03 - Livro Bônus- Leal de Souza- O Primeiro Livro de Umbanda.pdf

March 30, 2018 | Author: Nayaka Giacomo Magi | Category: Spiritism, Mediumship, Saint, Prayer, God


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O ESPIRITISMO, A MAGIA EAS SETE LINHAS DE UMBANDA O PRIMEIRO LIVRO DE UMBANDA Antônio Eliezer Leal de Souza (Antologia dos Imortais / Chico Xavier) LEAL DE SOUZA RIO DE JANEIRO 1933 1 Cópia do original de Pai Ronaldo Linares Presenteado por Zélia de Moraes Lacerda e Zilméia de Moraes Cunha 2 APRESENTAÇÃO Por Alexandre Cumino* O Espiritismo, A Magia e as Sete Linhas de Umbanda é titulo do primeiro livro de Umbanda, publicado em 1933 por Leal de Souza. A primeira copia deste livro me foi presenteada por Pai Ronaldo Linares, explicando que era, aquela, uma versão digitada do original, recebido por ele da família de Zélio de Moraes, recomendada pelo próprio Pai da Umbanda, que teria feito comentários sobre as questões litúrgicas e doutrinárias contidas na mesma. Pedia Pai Ronaldo que eu guardasse esta cópia até que conseguisse publicar uma versão comentada por ele sobre suas conversas com Zélio de Moraes. Tempos depois o irmão Diamantino Trindade, também autor umbandista e ex-vice presidente da FUGABC me presenteou com algum material de Umbanda e entre este estava uma xérox do original de Ronaldo Linares, neste exemplar consta assinaturas de Zélia de Moraes Lacerda e Zilméia de Moraes Cunha, filhas carnais de Zélio, como a endossar a importância deste livro para aquela família. Recentemente recebi algumas versões deste mesmo livro pela internet e tomei conhecimento de uma editora que já se prontificou a editá-lo. Foi então que procurei Pai Ronaldo Linares no sentido de me desobrigar da responsabilidade em manter esta obra guardada, abrindo uma oportunidade de levar ao conhecimento de todos os umbandistas o seu primeiro livro e com certeza um dos mais importantes registros históricos de nossa religião. Antes mesmo de digitar o presente texto passei algumas cópias, de uma versão em PDF que circula na internet, para alguns amigos e estudiosos da Umbanda. Entre eles cito meu amigo, irmão e Mestre Rubens Saraceni, como a pessoa que mais vibrou pela oportunidade, inclusive fazendo a leitura do capitulo XXIII (O CABOCLO DAS SETE ENCRUZILHADAS) durante as comemorações, por ele realizada, do Centenário da Umbanda, mais exatamente no dia 15 de Novembro de 2008, á frente de centenas de médiuns, em gira por ele comanda. Neste mesmo mês, novembro de 2008, tive a oportunidade de publicar três capítulos no Jornal de Umbanda Sagrada. Como tudo tem a hora certa para acontecer, me parece que os Cem Anos de Umbanda marca um interesse renovado dos umbandistas pela história 3 da Umbanda e como não poderia deixar de ser Leal de Souza é o principal marco, depois de Zélio de Moraes e o Caboclo das Sete Encruzilhadas. Sabemos que Zélio de Moraes, a exemplo dos fundadores de muitas religiões, não escreveu livros, códigos ou bíblias, antes nos deixou as palavras do Caboclo das Sete Encruzilhadas, que considero o maior fundamento de Umbanda, coloco abaixo duas das mais marcantes impressões deste caboclo para a Umbanda: “Umbanda é a manifestação do espírito para a caridade” “Com quem sabe mais aprenderemos, a quem sabe menos ensinaremos” Caboclo das Sete Encruzilhadas – 15/11/19081 Embora Zélio de Moraes não tenha escrito livros podemos citar alguns de seus médiuns que são colaboradores da obra literária de Umbanda: Capitão Pessoa (Tenda Espírita São Jerônimo), João Severino (Tenda Espírita São Jorge) e Leal de Souza (Tenda Espírita Nossa Senhora da Conceição), sem esquecer Pai Ronaldo Linares (FUGABC - Federação Umbandista do Grande ABC e Santuário Nacional da Umbanda) que muito conviveu com Zélio. Diga-se, de passagem, Pai Ronaldo encontrou por parte do Pai da Umbanda (como ele mesmo costuma se referir a Zélio de Moraes) apoio irrestrito para a realização do Curso de Sacerdotes (Babalawôs) da FUGABC, que nesta data encontra-se no 26º Barco. De todos que já escreveram sobre a Umbanda, sem duvida destacamos Leal de Souza, pois em sua época não havia nenhuma obra literária umbandista para recorrer, temos no titulo O Espiritismo, A Magia e as Sete Linhas de Umbanda um trabalho original e totalmente assentado em sua experiência ao lado de Zélio de Moraes e à frente da Tenda Espírita Nossa Senhora da Conceição. Leal de Souza, jornalista e poeta parnasiano, já era escritor consagrado com os títulos: O Álbum de Alzira – 1899, Bosque Sagrado – 1917, A Mulher na Poesia Brasileira – 1918, A Romaria da Saudade – 1919, Canções Revolucionárias – 1923 e também No Mundo dos Espíritos – 1925. 1 Para quem se interessa em conhecer melhor a história de Zélio de Moraes e do Caboclo das Sete Encruzilhadas recomendo o livro Iniciação à UMBANDA (Ed. Madras / Ronaldo Linares, Diamantino Trindade e Wagner Veneziani Costa), também recomendo o livro UMBANDA: Trajetória de uma Religião, que será lançado ainda neste ano de 2009 pela Ed.Madras (Alexandre Cumino). 4 após desencarnado na data de 01/11/1948. A verdade é rugido de leoa. Graças ao amigo.. até então desconhecido a mim. Porquanto em nós ressurge a besta fera Buscando. Quando a lembrança é fel em dor suprema. por me presentear com uma cópia do livro No Mundo dos Espíritos (Leal de Souza. 5 . Quando a morte. 1925). História da Umbanda. No castelo acordado da memória Ruge o passado que nos dilacera. aí de nós!.. umbandista e historiador Diamantino Fernades Trindade. Além destas informações. Mas.. psicografando o poema abaixo (Morte e Reencarnação).. nova algema. escrito enquanto Leal de Souza era ainda espírita (kardecista) convicto. também agradeço. Sempre distante o céu envolto em glória. em novo corpo. A gente crê que esquece.. alguns dados abaixo como por exemplo o nome completo de Leal de Souza. Hanamatan (Autor dos livros Iniciação à Umbanda – Ed. E.. Madras. que se encontra na obra Antologia dos Imortais (Chico Xavier. por fim.. A floração de orgulho cai à toa... Morrer!. pois o amigo fez uma impressionante pesquisa biográfica deste autor a qual me deu acesso livre e esperamos sua publicação. ao irmão Diamantino. manifestou-se por meio da mediunidade de Chico Xavier. com a devida licença do pesquisador. Antônio Eliezer Leal de Souza. Por joio amargo na Divina Messe. Destas informações destaco. 1963): MORTE E REENCARNAÇÃO Morrer!. desagrilhoa O coração cansado posto em prece... Pensa que é santo em paz humilde e boa. pasmem.. onde apresenta em forma de reportagens suas visitas a centros e tendas onde pudesse encontrar manifestações de espíritos. Leal de Souza. A luta reaparece. UMBANDA: Um Ensaio de Ecletismo e Umbanda Brasileira) pude ter acesso a algumas informações pessoais de Leal de Souza. à sede da associação procurada. seu hipócrita. e em transe. no momento. os cabelos cortados. mas os seus movimentos eram desordenados e incoerentes. como vemos abaixo: O CENTRO NOSSA SENHORA DA PIEDADE A falange da rua Laura de Araújo. ao lado de uma senhorita que vigiava os médiuns. a cidade de Niterói. porém. é a matéria que tem inicio na página 369. pronta a socorrê-los. tentou levantar-se e sair. em cadência. porém. ouvimos. no bonde. com dezenas de reportagens e mais de 400 páginas. ou auxiliá-los. conseguimos aproximarmo-nos da mesa mediúnica. – Um louco em uma Sessão Espírita. primeiro. Não conhecíamos uma só das pessoas presentes. nas Neves. como um penacho. ocupando uma cadeira. Auxiliou-a a senhorita de vigia. com o Sr. nessa noite. Caboclo das Sete Encruzilhadas e Pai Antônio é marcante ao jornalista. a quanto passageiro ficava ao alcance da nossa voz: . e. José Meirelles2. . As matérias. sacudia. prendendo. É justamente o relato da primeira visita feita por Leal de Souza à Tenda Espírita Nossa Senhora da Piedade e o quanto este encontro com Zélio de Moraes. por um corredor. . fazia uma prece. Meirelles.Qual infeliz. era o nosso. a senhorita Zaira Heintze. destinavam-se ao Jornal A NOITE e entre elas encontramos os primeiros registros de manifestações mediúnicas umbandistas. cujo destino. intitulada O CENTRO NOSSA SENHORA DA PIEDADE. ao findar da oração do dirigente. em seguida. porventura. por vezes. com o farmacêutico. com os dois pés. à esquerda do presidente. não passavam de repetições pejorativas ou raivosas das do diretor. inclinando a cabeça sobre a mesa. continuou a bater com as mãos.És um espírito infeliz! . Apenas ocupamos o lugar designado pelo nosso condutor. formulada pelo Sr. Nessa incomoda posição permaneceu por mais de meia hora. de olhos fechados. José Meireles foi dirigente da Tenda Espírita São Pedro 6 .Conhece. a babar-se. As suas frases. a farmácia do Senhor Zélio? .Não. 2 Dr. e. a dupla resposta afirmativa. Atravessando. ergueu o corpo e dobrou o busto. que. filas compactas de gente. perguntávamos. os de sua cadeira.E o Centro Espírita Nossa Senhora da Piedade? Quase ao termo da viagem. à farmácia do presidente do centro. Dr. em companhia desse gentil cavalheiro. discutindo. O que mais nos chama atenção neste livro. Depois. Eurico Costa. em caso de transe violento. Varando. num grande pulo. e batia com as mãos na mesa. atirando a cabeça para trás. fomos. e. e a médium. e a nossa entrada não foi vista pelo diretor da reunião. em procura do arrabalde das Neves. que tiveram inicio em 1924. de uma senhora que. mas da cintura para baixo. Iniciando. suplicando e ordenando a intensificação da fé. os movimentos da senhorita Zaira. Meirelles. desde que fizemos. sob o olhar espantado da assistência. A resposta foi que havíamos dito que. nesse transe. acercando-nos do Senhor Zélio ouvimos: . vestida com elegância. Despertou-se o Senhor Zélio de Moraes e o Dr. Disse uma verdade. bradou: . abalando-o. os braços agitados em gestos apropriados às expressões de seus lábios. está o espírito de uma senhora. ficou estendida. Pode ouvi-los. 7 . então.Mas não devia ter noticiado! Objetou o médium. fez. anda a seguir-nos. convidou a entidade presente a definir a injustiça por nós praticada. O Dr. com calma. entrou. médiuns em transe acusavam a presença. Meirelles. graças a Deus. a conversa com o Sr. naquele canto. de bom corpo. . porém. Era a terceira vez que. Meirelles. Meirelles recomeçou o seu esquisito debate com a senhorita Zaira. afirmavam eles. que diz ser sua mãe. Esta saltou com fúria e tombou de flanco. Nossa mãe.Por que? O jornalista não cometeu uma injustiça. a queixar-se de violências que lhe estavam fazendo dizia. começando a compreender quem éramos. . o médium pediu para apertar-nos a mão. nesta reportagem. Tinha erecto e firme o busto. O médium. a nosso lado. o trabalho espírita é remunerado. depois. naquele centro. contestando-nos o médium: . Curou-os. Surpreendendo o Dr. uma vibrante exortação. então? Tem de falar! Há de incorporar e dizer quem é. uma injustiça ao centro da Rua Laura de Araújo. saudado como sendo o Caboclo das Sete Encruzilhadas. e. o médium Zélio. 3 Ruflar = fazer tremular. À minha esquerda. Em meio desse debate. . alçada a cabeça. acendendo-se em cólera contra nossa pessoa.Não é! Arriscamos. aos dois. Junto ao senhor.Quem é. pela desconexão de seus movimentos. em linguagem enérgica. batendo rijamente com a cabeça no solo. vive e goza saúde.Pode dizer que apertou a mão de um espírito. onde. Ao fim de minutos. parecia dividido. dizia ser nossa mãe.Deve ser engano.Mas é ou não verdade? . fazia-lhe bater com os pés nas tábuas do chão. com o intuito de prejudicar o nosso serviço e a nossa vida. em célere ruflo3. O Caboclo das Sete Encruzilhadas. em seu corpo. um tremor convulsivo. . caíram em transe simultâneo aquele médium e uma moça clara. disse que. produzindo um rumor apressado de caixa de guerra. e. chamando-nos “careca”. Nossa Senhora da Piedade. está uma irmã que entrou aqui como tuberculosa e à minha direita um irmão vindo do hospício. por momentos. chefe espiritual do famoso centro. então uma frase em nossa defesa. entrou em transe o Senhor Zélio de Moraes e. caboclos e pretos invisíveis para nós. com seus companheiros ali incorporados às duas médiuns.Foi o que noticiamos. em duas partes. numa sessão espírita. o rosto torneado em desenho vigoroso. Tornaram-se mais bruscos. .Ninguém é obrigado a dar. Dá quem quer. - Mas essa verdade prejudicou o Centro fazendo com que muita gente o abandonasse. A moça clara, de pé, debatia-se em fúria, segura, pelos braços, por dois cavalheiros e a senhorita Zaira protestava: - O Encruzilhada não é aquele que esteve ai. Sou eu! O médium em transe, dirigindo-se ao diretor dos trabalhos, considerava: - Você acha que o espiritismo não pode ser pago. Mas quem não tem emprego, como é que há de fazer espiritismo? E, continuando, desenvolveu, em favor do centro da Rua Laura de Araújo, argumentos semelhantes aos que ouvimos, no Centro José de Abreu, à Rua Dr. Bulhões, formulado por um dos dirigentes daquela associação. Dirigiu-se, em seguida, às duas moças, chamando-as, respectivamente, João e Eduardo. Acalmou- se a senhorita Zaira, e a outra, a clara, escapando-se dos braços que a amparavam, caiu sentada na cadeira. - Bem. Vou-me embora! Vamos, João! Vamos, Eduardo! Convidou o Sr. Zélio. Soergueram-se as duas moças, mas o Dr. Meirelles declarou: - É inútil! Não saireis daqui em estado de perseguir alguém. Escutai-me, e proferiu uma prece comovedora. - Sou Sofia, disse o Sr. Zélio. Se for para o nosso bem, iremos. Se formos enganados, pagarás. Vamos, João. Vamos Eduardo. Despertaram-se, então, os três médiuns. Pediu concentração o diretor, e o Sr. Zélio, novamente em transe, curvado, numa linguagem deturpada, dizendo ser Pai Antonio, tomou as mãos de um enfermo, e, acompanhado pelos presentes, começou a cantar: Dá licença, Pai Antonio Eu não venho visitar Eu estou bastante doente Venho para me curar Findo esse ato, e depois de um transe quase mudo da senhorita Severina de Souza, havendo o guia, como se disse, mandado que se realizasse um trabalho especial em beneficio de um louco fugido do hospício e ali presente, declarou-se encerrada a sessão. Retirando-se a assistência, foram afastados os bancos da sala e iniciados os preparativos para o trabalho especial. Só ficaram no recinto os médiuns, o louco, três homens que o acompanhavam e nós. Uma senhorita, com o defumador fumegante percorreu a sala, envolvendo cada pessoa em ondas de fumaça aromática, e a cantar, acompanhada pelos circunstantes, uma canção cujo estribilho era: Quem está de guarda é São Jorge São Jorge é quem está de guarda Entregou o defumador a um cavalheiro, que saiu e agitá-lo, caminhou em duas direções e, voltando fechou a porta. 8 O Sr. Zélio, assumindo a direção do trabalho, ocupou, ao lado de seu pai, perto da parede, a cabeceira da mesa, ficando um médium. Por detrás do enfermo, “fechando a concentração”, sentaram-se o Dr. Meirelles e uma senhorita, e, formando a terceira fila, os três companheiros do doente, ladeavam a mesa as médiuns Severina de Souza e Maria Isabel Morse, enfrentando a senhorita Zaira e a elegante moça clara. A jovem que empunhara o defumador e nós ocupamos lugares à esquerda da mesa. Falando ao louco, disse o Sr. Zélio: - Vamos fazer um trabalho para o senhor ficar bom. Pense em Deus. Como o senhor não pode fazer uma idéia de Deus, veja se consegue reproduzir na mente a imagem de Jesus. Fez, com fervor, três orações; a Deus, a N. S. da Piedade, e ao Caboclo das Sete Encruzilhadas, e, convidando para começar, cantou, acompanhado pelos demais: Santo Antonio é ouro fino Arria bandeira Vamos começar O canto, monótono, melancólico, desdobrando-se em toada embaladora parecia acariciar as almas. Não faltava majestade ao ambiente. O louco, de súbito, rompeu numa cantoria de sons inarticulados, e entraram em transe, atuadas – disseram-nos, por protetores, as médiuns Isabel e Zaira. Esta informou, então ao Sr. Zélio que, no momento, duas entidades agiam sobre o doente. - Deixa o aparelho e faz incorporar em um deles. Manda o outro para outra máquina. Conto contigo. Instantaneamente, recobrou-se e caiu em novo transe a senhorita Zaira. Sacudindo-se, a vociferar, quis deixar a cadeira, mas foi dominado pela senhorita de vigia. Ao mesmo tempo, dando uma ruidosa gargalhada, a moça clara, num pulo, atirava-se de costas ao solo, enquanto o louco, asserenando a face, emudecia. Entraram em discussão a senhorita Zaira, que dizia haver sido “o padre Alfredo, vigário do Meyer”, e o Sr. Zélio. Sustentava aquela que perseguir alguém é encaminhá-lo, pelo sofrimento, para o progresso espiritual, e sofria ardente contestação de parte do último. De pronto abriu o presidente “novo ponto” cantando o coro: “Santo Antonio é Santo Maior”. Erguendo-se a pouco e pouco do chão, a moça clara ocupou a cadeira, e, olhos fechados, encarando Zaira, acusou: - Mentiste! Nunca praticaste a caridade! Não te acompanho mais! Tu me arrastaste! Falando aos protetores, pediu o Sr, Zélio que levassem aqueles irmãos “para o raio de luz” e o cântico entoado pelo coro reproduzia aos nossos ouvidos uma canção da macumba. Sobre esse coro, cantando a meia voz, em tom forte, vibrando, um canto que saia dos lábios de Zaira, e começava: “Oremos. Glória in excelsis Deo”! 9 Variou, ainda uma vez, o coro, a senhorita Zaira gritou que iria, mas voltaria; a moça clara, em gemidos lamentosos, implorou perdão, e, as duas, quase tombando, saíram de transe, enquanto todos bradavam: - Viva Deus. Mas, sem demora, encurvaram-se em novo transe as duas médiuns. Ambas são moças muito gentis, mas, de face subitamente deformadas, com os maxilares avançando, ficaram quase horríveis. Caminhando dobradas em passos arrastados, com a cabeça abatida na linha dos joelhos, percorreram a sala e fizeram passes no louco. Zaira, que descalçara os pés e, por estar em transe, não havia, em estado consciente, assistido na primeira sessão, ao caso mediúnico relativo à Rua Laura de Araújo, agora, na segunda, conversando conosco, fazia referências aos três espíritos então reputados presentes. Tornadas as duas médiuns ao estado de vigília, o Sr. Zélio perguntou ao louco se estava melhor. - Estou bem, respondeu ele serenamente. - Bem. Vamos encerrar, disse o presidente, e o coro rompeu: Santo Antonio é ouro fino Suspende a bandeira, Vamos encerrar. No Mundo dos Espíritos - Inquérito da A NOITE, Rio de Janeiro: Oficinas Gráficas da A NOITE – Rua do Carmo, 29 a 35, 1925, pp.369 - 373 Depois desta visita à Tenda Espírita Nossa Senhora da Piedade Leal de Souza, torna-se médium de Umbanda, orientado por Zélio de Moraes, que o convida para dirigir a Tenda Espírita Nossa Senhora da Conceição, uma das sete tendas fundadas pelo Caboclo das Sete Encruzilhadas. Algo em torno de nove anos depois ele escreveria uma série de reportagens sobre Umbanda para o Jornal Diário de Notícias. Estes artigos também foram reunidos e publicados por Leal de Souza, constituindo o primeiro livro de Umbanda, O Espiritismo, a Magia e as Sete Linhas de Umbanda, 1933, contando em sua versão original com 118 páginas distribuídas em 35 capítulos. Durante muito tempo foi considerado um livro raro e quase impossível de encontrar mesmo nos grandes sebos, agora trazemos esta cópia como um registro histórico dos mais importantes para a religião. Esta cópia não tem fins lucrativos, consiste apenas em xérox simples e encadernada, a fim de complementar o material de estudo para os cursos livres 10 de Teologia, Desenvolvimento e Sacerdócio de Umbanda Sagrada, ministrados no Colégio de Umbanda Sagrada Pena Branca. Aproveito a oportunidade e agradeço ao meu irmão, amigo e mestre Rubens Saraceni, por me incentivar, sempre, na busca do conhecimento e pelo preparo que recebi para ministrar os cursos acima citados. Desejo a todos uma boa leitura e que o Caboclo das Sete Encruzilhadas nos abençoe, ampare e guie. Alexandre Cumino – São Paulo – Janeiro de 2009. Obs.: É importante lembrar que tomei a liberdade de corrigir algumas palavras que estavam grafadas em um português desatualizado, mesmo o nome de alguns orixás foram corrigidos, no original eles aparecem como Euxoce (Oxossi), Amanjar (Iemanjá) e Nhá-San (Iansã). Usei do itálico e do negrito para ressaltar nomes, locais e datas, bem como completei algumas observações em rodapé. Esta impressão é a primeira edição digitada por Alexandre Cumino, e reproduzida em simples maquinas copiadoras (Xérox), com o único intuito de levar ao conhecimento de todos um livro que é documento importante para a história e o estudo da Religião de Umbanda. *Alexandre Cumino é médium e sacerdote de Umbanda, Presidente do Colégio de Umbanda Sagrada Pena Branca, responsável pelo Jornal de Umbanda Sagrada, aluno de Ciências da Religião na Faculdade Claretiano. Ministrante dos cursos de Teologia de Umbanda Sagrada, Desenvolvimento Mediúnico, Sacerdócio de Umbanda e Magia do Fogo. 11 No intuito de esclarecer o povo e as próprias autoridades sobre culto e práticas amplamente realizados nesta cidade. INTRODUÇÃO Em sua edição matutina de 8 de novembro de 1932. a necessidade do amparo divino. da magia negra e branca. dizendo-nos o que é e como se pratica a feitiçaria. da cachaça. encará-lo com a seriedade que a difusão exige. do uso do defumador. de uma curiosidade delirante pela magia. cada vez mais.Leal de Souza fez durante seis anos. anunciou: A larga difusão do espiritismo no Brasil é um dos fenômenos mais interessantes do reflorescimento da fé. o Diário de Notícias. as diferenciações do Espiritismo no Rio de janeiro. 12 . da Capital Federal. e o povo. a Magia. nos seus artigos sobre O Espiritismo e as Sete Linhas de Umbanda. Convidamos o Senhor Leal de Souza por ser ele um espírito tão sereno e imparcial que. pois. com auxílio de cinco médicos. Leal de Souza. não vai fazer propaganda. da água. O homem sente. se assim podemos chamá-los. em suma. tratando não só dos aspectos científicos como ainda da Linha de Santo. exercendo até setembro do ano próximo findo o cargo de redator chefe de A Noite. sobre O Espiritismo. em nenhuma região o espiritismo alcança a ascendência que o caracteriza em nossa capital. em sua elevação. experiências de caráter científico sobre essas práticas. conforme a sua cultura e a sua educação. só podem ser aprofundados por quem os conhece. Mas. 1925. e só os espíritas os conhecem. ou para onde o conduzem as sugestões do seu meio. e vai para onde o arrastam os seus impulsos. escritos diariamente ao correr da pena. nunca se valeu daquele vespertino para propagar a sua doutrina e sempre apoiou com entusiasmo as iniciativas católicas. Na próxima quinta-feira. as causas e os efeitos que atribui às suas práticas. mostrando-nos. os intuitos do Diário de Noticias. no sentido explicativo. E o que se observa em nosso país. iniciaremos a publicação dos artigos do Senhor Leal de Souza. e principalmente sobre os trabalhos dos chamados caboclos e pretos. o Sr. Depois de convertido ao espiritismo. O Sr. sempre ávido de sensações e conhecimentos. Esperamos que as autoridades incumbidas da fiscalização do espiritismo e muitas vezes desaparelhadas para diferenciar o joio do trigo. em suas colunas. É a primeira série desses artigos. nestes tempos. dos Pais de Mesa. elucidação. dos pontos. porém. que constitui este livro. nos Estados Unidos e na Europa. compreendam. É preciso. quando realizou o seu famoso inquérito sobre o espiritismo: No Mundo dos Espíritos. e as Sete Linhas de Umbanda. o Sr. atacada. para explaná-lo. Esses mistérios. alcançando grande êxito pela imparcialidade e indiscrição com que descrevia as cerimônias e fenômenos então quase desconhecidos de quem não freqüentava os centros. Leal de Souza já era conhecido pelos seus livros. o Diário de Notícias convidou um especialista nesses estudos. Leal de Souza. O Sr. o aventurar-me a propaganda agressiva dos meus princípios. está sob a assistência de Deus. 13 . como a confissão. inclinando-os à tolerância. Seria negar a Deus os atributos humanos da inteligência e justiça o admitirmos que o Criador fosse capaz de desprezar ou punir as suas criaturas. de consciência reta. orando com as mesmas palavras. e principalmente. são. estabelecendo diferenciações. práticas amplamente celebradas nesta capital. é uma torre em construção. parta a prece do coração de um cardeal. trazendo-lhes novas e mais positivas demonstrações da imortalidade da alma e da existência de Deus. ou a benção solicitada aos pais de terreiro. segundo os mesmos ritos. Pretendo. conduzindo ao mesmo destino terminal. é claro que não venho provocar polêmicas. o espiritismo não veio destruir a religião. Deus não tem partido e atende a todos os seus filhos de onde quer que o chamem. e seria desconhecer os intuitos do Diário de Notícias. no catolicismo. pela sua cultura ou pelas tendências de cada alma. ajoelhado na glória suntuosa de um altar. em seu núcleo de evolução. com freqüências. porém consolidá-las e revigorar a fé. parecendo burlescas. e mostrando a importância de coisas que. quanto o permitam os meus conhecimentos. os seus preceitos. O indivíduo que abraça com sinceridade uma crença e cumpre. E pois que tratarei também. a maneira mais propícia de cultuar e servir a Divindade. no espiritismo de linha. com amor e fé. na formula da Linha Branca de Umbanda: . I EXPLICAÇÃO INICIAL O Espiritismo não é clava para demolir. e quanto mais se levanta tanto mais alarga os horizontes e a visão de seus operários. As religiões. esclarecer. nestes artigos. porque não o amam do mesmo modo. revelam um grau de humildade significativo de radiosa elevação espiritual. para orientação popular. do espiritismo de linha. sérias e até graves. Os homens é quem escolhem. são caminhos diversos e às vezes divergentes. sabem-nos todos. Como no-lo ensina o seu codificador. salve a quem não tem fé. pela melhor compreensão dos fenômenos da vida. Com estas idéias. pois mesmo as regras que aos seus contrários parecem absurdas ou degradantes.salve a quem tem fé. ou saia da oração do peito de um sertanejo. caído no silencio pesado da selva. em que o obsedado se submete a um domínio estranho. que as pessoas possuidoras de predicados mediúnicos. para isso. para dar realce. atinge. A loucura é consequência de uma lesão. que as levam para os hospícios. ou a resultante do desequilíbrio de funções orgânicas. Conheço. é exato. 14 . depois. em seu corpo. todos os antecedentes. sem ruptura dos elos essenciais a existência material. que se torna lesiva pela qualidade dos fluidos lançados pelo agente sobre o paciente. Em relação à loucura. repondo-as na ordem das coisas naturais. algumas. substituído. empolgando pela beleza ou surpreendendo pelo exotismo das cerimônias. o seu espírito por outro espírito. e a inteligência deste se ressente das sugestões daquele. e não raro a sua personalidade se afunda e desaparece. os de loucos que. A obsessão é. A perturbação ou desequilíbrio nervoso causado pelo receio de ver fantasmas desaparece com a freqüência às sessões. passa. ao efêmero contato desses doentes com os médiuns. É fora dos recintos espíritas. e conforme a natureza da reunião. no ambiente livre à ação de todas as entidades. visando prejudicá-lo. a atuação. a ação de uma entidade espiritual sobre um individuo encarnado. não inspiram. não conheço um só caso determinado pela freqüência de centros espíritas. onde o trato com os desencarnados habitua as manifestações de sobrevivência da alma. Essa influência começa por uma simples aproximação. e só o espiritismo pode curá-la. tendo sido levados as sessões. mesmo a quem as assiste pela primeira vez. e numerosos. II OS PERIGOS DO ESPIRITISMO Os perigos atribuídos ao espiritismo são mais aparentes do que reais. a posse. ou cemitério. Não se deve confundir a loucura com a obsessão. se não as socorre a caridade dos espiritistas. são dominadas pelos obsessores. e também as que não os possuem. não ficaram curados e foram internados nos hospícios com sendo vitimas do espiritismo. com ânimo combativo. A obsessão que se confunde com a loucura não é determinada pelo espiritismo. Desprezaram-se. pensamento em duende ou defunto. Mas as sessões nem sempre despertam aquele receio. através de diversas fases. idéia de morte. com freqüência. Esses. os trabalhadores do espaço. adormecidas. muitas vezes. de revigorar- se com tônicos. Alarmam-se as famílias. Isso representa e exprime a reação das entidades que os molestam. já liberto dos obsessores. uma sensação esquisita de mal-estar. empenhando-se em impedir-lhes o acesso a um lugar onde elas serão reprimidas e afastadas. sofrendo abalos que lhes despertam forças psíquicas. Perigos reais no espiritismo só os há para os médiuns que desviam a vida social e cometem erros conscientes. segundo a sua constituição. do mesmo modo que se perturba. observando a agitação dos doentes espirituais nos dias em que devem comparecer as sessões. o organismo de um ébrio. perturbações aflitivas. o reintegrado em si mesmo cai em mole prostração. e. porém. mesmo quando ignoram que vão assisti-las. Em algumas sessões. sentem angustias. facilmente os acalmam. harmonizando-lhes os fluidos com os do ambiente. e mesmo os da Terra. mas para esse estado há recursos de eficácia quase imediata. anseios. porque o seu organismo se ressente da ausência de fluidos alheios. 15 . Certas pessoas fazem leituras espíritas no isolamento. Também depois do tratamento. os indivíduos que se iniciaram nelas experimentam. e necessita. ficam sendo espelhos em que se refletem todos os transeuntes. quando se intensifica o trabalho de natureza fluídica. perdendo a assistência dos espíritos protetores. com a supressão do álcool. a tambores. pela orientação e pelos ritos. contentam- se. à tradição dos velhos tempos egípcios. conservam-se reminiscências do catolicismo. em numerosos desses centros. o mínimo. sobre antigos modelos indianos. com simpatia. é o menos cultivado na capital do Brasil. e 16 . as diferentes classes sociais. estas referência receosa. Aprecia-se. e os há revestidos de altiva nobreza intelectual. em alguns. O kardecismo. o brilho das assistências elegantes. fraternalmente e sem preconceitos. certamente pelos pendores religiosos de nosso povo. constituídos dos chamados pobres de espírito. Aparecem depois. fundados sem o objetivo real de sua finalidade. florescem os centros de transição. e que servem para facilitar aos egressos de outras religiões a passagem para o espiritismo. também. a macumba. não faltam núcleos de fanáticos. centros ligados. com a desataviada modéstia dos pobres. lançando flores em todas as direções. temos as diversidades das lojas teosóficas. e sobram irmandades tolerantes. a par dos humílimos. varia em modalidades. nesta capital. O espiritismo cientifico. com adaptações locais. muitos. III AS SUBDIVISÕES DO ESPIRITISMO O espiritismo. com o rigor integral de suas pesquisas. atirando pedras para todos os lados. avultam os contaminados pela Linha Branca de Umbanda. Possuímos. mesclam-se. Contam-se. a que faço. em seus processos e práticas. dividindo-se em ramificações. A margem dos kardecistas. no espaço em que as autoridades localizam o que chamam de falso espiritismo e o consideram baixo espiritismo. Há centros representativos da intransigente pureza do espiritualismo sem liga. como em toda parte. institutos Moldados. mas a elevação dos princípios pregados é uniforme nos centros do kardecismo. com os seus trabalhos compassados ao ritmo de batuques. no Rio de Janeiro. que reputa os seus aderentes os únicos praticantes da doutrina. pois muitos teosofistas não gostam de ser confundidos com os espíritas. igualmente varia. como a pregava Allan Kardec. pelo dever de constatar-lhes a existência. na maioria. uniformemente. volições. concentrações telepáticas coletivas. é consagrado. Fazem-se. a finalidade é a mesma: . e. Conta-se. em atos de piedosa solidariedade fraternal. Assim. ou a de outrem.rústicos instrumentos africanos. concentrações. com o fim de influir beneficamente em sua conduta. tendo em vista efeitos determinados.. ao bem estar e a felicidade do próximo. nem todas. sendo vário. praticadas à beira da Guanabara. em certas sociedades. E em todos os agrupamentos espíritas do Rio de Janeiro. mediante a cultura dos sentimentos superiores. sugerindo-lhe primeiro. volatilizações. num agrupamento reputado entre os adeptos do espiritismo. e conduzindo-a depois. pelo menos. que a envolva. das linhas de cor oposta a de sua designação. Não temos.o aperfeiçoamento da individualidade humana pela pratica das leis divinas. no sentido numérico. e o domínio do instinto animal. às vezes. que são as que eu tenho conhecimento. outras. pelas necessidades de defesa.. talvez originário do Congo e praticado na Bahia. finalmente. inclusive a Magia Negra. tais esforços. aos menos em intenção. com as suas sete secções. a feitiçaria com suas variantes. uma onda forte de pensamento. o Candomblé. porém. 17 . a Linha Branca de Umbanda. 99 subdivisões. sobretudo em algumas entroncadas no velho Oriente. procurando. excetuados parcialmente os das linhas ditas negras. IV A TRANSFUSÃO DO PENSAMENTO O ativo labor dos centros espíritas. tornada poderosa. O espiritismo de linha compreende. às realizações dos atos julgados necessários à sua felicidade. sempre com objetivos elevados. porém. não raro. Denominam-nas. consagra-se uma sessão semanal diurna à “harmonia dos lares”. em outras regiões do Norte. e na maioria dos grêmios. Consistem elas em transmitir a dada pessoa. ou linhas. muitas vezes carregada de magnetismo. expressos. mentalizações. em Alagoas e possivelmente. durante duas horas. às vezes. ajudados. é principalmente nos lares que se opera. uma satisfação da pobreza enfermiça de uns. em todos os centros. ocorre diariamente esse fenômeno da transfusão de energias psíquicas aos débeis e doentes. à distância. Os praticantes das mentalizações. por meio dessas correntes telepáticas. Neste caso. esse milagre de transfusão. E não só nos centros. mas a minha impressão. desprendem de seu organismo poderosas ondas de fluidos magnéticos. reajustar os elos de união dos casais em desentendimento. nos transportes do carinho materno. de energias necessárias ao equilíbrio de seu organismo. Talvez haja quem não acredite na eficácia desse generoso esforço. sem que o saiba com clareza quem os dá. mediante o simples repouso das horas noturnas. Com as mesmas designações. e quem as faz também se despoja. as mentalizações são comparáveis a transfusão do sangue com que um indivíduo sadio concorre fraternalmente para a restauração de um enfermo. as mães. os passes são. baseando-se em pacientes observações. porém. no desesperado receio de perdê-los. pois na maioria dos casos. e mediante o mesmo processo. procura-se reabastecer de fluidos. Aliás. e com facilidade. não se exaurem. com a abundância saudável de outros. que os envolvem e completam a ação dos remédios. 18 . readquirem os fluidos com que acudiram o irmão abatido e prostrado. em benefício do próximo. um indivíduo de forças psíquicas depauperadas. Junto ao leito dos filhos atingidos pelas moléstias. e numerosos aqueles em que conseguem atenuar dissídios e desavenças domésticas. fazendo-as coletivamente. pelos seus guias. é que são muitíssimos os casos em que os transmissores obtêm êxito completo. por fim. e. direi. os direitos daquelas. Logicamente. em primeiro lugar. dependendo o seu aproveitamento das circunstâncias adversas ou favoráveis de cada existência. ou mecanicamente. tirando-lhes. depois os enfermos julgados incuráveis. Nos mecânicos é ainda o espírito que lhes toma e domina o braço para escrever. Aqueles que muitas vezes se enganaram em diagnósticos e tratamentos não admitem equívocos em receitas mediúnicas. Sem examinar. não os há nessas prescrições. os curadores. deveriam recorrer aos médiuns curadores. porém. V OS MÉDIUNS CURADORES Há quase totalidade das crianças revela portentosos predicados mediúnicos. pois o desenvolvimento em tenra idade perturba e compromete o organismo em constituição. antes dos 12 anos. recebem do espírito que o examina a indicação telepática do medicamento a ser aplicado. e. pois só alcançam permissão para o exercício da medicina 19 . Os médiuns curadores receitam por intuição. Assim. audição. apenas que a mediunidade curativa se exerce em nome da caridade e não pode ter por objetivo negá-la aos médicos. prejudicá-las. os receitistas. a primeira vista. Sob esse critério. geralmente. nem a ciência perderia o estimulo pecuniário ao progresso. que para defender e conservar a mediunidade deveríamos desenvolvê-la na meninice. a mediunidade se embota precocemente. Os intuitivos. considerá-las uma faculdade concedida à generalidade nas criaturas humanas. dentro da doutrina. e. naturalmente. Devemos. Entre os médiuns. basta o reflexo dos trabalhos pra lhes abrir a mediunidade. A experiência e os guias ensinam o contrário. em face do doente ou do seu nome. conforme as necessidades reais dos doentes. em grau diferente. na quase totalidade dos indivíduos. portanto. Parecem. os pobres destituídos de meios para remunerar o clínico profissional. os crentes cuja fé exigisse o tratamento espiritual. não seria o médico atingido nos seus privilégios. a caridade continuaria a ser feita. não devem ser admitidas nas sessões que não sejam de preces. pois nas outras. os outros a ouvem. nestes escritos. os recursos de subsistência. como concorrente gratuita. As crianças. Nos médiuns de incorporação é o próprio espírito quem diretamente escreve ou dita a receita ao consulente. os mais conhecidos e procurados são. e as razões desta. incorporação. A medicina os combate e a justiça os persegue. ou doutrinação. porém só uma pequena minoria de adultos é constituída de médiuns. os espíritos em condições de não prejudicar os enfermos com erros e deficiências. É grande. mas desde com o meu corpo. sem possibilidade de repressão. A um desses clínicos acompanhei. por consequência. considerando-os consultores. avidamente observando os trabalhos dizia. porque no fim sai certo. Parece-me que estive dormindo.Pode ser que ele faça maravilhas. Começou a receber espíritos.Trabalhou e brilhantemente. Ao reintegrar-se em sua personalidade. O meu protetor trabalhou? . No terceiro mês de suas investigações. A perseguição oficial contra o receituário mediúnico produziu um efeito imprevisto: o desenvolvimento. Muitos são médiuns e receitistas. se assim se pode dizer. no relógio. da terapêutica fluídica. descobriu que tinha qualidades de médium. e. Curioso. elevadíssimo. o numero de médicos que professam o espiritismo. a hora de sua incorporação e a da desincorporação. em face dos resultados obtidos: . Eu marcava. O maior período daquela dói de uma hora e vinte minutos.Que fiz nessa hora? Não me lembro. não me serve a companhia: Acrescentou: 20 . e sem o meu conhecimento. pela ação direta das entidades espirituais sobre os organismos enfermos. Entre os médicos não espíritas muitos admitem e até constatam as curas operadas mediunicamente. Os receitistas do espaço muitas vezes são médicos que na vida terrena restringiram a clínica. o médico considerou: . mas devo estar em erro. e quis aproveitá-las. por algum tempo. ministrada.Eu acho isso tudo absurdo. mas estou cansado. Sério. perguntou-me: . os outros muitas vezes recorrem àqueles medianeiros. Alguns frequentam os centros espíritas no desejo de estudar os processos com que se restauram pessoas por eles reputadas incuráveis. na esperança de facilitar as suas pesquisas. aos benefícios provenientes dela. VI MATERIALIZAÇÃO O Estudo cientifico do espiritismo. e algumas das quais assisti. O Dr. no último governo constitucional. sem que a finalidade dos centros permita afastá-los. gradeando-as a ferro. conservando comigo a chave. que nos centros de caridade os resultados dessas tentativas são mais ou menos precários. viu operar-se diante de seus olhos a ressurreição transitória de uma de suas filhas. introduzi na sala as outras pessoas convidadas para a reunião. examinei o camarim destinado a retenção do médium. por experiência própria. 21 . outras das experiências realizadas sob fiscalização rigorosa pelo sábio.Os espíritos são egoístas. E confessou num sorriso: -Estou quase arrependido de ter emprestado o meu corpo. ministro da Fazenda. Coube-me. Todos os pesquisadores que no Brasil chegaram à constatação positiva dos fenômenos de materialização efetuaram suas experiências em instalações especiais. sendo também consagradas pelo êxito pleno. Receio que esse ilustre defunto possa encarapitar-se no meu lombo. Aqui não se aprende nada. de uma feita. não revelam o que sabem. Sei. pois os espíritos chamados sofredores invadem o recinto e perturbam as observações. Abri e fechei a única porta de acesso ao recinto. engenheiro Dr. e faça brilharetos que me comprometam. não deve ser feito em locais onde se realizem trabalhos espíritas de outra natureza. sem o meu consentimento. Oliveira Botelho. Foi dissipado esse receio. Deixo a Tenda e deixo o espiritismo. . com objetivo experimental. a mesa e as seis cadeiras existentes na sala. a incumbência de exercê-la. Werneck mandara preparar instalações adequadas à fiscalização. por ele conduzida ao cemitério. O ilustre médico Dr. Américo Werneck. ocorreu o fenômeno principal da noite. pediu o engenheiro. limitando-se a pedir aos crentes que fizessem breve oração mental. Entramos no recinto. Dissipados esses fantasmas. num circulo de luz espiritual. observou uma das sombras de contornos humanos: . avisando que se retirava. por cima de nossas cabeças. e começou a esbater-se. de longos cabelos soltos. ate que transformou.. na plenitude da mocidade. traçando. à medida que se condensava em desenho nítido. respondeu. e não deixava de ser emocionante a sua aparição. . Ofereceu e serviu água a todos os assistentes. disseram-nos.A Judith. de fato. e como eu era um dos presentes. em curva graciosa. a ressurrecta percorreu a ampla extensão do recinto. voltou uma pequena bilha e um copo. Duas delas em seguida assumiram proporções normais de estatura. e meia hora depois éramos doze. Uma pulverização lactescente de luas cintilou na escuridão da sala. falando entre si. por dentro do bolso. vestindo um roupão branco rendado. ande um pouco.Pode ver. numa linda mulher moça. Aproximando-se do lugar onde eu me achava. e ela. São antigas. a chave da porta da sala de experiências. repetindo-se por muitas vezes.Como seriam as sandálias.Está com medo que lhe roube a chave. moviam-se a maneira de sombras hercúleas. a esposa do Dr. e caminhando até a mesa existente no fundo da sala. Werneck não fez a prece inicial das sessões espíritas. ao lado do esposo septuagenário. e depois de cumprimentar-nos. Era. Werneck falecida aos 25 anos. uma figura humana. E.No meu tempo eram chinelas.Judith. Ousei insinuar: . acercou-se de mim. sobre as minhas mãos: . seis pessoas além do médium. . que a tornava plenamente visível. trocando frases com eles. erguendo o braço. 22 . disse um dos assistentes. a da manga. Louvei as rendas de seu vestuário. desfazendo-se até desaparecer. Pergunto-lhes o diretor dos trabalhos se lhes serias possível fazer ressoas o teto da sala e.Veja. tinha um caminhar embalado. Era tépida. . Para não dar caráter religioso à reunião. imediatamente. estrondearam golpes fortes. sob a minha fiscalização. o Dr. agitando em ondulações a brancura de suas vestes. no seu tempo.. Eu apertava. estendeu-as. Será a mão de uma morta? E tocou-me na mão. habituado as materializações desse espírito. que não assistira as suas materializações anteriores. aos nossos olhos. . sendo que as seis que eu não introduzi. repôs a bilha e o copo na mesa. Também no Estado do Pará. no outro canto. uma massa branca. antes das desta capital. um homem. tivemos uma dupla manifestação. cortejou. Assim. que se foi condensando. haver analogia entre as materializações desta capital e as de Belém. ali. Quintão. M. produzindo o ruído característico natural. Fixamo-lo a vontade: era um homem moreno. Werneck. como se ali estivesse uma criatura humana. saiam-lhe as mãos trigueiras e grandes. que o Sr. cosida a parede – não havia três metros da câmara ao lugar em que me encontrava – chegando ao ponto em que estavam os dois baldes já de nós conhecidos e uma garrafa com aguarrás. a desenhar-se no canto da câmera escura.Ei-lo o fantasma. naturais. insinua-se bem perto. M. 23 . Quintão assim descreve: A ansiedade do auditório era grande. em Belém. Os seus gestos e movimentos eram perfeitos. profundo silêncio. e resvalando-se. Testemunhou-as também. Chegou. João. humaníssimos. sempre mais nítido. que dá o nome de Annita. Os pés. oscilava como que um lençol. como que dosou o ingrediente. à direita. como para confirmar o seu feito. palpou os baldes. verificaram-se e foram até oficialmente constadas em atas assinadas pelo presidente e pelo chefe da policia do Estado. elevando a garrafa de aguarrás à altura do rosto. De fato. estaca de fronte do balde. o espírito que trabalhava com D. e descreveu-as. trazendo a cabeça um capacete branco. eram enviados de João. o Sr. Deve. ergue com a mão direita o que continha a cera quente com a esquerda. pois. Não o vê? Não víamos. enquanto ouvíamos iterativamente o médium suspirar na “câmara escura” e o Sr. Anna Prado. Olhe agora. afastou-se e conservou-se a um canto da câmara escura. pelas mangas largas de amplo roupão também branco. junto à parede. disse-me este. M.. no canto indicado a nossa frente. nessa e em outras reuniões. enquanto do outro canto surgia uma menina de seus treze anos. orçando pelos seus 40 anos. quando alguém exclamou: . O fantasma. não lhos divisamos. Isto posto. Visíveis ao mesmo tempo. admiráveis materializações alcançadas com a médium Anna Prado. quente. Os guias que trabalham com o Dr. Depois se arriando o balde. destinada a temperar a cera para a confecção dos moldes e flores. arrastou-o no chão. que fez uma viagem ao norte para observá-las e viu um espírito materializado modelar a mão em cera de carnaúba. Quintão largamente descreve as atitudes e ação dos fantasmas. e Anitta – uma quase criança.. Mas. 24 . sendo homogênea a corrente de pensamento. tiraram-se fotografias. sem contato das mãos do médium. e sobre aquele. ou sobre esta. O espírito. é o espírito operar somente com os fluidos do médium. ou pela posse e domínio parciais dos órgãos necessários. Mas o mais aconselhável. orientando-a. constante do livro “O trabalho dos mortos” do Senhor Nogueira de Faria. em circunstâncias favoráveis. Quase todas as famílias. sendo facilmente verificáveis em qualquer ambiente. De algumas das materializações verificadas em Belém. dos de vidro ou cristal. nem órgão algum do espírito materializado. destacando-se cada letra. começa a constituição do fantasma. A MESA Os fenômenos de efeitos físicos são vulgares. um dedo. por dar menos motivos às dúvidas. mediante uma fórmula especial. conduzindo o copo ou a prancheta às letras precisas para a formação das palavras tradutoras do seu pensamento. o médium como que de perece. em contato leve. não raro. As duas primeiras se assemelham. e aço centro da roda se coloca o copo. que pode ficar de olhos fechados acompanhando-o. a prancheta e o copo se movem e deslocam. por um ou outro pesquisador ocasional. o espírito se materializa com os fluidos do médium. A PRANCHETA. com o braço. impulsiona o braço do médium. e ao passo que a sua forma se acentua. porque imediatamente o médium se recente e com freqüência adoece. sempre pequeno. às vezes respirando em haustos e. Escreve-se o alfabeto em círculo. a mão. ou da mesa. por incorporação incompleta. atingindo as letras. porém nos centros espíritas cariocas são estudados apenas esporadicamente. os movimentos do copo ou da prancheta que lhe levam a mão. Como se sabe. VII O COPO. da prancheta. ainda as que não são espíritas. conhecem e não raro efetuam as experiências do copo. ou a prancheta. Os guias desses trabalhos exigem que não se aperte a mão. Entrando este em transe. exalando suspiros quase angustiosos. porém. respondi. este. ouvimos a caixa estalar. Concluída essa fase da prova. se condensa numa coluna que se apóia no solo e sobe. Quando fiz pesquisas dessa natureza para estudar os trabalhos fluídicos dos espíritos que se apresentam como sendo de caboclos e pretos obtive demonstrações interessantes. mexer-se. num período que varia entre cinco e quinze minutos. conseguiu que os espíritos extraíssem o fluido de um médium. como se comprimissem. sem grande confiança em seu resultado. essência. sem tocá-lo. perguntou-me uma vez o guia. conforme a constituição do médium. Postos. mas nunca o todo.Teoricamente. escrever: “Com Deus”. para atenuar a perturbação de pessoa de nossa família. a conselho de um espírito. fizemos uma experiência vulgar com uma pequena mesa de três pés. numa balança.Sabeis. uma moça franzina de 21 anos. A energia desses fluidos. Uma ocasião em nossa casa. não obstante os seus esforços. e mandou-a colocar as mãos sobre uma mesa para dezesseis pessoas. pusemos esse engenho sobre uma folha de papel e o médium abriu as mãos por cima do lápis. e aquele em outra. mandou o guia o mesmo médium levantar a mesa com os braços. só lograva alçar-lhe numa das cabeceiras. ou fluido. em seguida. e. geralmente a volatilização dos fluidos do médium se faz pela região do plexo solar e. a que recebia os fluidos acuso o peso de 28 quilos e a do médium assinalou em seu peso uma diminuição correspondente. encaixado. Grawport. que em menos de dez minutos se elevou a altura tal. “que no corpo humano há um elemento. para não perder-lhe o contato. enervando-nos. tentamos trabalhos mais difíceis. na Irlanda. naturalmente. alcança a sua potencialidade máxima. Em menos de cinco minutos. Nas experiências com a mesa. teve de erguer os braços e ficar quase em pontas de pés. a um palmo de altura. levantando a mesa. . que desintegrado dele tem mais força do que o próprio organismo integrado”? . propriedade. Adaptamos um lápis a uma caixa de fósforos. sem perder a ligação com o aparelho humano. que o médium. e vimo-la. para pesá-lo. mas a experiência foi suspensa 25 . perfurando-a. Chamou um dos médiuns. e a senhorita. ou um dos lados. e como o exercício se tornasse monótono. fazendo pressão sobre o lápis. sem corrente que os auxilie. saiu sem as deslocar e foi recostar-se a uma parede. e que não tive oportunidade de estudar convenientemente. mediante um processo de desmaterialização e rematerialização. é feito. 26 . porque em sua residência. Uma noite. em circunstâncias várias. segundo os espíritos. muitas vezes. perto do cemitério de São João Baptista. em Real Grandeza. Solteiro. O transporte de objetos de um para outro lugar. que tantos cuidados e precauções exigem nos recintos especiais. olhando em torno. O livro.porque o paciente começou a sofrer angustias e aflições. através de distâncias várias. o ilustre jornalista Horácio Cartier. espontaneamente. ouvi um rumor e. onde ficou até a manhã seguinte. foi obrigado a mudar-se. que prefaciou as minhas reportagens sob o título “No mundo dos espíritos”. um daqueles formidáveis volumes contendo fac-símiles dos documentos da Independência do Brasil e mandados públicos pela prefeitura do Rio de Janeiro. apareciam pessoas estranhas. para citar um caso de minha observação pessoal. que estava encostado ao fundo do móvel. embora feita por acaso. morando com irmãs também solteiras. há horas mortas e sem que as portas se abrissem. o senhor em questão. vi que se abriam as portas de um guarda-roupa e que de dentro saía. sem que ninguém o movesse ou tocasse. em sítios impróprios e ambiente desfavorável. achando-me a escrever num quarto onde dormia um médium. por detrás de duas caixas de chapéus. com ameaças de vertigem. Já os verifiquei. VIII FENÔMENOS DE MATERIALIZAÇÃO E EFEITOS FÍSICOS ESPONTÂNEOS Os fenômenos chamados de efeitos físicos e os de materialização. Como e por que aconteceu isso? Vai para alguns anos. ocorrem. levou-me a um cavalheiro que testemunhava fenômenos impressionantes. Não acreditava em espíritos. assegurou. à Rua dos Andradas. iguais a centenas. que as coisas pouco haviam mudado com a última mudança. Transferindo-se para uma rua situada nas vizinhanças do túnel do Leme. para que se realize a materialização. mas que não deixavam dormir. Disse- nos que era vulgar o aparecimento de mãos delicadas segurando a cortina que separava a sala de jantar da de visitas e que uma ocasião sentiu-o correr por inteiro. porque debaixo de seu leito rangiam e se arrastavam correntes que ninguém conseguia ver. com o meu amigo. porque os mesmos fenômenos se repetiam na nova casa. que. Os fatos por ele narrados. retirava uma flor de um vaso. naquele tempo andava aborrecido e contrariado. desnudo e alvo. onde funcionou por muitos anos – disse-nos ele – uma pensão alegre de mulheres. então. no médium. deixando-a cair. Freqüentemente. Contou-nos. e viu uma formosa mulher. que enchem os livros. e se evaporava. à hora das refeições. um braço de mulher. e. e não me permitia relatar o seu caso. não sentia a mais leve sombra de medo. 27 . O depoente era um homem discreto e reservado. num luxuoso vestido de baile. indicam que nem sempre é necessário produzir-se. aparecia na mesa. o transe. muito branca. os dedos cheios de anéis. emoldurada nos umbrais sem portas. ao verificá-los. foi também forçado a buscar outra morada. porém. Vi-o. num prédio de sua propriedade. ou o sono hipnótico. com pulseira. como se fosse de uma pessoa que ali estivesse sentada. de alta responsabilidade no comércio. e suspenso no ar. tendo entrado em contato comigo na esperança de que eu lhe fornecesse elementos para encontrar e explicação dos fenômenos fora do espiritismo. O médium solitário constatava com serenidade os fenômenos. em estado de prostração. no seu rigorismo doutrinário. encaminhando-o para a felicidade. o doutrinador tem de multiplicar os seus esforços. atraindo-o durante o sono. cura o paciente e ao mesmo tempo regenera o agente do malefício. nesse elevado empenho. a causa da obsessão e se a encontra na magia. paralelamente à doutrinação. quando se atirou a pratica do mal. e o kardecista. o kardecista. Freqüentemente. verifica o estado fisiológico do enfermo. faz um tratamento de passes. Entende que pode usar do seu livre arbítrio para impedir a prática do mal. e o defumador para afastar elementos de atividade menos apreciável. Investiga. usou do livre arbítrio concedido por Deus a todas as criaturas. O espírito. O obsessor sempre resiste e cede demoradamente. O kardecista é um mestre. Inicialmente. o processo é mais rápido. quando o obsedado não assiste à sessão em seu benefício. e igual ao que determinou a moléstia. traz o seu espírito à reunião. Na Linha Branca de Umbanda. na Linha Branca de Umbanda. nos centros kardecistas. IX A CURA DA OBSESSÃO Cura-se a obsessão. de onde não pode continuar a sua atuação maléfica. aconselha os banhos de descarga. é. Por isso e para restaurar as forças físicas do obsedado. para regular o tratamento. procura demonstrar-lhe o erro. pede. por um processo magnético. para limpeza dos fluidos mais pesados. que fica. o protetor. como este freqüentemente tem numerosos companheiros. e nos casos que não são ligados a magia. realiza imediatamente o trabalho propiciatório de anulação. por alguns dias. discute. dando-lhe maior ou menor intensidade. E. ensina. depois. até convencê-lo. e incita-o a reagir contra os estranhos que desejam dominá- 28 . o protetor. branda e lentamente. Se a causa da doença (permitam-me o vocábulo) era antiga e o doente não se refez logo. o protetor afasta o obsessor. Em seguida. basta esse trabalho para libertar o obsedado. ou estações do espaço. mediante a doutrinação do obsessor. o filho de Umbanda é um delegado judiciário. e se o rebelde não se submete é levado para regiões. quem se incumbe da cura. Assim. manda doutriná-lo. O obsessor. e. Não raro. coincidem com as suas promessas e logo a sua fama se alastra. desorientando- os. mostra-lhe que não está louco e que deve provar. para seguir um tratamento reconstituinte. nos diferentes centros. constituindo a fisionomia dos exploradores que enganam e roubam os ingênuos ou ignorantes. inventam cerimônias complicadas a que atribuem efeitos mágicos correspondentes aos objetivos de quem as paga. para que o organismos do paciente não se ressinta da falta dos fluidos que lhe são retirados. os fatos em desdobramento independente da influência do embusteiro. a sua integridade mental.lo. esse critério restritivo restringiria o espiritismo verdadeiro a quatro ou cinco núcleos. Esses impostores podem chegar ao espiritismo por duas vias: alguns possuem predicados mediúnicos e desenvolvendo-os. e como os processos variam. com a sua conduta. e. Há profissionais dessa exploração. o que se pratica fora de certas regras ou moldes. com a restituição daquele a si mesmo. sem que o sintam. ou os convertem em instrumentos terríficos. Ajustam-se essas duas faces num só rosto. que cada qual dos crentes diria ser o seu. se a obsessão o depauperou. consolidando a sua reputação. o falso espiritismo tem duas faces: . acabam sob o domínio de espíritos que os conduzem ao resgate. fazem-se lhe passes. Em meu conceito. À medida que os obsessores são afastados. pede-lhe o protetor que procure qualquer médico da Terra ou do espaço. Às vezes.a deturpação da doutrina e o fingimento sistemático de manifestações de espíritos. e os de sua predileção. dizendo-se em comunicação com espíritos. conforme a 29 . Indivíduos audazes. tecem histórias em torno do que lhe contam os consulentes e. finda a sua incumbência. falso espiritismo. e quase sempre de uma ignorância rebarbativa. no esforço enganador de suas práticas. X O FALSO ESPIRITISMO Consideram alguns. e cada grupo julga o seu método ótimo e legítimo. e desencarnaram na situação de miséria moral proveniente de sua atividade. sendo sempre desmascarados. Alguns erram. às vezes. pois o médium não é capaz de produzir o que o seu protetor produz. na primeira sessão. Outros. 30 . por qualquer causa. que os encarcera. ao mesmo tempo. entre duas ameaças. numa existência. por simples curiosidade: . o espírito e o seu nome. e a do espírito. sob o desejo de ver o que os companheiros admiraram. por dinheiro. Os exploradores vivem. com um ato lamentável de fingimento. entram em contato com espíritos que. os obrigam a retornar aos centros. Tais criaturas raro chegam à regeneração. e. e. não permitem ao trabalhador a incorporação completa. a sua doutrina. receiam que os assistentes da cena percam a crença ou não se convertam ao espiritismo e para que isso não aconteça. cometem essas tristes mistificações. e caem sob o poder de espíritos capazes de invalidá-los na sociedade. faculdades de que só se devem utilizar gratuitamente em benefício do próximo.quando o espírito. para lhes serem arrancados e afastados os novos atuantes de sua mediunidade. ou não incorpora. Há médiuns que se equiparam aqueles negociantes de mistérios. exercendo. comprometem. a da Terra e a do espaço. por intermédio dele.ouvem dizer que o seu guia. a da polícia. escravizando-o. sempre conseguem submetê-los aos seus fins. e prejudicam o seu labor. terminam encontrando-se com um desses aparelhos humanos. Os outros. por vaidade.categoria dessas entidades. não se aproxima. porém se esses transviados se persistem em seu comércio são abandonados de seus protetores. Certos médiuns mistificam por fanatismo: . fez este ou aquele trabalho de beleza ou resultado excepcional. que não são médiuns. que lhes quebra a vontade. sem a intenção deliberada do embuste. pois. elevados ou não. e que. e até incompatibilizá-los com a doutrina. mas o guia. visando às necessidades desiguais das criaturas humanas. no local da reunião. adulterando-a. o guia lhe faculta. porém. para que a compreendam e em tudo o mais. Meter os trabalhadores na reunião dos sábios seria deslocá-los de seu meio. E assim no tocante a linguagem. Uma sessão espírita de médicos não pode ser igual a uma de estivadores. segundo os princípios da lei das afinidades. pela fraqueza da inteligência. entre si. XI O BAIXO ESPIRITISMO Enquanto os homens não atingirem a um grau uniforme de cultura. mais ou menos. por hábito mental. O Estado não tem interesse em combater esses humildes centros. e até por motivos metafísicos. mas porque os médicos pairem em esfera intelectual mais elevada. pelas afinidades. é da 31 . como pela ingenuidade de seus processos. Se os irmãos reunidos em nome de Deus. considerar que a cultura moral e a intelectual nem sempre andam juntas. para eficiência e frutificação de seu apostolado. É preciso ainda. o que ela representa. A inteligência e o saber dos espíritos incumbidos da assistência a uma comunidade são sempre infinitamente superiores a mentalidade do grupo. Em geral. não seria justo privar os estivadores do consolo sentimental e das vantagens morais do espiritismo. o seu ensino e explanação seriam feitos através de conhecimentos e vocábulos inacessíveis à inteligência dos operários. transige com os educandos. É certo que as sessões espíritas não se organizam por classes sociais. nas reuniões reputadas de baixo espiritismo. pois. nesse ambiente. não poderá haver uniformidade de processos e de objetivos nas assembléias espíritas constituídas por elementos da Terra e do espaço. o ambiente moral é de pureza translúcida. os indivíduos de diversas categorias que as constituem ligam-se. no relativo aos poderes materiais. pela humildade de seus componentes. mandando erguê-la e reverenciando. não podem conceber o espírito puro e exigem o ponto de referência da imagem. porque a doutrina que neles se prega. ensinando-lhes através da conversação. apenas disse: . Tenho encontrado. é o dos perversos. Vou socorrê-lo até que venha a assistência. O baixo espiritismo não é o dos humildes. Vendo realizar-se a parábola do Evangelho.Quando Jesus escolheu os seus discípulos. Um dia. O trabalhador perguntou- lhe: .Então. mas em entrar em convívio amistoso com o seus membros. . mas eu fiz um grande esforço: - o ferido era pesado. o meu nome. numa assembléia de humildes. mandando dar a Cesar o que é de Cesar. o guia dos meus ouvintes. estava caído e ensangüentado na rua um pobre homem. tomando o seu aparelho. perguntei ao desconhecido quem lhe ensinara o meu nome.Não. debaixo do braço. Disse-me que me vira num centro paupérrimo fazendo uma conferência. Já telefonei para o posto. que também passava. a farmácia era perto.Vamos levar este irmão para a farmácia – disse-me com confiança e naturalidade. alto. . almas iluminadas.. 32 . nesses pobres centros.Precisa de nós? . os instrumentos de trabalho enrolados no casaco. Era um quarentão moreno.obediência absoluta à lei e à autoridade. as pessoas de todas as classes. E outra ocasião. Passaram. a camisa aberta mostrando o peito suado. E eu. Eu não o conhecia. vamos ganhar a vida. olhei-o e deixei-o como os outros. Levamo-lo. que o praticam por dinheiro. mas entre os humildes.. na estação do Meyer. Entregamo-lo ao farmacêutico. Mas chamaram. olhando-o e deixando-o em seu abandono. Acredito que o interesse dos espíritas que se reputam superiores também não esteja em agredir e desmoralizar essas modestas agremiações. em multidão apressada. o que eles ignoram e também aprendendo o que eles sabem. quando terminei uma alocução sobre a ignorância de certos presidentes de núcleos espíritas. vendendo malefícios. de bigodinho. não os procurou entre os doutores. sem que o pretendam. Conta ele que. e em diversas obras. fluido ou sensibilidade suscetível de exteriorizar-se. no seu livro sobre a “Exteriorização da Sensibilidade”. pacientíssimas experiências. sobretudo comprimida. professor de mecânica aplicada da Universidade de Belfast. muita atenção para realizá-las. de sua categoria. Acrescenta que. Assim. pelos princípios. em prova semelhante. ao mesmo tempo em que sua epiderme se assinalava o traço contundente do alfinete. podendo influir sobre o pensamento. enumera experiências comprobatórias daquelas. nos casos vulgares. pois se o 33 . conhecimentos especiais. mas dotados de formidável poder de atuação física. colaboradoras espontâneas dessas práticas. porém. não raro. que se exterioriza. favorecidos pela invisibilidade. e por isso. E sobre essa propriedade. passando-se a mão sobre o assento desse móvel. O feiticeiro trabalha sem ou com o auxílio de espíritos. conhecido sábio francês. e o ódio. provocar a morte. muitas pessoas. cometem atos análogos aos da feitiçaria. Essas entidades são. roçando-se com a ponta de um alfinete a sensibilidade exteriorizada. agitou-se o paciente num gemido. principalmente o calado. se expõe a perigos. causam. ou fluido. a senhora enrubesce num movimento de pudor. exteriorizado. qualquer indivíduo pode descer a essas práticas. Quem as efetua. É por essa causa. que logo se transformam em agentes de vontades hostis ao próximo. XII A FEITIÇARIA Além de muitos outros cientistas. pois atraem com pensamentos vigorosos esses auxiliares intangíveis. causar moléstias. danos reais. freqüentemente. provou que o corpo humano possui uma propriedade. e até beneficiar o organismo. O coronel Rochas. e pela força ativa do pensamento que a inveja. que o feiticeiro geralmente atua para atingir a personalidade humana. bastando atenção. Grawford. e conseguiu fotografá-lo. exteriorizada a sensibilidade de uma senhora e transportada para uma cadeira. que não exigem. que os torna clandestinos. sem que os seus cultores os manifestem em ações materiais. XIII A MACUMBA A macumba se distingue e caracteriza pelo uso de batuques. São dirigidas sempre por um espírito. Os métodos.dardo que lançou encontra resistência e é repulsado. com redobrada violência. dá-lhes um copo de vinho. porque está habituado a punir os recalcitrantes com implacável rigor. pois exerce positiva influência nos trabalhos. em seus resultados. pois às vezes um erro de insignificância aparente. Essa música. o espírito de um africano. desencadeia. seja qual for a entidade dirigente. As reuniões não comportam limitações de hora. acelerando. invariavelmente obedecido sem tergiversações. Aquele ordena-lhes que fiquem de joelhos. O feiticeiro é um trabalhador empírico. na maioria das situações até o alvorecer. são os mesmos. com as suas vibrações. 34 . porque o caboclo aprendeu com o africano. porém também os há de caboclos. puxa-lhes. Quando o praticante se aventura a cometimentos que se aproximam da magia. É. que é regulada por uma liturgia conhecida de determinadas entidades imateriais. forças que o punem com o esmagamento. às vezes. contra quem arremessou. com uma palmatória de cinco buracos. dois alentados bolos. em seus fundamentos. multiplica-se aquele perigo. temem receber as entidades auxiliares. Os médiuns que ajudam o aparelho receptor do guia da reunião. não representa um acessório de barulho inútil. a tambores e alguns instrumentos originários da África. os lances fluídicos. de ordinário. e conhece os efeitos. bizarra em sua irregularidade soturna. no espaço. retorna. Desconhece as causas. prolongando-se. porém com mais freqüência. participam da magia. entregando-se por inteiro aqueles que devem utilizá-los. de vegetais de vísceras e órgãos animais. Obrigam a meditação. Conhecendo essa prova e seus resultados quando a incorporação é incompleta. faz triturar com os dentes. XIV A MAGIA NEGRA Despindo-se. Caminha. forçam ao estudo. Depois da incorporação. incorporando-se ao seu médium. não só diante de conhecedores do espiritismo. surpreendem pela beleza. Como a Branca. quando o espírito toma posse integral do organismo do médium. Os trabalhos. apassivam-se os aparelhos humanos. tomando o seu aparelho. sem ferir-se. e energia fluídica aterradora. a Magia Negra conserva. que lhe é adversa. de sua imponente pompa litúrgica. que. isto é. ora assustam pela violência. Um desses espíritos tem se prestado à experiências. ora impressionam pela singularidade. com elementos do organismo humano. Assim. como perante pessoas de brilho social no círculos da elegância. a Magia Negra para consecução de seus objetivos. segundo os objetivos. a quase totalidade de seu poder terrífico de outrora. através dos tempos. que se tornam incombustíveis. As entidades espirituais que realizam esses trabalhos possuem sinistra sabedoria. de pés descalços. sobre um estendal de fundos de garrafas 35 . por toda parte. os animais e as coisas. A sua influência atinge as pessoas. cacos de vidro. e foi estudando-os que cheguei a outra margem do espiritismo. opera com as forças da natureza. de corpos minerais. manda queimar-lhes pólvora nas mãos. e com atributos ou meios só existentes nos planos extraterrestres. propriedades de produtos da fauna e da flora do mar. recursos verdadeiramente formidáveis. enquanto lá fora. mas. mandou que uma senhora trançasse a perna. As que se moveram pelos 36 . por motivos de ódio. grandes e pequenos. Para comprovar a força dos pontos da magia (desenhos emblemáticos. no Rio de Janeiro. pede-se. Quando. ensangüentando-se. e cessaram o miado gemente da cabeça sem corpo e as convulsões do corpo sem cabeça. Parece uma exigência ridícula. Ele demonstrou de uma feita. Os assistentes começavam a ficar aterrados. o corpo sem cabeça se debatia com vida. Ele apagou o ponto. a importância de coisas aparentemente insignificantes. tem a grandeza terrível das batalhas e das tragédias. por questões da Terra. Centenas de pessoas de todas as classes. esse gato não morre e essa cabeça não deixa de miar. pobres e ricos. As suas lutas no espaço. cabalísticos ou simbólicos). o Exu. irritadiças e vingativas. aguçando lâminas pontudas para o passeio do médium.quebradas. convidados. quando querem agradar a um amigo da Terra. Durante dezessete minutos. para fazer compreender a transcendência daquela recomendação. levaram as garrafas e as quebraram. Tais entidades tem ufania de seu poder. . recorrem aos seus sortilégios. essas hordas do espaço travaram pugnas furiosas. seno que. Escolheu sete pessoas. produziu uma demonstração sensacional. que ninguém encruze as pernas e os braços. por duas vezes.Enquanto não se apagar esse ponto. Essa magia exerce diariamente a sua influência perturbadora sobre a existência. são com freqüência. Durante a revolução de São Paulo. cujo corpo mandou retirar. ordenou-lhes que se concentrassem sem quebra da corrente de pensamento. durante as sessões. lançando-se umas contra as outras. deixando a cabeça junto ao ponto. incorporado. por motivos de interesse. riscou no chão um ponto e decapitou um gato. e logo os pedaços de vidro penetraram. Provou-o. Nos centros do espiritismo de linha. e não o é. a cabeça separado do corpo miava dolorosamente na sala. passeava descalço sobre os cacos de vidro. a um grupo de curiosos da alta sociedade. A política foi e continua a ser dos seus melhores e mais assíduos clientes. não medem esforços para satisfazê-lo. os pés que os pisavam. por motivos de amor. as forças físicas e as energias do instinto. que. até para o bem. O homem que aspira ao domínio da magia necessita de aprofundar-se em estudos muito sérios. a magia perdeu em eficiência. levantando muralhas fluídicas de defesa para que os governantes de São Paulo e do Rio não fossem atingidos pela perturbação. Nesses dias da guerra civil. porque a colaboração do elemento humano pensante e sensível diminuiu. e na plenitude de suas faculdades. o contato da humanidade com essa ordem de espíritos. a defesa a que se obriga a Linha Branca de Umbanda e a atuação dos Guias Superiores. pairavam as falanges da Linha Branca de Umbanda e os espíritos bons e superiores de todos os núcleos de nosso ciclo. a pouco e pouco. os terreiros da Linha Branca de Umbanda tinham um aspecto singular: . as arremetidas do plano material. e quase desertos de protetores.. perdendo a solene pompa do cerimonial antigo. desnudos da cinta para cima ou totalmente despidos. para conhecer as propriedades dos corpos. em ímpeto. desenvolver e governar. conforme a finalidade das reuniões. só lhe permite um lucro mesquinho. esforçando-se para atenuar a brutalidade da discórdia armada. tem de subordinar-se. 37 . Nos centros dessa magia. com intransigência de ferro. Trabalha-se com entusiasmo. em nosso tempo. a vontade de um espírito. ainda. as faculdades da alma. e o praticante da magia. Isso não é fácil. os aparelhos humanos laboram vestidos. compreendessem a necessidade de negociar e concluir a paz.estavam cheios de famílias aflitas.. medindo a extensão da desgraça. certo ultrapassaram. em geral. A atividade da Magia Negra tem três modos de ser contrastadas: a oposição de seus próprios elementos. pois as falanges todas se achavam no campo das operações militares. e suas afinidades. e precisa. Creio que.paulistas esbarraram com as que foram postas em ação em favor da ditadura e esses choques invisíveis nos planos que os nossos sentidos não devassam. sobretudo os da ciência. desaparecendo. Nessas condições o individuo que se poderia chamar o mago negro cada dia se tornara mais raro. quando lhes encomendam. Sobre o enraivecido desentendimento das legiões ditas negras. em absoluto. distinguir as tendências das mentalidades desses dois ramos da árvore humana. Por isso. nos diversos países. aquele. para a Tenda. na sua bondade. O negro da África difere um pouco do da Bahia. O caboclo autêntico. Ouvindo queixas dos que sofrem as agruras da vida. atirando a face os nossos defeitos e até com as nossas atitudes se mete. estudando-se as manifestações de caboclos e pretos. enche-se de piedade. porque se condói de sua penúria e deseja vê-los contentes e felizes. por largos ciclos no tempo. Pode-se. O preto. estabelecer as diferenças raciais. de aspectos e característicos regionais. esse não pode ver lágrima que não chore. no terreiro de Umbanda. aproveitando-se as entidades mais afins com as populações dessas paragens. pensando nas dificuldades que os maus sentimentos vão levantar na estrada de quem os cultiva. portugueses. e quase sempre sai a desbravar os caminhos dos necessitados. auxilia a quem pode. pretos da África e da Bahia. é intransigente como um frade.. as variações de cultura moral e intelectual. tem o entusiasmo intolerante do cristão novo. e atribui os nossos sofrimentos a erros e faltas que teremos de pagar. mas o da Bahia. XV A LINHA BRANCA DE UMBANDA E DEMANDA A organização das linhas no espaço corresponde a determinadas zonas na Terra. responde zangado que o espiritismo não é para ajudar ninguém na vida material. Atendem-se. vindo da mata. surpreender os costumes de seus povos e comparar as duas psicologias. ao constituí-las. se irrita com os jactanciosos e com os ingratos. 38 . às vezes. em dois ou três anos de contato com as misérias amargas de nossa existência. porém. sendo que numerosos foram europeus em encarnações anteriores. que gemeu no eito sob o bacalhau do feitor. espanhóis. muitos ilhéus malaios. antes que lhe peçam. Nas falanges da Linha Branca de Umbanda e Demanda já se identificaram índios de quase todas as tribos brasileiras. o espiritismo de linha se reveste. suaviza a sua intransigência e acaba ajudando materialmente os irmãos encarnados. Mas. através de um aprendizado no espaço. muitíssimos hindus. em casos semelhantes. de continuar a sua ação maléfica. Às vezes. ignorância ou maldade. expulsando a vergalho os vendilhões do templo. Quando o centro. Se as nossas dores e dificuldades significam conseqüências de nossas faltas. Confundiu a nossa linha com a outra. o que raríssimas vezes acontece. descrevendo-nos os quadros de nossa felicidade futura. ou provação. com freqüência. manda esclarecer a quem esta em erro. é necessário recorrer à energia para reprimir o sacrilégio. desde logo. reprimem energicamente os 39 . Na terceira hipótese. A Linha Branca de Umbanda e Demanda tem o seu fundamento no exemplo de Jesus. temos de suportá-la até o limite extremo. ou da maldade dos outros.A autoridade cometeu uma injustiça. Se a casa atingida pela perseguição policial pertencia à magia negra. O objetivo da Linha Branca de Umbanda e Demanda é a prática da caridade. Para exemplificar: . Há muitos ex-delegados que conhecem a causa de desgraças que os feriram na situação social na paz dos lares. curando as moléstias de origem ou ligação espiritual. Devemos procurar esclarecer os poderes públicos. ou provém dos nossos próprios erros. impedindo-o. o seu guia considera: . ensinando-nos a resignação. desmanchando os trabalhos de magia negra. ou que como tais se apresentam e prende os seus componentes. O homem prejudica o seu semelhante por inconsciência. libertando de obsessões.a polícia. reprime singelamente o perverso. consistente na violação das leis de Deus em prejuízo das criaturas humanas. Nos dois primeiros casos. os protetores de Umbanda nos aconselham a repará-las. como tantas vezes tem acontecido. defendendo a sociedade. e preparando um ambiente favorável a operosidade de seus adeptos. Os sofrimentos que nos afligem são uma prova. e os filhos de Umbanda procuram atenuá- las. Em caso de prova. as entidades espirituais reagem e castigam até com brutalidade os repressores de sua atividade. conduzindo-nos com amor e paciência. a Lei de umbanda. é da Linha Branca. até convencê-los de sua falta. tratando-nos como malfeitores sociais. No segundo caso. para evitar confusões semelhantes. ao arrependimento. sitia e fecha centros espíritas. mostrando-nos a bondade de Deus. sem a intenção de cometê-la. O seu desejo era cumprir o dever. que nos permite o resgate de nossas culpas sem puni-las com penalidades eternas. ou de todos os chamados nobres. da cobiça. guia do espiritismo no Brasil. movendo-se. ou que como tais se apresentam. na Linha Branca. purificando-o os fluidos da inveja. Os espíritos de luz que baixam à Terra. constituem os trabalhos de “caridade”.malvados que nos perseguem do espaço para cevar ódios da Terra. da antipatia e da inimizade. para fazer a comunicação verbal ou escrita. Estamos numa época amargurada de arrogante orgulho intelectual e insolente vaidade mundanaria. no dizer de um espírito. pelo seu protetor. porém. as curas das doenças de natureza espiritual. ou coisa correspondente. se em algumas situações lhes é permitido exercer a sua ação instantânea em favor de quem soube merecê-la. Vulgarmente. é positiva. para abater a propasia desses orgulhosos. basta que o espírito se assenhoreie dos órgãos cerebrais. O tratamento da obsessão. os dois são absolutamente gratuitos. que se processa mediante acidente psicológico. por intermédio dos espíritos mais atrasados. submeter-se ao que lhe parece uma degradação. e não contrariam. sem os seus trabalhos. e se conservam em nossa atmosfera orientam falanges ou desempenha outras missões. pelos altos guias. abandonando-o à entidades que em geral o reduzem a miséria. precisa apropriar-se de todo o organismo do médium. 40 . porque nesse corpo vai viver materialmente algumas horas. os episódios de suas existências se encadeiam de modo a arrastá-los a implorar e a receber a misericórdia de Deus. Na Linha Branca. Se algum médium se esquece de seus deveres e recebe dinheiro. e dar passes. A hierarquia. este se retira. A incorporação é sempre um fenômeno complexo. utilizando-se de objetos. Dir-se-á que todos os socorros prestados pela Linha Branca poderiam sê-lo. pelas faltas do passado ou pelas culpas do presente. grandes ou pequeninos. Todos os seus dirigentes espirituais proclamam e reconhece a autoridade de Ismael. nem poderiam contrariar. e. vocais. A incorporação na Linha Branca é quase uma reencarnação. os de “demanda”. os outros. físico e espiritual. pela caridade feita. mantendo-se com severidade. na maioria das circunstâncias deixam o indivíduo. e tem na Linha Branca de Umbanda a expressão máxima de sua transcendência. pelos espíritos superiores. às vezes suportando pesos. Nas angústias de nossa vida material. e manuais. afastam de nosso ambiente. desígnios em que se enquadram as funções de todos os servos da fé. em seu uso vulgar. Procuremos esclarecê-las. conversando entre si. usam da nossa língua comum. Esses 41 . Encaremos. antes. Em suas manifestações. apenas. designar os seus atributos e cerimônias. para não serem entendidos pelos assistentes. durante a qual a imagem se transforma em centro de grandes e belos quadros fluídicos. empregam o linguajar de cabildas africanas. e evitar a divulgação de conhecimentos suscetíveis de uso contrário aos seus objetivos caridosos. porém. das regiões onde encarnaram pela última vez. do pouco que sabemos. de tribos brasileiras. permitidas. ou. necessárias para atender aos hábitos e predileções de muitíssimas pessoas e de muitíssimos espíritos. Renova-se essa ligação automaticamente sempre que há sessão. No trato com as pessoas. é conveniente estabelecer e afirmar que as imagens muitas vezes existentes nos recintos das sessões da Linha Branca. celebra-se o seu “cruzamento”. os espíritos. agora. XVI OS ATRIBUTOS E PECULIARIDADES DA LINHA BRANCA Os chamados atributos da Linha Branca de Umbanda e Demanda. Mas essas práticas assentam em fundamentos razoáveis. excetuados os grandes guias. para regular o seu trabalhos. Quando se coloca uma imagem num recinto de trabalho. convencendo-as do atraso dos espíritos incumbidos de usá-los. Antes. pois são. com frequência. o que nos for permitido divulgar. significam uma concessão dos guias. deturpando-a a maneira dos pretos ou dos caboclos. causam viva impressão de extravagância ridícula as pessoas de hábitos sociais aprimorados. tornando-se. o assunto principal deste escrito: Linguagem – A Linha Branca de Umbanda e Demanda tem um idioma próprio. dizendo. não representam um contingente obrigatório do culto. cerimônia pela qual se estabelece a sua ligação fluídica com as entidades espirituais responsáveis pelas reuniões. e que dificultam as incorporações ou se espalham pelo recinto da reunião. sacode-se o corpo em cadência de embalo. Guia – É um colar de contas da cor simbólica de uma ou mais linhas. mediante o cruzamento. em ligação fluídica com as entidades espirituais das linhas que representa. impedem a evolução do fluido com que cada assistente deve contribuir para o trabalho coletivo. Cachaça – Pelas suas propriedades. os bons. quando não é possível mudar o calçado na Tenda. pelas diversidades de coloração. em certos trabalhos. Fica. trabalhadores do espaço desejam que os julguem atrasados. determinam. quando se trata de um médium. quando pediu a população carioca o abandono dos padrões escuros. roupas brancas. 42 . para limpar-se da gordura do corpo humano. é uma espécie de desinfetante para certos fluidos. com essa retenção. é lavado. Calçados – Em certas ocasiões. Ao descer de certas falanges. na primeira hipótese. produz o mesmo resultado. estimula outros. Pode-se acrescentar que os filhos de Umbanda aconselham o uso habitual dos tecidos claros. bem como dos fluidos que se aderiram. Roupa – Usam-se. pelas mesmíssimas razões expressas no apelo dirigido. causando perturbações. pelas vibrações aromáticas. Periodicamente. Desvia. afim de que os indivíduos que se reputam superiores e são obrigados a recorrer à humildade de espíritos inferiores percebam e compreendam a sua própria inferioridade. neutraliza ou enfraquece os fluidos menos apreciáveis. e de novo cruzada. porque. em alguns casos. Banho de Descarga – Cozimento de ervas para limpar o fluido pesado que adere ao corpo. O banho de mar. como vimos na Magia Negra. como um suor invisível. perturbações físicas e até fisiológicas e impossibilitam a incorporação. atrai. pois os sapatos com que andamos nas ruas pisam e afundam principalmente nas esquinas em fluidos pesados que se agitam como gazes a flor do solo. essas atitudes quebram ou ameaçam violentamente a cadeia de concentração. trabalha-se com os pés descalços. para facilitar a incorporação. para evitar o amortecimento e arritmia das vibrações. e na segunda para auxiliar o desprendimento de fluidos que não nos pertençam. como em alguns atos de descarga. Atitudes – Não se permite cruzar as pernas e os braços durante as sessões. nas sessões. há anos pelo clube médico desta capital. por uma fumarada. depois de firmado. É freqüentemente ver-se uma pessoa curada de uma dor de cabeça ou aliviada do incomodo momentâneo de uma chaga. Esses recursos e meios não são usados arbitrariamente em qualquer ocasião. Defumador – Atua pelas vibrações do fogo. as entidades ou falanges a que se refere. Fumo – Atua pelas vibrações do fogo. Ponto Riscado – É um desenho emblemático ou simbólico. e outros bebem-na quando incorporados.determinadas entidades. 43 . Tem ainda a influência do aço. o impedem de cravar-se ou o derrubam. pois as forças fluídicas contrárias. Nos últimos anos. punhais. com as suas instruções. em virtude de reminiscência da vida material. quando não foram quebradas. A pólvora. exercendo uma influência pacificadora sobre o organismo. ou pólvora. no tocante ao magnetismo e a eletricidade. de preferência com cruzeta na manda. em poucos traços. Ponto Cantado – É um hino muitas vezes incoerente. auxilia a incorporação. A fumaça neutraliza os fluidos magnéticos adversos. por exemplo. Ponteiro – É um punhal pequeno. Atua pelas vibrações. os grandes abalos fluídicos. pelo deslocamento do ar. Tem sempre uma significação e exprime. às vezes. realizados fora da cidade. pois. harmonizando os fluidos. ou empunhadura. Usa-se para desenhar os pontos. Atrai. Pólvora – Produz. Chama algumas entidades e afasta outras. duplo sentido. Tem. pela fumaça e pelo movimento. Serve para calcular o grau de eficiência dos trabalhos. muitas coisas. o compõem de modo a alcançar certos efeitos no plano material sem revelar aspectos do plano espiritual. e do aroma. ao ar livre. para que sejam obedecidas as ordens das autoridades públicas. com a concentração que determina para ser traçado. Atrai as entidades benéficas e afasta as indesejáveis. porque os espíritos que nos ensinam. só deve ser empregada em trabalhos externos. e do aroma. concorrendo. Pemba – Bloco de giz. nem são necessários nas sessões comuns. opera movimentos fluídicos e. os guia não têm permitido que os centros ou Tendas guardem ou possuam em suas sedes pemba. A Linha Branca de Umbanda anula esses despachos por processos correlatos. estimulando-o a recomeçá-lo. conforme o seu objetivo e a natureza das entidades que o realizam. não as comem. o “despacho” varia nos elementos componentes e na preparação. produzindo moléstias e até a morte. muitas vezes consistente no aniquilamento de uma pessoa. mas extraem delas propriedades ou substâncias que lhes dão a sensação de que as comeram. ainda. é um presente. sem o auxílio de espíritos. visa atirá-los contra o indivíduo perseguido. e de gosto abaixo do vulgar. perturbando-lhe o raciocínio com sugestões telepáticas. deixando-o perder-se no espaço. e pela conjugação de todos esses meios. satisfazendo apetites contraídos na vida terrena. Pergunta-se. Propicia às entidades em atividade prejudicial. o “despacho” representa uma concentração que se prolonga. Certo. para que auxiliem a restauração mental e física de seu protegido. O “despacho” exerce a sua influência de quatro maneiras: pela ação individual do feiticeiro. os corpos cujas propriedades devem ser volatizadas. isto é. pelo reflexo das propriedades volatizadas e corpos usados pela magia. mais afins com a pessoa a quem se defende. Assim. ofertando-lhes um “despacho” igual ao que as moveu ao maléfico. Quando o feiticeiro trabalha sozinho. dominando-lhe o cérebro. que lhe demonstraria que o seu esforço foi contrariado. e como as espirituais são materialíssimas. ou adquiridos no espaço. Quando se trata da atuação individual do feiticeiro. se é da magia. ou uma paga. desvia o seu pensamento. XVII O DESPACHO O “despacho”. com espanto. pelo exemplo de outros. por diversas fases. por meio de uma concentração prolongada. para dar-lhe a impressão de sua impotência e evitar o choque de retorno. nas Linhas Negras. este segundo “despacho” de atraí-las. com o objetivo. em contato fluídico com a vítima. contém. se com esses auxiliares. Volatiza as propriedades de corpos 44 . pela ação das entidades propiciadas. a que se abandonaram. inquietando-a. a oferta lhes revela essas qualidades. para alcançar um favor. atacando-lhe determinados órgãos. e freqüentemente faz outro “despacho” aos espíritos das falanges brancas. causando-lhe exasperações. se aqueles aos quais se destina a oferenda comem as comedorias que por vezes lhe são levadas. afim de que elas se afastem do enfeitiçado. e quando as entidades propiciadas recusam os presentes e insistem na perseguição. Conjuga todos esses recursos. a procura da tumba. transmitindo- lhe moléstias terríveis. Na sua perturbação. abalando-o mentalmente e até arrastando-o ao campo santo. semi. e mandam-no procurá-la.é o chamado povo do cemitério. tais os de Oxossi. é necessário recorrer ao meio de que lançou mão. a Exu. Localiza-se nos cemitérios uma vasta massa de espíritos inconscientes. profana-se a maternidade. submete-as com energia. para produzir o mal. em certas circunstâncias. com os cuidados devidos ao espírito infeliz e a pessoa a que ele se apegou. num esforço desesperado de reintegração. através de oceanos e continentes. quando. ou tendo uma noção confusa da morte e fazendo um conceito errôneo de sua triste situação: . e Ogum. com os fluidos contaminados de propriedades cadavéricas. Os destinados a atrair os socorros dos trabalhadores da Linha Branca. é que se fazem os mais funestos “despachos macabros” da “banda negra”. Explica-se com facilidade a razão que a obriga. que se dirigem aos espíritos dos que desencarnaram ainda crianças. Com freqüência. fazem-se alguns. de ordinário simples e não raro de algum encanto poético. e entre esses os de Iemanjá nas praias ou no oceano. e uma onda sombria de maldade se alastra. Na noite das grandes meditações piedosas. como os de Xangô. a exemplo dos de Cosme e Damião. roubam-se cadáveres. quando um desses espíritos. nas pedreiras. alguma vez. encosta-se ao outro. a magia negra. o martírio de Jesus. 45 . ele. Para desfazer esse sortilégio. A magia negra e os feiticeiros os atraem e aproveitam para objetivos cruéis. outros. Violam-se túmulos. são feitos nos lugares que lhe deu essa designação. isto é. e aqueles. espalhando o sofrimento e o luto. convencem-no de que ele é uma determinada pessoa ainda viva no mundo material. muitos. com sentimento uníssono. o Cristo. tenha.suscetíveis a neutralizar os que foram empregados pela magia. realizado despachos com Terra de cemitério. no macio gramado dos jardins e prados floridos. trabalhando exclusivamente em benefício do próximo. na convicção de ser quem não é. Os “despachos” aos elementos da Linha Negra. perde de todo a noção de sua individualidade. de uma perversidade revoltante. a cristandade comemora. Estranha-se que a Linha Branca de Umbanda. nas matas. para tomar conta do seu corpo. a esse recurso extremo. em operações de magia sobre o ventre de mulheres grávidas.inconscientes. ao Povo da Encruzilhada. a de Iemanjá lava e limpa o ambiente. a terceira. sacrilégios e profanações. de Xangô. roxa. Sebastião. São Jorge. a segunda de Ogum. que em geral aparecem as entidades que se apresentam como crianças. verde. a de Iansã. a segunda. as de Oxalá e Iansã amparam os combalidos. tem a devoção dos espíritos de pretos de todas as regiões. a Virgem Maria. sobretudo. Oxalá é a linha dos trabalhadores humílimos. 46 . S. com Cosme e Damião. A linha de Xangô. a quinta. a quarta. S. mesmo na defesa do próximo. A Linha Branca de Umbanda não pode cometer. da Conceição. do Bonfim. XVIII AS SETE LINHAS BRANCAS A Linha Branca de Umbanda e Demanda. também chamada de Linha das Almas. A de Oxalá.a primeira de Oxalá. Essas designações significam. E. a de Oxossi. qualquer que seja a linha de sua atividade. a de Ogum a encarnada. sofre o vexame da prisão e o escândalo dos jornais porque sacrificou o seu repouso a defesa e ao bem estar do próximo. na Língua de Umbanda – a primeira. a quinta de Iansã. S. a cor branca. compreende Sete Linhas: . de Oxossi. no entanto. e mantém a sua unidade através das outras. a terceira. a sexta de Iemanjá. surpreendido pela polícia a hora de “arriar o despacho”. amarela. e é nas suas falanges. a quarta. se consagra a reparação do que foi destruído. templário da ordem branca. a sétima é a linha de Santo. Jesus. a de Iemanjá. azul. em sua invocação de N. Santa Bárbara e a sexta. São Jerônimo. o pobre filho de Umbanda. A linha de santo é transversal. enquanto os sagitários de Oxossi e falange guerreira de Ogum dominam e castigam os criminosos do espaço. e conjuga a ação combinada de suas sete linhas para dominar essa torrente de treva nefasta. Cada linha tem o seu ponto emblemático e a sua cor simbólica. a de Xangô. em sua invocação de N. a de Urubatan. isto é. A linha de Oxossi. caboclos ou negros. de médium de “cabeça cruzada”. e na de Ogum. A linha de Ogum. nos trabalhos em que aparecem elementos da Linha de Santos. ou de qualquer legião. a dos marujos e espíritos da linha de Iemanjá. A linha de Xangô pratica a caridade sob um critério de implacável justiça: . também de notável potência fluídica. a suspensão de hostilidades. caboclos e pretos da África. e contraíram “obrigações”. quem faz. de Exu. contra os filhos e protegidos da Linha Branca. por excelência. e tem duas missões essenciais na Branca – preparam. são egressos da Linha Negra. o “povo do 47 . e procuram alcançar amigavelmente de seus antigos companheiros. os “despachos” propiciatórios ao Povo da Encruzilhada. com entidades. pois acarretam. Por isso. para o trabalho de um espírito determinado. que são comparáveis as brigadas dentro das divisões de um exército. contém em seus quadros as falanges guerreiras de Demanda. que se caracteriza pela energia fluídica de seus componentes. paga. As falanges dos nossos indígenas. de pessoas que perecem afogadas no oceano. disseminados pelas outras seis. equivalentes a deveres rigorosos e realmente invioláveis. como na de Oxossi. com outro de Araribóia. sempre que seja preciso. A Linha de Santo é forma de “pais de mesa”. a de Tranca-Rua. é. em sua maioria. A linha de Iemanjá é constituída dos trabalhadores do mar. assim chamados porque se submeteram a uma cerimônia pela qual assumiram o compromisso vitalício de emprestar o seu corpo. de marujos. quando esquecidos. Todas as falanges tem característicos próprios para que se reconheçam os seus trabalhadores quando incorporados. com as demais cores simbólicas. a dos indígenas brasileiros. espíritos das tribos litorâneas. penalidades aspérrimas e inevitáveis.quem não merece. formam o “povo das matas”. A linha de Iansã consta de desencarnados que na existência térrea eram devotados de Santa Bárbara. com os seus agregados. estes ostentam. não tem. Não se confunde um caboclo da falange de Urubatan. a preta. Os trabalhadores espirituais da Linha de Santo. frequentemente dotadas de brilhante saber. Na falange geral de cada linha figuram falanges especiais. em geral. como o presente não surtisse resultado. junto aos seus antigos companheiros de Encruzilhada.. o casal. sem dúvida. que ninguém definia. um de seus maiores esforços. foi repreendida com severidade por ter reincidido na falta de abandonar o serviço para ir a esquina conversar com o namorado. em meia hora. Elementos da falange de Oxossi teceram as redes de captura. uma questiúncula mínima produz uma grande desgraça. E. mas foram informados que não se perdoava o agra a médiuns da linha negra. os trabalhadores espirituais da Linha de Santo agiram. marido e mulher estavam desentendidos. um. depois.. Em poucos meses. obrigou a Linha Branca a recursos extremos. por não ter sido aceito. apelou-se. Uma mulatinha que era médium da magia negra. as descargas elétricas fagulharam na limpidez puríssima da tarde. esclareceu-o sobre a origem de seus males. e a Linha Branca de Umbanda fez. com um ”despacho” igual ao que as lançou ao malefício. os baianos e mais negros do Brasil. o “povo da Bahia”. a falange guerreira de Ogum. o guia. e. uma família gemeu na miséria. e. de espíritos adestrados nas lutas fluídicas. 48 . no espaço. a outra. para alcançar o abandono pacífico dos perseguidos. Queixou-se ao dirigente do seu antro de magia. exagerando. com os negócios em descalabro. mas a resistência adversa. como sempre acontece. por causa desse rápido namoro de esquina. foi a um centro da Linha Branca de Umbanda. o “povo da costa”. aconselhado pela experiência de um amigo.. nem curava. Vencido pelo sofrimento e sem esperança. com o ímpeto costumeiro. Com a pólvora sacudiu-se o ar. os agravos. produzindo-se formidáveis deslocamentos de fluidos.. trabalhando fora da cidade à margem de um rio. As diversas falanges e linhas agem em harmonia. e os secundou. contra os seus patrões um “despacho” de efeitos sinistros. oposta por blocos fortíssimos. dizendo quem e onde fez o “despacho”. Propiciou-se as entidades causadoras de tantos danos. atacada de moléstia asquerosa da pele. onde. combinando os seus recursos para a eficácia da ação coletiva. os pretos africanos. e arranjou. Muita vez. Exemplo: . ou supostos agravos recebidos. para os meios magnéticos.mar”. empregando-se em casa de gente opulenta. por fim. o que e por que mandou fazê-lo. Convidam-nos. realizado esse obsequio. Primeiro. mais tarde. mantendo-se em contato com a banda negra. com hábil esforço. de onde provieram não só resolvem pacificamente as demandas. os conversores lisonjeiam os espíritos adestrados nos maléficos. começam a mostrar aos malfeitores o êxito de alcançar a Linha Branca com a excelência de seus predicados. o casal se restaurava na saúde e na fortuna. com a água volatizada do oceano. como uma emoção nova. laborando com a consciência e paz. Aproveitando para o bem um atributo nocivo. os obreiros da Linha de Santo passam a pedir aos acolhidos para a conversão. e assim lhes conquistam a confiança e a estima. XIX A LINHA DE SANTO A missão da Linha de Santo. Os trabalhadores de Iemanjá. mostrando-lhes o prazer com que o efetuam em cordialidade harmoniosa. 49 . é verdadeiramente apostolar. como convertem. tão desprezada quanto ridicularizada até nos meios cultos do espiritismo. Na segunda fase do apostolado. Esse esforço se desenvolve com tenacidade numa gradação ascendente. a alegria serena e agradecida do beneficiário. enquanto os servos de Xangô encaminhavam os rebeldes submetidos. louvam a mestria de seus trabalhos contra o próximo. como a vaidade. lavaram os resíduos dos maléficos desfeito e. exaltam-lhe a potência fluídica. em comunhão com homens igualmente satisfeitos. gabam-lhes as qualidades. e. os trabalhadores trevosos. Os espíritos que a constituem. pequenos favores consistentes em atos de auxílio e benefício a esta ou àquela pessoa. levamos a gozar. sem sobressaltos. para assistir os trabalhos da Linha Branca. auxiliados pelos de Iansã. os operários ou guerreiros do espaço. em 50 . numerosos foram europeus em encarnações anteriores. e. mas fica como seu auxiliar. não representa um retrocesso. a povos brancos ou Ocidente. na última existência terrena. com o círculo de sua evolução. para que se estimulem e entusiasmem com o seu resultado. uma espécie de adido. Entre os caboclos. depois de aprendizado no espaço. com alternativas. o antigo serventuário do mal vai resgatar as suas faltas. ou amarelos. pela identificação com o ambiente. até o presente. porém. como espíritos. XX OS PROTETORES DA LINHA BRANCA DE UMBANDA Os protetores da Linha Branca de Umbanda e Demanda. elevando-se até abandonar de todo a atividade maléfica. corrigindo as alheias. teriam de desempenhar na Terra. afinal. começa a imitar-lhes os exemplos. tanto mais se relaciona com os trabalhadores do amor e da paz. depois. caboclos ou pretos. da missão que. pela ação ou pelo verbo. a sua inclusão na Linha de Santo. invariavelmente são. reduzidos. têm encarnado e reencarnado. uma tarefa à altura de suas possibilidades. Geralmente. e nunca passaram pelas nossas tribos. os crentes novos. exalta-o o desejo de se incorporar efetivamente às falanges braças e a seu trabalho de fé se reveste daquele ardor com que se manifestam. mas o início. ou em alguma outra. da Ásia. à zona psíquica do Brasil. ou dizem que são. trabalhando sem classificação. Permitida. participar desse labor. e a sua reencarnação no seio dos silvícolas. para não se colocar em esfera inferior àquela em que os vê. dando-lhes. nessa fase. Fazem-nos. Outros pertenceram. na obra comum. o converso não é incluído imediatamente na Linha. Os restantes. Depois que esse abandono se consumou. E quando mais o espírito transviado intensifica o seu convívio com os da Linha de Santo. mas freqüentemente. fumava um cachimbo. confirmou o aviso do preto. confessava. então. de suas causas fisiológicas. há mais de meio século. e sem despeito.Cuidado. pelos deveres de sua missão. um protetor caboclo descarregava os maus fluidos de uma senhora. surpreende os seus consulentes. caboclo avisou o preto. numa pequena reunião de cinco pessoas. antes de meia hora. aos radiantes espíritos superiores. Pai Antônio. enquanto também incorporado.nossas cidades ou matas. pediu um médico presente à sessão. quis conversar sobre a sua ciência com o espírito humilde do preto. E. . Exemplo: Uma ocasião. e estranhava: . meu filho. . emitindo um termo técnico da medicina. O mesmo. se restabelecia a circulação normal no organismo da dama. estando. O coração dessa filha não está batendo de acordo com o pulso. como acreditava o clínico. quanto a negros. observando a descarga. no espaço. O protetor. . e. quase todos. que o negro abordara assuntos que ele ainda não tivera oportunidade de versar. depois da verificação. 51 .Como é que Pai Antônio viu isso? Deixe verificar. E assim aconteceu. Esses protetores se graduam numa escala que ascende dos mais atrasados. e explicando que o fenômeno não provinha.Pai Antonio não pode ser o espírito de um preto da África e não se compreende que baixe para fumar cachimbo e falar língua inferior ao cassange. porém cheios de bondade. com a sua língua atravessada. tanto que terminada a descarga. que o surpreendeu de novo. um preto velho. com um sorriso. na Linha Branca é sempre humilde e. ou incorreta. causa uma impressão penosa de ignorância. O doutor. porém de ação fluídica.Eu sou preto. revelando conhecimentos muito elevados. Depois. Acontece. Por que fala desse modo? Há de ser por alguma razão. se eu começo a falar língua de branco. Uma pessoa os interroga sobre assunto de que não tem conhecimento pleno. Doutor. Os protetores da Linha Branca em geral se especializam. mantêm os seus fluidos harmonizados com os dos aparelhos. 52 . os protetores da Linha Branca de Umbanda incorporam sempre nos mesmos médiuns. numa linguagem. aliás sempre complexa e. meu filho. Salvo em caso de necessidade absoluta. aqui só há um. insiste no seu pedido interrogativo. o que lhes facilita a incorporação. porém. o curioso ou necessitado. Na sessão imediata. até que o trabalhador do espaço. As razoes são simples e transparentes: habituaram-se a mover aqueles corpos.quanto mais elevado é o espírito tanto mais difícil a sua incorporação. receoso de inspirar a desconfiança com a confissão de sua ignorância. disse. que és tu. e nas outras. posso ficar tão pretensioso como tu. arrevesada. pela constância dos serviços.Não entendo disso.Não. . em estudos ou trabalhos de sua predileção na Terra e baixam aos centros e incorporam para um objetivo definido. meu filho. . no espaço. que traduzimos. embarafusta pela seara alheia. O preto velho explicou: . e nem sempre vens cá. com a cumplicidade dos presidentes de sessões. e. que muitas vezes são induzidos a erros pelos consulentes. O senhor sabe mais medicina do que eu. e comete erros. que dizes saber menos medicina de que eu. em geral. que é um espírito conhecedor de todos os trabalhos e recurso da Linha. Pai Antonio. custosa: . logo remediados pelo chefe do terreiro. conhecem todos os recursos daqueles cérebros.Eu não baixo em roda de doutores. e muitas vezes lhes dá. traçou alguns pontos no chão. necessitam. o alto chefe de sua linha. produziu uma daquelas esplendidas demonstrações. em missões especiais. de Ogum. sob a curiosidade fiscalizadora de nossos olhos. se não fossem usados exclusivamente em beneficio do homem. o Orixá Mallet. Os Orixás não baixam sempre. em missão junto às Tendas criadas e dirigidas pelo Caboclo das Sete Encruzilhadas. e dispõe. Trouxe. passou em seguida a mão sobre eles. um de Oxossi. e. e reacenda a confiança nos guias. de prazo variável. do espaço. 53 . o outro de Ogum. largou no ar três lindas borboletas amarelas. Na vez primeira em que o vi. abrindo-a. O Orixá é uma entidade de hierarquia superior e representa. passou-me a terceira. como se apanhasse alguma coisa. É pelos seus encargos comparável a um general. a sua grande bondade. que haviam sido malaios na última encarnação. e. Ele. dentre os elementos do Caboclos das Sete Encruzilhadas. de todas as falanges de Demanda. sendo poucos os núcleos espíritas que os conhecem. para estimular a minha humilde boa vontade. de provas singulares. semelhantes as tropas de choque dos exércitos de Terra. nesta hipótese fica subordinado ao guia geral do agrupamento a que pertencem tais centros. a quando e quando. no decorrer dos trabalhas de sua direção. Entende esse “Capitão de Demanda” que as pessoas de responsabilidade nos serviços da Linha. XXI OS ORIXÁS Cada uma das sete linhas que constituem a Linha Branca de Umbanda e Demanda tem vinte e um Orixás. dois auxiliares. baixou e permanece em nosso ambiente. de cinco falanges selecionadas do Povo da Costa. Em oito anos de trabalhos e pesquisas. Estávamos cerca de 20 pessoas numa sala completamente fechada. além de arqueiros de Oxossi. alçou a sinistra e. E o Orixá Mallet. ora encarregado de auxiliar a atividade de centros necessitados de amparo. que lhes revigore a fé. São espíritos dotados de faculdades e poderes que seriam terríficos. só tive ocasião de ver dois Orixás. espalmando a destra na minha. inclusive núcleos da falange fulgurante de Ubirajara. ora incumbido da inspeção das falanges. a oxigenada altura das montanhas. uma borboleta amarela pousou no meu ombro.Vamos buscar os pombos. ficando lado a lado. e na manhã seguinte. como se descesse do teto. rigoroso. chegares à casa. sobre um ponto traçado na areia. Passada a chuva que provocara. Chegamos à orla do rio. Pegou-os. encostou-os as fontes do médium. que eu tinha a certeza de não serem adestrados. porque foram adquiridos por mim. numa ilha formosa do Oriente. a margem do Rio Macacú. surpreenderam-se os meus companheiros vendo que outra borboleta. e os dois pombos recruzando as águas. e amanhã. revestidos de transcendente beleza. Leváramos dois pombos brancos. na ultima encarnação. o delegado de Ogum é Magnânimo. ao chegar ao trabalho. voltaram ao ponto traçado na areia. e fecharam as asas na mesma árvore. soltou-os. transpuseram a caudal. porém. como se os prendesse. . e alçando-os depois. onde eles quedaram quietos. fora desta capital. quando. no trabalho. Colocou-os o Orixá. O Orixá.Hoje. pousava-me na cabeça. tarde da noite. serás recebido por uma dessas borboletas. Exigem os seus trabalhos. quando regressei ao lar e acendi a luz.Os pombos não resistem a este trabalho. realmente. 54 . o retiro exalante das flores ou a largueza ondulosa do mar. E. bateu palmas. e não diverte curiosos: - ensina e defende. disse: . tantas vezes. Em meio à tarefa disse: . para fazer chover. também amarela. e começou a operar com fluidos elétricos. Tive ocasião de assistir a outra de suas demonstrações. num vôo alvacento. no mesmo galho. Os dois pássaros. com as mãos levantadas. Vamos passá-los para a outra margem do rio. a quietude plana dos campos. Príncipe reinante. ficam. localiza-o e começa a reunir-se em sessões. Tanto os grupos de origem terrena. no primeiro caso. os nossos trabalhos. deslocados para a Terra em missão tanto mais penosa. Um grupo de pessoas resolve fundar um centro espírita. e até materialmente. na atmosfera de nosso planeta. para a realização de seus desígnios. baixam aos recintos de nossas reuniões. Esses guias são chamados espíritos de luz. quanto mais elevada é a natureza espiritual do missionário. submetidos à direção de guias superiores. ou criação do espaço com reflexo na Terra. alguns jamais têm a necessidade de recorrer a um médium e exercem a sua autoridade através de espíritos que também muitas vezes não incorporam e transmitem ordens e instruções às entidades em contato direto com os centros e grupos humanos. há centros que não sabem que estão sob a jurisdição de determinado guia e que chegam a ignorar a sua 55 . Esses enviados dominam em geral o novo centro. Os guias do espaço mandam-lhes. pela sua condição. mas não o desviam dos objetivos humanos determinantes de sua fundação. Tendas que sejam correspondentes a núcleos do outro plano. Os guias do espaço resolvem instituir na Terra. entidades espirituais de inteligência e saber superiores ao agrupamento. que já não se incluem. como os originários do espaço. incorporam-se nos médiuns e dirigem efetiva. que pelas exigências de sua missão. porém. porém. para auxiliá-las e dirigi-las. Há. e incumbem de sua fundação os espíritos que reúnem e selecionam os seus auxiliares humanos e os dirigem de conformidade com as finalidades espirituais. afins com os seus componentes. Frequentemente. Desses missionários. em linhas paralelas. XXII OS GUIAS SUPERIORES DA LINHA BRANCA Os centro espíritas são instituições da Terra com reflexo no espaço. que se encarregam de ordená-los em quadros divididos entre eles. porém. espíritos de luz. Caboclo das Sete Encruzilhadas Quandro da Tenda Espírita Nossa Senhora da Piedade Pintura do médium clarividente Jurandir 56 .permanência em nosso ambiente. sem que se lhes possa fazer. por isso. pelos métodos e concatenações de seus trabalhos. e pelo inflexível rigor de sua disciplina. Dessas criações a que melhor conheço é a fundada pelo Caboclo das Sete Encruzilhadas. pois os seus guias imediatos não julgaram necessário ou conveniente fazer essa revelação. As criações originárias do espaço se caracterizam pela sistematizada solidez de sua organização. qualquer censura. o seu saber se revela. sob às azas de um anjo. as tragédias da dor e os dramas da paixão humana. explicou. da beira do abismo. XXIII O CABOCLO DAS SETE ENCRUZILHADAS Se alguma vez tenho estado em contato consciente com algum espírito de luz. no ponto de interseção de sete caminhos. universal. as suas lagrimas expressam a sua tristeza diante dessas provas inevitáveis a que as criaturas não podem fugir. Entre a humildade e a doçura extremas. contemplando. Sentido-o ao nosso lado. de um de seus auxiliares humanos. baixando a uma casa pobre de um bairro paupérrimo. 57 . e o nome bárbaro de Caboclo das Sete Encruzilhadas. para justificar uma falta. Estava esse espírito no espaço. e dos quais o maior é a qualidade das pedras com que de construir o novo templo. pelo bem estar espiritual que nos envolve e sensibiliza. pressentimos a grandeza infinita de Deus. quando lhe apareceu. Acidentalmente. quase ingênua. mostrando-lhe . indicou-lhe o caminho a seguir. comparável ao enlevo das crianças. obstáculos que se renovam quando vencidos e derrubados. a medicina não lhe é mais estranha do que a teologia. recebemos e suportamos os sofrimentos com uma serenidade. escorrendo pela face do médium. na sua inefável doçura. tenha sido sacerdote. e ficou sendo o Caboclo das Sete Encruzilhadas. aquele que se apresenta sob o aspecto agreste. E há vinte e três anos. vencendo. o mensageiro do Cristo tirou o seu nome do numero dos caminhos que os desorientavam. numa região da Terra. não poucas vezes. as estrelas do céu. intuitivo. por esquecimento. O seu profundíssimo conhecimento da Bíblia e das obras dos doutores da Igreja autorizam a suposição de que ele. esses espírito é. como missionário do consolo e da redenção. A sua sabedoria se avizinha de onisciência (qualidade do saber divino. nas estampas sacras. Jesus e. chorando sem saber o rumo que tomasse. em alguma encarnação. na ordem material. sem duvida. iniciou a sua cruzada. uma ocasião. independente. infalível e eficaz). guiados pela sua proteção. e. E em lembrança desse incomparável minuto de sua eternidade e para se colocar ao nível dos trabalhadores mais humildes. a sua piedade se derrama sobre quantos o procuram e. porém. uno. concluindo. ilimitada. Também. as nossas dúvidas sobre a quarta linha. A linguagem do Caboclo das Sete Encruzilhadas varia. dos sentimentos. respondendo a consulta de um espírita que é capitalista em São Paulo e representa interesses europeus. por meio de narrativas. Ora chã. explicar os dez mandamentos da Lei de Deus aos meus companheiros e. por uma ordem recebida a última hora. E esse caso se repetiu: . procurei. De outra feita. Ao chegar à Tenda. e o Caboclo das Sete Encruzilhadas. e. baixando em nossa reunião. ora simples. numa alocução transparente.minucioso. através de parábolas. A sua paciência de mestre é. e como foram tratados na grande guerra deflagrada em 1914. é rápida. descreveu os instrumentos que servem para observá-las. o auxilio desse espírito. podeis explicar os outros. mentalmente. de acordo com a mentalidade de seus auditórios. que se abastardem nem se eleva demais. comunicar-me com o missionário de Jesus. e contou numerosos casos de fenômenos que as atingiram. incerto sobre a de Xangô. A sua sensibilidade.havia necessidade de falar sobre as sete linhas de Umbanda. como a sua tolerância de chefe. em todos os tons. até que o discípulo. na mais singela das linguagens. Leva anos a repetir. comece a praticá-la. no município de São Gonçalo. surpreendendo. ensinou a homens de cultura desigual as transcendentes leis astronômicas. para fazer os seus discípulos compreender o mecanismo. a mesma lição. produziu um estudo admirável da situação financeira criada para a França. o processo de renovação das células cerebrais. 58 . como é vosso desejo”. ora fulgurante nos arrojos da alta eloqüência. certa vez. quando me lembrei da reunião da noite. depois de tê-la compreendido. e numa ascensão gradativa. e de novo o seu médium. que viera apressadamente das Neves. pedindo-lhe uma sugestão. à tarde. se assim posso expressar-me. uma idéia. que se torne inacessível. disse-me: “Agora nas outras reuniões. nunca descem tanto. ou perceptibilidade. implorei. Resolvi. concentrando-me. explicou a teoria das vibrações e a dos fluidos. encontrei seu médium. o mesmo conselho. discorreu espontaneamente sobre aquele mandamento e. sem atavio. pois não sabia como discorrer sobre o mandamento primeiro. compareceu. pela quebra do padrão ouro na Inglaterra. por ordem de última hora. S. a de N. mas há anos acreditamos que só em algumas circunstâncias se reveste de forma corpórea. pois os videntes não o vêem. quer pelos seus auxiliares da Terra. Dez ou doze anos depois. para seu médium. e por muito tempo. da Piedade. vestindo uma túnica branca. A primeira vez em que os videntes o vislumbraram. a ser visível na alvura de sua túnica primitiva. Depois. antigo agente da municipalidade carioca e deputado do Distrito Federal. no início de sua missão. subúrbio de Niterói encravado no município de São Gonçalo e as de N. da Conceição. na Capital Federal. encarregou o Dr. o Caboclo das Sete Encruzilhadas se apresentou como um homem de meia idade. em Neves. só se mostrava como caboclo. a pele brônzea. Gabriela Dionysio Soares de fundas. com contingentes dessa Tenda. incumbiu a Sra. XXIV AS TENDAS DO CABOCLO DAS SETE ENCRUZILHADAS O Caboclo das Sete Encruzilhadas fundou e dirige quatro Tendas: . José Meirelles. atravessada por uma faixa onde brilhava. com o 59 . O processo de fundação dessas Tendas foi o seguinte: . mais tarde. que é vulgarmente denominado o “Chefe”. Passou. o filho de um espírita e. a matriz. e quando a nossa sensibilidade e os outros guias assinalam a sua presença. S. a palavra “Caritás”. e os espíritos de Pai Francisco e Pai Jobá. o Caboclo das Sete Encruzilhadas fundou quatro Tendas em Niterói e nesta cidade. por intermédio dos dois. e mais atributos dos pajés silvícolas. além de outras no interior do Estado do Rio. escolheu. tanga de plumas. da Conceição e quando a nova instituição começou a funcionar normalmente.e todas da Linha Branca de Umbanda e Demanda. S. Para dar desempenho a sua missão na Terra. e outras fora das duas capitais .O caboclo das Sete Encruzilhadas. agremiou os elementos necessário à constituição da Tenda de N. fulge no ar uma vibração azul e uma claridade dessa cor paira no ambiente. em letras de luz. com o Caboclo Sapoéba.de Nossa Senhora da Piedade. São Pedro e de Nossa Senhora da Guia. quer pelos do espaço. chamados estes. mantendo o prestigio de seus delegados. cabendo a sua responsabilidade legal. isoladamente. e dá instruções para os trabalhos do mês corrente. só as proferem depois do consentimento dos dois dirigentes. independente de indicação ou sanção humana. visando estudos de caráter científico. e médiuns dos chefes de terreiro. não se investe na direção dos trabalhos. de longe em longe. Cada uma dessas Tendas constitui uma sociedade civil. As segundas se dividem em duas categorias: as que têm por objetivo a escolha e o desenvolvimento dos médiuns das diversas linhas e a outra. As Tendas realizam. As sessões de descargas são consagradas à defesa dos médiuns. suspenso. uma sessão privativa dos presidentes. sessões públicas de caridade. conforme a circunstância. e nessa assembléia o Caboclo das Sete Encruzilhadas faz as observações necessárias. da criação da Tenda de S. sessões de experiência. facultativa. e vários eventuais. ainda com o Dr. sobre os serviços do mês anterior. Na primeira quinta-feira de cada mês celebra-se na Tenda Matriz. mas esses espíritos e mesmo os Orixás não diminuem nem assumem autoridade dos presidentes espiritual e material. na ordem material. e todos designados pelo guia geral. Pedro. e a espiritual. Cercam o Caboclo das Sete Encruzilhadas muitos espíritos elevados que ele distribui.presidente espiritual – um substituto imediato. José Meirelles e o caboclo Jaguaribe receberam a incumbência de organizar.auxílio das duas existentes. e trabalham de acordo com eles. com mensagens dos chefes e padroeiros das linhas. bem como os médiuns que o “Chefe” designa e pode. ou demitido livremente. e as de descarga. com os egressos da Tenda do pescador. Os próprios enviados especiais mandados. a de Nossa Senhora da Guia. louvando ou admoestando. . 60 . Mais tarde. e por ele transferido. pela ordem de antiguidade na Tenda. afastar de suas Tendas. Até o “Chefe”. pelas diversas Tendas. é mantida com severidade. A Hierarquia. se o entender. ao respectivo presidente que é nomeado pelo Caboclo das Sete Encruzilhadas. quando baixa e incorpora em qualquer das Tendas. A organização espiritual é a seguinte: cada Tenda tem um chefe de terreiro. como na espiritual. e seus auxiliares. atos idênticos. nessas três Tendas. inclusive as festivas. numa tentativa extrema. o guia poderia tomar conhecimento do caso. agonizava sofrendo. outras reuniões. incluída na de Ogum. as mesmas horas. com cerimônias diárias em suas sedes e nas residências de seus componentes. os presidentes. S. médiuns. Zélio Moraes. na de N. e como a ciência humana se declarasse impotente para socorrê-la. ainda. Há.. e auxiliares de cada Tenda trabalham conjuntamente na Matriz. entre arvores. internas ou externas. Na segunda sexta-feira de cada mês. e nenhum presidente pode submeter ao seu julgamento pedido que não se inspire na defesa e no beneficio do próximo. Anualmente. a falange marítima do Oriente. Para o serviço de suas Tendas. mensalmente. seu pai. da Conceição e no quarto na de N. a Tenda Nossa Senhora da Piedade é a casa humilde dos milagres. a filha de um comerciante de Niterói. médium do Caboclo das Sete Encruzilhadas. suplicou auxílio à modesta Tenda das Neves. em que se revezam os filhos das Tendas de Maria. na sessão. Atacada de moléstia fatal. o Caboclo das Sete Encruzilhadas tem as suas ordens Orixás e falanges de todas as linhas. Responderam-lhe que só à noite. erigida em sítio tranqüilo.. no terceiro sábado. S. Em nenhuma Tenda é lícito realizar qualquer trabalho sem a autorização expressa do “Chefe”. concebida no espaço e executada na Terra. XXV A TENDA NOSSA SENHORA DA PIEDADE Sob a presidência do Sr. Celebram- se. o desconsolado pai encontrou a 61 . uma vigília de vinte e quatro horas. Efetuam-se em certas circunstâncias. as três Tendas fazem um retiro de vinte e um dias. fora da cidade. da Guia. em desespero delirante. Regressando ao lar. E bastam essas anotações para que se compreenda o que é uma organização da Linha Branca de Umbanda e Demanda. mas as produzem muitas vezes. pois ia para o espaço. num inquérito rigoroso. no órgão de Federação Espírita a sua documentação. e o esperassem. a mesa do almoço. depois de fazer constatar o óbito pelo médico. falecendo em menos de vinte e quatro horas. Duas horas depois voltou. o Caboclo das Sete Encruzilhadas. e a moca não só ficou viva. Confiante em seu chefe.filha morta e. disse aos seus auxiliares da Terra. na Tenda de Nossa Senhora da Piedade. os humildes trabalhadores da Tenda da Piedade cumpriram as ordens recebidas. retirar a morta da mesa mortuária. por algum tempo. publicando. estabeleceu a plena veracidade deles. é de vinte e cinco doentes. porém nessa ocasião adoeceu de uma indigestão. mando tratar o enterro. Os espíritos que baixam nesse recinto não procuram deslumbrar os seus consulentes com o assombro de manifestações portentosas. enquanto não negasse o favor de sua ressurreição. e mandou-os que fossem em nome de Jesus. do longo esforço mental. e comunicar-lhe que a misericórdia de Deus. conversando. resolveu apurá-los com severidade. classificando-o na ordem sobrenatural dos milagres. achando aqueles companheiros exaustos. na Tenda da Piedade. Explicou-lhes. na pureza da sua realidade. Meses depois. que lhas exigem as circunstâncias. até desistir de penetrar o misterioso de seu caso. Uma associação de grande autoridade no espiritismo. com suas falanges. para desmenti-los ou confirmá-los sem sombra de dúvida e. socorrer a enferma que lhes pedira socorro. permitia-lhe viver. a situação. manifestando-se. e que lhe constatou o óbito observou-a. como curada. que lhe tratou da moléstia. O médico. para atestar os benefícios do espiritismo. a ressurreta contestou com firmeza. aberta a sessão. No entanto. a ação espiritual que lhe restituir a vida material. A média mensal das curas de obsedados que iriam para os hospícios como loucos. negando-a. então. ainda desconhecedores o desenlace da doença. 62 . sem quebra da corrente. com auxilio das autoridades do Estado do Rio de Janeiro. ao ter conhecimentos desses fatos. à noite. que se concentrassem. . a sua Tenda. merecer a graça de contribuir. Sebastião. da Conceição é a Virgem. dos desígnios do espaço. S. como intermediários materiais. na Tenda que é. da Conceição? Para responder. não se orgulham dos favores que lhes são conferidos e procuram. . ou N.Pois N. a vulgaridade anônima de Agostinho e Sebastião. com doçura e humildade. Mãe de Jesus? . Se a Tenda corresponde a sua finalidade que importa o seu nome? Virgem Maria.Acredito. afirmou o ironista. desse modo.O amigo acredita na Virgem Maria. As prevenções contra a Igreja determinam investidas bravias contra o passado e a mutilação de grandes nomes históricos. DA CONCEIÇÃO Perguntaram ao presidente da Tenda de Nossa Senhora da Conceição: . S. da Conceição.os predicados que o catolicismo exaltou e os centros espíritas reconhecem. mães de Jesus. XXVI A TENDA DE N.Acreditas em N. ele interrogou: . os seus máximos predicados. por excelência. mesmo os que têm posição de revelo na sociedade. na evocação dessas gloriosas figuras. reduzindo teólogos da estatura de Santo Agostinho e mártires do porte de S. Os auxiliares humanos do Caboclo das Sete Encruzilhadas. Ofuscam-se. para a execução na Terra. S.. S. transformando esses iluminados em seus padroeiros e dirigentes espirituais.. 63 . Nossa Senhora da Conceição é uma variante invocativa do nome de Maria. ligando à Terra ao espaço. ou produzir formações fluídicas necessárias ao consolo e a fé daqueles que a procuram no espaço. A essa ríspida intolerância. pelos espíritos das regiões litorâneas. Virgem sem pecado. que N. pois afirmam espíritos que conosco trabalham. prefiro o sábio exemplo de Alan Kardec. Maria Puríssima. e se qualquer entidade. conserva o sentido místico.Maria Imaculada é sempre a imaculada Maria. e Nosso Senhor Jesus Cristo. e pela diversidade dessas invocações não deixa de ouvir o clamor e a prece dos crentes. como o Caboclo das Sete Encruzilhadas. As falanges de N. da Conceição tenha representação visível no espaço. o culto de Maria possui o maior numero de adeptos. na última encarnação. o Salvador. ou como os católicos. ainda. pode-se revestir do aspecto que lhe convenha. Mãe das mães. Se os magnos luzeiros do espiritismo científico e os kardecistas podem invocar Jesus como o Redentor. Mãe Oxum e Iemanjá. pelos que foram. . e para atendê-los em suas súplicas. com a Rainha do Céu. S. como na Federação Espírita. pelo povo do mar. ensinam os espíritos. ou. é claro que Maria poderá assumir a aparência que deseje. invocar a Virgem Maria. da Conceição. pó que não poderemos nós. mesmo para espalhar o mal. chamando São Luiz ao espírito que mais o auxiliou na codificação do espiritismo. qualquer que seja o seu credo. Nossa Senhora. pois sob essa invocação. o médium de Deus. ou. no mundo material devotados a Virgem Maria. mas na Linha Branca de Umbanda. Compreendem essas falanges as entidades que viveram. são as mais numerosas da Linha Branca de Umbanda e Demanda. ou Nossa Senhora da Conceição? Quer a chamemos. como o esplendor da maternidade realçada pela pulcritude (qualidade) virginal. como os filhos de Umbanda. do espaço à Terra. Nossa Mãe amantíssima. nas matas cortados pelos arroios ou rios. e da Terra ao espaço. e pelos que a esses se agregaram por afinidades. essas legiões incontáveis descem e sobem. S. 64 . os humildes. incessantemente. que o resume na Linha. Acredito. e constante. ou terças-feiras. inspiraram a sua fundação. Reduzindo-os ao mínimo de trezentos. e esplendidamente instalada nesta capital. da linha de Oxalá. e o Caboclo Acahyba. a Tenda Estrela do Oriente pode atender. nas experiência de desenvolvimento. de coordenar a ordem material necessária à execução dos trabalhos espirituais. da Linha de Ogum. que raras vezes os elementos de suas falanges podem passar pela Tenda humílima de seu nome. e fazendo cálculo por meses de quatro semanas. presidida pelo Sr. sessenta médiuns de todas as linhas e prepara. mais duzentos e trinta. mais modestamente. XXVII A TENDA NOSSA SENHORA DA GUIA A Tenda de Nossa Senhora da Guia. o delegado humano incumbido. pelo Caboclo das Sete Encruzilhadas. pelo prisma humano. como realmente atende. distribuindo socorros de todas as naturezas. 65 . seu substituto imediato. . aos necessitados de várias espécies. Possui. acrescento que sou o presidente da Tenda de Nossa Senhora da Conceição. oficialmente matriculados nos seus programas. Timbiry da falange do Oriente. Só a sua sessão pública das terças-feiras concorrem consulentes cuja média oscila entre trezentos e trezentos e cinqüenta. e eventuais Yara. Com esses elementos. E. O chefe do terreiro dessa Tenda – presidente espiritual. da Linha de Oxossi. revezando-se na intensidade brilhante de seus trabalhos. Dorval Vaz.é o Caboclo Corta Vento. preenchendo. de modo completo. A exigência da atenção devida aos invocadores de Maria é tão premente. que solicitam amparo e auxílio aos centros espíritas de caridade. ou. já desenvolvidos. é uma instituição primorosa. os fins que. sob a direção de guias vigilantes. pelo dever de assumir a responsabilidade social de minha investidura. e o Caboclo da Lua da linha de Xangô. fundadas e dirigidas pelos grandes missionários do espaço. que foi. é dos mais profícuos. o seu terreiro atesta. o caboclo Acahyba. em defesa de seus componentes. todos pertencentes às grandes falanges da Linha de Oxossi. mil e duzentos necessitados. as extraordinárias. Garnazan. Trabalham em seu terreiro. pela ordem de antiguidade na Tenta. para a escolha e desenvolvimento de médiuns. como se imediato. Possuem. ou quatorze mil e quatrocentos por ano. O labor.conclui-se que a Tenda de Nossa Senhora da Guia socorre. mensalmente. Essa é a mais nova das Tendas do Caboclo das Sete Encruzilhadas. como chefe presidente espiritual o caboclo Jaguaribe. XXVIII AS FESTAS DA LINHA BRANCA Para mostrar. quer sob o de superioridade. de modo eloquente. porém essa citação de modo algum representa a primazia. ou especiais. sem dúvida. e outros estudos. cheias de confiança. uma organização da Linha Branca de Umbanda e Demanda. e o seu advento ainda se liga ao nome do Dr. e mais Gira Mato e Bagi. o caboclo Sete Cores. o obreiro infatigável ao serviço daquele grande missionário. na esfera da realidade terrena. realiza. e o número crescente das pessoas que procuram. ainda. Além da sessão pública. quer sob o aspecto de prioridade. e entre os numerosos centros que funcionam 66 . e as de descarga. as duas sessões de experiências. citei a que melhor conheço. existem em nosso meio. esses trabalhadores tantos auxiliares quantos são os médiuns desenvolvidos. nessa Tenda. Outras. a eficiência espiritual de seus protetores e o generoso caráter dos seus dirigentes humanos. impostas pelas circunstâncias. também semanalmente. a sua última criação. José Meirelles. e como substitutos eventuais. na Terra. quando se tornam precisas. já desencarnado. as finalidades da Linha. são simples sessões comemorativas. Assim. de modo completo. que se expressam em festividades. em dificuldades e caem sob o domínio de entidades que os infelicitam. segundo a Linha que se festeja. há penalidades ásperas. Seis dessas festas têm o caráter de obrigação ritualística. é natural que a transgressão consciente as suas leis. Para os casos especiais.são as dos padroeiros e chefes das linhas. de entidades superiores. também há alegrias. e costuma auxiliar com suas falanges os trabalhadores de boa vontade que o invocam e chamam em suas reuniões. Na Linha Branca de Umbanda e Demanda. 67 . Algumas vezes. e outras pessoas. os culposos são abandonados pelos guias. o modo de realizá-las. convidados. preenchendo. não fique impune. causam danos a outros e prejudicam o conceito da Tenda e da Linha. de intensidade excepcional. a cada passo. além dos médiuns. muitos são ótimos. e creio que os demais protetores não deixam de atender aos apelos de corações honestamente devotados ao serviço do próximo. assiste. neste caso. em nome de Deus. enquanto a alegria religiosa os empolga. comparecem. pela função de quem os comete. assume características especiais. se que o percebam os assistente. outras. variando. . ou para transmitir mensagens de estímulo. em que os erros. porém. e. para conservar um ambiente harmônico. Frequentemente. e esse agrupamento de gente que nem sempre passou pela sessão de caridade. outras Tendas. Em gera. não raro. de efeitos imediatos. fora de sua organização.isoladamente. os seus guias e mais protetores. tropeçam. a festa é realizada pelos espíritos incorporados. comportam a participação de espíritos que incorporam para produzir orações referentes ao dia. A essas festas. O próprio Caboclo das Sete Encruzilhadas. com alocuções e preces. ou pela de descarga. estão efetuando trabalhos que revestem. e sem esse amparo a que estavam habituados. obriga à medidas extraordinárias. Numa instituição da disciplina peculiar à Linha Branca de Umbanda e Demanda. começam a preparar o enfermo para a mudança de plano. empenhando-se para atenuar- lhe a perturbação e encaminhando-o. os protetores. isto é. são indiscretos. Logo que se verifica a fatalidade irremediável do próximo trespasse. que surpreendam em algum cérebro. comentando sem respeito às conveniências sociais. e os do espaço. e de uma grande beleza. mas é íntima. apossando-se dos médiuns. sem caráter obrigatório. são seus participantes forçados. XXIX OS QUE DESENCARNARAM NA LINHA BRANCA Quando desencarna uma pessoa filiada à Linha Branca de Umbanda. as atenções dispensadas ao seu organismo físico passam a ser consagradas ao seu espírito. Nas horas da agonia. com a concentração e as preces. quando se remata vitoriosamente um esforço maios em beneficio do próximo. os seus amigos da Terra. É rigorosamente ritualística. aos destinos que lhe estavam traçados. com habilidade. carinhosamente. depois. para que a morte do seu corpo ocorra sem abalo para o seu espírito. também se realiza. procuram suavizar-lhe o sofrimento. porque eles. certa vigilância. por outros meios. a sua última cerimônia é festiva. aos espíritos e os homens. Acolhem-no depois. como estas. abrangendo apenas os que. 68 . No fim das grandes demandas. uma festa em que se confundem na mesma satisfação. as entidades espirituais que assistiam ao doente agem no sentido de que esse desprendimento seja completo. os companheiros de trabalho e as famílias. quando o espírito se desprende. pelos seus encargos. baixam festivamente às Tendas espíritos que desencarnaram em idade infantil e com os quais é necessário. para que a alma liberta não se ressinta da decomposição da matéria em que viveu. além de carinho fraternal. No encerramento do retiro anual. No dia de Cosme e Damião. procedem como crianças e. no espaço. qualquer pensamento menos nobre ou mais atrevido. por isso. na Tenda matriz. obscuramente laborando. Casos há em que tais protetores trazem as sessões para que esclareçam e orientem os seus herdeiros sobre os seus negócios. para resgate dessas culpas. citarei o caso do conhecido médium curador Bandeira. Os grandes trabalhadores humanos da Linha. que todos os reconhecemos imediatamente. uma ou mais vezes. ele tomou um médium que nunca o vira. Nessa hipótese. Disse.O nosso irmão Bandeira. da Guia e após. purifiquem-se em missões ásperas. ou embrulhados. pelo médium desconhecido. conseguem. Devem. por fim. as restantes. ainda que tenham de afastar-se de nossa atmosfera. depois de abraçar os dirigentes da sessão. a que eles pertenceram na Terra. quando desencarnaram. a sua vinda para a nossa. ou deixaram obscuro. em manifestações carinhosas. conduzido pela falange de Nazareth. os protetores da Tenda. em seguida. sob às ordens de outros. mas a sua incorporação foi tão completa. o chefe do terreiro anunciou: . voltam. nas Tendas do Caboclo das Sete Encruzilhadas. pois combinara com o presidente da Tenda da Guia voltar lá. despedindo-se. às Tendas de seus companheiros. não compensaram suficientemente. caba de baixar. ao invés de padecerem errando no plano espiritual mais próximo do da Terra. Oito dias depois de seu trespasse. às oito e meia da noite. Às nove horas assinalou a sua manifestação na Tenda de N. Bandeira. quando desencarnam. 69 . Certas pessoas cometeram faltas que os seus serviços ao próximo. sofrer no espaço. por ordem do guia. espíritos de pessoas que não os explicaram. celebraram-se sessões à sua memória. ou legados. que tais espíritos. aquelas com as quais manteve relações. que não poderia retardar-se. Nesta. chamou todas as pessoas que frequentavam a Tenda por sua indicação. Na Tenda em que estávamos. para uma reunião de caráter íntimo. por intermédio da Linha Branca de Umbanda. Vencida a emoção do primeiro momento. S. Exemplificando. não ajudá-lo. o aparecimento de pessoas que vão solicitar o auxílio das entidades espirituais para vencer dificuldades ou alcançar vantagens de ordem material. Certos presidentes de sessões e muitos espíritos. Mas. Eu. seguidamente. aborrecendo-se. ou realizando negócios. que os pensamentos dos ambiciosos. Contestou-lhe o iluminado que. ajudam. Perguntou o Sr Allan Kardec ao seu guia se não o auxiliava na vida material. E era verdade. nos trabalhos os guias assinalam. mesmo quando não o confessam.onde deveria dar informações e instruções para assegurar a tranquilidade do conforto material a sua progenitora. seria não amá-lo. ou dos premidos por necessidades materiais. conseguindo empregos. a quem lhes pede socorro dessa natureza. e os espíritos incumbidos de nossa proteção. Somo criaturas materiais. na minha insignificância. e até viciam o ambiente. para não lhe tirar o merecimento da vitória na luta contra a adversidade. devemos fazer a nossa evolução espiritual através de óbices materiais. em horas de amargura. nos centros espíritas. perturbam. num mundo material. os guias. acrescentando que o fazia sem que ele o percebesse. materialmente. 70 . com rigorismo impiedoso. em geral. pessoalmente considero legítimos tais apelos. realmente pouco a exerceriam se não nos ajudassem a remover e dominar esses empecilhos de ordem material. XXX O AUXÍLIO DOS ESPÍRITOS NA VIDA MATERIAL É frequente. respondem que o espiritismo não tem por fim arranjar ou concertar a vida e. assim deve ser com as outras criaturas.” “520. geralmente. as cidades. pela razão de que esses agregados são individualidades coletivas que. O fato positivo é que os espíritos ajudam. Allan Kardec. nada se encontra susceptível de condená-la. As aglomerações de indivíduos. buscam suavizá-la. com aproveitamento das entidades espirituais mais afins com as populações dessas paragens. a quem a sofre. Cotejemos com os seus escritos os princípios da Linha Branca de Umbanda. “Tem. o adiantamento do codificador do espiritismo. e como estas não possuem. carinhosamente. a página 219 do “Livro dos Espíritos” escreve: “519. Se assim era com o Sr. amparando. isto é. por nós expostos no “Diário de Notícias”. as variações de cultura e moral intelectual. atendendo-se. XXXI O KARDECISMO E A LINHA BRANCA DE UMBANDA A Linha Branca de Umbanda e Demanda está perfeitamente enquadrada na doutrina de Allan Kardec e nos livros do grande codificador. são mais diretos e veementes os seus apelos e menos discretos os favores com que as auxiliam os espíritos. precisam de uma direção superior. A organização da linha no espaço corresponde à determinada zona da Terra. com o escudo da fé. quando podem. são uma prova. os homens a vencer as cruezas da vida e quando estas representam a fatalidade inevitável de um destino. caminhando para um objetivo comum. como as sociedades. Os espíritos protetores das coletividades são de natureza mais elevada do que os que se ligam aos indivíduos?” 71 . as nações. ao constituí-la. edição de 27 de novembro de 1932. tem espíritos protetores especiais?”. Allan Kardec. invariavelmente. que de indivíduos. assistidos por espíritos mais ou menos elevados”. pela tradição de nossa raça. seria perfeito. a doutrina resumida nos dez mandamentos e ampliada por Jesus. Julgai-os pelo conjunto do que vos dizem. e os que como tais se apresentam. se suas palavras trazem todo o cunho de sabedoria que a verdadeira superioridade manifesta. e pregam. quer faça parte de um todo coletivo. Entre os protetores da Linha Branca. a página 215 do “Livro dos Espíritos”. Acham-se aí mais à vontade e mais certos de serem ouvidos. Não olvideis que entre eles há os que ainda não se despojaram das idéias que levaram da vida terrena. em suma. como uma sociedade. porém. de acordo com as paixões e o caráter neles predominantes. esclarece: “Julgai. não foram nem caboclos nem pretos. vede se há encadeamento lógico em suas idéias.“Tudo é relativo ao grau de adiantamento. sem o perigo de sermos mistificadores. esses espíritos de caboclos ou pretos. sem solução de continuidade. Portanto. porém. pois. se nestas nada revela ignorância. quando o grau de cultura dos protegidos não exige a assistência de entidades de 72 . alguns não são espíritos superiores. Sabei distingui-los pela linguagem de que usam. que vos inspire confiança”. E quanto as afinidades na mesma página: “Os espíritos preferem estar no meio dos que se lhes assemelham. frequentemente. são humildes e bons. orgulho ou malevolência. Mas como poderemos. que se trate de coletividades. dos Espíritos. as sociedades. confiar em entidades que se apresentam com os nomes supostos? Allan Kardec. e pelas afinidades de nosso povo. uma cidade ou um povo. a página 449 do “Livro dos Espíritos”. Allan Kardec. pela natureza de seus ensinos. e os há também atrasados. Se o vosso mundo fosse inacessível ao erro. e longe disso se acha ele”. Os protetores da Linha Branca de umbanda se apresentam com o nome de caboclos e pretos. ensina: “Fazeis questão de nomes: eles (os protetores) tomam um. É pelas suas tendências que o homem atai os Espíritos e isso quer esteja só. bons. as cidades e os povos são. Ora. ” “. mas as missões são relativas ao fim que visam. porém. na pagina 318 do “Livro dos Espíritos”. lê-se: “525. No mesmo livro. quer de indivíduos”. Quiséramos que nos viessem auxiliar por meio de milagres e os figuramos sempre armados de uma varinha mágica. conforme o conceito de Allan Kardec. nos períodos acima transcritos. Não dais a uma criança.Exercem essa influencia. por outra forma que não apenas pelos pensamentos que sugerem. que está aprendendo a ler. de acordo com o dizer de Allan Kardec. Exercem os espíritos alguma influencia nos acontecimentos da vida?” “Certamente. tratam até de particularidades da vida íntima. Ocupam-se de boa mente com as particularidades da vida íntima e só atuam com ordem ou permissão dos Espíritos Protetores”. Por não 73 . A Linha Branca. com ordem ou permissão dos Espíritos Protetores. prepara um ambiente favorável a operosidade de seus adeptos.grande elevação. que: “são bons. O objetivo da Linha Branca é a prática da caridade e Allan Kardec. na Linha Branca. muitas vezes pouco adiantados e até levianos. Será isso contrário aos preceitos de Allan Kardec? Não. pois vemos. um professor de filosofia”. e em trecho já transcrito explica: “que tudo é relativo ao grau de adiantamento. mas nunca atuam fora das leis da natureza”. isto é. pela ação dos espíritos que a constituem. porém. proclama repetidamente que “fora da caridade não há salvação”. Na página 214 do “Livro dos Espíritos” consta: “A ação dos espíritos que vos querem bem é sempre regulada de maneira que não vos tolha o livre arbítrio” e a página 222 o mestre elucida: “Imaginamos erradamente que aos Espíritos só caiba manifestar sua ação por fenômenos extraordinários. a página 221-222. tem ação direta sobre o cumprimento das coisas?” “Sim. sobre os espíritos familiares. pois que te aconselham. Esses trabalhadores. a página 216 do “Livro dos Espíritos”: “Todo homem tem um espírito que por ele vela. que os espíritos familiares. estão sob a direção de guias de maior elevação. quer se trate de coletividades. no “Evangelho Segundo o Espiritismo”. agem conforme os princípios de Allan Kardec. é que oculta nos parece a intervenção que tem nas coisas deste mundo. Deixam que o façam aqueles que lhe tomam o lugar. o castigo dos médiuns e adeptos que erram conscientemente. A página 213 do “Livro dos Espíritos” Allan Kardec leciona:” “496. expondo-os ao domínio de espíritos maus. Allan Kardec não acreditava na magia. e o glorioso mestre. que deixa de lhe fazer bem. e muito natural o que se executa com o concurso deles”. e esta não é contestada. O espírito. pode fazer-lhe mal?” “Os bons espíritos nunca fazem mal. Mas a magia tem dois processos: o que se baseia na ação fluídica dos espíritos. os caboclos e pretos da Linha Branca de Umbanda. ao que parece. mas porque não quer”. os que as coligiram observam. por exemplo. de estudar esse assunto. em beneficio desta ou daquela pessoa. E adiante. ser assim. A divergência única entre Allan Kardec e a Linha Branca de Umbanda é mais aparente do que real. G. sob a assinatura de P. conserva sempre o seu livre arbítrio”. o encontro de duas pessoas que suporão encontrar-se por acaso. quando intervém nos atos da vida material. inspirando a alguém a idéia de passar por determinado lugar. ??? Símbolos ??? Ritual???? Religião ???? Nas últimas páginas 356-357 de suas “Obras Póstumas’. mas até demonstrada por Allan Kardec. eles obram de tal maneira que o homem. O outro se fundamenta na volatilização da propriedade de certos corpos. Na Linha Branca. que abandona o seu protegido. chamando-lhe a atenção para certo ponto. e a Linha Branca acredita que a desfaz. Assim. quando só as sofreis por culpa vossa”. provocando. “Assim é que. crente de que obedece a um impulso próprio. se disso resultar o que tenham em vista. não teve oportunidade. é o abandono em que os deixam os protetores. Será por não poder lutar contra espíritos malévolos que um Espírito protetor deixa que seu protegido se transvie na vida?” “Não é porque não possa. Laymarie: 74 . na mesma página: “498. ou tempo. Costumais então lançar a conta da sorte as desgraças que vos acabrunham. segundo o ensino tração por Allan Kardec. 4 Leal de Souza.“O Espiritismo é forte. alguns dos princípios do Espiritismo. na página 440 da mesma obra: . pp. nem devemos considerá-la merecedora de nossas zombarias. deviam ser postos em relação com o progresso da ciência em geral realizados nos 20 anos”. mas a sua insignificante discordância com a Linha Branda de Umbanda desaparece. porque assenta nas próprias bases da religião”. e acrescenta. declararam os delegados que.4 XXXII A LINHA BRANCA. divergências mais de forma do que de fundo? Notai que os princípios fundamentais são os mesmos por toda a parte e vos hão de unir num pensamento comum: o amor de Deus e a prática do bem” E o amor de Deus e a prática do bem são a divisa da Linha Branca de Umbanda. “No Congresso espírita e espiritualista de 1890. não podemos esperar que as derrubem os nossos ataques. páginas 449- 450: “Que importam algumas dissidências. Rio de Janeiro. estudos seguidos tinham revelado coisas novas e que. e muitas das conclusões do mestre tem de ser retificadas. que a religião se funda na revelação e nos milagres. a Magia e as Sete Linhas de Umbanda. a religião de origem divina. de 1869 para cá. O Espiritismo. Sendo assim. sobretudo. O CATOLICISMO E AS OUTRAS RELIGIÕES Ensina Allan Kardec. a pagina 434 do “Livro dos Espíritos”. a Igreja Católica pelas suas afinidades com o nosso povo e ainda pelas entidades que a amparam no espaço.101 a 106 75 . 1933. apagada por estas palavras transcritas do “Livro dos Espíritos”. Depois dessa observação transcorreram 42 anos. sobre os quais o mestre tinha baseado o seu ensino. Os filhos de Umbanda respeitam e veneram todas as religiões e. Quanto aos demônios. tão antigo é ele quanto à criação. sem destruí-la. um principio correspondente a esse. a igreja invocará a universalidade das manifestações espíritas para aceitar o espiritismo. servindo ao próximo. e aos seus altares. suas relações. elevando-a a Deus. Estamos convencidos de que se os espíritas estudassem com mais profundeza e com ânimo desprevenido à liturgia da Igreja. acreditamos que o espiritismo triunfará na Igreja. e ai com mais autoridade do que em todas as outras. a emancipação da alma durante a vida. as aparições. compreendendo que na majestade sonora das naves se conjugam todas as artes para favorecer o êxtase e desprender a alma. Ninguém pode inculcar-se como seu criador. salvo a crença de que eles foram destinados a passar perpetuamente no mal”. 76 . pois. esses não são senão os espíritos maus. e nisso não se afasta de Allan Kardec. vai entrar num período luminoso de reflorescimento. entende que o espiritismo trouxe para a Igreja Católica um dogma novo – o da reencarnação. e talvez época surja em que os templos tenham escolas e corpos médiuns. elementos que lhe facilitem a missão de amar a Deus. os anjos guardiões. Encontramo-lo por toda a parte. porquanto nela se nos depara o princípio de tudo quanto há nele: os espíritos em todos os graus de elevação. ocultas e ostensivas com os homens. a sua tradição. que é. as correntes materialistas de nosso tempo e a evidência multiplicada dos fenômenos espíritas. todos os gêneros de suas manifestações. pois a página 442 do “Livro dos Espíritos” lê-se: “O espiritismo não é obra de um homem. revigorado e rejuvenescido por surpreendentes reformas para as quais vão cooperar. e a Linha Branca de Umbanda pede. haveriam de perceber-lhe um sentido oculto. principalmente na religião católica. com o antagonismo de suas diretrizes. além de médico e advogado. Assim como invoca o consenso unânime dos povos para demonstrar a existência de Deus. Sou dos que acreditam que o catolicismo. e até as aparições tangíveis. Canuto de Abreu. o Dr. Procurando penetrar o futuro. reencarnação. Um espírita eminente. um verdadeiro teólogo. Obra terrestre originaria do espaço. a dupla vista. e em todas as religiões. como todas as igrejas. a Igreja Católica está cheia da sabedoria dos iluminados. e para todas as religiões necessárias a evolução humana. com frequência. católica. Os que os combatem alegam que o espiritismo não deve ter ritual e assentam. com seus erros e falhas. nem estes. e Deus estará contigo. é feita mediante um ritual. pois. XXXIII OS BATIZADOS E CASAMENTOS ESPÍRITAS A celebração de batizados e casamentos em centros espíritas tem suscitado vivas discussões entre os adeptos da doutrina. tantos antigos padres. A celebração de um batizado ou de um casamento. nas Tendas espíritas. suprimir-se o que se considere ritualístico. não procura intervir na vida da Igreja para atacar o seu clero. e. qualquer que ela seja. como diante do sacerdote. o casamento e o batismo parecem-me. mesmo na Europa como. Ante a Igreja. porém ao presente. porém. quer padre. como há péssimos presidentes de sessões espíritas. podendo-se. limitando-se a observar que há clérigos ruins. por exemplo. 77 . assim. o prestígio e a eficácia. e que nem aqueles. isso lhe aumentará a força. a Federação Espírita Belga. na Igreja. os realizam instituições de grande responsabilidade. colocando sob a orientação dos espíritos as corporações sacerdotais. entre os seus guias. Voltando. quer pastor. que conta. ou protestante. mas sacramentos. apesar da condenação de muitos núcleos. atingem a Igreja e o Espiritismo. Longe de prejudicar o espiritismo. acrescentemos que a Linha Branca de Umbanda. a sua oposição a tais atos. é de simpatia e respeito a atitude do filho de Umbanda e o conselho que aqui poderíamos deixar aos crentes daqueles templos se resume em poucas palavras: .Segue rigorosamente os preceitos de tua religião. numa confusão originária do conhecimento incompleto da liturgia. não são rituais. dar o nome e pedir para ser batizado. é. docemente. na realização de suas sessões. são esses presidentes. Acharia. em geral. Aliás. e os presidentes dos centros. Desde que adotamos um princípio. nas Tendas. a convite. pois. que o celebra com singeleza e rapidez. sagrados ou referentes à Divindade. Às vezes. Compreendo. mas até comum. acabam transigindo. na realidade. e na Linha Branca não é difícil. Conheço casos de espíritos que há muitos anos trabalham em nossos centros. pelas reminiscências católicas. com frequência transformados em padres sem batina. de modo formal. Não haverá talvez. ou ritual. para que os seus companheiros não recorram aos padres. O Espiritismo. nas Tendas de espiritismo. feito por um espírito incorporado. obedece. o compromisso de 78 . porém. por sua natureza. pelo prestígio atávico das tradições. são tidos como santos. o ritual é o meio. a uma regra. ver o trabalhador do espaço descendo pela primeira vez para integrar-se num núcleo terreno. dando-lhe o caráter de um culto religioso. um ato a que Jesus se submeteu. Exigem os pais do batismo. que a significação religiosa da cerimônia deveria emprestar-se um sentido humano. pois só desejam. numa casa onde se invoca Jesus. simplificá-lo. estão fora do rebanho de Deus. empregando-se tal designação quando esses atos. enquanto não lhes derramam na cabeça a água lustral do batismo. o modo. O batismo. grave engano em admitir que os inimigos do ritual o são apenas aparentes. que aconselham o batismo espírita. tendo a impressão que os filhos. ou pedido deste. Não vejo inconveniente em celebrar. fazerem-se batizar. a celebração desses cerimoniais. por mais que se negue. é natural que procuremos associá-lo aos atos principais de nossa existência. ao que suponho. assumindo os padrinhos da criança. obedecendo a praxes mais ou menos uniformes. não raro. impondo-os. tirando-lhe a imponência e a pompa. pela forca irreprimível do hábito secular. porém. a tolerância dos confrades. Os espíritos. mas já vi um presidente de Tenda batizar um velho trabalhador do espaço. ou a maneira uniforme de praticar certos atos. sobretudo quando a tradição herdada de nossos maiores os ligava a religião e ao templo. pedem para celebrar o batismo das criancinhas. perante os guias. Os próprios materialistas e o Estado leigo reconhecem a necessidade de efetuar o casamento civil com um cerimonial tendente a impressionar fundo os nubentes. libertando de obsessões. deixando o filho em condições desfavoráveis de fortuna. e em menor idade. ou por um espírito incorporado.auxiliar o seu encaminhamento no mundo. não censuro. e o seu objetivo – a prática da caridade. 79 . os centros que o realizam. inconveniência alguma em celebrar casamentos espíritas com certa majestade estética. inspirando-se no exemplo de Jesus. curando as moléstias de origem ou ligação espiritual. para que a recordação sempre nítida dessa solenidade. vibrando na alma de cada um dos cônjuges. por isso. os pais que viessem a falecer. feita pelo presidente do Centro. Em relação ao casamento. numa suplica. explicamos a sua organização no espaço. segundo a cultura e os hábitos dos noivos e os do meio em que se realizam. substituindo. pedindo assistência misericordiosa de Deus para o novo casal. avive. e preparando um ambiente favorável a operosidade de seus adeptos. com o concurso de elementos espirituais afins com os habitantes dessas regiões. anulando os trabalhos da Magia Negra. de acordo com as necessidades de determinadas zonas terráqueas. ao expulsar os vendilhões do templo. a consciência de suas mútuas responsabilidades e deveres para comigo e sua prole. antes aplaudo. Não vejo. geralmente. o seu fundamento evangélico. por largo ciclo de tempo. A celebração nupcial consiste. XXXIV A INSTITUIÇÃO DE UMBANDA Nos artigos sobre a Linha Branca de Umbanda e Demanda. nas circunstâncias várias da vida. como sou dos que entendem que o crente deve em todas as ocasiões solicitar as bênçãos e graças divinas. como pais adotivos. a diversidade de origem deles. a de cada linha. a sua constituição em sete linhas e a formação das falanges que as integram e tornam eficientes. ou centros. ainda. a ação isolada de cada espírito. espíritos dotados de faculdades e poderes extraordinários. nada que se compare. com os seus serviços do plano material articulando-se no plano espiritual. Estudamos os protetores de suas Tendas. Observamos. com certa amplitude. no altar. Mostramos. as causas dos usos de seus atributos. a natureza. uma instituição da Linha Branca de Umbanda e Demanda. por um sistema que a coloca ao nível de qualquer religião regular. Não conhecemos. com a sua organização terrena correspondendo a do espaço. regendo-se. como organização. desses iluminados com que temos estado em contato. em referência as suas últimas encarnações na Terra. definidas. em cada linha. quer para os homens. a necessidade e o efeito dos despachos. às Tendas de Maria do Caboclo das Sete Encruzilhadas. e vimos a grandeza luminosa de seus guias supremos. XXXV O FUTURO DA LINHA BRANCA DE UMBANDA 80 . Constatamos. verificamos ações que se comparam aos velhos milagres consagrados pela auréola. sob inquebrável disciplina hierárquica. no espiritismo. tratando. a sua bondade humilde e o seu alto saber disfarçado em mediocridade. a inspeção constante de vinte e um orixás. e o esforço combinado de todas. E dentro dessa harmonia. a razão pela qual tantas entidades superiores se apresentam como caboclos broncos ou negros ignorantes. quer para os espíritos. e basta citá-las para mostrar que a Linha branca de Umbanda e Demanda é uma grande e legítima instituição religiosa. e as dos apetrechos semelhantes aos empregados pelas linhas adversas. com as responsabilidades e as funções. em cima e em baixo. o rigor de sua hierarquia. a ação da falange. em seguida. A evolução da Linha Branca de Umbanda e Demanda depende e acompanhará a evolução das populações situadas na zona terráquea de sua ação e influência. 81 . à medida que o progresso moral dos homens se acentue. certamente ainda distante no tempo. em que não haverá necessidade de recorrer aos meios materiais para alcançar efeitos espirituais. dentro dos quadros do espiritismo. Nessa idade. para não deixar perecer a lembrança destas épocas de duro materialismo e pesado orgulho utilitarista. de que é reflexo. como os chama o Caboclo das Sete Encruzilhadas. os humildes presidentes e trabalhadores de Tendas. que tão árdua e penosa tornam a missão dos espíritos incumbidos da assistência aos homens. regrada pela sistematização severa que a de agora esboça. porque o tempo não tem limite e o espírito é imperecível. a lentidão das coisas não gera o desânimo. então. será uma instituição de grande fulgor. os falquejadores do grande tronco. em que o aparecimento de caboclos e pretos velhos nos terreiros das Tendas apenas ocorrerá esporadicamente. o seu plano terreno no alto plano do espaço. no comprimento de uma tarefa muitas vezes superior aos seus méritos e energia. articulando. como trabalhadores da Linha Branca de Umbanda. obriga a exercê-los de conformidade com as circunstâncias decorrentes da atuação de forcas espirituais e camadas fluídicas maleficamente empregadas. raiará o esplendor dessa aurora? Esperemo-lo. terá aprimorado a sua organização atual e. ou a natureza de suas manifestações. Quando. os sofrimentos e as calúnias que afrontaram na Terra. Tanto mais decline a magia em suas operações danosas à criatura humana. esclarecendo e amparando o próximo. sob o ponto de vista espírita. A Linha. porém. a quebrar o orgulho mental e mundano de nosso tempo. também. adaptando meios novos de servir a Deus. cada vez mais. há de vir e. hoje incompreendidos e injuriados. para quem se coloca na sua ação espiritual no mundo material. a Linha Branca acompanhando-o modificará o caráter. no espaço. Por mais que tarde. confiantes. Destinada. Dia virá. libertos da matéria. quanto mais se simplificarão os processos da Linha Branca. abençoarão. tomam um desenvolvimento assombroso. a Linha Branca na região terreal de sua influência. na defesa da humanidade. sob o impulso da exasperação dos piores sentimentos humanos. será. acumulando-se ininterruptamente através de numerosas gerações. que hoje se encapela em ondas espumantes de oceano em tempestade. 82 . A Linha Branca de Umbanda e Demanda é um dos elementos de reação e defesa com que o Espiritismo. Esse terrível surto do mal tem de ser quebrantado. Os institutos mais inferiores. a parte mais penosa da Demanda. competindo-lhe. irrompem com a fúria das torrentes represadas. que embalsama. pois tem de se agir com a flor. por tanto tempo reprimidos por sentimentos assentes em preconceitos fundamentados em princípios religiosos. tem de dominar essa avalanche tumultuaria e arrasadora. ao lado das religiões espiritualistas. E. derribadas essas convenções pelos abalos sociais dos últimos decênios. na manjedoura de Belém. o azul lago placidamente refletindo as luzes do céu. e a Linha Branca. seja permitido ao humilde filho de Umbanda enviar saudações e votos de paz no seio de Cristo. irritados até a revolta pelas amarguras econômicas oriundas dos erros e crimes do egoísmo de indivíduos e povos. Presentemente. entre as hostilidades e as desconfianças de alguns de seus aliados no amor a Deus e na prática do bem. na bonança. pois que estas linhas serão publicadas na manhã que nos recorda o sorriso de Jesus infante. com uma súplica fervorosa pelo bem estar daqueles que se privam do conforto da fé. as forças maléficas que a Linha Branca tem de enfrentar. ameaçando o mundo de uma subversão moral completa. e com a espada. que afugenta. e desconhecem Deus. aos crentes e sacerdotes de todos os templos.
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