1 - Chklóvski - A Arte Como Procedimento.pdf

April 2, 2018 | Author: Ana Paula Casagrande Cichowicz | Category: Poetry, Thought, Image, Perception, Aesthetics


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V.CHKLOVSKI A ARTE COMO PROCEDIMENTO "A arte é pensar por imagens". Esta frase pode ser tanto d~ um bacharel, como de um sábio filólogo que a propõe como ponto inicial de uma teoria literária qualquer. Esta idéia está enraizada na consciência de muita gente; entre o número de seus criadores, é preciso necessariamente apontar Potebnia: "Não existe arte e particularmente poesia sem imagem", diz ele (Notas sóbre a Teo- ria da Literatura, p. 83). "A poesia assim como a pro~a é antes de tudo, e sobretudo, uma certa maneira de pensar e conhecer", diz ele adiante (ibid., p. 97). A poesia é uma maneira particular de pensar, a saber um pensamento por imagens; esta maneira traz uma certa economia de energias mentais, uma "sensação de leveza relativa", e o sen- timento estético não passa de um reflexo desta economia. Foi as- sim que o acadêmico Ovsianiko-Kulikovski, que certamente leu os livros de seu mestre com atenção,. compreendeu e resumiu (per- manecendo-lhe indiscutIvelmente fiel) suas idéias. Potebnia e BeUS inúme~,?s..di~(púlos vêem na poe.siauma maneira. particular do É por isso que estas pessoas tes.. arte sem imagens. sào de Deus. Esta conclusãoseduziu os simbolistas. mais exatamente. tístico. definição nossa maneira de perceber. idéias. atribui-lhe um caráter intencional.no senti- que. que une todas as disciplinas da arte. o direit. ticos. Sabemos que se reconhecem freqücntemente como fatos poé- tenta-se compreender a música. Isto indica que o caráter estético de um objeto. o objeto pode ser: 1) criado arte desprovida de imagens sem que nos apercebamos disso: a comoprosaico e percebido como poéticoj 2) criado como poético percepção que temos destas duas artes é a mesma. muita gente pensa ainda que o pensamento por. e percebido como prosaico. e em poesia nós nos lembra. procedimento ou. o acadêmico Ovsianiko-Kulikovski se viu enfim obriga. que se poderia reduzir a uma equa- rente simbolista e sobretudo entre os seus teóricos. consiste na história da mudança de imagem. a1'te é pensar por imagens. as imagens consideradas como a criação de tal poeta são tomadas gem . considerando-o como fato ar- ca (no sentido restrito da palavra). Mas. 314). e este consiste antes na disposição das imagens que dar-nos a compreender sua significação e visto que sem esta qua. mesmo da arte literária. por exemplo. imagem tornar-se um predicado constante para sujeitos diferen- sentam o traço principal da poesia. esta definição resistiu e sobreviveu à derrocada da teoria percepção estética. a gol faz do céu com os paramentos de Deus. Depois de um quarto de século de que foram criadas sem que se tenha esperado semelhante percep- esforços. lidade a im8. serem mudadas. " a poesia = a imagem". do que aquilo que ela explica" (p. e . Bieli rooonhece um valor artístico neste de pensar juma das artes que figura neste domínio. ção.a defini-Ias como ar. e a ver aí uma buía à lingua eslaya um caráter particularmente poéticoj foi tam- forma singular de arte. criados para fins de contemplação estética. Uma das razões que .gem priva-se de sentido. seguindo as palavras de Polebnia: "A relação da imagem com Quanto mais se compreende uma época. Ela vive mais intensamente na cor. A conclusão de Potebnia. terial verbal. de país em país." ".depois de not6rias equações das quais omitirei os elos inter. a poesia lírica co. ção. não há arte. serviu de fundamento a toda teo- ria que afirma que a imagem = o símbolo. Ou melhor.o de relacioná-Io com a poesia. chamaremos objeto estético. sobre a qual estava fundada..ma los". As imagens não são de algum lugar. dade era apenas uma particularidade geral da língua. ela então deve ser para nós mos muito mais das imagens do que nos utilizamos delas para mais fainiliar. mais nos persuadimos que aquilo que ela explica pode ser definida como se segue: a) a ima.A arte é antes de tudo criadora de símbo- tos particulares.A. e se acha na base da teoria simbolista. um meio emprestadas de outros poetas quase que sem nenhuma alteração. Em nome destas definições. . As imagens são dadas. pensar. os objetos criados através de procedimen- mediários resultou: . na sua criação. chega-se a monstruosas deformações. "os caminhos e as sombras". apresenta contudo uma se.Andrei Bieli. é um predicado constante para sujeitos variáveis. Merejkovs- deveriam contar que a história desta arte por imagens. do próprio da palavra. Seria interessante aplicar esta lei à comparação que Tiutchev Em todo o caso. Essa foi. devido à vras da mesma maneh's e passamos da arte por imagens para a influência eslava da Igreja. Assim.imagens. mudança das imagens não constitui a essência do desenvolvimento " Sem. "visto que a imagem tem por objetivo aju.40 ChklollSRi A Arte como Procedimento 41 pensamento. e revelação de novos proccdimento~ para dispor e elaborar o ma- plica" (p. é o resultado de Mas a definição: "A arte é pensar por imagens". as expressões mo um pensamento por imagens. a poesia líri. isto é. um pcnsamento ajudado por imagens. o pensamento por imagens não é o vínculo faz da aurora com os dcmônios surdos-mudos ou àquela que 00. Pareceu as- sim que existe um domínio imenso da arte que não é uma maneira após os substantivos. a arquitetura. a opinião de Annenski quando ele atri. Portanto. enquanto que na reali- melhança completa com a arte por imagens: maneja com as pala. = a faculdade de a imagens. b) a imagem é Todo o trabalho das escolas poéticas não é mais que a aculllulaçãQ muito mais simples e muito mais clara do ~ue aquilo que ela ex. "os sulcos e orlas" repre. do a isolar a poesia lírica. elas se transmitem sem heterogêneas e explicar o desconhccido pelo conhecido. constante de atra~ão para percepções mutáveis." poético. segundo ki (com os seus Companheiros Eternos) pela afinidade com as SU8S suas palavras. para eles. . bém a de Andrei Bieli quando admirava entre os poetas russos do século xvm o procedimento que consistia em pôr os adjetivos tes líricas que se dirigem imediatamente às emoções. a arquitetura e a música. as constatamosque as imagenssão quase que imóveisj de século cm imagens têm apenas a função de agrupar os objetos e as funções século. 291). de poeta em poeta. cujo objetivo é assegurar para estes objetos u. . O sargento da seção ven. A melancia em lugar do globo redondo ou a poética e da tolerância na língtfa poética de uma acumulação de melancia em lugar da capeça. como as forças são limitadas. cipal. A imagem poé- vem da revelação de que a língua poética japonesa possui sons que não existem no japonês falado. Mas 2 Conclusões sobre a Teoria da Llngua Poética. a alma tent~ i. plexos que poder-se-ia chamá-Io reprimido e que mostrou a propó- do que um deles está mal. é igual aos outros pro.'ocê perdeu um pacote". deu tantos exemplos de ritmos com- exemplo. É um pensamento. Graças a isso ele não baseando-se na lei geral da economia de energias mentais. Chktovski A Arte como Procedimento 43 42 conduZiram Potebnia a esta conclusão foi o fato de ele nào distin. na próprios para reforçar a sensação produzida por um objeto (nu." (R. chapéu. Explico-me: vou pela rua sedutor. é igual a todos os meios é talvez verdadeira no caso particular da linguagem. seJ. em suas melhores páginas. sumente o tempo necessário para perder teria importância. "Se a alma possuísse forças ines- gotáveis. Kraievitch. não é uma abstração da qualidade sons semelhantes. Vesselovski que prolonga e vejo o hOlDemde chapéu que caminha na minha frente deixar cair o pensamento de Spencer: I' O mérito do estilo consiste em alojar um pacote. O artigo de L. à hipérbole. .ealizar ó processo de . um pensamento mâximo num mínimo de palavras". lhe diz: I' Ei. no exame do ritmo. Muitos soldados estão em fila. mentos poéticos e sobre o manual de física em uso nos liceus de cedimentos da língua poética. A imagem prosaica é um pósito da ausência da lei de dissimilação das liquidas na língua meio de abstração. . mas não tem nada que ver com a oposição (ao menos neste caso) das leis da língua poêtica com as poesia. leis da língua quotidiana às da língua poética. A idéia da economia de energia como lei e objetivo da .) A imagem poética é um dos meios de criar uma im.ia indiferente dispensar pouco ou muito desta -fonte. p. como você sito dos versos de Baratynski o caráter obscuro dos epítetos poé- se comporta f". Spencer escrevia: "Na a língua prosaica. vemos que uma vez palavras. acha também necessário discutir a lei da economia em seu (No primeiro caso. poética. é particularmente poética. V. mas a imagem poética tem apenas uma semelhança exte. é igual à comparação. língua quotidiana. As- atenção. a teo- percebeu que existem dois tipos. o que resulta no mes- mo. à simetria. 1. exemplo é dado pela mo~inha que chama a bola de I pequena me- lancia" (Ovsianiko-Kulikovski. difíceis de pronunciar. 13-21. à repetição. com o resultado máximo. p. estas mesmas idéias foram eStendidas à língua ma obra. as ações tornam-4le também automáticas. você. gativo. leis da língua quotidiana2. e não por analogia com grupo das leis universalmente admitidas.melan. de imagens: a imagem como um ria de J ames sobre a base física do afeto. Conduzir o espírito à no~ão desejada pelo caminho sim.criação é igual a tudo o que se chama uma figura.' "7 bola. Uma das primeiras rior . 2. Chamo-o: "Ei. Mas não é esta distinção que me parece dada sobre fatos não verificados tomados de empréstimo de livros importante. O princípio de economia meio prático de pensar." (Filosofia do Estilo). fase. Um outro que. base de todas as regras que determinam a eseo]ha e o emprego das Se examinamos as leis gerais da percepgão. a palavra chapéu era uma metonímiaj no livro que representa a tentativa heróica de uma teoria da arte fun- segundo. ou seja. velho molengão. meio de agrupar os objetos e a imagem das energias criadoras que. J acobinski a pro- tica é um dos meios da língua poética. na sua função. encontramos a mesma exigência principal: economia de tornadas habitnais. é também reconhecido por A. Esta imagem é um tropo poético. único e sempre o objetivo prin- . A Língua e a Arte). pressão máxima. Por isso devemos tratar as leis da despesa e economia na lín- A lei da economia das energias criatÍ\ras pertence também ao gua poética dentro de seu próprio campo. Avenarius. todos 08 nOSS08hábitos fogem para um meio inconsciente e mais fácil é freqüentemente o fim. 48. ulna metáfora. Andrei Bieli É um exemplo de imagem ou tropo puramente prosaico. . percepção o mais racionalmente possível ou. que caíram em desuso. a imagem-pensamento. devido ao não reconhecimento da diferença que opõe as jetos). guir a língua da poesia da língua da prosa.) Petrajitski rejeita. é igual ao paralelisJDo simples e ne. da qual um indicações efetivas sobre a não-coincidência das duas línguas nos . as palavras e mesmo os sons podem também ser os ob. ticos. meiras indica~ões que resiste a uma crítica cientffica1: trata da cia = bola. representa uma cfas pri- do objeto e não se distingue em nada da -cabeça. fase. Como meio. 1 Conclusões sobre a Teoria da Llngua ~oétlca.com a imagem-fábula. meio de reforçar a impr~ssão. . . P. sobre um grande conhecimento dos procedi. . 4 V. das le. A teoria não convinha para as primeiro como percepção. As leis de nosso discurso pro. na consciência. Neste método algébrico de pen. 42) cita o o que é já 'l passad. o procedimento da arte é o procedimento da se explicam pelo processo de automatização. de automa- tismo do objeto.Por isso. p. b. se toda a vida complexa de muita gente se desenrola in- conscientemente. A Ressurreição da Palavra. ChJdoflsJd A Arl~ como Proced. do concreto ao abstrato. curecer a forma. ou reproduzidos como se seguíssemos uma fórmula. da poesia à prosa. são apenas os primeiros sons do nome que aparecem prolongado. neste artigo." (Nota do Diário de Leon Tolsioi de 28 de fevereiro. concordarão conosco. Se transformava em nada. imagemvasta mas vazia. Por isso a teo- ele existe a partir do lugar que ele ocupa." ram pela primeira vez uma língua estrangeira e que podem compa. se agi inconscientemente. "Eu secava no quarto e.que as obras e as artes morrem. a arte é Unt meio de experimentar o ([cvÍ!' do objeto. obras artísticas reais. número. ou onde os objetos são substituídos pelos símbolos. reconstituir o gesto. aproximei-me do como reconhecimento: o objeto se acha diante de nós. treze anos após a morte do (de onde todo o lapso). poder-se-ia escritor que. 44 V. O objeto domínios cada vez mais vastos: a fábula é mais simbólica que o passa ao nosso lado como se estivesse empacotado.. E eis que para devolver a sensação de vida. isto é. Como sabemos. eles n~o rol. é por esta per- cepção da palavra prosaica que se explica a sua audição incom. para provar que pedra é pedra. os que podem recordar a sensação que tiveram quan. No processo de algebrização. existe o que se chama arte. depois na sua reprodução. cientemente. ria de Potebnia era menos contraditória na análise da fábula. Então. a Dom Quixote de Tur- tras. os objetos síio considerados no seu número e volume. este vesse feito. não os deforma. era exatamente como se não o ti. que tinha estudado exaustivamente. sem Os objetos muitas vezes percebidos começam a ser percebidos que eles apareçam à consciência. apenas para MerejkoVSki. do seguraram pela primeira vez a caneta na mão ou quando fala. mas vemos apenas sua superfície. isto é. milésima vez. Se alguém conscientemente me tivesse visto. foi por isso que o livro de Potebnia não po- dia estar terminado. para sentir os rar esta sensação com a que sentem fazendo a mesma coisa pela objetos. Jacobinsld) e daí a reticência do locutor Literatura autor. sobre a Teoria da Literatura. ou dados por um só de seus traços. Sob a influência de tal percepção.o" não importa para a arte. de Esta qualidade do pensamento sugeriu não somente o cami. m. aumentar a dificuldade e a duração da percep.Pogodine (A Língua como CriaÇ'ão. as Notas sobre a Teoria da pleta (Cf. obtemos a máxima economia de forças perceptivas: os objetos são. Provérbio. gueniev. "As montanhas da A vida da obra poética (a obra de arte) se estende da visão Suíça são belas" .. Em ar- divã e não podia me lembrar se o havia secado ou não. O ato de percepção em arte é um fim em si mesmo e deve ser nunciadas. Fábula. então é como se esta vida não tivesse sido. nós sabemos que poema. temente a humilhação a corte do duque.menlo 4~ automático. S. Ditado matização engole os objetos. não me lembrava e sen. sabemo-Io. ao reconhecimento. de Carlos Magno à palavra Ko- sar. mas não o vemos4. s. e em particular das iniciais. fazendo uma volta.) (N. P. Como estes te. Kharkov. A auto- 3 Curso1914. exemplo de um menino que pensava a frase . O objetivo da arte é dar a sensação do objeto Comovisão e não saico com frases inacabadas c palavras pronunciadas pela metade como reconhecimento. do Trad. . A medida. ção. a mulher e o medo à guerra. o artigo de L. . se sequei e me esqueci. as palavr. por exemplo o . for. 1914. meios do qual quase que constantemente se servia L. ~les são reconhecidos após os primeiros traços. os m6veis. os hábitos. ceu por diferentes meios. ToIstoi. .parece apresentar os obje- tos tal como os vê. d. É um processo onde a singularização dos objetos e o procedimento que consiste em obs- expressão ideal é a álgebra. o objeto enfraquece.) · A palavra korol em russo vem do nome de Carlos Magno (Karo- Jus. para a edição francesa. o provérbio é mais simbólico que a fábula. elas abarcam os são vistos. 1897.Neste livro. quero indicar um destes tia que já era impossível fazê-lo. trazendo inconscien- nho da álgebra.) Assim a vida desaparecia. "Se toda a vida complexa de muita gente se desenrola incons.as não são pro. a única coisa que Potebnia elaborou de ponta a ponta foi a parte referente à fábula3. Chklovski. Mas se ninguém o viu ou se o viu inconscien- temente. nada podemos dizer sobre ele. No discurso quotidiano rápido. a liberação do objeto do automatismo perceptivo se estabele- movimentos são habituais e inconscientes. então é como se esta vida não tivesse sido.am editudas em 1905.comouma sucessãode letras: A. mas também a escolha dos símbolos. Dom Quixote pobre gentil-homem e letrado. e os vê tal como são. emprega na descrição min1uz. pessoas dcsconhecidas. Kão sei por que as nádegas despidas". que. em construí- muito bem o que dizia a respeito dos açoit(>se do cristianismo. Não os preocupa tanto a possibilida- o procedimento de singularização em L. .'alo e os objetos são singu.o procedimento não é modificado: Agulllar. supondo que daí viria algum fazer mal em lugar de um outro: por exemplo. só por este fato podemos di- humanos pude expli('ar-me a signifi'cação que. quando' ampliei de mudar a forma sem mudar a essênl'Ía. . aos seus semelhantes e aos cavalos. Tradução da novela pôr Milton Amado. Só muito depois. se tradnz em pá- lavras. me1~ou acontecesse pela primeira vez. palavras tomadas emprestadas da descrição das partes correspon- dentes. não os nomes geralmente dados às partes. vol. mas outras o faziam. (N. mas outras seres. mo me montavam. L. V. Há homens sentava.não tem qualquer mer. Esta passagem está acompanhada dc uma as coisas são desse modo.'ínculo a ligar-me ao chefe das vende na loja. . inclush'e à terra. 'minha água'.os seres falar de outras prerrogativas nossas. O homem Eis como ele p(>reebe o direito de propriedade-: "Comprcendi diz 'minha casa' mas nunca vive nela. apertar as mãos . pelo menos a dos homens com os quais tenho tratado. mas sei que são assim. elas exrrceram sobre mim enorme influência. meu. ou outro lugar qualquer do corpo com agulhas. mas outros 'estranhos. zer. mens chamam sentimento ou direito de propriedade. algumas linhas depois: "chicotear 'convenção feita. ou ainda qlJalqut'r outra roisa deste tipo Y". ou 'meus tecidos'. "Muitas pessoas das (lUe me chamavam scu cavalo nem mes- ou os pés em tornos. Durante mui- nota: "E por que particularmente este meio tolo e selvagem de to tempo procurei compreender isso. preocupa-se só. sobretudo. Ltda. quando me separaram dos rem suas certas p«:1ssoas que nunca viram nesta vida e a única re- demais cavalos.arizados pela percep<:iioemprestada ao animal. Tolstoi consiste no de d-e fazer ou deixar de fazer alguma coisa. A atividade dos homens. com segurança. Tolstoi singulariza assim a noção de chicote: meu a respcito de uma coisa dl. N.tcrminada. que os ho- l.por ela. pleta. do Trad. sideram o bem. outro fundamento além de um baixo instinto animal. lação que têm com elas consiste em causar-Ihes dano. Tomemos um exemplo. E aquéle que puder "Pôr a nu as pessoas que violaram a lei. Há outras que dizem se- consistiria tal vínculo. Tolstoi se serye constan. ChkloflSki A Arte como Procedimenlo 47 46 com fatos~ mas com palavras. em outros objetos. Aplicam-nas a todas as espécies de coisas e de do objeto. Naquela época. como a de falar de fato de que ele não chama o objeto por seu nome. pareciam-me tão es. Essas pala- como se o visse pela primeira vez e trata cada incidente como se '\rrasr que consideram muito importantes. mas não faz suas roupas com os melhores tecidos que pude deduzir que estabeleciam um . Mas Ia e mantê-Ia. O comerciante diz 'minha loja'. fazer o que con- cavalo'. Então. e sim a maneira. Não eram elas as que Que me perdoem este exemplo pesado. um cavalo vivo. Agora estou persuadido de que nisso "No entanto. Editora . mas os cocheiros) os veterinários e. ficou completamente obscura para mim a palaYra selt. que chamam de suas certas mulheres.e não só com relação a nós. lhes é atri. o cavalo já está morto. além disto. não pude compreender de modo algum em que e nunca a viram nem passaram . L. Tolstol.> . No artigo "Que "Além disto. referindo-se a mim. Posteriormente. ro possível de coisas: é meu. 'meu ar'. KhoJstomer. Também não eram as meios empregados por Tolstoi para alcançar a consciência. 1962. reside a diferen<:a essencial entre nós e os homens. Rio de Janeiro. e estas convivem CO'lnoutros ção do fato de ser C1~propriedade de um homem. em Obra Com. As palavras 'mCft homens. Iil. cote habitual é singularizado por sua descrição e pela proposição cm geral. fazê-Ias tombar e bater aplicar a palavra 'mcu' a um lllUlH>romaior de coisas. em Kholsto. e não pela nossa. em sua vida.T0s6 Ao fim da novela. convenci-me de que o conceito de temente do método de singulariza<:ão: P01' exemplo. cavalos . As pessoas não procuram. a narração é conduzida por um ca. sem Sem cessar pcnsava nelas e só depois de longo contato com. pela qual por exemplo. Há pessoasque chamam sI/a uma extensãode terra cavalari~as. considera-se a pcssoa mais feliz. de Lembranças e Narrativas. pessoas que me faziam bcm. Portanto. é qne expliquei a mim mesmo o que aquilo repre. eOllYencionaratnque uma pessoa só pode dizer vergonha". entre os seres vivos. picar os ombros proveito direto. de poder dizer do' maior núme- tranhas como as palavras 'minha terra'. o círculo de minhas observações. nos encontramos em buída. afinal. mas o modo da nar- ra<:ã~. telt ou tua. mas é característico dos me davam dc comer. O chi. Querem dizer o seguinte:' os homens não dirigem a vida nível mais alto que o dos homens. são. eu não era capaz de entcnder a significa. segundo a nelas com yaras no traseiro". ao passo que a nossa se manifesta em fatos". mas o descreve O'bjetos difert>ntes mediante palavras convencionais. mas verifiquei que isso não era exato. anto rir. e e O homem de calções de seda primeiro cantou só. ToIstol. com uma plu. trazendo na mão pela qual. Foram ligados os refJeto." ' com borlas nos quatro cantos. Da mesma forma negras. Em seguida os dois se calaram.que havia audado. vo e botas lustrosas". na tela representando a lua. outros mortos tando com ela. Essas pessoas começaram a gesticular. fazia muito vestido azul-claro. a orques.eriapreciso copiar uma parte considerável deste romance de tão em àfinidade Y". E dizia em voz alta. QUf'm. radas e.salões e o larização não somente para dar a visão de um objeto que éle quer teatro. o No quarto ato: "Surgiu um diabo que cantoll. afastada das outras. N. aclamando-os. !'. Ar. ves. se os prisioneiros de guerra.'oltaram para ri'.ria Pedro. ao enterrá-lo. Agora sou prisionf'iro. tragando-05". e.eu YEu' :Minhaal- la aplaudiu. com um vestido de seda branca. Não a levaram logo. surgiram muitas pessoas com capas sua carne e seu!'. (. foi sepultado muito depois. ah. Depois surgiram outras correndo e enorme estorvo para os outros. eutar esse riso estranho e solitário. com uniforme no. co'm um bom prece. por fim arrastaram-na e nos bastidores deram três em vida semelhantes a ele acharam eonveniente. comidoe bebido res e as trombetas e contrabaixos começaram a tocar em surdina pelo mundo morto em vida.. apresentar negativamente: "Pedro abandonou seus no. Assim ele descreve o casamento em A Sana. . Agarraram- o compasso para entoarem o dueto. " . Ah. se inclinavam sorrindo. Editora Lux Ltda.ossos não serviram para nada. pela esquerda e a direita. por entre as fogueiras do acampamento. Cantavam em coro. c todos come~aram a correr. seu enterro foi uma complicação levaram a moça. fi L. ah. Moças de corpetes ver. outro painel. (. ao final da novela. enquanto. Cantaram juntos e toda a sa. Ele descrevia da mesma maneira Oi'.O soldado não me deixou passar.) . sencadeou-se uma tempestade: a orquestra entoou uma gama cro- cou. dirigiu-se para uma 'carroça desatrelada. ficaram um bom tempo can- que constituía uma carga para todos. . ah!.'a dele. calçá-Io com boas bota!: depositá-lo num caixão novo. dirigirHlo- tra repetiu a aria e o homem segurou a mão da moça. me e me trancaram. o homem e a mulher no pal. Todas são apresentadas cojp. "No segundo ato o cenário representava monumentos. . Havia um burace. dos espectadores. Assim. coberto de vermes. esperando se a si próprio: . mas não voltou para onde estavam sens papelão verde. Mas Tolstoi aplica o procedimento de SillgU- quatro volumes. Chklovsk. I. vemos que. A Arte como Procedimento 49 ee O corpo de Serpukovski. não as citarei: para zer: "Por que as pessoas dcvem dormir juntas se suas almas es- isto. hora sem que ninguém viesse molestá-Io. Tinha vontade (le conversar com eles. de braços abertos. depois che- gou a vez dn J1]O<}1I. Sentou-se no chão frio.. gesticulou. que antes estava de branco e que agora usava um a mais. até que um alçapão abriu-se a seus pés. Tolstoi descreveu todas as batalhas em Guerra e Paz através Da mesma maneira Tolstoi descreve a cidade c o tribunal em deste procedimento.e de t. ao fundo. a moça eamaradas. há vinte anos. No entanto. Sendo as descrições muito longas. Também acharam oportuno colo. Sua pele. estava sobre um pequeno banco atrás do qual estava colocado um "Pedro obedeceu. dirigiu-se para locadas dos lados e... pancadas sobre algo metálico. baixa e ficou rf'fletindo por muito tempo. rastaram um dos atores para os bastidores c o pano caiu". de- car o esquifc numa caixa de chumbo e trasladar seus restos a Mos. onde não ha- de branco avançou para a caixa do ponto.. Â.) co representando um par apaixonado. e todos se ajoelharam entoando uma tir seu corpo obeso. ma imortal f Ah. De repente ele deu uma meçolJa cantar c a gesticular."os cama- eeNo meio do palco havia cenários representando árvores. Jiígrimallcorriam-lhe pelo rosto. . Desde muito tempo ninguém precisa.o antes dc tudo Ressurreição. Tradução de Luclnda Martins. Várias vezes. onde descnterrariam outros restos humanos para dar scpul. muito gorda. que não demorou a decompor-se. Um homem. co. Rio de Janeiro. vestindo via ninguém. Uma delas. tudo foi interrompido por gritos entusiastas uniforme. Passou-se mais de uma ma no chapéu e um punhal na cintura. seu corpo morto em vida havia sido um algo parecido com um punhal. vol. de jOE'lhoserguidos e cabeça um calção de seda que moldava suas gordas coxas.eantar. No caminho uma sentinela francesa obrigou-o a parar e voltar. gargalhada alegre e tão forte que as pessoas se . procedimento é aplicado fora de sua motivação ocasional. tura a este corpo putrefato. ah! . Quando terminaram. mesma técnica para o terceiro ato: eeRepentinamente. o outro lado da estrada.ta a Kreut- singulares. Guerra e Paz. onde lhe haviam informado encontrarem- melhos e saias brancas estavam sentadas no centro. 1960. mática e acordes de sétima menor. aproximou-se dela e co.48 V. Hé. que há imagem. disse com um acento que traía sua astúcia e . Fome: tempo ele quisera tocar.. tudo aquilo está em mim.con- barraca fE'l'hada por tábuas! '..onheeidode todos.Como fi Você não vê.> "aidade : . resultou daí qual.) a sua mão gorducha.11um. ro<. ('orno um areo e as flechas. Savodnikov. dando. (Gllcrra e Paz. O 9bjetivo da imagem llão é tornar mais próxima de nossa compreensão a significação que t"la traz. méto. . 11. D. Ela lhe Em outras palavras. quer' coisa de estranho. Madrld. a aplicar o o mesmo tom.nos permite uma observação melhor das flln<:ões da imagem. deu um "Peuro examinou o eéu. "Tradução de Irene Tchenowa. não é sf'não por l'onsiderac. tão passeou de novo pelo quarto. (N. hé! . do Trad.disse ele com o corar. vo1.õE. conforme aparece na bi1ina"'''' sobre Staver Pessoalmente. após ter esclarecido o caráter deste proeedimento. l1as"Adivinha- ções do povo Russo". " ]arização. na Noite de' Natal: · N. n. Entrf'tanto.. mas criar uma percepCJãopartieular do objeto. Hé. criar uma "Você se lembra. de As VigíUaa em DJ. tossiu e.contestou r~Iite }\(>Iaspalavras habituais de uso religioso. A Arte como Procedimento 51 50 V.Que é isto.Hum. e passeando pelo quarto: nas de E'xE.. O objeto erótico é apresentado freqüentemente como uma coisa jamais vista. Aguilar S. hé! .O colo e sobre ele. Esta maneira dE' Yer os objetos fora ---: E isto. " ". (N. Por vezes. As percepções des dedos do sacristão haviam tocado desta vez. roçando com 08 dedos Trad. lo sou eu! E foi tudo isso que eles agarraram e trancaram numa . Ossip Nikiporovitch ~! . hé. incompará\'()l Solokha' . magnífica Solokha? . 'Noite de Natal. eomo temos determinar aproximadamente os limites de sua aplicação. Solokha . O marido não reconhece a mulher masearada de bravo.) . não se sabe mais o que os gran- qual 'J'015toipercebia e relatava o que o envolvia.. "'''. (Rybnikov. de monstruoso. eomo antt's. um colar. Por exemplo.Comoo que é isto? .. 110sE. "Dois miJagl'es brancos saíllm de sua blusa". a diferença entre o nosso ponto de vista e o de Potebnia pode ser formulado assim: a imagem não é um pro~õe uma adivinhação: " .. porque este mate. ond<.." Como. 1951. Relaciona-se a es!l' tipo dI? representa~ão aquela dos órgãos rial é <.:ando-]hc levemente o colo e método dE. 'Tudo aquilo é meu. do "Dizendo isto. predicado ('Ol1stantepara sujeitos variáveis..'spuramente práticas. sobre o colo um colar. contente por aqut'lt' l'omeço. que foi sinceramente con.° 30).o objetivo niio é eyidcntemente aproximá-Ios () ])1'o<'t"dimentoue singn1arização não pertence somente a da compreensão. quando tSramoscrianças. 11('TolStoi sacudiram .ão Todos os que conheeem bem Tolstoi podem achar nele cente.OS102. II. . como os instru- Agora. Se me apóio no material que lhe tomo emprestado. a profunde~a onde cintilavam as estrelas. sexuais como um cadeado e uma ehavc (por exemplo. esfregando as mãos. o mente. Tolstoi. Ossip Nikiporoyitch. Staver. um salto para trás. Gogol. um ant"l e um prego. . a rt'presenta<:ão dos objetos eróticos se faz de uma maneira velada. mentos de tecer (ib"id'J588-591). Chklol1Ski .E isto. 11ass.107). o lembra visão e não o seu reconhecimento.A. . camaradas". a mão.'gunuoo qual éle substituía as palavras da linguagem cor. aquilo. hé.'sillgularização na aescrição de dogmas e ritos. acercou-se dela.a.com dE' seu contE'xto o conduziu. em Obra Completa. íamos pela rua É a arte erótica que . em Gogol. Epopéia ou rapsódia popular russa. . ten. foi sempre o mesmo procedimento através do que é. A mão.e ao dizê-Io. A tradução para o português está.uas Últimas obras. queridíssima Solokha? -"prosseguiu .'ll1plosdeste tipo. o que é. há singu. apl'oxim8ndo-se dt'la. penso que quase sempre..kauka.a sua fé ao tocar os objetos que por longo Em Hamsun. Sorriu e foi deitar-se ao lado dos testou Solokha..e o sacris- siderado por muita /?ente eomo uma blasfêmia e os feriu penO!. calcada nesta versão espanhola. tudo aqui- salto para trás. .. S.Depois da pega.o 84. distancia-se um pouco. "os aviões". dois anéis. aquilo o lembra cida da atitude erótica. diz a imagem popular que apresenta os mesmos atos como o fato de Mas eu não joguei com você o jogo do prego.Eis que uma pega chega perto do mujique a fim de ciscar a carne para si. ela é a base e o único sentido me o. Zaslon i konnik7 (Ibid. "pisar a erva e quebrar o alburno"..GrandesConiosRussos da Administraçãode Perm é um Em outra variante da composiçãõ.o 177). ção francesa. quem deu à sua Levantou as suas roupas até o seu umbigo .o 51) ou Slon da Kon dt'ik1 . A grande mosca: '1\ão. por exemplo no Decameron: "A' rapa da vasilha". "a caça ao 7 ZIIslon I konnlk (r. o urso parte. uina grande mosca chega perto do de todas as adivin}lações. O mujique a pega. Eis que chega a mulher do mujique. Mas você conseguia sempre. e no meio um sa na mesma árvore onde já estayam a pega e o urso.): soalho e teto.. o urso se dirig-e à pega e à mosca: 'Bom Deus. para a edi. prende a relha do arado. 'Dei-a eu mesmo'.o 52. etc. vo1. A pega voa e pára na árvore perto da qual dor- vinhações eróticas ou de eufemismo. filho de Godine. cha- (Rybnikov. n.Jogo do prego: jogo. n. filho de Godine. égua esta cor pega Y' . Chklollski A Arte como P1'ocedime1ilÚ 53 E jogávamos o jogo do prego Há imagens que usam a sil1gularização sem ser adiviuhações: . O Soldado Justo. . A mosca voa c pou- atribuídas (exemplo: "Duas extremidades. pousa sobre a égua e começa a picá-Ia. que escutamos na boca dos can- E eu conseguia de vez em quando tores. O mujique a pega e lhe Mas a singularização não é somente um procedimento de adi. nRo sendo esta última . A falta de reconhecimento no conto n. Vendo-o. (N. PoZ da potoZok6) (D. desamarra-o.s do urso: com a relba queimando.o 70 da antologia de D. '1\las comoY' - E eis que o jovem Staver. Staver. ou uma singularização fônica obtida com a ajuda de uma lá. do Trad. Mas você a molhava sempre'''. na qual o urso e outi'OSanimais (ou o diabo. mujique come ao ar livre com sua mulher e a derruba n'a terra. uma mujique. Antologia da Eu molhava a caneta de vez em quando Rússia Branca de Romanov. urso. 42. vodnikov. .): asilo e cavaleiro. Cada adivinhação é uma descrição. ele quer quebrar-lhe as patas '. O mujique lhe amar- Reconheceu o anel dourado. Contos da Grande Rússia." . Sa. 171) musqueia-Ihe o pêlo até a carne e lhe dá assim a cor pega. As imagens dos cantores têm todas um ponto em comum com E Staver. . Rouxinol". Um ur- "Então a terrível enviada Vassiliuchka so se aproxima dele e lhe pergunta: 'Ei amigo. "as bone- E eu tinha um anel dourado Y cas".. Foi com você que aprendi a escrever: uma outra motivação de falta de reconhecimento) não reconhecem Eu tinha um tinteiro de prata o homem (O Mest1'e Corajoso.". Os três ficam preg<f"'). trazendo o seu almo~o. Zelenine. vou dá-Ia também a você'. p. deita-se sob uma árvore e não se mexe. Então Vassilissa Mikulithna diz: Então O procedimento de singularização é evidente na imagem conhe- Você .. êle quer en- fiar-lhe uma vareta no traseiro'. faz esquentá-Io no fogo e co- meça a aplicá-Ia nos flanco. A pe~a diz: '~ão. "os pequenos amigos". popular russo que cOl1lliste em visar com um prego o centro de um anel posto na terra. "Um mujique lavrava seu campo com uma égua pega. Depois. O repetição deformante: Ton da tonoU . ra as patas. n. Você tinha um anel de prata por e~emplo todos os "maços de biscoitos". "o trabalho alegre do operãl'io". O urso aceita.) A singularização do próprio ato é muito freqUente na literatu- 6 pol da potolok (r. quebra uma pata.se lembra. ra. definição do objeto por palavras que não lhe são habitualmente enfia-lhe uma vareta no traseiro e a deixa partir.52 V.. quer ainda uma vez dar a cor pega a alguêm'. A identidade do procedimento deste trecho com o procedimento de Kholstomer parece-me evidente para todos. o mujique n. 344). a solução nos é dada: caso característico. notas da E você tinha uma caneta dourada Y Sociedade Imperial Geográfica Russa. 'Vem. Máximo Gorki representa o objetivo do criador e ela é construída artificialmente passa também. Esse- semânticas constituídas por estas palavras. vista. na prática. canções populare$ próximas da língua literária. com seu caráter trivial (para esta época). eco- base' do russo literário.a sen. como em geral o objetivo da imagem. exe~los de Tolstoi. Assim. (. Dama 'Tímida": todo o conto funda-se sobre o fato de que não se . no alto desta escola pôs-se. A prosa permanece um discurso ordinário.'. p.Sua irmã chamava-se Tatiana chama o objeto por seu próprio nome..há portanto uma rnudan~a semântica específica. a literatura começa a néticas e léxicas como na disposição das . o mesmo nos Contos lntimos: "O 1'rso e o Coelho". Velemir Khlebnikov. O objeto é percebido não como uma parte literária trocaram seus lugares (V. Em certos casos parti- Tj)da. nova per<. ou uma língua elevada como a língua das nômico. Pushkin larização no paralelismo psicológico. a língua poética deve ter um uma língua especificamente poética.lIo 55 54 imagem desenvolvida como enredo. Por seu nome. os lismo. Jacobins. rência de um objeto de sua percepção habitual para \lma esfera de Um fenômeno ainda mais característico ocorre em nossos dias. em oposição. parecem à primeirll. sua visão possível o aparecimento da escola de Scvcrianine). enquanto que Inferno" (Decameron) pertencem ao mesmo procedimento de sin. correto (Dea Prosae é a deusa do parto fácil. para as formas que supõem um esfor~o na pronún.'epção. Kliuev. em seus dis- sação de não-coincidência de uma semelhança. gias está constantemente presente na língua poética e que ela ~ cia (Diez.. obscura. voluntariamente provinciana) e pelos barbarismos (o que tornou cientemente para libertar a percepção do automatismo. obscurecimento no que con. mas de reconhecimento. O As páginas deste terno romance" urso e o coelho cuidam da li ferida". correto. Contos lntimos: "A sem contradizer a lei da dificuldade. do espaço. 213). t-er uma po- ki demonstrou no seu artigo a lci do. Ivanov e muitos outros). râneos perante as exprcssões gros3eiras que ele empregava. mas por sua continuidade. A mesma coisa em Ontchucov. I língua difícil. Aprofulldart. amortecimento. em nossos dias da língua literária ao dialeto literá- de maneira que a percepção se detenha nela e chegue ao máximo rio à maneira de Leskov. II doloo 8til nuovo" (s-éculo XII). "A Nódoa Feminina" (con. muitos elementos dos dialetos. . o velho búlgaro como OOCUf"lSO elaborado. a linguagem popular e a língua de sua força e duração. escrevia Pushkin. Assim. A língua literária russa. surpreendente. percebemos que o cará. da singu. a língua 4a poesia é uma da singularização na representação dos órgãos sexuais. Chklo1Jski A Arte como Proceáime. utilizavam palavras russas (cf. assim como seus contemporâneos. penetrou de tal forma' na massa popular que trouxe a seu nível Examinando a língua poética tanto nas suas constituintes fo. Enfim. V. nine e outros. sobre a construção do euredo. é freqüentemente uma como se sabe. a líugua da poesia se aproxima da língua da prosa. A cerne à fonética da 1íngua poética a partir do caso particular de interpretação da função do ritmo dada por Spenct. chegamos a definir 'a língua estrangeira: o sumeriano para os assírios. E é também freqüente o uso uma repetição de sons idênticos. Pela primeira vez eis que cimento. culares. . uma série de enredos é construída 'baseada em tal falta ~. que é de origem estrangeira para a Rússia. poesia como um discurso difícil. ~sim. utilizava a linguagem ~opular <. caráter estranho. sição particularmente justificada no que diz respeitó ao ritmo. passo a santificar to n. no mcu artigo. representa a transfe. Segundo Aristóteles. o estilo de Pushkin. a língua A construção de tipo "pilão e tigela " ou então "o diabo e o poética tradicional era o estilo elevadp de Derjavine. para aR dificuldadf'R do. mesmo a sua determillante. O objetivo do parale. cheia de obstáculos. difícil e surpreendente.>imais no meu artigo ra a existência de arcafsmos tio largamente difundidos na língua sobre a construção do enredo este ft. era gularizaçã0. enquanto lei geral da arte. de uma boa posição da criança). desiguais em seus talentos c próximos da sua língua ter estético se revela sempre pelos mesmos signos: é criado cons. Guerra e Paz).palavras e nas construções manifestar uma preferência pelos dialetos (Rcmizov. ~ a explicação pa. de poética. por' exemplo Afanassiev.>nômel1o de obscurecimento. os arabismos entre os persas. sobre o jogo do mal reconhe. Leben una Werk der Troubadoure. Recordemo-nos o pavor de seus contempo- Trato. cursos geralmente em francês. somos testemunh.o 525) .>rparece ser in- . . Para os contemporâneos de Pushkin. tortuoso. O discurso poético é um ropa medieval.as da aparição da forte tendência que procura criar tas condições. fácil. L. A língua poética satisfàz es. o latim na Eu. chamar a atenção. para a lín~a de Arnaud Daniel com o seu estilo obscuro e suas As pessoas que pretendem que a noção de economia dás ener- formas difíceis.0010 um procedimento destinado a Repito contudo aqui que o importante no paralelismo é . economizamos nossas energias". se esta violação tornar-se regra. para a edição francesa. perderá a força que tinha como procedi- mento de obstáculo. entretanto. tornando-o' automático. e o ritmo estético con- siste num ritmo prosaico violado. quando os golpes são regulares. ChJalo1Jsk. do . é mais fácil ca- minhar ao som de música que sem ela. De fato. 1917 ·Canção rlJssa cantada durante Trad. contestável: "Os golpes recebidos irregularmente obrigam nossos músculos a manter. Elas representam a tarefa atual da teoria do rit- mo. não se trata de UJIIritmo complexo. mas é ainda mais fácil ca- minhar ao ritmo de uma conversa animada quando a ação de ca- minhar escapa de nossa ~onsciência. mas de uma violação do ritmo. por outro. peca pelo vício habitual da con- fusão das leis da língua poética com as da língua prosaica. um outro livro lhe será consagrado. Mas este não é o caso do ritmo poético. uma tensão inútil. Spen- cer não vê nenhuma diferença entre elas na sua Filosofia de Estilo. Podemos pensar que esta sistematização não terá sucesso. O ritmo prosai- co. que não podemos prever. às vezes mesmo prejudicial.~6 Y. de uma violação tal. Mas não entrarei em detalhes sobre os pro- blemas do ritmo. (N. o ritmo prosaico é im- portante. à primeira vista convincente. Com efeito. e entretanto talvez existam duas espécies de ritmo. Esta no- ta. enquanto que. por um lado substitui a norma: "Vamos juntos". facilita o trabalho. como fator automatizante. porque não prevemos a repetição do golpe. o ritmo de uma canção acompanhando o trabalho. não há uma só co- luna do templo grego que a siga exatamente. Assim. Na arte. da dltbinttCh- ka *. houve tentativas para sistematizar estas violações.) um trabalho fislco dJficl1. há uma "ordem".
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