1001076656KAREN A. MINGST PRINCÍPIOS DE RELAÇÕES I N T E R N A C I O N A I S Tradução Aríete Simille Marques Revisão Técnica Janina Onukí Instituto de Relações Internacionais da USP Do original: Essentials of International Relations Tradução autorizada do idioma inglês da edição publicada por Norton e Company, Inc. Copyright © 2008, 2004, 2002, 1999 by W. W. Norton & C o m p a n y , Inc. © 2009, Elsevier Editora Ltda. - - Todos os direitos reservados e protegidos pela Lei n^ 9.610, de 19/02/1998. N e n h u m a parte deste livro, s e m autorização prévia por escrito da editora, poderá ser reproduzida ou transmitida sejam quais forem o s meios empregados: eletrônicos, mecânicos, fotográficos, gravação ou quaisquer outros. Copidesque: Ivone Teixeira Revisão: M a r c o Antônio Corrêa Editoração Eletrônica: Estúdio Castellani Elsevier Editora Ltda. R u a Sete de Setembro, 1 1 1 - 1 6 = andar 20050-006 - Centro - Rio de J a n e i r o - R J - Brasil Telefone: (21) 3970-9300 Fax: (21) 2507-1991 E-mail: i n f o @ e l s e v i e r c o m . b r Escritório São Paulo R u a Quintana, 753/8= andar 04569-011 - Brookiin - São P a u l o - S P Tel.: (11)5105-8555 I S B N 978-85-352-3153-3 Edição original: I S B N 978-0-393-92897-6 Nota: Muito zelo e técnica foram e m p r e g a d o s na edição desta obra. N o entanto, p o d e m ocorrer erros de digitação, impressão ou dúvida conceituai. E m qualquer das hipóteses, solicitamos a comunicação à n o s s a Central de Atendimento, para que p o s s a m o s e s c l a r e c e r ou encaminhar a questão. N e m a editora nem o autor a s s u m e m qualquer responsabilidade por eventuais d a n o s ou perdas a p e s s o a s ou bens, originados do uso desta publicação. Central de atendimento Tel.: 0800-265340 R u a S e t e d e Setembro, 111,16° andar - Centro - R i o d e Janeiro e-mail:
[email protected] site: www.campus.com.br C I P - B r a s i l . Catalogação-na-fonte Sindicato Nacional d o s Editores de Livros, R J M576p Migst, K a r e n A . , 1947Princípios de relações Internacionais / Karen M i n g s t ; [tradução Aríete Simille Marques], - R i o d e Janeiro : Elsevier, 2009. il. Tradução de: Essentials of International relations, 4th e d . I S B N 978-85-352-3153-3 1. Relações internacionais. I. Titulo. 08-3458. C D D : 327 C D U : 327 o contexto histórico das relações internacionais contemporâneas Quais períodos históncos mais influenciaram o desenvolvimento das relações internacionais? Quais são as origens históricas do Estado? i A Por que o Tratado da Westphalia é usado como um padrão de comparação para os estudiosos das relações internacionais? Quais são as origens históricas do sistema europeu de equilíbrio de poder? Como a Guerra Fria pôde ser uma série de confrontações entre os Estados Unidos e a União Soviética e uma "longapaz"? Quais fjram os eventos essenciais que moldaram o mundo pós-Guerra Fria? l studantes de relações internacionais precisam entender os eventos e tendências I do passado. Os teóricos reconhecem que os conceitos essenciais da área - Estado, .inação, soberania, poder, equilíbrio de poder - foram desenvolvidos e moldados por circunstâncias históricas. Os políticos pesquisam o passado em busca de padrões e precedentes para guiar as decisões contemporâneas. Grande parte dos antecedentes mais importantes do sistema internacional contemporâneo encontra-se na civilização ocidental centrada na Europa. Grandes civilizações prosperaram em outras partes do mundo também, é claro: índia e China, entre outras, eram civilizações extensas e vibrantes muito antes dos eventos históricos que estudaremos a seguir. Mas a ênfase na Europa justifica-se porque as relações internacionais, na teoria e também na prática, por bem ou por mal, têm suas raízes na experiência européia. Neste capítulo, estudaremos em primeiro lugar o período anterior a 1648 (um ano seminal para estudantes de relações internacionais), em seguida o mundo pós-westphaliano depois de 1648, então a Europa do século X I X e, por fim, as importantes transições ocorridas no século X X . A finalidade dessa revisão histórica geral é remontar às origens de importantes tendências ao longo do tempo - o surgimento do Estado e da noção de soberania, o desenvolvimento do sistema internacional de Estados e as mudanças na distribuição de poder entre os principais Estados. Essas tendências causam um impacto direto na teoria e na prática das relações internacionais de hoje. E participantes juridicamente iguais e soberanos do sistema internacional. Com a autoridade secular veio o princípio que proporcionou o alicerce para as relações internacionais desde então: a noção da integridade territorial dos Estados . C . os Estados cultivavam relações econômicas e comerciais entre Grécia. como catalogado por Tucídides na História da Guerra do Peloponeso.16 I PRINCÍPIOS DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS O mundo pré-westphaliano Muitos teóricos das relações internacionais marcam o início do sistema contemporâneo em 1648. o ano do Tratado da Westphalia. O sistema grego de cidades-Estado. estavam no auge de seu poder em 400 a. que encerrou a Guerra dos Trinta Anos. Grécia e o sistema de interações cidade-Estado Os gregos. cada um. 4 5 0 a . organizados em cidades-Estados independentes. . o Império Romano e a constante variação entre centralização e descentralização da Idade Média são. e dedicavam-se à clássica política do poder.C. desenvolvimentos essenciais que levaram à nova ordem westphaliana. Enquanto os militares das grandes cidades-Estados lutavam. Esse tratado marca o final do domínio da autoridade religiosa na Europa e o surgimento de autoridades seculares. tribos. Ado- O Império R o m a n o . a própria palavra império. C .. C ) . vem da experiência romana. . Roma: o governo de um império A certa altura. reinos e Estados .. O Império Romano serviu como precursor para sistemas políticos mais amplos.cada qual uma unidade independente . abrangendo grande parte da Europa. do latim imperium. Esse ambiente claramente promoveu o florescimento da forte tradição filosófica de Platão e Aristóteles.cultivavam relações pacíficas entre si e. disseminando a língua latina até os confins do império. I 17 si em um grau sem precedentes. disputavam o poder . Os líderes impunham várias formas de governo. ao mesmo tempo. o Oriente Médio e o norte da África. Nesse ambiente.C. que estudamos no Capítulo 1. Seus líderes impunham ordem e unidade pela força em uma grande extensão geográfica. as cidades-Estados . de procònsules romanos a burocratas e administradores locais.precursor do moderno sistema de Estados.o C O N T E X T O HISTÓRICO D A S RELAÇÕES INTERNACIONAIS. as porções mediterrâneas da Ásia. De fato. Após conquistarem povos longínquos e diversos. muitas das cidades-Estados gregas foram incorporadas pelo Império Romano (50 a. os líderes romanos tratavam de manter as várias unidades .dentro de sua esfera de influência e garantir que as fronteiras fluidas do império permanecessem seguras contra as hordas bárbaras do norte e do leste.-400 d . 117 d . a autoridade estava centralizada em Roma (e em seus agentes. Em particular. não apenas entre as elites. Marco Túlio Cícero (106-43 a. dispersos por toda a Europa medieval) ou no feudo local. davam aos governantes locais considerável autonomia para organizar seu próprio domínio. estendendo-se do Oriente Médio e Pérsia à Península Ibérica. Assim.18 I PRINCÍPIOS DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS tavam a prática de conceder cidadania romana a povos livres em toda a extensão do império e. o próprio Império Romano e os escritores que gerou forneceram o alicerce para uma entidade geográfica mais ampla cujos membros. A primeira foi a civilização árabe. Os filósofos romanos forneceram as escoras teóricas essenciais ao império. ao mesmo tempo. No final do século VIII. o poder e a autoridade tornaram-se descentralizados na Europa. mas outras formas de interação floresceram: viagem. Unida sob o domínio religioso e político do califado islâmico. onde. as línguas e culturas proliferavam e as redes de comunicação e transporte desenvolvidas pelos romanos estavam começando a se desintegrar. passando pelo norte da África. três civilizações tinham emergido dos escombros de Roma. Os senhores feudais exerciam controle sobre vassalos que trabalhavam para eles em troca do direito de trabalhar a terra e receber proteção. embora conservassem identidades locais. Mas essa lei entre nações não impediu Cícero de oferecer mais conselhos práticos aos líderes de Roma: ele enfatizou a necessidade de manter a segurança do Estado expandindo recursos e fronteiras e. a autoridade central não existia. praticamente todas as outras instituições eram de origem local e prática. bem como à futura teoria das relações internacionais. garantindo a estabilidade interna. os bispos. comércio e comunicação.) ofereceu um mecanismo para unir as várias partes do império. No ano 1000. O feudalismo. Grande parte da Europa Ocidental reverteu a domínios feudais controlados por senhores e vinculados a feudos autorizados a elevar impostos e exercer autoridade jurídica.^ Acima de tudo. estavam unidos por meio da centralização do poder. com a derrocada do Império Romano. o monopólio do poder pela Igreja foi desafiado por Carlos Magno (742-814). mas também entre grupos de mercadores e cidadãos comuns. apesar de sua fidelidade abrangente à Igreja. pela língua árabe e por seus talentos técnicos e matemáticos avançados. a civilização árabe era uma força potente. que colocava a autoridade na mão de particulares. que possuía a maior expansão geográfica. foi a resposta à desordem predominante. Ainda assim. A segunda foi o Império Bizantino. ao mesmo tempo. A terceira foi o restante da Europa.C. mesmo os bispos detinham considerável autoridade independente. Ele propôs que os homens deveriam ser unidos por uma lei entre nações aplicável à humanidade como um todo. A Idade Média: centralização e descentralização Quando o Império Romano desintegrou-se no século V d . Carlos Magno recebeu . Poder e autoridade estavam localizados em níveis diferentes e sobrepostos. A instituição preeminente durante o período medieval na Europa era a Igreja. C . A vida econômica também era intensamente local. o líder dos francos onde hoje é a França. localizado mais próximo do núcleo do antigo Império Romano em Constantinopla e unido pelo cristianismo. O s três impérios d o início d a Idade Média . A atividade comercial expandiu-se para áreas geográficas . O Japão representou outro país onde a centralização veio após um período de conflito armado e autoridade descentralizada. Carlos Magno lhe ofereceu proteção. seguida por fazendeiros. a partir de 1200. integração e desintegração política também estavam ocorrendo em outras áreas geográficas. Na África. por exemplo. de 1603 a 1868. na América Latina. não era nem muito sagrado nem muito romano e nem muito império. em grande parte desconectadas umas das outras. no Tratado de Westphalia. A luta entre autoridade religiosa e secular e o debate sobre qual deveria governar continuaria por centenas de anos e. o antigo Reino de Gana (não confundir com o Estado contemporâneo) centralizou o poder entre os séculos V e XIII. comandado pela casta guerreira dos samurais. serviram para impedir o estabelecimento de uma autoridade governamental centralizada. Contudo. os sucessores de Carlos Magno deram à Igreja uma alternativa secular limitada. O Sacro Império Romano em si era uma instituição secular fraca. Tendências semelhantes de centralização e descentralização. Ao passo que os séculos X V e X V I foram caracterizados em grande parte por tumulto. alguns escritores externavam suas visões sobre o assunto. e nos séculos XIII e X I V o Reino de Mali prevaleceu. em cada região. e os astecas e incas. Embora ocorressem inquietudes e violentas confrontações em razão das condições econômicas desiguais.os maias.^ Essa questão só foi resolvida trezentos anos mais tarde. nos séculos seguintes. floresceram civilizações independentes . com populações dispersas. Eram poderosos territórios políticos e econômicos. nenhum desses eventos representou uma ameaça direta ao sistema feudal estabelecido. E. artesãos e comerciantes. Essas pequenas unidades. do outro lado do globo. que argumentou em Sohre a monarquia que deveria haver uma separação estrita entre a Igreja e a vida política. comerciando ouro e sal com seus vizinhos árabes.ZO I PRINCÍPIOS DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS autoridade para unir a Europa Ocidental em nome do cristianismo contra o Império Bizantino no leste. Durante o período Tokugawa. de 100 a 900. Idade Média tardia: desenvolvimento de redes transnacionais na Europa e além Embora o debate intelectual ainda não estivesse resolvido. foi a intervenção dos europeus que. periodicamente. Ambos eram impérios com exércitos permanentes. mas designavam governantes tradicionais para os distritos longínquos. o papa o sagrou imperador do Sacro Império Romano. tinham sofisticados sistemas de arrecadação de impostos e serviam como importantes centros comerciais para os muçulmanos do norte da África. Em troca. Contudo. desafiou essa ordem. diversas e fragmentadas. o Japão foi comandado por um shogun. como diz uma famosa citação. Ainda assim. seguiu-se um período de duzentos anos de controle mais centralizado. as contradições permaneciam: o desejo de universalismo da Igreja contra a realidade medieval de pequenas autoridades. U m desses escritores foi Dante Alighieri (1265-1321). Foi um período de estrita hierarquia de classe. depois do ano 1000 as tendências seculares começaram a solapar a descentralização do feudalismo e a universalização do cristianismo na Europa. cuidando da expedição de artigos comerciais e até mesmo concordando em seguir certas práticas diplomáticas para facilitar as atividades comerciais.estabelecimento de embaixadas com pessoal permanente. Novas tecnologias. mas também proveram a primeira infra-estrutura elementar de suporte para economias agrárias. As municipalidades. I 21 maiores à medida que os mercadores comerciavam ao longo de rotas de transporte cada vez mais seguras. Milão. como as revigoradas cidades-Estados do norte da península itálica . estabeleciam relações comerciais montando locais de encontro em áreas estratégicas. não somente facilitaram a vida diária. Essas mudanças econômicas e tecnológicas levaram a mudanças fundamentais nas relações sociais. Todas as formas de comunicação melhoraram.uma comunidade transnacional de negócios .cujos interesses e existência estendiam-se para além de sua localização imediata. como moinhos de água e moinhos de vento. Esse grupo adquiriu mais experiências cosmopolitas fora do reinado da Igreja e de seus ensinamentos. Essas práticas diplomáticas . Em primeiro lugar.Gênova. Florença .. que até então tinham dominado a educação com tanta Europa. 1360 ..o C O N T E X T O HISTÓRICO D A S RELAÇÕES INTERNACIONAIS.foram as precursoras imediatas da prática diplomática contemporânea.. envio de cônsules especiais para dirimir questões comerciais e envio de mensagens diplomáticas por meio de canais especialmente protegidos . Veneza. surgiu um novo grupo de indivíduos . Indivíduos da elas executam funções cooperativas por Espanha e Itália estavam entre os meio de diplomacia e da clássica política primeiros desses aventureiros . a cisão entre a religiosidade dos tempos medievais e o humanismo do final da Renascença foi cruamente esboçada. territorial européia. Os membros individuais desenvolviam novos interesses pela arte. e Aragão e Castela na Espanha. adquiriam considerável riqueza econômica. e porém pennite alguma identidade local. ilustra as mudanças que ocorriam e o fosso que resultou entre o mundo medieval da Igreja e as instituições seculares. Em segundo lugar. desenvolvendo a Mundo em 1492. à medida que exploradores e até mesmo colonizadores acorriam ao Novo Mundo. Hernán Cortez prática da expansão do alcance territorial. Ele argumentou que. poração gradual das áreas periféricas subdesenvolvidas à economia capitalista mundial e ao sistema capitalista internacional . descontentes com os impostos cobrados pelos novos Estados emergentes. tóvão Colombo viajou para o Novo O império Romano (50 a. os líderes devem agir no interesse do Estado sem acatar nenhuma regra moral.-400 d.^ O desejo de expandir ainda mais Enn F o c o as relações comerciais. Maquiavel elucidou as qualidades de que um líder necessita para manter a força e a segurança do Estado.que marcam o início da história relevante para as relações internacionais contemporâneas. Novos monarcas precisavam . a civilização européia espalhoupolítica e econômica. Desse modo. O movimento em direção à centralização não ocorreu sem protestos. O filósofo italiano Nicolau Maquiavel (1469-1527). Maquiavel conclamou os líderes para que articulassem seus próprios interesses políticos. não havendo nenhuma moralidade universal para guiá-los. Pizarro para os Andes em 1533.C.a incordurante a era da exploração. aliado às invenções tecnológicas que tornaram DESENVOLVIMENTOS DECISIVOS ANTES DE 1648 a exploração oceânica mais segura. ao mesmo tempo. Percebendo que o sonho da unidade sob o cristianismo era inalcançável (e provavelmente indesejável). Em O príncipe.) origina o imperialismo. Para alguns A Idade Média tardia (1000-1500) promove o desenvolvimento de redes transnacionais teóricos são esses eventos .Crisdo poder. Inglaterra. Durante essa era de explorana igreja.. a velha Europa continuava em fluxo.C. o feudalismo estava sendo substituído por uma monarquia cada vez mais centralizada.22 I PRINCÍPIOS DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS abrangência. rebelaram-se e provocaram distúrbios. mais do que qualquer outro escritor. e encontraram sustento e revelação intelectual no pensamento grego e romano. com descentralização na vida ção. filosofia e história e. Francisco O império é unido pela lei e pela linguagem. Em alguns lugares decisivos como França. Eles acreditavam em si mesmos e tornaram-se os individualistas e humanistas da Renascença. se para terras distantes. as massas.C. Nos anos 1500 e 1600. alimentou um período de expansão A soberania das cidades-Estados gregas atinge o auge de seu poder em 400 a. escritores e outros indivíduos redescobriram a literatura e a história clássicas. A Idade Média (400-1000) testemunha todos eles destruíram as ordens indía centralização da autoridade religiosa genas. para o México em 1519. Para Bodin. Em primeiro lugar.um conceito fundamental nas relações internacionais contemporâneas . Isso significava que eles. por isso. O Sacro Império Romano estava morto.. cada monarca ganhava autoridade para escolher a versão do cristianismo para si mesmo ou para seu povo. lutaram batalhas e sobreviveram por meio da devastação da população civil. autocracia ou democracia. é perpétuo. contratos com promessas feitas ao povo da comunidade e tratados com outros Estados. e usavam esses exércitos para consolidar seu poder interno e conquistar mais território. Os líderes são limitados pela lei divina ou pela lei natural: "Todos os príncipes da Terra estão sujeitos às leis de Deus e da natureza. introduziu o direito de não-interferência nos assuntos de outros Estados. os líderes tinham visto os efeitos devastadores dos mercenários que lutavam nas guerras."as leis constitucionais do reino" . O tratado não somente legitimou a territorialidade e o direito dos Estados de escolherem sua própria religião. Em segundo lugar. Bodin forneceu o adesivo conceituai da soberania que emergiria do acordo westphaliano. e não a Igreja. I 23 dos impostos para montar exércitos.^ Embora absoluta. o Tratado da Westphalia adotou a noção de soberania. Mas o tratado que pôs fim ao conflito causou um profundo impacto na prática das relações internacionais.^ Não reside em um indivíduo. embora não haja um árbitro supremo nas relações entre Estados. A Guerra dos Trinta Anos (1618-1648) devastou a Europa. mas também estabeleceu que os Estados poderiam determinar suas próprias políticas internas livres de pressão externa e com total jurisdição dentro de seu próprio espaço geográfico. portanto concordaram em não lutar nem em favor do catolicismo nem em favor do protestantismo. praticamente todos os pequenos Estados da Europa central conquistaram soberania. os líderes procuraram . Com uma penada. Grande parte do desenvolvimento da noção é encontrada na obra do filósofo francês Jean Bodin (1530-1596). os exércitos pilharam o panorama da Europa central. seja ele monarquia. Assim." Também são limitados pelo tipo de regime . Soberania é "a marca distintiva do soberano que não pode. Em vez disso.*" Assim. de modo algum. revoga uma lei já existente e emenda leis obsoletas". essa controvérsia avançou passo a passo até a resolução.. após o Tratado da Westphalia. E. Esse desenvolvimento implicava a aceitação geral da soberania . a soberania. segundo Bodin. por fim.foi um dos desenvolvimentos intelectuais mais importantes que levaram à revolução westphaliana. soberania era o "poder absoluto e perpétuo investido em uma comunidade". Com o papa e o imperador despojados de poder.o soberano gozava de direitos exclusivos dentro de um determinado território. Os monarcas do Ocidente perceberam que os conflitos religiosos tinham de terminar. detinham a autoridade religiosa sobre os respectivos povos. mas em um Estado. a noção do Estado territorial foi aceita.o CONTEXTO HISTÓRICO D A S RELAÇÕES INTERNACIONAIS. estar sujeito aos comandos de um outro porque é ele quem faz as leis para o sujeito.. Além disso. O surgimento d o sistema westphaliano A formulação da soberania . Em 1648. não é ilimitada. os líderes estão limitados por pactos. e o próprio cristianismo sofreu a cisão do protestantismo. Outras partes da Europa estavam enredadas na controvérsia secular versus religioso. O crescimento de tais forças levou a um controle DESENVOLVIMENTOS DECISIVOS APÓS WESTPHALIA cada vez mais centralizado. E esse Estado tornou-se cada vez mais poderoso. para pagar esses militares e os líderes Cresce o controle centralizado das que assumiam o controle absoluto instituições por exércitos. Unidades territoriais maiores ficaram em vantagem à medida que os armamentos se tornaram mais sofisticados.24 I PRINCÍPIOS DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS estabelecer seus próprios exércitos nacionais permanentes. Os mais Em Foco E u r o p a . 1648 . França e Províncias Unidas (a área que abrange agora Holanda e Bélgica). visto que o Estado tinha de arrecadar impostos Desenvolvem-se a noção e a prática da sotierania. Rússia. o Tratado da Westphalia estabeleceu um grupo nuclear de Estados que dominaram o mundo até o início do século XIX: Áustria. sua soberania foi reconhecida e sua base secular foi firmemente estabelecida. exército nacional surgiu. Prússia. Inglaterra. das tropas. Em terceiro lugar. O Estado dotado de um Surge o sistema econômico capitalista. em ambas as regiões predominavam os Estados absolutistas: Luís X I V (1638-1715) no governo da França. I 25 a oeste . Durante o Iluminismo. os pensadores começaram a ver os indivíduos como racionais. França e as Províncias Unidas — passaram por um renascimento econômico sob a égide do capitalismo.a Revolução Americana (1776) contra o governo britânico e a Revolução Francesa (1789) contra o governo absolutista. Até o final do século XVIII. o Grande. Cada revolução foi produto do pensamento iluminista. e Frederico II (1712-1786) no da Prússia. (1672-1725) no da Rússia. cada indivíduo age racionalmente para maximizar seus próprios interesses. Todavia. Essas rivalidades também ocorriam em regiões fora da Europa. O que faz o sistema fiincionar é a denominada mão do mercado. ao contrário. Os Estados melhoram sua infra-estrutura para facilitar o comércio e surgem grandes empresas comerciais e bancos. Pedro. Quando grupos de indivíduos trabalham em prol de seus interesses pessoais. o sistema (o mercado) fijnciona sem esforço. na América do Norte. consumidores trabalhem em favor de seus próprios interesses sem ser tolhidos pelas regulamentações do Estado. Porém. Smith argumentou que a noçáo de mercado deveria aplicar-se a todas as ordens sociais. enquanto os Estados a leste — Prússia e Rússia reverteram às práticas feudais. bem como dos teóricos do contrato social. onde Estados europeus rivais lutavam pelo poder. a riqueza do Estado e a do sistema internacional são realçadas de modo semelhante. No oeste. quando os indivíduos trabalham em prol de seus interesses pessoais racionais. e mais bens e serviços são produzidos e consumidos. Em Dois tratados sobre governo. o filósofo inglês John Locke (1632-1704) atacou o . No nível agregado. os servos continuaram a trabalhar a terra.trabalhadores. capazes de entender as leis que os governam e de trabalharem para melhorar sua condição na sociedade. Segundo Smith. investidores. a empresa privada foi incentivada. O teórico mais importante da época foi o economista escocês Adam Smith (17231790). O primeiro é que o governo absolutista está sujeito a limites impostos pelo homem. A conseqüência da revolução: princípios essenciais Dois princípios essenciais surgiram como conseqüência das revoluções americana e francesa. X X e XXI.. e a mudança econômica foi sufocada. No leste. Em Uma inquirição sobre a natureza e causas da riqueza das nações. Deve-se permitir que os indivíduos .o que vamos estudar no Capítulo 9. sendo os mais notáveis a Grá-Bretanha e a França.^ A explicação de Smith sobre como unidades concorrentes habilitam o capitalismo a funcionar de modo a garantir vitalidade econômica teve um profundo efeito sobre as políticas e opções políticas dos Estados . a política européia foi dominada por múltiplas rivalidades e alianças precárias.o C O N T E X T O HISTÓRICO D A S RELAÇÕES INTERNACIONAIS. a eficiência é realçada. Europa no século XIX Duas revoluções anunciaram o século X I X . proprietários.Inglaterra.. outras idéias do período também causariam drásticas alterações na governança nos séculos XIX. em 1854. O monarca deriva sua legitímidade do consentimento dos governados. seus costumes e práticas. tecnológicas e políticas estavam provocando alterações radicais no panorama. Não houve nenhuma guerra importante entre essas grandes potências após a derrocada de Napoleão até a Guerra da Criméia. Por exemplo. As mudanças políticas foram drásticas: a Itália foi unificada em 1870. Esses traços "os diferenciavam" . denominado Concerto da Europa. o resto do mundo.26 I PRINCÍPIOS D E RELAÇÕES INTERNACIONAIS poder absoluto e a noçáo do direito divino dos reis. Eles concordam em estabelecer um governo para garantir direitos naturais a todos. A taxa de crescimento populacional elevou-se muito. a Alemanha foi formada pela reunião de 39 fragmentos diferentes em 1871. O ponto crucial do argumento de Locke é que. pelo qual as massas identificam-se com seu passado comum. O fato de a paz geral ter prevalecido durante essa época é surpreendente. as cinco potências da Europa . foi feito um apelo patriótico às massas para que defendessem a nação e seus novos ideais. por meio dessas reuniões.europeus cristãos brancos . e o comércio surgiu à medida que se fortaleciam corredores de transporte. Esses dois princípios . "civilizados" e brancos. Locke argumentou que o Estado é uma instituição benéfica criada por homens racionais para proteger seus direitos naturais (vida. Paz no núcleo do sistema europeu Após a derrota de Napoleão em 1815 e o estabelecimento da paz pelo Congresso de Viena. legitimaram a independência de novos Estados europeus. bem como seus interesses pessoais. resultando em independência para a Grécia em 1829 e para a Moldávia e a Valáquia (Romênia) em 1856. cristãos. quais fatores explicam a paz? Ao menos três fatores explicam esse fenômeno. Grã-Bretanha. e nessa guerra Áustria e Prússia permaneceram neutras. França. Os homens aderem livremente a esse arranjo político. O primeiro é que os Estados europeus gozavam de uma solidariedade entre eles baseada no fato de serem europeus. bem como a divisão da África entre potências coloniais. visto que importantes mudanças econômicas. Ocorreram outras guerras locais de curta duração nas quais algumas das cinco maiores potências permaneceram neutras. liberdade e propriedade). Unidas por acordos firmados em uma série de conferências ad hoc.Áustria. Esse apelo forjou um vínculo emocional entre as massas e o Estado. os Países Baixos foram divididos em Holanda e Bélgica na década de 1830. e o Império Otomano desintegrou-se gradativamente.dos "outros".surgiram das revoluções americana e francesa para suprir as fundações para os políticos dos séculos X I X e X X . nenhuma dessas cinco potências se envolveu em conflitos com qualquer das outras. durante a Revolução Francesa. sua língua.^ O segundo princípio essencial que surgiu nessa época foi o nacionalismo. Em razão de .legitimidade e nacionalismo . Indivíduos que compartilham tais características são motivados a participar ativamente do processo político como um grupo. em última análise. Prússia e Rússia gozaram de um período de relativa paz no sistema político internacional. Reunindo-se mais de 30 vezes antes da Primeira Guerra Mundial. o grupo tornou-se um clube de líderes que pensavam da mesma forma e. Com tais mudanças em marcha. o poder político está nas mãos do povo e não nas do líder ou do monarca. o arquiteto do Concerto da Europa. Isso era. em 1848. todas as cinco potências foram confrontadas pelas massas. R o n t o r a d a R^ODA NORUEflA E SUÉCIA \ V > ' I M P É R I O R U S S O seu crescente contato com o mundo colonial. De fato. 1815 .o C O N T E X T O HISTÓRICO D A S RELAÇÕES INTERNACIONAIS. que exigiam reformas. acreditava que a Europa podia ser mais bem gerenciada se voltasse à era do absolutismo. Napoleão III foi isolado rapidamente por .. Na década de 1830.. um retorno à unidade vigente no Império Romano e sob a lei romana. os europeus percebiam mais do que nunca seus próprios aspectos comuns. na segunda metade do século. o diplomata austríaco BClemens von Metternich (1773-1859). Em 1870. O Congresso de Viena e o Concerto da Europa deram forma a essas crenças. em parte. Rússia e Áustria) e. O segundo é que as elites européias eram unidas no medo da revolução das massas. essas alianças não foram muito bem-sucedidas. no Congresso de Viena. segundo a visão da obra de Kant e Rousseau. a Grã-Bretanha e a França aliaram-se contra as três potências do leste (Prússia. os líderes europeus agiram de comum acordo e garantiram que as revoluções das massas não passassem de Estado para Estado. Na primeira metade do século. As elites sonhavam com grandes alianças que poderiam reunir os líderes europeus para lutar contra a revolução que vinha de baixo. I 27 Europa. uma forma secular de cristandade medieval e uma Europa maior. No entanto. a singularidade de ser europeu. preocupava-se com a crescente força da Prússia. A China é um excelente exemplo de dominação externa. No século XIX. A unificação da Alemanha era aceitável pela Rússia. a Grã-Bretanha apoiou a unificação da Itália possibilitando a anexação de Nápoles e da Sicília. dando à Alemanha uma esfera de influência no leste (Tanganica). Alguns Estados imperiais eram motivados por ganhos econômicos porque procuravam novos mercados externos para os bens manufaturados e obtinham em troca matérias-primas para alimentar seu crescimento industrial. e por isso não se opôs ativamente ao que poderia perfeitamente ser contra seus interesses nacionais a criação de dois vizinhos de tamanho considerável pela reunião de várias unidades independentes. era uma faca de dois gumes. as rivalidades entre Estados europeus desenrolavam-se na África e na Ásia. O terceiro é que duas das questões importantes que o grupo nuclear de Estados europeus enfrentava eram internas: a unificação da Alemanha e da Itália. Assim. que começou no século XVII. Assim. A industrialização. as grandes potências presentes ao Congresso de Berlim em 1885 dividiram a África. Por exemplo. embora a unificação de ambas tenha sido por fim consolidada por pequenas guerras locais. a Áustria. por outro lado. a Grã-Bretanha tornou-se a fonte de capitalfinanceiro. visto que a Alemanha e a Itália estavam preocupadas com a unificação territorial. um desenvolvimento crítico na época. Para outros ainda. Para satisfazer as ambições da Alemanha. . A industrialização propagou-se praticamente por todas as áreas da Europa Ocidental à medida que as massas acorriam às cidades. a motivação era cultural e religiosa . Sob a dinastia Qing. Ao final do século XIX. O imperialismo europeu proporcionou uma saída conveniente para as aspirações da Alemanha como potência unificada sem colocar em perigo o equilíbrio de poder dentro da Europa em si. A Revolução Industrial forneceu aos Estados europeus a capacidade militar e econômica para dedicar-se à expansão territorial. contanto que seu interesse na Polônia fosse respeitado. Ambas tinham poderosos defensores e oponentes entre as potências européias. Para outros.28 I PRINCÍPIOS DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS medo de uma revolução que nunca ocorreu. evitou-se uma guerra geral. toda a atenção estava focalizada nos processos de industrialização. A Grã-Bretanha era a líder e ganhava de todos os rivais na produção de carvão. o medo da revolta que viria de baixo uniu os líderes europeus. no século X X . ferro e aço. o território chinês vinha perdendo lentamente poder político. e empresários e intermediários disputavam vantagens econômicas.o banqueiro para o continente e. Na segunda metade do século XIX. Além disso. o que tornou menos prováveis as guerras entre Estados. e na exportação de bens manufaturados.divulgar a fé cristã e os modos da "civilização" branca aos continentes "negros" e além deles. para o mundo. a motivação era política. somente o Japão e o Sião (Tailândia) não estavam sob a influência direta da Europa ou dos Estados Unidos. 85% da África estavam sob o controle de Estados europeus. oeste (Camarões e Togo) e sul (sudoeste da África). econômico e militar há centenas de anos. Visto que o equilíbrio de poder europeu impedia a confrontação direta na Europa. e a unificação alemã contou com o apoio da classe média dominante da Grã-Bretanha porque ela considerava uma Alemanha mais forte como um potencial contrapeso à França. Na Ásia. mercadores britânicos começaram a comerciar com a China em troca de chá. Na verdade. Equilíbrio de poder Como esse período de relativa paz na Europa foi gerenciado e preservado durante tanto tempo? A resposta encontra-se em um conceito denominado equilíbrio de poder. ao intervir em favor dos gregos em sua luta pela independência dos turcos no final da década de 1820. ao menos próximo do final do século. conseguiram ocupar grandes porções do território chinês nas quais cada um declarava ter direitos exclusivos de comércio em uma determinada região. formaram alianças para contrapor-se a qualquer facção potencialmente mais poderosa. os Estados Unidos adquiriam suas próprias colônias. poderiam ter assumido uma posição de liderança dominante .o C O N T E X T O HISTÓRICO D A S RELAÇÕES INTERNACIONAIS. Porto Rico. cada um com poder relativamente igual. Os Estados Unidos também eram uma potência imperial. a estratégica passagem marítima que liga o Mar Mediterrâneo ao Mar Negro. mas nenhuma delas procurou exercer poder hegemônico porque o status quo era aceitável para cada Estado. Por exemplo. forçando-a a ceder vários direitos políticos e territoriais a estrangeiros mediante uma série de tratados desiguais. O papel da Rússia foi o de construtora de alianças. potências estrangeiras exerciam "esferas de influência" isoladas na China. criando um equilíbrio de poder. entretanto. bem como o Japão. os britânicos venceram a China na Guerra do Ópio. a GrãBretanha garantiu que os outros Estados não interferissem nesses conflitos e que. Em 1914.. A Santa Aliança de 1815 manteve Áustria. Os interesses russos no Estreito de Dardanelos. Prússia e Rússia unidas contra a França revolucionária. alijando a Espanha das Filipinas. Assim. Cuba e outras ilhas menores. essa concorrência econômica tornou-se desestabilizadora à medida que Estados europeus se uniam em dois sistemas de alianças concorrentes. desse modo. Grã-Bretanha e Rússia desempenhavam papéis diferentes no equilíbrio de poder. em particular na África e na Ásia. em favor dos belgas durante a guerra da independência contra a Holanda em 1830. os europeus controlavam quatro quintos do mundo. e a Rússia usou suas pretensões em relação à Polônia para criar um vínculo com a Prússia. I 29 seda e porcelana. Então. a Grã-Bretanha exercia o papel de equilibradora. mas para evitar a emergência de um Estado hegemônico como a França tinha se tornado sob Napoleão. Mas as cinco potências européias não lutaram guerras importantes diretamente umas com as outras. Estados europeus. Grã-Bretanha e Rússia. No século XIX surgiu um equilíbrio de poder porque os Estados europeus independentes.. e em Constantinopla . em favor da Turquia contra a Rússia na Guerra da Criméia em 1854-1856 e. temiam o surgimento de qualquer Estado predominante (hegemônico) entre eles. pagando com ópio contrabandeado.a Grã-Bretanha em razão de sua proeza econômica e capacidade naval e a Rússia por seu relativo isolamento geográfico e extraordinário potencial humano . Na maioria das vezes. Em 1842. mais uma vez. a Europa permanecesse equilibrada. Ao final do século. Como venceram a Guerra Hispano-americana em 1898. na guerra entre Rússia e Turquia em 1877-1878.. Os tratados assinados após 1815 foram elaborados não apenas para sufocar a revolução do povo. A luta por proeza econômica levou à exploração imprudente das áreas coloniais. começando com a invasão da Turquia pela Rússia em 1877. Durante as três últimas décadas do século XIX. e os assuntos intemos são mais importantes do que a política externa. Um sistema gerenciado pelo equilíbrio de poder traz relativa paz à Europa. o Concerto da Europa esgarçou-se.30 I PRINCÍPIOS DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS E u r o p a . Em 1830. As elites unem-se por medo das massas. As alianças começaram a se solidificar à medida que o sistema de equilíbrio de poder começou a enfraquecer. esses dois Estados. Fora da região européia nuclear houve uma escalada de conflitos. resultando na Primeira Guerra Mundial. localizados nas margens da Europa. Assim. (hoje Istambul) coincidiam com os da Grã-Bretanha. todos os Estados das . exerceram papéis fundamentais no funcionamento do sistema de equilíbrio de poder. 1878 Em Foco DESENVOLVIMENTOS DECISIVOS NA EUROPA DO SÉCULO XIX Das revoluções surgem dois conceitos: a regra absolutista sujeita a limitações e o nacionalismo. O imperialismo europeu na Ásia e na África ajuda a manter o equilíbrio de poder na Europa. O equilíbrio de poder esfacela-se devido à solidificação de alianças. Essa aliança marcou uma importante reviravolta: pela primeira vez um Estado europeu (Grã-Bretanha) recorreu a um Estado asiático Qapão) para frustrar um aliado europeu (Rússia). as alianças tinham se solidificado.. e os Estados Unidos e a Grã-Bretanha evitaram maior competição européia na América do Sul. I 31 Américas Central e do Sul tinham conquistado sua independência da Espanha e de Portugal. a GrãBretanha aliou-se à França na Entente Cordiale. Holanda. Além disso. Surgiram dois lados: a Tríplice Aliança (Alemanha. Embora antes fossem fluidas e flexíveis.Grã-Bretanha. Em 1902. E u r o p a . a Grã-Bretanha rompeu com seu papel de "equilibradora" e juntou-se ao Japão em uma aliança naval para evitar um conflito entre Rússia e Japão na China. Bélgica e Itália .participaram de guerras para conquistar e conservar suas colônias na África e Ásia. com possível troca de aliados. em 1904.o C O N T E X T O HISTÓRICO D A S RELAÇÕES INTERNACIONAIS.. Áustria e Itália) em 1882 e a Dupla Aliança (França e Rússia) em 1893. Mas as potências coloniais européias . O esfacelamento: solidificação de alianças Nos últimos anos do século XIX. esse sistema de equilíbrio de poder tinha enfraquecido. 1914 . França. Como foi uma "retardatária" no núcleo de poder europeu. um dos Quatorze Pontos do presidente Woodrow Wilson no tratado que pôs fim à Primeira Guerra Mundial pregava a autodeterminação. O Império Otomano também foi reconfigurado. Em primeiro lugar. Uma Turquia reduzida foi o Estado sucessor.5 milhão de civis perderam a vida. a Alemanha incentivou a Áustria a esmagar a Sérvia. A Alemanha não ficou satisfeita com as soluções decididas no Congresso de Berlim e ainda procurava território adicional. os Estados honraram os compromissos com seus aliados e mergulharam todo o continente em conflito armado. Na verdade. se isso significasse território europeu. Os dois lados estavam enredados em lutas entre alianças concorrentes que ficaram ainda mais perigosas em razão da posição da Alemanha. a certa altura. parte da Iugoslávia e parte da Romênia. o século X I X tinha chegado a um desfecho: o século de relativa paz terminou em uma confrontação que abrangeu todo o sistema.32 I PRINCÍPIOS DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS O fim do sistema de equilíbrio de poder. A Arábia insurgiu-se contra o mando da Turquia.5 milhões de soldados e 1. uma vez disparado o tiro fatal. o mapa da Europa teria de ser redesenhado. Sob o sistema de alianças. húngaros) tinha sido estimulado por inovações tecnológicas na indústria da impressão que facilitavam e bara- . O fim dos impérios produziu a proliferação de nacionalismos. A Rússia saiu da guerra em 1917 quando a revolução explodiu em seu território. em seu lugar surgiu uma proliferação de nacionalismos. bem como o final histórico do século XIX. os otomanos aliaram-se às potências da Tríplice Aliança. o herdeiro do trono do Império Austro-húngaro em 1914. Tchecoslováquia. Entre 19l4e 1918. seu maior aliado. Como vinham perdendo gradativamente o poder durante o século XIX. Assim. soldados de mais de 12 países sofreram a persistente degradação da guerra de trincheiras e os horrores da guerra química (gases venenosos). com o assassinato do arquiduque Franz Ferdinand. O czar foi deposto e. Mais de 8. o direito de autonomia de governo de grupos nacionais. Lenin) mas por uma nova ideologia que teria profundas implicações para o restante do século X X . Como apoiaram a Sérvia. mas não foi nada disso. Simbolicamente. os improváveis aliados Rússia. O nacionalismo desses vários grupos (austríacos. três impérios europeus estavam enfraquecidos e. veio com a Primeira Guerra Mundial. a Alemanha entrou na briga. França e Grã-Bretanha foram envolvidos. em Sarajevo. Afinal. e forças britânicas ocuparam Jerusalém e Bagdá. A derrota da Aliança resultou na derrocada final dos otomanos. entraram em derrocada perto da Primeira Guerra Mundial. a Alemanha não queria ver a desintegração do Império Austro-húngaro. O Império Austro-húngaro também esfacelou-se e foi substituído por Áustria. Esperava-se que a guerra fosse curta e decisiva. substituído não apenas por um novo líder (Vladimir I. O s anos entreguerras e a S e g u n d a Guerra Mundial o final da Primeira Guerra Mundial testemunhou mudanças críticas nas relações internacionais. Com esses impérios foi-se também a ordem social conservadora da Europa. por fim. a Alemanha não recebeu o reconhecimento e o status diplomático que seus líderes desejavam. Hungria. por seu apoio à Áustria-Hungria. Em terceiro lugar. ofereciam diferentes interpretações da história e da vida nacional. a Alemanha saiu da Primeira Guerra Mundial como uma potência ainda mais insatisfeita. a organização em si não tinha o peso político. Essa insatisfação criou o clima para o surgimento de Adolf Hitler. que se dedicava a corrigir as "injustiças" que tinham sido impostas ao povo alemão.o C O N T E X T O HISTÓRICO DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS.. preferindo dedicar-se a uma política externa isolacionista. a finalidade da Liga como "uma associação geral de nações" era garantir que nunca mais houvesse DESENVOLViMENTOS DECISIVOS guerra. • A insatisfação da Alemanha com o acordo pero da segunda. mento de utopia estava rigorosamen• A incapacidade da fraca Liga das Nações de reagir às agressões japonesa. mas a diplomacia seria sempre franca e realizada à vista do público". o cumprimento do Tratado de Versalhes ficou nas mãos da. Isso resultou no ressurgimento de primeira década para o soturno desesnacionalismos. cujo presidente tinha sido o principal arquiteto da Liga. obrigou a geração subseqüente de alemães a pagar o custo econômico da guerra por meio de reparações . o império Austro-liúngaro por desmembramento e o Império anos entre 1919 e 1939 foi a queda Otomano por guen'as externas e tumulto abrupta das esperanças visionárias da interno. • Três impérios desmoronaram: a Rússia Carr. e os instrumentos de que dispunha para impor a paz eram ineficientes. não haveria nenhum entendimento internacional privado de qualquer tipo. com os quais os participantes concordavam abertamente e que. de uma utopia que após a Primeira Guerra Mundial resultou no pouco levava em conta a realidade fascismo. Ele conclamava uma diplomacia aberta . e à inquietação econômica que se elementos utópicos e idealistas foram alastrava. Todavia. é claro. uma visão da ordem mundial pós-Primeira Guerra Mundial foi claramente exposta. a organização intergovernamentai cujo propósito era evitar todas as guerras futuras. portanto. H . Porém. A autoridade jurídica da Liga era fraca. E. Em segundo lugar. na realidade muitas dessas entidades recém-criadas não tinham nem histórias compartilhadas nem históricos políticos compatíveis. Essa visão foi traduzida nos Quatorze Pontos de Wilson. que encerrou formalmente a guerra. Mas essa visão não se realizaNOS ANOS ENTREGUERRAS ria: nas palavras do historiador E. substituídos pelo realismo como a teo- . I 33 teavam a publicação de material na profusão de diferentes línguas européias e. infrutífera Liga das Nações.^ O ponto três era uma reafirmação do liberalismo econômico e a remoção de barreiras entre todas as nações que consentissem em manter a paz. A Alemanha encontrou aliados na para uma realidade da qual todo eleItália e no Japão. "o aspecto característico dos 20 pela revolução. Não somente fora vencida no campo de batalha militar e teve frustradas suas ambições territoriais. mas nasceu morta. e não eram economicamente viáveis. os instrumentos jurídicos nem a legitimidade para desempenhar a tarefa.. italiana e te excluído". recusarem-se a aderir.US$32 bilhões por danos causados durante a guerra. mas o Tratado de Versalhes. após firmados. A Rússia também não aderiu e não foi permitida a participação de nenhum dos vencidos. Em quarto lugar. por fim. O peso político da Liga foi enfraquecido pelo fato de os Estados Unidos.'° O liberalismo e seus alemã."tratados de paz abertos. a invasão da Mancharia pelo Japão em 1931 e do resto da China em 1937. o choque entre fascismo. a Grã-Bretanha concordou em permitir que a Alemanha ocupasse a Tchecoslováquia na esperança de evitar uma guerra mais generalizada. Em 1938. Tirou proveito da crença de que guerra e conflito eram atividades nobres que. Esses eram os sintomas do período entreguerras. formariam grandes Europa. o mundo do qual emergiram os realistas era um mundo turbulento: a economia mundial em colapso. Por várias razões. Ademais.-M O c e a n o A t l â n t i c o Neutros FINLÂNDIA. incentivada por ter ajudado os fascistas espanhóis durante a Guerra Civil Espanhola e bem-sucedida em reunir os alemães étnicos de territórios longínquos.34 I PRINCÍPIOS DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS ria dominante nas relações internacionais . A Alemanha mostrou ser o desafio real. a tomada da Etiópia pela Itália em 1935. o liberalismo e o realismo são desenvolvidos no Capítulo 3. liberalismo e comunismo. . Em vão: o fascismo alemão mobilizou as massas em favor do Estado de um modo inusitado. a Bolsa de Valores dos Estados Unidos em queda vertiginosa.uma perspectiva teórica fundamentalmente divergente. Rearmada por Hitler na década de 1930. a economia alemã em franca implosão. 1939 Alinhados com o Eixo Ainhados com os Afedos B. por fim. a Grã-Bretanha e a França concordaram com o ressurgimento da Alemanha. a Alemanha estava pronta para corrigir as "injustiças" impostas pelo Tratado de Versalhes. O poder do fascismo . Josef Stalin. estava em ruínas ao final da guerra. Grã-Bretanha e França. cada uma entrou na guerra somente após um ataque direto ao seu território. Esses planos foram consolidados em 1943 e 1944 e entraram em vigor nas Nações Unidas em 1945. Origens da Guerra Fria O resultado mais importante da Segunda Guerra Mundial foi o surgimento de duas superpotências . entre outros. De fato. Ao final da guerra. por ter sido invadida pelo Ocidente em diversas ocasiões. O fim da Segunda Guerra Mundial resultou em importante redistribuição de poder (agora. tanto em interesses nacionais quanto em ideologia. quando a Segunda Guerra Mundial explodiu. Nenhuma estava ansiosa para lutar. planejaram a ordem pós-guerra durante a própria guerra. A Rússia. I 3S civilizações. Franklin Roosevelt. o presidente dos Estados Unidos.levou à aliança intranqüila (e nada sagrada) entre a União Soviética comunista e os liberais Estados Unidos. O Reich alemão. Tirou proveito da força da crença de que certos grupos raciais eram superiores e outros inferiores. os vitoriosos Estados Unidos confrontariam a igualmente vitoriosa União Soviética) e mudaria as fronteiras políticas (a União Soviética anexou os Estados bálticos e partes da Finlândia. vários outros resultados da Segunda Guerra Mundial proporcionaram as fundações para a Guerra Fria que se seguiu.o C O N T E X T O HISTÓRICO D A S RELAÇÕES INTERNACIONAIS. Winston Churchill. Porém. Tchecoslováquia. As diferenças vieram à tona imediatamente na questão dos interesses geopolíticos nacionais. Cada uma dessas mudanças contribuiu para o novo conflito internacional: a Guerra Fria. independentemente de suas divergências ideológicas. cada uma tinha se tornado uma superpotência militar. o primeiro como resultado do poder de fogo tradicional e o último como resultado do novo instrumento da guerra atômica. Entretanto. e mobilizou os desencantados e economicamente fracos em favor de sua causa. previa a colaboração em questões econômicas e preparava um sistema de segurança permanente. ao final da guerra. A Guerra Fria Os líderes "quentes" da Segunda Guerra Mundial.como os protagonistas primordiais do sistema internacional e o concomitante declínio da Europa como o epicentro da política internacional. Essa aliança pretendia contrapor-se às potências do Eixo por meio da força.. se necessário. a Carta do Atlântico.. O segundo resultado da guerra foi o reconhecimento das incompatibilidades fundamentais entre essas duas superpotências.os Estados Unidos e a União Soviética . Assim. italiana e japonesa . Alemanha e Coréia foram divididas. o primeiro-ministro da Grá-Bretanha. e o premiê da União Soviética. Polônia e Romênia. Tanto os Estados Unidos como a União Soviética eram potências relutantes. bem como o Japão imperial. inclusive .versões alemã. de 14 de agosto de 1941. e o Japão foi expulso de grande parte da Ásia). os que lutavam contra o Eixo agiram em uníssono. os aliados foram bem-sucedidos. o capitalismo é substituído pelo socialismo. os Estados Unidos perceberam que seus interesses eram mais amplos. usou seu novo poder para solidificar sua esfera de influência nos Estados-tampões da Europa Oriental . Creio que devemos auxiliar os povos livres a decidirem seu próprio destino do modo que quiserem. é a revolução.'^ Os Estados Unidos colocaram a noção de contenção em ação na Doutrina Truman de 1947. maiores mercados e maior controle . que tinha sido dividida em setores pela Conferência de Potsdam em 1945. segundo o marxismo. Tchecoslováquia. em 1948. quase imediatamente os Estados Unidos desistiram da contenção reduzindo drasticamente o contingente de suas forças armadas na esperança de retornar a um mundo mais pacífico. Ao justificar o apoio material à Grécia contra os comunistas. a capital da Alemanha. Hungria. o capitalismo. Essa ideologia tinha também elementos internacionais críticos: o capitalismo tentará expandir-se por meio do imperialismo de modo a gerar mais capital. baseada em interesses geoestratégicos dos Estados Unidos. deveria tornar-se a pedra angular da política externa pós-guerra dos Estados Unidos. Desse modo.ponto mais crítico . a contenção. como a União Soviética sempre sentiria insegurança militar. A liderança soviética acreditava que garantir vizinhos amigos em suas fronteiras ocidentais era vital para os interesses nacionais soviéticos. que dava oportunidade aos indivíduos de procurarem o que era racional em termos econômicos sem nenhuma interferência do governo. O diplomata e historiador George Kennan publicou em Foreign Affairs o famoso artigo "X". e essas diferenças confrontavam duas visões contrastantes da sociedade e da ordem internacional. uma classe (a burguesia) controla a propriedade dos meios de produção e usa suas instituições e autoridade para manter esse controle. O Estado soviético adotou a ideologia marxista. Por conseqüência. O liberalismo democrático dos Estados Unidos baseava-se em um sistema social que aceitava o mérito e o valor do indivíduo. o presidente Truman afirmou: "Creio que esta deve ser a política dos Estados Unidos para apoiar povos livres que estão resistindo à tentativa de subjugação por minorias armadas ou pressões externas. Além do mais. quando os soviéticos bloquearam os corredores de transporte ocidentais até Berlim. No nível internacional. quando o proletariado explorado toma o controle da burguesia utilizando o Estado para captar os meios de produção. A ideologia comunista soviética também afetava a concepção que o país tinha do sistema internacional e das práticas de Estado. um sistema político que dependia da participação de indivíduos no processo eleitoral e um sistema econômico. Assim. isso traduzia-se logicamente em apoio a outros regimes liberais democráticos e suporte a instituições e processos capitalistas incluindo . Os líderes da União Soviética consideravam que estavam em estado interino. que sustenta que. conter os soviéticos. no qual argumentava que. já em 1947 seus políticos argumentavam que o interesse do país era conter a União Soviética. havia grandes diferenças ideológicas entre Estados Unidos e União Soviética.36 I PRINCÍPIOS DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS durante a Segunda Guerra Mundial. após o desmonte do Estado capitalista e antes da vitória do socialismo. Então. ela conduziria uma política externa agressiva.Polônia. tornou-se a doutrina fundamental da política externa dos Estados Unidos durante a Guerra Fria. escreveu Kennan. A solução para o problema da regra de classe."^^ Porém. Bulgária e Romênia. sob o capitalismo. Quanto aos Estados Unidos.o livre comércio. Kennan cita poderosos exemplos de concepções errôneas da parte de cada superpotência: O Plano Marshall. os líderes soviéticos sentiam-se cercados por forças militares capitalistas hostis e argumentavam que a União Soviética "não deve enfraquecer..) essa movimentação do Ocidente .. Assim. o país devia apoiar movimentos cujas metas fossem minar os capitalistas. os órgãos do serviço de inteligência. reações defensivas (.. os órgãos do Estado. A firme ação soviética na Tchecoslováquia [1948] e a montagem do bloqueio de Berlim.. I 37 E u r o p a durante a G u e r r a Fria de matérias-primas. mas fortalecer de todos os modos seu Estado.^^ No âmbito internacional. bem como promover uma nova ordem social. o exército. ambas. acreditavam.o C O N T E X T O HISTÓRICO D A S RELAÇÕES INTERNACIONAIS. se esse país não quiser ser esmagado pelo ambiente capitalista". os preparativos para a instalação de um governo na Alemanha Ocidental e os primeiros movimentos para a formação da O T A N (Organização do Tratado do Atlântico Norte) foram considerados por Moscou como o início de uma campanha para privar a União Soviética dos frutos de sua vitória sobre a Alemanha. As diferenças entre as duas superpotências foram exacerbadas por percepções incorretas mútuas. em essência. em estágios com terceiros. ao passo que a resposta militar ativa dos americanos provocada por essa manobra parecia uma ameaça à posição soviética na Manchúria e no leste da Sibéria. Outras partes do mundo não se limitaram a reagir aos imperativos da Guerra Fria desenvolveram novas ideologias ou reformularam o discurso dominante da Europa para abordar sua própria experiência. do Vietnã. A derrota do Japão e da Alemanha levou ao fim imediato de seus respectivos impérios coloniais. enfrentando a realidade de sua posição econômica e política enfraquecida e confrontados pelos movimentos indígenas pela independência . onde se juntaram a partidos comunistas. Em lugar algum isso foi mais verdadeiro do que na Asia. começando com a independência da índia pela Grã-Bretanha em 1947. importaram a ideologia comunista e a reinterpretaram de modo compatível com as circunstâncias nacionais. as superpotências lutavam pela influência sobre esses novos Estados como modo de estender seu poder a áreas fora de suas tradicionais esferas de influência.'"^ Embora essas percepções errôneas não tenham causado a Guerra Fria.interpretada por Washington como o início da investida final dos soviéticos para a conquista do mundo. da China. viveram na Europa por um tempo. Assim. As relações internacionais tornaram-se verdadeiramente globais. como Chou En-lai. certamente adicionaram combustível ao fogo do confronto. a Guerra Fria resultou na globalização do conflito para todos os continentes. Por exemplo. Chou En-lai e seu colega Mao Tse Tung insistiam que a China era uma sociedade semifeudal na qual o proletariado era o campesinato rural. Também os Estados africanos tornaram-se independentes entre 1957 e 1963.38 I PRINCÍPIOS DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS também foi mal interpretada pelo lado ocidental. em vez de por confrontação direta entre os dois protagonistas. juntamente com seus aliados. O quarto resultado foi a percepção de que as diferenças entre as duas superpotências emergentes seriam dirimidas indiretamente. na China. O terceiro resultado dofimda Segunda Guerra Mundial foi o início do final do sistema colonial.quando os soviéticos tentaram empregar uma força militar satélite em combate civil para proveito próprio à guisa de reação à decisão dos Estados Unidos de estabelecer uma presença militar permanente no Japão . A medida que a quantidade de Estados recém-independentes proliferava no mundo pós-guerra como resultado da descolonização. os Estados Unidos. Tanto Ho Chi Minh. Logo depois veio a crise da Guerra da Coréia . A França precisou sofrer uma derrota militar na Indochina no início da década de 1950 para levar a descolonização àquela parte do mundo. Embora o processo de descolonização tenha ocorrido ao longo de um extenso período de tempo. Os europeus. O Partido Comunista chinês tornou-se a vanguarda desse grupo. estavam mais interessados em lutar contra o comunismo do que em conservar o controle de seus territórios coloniais. Escolhendo o campo para dar início a uma revolução de camponeses agricultores. e o Exército do Povo .concederam a independência às suas antigas colônias. foi uma transição relativamente pacífica. o início da revolução comunista veio antes da Segunda Guerra Mundial. Os outros colonialistas incentivados pelo endosso da Carta das Nações Unidas ao princípio da autodeterminação nacional. um desenvolvimento que poucos previram. Quando voltaram para casa. por interesses nacionais. Alguns desses confrontos envolviam apenas os Estados Unidos e a União Soviética. Embora os de Berlim (1948-1949).. a Guerra Fria foi uma série de eventos que. porém sem conflito militar direto. Guerra da Coréia Estados Unidos e a União Soviética (1950-1953). e a União Soviética. nem os Estados Unidos nem a União Soviética pretendiam que chegassem ao ponto em que chegaram. O advento de armas nucleares criou um impasse bipolar no qual cada lado agia com cautela e somente uma vez chegou perto do precipício da guerra direta.o C O N T E X T O HISTÓRICO D A S RELAÇÕES INTERNACIONAIS. a globalização da percepções errôneas mútuas. às vezes. a Guerra Fria abrangia não somente confrontos entre superpotências. invasão do Afeganistão pela União novas ideologias alternativas agiam Soviética (1979). divididas China. Ásia e América Latina.. Assim. os Estados aliados adotavam posições diferentes . Mais tarde. na Europa Oriental. mas confrontos entre dois blocos de Estados: os Estados Unidos. I 39 seu instrumento de açáo guerrillieira. porém mais de uma vez os aliados de cada uma das potências envolveram-se. Austrália e grande parte da Europa Ocidental (aliados na Organização do Tratado do Atlântico Norte . GueoB do Vietnã (1965-1973). como poderosos magnetos para as Uma longa paz é sustentada por populações nos Estados independeuintimidação mútua tes e em desenvolvimento da África. com Canadá. Em Foco A revolução de Mao foi bem-sucediDESENVOLVIMENTOS DECISIVOS da: os comunistas tomaram o conNA GUERRA FRIA trole da China continental em 1949 e fundaram a República Popular da Surgem duas superpotências. os Estados Unidos e a União Soviética. Cada Estado desistia de confrontações particulares. Vietnã do Norte versus Vietnã do Sul.bloqueio contendores pelo poder. (1962). esses blocos ficaram mais frouxos e. esses países desenvolveram uma nova ideologia econômica resumida no programa da Nova Ordem Econômica Internacional. com seus aliados do Pacto de Varsóvia. A Guerra Fria como uma série de confrontos A Guerra Fria como tal (1945-1989) pode ser caracterizada como 45 anos de tensão e competição global de alto nível entre as superpotências. Então. crise dos mísseis em Cuba retivessem suas posições dominantes. dial significou a ascensão de novos Ocorre uma série de crises . na década de 1970. Essas política pós-Segunda Guerra Mundivisões projetaram-se em diferentes áreas geográficas. ideologias e Desse modo.OTAN). Etiópia versus Somália) e que. direta ou indiretamente. enquanto outros ocorreram entre agentes (Coréia do Norte versus Coréia do Sul. fosse porque seu interesse nacional não era forte o suficiente para arriscar um confronto nuclear ou porque sua determinação ideológica vacilava à luz de realidades militares. Durante a existência da Guerra Fria. estas normalmente terminavam em tratados e acordos. colocaram as superpotências uma contra a outra. com toda certeza. Outras confrontações ocorreram somente em palavras. Alguns desses eventos foram confrontações a um passo da guerra. O modo como a crise foi resolvida sugere inequivocamente que nenhuma das partes buscava uma confrontação direta.1 mostra uma retrospectiva ordenada dos principais eventos relacionados com a Guerra Fria. o presidente dos Estados Unidos. o importante é que rejeitaram como primeiras opções alternativas militares mais coercitivas . tenha simbolizado o final da Guerra Fria. respondeu com a frase "Ich bin ein Berliner" ("Eu sou um berlinense"). obrigando os Estados Unidos e a Grã-Bretanha a fecharem o espaço aéreo para transporte de suprimentos durante 13 meses..invasão de território ou ataques aéreos . Na Ásia. assim como a crise de Berlim. sim. Durante o bloqueio de Berlim em 1949. a utilização da zona desmilitarizada entre o norte e o sul e as tentativas da Coréia do Norte de tornar-se uma potência nuclear mesmo após o final da Guerra Fria tentativas que ainda hoje são uma fonte de conflito. controlada pelos soviéticos. Também ela foi dividida geograficamente — entre norte e sul — e ideologicamente . Por fim. a Alemanha foi dividida em zonas de ocupação. Os soviéticos nunca lutaram diretamente. Logo após a Segunda Guerra Mundial. a Alemanha Oriental e a Alemanha Ocidental foram declaradas Estados separados. a oriental. Mas. mas ficava dentro da Alemanha Oriental. Os Estados Unidos. em grande parte daquele período de tempo. Em 1949. Berlim.0 I PRINCÍPIOS DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS das da potência dominante. funcionava a política de bloco. Kennedy. a capital da Alemanha. a França e a Grá-Bretanha administravam a parte ocidental. atacaram a fraca Coréia do Sul. espicaçadas pelo exército soviético (que esperava melhorar sua posição defensiva). também foi dividida dessa mesma maneira. Uma dessas confrontações diretas de alto nível entre as superpotências ocorreu na Alemanha. a crise foi desarmada e a guerra evitada. a Coréia tornou-se o símbolo da Guerra Fria. O primeiro confronto asiático ocorreu em 1950. Por meio de contatos não-oficiais por baixo do pano em Washington e da comunicação direta entre o presidente Kennedy e o premiê soviético Nikita Khrushchev. aquele evento isolado seria seguido durante anos por numerosas escaramuças diplomáticas: sobre as bases militares dos Estados Unidos na Coréia do Sul. a União Soviética. a Alemanha Oriental ergueu o Muro de Berlim ao redor da porção ocidental da cidade para estancar o fluxo de alemães orientais que tentavam sair do Estado em tumulto.4. a União Soviética bloqueou o acesso por terra a Berlim. em novembro de 1989. mas os Estados Unidos (sob a égide das Nações Unidas) e os chineses (agindo em nome da União Soviética). Não foi surpresa que a queda desse mesmo muro. John F. A crise dos mísseis em Cuba em 1962 foi uma confrontação direta de alto nível entre as superpotências em outra parte do mundo. A ofensiva da Coréia do Norte foi repelida e os dois lados ficaram enredados em um impasse durante três anos. a guerra terminou em 1953. com a qual firmou o compromisso dos Estados Unidos com Berlim a qualquer custo. quando tropas da Coréia do Norte. Em 1961. A instalação pela União Soviética de mísseis em Cuba foi considerada pelos Estados Unidos como uma ameaça direta a seu território: nunca nenhum armamento de um inimigo poderoso estivera localizado tão próximo da costa dos Estados Unidos. . embora essas opções nunca tenham sido inteiramente descartadas.entre um Estado comunista e um não-comunista. Porém. Os Estados Unidos optaram por um bloqueio a Cuba para impedir mais envios de mísseis soviéticos. A Tabela 2. Renúncia de Gorbachev. os Estados Unidos propõem o Plano Marshall para a reconstrução da Europa. Os soviéticos invadem a Hungria. é deposto pela revolução islâmica. Etiópia e Somália. Nixon visita a China e a União Soviética. nacionaliza o Canal de Suez levando a um confronto com Grã-Bretanha. um aliado dos Estados Unidos. França e Israel. os comunistas chineses sob Mao vencem a guerra civil e fundam a República Popular da China. Moçambique. resultando no encerramento da cúpula de Paris. Os Estados Unidos iniciam intervenção de grande escala no Vietnã. do Egito. 1950-1953 1953 1956 1957 1960-1963 1960 1961 1962 1965 1967 1968 1972 1973 1975 1979 1981-1989 1983 1985 1989 1990 1991 1992-1993 . simbolizando a competição científica entre as superpotências. 0 xá do Irã. A Alemanha é reunificada. o Muro de Berlim é construído. Crise do Congo e ação das Nações Unidas para preencher o vácuo de poder. Síria e Jordânia na Guerra dos Seis Dias. Estados Unidos e aliados impõem o fechamento do espaço aéreo. 0 marechal TIto separa a Iugoslávia do bloco soviético. Os soviéticos lançam o Sputnik. Estados Unidos e União Soviética assinam o SALT II. a guerra entre árabes e Israel leva à crise de energia. o que acabou provocando um degelo nas relações entre as superpotências. Os soviéticos bloqueiam Berlim. alívio de tensões entre as superpotências. Os Estados Unidos invadem a ilha de Granada. cai o Muro de Berlim. Gorbachev inicia refomias econômicas e políticas na União Soviética. Israel derrota Egito. assinado o Tratado de Não-proiiferação Nuclear (TNP). a União Soviética invade o Afeganistão. o Senado dos Estados Unidos não ratifica o SALT II. A Doutrina Reagan proporciona a base para os Estados Unidos apoiarem forças "anticomunistas" na Nicarágua e no Afeganistão. a cúpula de Glassboro sinaliza a détente.o CONTEXTO HISTÓRICO DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS. Rússia e outras antigas repúblicas soviéticas tomam-se Estados independentes. Guerra da Coréia A morte de Stalin leva a União Soviética a uma crise interna pela sucessão. Estados Unidos e União Soviética assinam o SALT i. Os soviéticos testam a bomba atômica encerrando o monopólio nuclear dos Estados Unidos. Liberalização do governo tcheco sustado pela invasão soviética. tratado de limitação de armamentos. Guerras entre agentes e anticolonialistas em Angola. Eventos importantes d a Guerra Fria •vento 1945-1948 1947 1948 1948-1949 1949 A União Soviética estabelece regimes comunistas na Europa Oriental. Avião de espionagem U-2 dos Estados Unidos abatido em território soviético. Revoluções pacíficas na Europa Oriental substituem governos comunistas. Nasser. Estados Unidos e aliados forniam a OTAN. Estados Unidos e União Soviética chegam à beira da guerra nuclear após a descoberta de mísseis soviéticos em Cuba. colapso da União Soviética. Os Estados Unidos encerram seu envolvimento militar no Vietnã. Anúncio da Doutrina Truman. Falha a invasão de Cuba na Baía dos Porcos patrocinada pelos Estados Unidos. e quando a União Soviética instalou misseis em tenitórto cubano o governo dos Estados Unidos sentiu que a sobrevivência nacional estava em jogo. Em meio a essa confrontação com os Estados Unidos. Castro concordou. Castro encontrou um amigo na União Soviética. Além do mais.42 I PRINCÍPIOS DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS PERSPECTIVAS GLOBAIS A Guerra Fria: uma visão de Cuba Cuba. Vínculos diplomáticos formais foram estabelecidos entre os dois países em 1960.200 capturados.000 soldados a Angola e um contingente de 16. os Estados Unidos impuseram um embargo comercial e circulavam mmores de que a CIA estava treinando exilados cubanos para uma ação invasiva contra Cuba. em parte porque seria mais difícil para o Ocidente controlar linhas marítimas vitais. Em 1959. lançada pelos exilados cubanos na tentativa de depor Castro. O novo regime expropriou imediatamente as propriedades americanas e nacionalizou refinarias de petróleo pertencentes a americanos. ansioso por agradar seu aliado na luta contra os Estados Unidos. Todavia. O regime mudou o foco de sua política externa para a promoção da revolução em outros países em desenvolvimento. Como retaliação. como Berlim.0 incidente da B£ua dos Porcos ajudou a cimentar esse relacionamento quando o premiê soviético Khrushchev externou apoio à posição de Cuba e avisou que mais interferência dos Estados Unidos resultaria em um incidente internacional. O conflito resultante da confrontação entre a União Soviética e os Estados Unidos sobre os mísseis em Cuba tomou-se um símbolo da GuenB Fria Depois que os soviéticos foram forçados a desmontar os mísseis. Na Guerra Fria. visto que os soviéticos estavam fornecendo a Castro outros armamentos e assistência econômica. A cumplicidade do governo dos Estados Unidos foi provada quando. Cuba era um agente entre os Estados Unidos e a União Soviética? 2. Para análise crítica 1. O colega de longo tempo de Castro. Em 1961. um bando de guenilheiros liderados por Fidel Castro tomou o poder em Cuba. resgatou os que tinham sido capturados. A operação falhou: 90 exilados foram mortos e 1. a operação Baía dos Porcos. Emesto "Che" Guevara. A expansão do poder de cubanos e soviéticos por meio de um Estado agente como a Etiópia significava um revés para seu inimigo mútuo. confinnou as suspeitas desse governante. foi um dos pontos de ignição da geopolítica durmte a Guerra Fria.000 à Etiópia. Políticos americanos consideravam o governo revolucionário comunista de Cuba como uma ameaça. enquanto a União Soviética considerava essa ação um meio de compensar seu atraso no programa de mísseis. Cuba enviou 36. Embora os interesses soviéticos não fossem tão fortes no primeiro caso. Quais eram os interesses nacionais de Cuba durante a Guerra Fria? . o apoio de Cuba à ação na Etiópia mostra a confluência das intenções soviéticas/cubanas. Quando a União Soviética propôs instalar mísseis balísticos em solo cubano em 1962. os Estados Unidos eram um vizintío hostil e a União Soviética um aliado necessário. O anúncio feito por Castro em 1961 de que sua revolução era socialista e que ele sempre tinha sido marxista aprofundou os vínculos de Cuba com a União Soviética. do ponto de vista cubano. mais tarde. Cuba "devia" à União Soviética. Na década de 1970. passou a maior parte da década de 1960 tentando fomentar a revolução na América Latina. os Estados Unidos. e o comércio com os soviéticos estava ajudando a economia cubana a manter-se. Cuba considerava os mísseis como um agente de inibição contra uma invasão americana. Cuba reconheceu que sua melhor defesa era o ataque e disseminou sua ideologia e suporte político para países em desenvolvimento. que era avalizado pela República Popular da China e pela União Soviética. Ngo Dinh Diem e Nguyen Van Thieu. mas no Vietnã não houve nem vitória nem honradez. até a dramática retirada dos oficiais americanos da capital do Vietnã do Sul. Filipinas e Tailândia. mas em uma guerra civil abrangente na qual o Vietnã do Norte comunista e seus aliados chineses e soviéticos confrontaram-se com o "mundo livre" . em especial em países do Terceiro Mundo. simbolizada pelos helicópteros que partiam da embaixada dos Estados Unidos enquanto hordas de vietnamitas tentavam agarrá-los e escapar com eles. uma superpotência com todo o seu aparato militar e força de trabalho tecnicamente especializada com certeza poderia derrotar um força guerrilheira mal treinada. os Estados Unidos e diversos partidários. Os Estados Unidos deveriam usar toda sua capacidade militar convencional para evitar a "queda" do Vietnã do Sul e afastar o perigo do efeito dominó? Os Estados Unidos deveriam lutar até garantir a vitória para o liberalismo e o capitalismo? O u deveriam livrar-se desse atoleiro impopular? Os Estados Unidos deveriam capitular às forças do comunismo ideológico? Essas perguntas. Para a maioria dos políticos dos Estados Unidos. argumentavam eles. o efeito dominó não ocorreu. os Estados Unidos intensificaram o suporte militar aumentando o contingente de tropas em terra e elevando progressivamente o combate aéreo no norte.o C O N T E X T O HISTÓRICO D A S RELAÇÕES INTERNACIONAIS. em 1975. Porém. como o governo e o exército do Vietnã do Sul não conseguiram cumprir sua parte. à medida que o número de baixas americanas aumentava e o país se desencantava.. Nos primeiros estágios. definiram os anos intermediários da Guerra Fria. os Estados Unidos apoiaram os ditadores do Vietnã do Sul. . logo os políticos dos Estados Unidos desiludiram-se. antes de espalhar-se como uma carreira de peças de dominó que caem uma após a outra por todo o resto do sudeste da Ásia e além (daí surgiu o termo efeito dominó). o Vietnã representava mais um teste da doutrina de contenção: a influência comunista tinha de ser estancada. ao contrário do que se esperava. O esforço dos Estados Unidos para impedir uma tomada comunista no Vietnã do Sul falhou. no final da década de 1950. Saigon. entre eles Coréia do Sul. O poder dos Estados Unidos deveria ser um poder honrado. porém..o Vietnã do Sul aliado com a França. Ali. Mas o bloco soviético saiu da Guerra do Vietnã relativamente sem arranhões. A aliança ocidental liderada pelos Estados Unidos ficou seriamente abalada porque vários de seus aliados (incluindo o Canadá) demonstraram forte oposição à política dos Estados Unidos em relação ao Vietnã. I 43 O Vietnã configurou um teste de tipo diferente. Assim. As alianças da Guerra Fria balançaram dos dois lados: a amizade entre a União Soviética e a China havia muito tinha degenerado em uma luta geoestratégica e uma discussão sobre a forma adequada de comunismo. contra o regime comunista rival de Ho Chi Minh no norte. colocadas em termos geoestratégicos. A confiança em alternativas militares ficou abalada nos Estados Unidos e solapou por mais de uma década sua capacidade de comprometer-se militarmente. afinal. Todavia. desde o lento início da Guerra do Vietnã. os Estados Unidos estavam razoavelmente confiantes na vitória. A estrutura bipolar do sistema internacional da Guerra Fria estava se esfacelando. bem como ideológicos. a Guerra Fria desenvolveu-se não em uma única crise dramática. no final da década de 1950 e início da década de 1960. apoiado pelos Estados Unidos. após a fundação do Estado de Israel em 1948. para manter o equilíbrio. Não é surpresa que.44 I PRINCÍPIOS DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS Quando uma das superpotências agia. Iraque e Egito. Enquanto o equilíbrio básico de poder era mantido entre Israel (e os Estados Unidos) de um lado e os árabes (e soviéticos) do outro. apoiados pelos soviéticos. Durante a Guerra dos Seis Dias. a região ficava por conta própria. Os Estados Unidos condenaram verbalmente essas ações agressivas dos soviéticos que. os soviéticos Rcaram quietos quando os Estados Unidos partiram para açáo agressiva dentro da esfera de influência da União Soviética invadindo a ilha de Granada em 1983 e o Panamá em 1989. em 1967. Em 1956. . agentes lutaram em seu lugar. Muitos dos eventos da Guerra Fria envolveram os Estados Unidos e a União Soviética apenas indiretamente.ficaramquietos. também demonstraram relativa complacência. no mínimo. Israel aniquilou os árabes equipados pelos soviéticos em seis curtos dias. De maneira semelhante. Assim. os Estados Unidos estavam atolados no Vietnã e assediados por tumultos internos e uma eleição presidencial. durante a Guerra do Yom Kippur. preocupados com a crise do Canal de Suez. Na África houve numerosos eventos disso. Outras controvérsias assolavam a região. em outras circunstâncias. Porém. o outro lado preferia náo agir ou. a vitória israelense não foi tão acachapante porque os Estados Unidos e os soviéticos negociaram um cessar-fogo antes de se passarem muitos anos. a União Soviética invadiu a Hungria em 1956 e a Tchecoslováquia em 1968. Quando os belgas colonialistas saíram abruptamente do Congo em 1960. Em 1973. o Oriente Médio era uma região de vital importância em razão de seus recursos naturais (incluindo aproximadamente um terço do petróleo existente no mundo e mais da metade das reservas mundiais de petróleo). nem sempre o outro lado reagia. durante a Guerra Fria. conquistando os territórios estratégicos das Montanhas de Golan. A guerra civil explodiu porque várias facções contendoras procuravam conquistar o poder e impor ordem no caos. ambas Estados soberanos e aliados do Pacto de Varsóvia. de sua posição estratégica como centro de distribuição de transporte entre Ásia e Europa e de sua significância cultural como berço das três maiores religiões do mundo. reconhecido diplomaticamente primeiro pelos Estados Unidos. essas guerras "quentes" foram seguidas por ações de guerrilha executadas por todos os participantes. até mesmo ações evidentemente agressivas por uma das superpotências nem sempre provocaram uma reação da outra. Portanto. Em 1968. ainda que pudesse intensificar o conflito. as superpotências entravam em cena por meio de agentes. embora não tivessem gostado quando os soviéticos invadiram o Afeganistão em 1979. poderiam ter sido combatidas com contra-ataque. Tanto para os Estados Unidos quanto para a União Soviética. Em partes do mundo de menor importância estratégica. Em alguns casos. a região tenha sido cenário de confrontação entre superpotências por meio de agentes: entre Israel. durante toda a Guerra Fria. quando esse equilíbrio era ameaçado. surgiu um vácuo de poder. mas as ações em si passaram em branco. cônscios de que não estavam bem preparados para uma interferência militar. U m desses contendores. não reagir à altura. Em parte alguma isso foi mais verdadeiro do que no Oriente Médio. Gaza e Margem Esquerda. como ficou evidente após o final da Guerra Fria. Por exemplo. os Estados Unidos. e os Estados árabes da Síria. a confrontação por meio de agentes era o modus operandi preferido durante a Guerra Fria. o primeiro Tratado de Limitação de Armas Estratégicas (SALT I) estabeleceu um limite superior absoluto à quantidade de mísseis balísticos intercontinentais (MBIC). os participantes de guerras civis conseguiram transformar suas lutas em confrontações por agentes da Guerra Fria conseguindo. as Nações Unidas evitaram a confrontaçáo por agentes com o envio de pacificadores supostamente neutros cuja finalidade primordial era preencher o vácuo e impedir que as superpotências transformassem o Congo em mais um terreno da Guerra Fria. Por quê? Gaddis atribui a longa paz a cinco fatores.o C O N T E X T O HISTÓRICO D A S RELAÇÕES INTERNACIONAIS. um aliado dos Estados Unidos. em 1972. em reuniões de cúpula (encontros de líderes) e em tratados. também estava bastante identificado com os interesses ocidentais e lutava por controle. desse modo. Exatamente como uma guerra generalizada foi evitada na Europa do século XIX.. líder da província de Katanga. É provável que a explanação mais amplamente . Todavia. pediu ajuda aos soviéticos na luta contra os insurgentes apoiados pelo Ocidente e recebeu suporte diplomático. rotas de transporte ao redor do Chifre) e ideologias sem confrontarem-se diretamente. Por exemplo. Esses conflitos armados por agentes serviam aos interesses das superpotências permitindo que elas projetassem poder e apoiassem interesses geoestratégicos (petróleo na Angola. Joseph Kasavubu. A guerra civil de três anos poderia ter-se tornado mais uma longa guerra de agentes entre os Estados Unidos e a Uniáo Soviética por influência nesse continente emergente. A Guerra Fria como uma longa paz Se a Guerra Fria é mais lembrada como uma série de crises e algumas confrontações diretas e indiretas. bem como suprimentos militares. terminou abruptamente quando os soviéticos abateram uma aeronave espiã U-2 dos Estados Unidos sobre o território soviético. Algumas reuniões de cúpula da Guerra Fria alcançaram relativo sucesso: a cúpula de Glassboro em 1967 (entre Estados Unidos e líderes soviéticos) iniciou o alívio de tensões conhecido como détente. equipamento militar e assistência técnica de uma das duas superpotências. as superpotências realmente gozaram de períodos de acomodação quando podiam concordar com princípios e políticas. uma guerra generalizada também foi evitada desde a Segunda Guerra Mundial. rica em cobre. seja uma explicação suficiente. Contudo. como Moise Tshombe. tomado isoladamente. sem que nenhum deles.. por que é denominada "longa paz"? O termo em si foi cunhado pelo historiador diplomático John Lewis Gaddis para dramatizar a ausência de guerra entre grandes potências durante a Guerra Fria. dispôs sobre as ogivas nucleares e a retomada da posse de veículos múltiplos independentemente visados (MIRV) e limitou o número de sítios munidos de mísseis antibalísticos mantidos pelas superpotências. Tratados entre as duas partes impuseram limitações de comum acordo às armas nucleares. I 45 O premiê congolês Patrice Lumumba (1925-1961). Outros ainda. em Angola e também no Chifre da África (Etiópia e Somália). mas o encontro entre o presidente Dwight Eisenhower e o premiê Nikita Khrushchev em Viena. em 1960. Contudo. Portanto. Lumumba foi destituído pelo presidente do Congo. A Guerra Fria também foi lutada e refreada por conversações. mas sempre em casos cruciais .^^ Os Estados Unidos e a União Soviética.46 I PRINCÍPIOS DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS aceita gire em torno do papel da intimidação nuclear. é impossível desvencilhar uma explanação da outra. embora esse argumento explique por que os Estados Unidos agiram para realçar a estabilidade econômica no pós-guerra. assim. Por fim. Contudo. Esse argumento será aprofundado no Capítulo 8. também tornaram-se previsíveis e familiares um para o outro. Por conseqüência. Proporcionaram segurança militar ao Japão e à grande parte do norte da Europa. Essa explicação sugere que a Guerra Fria nada mais é do que uma marca em um único longo ciclo e que os eventos ou condições específicos que ocorreram durante a Guerra Fria não oferecem nenhum poder explanatório. cautelosos. como será explicado no Capítulo 4. o premiê soviético na época. na verdade. flexíveis e controlados". Interesses comuns no crescimento econômico e na estabilidade do sistema sobrepujaram o longo relacionamento como adversários. esses ciclos são impulsionados por crescimento econômico desigual. bem cedo mostraram-se nem sempre e não em toda parte. mas ao liberalismo econômico. A era pós-Guerra Fria A queda do Muro de Berlim em 1989 simbolizou o final da Guerra Fria mas. que sempre exerceram política internacional sem tutela e famosos pelo comportamento impulsivo.^5 Seja qual for a combinação "certa" de explanações. o teórico de relações internacionais Kenneth Waltz comentou a ironia da longa paz: ambos. e outros . nenhum estava disposto a usá-las. visto que tal ação poria em risco a existência de ambos os Estados. e sua moeda foi o alicerce do sistema monetário internacional. seu final foi gradual. as grandes potências tornaram-se cada vez mais obsoletas. isto é. apenas uma das fases de um longo ciclo histórico de paz e guerra. Tão logo Estados Unidos e União Soviética adquiriram armas nucleares. Essa paridade de poder resultou em estabilidade no sistema internacional. previdentes e cautelosos um em relação ao outro. "dois Estados isolacionistas por tradição. a ordem econômica liberal solidificou-se e tornou-se um fator dominante nas relações internacionais. Como ocupou uma posição econômica superior durante grande parte da Guerra Fria. Durante a Guerra Fria. Mikhail Gorbachev. os Estados Unidos pagaram de boa vontade o preço da manutenção da estabilidade. Gaddis explora a possibilidade de que a longa paz da Guerra Fria fosse predeterminada. Uma outra explicação atribui a longa paz à divisão de poder entre os Estados Unidos e a União Soviética. a paz da Guerra Fria é atribuída à dominância do liberalismo econômico. não explica as ações dos soviéticos. Entretanto.e.previdentes. Uma terceira explicação para a longa paz é a estabilidade imposta pelo poderio econômico hegemônico dos Estados Unidos.baseada em interesses e coalizões que atravessavam as tradicionais fronteiras entre Estados . Ele argumenta que a cada 100 a 150 anos ocorre uma guerra em escala global. alerta. Uma quarta explanação atribui o crédito pela manutenção da paz não a nenhuma das superpotências. Estados Unidos e União Soviética. A política tornou-se transnacional sob o liberalismo . uma vez que o advento das armas nucleares ocorreu simultaneamente à emergência do sistema. pelo final da Guerra Fria? Foi o poderio militar do Ocidente que levou os soviéticos a tornarem-se menos belicosos e menos ameaçadores? O u eventos internos da própria União Soviética levaram a essa derrocada? Foi culpa do comunismo. em impor sanções econômicas ao Iraque. a União Soviética (mais tarde. I 47 reformistas soviéticos tinliam posto em movimento dois processos internos . Então. Reconhecendo que era necessário livrar o país do atoleiro político e da drenagem da economia representada pela guerra no Afeganistão e ao mesmo tempo "salvar as aparências". A União Soviética tinha se retirado. juntamente com os quatro membros permanentes do Conselho de Segurança das Nações Unidas concordaram. diante da comunidade internacional. uma vez iniciadas.. resultou em mais pobreza e mais repressão política? O u foi o fracasso do sistema burocrático soviético que levou à desintegração final do país? Será que também os Estados Unidos esgotaram sua capacidade de prosseguir com a confrontação global.o C O N T E X T O HISTÓRICO D A S RELAÇÕES INTERNACIONAIS. os soviéticos concordaram e deram suporte à retirada das tropas cubanas de Angola em 1988. Rússia). bem como em lugares longínquos. por meio de uma resolução do Conselho de Segurança. K glasnost abriu a porta à crítica do sistema político.a glasnost (abertura política) e a perestroika (reestruturação econômica) em meados da década de 1980. O primeiro teste pós-Guerra Fria da denominada Nova Ordem Mundial veio em resposta à invasão e anexação do Kuwait pelo Iraque em agosto de 1990. na verdade. As reformas internas de Gorbachev também resultaram em mudanças na orientação da política externa soviética.. por isso. Essas mudanças na política soviética e a eventual derrocada do próprio império marcam o início da era pós-Guerra Fria e hoje são assunto de muito estudo na área de relações internacionais. porém. como afirmam os teóricos realistas russos? Não há uma resposta única satisfatória. essas reformas levaram à dissolução do Pacto de Varsóvia e à renúncia de Gorbachev em dezembro de 1991 e à desintegração da própria União Soviética em 1992-1993. uma estrutura econômica que não era prática? Foi em razão da resistência dos que se opunham ao comunismo na política interna soviética? Ou foi o fato de que o comunismo não somente fracassou mas. No início. culminando no surgimento de um sistema multipartidário e na reorientação maciça do Partido Comunista . uma parte essencial do sistema comunista. O que explica essas mudanças notáveis? As preparações do Ocidente para a guerra ou seu forte sistema de alianças forçaram a União Soviética à submissão? O poder e a política ocidentais foram responsáveis pela derrocada dos soviéticos e. de compromissos próximos às suas fronteiras. De maneira semelhante.O Afeganistão foi um teste pelo qual um pequeno grupo de observadores das Nações Unidas monitorou e inspecionou a retirada do contingente de mais de cem mil soldados soviéticos e m l 9 8 8 e l 9 8 9 . Gorbachev e seus reformadores procuraram salvar o sistema. elementos de cada uma desempenharam um papel.uma ação que teria sido impossível durante o auge da Guerra Fria. A perestroika minou as fundações da economia planejada. antes de mais nada.até então monopolista. O mais importante é que os soviéticos concordaram em cooperar em atividades multilaterais para preservar a segurança regional. Apesar da relação de longa data entre os soviéticos e o Iraque. Gorbachev sugeriu que os membros permanentes do Conselho de Segurança das Nações Unidas "poderiam tornar-se os garantidores da segurança regional". concordaram em . resultando em ação das Nações Unidas e da OTAN. no final da d é c ^ a de 1980. guerras civis e abuso dos direitos humanos. Espanha e Grã-Bretanha. Essa era parece estar marcada pela primazia dos Estados Unidos em assuntos internacionais a um E 171 F o c o DESENVOLVIMENTOS DECISIVOS NA ERA PÓS-GUERRA FRIA Mudanças realizadas na política externa soviética/russa com a retirada do Afeganisfâo e de Angola. O final da Guerra Fria denota uma importante mudança nas relações internacionais. Ásia Central e subcontinente indiano. Invasão do Kuwait pelo traque em 1990 e a reação multilateral unida dos antigos adversários da Guerra Fria. sendo a primeira a primazia dos Estados Unidos e a segunda a guerra civil e a luta étnica. Essas realidades duais convergiram e divergiram durante a década de 1990 e continuam assim hoje. a Rússia mantém poderio militar e influência política suficientes para impedir a intervenção dos Estados Unidos em hostilidades étnicas nas regiões transcáucaso. A violenta desintegração da Iugoslávia ocorreu durante toda a década. Glasnost e perestroika continuam na Rússia. mesmo quando desejam partir em direções não favorecidas por seus aliados. apesar das tentativas do Ocidente de resolver o conflito pacificamente. a coalizão manteve-se. apesar da primazia dos Estados Unidos. os Estados Unidos conseguem impor sua vontade a outros Estados. os Estados Unidos e forças de coalizão reagem com uma ofensiva militar no Afeganistão e Iraque. como reorganizada em 1992-1993. A antiga Iugoslávia desintegra-se em Estados independentes. em seguida explode a guerra civil na Bósnia e no Kosovo. Surgem conflitos étnicos dispersos pela África Central e Ocidental. o final de uma era histórica e o início de outra. o que incentivou ainda mais os rebeldes e as elites que têm algo a ganhar com a anarquia na região a continuarem com essas atividades no futuro. convencê-la a abster-se). O genocídio em Ruanda e Burundi correu à solta sem ser contestado pela comunidade internacional. Por fim. Aparentemente. apoiaram o envio de uma Missão de Observação Iraque-Kuwait das Nações Unidas para monitorar a zona e permitiram que as Nações Unidas realizassem uma intervenção humanitária e criasse refúgios seguros para as populações curdas e xiitas do Iraque. Ocorrem ataques terroristas na Arábia Saudita. essa primazia ainda não consegue impedir a ocorrência de conflitos étnicos. A década de 1990 foi marcada por realidades duais. Além disso. monitorada pelas Nações Unidas. Embora tenha sido difícil chegar a um consenso para cada uma dessas ações (ou. o mundo testemunhou a tensão e a violência étnicas na região dos Grandes Lagos na África Central. A rede terrorista Al Qaeda comete ataques tenroristas contra o território dos Estados Unidos e contra interesses dos Estados Unidos no exterior.4S I PRINCÍPIOS DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS apoiar a restauração do status quo expulsar o Iraque do Kuwait com uma força militar multinacional. Ao mesmo tempo. A desintegração da Iugoslávia culminou em uma guerra liderada pelos americanos contra a Sérvia para estancar os ataques étnicos contra a população albanesa no Ko- . no caso da China. Entretanto. ponto que nem mesmo os romanos ou Alexandre o Grande igualaram. que alguns denominaram era da globalização. uma unidade impensável durante a Guerra Fria. destruíram o exército iraquiano e depuseram o governo do Iraque. psicologicamente arrasadores e economicamente destrutivos contra duas cidades importantes dos Estados Unidos. convencidos de que o Iraque mantinha um programa clandestino de armas de destruição em massa e representava uma ameaça contínua por seu apoio a organizações terroristas. Pode ser que o sucesso ou o fracasso dos Estados Unidos no Iraque e contra as organizações terroristas globais determine se sua posição de primazia se fortalecerá ou minguará e. os Estados Unidos montaram sua própria coalizão juntamente com o Reino Unido. Em 11 de setembro de 2001. Resumindo: aprendendo conn a História o pós-Guerra Fria será caracterizado pela cooperação entre as grandes potências ou será uma era de conflitos entre Estados e entre novas idéias? O mundo pós-Guerra Fria . Os Estados Unidos. D . que visava especificamente aos terroristas e a seus partidários e conduziu ao poder um líder eleito naquele país. estabeleça o panorama internacional para o restante da primeira década do século XXI.. por conseqüência. Mesmo após a recessão econômica que se seguiu aos ataques terroristas de 11 de setembro em Nova York e Washington.. organizasse e executasse livremente uma campanha global de terror contra os Estados Unidos e seus aliados. Porém. os Estados Unidos usaram sua posição de primazia para divergir de seus aliados. os Estados Unidos induziram a O T A N a intervir. Muitos países estão prendendo terroristas conhecidos e seus partidários e congelando seus ativos monetários. Os Estados Unidos lutaram uma guerra no Afeganistão para depor o regime talibã que dava abrigo seguro à organização terrorista A l Qaeda de Osama bin Laden e uma base que permitia que ele planejasse. C .o CONTEXTO HISTÓRICO D A S RELAÇÕES INTERNACIONAIS. I 49 Apesar da hesitação européia em engajar-se militarmente e da incapacidade de obter uma resolução das Nações Unidas de apoio à ação militar. Amparados por uma onda avassaladora de apoio do mundo inteiro e invocando pela primeira vez na história o artigo V da Carta da O T A N que declara que um ataque a um membro da organização é um ataque a todos os membros. Essa nova guerra ao terror combina muitos elementos em múltiplas campanhas com diferentes focos em diversos países. SOVO. o mundo testemunhou ataques terroristas mortais. apesar de sua primazia. A guerra global contra o terrorismo está longe de acabar e a questão de o poderio dos Estados Unidos vir a ser ou não equilibrado por uma potência emergente também está longe de ser resolvida. Quando as Nações Unidas recusaram-se a apoiar sua petição. os Estados Unidos não se sentem seguros contra um ataque. Esses ataques resultaram em uma guerra global contra o terrorismo liderada pelos Estados Unidos. tentaram obter apoio das Nações Unidas que autorizasse a remoção à força de Saddam Hussein do poder e a procurar as armas de destruição em massa que estariam escondidas. o poderio militar e a economia dos Estados Unidos ainda são os maiores do mundo. Após uma campanha bem-sucedida no Afeganistão. os Estados Unidos decidiram liderar uma coalizão ad hoc de alcance global para combater organizações terroristas. A guerra no Iraque continua até hoje. embora Hussein tenha sido executado em 2006. A batalha aérea de 78 dias terminou com a capitulação dos sérvios e a entrega da província de Kosovo à administração das Nações Unidas. George F. toma eventos específicos e dá explicações generalizadas. Martin's. 1995). A teoria dá ordem à análise. "De Monarchia". 13. 4. "The United States and the Soviet Union. 1939. W J. Walworth. 7. Edward Hallett Carr. Kegley Jr. No Capítulo 3 estudaremos as teorias e perspectivas concorrentes sobre relações internacionais. e como essas tendências influenciaram o pensamento contemporâneo. 3. 1960). 15. 683-84. George F. O exame que fizemos do desenvolvimento das relações internacionais contemporâneas focalizou o modo como conceitos essenciais de relações internacionais surgiram e desenvolveram-se ao longo do tempo.. 173. "Secure World". Lacey e B. C. mas sua soberania pode estar sofrendo erosáo de fora (Capítulos 7. Woodrow Wilson (Baltimore: Penguin. tradução de W. Ibid. recorremos à teoria. Adam Smith. Esses conceitos. rep. Niccolò Machiavelli. ed. G. e Eugene R.: Cambridge University Press. Wilson (Londres: Oxford University Press. 2 de agosto de 1950. 16. 1964).. 10. 1940). Waltz. Soviet Union. 5.: Basil Blackwell. 11. Kenneth N. 12. The Prince and the Discourses (Nova York: Random House. como relatado em Foreign Broadcast Information Service. 25. Daily Report. Ibid. 94. 17 de setembro de 1987. 224. Foreign Affairs 25 (julho de 1947). (Nova York: Penguin. 1977). 8. em The Portable Dante. 148.50 I PRINCÍPIOS D E RELAÇÕES INTERNACIONAIS sinaliza um retorno ao sistema multípolar do século XIX? O u essa era testemunhará um sistema unipolar dominado pelos Estados Unidos e comparável à hegemonia britânica no século XIX? Como podemos começar a prever qual será a melhor caracterização para a era atual ou que o futuro trará? Demos o primeiro passo para responder a essas questões olhando para o passado. 9. . Six Books on the Commonwealth (Oxford. Res Publica: Roman Politics and Society according to Cícero. John Lewis Gaddis. 17. Theory ofInternational Politics (Reading. K. 9. Kennan ["X"]. Dante. 28. 1969). 1979). Pravda. 566-82. 1917-1976". As principais características do sistema internacional contemporâneo são o processo de mudança com ofimda bipolaridade da Guerra Fria (Capítulo 4). Josef Stalin. "The Sources of Soviet Conduct". 14. O Estado está bem estabelecido. International Security 10:4 (primavera de 1986). Two Treatises on Government (Cambridge. Mikhail Gorbachev. Para ajudar a entender as tendências do passado. Nova York: St. Mass: Addison-Wesley. 92-142. Cicero. Jean Bodin. 1967). "Reply to Comrades". a soberania. e para prever futuros desenvolvimentos. nos dáo os blocos construtivos para as relações internacionais contemporâneas. Kennan. 1970). Eng. Wittkopf. a naçáo e o sistema internacional. An Inquiry into the Nature and Causes of the Wealth of Nations (Nova York: Mode Library. NOTAS 1. Foreign Affairs 54 (julho de 1976). 1919-1939: An Introduction to the Study ofIntern nal Relations (Nova York: Harper Torchbooks. "The Long Peace: Elements of Stability in the Postwar International System". Eng. desenvolvidos dentro de um contexto histórico específico. editor. 2. 1937). 6. Citado em A. 25. 10) e de dentro (Capítulo 5). Paolo Milano. Citado em Charles W. The Twenty Years'Crisis. World Politics: Trend and Transformation (5. com destaque para o Estado. Essa teorias vêem o passado de diferentes perspectivas. John Locke.