assim, as próprias relações sociais pareceram tornar- -se mercadorias. O individualismo e o subjetivismo tornaram-se bandeiras para um discurso de independência, mas que como facilmente notamos em nosso tempo, ironicamente aumentou o processo de massi cação e de alienação diante da realidade, fazendo dos seres humanos meros números num processo que cada vez mais o desumaniza. AS RAÍZES do individualismo atual É comum ver a postura individualista associada aos tempos atuais, por muitos denominados como pós-moderno. O individualismo, no entanto, surge com a Modernidade e, de acordo com Simmel - em texto que tematiza o indivíduo e a sociedade em certas concepções da existência dos séculos XVIII e XIX - passa por diferentes etapas. Em um primeiro momento, o individualismo significou ter liberdade e autonomia, ainda percebendo- se e percebendo aos outros na qualidade de homem universal, por natureza livre e igual a todos os outros; mais tarde, ele seguiu o caminho de criar uma singularidade e apareceu com uma nova faceta: a busca por uma personalidade autêntica e única e o desejo de colocá-la em evidência. Simmel distingue o individualismo do século XVIII daquele do século XIX. O primeiro seria o individualismo quantitativo, do homem isolado, mas livre e responsável. Já o segundo, seria o individualismo qualitativo, aquele no qual a liberdade é uma forma de o indivíduo realizar-se em sua particularidade, ver-se como ser incomparável. Mais do que a autonomia, nesta forma de individualismo o que se valoriza é a singularidade. (Esses conceitos aparecem no texto O indivíduo e a liberdade, do sociólogo alemão Georg Simmel (1858-1918).) no entanto. Deus. Buscando expor o caminho que cada homem devia traçar para chegar ao Sumo Bem. pois o mundo interior de alguém é algo totalmente inatingível pela razão humana. do sociólogo alemão Georg Simmel (1858-1918). experimentando as mais diversas loso as. surge com a Modernidade e. e assim à felicidade. uma vez que nem mesmo a certeza das consciências alheias me são possíveis. o filósofo tenta justi car sua visão de que a totalidade é marcada por uma racionalidade. mas que como facilmente notamos em nosso tempo. Seguido por ele. único ponto inquestionável numa primeira análise e acabou por justi car o egoísmo. AS RAÍZES do individualismo atual É comum ver a postura individualista associada aos tempos atuais. seria o individualismo qualitativo.O “EU” EM FOCO Talvez um dos grandes pontos da história do pensamento humano para o desenvolvimento do individualismo tenha sido a descoberta da consciência. O individualismo e o subjetivismo tornaram-se bandeiras para um discurso de independência. geraram seus respectivos “ismos”. O primeiro seria o individualismo quantitativo. já que só conhecemos aquilo que as coisas nos mostram. ele seguiu o caminho de criar uma singularidade e apareceu com uma nova faceta: a busca por uma personalidade autêntica e única e o desejo de colocá-la em evidência. que ele chama de Espírito Absoluto. com o industrial. verificável pelos . por muitos denominados como pós-moderno. ou seja. nesta forma de individualismo o que se valoriza é a singularidade. e assim. Mais do que a autonomia. ver-se como ser incomparável. trazendo a questão da posse. de acordo com Simmel . e principalmente sobre a posição de xeque em que este colocou a Metafísica. respostas mais rmes para seus questionamentos. Tendo sido ele herdeiro das análises feitas por Kant sobre o processo epistemológico. mais tarde. Agostinho usa exemplos de sua própria vida na mais conhecida de suas obras. depois no século XVIII. da obtenção por meio da compra. ironicamente aumentou o processo de massi cação e de alienação diante da realidade. “aquilo que aparece”) e não a coisa em si. René Descartes (1596-1650) defendia a certeza do cogito. Confissões. Simmel distingue o individualismo do século XVIII daquele do século XIX. O filósofo traça os diversos caminhos vividos por ele. (Esses conceitos aparecem no texto O indivíduo e a liberdade. por natureza livre e igual a todos os outros. com o capitalismo comercial.passa por diferentes etapas. os fenômenos (do grego. fez que este cenário fosse se intensificando cada vez mais. até encontrar no cristianismo fortemente influenciado por Plotino da Milão do século IV.) A DIALÉTICA DA ALTERIDADE Hegel é lho de um contexto totalmente inovador na história do pensamento humano. o individualismo significou ter liberdade e autonomia. O contexto econômico que surge a partir do século XVII. ainda percebendo.-se mercadorias. as próprias relações sociais pareceram tornar. Desta forma. Em um primeiro momento. fazendo dos seres humanos meros números num processo que cada vez mais o desumaniza. sendo muito difícil explicar ou mesmo conhecer a consciência alheia. o individualismo e o subjetivismo. O individualismo.se e percebendo aos outros na qualidade de homem universal. O primeiro filósofo a dar uma forte contribuição para esse tema foi Santo Agostinho (354-430). aquele no qual a liberdade é uma forma de o indivíduo realizar-se em sua particularidade.em texto que tematiza o indivíduo e a sociedade em certas concepções da existência dos séculos XVIII e XIX . mesmo sem ter intenção. a individualidade e a subjetividade. Já o segundo. do homem isolado. de forma especial sobre a questão do mal. A Fenomenologia desenvolvida por Bertrand Russell (1872-1970) acabou afunilando ainda mais essa posição. conceitos que ganharam espaço na re exão sobre o ser humano a partir destes pensadores. mas livre e responsável. Nesse processo.contrários. Com efeito. “Chamemos conceito o movimento do saber. A consciência-de-si só alcança sua satisfação em outra consciência de si. na consciência. O objeto existe fora de minha mente. Nesse contexto. Em primeiro momento. “Quando um objeto é em si mesmo negação. Da mesma forma que percebemos que há uma ideia correspondente ao objeto na realidade. Mas tal natureza universal independente. É a certeza da consciência. que leva à superação desta relação. a relação entre seres conscientes se baseia numa complexa relação de egoísmo e de incompletude. ela não vem de uma percepção interna. o que está fora e o que está dentro se completam no processo do conhecimento e. a dialética hegeliana chega ao seu extremo uma vez que o autor defende a ideia de que algo só toma consciência de si no contato com o externo. como uma necessidade própria de satisfazer seus desejos. se percebendo como incompleta. e objeto o que é como o objeto ou para-um Outro. Porém. sem ser este propriamente outra consciência. parte de um complexo maior. G.. que é seguido por um de fora para dentro. E somente ela é. Há aqui uma dependência da consciência daquilo que lhe é externo. Assim. a individualidade fica fortemente prejudicada.W. no desejo. A consciência se revela como um ser que deseja. dentro do esquema . ou então como sua natureza inorgânica universal. é apenas ele próprio”. ele é consciência. mas sim. mas existe também na minha mente. ou como consciência-de-si. mais ainda. e nisso é ao mesmo tempo independente. posterior à percepção do alheio. mas o desejo de algo que também se perceba. ou mais ainda. e tal reflexão chega ao ápice na relação da consciência com outra consciência. Assim. tenha consciência-de-si.. p. conceituação e consciência se fazem um só. o filósofo nos permite analisar como as consciências chegam ao ápice do autoconhecimento somente quando em contato umas com as outras. o em-si é a consciência. e este Outro. para a evolução da história. ele põe um objeto. então ca patente que o ser-em-si e o ser-para-um-Outro são o mesmo. Na vida. Aqui se apresenta uma nova espiral. Mas essa questão do desejo entra numa espiral. percebemos algo que conhece este objeto. Ou. mas para o próprio saber. Há um movimento de dentro para fora.. (. Vemos aqui o forte eco da concepção panteísta. e assim. ibidem. no processo do autoconhecimento. pois é isto o que conhecemos. É como se a consciência precisasse de uma espécie de provocação advinda de fora para refletir sobre sua própria existência. de fato: pois só assim vem-a-ser para ela a unidade de si mesma em seu ser outro”. mostrando a necessidade da alteridade no processo epistemológico. mas ela é igualmente aquilo para o qual é um Outro (o emsi): é para a consciência que o em-si do objeto e seu ser-para-um-Outro são o mesmo. ou está como determinidade em contraste com outra gura independente. A consciência-de-si precisa do outro. defronta um Outro e ao mesmo tempo o ultrapassa. fortemente marcado pela ideia de totalidade. Partes de um mesmo todo. das diversas oposições nos mais diversos graus de existência. Em seu complexo sistema filosófico. algo somente compreensível sob a ótica do sistema hegeliano. (Idem. Fenomenologia do Espírito. uma vez que cada ser é uma espécie de manifestação do Espírito Absoluto. como parte de um todo que se completa no alheio. o saber como unidade tranquila ou como Eu. então vemos que o objeto correspondente ao conceito. pois não é só o desejo do objeto alheio que se anula. para ele. a dialética hegeliana demonstra a necessidade recíproca de cada uma delas no processo de aprimoramento da consciência-de-si. não só para nós. (HEGEL. 141 – 142) Na relação entre duas consciências. a negação ou está em um Outro. objeto. própria do pensamento de Hegel. Hegel percebe a necessidade que a consciência sente deste alheio. Petrópolis: Vozes. que é o objeto do desejo. e objeto. p. Esta espiral demonstra que da aparente oposição pode se perceber uma lógica agindo para o aprimoramento desta mesma existência. Seguindo sua reflexão. 135) Hegel inicia a sua análise da autopercepção da consciência a partir da sua relação com algo exterior. na qual a negação está como negação absoluta. é o gênero como tal. de outra maneira: chamemos conceito o que o objeto é em-si. para Hegel. O Eu é o conteúdo da relação e a relação mesma. Como vemos. devido a essa natureza incompleta.F. cuja influência é notória em Hegel. a saber. uma espiral toma a realidade no famoso esquema tese-antítese-síntese.) É uma consciência-de-si para uma consciência-de-si. o ser-em-si é o além dela mesma. ou seja. de independência e do nosso próprio egoísmo” SOSEKI NATSUME A confusão e correria decorrente do mundo pós-moderno faz as pessoas intensificarem uma vida de consumo e egocêntrica Nesse veio-a-ser também para a consciência sua unidade com esse universal. embora plausíveis e relevantes. Em outras palavras: arrancou de si seu ser-para-si e fez dele um ser. Tentando traduzir. Porém.” (Idem. 172). ibidem. ou a singularidade que é a consciência efetiva. essa constitui na consciência como tal a sua essência. em que o objeto de sua Filosofia é a realidade como totalidade. quer dizer. de singularidade. O que realmente importa é que a análise feita por Hegel de que a construção da consciência. a partir de seu complexo totalitário. e cada parte como apenas um flash desta totalidade. é como se a consciência-de-si. A forma como Hegel enxerga a realidade. o Espírito Absoluto. Estas etapas levam à percepção do todo e à consciência de que o individual. como um Extremo objetivo. Para a consciência infeliz. Como realmente pode ser plausível uma análise que não deixa de ter um alto grau de especulação? Além do mais. o singular. desta razão maior que Hegel personaliza. E como a consciência se conserva a si mesma em sua negatividade. uma vez que estas são apenas momentos do Espírito Absoluto. “A solidão é o preço que temos de pagar por termos nascido neste período moderno. Tais questionamentos. nos parece estranha e talvez até criticável. é parte de um todo maior. tese-antítese-síntese. Unidade que para nós não incide mais fora dela – já que o singular suprassumido é o universal. Hegel parece deixar de lado totalmente qualquer tipo de individualidade.já citado. seu movimento nela instaurou isto: a singularidade em seu completo desenvolvimento. ao se deparar com outra consciência-de-si. e consequentemente . p. a razão que controla o universo. como negativo de si mesma. tão cheio de liberdade. a consciência retorna a si mesma. não são tão importantes para o objetivo deste artigo. “No pensamento que captou – de que a consciência singular é em si a essência absoluta –. se percebe na verdade como uma parte de uma “grande consciência”. Fruto da Fenomenologia. afetivos. a existência é analisada como algo que está aí. A filosofia heideggeriana busca analisar a existência e os seus fatores constitutivos. o Existencialismo busca trabalhar com os dados perceptíveis e não com os dados especulativos. já é cada vez constitutiva da própria presença. No ser-com e para os outros. existente. O “outro” ente possui. Desta forma. um fato. Ser e Tempo. Assim. colocado. todas as potencialidades próprias do ser humano só se desenvolvem a partir do contato com o outro. E é nesta relação que surge uma forma privilegiada de ser. o ser humano é quem melhor consegue compreender-se dentro desta lógica do dasein.da identidade. a humanidade. tão fortemente levados a sério em outras correntes losó. A partir da relação de uns com os outros nos percebemos e nos construímos e é essa relação que gera um complexo unitário. en m. a partir da dialética na relação das consciências. conscientes. A relação ontológica com os outros torna-se. o estudo das relações dialéticas entre consciências. vejamos como um dos pais do Existencialismo. porque pode refletir sobre si mesmo e sobre sua existência. a partir do esquema de fora para dentro e de dentro para fora foi de muita importância para o conhecimento humano. A DIALÉTICA HEGELIANA CHEGA AO SEU EXTREMO UMA VEZ QUE O AUTOR DEFENDE A IDEIA DE QUE ALGO SÓ TOMA CONSCIÊNCIA DE SI NO CONTATO COM O EXTERNO O MITSEIN HEIDEGGERIANO Para completar o caminho aberto pela abordagem hegeliana da autoconsciência. Porém. Petrópolis: Vozes. p. racionais. buscando romper com todo idealismo e toda Metafísica. o modo de ser da presença (dasein). Martin Heidegger. “Do ponto de vista ontológico. O outro é um duplo si mesmo. Como foi dito anteriormente. Neste processo.cas. aquilo que em alemão se definiu como dasein. ele mesmo. M. colocando-se numa posição crítica frente aos fatores suprassensíveis. sofrendo e exercendo in uências na formação daquilo que somos. o ser para os outros é diferente do ser para coisas simplesmente dadas. subsiste. (HEIDEGGER. uma relação ontológica entre presenças. Só podemos nos perceber como seres humanos. é algo notável e nos ajuda a entender a necessidade da alteridade. pois. relaciona-se com a presença. trata a questão do outro. uma vez que este ser existe em um mundo anterior a si. pode-se dizer. a qual possui por si mesma uma compreensão de ser e. pois o ápice da percepção do dasein está na relação entre esses seres. Essa relação. surge uma série de relações. o ser aí. assim. a existência parece não ter nenhum motivo e nem mesmo um objetivo. Assim. portanto. 181) . a partir de sua loso a do ser existente. que também são formas do dasein. projeção do próprio ser para si mesmo “num outro”. só nos fazemos humanos numa relação dialética com os outros seres humanos. lida com objetos alheios a si e se relaciona com outros seres. revelando este caráter do dasein.) são aqueles dos quais. PRESENÇA DO OUTRO Os seres conscientes... Assim.René Descartes (1596-1650) justificou certo egoísmo ao eleger o cogito como única certeza inquestionável Alteridade é “natureza ou condição do que é outro. O „também‟ signi fica a igualdade no ser enquanto ser-no-mundo que se ocupa dentro de uma circunvisão. se veem diante de um mundo no qual vivem. Toda a existência. não se consegue propriamente diferenciar. do que é distinto” (Dicionário Houaiss). na maior parte das vezes. Esse estar também com os outros não possui o caráter ontológico de um ser simplesmente dado „em conjunto‟ dentro de um mundo. e coisas estas que nos vêm às mãos pela ação de outros humanos. que interfere. de coisas com as quais devem interagir. da visão desse. „Com‟ e „também‟ devem ser entendidos existencialmente e não categorialmente. que para Heidegger são a forma privilegiada do dasein. influencia. “Os outros (. interage conosco. O „com‟ é uma determinação da presença. o “eu” só existe em contato com o outro – e a partir do outro. são aqueles entre os quais também se está. Seu conceito parte da premissa de que todo homem social interage e interdepende de outros homens. portanto. À base desse ser -no- . são os que podem se perceber nesta dinâmica de existência. é marcada pela presença do outro. e que está circunscrita no espaço. que vê no processo de conhecimento do outro um movimento do Espírito Absoluto. buscando explicitar o sentido do existir. como nas loso as idealistas. Heidegger abre caminhos para uma reflexão ética uma vez que ele percebe que os demais seres são dependentes entre si. Em outras palavras. o processo de Heidegger intui este ser como algo que é realidade nos vários seres. Heidegger vê a preocupação de duas formas: uma que acaba aprisionando. daquilo que vem a ser. uma vez que a única aparente certeza que se tem nela é o seu fim. alienando. fazendo dos seres humanos meros números . O ser-em-si intramundano desses outros é co-presença. ibidem. Mesmo sendo contrário à atribuição de um sentido à existência. Ao contrário de Hegel. 174 – 175). o mundo é sempre o mundo compartilhado. um ser que se faz real nos seres. A outra. como se um vivesse a vida do outro. Inclusive. e que se relacionam entre si. o dasein é apenas um conceito que busca explicar a complexa realidade da existência. ironicamente. p. em alemão).” (Idem. Pelo contrário.nir a relação com o outro pelo conceito de preocupação. Assim. p. mostrando que a presença é em si copresença. mesmo que se busque fechar aos outros. que sua análise. ibidem. porque chega a ser contraditória a existência. O dasein se revela como abertura. “A convivência cotidiana mantém -se entre os dois extremos da preocupação positiva – o salto dominador que substitui e o salto liberador que antecipa. 178 – 179). nasce também uma relação nesta lógica do ser-com. O ser-em é ser-com os outros. chega à conclusão de que o ser é ser-para-amorte. A análise de Heidegger nos leva a refletir sobre a necessidade de ver o outro como um ser existente e consciente de sua existência. E em suma. não podendo ser ignorado. o dasein é mitsein (“ser-com”. O individualismo. na formação da existência. num processo de auxílio na construção do outro. no mundo e no tempo. é a partir do conceito de dasein que este se torna realidade nos seres existentes.” (Idem. mas que são individuais. busca auxiliar na libertação.mundo determinado pelo com. tão forte é a questão do tempo em Heidegger. que podem tomar consciência de sua existência. vendo isso como algo que é fato. Assim. Não existe. uma angústia será sempre notória na existência. levou a um processo de massificação. no qual cada parte se move dentro dele. pois toma do outro o cuidado que ele deve ter consigo mesmo. Assim. tomando a angústia que é própria da existência. mais positiva. única coisa realmente garantida na existência. Heidegger vai de. nosso tempo pede como desafio o um olhar mais atento às necessidades do próximo. re etir sobre a humanidade. que mesmo não percebendo. urge a partir do reconhecimento do outro neste processo em que cada um se torna interdependente. e querer se retirar da coexistência. e consequentes rivalidades. sobre a dialética indivíduocomunidade. O verdadeiro sentimento de humanidade. para que o conceito de humanidade não acabe cedendo espaço ao de selvageria ou barbárie em que cada vez mais os seres humanos se afundam. que busquemos mais sua evolução. perdendo sua própria identidade. reconhecendo a dignidade deste. Nosso tempo precisa valorizar a alteridade. As abordagens trazidas por Hegel e Heidegger nos apontam para a natureza incompleta. limitada do ser humano. seu crescimento. da convivência. e que faça crescer em nós os laços de solidariedade. Afinal. segundo Hegel. negar a importância do outro é negar o próprio autoconhecimento. podemos repensar a relações e até novas noções éticas para toda a humanidade. vão se tornando mais acentuadas e ameaçam até mesmo as sociedades em todo o mundo. Reconhecer o outro como uma parte de um todo compartilhado é algo necessário. necessita do próximo para se completar. não é algo tão irracional. Pelo contrário. de humanismo. O primeiro passo para o homem se tornar mais humano é reconhecer o valor do próximo e nossa própria natureza. uma vez que diferenças. é viver inautenticamente. A partir da abertura para o outro. Assim. revisitar esta ideia. que ser humano pode se constituir como tal sem a presença de outros seres humanos? .Portanto. que nos leve mais ao próximo. psicológica. aponta para a necessidade do próximo em nossas vidas e na formação do nosso ser. nossa constituição interna. como diria Heidegger. e assim nos posicionarmos de um modo diferente.