7120515 Unidade 4 Conceitos de Literatura e Teoria Literaria Teoria Critica e Historia
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54 --Teoria da Literatura: Fundamentos - Andre Gardel._ __ CONCEITOS DE L1TERATURA E TEORIA L1TERARIA E HISTORIA TEORIA, CRiTICA Nesta Unidade vamos tentar conceituar alguns termos largamente utilizados nos estudos de Iiteratura que voce, certamente, ja ouviu falar: as nocoes de teoria, crftica e hist6ria literarias. Mas, antes de buscarmos uma definicao particular para cada uma delas, e preciso nao esquecer que 0 usa mais apropriado que podemos fazer dessas nocoes surge quando as colocamos para atuarem em conjunto, formando, assirn, um corpo de instrumentos conceituais fundamental para uma leitura mais rica e integrada dos textos literarios. Entretanto, 0 fato de funcionarem adequadamente numa atuacao conjunta nao implica que tenham perdido sua autonomia como categorias da experiencia estetica. E e por essa razao que sempre poderemos buscar uma descricao de suas particularidades individuais. Mas quais sao essas particularidades? Quais sao as caracterfsticas especfficas na abordagem do fen6meno literario dessas tres nocoes? Inicialmente, devemos distinguir, para fins didaticos, no universo dos rnetodos de estudo e pesquisa literarias, as formas praticas das formas te6ricas; sempre levando em conta que nao ha pratica sem teoria, mesmo que 0 analista textual, ao exercitar seu trabalho, desconheca a teoria que esta usando. A crftica e a hist6ria fazem parte dos discursos praticos, isto e, dos discursos que aplicam 0 instrumental te6rico sobre a criacao literaria, realizando, por exemplo, analises ternatico-estillsticas, contextuais, comparativas das obras. A teoria literaria, por sua vez, ao trabalhar com generalizac;6es e constantes universais.l se enquadra 1constantes universais - padr6es estruturais constantes, que se repetem com pequenas varlacoes em diferentes obras ou generos literarios, permitindo assirn a formacao de modelos te6ricos. Por exemplo: 0 final moralista da maioria das fabulas infantis. .. '" "'l '1 :1 t . f ,t4 y,.. I I ' . ·i..... I', r.' " : ,'& j-', 'I' - ':: ,i i1' o ,e1 "i\ f , U id d (' I '1<') ru a e 4-- 55 na ordem dos discursos propositivos.? ou te6ricos, pois sistematiza, descrevendo e analisando, os discursos praticos sobre a literatura . A crltica aprecia, analisa, interpreta e julga, buscando estabelecer os sistemas de regras e valores de um texto literario, avaliando os sentidos e os efeitos da obra sobre 0 leitor. Como exemplo deste tipo de discurso pratico, leiamos um trecho da resenha No nfvel da pele, sobre a poetisa Gilka Machado, presente no livroPoesia e desordem, do poeta e professor de literatura Antonio Carlos Secchin: " o melhor da poesia de Gilka Machado situa-se literalmente no nivel da pele, e ja e 0 bastante, e nao se deve exigir-Ihe mais. Quando se empenha em ampliar 0 leque referencial, titubeia nos surrados cart6es-postais de "Samba" ("Brasflea morena/ parece que 0 chao/ se move ao teu samba") e de "Bahia" ("Toda a infinita feiticaria/ de teus encantos"), Pretendendo filosofar, alca viio baixo sobre a condicao feminina em "Ser mulher" ("ficar na vida qual uma aquia inerte, presa/ nos pesados qrilhoes dos preceitos socia is") [ ... J A rigor, sua poesia nao se aprofunda: discorre, multiplica-se, iguaL Mas enessa candente reiteracao do desejo, sob todas as formas, que reside a torca maior da obra de Gilka Machado. (SECCHIN, 1996, p. 51) A hist6ria enfatiza os aspectos exteriores do texto, podendo se interessar tanto pela conjuntura sociopolftica, que liga a obra eo autor ao seu tempo, quanta pelas conex6es do conteudo do texto com as ideias, sentirnentos e pensamentos do perfodo analisado. A analise empreendida por Jose Ramos Tinhorao no livro A music» popular no romance brasileiro, no capitulo Machado de Assis e a romance burques, e bern ilustrativa da pratica do discurso historiografico: 2 discurso propositivo -um tipo de discurso que formula julzos, sentences a serem defendidas e debatidas, que anuncia propostas conceituais. i 57 56 --Teoria da literatura: Fundamentos - Andre Gardel Unidade 4 Enquanto Jose de Alencar, por exemplo, tao integrado a estrutura socio-politlco-econornica de seu tempo quanta Machado de Assis, muitas vezes se ;.< emaranhava em sua efusao romantics, acabando par entrar em choque com as novas valores introduzidos pelo capitalismo industrial (vide suas crfticas as . especulacoes financeiras e a preocupacao excessiva pelo dinheiro), a novo romancista surgido em 1872 " <.1' .' ' Y, ......... 1.. com a livro Ressurreifao conseguiria uma maneirosa ./ ':: neutralidade em face dos problemas do pars e do 1: Ir ·;; mundo, ao optar pela visao psicol6gica dos fatos. .; " (TINHORAo, 2000, p. 181-182) :;, :, '!i'II; Ja a teoria cria c6digos que desvelam os funcionamentos dos ',> J t. I . discursos praticos sobre a literatura, se interessa pelas categorias gerais dos fenornenos particulares, nao para prescrever normas de atuacao, impor limites a critica, a visada hist6rica e a criatividade, mas para compreender e organizar sistematica mente as diferenc;as e semelhancas da invencao litera ria. Teorizando sobre 0 genera literario conto, Massaud Moises, no livra A literaria - Prosa, pode nos apresentar um exemplo deste tipo de discurso propositivo: Oconto, portanto, abstrai tudo quanta, no tempo, encerre irnportancia menor, para se preocupar apenas com a centro nevralqico da questao. [... ] 0 conto caracteriza-se par ser objetivo, atual: vai diretamente ao ponto, sem deter-se em pormenores secundarios, Essa objetividade, observavel ainda noutros aspectos adiante examinados, salta aos olhos com as tres unidades: de acao, lugar e tempo. (MOISES, 198-, p. 23) o carninho, dessa forma, e de mao dupla: a teoria e uma especie de disciplina preliminar para os estudos praticos, e, ao mesmo tempo, quer se deixar sempre reavaliar e corrigir em suas conclus6es e prindpios, baseando-se nos avances da critica e da hist6ria literarias. Sugerimos nesse momenta algumas perguntas e reflex6es para uma melhor cornpreensao do que foi ate agora exposto. 1. Voce jil deve ter ouvido, ou falado, varies vezes como: "aquela novela e um drarnalhao": "acabo de ler urn' romance de aventuras"; "achei 0 filme muito bonito, multo poetico" etc. Voce consegue perceber que esta teorizando sobre a obra de arte a que se refere? Que esta c1assificando, encontrando 0 universal literario no particular, especificando o genera ou estilo formal da obra? Explique como voce acha que esse processo ocorre. 2. Quando alquern pergunta a voce 0 que achou de um Iivro e sua resposta edo tipo "bom" ou "ruim", "fraco" ou "intenso", "interessante" ou "chato", voce esta emitindo um juizo de valor sobre a obra, voce esta sendo critico. Tente desvendar, passo a passo em sua mem6ria, as causas que 0 levaram a emitir tal juizo. Tente relaciona-las e extrair disso uma teoria. 3. E muito comum as pessoas falarem que "gostavam muito mais das musicas do passado", que "tal filme e a obra do futuro", que "0 livro retrata exatamente 0 nosso presente" e assim por diante. Existe um conceito de tempo embutido nessas avaliacoes crlticas, um conceito hist6rico. As pessoas estao fazendo um estudo comparativo entre modalidades de artes de tempos e contextos diferentes. Qual a importancia que voce ve nesse tipo de consideracao? Embora saibamos hoje que a perspectiva inteqrada! e a melhor para os estudos literarios, nem sempre essa visao norteou 0 pensamento .sobre literatura em nossa cultura. Pelo contrario. a hist6ria moderna da reflexao literaria," que tem inicio durante 0 periodo rornantico,? 3 perspectiva integrada - a uniao das tres categorias para a analise textual: critica, hist6ria e teoria literarias. 4 reflexao Iiteraria - os diversos modes. tendencies, escolas. correntes do pensamento literario moderno. 5 periodo rornantico - periodo do Romantisrno, movimento artistico que cornecou na Europa por volta de 1800 e que valorizava a ernocao e a sensibilidade acima da razao, em oposicao ao racionalismo da epoca da Revolucao Francesa. J ("""j ;r l 58 --Teoria da Literatura: Fundamentos - Andre Gardel mostra que essas nocoes se alteraram em diferentes momentos na perspectiva dos estudiosos, que volta e meia tentaram impor 0 fundamento individual de cada uma delas como sendo 0 mais importante para as artes textuais. Que tal tentarmos apreender os principais momentos das modificacoes sofridas pela teoria, hist6ria e I crftica literarias na Modernidade? f;'t:; Na etimologia da palavra critica, encontramos um de seus t\( 'iJ<. significados conceituais mais importantes: critica vem do grego kritike e quer dizer arte de julgar. Sirn, mas julgar 0 que? Como? Com que finalidade? Para ficar mais impreciso ainda, 0 verba julgar abarca um tBi" largo espectrof de sentidos... Leyla Perrone-Moises, crftica e professora de literatura, em seu livro Altas literaturas, nos traca um rapido e sintetico historico da funcao de julgar da crftica nos primeiros momentos da Modernidade: Desde sua pratica autoritaria no seculo XVII, sob a forma de decretos da· Academia, passando pelas escolhas ja pessoais dos entices do seculo XVIII, ate o fim do seculo XIX, quando elaatingiu a plenitude de seus meios e de seu poder como instltulcao i autonorna, a critica literaria reivindicou e exerceu a Iuncao de julgar. (PERRONE-MOISES, 1998, p. 9) A prcducao literaria classica orientada par rigidos e lmutaveis c6digos morals. esteticos, estilfsticos, canonicos? cede lugar aos ideais de novidade e originalidade, que aparecem como criterios de valor pela primeira vez na crftica moderna.: iniciada no Romantismo. A obsessao pelo novo levou ao surgimento de uma tradicao de ruptura no seculo XX, isto e. a uma rapida sucessao alternada, num espaco de tempo cada vez menor, de estilos e modas literarias, gerando os 6 espectro - usado aqui no sentido de rnarqern, variedade. 7 canonico - a producao literaria classica seguia 0 Canone, 0 conjunto de obras consideradas modelares, exemplares e eternas, que deveriam ser imitadas em sua estrutura e procedimentos composicionais. Unidade 4 --59 diversos ismos que proliferaram na producao critica e criativa da Modernidade: Futurismo, Dadaismo, Surrealismo, Ccncretismos etc. Ideais de originalidade e novidade romanticos que vao determinar, ainda, a necessidade posterior de uma crftica e de uma criacao cada vez mais individual, particular e relativa. Na passagem do seculo XIX para 0 XX, a crftica comeca tarnbern a orientar-se no sentido de exercer funcoes como explicar, analisar, informar, descrever, buscando a impossivel meta de uma neutralidade cientffica. Por que imposslvel? Pelo simples fato de que apenas a eteicao de uma obra - e nao de urna outra qualquer - para uma leitura critica ja implica em uma selecao, em um julgamento, nunca em uma postura crftica neutra. Da mesma forma que 0 metoda de abordagem do assunto, a escolha das palavras para compor 0 discurso, 0 tom da voz utilizado na linguagem ja demarcam um lugar de fala, uma posicao critica do escritor ou do analista textual. 0 ideal de neutralidade, portanto, nao existe nem na criacao literaria nem na critica, pois 0 ato de escrever ja significa, em si mesmo, a realizacao de um recorte, seletivo e intencional, no vasto universo da lingua. Uma das caracterfsticas mais importantes da critica contemporanea, depois da ansia de neutralidade cientffica que condicionou 0 pensamento de algumas correntes literarias, foi a retomada da nocao de critica como juizo de valor. Contudo, os julgamentos crfticos na atualidade, baseados que foram nos preceitos rornanticos de novidade e originalidade, tornaram-se relativos e sempre passiveis de serem reavaliaveis, nao existindo mais uma norma geral, um valor unico e universal, um consenso a ser seguido, como havia no universo classico: "Nao se julga a partir de criterios, mas, ao julgar, criam-se criterios. Na leitura como na escrita, 0 julgamento e uma questao de invencao." (PERRONE-MOISES: 1998, p. 16) 8 Para mais lnforrnacoes sobre cada um dos movimentos citados, acesse: Ao entrar na paqina principal, escolha a opcao Encic/opedia de Artes Visuais (veja meis), depois a Termos e Conceitos (/ista comp/eta) e busque 0 termo desejado. :: . '1. , ,.;, Unidade 4 --61 60 --Teoria da Literatura: Fundamentos - Andre Gardel 'fig $ " " f Dai terem surgido autores que juntam as funcoes de criadores e criticos, os escritores-criticos, buscando estabelecer seus pr6prios principios e valores individuais, expressos em suas obras e estudos criticos. E, tambern, um genero literario novo, a escrltura, que tenta aproximar numa mesma realidade textual critica e criacao literarias. Um I trecho da obra do poeta e crltico mexicano Octavio Paz (1914-1998). I extraido de seu livro 0 area e a lira, no capitulo Poesia e poema, pode servir de exemplo para uma pequena apresentacao do que vem a ser 0 qenero escritura: 1if1! Apoesia econhecimento, salvacao, poder, abandono. Operacao capaz de transformar 0 rnundo, a atividade poetics e revolucionaria por natureza; exerdcio espiritual, e um metodo de libertacao interior. A I poesia revela este mundo; cria outro. Pao dos eleitos; iii':!/' alimento maidito. Isola; une. Convite a viagem; regressoaterra natal. lnspiracao, rospiracao. exerdcio muscular. Suplica ao vazio, dialoqo com a ausencia, ealimentada pelotedio, pelaanqustiae pelodesespero. (PAZ, 1982, p. 15) Vamos a mais uma rodada de perguntas? Sempre ebom avaliarmos nossa compreensao diante dos muitos conceitos que estamos tratando, nao? " . " .',. ;.'''' " '-', 1. acha que a 'crftica 'deve impor um sistema de norrnas e . \, ,', .. "" valores predetermlnadose imutaveis 'que os escritores e leitores que seguir a . . . . \ .-:/ '1·,' 2. De que modo 0 Romantismo rornpeu com asregrase'modelos , . .' " j .' dassicos? Fale sobre a irnportancia, para a crlticafnoderna, de conceitos como novidade e 3. Voce acredita que exista uma neutralidade" de.··lir1guagem crftica, que possa haver urn discurso - sem qualquer interferencla pessoal do autor .rias analises empreendidas nesse discurso? Explique. . : .,;.;; 4. Ao retomarem explicitamente a nocao de julzo de valor, os .. escritores-criticos criam suas pr6prias tradicoes literarias ' fundadas a partir de suas teorias e criterios criticos particulares.. A verdade literaria torna-se, com isso, relativa. De sua opiniao sobre 0 assunto. Bem, agora vamos passar para a outra forma pratica dos estudos e pesquisas literarias, a hist6ria, tentando localizar as rnodulacoes que a nocao sofreu na Modernidade. Pode-se dizer que a consciencia hist6rica dos fen6menos humanos foi a rnudanca mais radical ocorrida no terreno do conhecimento durante a Idade Moderna. Uma sucessao de acontecimentos encadeados em causa e efeito de modo linear ou cronol6gico, com principio e meio conduzindo a uma finalidade, foi a 16gica positiva comum aos rnetodos das ciencias que se consolidaram no seculo XIX, a 16gica da hist6ria. E e durante esse periodo que a hist6ria litera ria se firma como disciplina academica, presa ainda ao forte teor positivista? da historia geral e da filoloqia.!? o que significa isso? Que a historiografia literaria. em seus prim6rdios academicos modernos, chamada de historicismo, em Iinhas gerais propunha: • que 0 aspecto extrfnseco da obra - 0 contexto, os dados exteriores a experiencia da leitura - se impusessem aos fatores intrfnsecos, ao texto em si e a sua leitura; • que 0 historiador abandonasse qualquer vestigio de opinlao ' de seu presente hist6rico e reconstruisse os fatos, 0 espfrito, os padr6es da epoca estudada, mergulhando imaginariamente no tempo em que a obra surgiu, para recuperar 0 sentido • pretendido pelo autor; !I' 9 positivista - expressao que advern do termo Positivismo, doutrina filos6fica formulada por Augusto Comte (1798-1857) que prega a necessidade de a sociedade C 0 espfrito chegarem ao estado positive, atingido par um ordenamento cientifico do mundo, par meio do metoda experimental. 10 flloloqia - 0 estudo cientlfico do desenvolvimento de urna lingua au de. familias de Iinguas, em especial a pesquisa de sua hist6ria morfol6gica e fonol6gica baseada em documentos escritos e na crftica dos textos redigidos nessas Iinguas (por exemplo, filologia latina, filologia germanica etc.). '} 2 ••• r 7 < b 62 --Teoria da Literatura: Fundamentos - Andre Gardel • que 0 historiador se prendesse a datas, titulos, a quadros sociais e culturais, reconstituisse biografias, se atendo a rigorosos principios de causalidade, objetividade, sucessao mecanica.t ' progresso, e a uma exaustiva pesquisa de fontes e influencias, Vamos dar um exemplo de um tipo de critica que se atern a dados biogrMicos e psicol6gicos do autor, portanto a aspectos extrinsecos da obra, para explicar alguns elementos de composicao de suas producoes ficcionais, caindo num determinismo bem comum a critica historicista. Podemos notar como Mario Matos, em seu livro Machado de Assis: o homem e a obra. as personagens explicam 0 autor, recorre a um possivel temperamento timido de Machado de Assis para explicar 0 aparecimento insistente dos tipos "cacetes, os parasitas, os poetastros, os falhados enfim" nas suas obras: Homem tfmido e assustado, como se tem dito muitas vezes, de nervos irritaveis, muito delicado para poder ser franco, contendo-se sempre para nao ferir a sensibilidade alheia, Machado de Assis sofria por isso e, a fim de evitar aborrecirnentos, fugia do convfvio de seus semelhantes. Com tal temperamento, ede ver o medo que tinha de importunes. Em seus contos e romances desforra-se deles. Ha um grupo numeroso de cacetes em sua literature. Cacetes, parasitas, de mote e oradores abortados. Ea influencia do recalque. (MATOS, 1939 apud BaSI et al, 1982, p. 353) Ate aqui tudo bem? Vamos a mais algumas perguntas? Unidade 4 --63 2. Voce acha que e possivel isolar, na analise de uma obra, ;{t: aspectos extrinsecos dos textuais? au 0 objeto literario deve' . receber sempre a atencao principal, e a partir de nossa leitura investigarmos a conjuntura em que surgiu, dando maior ou menor enfase a esse aspecto? 3. a historiador consegue se despojar totalmente da perspectiva de sua epoca presente para mergulhar na realidade do tempo em que a obra analisada foi concebida? Evalida tal postural Comente 0 assunto. Esse quadro corneca a mudar ja no infcio do seculo XX, com 0 surgimento dos estudos imanentistas, 12 cujas principais correntes foram o Formalismo,13 0 Estruturalismot? e a Semictica.l> Qual a diferenc:;a basica dessas teorias em relacao as leis historicistas? as estudos imanentistas privilegiam 0 estudo do texto sobre 0 contexte; privilegiam ainda, na analise dos escritos do passado, a perspectiva do presente do critico, ao inves da tentativa de reconstituicao do ambiente em que foi concebida a obra ou de uma recuperacao da intencao original do autor, em outras palavras, 0 imanentismo privilegia a visao critica slncronica!" sobre a diacronica."? As primeiras influencias positivas na historiografia literaria contemporanea, ap6s a modulacao do pensamento historicista para 0 imanentista, se refletem em algumas mudancas de foco, como, por exemplo, quando a critica passa a afirmar 0 entrelacarnento inevitavel 12 imanentista - qualquer sistema de pensamento no qual uma concepcao de lmanencla ocupe uma dirnensao fundamental. Irnanencia ea qualidade do que pertence asubstancia ou essen cia iii ,:t,' ;:? de algo, asua interioridade, em contraste com a existencia, real ou ficticia, de uma dirnensao 1. a que voce entende por consciencia hist6rica? as valores externa. eternos e imutaveis cabem dentro deste conceito? Explique. 13 formalismo - no pensarnento estetico, sao as doutrinas que priorizam as formas artisticas aos conteudos-Especificamente, estamos falando do Formalismo russo, jil abordado na Unidade 1. 14 estruturalismo - teoria segundo a qual 0 estudo de uma categoria de fatos deve enfocar especialmente as estruturas, em que ha. portanto, a predorninancia da estrutura do sistema sobre os elementos. 15 semi6tica - teoria geral das representacoes. que leva em conta os signos sob todas as formas e rnanifestacoes que assumem (linquisticas ou nao), 11 sucessao rnecanica - em que hil uma sequencia de fatos organizados de modo a dar urna ideie 16 sincrcnica - diz respeito a certo fato, dentro da evolucao hist6rica, tomado para estudo. de partes padronizadas para se chegar a um fim, a uma unidade coerente. 17 diacronica - diz respeito ao estudo da sequencia dos fatos hist6ricos ao longo do tempo. 11 "; . , -, I 64 --Teoria da Literatura: Fundamentos - Andre Gardel Unidade 4 --65 entre a historia e os criterios de valor do historiador e de seu tempo; ou, ainda, quando aceita 0 jogo de oposicoes e sinteses da historia literaria fundada em estilos de epoca, modelo critico que relaciona caracterfsticas externas (epocas) a elementos constitutivos internos (estilos) das obras. o filosofo alernao Friedrich Nietzsche (1844-1900), na segunda de suas Considerecoes Extemporenees, de titulo Da utilidade e desvantagem da histone para a vida, nos ajuda a entender 0 que vem a ser a visada sincr6nica: "0 conhecimento do passado, em todos os tempos, so e desejavel quando esta a service do presente, quando ele desenraiza os germes fecundos do futuro." (NIETZSCHE apud PERRONE-MOISES, 1998, p. 22) A historia literaria, alem do mais, tem por objeto um tipo de discurso (0 literario) que se atualiza a cada leitura, os fatos esteticos voltam a acontecer revigorados, refeitos pela otica presente, toda vez que algum leiter, de qualquer epoca, Ie ou rele uma obra. Assim, os ideais de sucessao, Iinearidade, cronologia do antigo historicismo cedem lugar a simultaneidade dos momentos do passado, uma nova percepcao de tempo em que 0 presente requalifica e reordena a tradicao literaria, que passa a ser vista como um corpo em constante rnutacao: a cada novo recorte critico que sofre, a cada nova obra lancada e incorporada, a cada nova experiencia de leitura realizada. Como exemplo dessa revisao crltica da tradicao pelaotica ccnternporanea, podemos citar a postura do poeta e crltico paulista Augusto de Campos, ao se referir afamosa polemics sobre a questao do plaqio na obra do poeta barroco baiano Gregorio de Matos, presente no texto Da America que existe: Gregorio de Matos, do livro Poesia, antipoesia, antropofagia. Augusto defende a tese de que nada pode inibir 0 prazer de nossa leitura contemporanea daqueles textos do passado, independentemente de sua autenticidade ou nao: Sempreentendi que a eterna, adiada e insoluvel querela dos eruditos sobre 0 que ee 0 que nao ede Gregorio de Matos nao deveria inibir a e 0 estudo dos textos que levam 0 seu nome. Que as investiqacoes de paternidade continuem a se processar, com a lentidao cabfvel, pelas autoridades cornpetentes, contanto que nao nos venham opor embargos e proleg6menos a apreciacao da "poesia da epoca chamada Gregorio de Matos" como tao bem a batizou James Amado. (CAMPOS, 1978, p. 91) Mais uma parada para retomarmos 0 fio da meada conceitual em que estamos nos lancando? Vamos a novas perguntas? 1. 0 que significam estudos imanentistas? Como as correntes Iigadas a essa perspectiva tiveram influencia sobre a confiquracao contemporanea da historiografia llterariaj : 2. 0 que voce entendeu por visada sincronica? Voce concorda com 0 filosofo Nietzsche de que 0 passado so e desejavel a service do presente, projetando ja leituras futuras? 3. Como a tradicao literaria passa a ser reordenada pelas obras e crfticas emitidas no presente? 4. Voce acha que uma obra literaria renasce a cada nova leitura? Na sua opiniao, como tal processo ocorre? A teoria literaria organiza e torna explfcitos os pressupostos utilizados pelos discursos praticos sobre a literature. que sao, como ja vimos, a crftica e a historia literarias. Concebe princfpios, categorias, criterios, qeneralizacoes universais, tentando abarcar, num conhecimento I sistematizado, um conjunto de metodos reciclaveis que possibilite diferentes analises do fen6meno literario, Portanto, nao e prescritiva ou normativa, especulativa ou abstrata, mas analftica e descritiva. A Poetics de Aristoteles e 0 modelo mais antigo de teoria da literatura, ja que busca encontrar categorias gerais em obras particulares, com um ponto de vista que se queria universal. No entanto, por ser essencialmente prescritiva, emitindo regras doqrnaticas com funcocs normativas, nao se enquadra na concepcao descritiva ! j · _1 T¥' 66 --Teoria da Literatura: Fundamentos - Andre Gardel moderna de teoria da literatura. Afora isso. codificava seu discurso a " partir da literatura em si mesma, nao dos estudos ou das pesquisas literarias, produzindo normas e valores rfgidos. I I A teo ria literarla se recicla tanto a partir das moduiacoes da crftica f;(.,. e da historiografia, quanta de dialoqos interdisciplinares e extraliterarios: corn isso, dialeticamente,18 disp6e e apresenta um conjunto instrumental ample que pode ser utilizado nas mais diversas analises, Daf seus r..r. "Iirnites ilirnitados". nas palavras de Eduardo Portela (1932-): "A :. estruturacao polivalente da Teoria literaria e 0 recurso queela propria encontra para ocupar 0 vasto territorio que Ihe corresponde." (PORTELA, 1979, p. 8) As perspectivas extraliterarias da Teoria aparecem quando pensamos ,;Ii, o principio poetico da linguagem em diversos suportes expressivos que nao apenas 0 livro; ou, quando ampliamos nosso conceito de cultura, abarcando a cultura de massas, a folclorica e a popular. As conex6es com outras disciplinas de saber como a linqulstica, a teoria da lnforrnacao, a psicologia, a sociologia, a estatistica, entre outras, nos estudos interdisciplinares, ajudam na tarefa integrada da teoria literaria. Missao que, por sua vez, e, tarnbem, da literatura em geral: a valorizacao do conhecimento da experiencia humana, a decifracao dos enigmas do ser. Para terminar nossa explanacao, vamos responder a mais algumas perguntas sobre os ultimos topicos abordados? 1. 0 que significa dizer que a teoria literaria nao eprescritiva ou especulativa, mas sim analftica e descritiva? 2. Em que aspectos a Poetic« de Arist6teles se aproxima das modernas concepcces de teoria literaria e em que outros nao? 18 dialeticamente - utilizando-se do dialoqo, discussao, arqumentacao. Unidade 4 --67 3. A partir de que tipos de inteqracoes e dialoqos a teo ria litera ria vem reestruturando sua reciclagem disciplinar? 4. Voce acha que os estudos literarios tern como meta ultima ampliar 0 conhecimento da experiencia humana? Explique. Referencias: BOSI, Alfredo et al. Machado de Assis: antologia e estudos. Sao Paulo: Atka, 1982. CAMPOS, Augusto de. Poesia, antipoesia, antropofagia. Sao Paulo: Cortez & Moraes, 1978. LIMA, Luiz Costa. Questionamento da crftica literaria. In: Dispersa demanda. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1981. MOISES, Massaud. A aieceo literaria - Prosa. Sao Paulo: Cultrix, [198-]. PAZ, Octavio. 0 area e a lira. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1982. PERRONE-MOISES, Leyla. Altas literaturas. Sao Paulo: Cia das tetras, 1998. PORTELA, Eduardo. Limites ilimitados da Teoria l.iteraria, In: Teoria litetetie. Rio de Janeiro: Edicoes Tempo Brasileiro, 1979. SECCHIN, Antonio Carlos. Poesia e desordem. Rio de Janeiro: Topbooks, 1996. TINHORAo, Jose Ramos. A musics popular no romance brasileiro. v. 1. Sao Paulo: Ed. 34, 2000. Teorizando sobre 0 genera literario conto. Quando alquern pergunta a voce 0 que achou de um Iivro e sua resposta e do tipo "bom" ou "ruim". 181-182) . (TINHORAo.. encontrando 0 universal literario no particular. 3. pode nos apresentar um exemplo deste tipo de discurso propositivo: Oconto. ~~. '. Essa objetividade. tao integrado a estrutura socio-politlco-econornica de seu tempo quanta Machado de Assis.. salta aos olhos com as tres unidades: de acao. ~"f' J E muito comum as pessoas falarem que "gostavam muito mais das musicas do passado". "achei 0 filme muito bonito. e. encerre irnportancia menor.. 2000. portanto. multo poetico" etc. no livra A cria~ao literaria ..> . muitas vezes se emaranhava em sua efusao romantics. a novo romancista surgido em 1872 com a livro Ressurreifao conseguiria uma maneirosa neutralidade em face dos problemas do pars e do mundo. voce esta emitindo um juizo de valor sobre a obra. 23) Ja I :.. tendencies.. Tente desvendar.os diversos modes. o carninho. observavel ainda noutros aspectos adiante examinados. no tempo.periodo do Romantisrno.. Embora saibamos hoje que a perspectiva inteqrada! e a melhor para os estudos literarios.~ 1 :. " . nao para prescrever normas de atuacao. (MOISES. [.. por exemplo. sem deter-se em pormenores secundarios.:l~':1 . 4 reflexao Iiteraria . impor limites a critica. hist6ria e teoria literarias. a hist6ria moderna da reflexao literaria. um conceito hist6rico. "fraco" ou "intenso"..' como: "aquela novela e um drarnalhao": "acabo de ler urn' romance de aventuras". Qual a importancia que voce ve nesse tipo de consideracao? dessa forma.< ·. voce esta sendo critico.. quer se deixar sempre reavaliar e corrigir em suas conclus6es e prindpios. Pelo contrario. Sugerimos nesse momenta algumas perguntas e reflex6es para uma melhor cornpreensao do que foi ate agora exposto. p.? 3 perspectiva integrada . ~ ' Y." que tem inicio durante 0 periodo rornantico. mas para compreender e organizar sistematica mente as diferenc. Voce jil deve ter ouvido.Prosa. nem sempre essa visao norteou 0 pensamento . .'. :. especificando o genera ou estilo formal da obra? Explique como voce acha que esse processo ocorre. correntes do pensamento literario moderno. as causas que 0 levaram a emitir tal juizo./ ':: ~ a teoria cria c6digos que desvelam os funcionamentos dos discursos praticos sobre a literatura.1' '~ ~ Ir . p.56 . que "tal filme e a obra do futuro". ~.] 0 conto caracteriza-se par ser objetivo.~ Unidade 4 57 Enquanto Jose de Alencar. ("""j J . abstrai tudo quanta. ao optar pela visao psicol6gica dos fatos. 198-. ~. 2.. Existe um conceito de tempo embutido nessas avaliacoes crlticas.a uniao das tres categorias para a analise textual: critica. As pessoas estao fazendo um estudo comparativo entre modalidades de artes de tempos e contextos diferentes..as e semelhancas da invencao litera ria. Voce consegue perceber que esta teorizando sobre a obra de arte a que se refere? Que esta c1assificando.. Tente relaciona-las e extrair disso uma teoria. passo a passo em sua mem6ria. '!i'II. se interessa pelas categorias gerais dos fenornenos particulares. 1.. acabando par entrar em choque com as novas valores introduzidos pelo capitalismo industrial (vide suas crfticas as especulacoes financeiras e a preocupacao excessiva pelo dinheiro).. ao mesmo tempo.. "interessante" ou "chato". ou falado.Teoria da literatura: Fundamentos - Andre Gardel . . que "0 livro retrata exatamente 0 nosso presente" e assim por diante. a visada hist6rica e a criatividade. baseando-se nos avances da critica e da hist6ria literarias. · " <.' t. 1 . para se preocupar apenas com a centro nevralqico da questao. lugar e tempo.sobre literatura em nossa cultura.. varies vezes expressge~:. em oposicao ao racionalismo da epoca da Revolucao Francesa. 5 periodo rornantico . atual: vai diretamente ao ponto. escolas. movimento artistico que cornecou na Europa por volta de 1800 e que valorizava a ernocao e a sensibilidade acima da razao. Massaud Moises. e de mao dupla: a teoria e uma especie de disciplina preliminar para os estudos praticos.. : iniciada no Romantismo. a uma rapida sucessao alternada.a producao literaria classica seguia 0 Canone. em um julgamento.. isto e. 8 Para mais lnforrnacoes sobre cada um dos movimentos citados. p.brl Ao entrar na paqina principal.r l Unidade 4 . particular e relativa. A obsessao pelo novo levou ao surgimento de uma tradicao de ruptura no seculo XX.:. tBi" Desde sua pratica auto ritaria no seculo XVII. (PERRONE-MOISES.. informar. que deveriam ser imitadas em sua estrutura e procedimentos composicionais." (PERRONE-MOISES: 1998. 0 ideal de neutralidade. em seu livro Altas literaturas. 1998.para uma leitura critica ja implica em uma selecao. uma posicao critica do escritor ou do analista textual.59 mostra que essas nocoes se alteraram em diferentes momentos na perspectiva dos estudiosos. gerando os .:~ i 6 espectro - usado aqui no sentido de rnarqern. Que tal tentarmos apreender os principais momentos das modificacoes sofridas pela teoria. a necessidade posterior de uma crftica e de uma criacao cada vez mais individual. mas julgar 0 que? Como? Com que finalidade? Para ficar mais impreciso ainda. um valor unico e universal. mas.'t:. Dadaismo. baseados que foram nos preceitos rornanticos de novidade e originalidade. estilfsticos. num espaco de tempo cada vez menor.it~ucllltllr~t. nos traca um rapido e sintetico historico da funcao de julgar da crftica nos primeiros momentos da Modernidade: '~fI~ ~::.. pois 0 ato de escrever ja significa.Teoria da Literatura: Fundamentos - Andre Gardel . a realizacao de um recorte. Na passagem do seculo XIX para 0 XX. Por que imposslvel? Pelo simples fato de que apenas a eteicao de uma obra . como havia no universo classico: "Nao se julga a partir de criterios. hist6ria e crftica literarias na Modernidade? Na etimologia da palavra critica. acesse: b. de estilos e modas literarias. tornaram-se relativos e sempre passiveis de serem reavaliaveis. que aparecem como criterios de valor pela primeira vez na crftica moderna. passando pelas escolhas ja pessoais dos entices do seculo XVIII. foi a retomada da nocao de critica como juizo de valor. Sirn. p.. nao existindo mais uma norma geral. 0 tom da voz utilizado na linguagem ja demarcam um lugar de fala.R://www. no vasto universo da lingua. 16) t\( f. ate o fim do seculo XIX. os julgamentos crfticos na atualidade. 0 julgamento e uma questao de invencao. i~. crftica e professora de literatura. 0 verba julgar abarca um largo espectrof de sentidos . esteticos. encontramos um de seus significados conceituais mais importantes: critica vem do grego kritike e quer dizer arte de julgar. em si mesmo. descrever.~ 58 . a escolha das palavras para compor 0 discurso.l!. Contudo. Uma das caracterfsticas mais importantes da critica contemporanea. nao existe nem na criacao literaria nem na critica. 7 canonico . um consenso a ser seguido. a critica litera ria reivindicou e exerceu a Iuncao de julgar. escolha a opcao Encic/opedia de Artes Visuais (veja meis). Ideais de originalidade e novidade romanticos que vao determinar. analisar. ao julgar. depois a op~ao Termos e Conceitos (/ista comp/eta) e busque 0 termo desejado. Da mesma forma que 0 metoda de abordagem do assunto. sob a forma de decretos da· Academia. I diversos ismos que proliferaram na producao critica e criativa da Modernidade: Futurismo. . Ccncretismos etc.org.e nao de urna outra qualquer . a crftica comeca tarnbern a orientar-se no sentido de exercer funcoes como explicar. Na leitura como na escrita. 'iJ<. ainda. nunca em uma postura crftica neutra. que volta e meia tentaram impor 0 fundamento individual de cada uma delas como sendo 0 mais importante para as artes textuais. canonicos? cede lugar aos ideais de novidade e originalidade. buscando a impossivel meta de uma neutralidade cientffica. Leyla Perrone-Moises. 0 conjunto de obras consideradas modelares. depois da ansia de neutralidade cientffica que condicionou 0 pensamento de algumas correntes literarias. criam-se criterios. seletivo e intencional. variedade. Surrealismo. portanto. quando elaatingiu a plenitude de seus meios e de seu poder como instltulcao autonorna. 9) A prcducao literaria classica orientada par rigidos e lmutaveis c6digos morals. exemplares e eternas. em seus prim6rdios academicos modernos. par meio do metoda experimental.. A verdade literaria torna-se."'". iii':!/' 1.~'~":'. extraido de seu livro 0 area e a lira.l.: que 0 aspecto extrfnseco da obra . . presa ainda ao forte teor positivista? da historia geral e da filoloqia..-·.'''.Teoria da Literatura: Fundamentos - Andre Gardel '"ig f$ " Unidade 4 .··lir1guagem crftica.'.r-··il\.~\ ~$J poetics e revolucionaria por natureza. filologia latina. . exerdcio espiritual.. lnspiracao.. que tenta aproximar numa mesma realidade textual critica e criacao literarias. a 16gica da hist6ria. E.'crftica 'deve impor um sistema "·c~. buscando estabelecer seus pr6prios principios e valores individuais. pela anqustia e pelo desespero. .:>F'···. salvacao.' dassicos? Fale sobre a irnportancia..i~.i'~ 1if1! o que significa isso? Que a historiografia literaria.. '} ~ .'. chamada de historicismo.~. 1982.. que 0 historiador abandonasse qualquer vestigio de opinlao ' de seu presente hist6rico e reconstruisse os fatos. !I' 9 positivista ..!? . " !\'~""C-'::'(tf\:'t'. De que modo 0 Romantismo rornpeu com asregrase'modelos . alimento maidito. agora vamos passar para a outra forma pratica dos estudos e pesquisas literarias.61 Dai terem surgido autores que juntam as funcoes de criadores e criticos..:\'::~:iC~c . De sua opiniao sobre 0 assunto. . ". p.L. Pode-se dizer que a consciencia hist6rica dos fen6menos humanos foi a rnudanca mais radical ocorrida no terreno do conhecimento durante a Idade Moderna. une. cria outro.~'1. rospiracao. ~: 4.' " j • 2.. ao texto em si e a sua leitura. tambern. Uma sucessao de acontecimentos encadeados em causa e efeito de modo linear ou cronol6gico..: 3.expressao que advern do termo Positivismo. um genero literario novo. no capitulo Poesia e poema.~. os dados exteriores experiencia da leitura . abandono.'·::. em especial a pesquisa de sua hist6ria morfol6gica e fonol6gica baseada em documentos escritos e na crftica dos textos redigidos nessas Iinguas (por exemplo. para a crlticafnoderna... poder.'"":~"":. em Iinhas gerais propunha: Vamos a mais uma rodada de perguntas? Sempre e bom avaliarmos nossa compreensao diante dos muitos conceitos que estamos tratando. E e durante esse periodo que a hist6ria litera ria se firma como disciplina academica. escritores-criticos criam suas pr6prias tradicoes literarias ' fundadas a partir de suas teorias e criterios criticos particulares. os . dialoqo com a ausencia. . . nao? • 1. (PAZ.~f ·:~:tl j~.·.. para recuperar 0 sentido • pretendido pelo autor. : ..rias analises empreendidas nesse discurso? Explique. . Isola. de conceitos como novidade e originalidade~. Bem.ii\'_~ valores predetermlnadose imutaveis 'que os escritores e leitores t~m que seguir a risca?EXpliques'~a're~post~!. Suplica ao vazio.\:::'_. Ao retomarem explicitamente a nocao de julzo de valor."n: "~--{~":~.'f>"i. ealimentada pelo tedio. "'~'04:"'.f. atingido par um ordenamento cientifico do mundo. .. Operacao capaz de transformar 0 rnundo. Pao dos eleitos. Voce acredita que exista uma neutralidade" de.". Um trecho da obra do poeta e crltico mexicano Octavio Paz (1914-1998). com isso. a atividade f I I :.' "" de norrnas e .' .... mergulhando imaginariamente no tempo em que a obra surgiu..0 estudo cientlfico do desenvolvimento de urna lingua au de. " . os escritores-criticos.j~t~~::·~t~\:Al.'~""~t:"'/""I'! '-'. relativa.~~. familias de Iinguas. . 10 flloloqia .i{f': .~.. . exerdcio muscular.-·~·'i. a escrltura.·!/".\.. foi a 16gica positiva comum aos rnetodos das ciencias que se consolidaram no seculo XIX..~:: "~?f. a hist6ria.0 contexto. A poesia revela este mundo. a "~ '1·.... 60 . os padr6es da epoca estudada. .). :: .::~::~· .. . Convite a viagem."..~:y!..'''' . regresso a terra natal.. e um metodo de libertacao interior.. filologia germanica etc. 15) I i~i. que possa haver urn discurso realment~'cientffico. 0 espfrito. doutrina filos6fica formulada por Augusto Comte (1798-1857) que prega a necessidade de a sociedade C 0 espfrito chegarem ao estado positive."1 """"'"::"..-:/ " . \ . expressos em suas obras e estudos criticos. pode servir de exemplo para uma pequena apresentacao do que vem a ser 0 qenero escritura: A poesia e conhecimento.''<.sem qualquer interferencla pessoal do autor .'1. tentando localizar as rnodulacoes que a nocao sofreu na Modernidade.J.se impusessem aos fatores intrfnsecos. Voc~ acha que a\. com principio e meio conduzindo a uma finalidade. quando a critica passa a afirmar 0 entrelacarnento inevitavel 12 imanentista .• • • r 7 ~ 2 b < 62 .13 0 Estruturalismo t? e a Semictica. na analise de uma obra. sao as doutrinas que priorizam as formas artisticas aos conteudos-Especificamente. ao inves da tentativa de reconstituicao do ambiente em que foi concebida a obra ou de uma recuperacao da intencao original do autor. sucessao mecanica. de uma dirnensao externa. real ou ficticia. Cacetes. titulos. e a partir de nossa leitura investigarmos a conjuntura em que surgiu. ser franco. objetividade. dentro da evolucao hist6rica. que leva em conta os signos sob todas as formas e rnanifestacoes que assumem (linquisticas ou nao). receber sempre a atencao principal. as personagens explicam 0 autor. ede ver o medo que tinha de importunes.diz respeito ao estudo da sequencia dos fatos hist6ricos ao longo do tempo. para explicar alguns elementos de composicao de suas producoes ficcionais. em contraste com a existencia. jil abordado na Unidade 1. se refletem em algumas mudancas de foco. com 0 surgimento dos estudos imanentistas. e a uma exaustiva pesquisa de fontes e influencias. Com tal temperamento. Irnanencia e a qualidade do que pertence a substancia ou essen cia de algo. os falhados enfim" nas suas obras: Homem tfmido e assustado. 16 sincrcnica . reconstituisse biografias. de nervos irritaveis."? As primeiras influencias positivas na historiografia literaria contemporanea. recorre a um possivel temperamento timido de Machado de Assis para explicar 0 aparecimento insistente dos tipos "cacetes. parasitas. Machado de Assis sofria por isso e.:t.Teoria da Literatura: Fundamentos - Andre Gardel Unidade 4 .. dando maior ou menor enfase a esse aspecto? 3. em que ha.:? 11 sucessao rnecanica . em outras palavras.a basica dessas teorias em relacao as leis historicistas? as estudos imanentistas privilegiam 0 estudo do texto sobre 0 contexte. tomado para estudo.{t: aspectos extrinsecos dos textuais? au 0 objeto literario deve' . a perspectiva do presente do critico. como. Podemos notar como Mario Matos.' ~' . 14 estruturalismo . privilegiam ainda.t ' progresso. Ha um grupo numeroso de cacetes em sua literature. a sua interioridade. a uma unidade coerente. os parasitas. a historiador consegue se despojar totalmente da perspectiva de sua epoca presente para mergulhar na realidade do tempo em que a obra analisada foi concebida? Evalida tal postural Vamos dar um exemplo de um tipo de critica que se atern a dados biogrMicos e psicol6gicos do autor.em que hil uma sequencia de fatos organizados de modo a dar urna ideie de partes padronizadas para se chegar a um fim.63 • que 0 historiador se prendesse a datas. a quadros sociais e culturais. 2. 15 semi6tica . a que voce entende por consciencia hist6rica? as valores eternos e imutaveis cabem dentro deste conceito? Explique. caindo num determinismo bem comum a critica historicista. p. muito delicado para poder Comente 0 assunto. 353) Esse quadro corneca a mudar ja no infcio do seculo XX. 12 cujas principais correntes foram o Formalismo.diz respeito a certo fato. (MATOS. portanto.qualquer sistema de pensamento no qual uma concepcao de lmanencla ocupe uma dirnensao fundamental. . 1982. em seu livro Machado de Assis: o homem e a obra. contendo-se sempre para nao ferir a sensibilidade alheia. a predorninancia da estrutura do sistema sobre os elementos. ap6s a modulacao do pensamento historicista para 0 imanentista.teoria geral das representacoes. Em seus contos e romances desforra-se deles. como se tem dito muitas vezes. estamos falando do Formalismo russo. se atendo a rigorosos principios de causalidade. E a influencia do recalque.no pensarnento estetico.teoria segundo a qual 0 estudo de uma categoria de fatos deve enfocar especialmente as estruturas. iii .. Voce acha que e possivel isolar. na analise dos escritos do passado. Ate aqui tudo bem? Vamos a mais algumas perguntas? 11 1. 1939 apud BaSI et al. fugia do convfvio de seus semelhantes. 17 diacronica . por exemplo.l> Qual a diferenc:. os poetastros. 0 imanentismo privilegia a visao critica slncronica!" sobre a diacronica. . 13 formalismo . portanto a aspectos extrinsecos da obra. a fim de evitar aborrecirnentos. ~Iosadores de mote e oradores abortados. Augusto defende a tese de que nada pode inibir 0 prazer de nossa leitura contemporanea daqueles textos do passado. . -. Ie ou rele uma obra. independentemente de sua autenticidade ou nao: Sempreentendi que a eterna. com um ponto de vista que se queria universal. a crftica e a historia literarias. nao e prescritiva ou normativa. antropofagia. tentando abarcar. nos ajuda a entender 0 que vem a ser a visada sincr6nica: "0 conhecimento do passado." (NIETZSCHE apud PERRONE-MOISES. alem do mais. 22) A historia litera ria. antipoesia. pelas autoridades cornpetentes. por ser essencialmente prescritiva.65 entre a historia e os criterios de valor do historiador e de seu tempo. a cada nova obra lancada e incorporada. Como a tradicao literaria passa a ser reordenada pelas obras e crfticas emitidas no presente? 4. categorias. Voce acha que uma obra literaria renasce a cada nova leitura? Na sua opiniao. ~. um conjunto de metod os reciclaveis que possibilite diferentes analises do fen6meno literario. como tal processo ocorre? A teoria literaria organiza e torna explfcitos os pressupostos utilizados pelos discursos praticos sobre a literature. emitindo regras doqrnaticas com funcocs normativas. como ja vimos. toda vez que algum leiter. A Poetics de Aristoteles e 0 modelo mais antigo de teoria da literatura. ou. qeneralizacoes universais. Que as investiqacoes de paternidade continuem a se processar. uma nova percepcao de tempo em que 0 presente requalifica e reordena a tradicao literaria. a cada nova experiencia de leitura realizada. especulativa ou abstrata. 91) a Mais uma parada para retomarmos 0 fio da meada conceitual em que estamos nos lancando? Vamos a novas perguntas? 1. Concebe princfpios. em todos os tempos. que passa a ser vista como um corpo em constante rnutacao: a cada novo recorte critico que sofre.Teoria da Literatura: Fundamentos - Andre Gardel " . 0 que significam estudos imanentistas? Como as correntes Iigadas a essa perspectiva tiveram influencia sobre a confiquracao contemporanea da historiografia llterariaj : 2. adiada e insoluvel querela dos eruditos sobre 0 que e 0 que nao de Gregorio de Matos nao deveria inibir a frui~ao e 0 e e !j .64 . modelo critico que relaciona caracterfsticas externas (epocas) a elementos constitutivos internos (estilos) das obras. com a lentidao cabfvel. p. (CAMPOS. mas analftica e descritiva. de titulo Da utilidade e desvantagem da histone para a vida. cronologia do antigo historicismo cedem lugar a simultaneidade dos momentos do passado. os fatos esteticos voltam a acontecer revigorados. quando ele desenraiza os germes fecundos do futuro. so e desejavel quando esta a service do presente. os ideais de sucessao. podemos citar a postura do poeta e crltico paulista estudo dos textos que levam 0 seu nome. ja que busca encontrar categorias gerais em obras particulares. nao se enquadra na concepcao descritiva Augusto de Campos. de qualquer epoca. I :. contanto que nao nos venham opor embargos e proleg6menos apreciacao da "poesia da epoca chamada Gregorio de Matos" como tao bem a batizou James Amado. quando aceita 0 jogo de oposicoes e sinteses da historia litera ria fundada em estilos de epoca. 1978. que sao. 0 que voce entendeu por visada sincronica? Voce concorda com 0 filosofo Nietzsche de que 0 passado so e desejavel a service do presente. No entanto.)~. presente no texto Da America que existe: Gregorio de Matos. ~. projetando ja leituras futuras? 3. do livro Poesia. num conhecimento I sistematizado. p. ao se referir a famosa polemics sobre a questao do plaqio na obra do poeta barroco baiano Gregorio de Matos. Como exemplo dessa revisao crltica da tradicao pelaotica ccnternporanea. criterios. Assim. refeitos pela otica presente... na segunda de suas Considerecoes Extemporenees. Iinearidade. ainda. tem por objeto um tipo de discurso (0 literario) que se atualiza a cada leitura. Portanto. 1998.)-' Unidade 4 . o filosofo alernao Friedrich Nietzsche (1844-1900). Prosa. 1978.Teoria da Literatura: Fundamentos Andre Gardel ~1O moderna de teoria da literatura. :~~ . 1. 1982. .. r~ ~~ " \. Rio de Janeiro: Edicoes Tempo Brasileiro. LIMA. quanta de dialoqos interdisciplinares e extraliterarios: corn isso.Ii. a decifracao dos enigmas do ser. quando ampliamos nosso conceito de cultura. Rio de Janeiro: Topbooks. abarcando a cultura de massas. Jose Ramos. nas palavras de Eduardo Portela (1932-): "A estruturacao polivalente da Teoria litera ria e 0 recurso queela propria encontra para ocupar 0 vasto territorio que Ihe corresponde. Poesia. BOSI. discussao. especulativa.!. Limites ilimitados da Teoria l. Questionamento da crftica literaria. da literatura em geral: a valorizacao do conhecimento da experiencia humana. 1979. tarnbem. In: Teoria litetetie. 2000. e. 66 . [198-]. As conex6es com outras disciplinas de saber como a linqulstica. antropofagia.. Augusto de. mas sim analftica e descritiva? 2. 1979. Massaud.. A teo ria literarla se recicla tanto a partir das moduiacoes da crftica e da historiografia. entre outras. Antonio Carlos. por sua vez. Sao Paulo: Cortez & Moraes. a sociologia. nao dos estudos ou das pesquisas literarias. ajudam na tarefa integrada da teoria literaria. vamos responder a mais algumas perguntas sobre os ultimos topicos abordados? 1. :. a teoria da lnforrnacao. p.~ Unidade 4 ." (PORTELA.~t ~~i r. nos estudos interdisciplinares. 0 que significa dizer que a teo ria litera ria nao e prescritiva ou PORTELA.(. arqumentacao._1 · ~-""'r~.r. Machado de Assis: antologia e estudos. 1982. a estatistica. 1996. Octavio. Luiz Costa.r T¥' . dialeticamente. a folclorica e a popular.67 I I ~~: 3. ou. PERRONE-MOISES. PAZ. v. 1998. 34.. SECCHIN. Poesia e desordem.. In: Dispersa demanda. codificava seu discurso a partir da literatura em si mesma. produzindo normas e valores rfgidos. Altas literaturas. Alfredo et al. Afora isso. Em que aspectos a Poetic« de Arist6teles se aproxima das modernas concepcces de teoria literaria e em que outros nao? TINHORAo.iteraria. A aieceo literaria . 0 area e a lira. Voce acha que os estudos literarios tern como meta ultima ampliar 0 conhecimento da experiencia humana? Explique. Para terminar nossa explanacao. Rio de Janeiro: Nova Fronteira. Rio de Janeiro: Francisco Alves. CAMPOS. ~:~l. Missao que. Sao Paulo: Cia das tetras. A partir de que tipos de inteqracoes e dialoqos a teo ria litera ria vem reestruturando sua reciclagem disciplinar? 4. Daf seus "Iirnites ilirnitados". :"~~ . A musics popular no romance brasileiro. Referencias: 1)~. Sao Paulo: Ed. Sao Paulo: Atka.~". Sao Paulo: Cultrix. 8) As perspectivas extraliterarias da Teoria aparecem quando pensamos o principio poetico da linguagem em diversos suportes expressivos que nao apenas 0 livro.18 disp6e e apresenta um conjunto instrumental ample que pode ser utilizado nas mais diversas analises. MOISES. a psicologia.. antipoesia. ~~ ~V f. 18 dialeticamente utilizando-se do dialoqo. Eduardo. Leyla. 1981. 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