[7255 - 20654]Teoria Do Conhecimento Livro Completo

March 29, 2018 | Author: Sander Patrik Remedi Moraes | Category: Knowledge, Science, Reality, Thought, Phenomenology (Philosophy)


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Universidade do Sul de Santa CatarinaTeoria do conhecimento UnisulVirtual Palhoça, 2013 Créditos Universidade do Sul de Santa Catarina – Unisul Reitor Ailton Nazareno Soares Vice-Reitor Pró-Reitor de Ensino e Pró-Reitor de Pesquisa, PósGraduação e Inovação Diretora do Campus Universitário de Tubarão Mauri Luiz Heerdt Pró-Reitor de Desenvolvimento e Inovação Institucional Milene Pacheco Kindermann Diretor do Campus Universitário Grande Florianópolis Sebastião Salésio Herdt Chefe de Gabinete da Reitoria Hércules Nunes de Araújo Diretor do Campus Universitário UnisulVirtual Willian Máximo Valter Alves Schmitz Neto Moacir Heerdt Campus Universitário UnisulVirtual Gerente de Administração Acadêmica Coordenadora da Acessibilidade Coordenadora de Webconferência Angelita Marçal Flores Secretária de Ensino a Distância Vanessa de Andrade Manoel Gerente de Logística Carla Feltrin Raimundo Gerência Serviço de Atenção Integral ao Acadêmico Samara Josten Flores Gerente Administrativo e Financeiro Jeferson Cassiano Almeida da Costa Gerente de Marketing Maria Isabel Aragon Assessor de Assuntos Internacionais Renato André Luz Gerente de Ensino, Pesquisa e Extensão Eliza Bianchini Dallanhol Coordenadora do Portal e Comunicação Murilo Matos Mendonça Assessora para DAD - Disciplinas a Distância Roberto Iunskovski Coordenadora da Biblioteca Cátia Melissa Silveira Rodrigues Gerente de Produção Patrícia da Silva Meneghel Assessora de Inovação e Qualidade da EaD Salete Cecília de Souza Gerente de Desenho e Desenvolvimento de Materiais Didáticos Arthur Emmanuel F. Silveira Coordenador do Design Gráfico Dênia Falcão de Bittencourt Assessoria de relação com Poder Público e Forças Armadas Márcia Loch Coordenadora do Desenho Educacional Pedro Paulo Teixeira Coordenador do Laboratório Multimídia Cristina Klipp de Oliveira Sérgio Giron Coordenador de Produção Industrial Adenir Siqueira Viana Walter Félix Cardoso Junior Assessor de Tecnologia Marcelo Bitencourt Osmar de Oliveira Braz Júnior Unidades de Articulação Acadêmica (UnA) Educação, Humanidades e Artes Marciel Evangelista Cataneo Articulador Bernardino José da Silva Gestão Financeira Direito Sidenir Niehuns Meurer Thiago Coelho Soares Programa de Pós-Graduação em Gestão Pública. Programa de Pós-Graduação em Gestão Empresarial Dilsa Mondardo Itamar Pedro Bevilaqua Segurança Pública Marketing Graduação Jorge Alexandre Nogared Cardoso Pedagogia Filosofia Janaína Baeta Neves José Onildo Truppel Filho Segurança no Trânsito Ciências Econômicas Turismo Produção, Construção e Agroindústria Diva Marília Flemming Articulador Marciel Evangelista Cataneo Maria Cristina Schweitzer Veit Joseane Borges de Miranda Luiz Guilherme Buchmann Figueiredo Maria da Graça Poyer Comércio Exterior Docência em Educação Infantil, Docência em Filosofia, Docência em Química, Docência em Sociologia Graduação Ana Luísa Mülbert Gestão da Tecnologia da Informação Rose Clér Estivalete Beche Charles Odair Cesconetto da Silva Produção Multimídia Matemática. Formação Pedagógica para Formadores de Educação Profissional. Pós-graduação Daniela Ernani Monteiro Will Karla Leonora Dahse Nunes História Militar Metodologia da Educação a Distância Docência em EAD Moacir Fogaça Diva Marília Flemming Ivete de Fátima Rossato Gestão da Produção Industrial Logística Processos Gerenciais Nélio Herzmann Ciências Contábeis Gestão Pública Jairo Afonso Henkes Gestão Ambiental. Onei Tadeu Dutra Roberto Iunskovski Pós-graduação Aloísio José Rodrigues Gestão de Segurança Pública José Carlos da Silva Júnior Ciências Aeronáuticas Agronegócios Ciências Sociais, Direito, Negócios e Serviços Roberto Iunskovski Articulador Gestão de Cooperativas José Gabriel da Silva Mauro Faccioni Filho Sistemas para Internet Graduação Aloísio José Rodrigues Serviços Penais Administração Danielle Maria Espezim da Silva Direitos Difusos e Coletivos Pós-graduação Luiz Otávio Botelho Lento Gestão da Segurança da Informação. Giovani de Paula Segurança Ana Paula Reusing Pacheco Vera Rejane Niedersberg Schuhmacher Letícia Cristina B. Barbosa Programa em Gestão de Tecnologia da Informação Gestão de Cooperativas de Crédito Alexandre de Medeiros Motta Gabriel Henrique Collaço Marciel Evangelista Cataneo Vilson Leonel Teoria do conhecimento Livro didático Designer instrucional Eliete de Oliveira Costa UnisulVirtual Palhoça, 2013 2. Alexandre de Medeiros Motta. Inclui bibliografia. 28 cm. Marciel Evangelista. Costa. Teoria do conhecimento. II. Motta. : il. Livro Didático Professores conteudistas Alexandre de Medeiros Motta Gabriel Henrique Collaço Marciel Evangelista Cataneo Vilson Leonel Designer instrucional Eliete de Oliveira Costa Projeto gráfico e capa Equipe UnisulVirtual Diagramador(a) Marina Broering Righetto Revisor(a) Diane Dal Mago 121 T 29 Teoria do conhecimento : livro didático / conteudistas. design instrucional Eliete de Oliveira Costa. I. Leonel. 1. 103 p. – Palhoça : UnisulVirtual. Alexandre de Medeiros. Gabriel Henrique Collaço. III. Vilson. Eliete de Oliveira. 2013. Marciel Evangelista Cataneo. . Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca Universitária da Unisul . Collaço. Gabriel Henrique. Cataneo.Copyright © UnisulVirtual 2013 Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida por qualquer meio sem a prévia autorização desta instituição. V. IV. Vilson Leonel . Filosofia. Tecnologia e Arte I 25 Capítulo 3 As raízes da Teoria do Conhecimento I 43 Capítulo 4 Questões do conhecimento no pensamento moderno e contemporâneo I 61 Capítulo 5 Ética na produção e socialização do conhecimento I 85 Considerações Finais I Referências I 99 97 Sobre os Professores Conteudistas I 103 .Sumário Introdução I 7 Capítulo 1 Concepções e formas de conhecimento I 9 Capítulo 2 Ciência. . conteúdos e atividades aqui disponibilizados são “propedêuticos”. 1991. na busca de solução para os desafios e problemas que marcam os campos do saber e de ocupação profissional hodiernos. situação. Ele será apresentado como uma produção histórica e cultural. No dizer de Nietzsche. que não se intimida diante de nenhum sacrifício e no fundo nada teme.Introdução Somos modernos.” (NIETZSCHE. se sobressai a capacidade de pensar e de tomar decisões. W. Conhecimento implica saber quais informações e dados são relevantes e em que situações usá-los. p. Esta perspectiva filosófica está na base de todo esforço humano por compreender as coisas e o mundo e atribuir-lhes sentido. Você ainda irá desenvolver as habilidades que lhe são inerentes: refletir criticamente. Conhecimento é mais do que ter informações e dados sobre determinado tema ou assunto. transmudou-se em paixão. As habilidades. O pensamento e o conhecimento produzem ideias. preparatórios para o estudo e compreensão de todas as outras Unidades de Aprendizagem do itinerário formativo que você escolheu. caminhos e possibilidades. F. São Paulo: Nova Cultural. Por fim. cabe ressaltar a importância desta Unidade de Aprendizagem para a sua trajetória universitária. Obras incompletas. sempre atento/a às responsabilidades e exigências éticas da produção e socialização do conhecimento. fato. a não ser a sua própria extinção. desenvolvimento histórico e atualidade do conhecimento. Entre as qualidades exigidas de todos nós nas relações sociais e laborais. saber julgar e detectar contradições e incoerências na realidade e discursos. renovam todas as coisas. elaborar conclusões. 5. Medir o peso de cada 7 . Ou seja. Nesta Unidade de Aprendizagem. Uma reflexão filosófica e prática (isto é o sentido lato de “teoria”) sobre as raízes. compreender a vida e tudo que nos rodeia. você vai refletir sobre o conceito de conhecimento. avaliar o peso de cada coisa. instiga e desafia. Conhecimento é sabedoria de vida. suas formas. Todos os itinerários disponíveis na formação superior exigem a correta compreensão da questão do conhecimento e da aplicabilidade das suas conquistas e reconhecimento dos seus limites e responsabilidade. “o conhecimento em nós.ed. A sociedade em que vivemos é frequentemente caracterizada como sociedade do conhecimento. saber argumentar em favor delas e demonstrá-las. 139 (Os pensadores). Tudo isto. ou seja. buscamos mais do que viver. reinventam o mundo. Vale muito o esforço para compreender os conteúdos. A sobrevivência e o sucesso pessoal e profissional em realidade tão competitiva dependem desta capacidade – oferecida pela teoria do conhecimento e pela ética. apreender as competências desta Unidade de Aprendizagem. escolha. decisão. Esta atitude pode fazer a diferença na sua carreira acadêmica. desenvolver as habilidades. Bons estudos! 8 . os relacionamentos e as circunstâncias que nos rodeiam e nos definem.atitude. de compreender o mundo. filosófico e científico. religioso.Capítulo 1 Concepções e formas de conhecimento Habilidades Este capítulo foi elaborado para propiciar ao aluno o desenvolvimento das habilidades de compreensão do conceito de conhecimento. artístico. observando as distinções das formas de conhecimento e a identificação das principais características do conhecimento do senso comum. Secões de estudo Seção 1: A origem do conhecimento Seção 2: Tipos de conhecimento 9 . 1 – Relação sujeito-objeto Fonte: Elaboração dos autores. p. necessariamente. profissional. Todas as pessoas julgam conhecer algo e. Na relação sujeito-objeto. então. 1999. capacidade de conhecer. Isso inclui o homem e o mundo na mesma dimensão e. social ou política”. o sujeito é aquele que possui capacidade cognitiva. Isso equivale a dizer que o conhecimento é o ato. grifo do autor) “é mais do que ter na memória um conjunto de informações: é conseguir fazer com que essas informações transformem-se em prática e sejam úteis sob a perspectiva pessoal. isto é. de fato. filosófico. MARTINS. temos uma visão mais complexa da realidade e a compreensão de nós mesmos como sujeitos ativos na produção do conhecimento. Temos que levar em consideração que todas as formas de conhecimento coexistem. dirigimos nossas perguntas ao mundo. o mundo é o que torna possível o conhecimento ao se oferecer a um sujeito apto a conhecê-lo. E conhecer. segundo Costa (2001. Podemos pensar um fenômeno por meio de matrizes de compreensão. artístico e científico. Figura 1.48).Capítulo 1 Seção 1 A origem do conhecimento A palavra conhecimento tem sua origem no latim. religioso. p. outras vezes ao próprio fenômeno do conhecimento. Por outro lado. e pressupõe. a existência de uma relação entre dois polos: de um lado o sujeito e de outro o objeto. aproximações e diferenças. estabelece uma ligação. (ARANHA. que é apreendido e transformado em conceito. Algumas vezes. cognitio. podemos dizer que o ser humano naturalmente busca conhecer o mundo a sua volta. pois essa é uma condição para manter-se vivo. aparecem diferentes maneiras de o sujeito “conhecer”. como o conhecimento do senso comum. com ele. O objeto é aquilo que se manifesta à consciência do sujeito. 4. o processo pelo qual o sujeito se coloca no mundo e. 10 . Com suas peculiaridades. nos seres humanos existe uma clara diferença entre os dados percebidos no meio ambiente e as respostas expressadas como reação. A manifestação definitiva desse pensamento ordenador se deu com a criação de um sistema simbólico específico que chamamos de linguagem. e passou a procurar respostas. e um homem sabe que. o que é o conhecimento. se jogar um objeto acima de sua cabeça. gráficos. p.Teoria do conhecimento Num sentido geral. a existência da sociedade etc. idealiza e conceitua aquilo que apreende do mundo e depois é capaz de reconhecê-lo e identificá-lo. enquanto ser biológico. o homem faz uma pausa e reflete. não seríamos capazes de definir. Imagina. por uma necessidade de compreensão e ordenação do mundo. Disso depende a consolidação e validação do conhecimento. Perceba que o ser humano ordena e dá significado ao mundo e isso inclui comunicá-lo. Nesse caso. O ser humano atribui significado às coisas do mundo físico. A diferença se deve ao fato de que. A primeira consiste na apropriação direta da realidade sem a mediação de outra pessoa ou de algum outro meio. existem duas maneiras de o sujeito se apropriar do conhecimento. num sentido exato.1 Distinção entre o conhecimento humano e o de outros animais Ao contrário do que acontece com outros animais. mímicos. A segunda ocorre de forma indireta. uma planta sabe que deve virar sua folhagem em direção à luz. Nesse caso. por razões ainda não completamente elucidadas. o sujeito opera “com” e “sobre” a realidade. às imagens mentais que ele mesmo constitui e aos sentimentos que experimenta. tão brevemente. pictóricos etc. Porém. podemos dizer que conhecimento é o que permite aos seres vivos manterem-se vivos. Antes de manifestar uma reação. atingi-lo. O desenvolvimento dessa capacidade de reflexão permitiu a ele agir baseado em uma vontade consciente e não mais somente nos instintos. o conhecimento humano respondia exclusivamente à necessidade de sobrevivência. 137-138). 1. em períodos remotos. assim como um cavalo sabe que determinado solo não é seguro para caminhar. expressar o pensamento e comunicá-lo aos outros. além do comportamento instintivo. quando em queda. Para Luckesi e outros (2003. ele foi além das solicitações imediatas. exclusivamente reativo. Porém. na qual a compreensão se dá por intermédio de um conhecimento já produzido por outra pessoa ou por meio de símbolos orais. poderá. 11 . Acredita-se que. capaz de representar a realidade. o ser humano tem um comportamento reflexivo. veja como Abbagnano (2000) o define: Conhecimento encontra-se definido como um procedimento operacional. além de ver a si como sujeito cognoscente. uma técnica de verificação de um objeto qualquer. “dizer” ao outro o que se sabe é fundamental para a compreensão do meio ambiente e de si próprio. e por objeto há de entender-se qualquer entidade. mas também recria a realidade. No decorrer da história da humanidade. o ser humano produziu inúmeros tipos de conhecimento. fato. Ora. de ser autoconsciente. que possa ser submetido a um tal procedimento. quanto mais complexo é o sistema de comunicação. Agora que você acompanhou essas considerações preliminares sobre o conhecimento. desenvolveram-se e tornaram-se cada vez mais complexos os meios de comunicação e de socialização do conhecimento. de modo que. interpreta e humaniza a realidade. também abstrai. destacamos duas fundamentais: a relação entre o sujeito e o objeto do conhecimento. 12 . coisa. mais complexo é o pensamento e o conhecimento humano. realidade ou propriedade. permeiam várias questões importantes da Teoria do Conhecimento. A relação cognitiva é uma apresentação do objeto e a operação cognitiva um processo de transcendência. Esse “dizer” do homem não tem a função exclusiva de representar o mundo.e a operação cognitiva é um procedimento de identificação com o objeto ou uma sua reprodução. na definição citada. qualquer procedimento que torne possível a descrição. O conhecimento depende do caráter coletivo. à medida que não somente reproduz o que apreende. explicações sobre cada uma destas questões. depende do outro.Capítulo 1 Nesse sentido. Acompanhe. é difundida a tese de que existe certa correspondência entre a linguagem e a complexidade das operações mentais que um ser humano é capaz de executar. como um ser que é capaz de conhecer. A relação cognitiva é uma identidade ou semelhança. o cálculo ou a previsão controlável de um objeto. A capacidade humana de operar com elementos e situações abstratas está ligada a uma linguagem apropriada para transmitir raciocínios. Por se tratar de um animal capaz de refletir sobre si mesmo. na sequência. ou seja. a diferenciação entre o conhecimento empírico e o conhecimento abstrato. isto é. Bem. Entre as suscitadas. Ao apreender o objeto. nem as proposições da ciência. Ora. 13 . Entre as operações mentais temos a abstração. A relação entre o sujeito e o objeto do conhecimento é um tema de discussão típico da T eoria do Conhecimento. Essas operações são entendidas como ações internas do sujeito cognoscente. organizadas e coordenadas para fazer combinações. A própria linguagem envolvida nas informações e na socialização do conhecimento se torna relevante para esse processo. mesmo tudo aquilo que se dá a conhecer. a fenomenologia é um método de investigação contemporâneo que propõe descrever a realidade como ela se apresenta. mas no sentido de “objeto do conhecimento”. nem o senso comum. Além disso. conceitos. a imaginação etc.visto que o sujeito somente pode apreender o que está fora de si . Conforme Ferrater Mora (1994). sujeito e objeto. até certo ponto. e que ambos. É a partir dessa imagem que as operações mentais interpretam e dão significado ao que é apreendido. tais papéis não são tão bem definíveis assim. Os sujeitos interagem no processo de construção do conhecimento e sofrem “passivamente” a interferência do ambiente cultural. a memorização. reproduz as características e propriedades do objeto. nem as experiências psíquicas. Nesse caso. do mundo do trabalho. contra um papel passivo do objeto apreendido. imagens etc.mas esses são tão interligados no ato de conhecer que não faz sentido tratá-los como entes independentes.1. mas é inegável que esse conhecimento também modifica o próprio sujeito. exclusivamente como sendo físico. o conhecimento pode ser identificado como processo ou como resultado da apreensão do objeto pelo sujeito. É possível definir o conhecimento como algo que emerge da interação entre o sujeito que conhece ou deseja conhecer e o objeto a ser conhecido ou que se dá a conhecer. que inclui coisas e fenômenos físicos e mentais.1 Relação entre o sujeito e o objeto do conhecimento Retomamos aqui o que foi rapidamente explicado no início deste capítulo. o sujeito cognoscente forma uma imagem mental que. Correntes filosóficas como a fenomenologia defendem que sujeito e objeto são distintos . a classificação.Teoria do conhecimento 1. a análise. são seres independentes. aqui. ou seja. a comparação. pode parecer que o sujeito exerce um papel exclusivamente ativo na apreensão do conhecimento. O objeto não é entendido. juntar e separar ideias. o sujeito apreende o objeto e lhe atribui um significado. A princípio. do cotidiano etc. Deve-se colocar “antes” de toda crença e de todo julgamento o simplesmente “dado”. desenvolvem o conhecimento. Para a fenomenologia nada deve ser pressuposto: nem o mundo natural. Além disso. 14 . tudo isso faz com que o conhecimento científico seja objetivo. 4). pode modificar-se e adquirir outro significado em relação a outros objetos do contexto. que é o conhecimento. mas do consenso entre especialistas. em que algumas vezes o objeto do conhecimento é o próprio sujeito que conhece. Sendo assim. pois mais subjetivo será o conhecimento emergido dessa interação. T udo isso faz com que o conhecimento científico sobre o objeto estudado seja o mais fiel possível ao próprio objeto. não são acidentais ou variadas. a distinção entre o sujeito e o objeto permite estabelecer um parâmetro de objetividade em que. Existem outras peculiaridades relativas ao sujeito e ao objeto do conhecimento. as condições em que as experimentações científicas são realizadas não dependem da “escolha” dos cientistas. para finalizar esta seção. o objeto do conhecimento é uma ideia forjada pela mente do sujeito cognoscente de algo que não existe. a instituição conhecida como comunidade científica cerca-se de regras. “conhecer é apropriar-se mentalmente de algo”. mas são determinadas pela comunidade científica. métodos e instrumentos que buscam garantir a validade universal do conhecimento em questão. que não basta acumular informações e experiências. de acordo com o jeito que ele existe e não do jeito que um ou outro cientista julga que ele é. de acordo com a experiência de vida de cada pessoa. mais comprometida fica essa objetividade. tal como a ideia de um cavalo alado. segundo Costa (2001. tanto na formulação quanto na comunicação das suas teorias. No caso do conhecimento científico. o sujeito que conhece tem uma intencionalidade que interfere na apreensão e no entendimento do objeto. Ainda. e quanto mais “próximo” um estiver do outro. cada qual com suas características. A seguir você conhecerá os tipos de conhecimento.Capítulo 1 Para a fenomenologia. mais “objetivo” e universal. em outras. pode-se dizer. por sua vez. Esse entendimento. ou seja. a ciência busca evitar equívocos ou duplas interpretações. p. quanto mais “distância” houver entre o sujeito e o objeto. Um resultado de uma busca de conhecimento. A objetividade é uma característica daquele conhecimento que não depende dos pontos de vista particulares. mas o mais importante é saber a maneira como essas serão aplicadas. seguem procedimentos preestabelecidos. Principalmente pela utilização da linguagem matemática. o problema da justiça. religioso.2 – Tipos de conhecimento Fonte: Elaboração dos autores. Estamos nos referindo aos tipos de conhecimento: senso comum. Para facilitar a compreensão deste assunto. artístico e científico. O mendigo conhece a praça. visto que todos os sujeitos afirmam conhecer. o conhecimento tem significado diverso e. ao mesmo tempo. é comum ouvir as pessoas afirmarem que conhecem coisas. da Arte. 15 . O mecânico diz que conhece o carro. Nas situações citadas. O treinador conhece o time. A mãe diz que conhece o filho. Você já imaginou de quantas formas é possível compreender este fenômeno tão antigo na história da humanidade? Esse problema pode ser “entendido” à luz do senso comum. considere. como exemplo. O matemático conhece a fórmula etc. filosófico. da Filosofia e da Ciência.Teoria do conhecimento Seção 2 Tipos de conhecimento No cotidiano. mantém algo em comum. da Religião. isso significa dizer que um único objeto pode ser entendido à luz de diversos ângulos e aspectos. Você já imaginou as soluções que os referidos tipos de conhecimento apresentariam para esse problema? Observe a figura: Figura 1. O conhecimento pode ocorrer de diversas formas. O advogado conhece a questão. É uma forma de conhecimento assistemática e a-metódica. 52). muitas pessoas. Todos nós sabemos muitas coisas que nos ajudam em nosso dia a dia e que funcionam bem na prática. impossibilita a realização de experimentos controlados. o seu conteúdo se forma a partir da experiência que se vivencia no dia a dia. não se constituindo em uma teoria. Consiste na ação pela ação. 16 . está alinhado com um sentido pragmático. não apresenta limites de validade”.1 O conhecimento popular ou do senso comum O conhecimento popular ou do senso comum é “[. dogmático (crenças arbitrárias). Além das características mencionadas. (GEWANDSZNAJDER. que não permitem o estudo ou a investigação sobre um determinado fenômeno. subjetivo (fragmentado) e inseguro. 23-27) apresenta as seguintes características para o senso comum: “resolve problemas imediatos (vivencial). uma vez que procura resolver problemas cotidianos. Esse conjunto de crenças e opiniões.] aquele que não surge do estudo sistemático da realidade a partir de um método específico. como não busca. do senso comum. Considerada a primeira forma de conhecimento.. gerada basicamente pela interação do ser humano com o mundo e fundamentada na experiência individual. 2004. 1989. p. Por isso. Forma de conhecimento que provém da experiência cotidiana. mas provém do ‘viver e aprender’. uma utilidade habitual. sabem a época certa de plantar e de colher.. passadas de geração em geração. essencialmente de caráter prático. as verdades apresentam certa durabilidade e estabilidade (crença). Então. O conhecimento popular. não conseguimos explicar adequadamente um fenômeno. as raízes da realidade. como não suporta a dúvida permanente e como está vinculado à cultura e a práticas antigas. 8). mesmo sem nunca ter frequentado uma escola. elaborado de forma espontânea e instintiva (ametódico). que o conhecimento “popular”. Köche (1997. profundamente. porém. da experiência de vida” (RAUEN. (APPOLINÁRIO. p. do senso comum. linguagem vaga e baixo poder de crítica. Nas zonas rurais. 1999. Observe. é possível afirmar também que o conhecimento do senso comum é sensitivo. por meio desse tipo de conhecimento.Capítulo 1 2. sem ideias comprovadas. p. forma o que se costuma chamar de conhecimento comum ou senso comum. p. 186). às vezes incorpora explicações religiosas ou míticas. Essas ‘verdades’ reveladas são aceitas como lei. dogmáticas e inquestionáveis. Você. não pela sua veracidade empírica ou validade lógica. na aceitação de princípios dogmáticos. 5). Nesse caso. em muitas culturas. passando a se tornar uma sabedoria proveniente da cultura popular. próprias desse tipo de conhecimento. ou seja. como no caso do manuseio do chá caseiro ou das ervas medicinais. 2005. partindo do “[. pois se tratam de revelações da divindade”. precisamos do uso da razão. pois em muitas ocasiões de nossas vidas ele funciona socialmente. é necessário muito mais do que os órgãos sensoriais (visão. a partir do conhecimento adquirido por certas pessoas de seus pais ou avós. Contudo. A ideia de sabedoria. Para Laville e Dionne (apud RAUEN.. mas apenas aceitá-las pela fé. organizam-se meios sociais de manutenção e de difusão desse conhecimento. e a tradição ocorre quando. A intuição é a percepção imediata que dispensa o uso da razão.] princípio de que as verdades nas quais [se] acredita são infalíveis ou indiscutíveis. audição.. 23). p.Teoria do conhecimento Em muitas situações. p. O senso comum representa um conhecimento sensitivo e aparente.2 O conhecimento religioso ou teológico O conhecimento religioso ou teológico tem base na fé e na crença. tem a sensação de que a Terra está parada e não em movimento? Você vê que o céu é azul? Pois bem. está ligada à figura do ancião pelo fato de ele ter vivido muito tempo e ter acumulado muito conhecimento. paladar e tato. 17 . olfato. observamos o abandono da razão e um apego àquilo que é captado apenas pelos órgãos sensoriais: visão. não se pode dizer de maneira alguma que o conhecimento do senso comum possa ser considerado como de qualidade inferior aos demais conhecimentos. tendo a visão do mundo interpretada como resultante da criação divina. porque se apega à aparência dos fatos e não à sua essência. 2. por isso mesmo. para entender que a Terra não está parada e que o azul do céu é apenas uma ilusão de ótica. 2002. Isto é. uma vez reconhecida a pertinência de um saber. a forma de conhecimento religioso fundamenta-se na fé das pessoas. as fontes do conhecimento popular ou do senso comum são a intuição e a tradição. sem questionamentos (OLIVEIRA NETTO. por exemplo. tornando-se uma marca visível na formação da identidade cultural de uma comunidade. mas pela autoridade de quem as revela. não é necessário comproválas. O conhecimento religioso apoia-se em seres divinos que revelam aos homens proposições sagradas. que podemos entender como irrefutáveis e indiscutíveis. audição). configurando-se. não seria a realização do projeto de Deus? Reflita sobre essa questão e descubra situações as quais você conhece ou que estejam presentes na sua comunidade e que expressem a forma do conhecimento religioso. Nasce assim. como ser que existe independente e o qual detém não as potencialidades.] reflexão sobre a essência e a existência naquilo que elas têm como causa primeira e última de toda a vida”. Sendo assim. 1986. reflita: Para o conhecimento religioso. mas a ação do perfeito”. 30): 18 . pensada nessa perspectiva. Para Chauí (2005. 2. cuja referência é a estética. Nesse sentido. 2002. (BARROS.3 O conhecimento artístico O conhecimento artístico é baseado na intuição. tendo por objetivo maior manifestar o sentimento e não o pensamento. e não permitem revisão mediante a reflexão ou a experiência. Para Heerdt e Leonel (2006. p. Sua “matéria de estudo é Deus. Sendo assim. Continue seu estudo. podemos classificar sob este título os conhecimentos ditos místicos ou espirituais”. definir ou se posicionar frente à questão da justiça. neste tipo de conhecimento há a necessidade da “[. mas com o modo de tratá-lo”. “a percepção da realidade exterior como algo independente da ação humana nos conduz à crença em poderes superiores ao humano e à busca de meios para nos comunicar com eles. “a preocupação do artista não é com o tema. Portanto.. “essas verdades são em geral tidas como definitivas. 5). (MÁTTAR NETO. p. passando a conhecer sobre o conhecimento artístico. O conhecimento artístico é uma forma de conhecimento que transmite informações de natureza emocional. que produz emoções. p.. p. Você refletiu sobre a situação anterior? Observe ao seu redor. p. 52).Capítulo 1 Assim. necessariamente. 3). Será importante para compreender melhor o assunto tratado neste capítulo. LEHFELD. em uma interpretação marcada pela sensibilidade. Baseia-se na interpretação subjetiva produzida pelo artista e pelo intérprete. a crença na(s) divindade(s)”. a verdadeira justiça é produzida pelos homens ou pela divindade? A justiça. para Oliveira Netto (2005. 138). A origem da palavra razão está em duas fontes: ratio (latim) e logos (grego). pela coerência dos conceitos articulados em sua formulação. p. em sua etimologia. principalmente. que passou do verso para a prosa.] e pelo foco na lógica interna. amigo da sabedoria. cada obra de arte é sempre perceptível com identidade própria. Portanto. 19 . 52.Teoria do conhecimento [. separar. A origem da Filosofia. tais como: emoção. definir ou se posicionar frente à questão da justiça.. Ambas apresentam o mesmo significado: contar. grifo do autor). por exemplo). Segundo Appolinário (2004..4 O conhecimento filosófico A palavra filosofia vem do grego e é formada pelas palavras Philo. alegria. produzido. juntar. o qual foi marcado por uma grande ruptura histórica: a passagem do mito para a razão. é do século VI a. houve uma grande modificação na forma de expressar a linguagem escrita. [. Nesse período. pelas experiências. houve a passagem da consciência mítica para a consciência racional ou filosófica e a linguagem escrita passou a representar a forma de manifestação da razão.C. Qualquer que seja sua forma de expressão.. esperança. no chamado milagre grego. Nesse sentido. Com a origem da Filosofia. dando-lhe também componentes de manifestação dos sentimentos humanos. 2. todavia prescindindo de verificação empírica (o que a diferencia do conhecimento científico. O verso representava o período anterior ao século VI a. sabedoria. na história do pensamento humano. a música. narrativas e pelos relatos de Homero e Hesíodo. as obras de arte podem apresentar expressões de justiça ou de injustiça vividas pelo homem? Reflita sobre essa questão e descubra situações as quais você conhece ou que expressem a forma do conhecimento artístico.. qual é a visão artística ou estética sobre a questão da justiça? Você pensa que a poesia. revolta.] forma de conhecimento caracterizada pela reflexão racional [...] a arte combina habilidade desenvolvida no trabalho (prática) com a imaginação (criação). que significa amigo e sophia.C.. e era a forma de transmitir o conhecimento mítico. ou seja. calcular. filosofia significa. é possível afirmar que “o conhecimento filosófico constrói uma forma especulativa de ver o mundo. pois nos estimula e motiva à reflexão mais crítica sobre a nossa vida.. MARTINS. sem o uso de qualquer objeto que não o próprio pensamento”. Esse tipo de conhecimento surgiu em nossa sociedade para superar ou se opor a quatro atitudes mentais: conhecimento ilusório (conhecimento das aparências das coisas). e de conjunto porque analisa o problema em todos os seus ângulos e aspectos. Enfim. rigorosa porque é sistemática. rigorosa e de conjunto sobre os problemas da realidade fará também a mesma reflexão (radical. é um saber elaborado. metódica e planejada. (CHAUÍ. p. crença religiosa (supremacia da crença em relação à inteligência humana). fará especulações racionais.Capítulo 1 [. p. como a Filosofia aborda a questão da justiça? Não é difícil pressupor que se a Filosofia faz uma reflexão radical. rigorosa e de conjunto sobre os problemas que a realidade apresenta. 1999. com clareza e de modo compreensível para outros. para pensar e dizer as coisas tais como são. Radical porque vai às raízes do problema. rigorosa e de conjunto) sobre o problema da justiça. grifo nosso). 2002. tornando o nosso pensamento falível e superável à medida que vamos conhecendo novos horizontes. O filósofo. 1999). a sociedade e o mundo em que vivemos. razão é a capacidade intelectual para pensar e exprimir-se correta e claramente. antes de tudo. (RAUEN. a prática do conhecimento filosófico torna-se cada vez mais necessária em nosso cotidiano e meio acadêmico. com medida e proporção. emoções (sentimentos e paixões cegas e desordenadas). p. 23). (CHAUÍ. um dos papéis mais significativos desse tipo de conhecimento para o homem é o de desestabilizar o que está posto. Do mesmo modo. a reflexão filosófica é radical. Por isso. na origem. 59. 59-60). Especulação. êxtase místico (rompimento do estado consciente). de especulum que significa espelho. Assim. Assim. ou qualquer pessoa que se propõe a pensar sobre o assunto. (ARANHA. Sendo assim. daí não se pautar na experiência sensorial e por isso a utilização da razão é uma forma de bloquear a interferência dos sentimentos no ato de conhecer determinada coisa. O conhecimento filosófico não é verificável. a partir do exercício do pensamento. usar o poder da razão para pensar e falar ordenadamente sobre as coisas.] logos. ratio ou razão significam pensar e falar ordenadamente. Refletir ou conceber o mundo à luz do conhecimento filosófico significa. no sentido de demonstrar que as coisas não estão prontas e acabadas. procurando apontar os seguintes questionamentos: a justiça é justa? A quem serve a justiça? Por que a justiça é mais severa para uns e mais branda para outros? 20 . 2002.. filosoficamente. os fenômenos. Copérnico. p. conheça mais detalhes sobre o conhecimento científico. Com o conhecimento científico também não é diferente. além da racionalidade. dependendo da área de estudo em que esteja inserido: seja nas áreas sociais e humanas ou nas “exatas” e biológicas. foram os grandes expoentes que. o problema da justiça? Reflita sobre essa questão. Newton. pela demonstração ou pela experimentação. entre outros. Observe que. Para Köche (1997. o conhecimento científico é considerado o mais recente.. ele se verifica na prática. E agora.] o conhecimento científico é real – no sentido que se prende aos fatos – e contingente – porque se pauta. p. 17). o conhecimento científico é alcançado através da ciência. 22). tão enfatizado em nossa realidade acadêmica. 21 . Geralmente. para encerrar este capítulo de estudo. característica esta do conhecimento ordinário. revisando e avaliando os seus resultados. Para Silva (2005. porque a ciência está buscando constantemente explicações e soluções. “[. o conhecimento científico surge não apenas da necessidade de encontrar soluções para os problemas de ordem prática da vida diária. mas do desejo de fornecer explicações sistemáticas que possam ser testadas e criticadas através de provas empíricas que é o conhecimento que advém dos sentidos ou da experiência sensível. A ciência é um processo de construção.. Será um bom exercício para que você compreenda melhor sobre o conhecimento filosófico. como pensa. 2002. 22). no final da Idade Média e durante a Idade Moderna. da forma como é entendida hoje. é uma invenção do mundo moderno. pela experiência e pela verificabilidade [das coisas]”. ela está sempre se renovando e se reavaliando. Dos apresentados até o momento. Kepler. Galileu. com uma clara consciência de que está sujeita a falhas e que tem limitações. Bacon. (RAUEN. as situações ou as coisas. p. A ciência. cada tipo de conhecimento tem características próprias e um modo bem particular de compreender os fatos. criaram as bases do conhecimento científico. por exemplo.Teoria do conhecimento E você. 2.5 O conhecimento científico Como você já estudou nas seções anteriores. Descartes. você está lembrado do problema apresentado no início desta seção de estudo para exemplificar os tipos de conhecimento? Pois bem. O religioso ou teológico se funda na fé. pesquisando não só o fenômeno. mas também as suas causas e suas leis. tecnologia e arte. pois no decorrer do próximo capítulo serão apresentadas outras características desse tipo de conhecimento. com base nas informações apresentadas sobre o conhecimento científico. O conhecimento científico. Você também estudou os tipos de conhecimento. sem apresentar uma preocupação com o estudo sistemático da realidade. orais. você estudou a origem e o conceito de conhecimento. marcadas pela sensibilidade do artista ou do intérprete. por meio da manifestação dos sentimentos. A forma direta ocorre quando o sujeito enfrenta a realidade e opera “com” e “sobre” a mesma. da experiência de vida. não seja impaciente. O filosófico utiliza o poder da razão para pensar e falar ordenadamente sobre as coisas. A palavra conhecimento vem do latim (cognitio) e resulta da relação entre o sujeito e o objeto. no âmbito do conhecimento científico. O senso comum é aquele que provém do viver e aprender. racional e sistemática essa questão? Se você ainda não formalizou uma ideia consistente ou convincente sobre a visão da justiça sob o prisma do conhecimento científico. fornece explicações sistemáticas que podem ser testadas e criticadas por meio de provas empíricas. Esse conhecimento constrói uma forma especulativa de ver o mundo. acreditando que as verdades são infalíveis ou indiscutíveis. vinculadas às revelações divinas. Como formas de apropriação do conhecimento. por sua vez. de resgatar elementos de definição e classificação das ciências. radical e de conjunto sobre os problemas que a realidade apresenta. Na indireta. E então.Capítulo 1 Sendo assim. o conhecimento não se dá de forma absoluta. caracterizando-se como real e contingente. Assim. para fundamentar de forma metódica. o conhecimento é obtido por intermédio de símbolos gráficos. como você analisa o problema da justiça? Quais são as bases conceituais. além de estabelecer uma relação entre ciência. podemos destacar a direta e a indireta. 2. mímicos etc.6 Considerações finais Neste capítulo. O artístico preocupa-se em produzir emoções. como você pode observar. possibilitando uma reflexão rigorosa. cada tipo de conhecimento apresenta uma forma bem peculiar de interpretar os fenômenos produzidos pela natureza ou pelo 22 . como base para entendimento das teorias dos filósofos. mas estão entre as mais discutidas pela Teoria do Conhecimento.Teoria do conhecimento homem. ou qualquer outro problema. Os teóricos do conhecimento são capazes de descrever inúmeras semelhanças e diferenças entre os tipos de conhecimento apresentados aqui. O problema da justiça. que foi o exemplo utilizado no decorrer de todo o capítulo. 23 . sobre como podemos conhecer. T ambém ressaltam que as fronteiras entre eles nem sempre são tão claras quanto pensamos. pode ser concebido ou interpretado à luz dos diversos tipos de conhecimento. Os tipos de conhecimento que abordamos não descrevem as variadas formas de manifestação do conhecimento humano. . tecnologia e arte Seção 3: Classificação das ciências Seção 4: A perspectiva histórica da ciência 25 . principalmente. Secões de estudo Seção 1: Uma definição de ciência Seção 2: Ciência. características. por meio de sua definição. da relação com a tecnologia e a arte. Tecnologia e Arte Habilidades Neste capítulo.Capítulo 2 Ciência. perspectiva histórica e. você terá a oportunidade de desenvolver habilidades sobre como argumentar e demonstrar ideias ou refletir criticamente os estudos sobre o conhecimento científico. com a preocupação de ser competente no ato de produzir cientificamente. b.Capítulo 2 Seção 1 Uma definição de ciência A ciência está relacionada diretamente às necessidades humanas do nosso cotidiano. características que são unânimes em praticamente todas as tentativas de definição desse tipo de conhecimento. exato e verificável. vestuário. tornou-se um bem cultural. da roupa que vestimos. Movido por paradigmas. é muito difícil imaginarmos nossa vida sem a presença dela. c. O conhecimento científico está por trás do remédio que tomamos. habilidade. arte. aumento e melhoria do conhecimento. é somente no século XVII que surge como um conhecimento racional. transporte. sistemático. Descritivo-explicativo. estabelecimento de certo tipo de controle sobre a natureza. Objetivo. Intersubjetivo Preditivo. Apesar de a palavra ciência remontar à Antiguidade. descoberta de novos fatos e fenômenos. O significado etimológico da palavra ciência vem do latim (scientia) e significa saber. aproveitamento material do conhecimento. por conta de fatores culturais. 3) destaca cinco funções básicas das ciências. conhecer. experimental. moradia. que são: a. na época em que vivemos. Por isso. Metódico. d. da orientação médica que recebemos. entre outros. saúde. Racional. p. filosóficos ou ideológicos. aproveitamento espiritual. Com base nisso. e. 26 . A ciência. Factual. Trujillo Ferrari (1973. por outro lado. é possível afirmar que o conhecimento científico é: • • • • • • • • • • Verificável. como alimentação. históricos. Comunicável. há. Se não há unanimidade na definição de ciência. a seguir. de forma tal que se possa.1 Verificável Corresponde à ideia de prova ou de constatação da experiência pela ação e demonstração de um fenômeno. ou melhor. 1. os significados dessas características? Acompanhe. 27 . devem apresentar elevado nível de consistência lógica entre suas afirmações [. procura uni-las estabelecendo relações entre um e outro enunciado. O conhecimento científico estuda fenômenos naturais e humanos que ocorrem ou acontecem na natureza ou vida humana. Köche chama isso de verdade sintática. entre um e outro campo da ciência. você deve estar se perguntando: quais são. no momento em que sistematiza as diferentes teorias.. uma sucinta descrição de cada uma delas. como se explica a seguir: O conhecimento das diferentes teorias e leis se expressa formalizado em enunciados que. confrontados uns com os outros. desde que adote os mesmos critérios e procedimentos. 31). então.. (KOCHE. O método adotado em uma pesquisa científica deve permitir a outro pesquisador atingir os mesmos resultados alcançados. a necessidade de um conhecimento racional e lógico. As teorias científicas não podem apresentar ambiguidade ou incoerência entre seus enunciados. p. entre uma e outra lei. por isso.Teoria do conhecimento A partir das características apresentadas..] A ciência. 1997. 31). 1997. que está à disposição da nossa observação numa dada realidade. 1. perceber as possíveis inconsistências e corrigi-las. com a preocupação básica de testar a consistência da validade desse fenômeno. p.2 Factual Diz respeito aos fatos que acontecem na realidade.3 Racional Relaciona-se com a construção de conceitos e juízos a partir do uso sistemático do raciocínio. através dessa visão global.. entre uma e outra teoria.] atingir uma sistematização coerente do conhecimento presente em todas as suas leis e teorias” (KÖCHE. o que se quer na verdade é “[. 1. significa a correspondência da teoria com os fatos. 1997. conceitos ou teorias científicas devem corresponder aos fatos. dispensando as impressões imediatas que acobertam essa mesma realidade. Assim..” (KÖCHE.. ou seja. portanto. de nada adianta uma teoria apresentar correlação entre seus enunciados e conceitos e os fatos (ideal de objetividade ou verdade semântica) se essa teoria não for submetida à apreciação e/ou validação e/ou crítica da comunidade científica. 1997. (KÖCHE. permitindo.. p. alheio às crenças pessoais. é possível prever como os fenômenos podem ocorrer. 31). a manipulação dos fatos e o desenvolvimento de uma linguagem específica inerente aos conceitos próprios de cada área do conhecimento científico. mas de previsão baseada na repetição contínua dos fatos. Gatos dão sempre à luz gatinhos [sic].Capítulo 2 1. inclusive. “[. como modelos teóricos representativos da realidade. 28 . Objetividade. Quando se fala em objetividade científica. 1997. Não se trata de uma questão de simples vidência ou premunição. “o ideal da objetividade [. vem o verão. e puder ser intersubjetivamente submetido a teste”. Köche chama isso de verdade semântica.. o ideal de intersubjetividade é a possibilidade dos enunciados científicos serem “[. 32). se for desprezada a resistência do ar. em qualquer época e lugar e por qualquer sujeito [reconhecido pela comunidade científica]”. Objetos soltos caem com aceleração constante.6 Preditivo Remete ao entendimento de que.. ou melhor. quer se dizer que os enunciados. 1. Köche chama isso de verdade pragmática. 1977 apud KÖCHE.5 Intersubjetivo De nada adianta uma teoria ser coerente na sua construção lógica (ideal de racionalidade ou verdade sintática).] pretende que as teorias científicas.]. O sol nasce todos os dias.. à discussão. (POPPER. p.] um enunciado científico é objetivo quando. puder ser apresentado à crítica. p. com o conhecimento científico. sejam construções conceituais que representem com fidelidade o mundo real [. 33).] submetidos a testes.. Após a primavera.4 Objetivo Refere-se ao propósito de querer encontrar a verdade contida na realidade. 1.. a fim de investigar um determinado tema/questão/problema.. 1. estabelecidas pelo pesquisador. 9. Uma descoberta científica só é reconhecida pela comunidade científica se for publicada em uma revista de circulação internacional. cai.7 Comunicável Implica dizer que os resultados das investigações científicas devem ser comunicados à sociedade em geral e não ficarem restritos ao meio acadêmico. pois somente por meio das leis e teorias é possível explicar os fenômenos. Pode-se descobrir nos fenômenos da mesma natureza a manifestação de alguns aspectos que são comuns e invariáveis. Esses fenômenos são conhecidos pelas suas manifestações. p. Não há ciência sem método. conjeturando sobre a estrutura dos fatores que interferem ou produzem essa regularidade.8 Descritivo-explicativo Significa dizer que o conhecimento científico é expresso por meio de enunciados que explicam as condições que determinam a ocorrência dos fatos e dos fenômenos relacionados a um problema. (KÖCHE. 1989. Qualquer estudo ou pesquisa que você desenvolver só será considerado verdadeiramente um trabalho científico se for publicado ou submetido à apreciação da comunidade acadêmica.9 Metódico Significa um conjunto de etapas. há uma ordem na natureza e [.Teoria do conhecimento Como se pode ver. A função da Física consiste em descrever e explicar os fenômenos físicos. pelas suas aparências. você não concorda? 1.] o cientista tenta descobrir e estudar estas regularidades. 1997. a Sociologia e a Psicologia também ocorre com as demais ciências.. O estudo dessas manifestações pode conduzir à descoberta da uniformidade ou regularidade do comportamento desse fenômeno. Por exemplo: sempre que um objeto é jogado para o alto. Fazer uma pesquisa e guardar os resultados para si não é uma postura de quem deseja contribuir para o desenvolvimento do conhecimento científico. Entre o sujeito que conhece (cientista) e o objeto que é 29 . As leis e teorias surgem da necessidade de se ter de encontrar explicações para os fenômenos da realidade. assim como se percebe pela cor e pelo perfume quando um fruto está maduro. 90). (GEWANDSZNAYDER. p. enunciando-as na forma de leis gerais e utilizando estas leis para explicar e prever novos fatos. ordenadamente dispostas. grifo nosso). 1. Isso que ocorre com a Física. da Psicologia em descrever e explicar os fenômenos psíquicos. da Sociologia em descrever e explicar os fenômenos sociais. Nesta seção. física newtoniana.. psicanálise.] matriz de recursos técnicos e/ou tecnológicos. enquanto efetivação instrumental do fazer e do agir”. assim se expressa sobre os paradigmas: Considero ‘paradigmas’ as realizações científicas universalmente reconhecidas que.10 Movido por paradigmas Todo conhecimento científico baseia-se em modelos ou representações formadas por pressupostos teórico-filosóficos. 1. marcada por concepções ou formas de interpretar o mundo. estabelecendo uma relação dessa com a tecnologia e a arte.. fornecem problemas e soluções modelares para uma comunidade de praticantes de uma ciência. p. o objeto. 70). durante algum tempo. 1989. (GEWANDSZNAJDER. coloca-se entre essa relação. p. regras. A definição se deu a partir de dois polos: de um lado o sujeito e. psicologia comportamentalista. por meio do desenvolvimento tecnológico. transformando-a em “[. a vida e a sociedade. você estudou as principais características da ciência. de outro. É o que você verá a seguir. Assim. Um exemplo disso é a física aristotélica. Afirmar que a ciência é movida por paradigmas significa dizer que a ciência é movida por modelos. “além de aumentar nosso conhecimento. Kuhn (2003. em sua obra “A estrutura das revoluções científicas”. os quais utilizados com sabedoria contribuem para uma vida humana mais satisfatória. prosseguiremos nossos estudos sobre a ciência. 13). física quântica. 30 . técnicas e processos que permitem a elucidação mais precisa do objeto de estudo. dogmática jurídica ou qualquer outro modelo filosófico-científico. a Ciência também pode ser utilizada como fonte de poder sobre a natureza”. tecnologia e arte Um dos desafios da Ciência tem sido marcado pela vontade de dominar a natureza. Seção 2 Ciência.Capítulo 2 conhecido há um conjunto de procedimentos. que possibilitam defini-la de forma mais precisa e objetiva. instrumentos. 16). a ciência é o meio mais adequado para o controle prático da natureza. Para Barros e Lehfeld (1986. p. enquanto exigência do conhecimento científico. O método. Assim. a tal ponto que dificilmente se desvincula a produção do conhecimento do seu benefício tecnológico e pragmático.. que significa arte ou habilidade) pode utilizar tanto o conhecimento comum quanto os conhecimentos obtidos na pesquisa básica ou na ciência aplicada para criar novos artefatos ou produtos (aparelhos elétricos. por exemplo. (GEWANDSZNAJDER. 71). Segundo Barros e Lehfeld (1986. para atingir resultados práticos compatíveis com as exigências situacionais de mudanças”. 16). p. p. LEHFELD. a televisão. Sendo assim. Também a literatura de ficção científica indica proximidade entre ciência e arte. é o exercício da investigação e o da intervenção sobre o objeto. que pode ser estudada de diversas formas no processo histórico. Köche (1997.. (BARROS. o conhecimento científico toma conta das nossas decisões e ações cotidianas. mas há um encadeamento. das engenharias e das viagens espaciais. dizia que ciência e arte completavam-se formando uma atividade intelectual. 71). o uso da genética na agricultura e na agropecuária e tantos outros relacionados à psicologia. 31 .] das orientações fornecidas pela ciência sobre a realidade. Nesse sentido. engenheiro e cientista Leonardo da Vinci (1452-1519). Outro aspecto importante a ser abordado é a relação entre a ciência e a arte. O escultor. as aplicações tecnológicas no campo da medicina. 1989. corantes etc. não há ruptura epistemológica entre a ciência e a técnica. a informática. a aviação. e aos mais diferentes campos do conhecimento mostram a evolução crescente do uso do conhecimento científico na vida diária do homem. p. 1986. medicamentos. modificar o ambiente ou amenizar as atividades humanas. a telefonia. de modo que esta (técnica) se utiliza “[. configurando uma sociedade do conhecimento. Como você pode observar. computadores. Aos poucos. p..). na qual o poder se constitui pelo domínio do próprio conhecimento. a técnica é o manejo do conceito. 43) afirma que: a eletricidade.] satisfazer às necessidades humanas como instrumento para estabelecer um controle prático sobre a natureza”. e transforma-as em programas e planos de execução”. melhorar a produção. “genericamente. “há técnica para o conhecer e há técnica para o agir”. p. A técnica ou tecnologia (do grego téchne.. 43) afirma que a ciência pode “[.Teoria do conhecimento Do mesmo modo. o rádio. pintor. Köche (1997. confirmando que a utilização de técnicas e materiais tradicionais ainda não se esgotou. político e ideológico que nos rodeia. pelo universo digital. ciência. ciência e arte não pode ser separado do contexto social. Nem tudo o que é real pode ser pescado com as redes metodológicas da ciência. O olhar não é objeto de conhecimento científico.Capítulo 2 Vários artistas desenvolvem obras ligadas às áreas tecnocientíficas. complementares. Por isso. arte e tecnologia se comunicam abertamente. quem dera os da ciência e da tecnologia. Também. Hoje. a cada dia surgem novos meios tecnológicos que ajudam a propagar e aprimorar os conhecimentos. E não era mesmo. Alves (2004) afirma: há uma ciência dos olhos. Há objetos que escapam pelos buracos de suas malhas. Isso permite ampliar sua visão sobre a abrangência dos estudos científicos. 32 . como se percebe. O próprio conceito de arte sofre abalos constantes. por meio da tecnologia. Mas o fato é que os olhares são reais! Você acabou de estudar a relação da ciência com a tecnologia e a arte. Aí a proposta de uma tese sobre o olhar foi rejeitada sob a justa alegação de que não era científica. arte-comunicação. já que. seja pela complementariedade ou pela influência recíproca. Apesar dos vários recursos que a tecnologia e a ciência oferecem. Essa relação só tende a crescer. Nesse sentido. Mas. e percebeu que estão próximas. aos avanços da computação e dos meios de comunicação. o diálogo entre tecnologia. arte transgênica. sendo. não encontraremos nada. A busca por recursos dessa natureza é cada vez maior em nossa sociedade para resolver ou contornar as mais diversas situações. Esse é o caso da arte eletrônica. a biologia e a engenharia genética. por mais que procuremos nos tratados de oftalmologia referências ao olhar. sem contar que. entre outros. Nesse sentido. podem-se conhecer museus e exposições de arte. ou ainda. a qual aborda a classificação das ciências. uma grande quantidade de arte continua a ser realizada alheia às inovações. portanto. partimos para a próxima seção. o produtor de arte tem a oportunidade de divulgar seu trabalho e torná-lo conhecido mundialmente. Há uma especialidade médica que se dedica a eles: a oftalmologia. Será possível fazer uma ciência dos olhares? Tratá-los estatisticamente? Não tem jeito. as ciências que estudam fenômenos produzidos pela ação humana fazem parte de um grupo. com certeza. Você já imaginou a realidade física do zero ou a realidade física do pensamento? T oda ideia é uma abstração. a lógica opera com ideias. 33 . Enquanto a matemática opera com números. Se você fizer um estudo na literatura sobre o assunto. O que há de comum entre elas é que. Assim. os autores procuram levar em conta o critério do objeto de estudo. em todas as classificações. enquanto as ciências que estudam os fenômenos produzidos pela ação da natureza fazem parte de outro grupo. você encontrará muitas formas de agrupar ou de separar as ciências. é uma convenção humana. p. A lógica e a matemática são ciências do pensamento. mas ambas não possuem realidade física.Teoria do conhecimento Seção 3 Classificação das ciências A classificação das ciências é outra tarefa um tanto difícil de estabelecer. p. 12): Figura 2. ou qualquer outro número. isto é. 12). procuram agrupar as ciências pelas semelhanças ou diferenças que há entre elas.1 – Classificação das ciências Fonte: Bunge apud Gewandsznayder (1989. o zero. que por meio de um símbolo representa ausência de alguma coisa. Qual a classificação das ciências? Observe a classificação de Bunge apud Gewandsznayder (1989. pois lidam com fenômenos ideais e abstratos. Ambas não estão preocupadas com o conteúdo de suas operações. ideias. a classificação das ciências não é uma tarefa nada fácil de estabelecer. Alguns autores chegam a afirmar que a lógica ou a matemática não seriam propriamente ciência. Engenharia. Arquitetura. As Ciências Factuais referem-se aos fatos ou fenômenos concretos que correspondem a alguma coisa real e podem ser observados ou testados. sociais ou humanas lidam com os fenômenos produzidos pela ação do homem nas relações socioculturais (Sociologia. como para a ciência. História). Pitágoras. Psicologia. que tudo pode ser representado numericamente. A lógica e a matemática são importantes tanto para o homem comum que necessita pensar de forma ordenada e operar com números no seu dia a dia. 34 . Os positivistas lógicos no século XX afirmavam que um enunciado para ser verdadeiro deveria passar pelo crivo da lógica. principalmente no que diz respeito a sua aplicação como contribuinte ou instrumento para testar a validade de suas teorias. alguns autores acrescentam um outro agrupamento: o das Ciências Aplicadas. dizia que a essência de todas as coisas é o número. Ambas são consideradas Ciências Formais porque são instrumentais e lidam com operações que se encadeiam por meio dos números. proposições etc. entre outras. mas com a implicação dos elementos que compõem essas operações. Física. funções. Biologia. encontram-se todas as ciências que se propõem a criar artefatos ou tecnologias para a intervenção na vida humana ou na natureza: Medicina. continuemos nossos estudos. pois existem várias formas de agrupar ou de separálas. partimos para o estudo da história da ciência. Antropologia. Nesse grupo. Então. na Antiguidade Clássica. Agora. Além da classificação apresentada (Ciências formais e factuais). As Ciências Culturais.Capítulo 2 As operações lógicas e matemáticas se dão exclusivamente no campo do pensamento. Ecologia). mas método. Como você acabou de estudar. Ciências da Computação. As Ciências Naturais lidam com fenômenos produzidos pela ação da natureza (Química. C. Bacon.Teoria do conhecimento Seção 4 A perspectiva histórica da ciência Dos vários tipos de conhecimentos que existem (conhecimento do senso comum. não religioso. A ciência. da forma como é entendida hoje. Visão Grega Século VI a. decorrente da Revolução Científica do século XVII. comandadas pelas forças dos deuses. logo se tornava rigoroso e conceitual. MARTINS. p. a compreensão da natureza das coisas e do homem. o científico é o que pode ser considerado o mais recente. 1997. conhecimento artístico e conhecimento filosófico). contrapondo-se à concepção mitológica de que os fenômenos aconteciam no mundo de forma caótica. conhecimento religioso.. Kepler. Copérnico.. 93). Newton. primeiramente. 35 .C. Visão Moderna Século XVII ao Século XIX. foram os primeiros a desenvolver um tipo de conhecimento racional desligado do mito. Agora o universo passava a ser a ordem ou o cosmos. é uma invenção do mundo moderno. entre outros foram os grandes expoentes que. é importante. Nesse sentido. remetendo-nos para a Grécia Antiga do século VI a. 1999.” (ARANHA. Descartes. “O pensamento laico. Galileu. Visão Contemporea Século XIX até os nossos dias. 44). (KÖCHE. como se fossem movidos por forças espirituais e sobrenaturais. determinar os principais períodos históricos pelos quais se desenvolveu o conhecimento científico. Os filósofos “[.C. no final da Idade Média e durante a Idade Moderna criaram as bases do conhecimento científico. para que você possa iniciar o estudo da história das ciências com mais segurança e clareza. Uma das preocupações mais evidentes nesse período era a da busca do saber. fazendo nascer a filosofia no século VI a. Buscava-se uma nova forma de compreensão do universo em contraposição à visão mitológica. 4. p.] pré-socráticos substituíram a concepção de mundo caótico concebido pela mitologia pela ideia de cosmos”.C. até o final da Idade Média. T odavia.1 A visão grega de ciência Os gregos dos séculos VI a IV a. a história da ciência começa muito antes desse período. segundo Aranha e Arruda (1999.). 93). correspondia à região da Terra [.] e o mundo supralunar. 1997.C. ou seja. MARTINS. era preciso buscar a ciência (episteme) que consistia no conhecimento racional das essências. das ideias imutáveis. 94). (ARANHA. ar e fogo”. discípulo de Platão. trabalhos e serviços aos escravos. o universo se achava dividido em dois mundos. 1997. pois “numa sociedade escravista.. A partir desse breve esboço. p. 1999. a técnica era vista como uma forma menor de conhecimento”. p. considerado inferior. caracterizada pela ausência de movimento. limitado às estrelas visíveis e fechado. cuja unidade resumiria a extrema multiplicidade da natureza. p. Nesse sentido.C.Capítulo 2 Os primeiros filósofos buscavam o princípio explicativo de todas as coisas (a arché). Portanto. de natureza superior. determinada por sua matéria e forma. A Physis era o princípio ativo. (KÖCHE. a ciência (episteme) “[. MARTINS. 94). sendo que um era considerado superior ao outro: o mundo sublunar. dotado de inteligência própria”. grifo dos autores). com princípios organizadores próprios. até atingir as culminâncias da reflexão filosófica. MARTINS. a geometria e a astronomia são passos necessários a serem percorridos pelo pensamento. correspondia aos Céus.. Para Aristóteles (384-322 a. para quem o mundo físico é constituído de quatro elementos: terra. Os fenômenos estavam relacionados a causas e forças naturais que podiam ser conhecidas e previstas. p. “As respostas eram as mais variadas. a concepção estática do mundo se mantém definida. finito. MARTINS. a ciência física era uma ciência da natureza (KÖCHE.. 255). na visão grega de ciência.). 48. Assim. 47). objetivas e universais. predominou esse modelo cosmológico aristotélico. p. água. a noção de ciência na Grécia voltava-se para a especulação racional e se desligava da técnica e das preocupações práticas. as quais são: 36 . (ARANHA. (ARANHA. 1999. por estar sustentado no observável e pelo seu caráter de necessidade e universalidade”. p. (ARANHA. na qual os gregos costumavam associar a perfeição ao repouso. Segundo essa concepção. tal qual um organismo vivo. Assim. podemos atribuir à Ciência grega cinco características marcantes.] produz um conhecimento que pretende ser um fiel espelho da realidade. a fonte intrínseca natural do comportamento de cada coisa. que defendia a ideia de um mundo “geocêntrico. que deixava tarefas. Outra característica marcante dessa astronomia (de Aristóteles) foi a hierarquização do cosmos. 1999.. de forma esférica. 95). mas a teoria que permaneceu por mais tempo foi a de Empédocles. As ciências como a matemática. p. posteriormente confirmado por Ptolomeu (um helênico do século II d. 1999. perpassa o período renascentista e culmina no século XVII. é possível compreender essa continuidade. 1999. 95). fazendo com que a lógica aristotélica passasse a ser amplamente utilizada para justificar as verdades da fé. na Idade Média. MARTINS. a ciência encontra-se ligada à filosofia. grifo nosso). pois. a ciência é qualitativa. fossem eles a Bíblia. com a chamada Revolução Científica. Portanto. 1999. a ciência não é experimental.. p. a própria Ciência”. aproximadamente.. a ciência é contemplativa. o período medieval se constituiu. 4. em oposição ao modelo geocêntrico de astronomia de Ptolomeu. e. nessa fase histórica. sobretudo. a ciência baseia-se em uma concepção estática do mundo. devido ao fato de o sistema de servidão também se caracterizar pelo desprezo à técnica e a qualquer atividade manual”.3 A visão moderna de ciência A visão moderna de ciência surge no final da Idade Média. Aristóteles ou Ptolomeu.2 O período medieval e a cristianização da concepção grega de ciência Continuando o estudo. na primazia da fé sobre a razão. Por isso. p. você pode perceber que o T eocentrismo. no século XVI. O que valia eram as verdades reveladas pelos “velhos livros”. (ARANHA. “Eles eram o próprio conhecimento. p. a razão humana devia se submeter ao testemunho da fé” (ARANHA. (ARANHA. Nicolau Copérnico (1473-1543). 4. no que se refere à manutenção da mesma concepção de ciência. Nesse sentido. MARTINS. d. 1994. 95). no qual observamos que continua a vigorar a influência da herança grecolatina.Teoria do conhecimento a. Agora a ciência “[. 30). dos séculos V ao XV). (ALFONSOGOLDFARB. b. passou a ser a visão de mundo que marcou o imaginário da maioria das pessoas que viveram neste momento. “Apesar das diferenças evidentes. ARRUDA. c.] se vincula aos interesses religiosos e se subordina aos critérios da revelação. p. chegamos ao mundo medieval (que se estende. tendo na figura de Deus o centro de todas as atenções humanas. 37 . propõe o modelo da teoria heliocêntrica. não houve desenvolvimento das ciências particulares. 96. 1999. defendia-se a posição de que não existiam ideias inatas.Capítulo 2 No período renascentista. seja pela concepção racionalista ou empirista. A partir desse momento. aos poucos. Dizia que a mente era uma página em branco a qual a experiência viria a preencher. os estudos realizados por Galileu possibilitaram a Isaac Newton (1642-1727) elaborar a teoria da gravitação universal.. tendo na experiência o parâmetro de aprendizado. inicia-se uma concepção de ciência. como paradigma para todas as ciências. em que as culturas fundamentadas no conhecimento racional das essências (da Antiguidade clássica) ou nas verdades reveladas pelos parâmetros bíblicos (do medieval) deveriam ser apagadas do imaginário e da mentalidade dos europeus ocidentais. a ciência experimental newtoniana se transformava no modelo de conhecimento. A proposição física se tornava uma lei. Nessa concepção. Agora. que se baseava no modelo de objetividade da medicina grega e da história natural do século XVII. os pensadores modernos. 38 . (KÖCHE. em princípio. Assim. obtida pela observação e generalização indutiva. Galileu Galilei (1564-1642) foi. 57). temos a concepção empirista de ciência.] proposições confiáveis e destituídas de dúvida ou de arbitrariedade. a ciência é definida como um conhecimento racional dedutivo e demonstrativo. que se consolida até o final do século XVII. criado matematicamente. p. as humanas e sociais inclusive. de modo a valorizar-se apenas o uso de métodos experimentais rigorosos que. certamente.. John Locke (1632-1704) é considerado um dos grandes responsáveis por essa concepção de Ciência. temos a concepção racionalista de ciência. René Descartes (1596-1650) é considerado o pai do racionalismo. Nesse tipo de concepção. No campo da Física e da Astronomia. [como se fosse] um decalque fiel e objetivo da realidade”. um dos grandes expoentes da Ciência moderna. eram capazes de proporcionar respostas consideradas cientificamente verdadeiras. estendendo-se até o final do século XIX. transformando-se em “[. 1997. sendo o primeiro a formular o método quantitativo-experimental. pois defendia a ideia de que a verdade dos conceitos e demonstrações matemáticos era inquestionável. amparados no conhecimento matemático. estava instituída a Física Mecânica (de Newton). passam a negar tacitamente o saber aristotélico incorporado à teologia católica do período medieval europeu. Assim. Paralelamente à concepção racionalista. o primeiro a formular o problema crítico do conhecimento. 42). Fonte: Portal Sofia (2010). A Física era considerada a ciência perfeita. a Psicologia. Assim. 39 . A exaltação à ciência e ao método experimental deu origem ao chamado cientificismo: visão reducionista segundo a qual a ciência seria o único conhecimento válido. p. entre outras Ciências Sociais e Humanas. . 2 . John Locke (1632-1704) é considerado um dos grandes responsáveis por esta concepção de Ciência. todo o modelo de cientificidade. Galileu Galilei (1564-1642) foi. 2006. certamente. pois defendia a idéia de que a verdade dos conceitos e demonstrações matemáticos era inquestionável. Dizia que a mente era uma página em branco a qual a experiência viria a preencher.Teoria do conhecimento Figura 2. Dessa forma. A ciência virou praticamente um mito. pois. a Sociologia. necessariamente. como você percebeu. (HEERDT LEONEL. nos séculos XVIII e XIX. experimentação e matematização – deveria ser estendido a todos os campos do conhecimento e a todas as atividades humanas. para atingirem o status de conhecimento científico. o método das Ciências da natureza – baseado na observação. A Sociologia chegou a ser chamada de Física Social e a Psicologia de Psicofísica. As Ciências Humanas e Sociais tiveram enorme dificuldade em estabelecer um estatuto próprio ou uma autonomia. o primeiro a formular o problema crítico do conhecimento.Pensadores modernos René Descartes (1596-1650) é considerado o pai do racionalismo. um dos grandes expoentes da Ciência moderna sendo o primeiro a formular o método quantitativoexperimental. a Economia. estava vinculado às Ciências Naturais. inicialmente tiveram que adotar o modelo experimental proposto pela Física. até que outro venha a superá-lo. marcada pelas verdades dogmáticas e imutáveis.Capítulo 2 4. metódico. neste capítulo. p. preditivo. factual. podemos dizer que o conhecimento científico é verificável. não havendo um modelo exclusivo que caracterize o conhecimento científico nessa época. MARTINS. 89). Você percebeu que não há uma única forma de definir ciência. 1999. mesmo existindo essa dificuldade. p. a ciência procura demonstrar que é capaz de fornecer respostas dignas de confiança. 1997. Agora a teoria não será mais aceita como definitivamente confirmada. racional. descritivo-explicativo. Então. Dessa maneira. sistemática e fundamentada nas teorias vigentes. pois “as teorias da relatividade restrita e da relatividade geral foram importantes não apenas pelo conteúdo que apresentaram. Nesse sentido. 1997. mas. “a objetividade da ciência resulta do julgamento feito pelos membros da comunidade científica que avaliam criticamente os procedimentos utilizados e as conclusões. movido por paradigmas. “a principal contribuição para uma nova concepção de ciência foi dada (pelo físico) Einstein. 60). Esta dificuldade resulta de fatores culturais. filosóficos ou ideológicos. o conhecimento científico pode ser definido como provisório e construído. a definição de ciência.5 Considerações finais Você estudou.4 A visão contemporânea de ciência Esse período é marcado pela crise do modelo de ciência da Idade Moderna. 79). (KÖCHE. busca saber sempre mais”. objetivo. é possível identificar algumas características que são próprias do conhecimento científico. deixa de lado a pretensão de taxar seus resultados de verdadeiros. desde que submetidas continuamente a um processo de revisão crítica. mas pela forma como foram alcançadas”. arte e tecnologia. históricos. Ruptura epistemológica significa revisão crítica do conhecimento e tentativas de superar aquela visão estática. intersubjetivo. A cientificidade passa a ser pensada nesse momento como uma ideia reguladora de alta abstração e não mais como sinônimo de modelos e normas a serem seguidos. divulgadas em revistas especializadas e congressos”. A visão contemporânea de ciência é marcada pelas rupturas epistemológicas. em sua compreensão atual. entre outros. Assim. Nesse sentido. Entretanto. comunicável. p. 4. a classificação das ciências e a perspectiva histórica da ciência. (ARANHA. 40 . (KÖCHE. consciente de sua falibilidade. tão característico em toda a história do conhecimento científico. a relação entre ciência. “A ciência. saúde. você estudou que se desenvolveu um tipo de conhecimento racional desligado do mito. A concepção racionalista preconiza um conhecimento racional. As ciências se dividem em dois grupos: as formais e as factuais. As ciências formais ocupam-se de elementos ideais e abstratos e estudam as implicações lógicas e matemáticas do pensamento. a concepção de ciência se desvincula da visão grega. as concepções míticas do universo dão lugar às concepções baseadas na racionalidade. entre outros foram os grandes expoentes que. humanos e sociais (Sociologia. o modelo de ciência grega vincula-se aos interesses religiosos e se subordina aos critérios da revelação.). dependem dos avanços na ciência. Assim. arte e tecnologia você percebeu que a ciência é o meio mais adequado para o controle prático da natureza. Ecologia etc. Galileu. seja pela complementariedade ou pela influência recíproca. Antropologia. Newton. Biologia. das particularidades. Duas concepções marcaram a Ciência no mundo moderno: a racionalista e a empirista. Economia. que. quando foi questionado pelos principais protagonistas da ciência moderna que propuseram o modelo heliocêntrico (sol como centro do universo). por sua vez.). Direito etc.Teoria do conhecimento Sobre a relação entre ciência. Na Idade Moderna. As ciências se agrupam conforme a familiaridade com o objeto de estudo. comunicando-se abertamente. predominou o modelo cosmológico de universo chamado geocentrismo (a Terra como centro do universo). podemos dizer que todo cientista é um especialista em determinada área do conhecimento. por meio da chamada Revolução científica. Dessa maneira. Você estudou também sobre as três grandes concepções históricas de ciência: a visão grega. A concepção empirista defendia a posição de que não existem ideias inatas 41 . fazendo surgir a Filosofia. Alimentação. dedutivo e demonstrativo e seu maior expoente é René Descartes (1596-1650). Na visão grega. e durante a Idade Moderna criaram as bases do conhecimento científico. Química. As ciências factuais estudam fenômenos naturais (Física. no final da Idade Média. apesar de ambas pertencerem ao grupo das Ciências Factuais. Nessa época. Estudando a divisão da ciência. as ciências que estudam os fenômenos da natureza estão reunidas em um grupo e as que estudam os fenômenos sociais e humanos em outro grupo. A arte também se relaciona com a ciência. produção industrial dependem das inovações tecnológicas. Kepler. Nesse sentido. História. Psicologia. em substituição ao geocêntrico. transporte. Na Idade Média. Esse modelo perdurou até o final da Idade Média. Essa relação só tende a crescer. Bacon. Na visão grega de ciência. Copérnico. torna-se difícil separar a ciência e a arte da tecnologia. já que a cada dia surgem novos meios tecnológicos que ajudam a propagar e a aprimorar os conhecimentos. Descartes. moderna e contemporânea. também podemos entender o conhecimento científico como sendo o conhecimento das especialidades. A concepção atual de ciência é marcada pela ideia de que não há verdades eternas. ele dizia que a mente era uma página em branco a qual a experiência viria preencher.Capítulo 2 e a experiência é o parâmetro para todo aprendizado. pois as teorias são transitórias e podem ser renovadas ou até substituídas. não havendo um modelo exclusivo que caracterize o conhecimento científico. 42 . A visão contemporânea de ciência é marcada pelas rupturas epistemológicas. O grande expoente da concepção empirista é John Locke (1632-1704). ruptura epistemológica significa revisão crítica do conhecimento. O modelo de cientificidade estava vinculado às Ciências Naturais e era baseado na matematização e na experimentação. A Física era a ciência perfeita e considerada modelo de cientificidade. Como você estudou. extrair conclusões e julgar. Secões de estudo Seção 1: A descoberta da racionalidade Seção 2: O conhecimento na filosofia de Sócrates. Platão e Aristóteles 43 .Capítulo 3 As raízes da Teoria do Conhecimento Habilidades Pensando nas raízes da teoria do conhecimento nas concepções dos filósofos clássicos sobre as origens e possibilidades do conhecimento. argumentar e demonstrar esse aprendizado. elaborar sínteses. interpretar informações e dados. propomos desenvolver as seguintes habilidades: refletir criticamente sobre essa temática. ligando os deuses diretamente aos fenômenos da natureza e aos acontecimentos da vida humana. necessário ultrapassá-las. Verá a questão do conhecimento no pensamento grego antigo de alguns filósofos pré-socráticos (primeiros filósofos ocidentais) e de Sócrates. além de motivar os cultos religiosos. basicamente. Aos poucos. o conhecimento cultivado na Grécia Antiga estava ligado a certos aspectos da vida em sociedade. modernos e contemporâneos. Até aproximadamente o século VII a. você começará a estudar a questão do conhecimento em uma perspectiva histórica. também. os gregos foram aprimorando suas técnicas de produção de alimentos e produtos. Platão e Aristóteles (filósofos gregos mais estudados). 44 . Os primeiros filósofos que passaram a buscar respostas na observação empírica dos fenômenos naturais e nas especulações racionais foram os chamados présocráticos. condição histórica fundamental para o surgimento e o apogeu das cidades gregas. também. explicava boa parte da realidade. que.Capítulo 3 Seção 1 A descoberta da racionalidade A partir desta unidade.. Havia. o que os levou a produzir muito mais do que precisavam para seu consumo. segundo a qual “tudo” já está predeterminado. questões fundamentais sobre o conhecimento originado na Grécia Antiga e Clássica. o conhecimento mitológico.C. Deterministas: concepção da realidade. de técnicas aplicadas à agricultura. encontrando-se explicações baseadas na observação e no raciocínio. Esse conhecimento constituía-se. do desempenho dos ofícios tradicionais e da preparação para a guerra. Estudará. as respostas finalistas e deterministas advindas dos mitos tornaram-se insuficientes para a explicação da realidade e foi. que permaneceram sendo discutidas por pensadores medievais. É comum historiadores afirmarem que a excelência no modo de produção da vida material levou os gregos às transações de troca da produção excedente e ao desenvolvimento do comércio. Com o desenvolvimento da sociedade grega. filosofia e ciência. de sua cultura. de mundo. então. razão pela qual era difundida uma postura conformista e passiva diante do destino ou da providência divina. porém. já que não praticavam a experimentação rigorosa. um princípio fundador. seu conhecimento “pré-científico” desviou o olhar das coisas particulares e da vida prática para o “céu”. Sua investigação se dava. buscando um elemento originário. Conforme Popper (1982). 45 . por cientistas modernos. abordaremos nesta oportunidade apenas duas delas. por outro lado sua “racionalidade franca e sincera” os levou à antecipação de teorias que só foram desenvolvidas mais tarde. mas não se pode chamá-los precisamente de cientistas. Das questões tratadas pelos pré-socráticos. para as teorias cosmológicas. matemáticos etc. em grande parte. O principal objeto de estudo desses filósofos foi o cosmos. se a sua experimentação e observação carecem de objetividade. em encontrar a origem e a composição do universo. o átomo etc. que consideramos importantes para o estudo que está sendo desenvolvido aqui sobre o conhecimento. Empenharam-se. não quantificavam suas observações e não testavam rigorosamente suas teorias. Observaram que o universo possui uma ordem e que. o universo ordenado. especialmente. os filósofos Parmênides de Eléia e Heráclito de Éfeso. A primeira delas trata da mobilidade e imobilidade do universo. conhecendo essa ordem.Teoria do conhecimento Eles não concebiam o universo como uma realidade aleatória e caótica. os segredos do universo poderiam ser desvendados pelas condições e atributos naturais do próprio homem. outros. Observe que os pré-socráticos protagonizaram uma importante passagem do conhecimento mítico para o conhecimento racional. mas que investigaram a natureza apesar das divindades. Alguns estudiosos modernos chamam a atenção para a falta de rigor da experimentação e observação empírica realizada pelos pré-socráticos. evento que se repetiu em outros momentos históricos do pensamento ocidental. Alguns afirmavam que este princípio fundador era a água (como já vimos com Tales). análise e inferência teórica. físicos. ou seja. Mesmo assim. principalmente. que dependia da vontade ou do humor de seres divinos. que caracteriza as escolas pré-socráticas. Por isso. que envolveu. Eles eram filósofos. outros que era o fogo.. o conhecimento dos pré-socráticos também é denominado de cosmológico ou de filosofia da natureza. A segunda questão é a da tradição crítica. pela especulação. sobretudo pela racionalidade. Isso não significa que tenham se tornado necessariamente ateus. conhecido. aquilo que não existe. a ele mesmo. aquilo que existe não está sujeito à mudança. Atente para o seguinte diálogo. não existe. Por outro lado. com a nossa razão. para o que existe. obviamente. pois não nos proporcionaria um conhecimento seguro. o movimento. essa via sensorial. nós só poderíamos conhecer o que existe. a partir da distinção entre o ser (o que existe) e o não ser (o que não existe). desqualifica as experiências. as percepções. Só podemos conhecer o que existe e não podemos conhecer o que não existe. que poderia fazer parte da aula de uma turma de Ensino Médio.) tratou da questão do movimento. posteriormente. não pode ser. 46 . radicalmente. Parmênides queria chamar a atenção para o ser. Parmênides expõe que o ser. chega a identificar o pensamento referente ao que existe com a própria coisa que existe. a experiência e a razão. em que o professor de matemática apresenta aos alunos a matéria de geometria espacial. mundana. que você pode já ter presenciado. É célebre sua frase neste sentido: “O ser é e o não ser não é” (BORNHEIM. 1977. à medida que privilegia a racionalidade e o pensamento para apreensão do que existe. Logo. Parmênides inaugura um dos mais clássicos problemas da Teoria do Conhecimento: a dualidade entre o percebido e o pensado. por consequência. a mudança. Com isso. 63). C. veja que aqui é estabelecido um limite para o que pode ou não ser conhecido. Para ele. permitirá a você aprofundar o entendimento sobre a tese de imobilidade de Parmênides. trata daquilo que não é digno de confiança. os sentidos que produzimos ao entrarmos em contato com esse mundo sensível. conforme esta concepção radical de mundo. Por mais simples que possa parecer essa distinção ente ser e não ser. (i)mobilidade das coisas do universo.Capítulo 3 1.1 Mobilidade e imobilidade do universo Parmênides (530-460 a. o não ser (a negação do ser). Esse pensador. referente à questão da (i)mobilidade das coisas do universo e que. considerando-os como ilusões. sendo igual. Assim. é sempre do mesmo jeito. aquilo que existe. Para ele. Ele. pode ser identificado pelos nossos pensamentos. p. Considere a seguinte situação problema. considerando a reta contínua. identificamos uma linha vertical que pode ser tratada como uma reta. Esses são conceitos primitivos. reflexivo. o professor pode adotar a ideia do aluno e explicar que. ou seja. Porém. Aluno – Mas você pode nos explicar o que são os entes geométricos? Professor – Até certo ponto sim. altura ou largura e é traçada entre dois pontos. tem apenas comprimento. entes abstratos de natureza matemática. como é o caso da reta no caso anterior. também. Do mesmo modo. mas se é verdade que entre os dois pontos extremos de uma reta existem infinitos pontos. Por exemplo. Eles não existem de forma concreta na natureza. ao observarmos a parede de um prédio. assim. Aluno – Professor. os engenheiros podem construir pontes aplicando o conceito de reta em cálculos da construção civil. A reta é um ente unidimensional. projeções etc. com os pré-socráticos. com a finalidade de defender as ideias de seu mestre e. possam ser aplicados com sucesso em cálculos. ou um quarto de passo. podemos aplicar o conceito de reta a certos aspectos da realidade. em estudos de estruturas sólidas. O professor pode. não se pode encontrar uma reta por aí. E entre os dois pontos de uma reta existe um conjunto infinito de outros pontos. A questão apresentada aqui é tratada pela matemática atual. ou um passo duplo. no desenvolvimento de tecnologias aplicadas etc. expor que nem sempre é possível transpor diretamente modelos ideais para a realidade concreta. eu terei que atravessar infinitos pontos? Ora. isto é. ou dar meio passo. da reta e do plano como entes geométricos. mas surgiu muito antes. filósofo pré-socrático e discípulo de Parmênides. Nós estudaremos sua definição. é possível avançar sobre ela passo a passo. O passo sempre pode ser menor. antes de alcançar o fim da reta (a outra extremidade). desenvolveu argumentos que tratam do infinito. embora os entes matemáticos.Teoria do conhecimento Professor – Meus caros alunos. No entanto. Neste momento o aluno para. elementares. a partir dos quais faremos cálculos. Zenão de Eléia (495-430 a. isso significa que se eu sair do ponto origem (enquanto extremidade desta reta). o que leva à ideia de infinito.). então eu jamais chegarei ao outro lado da ponte!? Esse “caso simples” pode colocar um professor incauto em situação desconfortável. C. provar a imobilidade de todas coisas. identificaremos suas características e isso basta. a primeira coisa ao iniciar o estudo da geometria espacial é aceitar a existência do ponto. 47 . pois para percorrer a metade da metade da distância. a de que não há movimento. A percepção da mudança contínua da realidade pode ser sutil. somos e não somos. (88) Heráclito também reconhecia a importância da razão. C. até se chegar à ideia de infinito. de modo que o “mais lento” jamais será alcançado. Pois a mudança de um dá o outro e reciprocamente. O movimento é então uma ilusão.) afirmava que a realidade está em constante mudança. diz Zenão que o corredor “mais lento” encontra-se na frente do “mais rápido”. Veja que Zenão leva a questão da divisibilidade ao extremo. Heráclito de Éfeso (540-470 a. na segunda vez. Ora. Confira alguns dos fragmentos mais conhecidos de Heráclito (BORNHEIM. (54) . essa explicação corrobora a tese de Parmênides. Tal mudança ocorre. Observe que para conhecermos. 36-43): Tudo se faz por contraste. para Zenão. A explicação de Zenão. Desse modo. do ser e do não ser como faces de uma mesma moeda.(49) .Descemos e não descemos nos mesmos rios.Capítulo 3 Um dos argumentos de Zenão expressa o seguinte. sempre. vigília e sono. Embora a corrida já tenha iniciado. precisamos reconhecer essa “condição”. pelo menos. manifesta-se sempre uma e a mesma coisa: vida e morte. exatamente ao infinito. Diferentemente de Parmênides e de seus discípulos. p.Em nós. a partir da união de contrários. esse não será mais o mesmo e nem o rio. para percorrer essa distância. 48 . está continuamente mudando para o não ser e vice versa. considera que para o “mais rápido” alcançar o “mais lento” então ele teria que. Se alguém tomar banho duas vezes no rio. então. o ser. Imagine que dois corredores iniciaram uma corrida. juventude e velhice. 1977. para esse fato. mas defendia que o que existe. o corredor jamais sairia do lugar. Veja que. percorrer a metade da distância que há entre os dois. para então sustentar a imobilidade de todas as coisas. ainda é obviamente preciso percorrer a metade da metade da metade da distância. (8) . a água do rio passou e não volta mais. válida para todas as coisas que existem. da luta dos contrários nasce a mais bela harmonia. o corredor “mais rápido” ainda teria que percorrer a metade da metade de tal distância. mas diz Heráclito que devemos reconhecê-la como inexorável. Mas. assim como aquele que tomou banho será uma pessoa diferente daquela que tomou banho pela primeira vez.A harmonia invisível é mais forte que a visível. E assim sucessivamente. p. aliás. o conhecimento pré-socrático representou o início de uma tradição de produção de conhecimento baseado em conjecturas e refutações. A Terra [. 164) afirma que. 49 .] e a concepção de Newton de forças gravitacionais imateriais e invisíveis.. [. um conhecimento baseado no exame crítico das próprias teorias. mas o frescor e a criatividade das mentes curiosas e juvenis”.... de uma antecipação corajosa do que era impossível conhecer na base da observação concreta e. Ela é uma tentativa de solucionar um problema para o qual Tales.] não está sustentada por nada. Segundo o mesmo autor.. sobretudo. seu mestre. “e não se tenha aqui a ideia de um trabalho maçante de racionalização. a ideia da livre suspensão da Terra no espaço e a explicação de sua estabilidade não têm analogia em todo o campo dos fatos observáveis.Teoria do conhecimento Nesse sentido. Abriu caminho para as teorias de Aristarco e Copérnico. Provavelmente por terem vivido o surgimento da polis (este termo designa a cidade grega antiga) e da democracia. (1982. fundador da escola Milesiana ou Jônica já havia proposto uma solução. Mas. alteradas ou substituídas por outras mais adequadas.. enquanto concepção da realidade formada pela união de contrários e em constante transformação e movimento. permanecendo estacionária porque está situada a uma distância igual de todas as demais coisas. Ora. Sua forma é [. diferente do que ocorria com os mitos... os pré-socráticos foram mais longe do que baseados em suas observações empíricas.] como a de um tambor [. mas pela razão.2 Tradição crítica A segunda questão que abordaremos é a da tradição crítica (perspectiva metodológica sobre o conhecimento) e que caracteriza as escolas pré-socráticas. A postura crítica. Heráclito é considerado o cunhador do termo dialética.]. é uma analogia derivada da observação. os mitos não podiam ser criticados ou superados por outros melhores. obviamente. baseados em especulações abstratas e críticas. Como chegou Anaximandro a essa notável teoria? Certamente não mediante observações. O tambor. Observe a seguinte citação de Karl Popper acerca da teoria de Anaximandro sobre a suspensão da Terra. Existia entre eles um processo de discussão e desenvolvimento do conhecimento. Popper (1982. p. era adotada pela maioria das escolas pré-socráticas e fomentada pelos seus mestres professores. e os conhecimentos de ordem prática só eram modificados se fossem considerados inúteis. 163). uma importante característica do conhecimento dos pré-socráticos era a possibilidade de suas teorias serem criticadas. 1. você verá que Sócrates. Eram. o pensar. com características distintas.). que buscava o verdadeiro conhecimento por meio do exercício da razão. mestres que ensinavam argumentos e posicionamentos úteis para o sucesso na vida prática e política. o dizer etc. Platão e Aristóteles Nesta seção.1 Sócrates A tradição racional que começou com os pré-socráticos foi continuada por Sócrates (470-399 a. Assim. orientada pela procura de conceitos universais. de tal modo que fundamentaria melhor. também. de modo que desenvolveram uma filosofia que promovia o relativismo. Os conceitos universais se referem a um conhecimento seguro e amplamente válido. são relacionados ao processo do conhecimento científico. Em comum. e essa busca foi. de acordo com a tese preferida e argumentada pelo cidadão. tantas verdades decorriam de quantos discursos fossem proferidos. Seção 2 O conhecimento na filosofia de Sócrates. Os sofistas tinham uma visão pragmática da política e do conhecimento em geral. são características fundamentais do pensamento desses filósofos e. em relação a todos os outros tipos de conhecimento. Creditavam ao discurso. O foco dessa rivalidade era a teoria sobre o conhecimento verdadeiro. 2. Platão e Aristóteles defendiam uma respectiva teoria do conhecimento. para todas as coisas. à forma. Costumavam ser contratados para ensinar retórica e persuasão para os jovens que almejavam “prosperar”. C. Os sofistas eram grandes oradores e argumentadores. os três têm o fato de que procuravam por um conhecimento seguro sobre a realidade. somados ao exame crítico das teorias de seus pares. Sócrates opunha-se aos sofistas. Essa atitude desenvolve o senso crítico e promove a ação criativa. objetivos da maioria das propostas educativas e atributos necessários para qualquer pessoa. comumente. o fazer.Capítulo 3 A aventura especulativa dos pré-socráticos e seu pensamento hipotético no intento de conhecer a realidade. que eram considerados os mais respeitados mestres da sociedade grega. 50 . sobre nosso mundo. à eloquência e ao poder de convencimento o critério de verdade. para os três. Sócrates suscitava a autocrítica e fazia seu interlocutor questionar o próprio conhecimento. Sócrates exercitava a filosofia como debate vivo. argumentando livremente e promovendo debates entre as pessoas que se juntavam a ele. todos são ignorantes e alguns. levava o aprendiz a reconhecer-se ignorante – ironia socrática. 51 . Nesse caso.Teoria do conhecimento Para Sócrates. o homem para descobrir a verdade deve adotar uma postura humilde e questionadora. por perguntas insistentes. com a arte da maiêutica . mas de procurar a verdade (universal). Segundo Sócrates. Sócrates criticava os debates programados que eram comuns na vida política das cidades gregas antigas.ajudava seu interlocutor a exprimir o quanto de verdade sua razão fosse capaz de parir. sobre tudo. e então ficava pronto para admitir sua ignorância e empenhar-se na busca pela verdade. o interlocutor se tornava presa da dúvida. como busca incessante pela verdade. passava os dias pela cidade. os que têm consciência da própria ignorância. seus interlocutores eram desafiados a falar sobre temas diversos e levados. Assim. um espírito arrogante. são os mais preparados para se lançar em busca do conhecimento verdadeiro. Se o debate concluísse com um argumento genérico e sem uma precisa definição do objeto do debate. colocando seu próprio pensamento sob olhar crítico. Pensava que a filosofia é uma prática de vida que exige dedicação e coerência total. mas acreditava ter o dever de libertar as pessoas da convicção ilusória de que sabiam alguma coisa. não pode produzir um conhecimento verdadeiro sem antes proceder uma “cura”. precisa passar por um processo de depuração para somente depois assimilar o remédio. Nos debates promovidos por Sócrates. um corpo doente e intoxicado. Por isso. especialmente Platão. na visão do filósofo. ou seja. Do mesmo modo. e o que sabemos de seu pensamento é por meio de historiadores ou de outros filósofos. como pensava o sofista Protágoras. tempo de duração definido e afetados por interesses escusos dos debatedores. para além da diversidade de perspectivas. não se tratava de procurar o discurso eloquente e persuasivo. o interlocutor ficava confuso. Segundo ele. que fez de Sócrates o personagem principal de seus diálogos. a refletir profundamente. Não deixou nada escrito. que julga só ter virtudes e que confia demasiadamente em seus conhecimentos. antes de receber o remédio correto. de gerar. “o homem não é a medida de todas as coisas”. condição eficiente e necessária para conhecer a realidade. Depois. conversando com todos. Sócrates se considerava ignorante e não se fazia portador de nenhum saber. sem jamais ceder a interesses externos. com temas determinados. Nessa perspectiva. na casa da namorada. a universalidade do conceito. que a pessoa deve se concentrar. o que é comum em todas as coisas as quais julgamos como belas ou justas. Não vejo beleza nos lírios. como justiça ou virtude. de fato. e que belas são as rosas. Observe que Sócrates busca o conhecimento verdadeiro nas essências ou ideias universais que são alcançadas por meio da razão. Belos são os cravos.Capítulo 3 Maiêutica é sinônimo de obstetrícia. mas fazem isto enumerando casos particulares coletivamente conhecidos. e se concentrar para sempre.wikipedia. parte da medicina que estuda os fenômenos da reprodução na mulher. e não por meio da manifestação concreta. universal. ao da mãe. mas que é o Belo e a Justiça. que belos lírios. os rapazes discutem a questão e cada um diz o que pensa: – Oh. parteira de homens. mas nem todos são capazes de dar uma definição única para o termo geral. buscou saber não quais são as coisas belas e justas. as rosas não são belas. no autoconhecimento. Acompanhe a seguinte situação que visa a refletir sobre como o “conceito universal” de belo requer uma investigação mais aprofundada. Fonte: pt. Então. Entre tantas flores. a palavra também é utilizada por Sócrates para denominar o momento do “parto” intelectual do aprendiz. O rapaz pede para ver as flores mais belas que têm na loja. – Também acho os lírios feios. belezas. como pode parecer. Sócrates. “Todos” podem até falar com segurança sobre virtudes. pois elas têm espinhos. justiças. acompanhado dos amigos. enquanto guia para a nossa vida. que é múltipla e depende da impressão de cada um. O método socrático não se reduz ao diálogo. – Não. da realidade. a florista lhe traz um ramalhete de lírios brancos. Maiêuta é o médico que presta assistência à mulher e seu feto no período do grávido puerperal (obstetra). Eles lembram o dia dos finados. Eles são brancos como o leite. sobre a definição de essência. A pergunta socrática é. Porém.org/wiki/Maiêutica É no trabalho interno da própria razão. Um rapaz vai à floricultura. 52 . Sócrates era filho de parteira e comparava o seu ofício. pelo contrário. na procura da verdade que está dentro de si. – Que horror. de parteiro de ideias. para escolher flores que levará no primeiro jantar. Teoria do conhecimento – Eu acho os lírios lindos. porque a realidade concreta muda e algo que é belo hoje. que é o conhecimento verdadeiro obtido pela via da razão. do conceito universal investigado. Em Platão. para presentear a namorada? Sócrates diria que não. mas sim. mas amanhã a beleza deles já terá desaparecido. então tente outra coisa. a dialética é considerada uma explicação ampla e geral acerca de como a realidade é regida. Mesmo as que “parecem” belas. jamais. Segundo Platão. em ideia. Algumas coisas parecem belas e outras não. Tal procedimento. 2. é chamado pelo filósofo de dialética e é considerado por ele como um primoramento do método socrático. mas utiliza desta definição para qualificar as coisas como belas. pois o Belo é um conceito universal que existe em essência. portanto. a dialética é considerada um método para a busca de conceitos universais. ou seja. não o são para todas as pessoas. que consiste no confronto de argumentos e contra-argumentos. Você não pega o Belo. Você é capaz de sugerir ao rapaz alguma coisa que seja realmente. e somente lança seu reflexo sobre a realidade concreta. não vê o Belo. aproximando-se do conhecimento verdadeiro. obtido por meio dos órgãos sensoriais. que são uma forma de conhecimento simples e enganoso. não se trata de elaborar uma opinião pessoal. precisamos distinguir as opiniões (doxa). e mesmo que fossem belas para todas as pessoas.) aprofundou a distinção entre a essência e a aparência das coisas. para Sócrates. C. chegamos ao conhecimento verdadeiro pelo diálogo filosófico. Se você quer dizer a sua namorada como ela é bela. depurar o conhecimento. método. por meio de raciocínios lógicos. Para Heráclito. Nos diálogos. Mas. da ciência (episteme). 53 . Platão (428/27-347 a. o conceito universal (que apresenta uma essência imutável) de Belo é algo que não muda. Para Platão.2 Platão Ao procurar continuar o pensamento de Sócrates. pode não ser amanhã. não o seriam para sempre. indubitavelmente e sempre belo. da essência. Atenção! Não confunda o sentido da dialética de Platão com a de Heráclito. a Alegoria da Caverna é um dos mais significativos para elucidar como nos apropriamos do conhecimento verdadeiro. pela qual as teorias científicas passam para atestar sua veracidade. de ser científica. Em determinado momento. do senso comum. de uma caverna fictícia onde vivem prisioneiros amarrados desde que nasceram e de modo que nunca viram nada além das sombras projetadas na parede de fundo da caverna. mas como a própria realidade. da ciência. porque não têm origem na razão. Observe que o ponto de partida do diálogo platônico é a opinião que o aprendiz emite sobre o tema em questão. Para a ciência. de certo modo. não cabe ao mestre convencer pela via direta o seu discípulo a respeito de algo. de algum resquício de verdade que há na opinião. Dos escritos de Platão. Para Platão. pela via da argumentação dialética – pelo embate de argumentos . Platão parte de uma suposição. o erro pode ser o ponto de partida para uma nova teoria.as contradições. A teoria científica que não se confirma não deixa. e as correntes que nos prendem são nossos sentidos. A seguinte figura ilustra essa busca. dos conceitos universais. Veja que Platão parte da análise do “erro”. depois disso. As opiniões são consideradas falsas ideias sobre a realidade. da “verdade torta”.Capítulo 3 Nesse sentido. das coisas particulares. talvez. o interior da Caverna é o “mundo dos sentidos”. do conhecimento verdadeiro. os prisioneiros representam nós mesmos. por isso. Assim. e o exterior da Caverna é o “mundo das ideias”. completamente diferente do mundo em que estava acostumado a viver até então. O mestre inicia um diálogo apresentando um argumento acerca de algum tema e provoca o aprendiz a manifestar-se em relação ao tema. consideradas mais verdadeiras pelos participantes do embate. das essências. não é descartado como experiência negativa que já esgotou suas possibilidades. das opiniões. que se sustentam no decorrer do diálogo. Livrar-se das correntes e subir a caverna saindo de sua escuridão equivale 54 . Na metáfora da Caverna. incoerências do conhecimento proferido e as observações acidentais acerca da realidade são evidenciadas e superadas por outras provisórias. Com a prática da dialética. antecipa uma prática do conhecimento científico moderno que é a prova. as quais não são reconhecidas pelos prisioneiros como sombras. ou. um dos prisioneiros liberta-se e percorre um árduo caminho que leva ao exterior da caverna. As ideias passam por uma espécie de prova lógica e são. das aparências. Platão reafirma a necessidade da crítica como forma de aproximação das ideias verdadeiras e. parte da aparência de verdade. com a finalidade de superá-la e abandoná-la em seguida. vive daquilo que aparece. mas que está prisioneiro. O que faz diferença. o homem tem que se desacomodar e lançar-se em um caminho desconhecido. o homem da Caverna não vê as sombras como sombras das coisas. o que significa que antes de qualquer experiência elas já existem e podem. portanto. essa é uma característica essencial para qualquer aprendiz: estar disposto ao esforço que o processo permanente de conhecimento exige. na falta de um estranho que venha do exterior da caverna para libertar os prisioneiros.Teoria do conhecimento a desprender-se das opiniões que nos limitam e. em que recebia passivamente as sombras. O erro do prisioneiro da Caverna é satisfazer-se com a realidade das sombras e não se dar conta de sua condição de prisioneiro. dos homens que passam atrás de si. buscando sair da Caverna. as coisas que vemos e sentimos no mundo concreto são consideradas apenas ilusões. em nossa razão. Na representação de Platão. é ter consciência ou não de sua condição. ou seja. é estar mergulhado no processo de descoberta da verdadeira realidade. A despeito da facilidade com que algemas foram abertas. então não se poderia dizer que é um prisioneiro. é verdade que as sombras enxergadas pelos prisioneiros existem de fato e que eles as veem. essa é a condição dos indivíduos reais que vivem mergulhados em seu cotidiano. De modo geral. 55 . Para deixar para trás sua condição de prisioneiro. alcançar a claridade do conhecimento abstrato e ideal. no qual o seu esforço e a sua ação são exigidos. aparências da verdade. para Platão. O mundo do prisioneiro é apresentado a ele como verdade. com a curiosidade “satisfeita” ou alienada. a subida para o exterior da Caverna é um percurso doloroso. gradativamente. ao se movimentar e se dirigir para a luz. o homem sente dores no corpo. do que lhe assaltam os sentidos. ou seja. Não desconfia da existência da fogueira atrás de si. nos olhos e deseja voltar. Metaforicamente. Por outro lado. ser desveladas. No entanto. as ideias. Ter consciência da prisão é o primeiro passo para se tornar um homem livre. Porém. Se mesmo preso ele desconfiasse daquilo que se apresenta como verdade da realidade. Isso equivale a dizer que o prisioneiro não tem consciência de sua condição de prisioneiro. estão conosco desde que nascemos. neste caso. ao contrário da vida no interior da Caverna. mas como se fossem as próprias coisas. Conhecer. existe a rara possibilidade de que alguma coisa se altere na regularidade das sombras e os prisioneiros sejam levados ao questionamento. Platão faz questão de lembrar que. As ideias universais e verdadeiras das coisas já estão em nossa alma. Não desconfia que exista algo além do que se apresenta para ele. um verdadeiro aprendiz. ele vive nas sombras e das sombras. que podem mudar sem que aquela planta deixe de ser o que é. pelo trabalho da razão. remetem-nos aos conceitos universais. Assim. em Platão. Assim. chegar aos conceitos universais. Ele concorda com o mestre que para alcançar o conhecimento verdadeiro é preciso. que define o conjunto das diversas flores. buscamos. por experiência e indução. pois esse conceito abrange as margaridas e todas as outras flores que existem. o conhecimento vulgar dá origem a um discurso repleto de falácias que parecem raciocínios verdadeiros. De acordo com Aristóteles. não permite que você inclua a cadeira. Porém. planejadas. os conceitos universais nada mais são do que o resultado da atividade da razão. não foi bem recebido por Aristóteles (384-322 a. para formar um conceito universal.C. mas sistemáticas.). não dispensando a experiência sensível e a observação acurada das coisas particulares. primeiramente. experimentando diversos tipos de seres do reino vegetal. por exemplo. uma conclusão. aparentes. Platão e Aristóteles. Observe que quando consultamos o dicionário para buscar o significado de uma palavra. além das características acidentais. de certo modo. que. pois para esse os conceitos universais são inatos e a experimentação somente nos desvia do caminho para o conhecimento verdadeiro. porém. Conforme a teoria de Aristóteles. o conceito de “flor” que você tem e utiliza no cotidiano é resultado de diversas flores já conhecidas. Nisso Aristóteles discorda de Platão. 56 . se você isolasse uma margarida do conjunto das flores. categoriza e classifica a variedade do mundo sensível. Aristóteles acreditava ser possível identificar as características que são constantes. realizamos uma indução. a partir das quais podemos explicar o movimento ordenado e harmonioso dos entes materiais e formar ideias gerais que.Capítulo 3 2. Para Aristóteles. ampla e geral. mas que não o são. Capturamos com a razão as estruturas universais inerentes ao conjunto das coisas particulares. Nisso concordam Sócrates. O conceito universal de Flor. oferecendo-nos dados para propormos uma inferência. Para Aristóteles. não poderia chegar ao conceito universal de Flor. pois de coisas particulares tomadas em sua individualidade só se podem descrever as características sensíveis.3 Aristóteles O estabelecimento das ideias como fonte do conhecimento verdadeiro. A indução ocorre a partir da observação de casos particulares. o conceito universal que ela encerra. comuns e essenciais a todas as plantas. e não de cada uma delas individualmente. aí sim. por exemplo. as observações particulares a que se referia Aristóteles não são as meramente acidentais. por exemplo é. O ser. realizese. o qual a semente encontra-se passível de atingir. de fato. que ilustra as quatro causas que fazem parte do que um ser é. futuro. é necessária uma causa. Uma semente de mostarda é pequenina em ato. agora realizada. Ao investigar a realidade e os conceitos universais. as suas quatro causas. O ser. Acompanhe um exemplo. efetivado. Na grande maioria dos seres e coisas há a possibilidade de que ocorra uma passagem do que é em potência para o que é em ato. Essa figura. Para Aristóteles. do que uma semente. também estipula a indução (assim como a dedução) enquanto procedimento científico básico. enquanto a árvore é o estágio possível. refere-se àquilo que existe agora e que se encontra plenamente realizado. em potência. em ato. A semente representa o estágio atual desse ser. Bem. pois além de investigar quando um raciocínio é válido ou não. Aristóteles afirma que conhecemos uma coisa quando conhecemos.Teoria do conhecimento Veja que sua Lógica é ampla. por exemplo. Aristóteles propôs modos para falar do que existe. mas. refere-se a uma estátua. para que algo em potência. uma semente. a coisa. em potência se refere àquilo que tem condições de ser realizado. atualize-se. capazes de nos aproximar dos conceitos universais. os procedimentos de indução e dedução. mas que ainda não está realizado. a coisa. Observe com atenção o desenho que segue. de fato. mas tais seres e coisas não podem se transformar em qualquer coisa. Ele confia aos sentidos a captação das características das coisas no mundo físico e à razão. a Lógica é fundamental no trabalho de organizar e sistematizar a experiência. especificamente. essa semente representa uma árvore formosa e enorme. que auxilia na busca pelos conceitos universais. está a classificação do ser como ato ou potência. Entre esses modos. 57 . identificar. Se conhecermos estas quatro causas. 58 . poderemos. e de que modo ocorre a passagem de um estado atual para outro estado em ato (tal como o caso da árvore). Observe que Aristóteles estabeleceu quatro causas: • • • • Material.Capítulo 3 Figura 4. Eficiente.1 – A estátua da vitória da Samotrácia e as 4 causas de Aristóteles Fonte: VALVERDE (1987a. Formal.a semente da mostarda. a semente do pêssego. 84).p. então. conhecer. um determinado ser . Final. por exemplo. em diversas situações. é ela ser exibida. teria ordenado a seus súditos que colhessem diversos exemplares de plantas em uma vasta extensão de terra para os estudos de Aristóteles. ou causas primeiras. são suas características essenciais. que influenciou toda a percepção sobre o tema nos séculos seguintes. Depois de sua morte. a finalidade da transformação da potência em ato. no caso da estátua. Como físico e botânico que era Aristóteles valorizava muito as ciências físicas e biológica e se opôs à negação platônica do valor cognoscitivo da experiência concreta. perdurou um período de profunda transformação na mentalidade do homem ocidental. fundamentando a classificação da natureza. mas também seu maior crítico. A causa eficiente é a força externa que provoca a transformação da causa material para atingir um fim. houve um período de incertezas que perdurou até o surgimento do cristianismo. para Aristóteles. do declínio das cidades gregas e de sua cultura. aproximadamente. especialmente da teoria das ideias de Platão. o grande. 59 . Conta-se que Alexandre. A causa formal é o que torna o ser exatamente aquilo que ele é. que. Aristóteles foi o último grande filósofo grego da tradição clássica. foi aluno de Aristóteles dos treze aos dezesseis anos. quando abandonou a Filosofia para construir seu império. Saiba mais sobre as atividades de Aristóteles! Aristóteles foi o mais brilhante e reconhecido estudioso da Academia de Platão. já homem feito e com o império consolidado. sobre a qual se aplica a forma. por exemplo. Com esse sistema. é o que dá a forma à matéria. A causa final nada mais é do que o objetivo. Aristóteles realizou uma extensa obra sobre o reino animal. Veja assim que.Teoria do conhecimento A causa material se refere à matéria da qual a coisa é feita. criando a anatomia comparada. A ciência botânica teve origem no mundo antigo greco-romano. como é o caso do escultor na figura da estátua. rei da Macedônia. como o mármore da estátua. e o filósofo Aristóteles contribuiu muito para isso. tal como a modelo da estátua. o conhecimento também está relacionado ao conhecimento das quatro causas. Alexandre. 60 . prevaleceu a perspectiva religiosa. Primeiramente. enquanto o cristianismo era baseado na fé. O primeiro baseou se no pensamento de Platão e o segundo no pensamento de Aristóteles. Vale lembrar que questão semelhante ocorreu no início da filosofia na Grécia Antiga: o poder explicativo do mito sobre a natureza teve sua força atenuada enquanto se desenvolveu a adoção de explicações oriundas da Filosofia. porém. depois. a cultura grega foi considerada pagã.Capítulo 3 Durante a Idade Média. porque os gregos eram conhecidos pela sua curiosidade e investigação racional. ou seja. Dois dos principais pensadores cristãos foram Santo Agostinho e São Tomás de Aquino. ambos se basearam na filosofia grega para fundamentar as verdades da fé. sob a influência do pensamento cristão. A separação entre fé e razão foi a questão da Teoria do Conhecimento que prevaleceu no período medieval e se tornou a mais conhecida. porque os gregos eram politeístas (acreditavam em vários Deuses). eram movidos pela dúvida. No período medieval. quando se tratava de conhecer a natureza. enquanto que para o cristianismo há um só Deus (monoteísmo). elaborar sínteses. Seção 1: A redescoberta da racionalidade Seção 2: Caminhos possíveis para o conhecimento Seção 3: Questões da Teoria do Conhecimento na Contemporaneidade Secões de estudo 61 . argumentar e demonstrar conhecimento sobre o assunto. buscar e interpretar informações e dados. extrair conclusões e julgar.Capítulo 4 Questões do conhecimento no pensamento moderno e contemporâneo Habilidades O conhecimento das concepções epistemológicas (teoria do conhecimento) dos filósofos modernos e contemporâneos sobre as origens e possibilidades do conhecimento nos possibilitam apontar as seguintes habilidades a serem trabalhadas: refletir criticamente essa temática. A natureza era interpretada como uma escritura divina na qual ciência. grande parte dos filósofos cristãos da Idade Média se ocuparam em conciliar fé e razão no conhecimento da natureza. a Escritura Sagrada representava uma das fontes mais confiáveis de conhecimento. a Ciência deveria ser um modo de ilustrar a verdade teológica.Capítulo 4 Seção 1 A redescoberta da racionalidade A tradição da Teoria do Conhecimento iniciada com os filósofos gregos percorreu a história ocidental. a cultura grega era magnífica. mas decifrar as mensagens divinas expressas diretamente nos seres da natureza. aproximadamente. Os gregos cultuavam vários deuses. enquanto o cristianismo surgiu como culto monoteísta. a cultura grega incluía uma tradição racionalista e especulativa no conhecimento da natureza. que poderia ter a alma iluminada pela verdade divina. Afinal.quando todo panorama cultural. sobretudo a platônica. Alguns aspectos deveriam continuar velados aos homens para que não fosse apresentada nenhuma contradição com as escrituras sagradas. culto a um único Deus. Por outro lado. o século XII . quando o imperador romano Constantino reconheceu e deu liberdade ao cristianismo. Mais do que conhecer e dominar a natureza. mesmo aos olhos dos dogmáticos doutores da Igreja. inspirando todos os períodos subsequentes. Não deveria buscar a causa primeira dos fenômenos. Era o caso da Cosmologia e da Anatomia. Além do que. eram politeístas. isto é. por exemplo. até. moral e realidade se fundiam. A passagem do pensamento clássico grego para o pensamento medieval foi marcada por uma controvertida ruptura que alterou o modo dos homens entenderem a realidade. Há certo consenso entre os estudiosos de que os dogmas religiosos exerceram uma influência profunda no pensamento medieval. Os religiosos proibiam a investigação da natureza e a aplicação livre desse conhecimento. O homem era considerado uma criatura privilegiada. a Igreja dominou os meios de educação e formação intelectual desde o século IV. Inicialmente. Poucos sabiam ler e escrever no período medieval. e os homens letrados participavam do clero. o que oferecia risco aos dogmas cristãos. Sobretudo na primeira parte desse período. 62 . serviu de poderoso meio de argumentação e fundamentação das verdades da fé. Por um lado. político e econômico do Ocidente começou a mudar. a dialética dos gregos. Astronomia. praticamente dominadas pela Escolástica. que ensinavam as sete artes liberais: o trivium. Foi nesse período. aproximadamente. Dialética) e o quadrivium. o século XVI e teve o mesmo objetivo da sua antecessora: conciliar a Teologia com a Filosofia e fundamentar as verdades das escrituras sagradas. subordinada a estes dogmas por longa data. uma vez que reestruturaram o conteúdo dogmático dentro de um sistema conceitual coerente. que chegavam à Europa por meio dos navios mercantes ou por cavaleiros que retornavam das cruzadas. acabaram influenciando o próprio sistema dogmático. perdurou do século IX até. conciliando fé e razão. Esses fatores. além das obras árabes sobre as ciências da natureza. Entre os séculos XII e XIII surgiram as primeiras universidades. Escolástica refere-se a um núcleo de estudos cristãos que sucedeu a Patrística. Patrística refere-se a um núcleo de estudos dos fundamentos e doutrinas do Cristianismo que perdurou do século II até o VIII. As sete artes liberais que compreendem o trivium e o quadrivium constituem um programa de educação criado por Alcuíno de York. junto a outros de ordem política e econômica. como a decadência do feudalismo e o crescimento das cidades. A força do pensamento humano. mais tarde. estudioso e catedrático que viveu no século VIII. quando os doutores da Igreja retomaram a dialética com a finalidade de fortalecer a fé. não permaneceu inerte e ressurgiu a partir do que os historiadores denominaram de Pré-renascimento do século XII.Teoria do conhecimento Mas o pensamento medieval não consistiu unicamente na obediência cega aos dogmas cristãos. cujo principal objetivo era fundamentar racionalmente as verdades da fé. que eram os conhecimentos literários (Gramática. foi revitalizada pela Escolástica. A dialética foi introduzida nos debates cristãos pela Patrística e. Reunia doutores da Igreja. deram início a uma revolução cultural que ficou conhecida como Renascimento. Conforme Abbagnano (2000). Música). Geometria. que eram os conhecimentos científicos (Aritmética. que começaram a ser traduzidas as obras gregas que haviam sido proibidas durante quase toda a Idade Média. também. 63 . Uma marca da Escolástica é a influência aristotélica. Retórica. Copérnico e Ptolomeu. superando o conhecimento mitológico cristão. A preparação para a Modernidade A Modernidade não foi fruto somente da transformação intelectual ocorrida no Renascimento. passaram a efetuar seus estudos anatômicos diretamente em corpos humanos e a apontar os erros de anatomistas anteriores. o Renascimento foi um período histórico marcado pelo desejo do homem de produzir conhecimentos e orientar sua vida de forma autônoma. Ele tratava o corpo humano como suporte da alma e sua obra foi considerada definitiva para a prática da medicina durante toda a Idade Média. primeiramente. Também pode consultar o livro O Renascimento de Nicolau Sevcenko. Este era o foco de atenção de diversos estudiosos renascentistas. era proibida a dissecação de corpos humanos. busque livremente na internet pelos termos “Renascimento do século XII” e “Renascimento Clássico”. especialmente dos anatomistas e astrônomos. Sobre a questão cosmológica do Renascimento. 64 . e médicos como Claudius Galeano exerciam a clínica fazendo dissecações e experimentos em animais. o conhecimento passou a espelhar a autonomia do homem para pesquisar livremente a natureza. Sobre esse último. de Inês C. mas. também por “imagens” e você encontrará uma série de obras de arte. Saiba mais sobre o Renascimento Com o Renascimento. Se você quiser saber mais sobre as mudanças ocorridas no século XII. das transformações econômicas e políticas que decorreram daquele período. cada vez mais estudiosos. que culminaram no Renascimento Clássico do século XIV. porém. inventos e personagens interessantes deste período da história. pesquise. como o médico belga Andreas Vesalius. Outro livro interessante sobre a Idade Média é O pensamento medieval. busque livremente na internet pelos termos: Galileu Galilei. No Renascimento. Durante a Idade Média.Capítulo 4 De modo geral. Esse livro oferece uma leitura introdutória do assunto e apresenta motivos políticos e econômicos que favoreceram o Renascimento. pela sua capacidade própria de conhecer. Inácio e Tânia Regina de Luca. além das escrituras sagradas. baseada em experimentações empíricas. fundamentalmente naqueles aspectos que não contrariassem as verdades reveladas. que exigia do homem moderno um conhecimento aplicável e eficiente na invenção de tecnologias de produção. na urbanização das cidades etc. Muitas das filosofias gregas antigas são denominadas metafísicas por procurarem explicar a realidade a partir de fundamentos que são difíceis de serem explicados a partir do que percebemos como realidade. de melhoramento das condições da vida humana. o debate prevalecia sobre a experimentação. seja porque o primeiro estava irremediavelmente submetido à censura dos dogmas. de progresso. vinculado às especulações metafísicas e pouco concretas para atender às exigências da nova ordem social. O termo “metafísica” se refere àquilo que está além da física. a descoberta de novas terras e as técnicas de navegação na corrida para a apropriação dessas terras. nas ideias de Platão e Aristóteles. que não estivesse presa aos dogmas religiosos e nem aos enganos do senso comum. filósofo inglês do século XVI. e a invenção da imprensa. centros produtores do conhecimento da época. As diversas ideias e teorias eram apresentadas e as questões divergentes resolvidas. era conhecer por conhecer. preferencialmente. Nas universidades medievais. o segundo. Não havia demonstração empírica que não fosse para ilustrar os tratados antigos. validados pela cristandade. para a Modernidade o conhecimento tinha um fim prático. os doutores que se envolviam nesses debates apoiavam-se. por meio da argumentação lógica. 65 . Nesse sentido. Francis Bacon. que favoreceu a publicação de documentos e livros. a Ciência deveria servir para o progresso e a expansão do império humano. Enquanto o conhecimento dos gregos tinha um fim em si mesmo. Além disso. que agilizava muito a circulação de mercadorias e a acumulação de riquezas. foi um dos principais defensores de uma nova ciência.Teoria do conhecimento Foram mudanças importantes como: a introdução de um comércio basicamente monetário. além de nossa realidade. Este tipo de prática intelectual não dava conta da “vida real”. ou seja. Bacon acreditava que o conhecimento dá ao homem poder sobre a natureza. no domínio e exploração da natureza. Esses foram alguns fatores que exigiram e fomentaram um tipo diferenciado de conhecimento que não era o conhecimento religioso medieval nem o filosófico grego. que se juntem a nós. Além disso. esses.Capítulo 4 Na sua obra. mais animados e interessados. Para o Empirismo. mas em ir mais além. 1984): Aqueles dentre os mortais. para Bacon. Novum Organum. para. pela ação. ainda não era a ciência propriamente dita. quando nascemos a mente é tal e qual uma tábula rasa. deixando para trás os vestíbulos da ciência. As três vertentes guardam entre si semelhanças e diferenças. das coisas. que fazem parte do modo humano de conhecer. inclusive. ideias. Por fim. sempre irão influenciar o conhecimento das coisas. Bacon propõe novas bases para a Ciência. obtidas por meio da experimentação. De modo geral. Para o Racionalismo. a Teoria do Conhecimento. é preciso enfatizar que nenhuma delas nega a atividade sensível. a atividade cognoscente é tal que jamais poderemos conhecer as coisas mesmas. Diz ele (BACON apud VERGEZ. Primeiramente. não com a vitória sobre os adversários por meio de argumentos. não no uso presente das descobertas já feitas. mas na vitória sobre a natureza. por tantos palmilhados sem resultado. apreendido pelos sentidos. Vestíbulos: Antessala ou preparação para a ciência. não em emitir opiniões elegantes e prováveis. que estejam preocupados. a atividade cognoscente apreende a constituição e a ordem do mundo objetivo. penetrarmos em seus recônditos domínios. foi polarizada por três grandes vertentes que mantiveram vivo o debate acerca da relação entre sujeito e objeto: o Racionalismo. na Modernidade nasceram as principais ciências que conhecemos hoje. e as questões sobre o conhecimento permaneceram sendo fundamentais para filósofos e cientistas dessa época. No entanto. que são inatas. a atividade cognoscente constitui e organiza o mundo objetivo. Critica a Filosofia grega e sugere como fonte do conhecimento as informações objetivas. o Empirismo e o Criticismo. como verdadeiros filhos da ciência. Para o Empirismo. mais complexas. mas são nossas representações subjetivas. mas em conhecer a verdade de forma clara e manifesta. uma vez que nossas estruturas e categorias mentais. na Modernidade. o que significa dizer que nascemos com a mente vazia e que somente com a experiência algo é escrito nela. Aquela. tornando-se. nem a atividade racional. 66 . aquilo que conhecemos não são as coisas mesmas. Como “previu” Bacon. elas diferem no que se refere à passagem das sensações para as ideias. para o Criticismo. mas crítica e. 67 . os objetos do conhecimento são determinados na natureza do sujeito pensante. alguns caminhos possíveis sobre o conhecimento. o conhecimento é a síntese do dado na nossa sensibilidade e daquilo que o nosso entendimento produz por si mesmo. a extensão sempre permanece como seu atributo. O filósofo René Descartes (1596-1650). Veja o exemplo. de fato. E isto é possível porque. como o princípio que constitui e ordena o mundo objetivo. No entanto. desconfiada.. Seção 2 Caminhos possíveis para o conhecimento Nesta seção. visto que todo corpo a tem. Para o Criticismo. Hume e sua ótica Empirista.Teoria do conhecimento Para o Racionalismo. Podemos definir um corpo qualquer como uma coisa extensa. Porém. 2. mas de como elas se dão no sujeito. É o caso do conceito de extensão. as ideias universais podem ser desenvolvidas pelo pensamento racional. não servem para definir este corpo. O criticismo não propõe uma posição cética. considera que apesar da possibilidade inegável de se obter informações dos corpos por meio dos órgãos dos sentidos. odor. pois elas não permanecem nele. desenvolvidos pelos modernos René Descartes e sua perspectiva Racionalista. de algum modo. como afirma Kant. conhecido como fundador do racionalismo moderno. ou. é possível continuar afirmando que estamos diante de uma determinada extensão ou de determinada quantidade de matéria orgânica vegetal. Ao cabo de dez dias. o conhecimento nunca é o conhecimento das coisas “em si”. Kant e a proposta Criticista.1 Descartes e o Racionalismo Uma das principais características do pensamento moderno é a consideração do sujeito racional como fundamento para o conhecimento e o reconhecimento da atividade cognoscente. As características como forma. textura. a cor. mas mesmo mudando a forma. você estudará. suas características se alteraram. alcançar as verdades universais. em relação ao conhecimento. bem como as razões em que elas se baseiam. ou seja. a essência dos corpos é acessível somente pela razão. o cheiro etc. o criticismo é o método filosófico que consiste em investigar as fontes das afirmações e das objeções que fazemos. digamos. Também verá as perspectivas dos filósofos contemporâneos Kuhn e Feyerabend. cor. Considere um ramalhete de rosas brancas esquecido sobre a mesa. brevemente. a mente pode. se tudo mudasse a todo o instante. A res extensa refere-se à extensão do corpo e nisso os seres humanos são como as coisas em geral. infinitude. precisos. Já os conhecimentos obtidos pela via do raciocínio lógico. espaço. como forma. Os corpos materiais se transformam constantemente e os sentidos captam desses justamente as características que não permanecem. Os conceitos dos quais não temos referência sensível. a Matemática é considerada a base do conhecimento científico porque essa “ciência precisa. Observe que o ramalhete de flores tem sua extensão alterada a cada dia que passa. mas a extensão não desaparece.Capítulo 4 Alguma coisa se conservou. Esse pensador defende que os dados obtidos pelos sentidos são imprecisos demais para serem tomados como base do conhecimento científico. tempo. que é a parte pensante do ser humano.. as ideias de extensão. mas eles não são suficientes para explicar as relações que estabelecemos quando conhecemos. O que se conservou. partindo da identificação do erro. como é o caso dos princípios da Física e da Matemática. foi justamente a extensão. diferindo. 68 . Para Descartes. enquanto a razão capta as noções essenciais refletidas nas coisas concretas.. Cogitans: O termo cogito significa pensamento. textura. ser humano é uma junção de: . número.e uma alma (res cogitans). universais e seguros para sustentar a Ciência. Se absolutamente nada se conservasse. Os aspectos próprios dos objetos. A res cogitans refere-se à alma. Para Descartes. sobretudo o matemático. no caso do ramalhete de flores. então. são racionalmente demonstráveis. visto que é um conceito e não uma simples imagem. por meio da radicalização da dúvida. unidade. . das coisas e dos outros animais. são retirados diretamente dos objetos ou das ações humanas sobre esses. o conhecimento seria impossível. rigorosa” é a que melhor nos apoiaria no conhecimento da natureza. mas somente pode ser captada pelo entendimento. Descartes iniciou sua investigação sobre o conhecimento examinando se suas opiniões eram verdadeiras ou se eram meras ilusões. Pensa Descartes que a extensão dos corpos não decorre da percepção sensorial. somente são alcançados com a atividade racional.um corpo (res extensa). cor etc. causalidade etc. Teoria do conhecimento Qual é a origem do erro? Por que algumas pessoas erram e outras acertam? Por que uma mesma pessoa ora acerta, ora erra? Seria possível acertamos sempre? Sim, responderia Descartes. Para tanto, precisamos reconhecer que a fonte de nossos erros é a falta de um método perfeito e definitivo, que nos conduza ao conhecimento verdadeiro e não nos deixe sucumbir ao erro, pela precipitação e pela prevenção. As pessoas erram porque se precipitam, não observam e não refletem pausadamente sobre aquilo que desejam conhecer. Se o fizessem, então, seriam capazes de encontrar os aspectos do objeto que não comportam nenhuma dúvida, ou seja, poderiam encontrar as evidências. A partir dessas evidências, seria possível conhecer o objeto, mas as pessoas costumam emitir juízos superficiais e tirar conclusões aligeiradas acerca da realidade, e assim, perdem-se dele. Também as pessoas erram por prevenção, isto é, apegam-se a preconceitos e opiniões ingênuas e, antes mesmo de abordar o objeto do conhecimento, acreditam saber algo sobre ele, deixando, assim, de continuar investigando a realidade. Porém, uma vez que seja aplicado corretamente o método perfeito, é possível confiar na veracidade do conhecimento obtido por meio dele. Mas qual seria este método? O próprio Descartes responde: [...] assim, em vez desse grande número de preceitos de que se compõem a lógica, julguei que me bastariam os quatro seguintes, desde que tomasse a firme e constante resolução de não deixar uma só vez de observá-los. O primeiro era o de jamais acolher alguma coisa como verdadeira que não conhecesse evidentemente como tal [...], e de nada incluir em meus juízos que não se apresentasse tão clara e tão distintamente a meu espírito, que eu não tivesse nenhuma ocasião de pô-lo em dúvida. O segundo, o de dividir cada uma das dificuldades que eu examinasse em tantas parcelas quantas possíveis e quantas necessárias fossem para melhor resolvê-las. O terceiro, o de conduzir por ordem meus pensamentos, começando pelos objetos mais simples e mais fáceis de conhecer, para subir, pouco a pouco, como por degraus, até o conhecimento dos mais compostos, [...] E o último, o de fazer em toda parte enumerações tão completas e revisões tão gerais, que eu tivesse a certeza de nada omitir. (DESCARTES, 1973, p. 37). 69 Capítulo 4 Portanto, o método cartesiano consiste em estabelecer uma evidência a partir da dúvida, realizar o exercício da análise e da síntese, assim como da enumeração/ revisão. Esses são os procedimentos que, segundo o filósofo, conduzem os homens ao conhecimento seguro e científico. Para Descartes, somente podem ser aceitas como verdadeiras as proposições que se apresentarem à razão como indubitáveis. Portanto, é necessário antes submeter todo conhecimento à dúvida, exatamente para descartar o que não resiste a ela. Observe que o primeiro passo do método cartesiano é a dúvida. A dúvida cartesiana é a dúvida metódica, isto é, utilizada como meio para testar o conhecimento e separar o válido do inválido, o verdadeiro do falso. É uma dúvida que coloca em cheque as sensações, as opiniões e os pensamentos, a fim de encontrar as evidências e não para negar a possibilidade do conhecimento. Considere a seguinte situação, que lhe permite refletir sobre a importância da dúvida para conhecermos. Imagine que você e seus colegas de curso estão conversando a respeito das aulas e o tema é a relação entre o desempenho dos professores e a aprendizagem dos alunos. O diálogo poderia ser mais ou menos o que segue: Aluno 1 – Quando o professor explica bem a matéria, a gente não fica com dúvidas e consegue se sair bem na prova. Quando o professor fica em dúvida, a gente não confia no que ele está ensinando. Aluno 2 – Mas tem professor que explica bem a matéria e nem sempre responde às perguntas que a gente faz, às vezes ele também não sabe a resposta. Assim, a gente tem que perguntar para os colegas, pesquisar e tentar responder sozinha. Aluno 1 – Isso é muito chato, a gente pensa, pensa e fica sem saber qual é a resposta certa. Ora, professor bom é aquele que não deixa a gente com dúvidas. Você pensa que a dúvida do aluno deve ser sempre sanada e a dúvida do professor sempre ocultada? 70 Teoria do conhecimento Será que a ausência da dúvida é sempre sinal de aprendizagem e de conhecimento? Registre aqui sua perspectiva. O racionalismo cartesiano teve críticos de valor, como o filósofo John Locke (1632 1704), considerado o maior representante do empirismo inglês. Para Locke, o conhecimento é a percepção da ligação, do acordo e do contraste entre a ideia e a coisa. Essa conformidade entre ideia e coisa, para o Empirismo, somente é possível por meio da experiência empírica. Saiba um pouco mais sobre o Empirismo, em função das ideias de John Locke! Para o Empirismo, o objeto é, em última análise, o que determina o conhecimento, e por mais que nossa mente seja habitada por ideias diversas, nada existe na razão que não tenha antes passado pelos sentidos. O Empirismo afirma que os seres humanos nascem com a mente vazia. A partir das primeiras experiências que temos é que surgem as primeiras ideias, que nada mais são do que representações das coisas concretas, percebidas por meio dos órgãos dos sentidos e acumuladas desde o nascimento. Segundo o filósofo empirista John Locke, a partir do contato físico com os objetos, a mente transforma os dados obtidos em ideias simples. Por exemplo, você vê um livro sobre a mesa, fecha os olhos e percebe que guardou uma imagem mental idêntica do que viu. Bem, essas ideias simples vão sendo combinadas pela própria atividade racional e vão formando outras que são denominadas complexas. Assim é sucessivamente, até que se possa chegar a ideias com alto grau de complexidade lógica. Mas, por fim, tudo o que habita a mente humana, de alguma forma, tem sua origem na experiência concreta. Hume e o Empirismo Outro conhecido empirista é David Hume (1711-1776). Para esse filósofo, a fonte do conhecimento é a percepção e a associação mental das ideias que dela decorrem. 71 essas lembranças ou representações mentais jamais terão a força da sensação original. não é possível dimensionar a diferença de intensidade que há entre um e outro. O mesmo ocorre quando lemos um poema de amor e traição e nos lembramos do sentimento de ciúmes. São elas: • • as impressões ou sensações. As impressões são consideradas mais vivas e imediatas. aumentar ou diminuir os 72 . porém. Essas são impressões ou sensações que se dão ao sujeito sem que ele pense nelas. nada parece mais ilimitado do que o pensamento humano [. ou podemos até explicar a sauna como um fenômeno físicoquímico. e toda conclusão que decorre delas são suposições. as ideias. do fenômeno vivenciado. sentimos em nosso corpo o calor do vapor e o choque térmico da ducha fria. Preste atenção nas seguintes palavras de Hume.. que se for forte pode ser avassalador para o corpo e o pensamento. transpor. essas são sensações externas.. podemos lembrar das sensações que nos causou quando estávamos em casa. probabilidades. Mas também é possível ter sensações internas. Já as ideias nada mais são do que cópias das impressões. que se diferenciam entre si pelo grau de vivacidade com que se apresentam ao sujeito do conhecimento. Retomando o exemplo anterior: Estando na sauna. pois são consideradas as percepções mais fracas da mente. elas não obedecem a qualquer lógica. pois penetram com mais força e evidência na consciência. À primeira vista. como um sentimento de ciúmes. podemos antecipá-las pela imaginação. Por exemplo: Quando vamos à sauna.] examinando o assunto mais de perto vemos que em realidade ele se acha encerrado dentro de limites muito estreitos e que o poder criador da mente se reduz à simples faculdade de combinar.Capítulo 4 Mas você sabe o que é percepção? As percepções são ocorrências mentais e podem ser de duas classes. Teoria do conhecimento materiais fornecidos pelos sentidos e pela experiência [...] Em resumo, todos os materiais do pensamento derivam da sensação interna ou externa; só a mistura e composição dessas dependem da mente e da vontade. (HUME, 1992, p.70). Para Hume, toda a nossa atividade mental consiste em fazer associações de percepções derivadas da experiência. A mente parte de ideias simples, oriundas das impressões sensíveis, e, por meio de operações associativas, dá origem a outras complexas. A possibilidade de combinações de ideias é tão grande que pode nos levar a crer que algumas nada têm a ver com a experiência concreta. De fato, há ideias obtidas pela aplicação do raciocínio, pelas construções das relações lógicas que não necessitam de experiência prévia e não podem ser verificadas no mundo concreto. É o caso da Lógica e da Matemática. Os verdadeiros objetos de conhecimento da razão não são aquilo que percebemos, mas as relações entre as coisas que percebemos. Elas se dividem em: • • relações de ideias; relações ou questões de fato. Essas relações ou associações não são aleatórias, mas seguem alguns princípios universais de associação. As primeiras, as relações de ideias, englobam as proposições cujas relações acontecem unicamente entre ideias, sem existirem de fato na natureza (são números, formas geométricas, fórmulas matemáticas etc.). Essas relações seguem princípios de: Semelhança; Contrariedade; Graus de qualidade; Quantidade ou número. É possível realizar longos raciocínios a partir delas sem se alterarem, porque não dependem dos fenômenos concretos. São proposições consideradas certas por demonstração lógica e por intuição, independentemente do nível de complexidade a que são levadas, conservam sempre sua exatidão, produzindo um conhecimento universal e logicamente necessário, e, por isso mesmo, não podem ser obtidas por meio de experiência concreta, já que toda experiência é particular. Portanto, essas relações entre ideias não tratam do conteúdo do mundo. 73 Capítulo 4 As segundas, relações ou questões de fato, englobam as relações que descrevem os acontecimentos concretos, e essas não estão sujeitas às regras lógicas, apenas se revelam, da forma como são percebidas, no momento da experiência vivida. Essas relações seguem princípios de semelhança, contiguidade (no tempo e no espaço) e causa e efeito. Contiguidade: Que está próximo, é adjacente, que avizinha. O princípio da semelhança faz com que, ao vermos um objeto, imediatamente nos remetamos a outro que lhe é semelhante. Por exemplo, quando um caipira na cidade grande visita um jardim botânico e lembra de seu sítio, ou quando o vinho derramado na camisa lembra ao médico uma mancha de sangue. O princípio de contiguidade faz com que, ao vermos um objeto, automaticamente venha à mente outro objeto que lhe é contíguo. Por exemplo, quando vemos alguém se ferir gravemente, logo imaginamos a dor que deve estar sentindo, ou então, quando visitamos um apartamento de um prédio logo imaginamos os outros apartamentos. O princípio de causa e efeito nos leva a relacionar o que antecede e o que sucede um objeto observado. Por exemplo, quando um médico legista investiga a causa da morte de alguém, analisa o ferimento e imagina que instrumento pode tê-lo causado, ou, quando alguém nos diz que derramou água fervente sobre a mão, imediatamente supomos que deve ter ocorrido uma queimadura. No entanto, a relação de causa e efeito que o homem julga perceber na natureza é fruto da indução, que não garante a permanência das coisas. Para Hume (1992), a causalidade somente existe no pensamento e é decorrente do hábito. Nada existe na experiência concreta que garanta esta relação. Hume (1992) chama atenção para os equívocos que o hábito pode produzir. O fato de um fenômeno acontecer muitas vezes faz com que o homem se acostume com ele e passe a esperar que ele se repita; assim, cria-se o hábito. Todas as vezes que uma pedra é jogada para cima, ela cai, o homem já se acostumou a ver esse fenômeno em toda sua vida, mas disso não decorre que este fenômeno ocorrerá sempre. Pode ser, quem sabe, que um dia ela não caia. Podemos supor, por exemplo, que daqui a algumas centenas ou milhares de anos, as condições atmosféricas mudem e a Lei da Gravidade seja negada. A certeza no que é observado é consequência de nosso treinamento, desde a infância, em decifrar e classificar as mensagens do meio ambiente, para nossa adaptação e sobrevivência neste meio. 74 Teoria do conhecimento Avisa Hume (1992) que o hábito pode nos levar a conclusões precipitadas sobre as coisas e suas relações. Se todo conhecimento se origina das percepções, algumas de impressões sensíveis e particulares e que não servem como referência universal e outras de idéias complexas que não derivam da experiência concreta, então o conhecimento humano não é certo, mas apenas provável. Para Hume (1992 ), certo seria se admitíssemos que, realmente, não conhecemos nada. Observe que Hume (1992 ) nos apresenta uma crítica ao método indutivo. Ele afirma que não é possível justificar nenhuma das verdades obtidas por indução. O fato de o homem presenciar fenômenos que se repetem, não significa que ele pode inferir que os fenômenos sempre acorrerão da mesma maneira. Pela indução a partir de ocorrências particulares, não é possível fazer juízos universais, visto que não é possível experimentar o universal, apenas o particular e específico. Reflita! Pense no seu conhecimento sobre as cores. Certamente você conhece diversas cores e em diversos matizes. Imagine que entre tantas cores que você conhece não está o vermelho; ou seja, hipoteticamente falando, você simplesmente nunca viu o vermelho. Agora imagine que lhe fosse apresentada uma escala de diversos matizes de vermelho, do mais fraco para o mais forte, porém, faltando um dos matizes. O que vai ocorrer é uma distancia maior entre aqueles dois matizes contíguos em que falta um mais do que entre os outros matizes da escala. Responda: Você pensa que, mesmo sem conhecer a cor vermelha, seria possível identificar a falta de um matiz na escala de vermelho? Justifique sua resposta. Segundo Hume sim, visto que a mente humana é capaz de identificar a descontinuidade e tentar, idealmente, suprir a falta percebida. 75 visto que as categorias de análise da realidade. e é a elas que ele se dedica especialmente. Tudo o que chega do mundo físico ao sujeito é o que consegue passar pelos seus sentidos e suas faculdades cognitivas. Considera que o fenômeno vivenciado é fonte necessária de conhecimento. O meio pelo qual o mundo é percebido. em si. No que se refere à Teoria do Conhecimento. de certa forma. são forjadas em sua mente. A experiência é o momento em que o sujeito atinge sensivelmente o objeto e intui a sua existência. Kant.Capítulo 4 Kant e o Criticismo Kant (1724-1804) é conhecido como um dos mais rigorosos filósofos de todos os tempos. ao contrário do Racionalismo. De modo diferente do Racionalismo de Descartes. 76 . De modo geral. a priori. ou seja. puras. as ferramentas de organização da experiência externa e interna são. que é abastecida pelo mundo percebido por meio dos sentidos. pelas quais ela se torna conhecida. exatamente como ele é. mas não que seja a única fonte. não se tem certeza da existência do mundo. em Deus – pois afirma que desses assuntos não pode haver provas. Ela é fundamental para o conhecimento. No entanto. A participação do sujeito é fundamental no processo do conhecimento. nutre o entendimento e provoca a imaginação e as operações mentais do sujeito. no contexto de uma experiência. para Kant. no plano divino. Ele está menos interessado na constituição da realidade do mundo físico do que nas operações mentais e faculdades do conhecimento do sujeito que conhece. nega que possa haver conhecimentos seguros que tenham origem na metafísica. o conhecimento inclui o mundo físico percebido sensivelmente e as faculdades mentais do sujeito cognoscente. de modo que tudo pode ser afirmado. aglutina os seus aspectos mais importantes. Aqui está uma questão que interessa a Kant (1996). considera a existência de ideias a priori. visto que a experiência não nos permite conhecê-lo. estão no sujeito. Segundo Kant (1996). pode-se dizer que a sua filosofia ao mesmo tempo em que critica as teorias anteriores (Empirismo inglês e Racionalismo cartesiano). o conhecimento começa com a experiência. antes da experiência. ao contrário do Empirismo. ao contrário do Empirismo. A imaginação é entendida como uma faculdade intermediária entre a sensibilização e o entendimento e se refere à capacidade de representar o objeto mesmo quando ele não está presente. Segundo Kant (1996). a razão é faculdade que. É a capacidade de representação de um objeto intuído. pelas quais é possível produzir o conhecimento. capacidade de representação imediata do sujeito. Kant (1996) chama de intuição o modo como o conhecimento se refere imediatamente ao objeto. praticamente. Isso significa que a experiência com o objeto exige condições a priori de sensibilização. os diversos homens concretos e o conceito único de homem. que vão permitir realizar a síntese do múltiplo experimentado em conceitos universais. Nesse sentido. mas não lida com as representações intuídas 77 . a mesma tarefa do entendimento. pela imaginação. é universal e não pode ser atingido pela sensação que somente nos mostra a multiplicidade de coisas. Por exemplo. que vão permitir realizar a síntese do múltiplo experimentado em conceitos universais. Finalmente. São elas: • • • • Sensibilidade/intuição. mediante um conceito. o que significa que. conceito para Kant é uma unidade mental dentro da qual estão compreendidos um número indefinido de seres e de coisas. Kant afirma que os objetos aparecem para nós em função de como esses afetam nossos sentidos. A razão faz. Entendimento. Conforme Morente (1970. mas ao próprio processo do entendimento. p. é possível fazer uma síntese da multiplicidade das coisas percebidas. Razão. Portanto. O entendimento é o que opera as categorias e princípios a priori. É ele que dá unidade ao trabalho das faculdades anteriormente citadas.Teoria do conhecimento Ele identifica quatro faculdades do sujeito. 229). por natureza. em nada se refere à experiência. E a sensação é justamente o efeito que o objeto produz sobre os órgãos dos sentidos e sobre a capacidade de representação do sujeito. É ele que dá unidade ao trabalho das faculdades anteriormente citadas. Imaginação. ou dadas pela intuição. O entendimento é o que opera as categorias e princípios a priori. a sensibilização é a capacidade de obter representações a partir do modo diverso como o objeto nos afeta. antes de qualquer experiência. a razão pode chegar aos seus próprios princípios. Observe que o atributo “frio” já está contido. Por meio de sínteses internas. Neste caso. que lhe acrescenta uma qualidade. por meio de juízos. não é possível afirmar aquele predicado. estão ligados aos conceitos e são juízos a priori. o predicado. Nesse caso. sintetizá-las. que é o “faz frio”. pois se não houver a experiência de sentir frio em dias de neve. que é sujeito da oração. ou seja. não incluída no sujeito. Portanto. esses juízos podem ser: Analíticos ou Sintéticos. o predicado não está previamente dito no sujeito. não acrescentam nada de novo ao conhecimento. Os juízos analíticos não dependem da experiência. A razão lida antes com as regras que dão unidade a essas representações e aos conceitos. Retomando o exemplo anterior para transformá-lo em um juízo sintético a posteriori. o predicado já está contido no sujeito. basta saber quem é o sujeito para saber. ficaria assim: “Nos dias em que neva é preciso usar agasalhos”. os juízos analíticos. o predicado que se aplica a ele. Veja o exemplo: Quando pronuncio a frase: “Nos dias em que neva faz frio”. Para Kant (1996). que são ideias puras.Capítulo 4 e a organização de conceitos. necessitam das informações intuídas pela sensação para juntá-las. o conhecimento produzido sobre o mundo interno e externo é expresso pelo sujeito que conhece. implícito. Os juízos são frases formadas por um sujeito do qual se declara algo e por um predicado que é aquilo que se diz do sujeito. É a razão que dá unidade às regras do entendimento. pelo contrário. no conceito “neve”. Segundo Kant (1996). São juízos a posteriori. a priori. já está contido em “Nos dias em que neva”. Os juízos sintéticos. 78 . Eles acrescentam ao sujeito da oração um predicado novo. os juízos sintéticos a priori. Veja que o predicado ‘sentado’ não faz parte da constituição do sujeito ‘Sócrates’. são universais e necessários. apesar de ligados aos conceitos e às sensações não estão limitados à experiência. o predicado é tal que não “pertence” ao sujeito. Neste tipo de juízo o sujeito (reta) e o predicado (pontos) se referem a duas entidades distintas. atribuindo um predicado que não está dito no próprio sujeito. Porém. propomos um conhecimento independentemente da nossa experiência. Todo ser humano é mortal. Ocorrem porque os juízos sintéticos que dependem da experiência. são universalizados e tomados como leis da natureza. todo juízo analítico é considerado sempre verdadeiro. Neste tipo de juízo. Esses são os juízos mais adequados às proposições científicas. Todo juízo analítico é considerado uma tautologia porque. Ex. o predicado não está contido no conceito do sujeito. necessário e universal. Esses juízos também expressam algo necessariamente verdadeiro ou necessariamente falso. isto é. Esse é um juízo sintético a posteriori. o predicado pode ser dito sobre o sujeito. independentemente da experiência e fundamentalmente a partir da análise do próprio juízo. o predicado é tal que esse “pertence” ao sujeito. eles não nos proporcionam um conhecimento ‘novo’ sobre a realidade. Contudo. Veja que o predicado ‘mortal’ faz parte do sujeito ‘ser humano’. porque a verdade desse juízo depende de certa ‘experiência’. Saiba mais sobre os juízos kantianos! Em todo juízo analítico. também. repete no predicado o que já foi dito no sujeito. Pode-se dizer que. Outro ex. Veja que no sujeito ‘triângulo’ já está presente a ideia do que é dito no predicado ‘ter três ângulos’. está contido no sujeito em função da própria constituição do sujeito. Kant junta razão e experiência. por isso. “a linha reta é a distância mais curta entre dois pontos”. Nos juízos sintéticos a priori. independentemente da 79 . que são a posteriori (como foi explicado no parágrafo anterior). Veja um exemplo: Sócrates está sentado. podemos reconhecer a verdade ou falsidade do juízo. o predicado não está contido no sujeito. mas podemos ‘intuir’ esta lei de modo racional. Os juízos analíticos são ditos a priori porque sua verdade ou falsidade independem de experiência. Todo triângulo tem três lados. mas é algo que podemos expressar sobre a condição do sujeito. podemos atribuir tal predicado ao sujeito. depende da nossa experiência para podermos dizer se ele é verdadeiro ou falso. Kant considera que os juízos sintéticos a priori. Observe o caráter cambiante de veracidade deste juízo. Nesse sentido. Veja um ex. Nos juízos sintéticos.Teoria do conhecimento Há. pois uma hora Sócrates pode estar sentado e em outra não. de certo modo. com esses juízos. isto é. da possibilidade. 80 . lugares e épocas. A Filosofia de Kant influenciou a ciência moderna até os dias atuais. Essa corrente é o Positivismo. a possibilidade do conhecimento das coisas em si e apontando as falhas da aplicação do método indutivo.1 Saiba mais sobre o Positivismo O Positivismo. que garantisse um conhecimento verdadeiro. ainda hoje. a ciência é. verdadeira em todas as localidades. Para o Positivismo. É preciso lembrar. na confiabilidade que o homem adquiriu no conhecimento científico. não tanto pelo seu aspecto teórico. em sua época.Capítulo 4 experiência. questionando a relevância do método dedutivo e do conhecimento puramente abstrato. a priori. porém. propõe levar em consideração tanto a experiência empírica do mundo físico quanto as formulações lógicas puramente racionais. que polarizaram a discussão moderna sobre o conhecimento. entre tantos tipos de conhecimento desenvolvidos pelo homem. Hume (1711-1776). Esse juízo sintético. também. é claro. 3. pela sua própria explicação de como ocorre o conhecimento e pelo brilho e pela genialidade da lógica interna de seu pensamento. mas pelo abalo que elas provocam. Seção 3 Questões da Teoria do Conhecimento na Contemporaneidade Descartes (1596-1650). por seu lado. questionando. sistema proposto pelo filósofo Augusto Comte (1798-1857). estava preocupado em frear a confiança na razão como fonte única de conhecimento. Essas duas teorias protagonizaram uma questão primordial para o conhecimento científico contemporâneo. o único conhecimento universalmente válido. que buscou sintetizar o empirismo e o racionalismo e estabelecer a Ciência como um conhecimento positivo sobre a natureza e definitivo quanto a sua validade. e não se pode esquecer que era uma época de crença no poder da razão. independentemente da experiência de alguém. acima. estava preocupado em construir um método assentado na Matemática. expressa uma lei (matemática). de uma outra corrente de pensamento. pela sua crítica às teorias do conhecimento anteriores. cientistas. Augusto Comte. Muitos filósofos contemporâneos dedicam-se exclusivamente ao estudo do conhecimento científico. de interferência na ordem dos acontecimentos naturais e de modificação das maneiras de viver não têm precedentes. desenvolveu-se junto às descobertas científicas e as invenções tecnológicas a complexidade das questões do conhecimento. em outros casos. de acordo com o Positivismo. você pode procurar livremente na internet pelos verbetes: Positivismo.Teoria do conhecimento Nesse sistema. Assim. de modo progressivo e linear. refletindo sobre seu próprio trabalho. É inegável que a partir do século XIX o conhecimento científico tenha se consolidado e determinado significativamente a caminhada da humanidade. Os avanços científicos e o impacto destes na vida humana originaram uma série de indagações quanto aos procedimentos e a veracidade do conhecimento científico. 81 . No entanto. assim como defendiam grande parte dos pensadores modernos? A confiança que a modernidade depositou no conhecimento científico não permaneceu igual para os cientistas e filósofos contemporâneos. Para saber mais sobre o Positivismo. estão a objetividade. É interessante salientar que essas características aqui citadas estão entre as mais criticadas pelos teóricos contemporâneos da Ciência. a neutralidade e o progresso. surgiram questões como: Quais são as possibilidades do conhecimento científico para o homem contemporâneo? Quais são as consequências das descobertas e invenções científicas para a vida humana e para o meio ambiente? É possível confiar na objetividade e na veracidade do conhecimento científico. acreditava-se ser possível “evoluir” no conhecimento científico. tornam-se teóricos do conhecimento. As possibilidades que a Ciência oferece para a explicação dos fenômenos da natureza. Sociologia. Entre as principais características do conhecimento científico. Porém. Um paradigma também pode surgir de um conjunto de realizações científicas concretas. Segundo Kuhn . Observe que o paradigma acaba direcionando as pesquisas e apontando sua perspectiva de desenvolvimento e seus limites. entre os quais há o controle do conhecimento produzido e das informações veiculadas no grupo.1996). O período em que um paradigma é unanimemente aceito pela comunidade científica é denominado. As ideias mais divulgadas de Kuhn acerca da Ciência são a noção de ciência normal. postulados e metodologias que regem todas as pesquisas de uma determinada disciplina científica. mas por meio de saltos qualitativos provocados pelas mudanças de paradigma. dos mesmos juízos profissionais e dos mesmos paradigmas. especificamente numa situação em que teve que preparar um curso de ciências para não cientistas. Na realidade. Kuhn precisou rever o conhecimento científico em uma perspectiva história e aproximou-se irremediavelmente da Filosofia. Nesse período. ciência revolucionária ou revolução científica e paradigma. o paradigma é um conjunto de princípios. os cientistas não estão preocupados em comprovar o paradigma ou em estudar aspectos que fogem a ele. ele é um físico de formação. em sua especialidade. ou seja. o desenvolvimento do conhecimento científico ocorre pela alternância da ciência normal e da ciência revolucionária. desenvolve suas pesquisas.Capítulo 4 3. incorporado pela tradição científica e tornado modelo para outras pesquisas. Foi por esse caminho que alcançou notoriedade. Você sabe o que é um paradigma? Segundo o autor. É a ideia de que a Ciência não progride gradualmente de forma linear . É um período de aprofundamento no objeto da pesquisa e que permite a consolidação de resultados e a acumulação de conhecimentos. de ciência normal. que partilham da mesma formação teórica. um cientista. por Kuhn.1 Thomas Kuhn e o paradigma Um dos mais importantes filósofos da Ciência é o contemporâneo Thomas Kuhn (1922. não é um período de alteração das “regras do jogo”. É importante salientar que uma comunidade científica é um grupo de cientistas de uma determinada área.como se afirmava e defendia no Positivismo -. Um paradigma cientifico é partilhado pela comunidade científica e representa uma matriz a partir da qual cada cientista. 82 . por uma contingência de seu trabalho na Universidade. para o cientista normal pode ocorrer um problema que investiga não só não tem solução. sem que os paradigmas instituídos sejam alterados. Em condições de mudança de paradigma. em função do âmbito das regras em vigor. Elas envolvem descobertas que não podem ser acomodadas nos limites dos conceitos que estavam em uso antes delas terem sido feitas. Muitas vezes. Observe a citação que segue. não seria possível estudar profundamente nenhum aspecto da realidade. por isso ser qualificado de inepto ou despreparado. Os avanços que ocorrem pela mudança de paradigma são de outra natureza. É necessário um grande esforço para alterar um paradigma. o desenvolvimento científico não pode ser inteiramente cumulativo.Teoria do conhecimento Mesmo que no entendimento de um cientista ou de outro pairem desconfianças sobre o paradigma que rege suas pesquisas. incompatibilidades). 25). deve-se alterar o modo como se pensa. raramente um deles suscitará um ponto de desacordo entre eles. um conjunto de fenômenos naturais [. Além disso. visto que. porém. as incongruências encontradas nas pesquisas dão origem a descobertas que promovem o avanço científico. como o mesmo não pode. apesar de ele resolver incongruências aparentemente insolúveis no interior das pesquisas. ocorre o que Kuhn chama de ciência revolucionária. pode ser que no desenvolvimento da ciência normal comecem a aparecer incongruências (inconveniências. (Kuhn. 83 .. A fim de fazer ou assimilar uma tal descoberta. também exige a revisão dos conhecimentos aceitos como válidos e que foram produzidos sob a proteção do paradigma que está sendo substituído. começa a nascer a suspeita de que o paradigma deve ser substituído. Nem se pode descrever inteiramente o novo no vocabulário do velho ou vice-versa. No entanto. Se essa situação estender-se ao âmbito de outras pesquisas. sem que os cientistas consigam encontrar soluções para os impasses.. e se descreve. começa um período de crise. Todos os cientistas que trabalham sob a luz de um mesmo princípio paradigmático que está sendo substituído param suas pesquisas e aguardam ou verificam em sua prática os indícios que invalidem o paradigma em questão. Se não houvesse períodos de estabilidade quanto aos paradigmas. p.] Quando mudanças referenciais desse tipo acompanham mudanças de lei ou teoria. Como afirma Kuhn (2006). Não se pode passar do velho ao novo simplesmente por um acréscimo ao que já era conhecido. As mudanças revolucionárias são diferentes e bem mais problemáticas. 2006. dos paradigmas e da tradição científica. direcionam e restringem a atividade científica. por sua vez. segundo este autor. as regras científicas não foram respeitadas e somente por isso os cientistas obtiveram êxito. Finalizando. desumanizam-na. O acúmulo e disseminação de problemas não resolvidos criam. até que os cientistas se deparam com a impossibilidade de resolver um número sempre maior de problemas na base do paradigma vigente. 84 . que o cientista não deve ficar preso entre os limites do método científico. convenções linguísticas e experimentos exemplares acolhidos e validados pela comunidade científica. de certa forma. 3. Paul Karl Feyerabend (1924-1994) é considerado um crítico radical do positivismo científico. a única regra que o cientista deve seguir. segundo Kuhn.nos momentos de ciência normal. fundam princípios que. ou melhor. ele não nega que a Ciência produz um conhecimento cumulativo . Nele. em que foram feitas grandes descobertas e invenções. dos postulados. mas deve utilizar artifícios de qualquer natureza para desenvolver sua pesquisa e alcançar seu propósito. cada disciplina científica.Capítulo 4 o novo paradigma sempre afronta. Segundo ele. “todas as ideias valem”. permitem o desenvolvimento de pesquisas e o conhecimento da natureza. se seguidos. por recomendar ao cientista um posicionamento anárquico em relação à rigidez das regras. Ele afirma. uma situação de crise. não acompanham a dinâmica social. Também não há regras. resolve seus próprios problemas dentro de uma estrutura fechada. de alguma maneira. ainda que provisórios. em períodos de “normalidade”. de onde deve nascer um novo paradigma. pelo menos não no sentido universal e positivista de método científico. é que não há regras. preestabelecida por pressupostos metodológicos. Também não nega que os paradigmas. o filósofo expõe suas razões para criticar a submissão do cientista aos preceitos científicos que são prévios. pelo seu anarquismo epistemológico. Feyerabend acredita que em várias situações da história da Ciência. também. entre outros motivos. a tradição e a autoridade de cientistas consagrados dentro da comunidade científica e defensores do velho paradigma. Atenção! Apesar de Kuhn criticar a crença na acumulação e no progresso gradativo e natural do conhecimento científico.2 Paul Karl Feyerabend e o anarquismo epistemológico Um dos filósofos contemporâneos mais críticos em relação à objetividade. Um dos livros mais conhecidos de Feyerabend é Contra o método. Secões de estudo Seção 1: Ética e moral Seção 2: Questões éticas na produção do conhecimento Seção 3: Questões éticas na socialização do conhecimento 85 .Capítulo 5 Ética na produção e socialização do conhecimento Habilidades Este capítulo foi elaborado para propiciar ao aluno o desenvolvimento de habilidades de compreensão em relação à distinção de 'Ética' e 'Moral' observando os preceitos éticos no momento da produção e da divulgação do conhecimento. ‘ser honesto’ etc. nós poderíamos detectar muitos pontos em comum e propor a seguinte definição. por sua vez. O comportamento moral é todo tipo de comportamento humano. ao arbítrio da própria consciência humana. O critério mais utilizado para o julgamento do comportamento moral é a consideração de. investiga.Capítulo 5 Seção 1 Ética e moral Se perguntássemos para os dez maiores filósofos da história da humanidade o que é Ética. referem-se às escolhas de determinados comportamentos que devem ser preferidos. reflete. no decorrer da história da Filosofia. Porém. subentendidos ou explícitos. basicamente. a ação. Esse fato permite-nos deduzir que não há um consenso sobre a definição de Ética. os costumes do ser humano considerados como comportamento moral. dois extremos. que estuda. uma época. ‘não mentir’. Veja alguns elementos que permitem entender o que é o comportamento ‘moral’. a Ética é a teoria que estuda a moral. Considere esses exemplos que justificam o caráter relativo dos valores. em função das várias respostas já oferecidas. antagônicas: o certo (o bem) ou o errado (mal). A Ética é a ciência. O comportamento moral é julgado. referentes a um comportamento moral: 86 . duas qualidades contrárias. Em muitas culturas. Contudo. costume. ao invés de outro. tais como: ‘não roubar’. escolhidos. podemos encontrar alguns valores comuns que são considerados como dignos de serem imitados. Ou seja. observe que os valores que orientam os comportamentos morais são sempre relativos a uma cultura. Esses valores podem estar implícitos. no mínimo. um ramo da Filosofia. Mas. você pode estar se perguntando: O que é um comportamento moral? Acompanhe a resposta a essa pergunta na sequência. uma civilização. cada um deles proporia uma resposta diferente para a questão. Os valores. em função de critérios e valores. considerado obrigatório (que deve ser realizado) ou proibido (que não deve ser realizado) e que está sujeito ao julgamento. pesquisa racional e sistematicamente a conduta. Hoje é considerado errado. enquanto que. O professor-orientador responde: “Prezado Bruce: Não quero diminuir seu entusiasmo pela pesquisa. A avaliação dos comportamentos também depende de valores que aceitamos. estabelecemos ou rejeitamos. que surgiu a Ética. de vários costumes e comportamentos morais já efetivos.Teoria do conhecimento Hoje. O tempo do início do sufocamento até a inconsciência será minha variável independente. Você acha que eu vou ter algum problema em ter meu tema aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) na utilização de seres humanos na minha pesquisa? Atenciosamente. Por outro lado. esse nível de igualdade é errado. aos comportamentos. Bruce”. apresentam um tipo de moral. em algumas sociedades africanas e asiáticas. desde os primórdios. a Ética (reflexão sobre a moral) surgiu como um fenômeno posterior à moral. Todas as civilizações humanas. nos primórdios da civilização humana. enviou o seguinte e-mail ao professor-orientador: “Prezado professor: minha hipótese de pesquisa é que pessoas que praticam artes marciais podem resistir ao sufocamento por um tempo significativamente mais longo do que as pessoas que não praticam artes marciais. de Ética e de Moral. que são classificados em função de critérios como certos (bons) ou errados (maus). a escravidão era considerada aceitável. A relação entre a Ética e a Moral pode ficar mais explícita com um exemplo. Contudo. a escravidão. na idade da pedra. Mas. vividos. a Ética é a teoria que estuda a moral. no Brasil. em nossa sociedade. inaceitável. Eu planejo que um atleta profissional aborde sorrateiramente sujeitos de ambos os grupos e sufoqueos até ficar inconscientes. e mesmo há pouco tempo. E a moral refere-se às práticas humanas. basicamente. Considere a seguinte situação: Um aluno da área da saúde. mas você pode realmente ter um grande problema 87 . A moral sempre fez parte da história da humanidade. na antiguidade. em fase de elaboração de trabalho de conclusão de curso (TCC). tratar a mulher como sendo igual ao homem é considerado certo. você deve ter percebido que. é bem provável que a moralidade vigente era diferente da aceita e cultivada hoje. de um contexto fértil. Ao estudar essas duas definições. Veja que foi a partir de uma prática moral. Você pode. esse ato moral. seria correto sufocar o sujeito/voluntário. “Para estudar os efeitos colaterais de anovulatórios orais (remédio para não engravidar). HOSSNE. NELSON. Alabama. a um grupo de 76 mulheres. As mulheres eram americanas pobres. por exemplo.Capítulo 5 em obter aprovação para o seu tema (para não falar em pessoas voluntárias para a realização do estudo). com 12211 mulheres. Você é capaz de perceber a Ética e a moral que permeia este caso? Veja que aqui temos. O ato moral refere-se ao sufocamento. Tenha certeza de que o comitê de ética não apenas desconsiderará sua proposta. mas também. Atenciosamente. HOSSNE. considerando. sem consentimento do sujeito pesquisado? Os riscos desse estudo não seriam maiores que os benefícios? E se o sujeito pesquisado. em pesquisas. 1998). um grupo de pacientes com sífilis foi deliberadamente deixado sem tratamento para que os médicos pudessem estudar o desenvolvimento natural da doença. de ascendência mexicana” (VIERA. “Na República Dominicana. as seguintes questões: Na realização de uma pesquisa. “Entre 1932 e 1972. refere-se ao comportamento moral praticado. E a Ética? Onde está? Bom. Isso aconteceu em Tukesgee. apenas placebo. como já vimos. ocorridos no século XX. especificamente. é a teoria que propõe refletir as condutas morais. Os pacientes eram pobres e negros. 2002). que a jogue no lixo. 1998). perguntar: onde está tal reflexão sobre esta conduta moral: “o sufocamento”? Ora. (THOMAS. EUA. este ato jamais poderia ser adotado. financiados pelo governo americano. para determinar a dose mínima de AZT no tratamento de aidéticas grávidas. Embora em algumas artes marciais admite-se o golpe do estrangulamento.” (VIERA. a Ética. (VIERA. então. na Tailândia e na África. PMP”. Encontre outro tema. ainda mais de forma sorrateira. Ocorreram 10 casos de gravidez indesejada no grupo que recebeu placebo. foram feitos experimentos. no momento da abordagem tivesse uma complicação decorrente do sufocamento? Veja outros casos que caracterizam a falta de ética na pesquisa. até a sua inconsciência? Seria correta a realização de uma pesquisa sem o esclarecimento dos objetivos do estudo. 88 . é muito provável. um ato moral. os médicos administraram. a Ética inicia-se justamente quando começamos a analisar racionalmente esse comportamento moral. HOSSNE. 1998). Cerca de metade dessas mulheres recebeu placebo”. então. não há expectativa de melhora. Metaética e Ética Prática ou Aplicada. referentes à prática da pesquisa. procura estabelecer normas gerais e modelos universais de comportamentos morais a serem seguidos. Para piorar a situação. apenas de mais sofrimento e de dor. as sentenças que estão relacionadas a um ato moral. porque só respira com o auxílio de uma série de aparelhos. torna-se explícita quando estabelecemos que questões morais devem ser discutidas. A ética normativa. são privilegiadas as reflexões relativas à verdade. o enfermo solicita que sua vida seja interrompida. A metaética estuda as proposições. existem inúmeras éticas e elas podem ser agrupadas e estudadas de vários modos. à validade e à lógica de uma proposição que expressa um juízo moral. pesquisas com células tronco. que. o sufocamento. que foram propostas no decorrer da história da humanidade. De fato. como o próprio nome diz. inclusive sobre o caso exposto no exemplo anterior. A avaliação ética do estudo deve levar em conta qualquer procedimento que possa trazer algum prejuízo ao participante da pesquisa. vegetando e sofrendo no leito do hospital – com câncer. Esses modelos universais deveriam ser válidos para todo um universo de sujeitos e todo um universo de situações. entre outros. para que.em função da similaridade. do nosso cotidiano. valores e métodos devemos propor para lidar com tais questões conflituosas.Teoria do conhecimento Observe que a Ética. 89 . fazem parte do processo de pesquisa. representa apenas uma gota de um oceano repleto de outras situações. quais critérios. A ética prática ou aplicada refere-se à tentativa de aplicação dos princípios gerais da ética normativa. como por exemplo. saiba que existem várias éticas. semelhança ao refletir sobre a moral . em situações práticas do nosso dia a dia. relativa ao exemplo do sufocamento. Assim. Apesar de a Ética ser a teoria que estuda a moral. possa encontrar a paz e a ‘felicidade’.como Ética Normativa. O enfermo está infeliz porque não pode mais andar nem mexer os membros. que devem prolongar-se por algum tempo. em experimentos farmacêuticos. Assim. por sua vez. Considere a seguinte situação (hipotética) prática: Existe um amigo ou parente nosso que está moribundo. foram propostos diferentes modos de refletir sobre os atos morais. doutrinas éticas. vacinas. O ato moral em questão. Tais éticas podem ser reunidas em torno de três grandes áreas . Em função desse contexto. E esse prejuízo pode ocorrer desde uma simples pergunta que se possa fazer numa entrevista e/ou questionário até em procedimentos mais sofisticados. então. estaremos desrespeitando o preceito moral de que “nenhum ser humano pode ser privado de sua vida”. 2. tem direito a ser feliz. encontramo-nos em um dilema: o que fazer? Veja as opções básicas: 1. vejamos algumas ações que devem orientar a conduta do pesquisador na produção do conhecimento. Contudo. a discussão e a divulgação do conhecimento. Primeiramente. a “Ética na política”. “nenhum ser humano pode ser privado de sua vida”. o objeto da ética prática. como por exemplo: 1. Destacamos como exemplos de ética prática ou aplicada. pois é ela que fundamenta a conduta do pesquisador na produção e socialização do conhecimento. a felicidade que alega e defende. a “Ética no serviço público”. o que fazer em uma situação como essa. A construção metodológica da pesquisa está diretamente relacionada com os preceitos éticos. ou seja. são necessários recursos éticos que conduzem a produção. 2. ele encontrará a paz. de que o enfermo. a “Ética profissional”. Seção 2 Questões éticas na produção do conhecimento Além dos recursos lógicos e metodológicos que devem orientar o processo de pesquisa. estaremos desrespeitando o preceito moral de que “devemos ser felizes”. “devemos ser felizes”. se agirmos desse modo. entre outras tantas. Se a vida do enfermo não for interrompida. com essa questão prática e com esses dois princípios estudados pela ética normativa. no campo da filosofia. A formulação 90 . Ora. mesmo nessas condições. Contudo. se agirmos desse modo. a ética prática poderia retomar dois princípios que fazem parte das reflexões da ética normativa. Se a vida do enfermo for interrompida. a “Ética na Pesquisa”. ele continuará a sofrer e permanecerá infeliz até o dia de sua morte. por exemplo. Nesse sentido.Capítulo 5 A ética prática discutiria. então. A ética prática é a que mais nos interessa neste capítulo. Essas questões são problematizadoras e servem apenas para caracterizar. cultural ou espiritual. Protocolo de Pesquisa: é o documento que apresenta todas as informações relativas à pesquisa: qualificação do pesquisador responsável. 1996) A resolução 196/1996 apresenta um conjunto de termos e definições operacionais que servem de parâmetro para conduzir eticamente as pesquisas no Brasil. As pesquisas com seres humanos no Brasil são normatizadas por um conjunto de normas estabelecidas pelo Ministério da Saúde (MS). pois a pergunta deve ser elaborada e conduzida de maneira que não cause nenhum prejuízo ao sujeito participante da pesquisa. b. (BRASIL. descrição dos sujeitos da pesquisa e dos procedimentos metodológicos. Para que você alcance uma maior compreensão do processo de pesquisa. principalmente. por exemplo. Esse é apenas um dos exemplos que demonstram essa relação. O pesquisador responsável deve suspender a pesquisa se perceber algum risco ao sujeito participante do estudo. Autorização do Guardião dos Prontuários. social. o significado que assumem: a. O CEP-UNISUL apresenta modelos para os seguintes documentos: • • • • • • • Folha de rosto para pesquisa. destacamos alguns termos e. a resolução 196/1996 que contém as diretrizes e normas regulamentadoras de pesquisas envolvendo seres humanos. respectivamente. envolvendo seres humanos (Formulário CONEP). No protocolo. 91 . Consentimento para fotografias. Os danos podem ter dimensão física. Risco da pesquisa: possibilidade de ocorrer algum dano ao sujeito pesquisado em qualquer fase da pesquisa. psíquica. o pesquisador deve incluir a documentação necessária para a condução ética do processo de pesquisa. Justificativa para a não utilização do TCLE. indicam de forma prática essa relação. Folha de identificação do projeto – Unisul.Teoria do conhecimento de um roteiro de entrevista ou a elaboração de um questionário. intelectual. Declaração de Ciência e Concordância das Instituições Envolvidas (DCCIE). moral. vídeos e gravação de imagens. Termo de consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). Entre as normas destaca-se. pelo Conselho Nacional de Saúde (CNS) e pela Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP). enfermeiros. ao consentimento livre e esclarecido. se puder responder às seguintes questões: • • • • • • • • Quais são os objetivos da pesquisa? O que justifica a realização do estudo? Quais são os procedimentos que serão realizados? Qual é a duração da pesquisa? Quem são os pesquisadores? Quais são os riscos e benefícios do estudo? Em que momento é possível sair da pesquisa? Quem procurar em caso de dúvida? Para que não haja dúvidas sobre essas questões. Como exemplo de sujeitos vulneráveis. Se comprovado com nexo causal. o sujeito revela estar plenamente esclarecido. Dano associado ou decorrente da pesquisa: agravo imediato ou tardio. o TCLE deve ser redigido em linguagem clara. estatísticos. Consentimento livre e esclarecido: manifestação da anuência à participação do processo de pesquisa mediante assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). o dano associado ou decorrente da pesquisa deverá ser indenizado. envolvendo genética humana. seres humanos deve ser submetida à aprovação de um Comitê de Ética. reprodução humana. d.Capítulo 5 c. vacinas. Pode ser de uma pessoa ou de um grupo de pessoas sem autonomia para decidir sua participação na pesquisa. Vulnerabilidade: capacidade de autodeterminação reduzida no que se refere. sendo autoexplicativo. Toda pesquisa que envolve. causado ao indivíduo ou à coletividade. entre outros. advogados. como crianças e adolescentes. direta ou indiretamente. Ao assinar o termo. estudantes e funcionários. fármacos. medicamentos. O sujeito participante da pesquisa deverá ter a cobertura material em reparação ao dano causado. f. Comitês de Ética em Pesquisa-CEP: órgão multidisciplinar formado por profissionais de várias áreas: médicos. membros da comunidade etc. populações indígenas. filósofos. Os comitês de ética no Brasil são subordinados ao Conselho Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP). 92 . e. cuja finalidade é avaliar projetos de temáticas especiais. soldados. pode-se mencionar pessoas envolvidas em relações de hierarquia de poder. principalmente. teólogos. produzido por outrem”. (UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA. os danos e o princípio da justiça”. Princípios bioéticos: princípios gerais que devem orientar a ética na pesquisa. ciências da saúde. em qualquer fase de uma pesquisa e dela decorrente”. Este princípio está intimamente relacionado com os riscos da pesquisa. do Conselho Nacional de Saúde. Não maleficência: “assegura que sejam minorados ou evitados danos físicos aos sujeitos da pesquisa ou pacientes. intelectual. Para garantir a autonomia. moral. PIBIC. cultural ou espiritual do ser humano. o pesquisador deve respeitar a intimidade. pode caracterizar plágio. Caso você participe de algum grupo de pesquisa. em qualquer setor da ciência. social. visando ao menor mal e ao maior benefício às pessoas. razão pela qual o uso indevido de uma ideia. São considerados incapazes os doentes não conscientes. 2232). Observe que nessa definição não se verifica a boa-fé ou a má-fé. Incapacidade: ausência de capacidade civil para o consentimento livre e esclarecido da pesquisa. sem a menção da referência. de trabalho. os seguintes princípios: • Autonomia: significa liberdade e domínio do sujeito sobre sua própria vida. PMUC. E plágio. apresenta outros termos e questões necessárias à condução ética da pesquisa. ciências da vida. Outra questão ética importante na produção do conhecimento diz respeito ao direito autoral. evitando danos.” Proporcionalidade: “procura o equilíbrio entre os riscos e benefícios. por si só. • • • • É importante ressaltar que a resolução 196/1996. pode caracterizar plágio. as crianças e as pessoas com incompetência psicológica. os valores morais e as crenças do participante da pesquisa. a Resolução 196/1996 deve ser consultada e lida com muita atenção. psíquica. como de sua própria autoria. 93 . plágio corresponde à “apresentação feita por alguém. independente da má-fé. e. e garante que seus interesses sejam atendidos [. Artigos 170 e 171) ou esteja elaborando o projeto de pesquisa do Trabalho de Conclusão de Curso. 2012). entre outros fatores. se a sua pesquisa envolve seres humanos.. conceitualmente. PUIP. como você já sabe. p. Riscos da pesquisa são as possibilidades de danos de dimensão física. O CEP-UNISUL apresenta. Segundo o dicionário Houaiss (2004. obra intelectual etc. Justiça: ”exige equidade na distribuição de bens e benefícios. A transcrição de trechos ou até mesmo a apresentação de paráfrases. como por exemplo: medicina.Teoria do conhecimento g.]”.. é crime. de programas de bolsas de pesquisa (PUIC. h. Beneficência: “assegura o bem-estar das pessoas. do meio ambiente etc. e longa. 1940). de fabricação de dados. 94 . para não incorrer em plágio. de 1998. na forma de paráfrase. Na citação indireta não há destaques gráficos. ou seja. (BRASIL. fonte menor. é livre. consulte o manual “Trabalhos Acadêmicos na Unisul” ou então a NBR 10520. 184 do Código Penal estabelece ser crime “violar direitos de autor e os que lhe são conexos. É preciso estar sempre alerta. transcreve trechos que deveriam estar entre aspas ou com recuo e fonte menor. Vejamos: A citação direta é uma transcrição literal de uma ideia e pode ser de dois tipos: curta. como se fosse uma paráfrase. 1988. 7º. 184 do Código Penal.610.Capítulo 5 Um exemplo clássico de uso indevido de ideias. Se você ainda não sabe fazer citações bibliográficas. porém. inciso I e arts. inclusive para a possibilidade de fraudes. no art.18. A discussão sobre as questões relacionadas à ética na produção do conhecimento é inesgotável. O art. Já a citação indireta. com mais de três linhas. O trabalho não ético interessa ao pesquisador apenas enquanto objeto de estudo e discussão.” (BRASIL. baseada na obra do autor consultado. 1940). que trata dos direitos autorais. com até três linhas. é quando o pesquisador faz uma citação indireta passar por citação direta. Trata-se de plágio parcial. Essa conduta poderia ser facilmente enquadrada na Lei nº 9. de estatísticas falsas ou estudos com erros de delineamento metodológico. Todavia. espaço simples e dispensa das aspas para a citação longa. BRASIL. Em ambos os casos é necessário apresentar um destaque gráfico que indica a cópia: aspas para a citação curta e recuo de 4 cm. Sua prática deve ser veementemente condenada. exige-se a indicação da obra pesquisada. muitas vezes o aluno faz passar uma citação direta por indireta. da Associação Brasileira de Normas Técnicas. na produção escrita. 28 e 29 e até mesmo no art. Em primeiro lugar.Teoria do conhecimento Seção 3 Questões Éticas na socialização do conhecimento Além das questões éticas relacionadas à produção do conhecimento. deve ficar atento aos eventos que acontecem na área de conhecimento de seu curso. não poderá receber o status de conhecimento científico. durante algum tempo. Colóquios e Encontros. Figura 5 1 – Seminário de Pesquisa em Educação da Região Sul – IX ANPED Sul Fonte: IX ANPED (2012). Mesa-Redonda. Assim. é importante pontuar questões relacionadas à ética na socialização do conhecimento. outra forma de divulgação de socialização do conhecimento consiste na publicação de artigos em periódicos científicos. Esses eventos reúnem pessoas que. 95 . Simpósios. cabe ressaltar que se o conhecimento produzido no âmbito da ciência não for comunicável. Há diversas formas de divulgação e socialização do conhecimento: Congressos. as revistas científicas possibilitam a circulação de forma dinâmica dos resultados de pesquisas nas mais diversas áreas do conhecimento. Painéis. como nos eventos científicos. Além dos eventos. A participação em um congresso nos permite ver a ciência e a produção acadêmico-científica com outros olhos. Seminários. Jornadas. apresentam temas e discutem resultados de pesquisas de relevância acadêmica e social. na condição de acadêmico. Você. pois constituem uma grande oportunidade para se conhecer as novidades e as pesquisas que estão sendo realizadas na atualidade. 70% de contribuições exógenas e apenas 30% de contribuições endógenas. é caracterizada quando um periódico científico publica um número significativo de artigos provenientes da própria instituição que o mantém. desenvolver uma intervenção educativa na comunidade etc. quando você for publicar um artigo científico.Capítulo 5 As questões éticas relacionadas à socialização do conhecimento são tão complexas quanto as que são relacionadas à produção do conhecimento. os aspectos técnicos podem ficar em segundo plano e o critério político poderá prevalecer. dê preferência para uma revista de outra instituição. a avaliação dos trabalhos é feita por pareceristas externos. ministrar uma palestra. Das várias questões relacionadas à divulgação do conhecimento. da execução e da divulgação dos resultados de uma pesquisa. Você estudou nesta unidade algumas orientações que devem conduzir o pesquisador no momento do planejamento. Entre as formas de devolução. Portanto. é muito raro observar estratégias de devolução dos resultados de pesquisas. em geral. o pesquisador pode enviar uma cópia física ou eletrônica do trabalho ou artigo. muitas vezes. 96 . Outra questão importante para ser discutida no âmbito da socialização do conhecimento é a chamada “devolutiva da pesquisa”. Além disso. Uma publicação endógena. Assim. As ações de devolução de resultados de pesquisas podem ocorrer de inúmeras formas e já podem ser planejadas quando o pesquisador estabelece o primeiro contato com os sujeitos participantes do estudo. como o próprio nome diz. Embora seja um direito dos participantes. quando você assumir a condição de pesquisador. O problema é que nesses periódicos. é importante refletir sobre essas questões. As revistas que se orientam por critérios de publicação mais rigorosos estabelecem. selecionamos duas para abordar neste capítulo: a primeira está relacionada ao problema das publicações endógenas e a segunda à devolutiva da pesquisa. preocupada em estimular o estudante a pensar dialeticamente. pois a Unidade de Aprendizagem dispõe de capítulos de estudo de interesse de várias áreas do conhecimento. os seus caminhos. mais uma vez. enfatizamos o desejo de que este livro tenha contribuído para o seu itinerário formativo e oferecido informações necessárias para a compreensão do conhecimento. permitiram o acesso.Considerações Finais Teoria do Conhecimento é uma Unidade de Aprendizagem institucional. Os conteúdos apresentados neste livro não pretenderam esgotar todas as informações referentes à Unidade de Aprendizagem. mas. desenvolvendo as habilidades e competências apresentadas como objetivos e metas do presente estudo. Agradecemos sua companhia e. principalmente. às informações iniciais para aquele que tem a pretensão de iniciar-se no mundo da pesquisa e vida acadêmica. sem sombra de dúvida. às novas exigências da educação superior. Este é o grande diferencial da Unidade de Aprendizagem. presente em todos os itinerários formativos dos cursos de graduação da Unisul. Trata-se de conhecimentos que permitem a interdisciplinaridade. frente à multiplicação e choque de informações decorrentes da mundialização das relações econômicas e socioculturais. Atende. desafios e responsabilidades. Um grande abraço! 97 . Tem como preocupação básica oferecer ao estudante os meios necessários para desenvolver conhecimentos voltados ao processo de produção científica e de socialização do conhecimento. com consistência. . São Paulo: Mestre Jou. Ministério da Saúde. 2005.gov. Lei n. de 19 de fevereiro de 1998. BARROS. Filosofia. O que é história da ciência. ALVES. BRASIL.. ed. Dicionário de metodologia científica: um guia para a produção do conhecimento científico.br/ccivil_03/decreto-lei/del2848. Resolução 196/1996. 14. Disponível em: <http://www.gov. A.610.848. São Paulo: Ática.planalto.Referências ABBAGNANO. N. 2012. Ana Maria.br/ccivil_03/leis/L9610.folha. N. J. 1977. 2004.br/resolucoes/reso_96. Disponível em: <http://conselho. P. 1994. ed. 93 p. Rubem.planalto. ed.br/folha/sinapse/ult1063u916. Decreto-Lei n. ______.com. São Paulo: Cultrix. Fabio. CHAUÍ. 2012. Sobre ciência e sapiência. Fundamentos de metodologia: um guia para a iniciação científica. Rubem. 2. São Paulo: Loyola. ______. Maria Helena Pires.htm>. A. rev. de S. ______. Acesso em: 18 nov. Gerd (org. 2000. 1999.gov. ARANHA.uol. Acesso em: 18 nov. atualiza e consolida a legislação sobre direitos autorais e dá outras providências. Disponível em: <http:// www1. São Paulo: Ática. 2004. ALVES. ALFONSO-GOLDFARB. Acesso em: 02 nov. 99 . Dicionário de filosofia. LEHFELD. ed. htm>. Convite à filosofia. Os filósofos pré-socráticos. Temas de filosofia. 4. APPOLINÁRIO. 2012. 12. 2002. Aprova as diretrizes e normas regulamentadoras de pesquisas envolvendo seres humanos. Entre a ciência e a sapiência: o dilema da educação. 9. Acesso em: 15 nov. São Paulo: Paz e Terra. 1986. 28 set. São Paulo: Moderna. Maria Lúcia de Arruda. Disponível em: < http://www. BORNHEIM. Código penal.shtml>. Conselho Nacional de Saúde.saude.htm>. 2. São Paulo: Atlas.). de 7 de dezembro de 1940. Altera. 2005. São Paulo: Brasiliense. 2012. Marilena de Sousa. MARTINS. São Paulo: Perspectiva. Fazer universidade: uma proposta metodológica. São Paulo: Harbra. São Paulo: Cortez. ______. GEWANDSZNAYDER. Crítica da razão pura. Petrópolis: Vozes. Antônio. rev. DESCARTES. Alves. 2004. São Paulo: Pioneira. Metodologia científica: disciplina na modalidade a distância. 2006. O caminho desde a estrutura. Método científico: os caminhos da investigação. Vilson. São Paulo: Ática. 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História do pensamento: filosofia. 1988. ed. 2012. . principalmente nas disciplinas da área de pesquisa. Foi coordenador de Pastoral (Movimentos e Ações Sociais) da Diocese de Tubarão e coordenador do Regional Sul IV (Santa Catarina) da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil). 2002). captação de recursos. especialista em Metodologia do Ensino Superior também pela extinta FESSC. atual Universidade do Sul de Santa Catarina (UNISUL). materiais didáticos e artigos científicos. tanto na modalidade presencial como a distância. é graduado em Estudos Sociais e História pela extinta Fundação Educacional do Sul de Santa Catarina (FESSC). mestre em Ciências da Linguagem pela UNISUL. nas redes de ensino público e privado do município de Tubarão. Marciel Evangelista Cataneo Graduado em Filosofia (Bacharelado e Licenciatura) pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e Bacharel em Teologia pelo Instituto Teológico de Santa Catarina (ITESC).Sobre os Professores Conteudistas Alexandre de Medeiros Motta Natural do município de Tubarão (SC). Mestre em Educação pela Universidade do Sul de Santa Catarina (UNISUL). 103 . desde 2005. Especialista em Jornalismo Cultural pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP. acompanhamento e avaliação de pastorais e projetos sociais. jornalista profissional (SC-01305-JP) e. Professor convidado da Escola da Magistratura do Estado de Santa Catarina e sócio-diretor da Collaço & Collaço Educação e Comunicação. especialista em Metodologia da Educação a Distância pela Unisul (2008) e especialista em Docência para o Ensino Superior pela Unisul (2010). membro do conselho editorial da revista Cadernos Acadêmicos (Unisul/SC) e revisor de periódicos acadêmico-científicos. professor da Universidade do Sul de Santa Catarina (Unisul/SC) em cursos de graduação e pós-graduação. atua como professor nos cursos de graduação e de pós-graduação da Unisul. Atuou como professor de História no ensino fundamental e médio. Desde 1987. presenciais e virtuais e coordenador de monografia do curso de Direito. Gabriel Henrique Collaço Bacharel em Comunicação Social pela Universidade do Vale do Itajaí (Univali/2000). desde 2002. Autor de livros. coordena também as Licenciaturas de História e de Geografia da Unisul. atuando na elaboração. Por ora. atua principalmente nos seguintes temas: Produção Científica e Educação a Distância. Humanidades e Artes do campus UnisulVirtual da Unisul. Mestrando em Educação pela Universidade do Sul de Santa Catarina.Universidade do Sul de Santa Catarina Professor universitário desde março de 1990. É o atual coordenador do Curso de Filosofia da UnisulVirtual e articulador da Unidade de Articulação Acadêmica Educação. 104 . Atualmente é professor da Universidade do Sul de Santa Catarina nas disciplinas Filosofia da Linguagem e Pesquisa Jurídica e Monografia. Atua nos cursos presenciais e a distância. leciona Filosofia e Ética nos cursos de graduação da Universidade do Sul de Santa Catarina (UNISUL). Vilson Leonel Possui graduação em Filosofia pela Universidade do Sul de Santa Catarina (1985).
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