02_Resumos_Cérebro

March 29, 2018 | Author: Alimorg | Category: Synapse, Human Brain, Neuron, Cerebrum, Nervous System


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Cérebro4. Elementos estruturais e funcionais do sistema nervoso O sistema nervoso é constituído por um conjunto de estruturas que, integradas, são responsáveis pelos nossos comportamentos: desde os mais simples (os reflexos) aos mais complexos, como o pensamento, a memória, a imaginação e a linguagem. Existem três mecanismos do Sistema Nervoso:  O mecanismo de receção é constituído pelos neurónios aferentes ou sensoriais, que têm a função de transportar a informação dos diversos recetores sensoriais até ao centro nervoso;  O mecanismo de conexão é constituído pelos neurónios de conexão ou interneurónios, que têm como função o transportamento da informação recebida pelos mecanismos de receção;  O mecanismo de reação é constituído pelos neurónios eferentes ou motores, que têm como função transportar a resposta elaborada pelos mecanismos de conexão até aos órgãos efetores ou motores (isto é, músculos e glândulas). Neurónio Como todos os outros tecidos, o sistema nervoso é constituído por células. No caso particular do sistema nervoso podemos encontrar dois tipos principais de células: os neurónios e as células gliais. Os neurónios são células especializadas responsáveis por grande parte das funções do sistema nervoso. As células gliais facultam os nutrientes (como o oxigénio e a glicose) que alimentam, isolam e protegem os neurónios. São estas células que controlam o desenvolvimento dos neurónios ao longo da vida. Hoje em dia dá-se bastante importância a estas células porque se descobriu que estas influenciam de forma decisiva a comunicação cerebral, o funcionamento das sinapses e outras funções que afectam o funcionamento de sistema nervoso. Têm um papel fundamental no desenvolvimento do cérebro no período fetal e na maturação dos neurónios. São, também, as células gilais que determinam quais os neurónios que estão aptos a funcionar correctamente e que asseguram a manutenção do ambiente químico que os rodeia. Constituição do neurónio Nos neurónios podemos distinguir três componentes distintas: o corpo celular, as dentrites e o axónio. a maior parte dos contactos é feita através da sua arborização terminal. o que lhes permite exercer influência sobre um grande número de outras células. Estas ramificações múltiplas recebem e transmitem informação de e para outras células com as quais o neurónio estabelece contactos. isolam as fibras umas das outras. e fabrica proteínas sob o controlo do ADN presente no núcleo celular. por outro. Há axónios que estão envolvidos por camadas de mielina (substância branca de matéria gorda) e outros que são só constituídos por substância cinzenta. Axónio O axónio é o prolongamento mais extenso do neurónio e transmite as mensagens de um neurónio a outro ou entre um neurónio e uma célula efetora muscular ou glandular. Embora raros. É o centro metabólico do neurónio. O axónio. . Do corpo celular saem dois tipos de prolongamentos: as dentrites e o axónio. por um lado conduzem as mensagens a uma maior velocidade e. O tamanho dos axónios é variável. há neurónios com mais do que um axónio. Dentrites As dentrites são extensões do corpo celular e assemelham-se aos ramos de uma árvore. no entanto. Ao conjunto de fibras nervosas envolvidas por uma membrana dá-se o nome de nervos. Aqueles que têm maior diâmetro são os que permitem velocidades mais elevadas. Graças às dentrites. Recolhem e conduzem as mensagens da periferia para os centros nervosos: espinal medula e encéfalo. assim como a velocidade da transmissão de informação.Corpo celular O corpo celular contém o núcleo. constituem uma fibra nervosa. Tipos de neurónios Podemos distinguir três tipo de neurónios quanto às suas funçoes:  Os neurónios aferentes ou sensoriais – são afectados pelas alterações ambientais e activados por estímulos com origem interior ou exterior do organismo. O axónio pode ramificarse ao longo da sua extensão para entrar em contacto com outros neurónios. Os axónios que estão envolvidos por mielina. O axónio prolonga-se a partir do corpo celular e termina num conjunto de ramificações semelhantes a uma raíz (as telodentrites ou terminais axónicas). e certas dentrites do neurónio. Assim se explica a cor cizenta da camada exterior do cérebro e a cor branca do seu interior. o neurónio apresenta uma maior superfície de recepção e emissão de mensagens. que é o armazém de energia da célula. Ao nível da sinapse. responsáveis pelas respostas) . a energia é eléctrica. que se designa por pré-sináptico ou nerónio emissor. O processo que ocorre quando há um informação a ser transmitda é o seguinte:      as dentrites captam o estímulo. A actividade destes neurónios torna possível a capacidade intelectual. ramificações axónicas. A sinapse é uma junção funcional em que ocorre a transmissão de informação entre dois neurónios ou entre um neurónio e uma outra célula. o Saída . Os neurónios de conexão ou interneurónios – interpretam as informações e elaboram as respostas. que tem por função a troca de informações entre dois neurónios. é através da sinapse que as mensagens são transmitidas. A sinapse. gera-se um impulso nervoso. o impulso nervoso é transmitido ao axónio e conduzido às as ramificações dos axónios aproximam-se das dentrites do entrada nos neurónios vizinhos. neurónio vizinho transmitindo o sinal através da sinapse.os músculos e glândulas. a membrana pós-sináptica (localizada na dentrite ou corpo celular do neurónio receptor) e a fenda sináptica (espaço cheio de líquido compreendido entre os neurónios).  Os neurónios eferentes ou motores – transmitem as mensagens dos centros nervosos para os órgãos efectores (isto é. as capacidades comportamentais entre outras funções. as emoções. Na sinapse estabelece-se uma comunicação entre um prolongamento do axónio do neurónio. As membranas dos dois neurónios não estão em contacto directo: estão separadas por uma fenda. põe em comunicação três componentes fundamentais: o botão pré-sináptico (a terminação axónica do neurónio emissor). O papel do sistema nervoso consiste em transmitir sinais. mensagens de um grupo de neurónios para o outro. A energia nervosa é de dois tipos: eléctrica e química. passa pelo corpo celular e percorre o axónio. que se designa por pós-sináptico ou neurónio receptor. os sinais que podem ter origem os sinais são integrados. Sinapse e comunicação nervosa Não existe uma relação física entre os neurónios. Ao nível das dentrites. com a membrana ou a dentrite de outro neurónio. A informação que circula ao longo dos neurónios designa-se por influxo nervoso. que se designa por fenda sináptica. Comunicação nervosa Os nossos neurónios estão organizados em redes e trocam informações sob forma de descargas eléctricas e químicas que atravessam biliões pontos de comunicação. Quando um neurónio é estimulado. o organismo. atravessam a fenda sináptica e são captadas pelos receptores situados na superfície do neurónio pós-sináptico. Na terminação pré-sináptica existem uma pequenas esferas chamadas vesículas sinápticas. se libertam na fenda sináptica. que circulam nos nervos. o influxo. Estas vesículas contêm substâncias químicas que. pois estas membranas têm diferenças de permeabilidade. e assim sucessivamente. designa-se por influxo nervoso. que é constituído pelos nervos sensoriais e pelos nervos motores. por processos electroquímicos. Esta corrente. Os neurotransmissores são substâncias químicas que estabelecem contacto com as células vizinhas sobre as quais provocam respostas eléctricas pela inibição ou pela excitação. O sistema nervoso central O sistema nervoso central (SNC) é o subsistema do sistema nervoso que processa e coordena as informações e é constituído pela espinal medula e pelo encéfalo. é uma “corrente eléctrica” que é transportada por um fluxo de iões através de um líquido. O sistema nervoso periférico divide-se em dois tipos de sistema nervoso periférico: o sistema nervoso somático.impulso nervoso transforma-se em energia química por efeito de moléculas que se designam por neurotransmissores. para a necessidade de energia) e pela divisão parassimpática (que se encarrega do repouso do corpo). O sistema nervoso central tem dois centros nervosos: a espinal medula e o cérebro. A mensagem. 5. composto pela divisão simpática (que prepara o corpo. as suas características eléctricas ou químicas alteram-se produzindo uma corrente. Pode-se falar de mensagem porque o influxo nervoso é uma instrução dada à célula que o recebe para fazer qualquer coisa. Podemos . por sua vez. que se designam por neurotransmissores ou transmissores sinápticos. O funcionamento global do cérebro Podemos distinguir dois subsistemas do sistema nervoso: o sistema nervoso central (que processa e coordena as informações) e o sistema nervoso periférico (que conduz a informação da periferia para os centros nervosos e as respostas destes para a periferia). sob o efeito da actividade eléctrica do axónio. constituída por impulsos nervosos. Este. portanto. As substâncias químicas. O influxo nervoso depende das características da membrana que envolve o axónio. A espinal medula encontra-se no interior da coluna vertebral e o encéfalo na caixa craniana. e o sistema nervoso autónomo. para o desgaste. As mensagens nervosas ocorrem. A função principal do neurónio é a transmissão de impulsos nervosos. envia um influxo eléctrico à sinapse seguinte. A função de coordenação remete para a responsabilidade em coordenar a actividade reflexa. Encéfalo O encéfalo encontra-se localizado no interior do crânio. também. por exemplo. que controla os movimentos voluntários. involuntária e automática a um estímulo. que desempenha um papel importante na atenção. memória. é importante referir pela ligação que tem com hipotálamo. . É constituído por um conjunto de estruturas especializadas que funcionam de forma integrada para assegurar unidade ao comportamento humano. A espinal medula também tem a função de condução: transmite mensagens do cérebro para o resto do corpo e vice-versa.  O cortéx cerebral. sono e estado de alerta. A espinal medula conduz. etc.  A formação reticular. Estruturalmente é um prolongamento do cérebro. que os conduz ao cérebro. etc. que liga os dois hemisférios. A dor. o pensamento.  A hipófise.afirmar que todos os nossos comportamentos são controlados por estas duas grandes estruturas. pois faz parte do sistema endócrino. o impulso sexual. a fome a sede. que processará estas informações em áreas específicas. a percepção.  O tálamo. regula o sistema endócrino. A importância da espinal medula torna-se mais evidente quando ocorre uma lesão provocada por um acidente ou por uma doença. desempenhando duas funções fundamentais: de coordenação e de condução. que recebe e transmite informação de e para o cortéx cerebral.  O cerebelo.  O corpo caloso. O acto reflexo é a forma de comportamento mais elementar dado que é uma resposta imediata. Espinal medula A espinal medula é uma estrutura constituída por substância branca no exterior e cizenta no interior. cujos efeitos podem levar mesmo à paralisia total. que coordena os movimentos e assegura a manutenção do equilíbrio. as respostas processadas pelo cérebro. que funciona em relação directa com a hipófise. protegido por um conjunto de três membranas que são as meninges. que apesar de não ser uma estrutura do sistema nervoso central. aos músculos para produzirem o movimento. a temperatura e o toque recebidos pelos órgãos receptores são transportados pelos nervos sensoriais à espinal medula. As estruturas mais importantes que constituem o encéfalo são:  O hipotálamo. Chegou mesmo a ser produzido um mapa onde era indicado o espaço para cada emoção. Os dois hemisférios controlam a parte oposta do corpo. pela linguagem verbal. No cérebro é mais difícil reconhecer as modificações que acompanham estas e outras emoções. as paixões. residiam no coração (Egípcios). com o aumento do ritmo cardíaco. é o hemisfério direito que é responsável pela carga emocional que pomos no discurso. eram no coração que se sentia. a alma. Funcionamento sistémico do cérebro Antigamente pensava-se que o cérebro apenas servia para controlar o sono e baixar a temperatura (Aristóteles). porque os feixes nervosos que conduzem as instruções até aos músculos cruzam-se no percurso. a percepção das formas. o ser humano apresenta um cérebro dividido em dois hemisférios: o hemisfério esquerdo e o hemisfério direito. Por exemplo. pois apesar de ser o hemisfério esquerdo o responsável pela produção do discurso. porque as experiências pessoais que envolvem sentimentos como o medo. Estes estão separados por uma fissura longitudinal e ligados por um sistema de fibras nervosas chamado corpo caloso. as relações espaciais. como um sistema. nos seres humanos cada um dos hemisférios especializou-se em funções diversas – é o que se designa por lateralização hemisférica. . o hemisfério esquerdo é responsável pelo pensamento lógico. que controla as funções vitais como o ritmo cardíaco. sentimentos e pensamentos. Assim. O bolbo raquidiano. pelo cálculo e pela memória. Hoje em dia sabe-se que o hemisfério esquerdo e hemisfério direito têm funções diferentes mas funcionam como um todo. em que as duas estruturas têm funções semelhantes. os sentimentos. Apesar destes pequenos avanços. a verdade é que estas teorias estavam todas erradas. São os frenologistas que vão defender a relação íntima entre o cérebro e as características da personalidade e do temperamento das pessoas. Hemisférios cerebrais Tal como todos os mamíferos. pelo discurso. aquilo que nos permite fazer um discurso com a entoação apropriada ao que estamos a dizer é o funcionamento sistémico do cérebro. a respiração e a pressão arterial. por exemplo. o hemisfério direito controla a formação de imagens. O córtex cerebral é a camada cinzenta que cobre os hemisférios cerebrais e onde residem as capacidades superiores dos seres humanos. Ao contrário dos animais. daí falar-se em funcionamento sistémico do cérebro. É natural que esta concepção vigorasse durante tanto tempo. a angústia. que os pensamentos. das cores. os desejos. Os frenologistas foram os primeiros a afirmar que o estudo da mente humana se deve basear no conhecimento biológico do cérebro. das tonalidades afectivas e o pensamento concreto. Lobos occipitais Os lobos occipitais estão localizados na parte inferior do cérebro. esta área é também designada por córtex visual. Por isso é que o mesmo objecto não é percepcionado da mesma forma por toda a gente. parietal. porque processa os estímulos visuais. . Coberta pelo córtex cerebral. A área primária é uma área funcional e a área secundária é uma área de integração. É constituída por uma área visual primária. nalguns casos. identificar cães.e. o estímulo passa pela área primária mas passa pela área secundária (p. o seu funcionamento é complementar. as caras de pessoas conhecidas. O córtex é uma membrana que envolve o encéfalo.Apesar dos dois hemisférios terem funções especializadas. por exemplo. estas áreas actuam de forma coordenada e complementar para realizarem determinados processos. vemos e não sabemos o que estamos a ver). atribuímos significado a uma expressão verbal. as nossas expectativas. O córtex visual comunica com outras áreas do cérebro que dão significado ao que vemos tendo em conta a nossa experiência passada. que processa os dados visuais recebidos do exterior (depois de terem passado pelo tálamo). Apesar da sua especialização. a uma conversa. palavras e. Portanto. mas é o direito que dá a entoação ao que se diz. Cada um dos lobos integra áreas corticais com funções determinadas. automóveis. occipital e temporal – que são responsáveis por funções específicas. e por uma área visual secundária. também chamada de área visual de associação. que consiste na impossibilidade de reconhecer objectos. Lobos cerebrais Cada hemisfério cerebral é composto por quatro lobos – frontal. É graças ao funcionamento integrado dos dois hemisférios que. por exemplo. de interpretação. se há uma lesão na área secundária. onde a informação recebida é comparada com os dados anteriores permitindo. entre outras coisas. Uma lesão nesta área provoca a agnosia. É o hemisfério esquerdo que permite a produção do discurso. atribui-lhes um significado. o reconhecimento dos objectos através do tacto. tendo como principal função processar os estímulos auditivos. desempenha um papel importantíssimo na produção do discurso. interpreta e integra as informações recebidas pela área primária. São responsáveis pelas actividades cognitivas. em interacção com outras zonas do cérebro. está localizada a área de Broca. a área auditiva primária tem como principal função processar os estímulos auditivos recebidos. a memória de trabalho. O córtex motor é responsável pelos movimentos da responsabilidade dos músculos. É esta área que nos permite compreender o que os outros dizem e que nos faculta a possibilidade de organizarmos as palavras em frases sintacticamente correctas. o pensamento abstracto. etc). responsável pela linguagem falada e pelo discurso articulado. entre outras coisas. temporal e parietal. na regulação das emoções. Assim. na fronteira com o lobo temporal. permitindo-nos reconhecer o que ouvimos. os lobos frontais são constituídos por uma área motora primária. . responsável pelos movimentos do corpo.Lobos temporais Os lobos temporais estão localizados na zona por cima das orelhas. pelas capacidades superiores do homem (como a planificação de actividades. sendo assim responsável por receber os estímulos que têm origem no ambiente. situada na zona onde convergem os lobos occipital. A zona anterior (área primária) tem como função possibilitar a recepção de sensações. Lobos parietais Os lobos parietais estão localizados na parte superior do cérebro e são constituídos por duas subdivisões – a anterior e a posterior. permitindo-nos a localização do nosso corpo no espaço. Existe uma relação entre esta área e a área de Wernicke: antes de se produzir qualquer discurso. que coordena e organiza os movimentos corporais. as palavras são seleccionadas pela área de Wernicke e depois passadas para a área de Broca que as traduzirá em sons que serão traduzidos em movimentos adequados a produzir o discurso. Área de Wernicke A área de Wernicke. e por uma área motora secundária. A área posterior (área secundária) dos lobos parietais analisa. como a dor ou a temperatura do corpo. No final do lobo frontal. o raciocínio completo. também. Assim. Lobos frontais Os lobos frontais estão situados na parte da frente do cérebro. Intervêm. A área auditiva secundária recebe os dados e. Através das suas investigações sobre lesões frontais. que a emoção está intimamente relacionada com as escolhas racionais. Para além das crises de epilepsia esporádicas. planear o futuro. devido a um tumor. Estas áreas são o grande organizador do pensamento reflexivo e da imaginação. acabou por recuperar e sobreviver durante mais uns anos.Papel das áreas pré-frontais As áreas pré-frontais estão intimamente relacionadas com a memória. foi alvo de estudo de um casal de investigadores: António e Hanna Damásio. manteve as suas capacidades motoras. as áreas pré-frontais envolvem complexas relações com as emoções. Este homem. Damásio explica que as relações entre o córtex pré-frontal e as emoções se dão nos dois sentidos: o córtex apoia-se nas informações emocionais para tomar decisões adaptadas. ainda. reflectir. através de técnicas de simulação informática. Assistido num hospital. tomar decisões. para além das funções referidas. Antes era um homem calmo. Contudo. coloca a hipótese de as emoções e as capacidades de reflexão estratégica estarem relacionadas. Caso de Phineas Gage e de Elliot Phineas Gage. que se manifestaram sobretudo por uma grande indiferenção afectiva – face à sua família e amigos não demonstrava qualquer sentimento. António Damásio. o seu cérebro foi conservado e na década de 90. permitindonos recordar o passado. ficou com uma barra de ferro espetada na cabeça. que a emoção pode ser um guia das nossas escolhas. A zona verdadeiramente afectada era a que estava situada mesmo na fronte. face a estes sintomas. Parecia também incapaz de gerir a sua actividade. num acidente de trabalho. as consequências do acidente e constataram que as áreas responsáveis pelos movimentos e pela linguagem não tinham sido afectadas. educado. resolver problemas. Depois de ter falecido. As investigações Os dois investigadores vão comparar este acidente com um caso de um dos seus doentes: Elliot. Por outro lado. tem um papel . enfurecido. A sua personalidade sofreu grandes alterações. a sua personalidade sofreu alterações profundas. trabalhador. podendo perder horas com questões insignificantes ao mesmo tempo que se esquecia de actividades importantes. Depois do acidente passou a ser um homem sempre irritado. etc. pelo que não apresentava qualquer anomalia a nível de motricidade ou linguagem. Reconstituíram. Contudo. grosseiro. assim. Defende. Diz. antecipar acontecimentos. bem como as intelectuais. teve de retirar uma parte do córtex. como uma rede funcional. acabam por recuperar a capacidade perdida. Mas. esta especialização não nos pode conduzir a uma perspectiva que defende uma localização de forma compartimentada. a construção do córtex cerebral. Isto deve-se à plasticidade. estamos perante uma indiferença afectiva ou. Se ocorre uma ruptura entre o centro emocional – sistema límbico . ou seja. Ao nascer. devido a um acidente cerebral. uma concepção que constata que o cérebro funciona como um todo. Especialização e integração sistémica Apesar de haver zonas cerebrais especializadas em determinadas funções. Auto-organização permanente É a partir de células primitivas. dependem do funcionamento integrado de várias áreas cerebrais. o bebé tem todas as áreas corticais formadas. O córtex controla as nossas pulsões e impulsos impedindo-nos de reagir de forma desadequada a uma situação como beber antes de conduzir. então. Assim. A este fenómeno de divisão das células chama-se corticalização. É graças a esta função que pessoas que perderam a fala (afasia). descobre-se que a linguagem. constata-se que uma informação perdida devido a uma lesão pode ser recuperada por uma área vizinha da zona lesionada. Nos primeiros seis meses de vida produzem-se mais modificações na estrutura do córtex do que em qualquer outro período do desenvolvimento. que se originam as células nervosas. O número de contactos ao nível do córtex cerebral aumenta de maneira impressionante. É o que se designa por função vicariante ou de suplência do cérebro. perante uma falta de controlo sobre as emoções. Após o nascimento assiste-se a uma produção impressionante de ramificações que permitem às células desenvolver contactos com as outras células. o que não quer dizer que o desenvolvimento cerebral esteja concluído. Podemos então concluir que o cérebro funciona de uma forma sistémica: é um conjunto complexo de elementos em que as componentes especializadas que o constituem são interdependentes.inibidor de emoções. Os neurónios dividem-se estabelecendo entre si um número incalculável de ligações. entre outras competências e capacidades. Além disso. a redundância das funções cerebrais explicam o facto de outras regiões do cérebro poderem substituir as funções afectadas pelas lesões cerebrais. se a informação não se estabelece entre as duas áreas. . modificou-se a ideia de funcionamento: a uma concepção que privilegia a localização das funções de forma compartimentada opõem-se.e o córtex frontal. A evolução dos conhecimentos conduziu à identificação de funções desconhecidas bem como à redistribuição das que já se tinham identificado. chamadas neuroblastos. funcionam de forma integrada. fundamentalmente. actualmente. a aprendizagem e a memória. no entanto. então. demonstrou-se que os violinistas têm a zona que comanda os dedos localizada no hemisfério esquerdo (que controla a mão direita) mais desenvolvida do que as outras pessoas. Para além do factor aleatório na formação das redes neuronais. entre outras situações (sobretudo se estas ocorrerem em determinados momentos do desenvolvimento cerebral do feto).As várias capacidades humanas dependem da selecção do que poderíamos designar por boas conexões. Isto não altera. As funções do organismo. muitas vezes. Por exemplo. É um processo de selecção em que se anulam as conexões que não são necessárias e se retêm as eficazes: umas são eliminadas. que envolve elementos afectivos. Nos estádios de desenvolvimento cerebral do feto. Contudo. É o que se designa por epigénese. a ideia de que o desenvolvimento do cérebro ocorre sempre pelo crescimento em número dos neurónios e das sinapses. isto é. a configuração global do cérebro. Podemos dizer que o efeito dos genes e dos estímulos do meio ambiente actuam de forma concertada no sentido de desenvolvimento cerebral. as experiências do sujeito cristalizam-se sob a forma de ligações sinápticas entre neurónios. Este é. O processo de selecção das redes neuronais está relacionado com o potencial genético característico da espécie que possibilita o desenvolvimento cerebral num dado sentido. Estabilidade e mudança nos circuitos sinápticos Existe. Há como que um processo de moldagem que não se limita a esta fase: mantém-se ao longo da vida. sociais e culturais. através da placenta. os comportamentos. simplesmente dá mais importância a essa função e. Podem ocorrer graves deficiências mentais se a alimentação da mãe for insuficiente. Tal não significa que esteja determinado geneticamente (como prova o facto de os gémeos homozigóticos não terem as mesmas conexões sinápticas). Depois do nascimento. influencia de forma significativa o desenvolvimento do cérebro e as reacções às estimulações gustativas. a selecção das conexões nervosas depende das condições do meio intra-uterino. define o carácter único da estrutura das redes neuronais. outras consolidam-se. um processo auto-organizado. . tácteis e auditivas. a morte de neurónios e a eliminação de sinapses é uma das formas de selecção das redes neuronais. A comunicação química com a mãe. portanto. tem características próprias. estas dependem de factores epigenéticos que decorrem da relação com o meio e que reflectem a história de cada indivíduo. dos circuitos sinápticos. O papel do meio após o nascimento vai ter também um papel decisivo no desenvolvimento do cérebro: os estímulos que são assimilados conduzem a processos de adaptação que se reflectem na formação do cérebro. sempre que os neurónios se modificam quanto à forma e dimensão em resposta à estimulação ambiental. Esta história pessoal. assentam nestas redes neuronais (daí a sua importância). se viver em estados de perturbação psicológica. de amadurecimento pós-natal. nem mesmo os dos gémeos homozigóticos. a plasticidade do cérebro. uma maior capacidade de aprendizagem. das acções. é lento. Não há duas personalidades iguais. inacabado. E é precisamente essa lentidão que lhe vai trazer vantagem ao possibilitar a influência do meio e. Isto significa que a relação que o ser humano estabelece com o meio produz modificações no sentido de uma adaptação cada vez mais eficaz. modificando-se sob o efeito da experiência. Uma parte dessas diferenças está pré-programada pela diferente expressão dos genes que conduzem a diferentes desenvolvimentos dos tecidos nervosos. a constituição cerebral que leva à individuação. É o carácter embrionário do cérebro. É. dos comportamentos. Plasticidade e aprendizagem Durante muito tempo considerou-se que a organização cerebral e o funcionamento do sistema nervoso central eram definidos geneticamente.6. O carácter imaturo do cérebro humano prolonga-se. . o ser humano apresenta um cérebro imaturo. assim. O principal motor da individuação é. Seria um programa genético predeterminado que definia a estrutura e as funções das várias áreas em todos os indivíduos da espécie humana. Há. das percepções. As descobertas mais recentes vieram demonstrar que o cérebro é muito mais maleável do que até então se imaginava. As pessoas distinguem-se pela estrutura das suas aptidões mentais. porque. não havendo nenhum cérebro igual a outro. de resposta aos estímulos do meio. o seu inacabamento. de distinção. que permite a adaptação biológica do indivíduo. consideradas imutáveis. portanto. e tem a sua própria constituição cerebral (nem mesmo os gémeos homozigóticos têm a mesma constituição cerebral). entre outros factores. produz modificações sinápticas e a renovação de neurónios no indivíduo. a sua capacidade para se modificar ao longo da vida por efeito das experiências vividas pelo sujeito. A necessidade de adaptação. assim. O processo de desenvolvimento. Esses processos são também influenciados pelas experiências dos indivíduos. assim. pois cada indivíduo é único. um processo de individuação. os seus cérebros têm formas diferentes. mesmo no estado adulto. O que caracterizava o cérebro era a estabilidade das sua conexões. ao longo da vida tornando-se uma vantagem. então. O cérebro e a capacidade de adaptação e autonomia de ser humano Lentificação do desenvolvimento cerebral Ao nascer. desde as intra-uterinas até todas as outras que decorrem ao longo da sua vida. que ultrapassa as definições genéticas. Individuação cerebral O cérebro é um órgão que apresenta múltiplas configurações. assumem as funções das áreas danificadas. geralmente situados nas zonas vizinhas.Estas modificações ocorrem principalmente nos primeiros meses de vida. Esta tem duas vertentes: a capacidade de matar redes neuronais e construir outras novas. . É este carácter plástico do cérebro humano que o disponibiliza para a aprendizagem. a forma como o cérebro responde quando determinadas áreas sofrem lesões que comprometem as suas capacidades: outros neurónios. e a capacidade de áreas do cérebro vizinhas de uma área lesionada substituirem as suas funções (função vicariante). Esta constatação veio provar a neuroadaptabilidade do cérebro. a capacidade do cérebro de se remodelar em função das experiências do sujeito. As investigações Uma das várias experiências que demonstra a plasticidade do cérebro são os estudos sobre cegos. então. há outras manifestações de plasticidade cerebral. Contudo. Para além destes exemplos. esta capacidade de se modificar. que controla a linguagem. A constatação de que o cérebro se modifica consoante as necessidades de resposta do indivíduo ao meio. acompanhou uma criança que esteve sequestrada pelo pai durante 13 anos e que não falava. a área não ocupada pela ausência de informações visuais. Conclui-se que a região do córtex somatossensorial lateral aumenta muito de volume como reacção aos movimentos do dedo que lê as letras em relevo. na área da linguística. desenvolveu muito lentamente a linguagem. A ausência de estimulação para a aquisição da linguagem no momento adequado impedira o cérebro de desenvolver as estruturas próprias. Submetida a um treino específico Gennie. As conclusões destes estudos foram ainda mais longe: as informações provenientes do dedo que lê Braille activavam também as partes do córtex visual. Deduziram. designa-se por plasticidade. Esta maleabilidade do cérebro. portanto. como forma de adaptação. em função da aprendizagem. estava menos desenvolvida. a menina. Com a sua equipa. A plasticidade cerebral é. Uma investigadora. este investigador analisou o efeito produzido no cérebro de cegos adultos que começaram a apreender Braille. este processo decorre ao longo da vida. que nos cegos adultos as novas conexões neuronais ocupam as áreas disponíveis não utilizadas. Através de testes neurológicos descobriu que a área esquerda do cérebro. orientados pelo neurologista Álvaro Pascual-Leone. Por exemplo. neste caso. Outros dados foram trazidos pelo estudo de crianças selvagens. quando o córtex está a organizar-se e em crescimento acelerado.
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