BRAVERMAN, Harry.Trabalho e capital monopolista: a degradação do trabalho no século XX. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1980. Introdução Braverman parte do fato imediato de que a classe diretamente ligada à produção, os operários industriais, aparentemente estavam diminuindo. Seu interesse, portanto, recaia sobre “a estrutura da classe trabalhadora e a maneira pela qual ela havia mudado.” (p.15) Contra os apologistas tradicionais das transformações no sistema capitalista; contra a alegação de que o trabalho se tornava cada vez mais especializado e exigia mais qualificação, Braverman iniciou seu estudo, auxiliado pela experiência de décadas em trabalhos de todos os tipos que havia exercido. Ele parte da teoria marxiana clássica, buscando pouco apoio na teoria econômica marxista contemporânea, senão talvez de Baran e Sweezy, e Lênin. O lugar central no primeiro volume de O Capital é ocupado pelo estudo do processo do trabalho, na medida em que ele ocorre sob o controle do capital. [...] Marx mostra como os processos de produção na sociedade capitalista são incessantemente transformados sob o ímpeto da principal força norteadora daquela sociedade: a acumulação de capital. Para os trabalhadores em geral, esta mudança se manifesta, em primeiro lugar, como uma transformação contínua nos processos de trabalho de cada ramo da indústria e, em segundo, como uma redistribuição do trabalho entre ocupações e atividades. (p.19) Deixando claro seu objeto, o autor afirma que “Neste livro nos ocuparemos inteiramente do desenvolvimento dos processos de produção e dos processos do trabalho em geral na sociedade capitalista.” (p.24). Quanto aos países do bloco comunista, Braverman defende que pouca diferente existe entre estes e aquela sociedade. “A esta altura devo dedicar algumas páginas à discussão do parecer de Marx quanto à relação entre a tecnologia e a sociedade [...].” (p.26). Citando um trecho da crítica de Marx a Proudhon na Miséria da filosofia, trecho no qual ele afirma a relação necessária entre o desenvolvimento das forças produtivas e as transformações nas relações sociais, Braverman pretende refutar as críticas dirigidas a Marx, acusando-o de um determinismo econômico. Não existe semelhante coisa na teoria sociológica e econômica marxista. Forças produtivas e relações sociais estão em perpétua interrelação, influenciando-se mutuamente, transformando-se mutuamente. Nem uma, nem outra pode ser considera causa ou efeito exclusivos. Assim, em O capital, Marx trata 31) Agora Braverman deixa de lado a questão da relação entre tecnologia e sociedade e passa a alguns esclarecimentos sobre a chamada “nova classe trabalhadora”. da divisão do trabalho entre ocupações e ramos de produção. de tal sorte que aquela definição torna-se estéril ou vaga para explicar esses processos concretos. De fato. Braverman adverte o leitor para sua impossibilidade de aceitar os discursos que advogam o nascimento de uma “nova classe trabalhadora”.] o primeiro volume de O Capital pode ser considerado um ensaio macuco sobre como a mercadoria se constitui. (p.. ..” (p.. A definição clássica de classe trabalhadora como aquele segmento da população destituído de meios de produção e obrigado a vender sua força de trabalho no mercado. da divisão social do trabalho. [. como amadurece na forma de capital e como a forma social de capital.29). Parte I – Trabalho e gerência Cap. levado a incessante acumulação como condição de sua própria existência.” (p. isto é. em um apropriado quadro social e tecnológico. E também: “o propósito deste livro é o estudo dos processos de trabalho da sociedade capitalista. presente em Marx.[. nele Braverman expõe a distinção. É bastante interessante a crítica que o autor faz da sociologia contemporânea e das concepções metodológicas e dos temas em moda. Dentro dos limites históricos e analíticos do capitalismo. a maneira pela qual os processos de trabalho são organizados e executados.] a relação entre o capital como uma forma social e o modo capitalista de produção como uma organização técnica.28-9) A partir dessa argumentação. mas é dinâmico e se transforma historicamente sob a pressão das forças sociais que atuam na sociedade capitalista. como o „produto‟ das relações sociais que conhecemos como capitalistas. a tecnologia em vez de simplesmente produzir relações sociais é produzida pelas relações sociais representadas pelo capital. segundo Braverman.. de acordo com a análise de Marx. Basicamente. não tem valor analítico ou explicativo. Por outro lado. Braverman assinala suas relações com seu estudo: “será discutido aqui o „modo de produção‟ que vemos em torno de nós. e do modo específico pelo qual eles são constituídos pelas relações de propriedade capitalistas. transforma completamente a tecnologia. uma vez que a classe não é um elemento fechado e estático na estrutura social. 3 – A divisão do trabalho Este capítulo é de grande importância para os fins que a obra do autor têm em mira. estritamente capitalista. a divisão social do trabalho é aparentemente inerente característica do trabalho humano tão logo ele se converte em trabalho social. a divisão social do trabalho é forçada caótica e anarquicamente pelo mercado. Enquanto a divisão social do trabalho subdivide a sociedade. como um único princípio técnico abstrato. os produtos da divisão social do trabalho são trocados como mercadorias. a divisão pormenorizada do trabalho destrói as ocupações consideradas neste sentido. é a maior fonte de confusão nos estudos desse assunto. da divisão no interior de uma fábrica ou qualquer outro tipo de indústria. a parcelização é mais característica e exprime essencialmente a lógica da produção capitalista. isto é. e torna o trabalhador inapto a acompanhar qualquer processo completo de produção. exceto talvez insistir para o fato de que. preso a um só elemento. a divisão manufatureira do trabalho. Ainda no capitalismo. a subdivisão do indivíduo. sob o controle do capital ela se transforma. quando efetuada com menosprezo das capacidades e necessidades humanas. a divisão social do trabalho no capitalismo torna-se anárquica porque regida pelos movimentos anárquicos do mercado. é a sociedade que se divide em vários ramos distintos da produção social. que acompanha todo o desenvolvimento sócio-histórico da humanidade. enquanto a divisão do trabalho na oficina é imposta pelo planejamento e controle. Muito contrariamente a esta divisão geral ou social do trabalho é a divisão do trabalho em pormenor. embora a divisão social do trabalho seja um fenômeno geral à espécie humana.com relação à divisão do trabalho nas manufaturas. cada qual apropriada a certo ramo de produção. Assim. a parcelização no interior de uma manufatura é um fenômeno particular. na divisão da manufatura é o homem que é desmembrado em um sem-número de atividades simples. e enquanto a subdivisão da sociedade pode fortalecer o indivíduo e a espécie. O hábito de considerar como um único continuum o trabalho social e as divisões parceladas dele. no segundo. a divisão social do trabalho é um fenômeno geral. A divisão do trabalho na sociedade é característica de todas as sociedades conhecidas. isto é. a divisão do trabalho na oficina é produto peculiar da sociedade capitalista. (p. Como bem observado pelo autor. No capitalismo. o trabalhador. enquanto que. enquanto os resultados da operação do trabalhador parcelado não são trocados dentro da fábrica como no mercado. Na divisão social do trabalho. A divisão social do trabalho divide a sociedade em ocupações. é um crime contra a pessoa e contra a humanidade. Esta é o parcelamento dos processos implicados na feitura do produto em numerosas operações executadas por diferentes trabalhadores.71-2) Nada mais precisa ser dito. No primeiro caso. torna-se limitado e perde a capacidade de controle do processo . Ainda que sob a lógica da acumulação de capital a divisão social do trabalho também venha a ser produto das suas necessidades. Deve-se notar também para os efeitos positivos da divisão do trabalho no interior da indústria – efeitos positivos para o capital: na medida em que o processo de trabalho é desmembrado em seus elementos constitutivos mais simples. trabalho executado na sociedade e através dela. a divisão parcelada do trabalho subdivide o homem. mas são possuídos pelo mesmo capital. seu fornecimento é impulsionado pela demanda. Parte II – Ciência e mecanização Cap. acompanhava e extraia conclusões teóricas do desenvolvimento concreto da indústria.] Como todas as mercadorias. Isto foi realizado por meio da transformação da ciência mesma numa mercadoria comprada e vendida como outros implementos e trabalhos de produção. a ciência exerce um papel fundamental. 7 – A revolução técnico-científica Como esse e o capítulo seguinte são de suma importância para a compreensão do problema levantado pelo estudo de Braverman. resultando que o desenvolvimento de materiais.. ou era aplicada nela de maneira ocasional. Nos últimos vinte e cinco anos do século XIX. vieram o progresso planejado da tecnologia e projeto de produção. Com efeito. A ciência submetia-se. no limite. Essa é a condição básica da acumulação.] deve ser compreendida mais em sua totalidade como um modo de produção no qual a ciência e investigações exaustivas da engenharia foram integradas como parte de um . aquele revolução de que nos fala Braverman se caracteriza pela incorporação da ciência ao capital. A nova revolução técnico-científica que reabasteceu o acervo de possibilidades tecnológicas tinha um caráter consciente e proposital amplamente ausente na antiga. assim. Nesse sentido. [. A revolução técnico-científica.. facilmente assimilável pelo trabalhador. fontes de energia e processos tornou-se menos fortuito e mais atento às necessidades imediatas do capital. porquanto cada tarefa torna-se simples e repetitiva. vamos rapidamente fazer dele um breve resumo. [. começou o que Landes chamou de “a exaustão das possibilidades tecnológicas da Revolução Industrial”.. ao controle do capital. O período monopolista do capital passou a empregar sistematicamente a ciência no desenvolvimento tecnológico destinado à produção social. indiretamente suscitada pelos processos sociais de produção. A premissa mais básica do capitalismo não é senão está: aumentar ao máximo possível a relação da produtividade por trabalhador. Em vez da inovação espontânea. a aplicação sistemática da técnica e da ciência no processo produtivo no sentido de renovar perpetuamente a estágio tecnológico da sociedade. Braverman distingue a revolução técnico-científica da chama da Revolução Industrial. Se esta caracterizou-se pelo desenvolvimento da tecnologia no interior do processo produtivo. por essa razão. sendo que a ciência apenas.como um todo. e fazia dos fins dele seus próprios fins.. é condição principal para a ordem capitalista. a consequência mais importante desse efeito é o barateamento da força de trabalho. foi então. assim como da teorização de Baran e Sweezy a respeito do capital monopolista. mas é realocado no interior do processo produtivo social como um todo. ganhou uma nova dimensão com o desenvolvimento da maquinofatura. o desenvolvimento tecnológico na indústria – assim como na agricultura – levou – e leva – à eliminação constante da força de trabalho necessária à consecução do processo. as rivalidades internacionais e os conflitos armados pela divisão do . Sobre a natureza do capital monopolista. que a estrutura moderna da indústria e das finanças capitalistas começou a tomar forma. cartéis e outras formas de combinação.funcionamento normal. Braverman parte da constatação de que o capitalismo contemporâneo diverge em ampla medida do capitalismo concorrencial. o desenvolvimento tecnológico proporcionou aquilo que Marx chama de subsunção real do processo de trabalho ao capital. a rápida consumação da colonização do mundo. a produtividade aumenta. Assim. sendo obrigado agora a sujeitar-se à máquina e ao seu ritmo. sob a forma dos primeiros trustes. os efeitos dessa revolução para o processo de trabalho podem ser apreciados em dois aspectos. na Eletrônica. Ao mesmo tempo. na maquinaria automática. O trabalho vivo é cada vez mais substituído pelo trabalho morto. mas antes na transformação da própria ciência em capital. começaram a firmar-se. o trabalho não é simplesmente eliminado. cujo capital movia-se disperso em um grande número de empresas e era gerido pelo proprietário individual ou familiar. consequentemente.146) Cap. A reorganização do processo de trabalho. na aeronáutica. (p. A inovação chave não deve ser encontrada na Química. Os instrumentos de trabalho foram retirados das mãos do trabalhador e passados à máquina. Entretanto. Em segundo lugar. ele escreve: Concorda-se geralmente que o capital monopolista teve início nas últimas duas ou três décadas do século XIX. Parte III – Capital monopolista Capítulo 11 – Mais-valia e trabalho excedente Seguindo a tradição leniniana de definição do capitalismo monopolista como sendo a “quintaessência” do imperialismo. Em primeiro lugar. subdivisões do trabalho e setores mais refratários à absorção de tecnologia e da substituição do trabalho vivo pelo morto são os que acabam por absorver essa força de trabalho excedente. Com isso. 8 – A revolução técnico-científica e o trabalhador Para sermos bastante breves. ou em qualquer dos produtos dessas tecnologias científicas. como desejam alguns. o trabalhador perde o controle de seu próprio trabalho. Foi então que a concentração e centralização do capital. na Física Nuclear. embora já presente nas manufaturas. o que tem como resultado aumentar a produtividade e liberar cada vez mais força de trabalho das necessidades diretamente produtivas. consequentemente. É esse processo de liberar força de trabalho e. uma classe trabalhadora transformada. Ele cita a gerência científica e a incessante revolução técnico-científica como dois aspectos fundamentais que tornaram a transformação do capitalismo concorrencial no capitalismo monopolista. e a aplicação incessante da ciência e da tecnologia na atividade produtiva e econômica. Desse modo. por efeito básico a liberação cada vez maior de força de trabalho da esfera produtiva ou de certos ramos dela. [. não apenas a mudança tecnológica. ela é a causa da dinâmica desse sistema. isto é. a necessidade e o impulso à acumulação do capital constituem a lei mais fundamental do modo de produção capitalista.215-6) Como condição e resultado da transformação produtiva na estrutura do capital. A mais-valia extraída na produção de mercadorias volta à produção como capital. Mas.globo em esferas de influência econômica ou hegemonia inauguraram a moderna era imperialista. o capitalismo monopolista abrange o aumento de organizações monopolistas no seio de cada país capitalista..] Baran e Sweezy tratam menos dos movimentos da produção que dos movimentos deste resultado: o produto. Braverman situa seu próprio pensamento ante a contribuição de Baran e Sweezy: enquanto estes ocuparam-se exclusivamente das transformações no processo produtivo. A acumulação de capital tem.217) A lógica que transforma ininterruptamente o processo produtivo no capitalismo pode ser expressa pela lei geral da acumulação capitalista. A acumulação é garantida pelo desenvolvimento contínuo das forças produtivas mediante a inversão de quantidades cada vez maior de capitais na produção. o imperialismo. não sob o ponto de vista do processo de trabalho do da produção e absorção do excedente econômico. Com efeito. na estrutura da classe trabalhadora. consequentemente. Braverman se preocupa mais com o reflexo que essas transformações implicaram nos processos de trabalho e. (p. pois. como observam eles. Braverman destaca dois aspectos essenciais: a racionalização da organização do trabalho. as transformações que dele resultam na estrutura das classes – sobretudo da classe trabalhadora – que interessa ao autor. como também um produto mutável enseja novos e diferentes processos de trabalho.. assim. o mercado mundial e o movimento mundo do capital. e esse capital tende sempre a cristalizarse como capital constante. O desenvolvimento tecnológico permite esse desenvolvimento cada vez maior do capital constante. uma nova distribuição ocupacional da população empregada e. (p. bem como as mudanças na estrutura do poder estatal. do produto. . [. (p. todavia. Ao estudar essa massa de trabalho. as transformações que tiveram lugar em seu seio quebram . visto que foi deste modo que a estrutura ocupacional e portanto a classe trabalhadora foi transformada. no sentido de Marx. e uma proporção maior de funções de grau inferior rotinizadas. sempre em expansão.. isto é. uma vez que elas são realocadas dentro do sistema. a maioria delas ligadas à gerência. obviamente. técnicas ou burocráticas não especializadas. indústrias inteiras e amplos setores das indústrias existentes cuja única função é a luta pela distribuição do excedente social entre os vários setores da classe capitalista e seus dependentes.” (p.220). assim como as condições de mais acumulação.] milhões de empregos para aqueles que “liberados” da agricultura e “liberados” das indústrias fabris estão. cabenos esboçar algumas das amplas forças sociais em ação.218-9) Cap. como foram Baran e Sweezy. Interessa-nos o excedente do trabalho distribuído em novas formas de produção ou não produção. e ao criar a nova distribuição do trabalho criou a nova vida social amplamente diferente daquela de apenas setenta ou oitenta anos passados. quanto mais o capital acumula. mais cresce exponencialmente a escala e o volume da produção que ele realiza. como é aplicado diretamente na produção. 12 – A empresa moderna “A primeira das amplas forças sociais em ação encontra-se na estrutura modifica da empresa capitalista. a ramos de não produção. de centralizar-se cada vez em um menor número de proprietários. reflete na reestruturação interna das classes trabalhadoras. Ao fazê-lo estamos acompanhando o curso do capital. ou seja. seremos levados não apenas aos “ramos da produção recentemente formados”. resultado da concorrência entre os capitais particulares. e os atalhos pelos quais ele arrastou o trabalho. ocupados de algum modo na divisão social do trabalho. Esta alternância cria uma pequena proporção de funções técnicas. Esse excedente. possa ser diminuído em números e controlado em suas atividades. do período monopolista. se Baran e Sweezy preocuparam-se com o excedente econômico que o processo de acumulação engendra. isto é. Já examinamos a maneira pela qual as ocupações no seio das indústrias fabris são redispostas e o saldo é canalizado ao trabalho indireto de modo que o trabalho na massa. Para esse fim. Na empresa capitalista contemporânea. Impõe-se atentar agora não para as alternâncias ocupacionais no seio das indústrias tradicionais. os movimentos que alteram toda a divisão social do trabalho. a acumulação cria uma divisão do trabalho funcional às suas necessidades. mas também. (p. mas de preferência para as alternâncias industriais. e as alterações sociais que nada mais são do que resultados da rápida acumulação do capital na era monopolista.. o capital que “se lança freneticamente” a toda nova área possível de investimento reorganizou totalmente a sociedade. Braverman preocupa-se com o excedente de força de trabalho que ele gera. Essa modificação resulta de duas tendências básicas no movimento do capital: de concentrar-se.218) Assim. Nesse processo. para seu próprio funcionamento normal. voltada . A financeira.. limitava-se pela disponibilidade de capital e pela capacidade de gerenciamento do capitalista ou grupo de sócios. outras funções de gerência foram destacadas de divisões inteiras. promoção etc. O controle operacional recai cada vez mais sobre um funcionalismo gerencial para cada empresa. antigamente reunidos numa mesma pessoa. Ao mesmo tempo..223) Não apenas a nova organização técnica da produção foi importante para a transformação das empresas no capitalismo monopolista. correspondência. e o capitalismo monopolista ergue-se sobre sua forma. não grande em tamanho converteu-se no centro cerebral de todo o organismo. [. por exemplo.” (p.. que ultrapassam de longe a soma de riqueza daqueles diretamente associados com a empresa.[ Cada uma dessas subdivisões da empresa exige também.. departamentos internos que refletem e imitam as subdivisões de toda a empresa. uma nova dimensão foi dada ao “aparelho de mercadejamento”. subdividida por sua vez em seções de vendas. publicidade.. Assim foi que o mercadejamento veio a ser a segunda subdivisão principal da empresa. mas.. (p.] em cada empresa.. pedidos. comissões. [. agora tornam-se aspectos de classe. via de regra. A empresa como uma forma desfaz o vínculo direto entre o capital e seu proprietário individual. ou seja..226). podemos destacar três importantes aspectos como tendo grandes conseqüências para a estrutura ocupacional. a um imenso crescimento na escala de operações gerenciais. embora. uma nova organização frente às demandas postas pela ampliação dos mercados. Com as necessidades de realização da mercadoria cada vez maiores. [. o que levou a uma reestruturação quanto à divisão do trabalho em seu interior. proprietário e administrador. O agrupamento dos capitais permitiu uma expansão sem precedentes da empresa. Não apenas está aumentando o tamanho das empresas em andamento acelerado [.. O primeiro tem a ver com o mercadejamento.225) “Desse breve esboço do desenvolvimento da empresa moderna.].. de conferir e controlar o progresso de seu avolumamento.. A institucionalização do capital e a atribuição do controle a uma camada especializada da classe capitalista corresponde.220-1) Esse processo implicou na redefinição da estrutura administrativa das empresas. A escala da empresa capitalista. O capital agora ultrapassou sua forma pessoal e limitada e limitadora e passou a uma forma institucional. o setor da empresa voltado para a venda. cronologicamente.] mas ao mesmo tempo as funções empreendidas pela gerência são ampliadas muito rapidamente. o segundo com a estrutura de gerência. a unidade imediata e pessoal entre os dois é rompida.] Só no período monopolista esses limites são ultrapassados [.. porque nela centralizava-se a função de vigiar o capital. Imensos agregados de capital podem ser reunidos. antes do desenvolvimento da empresa moderna. análise de vendas e outras. em segundo lugar.] pode-se dizer que os dois lados do capitalista. (p. [.algumas limitações de expansão e reestruturação as funções em sei interior. A empresa deixou de ser uma propriedade pessoal ou circunscrita a um pequeno grupo. (p. e o terceiro com a função de coordenação social agora exercida pela empresa. promoção. publicidade.. e efetuado.” (p. Finalmente. Uma vez que a sociedade capitalista resiste e de fato não tem meios para desenvolver um mecanismo geral de planejamento para proporcionar coordenação social. através da estrutura imediata da organização mercadejadora. A complexidade da divisão social do trabalho que o capitalismo desenvolveu no século passado. Isto não tem base jurídica ou teoria administrativa de apoio. “A gerência veio a ser administração. fica-se impossibilitado de compreender as transformações na estrutura ocupacional da sociedade. As funções de gerência separaram-se da administração como um todo. num rústico sucedâneo para o necessário planejamento social. exigem enorme quantidade de coordenação social como nunca antes. concepção e execução. aumenta muito e descola parte da força de trabalho para esse setor. de fato. além do mais. A lógica da acumulação.para a criação de consumidores. embora ele não produza artigo algum que não seja a operação e coordenação da empresa. surge simplesmente em virtude do gigantesco tamanho e poder das empresas. ou porque este tornou-se o único modo de garantir o consumo necessário à sua existência. ou porque suas antigas ocupações foram transformadas e trabalho assalariado sob o controle do capital.” (p. Desde o início do período monopolista até hoje.” (p.229-30). o capital não fez senão ampliar seus mercados e criar outros tantos. portanto. 13 – O mercado universal Se não se compreende a lógica de expansão do mercado como base para a acumulação de capital. como um processo de trabalho rigorosamente análogo ao processo de produção. (p. Com isso. temos a função empresarial de coordenação social.2278). o lugar do controle social e da coordenação deve ser procurado entre elas.229). típica do processo de produção. trazendo a marca da separação entre trabalho intelectual e trabalho manual. Cap. E ainda: “na medida em que as decisões sobre investimento são tomadas pelas empresas. “Assim. a maioria da força de trabalho social foi arrebanhada pelo trabalho assalariado. e a sociedade urbana concentrada que pretende manter massas imensas em delicado equilíbrio. grande quantidade de trabalho é canalizada para o mercadejamento. A estrutura de gerência e administração também se alterou. o governo preenche os interstícios deixados por essas decisões principais. para o setor de administração da empresa. reestruturou todas as formas de relação . e através da predominância do mercadejamento em todas as áreas de funcionamento da empresa. muito dessa função pública passa a ser assunto interno da empresa. cujo planejamento interno transforma-se.228). que é um processo de trabalho efetuado para fins de controle no seio da empresa. Em primeiro lugar. Ao mesmo tempo. [. É somente na era do monopólio que o modo capitalista de produção recebe a totalidade do indivíduo. Somado ao assalariamento daquela força de trabalho liberada do trabalho familiar (sobretudo. de donas-de-casa em operárias. o condicionamento urbano mais apertado destrói as condições sob as quais é possível a vida antiga... a renda proporcionada pelo trabalho torna . apropriadas por ele. (p. também perdeu sua função de preservação dos seus membros.. em número cada vez maior. com a ampliação dos mercados o capitalismo monopolista passou a produzir e consumir quase tudo na forma de mercadoria. o capital barateia esses bens básicos. em consequência. nenhum dos quais pode ser destacado dos demais. O fim do trabalho doméstico e familiar. Todas essas antigas formas de relações sociais intergrupais perderam sua independência ante ao mercado. [. (p.. e as relações que as sustentavam forma substituídas quase que exclusivamente pelas relações de mercado. ou seja. E com a industrialização da fazenda e das tarefas domésticas. produtora de meios de subsistência. também os remodela para servirem às necessidades do capital. É impossível compreender a nova estrutura ocupacional – e. forma. A fazenda também deixou de ser uma atividade familiar e.] deu nova energia ao capital pelo crescente escopo de suas operações e tamanho da “força de trabalho” sujeita a sua exploração.. por sua vez. Os trabalhadores para o novo processamento e indústrias fabris eram retirados dos locais anteriores desses processos de trabalho: das fazendas e dos lares. na verdade. por exemplo.] o capitalismo transformou toda a sociedade em um gigantesco mercado [. e em torno do agricultor expulso da terra.231) De um número bastante limitado de bens transformados em mercadorias. de compra e venda. a troca. a principal das quais é que eles agora pagam tributo ao capital e servem assim para ampliá-lo. o fim da função da família como uma célula social de produção e consumo.234) É interessante notar como ao fazer o capital recoloca continuadamente as condições desse processo. o capital permite o acesso a esses bens mercadorizados. a produção de alimentos prontos ou semi-prontos. veio a sujeição desses novos trabalhadores a todas as condições do modo capitalista de produção. A comunidade.236). Assim. a moderna classe trabalhadora – sem compreender esse fato. e os confina nas circunstâncias que impedem as antigas práticas de auto-abastecimento dos lares. transformando-os em mercadoria. das mulheres). A maneira pela qual essa transição foi efetuada inclui uma multidão de fatores inter-relacionados. substituindo as relações tradicionais pela relação monetária. ao subordinálos ao mercado.]. O anel urbano fecha-se em torno do trabalhador. isto é. Ao assumir.. em grande parte. da família e das necessidades sociais e. o que faz com que sejam bastante atrativos ao consumidor.inter-pessoais e inter-grupais entres os indivíduos. a família perdeu a sua função “como uma empresa cooperativa empreendendo a produção conjunta de um modo de vida” (p. ou seja. divertimento. A estrutura social. vizinhos. a coação da necessidade que compelia a trabalhos domésticos é muito enfraquecida. a população não conta mais com a organização social sob a forma de família. A população das cidades. vestuário e habitação. e assim. e são postas em circulação nas formas ditadas pela organização capitalista da sociedade. erguida sobre o mercado. (p. e isto. [. que inventa novos produtos e serviços. Assim. novas indústrias.. Mas o artifício social foi destruído em tudo menos suas formas comerciáveis. como combates cooperativos humanos. não apenas necessidades materiais e de serviço. de modo que o trabalho produtor de bens é efetuado apenas em sua forma capitalista. o segundo passo é a conquista de uma gama crescente de serviços e sua conversão em mercadorias. vem a acontecer que enquanto a população é comprimida cada vez mais apertadamente junto com o ambiente urbano. com exclusão de todas as demais. As novas mercadorias surgem igualando as condições de vida do morador urbano. O excedente produzido primeiro de tudo nas indústrias fabris sob a forma de concentrações da riqueza é igualado no aspecto do trabalho pelo relativo declínio na demanda de trabalhadores naquelas mesmas indústrias à medida que elas são mecanizadas. As amplas correntes de capital encontram o trabalho “liberado” no mercado no terreno dos novos produtos e indústrias. no aspecto econômico. doentes e excepcionais. velhos.] No fim. acima de tudo. exceto em períodos de desemprego. a condição primeira para a acumulação do capital é a crescente e constante transformação de todos os tipos de bens e de relações sociais em mercadorias. na conversão de todo o produto do trabalho humano em mercadoria. ao impulso capitalista de inovar produtos diversos. mas com poucas exceções devem ir ao mercado e apenas ao mercado. contribui para impelir a mulher do lar para a indústria. (p. são canalizados através do mercado. [. segurança. Com o tempo. novos serviços. a população acha-se. mas também os padrões emocionais de vida. amigos. mas através do mercado como relações de compra e venda. assistência aos jovens. Em seu aspecto mais fundamental. não apenas para adquirir alimento. Frequentemente. este fenômeno tão frequentemente observado só tem explicação pelo desenvolvimento das relações de mercado como sucedâneo das relações individuais e comunitárias. crianças.]. . e de fato a todas as inter-relações da humanidade para com o mercado. e o terceiro é um “ciclo de produto”. a atomização da vida social continua aceleradamente.236) Assim. quer queira quer não. alguns dos quais tornam-se indispensáveis à medida que as condições da vida moderna mudam para destruir alternativas. comunidade. o primeiro passo na criação do mercado universal é a conquista de toda a produção de bens sob a forma de mercadoria... o trabalho domiciliar torna-se antieconômico em comparação com o trabalho assalariado pelo barateamento dos artigos manufaturados. Isto resulta. juntamente com todas as demais pressões sobre a família da classe trabalhadora. mais ou menos excluída do meio natural pela divisão entre cidade e campo.disponível o dinheiro necessário para adquirir os meios de subsistência fabricados pela indústria. velhos. torna-se inteiramente dependente do artifício social para cada uma de suas necessidades. mas também para recreação. Por conseguinte.. é tal qual as relações entre indivíduos e grupos sociais não ocorre diretamente.234-5) Um resumo do que foi dito pode ser apreciado no que se segue: O movimento da sociedade capitalista nesse sentido liga-se. Mas a industrialização do alimento e outros utensílios domésticos elementares é apenas o primeiro passo num processo que de fato leva à dependência de toda a vida social. Na fase do capitalismo monopolista. embora essa diversificação se dê nos termos de uma proletarização geral. O estado foi e será sempre o comitê que gere os negócios da burguesia na sociedade capitalista. como a educação. 4) e aumento dos encargos e serviços estatais em substituição àqueles que não podem mais ser desempenhados pela sociedade. fato que decorre na manutenção permanente de exército. isto é. essa função tem aumentado grandemente com o capitalismo monopolista.na situação de incapacidade de fazer qualquer coisa que facilmente não possa ser feito mediante salário no mercado. de uma parcelarização e simplificação do trabalho. por exemplo. submetidas ao controle racional da lógica produtiva.239) Cap. e o estado. elevou-se à taxas bastante altas da produção e do consumo nacionais. Ele elenca quatro fatores para isso: 1) diminuição da capacidade para realizar o excedente que gera. tenham sido matéria de uma especialização cada vez maior. E enquanto do ponto de vista do consumo isso signifique total dependência quanto ao mercado. do ponto de vista do trabalho significa que todo o trabalho é efetuado sob a égide do capital e suscetível de seu tributo de lucro para expandir o capital ainda mais. embora as ocupações administrativas. Braverman afirma que elas se tornaram atividades cada vez mais proletárias e. 2) conflito de interesses entre os diversos a capitais nacionais. por um dos múltiplos ramos novos do trabalho social. portanto. (p. Entretanto. Se antes o trabalho de gerência e administração era efetuado por uns poucos. Portanto. de um pequeno percentual do PIB. que ao mesmo tempo parcelarização as funções mas uniformiza e simplifica o trabalho a elas ligados. o que leva o estado a atuar elemento essencial de uma demanda efetiva. assim como no processo fabril. os trabalhadores em escritório. por exemplo. isto é. Braverman recorre a um fenômeno empiricamente verificável para comprovar a tese de que a acumulação do capital teve como efeito a diversificação da classe trabalhadora. segundo Braverman. . 14 – O papel do estado Não há muita necessidade de se delongar nesse assunto. 15 – Trabalhadores em escritório Neste capítulo. 3) desestruturação social marcada pela miséria e insegurança. o que leva o estado a se tornar responsável pela seguridade social. Parte IV – A crescente diversificação da classe trabalhadora Cap. (p. Assim como. a tendência à parcelização e simplificação do trabalho. com Braverman. traz a necessidade de controlar os novos processos de trabalho. deve-se notar. foram ampliadas da fábrica para o escritório. com o conseqüente aumento da produtividade. que são desenvolvidas segundo a mesmo lógica taylorista presente no setor produtivo da empresa.256) Com a ampliação da forma-mercadoria. juntamente com a conseqüente transformação dessas funções de gerência em processos de trabalho independentes. a sociedade é inundada pelo crescimento cada vez maior do valor. A introdução da gerência científica. publicidade etc. São controladas pelo capital do mesmo modo como ele executa os processos de trabalho da produção: com trabalho assalariado comprado em larga escala no mercado de trabalho e organizado em imensas máquinas “de produção” de acordo com os mesmos princípios que governam a organização do trabalho na fábrica. Contudo. Assim. muito mais próximos dele do que dos operários. o que exige dos capitalistas o desvio de uma grande parte da força de trabalho disponível para ser exercido na contabilização do valor. é válida também para os trabalhadores de escritórios e de serviços em geral. O aumento da função controladora. As tarefas de concepção e de execução são.ligados diretamente ao proprietário do capital e. da doutrina tayloriana para a racionalização do processo produtivo.260) Em termos gerais. assim. (p. isto é. cindidas e o trabalho intelectual fica ao encargo de poucos gerentes e executivos. o setor de administração. As técnicas da gerência científica. pela introdução da máquina. o conhecimento administrativo foi em grande medida expropriado pela parcelarização do trabalho e. em menor medida. de acordo com os mesmos princípios aplicados à fábrica. apropriando-se de parte da força de trabalho. coordenação e contabilidade também se expande. responde a essas necessidades de desenvolvimento dos setores administrativos e de contabilização. igualmente. enquanto o trabalho manual recai sobre uma parcela grande trabalhadores burocratas. o setor de mercado (compra e venda.) tende a se expandir. portanto. primeiro. que o desenvolvimento desse processo se dá. Portanto. através da reestruturação da divisão do trabalho para só então introduzir a mecanização. hoje o setor da empresa ligado à administração e coordenação está subdividido em uma infindável gama de funções. por exemplo. Essas funções gerenciais de controle e apropriação tornaram-se por si mesmas processos de trabalho. o processo pode ser resumido como uma tendências à “racionalização da maior parte do serviço de escritório e a substituição do funcionário . bem como a substituição do trabalho vivo por trabalho morto. que faz todo o serviço pelo trabalhador especializado” (p. A única condição que se pede é que o volume da produção e a escala de trabalho seja suficientemente grande para ser economicamente compensatória. esta população trabalhadora perdeu todas as antigas superioridades sobre os trabalhadores fabris. A racionalização do processo de trabalho nesses dois casos assenta-se. eram máquinas que funcionam mediante o armazenamento de dados em cartões perfurados e que. entretanto. isto é. e os únicos que o conhecem são os chefes e gerentes. e que foi saudado pelos antimarxistas como prova da falsidade da tese da “proletarização” foi assim inequivocamente esclarecido pela polarização do emprego em escritório e o aumento em um pólo de uma enorme massa de funcionários. já que o conhecimento do ofício não encontra-se mais em posse do trabalhador. exigem grande quantidade de força de trabalho. 16 – Prestação de serviços e comércio exterior . O conhecimento de todo o processo torna-se restrito aos trabalhadores manuais. cada peça no processo de trabalho é facilmente trocada por outra. Sabe-se que hoje a situação e diferente. A lógica é. sendo que os computadores atuais são capazes de reunir grande parte daquelas funções desmembradas entre vários trabalhadores parcelares antigamente. O problema do chamado funcionário ou trabalhador engravatado que tanto incomodava as primeiras gerações de marxistas. Deve-se notar. a aplicação da lógica fabril ao escritório tornou-se vantajosa economicamente. mas sim no processo como um todo e na máquina. a separação entre concepção e execução pode e deve ser separada no processo produtivo. À medida que a matéria-prima do trabalho burocrático-administrativo se agigantou. Como o capital bem sabe. principalmente. A tendência verificada de uma ampla “classe média” não proletária voltou-se à criação de um vasto proletariado sob forma nova. Com a simplificação e uniformização do trabalho vem o barateamento da força humana que o desempenha. à medida que o aperfeiçoamento tecnológico o permitir. em tornar tal processo impessoal. e em suas escalas de salário desceu quase que ao nível mais baixo [bem abaixo do salário dos trabalhadores fabris]. que tais máquinas eram ainda primitivas na época em que Braverman escrevia.299-300). (p.267) – e pela máquina. portanto. Quanto à mecanização do escritório. Assim. a mesma na fábrica como no escritório. cada indivíduo. Cap. Em suas condições de emprego. portanto. só foi possível graças à criação de máquinas capazes de processar dados. extraindo da experiência e da consciência individuais o conhecimento e o controle do processo. uma atividade produtiva quando apropriada e posta sob o controle do capital. que o revende no mercado de bens. O irônico disso tudo é que. como tal. os economistas clássicos condenavam os serviços como uma atividade improdutiva e que só servia ao luxo e ao conforto. Mas que acontece se os efeitos úteis do trabalho são de modo a que não tomem a forma de um objeto? Trabalho desse tipo deve ser oferecido diretamente ao consumidor. ao passo que atualmente os serviços é uma atividade glorificada. o trabalho fabril para os economistas clássicos etc. observou Marx. Apenas na fase monopolista do capital. os próprios efeitos do trabalho transformam-se em mercadoria. quando a força de trabalho que o presta é alienada. Em suma. À medida que essas formas variadas caem sob os auspícios do capital e se tornam parte do domínio de investimento lucrativo [como os serviços. enquanto o capitalismo ainda estava em sua fase concorrencial. portanto. temos então o modo de produção capitalista no setor dos serviços.Os trabalhadores do setor de serviço e de comércio estão. Quando o trabalhador não oferece esse trabalho diretamente ao usuário de seus efeitos. não servem para constituir um objeto vendável que encerre seus efeitos úteis como parte de sua existência na forma de mercadoria. quando todas esferas da vida social foram preenchidas por ele. o que os caracteriza é que foram apropriados pelo capital. fonte de extração de mais-valia.” O trabalhador empregado na produção de bens presta um serviço ao capitalista.. segundo Braverman. “Um serviço”. isto é. um serviço só se torna fonte de mais-valia e. [. os serviços podem se transformar numa atividade produtiva. ao invés. Isto pelas razões que Braverman já havia desenvolvido quando tratou do mercado universal. (p. em tais casos. esse tipo de percepção está relacionado com o tipo de trabalho que mais se desenvolve durante um determinado período: a agricultura para os fisiocratas. essa forma de trabalho se alterou porque. o que caracteriza os serviços sob o modo de produção capitalista não é que eles produzam bens intangíveis mas úteis. em sua grande maioria.] no resultado final como aparece nos .. e. foi transformada em mercadoria. Dentro do capitalismo monopolista. que adquire essa força de trabalho no mercado para depois revendê-la com o fim de lucro. Os efeitos úteis do trabalho. entretanto. O autor inicia sua reflexão definindo o conceito de “serviço”. mas. vende-o ao capitalista. entram para o capitalista no reino do trabalho geral ou abstrato. De resto. isto é. uma vez que produção e consumo são simultâneos. Ao invés. seja ele mercadoria ou trabalho. trabalho que amplia o capital. vendida a um capitalista que a dispõe com vista a obtenção de um lucro. Serviços sempre foram prestados. numa situação ainda pior do que os trabalhadores de escritório. “é nada mais que o efeito útil de um valor de uso.303-4) Portanto. lucrativa. por exemplo]. e é como resultado desse serviço que toma forma um objeto tangível e vendável como mercadoria. tida como típica do capitalismo avançado e superior à atividade industrial. ].” (p. As taxas de salário nessas “novas” indústrias e ocupações são mantidas baixas pela contínua disponibilidade de população excedente relativa criada . e depois de 1950 este grupo recuou em relação ao total (embora numericamente continuasse a aumentar). áreas de acumulação de capital. tendem à conclusão de que a parcela da classe trabalhadora não agrícola da “força de trabalho civil comprovada” aumentou desde o início do século de metade para mais de dois terços.323) Outra passagem é bastante esclarecedora.balanços gerais das empresas as formas de trabalho desaparecem sob a forma de valor. 17 – A estrutura da classe trabalhadora e seus exércitos de reserva Nesse capítulo.. embora toscas [isto é. contudo. Aquelas indústrias e processos de trabalho sujeitas a mecanização liberam massas de trabalho para exploração em outras. À medida que os efeitos do emprego da revolução tecnológica começaram a ser sentidos. talvez a três quartos do total do momento atual. Vamos simplesmente transcrevê-las já que um comentário torna-se supérfluo quando muitas vezes repetitivo. ocorreu sobretudo à custa da população agrícola [. Os aumentos proporcionais mais consideráveis ocorreram em três categorias: operários. à medida que o capital transita para novos setores à busca de investimento lucrativo. Com as repetidas manifestações deste ciclo. (p.309) Parte V – A classe trabalhadora Cap. funcionários de escritório e setores combinados de serviços e vendas a varejo. o trabalho tende a acumular-se nas indústrias e ocupações que são menos suscetíveis de aperfeiçoamento na engenharia da produtividade do trabalho. A conversão de uma proporção sempre maior da população em força de trabalho ao nível de classe trabalhadora dedicada ao aumento de capital.. (p. (p. Braverman analisa os efeitos das transformações do capital sobre a estrutura da classe trabalhadora: Essas considerações. “No caso de quase toda ocupação nos serviços e nos varejos a massa de trabalho é introduzida nesses crescentes setores de emprego proveniente de um vasto reservatório de trabalho comum que se torna disponível pela relativa liberação de emprego em outros campos. com fins apenas de estimar a situação real]. Em outras palavras..].322-3) Isso pode se resumir no seguinte: A mecanização da indústria produz um excedente relativo da população disponível para o emprego a taxas inferiores de salário que caracterizam essas amplas ocupações. o aumento proporcional constante de operários cessou.308) O processo de acumulação transforma a divisão do trabalho e realoca constantemente a força de trabalho da sociedade.. Mas o aumento continuado e mesmo acelerado dos outros dois grupos – escritório e vendas – absorveu os trabalhadores liberados dos empregos fabris [. em geral menos mecanizadas. as leis da acumulação do capital nos setores antigos operam para produzir a “força de trabalho” exigida pelo trabalho em suas novas encarnações. Nas condições do capitalismo. (p. a massa de emprego não pode ser separada de sua correlata massas de desemprego. esse segmento é de suma importância para a fase monopolista do capita. Estes são constantemente liberados do campo para a cidade para integrar à economia urbana. vivendo em condições mais precárias do que aqueles enfrentadas pelo proletariado. vemos na indústria capitalista uma tendência secular ao acúmulo de trabalho naqueles segmentos da indústria e do comércio menos afetadas pela revolução científica: o setor de serviços. o processo de acumulação de capital dá a tônica nas transformações das classes e dos processos de trabalho.pela produtividade incessantemente crescente do trabalho em ocupações mecanizadas. Esta sai da categoria de exército de reserva estagnário para à latente. Esse segmento. Resulta dessa tendência o aumento relativo do exército industrial de reserva. enquanto que aquele faz o inverso. sobretudo os trabalhadores agrícolas. já que a expansão do capital tem levado a tipos de emprego absolutamente mal pagos. visto que a atração da força de trabalho feminina vem a compor o montante deste exército. Essa tônica vai no sentido de uma liberação cada vez maior do contingente da força de trabalho social total da produção material direta.326) Marx distinguiu três formas de exército de reserva ou população excedente relativa: a flutuante. vendas e outras formas de comercialização e trabalho escritorial na medida em que não sejam mecanizados etc. Além disso. A latente contempla a parte antes não vinculada à acumulação de capital. Em consequência. Nisso constitui o exército de reserva de trabalho (ou exército industrial de reserva): é parte da população desempregada ou parcialmente emprega. A estagnária corresponde ao segmento mais pauperizado e irregular da população. Sabe-se que essa tendência não é à toa. que são ocupados por essa parcela da população. É continuamente produzido e absorvido pela energia do próprio processo de acumulação. Isto por sua vez estimula o investimento de capital em formas de trabalho que exigem massas de trabalho manual a baixo custo. cuja força de trabalho é realocada para outros setores da produção social.324-5) Em poucas palavras. o desemprego não é uma aberração. mas decorre da pior remuneração da força de trabalho . A flutuante enquadra aquela parcela da população são constantemente contratados e descartados pelos movimentos de acumulação do capital. indo de emprego a emprego. Braverman constata como tendência geral da acumulação após a Segunda Guerra a substituição da força de trabalho masculina pela feminina. mas uma parte necessária do mecanismo de trabalho do modo capitalista de produção. a latente e a estagnaria.” (p. “Desse modo. fornecem uma fonte inexaurível de força de trabalho à medida que o capital necessita delas. em contraste. é empregada pelo capital e afiliados. a tendência que acompanhava seu movimento vai muito mais no sentido da sua aproximação com o proletariado do que com a burguesia. de interesse ao capital.. ela não possui qualquer independência econômica ou ocupacional. mas porque.] diferentemente. ela não desempenhava papel direto no processo de acumulação de capital. que tão grandemente desapareceram. naquele período o termo classe média se aproximava mais do conceito de pequena-burguesia. como parte desse processo.341) . não possui acesso algum ao processo de trabalho ou meios de produção fora do emprego. ocupa sua posição intermediária não porque esteja fora do processo de aumento do capital.feminina. [. Isto é. Nesse sentido. ela corresponde cada vez mais à definição de uma classe trabalhadora. (p. seja de um lado seja de outro. Cap. no que respeita à classe média contemporânea. Esta “nova classe média”. De fato. (p. e deve renovar seus trabalhos para o capital incessantemente a fim de subsistir. Braverman discorre um pouco sobre as dificuldades de conceitualizar e apreender uma definição de classe média.. De qualquer forma. 18 – As “camadas médias” do emprego Aqui. sobretudo nos estratos mais inferiores da classe média. como a classe trabalhadora. das primeiras massas de classe média. ela possuía atributos de ser nem capitalista nem trabalhadora. o trabalho da mulher é atraído para os setores econômicos em rápido crescimento: os serviços e o comércio. ela assume as características de ambos os lados. A começar pela diminuição da classe média tal como era entendida no capitalismo concorrencial. Braverman expõe a diferença fundamental entre ambas: A velha classe média ocupava aquela posição em virtude de sua posição fora da estrutura polar: capital ou trabalho. Braverman contrapõe a classe média do capitalismo pré-monopolista ao capitalismo monopolista e constata diferenças essenciais entre ambas.344).
Report "182851721 BRAVERMAN Harry Trabalho e Capital Monopolista Resenha Parcial"