01 Onde Vivem Os Monstros...Entre Dissociações e Reparações Gleice Lemos Frioli

March 18, 2018 | Author: Renan Reis Freitas | Category: Aggression, Mind, Thought, Psychoanalysis, Love


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'Onde vivem os monstros'...entre dissociações e reparações Gleice Lemos Frioli RESUMO: Por intermédio da teoria de Melanie Klein, traço um paralelo entre a psicanálise e o mundo interior e onírico do menino Max, personagem do livro e filme “Onde vivem os monstros”, que ao lidar com seus ‘monstros’ internos descobre o quanto as inter-relações são difíceis e complexas, assim como a ‘convivência’ de nossos aspectos internos; contudo, Max ao enfrentar esses monstros, descobre muitas outras possibilidades de ser e agir, fazendo a reparação de seus atos, integrando partes de si e, desse modo, crescendo e aprendendo, num processo de organização de seu aparelho psíquico, ilustrando tão bem as oscilações das posições propostas por Klein. 1 e que ele havia dito que esse tinha sido seu livro preferido na infância. Nesse momento então. como está no filme. comprei o DVD para ver em casa. respondendo malcriadamente e. anda muito atarefada com o trabalho. O personagem principal é o menino Max. Lembro-me também de ter pensado.'Onde vivem os monstros'. como alguém poderia ter feito um filme de um livrinho tão pequeno? E sendo assim. Deste modo. mas cheio de conteúdo do mundo infantil. do que o livro. entre dissociações e reparações Gleice Lemos Frioli A primeira vez que me deparei com esse título “Onde vivem os monstros”. está sempre fazendo alguma bagunça. após as duas aulas que tivemos sobre ela. que começa a agir de forma agressiva na tentativa de reivindicar um lugar e um olhar dentro daquela família como outrora. foi que percebi. e sua mãe além de estar namorando. optei por trabalhar com o filme. de uns 9 anos de idade. Lembro que na própria livraria onde ela me mostrara. E assim que pude. Depois descobri que este livro se tornara célebre por ter sido lido pelo presidente americano Barack Obama durante uma visita de crianças na Casa Branca.. Seus pais se separaram. lembro-me de ter achado estranho. tentando chamar atenção para si.. Tudo isso corrobora para a eclosão de muitos sentimentos em Max. pois na época em que tive Klein na faculdade de psicologia. a irmã cresceu e tem seus próprios amigos. eu já havia assistido a esse filme e tive essa percepção. sentei e o li. Estávamos em sala no CEP conversando sobre Klein. que me proporciona mais material para olhar e aprofundar na analise. e torná-la ainda mais profunda e interessante. uma amiga que é ilustradora e fascinada por livros infantis sempre comentava sobre esse livro e foi através dela que descobri o livro de Maurice Sendak (publicado originalmente em 1963). Esse mesmo livro veio a se tornar um belíssimo filme pelo diretor Spike Jonze. esse livro tão fininho. 2 . acabara de identificar qual seria o meu trabalho de fim de ciclo. e indiquei para alguém esse filme dizendo que no meu olhar tinha muito a ver com a temática e teoria Kleiniana. impressionei-me com a capacidade humana de dar asas e ampliar tal temática. que passa toda a narrativa vestido com sua fantasia de lobo. em seguida. alguém sempre se magoa. e Carol assim se torna o preferido dele. onde nasce uma floresta. entra num barco e vai parar numa ilha). Ele fica fascinado com a cena e parte também para a destruição. Mas no filme ele sai correndo para a rua furioso. Uma vez lá. os monstros estão destruindo pequenas cabanas (que lembram um iglu que ele havia construído na neve e que fora destruído pelos amigos de sua irmã). Deste modo ele passa a criar uma série de jogos para mantê-los em constante diversão. (No livro ele vai para o seu quarto. Naquela mesma noite. não trabalhou com o conceito de desenvolvimento calcado em fases. ele ao lidar com seus ‘monstros’ internos percebe o quanto as inter-relações são difíceis. Mas. dois 3 . é confrontado pelos membros do grupo sobre a destruição das casas. a convivência entre aspectos internos).mas ouso compartilhar por meio deste aquilo que creio ter conseguido compreender.Certa noite. atrevidas e arriscadas. todos esses jogos tem um caráter de agressividade. Max se aproxima do monstro Carol. embarcando numa viagem aonde irá se deparar com os monstros que habitam essa ilha. (ou mesmo pensando de modo psicanalítico. ele dá uma resposta mal-educada para ela e é mandado para seu quarto. começarei a introduzir um pouco da teoria Kleiniana da qual lançarei mão para ir analisando a história de Max. que tem um gênio imprevisível e em minha leitura representa a desorganização egocêntrica de Max e toda sua expressão de ímpeto e agressividade (vejo-o como o 1 alterego do menino). de densa floresta. Max e a mãe brigam. ganhando o título de ‘aquele que morde ’e. o namorado da mãe está em sua casa.. No mundo interior e onírico de Max. assim descobre que poderia ser o mais monstruoso de todos..) Klein diferentemente de Freud.. e tão pouco ainda. pois. se torna responsável por evitar que a tristeza tome conta do lugar. Max foge para seu mundo interno e onírico.. tenho o domínio dos conceitos. fugindo para uma ilha misteriosa. e sim no que ela nomeou de ‘posições’. ele conta aos monstros que possui superpoderes e acaba sendo eleito o rei. diante do medo de ser devorado. A fim de conseguir melhor explicar minhas percepções. da teoria de Melanie Klein dentro do filme. (Digo atrevidas e arriscadas por ter noção de que pouco sei sobre tão complexa teoria. sem comer e de castigo. e/ou fica insatisfeito. Quando ele chega à ilha. Nesta ocupação. as complexidades sobre a convivência entre pessoas. em busca de um objeto gratificador. segundo a teoria de Klein (2006) o bebê vê o seio materno como o primeiro objeto. pois ela não lhe dá atenção e está 4 . Pois. ao longo da vida do adulto. uma vez que Max não encontra mais na mãe e na irmã a atenção que tinha antigamente. Uma vez que Max tenha que lidar com a frustração e o não atendimento de seus desejos no momento em que os espera. Ao passo que ele projeta no seio sua frustração. juntamente com a posição depressiva. de si. reavivadas e atualizadas por diversas situações. mordidas e rejeição ao seio. Partes essas que ele não consegue integrar. naquele momento de sua vida. Vejo como se fosse uma atualização de sentimentos arcaicos vivenciados por Max. e tem fantasias agressivas de arranhões. Estas posições são mais tarde. porque o ‘mau’ ainda não é visto como algo que faz parte de si. oscilando entre o que é bom e mau. recorre à tais mecanismos de defesa. Nessa fuga para o mundo interior. que caracteriza uma das fases do desenvolvimento infantil. e ilustra isso muito bem. e precisam ser externalizados. monstros esses que vivem dentro de nós e podem sair quando somos contrariados ou tentados por desejos egoístas. A noção de ‘posição’ de Klein rompeu com a ideia de tempo cronológico e desenvolvimento linear. se deparando com seus próprios monstros. da mãe. em que todos os objetos introjetados por ele são maus. em que o menino está com ciúmes. não consegue lidar com isso. pois privilegia duas grandes possibilidades de experenciar a si mesmo e ao mundo. que nega o alimento). na posição esquizo-paranóide de Klein. resultantes de um continuado jogo de 3 identificações projetivas e introjetivas do menino Max. Essa fragmentação do ego ocorre por sua estrutura se encontrar composta muito mais por frustrações do que por gratificações. Encontrando-se então. cuja qual me refiro aqui. onde o ego de Max se encontra fragmentado.modos básicos de funcionamento psíquico que se organizam e se alteram ao longo da vida dando sentido às experiências emocionais. Vejo esses monstros como pedaços separados (dissociação ou 2 splitting) e não integrados dos objetos internos . e ainda precisa lidar com a ausência do pai. (o seio mau. Max irá resolver os dramas que o atormentam no momento. é a que Max e a mãe discutem. São elas a posição esquizo-paranóide. o que gera uma ansiedade extrema. na posição esquizo-paranóide este objeto pode ser mais frustrador do que gratificador. em que se revivem as mesmas sensações e emoções. que frente ao ego que no momento se encontra fragilizado. do pai e até de sua irmã. A cena. Max expressa aqui sua inquietação e reivindicação. pois a mesma é experimentada pelo ego como uma ameaça de forças hostis que o atacam. a mãe) então ataca e fica na defensiva. que pode ser descrito em termos de relações e acontecimentos internos. e ele projeta na mãe (no seio) sua frustração e a responsabilizando por isso. Com isso os objetos. ele atacara no mundo real o seu objeto de amor. Penso aqui na posição esquizo-paranóide e na ansiedade desse momento que é a persecutoriedade. Esse mundo interior. ele sobe em cima da mesa e grita com ela em tom de exigência “Alimente-me mulher!”. permeado pelas ansiedades do mundo interno. Está profundamente influenciado. o mundo interno consiste em objetos. o seio. Perante essa briga. temendo o seu aniquilamento enquanto retaliação. pelas boas e más experiências do bebê. Um dos pilares da teoria de Klein é que primeiramente existe um mundo interno. 1994) Assim como podemos pensar na angústia de aniquilamento (de desintegração). como se a mãe estivesse lhe negando o alimento (o seio e o leite) e dando-o a outro homem. tanto é percebido como seio bom (quando amamenta. mordendoa literalmente. O garoto e a mãe brigam. formado a partir das percepções do mundo externo. As relações entre essas figuras internalizadas. serão tidas como afetuosas e boas quando o bebê é gratificado e prevalecem os sentimentos felizes. externa: a experiência traumática do parto e todas as outras situações posteriores que geram de frustração. e então acaba atuando sua fantasia agressiva. (posto que. (BLEICHMAR. claro. e entre elas e o ego. oriundas de fontes externas. é o produto dos próprios impulsos. o ego teme ser atacado. Em que na angústia persecutória. tomado por angustias. e todos os sentimentos que vem à tona em Max. emoções e fantasias da criança.na sala com o namorado. Klein (1969) aponta que. pessoas e situações adquirem uma tonalidade toda especial. tendem a ser experimentadas (quando a ansiedade persecutória é dominante) como relações de natureza hostil e perigosa. O mundo interno não é apenas o reflexo subjetivo do externo. ele se refugia em seu mundo interno. primeiro que tudo a mãe. O seio materno. internalizados em vários aspectos e situações emocionais. uma vez que Max teme ser engolido pelos próprios monstros internos. daí o 5 . e tem uma origem principalmente interna (a pulsão de morte atua como uma força destrutiva dentro do indivíduo) e também outra. diante de uma série de frustrações. primeiro objeto de relação da criança com o mundo externo. como se demonstrasse a rejeição a ela (a rejeição a esse seio). na sensação de perda e ansiedade extrema. Max se encontra num momento de sua vida. Os instintos buscariam objetos. A criança sempre possuirá esses dois registros do seio. são interpretadas e representadas para ele próprio. no registro inconsciente e na interioridade de cada um de nós. Judith como agressividade e pessimismo (talvez. uma vez que é impossível satisfazer a todos os desejos da criança. Douglas como amizade. Segundo Riviere (1986. gradualmente. Cada ‘monstro’ tem uma personalidade bem definida. expressando-se tanto nos fenômenos inconscientes como nos conscientes. 2008). pode-se colocar que as fantasias já existem desde então. (BLEICHMAR. a fantasia inconsciente é a expressão mental dos instintos. quanto é percebido como “seio mau”. Conforme eu pude ir percebendo os personagens internos de Max. A fantasia inconsciente é descrita como um acontecimento constante e permanente da mente. sob a influência do princípio de prazer-dor”. quem sabe. sempre influenciando a vida psíquica (KLEIN. 1986) Para Klein (SAFRA. o bom e o mau. 52-53 apud OLIVEIRA. as fantasias vão sendo elaboradas. manifestações das muitas facetas de Max. Touro como a contemplação e o funcionamento melancólico. internas e externas. ao longo do filme que assisti algumas vezes para fazer o trabalho. Essa mesma autora ressalta que a fantasia tem ainda como função. a vida de fantasia do sujeito pode ser apreendida como “a forma como suas sensações e percepções reais.nome de “seio bom” a esse objeto no mundo interno). os monstros eles todos são partes componentes de um Ser. e manter um refúgio da realidade. ela possa ser a representação do seio mau. realizada na vida primitiva dentro da posição esquizoparanóide. a personificação materna. que é o mundo interno. em sua mente. No decorrer do desenvolvimento. assegurar a divisão entre os objetos bons e ruins. (quando não alimenta na hora em que a criança assim deseja). vejo o bode Alexander como a carência. 2010). e KW como a parte introjetada de sua mãe. que o menino nesse momento não consegue integrar e harmonizá-los. a mãe má). 2008). embora na vida adulta sejam mais diferenciadas do mundo real. 1963 apud OLIVEIRA. e seu aparecimento estaria ligado a uma fantasia sobre a procura do objeto adequado. e como estes estão presentes desde a origem da vida. referindo-se. Elas nunca deixam de existir. a 6 . A fantasia estará no psiquismo humano organizando. a uma maior variedade de situações. (SIMON. Ira como a criatividade e o amor. p. uma seguidora de Klein. 1994). constituindo e configurando as experiências boas ou más no interjogo dos processos de introjeção e projeção. sapiência e a solicitude. No decorrer do filme acompanhamos o processo de organização do aparelho psíquico que Max vivencia. alude mais diretamente à pulsão sádico-destrutiva. e isto não é resultado da ameaça externa. no mundo externo. tal qual nos diz sua etimologia (ad+gradior). apud BLEICHMAR.mãe boa. Max lida com circunstâncias com as quais. na relação de triangulação e exclusão. porque conduz a sentimentos e relações (e depois a processos de pensamento) que. posso ver seu modo impetuoso de ser como o de uma agressividade. conscientemente ou provido de razão. integrando comedidamente as frações de seu eu. uma saudável forma de preoteger-se contra os predadores externos. assim como descobre que não consegue manter a felicidade e a satisfação o tempo todo e para todos. as resoluções conflitantes do menino vão tecendo um equilíbrio da mente. uma vez que cada monstro e sua respectiva personalidade estão atuando dentro dele. questiono se Max está mais para a ‘Agressividade’ do que para a ‘Agressão’. Max assim consegue compreender um pouco da complexidade e ambivalência de ser Humano. sugere-nos a tentativa pueril de compreender e lidar com as mudanças que estão acontecendo no mundo real de Max. estão separados entre si’. A agressividade. mas do controle e renúncia que os sentimentos amorosos lhe exigem.. além de indicar uma ambição sadia com metas possíveis de alcançar. Em se pensando no conceito de agressividade e de agressão. Em seu mundo interno. O que é possível de se perceber é que cada diálogo entre os habitantes dessa ilha e Max. se eu pensar no quanto de vitalidade e vontade que Max traz em si. 1994) diz. os danos que ela pode causar às pessoas que amamos. Klein (1946. ainda não consegue lidar no mundo da realidade. ( compartilho aqui minha dúvida. o caráter destrutivo que essa expressão pode ganhar. mas se eu pensar no ciúme de sentiu de sua mãe.. posso pensar no medo de castração que vem como ameaça e atualiza o Édipo. enquanto na agressão predomina a pulsão de morte. ‘é na fantasia que a criança cliva o objeto e cliva si própria. 2001) Pois.) 7 . mas o efeito desta fantasia é muito real. representa um movimento (gradior) para a frente (ad). uma vez que na agressividade prevalece a pulsão de vida. (ZIMERMAN. A agressão. Como aponta Bleichmar (1994 p. Aos poucos o pequeno rei vai percebendo o efeito da agressividade em excesso.105) o ego desenvolve uma capacidade crescente de controlar suas pulsões agressivas. em realidade. não é uma luta entre pulsão sexual e defesa. na tentativa de reforçar sua postura de onipotência e de inatingível. quando Max consegue ser só o menino Max e não mais o rei. ou com a estrutura que impede sua descarga. teria sido sentido como um ataque à sua onipotência 4 e quando se depara com os monstros precisa lutar para mantê-la. e 8 . por isso o superego age de forma ameaçadora no interior do ego. o dono do mundo”. à medida que o objeto amado é aquele que é atacado em consequência da frustração. com o mundo real. como que se tentasse recriar seu ‘iglu’. pois suas forças psicológica e intelectual. Em seu mundo interno. ao ciúme. A consciência do objeto total. (RAMOS. só que ainda mais forte e mais contingente. A ideia de conflito mental para Melanie Klein. pois se o iglu era um símbolo de sua onipotência também se revelara ser um amparo contra sua fragilidade. 1994) Segundo Souza (2009). à exclusão. emergem de dentro para fora. amado e odiado. indo da esquizo-paranóide à depressiva. mas sim entre sentimentos de amor e ódio. 2008) Segundo Safra (2010) a posição depressiva é alcançada quando a criança tem a possibilidade de perceber que o mesmo objeto que a frustra é o objeto que a gratifica. somos ou dom-quixotes iludidos pela idealização. ou que fantasiou cometer. tomados de emoções avassaladoras. sua capacidade para lidar com o cotidiano. O medo da castração é uma ameaça que vem do exterior e atinge em fantasia a interioridade. brota a experiência da culpa.Existe uma conexão entre a severidade do superego e os estágios precoces do conflito edípico já que sua formação inicia muito cedo e remete a criança à triangulação. o que conduzirá o sujeito a eventualmente desejar reparar os ataques que cometera. uma vez que ainda se vê nesse lugar. Tudo isso nos remete à frase gravada em dos presentes dado pelo seu pai: “Max. Aos poucos. é possível pensar que ele descobre que não precisa construir um iglu ou um forte externo. conseguindo unir as duas partes. diante de impossibilidade de aceitar que podemos ser frustrados. ou tiranos (como é o caso de Max) convencidos de nossa pertinência e da propriedade de nosso sadismo. é muito difícil lidar com as frustrações e a realidade. seu entorno de proteção. Penso também que o ataque ao seu iglu. de ‘rei’ e protegido pelo seu ‘iglu’. Max irá sugerir aos monstros a criação de um forte. De modo que para o menino. os objetos parciais (bom e mau) num objeto total. (BLEICHMAR. é o que leva o individuo a mudar de posição. Isso porque. que se enfrentam no vínculo com os objetos. que procura reconstruir os aspectos danificados ou perdidos do objeto dentro do self.. logo em seguida. taciturno e transformador. mas. pode ser que ele ainda recorra à essa ‘ilha’ interna algumas vezes mais em seu desenvolvimento. E deste mesmo lugar. volto 9 . e de dentro de sua barriga escuta a discussão entre Carol e KW. abdicando da ilusão de onipotência.. o Max que retorna ao mundo real. Na posição depressiva. agora se requer que o ego lhes dê amor e cuidado. pois. não é o mesmo que adentrara a selvagem ilha interna. a última cena na cozinha expressa muito da posição depressiva de Klein. O momento tácito entre eles e a troca singela de sorrisos aponta para a tentativa de Max em reparar o mal que fantasiou e tentou fazer à mãe. que o potencializa para lidar com o mundo e suas vicissitudes. é preciso findar e lidar com o não conseguir aprofundar-me mais. Max consegue se dar conta de que ele não é um rei. e ao se encontrar com Carol revela-lhe que não é um rei e diz “Sou Max”. em sua vida. mas que estava assustado. Assim como antes os sentimentos agressivos os danificavam.mas infelizmente o tempo é curto. para receber o alimento que outrora temeu lhe ser negado. é que Max consegue superar essa vivência e aprender com ela. embora o exercício seja prazeroso. Já de volta a sua casa. O que podemos observar no desfecho da história. Reflito que há ainda muito para se falar de tal história. Na posição depressiva. ao imaginar devorá-la quando à mordeu. A partir daí. e o mais importante será a reparação. Assim tanto dentro quanto fora. Esse seu explicar para KW que Carol não é mau. decide que é hora de retornar para casa. como num fluxo constante. o menino lhe explica o motivo da raiva explosiva de Carol e..reciprocamente de fora para dentro. E literalmente o engole . para devolver-lhes a vida e a integridade. apropriando-se da realidade. uma vez que estamos sempre oscilando entre as duas posições propostas por Klein.deste modo.. Max cuida de seus objetos. o menino busca a reparação do que houve entre ele e mãe. os mecanismos de defesa perdem sua onipotência. No abraço cheio de afeto e no sorriso que muito diz. acaba sendo um processo de fechamento e apreensão de tudo que acontecera entre ele e sua mãe. de dentro de KW. e que quanto mais assisto o filme mais observo conteúdos que eu poderia estar agregando ao material deste trabalho. o reizinho agora se cala. e passagem expressa pela cena em que vemos Max fugindo de um ataque nervoso de Carol (que é o próprio menino) e KW (a mãe internalizada) que oferta sua barriga (seu ventre) como esconderijo para Max. num momento evolutivo em que ele imagina ter um controle onipotente sobre o seio materno. Belo Horizonte. tudo. o alter ego é um outro eu inconsciente. enquanto Klein postulou a identificação projetiva com objetos parciais. Klein foi a autora que mais se utilizou do termo onipotência. 31. desde sempre. L. através de uma expulsão que. C. 10 . Ou seja. tentando lidar com as minhas frustrações. Maria Beatriz Jacques. Rio de Janeiro: Imago. R. Conforme Zimerman (2001). Temas de psicanálise aplicada . projetados dentro de figuras objetais. assim como também é uma forma de penetrar no interior do corpo da mãe. carregando meus monstrinhos comigo. ³ . E. significando o duplo sujeito..Para a psicanálise. o sujeito pensa ter potência. pênis e. sobre tudo. seguidas de identificações introjetivas. 4- Segundo Zimerman (2001). Melanie Klein. Referências bibliográficas: FIGUEIREDO. acesso em: 14 maio 2012. M.bvsalud. Estud. 2008 . o sujeito constrói uma duplicação dele. o sujeito faz de seus aspectos intoleráveis. com novas reprojeções. out. “Notas sobre alguns mecanismos esquizóides” In: Inveja e Gratidão e outros trabalhos 1946-1963.php?script=sci_arttext&pid=S010034372008000100012&lng=pt&nrm=iso>. (Zimerman. Disponível em: <http://pepsic. Presente do passado: o trabalho analítico. São Paulo: Escuta. o conceito de identificação projetiva de Klein é uma necessária e estruturante defesa primitiva do ego incipiente. n.org/scielo. o super ego ou o ideal do ego.. ou seja. como o ego. e assim por diante. dentro da mente de outra pessoa.Objeto interno – é o que está incorporado em alguma instância psíquica. M. segundo a etimologia da palavra Oni deriva de Omni. sob a forma de fezes.). Cintra. Significa poder tudo. 2004.Freud pensava a projeção em termos de objetos totais projetados sobre objetos. *************** ¹. KLEIN. RAMOS. M.. 1969 KLEIN. Mandelbaum.. U.P & MONEY-KIRLE. cuja internalizarão resulta de um continuado jogo de identificações projetivas. HEIMANN.. E. (B. Rio de Janeiro: Zahar. 2001) ².para minha ‘casa’ assim como Max. poder. (2006). Estilo e Pensamento. com a fantasia de controlar e apossar-se dos tesouros que em sua imaginação a mãe possui. para expor as defesas primitivas do ego arcaico do bebê. principalmente os bebês imaginários. H. psicanal. Trad. por meio de identificações projetivas maciças dos seus superegóicos objetos internos em alguém. ”. A fantasia inconsciente como cenário da vida psíquica. Introdução à psicanálise: Melanie Klein.S. in A Psicanálise depois de Freud. n.P.L. 1994. 2009 ZIMERMAN. R. “Melanie Klein. 1986. In Psicoterapias. SP: Duetto editorial. D. Psicanálise: Klein e Winnicott. de. A. A fantasia em Melaine Klein e Lacan. Porto Alegre. Revista Mente e Cérebro vol. M. 79 11 . SP: Duetto editorial. BLEICHMAR. .php?script=sci_arttext&pid=S167944272008000200007&lng=pt&nrm=iso>.SAFRA.E.de. Barbacena. Vocabulário contemporâneo de psicanálise.4.bvsalud. 2008 . 2001 OLIVEIRA. N. 6. Acesso em: 13 maio 2012. C. São Paulo: Epu. dez. Dois Vértices emocionais in Memória da psicanálise. G. e BLEICHMAR. 11. Artes Médicas.2. Melanie Klein Revista Mente e Cérebro vol. Mental. 2010 SIMON. v. Porto Alegre: Artmed.org/scielo. Disponível em: <http://pepsic. SOUZA. p.
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