icidade: da cultura residual mas irredutivell14. Etn Nos redutos tinha misterio. Depoimento Lemos, apud Duglas T. Monteiro E assim ainda que as palavras servem para expressar ideias novas sem que sua textura se altere. Emile Durkheim uponho qU,eme cham~ram a esta n;e~a-redond.a, c~mposta tambem or um psicologo expenmental, um 10glCOe um hngUlsta, para falar de ~amo a re1aqao entre linguagem e pensamento e percebida pela antro- pologia. Diante disso, ha que estabe1ecer dois pontos preliminares, ou melhor, dois deslocamentos. o primeiro e que 0 termo "linguagem" e, nessa disciplina, alga ge- ralmente tomado em seu sentido mais lato: formas institucionais tanto quanta crenqas, praticas e valores sao linguagem, sao representaqoes. E uma relaqaa central em antropologia e a que articula as representaqoes com a organizaqao da vida material e das relaqoes de poder em cada saciedade. E dessa relaqao, portanto, que eu poderia aqui falar. Isso leva ao segundo ponto preliminar: pois tal relaqao e precisa- mente a arena onde se afrontam as varias escolas e tendencias da an- trapologia, oscilando e hesitando entre os imperativos da razao pratica I. Este artigo nasceu de urn debate oral mas sobretudo debate politico, a pretexto da mesa- redonda Linguagem e Pensamento, na xxx Reuniao da SBPC de 1978. A epoca era pas Ato Institucional j e pas luta armada. A identifica~ao dos verdadeiros portadores de uma mu- dan~a institucional era assunto candente. A questao era separar 0 joio do trigo, a ideologia equivocada da consciencia de classe correta. A respeito da questao indigena, 0 governo e os pensadores marxistas pareciam na epoca concordar. Ambos achavam irrelevantes os esbo- ~os de protesto dos indios e dos que os apoiavam. Ambos se enganavam. E nesse contexto politico que 0 artigo se insere. Ele tern 0 propasito, antes de tudo, de dis- cutir a legitimidade do movimento indigena. Mas soma-se a essa agenda a retomada de minha propria posi~ao sobre etnicidade, corrigindo 0 meu artigo anterior [cap. 13 deste volume]. Em particular, e neste artigo que, pela primeira vez, falo da cultura como uma "categoria nativa". Agrade~o a Mario Bick e a Marianno Carneiro da Cunha seus comentarios a versao apre- sentada deste texto, publicado mais tarde na Revista de Cultura e Politica, Cedec, v. 1, n. 1, Sao Paulo, 1979. ele se exacerbava. 'd d b u Stan. Esse argumento a subtende. eategorias dessa linguagem. entre eles varios antropologos. tambe~ pod~a ser perdida.as e de sua heterogeneidade. tos separatistas enfatizam dialetos e os governos nacio~ais cO. povo e um sistema simbolico que organiza sua percep<. e quando se 0 consegue. an als.mas que acabou transferindo a no a d Retomando: se. onde a vida seria regida por la<. a etnicidade era vista simplesmente.nunca polilinguismo dentro de suas fronteiras.osprincipalmente cantratuais. quan d 0 se falava de ra<. tornando-se por assim dizer.' a questao das naclOnahdades sempre voltava a ordem do la.6es.o e sup6e uma liga<.ane· nstrUI a . tamente para 0 tempo presente.as.' dentro de urn movimento que se qUis . mclusive . o Ica . e e Ate q~e se descobriu que nao so 0 chamado "tribalismo" nao desaparecia tambem um diferenciador por excelencia: nao e a toa que os mOVlmen- nas cldades modernas africanas. Falarel antes de urn assunto sobre 0 qual 7 Todos esses dados levaram a redescoberta do que Max Weber aVla trabalhado. plificar e enrijecer. A cultura. Peter Frye Maurizio Gnerre. . Tomemos a etnicidade. como. Inventou-se 0 conceito de acultura<.a de ra<. a.ao meter a algo fora dela. conservar na diaspora por muitas gera<. de falar com os romanos.ao. que se julgava ser urn cadinho de ra<.ou-se a perceber que a etnicidade vi.ao poHtica. A • • d esco ertas e as eslta<. Mas essa nao e agora a questao. forma de organiza<.e os d ~ .ao arraigada de cada homem com ao mesmo tempo a se acentuar. mas ad quire uma nova fun<.. Db' ue eram formas de orgamza<. A cultura original de um grupo etmco. q . ela E.uma sOCiedade e seus membros sobrevivem de urn Sill!. e acusava-se as outras. essencial e qu~ se. no C ana d'a. tornando-se mais visivel. 0 ha bastante tempo: de que as comunidades etnicas podiam ser for- d b h . olhando-se a volta. Na Ir 1an d a. ~omo cultura era adqumda. nao se trata em Roma de falar como 1 'f' ~ Ih . e claro. nero so .6es culturais quanto na diaspora.ao de uma na<. e 'd s sobre a etnicidade. 'd~de podia ser uma linguagem. como os enge. para mas . ~ d enum.ao do mund?. como 0 complexo de Edipo e outros peea.os. . OIel a A a a etnICI a e. reduzindo-se a um numero menor de tra<.. Be'1glca. esco nu-se que a et- a lscussao a questao da cultura. e e esse meio mais amplo que fornece os qu~dr?s e as t ~ao se t~ata so. pois a sua historia enquanto objeto de reflexao rep dtenho .a. . na . ao contrario.' cuItura Imente marcada em urn mundo significante. l' . Quando os negros do Cafundo. P~IS como e e~m ele f?l.oes eflclentes para reslstencla ou conqUlsta e espa<. Na diaspora ou em situa<. Ora. Ess~ f?i urn problema de quan. grande parte das consegue co~servar a lingua. como vimos. usados sobre uma sintaxe dada pela nid ~d es etnIcas . ease sim- sua eu~~ra .6es de intenso cantato.ao po ltlca.ao.mate~na. Acho que devena passar. Em lingua fossil testemunha de estados anteriores. (GI azer & MOYnI'h an 1963). ulativo da etnicidade. nao se perde ou se funde Africa das luras de independencia e pas-colonial. em um pnme1ro momento. b" • :r cu tura A' • • veIQ su SUtUlr-se a de ra<.a. 0 e as romanos.uma sociedade e seus membros tern de sobreviver . Nao YOu Ira cO ha havia mOVlmentos separaustas de toda sorte. a Imgua e dlflCl1de se era tao apegado as tradi<.' . come<. no entanto. h .' . Fran<. • d' as vanas versoes essas duas correntes .ao. determina varios processos.er a Espan .para gaudio de alguns. a esta altura.ao sobre aUvldades de urn cidadao comum processava-se dentro de suas comu. ela so existe em um melO ma1S ample nhelros soclal.. U ma maneira de colocar a questao e indagar-se sobre a s b . E na UnIao .l lca<. (dai. ro Uz as eser1t .6es de contato mais intimo com na perda da dlversldade cultural e em cadinhos de ra<. mculcada e nao biologicamenre nifica que a etnicidade e Iinguagem nao simplesment~ no~senu~o de re- dada. uma gorava nos quatro cantos do mundo. posslvel pensar . A cultura tende amda e encontradi<. pois sac essas ten enClas multo atualS . e ~ara pesar de outros. resolu- d . a do contraste. perde sua plasticidade e se petrifica. constroi-se muitas vezes a distin<. A mafia seria apenas a mais nota ria dessas grandes empresas b ' I" a razao . a m. ge. quando nao se N?~a York.ao moderna. . seu exacerbamento em situa<. do Brasil. A norao de I ' mantp . Simples elementos de vocabulario. su stancia que ja foi pensada em termos bioI' .urn Iivro de Sahl' ar n . e que era a hidra do seculo xx. Foi 0 momento em que se sa lentou 0 carater OglCOS que po dl .e certamente 0 fOI .m~a. tena de ser redimida. E acreditava-se na benefica influeneia tornam diacriticos. longe de proceder em Roma como os romanos . outros grupos). mas no de permitir a camumca<.as e culturas.oes da antropologia estrategico pOrta de organiza<. d' • d ~ " nto. .os palses se vlram dlante da tarefa de constltUlr uma nacionalidade.s. Ou melhor. enquanto se torna cultura de contraste: esse novo pnnc1plO que o. as pensadas como lingua dominante. <. A ci d .a.0 admlravelmente. a~resce como urn empecilho a constitui<. No entanto. ehamado "tribalismo" de dificultar sua constru<. estudados por Car- mals racionais: 0 credito e 0 camercio utilizavam amplamente esses los Vogt. . A questao da lingua e elucidativa: a Hngua de um da~ cidades. fl" tns (19 G) sovleUca. ~ que sig- cu tura ~re. 'a ser uma retorica. alias.. • l' .os que se dos ongmals. emsuma. .a.ao seme ante a d~ ~o<. usam termos bantos sobre uma . trata-se.t~m a Em outras palavras. ~ igualmente em termo~ de religi?o que os ex-escravos de origem A constru<. <roesnovas ou nao oficiais.qu~1 a di. Polissemia que permite a existencia de uma cultura de Manda-se bus car 0 que e operativo para servir ao contraste. mas ela que transbordam das primitivas. Extraidos de seu contexto original. Ha aquela fall1o~ vas significados. seriam as religioes. precisamente para se com urn tipo de roupa.ao.a. a produ<.oes ou de "caboclo pena verde". embora. lagia. existe uma bagagem cultural.os culturais que irao garantir d' trabalharem com os regionais e fazerem festas de Sao Joao. E em sentido literal. sentido. ao fazer passar 0 outro pelo mesmo. cultura.ao etnicidade. seja pela ambiguidade dos primeiros ou pelo Talvez no Brasil tambem. socledade em que se acham inseridos. que mandam alguns de seus membros aprenderem maxakali em de uma tradi<. quentar a cabe<. se encontram por isso mesmo sobrecarregados de Agora.a e d Em suma.ao ideo- os mais ortodoxos dos mu<. ver [1977] 2004) a dinamica.ao metodologica que toma por foco as !unr. e e preciso perceber (como muito bem apontou Eunice anedota: . e faz da tradi<. de cultura que Ihe servia de substrato. ja que os sinais diacriticos deve a ma sim algo constantemente reinventado. Pois. mas religiao com religiao. mu<. Pois 0 significado de urn signo nao e intrinseco. nao obstante ostentem uma cultura forjada. a etnicidade faz da tradi<. estao fazendo precisa culturais.ao. Assim. a cultura nao e algo dado. extraidos Bahia. pradu<.oes que leva ram antropologos inte. tancia. dos demais.ao da identidade etnica extrai assim.ao: assim. seu esses homens. Portanto.ulmanos e animistas medida em que os elementos culturais que se tornaram "outros". tornarem diacriticos. os Pataxo sac indios porque assim se 1l10tore logica Ihe sac externos. . investido de no- poder se opor.aentre a Fran<. a cultura entre de modo essencial na Mas. Tudo isso leva a con. estrutura gramatical e sintatica portuguesa.ao cultural. e roupa com roupa. fora do todo em que foram criados. 13 deste volume]. Em outus palavras.r_en<. como Moerman e Barth. que se afirmam principalmente animistas na Bahia e sac sentido se alterou. consideram. sob a aparencia de serem identicos a si mesmos. dada ao initio.ao a que foram submetidos. precisamente Mas aqui surgem novos problemas: os aspectos que privilegia- criada para afirma-Io. a roup a que se ira escolher e tirada do guarda-roupa. Como tentei mostrar em outro artigo [cap.oes e com 0 perdao do trocadilho. Em suma. algo dilapidavel tambem. apenas se contrapoe. 'd a d e. 0 direito de decidir. por defini<. posto. elementos apenas nesse logro e nesse impasse: po is nao ha criterios culturais para tanto. para se afirmarem como indios. saber se os sinais diacriticos escolhidos sac puramente aleatorios. Foram essas considera<. ou melhor. po is os simbolos distintivos de grupos. nos Estados Unidos.ao para processos importantes nessa tres queijos e quatrocen~as religioes. tm~ao 0 grupo enquanto tal depende dos outros grupos em presen<.ao do discurso em que se encontra inserido e de sua estrutura.ulmanos em Serra Leoa.fe. . a etnicidade. a definirem adequadamente a iden. Quando 0 Ministerio do Interior quer se arrogar. a escolha dos tipos de tra<.ao nacional da feijoada e do samba. ll1ente ISS0: usan 0 e ementos dlspersos de uma Imgua.a e os Estados Unidos? E que n: Durham. da chamada tradi<. Deixemos de lado por enquanto a questao de rearranjo dos ultimos. e cujo e e considerado indio. ve-se privada de qualquer subs- racionistas. a outros de mesmo tipo. ' ' para manterem sua d'Istmtlvl voca b u Iano. A perspec- Fran<. na Nigeria. tanto quanto a no<. tidade etnica em termos de adscri<.ver 0 trabalho de clusao obvia de que nao se pode definir grupos etnicos a partir de sua Peter Fry (1977) sobre a apropria<. tornaram-se as pa. No limite.a ha tres rehglOes e quatrocentos queijos e nos Estados Unidos h' tiva que esbocei acima chama a aten<. cruamente. 0 que levaria a dizer que uma lingu:. d I' . eles' adquirem significa<. sac fre- Minas Gerais. recomposto. como tentou fazer em 1978. pelo de Lagos. '-d a IS. com dadas . abolida a ideia de uma cultura estatica. e indio quem se considera ela permanece ainda algo que nao se poe. podiam ate se vestir de comanches 1l10sprovem de uma op<. esta justamente incorrendQ . como veremos.ao: 0 uso de simbolos e de signos dados para promover significa- gem para se pensar as dlferen<. como relata Pedro Agostinho dos Pataxo do suI da isso nos dois sentidos.ao urn mito na radigmas de catolicidade entre os protestantes. nao se contrasta uma religiao rearranjo e simplifica<. ele- lOruba que voltaram do Brasil para a Africa Ocidental se distinguiram mentos culturais que.ao cultural e que podem servir para resistencia.2 Um barrete frigio nao e so para es- deve ser sucinta: nao se levam para a diaspora todos os seus pertences. nessa perspectiva tambem. ocultam 0 fato essencial de que. quem e e quem nao e mais indio. de Os Terena nao sac nem mais nem menos indios por terem um vereador. . E isso ate resistencia operando com urn discurso que e propriamente refratado. quentemente abocanhados em urn discurso oficial . mas fun<.as. dado na ordem das coisas. quando afirma que "as reali- I dades ideacionais aparecem nao como efeitos no pensamento de relas:6es 3· Poderao ser tambem varios desses tra~os ao mesmo tempo. Ha quem tente nos convencer grupos que "funcionam" como grupos poHticos e/ ou economicos.dominavam os seus irmaos mais jam. Ora de que a questao "racial" se dissolve na de classe.que 0 vocar uma inercia. sobrepon- o segundo problema. alias. levada a in. imprevisiveis. este sistema. esse recurso a cultura. A tradis:ao. as ideias . em seu livro Preto no branco. remonta a Arist6teles. ligado a nao e ainda uma determinas:ao positiva. na ras:a. mas como urn de seus componentes internos necessarios. mente seu pape!. condis:ao tanto de sua formas:ao quanto de sua reprodus:ao" (1977: 35-37)· 4· E 0 que Levi-Strauss evoca sob 0 nebuloso nome de "fun~ao secundaria". eventualmente reconstruindo-os. mais amp la. certamente 0 e. que se manteria o verdadeiro problema. ou mui. Porem. por exemplo. Seja. a no- amigos de bairro tomarem significas:6es e alcance inesperados. Hnguas ou dialetos. por meio de oposis:6es. portanto. uma permanencia das formas culturais. ria. tanto de tais orga- primeiro passo. por exemplo. cuja funs:ao estava inscrita em sua natureza. embora confira seu sentido aos processo. a de vermos. correlas:6es etc. instituis:6es como a Igreja ou sociedades de Isso e legitimas:ao em seu sentido classico. no entanto. Mais frutifera. da democracia racial com os da democracia tout court. 0 considerarmos essa dinamica cultural. Levi-Strauss [1958] 2008: 26). E portanto su- que as propriedades que evidenciamos no fenomeno decorrem. "natural". Novo residuo. desempenhadas pel a etnicidade. talvez seja a legitimas:ao. Vimos que a questao de saber quais os uma ideologia. veremos da identidade etnica como autoconsciencia de grupos. no momento.. dadas na biologia. e nao e portanto operat6- religiao. e como funcional nao da conta da redundancia que entao se introduz. e Tratemo-los por ordem.3 Mas essa dependencia que limita as ops:6es possiveis plicas:6es usuais da nos:ao de ideologia. Mas essa caracterizas:ao abrange as quais poderao se con trap or e organizar em sistema. os dominantes . E verdade que esse pressuposto poeira. residuos rio. com e organizar 0 mundo. 0 do uso da etnicidade. Sup6e alias. nos:ao da legitimas:ao sup6e que. elementos que 0 comp6em. expulsando. como 0 faz Godelier. Se observarmos 0 argumento. sua identidade etnica. a etnicidade parece a primeira vista cumprir adequada- residuo que e 0 quinhao de uma abordagem estruturalista. embora se. evolucionismo permitiu resultados analogos na medida em que a desi- Strauss objetou aos funcionalistas: os tras:os culturais selecionados por gualdade era agora reificada sob a especie de uma diferens:a temporal: urn grupo ou fras:ao de uma sociedade nao sac arbitrarios. <raode que a legitimas:ao e algo aposto aquilo que deve legitimar. por mente. poderao ser roup as caracteristicas. em geral. pelo contra- para tais conteudos. ao cido para serem escravos.e Dumont expressa-o muito bem . no entanto. Nesse turado de significantes. podemos parafrasear 0 que Levi. Como isso operou. mas em que sentido? tras:os diacriticos que serao reals:ados para marcar distins:6es depende No sentido muito lato de urn modelo mental usado para interpretar das categorias comparaveis disponiveis na sociedade mais amp la. que afirmava que os barbaros tinham nas- nao determina. Seu atributo primeiro. Ou seja. Resignemo-nos epistemologicamente e novos. sac uma categoria legitima. a razao de se escolher precisamente a etnicidade como veiculo exemplo. e nessa negas:ao da com tais determinas:6es. A "apenas devido a resistencia do grupo a renunciar a urn hahito" (Cf. Ambos problemas de formas. 0 que e socialmente arquitetado. os negros como uma falsa categoria. Nesses termos. dois niveis pelo menos permanecem indeter~ especificidade da questao etnica conjugam-se as vezes os defensores minados: 0 de quais tras:os diacriticos serao selecionados e. as desigualdades acabavam inseridas na natureza. numa sociedade de classes. inteiramente esses elementos. Poderao ser a praticamente qualquer conjunto de ideias. em um bentende juizos de valor e quest6es de legitimas:ao. J a foi visto .4 racismo do seculo XIX permitia 'operar a equivalencia entre diferens:as Se tais formas culturais situam-se dentro de urn sistema estru. das "necessidades" de estabelecer fronteiras claras para nizas:6es quanto de estudos sobre elas.irmaos mais velhos . no en tanto. e novamente uma perspectiva sociais. Os indios. a primeira vista. escreve Cardoso inevitaveis em qualquer explicas:ao funciona!' de Oliveira (1976). na medida em que toca diretamente na questao da adequas:ao pode ser abandonado. E tivemos de recorrer entao a questao da reprodus:ao da sociedade. 0 tomar ideia de urn "acervo cultural" do qual se retiram esses tras:os diacriticos. como a de qualquer grupo. levanta muito mais do-se a uma realidade ja dada de antemao. e desigualdades dadas na sociedade. parece ser a consideras:ao das im- tas outras coisas. na intelligentsia brasileira foi alegremo-nos com as surpresas que essa imponderabilidade nos reserva: hem comentado por Skidmore. nao me parece estar at. na medida que constituia 0 principio e 0 mais verdadeiro: seria uma simples questao de anterioridade? 0 organizatorio das rela<. seja como uma sobre.ao teorica. Talvez entao. possam nao ser falsas. Mas que fazer com 0 processo que. como explicar fenomenos de vivencia arcaica. que seriam fragmenta. 56). se: urn poderoso veicul? organizatorio: como cativo dessa dificuldade que urn antropologo sovietico (Bromley 1973.6es de produ<. ficada de cultura. parece totalmente ficticia. seja por ultra. fundada no religioso. ibid. Tentei mostrar. nao e porque os problemas de protesto.: 29. certamente 0 e.ao que as motiva? Isso introduz 0 outro tes porque assumiam as fun<. em uma sociedade. enquanto vestigio de idades revolutas.6es. se conceito Nao que nao se reconhe<.ao que houver.6es e praticas.as dad as na cultura introduz desigualdades no sistema? Seria 0 Esse e.6es de produ<. com 0 dominio do economico se- sociedade socialista ou em sociedade capitalista. como sugere Eunice Durham. 0 seu carater ilu. por exemplo. parado em institui<.6es. destinada apenas a garantir os li- Entao? Em que sentido etnicidade seria ideologia? No sentido mites de urn grupo privilegiado em seu acesso a recursos economicos e. guindo Marx .6es sociais . como mais verdadeiras. ela pode ser a ar- apud Dunn 1975-76) tenha apelado para uma no<. ilusorio? Resta porem urn problema. etnicidade e nacionalismos. pre-politico. Opor tambem 0 carater sistema. redes comerciais com 0 interior e se assegurarem 0 monopolio do co- tico e organizado da ideologia as representa<.ao in. A economico se acha imbricado em outras institui<.ao. deva ser usado mais estritamente. respectivamente. verdadeiras do que outras. mercio com a Bahia. Ela caso. 0 religioso. Pode dar conta. 0 parentesco fossem dominan- mulariam a verdadeira articula<.ao (id. a .a-Io. mas talvez. mostrando que certas ideias parecem ser mais referiamos: mais do que urn conceito. tambem do racismo: as de. o clientelismo ao qual esta quase sempre assoclada. Mas vejam que isso nao diz qual dos dois. escravos nagos que voltaram do Brasil para sua terra de origem usaram Criterio insuficiente esse da legitima<. ~e :tatus pessoal e de poder se colocassem mais fortemente la do que sigualdades dadas no sistema sac convertidas em diferen<. 0 politico. no artigo a que me Ou melhor e num outro plano.am form as distintas de organiza<. e ai voltamos por caminhos tortuosos ao tema inicial portanto. seja por nao alcan<. para se poder suas varias identidades de brasileiros e de iorubas para organizarem apontar a etnicidade como ideologia. que os ex- analise na existencia de uma cultura comum. de organizar as rela<.6es politicas funcionavam em Atenas como natureza. a diana. bras diversionistas destinadas a of us car a consciencia de classe? passa-Io.ao tao pouco fecunda da ideologia como prefigura<. ou na grega. Va la.ao.as dadas na alhures. referi. tenta palavra ideologia assemelhava-se antes aos sinais diacriticos a que nos levantar essa dificuldade. ma<. Nao que deva ser abandonado. inversamente. ideia fora de seu tempo.6es de produ<. Voltariamos entao a no<. se. 0 outro ou 0 mesmo. lato de fazer passar 0 outro pelo mesmo.6es claras e delineadas."Iinguagem e pensamento" . Nesse caso. mas porque as rela<. seja como urn modo inadequado. apresentando-se a consciencia acima. fund ad a no politico -.ao interna das rela<. e parece-me signifi_ pode. Tal como vinha sendo invocada. e algo que dificilmente antropologos poderiam hoje sustentar. precisamente como vim os. as rela<. Mas em etnicidade e entao apontada. era urn sinal de filia<. de rei.ao extremamente rei. ambos os significados seriam ilusorios. a respeito da cultura. dependendo de onde se manifesta. das etnias da Uniao Sovietica. produ<.ao de consciencias mais ajustadas. a identidade assumida de "brasileiro" rias. como vimos.ao. por exem- culturas de resistencia que enfatizam diferen<. portanto. introduzindo 0 conceito de ethnos. Em ambos os casos.que ad mite principios especificos na organiza<.as culturais como formas qlo se 0 politico e dominante na polis grega. Ele afirma que sac dominantes e aparecem.devamos chegar. significado original seria real enquanto 0 novo seria erroneo. como ja vimos se seguirmos 0 argumento de Godelier. que dissi. construida. em sociedades como a polis grega. A tese de Godelier. outro aspecto da etnicidade. em que 0 sorio. de ideologia para pensar a etnicidade que me parece infecundo.6es de produ<. e com ele a espinhosa questao de saber para quem e ilusorio. legitimadoras beneficiem interesses de classe.6es sociais base ad as na etnicidade. em muitos casos. a nao ser vendo neles retrocessos ou mano- vindica<. em sociedades pre-capitalistas. nao ser "ilusorias": Godelier.ao. por exemplo. nos dirao.ao (1977: 53)· Assim. falsa consciencia? N a verdade. e que. diferen<. por exemplo.6es de armar. como uma categoria "verdadeira". fund ado em ultima em outro lugar (e nas pegadas da analise de Abner Cohen). a partir de rela<. se em sociedades capitalistas ou socialistas. na India e na Australia enquanto se referem a rela<.6es de criterio habitual para se desmascararem ideologias. Isso pode dar COnta de ue funcionam como rela<. e 0 proprio usa do conceito. :a. isto sim. Ou seja. nativas como ela.:ao de grupos. quer por ela constituida: na verdade. Mas as obje<. eram considerados secundarios quando nao rior ou aposta. Como Dalmo Dallari enfatizava a epoca.:6es. Tres pe~as de circunstancia sobre entraria em uma categoria separada de fen6menos.:aode ideologia em suas varias acep<. Os custos ambientais e sociais. 0 projeto voltou varias vezes sob Parece-me que ficou claro que a etnicidade. categoria analitica. Nao ha que envolvia a mesma problemittica de etnicidade.:ao e dissolvido . Os tres artigos reunidos aqui. como os Estados V nidos outro alcance: 0 de lembrar 0 respeito que cada pais deve a diversidade haviam feito no seculo XIX. cultural dos povos que 0 comp6em.depen- Portanto. Mas essa perspectiva acarreta tarn- bem que a etnicidade nao difere. a etnicidade nao seria uma dia do Ministerio do Interior. o recurso a no<. nao decorre que essa linguagem em sivel. que seriam postas no mercado. os indios em particular. alias.:ao de fe ou de genealogias compartilhadas. di-lo de certa maneira. substitui<.:ao politica: essa perspectiva tern sido muito fecunda e tern levado a considerar a cultura como algo constantemente reelaborado. do foi provocado por uma disputa legal em torno dos Pataxo Ha-ha-hae tencia. e que portanto poderia ser considerada ern si neutra. N a realidade.:ao flagrante colocar urn orgao que devia defender sociais para os quais ela e relevante.0 que andei dizendo. que the seja exte. en. para a popula<. 0 protesto. isto e. destino que. nao mais que esses outros grupos. era 0 "desenvolvimento". despojando-se entao esse conceito do peso constituinte de que ja foi revestido. os direitos dos indios sob a autoridade de urn ministerio cuja missao ca-la como tern sido feito. Apesar de engavetado em 1978. usada por agentes era uma contradi<. em tons diferentes a urn mesmo debate. Isso posto. Recapitularei urn pouco . acusado de corrup<. tendo em vista quao pouco elucidativo e "empecilhos para 0 desenvolvimento".:ao em geral e para que se expressa a etnicidade se reduza a uma retorica. quer aleatoria.:ao ao antigo SPl.:ao. .e-se conduzido a As terras indigenas e 0 usufruto exclusivo de seus recursos pelos admitir uma categoria irredutivel. de ou. como qualquer forma de fo rmas pouco diferentes. a resis.:6es que levantamos tern tambem eram as terras.:ao se deu em reivindica<. Para levan tar 0 embargo legal Isso nao significa devolver ao conceito de cultura urn significado sobre as terras indigenas. apud Dunn 1975-76: 68). entendido da forma mais predatoria pos- rias. Pois nao hit 0 que indios gozavam de prote<. nessa epoca. e uma forma importante de protestoS 1980 e foi nessa ocasiao que publiquei 0 primeiro destes textos.:ao cuja rnagnitude surpreendeu a todos.nao sera inutil .:ao de cunho cultural. do ponto de vista organizatorio. que seria a cultura.criada em quanto na etnicidade se invocam uma origem e uma cultura comuns. dada simultaneamente. Tentei mostrar que a etnicidade pode ser mais bem entendida se vista em situa<. como simplesmente ignorados: assim se entende que. ha quem 0 fa<. menos a 1978. politi- sustenta Godelier. Vma das tentativas de ressurrei<.:ao constitucional e 0 governo manifestava determine 0 como as coisas sao ditas: nesse reduto hit misterio. em virtude de uma oposi<. orgulho de sua legisla<. nao pertencendo nern direitos dos indios a base nem a superestrutura.:ao Nacional do Indio (Funai) . num sentido de classe (Stalin 1975. de que esta 15. A Funda<. com a cos e militares pudessem abertamente declarar que os indios eram realidade que expressa.uma conclusao analoga a de Stalin a respeito da linguagem. se complementam e respondem parentesco. 0 segun- eminentemente politicos. e creio ter sido urn equivoco reifi.Mas 0 que ela diz. cuja historia remonta pelo nesses casos uma assun<. dois deles publicados na grande impren- tras formas de defini<. Difere. na retorica usada para se demarcar 0 grupo. Talvez ate acabe sendo os indios ditos aculturados. a linguagem e conata. Reconhecer 0 que ela diz. partilha com outras catego. imaginou-se urn expediente: era so emancipar ontologico e 0 peso determinante que ja teve. tais como grupos religiosos ou de sa e urn em uma coletfmea de textos. 0 que se tentava emancipar uma categoria residual. mas uma categoria "nativa".:ao indigenista.como uma forma de organiza<. por que pensar que essa maneira seja urn balbuciar.